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Quando eu atravessava os rios impassíveis, Senti-me libertar dos meus rebocadores. Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveis Os espetaram nus em postes multicores. Eu era indiferente à carga que trazia, Gente, trigo flamengo ou algodão inglês. Morta a tripulação e finda a algaravia, Os Rios para mim se abriram de uma vez. Imerso no furor do marulho oceânico, No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil, Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânico viam turbilhonar marés de verde e anil. O vento abençoou minhas manhãs marítimas. Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóis das ondas a rolar atrás de suas vítimas, dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis! TERRITORIO LIVRE DCE 2013 Fragmento de O barco bêbado, Rimbaud, 1871

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Quando eu atravessava os rios impassíveis,Senti-me libertar dos meus rebocadores.Cruéis peles-vermelhas com uivos terríveisOs espetaram nus em postes multicores.

Eu era indiferente à carga que trazia,Gente, trigo flamengo ou algodão inglês.Morta a tripulação e finda a algaravia,Os Rios para mim se abriram de uma vez.

Imerso no furor do marulho oceânico,No inverno, eu, surdo como um cérebro infantil,Deslizava, enquanto as Penínsulas em pânicoviam turbilhonar marés de verde e anil.

O vento abençoou minhas manhãs marítimas.Mais leve que uma rolha eu dancei nos lençóisdas ondas a rolar atrás de suas vítimas,dez noites, sem pensar nos olhos dos faróis!

TERRITORIO LIVREDCE 2013

Fragmento de O barco bêbado, Rimbaud, 1871

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