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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO Registro: 2011.0000141373 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0012453- 19.2010.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GUILHERME GOMES DE MENDONÇA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) sendo apelado PRESIDENTE DA COMPANHIA ENERGETICA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CESP. ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUERRIERI REZENDE (Presidente) e BEATRIZ BRAGA. São Paulo, 15 de agosto de 2011. Magalhães Coelho RELATOR Assinatura Eletrônica

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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2011.0000141373

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0012453-19.2010.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante GUILHERME GOMES DE MENDONÇA (ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA) sendo apelado PRESIDENTE DA COMPANHIA ENERGETICA DO ESTADO DE SÃO PAULO - CESP.

ACORDAM, em 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores GUERRIERI REZENDE (Presidente) e BEATRIZ BRAGA.

São Paulo, 15 de agosto de 2011.

Magalhães CoelhoRELATOR

Assinatura Eletrônica

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Apelação nº 0012453-19.2010.8.26.0053 - Voto nº 21.220 2

Voto nº 21.220

Apelação Cível nº 0012453-19.2010.8.26.0053 Comarca

de São Paulo

Apelante: Guilherme Gomes de Mendonça

Apelado: Presidente da Companhia Energética do Estado

de São Paulo CESP

MANDADO DE SEGURANÇA Concurso público Eliminação de candidato em exame psicológico Avaliação baseada em parâmetros subjetivos, sem a devida motivação Violação ao devido processo legal Arbitrariedade na exclusão Recurso provido.

Vistos, etc.

I. Trata-se de mandado de segurança

impetrado por participante de concurso público,

promovido pela Companhia Energética do Estado de São

Paulo CESP para o preenchimento de emprego público

de operador de subestação e usina, insurgindo-se contra

ato que o excluiu do certame, à vista do resultado “não

indicado” no exame de aptidão psicológica.

II. A ordem foi denegada sem resolução

do mérito, com base no art. 267, incisos IV e VI do

Código de Processo Civil. Custas na forma da lei.

III. Interposto recurso de apelação pelo

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impetrante, pugnando pela reforma da sentença

monocrática.

IV. Foram apresentadas contrarrazões.

V. O Procurador de Justiça oficiante

opinou pelo não provimento do recurso.

É o relatório.

Trata-se, como se vê, de recurso de

apelação interposto por impetrante, participante de

concurso público promovido pela Companhia Energética

do Estado de São Paulo CESP para o preenchimento de

emprego público de operador de subestação e usina, em

autos de mandado de segurança, insurgindo-se contra ato

que o excluiu do certame, à vista do resultado “não

indicado” no exame de aptidão psicológica. A segurança

foi denegada na origem.

Sem embargo dos respeitáveis

fundamentos da sentença monocrática e dos pareceres do

Ministério Público, tem-se que procedente o reclamo

recursal, à vista da clara abusividade da atuação da

Administração Pública, violadora dos princípios da

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legalidade, publicidade e motivação e, por via de

consequência, do direito líquido e certo do impetrante.

Com efeito, não se negue que o exame

de avaliação psicológica foi previsto expressamente no

edital e não foi impugnado pelo apelante.

Essas circunstâncias, todavia, não

permitem supor que, por meras razões formais, se possa

simplesmente violar direito subjetivo do participante do

concurso público que havia logrado aprovação nas fases

anteriores.

É que dito exame psicotécnico, para

além de ter previsão legal, em respeito ao mais elementar

dos princípios que regem a atuação da Administração

Pública, deve, claramente, revestir-se de caráter objetivo e

científico, máxime, considerando o seu caráter

eliminatório.

Disso decorre, como consequência, que

na sua realização é necessário que se utilizem critérios

científicos e técnicos para que propiciem uma base

objetiva de conclusão que permita, inclusive, seu controle

jurisdicional por via da razoabilidade e da motivação, pena

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de violação aos mais elementares direitos dos

participantes.

Assim, a avaliação de candidatos em

concurso público, sob o prisma da avaliação psicológica,

não se pode dar com fundamentos em parâmetros

meramente subjetivos, condensado na autoritária, ilegal e

inconstitucional decisão administrativa, como nos autos,

de “não indicado”.

Conquanto, em tese, se admita a

realização do indigitado exame de avaliação psicológica,

fica ele adstrito a três parâmetros que decorrem das

garantias individuais previstas na Constituição Federal e,

principalmente, da garantia do devido processo legal

substancial, em razão do qual a atuação da Administração

Pública e as próprias leis ficam adstritas aos vetores

axiológicos ali albergados.

Os referidos parâmetros são: a) previsão

legal; b) cientificidade e objetividade e c) possibilidade de

acesso e revisão de seus resultados.

Como se vê da leitura dos autos, nenhum

desses parâmetros foi respeitado na fase do concurso ora

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impugnado.

O exame da maneira em que realizado

ofende, portanto, a cláusula do devido processo legal, os

vetores axiológicos da Constituição Federal e o direito

líquido e certo do impetrante.

Nesse sentido, retórica não basta para

afastar a afronta ao direito líquido e certo do impetrante.

Mas não é tudo. As conclusões do

exame são autoritárias e arbitrárias, uma vez que nem a

devida motivação há.

Não se pode simplesmente excluir do

certame candidato aprovado em outras fases, pretextando

arbitrariamente que tem ele perfil “não indicado” para o

cargo, emprego ou função pública, sem que se diga

motivadamente os fundamentos dessa conclusão, não só

para respeitar os princípios vinculativos da Administração

Pública, como, ainda, possibilitar o controle

jurisprudencial da atuação do Estado sob os parâmetros da

legalidade, razoabilidade e proporcionalidade.

Aliás, a arbitrariedade e banalidade

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dessa conclusão estão escancaradas nos autos, à vista do

documento encartado a fl. 41.

O impetrante participou também de

seleção de pessoal para o cargo de “técnico operador

mantenedor” da Petrobrás em 26.03.09, submetendo-se à

avaliação psicológica com as seguintes conclusões:

“PARECER

O candidato parece ser jovem em fase de

maturidade, porém apresenta bom nível de

equilíbrio, ponderação e senso de

responsabilidade. Demonstra tranqüilidade e

atitude positiva frente às situações. Parece ser

organizado, do tipo que planeja suas ações e

tende a ser meticuloso na execução de suas

tarefas.

Possui boa vitalidade para agir de forma

produtiva e busca crescimento profissional,

tendo interesse em seguir carreira acadêmica

no futuro para melhorar sua qualificação

técnica. Apresenta bons conhecimentos e

vivência na área o que favorece o seu

desenvolvimento. Tendo em vistas estas

características o mesmo está APTO para o

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referido cargo.” (fl. 41).

Todas essas circunstâncias estão a

indicar que a fase do concurso questionada no mandado de

segurança e sua conclusão no que se refere ao impetrante,

violaram o princípio da legalidade, publicidade,

razoabilidade e motivação, razão pela qual há de ser

anulada com sua reintegração ao certame.

Daí o porquê, dá-se provimento ao

recurso para conceder a segurança e anular o ato

administrativo que o excluiu do certame com sua

consequente reintegração e determinando-se o

cumprimento das consequências jurídicas dessa decisão.

Custas ex lege, descabendo verba

honorária.

MAGALHÃES COELHO

Relator