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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N° ACÓRDÃO i miii mil mil mil um mu um um mi mi *03102831* Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5, da Comarca de São Paulo, em que é agravante CARLOS MARCELO GOMES DE CARVALHO E OUTRO sendo agravado BANCO PONTUAL S/A (MASSA FALIDA) E OUTRO. ACORDAM, em Câmara Reservada à Falência e Recuperação do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "NÃO CONHECERAM DO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores BORIS KAUFFMANN (Presidente sem voto), LINO MACHADO E ROMEU RICUPERO. São Paulo, 10 de agosto de 2010. fW PEREIRA CALÇAS RELATOR

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA

REGISTRADO(A) SOB N°

A C Ó R D Ã O i miii mil mil mil um mu um um mi mi *03102831*

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5, da Comarca

de São Paulo, em que é agravante CARLOS MARCELO GOMES

DE CARVALHO E OUTRO sendo agravado BANCO PONTUAL S/A (MASSA FALIDA) E OUTRO.

ACORDAM, em Câmara Reservada à Falência e

Recuperação do Tribunal de Justiça de São Paulo,

proferir a seguinte decisão: "NÃO CONHECERAM DO

RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do

Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores BORIS KAUFFMANN (Presidente sem

voto), LINO MACHADO E ROMEU RICUPERO.

São Paulo, 10 de agosto de 2010.

fW c£

PEREIRA CALÇAS RELATOR

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SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO CÂMARA RESERVADA À FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5

: São Paulo - 1" Vara de Falências e

Recuperações Judiciais

: Carlos Marcelo Gomes de carvalho; e José

Mário Gomes de Carvalho

: Banco Pontual S/A (massa falida); e

Valdor Faccio (administrador judicial)

VOTO N° 18.607

Agravo. Instituição financeira em

liquidação extrajudicial em que o

liquidante, autorizado pelo Banco

Central, requer a falência com

base no art. 21, alínea "b", da

Lei n° 6.024/74. Recurso

interposto por acionistas na

qualidade de ex-administradores.

Reconhecimento da ilegitimidade

para a interposição do recurso.

Acionistas/ex-administradores da

sociedade falida não são reputados

como "terceiro prejudicado",

a teor do art. 499

do CPC. A legitimidade do

acionista/controlador para

recorrer contra a sentença de

falência da companhia exige a

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demonstração do interesse

jurídico, não sendo suficiente o

interesse de fato ou econômico. 0

sócio ou acionista não é

considerado falido em virtude da

falência da sociedade que integra.

Agravo não conhecido.

Visto.

l. Trata-se de agravo manejado por

CARLOS MARCELO GOMES DE CARVALHO e JOSÉ MÁRIO GOMES

DE CARVALHO, invocando a situação de terceiros

prejudicados em razão de serem ex-membros do

Conselho de Administração e acionistas de BANCO

PONTUAL S/A. Insurgem-se contra a decisão que, com

fundamento no art. 21, alínea "b", da Lei n°

6.024/74 e Decreto-lei n° 7.661/45, a requerimento

do liquidante nomeado pelo Banco Central do Brasil

S/A, decretou a quebra do agravado, sob o fundamento

de que o ativo arrecadado não seria suficiente para

cobrir, pelo menos, 50% do passivo quirografário.

Alegam, preliminarmente, que a hipótese configura

autofalência prevista no art. 21 da Lei n° 6.024/74

que pode ser requerida pelo liquidante autorizado

pelo Banco Central S/A, desde que cumpridas as

demais condições exigidas pela Lei de Falências e

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Lei das Sociedades Anônimas, especialmente a

constante do art. 122 da Lei n° 6.404/76 que exige a

autorização da assembleia-geral dos acionistas, que

não foi providenciada. Esclarece que nos casos de

urgência, admite o parágrafo único que a confissão

da falência seja realizada pelos administradores,

desde que imediatamente seja convocada assembléia, o

que, a teor do art. 50 da Lei n° 6.024/74, deveria

ser promovido pelo interventor, que também não

cumpriu tal requisito. Por tais motivos, postula a

extinção do processo, sem resolução do mérito, com

fundamento no art. 267, VI, do CPC. Aduz que,

consoante os artigos 11, 12, 20 e 21 da LILE,

apresentado o relatório no prazo de 60 dias, deveria

o Banco Central determinar ao liquidante:

a) prosseguir na liquidação extrajudicial; ou

b) requerer a falência. No caso em testilha,

decretada a intervenção extrajudicial em 30/12/1998

e, posteriormente, a liquidação extrajudicial em

29/10/1999, o liquidante não apresentou o relatório

do art. 11, promovendo-se a transferência da melhor

parte do ativo do Banco Pontual para o BCN S/A, que

fora adquirido pelo Bradesco S/A, sem a prévia

avaliação do Continental Banco S/A, instituição

integrante do grupo Pontual e titular de ativos de

grande valor, violando-se fh art. 4o, § Io do DL

92.062/85 que regulamentoi i o art. 31 da Lei n°

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6.024/74. Em razão de tais fatos, afirma que o Banco

Central não poderia, após ter iniciado a realização

dos ativos da empresa, deixar de encerrar a

liquidação e optar pelo requerimento de falência

perante o Poder Judiciário. Em suma, incabivel a

opção formulada pelo Banco Central de postular a

falência do agravado, quando era de rigor o

encerramento da liquidação extrajudicial já iniciada

com a venda de ativos, incidindo o art. 31 da LILE.

Com base em tais alegações, pede a extinção do

processo, sustentando a inviabilidade do pedido de

autofalência. No mérito, diz que nenhum dos

requisitos elencados na alínea "b" do art. 21 da Lei

n° 6.024/74, como autorizadores do decreto de

falência, resultaram demonstrados, pois não se

comprovou que o ativo seria insuficiente para pagar

a metade do passivo quirografário, já que a perícia

oficial determinada comprovou "que o ativo do Banco

Pontual é suficiente para pagar a totalidade dos

créditos", não havendo também qualquer indício da

prática de crime f alimentar. Por fim, caso seja

mantida a sentença de falência, impugna a nomeação

do liquidante para o cargo de administrador

judicial, por incompatibilidade entre as duas

funções, além do que, o nomeado, no início da

liquidação extrajudicial autorizou a venda de

valiosos ativos sem cumprir así normas legais. Aduz

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ainda que o administrador judicial, na condição de

liquidante, geriu o Banco Pontual por mais de 6

anos, razão pela qual, terá ele que examinar a

legalidade ou conveniência de seus próprios atos, o

que também não se justifica. Postula o efeito

suspensivo e, a final, o provimento do agravo

(fls. 2/30).

Pela decisão de fls. 2.424

indeferi o efeito suspensivo.

A Massa Falida do Banco Pontual

apresentou contraminuta às fls. 2.434/2.443.

A Douta Procuradoria Geral de

Justiça emitiu parecer que alvitra o improvimento do

recurso (fls. 2.455/2.457).

Relatados.

2. Examina-se a preliminar de

ilegitimidade e da falta de interesse de recorrer

dos agravantes, suscitada na contrariedade da Massa

Falida (fl. 2.437) e no parecer da i. Procuradoria

Geral de Justiça (fl. 2.456).

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Os agravantes Carlos Marcelo Gomes

de Carvalho e José Mario Gomes de Carvalho interpõem

este agravo contra a decisão que, a requerimento do

liquidante nomeado pelo Banco Central S/A nos autos

da Liquidação-Extrajudicial de BANCO PONTUAL S/A,

decretou a falência deste, com fundamento no art.

21, alínea "b", da Lei n° 6.024/74. Para justificar

sua legitimidade recursal afirmam, apesar da decisão

proferida por esta Corte de Justiça no julgamento do

Agravo de Instrumento n° 465.557-4/8, relatado pelo

eminente Desembargador OSCARLINO MOELLER, ocorrido

em 28/2/2007, que não reconheceu a legitimidade dos

recorrentes para participarem do processo na

condição de ex-administradores e acionistas da

instituição financeira, atualmente, com a decretação

da falência, a "situação se altera substancialmente,

pois agora poderão advir prejuízos patrimoniais e

processuais aos ora agravantes", estando eles

enquadrados como terceiros prejudicados, a teor do

art. 499 do Código de Processo Civil.

O agravo anteriormente manejado

pelos ora recorrentes Carlos Marcelo e José Mário,

julgado pela Egrégia 5a Câmara de Direito Privado

deste Tribunal de Justiça, relatado pelo

Desembargador OSCARLINO MOELLBR, por votação

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unânime, negou-se provimento ao inconformismo, nos

termos da ementa a seguir transcrita:

"Liquidação Extrajudicial. Autofalência. Interesse

de ex-membros do Conselho de Administração. Inadmissibilidade. O

liquidante nomeado pelo Banco Central, assumindo a administração, afasta o

interesse dos anteriores administradores do Banco. Aplicação dos artigos 15,

16 e 21, "b", da lei n. 6.024/74. Além de ilegal, não salutar a participação dos

ex-administradores ou membros do Conselho de Administração na apuração

de eventuais irregularidades que conduziram à liquidação extrajudicial e ao

pedido de autofalência. Inaplicável a regra do art. 17 do decreto-lei n.

7.661/45. Decisão que afastou a pretensão dos agravantes na participação da

liquidação epedido de autofalência. Agravo improvido".

O v. acórdão acima ementado que

afastou a legitimidade dos ora agravantes para

intervir na recuperação extrajudicial e no pedido de

falência formulado pelo liquidante, transitou em

julgado, haja vista a não interposição de recurso,

conforme o Extrato de Movimentação Processual

processo 994.06.139367-9.

Sustentam os agravantes que, em

face do decreto de falência do Banco Pontual S/A,

houve alteração da situação que lhes confere

legitimidade para recorrer contra aludida decisão.

V.

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Esta Câmara Reservada à Falência e

Recuperação, tem precedente de minha relatoria,

prolatado no agravo interposto por César Roberto

Tardivo contra o decreto de falência de Pontual

Leasing S/A - Arrendamento Mercantil (Agravo de

Instrumento n° 471.640.4/6-00), em que, por votação

unânime, não se conheceu do recurso, consoante se

verifica pela ementa a seguir transcrita:

"Liquidação extrajudicial. Instituição Financeira.

Falência requerida pelo liquidante. Agravo de instrumento formulado por ex-

administrador da entidade falida. Ausência de interesse de recorrer. Não

configuração da situação de terceiro prejudicado prevista no art. 499 do

CPC.

"Decretada a falência de instituição financeira por

provocação do liquidante nomeado pelo Banco Central, o interesse do ex-

administrador da sociedade falida só se configurará nas ações que

objetivarem apurar sua eventual responsabilidade por atos cometidos na

gestão da companhia." ( R e l a t o r Des . PEREIRA CALÇAS).

Ao fundamentar a falta de

interesse e a ilegitimidade do ex-administrador da

sociedade financeira falida para insurgir-se contra

a decisão de falência afirmei:

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Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5

"A preliminar de não conhecimento

do agravo, por falta de interesse ao ex-administrador

da instituição financeira em liquidação extrajudicial

para recorrer contra o decreto de falência, suscitada

pelo Administrador Judicial e pela D. Procuradoria

Geral de Justiça, ê de ser acolhida.

Com efeito, ao contrário do

afirmado pelo agravante, o ex-administrador da

instituição financeira sob regime de liquidação

extrajudicial decretada pelo Banco Central, que, nos

termos do artigo 21, "caput", da Lei n" 6.024/74,

autoriza o liquidante a requerer a falência da

entidade, não tem interesse nem legitimidade para

agravar contra a decisão que decreta a falência

daquela, já que não pode ser enquadrado como terceiro

prejudicado, a teor do artigo 499 do Código de

Processo Civil.

O Administrador não é atingido pelo

decreto de falência, pois, falida é a instituição

financeira.

Esta Corte de Justiça, ao julgar o

agravo de instrumento n° 465.557-4/8-00 formulado por

ex-administradores do Banco Pontual S/A, controlador

da sociedade arrendadora cuja falência está sendo

vergastada neste recurso, já procljamou a falta de

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interesse de ex-administradores para recorrerem contra

a decisão de quebra da entidade, conforme se verifica

da ementa a seguir transcrita:

"Liquidação extrajudicial. Autofalência. Interesse

de ex-membros do Conselho de Administração. Inadmissibilidade. O

liquidante nomeado pelo Banco Central, assumindo a administração, afasta o

interesse dos anteriores administradores do Banco. Aplicação dos artigos 15,

16e21, "b", da lei n° 6.024/74. Além de ilegal, não salutar a participação dos

ex-administradores ou membros do Conselho de Administração na apuração

das eventuais irregularidades que conduziram à liquidação extrajudicial e ao

pedido de autofalência. Inaplicável a regra do artigo 17 do Decreto-lei n°

7.661/45. Decisão que afastou a pretensão dos agravantes na participação da

liquidação epedido de autofalência. Agravo improvido".

Do texto do venerando aresto,

relatado pelo Desembargador OSCARLINO MOELLER, constam

assertivas que merecem ser transcritas:

"Os agravantes, na qualidade de ex-membros do

Conselho de Administração, partícipes daquela administração que conduziu,

por possíveis irregularidades, o Banco à situação de liquidação extrajudicial,

perdem o interesse na participação do respectivo processo. Como integrantes

do Conselho participaram diretamente da administração malograda, em

apuração onde predomina o interesse público.

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Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5

"O pedido de autofalência é de exclusiva

competência do liquidante, autorizado também pelo Banco Central, nos

termos do art. 21, "b", da lei n° 6.024/74, mantendo-se na situação processual

o mesmo interesse exclusivo público, descabendo qualquer qualificação de

interesse de interferência dos agravantes, como ex-membros do Conselho de

Administração, cujos atos se encontram em análise de apuração dos fatos

irregulares.

"O interesse dos agravantes apenas existirá nas

ações a serem eventualmente desencadeadas por força das apurações em

andamento na liquidação e no pedido de autofalência, nos limites das

respectivas responsabilidades. O chamamento dos agravantes na ação

cautelar movida pelo Ministério Público é a prova concreta desta assertiva,

eis que nessa medida são alinhavados em responsabilidade de arresto, com

vínculo em ação civil pública a ser delineada.

"Da mesma forma que inexiste interesse para a

intimação ou notificação dos ex-administradores para o decreto de liquidação

extrajudicial, ou de falência, nos limites da exegese do art. 21, "b", da lei n°

6.024/74 (Agr. Instr. n° 110.910-4, Araçatuba, 3a Câm. de Direito Privado,

rei. Alfredo MiglioreJ. 10.08.99, v.u.; Agr. Instr. n° 51.679-4, São Paulo, 2a

Câm. de Direito Privado, rei. Des. Linneu Carvalho, j . 12.08.97, v.u.; Agr.

Instr. n°267.658-1-, Lins, 3a Câm. de Direito Privado, rei. Des. Toledo César,

j . 10.10.95, v.u.), falece interesse aos ex-administradores, incluindo-se os

integrantes do Conselho de Administração, para a participação no

desenvolvimento do processo enfocado." (Agravo ude Instrumento n"

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465.557-4, São Paulo, 5* Câmara de Direito Privado,

v.u.) .

Esta Câmara Especial de Falências e

Recuperações decidiu recentemente o Agravo de

Instrumento n° 419.902.4/1-00, relatado pelo eminente

Desembargador LINO MACHADO, manejado pelo BANCO SANTOS

S/A, em liquidação extrajudicial, insurgindo-se a

instituição financeira, em seu próprio nome, contra o

decreto de sua falência no pedido formulado pelo

Liguidante nomeado pelo Bacen. O agravo, corretamente,

foi interposto pelo próprio Banco, e não, em nome de

seus ex-administradores.

Na senda de tal entendimento, que

também se perfilha, inviável o conhecimento deste

recurso, por falta de interesse recursal do

agravante."

12

Releva anotar que a questão da

legitimidade e interesse de o falido ou a sociedade

falida para atuar no processo de falência, recorrer

contra as decisões nele proferidas, seja contra a

sentença de quebra, seja contra as decisões dos

inúmeros incidentes daquele processo, em rigor, não

enseja qualquer dúvida. Evidentemente, o falido

(antigo comerciante ou empresário individual, pessoa

natural) e a sociedade empresárjija falida (pessoa

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jurídica) têm legitimidade para interpor recurso

contra a sentença que decreta sua falência. Não se

olvide que o art . 81, § 2 o , da Lei n° 11.101/2005

p r e c o n i z a que "as sociedades falidas serão representadas na falência

por seus administradores ou liquidantes, os quais terão os mesmos direitos e,

sob as mesmas penas, ficarão sujeitos às obrigações que cabem ao falido"'.

Outros sim, mesmo não sendo

repetido na Lei n° 11.101/2005 o artigo 36 do

revogado Decreto-lei n° 7.661/45, que autorizava

expressamente ao f a l i d o "intervir, como assistente, nos processos

em que a massa seja parte ou interessada, e interpor os recursos cabíveis",

t a l d ire i to continua a ser previsto em nosso

sistema, haja v i s ta a aplicação supletiva do Código

de Processo Civi l , consoante estabelece o art . 189

da Lei de Recuperação e Falências. Por i s so , o

fal ido ou a sociedade falida, com base no art . 50 e

seguintes do Código de Processo Civi l , poderá

intervir nas ações em que a massa fal ida seja parte

ou interessada. Enfatiza-se que a massa fal ida,

ente desprovido de personalidade jurídica,

doutrinariamente c lass i f icada como universalidade de

d ire i to , é representada judicialmente pelo

administrador judic ia l , a teor do art . 22, inciso

I I I , al ínea "n", da Lei n° 11.101/2005.

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Cumpre ressaltar, no entanto, que

os sócios, acionistas, ex-administradores e ex-

controladores não são, em regra - salvo a exceção do

art. 81 -, declarados falidos, em razão da falência

da sociedade de que fizeram parte ou de que foram

seus administradores ou controladores.

Esta Câmara Reservada à Falência e

Recuperação tem expressivo precedente, relatado pelo

culto Desembargador ROMEU RICUPERO, em que

reconheceu que a falência da instituição financeira

não pode ser estendida à pessoa natural de seu ex-

controlador.

Confira-se:

"Falência do Banco Santos S/A - Extensão da

falência à pessoa natural de Edemar Cid Ferreira, controlador de fato -

Inadmissibilidade - A lei só autoriza que seja declarado falido o sócio

ilimitadamente responsável, o que ocorre nos casos raros de sociedades em

nome coletivo e comandita simples (artigo 81 da Lei n.° 11.101/2005) - Nos

casos de sociedades outras, como a sociedade anônima, a responsabilidade

dos controladores e dos administradores será apurada na forma da lei (artigo

82 da Lei n. ° 11.101/2005) - Na hipótese de instituição financeira, como a dos

autos, essa ação de responsabilização é a ação civil pública já em andamento,

prevista na Lei n.° 6.024, de 13 de março de 1974jTka qual, inclusive, foi

deferida medida com caráter cautelar, autorizando < i arrecadação dos bens

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particulares do agravado - Em qualquer hipótese de propositura de ação de

responsabilização, de desconsideração da personalidade jurídica e de

extensão da falência, a sua eventual procedência só pode ter conseqüências

patrimoniais, ou seja, sujeitando os bens do sócio, controlador ou

administrador, ao pagamento das obrigações sociais, mas não o sujeitando à

condição de falido - Não se sujeita o acionista controlador de sociedade

anônima à condição de falido porque continua vigorando o princípio da

autonomia da pessoa jurídica - "A falência de uma sociedade empresária

projeta, claro, efeitos sobre os seus sócios. Mas não são eles os falidos e, sim,

ela. Recorde-se, uma vez mais, que a falência é da pessoa jurídica, e não dos

seus membros" - Agravos de instrumentos interpostos pela Massa Falida e

pelo Ministério Público não providos." (Agravos de I n s t r u m e n t o

n ° s 521 .791 .4 /2-00 e 5 5 3 . 0 6 8 . 4 / 2 - 0 0 ) .

Nesta linha de raciocínio, entendo

que o sócio, acionista ou controlador não tem

legitimidade ou interesse para recorrer, em nome

próprio, contra a decisão que decreta a falência da

sociedade que integra ou administra, sob pena de

malferimento do art. 6o do Código de Processo Civil,

que preconiza: "Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito

alheio, salvo quando autorizado por lei".

Neste passo, é preciso esclarecer

que esta Câmara Reservada à Falência e Recuperação

tem um precedente em que se conheceu de agravo

interposto por sócio e administradora de consórcio,

ri

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que após a liquidação extrajudicial, teve sua

falência decretada, fundamentando-se o acórdão na

alegação de que existe "vacilação jurisprudencial"

sobre o tema. (Agravo de Instrumento n°

635.791.4/9-00, Rei. Des. ROMEU RICUPERO).

No entanto, examinando os diversos

precedentes do Colendo SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

que serviram de base para a assertiva de que há

vacilação jurisprudencial sobre a matéria, convenci-

me de que, o cerne do entendimento adotado naquela

Corte Superior é o de que, apenas em hipóteses

especiais, nas quais resultar demonstrado que a

decisão proferida em falência ou ações derivadas da

falência de sociedade e que tenham o efetivo

potencial de causar gravame aos sócios ou

acionistas, confere-se "legitimidade extraordinária"

para que estes possam recorrer em nome próprio.

Antes de examinar os arestos do

Excelso Superior Tribunal de Justiça que cuidam da

matéria, é conveniente recordar-se que o art. 17 do

Decreto-lei n" 7.661, de 1945, antiga Lei de

Falências, estabelecia que "da sentença que declarar a falência

pode o devedor, o credor ou o terceiro prejudicado, agravar de instrumento".

Referido dispositivo não foi repetido na Lei n°

11.101/2005, que, no art. Ô.00, limitou-se a

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estabelecer que da decisão que decreta a falência

cabe agravo.

Diante disso, o único fundamento

para se admitir a interposição de agravo por sócio

ou acionista, administrador ou controlador contra

sentença que decreta a falência da sociedade é o

art. 499 do Código de Processo Civil, "in verbis":

"o recurso pode ser interposto pela parte vencida,

pelo terceiro prejudicado epelo Ministério Público". ( g r i f e i )

O § I o do a r t . 499 de termina que

"cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu

interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial"'.

A conceituação do terceiro

prejudicado para o fim de apuração da legitimidade

recursal desafia, há muito, os processualistas.

PONTES DE MIRANDA, ao comentar o

a r t . 815 do Código de Processo C i v i l de 1939, a f i rma

q u e : "A apelação do terceiro, a 'appellatio tertii', ou 'tierce opposition',

revela que se fez a síntese entre a concepção romana de eficácia da sentença

só entre as partes (tese) e a concepção germânica da eficácia 'erga omnes',

obrigando a todos (antítese). (...) O recurso do terceiro é, no Código, a

generalização da apelação do terceiro, que\nos veio do direito romano e

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CÂMARA RESERVADA À FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO

Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5

atravessou séculos, -fez-se o recurso do terceiro, incidental, que nada tem

com o recurso adesivo do interveniente que interveio, sem se fazer parte no

processo, e adere ao recurso da parte. O interesse do terceiro que se protege

com o recurso do art. 815 não é só o interesse contrário ao das partes, como

acontece com a oposição de terceiro dos arts. 102-105; é também o interesse

que depende do interesse de alguma das partes, ou o interesse igual ao de

uma das partes, mas próprio, uma vez que opuseram na posição processual de

terceiro, embora o devessem citar para a causa (Manuel Gonçalves da Silva,

Commentaria, III, 123). (...) O recurso do terceiro tem de ser interposto

expressa causa, para que se saiba se cabe (Manuel Gonçalves da Silva,

Commentaria, III, 194). Tem de provar o prejuízo alegado, ou, melhor, o

interesse" (Comentários ao Código de Processo C i v i l , Ed.

Forense , Rio de J a n e i r o , 1960, vo l XI, p a g s . 84-85) .

BARBOSA MOREIRA, comentando o

a r t . 499 e § I o , do Código de Processo C i v i l , a f i rma

que "o terceiro prejudicado, para intervir, tem que demonstrar "interesse

jurídico" (não simples interesse de fato!). Apesar, pois, da obscuridade do

dispositivo ora comentado, no particular, entendemos que a legitimação do

terceiro para recorrer postula a titularidade de direito ('rectius': de suposto

direito) em cuja defesa ele acorra". R e c o r r e o m e s t r e c a r i o c a a o

e s c ó l i o de PONTES DE MIRANDA, em Tra tado da Ação

R e s c i s ó r i a , p a r a quem se dev ia en tende r igua lmente

como a l u s i v a só a i n t e r e s s e j u r í d i c o a r e f e r ê n c i a do

Regulamento n° 737, a r t . 738, "aos t e r c e i r o s

p r e j u d i c a d o s " . J á o ve lho CUNHA\ SALES, Livro dos

r e c u r s o s , recusava a apelJagão ao t e r c e i r o

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"prejudicado apenas em sua esperança e não em s e u

d i r e i t o " (Comentários ao Código de Processo C i v i l ,

Ed. Forense, Rio de Janeiro - São Paulo, 1974, v o l .

V, p . 234) .

Na mesma senda, NELSON NERY

JÚNIOR, sustenta que o recurso do t e r c e i r o

prejudicado não é mais do que uma espéc ie de

intervenção de t e r c e i r o na fase recursa l . "Em suma, o

terceiro legitimado a recorrer é aquele que tem interesse jurídico em

impugnar a decisão, não um mero interesse de fato ou econômico" (Teor ia

Geral dos Recursos, Ed. Revista dos Tribunais, São

Paulo, 6" edição, p . 310/311) .

À luz destas ant igas l i ç õ e s ,

f i l i o - m e ao posicionamento c l á s s i c o que não admite

como de t e r c e i r o prejudicado o recurso manejado por

s ó c i o contra decisão proferida contra a sociedade de

que faz parte , p o i s , o i n t e r e s s e do recorrente , em

t a l caso é econômico, e não j u r í d i c o . Nesta ó t i c a é

o precedente invocado por Theotonio Negrão, ao

anotar o a r t . 499 do CPC, quando afirma: "não tem

legitimidade para recorrer como terceiro prejudicado "a pessoa física, para

recorrer de decisões proferidas contra a pessoa jurídica de que faz parte

como sócio" (RTJE120/188)".

I

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N e s t e s e n t i d o f o i proclamado no

ju lgamento do Recurso E s p e c i a l n° 205 .965-SP , da E.

4 a Turma, r e l a t a d o p e l o M i n i s t r o BARROS MONTEIRO, em

v o t a ç ã o unân ime , que: "Os sócios da empresa falida não têm

legitimidade para recorrer (art. 63, inciso XVI, da Lei de Falências)". No

mesmo s e n t i d o : REsp. n° 36 .082 -SP , R e i . Min. SALVIO

DE FIGUEIREDO TEIXEIRA.

Em j u l g a d o mais r e c e n t e

( 1 9 / 6 / 2 0 0 7 ) , a Segunda Turma do C. Super ior Tr ibunal

de J u s t i ç a , cuidando de l i q u i d a ç ã o e x t r a j u d i c i a l ,

af irmou que o s a c i o n i s t a s de i n s t i t u i ç ã o f i n a n c e i r a

não têm l e g i t i m i d a d e para p o s t u l a r em nome p r ó p r i o

d i r e i t o a l h e i o , ao p r o l a t a r a r e s t o c u j a ementa é a

s e g u i n t e :

"A legitimidade extraordinária dos sócios de

instituição financeira para ingressarem com ação de indenização em

beneficio da massa liquidando reclama, a teor do disposto no art. 6o do CPC,

36 do Decreto-Lei 7.661/45 e 159, § 7o, da Lei 6.024/74, que os atos

judicialmente impugnados tenham causado efetivo prejuízo aos seus direitos e

interesses". (REsp. n° 5 4 6 . 1 1 1 - R J ) , R e i . M i n i s t r o JOÃO

OTÁVIO DE NORONHA) .

Consta do corpo do aresto acima

ementado a seguinte liçãc:\

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"E certo, a teor desses dispositivos, que os sócios

da instituição financeira objeto de liquidação extrajudicial possuem

legitimação extraordinária para promover medida judicial em proveito da

massa liquidanda. Entendo, contudo, que para a efetivação dessa legitimidade

extraordinária, deve ser previamente demonstrado que os atos impugnados

judicialmente estejam causando prejuízos aos bens dos acionistas. Com efeito,

é expresso o teor dos dispositivos mencionados (art. 36 do Decreto-lei n°

7.661/45 e art. 159, § 7o, da Lei 6.024/74) que os acionistas devem ter

ameaçados os seus direitos e interesses ou serem diretamente prejudicados

por ato do administrador".

Entendo que também s e d e c i d i u no

mesmo s e n t i d o no REsp. 660 .263-RS, quando a mesma

Segunda Turma, no v o t o r e l a t a d o p e l a eminente

M i n i s t r a ELTANA CALMON, em julgamento por v o t a ç ã o

unânime, af irmou: "Independentemente da representação legal da

massa está o falido autorizado por lei a intervir como assistente nas causas de

interesse da massa (art. 36, DL 7.661/45), podendo ainda, em nome próprio,

ir a juízo defender o seu patrimônio ". ( g r i f e i ) .

E mais :

"A legitimidade extraordinária dos sócios de

instituição financeira para ingressarem com ação de indenização em

benefício da massa liquidanda reclama, a teor do disposto nos arts. 6o do

CPC, 36 do Decreto-lei n° 7.661/45 e 159, 8 7o, da Lei 6.024/74, que os atos

judicialmente impugnados tenham causado! efetivo prejuízo a seus direitos e

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interesses" (REsp. 957.783-PE, 2a Turma, Rei. Min.

ELIANA CALMON, j. 25/3/2008). (grifei).

Na medida em que é de trivial

sabença que a assertiva de que sociedade falida não

se confunde com seus sócios ou acionistas,

consagrada pelo princípio da autonomia da pessoa

jurídica, constata-se que a jurisprudência do

Excelso Superior Tribunal de Justiça admite que a

sociedade falida, presentada por seus diretores,

administradores ou liquidantes (art. 81, § Io, LRF)

pode intervir como assistente nas causas promovidas

pela massa falida, entidade despersonalizada, mas

provida de capacidade judiciária, que agirá em juízo

representada pelo administrador judicial. Outrossim,

os sócios, acionistas, controladores ou

administradores que, em virtude de decisão prolatada

nos autos da falência da sociedade ou em ação

incidental que atinja diretamente seus interesses

jurídicos (não interesses de fato ou econômicos),

podem, em nome próprio, ajuizar as medidas judiciais

cabíveis ou recorrer como "terceiro prejudicado",

devendo demonstrar, preliminarmente, o nexo de

interdependência entre o seu interesse de intervir e

a relação jurídica submetida à apreciação judicial.

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^ B P * SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO CÂMARA RESERVADA À FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO Agravo de Instrumento n° 990.10.062701-5

Não é o caso dos autos, haja vista

que a decretação da falência do Banco Pontual S/A, a

requerimento do liquidante nomeado pelo Banco

Central S/A, que já se encontrava em liquidação

extrajudicial, não atinge juridicamente os

acionistas ou controladores da sociedade anônima,

que não são considerados falidos. Por isso, não

podem ser considerados como "terceiro prejudicado"

para os fins do art. 499 do Código de Processo

Civil.

Portanto, ausente a legitimidade

para recorrer dos agravantes, impõe-se o não

conhecimento deste recurso.

3. Isto posto, pelo meu voto, não

conheço deste agravo.

CX-^ l DESEMBARGADOR MANOEL DE QUEIROZ PEREIRA CALÇAS

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