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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL RENATO GADÊLHA CLÁUDIO TIPOLOGIA DAS PONTES ESTAIADAS COM TABULEIRO DE CONCRETO FORTALEZA 2010

TIPOLOGIA DAS PONTES ESTAIADAS COM TABULEIRO DE …€¦ · Pontes estaiadas consistem basicamente na suspensão do tabuleiro de uma ponte através de cabos ancorados ao topo de torres

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL

CURSO DE ENGENHARIA CIVIL

RENATO GADÊLHA CLÁUDIO

TIPOLOGIA DAS PONTES ESTAIADAS COM TABULEIRO DE CONCRETO

FORTALEZA

2010

i

RENATO GADÊLHA CLÁUDIO

TIPOLOGIA DAS PONTES ESTAIADAS COM TABULEIRO DE CONCRETO

Monografia submetida à Coordenação do Curso

de Engenharia Civil da Universidade Federal do

Ceará, como requisito parcial para obtenção do

grau de Engenheiro Civil.

Orientador: Prof. Dr. Joaquim Eduardo Mota

FORTALEZA

2010

ii

C553t Claudio, Renato Gadêlha

Tipologia das pontes estaiadas com tabuleiro de concreto / Renato

Gadêlha Claudio. – Fortaleza, 2010.

86 f. il.; color. enc.

Orientador: Prof. Dr. Joaquim Eduardo Mota

Área de concentração: Engenharia de Estruturas

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de

Tecnologia. Depto. de Engenharia Estrutural e Construção Civil, Fortaleza,

2010.

1. Pontes estaiadas 2. Método dos elementos finitos 3. Engenharia de

Estruturas I. Mota, Joaquim Eduardo (orient.) II. Universidade Federal do

Ceará – G raduação em Engenharia Civil. III.Título

CDD 620

CDD 639.2

iii

RENATO GADÊLHA CLÁUDIO

TIPOLOGIA DAS PONTES ESTAIADAS COM TABULEIRO DE CONCRETO

Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal

do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Aprovada em 01/12/2010

BANCA EXAMINADORA

iv

Dedico este trabalho aos meus amados pais,

Francisco Célio Cláudio e Maria Elza Sombra

Gadêlha Cláudio, pelo apoio inestimável e

pela oportunidade que me deram para poder

chegar aonde cheguei, com muito estudo e

dedicação.

v

AGRADECIMENTOS

À Deus, que me deu vida e inteligência, e que me dá força para continuar a

caminhada em busca dos meus objetivos.

Aos meus pais, Francisco Célio Cláudio e Maria Elza Sombra Gadêlha Cláudio,

que me ensinaram a não temer desafios e a superar os obstáculos com humildade.

Ao professor Joaquim Eduardo Mota pela sua paciência e orientação na realização

deste trabalho.

E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta

monografia.

vi

RESUMO

Pontes estaiadas consistem basicamente na suspensão do tabuleiro de uma ponte

através de cabos ancorados ao topo de torres ou ao longo destas. Este tipo de ponte possui um

elevado grau de hiperestaticidade, podendo-se comparar o tabuleiro a uma viga apoiada em

apoios elásticos. Este tipo de solução é capaz de vencer vãos da ordem de várias centenas de

metros com seções de tabuleiro muito esbeltas, sendo elevado o número de combinações de

seus elementos, visto que estes possuem várias possibilidades de geometrias, formas e

disposições. Torna-se necessário, portanto, uma boa compreensão de cada uma destas

configurações possíveis na fase de pré-dimensionamento do projeto, objetivando a otimização

dos recursos e uma boa distribuição dos esforços na estrutura de uma forma global. O estudo

de cada uma das possibilidades dos elementos constituintes de uma ponte estaiada é o

objetivo fundamental deste trabalho, assim como analisar critérios para fundamentar a escolha

de uma determinada solução. Este estudo está fundamentado em pesquisas bibliográficas,

tentando-se unir critérios de escolha de alternativas e critérios de pré-dimensionamento. Por

fim, são aplicados estes conceitos a uma situação hipotética, onde se procura modelar uma

ponte estaiada existente e, neste mesmo modelo, alterar um de seus elementos estruturais,

para em seguida, com o auxílio de uma ferramenta computacional baseada no método dos

elementos finitos, realizar uma análise destes dois modelos. Serão analisados os esforços

produzidos na estrutura devido às cargas permanentes e às cargas móveis, além dos

deslocamentos e deformações produzidos por estas ações em pontos críticos. De posse destes

resultados, será possível realizar uma discussão a respeito da aplicabilidade dos critérios

adotados na fase de pré-dimensionamento.

Palavras-chaves: Pontes estaiadas, pré-dimensionamento, esforços.

vii

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

E Módulo de Elasticidade

eqE Módulo de Elasticidade equivalente

kN Quilo Newton

MPa Mega Pascal

D.M.F Diagrama de Momento Fletor

D.E.C. Diagrama de Esforço Cortante

D.E.N. Diagrama de Esforço Normal

D.M.T. Diagrama de Momento Torsor

γ Peso específico

ckf Resistência à Compressão Característica do Concreto

'sf Mínima resistência última à tração

'yf Mínima tensão de escoamento

σ Tensão

tkf Tensão de ruptura característico do aço

φ Coeficiente de impacto

dS Solicitação de cálculo

gS Solicitação provocada pelas ações permanentes

qS Solicitação Provocada pelas ações variáveis

υ Coeficiente de Poisson

viii

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Ponte Knee (vão central de 320 m, 1969). ............................................................ 7 Figura 2.2 – Ponte Friedrich Ebert (vão central de 280 m, 1967). ............................................. 8 Figura 2.3 – Ponte Pasco-Kennewick (vão central de 300 m, 1978).......................................... 8 Figura 3.1 – Elementos básicos de uma ponte estaiada (WALTHER et al, 1985). .................. 10

Figura 3.2 – Alternativas de concepção estrutural (WALTHER et al, 1985). ......................... 11 Figura 3.3 – Configurações longitudinais de cabos (WALTHER et al, 1985). ........................ 13 Figura 3.4 – Deformação de um sistema em harpa com carga disposta apenas no vão central

(GIMSING, 1983). ................................................................................................................... 14 Figura 3.5 – Configurações transversais dos cabos (WALTHER et al, 1985). ........................ 15

Figura 3.6 – Suspensão lateral: distribuição dos esforços transversais (WALTHER et al,

1985). ........................................................................................................................................ 16 Figura 3.7 – Quatro configurações básicas para a seção transversal (GIMSING, 1983). ........ 19

Figura 3.8 – Concepção de torres com um único mastro (WALTHER et al, 1985). ............... 21 Figura 3.9 – Configurações usuais para torres com dois mastros (WALTHER et al, 1985). .. 21 Figura 5.1 – Fluxograma simplificado do projeto de uma ponte estaiada (WALTHER et al,

1985). ........................................................................................................................................ 32

Figura 6.1 – Cimbramento Móvel utilizado na Ponte sobre o Rio Guadiana em Castro Marim,

Portugal. .................................................................................................................................... 38

Figura 6.2 – Ponte da Normandia construída através de balanços sucessivos. ........................ 39 Figura 6.3 – Esquema do sistema de lançamentos progressivos (YTZA, 2009). ..................... 40 Figura 6.4 – Método construtivo de lançamento progressivo. ................................................. 41

Figura 7.1 – Ponte sobre o rio Guamá. ..................................................................................... 43 Figura 7.2 – Dimensões das torres (NOGUEIRA NETO, 2003). ............................................ 45

Figura 7.3 – Seções transversais da torre (NOGUEIRA NETO, 2003). .................................. 45 Figura 7.4 – Disposição e número de estais (NOGUEIRA NETO, 2003). .............................. 47

Figura 7.5 – Seção transversal do tabuleiro (NOGUEIRA NETO, 2003). .............................. 48 Figura 7.6 – Disposição do veículo-tipo no tabuleiro de uma ponte (ABNT NBR-7188). ...... 51 Figura 7.7 – Dimensões do veículo-tipo classe 45 (ABNT NBR-7188). ................................. 51 Figura 7.8 – Torre da ponte estaiada modelada no SAP2000. ................................................. 55

Figura 7.9 – Ponte com estais dispostos em semi-harpa (ponte original). ............................... 55 Figura 7.10 – Ponte com estais dispostos em leque. ................................................................ 55 Figura 7.11 – Aplicação da carga permanente de revestimento no vão central da ponte. ........ 56 Figura 7.12 – Vista final da ponte com a aplicação de todas as cargas permanentes. .............. 56 Figura 7.13 – Inserção do veículo-tipo simplificado classe 45. ............................................... 57

Figura 7.14 – Definição das “Lanes” utilizadas no tabuleiro. .................................................. 57 Figura 7.15 – Combinação utilizada na carga móvel. .............................................................. 58

Figura 8.1 – Diagrama de cores para os deslocamentos verticais da laje do tabuleiro. ........... 59 Figura 8.2 – Diagramas para meia viga longitudinal................................................................ 60 Figura 8.3 – Diagramas de momentos em torno de X para a torre. .......................................... 60 Figura 8.4 – D.E.C. e D.M.F para a carga permanente de meia longarina da ponte com estais

em formato semi-harpa. ............................................................................................................ 62

Figura 8.5 – D.E.C. e D.M.F para a carga permanente de meia longarina da ponte com estais

em formato leque. ..................................................................................................................... 62 Figura 8.6 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da ponte com estais em formato semi-harpa

para a carga permanente. .......................................................................................................... 62 Figura 8.7 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da ponte com estais em formato leque para a

carga permanente. ..................................................................................................................... 62 Figura 8.8 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato

ix

semi-harpa para a carga permanente. ....................................................................................... 63 Figura 8.9 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato

leque para a carga permanente.................................................................................................. 63 Figura 8.10 – D.E.N. e D.M.T para a carga permanente dos mastros das torres da ponte com

estais em formato semi-harpa. .................................................................................................. 64

Figura 8.11 – D.E.N. e D.M.T para a carga permanente dos mastros das torres da ponte com

estais em formato leque. ........................................................................................................... 64 Figura 8.12 – D.E.C. e D.M.F em torno de X para o mastro das torres da ponte com estais em

formato semi-harpa para a carga permanente. .......................................................................... 64 Figura 8.13 – D.E.C. e D.M.F em torno de X para o mastro das torres da ponte com estais em

formato leque para a carga permanente. ................................................................................... 64 Figura 8.14 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para o mastro das torres da ponte com

estais em formato semi-harpa para a carga permanente. .......................................................... 65

Figura 8.15 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para o mastro das torres da ponte com

estais em formato leque para a carga permanente. ................................................................... 65 Figura 8.16 – Seqüência de numeração dos estais.................................................................... 65 Figura 8.17 – D.E.C. e D.M.F para a carga móvel de meia longarina da ponte com estais em

formato semi-harpa. .................................................................................................................. 67

Figura 8.18 – D.E.C. e D.M.F para a carga móvel de meia longarina da ponte com estais em

formato leque. ........................................................................................................................... 67 Figura 8.19 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da ponte com estais em formato semi-harpa

para a carga móvel. ................................................................................................................... 68 Figura 8.20 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da ponte com estais em formato leque para

a carga móvel. ........................................................................................................................... 68 Figura 8.21 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato

semi-harpa para a carga móvel. ................................................................................................ 68

Figura 8.22 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato

leque para a carga móvel. ......................................................................................................... 68 Figura 8.23 – D.E.N. e D.M.T para a carga móvel dos mastros das torres da ponte com estais

em formato semi-harpa. ............................................................................................................ 69

Figura 8.24 – D.E.N. e D.M.T para a carga móvel dos mastros das torres da ponte com estais

em formato leque. ..................................................................................................................... 69 Figura 8.25 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para o mastro das torres da ponte com

estais em formato semi-harpa para a carga móvel. ................................................................... 69 Figura 8.26 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para o mastro das torres da ponte com

estais em formato leque para a carga móvel. ............................................................................ 69 Figura 8.27 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo X para o mastro das torres da ponte com

estais em formato semi-harpa para a carga móvel. ................................................................... 70

Figura 8.28 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo X para o mastro das torres da ponte com

estais em formato leque para a carga móvel. ............................................................................ 70

x

LISTA DE TABELAS

Tabela 8.1 – Força axial nos estais devido a carga permanente ............................................... 66 Tabela 8.2 – Força axial nos estais devido a carga móvel ........................................................ 71

xi

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1 Objetivos ...................................................................................................................... 2 1.2 Estrutura do Trabalho .................................................................................................. 2 1.3 Metodologia ................................................................................................................. 3

2 UM POUCO DA HISTÓRIA DAS PONTES ESTAIADAS ............................................. 5 2.1 Evolução dos sistemas adotados para pontes estaiadas ............................................... 6

3 ALTERNATIVAS DE PONTES ESTAIADAS ............................................................... 10 3.1 Sistema de cabos ........................................................................................................ 12 3.2 Tabuleiro .................................................................................................................... 17

3.2.1 Tabuleiros metálicos ........................................................................................... 17

3.2.2 Tabuleiros de concreto........................................................................................ 18 3.2.3 Tabuleiros Mistos ............................................................................................... 18

3.2.4 Seções transversais ............................................................................................. 19 3.3 Torre ........................................................................................................................... 20

4 ESTAIS ............................................................................................................................. 23 4.1 Elementos de tensionamento ..................................................................................... 23

4.1.1 Barras .................................................................................................................. 23 4.1.2 Fios ..................................................................................................................... 24

4.1.3 Cordoalhas .......................................................................................................... 25 4.1.4 Cabos .................................................................................................................. 26

4.2 Sistemas de ancoragem .............................................................................................. 26

4.2.1 Tubo Guia ........................................................................................................... 27 4.2.2 Amortecedor ....................................................................................................... 27

4.2.3 Desviador ............................................................................................................ 28 4.3 Proteção ..................................................................................................................... 28

4.3.1 Galvanização ...................................................................................................... 28 4.3.2 Cera ..................................................................................................................... 29 4.3.3 Bainha de HDPE (High Density Polyetilene)..................................................... 29 4.3.4 Tubo de HDPE (High Density Polyetilene) ....................................................... 29

4.3.5 Tubo anti-vandalismo ......................................................................................... 30 5 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO PROJETO .................................................... 31

5.1 Concepção preliminar ................................................................................................ 31 5.2 Comportamento não-linear da estrutura .................................................................... 33

5.2.1 Não-linearidade dos estais .................................................................................. 35

5.3 Consideração da fadiga .............................................................................................. 36 6 MÉTODOS CONSTRUTIVOS DAS PONTES ESTAIADAS ........................................ 37

6.1 Cimbramento geral .................................................................................................... 37 6.2 Balanços sucessivos ................................................................................................... 38 6.3 Lançamentos progressivos ......................................................................................... 40

7 MODELO PARA ANÁLISE ............................................................................................ 42 7.1 Descrição da ponte estaiada ....................................................................................... 42

7.1.1 Características Gerais ......................................................................................... 43 7.1.2 Meso-estrutura .................................................................................................... 44 7.1.3 Estais ................................................................................................................... 46 7.1.4 Super-estrutura ................................................................................................... 48

7.2 Descrição do programa de análise utilizado .............................................................. 48 7.3 Cargas consideradas ................................................................................................... 49

7.3.1 Ações permanentes ............................................................................................. 49

xii

7.3.2 Ações variáveis ................................................................................................... 50 7.4 Características do modelo e dos materiais utilizados ................................................ 53 7.5 Modelagem da estrutura no SAP2000 ....................................................................... 54

7.5.1 Carga permanente ............................................................................................... 54 7.5.2 Carga móvel ........................................................................................................ 56

8 RESULTADOS ................................................................................................................. 59 8.1 Carga permanente ...................................................................................................... 61 8.2 Carga móvel ............................................................................................................... 67

9 CONCLUSÕES ................................................................................................................. 72 9.1 Sugestões para trabalhos futuros ................................................................................ 74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 75

1

1 INTRODUÇÃO

Pontes estaiadas encontram-se cada vez mais presentes em obras brasileiras, pois

além de unirem beleza e esbeltez, conseguem vencer vãos livres que chegam a centenas de

metros. O projeto de pontes deste tipo envolve ambiente com múltiplos objetivos, no qual se

devem atender a diversos critérios de projeto como segurança, funcionalidade e economia.

Torna-se necessário, portanto uma compreensão adequada do comportamento estrutural deste

sistema.

No projeto de pontes, as decisões mais importantes são feitas geralmente nas fases

iniciais, tornando-se fundamental, na fase de pré-dimensionamento, o entendimento do

comportamento da estrutura. Para o mesmo problema, mais de uma solução pode ser viável,

no entanto, algumas serão mais eficientes no que diz respeito ao consumo de materiais,

facilidades construtivas, prazo de execução e comportamento físico da estrutura.

O pré-projeto de uma ponte compreende, em síntese, a determinação da geometria

e da configuração a ser adotada e do material utilizado em cada componente, todos eles

obedecendo a um conjunto de restrições e critérios de projeto. No caso de uma ponte estaiada,

nos deparamos com várias alternativas e possibilidades de projeto, sendo de extrema

importância uma ferramenta capaz de dar suporte a esse empreendimento.

A determinação das configurações geométricas de uma ponte deste tipo e das

forças de protensão nos cabos é função de alguns fatores como: a relação entre os vãos livres,

número de apoios, estética e custos. O conhecimento da evolução histórica da concepção

estrutural e dos materiais utilizados neste tipo de ponte, bem como seus possíveis arranjos,

são subsídios básicos para uma boa compreensão e análise do comportamento das pontes

estaiadas.

Baseado em tudo que foi exposto até aqui, conclui-se que se torna necessário o

desenvolvimento de modelos simplificados que contemple cada caso, modelos esses capazes

de auxiliar o projetista na fase de concepção inicial a fim de se comparar as diversas

alternativas.

2

1.1 Objetivos

A presente pesquisa tem como objetivo geral realizar um estudo de diferentes

sistemas estruturais usuais de pontes estaiadas com tabuleiro de concreto, assim como fazer

um estudo do pré-dimensionamento dos elementos do tabuleiro, mastro, estais e analisar

modelos e métodos para a obtenção de uma boa distribuição de esforços.

Como objetivo específico, pretende-se realizar a análise de uma solução estrutural

no que diz respeito às tensões produzidas em pontos críticos na estrutura, assim como

deformações decorrentes destes esforços. Feito isto, realizar-se-á um estudo destes resultados

no que diz respeito à tipologia adotada para a ponte estaiada e ao modelo de análise adotado,

assim como considerações a respeito da influência das simplificações realizadas no modelo.

1.2 Estrutura do Trabalho

Este trabalho encontra-se dividido em nove capítulos, sendo o primeiro

introdutório, tratando da contextualização do problema e dando uma idéia geral do projeto de

graduação, assim como uma justificativa da realização do trabalho e dos objetivos gerais e

específicos a que se destina o mesmo.

O segundo capítulo trata de um breve resumo da história das pontes estaiadas,

relatando as principais evoluções observadas com o decorrer do tempo, bem como os

principais colapsos registrados para este tipo de ponte.

No capítulo três serão apresentadas todas as definições necessárias a respeito da

estrutura, sendo subdividida em sistemas de cabos, tabuleiro e torres, cada seção dessas

apresentará aspectos importantes de análise e critérios de pré-dimensionamento.

O capítulo quatro definirá todos os materiais utilizados atualmente para a

montagem dos estais e o papel desempenhado por eles. Sendo este subdivido em elementos de

tensionamento, sistemas de ancoragem e os tipos de proteção.

O capítulo cinco tratará brevemente de considerações importantes no que diz

respeito à concepção preliminar do projeto. Fica responsável também por apresentar

3

considerações indispensáveis no projeto, como a consideração da fadiga e a importância da

consideração do comportamento não-linear da estrutura e dos estais.

No capítulo seis são descritos os principais métodos construtivos das pontes

estaiadas, como o cimbramento geral, o balanço sucessivo e o método dos lançamentos

progressivos.

No capítulo sete, descreve-se a ponte escolhida para modelagem e as

simplificações adotadas. São descritas a geometria da meso-estrutura, dos estais e da

superestrutura. Em seguida, realiza-se uma apresentação do programa computacional utilizado

para análise, falando de suas principais aplicações e ferramentas disponíveis. Ainda neste

capítulo, definem-se as cargas consideradas na análise, assim como as características do

modelo e as propriedades dos materiais utilizados. Por fim, descreve-se sucintamente como se

realizou a modelagem da estrutura no programa.

O capítulo oito tratará da apresentação e de uma breve análise dos resultados,

apresentando os esforços e as deformações obtidas no programa e realizando-se uma

discussão a respeito dos mesmos.

Por fim, o capítulo nove encarrega-se de expor, sucintamente, as conclusões

obtidas, assim como indicar sugestões para trabalhos futuros.

1.3 Metodologia

O presente trabalho é baseado inicialmente em pesquisas bibliográficas, onde se

apresentam as principais características das pontes estaiadas e as principais soluções

estruturais adotadas atualmente, assim como a evolução destas ao longo da história.

Buscaram-se, na literatura, conceitos fundamentais que o projetista deve ter em mente para

um eficiente pré-dimensionamento dos elementos, obtendo-se na fase de projeto e execução

economia e rapidez. Em seguida, estes conceitos foram comparados entre si visando a

obtenção de subsídios que fundamentem a escolha da melhor solução.

Em seguida, escolheu-se um programa computacional baseado no método dos

elementos finitos. Programa este que foi escolhido levando-se em consideração as ferramentas

4

disponíveis e os tipos de análise. Escolhido o programa, foram estudadas suas ferramentas a

fim de se representar satisfatoriamente o modelo que será adotado.

Determinado o programa e estudado o seu funcionamento, parte-se para a escolha

de um sistema estrutural de ponte estaiada para análise, sistema este já existente, fazendo-se

apenas algumas simplificações no modelo analisado. Definida a estrutura para análise,

aplicaram-se as cargas existentes, neste caso, consideraram-se apenas as cargas permanentes e

cargas móveis. Obtiveram-se, em seguida, como resultados, os esforços e deformações

máximas na estrutura, resultados estes que são discutidos em etapas seguintes com vista aos

critérios de escolha do sistema estrutural adotado e aos critérios de pré-dimensionamento.

5

2 UM POUCO DA HISTÓRIA DAS PONTES ESTAIADAS

A idéia de suportar um vão através de cabos presos a uma torre é antiga. Os

egípcios já utilizavam essa idéia ao projetar suas embarcações. Além disso, indícios

arqueológicos indicam que os índios americanos construíam passarelas pênseis de madeira.

(WITTFOHT, 1984 apud TORNERI, 2002).

Um carpinteiro alemão, Immanuel Löscher projetou uma ponte estaiada de

madeira em 1784. Em 1817, dois engenheiros britânicos, Redpath e Brown, construíram a

passarela King’s Meadow, com um vão de 34 m utilizando estais de ferro. Em 1821, o

arquiteto francês Poyet sugeriu que as vigas fossem suportadas por barras de aço presas a uma

torre, representando o chamado arranjo em leque. Em 1840, foi proposto por Hatley, um

arranjo para os cabos em que eles eram dispostos paralelamente, conhecido como arranjo em

harpa. Apesar de serem sistemas antigos e apresentarem desempenho satisfatório, alguns

acidentes marcantes foram responsáveis pela pouca utilização durante um século

(LEONHARDT, 1974 apud TORNERI, 2002).

Em 1818, uma ponte construída em Dryburgh Abbey, na Inglaterra, sustentada

por correntes inclinadas, entrou em colapso apenas seis meses depois do término de sua

construção. O colapso teria sido causado pela sua instabilidade aerodinâmica. Outro famoso

acidente causado pelo mesmo motivo foi o ocorrido com a ponte pênsil Tacoma Narrow em

1940, nos Estados Unidos. Outro acidente que demonstra a falta de conhecimento técnico para

o projeto destas pontes ocorreu em 1825, em que uma ponte de 78 metros de vão construída

sobre o rio Saale, na Alemanha, entrou em colapso quando submetido à carga de multidão

(WALTHER et al, 1985).

Em Nova York, foi construída em 1883, por J. Roeblig, uma das mais marcantes

pontes suportadas por cabos, a ponte Brooklyn, com um vão central de 486,50 m e um

comprimento total de 1059,90 m. Sendo que os estais ocupam um papel importantíssimo ao

suportarem quase toda a carga permanente. Além disso, essa ponte foi concebida em uma

época onde os modernos procedimentos de calculo estrutural inexistiam, sendo projetada

utilizando-se basicamente a intuição e o conhecimento de que os cabos inclinados

aumentavam significativamente a rigidez das pontes suspensas. Até meados do século XX as

pontes estaiadas foram pouco utilizadas.

6

Um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento das pontes estaiadas a partir

de 1938 foi o engenheiro alemão Dischinger. Suas investigações demonstraram que a rigidez

e a estabilidade aerodinâmica das pontes pênseis podem ser consideravelmente aumentadas

pela utilização de estais protendidos. Graças à reconstrução da Europa após a segunda guerra

mundial, as pontes estaiadas passaram a ser muito utilizadas.

A ponte do canal de Donzere, na frança, construída em 1951 e com vão de 81,0 m,

foi a primeira ponte de concreto moderna exclusivamente estaiada.

Outra ponte estaiada muito marcante foi a ponte Dieppoldsau, construída em 1985

na suíça, com um vão central de 97,0 m. Ela foi a primeira ponte com um tabuleiro delgado de

concreto em que a laje é a própria viga de rigidez longitudinal. Essa ponte possui uma torre

em pórtico com dois planos de cabos em semi-harpa.

Apesar de ter havido muito desenvolvimento desse tipo de ponte nas décadas de

70 e 80, elas passaram a ser mais utilizadas na década de 90 como solução mais viável para

grandes vãos, substituindo as pontes Pênseis. Os vãos a serem superados foram aumentando

com o decorrer dos anos, mas na década de 90 todos os recordes anteriores foram superados

(TORNERI, 2002).

2.1 Evolução dos sistemas adotados para pontes estaiadas

Com o passar dos anos, as pontes estaiadas passaram a ficar mais esbeltas e mais

flexíveis. Inicialmente as pontes possuíam poucos estais e eram muito espaçados, que

suportavam tabuleiros muito rígidos. Estes tabuleiros eram responsáveis por resistir às

solicitações de flexão entre os pontos de ancoragem dos cabos. Exemplo deste tipo de ponte é

a ponte Knee (Figura 2.1), na Alemanha.

7

Figura 2.1 – Ponte Knee (vão central de 320 m, 1969).

Em seguida, as pontes estaiadas passaram a apresentar um grande número de

estais, sendo eles pouco espaçados. Neste caso, o tabuleiro possui um comportamento similar

a uma viga apoiada em apoios elásticos, conduzindo a uma baixa rigidez à flexão do tabuleiro.

Neste mesmo período elas também se caracterizavam pela suspensão parcial, ou seja, os estais

eram interrompidos a uma certa distância da torre. Como exemplo, tem a ponte Friedrich

Ebert (Figura 2.2), na Alemanha. Até então o comportamento mecânico destas obras podiam

ser comparados ao de uma treliça, onde o tabuleiro era o elemento comprimido e os estais

eram as diagonais tracionadas.

8

Figura 2.2 – Ponte Friedrich Ebert (vão central de 280 m, 1967).

Logo em seguida, as pontes estaiadas passaram a apresentar múltiplos estais com

suspensão total do tabuleiro, inclusive próximo às torres. Um exemplo deste tipo de ponte é a

ponte Pasco-Kennewick (Figura 2.3), nos Estados Unidos.

Figura 2.3 – Ponte Pasco-Kennewick (vão central de 300 m, 1978).

9

Este último tipo de ponte possuía diversas vantagens em relação às anteriores,

como por exemplo:

Simplificação na transmissão dos esforços, reduzindo as forças

concentradas nas ancoragens e diminuição da flexão entre os pontos de suspensão;

Possibilidade da substituição dos estais quando danificados ou

deteriorados sem a necessidade de interrupção da utilização da estrutura;

Facilidades construtivas, podendo a estrutura ser construída por

balanços sucessivos;

Redução do peso próprio devido à menor esbeltez da seção;

Segundo Walther et al (1985), a utilização de tabuleiros em concreto protendido é

econômica para pontes com vãos em torno de 500 e 600 m e para vãos superiores a 800 m a

utilização de tabuleiros mistos, ou seja, tabuleiros compostos de aço e concreto, é mais

econômica.

10

3 ALTERNATIVAS DE PONTES ESTAIADAS

A escolha do tipo de ponte a ser utilizado depende basicamente do vão central da

obra. As pontes estaiadas são mais econômicas para vãos inferiores a 1500 m, devido à maior

eficácia dos estais. Em pontes com vão superior a 1500 m, os esforços normais transmitidos

ao tabuleiro pelos estais passam a ser muito elevados, além disso, surgem muitas dificuldades

construtivas. Para estes casos é indicada a utilização de pontes pênseis (TORNERI, 2002).

As pontes estaiadas consistem basicamente de tabuleiros suspensos por cabos

inclinados, que por sua vez são ancorados a torres, criando-se, deste modo, apoios

intermediários ao longo do vão do tabuleiro. Este sistema é subdividido em tabuleiro (vigas

de rigidez e a laje), sistema de cabos que suportam o tabuleiro, torres que suportam os cabos,

e os blocos de ancoragem ou pilares de ancoragem. Os cabos de ancoragem são elementos

que ligam a torre aos blocos ou pilares de ancoragem, eles são utilizados para reduzir os

momentos fletores e deslocamentos da torre e do tabuleiro quando os carregamentos do vão

central e lateral diferem. Estes cabos estão sujeitos a tensões muito altas e por isso merecem

atenção especial.

Figura 3.1 – Elementos básicos de uma ponte estaiada (WALTHER et al, 1985).

11

A figura abaixo extraída de Walther et al (1985) ilustra três concepções estruturais

que ajudam a esclarecer como as propriedades de cada elemento alteram o caminhamento das

cargas e modifica comportamento estrutural global da estrutura.

Figura 3.2 – Alternativas de concepção estrutural (WALTHER et al, 1985).

No caso da concepção (a), o tabuleiro é muito rígido e há poucos estais, fazendo

com que grande parte da carga caminhe pelas vigas longitudinais, causando elevados

momentos fletores. Isso fará com que a torre e os estais sejam submetidos a esforços menores,

permitindo, portanto, seções mais esbeltas destes elementos.

Na concepção (b) há uma torre muito rígida e um número elevado de estais,

levando a baixos momentos fletores no tabuleiro, permitindo assim seções mais esbeltas.

Na concepção (c), os cabos de ancoragem possuem um papel fundamental, pois

equilibram as cargas do vão lateral e do vão central, levando a baixos momentos fletores no

tabuleiro e apenas tensões de compressão na torre. Podendo-se adotar tabuleiros e torres com

seções mais esbeltas.

Recomenda-se a utilização de distribuições simétricas dos cabos para garantia do

equilíbrio do peso próprio entre os vãos lateral e central, evitando-se flexões exageradas no

12

tabuleiro e na torre. Usualmente adota-se, para o vão lateral, um comprimento inferior à

metade do vão central.

3.1 Sistema de cabos

A configuração do sistema de cabos é um dos itens fundamentais no projeto deste

tipo de ponte, uma vez que é responsável pelo comportamento estrutural global. Portanto,

especial atenção deve ser dada ao estudo destes elementos, pois além de elevada importância,

possui um custo marginal se comparado ao custo global da obra, sendo da ordem de 10 a 20%

do custo global da obra para estruturas de pequenos e médios vãos, mas para pontes de

grandes vãos as condições são totalmente diferentes (VARGAS, 2007). As principais

configurações longitudinais de cabos são ilustradas na Figura 3.3 a seguir.

O sistema em harpa, no qual os estais são dispostos paralelos uns aos outros e

fixados a diferentes alturas da torre, em geral, não é, do ponto de vista estrutural e econômico,

a melhor solução, mas muitas vezes é a adotada por fatores estéticos.

Já o sistema em leque, onde os cabos são presos ao topo da torre, possui diversas

vantagens, além de também ser aceito esteticamente por diversos projetistas. Neste sistema o

peso final de cabos é menor se comparado ao sistema em harpa com uma altura de torre igual.

Isto acontece porque os estais possuem uma inclinação maior, possuindo assim uma

componente vertical da força maior, necessitando, portanto, de seções de estais menores para

suportar uma mesma carga permanente. Além disso, essa configuração induz forças de

compressão normal menores no tabuleiro, devido à inclinação maior em relação ao tabuleiro.

O sistema em leque também dá mais flexibilidade horizontal à estrutura no sentido

transversal, incrementando estabilidade frente a ações sísmicas.

Segundo Vargas (2007), a maior desvantagem do sistema em leque está no projeto

e na construção dos topos das torres, direção na qual onde todos os cabos convergem. Uma

convergência ideal não pode ser atingida na prática, necessitando estender as ancoragens a

uma dimensão adequada.

13

Figura 3.3 – Configurações longitudinais de cabos (WALTHER et al, 1985).

Deste modo, o sistema em harpa é menos indicado para grandes vãos, uma vez

que ele induziria altas tensões de compressão no tabuleiro, levando à necessidade de seções

mais enrijecidas. Vale ressaltar também, que neste sistema, a linha elástica é caracterizada por

flechas maiores a um quarto do vão do que no meio, como se pode ver na Figura 3.4. Isto

acontece porque a seção central está presa ao topo da torre, que por sua vez está preso aos

blocos de ancoragem. Já os demais estais estão presos ao vão lateral, que é mais flexível.

14

Figura 3.4 – Deformação de um sistema em harpa com carga disposta apenas no vão central (GIMSING, 1983).

Em projetos mais recentes, encontra-se também uma combinação dos dois, onde

os pontos de ancoragem estão suficientemente separados para poderem ser ancorados um a

um. É o caso do sistema em semi-harpa ilustrado por Walther et al (1985) na Figura 3.3 (c).

É importante ressaltar que a configuração longitudinal dos cabos depende também

de fatores topográficos e do comprimento do vão. Para Vargas (2007), do ponto de vista de

economia dos estais, a disposição ótima seria a que fizesse um ângulo de 45 graus com a

horizontal. No entanto, existe ainda uma tendência de redução do ângulo de inclinação dos

cabos de ancoragem visando a redução da componente vertical da força proveniente dos

estais. Na maioria dos casos, o vão lateral deve ser dimensionado com comprimento inferior a

metade do vão central (WALTHER et al, 1985).

Para pontes com vãos muito grandes, ocorrem normalmente curvaturas elevadas

dos cabos, podendo-se, nesse caso, dispor cabos secundários que interceptam os principais em

um ângulo de 90 graus.

As alternativas mais usuais para configuração transversal dos cabos são ilustradas

na figura a seguir.

15

Figura 3.5 – Configurações transversais dos cabos (WALTHER et al, 1985).

Dentre os sistemas mais usuais, podemos citar:

Sistema com suspensão central: do ponto de vista estético é muito

valorizado, mas do ponto de vista estático não é a melhor solução, pois cargas assimétricas no

tabuleiro causam torção no tabuleiro exigindo, portanto, uma seção mais rígida. Entretanto,

este sistema não deve ser descartado totalmente, pois possui a vantagem de diminuir o número

de estais e proporciona à estrutura uma boa distribuição dos esforços nos estais graças à maior

rigidez do tabuleiro. Outra desvantagem deste sistema é que, para pontes com vãos muito

grandes, necessita-se de bases de torres muito largas e, ao colocar a torre no centro da pista,

acabamos impondo uma seção mais larga do tabuleiro.

Sistema com suspensão lateral: é o sistema mais adotado para pontes

estaiadas, principalmente para pontes com tabuleiros muito largos. Neste sistema os

momentos torçores podem ser totalmente equilibrados na seção transversal do tabuleiro,

permitindo seções mais esbeltas. Neste caso, os momentos fletores transversais são máximos

no meio da seção e os cortantes máximos ocorrem nas ancoragens dos estais, conforme se

ilustra na Figura 3.6, devendo-se dar uma atenção especial do detalhamento das armaduras

destas regiões. Em tabuleiros muito largos, os momentos fletores transversais podem ser

maiores que os longitudinais. Neste caso, torna-se necessário a utilização de três planos de

cabos (WALTHER et al, 1985). Dentre as pontes com suspensão lateral, temos ainda as com

suspensão vertical, onde sua ancoragem com o tabuleiro não provoca nenhum problema com

o gabarito sobre o tabuleiro e torna a construção das torres verticais simples e econômicas. Já

o sistema com suspensão lateral de cabos inclinados transversalmente, geralmente com torres

16

em forma de “A”, possui a vantagem de diminuir consideravelmente as possíveis rotações no

tabuleiro e na torre, no entanto, cria certos problemas de gabarito na direção transversal,

necessitando de alargamento da seção transversal ou o uso de ancoragens em dentes salientes

na lateral do tabuleiro. Temos também, como inconveniente, a construção de torres em forma

de “A”, que é geralmente mais complicada que as torres verticais (VARGAS, 2007).

Figura 3.6 – Suspensão lateral: distribuição dos esforços transversais (WALTHER et al, 1985).

Tem-se observado que as estruturas estaiadas modernas, onde há um número

elevado de cabos com espaçamentos curtos, apresentam numerosas vantagens. Dentre elas

podem-se citar:

O elevado número de estais leva a baixas flexões do tabuleiro, tanto

durante a construção como durante a operação, necessitando de métodos construtivos simples

e econômicos, como por exemplo, balanços sucessivos;

Os cabos individuais acabam sendo menores que os de uma com estais

espaçados, simplificando as instalações de ancoragens;

A substituição dos estais torna-se simples e rápida, sendo ela essencial

apesar de serem realizadas proteções, principalmente contra corrosão.

O ângulo de inclinação dito “ótimo” dos estais é normalmente tido como 45º,

tendo como limite inferior 25º para os cabos mais longos e como limite superior 65º para os

cabos mais curtos. Com relação aos espaçamentos dos estais, o espaçamento máximo

depende, além do vão intermediário da ponte, da largura e da forma do tabuleiro e da

17

metodologia construtiva. Quando o tabuleiro é de aço ou misto geralmente pode ser

construído por balanços sucessivos, não existindo, portanto, vantagens apreciáveis em

localizá-los próximos uns aos outros, adotando-se como regra geral, um espaçamento entre 15

m e 25 m. Já para um tabuleiro de concreto, concepções com estais espaçados entre 5 m e 10

m é vantajoso e podem ser essenciais em estruturas com grandes vãos (VARGAS, 2007).

3.2 Tabuleiro

O tabuleiro possui grande importância no que diz respeito às cargas verticais. Ele

é responsável pela distribuição das forças verticais entre os pontos de ancoragem do estais,

que podem ser considerados como apoios elásticos intermediários. Além disso, influencia no

comportamento global da estrutura, pois também é responsável pela boa distribuição dos

esforços para os apoios principais, que são os pilares (GIMSING, 1983 apud TORNERI,

2002). A classificação do tabuleiro das pontes estaiadas pode ser realizada de várias maneiras,

uma delas diz respeito ao material, sendo mais comuns os tabuleiro metálicos, de concreto ou

mistos.

A escolha do material do tabuleiro é um dos critérios dominantes quando se trata

do custo global da obra, pois ele influencia no dimensionamento dos outros elementos.

Segundo Vargas (2007), as seguintes quantidades podem ser utilizadas como indicadores:

tabuleiro de aço de 2,5 a 3,5 kN/m², tabuleiro misto de 6,5 a 8,5 kN/m² e tabuleiro de concreto

de 10 a 15 kN/m².

3.2.1 Tabuleiros metálicos

Como em qualquer outro tipo de estrutura metálica, um tabuleiro deste tipo trás

consigo um maior controle dos processos executivos e da qualidade dos materiais, reduzindo

desta maneira os riscos de eventuais erros construtivos. Além disso, por ser um material mais

leve e resistente, permite a utilização de tabuleiros mais esbeltos e leves, proporcionando

redução da seção transversal de todos os outros elementos da estrutura.

18

Uma grande desvantagem da utilização deste material em pontes é a necessidade

de mão-de-obra qualificada, graças à utilização de segmentos pré-moldados na maioria dos

casos.

3.2.2 Tabuleiros de concreto

A utilização de tabuleiros em concreto armado ou protendido em pontes estaiadas

tem maior aceitação entre os projetistas e construtores. Pois apresenta processos construtivos

mais simples. Além disso, o concreto pode ser executado todo in loco. Outro aspecto levado

em consideração é a durabilidade deste material que, ao contrário do aço, é menos susceptível

ao ataque de agentes externos, tornando-se a necessidade de vistorias do tabuleiro menos

freqüentes.

A utilização do tabuleiro de concreto é mais barata que a utilização do tabuleiro

de aço, no entanto, seu peso elevado aumenta as seções transversais dos estais e da torre.

Segundo Vargas (2007), é possível limitar o peso próprio de um tabuleiro de aço a um valor

que é quase um quinto do peso do tabuleiro de concreto. Assim, a comparação entre estas

alternativas deve ser realizada considerando todo o sistema da ponte, e não só o tabuleiro

separadamente.

Os tabuleiros de concreto podem ser moldados in loco ou pré-moldados. No caso

de pré-moldados, pode-se construir o tabuleiro por meio de balanços sucessivos com auxílio

de cabos permanentes.

3.2.3 Tabuleiros Mistos

Segundo Walther et al (1985), as pontes com seções mistas não são uma boa

concepção estrutural, pois as vigas longitudinais em aço estão submetidas a elevadas tensões

de compressão, que são acentuadas pela fluência e retração da laje do tabuleiro, podendo

causar problemas de instabilidade local. Ele recomenda, portanto, a utilização do concreto em

elementos que são predominantemente comprimidos, como lajes e vigas longitudinais, e o aço

em elementos submetidos à tração e flexão, como vigas transversais e contraventamentos.

19

3.2.4 Seções transversais

Os tipos mais usuais de seção transversal são as ilustradas na figura a seguir:

Figura 3.7 – Quatro configurações básicas para a seção transversal (GIMSING, 1983).

Para seções abertas, como é o caso das seções (a) e (c), torna-se necessário um

sistema de cabos que ofereça uma maior rigidez à torção. No caso de seções fechadas, como é

o caso das seções (b) e (d), o próprio tabuleiro é capaz de resistir à torção imposta.

Para pontes com suspensão lateral múltipla, podem-se conseguir seções de

tabuleiro muito esbeltas, pois os esforços de flexão longitudinal são relativamente baixos e,

graças à suspensão lateral, o tabuleiro não requer uma rigidez à torção elevada. Neste tipo de

solução, o dimensionamento da seção é condicionado pelos momentos transversal e pelos

esforços cortantes atuantes nas ancoragens, sendo que estes dois crescem com o aumento da

largura do tabuleiro. Para seções muito largas, seria mais conveniente a utilização de três

planos de cabos, ao invés de se aumentar a rigidez do tabuleiro.

20

3.3 Torre

A configuração da torre tem ligação direta com o tipo de tabuleiro. Uma ponte

com uma torre esbelta, e conseqüentemente tendo pouca resistência às solicitações de

momentos fletores longitudinais, necessita de um tabuleiro mais rígido. Já para uma torre

mais rígida, podem-se adotar tabuleiros mais esbeltos, desde que sejam dispostos um número

suficiente de estais, de modo que este não fique submetido a grandes esforços de flexão. Este

último é o caso das pontes mais recentes aliado a uma configuração simétrica dos cabos para

manter o peso próprio equilibrado.

O comportamento da torre é regido pela sua interação com os demais elementos

da ponte. O sistema de cabos utilizado influi diretamente na rigidez longitudinal exigida para

a torre. Para sistema de cabos em harpa, normalmente utiliza-se torres com rigidez à flexão

mais elevadas para poder resistir a cargas assimétricas no tabuleiro. Já no sistema em leque,

os momentos fletores longitudinais são transferidos aos cabos de ancoragem, assim, a rigidez

longitudinal das torres tem pouca influência no comportamento estrutural do conjunto

(TORNERI, 2002).

A altura da torre está diretamente ligada à configuração adotada para os cabos,

pois é ela quem definirá a inclinação dos estais e, portanto, sua eficiência. Diversas são as

recomendações para a proporção entre a altura da torre e o vão central. Normalmente adota-se

uma altura de torre de 20% a 25% do vão central. No estudo paramétrico de Walther et al

(1985) adotou-se uma altura de torre de 23,5% do vão central. A altura da torre também

definirá a inclinação dos cabos. Aconselha-se que o ângulo de inclinação entre o cabo mais

longo e a horizontal não seja inferior a 25º, caso contrário, as deflexões no tabuleiro se

tornarão muito altas.

O caminhamento dos esforços deve ser o mais simples possível, logo, a estrutura

deve ser projetada de modo que apenas solicitações normais sejam aplicadas às torres.

Existem dois tipos principais de torres, sendo elas ilustradas na Figura 3.8 e na

Figura 3.9 a seguir:

21

Figura 3.8 – Concepção de torres com um único mastro (WALTHER et al, 1985).

Figura 3.9 – Configurações usuais para torres com dois mastros (WALTHER et al, 1985).

A Figura 3.8 ilustra torres de mastro único, podendo ela ter um ou dois planos de

cabos. Já na Figura 3.9, ilustram-se torres com dois mastros. Neste caso podem-se utilizar

planos de cabos inclinados. A fim de se eliminar problemas com a flexão transversal da torre

é comum usar-se vigas de travamento (Figura 3.9-c).

22

A seção transversal da torre depende basicamente da solicitação normal a que ela

estará sujeita, uma vez que esta predomina sobre as demais. É usual a utilização de seções

caixão com elevadas espessuras das paredes.

Com relação às condições de apoio da torre, podemos citar três tipos básicos. Um

deles é a torre fixa à base, onde são gerados elevados momentos de flexão, porém, esta

solução leva a um aumento da rigidez da estrutura global. Um outro tipo seria a torre fixa à

superestrutura, utilizado normalmente em pontes com um único plano de estais e um tabuleiro

com seção caixão, as torres são geralmente fixas ao caixão. E a terceira condição de apoio

seria a torre articulada na base na direção longitudinal, reduzindo os momentos de flexão na

torre, utilizado normalmente em estruturas com más condições de solo de fundação.

Independente do número de vãos, as pontes estaiadas comportam-se normalmente

como pontes totalmente suspensas no sentido longitudinal. Portanto, as torres devem possuir

estabilidade suficiente para resistir aos esforços de freadas de veículos, forças do vento, atrito

diferencial e ações sísmicas, garantindo ao mesmo tempo a estabilidade global.

Portanto, pontes estaiadas são sistemas que oferecem inúmeras possibilidades de

concepções estruturais e aplicações inovadoras, sendo papel do projetista combinar estas

possibilidades com intuito de otimizar o comportamento global da mesma.

23

4 ESTAIS

Os estais são elementos encarregados de transferir os esforços advindos do

tabuleiro para as torres. Ele é composto basicamente pelo sistema principal de tensionamento,

pelos sistemas de ancoragem e pelos itens necessários à sua proteção.

4.1 Elementos de tensionamento

4.1.1 Barras

São componentes produzidos com o intuito de serem pré-tracionados. O estai

pode ser composto por uma única barra ou por um conjunto delas paralelas entre si.

As barras empregadas em obras estaiadas devem estar em conformidade com as

especificações presentes na ASTM A722. Além disso, elas devem atender a todos os critérios

e exigências impostas através da realização de ensaios estáticos e dinâmicos (PTI, 2001 apud

NOGUEIRA NETO, 2003).

Para cada lote de 20 toneladas de aço, é necessária a realização de ensaios

estáticos, devendo-se obedecer aos seguintes requisitos:

Mínima resistência última à tração: MPafs 1035'

Mínima tensão de escoamento: '85,0' sy ff

Módulo de elasticidade: E = (200000±5%) MPa

Caso contrário, todo o lote deve ser rejeitado.

Para a realização do ensaio dinâmico, deve-se coletar uma amostra de 5 metros

para cada 20 toneladas de aço, sendo o comprimento mínimo de 20 diâmetros, mas não

inferior a 61 cm. O corpo de prova é então exposto a uma tensão superior a 45% de 'sf com

uma variação de tensão dada em função do número de ciclos a que a amostra é submetida.

24

Encerrado o ensaio de fadiga, a amostra é submetida a um ensaio estático, onde a

tensão de ruptura não deve ser inferior a 95% de 'sf .

Caso o corpo de prova seja rejeitado em um dos testes, uma nova amostra é

coletada, se obtiver novamente um resultado negativo, todo o lote de onde se obteve a amostra

deve ser rejeitado.

Normalmente as barras são utilizadas em passarelas, onde o a variação de tensões

é baixa, pois há uma dificuldade de se garantir que a barra apresente dobras durante sua

montagem, que levaria a um comprometimento de seu comportamento.

4.1.2 Fios

É o componente básico para a confecção de cordoalhas e cabos. Os fios

empregados em obras estaiadas devem estar em conformidade com as especificações

presentes na ASTM A421.

Segundo Nogueira Neto, 2003, a principio, os fios de relaxação baixa são mais

indicados para compor os estais.

Segundo o Post-Tensioning Institute, 2001, os fios que compõem os estais

também devem passar por ensaios estáticos e dinâmicos.

Para cada lote de 25 toneladas de aço, é necessária a realização de ensaios

estáticos, devendo-se obedecer aos seguintes requisitos:

Mínima resistência última à tração: MPaf s 1655'

Mínima tensão de escoamento: '90,0' sy ff (Relaxação Baixa)

Mínima tensão de escoamento: '85,0' sy ff (Relaxação Normal)

Módulo de elasticidade: E = (200000±5%) MPa

Caso contrário, todo o lote deve ser rejeitado.

25

Para a realização do ensaio dinâmico de fadiga, deve-se coletar uma amostra de 5

metros para cada 10 toneladas de aço, sendo o comprimento mínimo de 30 cm. O corpo de

prova é então exposto a uma tensão superior a 45% de 'sf com uma variação de tensão dada

em função do número de ciclos a que a amostra é submetida.

Encerrado o ensaio de fadiga, a amostra é submetida a um ensaio estático, onde a

tensão de ruptura não deve ser inferior a 95% de 'sf .

Caso o corpo de prova seja rejeitado em um dos testes, dois novos ensaios devem

ser realizados com a mesma amostra, se obtiver novamente um resultado negativo, todo o lote

de onde se obteve a amostra deve ser rejeitado.

4.1.3 Cordoalhas

As cordoalhas caracterizam-se basicamente por serem formadas de uma

montagem de fios que circundam helicoidalmente um fio central em uma ou mais camadas. A

ASTM A416 descreve as características de fabricação das cordoalhas empregadas em obras

estaiadas.

Segundo o Post-Tensioning Institute, 2001, as cordoalhas que compõem os estais

também devem passar por ensaios estáticos e dinâmicos.

Para cada lote de 10 toneladas de aço, é necessária a realização de ensaios

estáticos, devendo-se obedecer aos seguintes requisitos:

Mínima resistência última à tração: MPaf s 1860'

Mínima tensão de escoamento: '90,0' sy ff

Módulo de elasticidade: E = (197000±5%) MPa

Caso contrário, todo o lote deve ser rejeitado.

Para a realização do ensaio dinâmico de fadiga, deve-se coletar uma amostra de 5

metros para cada 10 toneladas de aço, sendo o comprimento mínimo de 100 cm. O corpo de

26

prova é então exposto a uma tensão superior a 45% de 'sf com uma variação de tensão dada

em função do número de ciclos a que a amostra é submetida.

Encerrado o ensaio de fadiga, a amostra é submetida a um ensaio estático, onde a

tensão de ruptura não deve ser inferior a 95% de 'sf .

Caso o corpo de prova seja rejeitado em um dos testes, dois novos ensaios devem

ser realizados com a mesma amostra, se obtiver novamente um resultado negativo, todo o lote

de onde se obteve a amostra deve ser rejeitado.

Atualmente, tem-se utilizado com grande freqüência feixes de cordoalhas

paralelas na composição dos estais.

4.1.4 Cabos

Os cabos caracterizam-se basicamente por serem formadas de uma montagem de

cordoalhas que circundam helicoidalmente em torno de uma cordoalha central ou um outro

cabo. A ASTM A603 descreve as características de fabricação dos cabos empregadas em

obras estaiadas.

A principal vantagem das cordoalhas reside no fato de apresentar maior

resistência à tração e maior módulo de elasticidade. Porém, os cabos são mais flexíveis,

podendo realizar maiores curvaturas no topo das torres. Devidos estas características, as

cordoalhas são mais utilizadas em pontes estaiadas e os cabos mais utilizados em pontes

pênseis (NOGUEIRA NETO, 2003).

4.2 Sistemas de ancoragem

A ancoragem é o dispositivo responsável por transferir as cargas dos cabos aos

apoios onde esta é ancorada, seja o tabuleiro ou a torre.

As ancoragens podem ser ativas, onde se realiza a atividade de tensionamento, ou

passiva, onde a ancoragem sofrerá a atividade de tensionamento. Normalmente as ancoragens

27

ativas estão no tabuleiro e as passivas nas torres devido a facilidade de acesso e trabalho, mas

nada proíbe que a ancoragem da torre também seja ativa.

As cordoalhas são tensionadas individualmente e sua ancoragem também é

individual através de cunhas de aço (dispositivo semelhante às ancoragens convencionais).

Após todas as cordoalhas terem sido ancoradas, um ajuste na tensão pode ser

realizada simultaneamente em todas as cordoalhas de um estai através de uma anel de ajuste

presente na parte externa do dispositivo de ancoragem. Com isso, pode-se alongar ou afrouxar

simultaneamente todas as cordoalhas em uma única operação, aumentando ou aliviando a

tensão no estai.

O sistema de ancoragem deve ser submetido a um ensaio visando verificar a

resistência à corrosão.

4.2.1 Tubo Guia

O tubo guia é o tubo metálico existente a partir da placa de ancoragem, com a

função de proteger o trecho inicial das cordoalhas, além de definir o ângulo de partida do

estai.

O tubo guia deve estar em conformidade com as exigências da ASTM A53, sendo

todos os ensaios descritos pela ASTM A673.

A espessura de sua parede deve ser suficiente para resistir aos esforços

provocados pelo manuseio e transporte, além da pressão interna provocada eventualmente

pelo seu preenchimento com grout. No entanto, esta espessura não deve ser inferior a 10mm

(PTI, 2001 apud NOGUEIRA NETO, 2003).

4.2.2 Amortecedor

Este dispositivo tem a principal função de amenizar o efeito da fadiga, reduzindo

a amplitude de oscilação das tensões atuantes nas cordoalhas devido a ação das cargas

28

acidentais. Este sistema é posicionado no interior do tubo guia, na extremidade oposta a placa

de ancoragem.

O amortecedor é composto de vários anéis de elastômeros entre chapas metálicas.

4.2.3 Desviador

Tem a principal finalidade de garantir o paralelismo entre as cordoalhas no

interior do tubo guia. É um cilindro plástico posicionado junto ao amortecedor. Este recebe

furos de acordo com o número de cordoalhas que compõem o estai, fazendo com que cada

orifício do desviador tenha uma respectiva cordoalha na placa de ancoragem. Garantindo

assim, que toda cordoalha que atravessa o desviador tenha sua ortogonalidade com a placa de

ancoragem.

4.3 Proteção

A proteção dos elementos de tensionamento é de fundamental importância, pois

imperfeições na superfície do aço provocam o aparecimento de pontos de concentração de

tensão, que podem levar ao aparecimento de uma tensão superior à admissível.

4.3.1 Galvanização

Proteção realizada através da imersão a quente do fio, proporcionando camadas de

cobertura de zinco. Este tipo de proteção possui a vantagem de não ser danificada facilmente

com o manuseio e de possuir o preço relativamente baixo se comparado aos outros tipos de

proteção (PODOLNY; SCALZI, 1976).

A ASTM A586 E A603 classificam esta proteção em razão da espessura da

camada de revestimento, sendo classificada em A, B ou C.

29

Segundo Podolny e Scalzi, 1976, o processo de galvanização altera as

propriedades mecânicas do aço, pois a tensão de ruptura pode apresentar uma redução em

torno de 5%. No entanto, os valores de tensão última de resistência citados pela Post-

Tensioning Institute, 2001 já consideram a influência da proteção dos elementos tensionados.

4.3.2 Cera

A aplicação da cera deve ser realizada completamente entre todos os fios que

compõem a mesma cordoalha. Este material, além de proteger o fio, deve ser quimicamente

estável e não reativo com o aço (NOGUEIRA NETO, 2003).

4.3.3 Bainha de HDPE (High Density Polyetilene)

Assegura total impermeabilidade à água. Este material não deve reagir com o

grout e nem com a cera que envolve os fios, além de possuir suas características inalteradas

quando exposto a elevadas temperaturas.

4.3.4 Tubo de HDPE (High Density Polyetilene)

Além de possuir as características já descritas para a bainha de HDPE, deve ser

resistente a ação dos raios ultravioletas. Segundo Nogueira Neto, 2003, uma placa de HDPE

com espessura de 1,0mm proporciona a mesma proteção contra os raios ultravioletas

verificada em um muro de concreto de 1,8 m de espessura.

As especificações da HDPE são encontradas na ASTM D3035 e ASTM F714.

Segundo a Post-Tensioning Institute, 2001, a espessura do tubo de HDPE não

deve ser inferior a 1/18 de seu diâmetro externo.

30

Um aspecto positivo deste tipo de proteção é que ele também proporciona um

menor coeficiente de arrasto quando comparado ao coeficiente de arrasto equivalente ao

conjunto de cordoalhas.

4.3.5 Tubo anti-vandalismo

Consiste de um revestimento de aço de 6 mm de espessura na base do estai, junto

ao tabuleiro, com o intuito de proteger mecanicamente o estai contra danos acidentais ou

intencionais.

31

5 CONSIDERAÇÕES IMPORTANTES NO PROJETO

A seguir, serão realizados alguns comentários importantes a respeito do projeto de

pontes. Aspectos estes que, no caso de pontes estaiadas, tornam-se indispensáveis.

5.1 Concepção preliminar

Pontes estaiadas são estruturas altamente hiperestáticas, portanto, modelos

computacionais capazes de representar adequadamente o comportamento físico da estrutura

com aceitáveis tolerâncias para os erros são indispensáveis.

Como na maioria dos projetos de estrutura, a análise do sistema é realizada em

várias etapas. A primeira delas é responsável pelas dimensões iniciais dos elementos

estruturais. Nesta fase, são realizadas uma série de simplificações nos modelos considerados,

que em geral não consideram os efeitos de segunda ordem.

Verificado a solução estrutural preliminar, parte-se para a segunda etapa, em que

uma análise dos estados limites últimos e de serviço são verificadas, considerando os efeitos

da não-linearidade física e geométrica, o que é indispensável, visto que estas estruturas são

bastante deformáveis, causando esforços e deslocamentos de segunda ordem.

Segundo Walther et al (1985), o projeto de uma ponte estaiada envolve as etapas

mostradas no fluxograma da Figura 5.1. Inicialmente procede-se um pré-dimensionamento de

todos os elementos da estrutura. Nesta fase é fundamental um bom conhecimento por parte do

projetista do comportamento global da estrutura e da influencia de cada elemento neste

comportamento. Na segunda fase, define-se a seção dos estais e o seu pré-alongamento

através de métodos simplificados. Calculam-se, a partir daí, os esforços e deformações devido

às cargas permanentes através de uma análise estática. Após esta etapa, verifica-se se há

necessidade de alteração das dimensões dos elementos, principalmente dos estais, devendo-se

dimensioná-los de modo que se tenha flecha nula no tabuleiro para o carregamento

permanente ou até mesmo uma contra-flecha inicial. Por final, realiza-se uma análise

dinâmica e das freqüências naturais, assim como uma checagem dos esforços nas fases

construtivas.

32

Na fase inicial podem-se utilizar modelos planos de análise para uma melhor

compreensão da estrutura, mas na fase final é recomendável um modelo espacial mais

complexo. Na fase final torna-se mais conveniente o uso de programas computacionais

baseados no método dos elementos finitos, para que se possam considerar os efeitos da não-

linearidade física e geométrica.

Figura 5.1 – Fluxograma simplificado do projeto de uma ponte estaiada (WALTHER et al, 1985).

33

5.2 Comportamento não-linear da estrutura

Como na maioria dos projetos estruturais, pode-se considerar uma simplificação

bastante conveniente na fase de projeto preliminar, que é a suposição de um comportamento

linear da estrutura quando submetido às cargas de serviço. No entanto, por se tratar de uma

estrutura com elementos bastante esbeltos e por estar sujeita à fluência e fissuração, para as

pontes estaiadas, essa suposição pode não prever com aceitável aproximação o

comportamento real da estrutura no que diz respeito aos esforços transmitidos, portanto,

torna-se necessária uma análise não-linear, principalmente quando se considera a estrutura

submetida ao carregamento último, onde as respostas se tornam ainda mais não-lineares. O

objetivo principal desta consideração é tentar aproximar os resultados do modelo estrutural ao

do comportamento real, levando a uma previsão mais confiável (VARGAS, 2007).

Na análise linear, a simplificação de transformar a estrutura real em um conjunto

de barras interligadas, com condições de contorno e propriedades adequadas, leva a um

modelo de grande utilidade e com relativa simplicidade. No entanto, o resultado desta análise

é uma estrutura deformada, onde as equações de equilíbrio não são satisfeitas, pois ela foi

calculada apenas na configuração indeformada. Portanto, pode-se concluir que quanto maior a

flexibilidade da estrutura, maior o erro de aproximação ao se considerar uma análise linear ao

invés de uma não-linear. Resumindo, resolveu-se o problema de forma aproximada e a

solução obtida pode não ser mais aplicável na análise.

Quando se pretende considerar a não-linearidade ao estudo de estruturas reais, vê-

se a necessidade da utilização de uma ferramenta computacional eficaz, tornando possível na

prática a resolução do sistema. Na consideração da não-linearidade durante a modelagem, o

engenheiro deve decidir quais fontes de não-linearidade são relevantes e devem ser

consideradas, idealizando uma maneira de representá-la.

Pode-se considerar na análise, a não-linearidade tanto do material quanto

geométrica, ou a consideração de cada um separadamente. Em uma análise elástica linear,

considera-se que o material não escoa e que suas propriedades não variam, além disso, as

equações de equilíbrio são formuladas em sua geometria indeformada, podendo-se considerar

que suas deformações são tão insignificantes que podem ser desprezados seus efeitos de

segunda ordem. A desconsideração das suposições mencionadas anteriormente podem ser

feitas separadamente. Pode-se considerar apenas a não-linearidade geométrica, onde o

34

material ainda apresenta comportamento elástico linear, mas os deslocamentos finitos são

considerados na formulação das equações de equilíbrio. Também é possível a consideração

apenas da não-linearidade do material, onde as propriedades variam de acordo com as tensões

solicitantes. E, como uma forma mais geral, podem-se considerar ambos os efeitos de não-

linearidade (VARGAS, 2007).

Dentre as principais fontes de não linearidade podem ser citadas:

Efeitos geométricos: como as imperfeições iniciais ou contraflechas e o

efeito P-Δ, que são os momentos adicionais causados por cargas axiais aplicados em locais

onde há deslocamento horizontal;

Efeitos do material: como fissurações do concreto armado;

Efeitos combinados: Deformação plástica mais o efeito P-Δ,

deformações das conexões, contribuições de sistemas secundários na resistência e na rigidez.

Segundo Vargas (2007), em pontes estaiadas, dificilmente é possível se considerar

todas as fontes de não-linearidade em um modelo e obter o comportamento real da estrutura

com todos os detalhes, sendo que os principais a serem considerados se originam de três

fontes principais, são elas:

Relação força axial – alongamento: não-linear para cabos inclinados

devido à catenária gerada pelo peso próprio, pois parte dos deslocamentos ocorre devido sua

deformação e a outra parte devido à mudança de flecha no cabo, assim a rigidez axial aparente

do cabo cresce quando a tensão de tração aumenta;

Relação momento – força normal – curvatura: não-linear para as torres

e o tabuleiro sob ação da flexão oblíqua composta;

Mudança na geometria devido aos grandes deslocamentos: em pontes

estaiadas, deformações da ordem de meio metro ou mais podem ocorrer sob ações de cargas

de serviço, assim, a rigidez dos elementos na configuração deformada devem ser calculadas.

35

5.2.1 Não-linearidade dos estais

A não-linearidade exibida pelo cabo se deve à mudança da geometria do mesmo

sob ação crescente do carregamento e ao efeito de segunda ordem produzido pela tensão

atuante ao longo do cabo. Deste modo, verifica-se um aumento do comprimento do cabo

devido ao estiramento elástico e à mudança de geometria decorrente da alteração da flecha.

Um procedimento bastante usual na literatura para se representar um elemento de

cabo em uma análise linear é uma sua representação como um elemento retilíneo entre seus

pontos de ancoragem. Para este elemento, adota-se um módulo de elasticidade equivalente ao

de um cabo curvo também chamado de Módulo de Dischinger. Esta consideração é feita para

se considerar a perda de rigidez do cabo submetido ao peso próprio (PODOLNY; SCALZI,

1976; TORNERI, 2002). Uma aproximação que é bastante utilizada é obtida com a expressão

a seguir:

3

2

121

EL

EEeq

(5.1)

Onde:

E = Módulo de elasticidade do material do cabo;

L = Projeção horizontal do comprimento do cabo;

γ = Peso por unidade de volume do aço (peso específico);

σ = Tensão de tração média no estai;

eqE = módulo de elasticidade equivalente.

O valor da tensão de tração média nos estais se altera devido o carregamento

móvel e, conseqüentemente, seu módulo de elasticidade. No entanto, por simplificação, se

adota em muitos projetos deste tipo uma tensão originada apenas pelo carregamento

permanente, pois o valor da carga móvel normalmente é muito inferior quando comparado a

este.

36

5.3 Consideração da fadiga

A fadiga é um aspecto de difícil consideração, pois não é possível prever na

prática a freqüência e intensidade com que as cargas atuarão na estrutura. Deve-se ainda

considerar a provável existência de efeitos secundários, como por exemplo, a vibração dos

cabos devido à ação do vento, de difícil consideração e que eventualmente reduzem a

resistência à fadiga. A verificação da segurança à fadiga consiste em se garantir que a

variação das tensões nos estais não ultrapassem valores limites resistentes, que, em geral, são

obtidos de ensaios. As variações de tensões nos tirantes dependem basicamente da relação

entre as sobrecargas de utilização e as cargas permanentes. Para pontes estaiadas rodoviárias

esta relação situa-se em torno de 0,25, o que faz com que a verificação da segurança à fadiga

não seja, em geral, um dos condicionantes para o dimensionamento dos estais (ALMEIDA,

1989).

Segundo Torneri (2002), não existe ainda no meio técnico um consenso a respeito

das tensões máximas e mínimas, assim como das flutuações de tensões. Mas vários autores

recomendam, para a combinação rara, um valor para a tensão máxima de 45% do valor de

tkf, que é o valor de ruptura característico do aço dos estais.

As flutuações de tensões devem respeitar o valor admissível de 125 MPa, que

admite um número de ciclo de carregamento superior a 610.2 , valor este, obtido de ensaios de

fadiga em cordoalhas isoladas (PTI, 2001 apud TORNERI, 2002).

O valor da tensão mínima admissível também não se encontra definida em norma

ou na literatura, mas Torneri (2002) utiliza em seu trabalho um valor de 15% do valor de tkf.

37

6 MÉTODOS CONSTRUTIVOS DAS PONTES ESTAIADAS

O método construtivo tem grande importância na fase de projeto, não só pelo

arranjo estrutural, mas também porque nesta fase devem-se avaliar os esforços nos elementos

quando submetidos a ações atuantes nas fases construtivas. O comportamento de cada ponte

pode ser entendido melhor ao se considerar o processo construtivo. Por exemplo, no método

dos balanços sucessivos, pode-se considerar que cada estai ou par de estais, dependendo do

número de planos de estais, suportam o peso de uma aduela, sendo a distância entre estais

definida pelo comprimento de um trecho do tabuleiro.

Os principais métodos construtivos das pontes e viadutos estaiados são descritos a

seguir.

6.1 Cimbramento geral

É o método mais antigo utilizado para pontes, geralmente utilizado quando o

terreno abaixo da ponte é de boa capacidade resistente e é uma zona de baixo gabarito. Além

disso, o cruzamento não pode estar congestionado com estradas ou ferrovias, e a ponte não

pode estar atravessando um curso de água. O cimbramento pode ser fixo ou móvel.

No cimbramento fixo, apoios temporários são montados ao longo da construção

do tabuleiro, que, após o término da construção do trecho, são retirados e reutilizados em

outros trechos da obra. Os tipos mais comuns são os de madeira, de treliças ou vigas metálicas

e cimbramento metálico. Na utilização do cimbramento fixo deve-se atentar para alguns

cuidados, como, por exemplo, capacidade de carga da fundação e o seu provável recalque,

cuidados com a deformação das vigas ou treliças, verificar se os recalques e as deformações

ocorreram antes do final da concretagem e deve-se vistoriar antes, durante e depois da

concretagem.

O cimbramento é considerado móvel quando é possível deslocar o cimbramento

sem desmontá-lo, realizado após a conclusão de um trecho ou tramo da ponte. Neste sistema,

os vãos são executados um a um, através de vigas que suportam escoramentos deslizantes

sobre rolos. Neste sistema deve-se estar atento aos processos construtivos na fase de projeto,

38

levando em consideração cada etapa durante os cálculos e detalhando a posição da junta e o

seu tratamento. Deve-se estar atento também a possíveis obstáculos que possam impedir o

movimento longitudinal das treliças, além dos outros cuidados exigidos no cimbramento fixo

(YTZA, 2009). A Figura 6.1 a seguir, ilustra um cimbramento móvel utilizado na construção

da Ponte internacional sobre o Rio Guadiana em Castro Marim, Portugal.

Figura 6.1 – Cimbramento Móvel utilizado na Ponte sobre o Rio Guadiana em Castro Marim, Portugal.

6.2 Balanços sucessivos

Sistema construtivo criado em 1930 pelo engenheiro brasileiro Emílio Baumgart.

É o método mais utilizado em pontes estaiadas, pois é indicado para situações onde o terreno

abaixo da ponte não pode ser utilizado como apoio, por exemplo, em locais onde a altura

entre a ponte e o terreno é muito elevada, em rios com correnteza violenta ou em locais onde

se deve obedecer a gabaritos de navegação (YTZA, 2009).

O método consiste na construção da obra em trechos ou aduelas, que podem ter

um comprimento variando de 3 m a 10 m, formando consolos que avançam sobre o vão a ser

vencido. Podem ser utilizadas aduelas pré-moldadas, que são suspensas por cabos, guinchos

ou transportadas através de treliças metálicas em balanço, ou aduelas moldadas in loco, onde

as formas são presas ao trecho anterior já concretado e, após atingida a resistência adequada,

esse trecho é protendido. Todos os trechos ou aduelas são protendidos longitudinalmente.

Entre as aduelas, pode-se utilizar cola a base de resina epóxi para diminuir o efeito das

39

imperfeições da juntas, impermeabilizar as juntas e contribuir para uma melhor distribuição

dos esforços cisalhantes.

A Figura 6.2 ilustra a Ponte da Normandia sendo construída pelo método dos

balanços sucessivos, neste caso com tabuleiro de aço, sendo as aduelas içadas ao chegarem na

posição prevista. É possível também sua execução sem obedecer a simetria em relação ao

apoio, necessitando, neste caso, de estais provisórios que suspendem as aduelas durante sua

execução.

Figura 6.2 – Ponte da Normandia construída através de balanços sucessivos.

Neste sistema, deve haver um controle minucioso das deformações, de forma que

os trechos se encontrem no meio do vão de forma coincidente. Para isso, normalmente

projeta-se para que os balanços sejam construídos simetricamente em relação ao apoio.

É um sistema vantajoso, pois além de ser capaz de vencer vãos bastante longos,

permite a redução com custo de formas, que podem ser reutilizadas, e com mão-de-obra, pois

é capaz de atingir uma maior rapidez de execução. No entanto, este sistema sofre influência

de problemas relacionados à fluência e retração do concreto e à relaxação do aço, que causam

40

deformações elásticas e plásticas, levando a dificuldades no momento do fechamento da

estrutura.

6.3 Lançamentos progressivos

Neste método, os elementos da superestrutura são fabricados próximo à obra e são

deslocados no sentido longitudinal do vão, até sua posição final. Nas fases intermediárias, a

estrutura se encontra em balanço, sendo avançada aos poucos até que se chegue ao próximo

apoio. Cada seção do tabuleiro é concretada junto à seção anterior concluída, permitindo-se a

continuidade das armaduras entre as seções. Estas seções são construídas sobre formas

metálicas fixas e são empurradas por macacos hidráulicos sobre aparelhos de apoios

deslizantes que, por sua vez, encontram-se sobre pilares, sendo estes aparelhos de apoio

provisórios ou permanentes. Para não deixar o trecho dianteiro totalmente em balanço, utiliza-

se uma treliça metálica, que é ligada à primeira seção construída do tabuleiro e é apoiada

sobre o pilar no outro extremo. Deste modo reduzem-se os momentos negativos durante a fase

construtiva.

A figura a seguir ilustra o esquema do sistema de lançamentos progressivos:

Figura 6.3 – Esquema do sistema de lançamentos progressivos (YTZA, 2009).

41

Dentre as principais vantagens deste método construtivo, podemos citar:

Eliminação do cimbramento, que evita paralisações no trafego do

cruzamento e dificuldades devido à correnteza do rio;

Redução das formas;

Redução da mão de obra;

Execução mais rápida da superestrutura;

Industrialização da construção.

Esta solução, assim como o método dos balanços sucessivos, é mais atrativa em

regiões com greides elevados, rios ou vales profundos ou obras de grandes extensões.

Um exemplo marcante de ponte onde se utilizou o método dos lançamentos

progressivos é o Viaduto de Millau, no sul da França, ilustrado na Figura 6.4.

Figura 6.4 – Método construtivo de lançamento progressivo.

42

7 MODELO PARA ANÁLISE

A modelagem de uma estrutura consiste em idealizá-la de modo a representar seus

elementos de uma maneira apropriada e que permita que o comportamento real da estrutura

seja bem representado e o cálculo seja razoavelmente preciso.

Neste capítulo, pretende-se realizar uma modelagem de uma ponte estaiada

visando-se aplicar os critérios anteriormente descritos na escolha de uma solução estrutural.

Será escolhida inicialmente uma ponte estaiada que servirá como base para a análise. A partir

dela, serão realizadas modificações em sua concepção com o objetivo de se verificar qual

alternativa é mais viável. Para esta análise serão consideradas apenas as cargas permanentes e

as cargas móveis. Como este trabalho trata de um estudo comparativo e não do

dimensionamento dos elementos, pretende-se limitar-se a uma análise elástico-linear.

O desempenho dos modelos e das alternativas estruturais foram comparadas entre

si, tomando-se como critério os seguintes resultados na análise:

- Momentos fletores máximos e mínimos no tabuleiro e na torre;

- Momentos torsores máximos nas longarinas e no mastro da torre;

- Esforços normais máximo nas longarinas e no mastro das torres;

- Deslocamentos no tabuleiro e na torre;

- Esforços normais nos estais.

7.1 Descrição da ponte estaiada

A ponte estaiada escolhida que servirá como base para a modelagem é a Ponte

rodoviária sobre o Rio Guamá, localizada no estado do Pará no Brasil, Figura 7.1.

A ponte estaiada Governador Almir Gabriel, sobre o rio Guamá, é responsável por

interligar toda a região metropolitana de Belém. O governo do estado do Pará, através da

secretaria executiva de transportes e da secretaria especial de infra-estrutura, foi o responsável

pela licitação da obra, sendo vencida a concorrência pelo Consórcio Novo Guamá, liderado

43

pela Construbase Engenharia Ltda e composto ainda pelas empresas Probase, Paulitec e

Cidade. A elaboração do projeto estrutural foi realizado pelas empresas Enescil Engenharia de

Projetos Ltda, brasileira, e Studio De Miranda Associati Ingegneria Strutturale, italiana.

Figura 7.1 – Ponte sobre o rio Guamá.

7.1.1 Características Gerais

A obra possui um comprimento total de 584,70 m, possuindo um vão central de

320,00 m de extensão, equilibrado por dois vãos laterais de 132,35 m. A ponte possui dois

mastros de estaiamento e dois apoios extremos. O greide dos vãos extremos possui uma

inclinação longitudinal de 4% e o vão central possui um greide circular de raio igual a

4000,00 m.

44

7.1.2 Meso-estrutura

Com relação à meso-estrutura, os apoios extremos possuem um único pilar de

seção retangular vazada, com dimensões externas de 17,30 x 3,00 m e tendo uma parede de 40

cm de espessura.

Para os apoios centrais, as torres possuem dois pilares de seção retangular vazada,

com 3,00 m de dimensão externa na direção transversal e 50 cm de espessura da parede e na

direção longitudinal, suas dimensões variam linearmente de 6,00 m (engastamento com o

bloco) a 5,70 m (face inferior do travamento) ao longo de seus 12,70 m de altura com

espessura de parede constante de 60 cm. Os pilares das torres são contraventados entre si por

meio de uma viga de travamento de concreto de dimensões 4,80 x 5,00 m.

O mastro de estaiamento possui duas torres verticais de 76,20 m de altura

contraventadas em si por meio de uma viga de concreto, localizada a uma altura de 50,10 m,

medido a partir da face superior da viga de travamento dos pilares. A seção transversal da

torre é retangular e vazada. Longitudinalmente, suas dimensões externas variam linearmente

de 5,59 m (seção da face superior do travamento dos pilares) a 4,50 m ao longo dos primeiros

46,10 m para então permanecer constante. Transversalmente sua dimensão externa é constante

e de valor igual a 3,00 m em toda a altura.

As paredes longitudinais possuem 50 cm de espessura. Já as paredes transversais

possuem 60 cm de espessura em seus primeiros 46,10 m de altura e 90 cm de espessura no

trecho restante. A Figura 7.2 e a Figura 7.3, a seguir, ilustram estas dimensões.

45

Figura 7.2 – Dimensões das torres (NOGUEIRA NETO, 2003).

Figura 7.3 – Seções transversais da torre (NOGUEIRA NETO, 2003).

46

Toda a meso-estrutura foi executada com concreto de resistência característica

(ckf ) de 35 MPa.

7.1.3 Estais

A ponte possui dois planos de estais dispostos em semi-harpa. Nos vãos extremos

há 18 estais ancorados em cada torre e no vão central há 20 estais ancorados em cada torre. A

Figura 7.4 ilustra a disposição dos estais assim como o número de cordoalhas por estai.

O primeiro estai da torre encontra-se ancorado a uma altura de 58,80 m medido a

partir da face superior do travamento entre os pilares. O último estai da torre está ancorado a

73,74 m de altura. Já no tabuleiro, o primeiro estai está ancorado a 11,80 m do eixo dos

apoios centrais, sendo os demais espaçados a cada 7,60 m.

Cada estai é composto por um feixe de cordoalhas paralelas, variando de 12 a 61

cordoalhas, sendo fixadas ao tabuleiro através ancoragem ativa e à torre através de ancoragem

passiva. Cada estai, ou grupo de cordoalhas, tem uma seção com área variável dependendo da

localização do estai, os estais com maior seção são os mais afastados da base da torre, e os de

menor seção são os que estão mais perto da base da torre. Essa conclusão é intuitiva, já que os

estais mais afastados são aqueles que recebem uma força maior que aqueles perto da torre.

47

Fig

ura

7.4

– D

isp

osi

ção

e n

úm

ero

de

esta

is (

NO

GU

EIR

A N

ET

O,

20

03

).

48

7.1.4 Super-estrutura

O tabuleiro possui uma largura de 14,20 m e é constituído por duas longarinas de

1,30 m de altura unidas por meio de vigas transversais espaçadas a cada 3,80 m.

Figura 7.5 – Seção transversal do tabuleiro (NOGUEIRA NETO, 2003).

Para fechar o vão central, unindo os trechos executados em balanços sucessivos,

foi fabricada uma aduela com 4,48 m de comprimento sem transversinas, no entanto, com

uma laje de espessura de 50 cm.

Toda a superestrutura foi executada com concreto de resistência característica

( ckf ) de 40 MPa.

7.2 Descrição do programa de análise utilizado

O programa escolhido para a modelagem da ponte foi o SAP 2000 V.14.1.0

(COMPUTERS AND STRUCTURES INC.), um programa direcionado para análise

estrutural que possui uma ótima interface e um ambiente gráfico que permite realizar, em um

mesmo modelo estrutural, diferentes análises.

O Programa SAP 2000 é utilizado para modelagem e análise numérica de

estruturas via elementos finitos. Possui ainda ferramentas que permitem ao projetista trabalhar

com os materiais estruturais mais conhecidos, como é o caso do concreto, aço, alumínio,

inclusive perfis formados a frio. O programa possui ainda ferramentas direcionadas para a

análise de pontes dos mais variados tipos, podendo-se aplicar além das cargas permanentes, as

cargas móveis, fazendo-se caminhar um trem-tipo sobre a estrutura modelada. Pode-se

49

também realizar uma análise das cargas dinâmicas e a consideração dos estágios da

construção, obtendo-se os esforços a que a estrutura estará submetida no decorrer se sua

execução.

No SAP 2000 pode-se considerar automaticamente o peso próprio dos elementos,

devendo-se considerar apenas as demais cargas, como revestimento e carga móvel por

exemplo. Todas as vezes que se desejar realizar uma análise estática ou dinâmica da carga

móvel, deve-se criar uma faixa de tráfego, ou “Lane”, sobre estas faixas se deslocará o trem-

tipo. O SAP2000 possui uma série de veículos-tipo pré-definidos. Caso necessário, existe

ainda uma ferramenta para a criação de veículos-tipo genéricos.

Os resultados da análise podem ser visualizados através de gráficos, onde se vê os

diagramas de esforços, ou em forma de diagrama de cores, onde a estrutura é visualizada em

três dimensões e as cores variam conforme a intensidade dos esforços, deslocamentos ou

forças.

Com isso, pode-se concluir que o SAP 2000 possui uma grande variedade de

aplicações, tornando-se possível sua utilização na presente pesquisa.

7.3 Cargas consideradas

Segundo a NBR 7187 (2003), podem-se classificar as ações em permanentes,

variáveis e excepcionais. Esta mesma norma prescreve como se devem considerar as ações no

projeto de estruturas de pontes. No presente trabalho, serão consideradas na análise apenas as

ações permanentes e as ações variáveis advindas da carga móvel.

7.3.1 Ações permanentes

As ações permanentes são aquelas cuja intensidade pode ser considerada

constante ou de pequena variação durante a vida útil da construção. Em pontes, estas cargas

podem ser: cargas provenientes do peso-próprio dos elementos estruturais, peso do

50

revestimento, peso do guarda-rodas, empuxos de terras e de líquidos, forças de protensão e

deformações impostas (ABNT NBR-7187).

O peso-próprio dos elementos é automaticamente considerado no SAP2000 desde

que se forneça o valor do peso específico dos materiais e a seção transversal. Segundo a

norma brasileira NBR-6118, se a massa específica real do concreto não for conhecida, para

efeito de cálculo, pode-se adotar para o concreto simples o valor 2400 kg/m³ e para o concreto

armado 2500 kg/m³.

O revestimento será aplicado como carga uniformemente distribuída em toda a

pista de rolamento. Para isto, se considerará um peso específico de 24 kN/m³ e uma espessura

de 7 cm de revestimento, totalizando um valor de 1,68 kN/m² de carga uniformemente

distribuída nos 8,20 m de largura de pista de rolamento.

O guarda-roda será representado por uma carga uniformemente distribuída em

uma largura de 40 cm e será localizado na divisa da pista de rolamento com o passeio. Para

um guarda-rodas usualmente adotado em projetos de pontes, temos uma seção transversal

com área de 0,231 m². Logo, adotando-se para o concreto armado um peso específico de 25

kN/m³, temos uma carga distribuída de:

²/44,1440,0

25231,0mKN

xqGR

Para representar o peso-próprio do guarda-corpo, se adotará uma carga distribuída

linearmente com um valor de 3 kN/m. Esta carga será aplicada sobre as duas longarinas ao

longo de toda a ponte.

7.3.2 Ações variáveis

As ações variáveis são aquelas de caráter transitório e compreendem, entre outras,

as cargas móveis, cargas de construção, cargas de vento, empuxo de terra provocado por

cargas móveis e efeito dinâmico do movimento das águas. Neste trabalho será considerada na

análise apenas a carga móvel.

51

Segundo a NBR-7188, as pontes podem ser classificadas segundo as cargas

móveis consideradas em seu projeto. Elas podem ser divididas em três classes, a classe 45 (na

qual o veículo-tipo possui um peso total de 450 kN), a classe 30 (na qual o veículo-tipo possui

um peso total de 300 kN) e a classe 12 (na qual o veículo-tipo possui um peso total de 120

kN).

Nesta análise, se utilizará o veículo-tipo classe 45, que possui um peso total de

450 kN. De acordo com a norma, uma carga “p” de 5 kN/m² deve ser aplicada em toda a pista

de rolamento simultaneamente com a presença deste veículo-tipo, porém, ela não deve ser

aplicada na região ocupada pelo veículo-tipo. Além disso, uma carga uniformemente

distribuída “ p’ ”de 3 kN/m² deve ser aplicada nos passeios.

Figura 7.6 – Disposição do veículo-tipo no tabuleiro de uma ponte (ABNT NBR-7188).

O veículo-tipo classe 45 possui 3 eixos, sendo o peso total do veículo distribuído

para as 6 rodas, gerando um peso de 75 kN por roda. A Figura 7.7, abaixo, extraído da NBR

7188, ilustra as dimensões do veículo em planta e as distâncias entre as rodas.

Figura 7.7 – Dimensões do veículo-tipo classe 45 (ABNT NBR-7188).

O veículo-tipo deve sempre ser orientado na direção do tráfego e localizado na

posição mais desfavorável para o cálculo de cada elemento, não considerando a porção do

carregamento que provoque redução das solicitações. A carga distribuída de intensidade “p” é

aplicada em toda a pista de rolamento, nesta incluídas as faixas de tráfego, os acostamentos e

os afastamentos, é descontada apenas a área ocupada pelo veículo (ABNT NBR-7188).

52

Segundo o item 5.2 da NBR 7188, no cálculo dos arcos ou vigas principais,

permite-se, ainda, homogeneizar as cargas distribuídas e subtrair das cargas concentradas dos

veículos as parcelas correspondentes àquela homogeneização, desde que não haja redução de

solicitações. Portanto, o veículo tipo utilizado pode ser um com uma carga de multidão “p” de

5 kN/m² em toda a pista de rolamento e seis cargas concentradas relativas às rodas do veículo

no valor de 60 kN cada uma. Esta simplificação será adotada nesta análise.

As cargas dinâmicas podem ser calculadas como cargas estáticas desde que sejam

multiplicadas por coeficientes que representem o efeito dinâmico dessas cargas. O coeficiente

de impacto (φ), que considera o efeito dinâmico provocado por cargas móveis, é dado

segundo a NBR 7187 (1987) por:

L007,04,1 (7.1)

Onde L é o comprimento do vão teórico em metros. Quando os vão adjacentes

forem desiguais, mas o menor vão for igual ou superior a 0,7 vezes o vão maior, pode-se

considerar um vão equivalente dado pela média dos dois vão teóricos. Para vigas em balanço,

o valor L deve ser tomado como duas vezes o comprimento do vão em balanço.

Como na ponte em análise a distância entre os pontos de ancoragem dos estais é

de 7,60 m tanto nos vãos extremos como no vão central, teremos um coeficiente de impacto

de:

3468,160,7007,04,1 x

Lembrando que este valor é apenas uma aferição inicial para as cargas dinâmicas

a partir das cargas estáticas, devendo-se realizar na prática uma análise dinâmica, obtendo-se

valores mais confiáveis.

A envoltória das solicitações em serviço é dada pela soma das solicitações

provocadas pela carga permanente com as solicitações provocadas pela carga móvel majorada

pelo coeficiente de impacto, anteriormente descrito. A equação a seguir fornece o valor de tais

envoltórias:

qgd SSS . (7.2)

Onde dS é a solicitação de cálculo, gS é a solicitação gerada pelas ações

permanentes, φ é o coeficiente de impacto e qS é a solicitação gerada pelas ações variáveis.

53

7.4 Características do modelo e dos materiais utilizados

Neste trabalho, será utilizada a seguinte convenção para facilitar a identificação

das direções referidas: a direção longitudinal da ponte será considerada o eixo X, a direção

transversal será considerada o eixo Y e a altura será considerada no eixo Z.

Para efeito de análise do modelo, se dará um foco apenas aos elementos da meso e

da superestrutura. Portanto, as torres serão consideradas engastadas nas fundações.

No modelo, considerou-se a laje apoiada nas duas longarinas e nas transversinas.

O tabuleiro foi considerado desvinculado da torre, admitindo-se que os cabos são

responsáveis pela suspensão total da carga.

Como está análise tem como objetivo apenas a comparação entre alternativas,

optou-se pela simplificação de se considerar o greide da ponte como sendo reto, ao invés dos

4% de inclinação nos vãos extremos e um vão central com greide circular de raio 4000 m.

Os apoios extremos serão considerados como apoios simples e terão seus

deslocamentos impedidos em todas as direções, já as rotações serão permitidas em todas as

direções. Para os apoios centrais, as torres serão consideradas engastadas nos blocos de

fundação.

O aço utilizado nos estais é o CP 190-RB, que possui seção transversal com área

de 0,987 cm². Para ele, se adotará um módulo de elasticidade com o valor de E=195000 MPa

e um peso específico de 78,5 kN/m³. Com a utilização do programa SAP2000, torna-se

desnecessário a utilização de elementos lineares com a correção do módulo de elasticidade

para se representar os estais, conforme descrito anteriormente, pois este programa já fornece

um elemento de cabo que pode ser utilizado e já considera os efeitos da catenária.

Utilizaremos dois tipos de concreto, um para a superestrutura com um ckf de 40

MPa e outro para a mesoestrutura com um ckf de 35 MPa. Segundo a norma brasileira NBR-

6118, na ausência de ensaios para a obtenção do módulo de elasticidade do concreto (Ec),

pode-se estimar seu valor usando a equação (7.3):

54

2/1.5600 ckci fE (7.3)

Onde ciE e

ckf são dados em Mega-Pascal.

O módulo de elasticidade secante a ser utilizado nas análises elásticas de projeto,

especialmente para determinação de esforços solicitantes e verificação de estados limites de

serviço, deve ser calculado pela equação (7.4) (ABNT NBR-6118):

cics EE 85,0 (7.4)

Logo, teremos para a superestrutura um módulo de elasticidade secante de

MPaEcs 105.30 e para a meso estrutura um valor de MPaEcs 161.28 .

Com relação ao coeficiente de Poisson (υ) do concreto, a NBR-6118 diz que se

pode tomar um valor igual a 0,2.

7.5 Modelagem da estrutura no SAP2000

Nesta seção serão mostrados os modelos realizados no programa SAP2000, sendo

um modelo para a ponte estaiada descrita anteriormente, que possuía uma distribuição dos

estais em formato semi-harpa, e outra para a mesma ponte, mas desta vez com os estais em

formato leque para, em seguida, se realizar uma comparação entre as duas, apontando as

vantagens e desvantagens de cada uma das soluções.

7.5.1 Carga permanente

Como anteriormente descrito, a carga permanente pode ser automaticamente

considerada no programa desde que seja informado o peso específico e a seção ou espessura

de cada elemento. Assim foi feito para as torres, as longarinas, as transversinas e as lajes. A

Figura 7.8, a seguir, ilustra uma das torres da ponte estaiada após definido as seções e

comprimentos dos elementos de barra, sendo que elas foram consideradas engastadas nas

fundações.

55

Figura 7.8 – Torre da ponte estaiada modelada no SAP2000.

Em seguida, utilizaram-se os elementos de cabo, dispondo-os no formato semi-

harpa, com todas as distâncias já descritas, e em formato leque. A Figura 7.9 ilustra uma vista

em três dimensões do plano XZ do modelo com estais em semi-harpa e a Figura 7.10 ilustra

uma vista em três dimensões do plano XZ do modelo com estais em leque.

Figura 7.9 – Ponte com estais dispostos em semi-harpa (ponte original).

Figura 7.10 – Ponte com estais dispostos em leque.

Já as cargas permanentes referentes ao guarda-corpo, ao guarda-rodas e ao

revestimento foram aplicadas em forma de cargas uniformemente distribuídas nas lajes. A

figura a seguir ilustra o vão central da ponte e a carga do revestimento aplicada com o valor

anteriormente calculado. Lembrando-se que no meio do vão central utilizou-se um

afastamento maior das transversinas e uma laje mais espessa de 50 cm.

56

Figura 7.11 – Aplicação da carga permanente de revestimento no vão central da ponte.

A Figura 7.12, a seguir, mostra uma vista em três dimensões da ponte após a

aplicação de todas as cargas permanentes consideradas e após determinadas todas as

condições de contorno para os apoios.

Figura 7.12 – Vista final da ponte com a aplicação de todas as cargas permanentes.

7.5.2 Carga móvel

Para a consideração da carga móvel, realizou-se uma separação da mesma em três

outras cargas, a carga de 3 kN/m² nos passeios, a carga de 5 kN/m² referente a carga de

multidão e a carga do veículo-tipo simplificado anteriormente descrito.

As cargas de passeio e de multidão foram aplicadas como cargas uniformemente

distribuídas nas lajes do tabuleiro. Já a carga do veículo-tipo simplificado foi definida no

57

próprio SAP2000 em uma área destinada para isto. Primeiramente definiu-se o veículo com as

respectivas cargas pontuais das rodas. A Figura 7.13, a seguir, mostra uma janela do SAP2000

utilizada especialmente para a definição do veículo-tipo, onde se define a intensidade das

cargas e as distâncias entre elas.

Figura 7.13 – Inserção do veículo-tipo simplificado classe 45.

Em seguida, definiram-se as “Lanes”, ou faixas de tráfego, são nelas que os

veículos-tipo irão trafegar. Para a obtenção dos esforços máximos, utilizou-se uma “Lane” no

meio da pista de rolamento e outras duas coladas ao guarda-rodas, sendo cada uma aplicada

separadamente. A Figura 7.14, a seguir, mostra as três faixas de tráfego utilizadas, sendo cada

uma representada por uma cor.

Figura 7.14 – Definição das “Lanes” utilizadas no tabuleiro.

58

As cargas foram dispostas de maneira a se obter os esforços máximos em cada

elemento, sendo que o próprio SAP2000 faz isso para as carga proveniente do veículo-tipo

combinando as “Lanes” e achando os esforços máximos e mínimos em cada elemento.

No SAP2000 é possível ainda realizar-se uma combinação das cargas,

multiplicando-as por fatores majoradores. Utilizou-se este recurso para a consideração do

coeficiente de impacto, sendo que ele foi multiplicado apenas pelas cargas de multidão e pela

carga do veículo-tipo, conforme exigências da norma ABNT NBR-7188. A Figura 7.15, a

seguir, ilustra a janela utilizada para realizar tal combinação, sendo que o fator multiplicador

utilizado foi o coeficiente de impacto que foi anteriormente calculado.

Figura 7.15 – Combinação utilizada na carga móvel.

59

8 RESULTADOS

Nesta seção serão mostrados os resultados obtidos para cada modelo, sendo eles

divididos em carga permanente e carga móvel.

A obtenção dos resultados no programa SAP2000 é muito simples. Após ser

realizada a análise pelo programa, os resultados podem ser vistos em forma de diagramas de

cores para as deformações e as tensões dos elementos de placa e, para os elementos de barra,

os resultados podem ser vistos como diagramas de momento fletor, diagrama de esforço

cortante, diagrama de esforço normal, diagrama de momento torsor e deflexões, bastando

apenas clicar no elemento. Os deslocamentos e rotações nodais também podem ser obtidos,

bastando para isto, clicar no nó desejado.

A Figura 8.1, a seguir, ilustra a obtenção das deflexões na laje do tabuleiro para a

carga permanente da ponte com estais em formato semi-harpa.

Figura 8.1 – Diagrama de cores para os deslocamentos verticais da laje do tabuleiro.

Ao clicar em qualquer elemento de barra, obtêm-se todos os diagramas e

deflexões ao longo desta. Para exemplificar, temos na Figura 8.2 os diagramas de momento

fletor e cortante para meia viga longitudinal, indicando-se ao lado os valores máximos obtidos

para a carga permanente na ponte com estais dispostos em formato semi-harpa.

60

Figura 8.2 – Diagramas para meia viga longitudinal.

Os resultados podem também ser obtidos visualizando-os nos próprios elementos,

como é o caso da Figura 8.3, a seguir, que ilustra uma das torres com os diagramas de

momentos em torno de X, que é o eixo paralelo à pista.

Figura 8.3 – Diagramas de momentos em torno de X para a torre.

Os resultados aqui apresentados serão para meio tabuleiro, visto que a estrutura

possui dois eixos de simetria, um em relação a um eixo paralelo ao eixo Y e localizado no

61

meio do vão central, e outro em relação ao eixo da pista de rolamento, que é paralelo ao eixo

X.

8.1 Carga permanente

A ponte em análise possui um número elevado de estais e um tabuleiro que pode

ser considerado esbelto, pois se trata de uma seção com uma laje de apenas 24 cm de

espessura e está apoiada sobre duas longarinas. Este tipo de tabuleiro normalmente está

sujeito a elevados momento fletores longitudinais, devendo-se o projetista dispor os estais de

forma e em número suficientes, para que estes momentos não sejam tão críticos no

dimensionamento.

Se compararmos os momentos longitudinais obtidos para a ponte com estais em

semi-harpa e a ponte com estais em leque, podemos ver que a ponte com estais em semi-harpa

apresentou momentos maiores que a ponte com estais em leque, tanto para a carga

permanente como para a carga móvel. O mesmo se observa para os esforços cortantes

atuantes na longarina e as deflexões no meio do vão central, encontraram-se esforços

cortantes muito maiores na ponte com estais em semi-harpa quando comparada à ponte com

estais em leque, além disso, as deflexões produzidas no meio do vão central foram cinco

vezes maiores na ponte com estais em leque. Na Figura 8.4 podemos ver os valores do

momento fletor máximo, do esforço cortante máximo e da flecha máxima para meia longarina

da ponte com estais dispostos em formato semi-harpa. Já para a Figura 8.5, temos os mesmos

diagramas, mas desta vez para a ponte com estais dispostos em formato leque.

62

Figura 8.4 – D.E.C. e D.M.F para a carga permanente

de meia longarina da ponte com estais em formato

semi-harpa.

Figura 8.5 – D.E.C. e D.M.F para a carga permanente

de meia longarina da ponte com estais em formato

leque.

A Figura 8.6 e a Figura 8.7, a seguir, mostram como variam os esforços axiais e

de torção para meia longarina nos dois modelos. Como era de se prever, há um leve aumento

na compressão do tabuleiro na região logo abaixo da torre e um esforço de tração no centro do

vão central. Comparando-se os resultados dos dois modelos, pode-se ver que o modelo com

estais em leque proporciona menores esforços de compressão no tabuleiro, no entanto,

aumentou os esforços de tração no meio do vão central. Além disso, os esforços de torsão

também foram inferiores.

Figura 8.6 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da

ponte com estais em formato semi-harpa para a carga

permanente.

Figura 8.7 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da

ponte com estais em formato leque para a carga

permanente.

63

Com relação à laje do tabuleiro, podemos presumir que ela tenha se comportado

de forma semelhante à longarina quando se comparam os dois modelos. É o que se vê na

Figura 8.8 e na Figura 8.9, onde se obtém momentos máximo e mínimos com valores de

145,619 kN.m e -2275,761 kN.m, respectivamente, para a ponte com estais em semi-harpa e

valores máximos e mínimos de 118,079 kN.m e -1402,306 kN.m, respectivamente, para a

ponte com estais em leque.

Figura 8.8 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato semi-harpa para a

carga permanente.

Figura 8.9 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato leque para a carga

permanente.

Para a laje do tabuleiro os mesmos efeitos encontrados para a longarina foram

constatados, enquanto na ponte com estais em semi-harpa as deflexões variaram entre -7,098

m, para um ponto localizado a ¼ do apoio extremo, e 55,147 m, para o meio do vão central,

para a ponte com estais em leque as deflexões variaram entre -2,767 m e 10,866 para as

mesmas regiões anteriormente citadas respectivamente.

Para os mastros das torres, obteve-se mais uma vez, para a ponte com estais em

formato leque, forças axiais, momentos fletores e torsores, cortantes e deflexões inferiores aos

encontrados para a ponte com estais em formato semi-harpa. Os resultados numéricos e a

forma como variam ao longo do mastro podem ser vistos nas figuras a seguir:

64

Figura 8.10 – D.E.N. e D.M.T para a carga permanente

dos mastros das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa.

Figura 8.11 – D.E.N. e D.M.T para a carga permanente

dos mastros das torres da ponte com estais em formato

leque.

Figura 8.12 – D.E.C. e D.M.F em torno de X para o

mastro das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa para a carga permanente.

Figura 8.13 – D.E.C. e D.M.F em torno de X para o

mastro das torres da ponte com estais em formato

leque para a carga permanente.

65

Figura 8.14 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa para a carga permanente.

Figura 8.15 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

leque para a carga permanente.

Pode-se notar que os momentos fletores foram reduzidos drasticamente quando se

alterou os estais de semi-harpa para leque, enquanto que os esforços de compressão sofreram

variações bem menores. Isso acontece devido a redução das forças de tração nos estais como

será visto a seguir.

Para a comparação dos esforços obtidos nos estais, eles foram numerados de 1 a

38 no sentido do eixo X e iniciando na origem, conforme Figura 8.16, a seguir.

Figura 8.16 – Seqüência de numeração dos estais.

A Tabela 8.1, a seguir, lista as forças axiais desenvolvidas em cada cabo devido a

carga permanente. Pode-se notar que há uma redução em praticamente todos os cabos ao se

alterar o formato dos estais de semi-harpa para leque. Isso acontece devido à maior inclinação

dos estais em relação à horizontal, pois o peso do tabuleiro é combatido por uma componente

66

vertical maior do que no formato semi-harpa, assim, quanto maior a inclinação do estai em

relação à horizontal, menor sua força normal. Nota-se que as reduções não ocorreram apenas

em estais ancorados aos apoios ou ao centro do vão central e em pontos mais próximos à

torres, isso ocorreu pois a inclinação não foi alterada ou foi muito pequena nestes pontos.

Tabela 8.1 – Força axial nos estais devido a carga permanente

Força axial nos estais devido a carga permanente (kN)

Estai Semi-harpa Leque Diferenças percentuais (%)

1 35540,82 43911,56 23,55246728

2 34662,51 8179,9 -76,40130504

3 10714,46 3250,15 -69,6657601

4 9951,52 3002,03 -69,83345258

5 7562,53 2879,62 -61,92253122

6 6936,56 2752,52 -60,31865939

7 6703,86 2576,11 -61,57273571

8 5173,13 2427,74 -53,07019155

9 5059,82 2331,49 -53,92148337

10 4159,16 2254,89 -45,7849662

11 4030,76 2101,07 -47,87409818

12 3619,4 1978,66 -45,33182295

13 3186,49 1867,35 -41,39790177

14 2742,66 1756,43 -35,95888663

15 2496,31 1613,39 -35,36900465

16 1399,45 1402,89 0,245810854

17 1259,68 1289,33 2,353772387

18 1199,37 1257,96 4,885064659

19 1128,55 1234,56 9,393469496

20 1200,16 1193,24 -0,576589788

21 1349,81 1331,87 -1,329075944

22 1626,66 1359,93 -16,39740327

23 2706,42 1457,45 -46,14841747

24 2950,29 1656,21 -43,86280671

25 3408,38 1871,04 -45,1047125

26 3864,1 2069,34 -46,44703812

27 4313,57 2067,73 -52,06453124

28 4470,92 2178,22 -51,28027341

29 5149,32 2234,67 -56,60261937

30 5215,69 2278,87 -56,30741091

31 5541,13 2309,23 -58,32564838

32 5852,67 2378,12 -59,36692142

33 5870,65 2415,34 -58,85736673

34 6197,4 2480,22 -59,97966889

35 6560,52 2512,02 -61,71004737

36 8201,54 2566,76 -68,70392634

37 8451,37 26203,13 210,0459452

38 11466,18 26489,1 131,0193979

67

8.2 Carga móvel

Os resultados da carga móvel são fornecidos pelo SAP2000 de maneira análoga

aos resultados da carga permanente, mas para estes, são fornecidos dois diagramas por barra,

sendo um para os esforços mínimos em cada ponto do elemento e outro para os esforços

máximos. Estes dois diagramas são superpostos, como pode ser visto na Figura 8.17, sendo que,

ao lado deles, são fornecidos os valores máximos e mínimos para os diagramas.

Procedendo-se de maneira análoga à análise das solicitações devido às cargas

permanentes, obtém-se resultados também semelhantes no que diz respeito à comparação

entre os dois modelos, como será visto a diante.

Ao comparar-se os diagramas de momento fletor e esforço cortante dos dois

modelos, percebe-se uma redução dos valores máximo, que também foram encontrados

próximos ao centro do vão central. Portanto, para a carga móvel, a alteração dos estais de

semi-harpa para leque também se mostra vantajosa em relação a esses dois diagramas.

De maneira também semelhante ocorre com o diagrama de esforço normal e

diagrama de momento fletor, onde constatam-se reduções das solicitações. As figuras a seguir

ilustram a obtenção destes resultados extraídos do programa SAP2000.

Figura 8.17 – D.E.C. e D.M.F para a carga móvel de

meia longarina da ponte com estais em formato semi-

harpa.

Figura 8.18 – D.E.C. e D.M.F para a carga móvel de

meia longarina da ponte com estais em formato leque.

68

Figura 8.19 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da

ponte com estais em formato semi-harpa para a carga

móvel.

Figura 8.20 – D.E.N. e D.M.T de meia longarina da

ponte com estais em formato leque para a carga móvel.

Estas conclusões também são observadas para os deslocamentos verticais no

tabuleiro devido à carga móvel, onde se obteve deslocamentos verticais máximos na laje de

1,419 m para a ponte com estais em semi-harpa e 0,851 para a ponte com estais em leque.

Para os momentos longitudinais na laje do tabuleiro devido apenas à carga móvel,

perceberam-se poucas diferenças, sendo talvez desprezíveis. Ao alterar-se o arranjo dos estais

de semi-harpa para leque, obteve-se uma redução dos momentos negativos de -4,663 kN.m

para -4,469 kN.m e dos momentos positivos de 195,773 kN.m para 194,403 kN.m.

Figura 8.21 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato semi-harpa para a

carga móvel.

Figura 8.22 – Momentos longitudinais da laje do tabuleiro da ponte com estais em formato leque para a carga

móvel.

De maneira semelhante à análise dos esforços no mastro da torres realizadas para

as cargas permanentes, realizou-se para a carga móvel, obtendo-se aqui também reduções das

69

solicitações. As figuras a seguir ilustram os diagramas obtidos e os valores máximos e

mínimos em cada um deles.

Figura 8.23 – D.E.N. e D.M.T para a carga móvel dos

mastros das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa.

Figura 8.24 – D.E.N. e D.M.T para a carga móvel dos

mastros das torres da ponte com estais em formato

leque.

Figura 8.25 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa para a carga móvel.

Figura 8.26 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo Y para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

leque para a carga móvel.

70

Figura 8.27 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo X para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

semi-harpa para a carga móvel.

Figura 8.28 – D.E.C. e D.M.F em torno do eixo X para

o mastro das torres da ponte com estais em formato

leque para a carga móvel.

A Tabela 8.2, a seguir, lista as forças axiais máximas e mínimas desenvolvidas em

cada cabo devido a carga móvel. Pode-se notar que neste caso há uma redução em todos os

cabos ao se alterar o formato dos estais de semi-harpa para leque. Pelo mesmo motivo

anteriormente explicado para a carga permanente, isso acontece devido à maior inclinação dos

estais em relação à horizontal, pois a carga móvel é combatida por uma componente vertical

maior do que no formato semi-harpa, assim, quanto maior a inclinação do estai em relação à

horizontal, menor sua força normal.

71

Tabela 8.2 – Força axial nos estais devido a carga móvel

Força axial devido a carga móvel

Estai Semi-hapa Leque Diferenças percentuais (%)

Mínimo Máximo Mínimo Máximo Mínimo Máximo

1 873,77 1288,59 462,04 695,6 -47,12109594 -46,01851636

2 903,36 1278,12 363,29 721,83 -59,784582 -43,52408225

3 483,79 646,71 242,7 387,23 -49,83360549 -40,12308454

4 539,42 656,18 340,86 492,34 -36,80990694 -24,96875857

5 471,73 643,2 343,77 522,99 -27,1256863 -18,68936567

6 479,16 695,44 385,23 595,01 -19,60305535 -14,44121707

7 498,99 746,23 428,81 660,8 -14,06441011 -11,44821302

8 407,39 617,72 365,38 560,25 -10,31198606 -9,30356796

9 416,65 636,97 382,91 587,03 -8,097923917 -7,840243654

10 356,12 548,69 330,83 511,07 -7,101538807 -6,856330533

11 358,57 557,29 333,77 522,96 -6,916362217 -6,160167956

12 336,49 528,25 313,19 499,19 -6,924425689 -5,501183152

13 314 498,09 292,88 474,67 -6,72611465 -4,701961493

14 293,76 469,21 273,77 452,38 -6,804874728 -3,586880075

15 303,01 483,04 285,41 472,52 -5,808389162 -2,177873468

16 301,77 475,96 289,08 472,89 -4,205189383 -0,645012186

17 344,49 541,24 332,85 542,35 -3,378907951 0,205084621

18 443,44 712,17 423,28 708,31 -4,546274581 -0,54200542

19 499,17 789,44 400,45 682,51 -19,77682954 -13,54504459

20 422,52 659,51 303,82 511,34 -28,09334469 -22,46667981

21 391,65 615,99 255,5 439,46 -34,76318141 -28,65793276

22 390,94 610,35 246,53 436,8 -36,93917225 -28,43450479

23 369,05 567,48 233,38 419,49 -36,76195637 -26,0784521

24 361,39 551,69 230,74 411,95 -36,15207947 -25,32944226

25 390,96 598,24 251,14 439,29 -35,76324944 -26,56960417

26 423,77 652,82 275,11 468,39 -35,08035019 -28,25127907

27 451,71 695,69 302,09 499,94 -33,12302141 -28,13753252

28 441,07 670,41 312,43 502,96 -29,16543859 -24,97725273

29 483,5 670,79 364,45 571,67 -24,62254395 -14,77660669

30 478,22 698,55 378,42 579,84 -20,86905608 -16,99377282

31 509,94 729,59 414,28 621,57 -18,75906969 -14,80557573

32 553,45 774,78 451,21 663,28 -18,47321348 -14,39118201

33 579,3 794,02 462,82 669,1 -20,10702572 -15,73260119

34 641,16 864,84 491,19 703,23 -23,39041737 -18,68669349

35 706,79 948,04 511,54 730,88 -27,62489566 -22,90620649

36 902,78 1217,61 611,36 881,89 -32,28028977 -27,57204688

37 919,2 1253,13 580,07 856,83 -36,89403829 -31,62481147

38 1172,04 1619,81 747,9 1051,96 -36,1881847 -35,05658071

72

9 CONCLUSÕES

Para as pontes que foram modeladas, encontraram-se, para a carga permanente,

momentos máximos elevados no meio do vão central. Talvez, por esse motivo, o projetista

tenha adotado uma seção de tabuleiro diferente neste trecho, possuindo uma espessura de laje

que é superior ao dobro da espessura dos demais trechos do tabuleiro. Além disso, momentos

e deflexões inferiores aos aqui apresentados teriam sido encontrados caso se realiza uma pré-

tração nas cordoalhas dos estais, o que na prática sempre é realizado para se amenizar os

momentos longitudinais e se controlar as flechas imediatas devidas ao peso-próprio.

Apesar de a ponte modelada possuir uma relação entre vão extremo e vão central

de 0,41, o que na literatura se considera dentro da faixa aceitável de valores, encontrou-se

momentos elevados na base das torres, provavelmente uma protensão dos estais ajudaria a

diminuir estes momentos, mas o que tornaria a distribuição de esforços ainda melhor seria o

aumento dessa relação para um valor próximo a 0,50.

Notou-se também que os cabos de ancoragem, que são os cabos que ligam o topo

da torre aos apoios extremos, colaboraram bastante para os elevados momentos negativos

encontrados no meio do vão central, mais uma vez a protensão das cordoalhas, no caso as que

se encontram entre a torre e o meio da ponte, iria colaborar na redução destes momentos caso

houvessem sido consideradas na análise.

Outro aspecto importante a se comentar é a deflexão negativa no meio do vão

central, o que era de se esperar e já havia sido comentado anteriormente. Neste caso, a

deflexão negativa ocorreu, pois este ponto do tabuleiro está ancorado ao topo da torre, que por

sua vez, está preso aos apoios extremos, que são indeslocáveis neste caso. Já os demais cabos

estão presos a pontos do tabuleiro que podem se deformar para baixo, o que acaba

tracionando a torre, que por sua vez eleva o tabuleiro.

Como já descrito anteriormente, vários autores não indicam a utilização do

sistema em semi-harpa para vãos muito grandes, uma vez que ele induz altas tensões de

compressão no tabuleiro. Que foi o caso do modelo analisado, em que a ponte possui um vão

central que é um dos maiores do Brasil. Diversos autores, entre eles Walther et al (1985),

recomendam para um sistema de cabos com configuração harpa e semi-harpa, uma

configuração simétrica de cabos para garantir-se o equilíbrio do peso próprio entre os vãos

73

central e lateral, de modo a evitar uma flexão elevada indesejada no tabuleiro e na torre, o que

não foi seguido no projeto da ponte modelada. No entanto, deve-se ressaltar que é

fundamental, nestes casos, a verificação da flutuação de tensões nos estais de ancoragem para

prevenir fenômenos de fadiga.

Com relação à torre, a ponte escolhida para análise possui uma altura de torre que

está dentro dos limites recomendados na literatura, que seria uma altura entre 20% e 25% do

vão central, sendo que ela possui uma altura de 23,8% do vão central. Além disso, utilizaram-

se duas vigas de travamento entre os mastros da torre já prevendo que elas estariam sujeitas a

momento fletores longitudinais elevados. Para a torre do sistema em leque, obteve-se uma

flexão longitudinal inferior, pois a componente horizontal desequilibradora pode ser

transferida diretamente para os cabos de ancoragem, deste modo, a torre não sofre solicitações

tão elevadas em seções intermediárias do mastro. Conseqüentemente, os deslocamentos da

torres e do tabuleiro são inferiores quando comparados ao sistema em semi-harpa.

Com relação ao espaçamento entre os estais, o valor de 7,60 m utilizado na ponte

está dentro dos valores normalmente recomendados na literatura, que seria entre 6 e 8 m, um

valor que corresponde ao comprimento típico de uma aduela.

Como conclusão final da análise deste modelo, pôde-se notar que o sistema em

semi-harpa adotado para os estais não é, do ponto de vista estrutural e econômico a melhor

solução, mostrando-se que o sistema em leque é mais vantajoso. No entanto, esta solução

pode ter sido adotada por fatores estéticos ou pode-se ter rejeitado a possibilidade da

distribuição em leque devido à dificuldade de se representar na prática essa convergência dos

estais no topo da torre, que levaria a elevadas concentrações de tensões.

Finalmente, conclui-se que há uma elevada variedade de combinações de arranjos

estruturais possíveis para se vencer um mesmo vão com uma ponte estaiada, mas para isto,

um bom conhecimento das vantagens e desvantagens de cada uma destas possibilidades é

essencial, visando-se sempre a eficiência em todos os aspectos, quer seja no consumo de

materiais, nas facilidades construtivas, na melhor distribuição dos esforços, como até mesmo

na aceitabilidade visual ou estética. A alteração dos parâmetros e das propriedades da

estrutura dificilmente aproximará o sistema de sua eficiência máxima sem o conhecimento da

repercussão destas alterações no comportamento global da estrutura.

74

9.1 Sugestões para trabalhos futuros

O estudo aqui realizado permitiu uma boa compreensão do comportamento global

da estrutura, no entanto muitos outros aspectos ainda poderiam ter sido estudados. Como

sugestões para trabalhos futuros recomendam-se que se alterem mais parâmetros de uma

ponte estaiada, visando a comprovação das vantagens e desvantagens de cada combinação ou

arranjo estrutural.

Dentre as inúmeras combinações possíveis dos elementos e parâmetros variáveis,

podem-se citar algumas mais importantes:

- Variação da inclinação dos estais para ângulos mais extremos;

- Variação a altura da torre;

- Variar a proporção entre os vãos para valores extremos;

- Avaliar os impactos da alteração das condições de contorno dos apoios nas

solicitações e deflexões;

- Testar variadas seções de tabuleiro;

- Testar torres com formatos variados;

- Variar o espaçamento entre os estais;

- Entre outros.

Além disso, novas cargas podem ser consideradas na análise, avaliando-se como

as solicitações variam ao se alterar algum dos parâmetros anteriormente citados. Dentre elas

podem ser consideradas as forças de frenagem e aceleração, cargas laterais como vento e água

nas torres e no tabuleiro, estágios de construção, etc.

Para uma melhor aproximação do modelo com a realidade, recomenda-se também

uma análise considerando-se a protensão dos estais, o que na prática sempre é realizado, além

de uma análise considerando os efeitos de segunda ordem, muito importante ao se utilizar

elementos de cabo e em análises de pontes com vãos muito extensos, onde os efeitos de

segunda ordem são elevados.

75

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76

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