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Tjrn critérios genéricos do exame psicológicooo

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Tribunal deJustiça

RIO GRANDE DONORTE

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Poder JudiciárioTribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte

1

Agravo de Instrumento Com Suspensividade n° 2010.002694-0

Origem: 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca de Natal/RN.

Agravante: Camila Guedes Araújo Santos.

Advogada: Ana Roberta Rocha Lima. 3129/RN

Agravado: Estado do Rio Grande do Norte

Procurador: Dr. Miguel Josino Neto

Relator: Desembargador Amaury Moura Sobrinho.

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO.

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

INDEFERIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA. EXAME

PSICOTÉCNICO REALIZADO NO CONCURSO PÚBLICO

PARA INGRESSO NO CARGO DE AGENTE/ESCRIVÃO

DA POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO

NORTE. REPROVAÇÃO DOS CANDIDATOS

AGRAVANTES. CRITÉRIOS GENÉRICOS PREVISTOS NO

EDITAL E QUE SE AFASTAM DA OBJETIVIDADE.

VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA.

COMISSÃO QUE DEIXOU DE DISPONIBILIZAR AS

RAZÕES PELAS QUAIS CONSIDEROU OS CANDIDATOS

COMO "NÃO RECOMENDADOS". DIFICULDADE PARA

REBATER OS CRITÉRIOS UTILIZADOS NA SELEÇÃO DO

PERFIL PSICOLÓGICO EXIGIDO. REALIZAÇÃO DE

NOVO EXAME PSICOTÉCNICO QUE SE IMPÕE.

DEFERIMENTO DA TUTELA ANTECIPADA. RECURSO

CONHECIDO E PROVIDO.

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ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as

acima identificadas:

Acordam os Desembargadores que integram a 3ª Câmara Cível

deste Egrégio Tribunal de Justiça, em Turma, à unanimidade de votos, em dissonância com o

parecer da 21.ª Procuradoria de Justiça, em conhecer do recurso e dar-lhe provimento, para,

reformando a decisão agravada, mantendo a decisão que concedeu a tutela antecipada às fls.

576/579 com as alterações lançadas às fls. 616/618, bem como determinar que os agravantes

sejam submetidos a novo exame psicotécnico, dessa feita com base em critérios objetivos que

deverão ser previamente informados aos mesmos e, uma vez considerados aptos, seja

garantida a sua participação nas demais fases do Concurso para o cargo de Agente/Escrivão

de Polícia Civil do Polícia do Estado do Rio Grande do Norte, observada a ordem de

classificação no certame, nos termos do voto do relator, que passa a fazer parte integrante

desta.

RELATÓRIO

CAMILA GUEDES ARAÚJO SANTOS E OUTROS, por

meio de advogado habilitado, interpõem o presente Agravo de Instrumento com

Suspensividade contra decisão do Juízo de Direito da 2ª Vara da Fazenda Pública da Comarca

de Natal/RN que, nos autos da Ação Ordinária nº 001.10.003714-4, indeferiu pedido de

antecipação de tutela formulado pelos ora agravantes.

Nas razões de seu recurso, aduzem os autores que participaram

de concurso público para o cargo de Agente/Escrivão da Polícia Civil do Estado do Rio

Grande do Norte.

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Afirmam que foram eliminados no exame psicotécnico por

terem sido considerados NÃO-RECOMENDADOS a exercerem a função pleiteada, segundo

laudos apresentados pela organização do concurso.

Alegam que o referido exame foi realizado sem a observância

dos critérios objetivos necessários, bem como não observou os princípios do direito

administrativo, conforme reiteradamente reconhecido pelos Tribunais Pátrios.

Asseveram que o Edital de abertura nº 01/2008 não explicita em

nenhum de seus itens quais os critérios adotados para eliminação do candidato no exame

psicotécnico, ferindo o estabelecido no artigo 3º da Resolução nº 01/2002 do Conselho

Federal de Psicologia, que regulamenta a Avaliação em Concurso Público e processos

seletivos da mesma natureza.

Além disso, assinalam possíveis ilegalidades e irregularidades

que igualmente justificariam a verossimilhança das alegações.

Por outro lado, dizem que o perigo na demora decorre,

implicitamente, do fato de não poderem ficar aguardando uma decisão de mérito, uma vez

que, nos próximos dias, será lançado o Edital definindo a data de início do Curso de

Formação para o referido cargo, encontrando-se, portanto, impedidos de participarem das

próximas fases do certame.

Nestes termos, pugnam pela concessão de efeito suspensivo

ativo para determinar, de imediato, que os recorrentes possam continuar no certame, nas

etapas seguintes do concurso, ainda que tenham sido iniciadas ou realizadas ao tempo do

pronunciamento jurisdicional, com a consequente convocação para o Curso de Formação, ou,

se não estiverem dentro do número de vagas ofertadas, seja determinado a reserva da vaga dos

recorrentes, sob pena de aplicação de multa pecuniária no valor a ser determinado pelo Juízo.

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Juntam documentos de fls. 36/533.

Às fls. 537/540, vislumbrando a ausência de um dos elementos

necessários ao deferimento da tutela recursal pleiteada, qual seja, a verossimilhança da

alegação, indeferi o efeito suspensivo formulado.

Apresentado pedido de reconsiderações (fls. 542/574),

ponderando as razões ali lançadas reconsiderei a decisão antedita para deferir a

suspensividade postulada para possibilitar a participação das agravantes nas demais fases do

certame até o julgamento do mérito do presente recurso (fls. 576/579).

O Estado do Rio Grande do Norte, ora agravado, apresentou

petição informando o cumprimento da tutela antecipada, bem como para requerer a

reconsideração do provimento antecipatório em relação ao candidato Aldo Miranda Filho, vez

que classificado fora do número de vagas previstas no Edital e, ainda, que a convocação dos

demais agravantes seja procedida observando-se a ordem de classificação.

Às fls. 591/594 proferi decisão concluindo pela incompetência

desta Corte de Justiça para processar e julgar a presente demanda, contra a qual foi

apresentado pedido de reconsideração (fls. 598/612).

Através da decisão de fls. 616/618, determinei a suspensão do

feito até o julgamento do incidente de uniformização instaurado no Agravo Interno em

Agravo de Instrumento n.° 2009.013463-8/0001.00, restabelecendo a decisão de fls. 576/579

para assegurar aos agravantes CAMILA GUEDES ARAÚJO SANTOS, LARISSA ALVES

DA SILVA, NEVOLANDIA SILVA NAZÁRIO, ABIDIAS CASTRO DE MORAIS NETO,

JOSÉ ALBERTO DE OLIVEIRA, ELIAS MORAIS DO CARMO e MARISTELA DE

SOUZA LEAL a participação nas demais fases do certame, excetuando deste

restabelecimento o candidato Aldo Miranda Filho, classificado fora do número de vagas

prevista no Edital.

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Em virtude do julgamento do incidente de uniformização

referido, determinei o regular seguimento do presente feito às fls. 638.

A 11ª Procuradoria de Justiça, em parecer de fls. 640/646,

opinou pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

É o relatório.

VOTO

Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço do

presente recurso.

De início, cumpre asseverar que a análise da legalidade do

exame psicotécnico do concurso em tela não foge à competência do Poder Judiciário, tendo

em vista que cabe a este fazer controle dos atos administrativos, nos termos da Súmula n.º

473, do STF.

“A administração pode anular seus próprios atos, quando

eivados de vícios que os tornem ilegais, porque deles não se

originam direitos; ou revoga-los, por motivo de conveniência e

oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e ressalvada,

em todos os casos, a apreciação judicial”.

A respeito do controle dos atos administrativos pelo Poder

Judiciário, Miguel Seabra Fagundes, em sua obra homônima, destaca que a análise da

legalidade tem um sentido puramente jurídico. "Cinge-se a verificar se os atos da

Administração obedeceram às prescrições legais, expressamente determinadas, quanto à

competência e manifestação da vontade do agente, quanto ao motivo, ao objeto, à finalidade e

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à forma.” 1

Assim, conforme ensinamento de Eduardo Appio, "a

intervenção do Poder Judiciário não pode ser conceituada como uma invasão da atividade

legislativa ou administrativa, nos casos em que não exista a reserva absoluta da lei ou ainda

quando a Constituição não houver reservado ao administrador (Executivo) à margem de

discricionariedade necessária ao exercício de sua função. Não havendo a reserva absoluta da

lei, a intervenção judicial na própria formulação das políticas públicas se mostra compatível

com a democracia, desde que observados mecanismos de comunicação entre a instância

judicial e a sociedade, através das instâncias de democracia participativa."2

Também não é demais destacar que, consoante o art. 5ª, XXXV,

da Constituição Federal, "a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça a direito", de modo que não há que se falar em invasão da sua competência, quando

do exame da legalidade da estipulação e aplicação do teste psicológico.

Nesses termos, é legítimo ao Poder Judiciário examinar os atos

administrativos, verificando se estes estão dentro dos parâmetros estabelecidos legalmente, do

que se dessume que a análise judicial serve para perquirir a adequação à legalidade latu sensu.

De seu turno, alega os agravantes que o Edital nº 14 – PCRN foi

omisso quanto às exigências ou critérios para o teste e que o CESPE/UNB optou pela

aplicação de testes variados que ensejaram resultados contraditórios e não objetivos do "perfil

profissiográfico" dos agravantes.

Ressalte-se que, conforme jurisprudência dominante, a aferição

da legalidade do exame psicotécnico deve passar pelos seguintes requisitos: revisão legal,

critérios objetivos pautados pela cientificidade, e possibilidade de revisão, garantindo-se a

1 O controle dos atos administrativos pelo Poder Judiciário, 7ª ed. atual. por Gustavo Binenbojm, Rio de Janeiro:Forense, 2006, pp. 181-182.2 Controle judicial das políticas públicas no Brasil, Curitiba: Juruá, 2006, pp. 150-152.

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ampla defesa ao candidato3.

Quanto à previsão legal do edital, foi este devidamente previsto

na Lei Estadual n.º 6.202/91, de maneira que indiscutível.

Assevere-se que a Resolução n.º 01/2002, do Conselho Federal

de Psicologia, prevê, em seu art. 3º, que o Edital deverá conter informações em linguagem

compreensível ao leigo, sobre a avaliação psicológica a ser realizada, e os critérios de

avaliação, relacionando-os aos aspectos psicológicos considerados compatíveis com o

desempenho esperado do cargo.

Desse modo, o exame psicotécnico, ao ser previsto no edital,

deveria trazer, precisa e objetivamente, quais os critérios seriam adotados para que o

candidato fosse considerado apto para o desempenho do cargo para o qual prestou concurso.

Da análise do edital de abertura do certame – n.º01/2008 –,

verifica-se que este não previu de forma clara quais os requisitos psicológicos necessários ao

exercício do cargo, mas tão somente estabeleceu, de forma genérica, que seria aplicado o

psicoteste para averiguar a adequação do candidato ao perfil do cargo, não se dando ao

trabalho de especificar, de modo objetivo, que perfil seria esse e que traço marcante da

personalidade seria adequado a desempenhar o cargo de delegado de polícia. Vejamos o que

estabeleceu o edita (fls. 272)l:

"11.2. O exame psicoteste consistirá na aplicação e na

avaliação de técnicas psicológicas, visando analisar a

adequação do candidato ao perfil do cargo e as características

de personalidade adequadas ao cargo.

(...)

3 STF. AI 745942 AgR / DF, da Primeira Turma do STF, relª. Minª. Cármem Lúcia, DJ 30.06.2009. AI 680650AgR / DF , da Primeira Turma do STF, rel. Min. Carlos Britto, DJ 12.02.2009. RE 473719 AgR / DF, daSegunda Turma do STF, rel. Min. Eros Grau, DJ 31.07.2008.

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11.5. Será considerado não-recomendado e eliminado do

concurso o candidato que não apresentar os requisitos

psicológicos necessários ao exercício do cargo".

Destarte, os critérios de avaliação deveriam estar previstos no

edital, restringindo-se a ampla liberdade do corretor, bem como garantindo ao candidato a

possibilidade de direcionar a sua preparação para o teste.

Sem que fossem fixados os parâmetros a serem utilizados na

avaliação psicológica, nem se estabelecendo qual o perfil adequado do detentor do cargo de

Agente/Escrivão de Polícia Civil do RN, os candidatos passaram a ficar à mercê das

determinações da comissão organizadora do concurso.

Portanto, o teste psicológico aplicado ganhou contornos de

subjetividade, o que não se coaduna com a finalidade do concurso público, que visa cumprir

com os princípios da impessoalidade e eficiência.

Destaque-se, ainda, que a imprecisão quanto ao estabelecimento

do perfil psicológico adequado ao desempenho do cargo não está de acordo com o

entendimento que vem sendo adotado por esta Corte:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO -

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO - DECISÃO

SINGULAR QUE ANTECIPOU OS EFEITOS DA TUTELA,

DETERMINANDO QUE A CANDIDATA PARTICIPASSE DO

CURSO DE FORMAÇÃO DE AGENTE DA POLÍCIA CIVIL -

POSSIBILIDADE DE INTERFERÊNCIA DO JUDICIÁRIO NO

MÉRITO ADMINISTRATIVO - ART. 5º, XXXV DA CF -

EXAME PSICOTESTE - AUSÊNCIA DE ESPECIFICAÇÃO

DOS MÉTODOS DE AVALIAÇÃO - EDITAL DE

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CONVOCAÇÃO QUE NÃO ESTABELECEU, DE FORMA

OBJETIVA, CLARA E PRECISA, OS PARÂMETROS DE

AVALIAÇÃO QUE IRIAM NORTEAR A REALIZAÇÃO DO

EXAME - LIMITAÇÃO AO DIREITO DE IMPUGNAÇÃO

DO EXAME PSICOLÓGICO - PRINCÍPIO DA AMPLA

DEFESA VIOLADO - CONHECIMENTO E PROVIMENTO

PARCIAL DO RECURSO, TÃO-SOMENTE PARA QUE A

CANDIDATA SEJA SUBMETIDA A NOVO PSICOTESTE.

Agravo de Instrumento com Suspensividade n.º 2010.003572-9.

http://esaj.tjrn.jus.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?

&CDP=010003CDS0000&nuProcesso=2010.003572-92ª Câmara

Cível. Relator: Des. Aderson Silvino. Julgado em 14/10/2010.

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO

ORDINÁRIA. CONCURSO PÚBLICO. EXAME

PSICOTÉCNICO. REGULARIDADE DA EXIGÊNCIA

EDITALÍCIA. FUNDAMENTO EM LEGISLAÇÃO PRÓPRIA.

AVALIAÇÃO QUE NÃO GUARDA OBJETIVIDADE

QUANTO AOS CRITÉRIOS DO EXAME. JUSTIFICATIVA

APRESENTADA SEM PRECISÃO PARA DETERMINAR A

INAPTIDÃO DOS CANDIDATOS. EXAME REALIZADO

POR VIA DE PADRÕES QUE REVELAM

SUBJETIVIDADE. ATO ADMINISTRATIVO SEM

MOTIVAÇÃO. CONCESSÃO DA MEDIDA LIMINAR

PLEITEADA PELOS CANDIDATOS QUE SE IMPÕE.

REFORMA DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU QUE SE

IMPÕE. PRESENÇA DO FUMUS BONI IURIS E DO

PERICULUM IN MORA. PRECEDENTES DESTA CORTE.

RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. TJRN. Agravo de

Instrumento com Suspensividade n.º 2010.003134-3. 1ª Câmara

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Cível. Relator Des. Amílcar Maia. Julgado em 21/09/2010

EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO.

DECISÃO QUE INDEFERIU A TUTELA ANTECIPADA.

EXAME PSICOTÉCNICO PARA INGRESSO NA CARREIRA

DE SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO.

AUSÊNCIA DE DIVULGAÇÃO DOS MOTIVOS

ENSEJADORES DA INAPTIDÃO. EDITAL OMISSO

QUANTO AOS CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS NA

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. ILEGALIDADE.

IMPOSSIBILIDADE DO PLENO EXERCÍCIO DA AMPLA

DEFESA. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO

AGRAVO. 1. O exame psicotécnico afigura-se como possível

para preenchimento de cargo público, desde que claramente

previsto em lei e pautado em critérios objetivos, possibilitando

ao candidato o conhecimento da fundamentação do resultado, a

fim de oportunizar a ampla defesa e o contraditório. 2. O edital

de concurso deve conter de forma clara e precisa os critérios

utilizados na avaliação dos candidatos convocados para

realização de exame psicotécnico (TJRN -AI n° 2009.006048-1,

Rel. Juiz Convocado Nilson Cavalcanti. Julgado em

27/10/2009).

EMENTA: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONCURSO PÚBLICO.

DECISÃO QUE INDEFERIU A TUTELA ANTECIPADA.

EXAME PSICOTÉCNICO PARA INGRESSO NA CARREIRA

DE SOLDADO DA POLÍCIA MILITAR DO ESTADO.

AUSÊNCIA DE DIVULGAÇÃO DOS MOTIVOS

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ENSEJADORES DA INAPTIDÃO. EDITAL OMISSO

QUANTO AOS CRITÉRIOS A SEREM ADOTADOS NA

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA. ILEGALIDADE.

IMPOSSIBILIDADE DO PLENO EXERCÍCIO DA AMPLA

DEFESA. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS. REFORMA

DO DECISUM. CONHECIMENTO E PROVIMENTO DO

RECURSO (TJRN - AI nº 2009.008877-1 - 3ª Câmara Cível -

Relatora: Juíza Maria Neíze de A. Fernandes (Convocada)

Julgamento: 19/11/2009).

Destaque-se, também, os precedentes do Superior Tribunal de

Justiça nesse sentido:

DIREITO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO

REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO.

CONCURSO PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO.

CARÁTER SUBJETIVO. ANULAÇÃO. EXAME DE

MATÉRIA FÁTICO-PROBATÓRIA.

IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. AGRAVO IMPROVIDO.

1. É inadmissível a realização de exame psicotécnico revestido

de caráter subjetivo e irrecorrível. Precedente do STJ.

2. Reconhecido pelo Tribunal de origem a existência de

subjetivismo no exame psicotécnico ao qual submetido o

agravado, no concurso público para o preenchimento de vagas

de Delegado da Polícia Federal, rever tal entendimento

encontra óbice na Súmula 7/STJ. 3. Agravo regimental

improvido. (STJ. AgRg no Ag 1174910/DF, Rel. Ministro

ARNALDO ESTEVES LIMA, QUINTA TURMA, julgado em

02/03/2010, DJe 29/03/2010)

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"DIREITO ADMINISTRATIVO. CONCURSO PÚBLICO.

EXAME PSICOTÉCNICO. DIVULGAÇÃO DOS CRITÉRIOS

DE AVALIAÇÃO UTILIZADOS NA PROVA. AUSÊNCIA. 1. O

edital de concurso deve conter de forma clara e precisa os

critérios utilizados na avaliação dos candidatos convocados

para realização de exame psicotécnico. 2. A mera remissão à

Resolução do Conselho Federal de Psicologia não foi capaz de

informar aos candidatos o perfil esperado para o exercício do

cargo de Policial Militar, demonstrando o caráter subjetivo do

processo de seleção. 3. Comprovado o direito líquido e certo do

impetrante à realização de exame psicotécnico com critérios

previamente estabelecidos e definidos objetivamente, com

resultado motivado, público e transparente. 4. Recurso

ordinário provido. (STJ. RMS 25.596/RO, Rel. Ministro JORGE

MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 21/05/2009, DJe

03/08/2009).

Por sua vez, não é demais destacar o entendimento do Supremo

Tribunal Federal:

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL. CONCURSO PÚBLICO.

EXAME PSICOTÉCNICO. PREVISÃO LEGAL. Nos termos

da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o exame

psicológico para habilitação em concurso público deve estar

previsto em lei em sentido formal e possuir critérios objetivos.

A análise quanto à aptidão do candidato ao cargo pleiteado

depende do exame do conjunto probatório constante dos autos,

o que encontra óbice na Súmula 279 do STF. Agravo regimental

a que se nega provimento. (STF. AI 529219 AgR / RS, da 2ª

Turma do STF, rel. Min. Joaquim Barbosa, DJ 25.03.2010 –

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Destaque Acrescido)

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE

INSTRUMENTO. ADMINISTRATIVO. CONCURSO

PÚBLICO. EXAME PSICOTÉCNICO. AGRAVO

REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. A

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no

sentido da possibilidade da exigência do exame psicotécnico

quando previsto em lei e com a adoção de critérios objetivos

para realizá-lo. Precedentes. (STF. AI 745942 AgR / DF, da

Primeira Turma do STF, relª. Minª. Cármem Lúcia, DJ

30.06.2009 – Destaque acrescido)

Assim, devendo a Administração Pública estabelecer, já no

edital, quais os parâmetros de avaliação a regerem a realização do exame, e não tendo-o feito,

mostra-se ilegítimo o psicoteste pautado em critérios vagos.

Ainda que se assevere que os critérios foram posteriormente

aclarados, isso não é suficiente para legitimar o exame.

Ademais, a ausência de critérios a serem aplicados no exame

psicotécnico dificultaram o exercício da ampla defesa, porquanto a comissão organizadora

não teve como disponibilizar, de forma suficientemente fundamentada, quais as razões pelas

quais os candidatos foram considerados não recomendados, a despeito de sessão marcada com

psicólogo e da disponibilização do laudo psicológico.

Esta ausência de critérios estabelecidos no edital gerou

dificuldade para rebater a inadequação do candidato ao perfil psicológico exigido para o

desempenho do cargo de Agente/Escrivão de Polícia Civil do RN, o que não pode ser

permitido no Estado Democrático de Direito.

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Consoante ensinamento de Rui Portanova, a ampla defesa "não é

uma generosidade, mas um interesse público. Para além de uma garantia constitucional de

qualquer país, o direito de defender-se é essencial a todo e qualquer Estado que se pretenda

minimamente democrático".4

Assim é que se observa que o exame psicotécnico, com as

características demonstradas até o presente momento, não pode ser considerado legítimo, do

que se dessume o requisito da verossimilhança das alegações do recorrente.

Veja-se julgado recente de caso análogo por esta Corte, em que

se adotou a mesma posição:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO. CONSTITUCIONAL

E DIREITO CIVIL. DECISÃO QUE INDEFERIU A TUTELA

ANTECIPADA. CONCURSO PÚBLICO PARA O INGRESSO

NO CARGO DE DELEGADO SUBSTITUTO DA POLÍCIA

CIVIL DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

REPROVAÇÃO DO CANDIDATO NO EXAME

PSICOTÉCNICO. ALEGAÇÃO DE CERCEAMENTO DE

DEFESA NA VIA ADMINISTRATIVA. NÃO

DISPONIBILIZAÇÃO DAS FOLHAS DE REPOSTAS DO

TESTE PSICOLÓGICO A QUE SE SUBMETEU O

RECORRENTE. INVIABILIDADE DO PLENO EXERCÍCIO

DA AMPLA DEFESA. NULIDADE DO ATO

ADMINISTRATIVO POR INOBSERVÂNCIA DA DEVIDA

PUBLICIDADE. DEFERIMENTO DA TUTELA

ANTECIPADA. REFORMA QUE SE IMPÕE. RECURSO

CONHECIDO E PROVIDO. Agravo de Instrumento com

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Suspensividade 2010.002698-8 1ª Câmara Cível. Relator: Des.

Dilermando Mota. 09/11/2010

Nesses termos, a despeito da possibilidade de impugnação do

psicoteste, consoante previsão editalícia, constata-se que não houve o cumprimento, a

contento, do princípio do contraditório, possibilitando que o candidato expusesse suas razões

de modo satisfatório.

A disponibilização de espaço com apenas 1.000 caracteres para

se defender das razões que levaram à não recomendação dos candidatos se mostra

desarrazoado quando nos deparamos com a complexidade do que seria o exigido "perfil

psicológico" adequado para o cargo Agente/Escrivão de Polícia Civil do RN.

Assim, demonstrado que a ampla defesa restou prejudicada, não

somente porque não se tinha, de forma objetiva, os parâmetros de avaliação para que o

candidato pudesse, através de silogismo, tentar mostrar à comissão organizadora que

preenchia os requisitos, mas também porque não teve como, em espaço reduzido, exercer sua

defesa, com os argumentos que entendesse necessários e suficientes à retificação do resultado.

Portanto, demonstrada a verossimilhança da alegação.

Impende asseverar, ainda, que, o indeferimento da medida

poderia gerar prejuízos aos agravantes, que, ao serem excluídos do concurso, viriam a ter

dificuldades, posteriormente, em realizar as fases posteriores do certame.

Também não restou provado que a permanência dos agravados

no certame traria prejuízos a terceiros, porque os demais aprovados no concurso continuarão

aprovados, e, caso julgada improcedente a demanda, poderá o agravado convocar os

candidatos colocados em classificação subsequente a dos autores.

4 PORTANOVA, Rui. Princípios do Processo Civil. 4.ª edição. Editora Livraria do Advogado. Porto Alegre,

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Ademais, caso se verifique que os agravantes não tem razão,

poderá ser determinado judicialmente, a qualquer tempo, a revogação da medida

antecipatória.

Dessa forma, os autores não podem ser excluídos do processo

seletivo por não preencherem requisito ilegítimo, em razão do que reitero mantenho a tutela

anteriormente deferida.

Entretanto, para não ferir a isonomia, ainda que deferida a

antecipação de tutela para determinar que os agravantes participem do curso de formação,

devem estes serem compelidos a realizarem novos exames psicotécnicos, antes de serem

submetidos as demais fases do certame, nos termos do entendimento jurisprudencial abaixo

esposado, verbis:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL – CONCURSO

PÚBLICO – EXAME PSICOTÉCNICO – AUSÊNCIA DE

OBJETIVIDADE – ANULAÇÃO – NECESSIDADE DE NOVO

EXAME. 1. A legalidade do exame psicotécnico em provas de

concurso público está condicionada à observância de três

pressupostos necessários: previsão legal, cientificidade e

objetividade dos critérios adotados, e possibilidade de revisão

do resultado obtido pelo candidato. 2. Declarada a nulidade do

teste psicotécnico, em razão da falta de objetividade, deve o

candidato submeter-se a novo exame. Agravo regimental

parcialmente provido. (STJ. AgRg no Ag 1291819/DF, Rel.

Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado

em 08/06/2010, DJe 21/06/2010)

2001. P. 125.

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Ante o exposto, em dissonância com o parecer da 21.ª

Procuradoria de Justiça, voto pelo conhecimento e provimento ao recurso, para, reformando a

decisão agravada, manter a decisão que concedeu a tutela antecipada às fls. 576/579 com as

alterações lançadas às fls. 616/618, bem como determinar que os agravantes sejam

submetidos a novo exame psicotécnico, dessa feita com base em critérios objetivos que

deverão ser previamente informados aos mesmos e, uma vez considerados aptos, seja

garantida a sua participação nas demais fases do Concurso para o cargo de Agente/Escrivão

de Polícia Civil do Polícia do Estado do Rio Grande do Norte, observada a ordem de

classificação no certame.

É como voto.

Natal, 29 de agosto de 2011.

DESEMBARGADOR AMAURY MOURA SOBRINHOPresidente/Relator

Dra. HELOÍSA MARIA SÁ DOS SANTOS6ª Procuradora de Justiça