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4O COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO Belo Horizonte, de 26 a 28 de setembro de 2016 TOPOFILIA E TOPOFOBIA DAS PAISAGENS CULTURAIS NO MUNICÍPIO DE BARBACENA (MG): ARTE E IDENTIDADE CULTURAL NASCIMENTO, CLÁUDIO H. (1); SILVA, LUDIMILA DE M. R. (2); DEUS, JOSÉ A. S.(3); NOGUEIRA, MARLY (4) 1.Graduando (Geografia) - Instituto de Geociências (IGC/UFMG) [email protected] 2.Doutoranda - Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG [email protected] 3.Docente/Pesquisador Credenciado junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG/Brasil [email protected] 4.Docente/Pesquisadora do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG/Brasil [email protected] RESUMO No município de Barbacena lugar de identidade cultural marcante do estado de Minas Gerais (sudeste brasileiro)-, há em sua especificidade histórica, um passado relevante e que teve um dos maiores manicômios do Brasil. Observa-se aí uma realidade sociocultural densa, que perpassa pelo seu reconhecimento como “cidade dos loucos” à concepção de “ cidade das rosas”. Direcionada pela dinâmica funcional e socioeconômica desse município, a construção de suas paisagens culturais, decorre da configuração de identidades culturais confrontantes, desde a aversão aos lugares (topofobia) como exemplo o museu da loucura ao sentimento de afeição (topofilia) na arte das rosas ornamentais, sendo este associado, principalmente, à festa das rosas. Este evento, que se destaca já há alguns anos, enaltecido pela arte da produção de rosas ornamentais, comemora desde a produção das novas criações e tipologias de rosas à produção e comercialização anual das mesmas. Ademais, a festa já é vista como parte integrante da paisagem cultural barbacenense, inerente à identidade cultural dessa população. Fato este que se revela no próprio reconhecimento do município como a “cidade das rosas”. Posto isso, o objetivo desse artigo é identificar, por meio de sua geo- história, os processos identitários intrínsecos à topofobia (relacionada ao estigma da cidade dos loucos) e à topofilia (diretamente associada à produção de rosas no município em questão) que agregam diferentes significados às paisagens culturais de Barbacena. Além de refletir sobre as diferentes percepções dessas paisagens que hoje conectam os moradores ao lugar e a arte. Para tal, partiu-se de metodologias qualitativas (observação participante e entrevistas semi-estruturadas), no intuito de rastrear e (re)interpretar essa aproximação intrínseca da importância funcional e dinâmica das rosas na paisagem, arte e identidade cultural do município. Palavras-chave: Topofobia; Topofilia; Festa das rosas; Paisagem Cultural.

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TOPOFILIA E TOPOFOBIA DAS PAISAGENS CULTURAIS NO

MUNICÍPIO DE BARBACENA (MG): ARTE E IDENTIDADE

CULTURAL

NASCIMENTO, CLÁUDIO H. (1); SILVA, LUDIMILA DE M. R. (2); DEUS, JOSÉ A. S.(3); NOGUEIRA, MARLY (4)

1.Graduando (Geografia) - Instituto de Geociências (IGC/UFMG) [email protected]

2.Doutoranda - Programa de Pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG

[email protected]

3.Docente/Pesquisador Credenciado junto ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Geociências da UFMG/Brasil

[email protected]

4.Docente/Pesquisadora do Departamento de Geografia do Instituto de Geociências da UFMG/Brasil [email protected]

RESUMO

No município de Barbacena – lugar de identidade cultural marcante do estado de Minas Gerais (sudeste brasileiro)-, há em sua especificidade histórica, um passado relevante e que teve um dos maiores manicômios do Brasil. Observa-se aí uma realidade sociocultural densa, que perpassa pelo seu reconhecimento como “cidade dos loucos” à concepção de “cidade das rosas”. Direcionada pela dinâmica funcional e socioeconômica desse município, a construção de suas paisagens culturais, decorre da configuração de identidades culturais confrontantes, desde a aversão aos lugares (topofobia) como exemplo o museu da loucura ao sentimento de afeição (topofilia) na arte das rosas ornamentais, sendo este associado, principalmente, à festa das rosas. Este evento, que se destaca já há alguns anos, enaltecido pela arte da produção de rosas ornamentais, comemora desde a produção das novas criações e tipologias de rosas à produção e comercialização anual das mesmas. Ademais, a festa já é vista como parte integrante da paisagem cultural barbacenense, inerente à identidade cultural dessa população. Fato este que se revela no próprio reconhecimento do município como a “cidade das rosas”. Posto isso, o objetivo desse artigo é identificar, por meio de sua geo-história, os processos identitários intrínsecos à topofobia (relacionada ao estigma da cidade dos loucos) e à topofilia (diretamente associada à produção de rosas no município em questão) que agregam diferentes significados às paisagens culturais de Barbacena. Além de refletir sobre as diferentes percepções dessas paisagens que hoje conectam os moradores ao lugar e a arte. Para tal, partiu-se de metodologias qualitativas (observação participante e entrevistas semi-estruturadas), no intuito de rastrear e (re)interpretar essa aproximação intrínseca da importância funcional e dinâmica das rosas na paisagem, arte e identidade cultural do município. Palavras-chave: Topofobia; Topofilia; Festa das rosas; Paisagem Cultural.

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INTRODUÇÃO

O conceito de Paisagem, tão caro à ciência geográfica, com o passar dos anos vem

admitindo novas concepções que vão além da ideia de retrato, ou dos limites que a vista

alcança. A compreensão dessa categoria vem sendo realizada também sobre novas

perspectivas dos elementos imateriais que configuram uma paisagem. Sendo assim, arte,

cultura e a percepção individual ou coletiva dos lugares passam a agregar novos

significados à paisagem, identificando-a e correlacionando-a de acordo com as interações

espaço-temporais e da própria dinâmica socioeconômica dos lugares.

Uma das correntes geográficas que tem se destacado nessa nova construção conceitual da

paisagem é a Geografia Humanista, que, a partir do método fenomenológico, busca dialogar

com a percepção ambiental dos lugares, valorizando, nesse contexto o olhar e sentimento

dos agentes locais.

No final da década de 1970, a Geografia passava por um momento de renovação cuja

proximidade de reflexão interessava à temática cultural-humanística. Nesse contexto, houve

maior abertura para se abordar questões associadas ao lugar, à paisagem, à identidade

cultural e à percepção ambiental. Além disso, mediante a necessidade de preservação e

cuidados com o patrimônio cultural, estes estudos se tornaram cada vez mais relevantes e

emergentes em torno dessas relações. Desde então, a Geografia Cultural Humanista vem

ressaltando a importância de se estudar as nuances do nosso mundo vivido e perceber que

as pessoas é que dão significado ao lugar e à paisagem através de suas percepções e

modos de vida.

Assim, como ressalta Tuan (1980), os sujeitos percebem a realidade objetiva e/ou subjetiva

a partir de seus sentidos que são influenciados pela cultura, podendo modificar e construir

uma visão de mundo e atitudes a partir de sua relação com o ambiente. Ainda segundo este

autor, “o meio ambiente pode não ser a causa direta da topofilia, mas oferece o estímulo

sensorial que, ao agir como imagem percebida, dá forma às nossas alegrias e ideais”

(TUAN, 2012, p.161).

Posto isso, as categorias paisagem e lugar passam a ser compreendidas por meio de uma

nova concepção mais ligada aos valores subjetivos que podem ser referenciados por

aspectos de localização, classificatórios ou determinando a presença de fenômenos que lhe

conferem significados específicos (KOZEL, 2001). De acordo com Holzer (1999), o lugar

está além da localização e apresenta substâncias únicas dotadas de histórias com

significados que se materializam a partir de um conjunto complexo e simbólico. O lugar se

concretiza a partir da experiência do vivido. Assim, a subjetividade e as experiências das

pessoas com o lugar e a paisagem passam a ser temas privilegiados, a partir da década de

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1970, pela abordagem humanística, valorizando estudos voltados á dinâmica cultural, sem,

contudo, abandonar a problemática socioeconômica.

Essa dinâmica da percepção sobre a paisagem é o que acontece em Barbacena, município

localizado na mesorregião Campo das Vertentes, local de identidade cultural marcante do

estado de Minas Gerais, no qual há em sua especificidade histórica um passado relevante

por ter tido um dos maiores manicômios do Brasil, e que, na década de 1970, ficou

nacionalmente reconhecida como a “cidade das rosas”. Esse título decorre da grande

produção e comércio das rosas, com fornecimento de rosas para os estados de São Paulo,

Rio de Janeiro e para o município de Belo Horizonte. Na década de 1970, a cidade também

exportava para Estados Unidos e Europa. Barbacena é um dos municípios que mais se

destacam na produção de rosas no Brasil pelo clima e temperatura agradável e favorável a

atividade do cultivo das mesmas. Além da importância econômica, a produção de rosas

desenvolveu nos munícipes uma identidade cultural fortemente ligada a esta atividade, a

qual é vivenciada e experienciada há 45 anos na “Festa das Rosas”, evento que congrega

desde produtores ao público em geral. É reconhecida como uma das festas mais

tradicionais do município.

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Apesar do destaque atual à produção de rosas, Barbacena ainda carrega fortemente o

estigma de cidade dos loucos, passado que é perceptivelmente negado e desprezado pelos

moradores do lugar. Todavia, essa paisagem topofóbica se faz presente, tanto nos prédios

antigos (aos quais se associam essa identidade), quanto na memória de muitos

barbacenenses pela indignação, sobretudo, os que visitam ao museu da loucura (que foi

uma ala do Hospital Colônia). Em entrevistas a campo, as pessoas abordadas na porta do

museu, disseram que ainda ficam indignadas, tristes, sem ação, melancólicas pelo lugar e

no lugar com relação ao passado e ao que aconteceu no interior do edifício. Daí o

sentimento de topofobia. Em outra vertente de estudo e com muita paixão e desejo a

topofilia se insere em outro contexto.

A Topofilia é conceituada como o elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico. A

palavra topofilia na verdade, é um neologismo, sendo útil quando pode ser definida em

sentido amplo, incluindo os laços afetivos dos seres humanos com o meio ambiente

material, mesmo que se diferenciem em intensidade, sutileza e modo de expressão. Já a

Topofobia, inversamente ao primeiro, decorre da aversão aos lugares, da ideia de paisagem

do medo e aversão ao lugar. (TUAN, 2012).

Em sua especificidade, que se revela por meio da geo-história, observa-se na transformação

da paisagem, os sentimentos e as emoções que configuram a identidade cultural do

município, inerente á sua população. São laços topofílicos e topofóbicos que se mostram,

atravessando rugosidades no espaço-tempo. Relevantes, principalmente, quando se

expressam e se mostram acerca de sentimentos de aversão ou de amor pelo lugar. Uma

percepção que se constrói e desconstrói a todo o momento entre a cidade dos loucos e a

cidade das rosas.

Posto isso, o objetivo desse artigo é identificar os processos identitários intrínsecos à

topofobia (relacionada ao estigma da cidade dos loucos) e à topofilia (diretamente associada

à produção de rosas no município) que agregam diferentes significados às paisagens

culturais de Barbacena. Visamos refletir acerca das diferentes percepções dessas

paisagens que hoje conectam os moradores ao lugar e a arte das rosas ornamentais em sua

festa anual. Nesse sentido, o estudo busca, também, analisar e entender a especialização

regional produtiva na cidade de Barbacena (MG) na produção dessas rosas e em especial o

cultivo como atividade econômica que contribuiu na conformação de uma paisagem inerente

à dinâmica funcional do município.

Para tal, partiu-se de pesquisa bibliográfica, cartográfica e documental; dos

reconhecimentos de campo; da contextualização e sistematização das informações; da

formulação do problema, análise e interpretação, além de críticas do objeto investigado. O

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reconhecimento de campo desenvolveu-se a partir de metodologias qualitativas (observação

participante, entrevistas semi-estruturadas), no intuito de rastrear e (re)interpretar a

aproximação intrínseca, sobretudo, da importância funcional e dinâmica na produção das

rosas na paisagem, arte e identidade cultural do município. Nesse sentido, foram realizadas

20 entrevistas na sede municipal de Barbacena, 20 nas proximidades das estufas de flores,

sobretudo do Sítio Margarida e 20 no entorno do parque de exposições (onde aconteceu a

Festa das Flores no ano de 2015).

PAISAGEM E LUGAR: percepções e construções identitárias

As paisagens culturais são o resultado das interações do homem com o meio ambiente em

seu espaço vivido, e, desse modo, devem ser descritas, percebidas, analisadas e

interpretadas a partir dessas correlações. Nessa perspectiva, ao se buscar a compreensão

de uma paisagem é necessário ainda dialogar com as percepções e vivências das pessoas

no lugar. Assim, como destaca Dardel (2011 p.30-31):

Muito mais que uma justaposição de detalhes pitorescos, a paisagem é um conjunto, uma convergência, um momento vivido, uma ligação interna, uma ‘impressão’, que une todos os elementos. A paisagem não é um círculo fechado, mas um desdobramento. A paisagem é um escape para toda a Terra, uma janela sobre as possibilidades ilimitadas: um horizonte. Não uma linha fixa, mas um movimento, um impulso” Dardel (2011 p.30-31).

A paisagem é dinâmica. Tem vida, história e estória. Ela é cultura e se correlaciona com o

lugar. Com nossas percepções aguçadas acerca de tudo o que forma o mundo exterior,

conseguimos e podemos sentir, ver e perceber a paisagem. Todo o estado de contemplação

pelo qual os meandros em seus complexos caminhos se relacionam com nossa alma e

podem ser representados por uma paisagem. No entanto, o lugar é o espaço vivido em que

se estabelecem relações sociais e de identidades, sobretudo culturais. Essas relações do

quotidiano são constituídas pelas experiências e memórias com o lugar-paisagem. Esse

espaço que é vivido, dotado de significados em sua dimensão cultural-simbólica. A partir

daí, as questões envolvem identidades, memórias, intersubjetividade e as trocas simbólicas

que podem ser espacialidades vividas e percebidas, com seus significados marcados pela

“Topofilia” e “Topofobia”. (SOUZA, 2013).

A paisagem e o lugar se correlacionam com todo o corpo físico e interagem com a

experiência pessoal ou coletiva de um grupo envolvido. Neste contexto, Machado (1999,

p.107) argumenta que “é dessa forma que a pessoa vivencia a paisagem e apreende seu

conteúdo subjetiva e afetivamente”, atribuindo-lhe, assim, percepções de afetividade ou

rejeição. Desse modo, os sentimentos de topofilia e topofobia são inerentes à identidade

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cultural e estes se correlacionam com lembranças e, sobretudo com a percepção ambiental

do espaço. E é nessa perspectiva, que como destaca Amorim Filho (1999, p.140) “os

estudos de percepção ambiental foram incluídos em um grande movimento que recebeu, na

década de setenta, o nome de ‘geografia humanística’”, dando relevância, principalmente,

para as experiências vividas e sentidas.

Os sentimentos de aversão (topofobia) ou empatia (topofilia) das pessoas pelo lugar,

considerados nesta investigação, são importantes para a percepção da dinâmica

socioeconômica e identitária. Da aversão pelo histórico de cidade dos loucos transformada

pela topofilia das rosas em sua dinâmica e funcionalidade, a paisagem se desvela por meio

da arte em que se observou na produção de rosas ornamentais. Na festa das rosas os

galpões e exposições nas galerias, sobretudo das rosas, revelam todo um o cuidado

artístico que é destinado a este substrato sociocultural. Nesse sentido, o cuidado com as

rosas se transforma em paisagem e arte.

Para Amorim Filho (1999, p.143) “a paisagem é uma realidade cultural, pois ela não é

somente resultado do trabalho humano, mas também, objeto de observação, e mesmo,

consumo”. A festa das rosas também é paisagem e arte, identifica o lugar e inspira

sentimentos topofílicos na população local, além de aguçar sentimentos e o interesse dos

visitantes, resultando em maior fluxo turístico em sua festa anual.

PAISAGEM TOPOFÓBICA: Barbacena - a “cidade dos loucos”

Barbacena já teve o maior hospício do Brasil. Conhecido como hospital Colônia, ele foi

inaugurado em 1903 e desativado em finais da década de 1980. Configurou-se como um

falso presente que compensava o município por ter perdido a disputa para Belo Horizonte

como possível localidade para a instalação da nova capital de Minas Gerais (ARBEX,2013).

Atualmente, figura no local o “Museu da Loucura”, inaugurado em 1996 no torreão do antigo

Hospital colônia.

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Figura 1: Antigo Hospital Colônia de Barbacena/MG. Fonte: www.issoebizarro.com

Figura 2: Frente do "Museu da Loucura" que é uma ala do antigo Hospital Colônia que foi desativada. Fonte: Arquivo ACS/Fhemig

O edifício foi construído sobre o terreno da antiga Fazenda da Caveira, pertencente ao

traidor de Tiradentes, Joaquim Silvério dos Reis. Antes, o local foi sanatório para

tuberculosos. Nele, aproximadamente, 60 mil pessoas morreram entre os anos de 1930 e

1980. Doentes que foram internados por serem homossexuais, alcoólatras, prostitutas,

adolescentes rebeldes, epiléticos, mendigos, filhas que engravidavam antes do casamento

ou que perderam a virgindade antes de se casarem, pessoas que eram tidas como escória,

enfim, seres humanos não desejados pela sociedade e que, segundo a concepção da

época, deveriam ser direcionados para um lugar longínquo, que a vista não pudesse abarcar

(ARBEX, 2013).

Esses pacientes viviam como animais. Comiam ratos e até suas próprias fezes, bebiam

água de esgoto e suas próprias urinas. Capins eram as suas camas. Houve muito

espancamento e violência sexual. Muitas mulheres engravidavam no hospital e assim que

os bebês nasciam retirava-os de suas mães e entregava-os a adoção. Nas noites geladas,

muitos pacientes morriam de fome e de doenças. Os eletrochoques eram constantes e

muitas mortes aconteciam. A sobrecarga de energia era tão alta que derrubava a rede

elétrica do município. As mortes dos internados no manicômio também eram positivas, pois

se obtinha lucro; os corpos eram vendidos para faculdades de medicina do país (ARBEX,

2013).

O manicômio impulsionou a economia Barbacenense com o Hospital Colônia. Mudou a

dinâmica e infraestrutura do município. Este impacto e esta dinâmica fizeram com que a

cidade fosse conhecida como a cidade dos loucos. Impacto negativo para o município, daí a

topofobia pelo lugar, pela paisagem, pelas pessoas que até há pouco tempo rejeitaram seu

passado, mas que na atualidade, se modifica, em topofilia, principalmente, pela atividade da

produção de rosas.

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“A paisagem era cinzenta, sem cor, fria, sem vida”, destaca uma barbacenense de 80 anos

de idade, que vivenciou essa paisagem. As pessoas da cidade não gostam de falar desta

história triste do município, deste passado horrível. Na década de 1990, uma das alas do

hospital Colônia se tornou museu: “O Museu da Loucura”. O museu conta um pouco da

história do hospital Colônia, há muitas fotografias e materiais que eram utilizados nos

pacientes. Atualmente, o local é muito visitado por turistas.

A partir de 1990 tem-se o início do movimento de reforma psiquiátrica e da luta

antimanicomial. Nesse período, a cidade e as pessoas, em seu limiar de transformação,

começam a modificar o sentimento topofóbico pelo sentimento topofílico. Com o crescente e

novo paradigma de transformação paisagística, o município se mostra mais alegre, colorido

e vivo. E assim, a paisagem acinzentada se transformou pelo trabalho das rosas

ornamentadas que se mostra como forma de arte na paisagem, principalmente na festa das

rosas.

As rosas também proporcionaram um crescimento socioeconômico na cidade, tornando-a

uma grande produtora de rosas, em escala nacional. Muitos imigrantes europeus, sobretudo

alemães e italianos recém-vindos do entre guerras e pós 2ª Guerra Mundial viram na cidade,

no clima ameno e propício ao cultivo das rosas uma oportunidade de uma vida melhor. A

produção das rosas transformou o município. Transformou a paisagem em arte.

Sentimentos topofílicos, sobretudo na festa das rosas. As rosas são símbolo da cidade já

que, atualmente, o município é grande exportador de rosas do país, configurando-se ainda

como uma das principais fontes da economia barbacenense.

PAISAGEM TOPOFÍLICA: Barbacena a “cidade das rosas”

Em 1948 centenas de imigrantes europeus, alemães e italianos se mudaram para

Barbacena, fugindo da crise econômica entre guerras e pós II Guerra Mundial, com o

objetivo de se estabelecerem economicamente no Brasil. Atraídos pelo clima favorável de

Barbacena, viram no cultivo de rosas grande oportunidade de trabalho e, então, deram

continuidade à tradição que já desenvolviam na Europa, posto que já tivessem a

experiência, o conhecimento e as técnicas necessárias para o bom cultivo e colheita. As

condições climáticas, como o clima e temperatura amena, a altitude e a localização

privilegiada contribuíram consideravelmente para o cultivo das rosas.

Em 1962 estes imigrantes conquistaram, pelo seu trabalho, suas terras e então conseguiram

dinamizar a produção de flores. Um exemplo foi o proprietário do Sítio Santa Margarida,

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que, atualmente, exporta suas rosas para várias partes do Brasil e alguns países do mundo

e tem grande número de estufas de rosas no município.

Frente ás dificuldades de reconhecimento dessa atividade no município, em 1967 a

prefeitura municipal, em parceria com a Cooperativa União Barbacenense dos Floricultores

(UNIFLOR), organizou a I Festa das Flores de Barbacena, cujo objetivo era divulgar a

produção para a comunidade regional e para os turistas.

Todavia, foi apenas entre 1970 e 1980, após grandes investimentos econômicos e

tecnológicos que a produção de rosas de Barbacena passou a ser referência no Brasil,

destacando-se no cultivo e comercialização. No ano de 1979 surgiu a Brasil Flowers, que se

tornou a maior empresa produtora de rosas do mundo usando tecnologia avançada na

produção das rosas e empregando boa parte da população do município. Seu objetivo era o

mercado externo, sobretudo a Alemanha. É nesse contexto que o município torna-se

conhecido como “cidade das rosas”, e, desde então, a produção destas rosas passou a ser

principal atividade econômica do município e da região.

No intuito de traçar novos caminhos visando o aumento da produção, em 1999, os

produtores de Barbacena se organizaram na Associação Barbacenense de Produtores de

Rosas e Flores (ABARFLORES1). Com a criação da associação, a festa anual das flores

tomou ainda mais força, tanto no âmbito do empreendedorismo da atividade, quanto do

reconhecimento enquanto elemento fundamental da construção da identidade cultural

barbacenense. Nesse novo cenário, destaca-se a parceria com o SEBRAE/MG, que apoiou

a instituição na elaboração de melhores estratégias de produção, comercialização e

estabelecimento de novos mercados para o consumo. Segundo Emídio (2013, p.1), “em

Barbacena, são 35 produtores associados à ABARFLORES. A cidade produz cerca de 15

milhões de dúzias de rosas por ano, o que representa a terceira principal produção do Brasil

e gera cerca de 450 empregos diretos e 1.500 indiretos”.

Atualmente as exportações estão concentradas para Portugal e no mercado interno,

sobretudo para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Brasília, constituindo os principais

consumidores de flores de Barbacena. Tal quadro e situação positiva de beleza e bem-estar

gera na população um sentimento topofílico em relação não apenas à produção, mas

também à própria Festa das Rosas.

1 A ARBAFLORES não é uma cooperativa, e sim uma associação que têm por finalidade a promoção de assistência social, educacional, cultural, representação política, defesa de interesses de classe e filantropia. Nesse sentido, são realizados cursos, palestras e treinamentos para produtores e cursos de paisagismo.

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FESTA DAS ROSAS: novas construções identitárias a partir da arte

A festa ocorre sempre nos meses de Outubro, durante a Primavera, quando as flores ficam

mais belas e deslumbrantes. Durante três dias de festas são realizados shows, desfiles de

carros ornamentados, eleição da rainha e da princesa das rosas e stands das rosas

ornamentais. Além disso, há apresentações de música sertaneja e cantores populares são

convidados para animar a festa das rosas. O objetivo do evento é reunir os produtores de

rosas de Barbacena, além de atrair um público que possa participar da dinâmica cultural do

município. A Festa das Rosas permite a realização de negócios, comercialização de rosas,

muita beleza, festa e alegria. E é nessa perspectiva que se considera esse evento como

uma manifestação artística, posto que revela não apenas a importância dessa atividade

econômica, como a dinâmica transformação da identidade cultural e artística do município,

evidenciada, principalmente, pelo primor das rosas e na paisagem do lugar. A paisagem

modificada pela arte que é feita com as rosas ornamentais. (como pode ser observado nas

fotografias a seguir).

Fotos: NASCIMENTO (2015)

As relações que se dão neste espaço são também de ordem simbólica, posto que há a

necessidade, quase orgânica, de transmissão dos saberes vinculados à produção de rosas

e de realização da festa, a tradição da eleição da rainha e princesa da festa, dos carros

ornamentados. Afinal, todos esses elementos estão atrelados a um conjunto de ideias e

relações complexas, que se revelam, sobretudo, na paisagem, e que se reconfiguram a

partir de uma experiência coletiva modelada por critérios culturais consolidados por meio da

interação do homem com o meio. Essa relação de afetividade surge então, como ressalta

Azevedo (2008, p.35), a partir do “(...) prazer da contemplação da paisagem (que) advém da

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potencialidade de um dado território em fornecer proteção ao indivíduo para ver sem ser

visto ou para se esconder, ou ainda da riqueza de fontes biológicas de abastecimento

humano”.

O sentimento topofílico durante o período que antecede a festa é muito grande. As linhas de

ônibus intraurbanos trazem a logomarca e o convite à festa; há encontros entre histórias,

convivências e sujeitos que unidos em torno de um sentimento, buscam demonstrar a

realidade e a dinâmica socioeconômica que a produção de rosas e sua festa anual

proporcionam aos moradores deste lugar.

O sentimento e a oralidade dão forma à paisagem, que movida à perspectiva espacial e

paisagística no município permite que sejam ratificados os objetivos e desejos da

população. Além disso, o espaço construído (vivido, percebido e sentido) faz a dinâmica

funcional se estabelecer diariamente no município. Nesta paisagem, onde a beleza das

rosas se destaca, há variadas dimensões a serem contempladas: cultural, emocional,

política, simbólica e também de interação, reflexão e ligação entre os seres e os objetos.

Nesse sentido, como ressalta Tuan (2013, p.175), “os acontecimentos simples podem com o

tempo, transformar-se em um sentimento profundo pelo lugar”.

Nessa perspectiva, a paisagem topofílica de Barbacena está relacionada ao sentimento de

pertencimento de seus moradores e à alegria que estes transmitem em relação à festa,

definindo-se a partir do discurso de determinados grupos e suas significações. A festa,

então, ajuda a fixar a memória de seus sujeitos participantes e assim o vínculo com o lugar

e sua paisagem. Além de ser um elemento em que há socialização e muito tem a dizer de

sua dinâmica, a festa das rosas também é arte, posto que os enfeites e ornamentos

superem uma mera exposição, configurando, assim verdadeiras exposições de arte, que

dialogam com a vida e cotidiano das pessoas desse lugar, como pode ser observado na fala

de uma moradora de Barbacena acerca da festa:

A festa nos enche de alegria, nos agrada, nos anima e nos enche de esperança. A cidade fica cheia e é bom para o comércio e o reconhecimento do município. O perfume das rosas e sua beleza satisfaz o ego. A alegria não tem igual, não tem quem não ame uma rosa. O marido chega e te dá uma rosa, eu me derreto toda! A rosa transmite uma beleza e através dela a gente se sente bela (Barbacenense, 70 anos, 2015).

Entretanto, em 2015, como reflexo da crise financeira, não havia muitas expectativas para a

realização de uma grande festa, muito embora, muitos moradores, permanecessem

esperançosos e otimistas em relação à realização dela. Para eles, vivenciar a festa das

rosas é um ato íntimo de harmonia consigo e com o lugar. A festa nesse sentido representa

a renovação, a cada ano, do cultivo das rosas e dos sentimentos atrelados a ela.

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Meus avós amaram este lugar e cuidaram dele como se fosse sua pátria. Um lugar

abençoado e de uma beleza magnífica. As nossas rosas simbolizam toda a beleza

do município de Barbacena. A festa das rosas é muito especial para nós. (Jovem

produtora de rosas, 2015).

Para minimizar os desafios a serem enfrentados, na atualidade, é possível perceber nos

moradores uma grande preocupação e apreensão no que diz respeito à continuidade da

realização da festa, uma tradição na cidade. Esses desafios deverão ser compartilhados e,

dessa forma, com a ajuda de todos serão dissipados. Na verdade, as parcerias entre os

órgãos públicos e a comunidade são importantes. Percebe-se, por meio dos relatos colhidos

em campo, que a comunidade é receptiva e está disposta a fazer a sua parte para o que for

necessário na preservação da festa das rosas. Todavia, sozinhos, os produtores das rosas

não estão conseguindo investir na festa, sobretudo, porque é elevado o valor do aluguel do

parque de exposições e de galpões para o devido armazenamento das plantas, além de

outros detalhes que constituem grandes despesas, para se produzir a festa. Desse modo,

para que a paisagem topofílica se preserve diante de tantas adversidades, na atualidade,

faz-se necessário o apoio da Prefeitura municipal.

A população acredita e está esperançosa acerca de mais investimentos financeiros na festa

das rosas para o próximo ano de 2016. Perspectiva que em 2016 uma grande festa se

realize e que a população possa se alegrar e ratificar ainda mais seu sentimento topofílico.

Além disso, que este sentimento aumente a cada amanhecer no município de Barbacena.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O lugar sob investigação neste trabalho (Município de Barbacena/MG), mesmo com sua

história negativa acerca da loucura, apresenta histórico positivo quanto á produção de rosas,

o que foi observado, sobretudo, nas entrevistas em campo. Deve-se, em grande parte, à

chegada dos imigrantes europeus ao município, ao clima e altitudes favoráveis. A floricultura

se mostrou muito importante no cenário econômico desse município, sobretudo com a vinda

desses imigrantes, se tornando uma das atividades com maior geração de renda e de

empregos para a população. A paisagem está inerente a este substrato socioeconômico e

cultural do município.

A economia de Barbacena especializou-se fortemente no cultivo e produção de rosas,

voltando-se inicialmente para atender a demanda do mercado externo, e, não obstante, à

formação atual de um mercado interno. A beleza das rosas influencia a paisagem, que

também se desvela a partir da arte. Com a implantação de novas técnicas nos processos de

plantio, de colheita, de transporte, e, principalmente, da implantação de sistemas de

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refrigeração, as empresas produtoras conseguiram ampliar a especialização e o

empreendedorismo na produção das mesmas.

A paisagem revelada por meio da arte das rosas de Barbacena também representa a

identidade cultural deste lugar, posto que para além da atividade econômica, há uma

identificação das pessoas com essa nova paisagem construída a partir do plantio de rosas

no município. Característica esta que, para ser preservada é preciso que se conheça,

reconheça, invista, cuide. É patente, conforme apurado no trabalho de campo, a formação

de parceria entre produtores e Prefeitura, na permanência da festa das rosas. Espera-se

que para os próximos anos ocorra maior união entre todos os envolvidos no município para

que não se rompa o laço de harmonia, topofilia, relações afetivas e que as pessoas

permaneçam construindo e sentindo pelo lugar onde vivem esse sentimento de

pertencimento. Ademais, o sentimento topofóbico forte do passado inerente à história do

hospital Colônia fique no (passado) e não apague o sentimento topofílico atualmente

existente.

REFERÊNCIAS

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MACHADO, Lucy Marion Calderini Philadelpho. Paisagem valorizada – A Serra do Mar como espaço e lugar. In: DEL RIO, Vicente, OLIVEIRA, Lívia. Percepção ambiental: A experiência brasileira. 2ª Ed. São Paulo: Studio Nobel, 1999. P. 97-119.

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TUAN,Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente; tradução: Lívia de Oliveira. São Paulo: Difel, 1980.

_________. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente; tradução: Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2012. 342p.

__________. Espaço e lugar: A perspectiva da experiência. Tradução: Lívia de Oliveira. Londrina: Eduel, 2013. 248 pág.