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4 Título: Tomás Autora: Andreia Paes de Vasconcellos Copyright © Andreia Paes de Vasconcellos, 2018 Copyright © Brilho das Letras, Lisboa, 2018 Fotografias © Centrimagem e Andreia Paes de Vasconcellos Fotografias gentilmente cedidas por Centrimagem – www.centrimagem.com Revisão: Ana Pereira e Sónia Lopes / Editorial Presença Arranjo gráfico da capa e paginação: Vera Espinha Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda. 1ª edição, Lisboa, março, 2018 Depósito legal nº 436512/18 Jacarandá é uma chancela da Brilho das Letras Reservados todos os direitos para Portugal à Brilho das Letras Uma empresa Editorial Presença Estrada das Palmeiras, 59, Queluz de Baixo 2730-132 Barcarena [email protected] www.jacaranda.pt facebook.com/jacarandaeditora ficha técnica

Título: Autora: Andreia Paes de Vasconcellos MATERNIDADE, … · Ainda hoje sinto a alegria de ir ao roupeiro, abrir a caixa enorme e retirar o vestido. Que sensação única! Vestia-o

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Título: TomásAutora: Andreia Paes de Vasconcellos

Copyright © Andreia Paes de Vasconcellos, 2018Copyright © Brilho das Letras, Lisboa, 2018

Fotografias © Centrimagem e Andreia Paes de VasconcellosFotografias gentilmente cedidas por Centrimagem – www.centrimagem.com

Revisão: Ana Pereira e Sónia Lopes / Editorial PresençaArranjo gráfico da capa e paginação: Vera Espinha

Impressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.

1ª edição, Lisboa, março, 2018Depósito legal nº 436512/18

Jacarandá é uma chancela da Brilho das LetrasReservados todos os direitos para Portugal à Brilho das Letras

Uma empresa Editorial Presença

Estrada das Palmeiras, 59, Queluz de Baixo2730-132 Barcarena

[email protected]

facebook.com/jacarandaeditora

ficha técnica

ANDREIA PAES DE VASCONCELLOS

TOMÁSMATERNIDADE, TRISSOMIA E AMOR: A HISTÓRIA DE UM BEBÉ ESPECIAL

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Eu ao colo do meu pai

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Em 1984 nascia uma bebé de pele clara, feições arredondadas e muito pequenina. Era eu.

Recordo a minha infância com um brilho no olhar, pois fui muito acarinhada pelos meus pais e avós, o que fez com que me tornasse um tanto mimada mas sobretudo feliz. O conceito de família, fonte de união, sempre foi passado através das gerações com força acrescida.

Fui criada e educada pela minha avó materna, e tenho muito pre-sentes aqueles dias passados com ela, as brincadeiras que tínhamos as duas aos passeios de mãos dadas pela cidade.

A minha avó é um exemplo para mim: uma mulher de sorriso fácil e com uma energia inesgotável, daquelas mulheres de fibra que já não se fabricam. Era a avó típica, chegava a fazer três pratos diferen-tes às refeições para agradar a toda a família.

Um dos meus maiores medos não é envelhecer. É saber que tam-bém ela envelhecerá e que um dia já não estará comigo, nem que seja para uma troca de olhares.

Tenho também dos meus pais as melhores recordações. Lembro--me de passearmos ao fim de semana com as minhas bonecas, muitas delas maiores do que eu. Eram «as minhas filhas», e por isso acom-

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Menina e Moça Me Levaram

de Casa de Meus Pais

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panhavam-me sempre, não as deixava sozinhas em casa. Lembro-me de que ocupavam todo o banco do jardim. O sentimento de materni-dade e proteção correu cedo nas minhas veias.

Em casa ocupava-me de muitas coisas, mas um dos meus passa-tempos favoritos era experimentar o vestido de noiva da minha mãe. Ainda hoje sinto a alegria de ir ao roupeiro, abrir a caixa enorme e retirar o vestido. Que sensação única! Vestia-o com todo o cuidado, improvisava um véu com lençóis e passeava-me pelos corredores da casa. O noivo era quase sempre o espelho…

O meu marido foi-me apresentado quando fiz dezasseis anos. Um amigo em comum decidiu de livre vontade levá-lo à minha festa de aniversário. Assim que o conheci, questionei-me sobre quem seria aquele idiota. Mal falámos porque o cataloguei, de imediato, como um miúdo com a mania das piadas.

Porém, o destino quis que, seis meses depois, nos voltássemos a encontrar. E agora via naquele miúdo, com a mania, um jeito brinca-lhão que me conquistou. Dos encontros ocasionais aos telefonemas, passando pelas mensagens, foi nascendo uma longa história.

Seguiram-se nove anos de muitas cartas, juras de amor eterno, longos passeios, gargalhadas mil e alguns (poucos) dissabores. Em-bora tivéssemos passado pelas típicas crises dos cinco e dos sete anos, não as troco por nada, porque é nos momentos difíceis que co-nhecemos verdadeiramente quem está ao nosso lado. Tornamo-nos mais fortes e amamo-nos de maneira mais completa.

Fui sem dúvida uma criança feliz e muito imaginativa: tudo era motivo para recriar histórias encantadas e cenários principescos. Uma autêntica menina. Vivia essas histórias com muita intensidade, em busca do meu príncipe encan-tado. E a verdade é que o conheci poucos anos depois.

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Eu e o meu irmão

Eu e a minha mãe

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Eu e o meu irmão

A minha avó

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Claro que um dos dias mais felizes acabou por chegar: o dia em que o Bernardo me pediu em casamento. Ele sabia que o Natal era a minha época preferida, e guardou a surpresa até ao dia 24.

Chovia como se o mundo nos oprimisse. Ainda assim, não pen-sei um segundo quando o Bernardo me desafiou a sair de casa, já passava da meia-noite. Partimos em direção incerta, depois de eu vestir a primeira coisa que encontrei. Quando me apercebi, estava diante da nossa futura casa. Entrámos e subimos até à nossa porta. Que quereria ele? Eis que se ajoelhou, pedindo-me em casamento. Fiquei perplexa, em êxtase. De pernas bambas, chorei e beijei-o. Lá fora, a chuva já não me parecia tão pesada.

Quando voltei a casa, olhei para a minha família e, ainda de sorri-so rasgado, anunciei que ia casar. Nem sempre as reações a tais no-tícias se parecem com as dos filmes. Só depois de insistir que estava muito feliz pelo noivado surgiram as primeiras felicitações tímidas.

Só posso agradecer aos meus pais o exemplo e tudo o que fize-ram por mim. A verdade é que me ajudaram a concretizar todos os meus sonhos, até mesmo os mais mirabolantes. O meu pai teve uma paciência eterna comigo, chamando-me frequentemente à terra e aturando os nervos típicos das noivas.

Desde cedo sonhámos em casar e ter filhos, isso nunca representou um peso para nós. Sempre deixámos que a vida abrisse o seu caminho.

Começara um dos melhores anos da minha vida. Sentia-me de novo aquela menina que espreitava o vestido de noiva no roupeiro, mas agora planeava tudo com rigor e passava à realidade aquilo com que antes sonhara.

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Pedido de casamento!

Dia do casamento

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Pedido de casamento!

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Lembro-me do choro da minha mãe no dia do nosso casamen-to. Contrastava com o sol forte. Sentiria já falta da maior proximi-dade, do meu espaço na casa que sempre fora minha. Disse-me que, embora ganhasse outro filho, daí em diante tudo seria diferente. Não se enganou.

Sentia a presença de amigos e familiares atrás de nós na igreja, e tentava ouvir os cochichos típicos que ecoam nas paredes de pedra, mas estava realmente concentrada em enlaçar as minhas mãos às do Bernardo e, com ele, pensar na felicidade da nossa vida futura. Tínhamos vinte e sete anos.

Optámos, por sermos muito novos, por partilhar os anos se-guintes a dois. Queríamos viajar, viver um para o outro, construir o nosso castelo em bases sólidas. Apenas dois anos mais tarde despertou em nós a necessidade de algo mais. Tinha chegado o mo-mento dos filhos.

A decisão de ter um filho é sempre séria e não a tomámos de âni-mo leve. Para nós, significava passar de uma vida calma e simples, sem grande responsabilidades, para uma vida repleta de desafios, complexa e com grandes exigências. Como nos parecia difícil trazer alguém ao mundo e educá-lo o melhor possível!

Tive o cuidado de realizar todos os exames de rotina e marquei consultas com vários médicos porque queria ser acompanhada pelo profissional mais adequado. Optei por um médico bastante prático, disponível e sobretudo muito profissional.

Quando concluí os exames, deixei de tomar a pílula, o que origi-nou algumas alterações no meu corpo. Por exemplo, deixei de ter menstruação. Confesso que essas mudanças me deixaram descon-fortável, pois não podia basear-me em nada para calcular os ciclos férteis… (Nós mulheres sabemos bem como os ciclos irregulares nos perturbam.)

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