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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO ASPECTOS DE RESILIÊNCIA URBANA RELACIONADOS À MOBILIDADE E AOS SISTEMAS DE TRANSPORTES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO THIAGO SERRA RIBEIRO 2019

THIAGO SERRA RIBEIRO

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Page 1: THIAGO SERRA RIBEIRO

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ASPECTOS DE RESILIÊNCIA URBANA RELACIONADOS À MOBILIDADE E

AOS SISTEMAS DE TRANSPORTES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO

RIO DE JANEIRO

THIAGO SERRA RIBEIRO

2019

Page 2: THIAGO SERRA RIBEIRO

ASPECTOS DE RESILIÊNCIA URBANA RELACIONADOS À MOBILIDADE E

AOS SISTEMAS DE TRANSPORTES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO

RIO DE JANEIRO

THIAGO SERRA RIBEIRO

Projeto de Graduação apresentado ao curso

de Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Prof. Assed Naked Haddad

RIO DE JANEIRO

Março de 2019

Page 3: THIAGO SERRA RIBEIRO

ASPECTOS DE RESILIÊNCIA URBANA RELACIONADOS À MOBILIDADE E

AOS SISTEMAS DE TRANSPORTES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO

RIO DE JANEIRO

Thiago Serra Ribeiro

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Assed Naked Haddad, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Luís Otávio Cocito de Araújo, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Mohammad Najjar, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

MARÇO de 2019

Page 4: THIAGO SERRA RIBEIRO

Ribeiro, Thiago Serra

Aspectos de Resiliência Urbana relacionados à Mobilidade

e aos Sistemas de Transportes na região central da cidade do

Rio de Janeiro/ Thiago Serra Ribeiro – Rio de Janeiro:

UFRJ/Escola Politécnica, 2019.

xii, 75 p.:il.; 29,7 cm.

Orientador: Assed Naked Haddad

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Civil, 2019.

Referências Bibliográficas: p. 72-73

1. Introdução 2. Sistemas de Transporte e Mobilidade

Urbana 3. Resiliência Urbana 4. Mobilidade e Resiliência em

Análise 5. Considerações Finais

I. Haddad, Assed Naked; II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.

Título

Page 5: THIAGO SERRA RIBEIRO

“The universe is change; our life is what our thoughts make it.”

Marcus Aurelius

Page 6: THIAGO SERRA RIBEIRO

Aos meus avós,

Carolina, Jorge, Nina e Wantuil.

Page 7: THIAGO SERRA RIBEIRO

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

ASPECTOS DE RESILIÊNCIA URBANA RELACIONADOS À MOBILIDADE E

AOS SISTEMAS DE TRANSPORTES NA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE DO

RIO DE JANEIRO

Thiago Serra Ribeiro

Março de 2019

Orientador: Assed Naked Haddad

Resiliência Urbana é definida como a capacidade que uma cidade e sua comunidade

possuem de sobreviver, se adaptar e evoluir frente à problemas crônicos e estresses

pontuais que possam vir a afetá-las. Com a urbanização acelerada, existe uma necessidade

constante de adaptação das cidades. De forma a minimizar sua vulnerabilidade frente às

adversidades, as cidades têm investido cada vez mais no desenvolvimento de sua

resiliência. Tendo sediado eventos de porte global, o município do Rio de Janeiro recebeu

altos investimentos financeiros, fazendo com que as expectativas de melhorias para os

anos seguintes fossem altas, porém os impactos positivos não corresponderam ao que era

esperado e, em alguns casos, passaram despercebidos por parte da população. O objetivo

desse trabalho é analisar a situação atual dos aspectos de resiliência ligados

especificamente à mobilidade e infraestrutura de transportes e, por fim, propor melhorias.

Projetos e ações realizados no Rio e em outras cidades com características similares serão

avaliados a partir da comparação dos aspectos que compõem a cultura da mobilidade

urbana de cada cidade buscando evidenciar os pontos críticos e de potencial melhoria no

Rio, considerando aplicabilidade e viabilidade no contexto atual do país e da cidade.

Palavras-chave: Resiliência Urbana; Sistemas de Transportes; Mobilidade Urbana; Rio

de Janeiro; Região Central; 100 Resilient Cities; Cultura de Mobilidade Urbana.

Page 8: THIAGO SERRA RIBEIRO

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment

of the requirements for the degree of Engineer.

URBAN RESILIENCE ASPECTS RELATED TO MOBILITY AND TRANSPORT

SYSTEMS IN CITY OF RIO DE JANEIRO’S CENTRAL REGION

Thiago Serra Ribeiro

March 2019

Adviser: Assed Naked Haddad

Urban Resilience is defined as the ability of a city and it’s community to survive, adapt

and develop when facing chronical stresses or punctual events that may affect them. With

fast urbanization, cities must be prepared not to be vulnerable to adversities by acting

with focus in the development of their resilience. Having hosted global events, Rio has

received high investments. The expectations for the following years were high but the

positive impacts were, in most cases, minimal or unnoticeable for part of the population.

This work’s goal is to analyze the current situation regarding aspects of resilience related

specifically to mobility and transports infrastructure and, in conclusion, to propose

improvements. Projects and actions made in Rio and in similar cities will be evaluated in

order to compare the aspects that compose each city’s urban mobility culture in order to

highlight the critical points and also the ones of potential improvement in Rio’s scenario,

considering the applicability and viability in the country’s and the city’s current context.

Keywords: Urban Resilience; Transportation Systems; Urban Mobility; Rio de Janeiro;

Central Region; 100 Resilient Cities; Urban Mobility Culture.

Page 9: THIAGO SERRA RIBEIRO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - CITY RESILIENCE FRAMEWORK ..................................................................... 29

FIGURA 2 - REDES DE TRANSPORTE DE MASSA, PRINCIPAIS EIXOS RODOVIÁRIOS E

DENSIDADE DE EMPREGOS ....................................................................................... 35

FIGURA 3 – LINHAS DO METRÔ E CONEXÕES .................................................................... 41

FIGURA 4 – LINHAS E ESTAÇÕES DO BRT ....................................................................... 43

FIGURA 5 – ÁREA DE ESPECIAL INTERESSE URBANÍSTICO DA REGIÃO PORTUÁRIA ......... 44

FIGURA 6 – ZONA PORTUÁRIA E BAIRROS DA REGIÃO CENTRAL DA CIDADE .................... 45

FIGURA 7 – PORTO MARAVILHA (PLANOS) ...................................................................... 47

FIGURA 8 – VIA EXPRESSA E TÚNEL MARCELO ALLENCAR ............................................ 48

FIGURA 9 – VIA BINÁRIO DO PORTO ................................................................................ 48

FIGURA 10 – ZONA PORTUÁRIA E OUTRAS REGIÕES DE INTERESSE .................................. 49

FIGURA 11 – DIAGRAMA DE CULTURA DE MOBILIDADE URBANA ................................... 53

Page 10: THIAGO SERRA RIBEIRO

LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - VIAGENS POR HABITANTE POR MODO DE TRANSPORTE (2003 X 2012) .......... 37

TABELA 2 - VIAGENS POR HABITANTE POR MODO DE TRANSPORTE (2003 X 2012) .......... 37

TABELA 3 – INDICADORES DE CULTURA DE MOBILIDADE URBANA ................................ 59

TABELA 4 – INDICADORES – MELHORES COLOCADOS E POSIÇÃO DO RIO DE JANEIRO ..... 65

Page 11: THIAGO SERRA RIBEIRO

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

100 RC – 100 Resilient Cities

MMTS – Multimodal Transportation Systems

BRT – Bus Rapid Transport

VLT – Veículo Leve sobre Trilhos

CRO – Chief Resilience Officer

CRF – City Resilience Framework

EUA – Estados Unidos da América.

PIB – Produto Interno Bruto

PDTU – Plano Diretor de Transporte Urbano

CDURP – Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de

Janeiro

CET-Rio – Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro

IMCS – Índice de Mobilidade das Cidades Sustentáveis

Page 12: THIAGO SERRA RIBEIRO

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

APRESENTAÇÃO DO TEMA ................................................................................ 12

OBJETIVOS ....................................................................................................... 14

1.2.1 Objetivos gerais ........................................................................................... 14

1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................. 14

JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 15

ESTRUTURA DO PROJETO .................................................................................. 16

METODOLOGIA ................................................................................................. 16

2 SISTEMAS DE TRANSPORTE E MOBILIDADE URBANA ........................ 18

CONCEITOS ...................................................................................................... 18

2.1.1 Sistemas de Transportes .............................................................................. 18

2.1.2 Mobilidade Urbana ...................................................................................... 19

RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS ...................................................................... 19

HISTÓRICO ....................................................................................................... 20

REFERÊNCIAS MUNDIAIS .................................................................................. 21

A REALIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO .................................................. 23

3 RESILIÊNCIA URBANA .................................................................................... 25

CONCEITO ........................................................................................................ 25

HISTÓRICO ....................................................................................................... 26

3.2.1 100 Cidades Resilientes ............................................................................... 27

DEFININDO UMA CIDADE RESILIENTE ............................................................... 28

3.3.1 City Resilience Framework (CRF) .............................................................. 29

3.3.2 O Dividendo de Resiliência ......................................................................... 30

MOBILIDADE, TRANSPORTES E A RESILIÊNCIA URBANA .................................... 31

CENÁRIO MUNDIAL .......................................................................................... 32

3.5.1 PARIS (França) – Transformação dos jardins escolares em “Oasis” .......... 32

3.5.2 SURAT (India) – Transformação do Rio Tapi ............................................ 33

3.5.3 BOSTON (EUA) – Laboratório de Mobilidade Econômica e Relação de

Equidade Racial ....................................................................................................... 33

RESILIÊNCIA E MOBILIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO ............................ 34

3.6.1 “Região Mobilidade” ................................................................................... 35

Page 13: THIAGO SERRA RIBEIRO

3.6.2 Alterações na Estrutura de Transportes ....................................................... 40

RIO RESILIENTE ................................................................................................ 50

3.7.1 Diagnósticos e Planos Estratégicos ............................................................. 51

4 MOBILIDADE E RESILIÊNCIA EM ANÁLISE ............................................ 52

CULTURA DA MOBILIDADE ..................................................................... 52

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO ............................................................ 53

4.2.1 Indicadores................................................................................................... 56

4.2.2 Tratamento dos Dados ................................................................................. 58

DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................ 60

4.3.1 Pontos Fortes ............................................................................................... 66

4.3.2 Desafios ....................................................................................................... 66

4.3.3 Propostas e recomendações de melhorias em potencial .............................. 67

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 71

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................... 72

Page 14: THIAGO SERRA RIBEIRO

12

1 INTRODUÇÃO

APRESENTAÇÃO DO TEMA

Resiliência pode ser resumida como a habilidade de um sistema em lidar com eventuais

estresses pontuais e se adaptar considerando o longo-prazo. Uma comunidade deve ser capaz

de absorver os impactos no curto-prazo, se organizar e desenvolver sua capacidade

constantemente. (SHARIFI; YAMAGATA, 2014)

No contexto urbano, resiliência está diretamente associada aos desafios da crescente

urbanização das cidades por todo o planeta, com área urbana total tendo passado de 10% no

ano de 1990 para mais de 50% apenas duas décadas depois. (MEEROW; NEWELL; STULTS,

2016)

Associando o fato de que hoje a maior parcela da população vive nas cidades às

projeções que apontam crescimento populacional ocorrendo quase que integralmente nas áreas

urbanas, conclui-se que os impactos causados por fenômenos globais como mudanças

climáticas, ou até mesmo de problemas ligados à gestão ineficiente de serviços e recursos, crises

econômicas e terrorismo, se mostram mais severos nesses locais do que em áreas não

urbanizadas. (SHARIFI; YAMAGATA, 2014)

Como qualquer grande metrópole, a cidade do Rio de Janeiro – segunda mais populosa

do país, com mais de 6,5 milhões de habitantes – está sujeita aos mais diversos problemas

causados pela saturação acelerada do meio urbano, atenuada pelo crescimento populacional,

além de representar um foco migratório regional, nacional e internacional desde sua fundação.

Cidades como o Rio, que possuem constante expansão como característica,

recorrentemente se deparam com desafios de maior escala se comparado à grande a maioria das

cidades, principalmente ao se tratar de questões de governança, associada à ampla diversidade

social e econômica intrínseca à cidade, além de enfrentar as crescentes crises ambientais e

humanitárias da atualidade. (RIO RESILIENTE, 2016; WORLD ECONOMIC FORUM, 2016)

Considerando o panorâma crítico que a gestão das grandes cidades possuem pela frente,

é essencial que, para que haja desenvolvimento da resiliência urbana, sejam realizados

planejamentos eficientes em constante adaptação tanto para o curto quanto para o longo prazo,

sempre associados à elaboração de estratégias que visem máxima integração entre os setores

público e privado e, ainda, contando com a colaboração popular.

Page 15: THIAGO SERRA RIBEIRO

13

Levando essas premissas em consideração, o governo do município do Rio de Janeiro

tem se mostrado forte presença no cenário mundial da Resiliênia Urbana e de desenvolvimento

sustentável nos útlimos anos, tendo participação relevante em projetos de grande porte como o

100 Resilient Cities, da fundação Rockefeller, e o C40 Cities Climate Leadreship Group.

O grande ponto focal de trabalho e investimento na cidade era receber as Olimpíadas de

2016, o que não deixava de englobar as demais alterações que ocorreriam nos anos precedentes

ao evento (RIO RESILIENTE, 2016). Boa parte dos projetos elaborados eram ligados à

mobilidade e também a melhorias de infraestrutura em diversas regiões da cidade.

Um dos mais relevantes foi o projeto de revitalização da zona portuária, região de papel

fundamental no desenvolvimento da cidade desde o período colonial, quando representava o

pólo econômico da cidade. Históricamente rica, a área do porto – composta pelos bairros da

Saúde, Gamboa e Santo Cristo – sofreu desmazelo do poder público no transcorrer do século

XX e o projeto Porto Maravilha previa a recuperação da área e a revalorização desse espaço

que se encontrava abandonado e com infraestrutura precária (AZEVEDO; PIO, 2016).

Além da zona portuária, a região do centro da cidade em geral também que fez parte dos

planos de revitalização do governo municipal. A área que hoje representa o pólo econômico da

cidade, apesar de sua importância e de ser um espaço amplamente utilizado diariamente por

milhares de cariocas, é historicamente afetada por problemas relacionados à falta de segurança

e infraestrutura de baixa qualidade, principalmente de seus sistemas transportes.

Longe de ser um problema exclusivo da região central, a precariedade dos serviços de

transporte afeta diretamente na qualidade de vida do cidadão. A mobildade é um fator

preocupante na cidade do Rio de Janeiro no que tange a resiliência. (RIO RESILIENTE, 2016)

A população se vê refém de um transporte público de notória baixa qualidade e preços

altos, que afeta principalmente o cidadão de renda mais baixa, dependente em sua grande

maioria dos serviços públicos. Esse e muitos outros pontos problemáticos colocam a cidade em

posição vulnerável frente às adversidades recorrentes que afetam as metrópoles modernas ao

redor do mundo. A fragilidade do sistema urbano explicíta a dimensão do desafio que o Rio de

Janeiro enfrentará para se tornar mais resiliente.

Page 16: THIAGO SERRA RIBEIRO

14

OBJETIVOS

1.2.1 Objetivos gerais

Com base nos princípios de mobilidade relacionados à resiliência urbana, esse trabalho

analisará a situação dos aspectos que compõem a forma com que a mobilidade é realizada na

cidade, dando enfoque às regiões que sofreram maiores alterações no período entre os grandes

eventos.

1.2.2 Objetivos Específicos

Desde os planos e estratégias desenvolvidos desde a década de 90, quando a cidade

estava sob gestão do prefeito Pereira Passos e foi feito o primeiro Plano Estratégico da cidade,

o governo municipal tem realizado ações e projetos representados por um processo

homogeneizador que visava construir uma cidade mudialmente competitiva. (VAZQUEZ,

2017).

O presente projeto busca avaliar a evolução da cidade do Rio de Janeiro e comparar a

situação apresentada com demais cidades que se assemelham ao Rio e se encontram num

contexto similar no que se refere ao desenvolvimento de resiliência urbana.

Serão realizadas análises com enfoque na mobilidade urbana como um todo,

principalmente na região central, que sofreu maiores alterações nos últimos anos. Os aspectos

de resiliência presentes na cidade, mais especificamente os que estão ligados aos sistemas de

transportes e à eficiência na mobilidade serão avaliados comparativamente com cidades de

características similares, explicitando os pontos críticos e os de potencial melhoria. Além disso,

evidenciar os aspectos onde se pôde observar uma evolução relevante nos últimos anos e os que

ficaram estagnados no período de análise.

Com base nisso, o trabalho tem por finalidade apontar os principais desafios e

oportunidades para o futuro, considerando alternativas baseadas em alguns conceitos da

engenharia urbana aplicáveis à situação da cidade, além de projetos realizados em cidades com

perfil similar aos do Rio no que diz respeito à resiliência ligada à mobilidade e, por fim, propor

ações adequados ao contexto atual da cidade e do país.

Page 17: THIAGO SERRA RIBEIRO

15

JUSTIFICATIVA

O Rio de Janeiro e o Brasil estiveram em evidência no cenário esportivo mundial durante

os últimos anos desde os jogos Panamericanos de 2007. A cidade recebeu eventos de

importância global, tendo sediado as Olimpíadas de 2016, além de ter sido palco de diversos

jogos da Copa do Mundo de 2014, incluindo a grande final.

Com isso, a cidade recebeu amplo investimento do setor público além de ter atraído

empresas e investidores privados tanto nacionais quanto internacionais. O grande objetivo era

preparar a cidade para os eventos e, ao fim, deixar um legado positivo para a cidade e sua

população. Além das estruturas esportivas, a questão da mobilidade se mostrava desde o início

como um dos maiores desafios da cidade. (RIO RESILIENTE, 2016)

Diferente da Copa do Mundo, nas Olimpíadas a cidade sediaria os jogos sozinha, o que

configurava um desafio ainda maior. As estimativas apontavam que a cidade receberia mais de

10,5 mil atletas e outras 100 mil pessoas envolvidas diretamente com o evento (MINISTÉRIO

DO ESPORTE, 2009), sem contar com o número de turistas espalhados pela cidade. De forma

similar, os espaços exclusivos para os eventos esportivos não se concentravam em apenas uma

região da cidade, assim como muitas das delegações que decidiram não se hospedar na Vila dos

Atletas, localizada entre a Barra da Tijuca e o Recreio.

Numa cidade das dimensões como as do Rio de Janeiro e, tendo essa disposição entre

atletas, locais de jogos e turistas tão distribuída, era vital que a locomoção fosse eficaz e que a

interferência no fluxo normal da cidade fosse mínimo.

Os grandes desafios da gestão da época envolviam garantir a alocação correta dos

recursos obtidos e a execução de todos os projetos dentro do prazo previsto sem que a cidade e

sua rotina fossem muito afetadas. Era previsto que as grandes obras nos centros urbanos, como

ampliação das linhas do metrô, BRT e VLT gerariam incômodos à população, porém o retorno

no longo prazo representava a promessa do legado positivo que seria deixado para a cidade.

(RIO RESILIENTE, 2016)

No decorrer dos anos, surgiram inúmeros rumores envolvendo casos de corrupção

ligados às obras da Copa e das Olimpíadas e, após a realização dos eventos, os impactos

positivos foram mínimos ou imperceptíveis por boa parte da população. A dúvida que se

manteve até hoje é se existiu de fato algum retorno positivo para a população e qual foi o real

legado deixado para a cidade.

Page 18: THIAGO SERRA RIBEIRO

16

ESTRUTURA DO PROJETO

Primeiramente, serão definidos os conceitos chave que envolvem a análise proposta.

Iniciando pelo conceito de sistemas de transporte, que representa a base a ser analisada e, a

partir desse ponto, definir mobilidade urbana, sua importância e como ela se relaciona com os

sistemas de transporte que a compõe.

O conceito de Resiliência Urbana, novo no meio da Engenharia Urbana, será então

definido e exemplificado de uma maneira ampla, englobando de forma geral todos os seus

aspectos, desde os relacionados à mudanças climáticas e catástrofes ambientais até os ligados

a crises econômicas e ataques terroristas.

Alguns casos de maior relevância no mundo serão exemplificados, assim como os

projetos e instituições ligados aos movimentos envolvidos no desenvolvimento da resiliência

urbana pelo mundo, como o 100 Resilient Cities.

Em seguida, os conceitos supracitados serão inter-relacionados, onde será demonstrada

a relevância dos aspectos propostos para análise com enfoque na mobilidade urbana.

Será apresentada a conjuntura na cidade do Rio de Janeiro também de forma ampla, com

base nos diagnósticos e planos estratégicos desenvolvidos pela Rio Resiliente e, posteriormente,

serão aprofundados os casos na cidade relacionados à mobilidade, principalmente nas regiões

que sofream maiores alterações nos últimos anos, detalhando os processos realizados no

periodo e sua ligação com outras áreas importantes da cidade.

Serão aprofundadas as análises voltadas à forma com que a mobilidade é realizada na

cidade por meio de comparação das características que compõem o que definimos como Cultura

de Mobilidade Urbana no Rio e em outras cidades de dimensões e aspectos similares no que

tange à resiliência urbana. A evolução desses aspectos serão levados em consideração pela

comparação da situação da cidade no período anterior e posterior aos grandes eventos.

METODOLOGIA

O presente trabalho consiste inicialmente de uma revisão bibliográfica aprofundada

sobre tema proposto. Por Resiliência Urbana se tratar de um termo relativamente novo, o

conceito carece de artigos e publicações especificamente sobre o tema, então também serão

Page 19: THIAGO SERRA RIBEIRO

17

utilizadas notícias de páginas confiáveis e de renome para complementar o conteúdo presente

nas publicações científicas.

Após contextualização do tema e dos conceitos que o abrangem, serão observados

números e análises já existentes sobre mobilidade e então, será feita uma análise voltada ao que

tange a resiliência pela associação de índices relevantes que englobam o tema abordado.

Será realizada uma adaptação do estudo Dimensões de Culturas de Mobilidade

Urbana – Uma comparação de cidades alemãs, de Klinger, Kenworthy e Lanzendorf (2013),

onde 44 cidades foram avaliadas sob critérios que buscassem ilustrar o modo com que a

mobilidade se apresentava em cada uma delas. Os 22 indicadores presentes no estudo original

não puderam ser utilizados diretamente já que para a avaliação feita no presente trabalho,

utilizaremos cidades de diversos países e também pela limitação de dados.

A característica principal que motivou a escolha do estudo alemão é o fato do mesmo

avaliar paralelamente dados objetivos com informações subjetivas sobre as cidades, como

índices de satisfação. Após definição dos indicadores que serão analisados, os mesmos serão

avaliados comparativamente entre as cidades escolhidas.

A partir dos dados e análises comparativas, será então avaliada a situação da cidade, os

possíveis desafios e oportunidades de melhoria. Por fim, serão sugeridas novas propostas de

implementação na cidade, buscando referência em conceitos que podem se adequar ao caso do

Rio de Janeiro a partir de casos de sucesso observados em outras cidades do mundo que tenham

apresentado desafios similares.

Page 20: THIAGO SERRA RIBEIRO

18

2 SISTEMAS DE TRANSPORTE E MOBILIDADE URBANA

CONCEITOS

Esses dois conceitos já são amplamente estudados no meio da Engenharia Urbana e são

termos conhecidos pela população em geral pois representam assuntos que fazem parte do

cotidiano do cidadão. Sua importância é notória e a ligação entre os termos é evidente: O

planejamento e adequação dos sistemas de transportes de uma cidade são vitais para atingir a

qualidade da mobilidade numa determinada região.

2.1.1 Sistemas de Transportes

Sistemas de transportes multi-modais (MMTS – Multimodal Transportation Systems)

são de extrema importância no nosso cotidiano pois são responsáveis por fornecer os meios que

tornam possíveis os delocamentos de pessoas e produtos pelas mais diversas regiões do planeta.

Um sistema de transportes típico possui variados modos, sejam em terra, no mar ou mesmo no

ar, e cada sistema possui suas particularidades.

Para que um sistema de transportes seja considerado eficiente, é essencial que os

diferentes modos que o compõem sejam amplamente conectados, sincronizados e se

complementem em termos de capacidade e utilidade. (BEVRANI et al., 2017)

O transporte na cidade do Rio de Janeiro e no Brasil como um todo é considerado como

de baixa qualidade. Nas grandes cidades do país, é comum se observar problemas de

superlotação dos meios coletivos e congestionamentos frequentes nas vias, principalmente em

horários de pico.

No caso de periferias e regiões do interior, o próprio acesso ao transporte no dia-a-dia

mostra precariedade, o que dificulta o acesso a inúmeros outros serviços essenciais à população,

como saúde e educação, além de limitar o acesso às oportunidades de emprego.

Page 21: THIAGO SERRA RIBEIRO

19

2.1.2 Mobilidade Urbana

O conjunto de viagens gerado diariamente pelos habitantes de uma cidade e os métodos

e condições associadas a tais viagens (modos de transporte escolhidos, distância do percurso,

tempo gasto no transporte, etc, definem a concepção de mobilidade no meio urbano.

A tecnologia associada à mobilidade avança paralelamente à importância que é dada à

própria Engenharia Urbana, responsável por fazer com que a mobilidade exista de fato e se

desenvolva para que seja expandida e possa atingir parcelas cada vez maiores da população,

atendento à maior área possível.

RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS

Os sistemas de transporte são indispensáveis para a existência da mobilidade numa

cidade pois a realização de viagens é apenas possível com sua presença. A qualidade e o alcance

da mobilidade dependem diretamente da qualidade dos serviços que compõem seus sistemas de

transporte.

A necessidade de viagens rege o trabalho que gira em torno da mobilidade urbana.

Quanto maior for o número de passageiros e/ou de viagens feitas diariamente, mais robustos e

integrados deverão ser os sistemas para que estes sejam capazes de atender às demandas

crescentes dos cidadãos.

As soluções buscadas pelas cidades envolvem principalmente os meios de transporte

coletivos, já que é inegável o fato de que o transporte individual motorizado é incapaz de suprir

as necessidades das cidades em constante crescimento e evolução. Essa limitação é germinada

dos altos custos relacionados à aquisição e manutenção dos veículos (ainda pouco acessível à

grande parte da população), da falta de infraestrutura e também da própria dificuldade de se

adequar a estrutura já existente. (GEBHARDT et al., 2016)

O grande desafio da Engenharia Urbana contempoânea é fornecer, de forma sustentável

econômica, social e ambientalmente, acesso aos mais diversos serviços e oportunidades à toda

população. A ampliação da mobilidade tem papel chave nesse processo.

Page 22: THIAGO SERRA RIBEIRO

20

HISTÓRICO

O transporte urbano, desde que se tem conhecimento, está amarrado ao desenvolvimento

social e econômico. O que históricamente se tratava de uma questão de sobrevivência por

representar acesso a alimentos em qualquer período do ano, por exemplo, hoje se vê ligado à

atividades até mesmo consideradas superficiais como entretenimento e, muitas vezes, como

uma representação do status social do indivíduo.

A utilização do transporte público, como de outros serviços oferecidos pelo Estado,

muitas vezes é associada às classes menos favorecidas, principalmente em países

subdesenvolvidos como o Brasil. Isso se dá predominantemente pela baixa qualidade desses

serviços, que faz com que uma parcela considerável da população com maior poder aquisitivo

escolha o transporte particular para se locomover.

A exemplo do Brasil, alguns países se desenvolveram em torno do transporte rodoviário,

onde o mercado automotivo recebeu grandes investimentos e incentivo público para a criação

de fábricas, além dos investimentos em construção e manutenção de rodovias e de toda

infraestrutura que envolve esse meio de transporte.

Gráfico 1 - Divisão Modal 2012 (Milhares de Viagens)

Fonte: PDTU, 2015

Page 23: THIAGO SERRA RIBEIRO

21

Embora avanços no acesso à mobilidade tenham sido feitos nesse meio-tempo, além da

criação de empregos e mobilização econômica, pode-se observar que esse tipo de transporte,

da forma como vem sendo feito, está cada vez mais limitado.

Dependendo de altos investimentos para ampliação de infraestrutura e tendo sua frota

praticamente inteira a base de combustíveis fósseis, possui baixo custo-benefício se comparado

à outros meios, principalmente se forem considerados o número de viagens e a quantidade de

passageiros transportados.

REFERÊNCIAS MUNDIAIS

Atualmente, podemos observar um crescimento constante da quantidade e variedade de

investimentos em desenvolvimento de meios de transportes de passageiros ligados à energias

renováveis e limpas e, com uma menor intensidade, em meios também sustentáveis

econômicamente e eficazes no transporte de massas e de carga.

Hoje, a solução não se encontra em um único meio de transporte, mas na aplicação de

sistemas multimodais e tecnologias que permitam o compartilhamento de veículos e meios

alternativos, como bicicletas e patinetes, tornando o sistema como um todo mais próximo de

54

33

17

42

32

15

0

10

20

30

40

50

60

Coletivo Individual Não Motorizado

2003

2012

Gráfico 2 - Tempo Médio das Viagens (Minutos)

Fonte: PDTU, 2015

Page 24: THIAGO SERRA RIBEIRO

22

suprir as mais diversas necessidades da população. Isso se dá pela elevada complexidade da

demanda de transporte, que é altamente variável mesmo em cidades de pequeno porte.

Diversas cidades Europeias, onde primordialmente o transporte individual automotivo

imperava, hoje caminham em direção à predominância de meios mais sustentáveis e até mesmo

da construção de uma mentalidade que diminui cada vez mais a importância associada à posse

de um automóvel.

Essas mudanças na mobilidade devem ser acompanhadas pelo desenvolvimento dos

sistemas oferecidos, buscando uma integração cada vez maior, seja por métodos de cobrança

unificados e integrados, onde se cobra apenas uma tarifa para utilização de mais de um modal

na mesma viagem, ou mesmo aumento na própria infraestrutura de integração, facilitando a

transição entre dois meios. (GEBHARDT et al., 2016)

Cidades como Copenhagem e Amsterdam - capitais da Dinamarca e Holanda,

respectivamente - onde existe uma cultura de valorização do uso de bicicletas para o transporte

no dia-a-dia, são referência de boas práticas. Em todo caso, deve-se lembrar que os modos

utilizados e associados à qualquer prática tomada como referência de qualidade, devem se

considerar diversos outros aspectos relevantes da cidade, como tamanho da mesma, a

infraestrutura existente e a condição social da população. (KLINGER; KENWORTHY;

LANZENDORF, 2013)

Constantemente guiados pelos impactos ambientais causados pelos meios de transporte,

governos de diversos países vêm desenvolvendo planos de redução de emissões. O Reino Unido

serve como exemplo a ser seguido, onde se pode observar um crescente investimento de

empresas em tecnologias de transporte menos nocivas ao meio-ambiente, associado ainda à

inclusão de políticas restritivas, como no caso de Londres, onde existe a taxação de

congestionamento (congestion charging), que limita o acesso de veículos à determinadas

regiões mais movimentadas da cidade.

Muito associado à comodidade, o transporte particular predomina em Londres

históricamente, mas é algo vem decrescendo nos últimos anos graças às ações tomadas pelo

estado e à uma maior conscientização da população (principalmente a mais jovem).

Essas políticas só podem ser aplicadas quando, concomitantemente, são oferecidos

serviços capazes de substituir o transporte particular, já que o objetivo envolve causar menos

impactos ao meio ambiente, mantendo ou até mesmo aumentando o acesso à mobilidade.

(BYERS; GASPARATOS; SERRENHO, 2015)

Page 25: THIAGO SERRA RIBEIRO

23

Gráfico 3 – Evolução do número de habitantes (Milhões)

Fonte: Elaborado pelo Autor

Em Berlim, os ônibus, trams, bicicletas e metrô circulam em harmonia. Altos

investimentos na ampliação de modos mais sustentáveis e integrados dependem de uma alta

coordenação e qualidade de governança, características presentes na capital alemã.

A REALIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

O Rio de Janeiro tem uma população que ultrapassa 6,5 milhões de habitantes. Como a

maioria das metrópoles, a população carioca está em crescimento e a demanda por serviços,

que já são notoriamente classificados como de baixa qualidade, tende a aumentar.

Entre os censos de 2000 e 2010, a população do Rio de Janeiro aumentou em quase 500

mil, representando um crescimento de 8% nesses 10 anos. O aumento na população da cidade

segue o mesmo padrão e visto no Brasil e ao redor do mundo.

0,000

50,000

100,000

150,000

200,000

250,000

1991 2000 2010 2017

Brasil

4,500

5,000

5,500

6,000

6,500

7,000

1991 2000 2010 2017

Rio de Janeiro

0,000

2.000,000

4.000,000

6.000,000

8.000,000

1991 2000 2010 2017

Mundo

Page 26: THIAGO SERRA RIBEIRO

24

Esse crescimento faz com que a demanda de infraestrutura seja cada vez maior e mais

ágil para que possa suprir às mais variadas necessidades da população, sendo o acesso à

mobilidade uma das mais importantes delas. No Rio, ao menos nos momentos paralelos à Copa

do Mundo do Brasil e às Olimpíadas sediadas pela cidade, houveram altos investimentos na

cidade e seu desenvolvimento.

A criação da linha 4 do metrô ligando a Zona Sul à Barra da Tijuca, dos BRT’s (Bus

Rapid Transport) na Zona Oeste e do e VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na região central da

cidade prometiam impactar de forma jamais vista no acesso à mobilidade no Rio.

Conhecido por sua precariedade, os meios de transporte da capital fluminense são

motivo frequente de insatisfação da população. Aliado à baixa qualidade dos serviços, os preços

para sua utilização são altos e sofrem reajustes positivos com frequência questionável. Esses

fatos prejudicam o dia-a-dia dos usuários, que se vêem reféns de um sistema que não atende

aos mínimos requisitos de qualidade, segurança e pontualidade, além de estar associado à

diversos casos de corrupção e rumores ligados a licitações fraudulentas e monopólio.

A população mais pobre e que mora em regiões periféricas tem acesso limitado à cidade

como um todo. Utilizando o transporte público, muitos demoram horas na locomoção entre casa

e trabalho, o que afeta diretamente na qualidade de vida dessas pessoas. Além do tempo gasto

no transporte em si, a falta de conforto, o tempo de espera e a falta de pontualidade do transporte

causa transtornos a quem não pode recorrer a outros meios.

O transporte particular ainda é muito utilizado na cidade, principalmente pela parte da

população com maior poder aquisitivo, que escolhe usar carro próprio, taxi ou serviços como

Uber. Quem é capaz arcar com esse tipo de despesa, opta pelo conforto a passar pelas mazelas

do transporte público.

Além dos problemas intrínsecos ao serviço público de transportes, também faz parte do

cotidiano carioca congestionamentos frequentes, causados pela grande densidade de veículos

nas regiões mais centrais da cidade e manutenção precária das vias, que causa diversos

acidentes. O que por si só já seriam grandes transtornos, vêm ainda acompanhados da falta de

segurança na cidade.

Page 27: THIAGO SERRA RIBEIRO

25

3 RESILIÊNCIA URBANA

CONCEITO

A globalização e os efeitos dela são vistos repetidamente em cidades ao redor do mundo

como um reflexo do crescimento da urbanização, desenvolvimento e superpopulação das

cidades sem cautela e planejamento. Hoje sofremos os reflexos de décadas de decisões feitas

sem levar em consideração quão nocivos os avanços de nossa espécie podem ser ao meio em

que vivemos e que a grande maioria de nossos principais recursos são finitos.

Vivemos na era da sustentabilidade, buscando correr atrás do tempo perdido e

compensar as decisões desinformadas tomadas ao decorrer dos últimos séculos, quando ainda

não se tinha noção do impacto que o desenvolvimento da humanidade teria no planeta e na vida

das futuras gerações.

Num âmbito mais amplo, paralelo à sustentabilidade, surge o conceito de resiliência

urbana, que nada mais é do que a capacidade das cidades e da sociedade de sobreviver, se

adaptar e crescer frente aos desafios impostos pelo mundo moderno, sejam eles eventos

pontuais ou problemas crônicos.

No meio da Engenharia Urbana, ainda não existe um consenso com relação à definição

de resiliência, porém, na grande maioria dos casos, o conceito é ligado diretamente à resposta

das cidades à desastres naturais. De toda forma, independente do campo de estudo ou qualquer

que seja a definição dada, é associado à flexibilidade e resistência de um ser vivo, de um

material ou de um sistema.

Segundo a fundação Rockefeller, fundadora da organização 100 Resilient Cities,

resiliência não se limita à simples sobrevivência aos impactos. Além dos efeitos capazes de

mitigar um impacto pontual, o objetivo de se construir resiliência gira em torno da diminuição

das possibilidades de que uma eventual disrupção no sistema se torne um desastre de fato. Uma

cidade resiliente se torna cada vez mais preparada, desafio após desafio.

Os impactos associados à resiliência podem se referir à qualquer evento que afete a

condição habitual da cidade. Desde estresses pontuais, como um desabamento de terra,

manifestações públicas ou mesmo um ataque terrorista, até problemas recorrentes do cotidiano

da cidade, como falta de infraestrutura de transportes e de saneamento.

Page 28: THIAGO SERRA RIBEIRO

26

Dependendo completamente da integração estado-população, obter altos níveis de

resiliência se torna uma tarefa difícil de ser alcançada, principalmente em países menos

desenvolvidos, onde os recursos e serviços públicos são limitados e ainda não há grande

conscientização e preparo da população.

Existe hoje um entendimento crescente da importância dos investimentos em projetos

que considerem a resiliência na elaboração do seu escopo pelo fato de que a mesma leva em

conta uma vasta abrangência e um olhar sistêmico da cidade no contexto geral do meio urbano,

seja a curto, médio ou a longo prazo.

A resiliência transforma cidades reativas em cidades proativas.

HISTÓRICO

Em meio a uma demanda de serviços que cresce exponencialmente atrelada à limitação

de recursos, os governos e entidades responsáveis pelo planejamento das cidades vem buscando

se antecipar aos desafios impostos pelo mundo moderno.

As primeiras cidades à investirem em planos estratégicos urbanos colhem os frutos de

se ter uma cidade bem estruturada e composta por sistemas robustos o suficiente para atender à

uma grande parcela de sua população. Diversas cidades que não haviam dado ainda esse

primeiro passo vêm correndo atrás do tempo perdido nos últimos anos mas, pelo meio urbano

se tratar de uma estrutura extremamente complexa, composta por sistemas interdependentes, o

planejamento e execução de qualquer alteração deve ser feito com cautela, pois afeta de maneira

direta no dia-a-dia e qualidade de vida do cidadão.

Mesmo antes do conceito de resiliência existir, cidades como Amsterdã e Estocolmo já

apresentavam caracterísitcas que as tornavam resilientes e se destacavam no cenário mundial

pela qualidade de vida de sua população. A ampla utilização de meios de transporte menos

nocivos ao meio ambiente, assim como a disponibilização de serviços básicos e o alto índice de

acesso à educação, resultam em uma população bem informada e consciente quanto à questões

ambientais ou sociais e, por consequência, em uma sociedade mais preparada para qualquer

tipo de desafio que possa surgir.

Nos dias de hoje, há uma maior conscientização quanto aos possíveis impactos que

qualquer cidade pode vir a sofrer, o que reflete no surgimento de inúmeras novas ações que

estão sendo tomadas seja em escala local, regional ou mesmo global. Dentro desse contexto

surgiu o “100 Resilient Cities”.

Page 29: THIAGO SERRA RIBEIRO

27

Percebendo uma necessidade global em se direcionar de forma eficaz o

desenvolvimento das cidades rumo à resiliência, a fundação Rockefeller criou a organização no

intuito de reunir boas práticas e servir de apoio à grandes cidades no caminho para se tornarem

mais resilientes.

3.2.1 100 Cidades Resilientes

Em 2013, a Fundação Rockefeller, criada nos Estados Unidos, comemoraria os 100 anos

de sua criação. Envolvida em projetos por todo o mundo com objetivo de promover uma maior

qualidade de vida à humanidade como um todo, a fundação trabalha nos campos da saúde,

energia, inovação tecnológica, entre outros.

Para comemorar seu centésimo aniversário, havia a intenção de se fazer algo impactante

e de grande porte. Os padrões globais apontavam para um desafio em comum: a sobrevivência

das cidades frente aos impactos causados pela natureza e pelo homem.

A humanidade vem sofrendo os efeitos causados pela superpopulação das cidades e a

falta de cuidado com o meio-ambiente. Ela não está preparada para tal. Observando a urgência

dessa necessidade, a fundação criou o 100 Resilient Cities, cujo objetivo é criar uma rede de

cidades unida em prol do desenvolvimento sustentável de sua resiliência, para que essas cidades

sejam capazes de enfrentar os desafios causados pelo descaso ambiental, a desigualdade social

e a falta de estrutura das cidades, dentre imúmeros outros problemas presentes na sociedade

moderna.

Visando a manutenção e desenvolvimento da “sáude resiliente” da cidade, a organização

baseia sua ação em quatro pontos chave:

CRO (Chief Resilience Officer) ou Gerente de Resiliência – o responsável

central pela resiliência na cidade. É o ponto referencial dentro dos projetos que

envolvem a cidade e o 100 RC. Com objetivo de trabalhar com a maior

proximidade possível do prefeito, é quem responde pelas ações tomadas na

cidade visando o desenvolvimento de sua resiliência. Além disso, é o ponto de

contato com as outras cidades do projeto;

Planos Estratégicos de Resiliência – para ser factível, o desenvolvimento da

saúde resiliente da cidade deve passar por um planejamento detalhado e robusto,

onde devem ser observados os pontos de maior relevância para cada cidade. O

100 RC fornece suporte na execução de todo o planejamento;

Page 30: THIAGO SERRA RIBEIRO

28

Plataforma e parcerias – Acesso à uma plataforma onde os Gerentes de

Resiliência e equipes de cada cidade podem buscar ferramentas de suporte, além

de ser um facilitador no contato entre cidades e dos Gerentes de Resiliência com

outros parceiros do projeto;

Acesso a redes de cidades e Gerentes de Resiliência – a criação de uma rede

entre as cidades participantes, estabelecendo relações próximas que colaborem

com o desenvolvimento de todo o grupo.

O grande objetivo inicial da organização é desenvolver a resiliência integrando as mais

variadas camadas dos governos, organizações não-governamentais, o setor privado e a própria

população. O projeto começa com as 100 cidades chave, uma rede colaborativa no

desenvolvimento de boas-práticas entre si, mas também para cidades fora do grupo, criando um

movimento em direção à uma sociedade mais resiliente e preparada.

O projeto se iniciou com 32 cidades em 2013, em 2014 foram incluídas mais 35 cidades

dentre 330 solicitantes. A terceira e conclusiva decisão foi feita com o “Desafio 100 Resilient

Cities” realizado em Novembro de 2015, e a lista de 100 cidades foi anunciada em Maio de

2016.

Dentre as características avaliadas para a seleção das cidades, estão:

Perfil inovador dos prefeitos;

Existência de um catalisador recente de mudança;

Histórico da cidade na construção de parcerias;

Habilidade de trabalhar com uma vasta diversidade de stakeholders.

Entre as cidades participantes, temos representantes de todos os continentes. Do Brasil,

participam do grupo as cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador.

DEFININDO UMA CIDADE RESILIENTE

As caracterísicas que formam uma cidade resiliente e demonstram se ela possui

potencial de se desenvolver e se tornar capaz de se adaptar e crescer frente às adversidades

foram os objetos de estudo da Fundação Rockefeller junto a firma global de design Arup.

Extensas pesquisas e avaliações de cidades por todo o mundo foram realizadas a fim de

avaliar e descobrir quais fatores e sistemas se destacam em favor da habilidade da cidade de

Page 31: THIAGO SERRA RIBEIRO

29

Fonte: Rio Resiliente

sobreviver, se adaptar e crescer quando posta à prova. Desse esforço conjunto foi criado o City

Resilience Framework (CRF), que pode ser traduzido como Grade de Resiliência das Cidades.

3.3.1 City Resilience Framework (CRF)

O CRF busca dar uma visão mais clara dos atributos que compõem a resiliência urbana

e auxilia na compreensão da complexidade das cidades e da forma como ela é composta,

identificando os diversos pontos chave necessários para evolução de sua resiliência.

Os sistemas essenciais à resiliência são divididos em quatro dimensões: Saúde e Bem-

Estar; Economia e Sociedade; Infraestrutura e Meio-Ambiente; e Liderança e Estratégia.

Cada uma dessas dimensões é aberta em mais três subníveis que refletem, naquela

dimensão, as ações voltadas à resiliência a serem tomadas.

Figura 1 - City Resilience Framework

Page 32: THIAGO SERRA RIBEIRO

30

Porém, não basta entender isoladamente os sistemas de uma cidade para que se consiga

desenvolver sua resiliência. A integração e funcionalidade dos mesmos são parte vital para o

sucesso dos planos de resiliência. Como conclusão, o CRF propõe sete características que

compõem uma cidade resiliente:

Reflexividade – Usar a experiência de casos passados para tomar decisões

informadas no futuro;

Adaptabilidade – Ser capaz de reconhecer alternativas para recursos e soluções;

Inclusão – Criar senso de divisão nas decisões e responsabilidades nas mais

diversas instâncias;

Integração – Unir os mais diversos sistemas e instituições, trazendo o melhor

de cada um;

Robustez – Criação de sistemas bem planejados, construídos e gerenciados com

qualidade e eficiência;

Redundância – Possuir mais de uma solução para o mesmo possível problema.

Estar sempre preparado para falhas nos planos principais;

Flexibilidade – Estar sempre aberta e preparada para mudança de rumo em

estratégias e circunstâncias inesperadas.

3.3.2 O Dividendo de Resiliência

Por mais que o conceito de Resiliência comece a ser apreciado de forma crescente pela

sociedade, a dimensão de seu valor ainda é muitas vezes subestimado. Os altos custos das ações

voltadas à resiliência e o pouco conhecimento dos impactos positivos que a construção da

mesma é capaz de trazer como retorno à cidade no futuro impede muitas vezes a implementação

de projetos, já que tratam de escopos mais robustos que visam muito além da mitigação de

problemas imediatos.

Em colaboração com o a fundação Rockafeller, a Rand Corporation desenvolveu um

modelo de Valuation do Dividendo de Resiliência. Essa ferramenta permite quantificar o valor

econômico das ações de resiliência, além dos benefícios intrínsecos a esse tipo de investimento.

O Dividendo ajudou a ampliar a compreensão do valor da construção da resiliência, seja de

Page 33: THIAGO SERRA RIBEIRO

31

curto ou longo prazo e fornecer informações que antes passavam em branco para a tomada de

decisão na comparação entre estratégias resilientes ou não.

MOBILIDADE, TRANSPORTES E A RESILIÊNCIA URBANA

Os sistemas que compõem o meio urbano são uns dos principais responsáveis por definir

se uma cidade é resiliente ou não, e norteiam grande parte dos planos a serem seguidos em

busca de tornar as cidades mais sustentáveis e resilientes.

A qualidade e alcance dos sistemas de transporte, junto ao planejamento urbano

impactam diretamente a qualidade de vida da população, pois a mesma depende deles para ter

acesso à oportunidades e serviços. Quanto maiores e mais populosas as cidades, os sistemas

necessários para suprir suas necessidades deverão ser cada vez mais complexos e necessitarão

de uma governança extremamente eficiente.

Com um crescimento exponencial das cidades e da concentração da população nas

metrópoles, o planejamento dos sistemas de transporte urbano se mostra cada vez mais

desafiador, desde os projetos de ampliação ou criação de novos modais, como adaptação de

infraestruturas existentes, até a execução de obras que naturalmente impactam no cotidiano

habitual da cidade e implantação e operação dos serviços. A velocidade com que as demandas

do meio mudam é dificilmente acompanhada pelas adaptações necessárias para suprir as

mesmas.

A superpopulação das cidades, se não acompanhada pelo desenvolvimento dos sistemas

que as compõem, afetam diretamente a qualidade de vida na mesma. Em sistemas onde

predomina o transporte individual motorizado são observados congestionamentos frequentes e

alto número de acidentes além de grande insatisfação popular dada a disparidade entre a

demanda e a qualidade da estrutura existente.

A imagem de um engarrafamento é diretamente associada às cidades grandes, seja o Rio

de Janeiro, São Paulo, Nova Iorque ou Pequim. A quantidade de veículos por habitantes, por

mais que venha diminuindo em geral, ainda é alta e produz inúmeros impactos ao meio

ambiente com poluição do ar, sonora e visual, além de afetar também na qualidade da

mobilidade na cidade.

Esses impactos podem ser analisados pelo espaço ocupado pelo número de veículos, o

custo geral associado ao transporte rodoviário, as emissões de gases e resíduos e a relação

usuários/viagens ligados à cada modo de transporte.

Page 34: THIAGO SERRA RIBEIRO

32

Desde os primeiros meios motorizados, a evolução dos transportes acompanha o

crescimento da exploração e utilização de combustíveis fósseis. Apenas recentemente se tem

uma maior conscientização sobre os impactos associados ao consumo irresponsável de

recursos, fato que resulta no aumento de investimentos em tecnologias guiadas pela

sustentabilidade e responsabilidade ambiental por todo o mundo.

É possível enxergar o início do desenvolvimento da sociedade que se baseie numa

cultura de baixo carbono. São esses padrões que devem ser observados pelos Gerentes de

Resiliência nas tomadas de decisão e elaboração de estratégias. Tanto o curto quanto o longo

prazo devem ser levados em consideração e a priorização correta de projetos é de vital

importância para que os recursos sejam utilizados da forma mais eficiente possível.

CENÁRIO MUNDIAL

Toda cidade tem suas particularidades quanto a suas limitações e aos desafios que

enfrenta. Os seus Gerentes de Resiliência tem como objetivo a elaboração e implementaçãode

projetos capazes de incorporar múltiplos benefícios à cidade e aos cidadãos, dadas suas

condições e capacidade.

A rede 100 RC proporcionou que cidades por todo o mundo, em todos os continentes,

desenvolvessem suas primeiras Estratégias de Resiliência, cada uma contendo uma série de

iniciativas abordando os riscos e problemas específicos das cidades. É importante reforçar a

ideia de que o sucesso da implantação dessas ações que rumam à resiliência depende das mais

diversas camadas da sociedade, desde as instâncias governamentais, empresas privadas até a

própria população e o meio acadêmico.

Algumas ações e planos que tem sido realizados ao redor do mundo nos permitem

exemplificar variedade de fatores que abrangem o conceito de resiliência e o alcance desse tipo

de projeto, como é razido nos exemplos a seguir.

3.5.1 PARIS (França) – Transformação dos jardins escolares em “Oasis”

O aquecimento das grandes cidades, cercadas por construções em concreto é um

problema comum de diversas cidades no mundo. As ondas de calor afetam recorrentemente a

população de Paris. Tendo esse problema em vista, foi idealizado projeto que pretende

Page 35: THIAGO SERRA RIBEIRO

33

aproveitar a área ocupada pelos “jardins escolares”, que ocupam um total de mais de 600.000

m² na capital francesa.

Hoje, essa área é pavimentada e fechada à população em geral fora dos horários

escolares. O projeto prevê a transformação desses espaços em “ilhas” de resfriamento,

acessíveis aos cidadãos e já conta com parceria privada e de universidades de renome da cidade.

3.5.2 SURAT (India) – Transformação do Rio Tapi

O rio, única fonte de água para os 5,5 milhões de habitantes da cidade, é poluído pela

indústria local e recebe dejetos de áreas residenciais localizadas nas áreas mais elevadas da

cidade. Sem tratamento, os impactos para a população serão críticos.

O projeto tem como prioridade tratar a água do rio e também reestabelecer a relação da

população com o próprio rio. O acesso à água potável de qualidade será fornecido, assim como

a criação de áreas recreacionais às margens do rio e a restauração do ecossistema.

Esse projeto já conta com a parceria entre a cidade de Surat e a cidade de Rotterdã, na

Holanda, onde especialistas da cidade ajudarão no desenvolvimento dos planos e estratégias

para realização do projeto.

3.5.3 BOSTON (EUA) – Laboratório de Mobilidade Econômica e Relação de Equidade

Racial

Este é um claro exemplo da abrangência dos planos que envolvem a Resiliência Urbana.

A resolução de questões sociais e raciais são de grande importância no desenvolvimento de

uma sociedade mais forte e preparada para enfrentar desafios.

Em Boston, pesquisas indicam uma associação das oportunidades econômicas de um

indivíduo à sua etnia. Existe uma disparidade em questões de bens adquiridos, economias e

aposentadoria entre etnias distintas. O projeto visa analisar as políticas já existentes para

expandir o acesso à parcela da população menos favorecida a fim de promover segurança

financeira para todos.

O Laboratório de Mobilidade Econômica vai trabalhar em parceria com universidades

e ONGs locais para entender melhor a demografia da cidade e agir nas regiões mais críticas. A

inclusão e igualdade de oportunidades fazem parte do bem-estar geral da população e torna a

cidade como um todo mais resiliente.

Page 36: THIAGO SERRA RIBEIRO

34

RESILIÊNCIA E MOBILIDADE NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

O município do Rio de Janeiro é o segundo mais populoso do Brasil, somando quase 7

milhões de habitantes. Como uma das cidades mais importantes do país desde sua fundação,

quando era também capital, o Rio representa um dos centro econômicos mais relevantes do

Brasil, com o segundo maior PIB. Além disso, a cidade é hoje o principal destino turístico do

país, recebendo em média 2 milhões de turistas por ano. (RIO RESILIENTE, 2016)

Como ocorre em grandes metrópoles ao redor do mundo, o Rio de Janeiro também sofre

com os crescentes desafios impostos pela urbanização acelerada das cidades. Com sua

economia baseada predominantemente em serviços e a presença de empresas multinacionais na

cidade, o Rio é foco migratório no país e entrenta os problemas da superpopulação de uma área

urbana que não foi preparada para a demanda que de fato existe.

O contexto social na cidade é extremamente complexo, onde coexistem lado a lado

classes sociais de cada extremidade do espectro. A disparidade é visivelmente percebida no

cotidiano da cidade, onde vemos pessoas desabrigadas dormindo nas ruas de bairros com o

metro quadrado mais caro do Brasil. Essa questão se eleva ainda para os problemas de

segurança, noticiados internacionalmente. Os cidadãos vivem em meio a guerra contra o tráfico

de drogas e está cada vez mais habituada à violência como parte do cotidiano carioca.

A notória baixa qualidade dos serviços públicos oferecidos à população são um

catalizador dessa desigualdade que é apenas um reflexo de como a sociedade vem sendo

construída há séculos, onde existe uma tendência à se ampliar ainda mais a distância entre

classes.

Desde os serviços de saúde, educação e transporte até mesmo a faltda de acesso à

oportunidades, a forma como a cidade se divide e limita sua população impede que a situação

caminhe em outra direção.

Mesmo tendo recebido altos investimentos nos últimos anos, boa parte deles advindo da

Copa do Mundo do Brasil e dos Jogos Olímpicos sediados pela cidade, a insatisfação popular

não se dissipou e os resultados prometidos não se tornaram realidade, trazendo também a

insatisfação de investidores nacionais e internacionais, que apostaram no desenvolvimento da

cidade após os grandes eventos realizados e as obras de infraestrutura de orçamentos

milionários que os acompanharam.

Page 37: THIAGO SERRA RIBEIRO

35

Fonte: PDTU

3.6.1 “Região Mobilidade”

Ao se analisar a mobilidade na cidade do Rio de Janeiro, não podemos nos limitar à área

geográfica da cidade, já que ela é afetada por outras regiões, principalmente da região

metropolitana do Rio de Janeiro.

Como objeto de análise, deve ser considerada a “região mobilidade” da cidade, que se

concentra na região central da cidade mas que comporta também os diversos pontos de foco de

viagens como aeroportos, rodoviária e pontos turísticos, além de regiões com concentração

habitacional como a Zona Oeste.

A zona central é o coração histórico e comercial da cidade do Rio. Concentrando a maior

parte das grandes empresas atuantes na cidade e consequentemente as oportunidades de

trabalho, ela é diariamente o ponto focal de viagens com origem em toda a Região

Metropolitana do Rio e, por esse motivo, os padrões que envolvem as questões de mobilidade

em toda a região devem ser observados ao analisarmos as características da mobilidade.

Figura 2 - Redes de transporte de massa, principais eixos rodoviários e densidade de empregos

Page 38: THIAGO SERRA RIBEIRO

36

A densidade demográfica da região, que cresce radialmente em direção ao centro do Rio

de Janeiro, é refletida diretamente nos fluxos de viagens. Isso é também motivado pela parcela

da população nos outros municípios da região que trabalham em outras cidades, sendo boa parte

a capital do estado. A estrutura de transportes da região é compostas pelos sistemas de trens,

metrô, barcas, ônibus intermunicipais e vans, e é predominantemente voltada para o acesso das

periferias em direção ao centro metropolitano.

Pelos dados fornecidos pelo PDTU, podemos observar que a estrutura de transportes

funciona em função dos maiores fluxos de viagens, convergindo em direção ao centro da região

metropolitana, o que implica numa limitação das viagens entre pontos periféricos, mesmo que

estes representem polos socioeconômicos locais.

Por mais que, comparativamente, exista a priorização do acesso ao Rio, principalmente

ao centro da cidade, os sistemas de transporte ainda se mostram inadequados para a demanda

existente.

MODAIS UTILIZADOS

Dentre os modais morizados e não-motorizados, o transporte coletivo é o mais utilizado,

representando 49% das viagens diárias na região, algo que seria considerado positivo ao

considerar o desenvolvimento da resiliência.

Fonte: PDTU, 2015

49%

20%

29%

2%

Transp. Coletivo

TransporteParticular

A pé

Bicicleta

Gráfico 4 – Divisão Modal – Rio de Janeiro (2012)

Page 39: THIAGO SERRA RIBEIRO

37

A afirmação anterior não pode ser confirmada já que a razão pela qual o transporte

coletivo é o mais utilizado não é dada pela qualidade dos serviços, mas pelo transporte

individual ainda ser financeiramente acessível apenas a uma parcela pequena da população.

Os transportes não-motorizados representam viagens curtas, muitas vezes representando

o caminho entre a origem ou destino até o meio de transporte principal.

Esse tipo de avaliação mais aprofundada, considerando aspectos distintos de como a

mobilidade é realizada na região, encaminha para um entendimento mais amplo da capacidade

da cidade e como essas características afetam na sua resiliência.

A evolução dos números apresentados caminha para um aumento na utilização dos

meios motorizados, principalmente do transporte individual. As políticas de inclusão

econômica realizados nas últimas décadas, deram poder de compra às classes C e D, que

passaram a poder comprar bens e, dentre eles, automóveis e motocicletas.

Isso é mais um reflexo da baixa qualidade do transporte público, que não oferece a

comodidade que o transporte particular pode oferecer, mesmo que o custo associado à utilização

seja maior.

2003 2012 2003 2012

Transporte Individual 3,24 4,4 26% 29% 3,98%

Transporte Coletivo 9,34 11,02 74% 71% 2,00%

Total 12,58 15,42 100% 100% 2,51%

Fonte: PDTU (2015). Adaptado pelo Autor

Modo de transporte

Viagens realizadas (MM) % do totalTx. Cresc. ao

ano (%)

Tabela 2 - Viagens por habitante por modo de transporte (2003 x 2012)

2003 2012

Transporte Individual 0,29 0,37 3,07%

Transporte Coletivo 0,82 0,93 1,49%

Total 1,11 1,3 1,90%

A pé 0,6 0,56 -0,74%

Bicicleta 0,06 0,05 -1,85%

Total 0,66 0,61 -0,84%

1,77 1,91 0,88%

Fonte: PDTU (2015). Adaptado pelo Autor

Modo de transporte

Não motorizado

Motorizado

TOTAL GERAL

Viagens por habitante Tx. Cresc. ao

ano (%)

Tabela 1 - Viagens por habitante por modo de transporte (2003 x 2012)

Page 40: THIAGO SERRA RIBEIRO

38

Outra questão importante na escolha do modal, é a dificuldade na integração entre os

existentes. Diversos percursos dentro da região requerem a utilização de mais de um modal, e

a falta de integração tarifária ou mesmo de infraestrutura para realização de baldeações, faz

com que a população escolha utilizar o transporte individual se houver essa possibilidade.

A utilização do transporte rodoviário é predominante, seja individual ou coletivo. Esse

tipo de transporte é um dos menos eficientes e mais nocivos ao meio-ambiente. Em sua maioria,

são utilizados veículos a combustão, o que vai contra a direção sustentável que faz parte do

planejamento estratégico e de resiliência da cidade. É perceptível a precariedade da manutenção

dos veículos utilizados no transporte rodoviário público, que graças a falta de fiscalização e

punição de empresas prestadoras de serviço, emite gases nocivos pela cidade diariamente.

As empresas responsáveis pelas linhas de ônibus municipais tem presença frequente em

manchetes de jornais, ligadas à corrupção e condições precárias do serviço prestado, com frota

reduzida e fora dos padrões obrigatórios, além de taxas consideradas abusivas e de greves

recorrentes que envolvem o setor, que impactaram inúmeras vezes no funcionamento normal

da cidade.

Além dos impactos dos modais mais utilizados, a própria falta de infraestrutura também

afeta na qualidade do tráfego e é comum observarmos longos engarrafamentos em diversos

locais da cidade e em pontos de acesso, principalmente em horários de pico, no início da manhã

e no fim da tarde ou no caso de eventuais acidentes ou mesmo obras que impossibilitam o

funcionamento regular das vias, causando transtornos aos usuários.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Coletivo

Individual

Não

Motorizado

Fonte: PDTU, 2015

Gráfico 5 – Percentuais de Viagens por motivos para transporte (2012)

Page 41: THIAGO SERRA RIBEIRO

39

Essas limitações afetam principalmente a população periférica e as parcelas com menor

poder aquisitivo que, em sua maioria dependem do transporte público no dia-a-dia. Lembrando

que o transporte não-motorizado é predominantemente por percursos curtos de transição.

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Trem

Barcas

Metrô

Ônibus Municipal

Ônnibus Intermunicipal

Transporte Individual

Até 2 SM Mais de 2 até 5 SM Mais de 5 SM

Fonte: PDTU, 2015

Gráfico 7 – Tipologia de renda por modo de transporte (motivo trabalho)

0

10

20

30

40

50

60

Coletivo Individual Não Motorizado

2003

2012

Fonte: PDTU, 2015

Gráfico 6 – Tempo médio de viagens (Minutos)

Page 42: THIAGO SERRA RIBEIRO

40

Outro ponto importante que afeta a qualidade no transporte na cidade do Rio de Janeiro

é a falta de integração entre os modais. Com a implementação do Bilhete Único, parte dos

modais tiveram tarifa unificada, porém isso ainda é limitado a apenas alguns deles.

Hoje, ainda falta integração com os novos modais BRT e VLT. Após os investimentos

que acompanharam os grandes eventos sediados pela cidade, houve um aumento na oferta de

transporte, que melhorou consideravelmente em alguns pontos da cidade.

3.6.2 Alterações na Estrutura de Transportes

As principais mudanças na questão da mobilidade foram a criação da linha 4 do metrô,

ligando A Zona Sul até a Barra da Tijuca, incluindo novas estações também nos Bairros de

Ipanema e Leblon, a criação das vias exclusivas de BRT na região da Zona Oeste e as alterações

realizadas no projeto Porto Maravilha.

AMPLIAÇÃO DA LINHA 4 DO METRÔ

Oferecido pelo consórcio Metrô-Rio, as linhas do metrô da cidade do Rio de Janeiro são

distribuídas em 3 linhas, do bairro de Ipanema até a Tijuca (linha 1 – Uruguai x General Osório),

de Botafogo até a Pavuna (linha 2 – Botafogo x Pavuna) e a nova linha que liga a Barra da

Tijuca à Zona Sul (linha 4 – General Osório – Jardim Oceânico).

O caminho percorrido pelas linhas do metrô acompanha a costa nas regiões da Barra e

Zona Sul da cidade, passando pelo centro e em seguida se dividindo entre seus pontos finais na

Tijuca e na Pavuna.

A construção das novas estações que passam entre os bairros de Ipanema, Leblon, São

Conrado e Barra da Tijuca, fez parte do pacote de melhorias do legado dos grandes eventos. A

inauguração delas e da nova baldeação na Estação General Osório foi realizada entre os anos

de 2016 e 2017.

A disponibilização desse modal para se realizar o trajeto entre a zona sul e a zona oeste

da cidade diminuiu consideravelmente os congestionamentos nas vias entre os bairros da gávea

e São Conrado, principalmente nos pontos do túnel Zuzu Angel e no Joá, que eram pontos de

retenção frequentes.

Page 43: THIAGO SERRA RIBEIRO

41

Além dos benefícios trazidos pelas novas estacões do metrô, a ligação da estação do

Jardim Oceânico com o BRT, também recentemente implantado, facilitou a realização de

viagens para os demais bairros da Zona Oeste.

Figura 3 – Linhas do metrô e conexões

Fonte: MetrôRio, 2018

Page 44: THIAGO SERRA RIBEIRO

42

BRT (BUS RAPID TRANSPORT)

Assim como a ampliação da linha do metrô, O BRT também fez parte dos projetos

realizados para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Ele é constituído por vias expressas

exclusivas para ônibus bi-articulados, com estações fixas em diversos pontos da cidade.

O BRT carioca é composto por três corredores:

Transoeste: Primeiro corredor em operação na cidade, inaugurado em 2012.

Atende por dia mais de 216 mil passageiros em 60 km de pista exclusiva, 62

estações e quatro terminais. Hoje faz a integração com a linha 4 do metrô e leva

até Campo Grande e Paciência;

Transcarioca: Inaugurado em 2014, às vésperas da Copa do Mundo do Brasil,

atende 234 mil passageiros, que circulam pelos seus 39 quilômetros e 45

estações. Liga o terminal Alvorada, na Barra da Tijuca, ao Aeroporto

Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador. Faz também integração em

uma de suas estações com a Linha 2 do metrô e com o trem da Supervia;

Transolímpica: Inaugurada em agosto de 2016, com 18 estações e três terminais

distribuídos em 26 km. A expectativa é que, em seu pleno funcionamento,

chegue a transportar 70 mil passageiros por dia e liga a Av. Salvador Allende,

no Recreio, até Deodoro.

Com uma frota de 440 ônibus e atendendo, em média, mais de 450 mil passageiros por

dia e, o BRT vem melhorando o acesso ao transporte na região (BRT RIO, 2016), diminuindo

congestionamentos na região e oferecendo uma maneira rápida para chegar ao metrô e assim,

ao centro da cidade, considerado um dos trajetos mais críticos pelo seu alto fluxo de viagens

(região da Zona Oeste predominantemente residencial e o Centro como ponto de trabalho).

Ainda assim, uma grande parcela moradores da região (de poder aquisitivo relativamente alto),

optam por utilizarem serviços de ônibus fretados pelos condomínios residenciais ou o próprio

transporte particular.

Por mais que as novas opções colaborem com uma maior qualidade no tráfego na região,

ainda é possível se observar congestionamentos e superlotação de modais em horários de pico

e, a comodidade faz com que o transporte particular (mesmo que compartilhado, como os

ônibus fretados) ainda são uma opção amplamente utilizada.

Page 45: THIAGO SERRA RIBEIRO

43

Figura 4 – Linhas e Estações do BRT

Fonte: BRTRIO, 2018

Page 46: THIAGO SERRA RIBEIRO

44

Outra grande questão que limita a utilização entre o BRT e outros modais é a falta de

integração tarifária entre eles. Mesmo tendo uma infraestrutura de baldeação considerada de

qualidade, a tarifa entre os consórcios de diferentes modais não ser integrada faz com que

muitos passageiros realizem as viagens diárias de outras formas que sejam financeiramente

mais vantajosas.

CONSÓRCIO PORTO MARAVILHA

O maior projeto de intervenção na cidade realizado junto aos grandes eventos (não

ligados diretamente à estrutura de esportes) foi a concepção do consórcio Porto Maravilha.

A região portuária da cidade, históricamente rica e geograficamente privilegiada, foi

esquecida ao longo do tempo, perdendo sua importância graças ao baixo investimento em

manutenção de infraestrutura e segurança, sendo considerada uma área “abandonada” da

cidade. Ela é o ponto central e dá nome ao consórcio Porto Maravilha. Visando solucionar os

problemas da subutilização da região, “o Porto maravilha foi concebido para a recuperação da

infraestrutura urbana, dos transportes, do meio ambiente e dos patrimônios histórico e cultural”

(Consórcio Porto Maravilha), devolvendo vida e desenvolvimento à região atraindo moradores

e investidores.

Figura 5 – Área de Especial Interesse Urbanístico da Região Portuária

Fonte: CDURP, 2018

Page 47: THIAGO SERRA RIBEIRO

45

Em questões de mobilidade urbana, o projeto busca mudar o conceito existente na

região, priorizando o transporte coletivo, exemplificado principalmente pela implantação do

VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), e o conceito de cidade compacta, com a ideia de morar perto

do trabalho, além da criação de ciclovias e áreas para pedestres e promover acessibilidade

integralmente na região.

A área de enfoque deste trabalho é voltada para a região central da cidade por ser o polo

de origem e destino de viagens e o núcleo da “região mobilidade”, o que justifica sua

importância nas questões de mobilidade urbana no Rio e na região metropolitana como um

todo. Além disso, é uma região que sofreu impactos relevantes com as intervenções realizadas

nos últimos anos.

Figura 6 – Zona Portuária e bairros da região central da cidade

Fonte: Fonte: CDURP, 2018

Page 48: THIAGO SERRA RIBEIRO

46

A recuperação da região portuária é o maior projeto realizado nos últimos anos na região

central e onde foram localizadas as maiores expectativas. Contratada por licitação até 2026, a

concessionária Porto Novo representa a maior parceria público-privada já realizada no país.

“No centro da reurbanização está a melhoria das condições habitacionais e a atração

de novos moradores para a área de 5 milhões de metros quadrados(m²). A chegada de grandes

empresas, os novos incentivos fiscais e a prestação de serviços públicos de qualidade

estimulam o crescimento da população e da economia. Projeções de adensamento demográfico

indicam salto dos atuais 32 mil para 100 mil habitantes em 10 anos na região que engloba na

íntegra os bairros do Santo Cristo, Gamboa, Saúde e trechos do Centro, Caju, Cidade Nova e

São Cristóvão” (Rio de Janeiro, 2013)

A prefeitura criou a Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio

de Janeiro (Cdurp), responsável por gerir e fiscalizar a revitalização. Grandes obras fazem parte

do projeto, como a renovação das redes de infraestrutura urbana (água, saneamento, drenagem,

energia, iluminação pública, gás natural e telecomunicações), demolição do elevado da

Perimetral e a substituição do sistema viário por um novo conceito de mobilidade.

Além das obras, um novo padrão de qualidade de serviços de manutenção será prestado

após a conclusão das intervenções, como coleta seletiva de lixo e iluminação pública eficiente

e econômica.

Além do VLT, outras grandes obras e intervenções estruturais serão realizadas

objetivando melhorias na mobilidade urbana:

Elevado da Perimetral demolido;

Via Binário do Porto e Túnel Rio 450;

Via Expressa e Túnel Prefeito Marcello Alencar;

Nova Orla Conde;

70 km de vias reurbanizadas e 650.000 m² de calçadas refeitas;

17 km de novas ciclovias.

Page 49: THIAGO SERRA RIBEIRO

47

A operação urbana Porto Maravilha implementou grande modificação no sistema viário

da Região Portuária: a substituição do Elevado da Perimetral por conjunto que inclui a criação

de uma Via Expressa e de uma nova rota paralela, a Via Binário do Porto.

A Avenida Rodrigues Alves dá espaço à Via Expressa, parte pelo Túnel Marcello

Alencar, parte na superfície. Aberta totalmente ao trânsito em julho de 2016, ela serve a quem

cruza a área como rota de passagem. Com a função de ligar o Aterro do Flamengo a Avenida

Brasil e Ponte Rio-Niterói, tem 6.847 metros de extensão, com três faixas por sentido.

Sem semáforos e saídas intermediárias, o Túnel Prefeito Marcello Alencar será o meio

mais eficaz para cruzar a Região Portuária e o Centro. A galeria continente, com 3.370 metros

e três faixas, tem capacidade para receber até 55 mil veículos por dia e foi aberta ao tráfego em

junho. Em julho, a entrada em operação da galeria mar, com 3.382 metros - também com três

faixas - eleva a capacidade da Via Expressa para 110 mil veículos por dia.

Na região do Porto Maravilha, as vias Binário do Porto (inaugurada em novembro de

2013) e Expressa substituem o conjunto Avenida Rodrigues Alves e Elevado da Perimetral com

projeções positivas de impacto sobre o trânsito. A parte subterrânea permitiu a transformação

do trecho da Praça Misericórdia ao Armazém 8 na Orla Conde: 3,5 km de extensão para

circulação de pedestres, ciclistas e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT).

Figura 7 – Porto Maravilha (planos)

Fonte: CDURP, 2018

Page 50: THIAGO SERRA RIBEIRO

48

A Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro (CET-Rio) estima que de 20

mil a 30 mil veículos vão atravessar o novo túnel Marcelo Allencar diariamente. Estudos

apontam que o Túnel Rebouças sentido Centro deverá ter uma redução no fluxo veicular de 5%

a 10% no pico da manhã e de 10% a 15% no pico da tarde.

Figura 8 – Via Expressa e Túnel Marcelo Allencar

Fonte: CDURP, 2018

Figura 9 – Via Binário do Porto

Fonte: CDURP, 2018

Page 51: THIAGO SERRA RIBEIRO

49

O Túnel Santa Bárbara sentido Centro deverá ter queda de fluxo de 15% a 20% no pico

da manhã e de 20% a 25% no pico da tarde. Após o início da operação da Via Expressa sentido

Parque do Flamengo, houve ua diminuição de 35% no trajeto entre a Avenida Brasil e o Parque

do Flamengo.

O novo complexo de vias e túneis mudou o cenário da Região Portuária. Parte do sistema

de mobilidade urbana em implantação nas obras do Porto Maravilha, a Via Binário do Porto,

inaugurada em novembro de 2013, faz a ligação da Rodoviária Novo Rio à Avenida Rio Branco

em um dos sentidos. Paralelo à Avenida Rodrigues Alves, o sistema com 3,5 km de extensão

tem três faixas por sentido e várias saídas para a distribuição interna do trânsito na Região

Portuária.

Figura 10 – Zona Portuária e outras regiões de interesse

Fonte: CDURP, 2018

Page 52: THIAGO SERRA RIBEIRO

50

RIO RESILIENTE

A visão para um Rio mais resiliente envolve uma melhor relação entre a cidade e a água,

entre a cidade e sua infraestrutura, e entre cada cidadão e a cidade. Um Rio resiliente é uma

cidade que valoriza sua água, constrói para o futuro e dá poder aos seus cidadãos. A Estratégia

de Resiliência da cidade do Rio de Janeiro constitui um passo intermediário entre o Plano

Estratégico 2017–2020, que estabelece metas para o futuro próximo, e o Visão Rio 500, que

envolve aspirações de longo prazo.

A Estratégia de Resiliência propõe conceitos e iniciativas com foco em questões de

resiliência, conforme identificadas em avaliação de risco preliminar, em um processo que

envolveu mais de 800 pessoas entre 2013 e 2016, e que resultou na identificação dos principais

choques e estresses que afetam a cidade do Rio. A Estratégia de Resiliência indica projetos

novos com resultados de longo prazo e benefícios claros para a redução das vulnerabilidades

da cidade e aumento de sua resiliência, alinhados ao Visão Rio 500 e que têm por objetivo

apontar caminhos para que sejam atingidas as aspirações dos cariocas.

A Estratégia também inclui uma pequena seleção de projetos do Plano Estratégico

2017–2020, muitos dos quais foram propostos pelo Rio Resiliente, o escritório de resiliência da

cidade, como, por exemplo, iluminação pública de LED, indicadores de resiliência individual,

análise do potencial para energia solar em prédios públicos, e um curso on-line gratuito sobre

Resiliência Urbana, para treinar professores, funcionários públicos e a população em geral.

Todas as iniciativas da Estratégia de Resiliência envolvem conceitos, projetos e ações

específicas que são transversais, multidisciplinares e almejam reduzir os choques e estresses

crônicos da cidade. Conexão, colaboração e a identificação de cobenefícios estão na base da

Estratégia de Resiliência e são os principais valores do Rio Resiliente. (Rio Resiliente, 2016)

O Rio de Janeiro é referência na luta contra as alterações climática, parte importante do

desenvolvimento da resiliência. Entre 2013 a 2016, o ex-prefeito Eduardo Paes presidiu grupo

C40, que conecta agora 90 das maiores cidades do mundo, representando mais de 600 milhões

de pessoas e um quarto da economia global e foca na luta contra as alterações climáticas e em

ações urbanas que reduzem as emissões de gases do efeito estufa e riscos climáticos,

aumentando simultaneamente as oportunidades de saúde, bem-estar e econômicas dos cidadãos.

A inclusão da cidade no projeto 100 Cidades Resilientes foi também motivada pela

atuação no C40, além da expectativa que se formava com os investimentos relacionados aos

grandes eventos.

Page 53: THIAGO SERRA RIBEIRO

51

3.7.1 Diagnósticos e Planos Estratégicos

Nos anos de 2013 e 2014 o Rio Resiliente envolveu mais de 300 pessoas na identificação

das principais ameaças à resiliência do Rio de Janeiro. Com o apoio da metodologia da 100

Cidades Resilientes, foram entrevistados gestores públicos e de concessionárias, acadêmicos,

líderes comunitários e outros membros da sociedade civil.

O conceito de resiliência utilizado é abrangente e envolve questões econômicas, sociais,

climáticas e de comportamento e gestão. Foram identificados os seguintes choques e estresses

crônicos do Rio de Janeiro:

Chuvas Fortes;

Ventos Fortes;

Ondas e Ilhas de Calor;

Aumento do Nível do Mar;

Epidemias e Pandemias;

Seca Prolongada;

Saturação da Infraestrutura Viária;

Acidentes com Infraestrutura Urbana;

Aglomeração de Pessoas com Impacto na Mobilidade;

Ações Criminosas no Espaço Urbano;

Saneamento Insuficiente

Os principais motivos de preocupação são ligados aos problemas climáticos, de

segurança e infraestrutura.

Nos últimos anos as fortes chuvas fizeram milhares vítimas e vêm ocorrendo com

intensidade e frequência cada vez maiores. A cidade e a população não estão preparados para

os períodos de maior precipitação.

A deficiência dos serviços de segurança pública já é notória e preocupa pela baixa

perspectiva de melhora que os últimos governos têm dado à população.

O aspecto que permeia mais amplamente a Engenharia Urbana é a infraestrutura, onde

os desafios ligados à mobilidade tem sido atacados nos projetos realizados nos últimos anos

com ampliação de linhas e criação de novos modais.

Page 54: THIAGO SERRA RIBEIRO

52

4 MOBILIDADE E RESILIÊNCIA EM ANÁLISE

Os conceitos de Mobilidade, inerentes à própria Resiliência Urbana, unem

características objetivas e subjetivas do cotidiano das cidades. Não é simples correlacionar

dados que vão desde renda per capita e preço médio de transporte público até percepção

populacional sobre obras públicas e qualidade de transporte.

Por mais que a interdependência desses assuntos seja clara, poucos estudos integram

esses e mais outros índices que definem o que se entende por Cultura da Mobilidade.

CULTURA DA MOBILIDADE

As características que explicam o modo como uma cidade se move misturam dados que

não são comumente analisados lado a lado. É necessário observar dados frios e informações

advindas de nada mais que percepção humana daqueles que vivem num determinado ambiente

para compreender o comportamento da mobilidade de uma cidade. (KLINGER;

KENWORTHY; LANZENDORF, 2013)

Existem diversas nuances a serem colocadas lado a lado para entender as diferenças de

regiões que podem ser similares em muitos aspectos, mas que resultam em propostas de

mobilidade tão distintas.

Klinger, Kenworth e Lanzendorf (2013) atribuem à 23 indicadores as características

básicas que podem ajudar a definir a cultura de mobilidade em uma cidade e se resumem no

Diagrama de Cultura da Mobilidade (Figura 11). O estudo, feito para 44 cidades alemãs, segue

conceitos que funcionam para essas cidades, mas que não necessariamente se enquadram na

área de estudo deste trabalho.

A utilização dos indicadores representa uma perspectiva nova de se observar a

mobilidade, integrando aspectos de dimensões diferentes. Resumindo, a análise contempla a

Forma Urbana, aspectos Sócio-Econômicos, Insfraestrutura de Transportes e Comportamento

relacionados à transporte e viagens realizadas. Por outro lado, ignora os conceitos mais

aprofundados de discurso político e s própria política de transportes para a análise dada a

dificuldade de quantificação de tais aspectos. Entende-se que eles são parte fundamental de

outros conceitos abordados como infraestrutura de transporte ou comportamento relacionado

às viagens e, refletem nos resultados apresentados para tais indicadores.

Page 55: THIAGO SERRA RIBEIRO

53

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO

A escolha das cidades para avaliação foi baseada na lista das 100 Cidades Resilientes

por já apresentarem o potencial de resiliência como característica comum. A dificuldade de

obtenção de dados também foi um fator limitante no processo de análise, principalmente para

os dados de pesquisas qualitativas e de opinião pública, que dependem da existência de

pesquisas similiares para as cidades estudadas.

Foram selecionadas outras 12 cidades participantes do 100 RC que apresentavam

características demográficas relativamente próximas ao Rio. Também foram obtidos os dados

de outras 5 cidades que não fazem parte do 100 Resilient Cities mas que, por aparecerem na

maioria dos estudos sobre mobilidade utilizados como base para a análise proposta, foram

incluídos para efeito comparativo.

Fonte: (KLINGER; KENWORTHY; LANZENDORF, 2013). Adaptado

pelo Autor

Figura 11 – Diagrama de Cultura de Mobilidade Urbana

Page 56: THIAGO SERRA RIBEIRO

54

Foram avaliadas as cidades de São Paulo, Paris, Londres, Boston, Nova Iorque,

Santiago, Barcelona, Lisboa, Roma, Singapura, Chicago e Toronto, e, com o Rio, formam o

grupo de 13 cidades do 100 RC avaliadas que serão categorizadas.

As cinco cidades utilizadas como comparativo são Hong Kong, Moscou, Berlim,

Munique e Madri.

O Rio de Janeiro será avaliado tanto no período anterior quanto posterior aos grandes

eventos da Copa do Mundo e Olimpíadas, buscando evidenciar como foram os impactos

causados na mobilidade da cidade. Na eventual ausência de dados, foi utilizada projeção de

crescimento observada nos anos anteriores.

Na a análise proposta, buscamos adaptar os indicadores compilados no estudo alemão

para as informações encontradas de forma que pudessem englobar cidades qualquer lugar do

mundo e em contextos sociais muito distintos entre si.

A combinação dos indicadores busca evidenciar as características que compõem o

diagrama de Cultura da Mobilidade e nos permite avaliar comparativamente os pontos de maior

importância em cada cidade, desde suas maiores fraquezas e qualidades até mesmo os pontos

de potencial a ser trabalhado para desenvolvimento de sua resiliência.

Os indicadores serão divididos em 5 categorias:

Avaliação Púlbica;

Forma Urbana;

Sócio-Econômicos;

Infraestrutura;

Demanda e Viagens;

Advindos de diversas fontes, com unidades e padrões de medição variados, serão

normalizados individualmente de forma comparativa entre as cidades. Além deles, utilizaremos

indicadores consolidados como benchmarking para comparar os resultados obtidos na nossa

avaliação.

Os conceitos de Resiliência e Sustentabilidade na Mobilidade foram utilizadas para que

fossem definidos os parâmetros de cálculo dos indicadores. A relação entre o dado bruto e seu

impacto na cultura da mobilidade da cidade indicará se ele agrega valor dentro dos conceitos

de resiliência citados, podendo variar entre 0 (zero) – pior caso – e 1 (um) – representando o

valor que em teoria impactaria mais positivamente a mobilidade na cidade.

Page 57: THIAGO SERRA RIBEIRO

55

Por exemplo, a relação Ticket/Salário Médio é inversamente proporcional à qualidade

na cultura de mobilidade, já que representa um fator limitante ao acesso ao transporte público.

Considerando I como o valor normalizado do indicador e V o valor bruto do dado:

𝐼𝑖 = 1 − 𝑉𝑖 − 𝑉𝑚𝑖𝑛

𝑉𝑚á𝑥 − 𝑉𝑚𝑖𝑛

Já no caso dos indicadores de Índice de Satisfação e PIB per Capita, representam fatores

que influenciam positivamente na avaliação da Cutura da Mobilidade de uma cidade. O

primeiro evidencia a qualidade dos sistemas de transporte e percepção das ações realizadas para

melhorias no mesmo, enquanto o segundo demonstra aspectos da saúde econômica da cidade,

fator relevante para a desenvolvimento da Resiliência. Ainda considerando I como o valor

normalizado do indicador e V o valor bruto do dado:

𝐼𝑖 = 𝑉𝑖 − 𝑉𝑚𝑖𝑛

𝑉𝑚á𝑥 − 𝑉𝑚𝑖𝑛

Para alguns indicadores, como os de forma urbana, que representam características

espaciais e demográficas, a relação de influência na Cultura da Mobilidade não é facilmente

analisada em cima de valores brutos, necessitando de estudo mais aprofundado sobre o caso de

cada uma das cidades. Por esse motivo, esses indicadores foram definidos inicialmente como

sendo proporcionais à Cultura da Mobilidade (quanto maior o valor, maior o indicador), para

que sejam analisados junto aos outros indicadores onde essa relação é mais evidente e, por fim,

associá-los em conjunto.

A fim de auxiliar na consistência dos indicadores calculados, serão utilizados 3

indicadores que funcionarão como benchmark externo para avaliação dos resultados de cada

categoria. Pela complexidade do tema e falta de estudos aprofundados sobre as categorias

individualmente, utilizaremos os 3 sub índices do estudo feito pela Arcadis em 2017 no cálculo

do Índice de Mobilidade das Cidades Sustentáveis para evidenciar discrepâncias e orientar os

resultados obtidos a partir dos valores brutos: People, Planet e Profit.

Page 58: THIAGO SERRA RIBEIRO

56

4.2.1 Indicadores

AVALIAÇÃO PÚBLICA

As preferências e atitudes pessoais tem relevância na escolha dos modais utilizados nos

meios de transporte, mas, por se tratarem de dados subjetivos, são dimensões complicadas de

serem capturadas.

Pesquisas de satisfação com relação à qualidade transporte público foram utilizadas para

buscar capturar o sentimento da população sobre os serviços oferecidos em suas cidades. Esses

indicadores subjetivos, junto aos demais índices objetivos, são utilizados para buscar entender

a cultura e a própria percepção sobre a mobilidade local.

Entre metrópoles distintas, ficamos limitados com relação à esse tipo de pesquisa de

satisfação e, foram utilizados dados de diversas pesquisas de satisfação, sendo a primeira

pesquisa de órgãos locais de cada cidade, a segunda advinda de relatório de índice de

mobilidade Delloite de 2018 e a terceira de estudo de mobilidade realizado pela empresa

McKinsey também do ano de 2018. Os parâmetros foram normalizados para qeu se pudesse

atribuir à cada cidade um nível de satisfação global sobre o transporte público.

FORMA URBANA

O foco dessa categoria são as caracterísicas espaciais de cada cidade. Consideramos a

população como primeiro indicador. Por mais que não seja uma característica espacial, entende-

se que o número de habitantes de uma cidade tem relação direta com a disposição da cidade e

a escolha modal.

Utilizamos também a densidade urbana, representada pelo número total de habitantes

por km² área estudada, indicador comumente utilizado para representar as características

urbanas de uma região.

SÓCIO-ECONÔMICOS

Alguns indicadores típicos das características sócio-econômicas das cidades são

utilizados nas análises e representam condições objetivas relacionadas ao comportamento no

meio urbano. O PIB per capita consegue conversar com os modais principais e as características

de possibilidades de acessso à diversas regiões e viagens realizadas nas cidades.

Page 59: THIAGO SERRA RIBEIRO

57

A força econômica é alinhada com a parcela da população ativa, o número de viagens e

relações origem-destino em horários de pico. Ao lado dessas características consideramos

índices de desemprego e também a parcela da população com mais de 65 anos como índices

relevantes, já que as viagens realizadas pela população mais idosa apresenta outras motivações

e possui limitações muito características relacionadas à acessibilidade.

Um indicador um pouco mais aprofundado é a relação entre o preço médio de bihlete

de transporte público pelo salário médio, ligado também ao acesso e poder aquisitivo da

população em geral.

INFRAESTRUTURA

Os indicadores representados nessa categoria se relacionam aos aspectos do traçado dos

sistemas de transporte da cidade, assim como o próprio planejamento urbano e a infraestrutura

existente, essenciais ao entendimento da cultura da mobilidade. O foco dos indicadores da

categoria são relativos aos modos utilizados, já que informações ligadas à disposição de

infraestrutura são limitados.

Também serão evidenciados indicadores ligados infraestrutura de transportes que

representam a forma com que as viagens são realizadas, com indicadores de Tempo de

deslocamento médio por dia, Parcela de Viagens Longas, Tempo Médio de Espera, Parcela de

Esperas Longas(+20 minutos), Distância Média de Viagens, Parcelas de Viagens Longas

(+12km), Parcela de baldeações, Parcela de mais de uma baldeação realizada, Distância

Média em um trajeto a pé, Parcela de trajetos longos a pé (+1km).

Alguns indicadores binários são considerados na categoria, como existência de tramway

ou VLT, existência de outro meio de transporte diferente de ônibus e serviço de aluguel de

bicicletas. A disponibilidade desses serviços se relaciona diretamente com a qualidade do

transporte público representada pela variedade de modais e a capacidade total de serviço.

Indicadores que evidenciam níveis de congestionamento também serão observados

nessa categoria.

DEMANDA E VIAGENS

Os indicadores ligados ao comportamento e demandas são ligados fortemente à forma

e características sócio-econômicas. Naturalmente, também são considerados os índices de

motorização, que representam a quantidade de carros por mil habitantes. Esse indicador é ligado

Page 60: THIAGO SERRA RIBEIRO

58

tanto ao poder aquisitivo da população quanto à disponibilidade de acesso e qualidade dos

modais existentes em cada região da cidade.

A divisão modal em parcela de carros particulares, transporte público, bicicleta, a pé

e outros são indicadores essencias para compreender o comportamento das cidades e a forma

com que o sistema de transportes funciona de fato. Esses números expressam de certa forma as

políticas urbanas e até mesmo a cultura da população e a tendência de utilização de

determinados meios.

INDICADORES DE BENCHMARKING

Dada a subjetividade dos dados analisados e sutileza com que os índicadores se

correlacionam, utilizaremos como benchmarking os resultados do Índice de Mobilidade das

Cidades Sustentáveis (ARCADIS, 2017) para auxiliar na avaliação de cada categoria. O IMCS

se divide nos seguintes sub-índices:

PEOPLE: Relaciona as implicações sociais e humanas na mobilidade urbana

PLANET: Voltado aos impactos ambientais e objetivos futuros das cidades para a

mobilidade e sustentabilidade.

PROFIT: Ligado à eficiência e confiabilidade do sistema como um todo para facilitar

o crescimento e dar suporte aos empreendimentos e negócios locais.

4.2.2 Tratamento dos Dados

Os indicadores serão explicitados graficamente e formarão, em conjunto, o mapa

comparativo da Cultura da Mobilidade em cada uma das cidades. Os pontos de destaque serão

evidenciados isoladamente, por categoria e na composição final do que daremos o nome de

Índice de Cultura de Mobilidade.

Os resultados granulares e gerais formados pela união dos indicadores calculados e os

de benchmarking serão colocados lado a lado com as avaliações feitas pelo 100 RC e os planos

de Resiliência das cidades. Serão enfatizados os pontos onde o Rio de Janeiro apresentar maior

discrepância sobre os demais, assim como maior variação entre a cidade antes e depois dos

grandes eventos.

.

Page 61: THIAGO SERRA RIBEIRO

59

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Tabela 3 – Indicadores de Cultura de Mobilidade Urbana

Fonte: Elaborado pelo Autor

Page 62: THIAGO SERRA RIBEIRO

60

DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS

A normalização considerará os valores brutos dos dados, tirando como o máximo como

benchmark 1 (um) e mínimo como benchmark 0 (zero).

Para os indicadores onde o valor bruto mais alto representar um impacto negativo à

mobilidade, o valor será normalizado inversamente, onde o mínimo representará 1 (um) e o

máximo valor representará 0 (zero) no indicador.

Os valores serão colocados lado a lado graficamente para cada uma das cidades, onde

poderemos observar visualmente os pontos envolvidos na cultura da mobilidade que possuem

maior impacto na cidade do Rio de Janeiro.

Não necessariamente teremos resultados com índices extremos (zero ou um) já que na

avaliação, classificação e construção dos gráficos não foram evidenciadas as cidades fora do

100 RC, que serviram apenas como parâmetro regulador dos indicadores.

Page 63: THIAGO SERRA RIBEIRO

61

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Paris

Page 64: THIAGO SERRA RIBEIRO

62

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Boston

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Nova Iorque

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Santiago

Page 65: THIAGO SERRA RIBEIRO

63

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Lisboa

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Roma

Page 66: THIAGO SERRA RIBEIRO

64

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Toronto

Page 67: THIAGO SERRA RIBEIRO

65

A partir dos indicadores calculados e construção de gráficos, podem ser facilmente

relacionados os pontos em que cada cidade se destaca positiva ou negativamente.

Para cada um dos indicadores, conseguimos evidenciar como a cidade do Rio se

posiciona comparativamente:

IndicadorMelhor

PosicionadoValor

Posição - Rio

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Satisfação Singapura 83% 13 30%

População (Milhões de habitantes) Nova Iorque 18,90 6 6,69

PIB per capita (USD) Boston 96,05 9 45,60

Densidade demográfica (1000 hab./Km²) Paris 9,19 4 5,57

Carros/1000 habitantes Singapura 101 7 305

% Ticket/Salário Médio Boston 2,0% 14 9,5%

Tempo de deslocamento médio por dia

(min)Barcelona 50 13 95

Viagens longas (+2h/dia) Barcelona 8,0% 13 32,0%

Tempo médio de espera (min) Barcelona 10 11 19

Esperas Longas (+ 20 min) Barcelona 9% 11 35%

Distância média de viagens (km) Lisboa 6,30 13 12,30

Viagens de longa distância (+ 12 km) Lisboa 10% 13 37%

Parcela de pessoas que faz ao menos uma

baldeação em um único trajetoBarcelona 58% 4 62%

Parcela de pessoas que faz mais de uma

baldeação em um único trajetoBarcelona 13% 2 16%

Distância média em um único trajeto a pé

(km)Londres 0,53 8 0,70

Viagens a pé de mais de 1 km em um

único trajetoLondres 11% 8 21%

Tempo Extra de Congestionamento Chicago 26% 13 47%

% Carro Particular Rio de Janeiro 20% 1 20%

% Transporte público Rio de Janeiro 49% 1 49%

% A pé Paris 46% 5 29%

% Bicicleta Londres 5% 3 2%

% Outros Rio de Janeiro* 0% 1 0%

Fonte: Elaborado pelo Autor

Tabela 4 – Indicadores – Melhores colocados e posição do Rio de Janeiro

Page 68: THIAGO SERRA RIBEIRO

66

4.3.1 Pontos Fortes

Mesmo sendo o polo turístico do país e tendo o segundo maior produto interno bruto, a

desigualdade faz com que a cidade do Rio de Janeiro fique para trás nas questões sócio-

econômicas. A cidade possui uma variedade grande de modais, se posicionando no topo da

classificação dos indicadores que consideram as características de Parcelas Modais. Os

investimentos relacionados aos grandes eventos tendem a melhorar ainda mais esses

indicadores para os próximos anos, já que muitas das pesquisas são referentes a períodos

anteriores ou que ocorreram na época dos eventos.

4.3.2 Desafios

Como pode ser observado, a cidade do Rio de Janeiro se destaca negativamente na

comparação com outras cidades do 100 RC, sendo a referência negativa em 4 indicadores:

Satisfação, % Ticket/Salário Médio, Distância Média de Viagens e % Viagens de longa

distância.

Além dos supracitados, se mostra abaixo da média na grande maioria dos indicadores,

ficando entre as três piores colocações em outros 4 indicadores: Tempo de deslocamento médio

por dia, Viagens longas, Tempo médio de espera e Esperas Longas.

O índice de satisfação se alinha com o resultado dos indicadores calculados,

principalmente nos que se relacionam diretamente com a qualidade do serviço oferecido e, por

consequência, afetam na qualidade de vida do cidadão.

O valor estimado de gasto mensal com transporte público na cidade do Rio de Janeiro

fica abaixo da maioria das cidades analisadas, porém tem em contra-partida a média salarial

mais baixa dentre todas as cidades faz com que a taxa Ticket/Salário Médio seja também a

mais baixa. A desigualdade presente na cidade pode ser evidenciada ao colocarmos os dois

indicadores sócio-econômicos lado a lado, onde pode-se observar o Rio a frente de algumas

cidades no indicador de PIB per capita.

Por mais que apresente alguns pontos de densidade demográfica mais elevada, a

população carioca está espalhada por todos os cantos da cidade. Com os polos de emprego

localizados majoritariamente na região central e poucas opções de moradia próximas realmente

acessíveis à grande maioria da população, a distância média de viagens no Rio é a mais elevada

Page 69: THIAGO SERRA RIBEIRO

67

dentre todas as cidades, ultrapassando os 12 km em 37% do total de viagens realizadas na

cidade. A própria média fica acima do que é considerado como uma viagem de longa distância.

Os indicadores de Tempo de deslocamento médio e % de viagens longas, onde o Rio

fica a frente apenas de Toronto, também são explicados pelos motivos citados acima. A falta

de descentralização da cidade faz com que as viagens sejam longas e o carioca passe boa parte

do seu dia no trajeto “casa - trabalho”.

O indicador de Tempo Extra de Congestionamento evidencia ainda mais os desafios

de mobilidade na cidade do Rio de Janeiro. O Rio fica também em último lugar nesse indicador,

por mais que tenha havido uma melhora considerável entre os anos de 2014 e 2016, reduzindo

4 pontos percentuais.

Por mais que a cidade lidere o indicador de parcela modal % de transporte público e %

de carros, diferentemente de Toronto, o tempo de congestionamento segue elevado pela baixa

qualidade de infraestrutura, exposta pela recorrência de acidentes e obras de manutenção

paleatívas.

Além da dificuldade de locomoção na cidade e os longos períodos em viagens que

duram mais tempo do que seria necessário em fluxo normal, o carioca tem de enfrentar longos

períodos de espera pelo transporte público. O congestionamento da cidade e a baixa qualidade

dos serviços resultam em um transporte que peca na pontualidade e na regularidade de linhas,

aumentando em média até 40 minutos nos percursos diários.

A comparação entre a cidade antes e depois dos grandes eventos, como citado

previamente, fica limitada pela carência de dados, e dependem do entendimento da relação dos

indicadores de forma urbana e sócio-econômicos com informações e notícias fornecidos sobre

as mudanças que ocorreram durante esses anos.

A diminuição do tempo extra de congestionamento é contra-balanceado pelo aumento

da taxa de ticket/salário mensal. Os reajustes de preço de passagens tem ocorrido com

frequência nos últimos anos, causando grande insatisfação da população.

4.3.3 Propostas e recomendações de melhorias em potencial

A governança dos sistemas e infraestruturas de transporte na cidade peca no que se trata

de solucionar a centralização urbana e as grandes distâncias enfrentadas diariamente pelo

carioca.

Page 70: THIAGO SERRA RIBEIRO

68

Enquanto a maioria da população já é usuária do transporte público, o mesmo carece de

qualidade de serviço e a população paga um preço alto por isso, literal e figurativamente. Por

mais que exista uma variedade modal grande, os mesmos agem praticamente isoladamente. A

intermodalidade é mínima nos sistemas de transportes da cidade e, até os dias de hoje, não

existe mesmo uma tarifa única para utilização de mais de um modal.

O acesso a pontos de interesse, tanto da população quanto para o turismo (ponto forte

da cidade), é precário e extremamente limitado, como acesso aos aeroportos, rodoviária,

estádios de futebol e museus. Ainda hoje, após anos de grande movimento de desenvolvimento

urbano para a Zona Oeste, ainda não existem meios integrados de se chegar ao centro da cidade.

Quem tem acesso, opta pela comodidade de usar o veículo pessoal a passar horas em mais de

um meio de transporte onde não há qualquer integração direta.

Existe uma grande necessidade de descentralização da cidade e expansão da

acessibilidade, seja pela facilidade de interconexão, quanto pela criação de micro-polos na

cidade.

Entre os pontos relacionados, ficam evidenciados alguns pontos de potencial

desenvolvimento, ordenados por nível de complexidade:

Ampliação de linhas de metrô e VLT para áreas de interesse (aeroporto,

rodoviária, etc):

A limitação do acesso à pontos importantes da cidade é motivo de incômodo para

moradores e turistas, mas a solução se caracteriza como algo a se fazer a longo prazo. Hoje, as

linhas de VLT e BRT já melhoraram o acesso aos aeroportos e à rodoviária. Ainda longe de ser

o ideal, as limitações econômicas da cidade impedem o investimento na ampliações dos

sistemas existentes.

Construção de vias urbanas elevadas/viadutos:

Dada a malha viária saturada, a construção de estruturas elevadas nas regiões de maior

densidade poderia reduzir os problemas de congestionamento. Por serem visualmente mais

pesadas, a possibilidade de implantação dessas estruturas é normalmente rejeitada, por mais

que possa representar uma solução mais barata e rápida para o problema de retenção de tráfego,

como já acontece em diversas cidades do mundo.

Page 71: THIAGO SERRA RIBEIRO

69

Incentivo à descentralização pela criação de micro-polos por diversas regiões da

cidade:

O investimento em micro-polos pela cidade também representa uma solução de médio

a longo prazo, já que depende da estabilização desses locais. Desde sua fundação, a cidade gira

em torno da região portuária e central e, a maioria das oportunidades e investimentos se

encontram nesses locais.

A cidade ainda apresenta certa resistência a essa tendência de descentralização das

cidades que, é fortemente recomendada como fator de desenvolvimento de resiliência urbana

por fatores sociais, ambientais, econômicos, entre outros. É comum que projetos como esse ão

sejam realizados por se tratarem de planos políticos de prazos mais longos e não representarem

uma ação facilmente visível pela população. Ainda é fator decisivo a relevância política dos

projetos investidos na cidade, por mais que sejam de fato, uma oportunidade válida evidenciada

por outros fatores.

Incentivo à ocupação da Zona Portuária:

Foco de grand eparte dos investimentos ligados aos grandes eventos, a região apresentou

uma evolução no que se refere à infraestrutura, porém ainda se encontra desocupada. A

insegurança da população e de investidores na economia do Estado do Rio como um todo, faz

com que a confiança não cresça e os investimentos fiquem travados. A crise econômica

enfrentada pela cidade acaba afetando a continuação dos investimentos que iniciaram muito

antes de 2014 e hoje, boa parte do que foi colocado na região portuária não foi utilizado ou está

sendo sub-utilizado.

A região tem grande potencial por ter localização privilegiada. Com aumento da

presença de empresas e moradores, tende a voltar a atrair investimentos. Hoje, sem ação para

melhorias na segurança e incentivos à ocupação, segue como uma área abandonada pelo

carioca.

Criação de Tickets Únicos de Transporte para Moradores:

Diferente dos padrões sehuidos pelas cidades referência em mobilidade no mundo, o

Rio apresenta diversos modais que trabalham isoladamente. A intermodalidade é precária, oque

afeta o bolso do carioca e limita o acesso à mobilidade.

Existem alguns sistemas que oferecem certa interface entre alguns sistemas hoje na

cidade, porém nada efetivo e que melhore de forma relevante a qualidade de vida da população.

Page 72: THIAGO SERRA RIBEIRO

70

A criação de bilhetes únicos de transporte para moradores, com prazos de utilização

entre um mês à um ano, seguindo os padrões europeus, poderia servir como solução para a

questão da acessibilidade. Com um número limitado de acessos diários e o pagamento de taxa

que represtatia um valor mais baixo de cada viagem individual, acabaria influenciando o carioca

a usar ainda mais o transporte público, o que pode vir a diminuir os níveis de congestionamento.

Criação de Tarifa Única Intermodal:

A acessibilidade na cidade é limitada. Muitos locais ainda não tem acesso por mais de

um modal. Então, é vital que, para que a cidade esteja conectada, que os meios de transporte

estejam ligados. Em um único trajeto, independente dos modais e número de baldeações, a

tarifa deveria ser única.

Em teoria, se trataria de uma alterção simples no sistema de transportes. A grande

dificuldade de aplicação dessa ação se dá pelos diferentes consórcios que gerem os transportes

na cidade e, quando se tratam de uma decisões políticas, sempre existe uma burocracia inerente

que por acaba afetando a qualidade de vida da população.

Page 73: THIAGO SERRA RIBEIRO

71

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conceito de resiliência vem ganhando notoriedade ao redor do mundo pela

importância que tem sido dada ao desenvolvimento e preparação de todo o meio urbano para

que este não esteja vulnerável aos mais variados problemas e desafios que as cidades enfrentam

nos dias de hoje.

Os diagnósticos realizados no Rio de Janeiro pela equipe local e seu CRO em conjunto

com o 100 RC demonstram a gravidade da situação da cidade. Desde problemas relacionados

à catástrofes climáticas até os problemas mais instrínsecos à estrutura (ou a própria falta dela)

para os mais diversos serviços básicos, como saneamento, segurança e transporte.

Pela avaliação realizada neste trabalho, aprofundada nos aspectos que definem a cultura

da mobilidade da cidade, pode-se reforçar a ideia de que a qualidade dos meios de transporte e

acesso à mobilidade no Rio é extremamente precária e, globalmente, apresenta a pior situação

com relação à esses aspectos dentro das cidades utilizadas para comparação.

Por mais que a cidade tenha demonstrado uma evolução entre os anos que

compreenderam a realização da Copa do Mundo do Brasil e as Olimpíadas do Rio de Janeiro,

a qualidade geral, assim como a satisfação da população não estão em patamares aceitáveis. É

importante frizar que o Rio de Janeiro possui potencial para mudar esses parâmetros e por esse

motivo se mostrou apta à instituições internacionais que era capaz de receber os eventos de

grande porte que ocorreram na cidade.

Existem projetos que, se realizados e implementados de forma correta, da maneira que

foram planejados, podem de fato trazer ao Rio e ao carioca o legado que foi prometido quando

a cidade aceitou receber os grandes eventos. Porém, as mazelas de uma governança muitas

vezes questionável, faz com que a confiança da população e dos investidores externos tendam

a diminuir cada vez mais.

É vital que, para o atingimento dos objetivos de transformar o Rio numa cidade de fato

resiliente, principalmente as esferas responsáveis pela viabilização e execução de projetos ajam

com eficiência e transparência e assim a cidade volte a crescer econômicamente e a qualidade

de vida do cidadão melhore.

Page 74: THIAGO SERRA RIBEIRO

72

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