57
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E MERCÚRIO NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis juniae FORTALEZA 2016

Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS

ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO

TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E

MERCÚRIO NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis

juniae

FORTALEZA

2016

Page 2: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO

TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E MERCÚRIO

NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis juniae

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Marinhas Tropicais da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial à obtenção do título de Mestre em

Ciências Marinhas Tropicais. Área de

concentração: Análise de impactos ambientais

da região costeira.

Orientador: Profa. Dra. Letícia Veras Costa-

Lotufo.

Coorientador: Profa. Dra. Susana Loureiro.

FORTALEZA

2016

Page 3: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca Rui Simões de Menezes

D162t Damasceno, Évila Pinheiro.

Toxicidade, toxicocinética e bioacumulação de cádmio e mercúrio nos microcrustáceos marinhos

artemia sp e mysidopsis juniae. / Évila Pinheiro Damasceno. – 2016.

56 f.: il. color., enc. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, Programa

de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Fortaleza, 2016.

Área de Concentração: Utilização e Manejo de Ecossistemas Marinhos e Estuarinos.

Orientação: Profª. Drª. Letícia Veras Costa-Lotufo.

Co-orientação: Profª. Drª. Susana Loureiro

1. Microcrustáceos . 2. Toxicidade 3. Metais. 4. Toxicocinética. I. Título.

CDD 595.3

Page 4: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

ÉVILA PINHEIRO DAMASCENO

TOXICIDADE, TOXICOCINÉTICA E BIOACUMULAÇÃO DE CÁDMIO E MERCÚRIO

NOS MICROCRUSTÁCEOS MARINHOS Artemia sp. E Mysidopsis juniae

Tese ou Dissertação apresentada ao Programa

de Pós-Graduação em Ciências Marinhas

Tropicais da Universidade Federal do Ceará,

como requisito parcial à obtenção do título de

Mestre em Ciências Marinhas Tropicais. Área

de concentração: Análise de impactos

ambientais da região costeira.

Aprovada em: ___/___/______.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________

Profa. Dra. Letícia Veras Costa-Lotufo (Orientadora)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________

Profa. Dra. Susana Loureiro (Co-Orientadora)

Universidade de Aveiro, Portugal (UAVR)

_________________________________________

Prof. Dr. Francisco Wagner da Silva

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE)

_________________________________________

Profa. Dra. Helena Becker

Universidade Federal do Ceará (UFC)

Page 5: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

AGRADECIMENTOS

À FUNCAP, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio.

À CAPES pelo apoio financeiro através do fomento do projeto de pesquisa o qual

meu trabalho se insere.

À Prof. Dr. Letícia Lotufo e à profa. Dra, Susana Loureiro, pela excelente

orientação.

Aos professores participantes da banca examinadora Prof. Dr. Francisco Wagner e

Profa. Dra. Helena Becker por aceitar o convite de compor a banca.

Aos colegas da turma de mestrado, pelas reflexões, críticas e sugestões recebidas.

Aos amigos do laboratório pelo companheirismo e ajuda durante todo o tempo.

Ao Allan, técnico responsável pela manutenção do cultivo de misidáceos, por

tamanha dedicação.

Ao Prof. Dr Jorge Sarkis (IPEN/USP), pelas análises de metais. Além dos

integrantes de seu laboratório, Marcos Hortelani, pela grande ajuda, e Cristina e Mariana.

Page 6: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

“Sweet life must be somewhere to be found”

Bob Marley

Page 7: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

RESUMO

As espécies de crustáceos utilizadas neste estudo Artemia sp. e Mysidopsis juniae são bastante

abordadas na Ecotoxicologia e são caracterizadas por terem baixa e elevada sensibilidade,

respectivamente, à diversos contaminantes. Náuplios de artemias e juvenis de misidáceos

foram expostos a cádmio e mercúrio para analisar toxicidade, através do parâmetro

mortalidade, e toxicocinética e bioacumulação, através da concentração de metal por peso

seco dos organismos teste. A duração dos experimentos foram 48 e 96 h para artemias e

misidáceos, respectivamente, sendo que nos experimentos de toxicocinética e bioacumulação,

os organismos foram transportados na metade do tempo de exposição para água do mar sem

contaminantes para analisar a eliminação de ambos os metais. Artemia sp. teve CL50 com três

ordens de magnitude superiores a Mysidopsis juniae para cádmio e mercúrio, sendo assim

menos sensível aos metais. A aplicação dos modelos cinéticos evidenciou a maior acumulação

de cádmio em relação a mercúrio por Artemia sp., na fase de eliminação, apenas cádmio teve

concentrações em Artemia sp. diminuídas, mercúrio apresentou os mesmos níveis até o fim do

experimento. A análise de bioacumulação mostrou que através da alimentação de Artemia sp,

o mercúrio é mais absorvido em relação à cádmio pelos misidáceos. Os resultados obtidos

neste estudo evidenciaram a alta capacidade do mercúrio ser transferido pela cadeia alimentar

e a elevada persistência. Além disso, a principal via de entrada do cádmio nas duas espécies

analisadas foi através da água.

Palavras-chave: Microcrustáceos. Toxicidade aguda. Toxicocinética. Fator de

bioconcentração.

Page 8: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

ABSTRACT

The species used in this study crustacean Artemia sp. and Mysidopsis juniae are fairly utilized

in Ecotoxicology and characterized by having low and high sensitivity, respectively, to

various contaminants. Artemias nauplii and juveniles mysids were exposed to cadmium and

mercury for analyze their acute toxicity and toxicokinetics and bioaccumulate through the

metal concentration divided by test organisms dry weight. The experiments duration were 48

and 96 h for artemias and mysids, respectively, and on the toxicokinetic experiments and

bioaccumulation, crustaceans bodies were transported at half time of exposure to sea water

without contaminants for analyze the both metals elimination. Artemia sp. LC50 had thee

orders of magnitude greater than Mysidopsis juniae for cadmium and mercury and thus, it was

less sensitive to metals. The application of kinetic models showed the greatest accumulation

of cadmium mercury for Artemia sp.. On the elimination phase, cadmium concentrations in

Artemia sp. decrease, mercury remained on the same levels until the experiment end. The

bioaccumulation analysis showed that thought feeding Artemia sp, mercury is more absorbed

than cadmium. The results of this study showed the mercury be transferred through the food

chain capacity and high persistence. Furthermore, the main cadmium pathway to the

organisms was through the water in the two species examined.

Keywords: Microcrustaceans. Acute toxicity. Toxicokinetics. Bioconconcentration factor.

Page 9: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Artemia sp.: Náuplios de eclosão ............................................................................ 21

Figura 2 – Mysidopsis juniae macho adulto. ............................................................................ 23

Figura 3 – Desenho experimental dos ensaios de acumulação/eliminação de Artemia sp. e

Mysidopsis juniae. .................................................................................................................... 26

Figura 4 - Curva de calibração das massas de 0,5 a 15 ng de mercúrio. .................................. 33

Figura 5 - Curva de calibração das massas de 20 a 300 ng de mercúrio. ................................. 34

Figura 6 – Gráfico relativo à curva de calibração de cádmio. .................................................. 35

Figura 7 – Toxicocinética da exposição de 24h a 50 µg Cd.L-1

em Artemia sp. ...................... 38

Figura 8 - Toxicocinética da exposição de 24h a 5 µg Hg.L-1

em Artemia sp. ........................ 39

Figura 9 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 50 µg Cd.L-1

em Artemia sp. ...................... 40

Figura 10 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 5 µg Hg.L-1

em Mysidopsis juniae. .......... 41

Page 10: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Dados gerais sobre o teste de toxicidade Artemia sp. ............................................. 22

Tabela 2 – Condições de cultivo de Mysidopsis juniae. ........................................................... 23

Tabela 3 - Dados gerais teste de toxicidade de Mysidopsis juniae ........................................... 24

Tabela 4 – Dados gerais do experimento de bioconcentração em Artemia sp.......................... 27

Tabela 5 – Valores certificados e taxas de recuperação do material certificado DORM 2. ...... 35

Tabela 6- Concentrações medidas do material de referencia DORM -4 e suas respectivas taxas

de recuperação. ......................................................................................................................... 36

Tabela 7 - Concentrações letais medianas (CL50) médias em µg.L-1

em Artemia sp. .............. 32

Tabela 8 – Concentrações medidas de cádmio (µg.L-1

) medidas em água do mar durante a os

fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos

para meio sem contaminantes. .................................................................................................. 36

Tabela 9 - Concentrações medidas de mercúrio (µg.L-1

) medidas em água do mar durante a os

fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos

para meio sem contaminantes. .................................................................................................. 37

Tabela 10 – Parâmetros cinéticos k1, k2 de absorção e eliminação, respectivamente, obtidos

através da equação 1 e 2, fator de bioconcentração (FBC) e soma dos quadrados dos resíduos

(SQ) de Artemia sp. .................................................................................................................. 39

Tabela 11 - Parâmetros cinéticos kágua, kartemia e k2, contante de eliminação, em Mysidopsis

juniae e a soma dos quadrados dos resíduos (SQ) obtidos através das equações de

bioacumulação 4 e 5. ................................................................................................................ 41

Tabela 12 - Valores de CL50 de cádmio para diversas espécies de invertebrados marinhos e

estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h. ................................................ 44

Tabela 13 - Valores de CL50 de mercúrio para diversas espécies de invertebrados marinhos e

estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h. ................................................ 46

Page 11: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 11

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 20

2.1 Objetivo geral .................................................................................................................... 20

2.2 Objetivos específicos ......................................................................................................... 20

3 MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................. 21

3.1 Reagentes e soluções ......................................................................................................... 21

3.2 Experimentos de toxicidade aguda ..................................................................................... 21

3.2.1 Artemia ............................................................................................................................ 21

3.2.2 Mysidopsis juniae ............................................................................................................ 23

3.2 Experimentos de bioconcentração .................................................................................... 25

3.3 Experimentos de bioacumulação ...................................................................................... 25

3.3 Quantificação de metais .................................................................................................... 28

3.3.1 Mercúrio .......................................................................................................................... 28

3.3.2 Cádmio ............................................................................................................................ 28

3.4 Análise estatística ............................................................................................................... 29

4 RESULTADOS ................................................................................................................... 32

4.1 Toxicidade aguda ............................................................................................................... 32

4.2 Bioconcentração de cádmio e mercúrio............................................................................ 33

4.2.1Curvas de calibração e validação do método de análise de cádmio e mercúrio ............. 33

4.2.2 Toxicocinética de Artemia sp. .......................................................................................... 36

4.2.3 Bioacumulação em Mysidopsis juniae ............................................................................ 40

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 42

6 CONCLUSÃO ...................................................................................................................... 49

Page 12: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

11

1 INTRODUÇÃO

Nos últimos séculos, as atividades humanas, como industriais, agrícolas e o uso de

transporte motorizado, que lançam resíduos químicos de potencial impactante para o ambiente,

foram intensificadas e diversificadas drasticamente. Muitas destas substâncias quando

liberadas no meio ambiente são transportadas através dos corpos hídricos e têm como destino

final o mar.

As áreas costeiras marinhas, além de receberem alta carga de contaminantes

através dos rios, concentram a maior parte de habitantes do mundo, sendo de suma

importância para os seres humanos por prover recursos alimentares e matéria prima, ademais

propiciam áreas de recreação e transporte. Com tamanha intervenção humana, os ecossistemas

costeiros são continuamente e intensamente estressados (USERO et al., 2005; WAYCOTT et

al., 2009).

As ações impactantes do homem nas áreas costeiras se contradizem em relação à

sua importância ecológica. Os ecossistemas de costa têm imensa relevância ambiental, por

abrigar diversos táxons e serem fundamentais na reposição de espécies de peixes e crustáceos

oceânicos, importantes comercialmente e ecologicamente. Além disso, é zona chave no ciclo

reprodutivo de vários organismos, sendo área de berçário de muitas espécies

(NAGELKERKEN et al., 2015). Sendo assim, a porção costeira é a mais sensível da

plataforma continental aos impactos ambientais, incluindo os causados pelo despejo de

contaminantes nos corpos aquáticos (LAFABRIE et al., 2007).

As zonas de costa vêm historicamente recebendo altas cargas de poluentes com a

justificativa de que têm alto poder de dissolução e de resiliência, gerando um falso sentimento

de segurança, levando a acreditar que os mares podem ser usados ilimitadamente na

eliminação de resíduos. No entanto, o ambiente tem um limite de capacidade de recuperação a

perturbações, tanto que há zonas, incluindo costeiras, fortemente poluídas em todo o mundo

(MUNIZ; VENTURINI; BROJA, 2015).

Dentre as muitas classes de contaminantes, possivelmente a que tem presença

mais comum em áreas poluídas é a dos metais (JOYEUX; CAMPANHA FILHO; JESUS,

2004), por isso, nas últimas décadas, criou-se uma preocupação mundial em torno dos metais.

Porém, no Brasil, o nível de poluição pelos metais não alcançou a mesma proporção em

relação aos países desenvolvidos, mesmo assim há interesses em prevenir futuros problemas

ambientais causados pelos metais pesados (BARBIERI, 2009).

Page 13: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

12

Esses são importantes poluentes, pois têm alta tendência de se acumularem nos

tecidos dos organismos e são persistentes por longo tempo devido à sua estabilidade química

e baixa biodegradabilidade. Por isso, os metais oferecem riscos aos humanos, já que ao serem

bioacumulados, podem ser transferidos pela cadeia trófica, até serem absorvidos pelos

predadores de topo (MISHA; TRIPATHI, 2008).

Neste trabalho, serão abordados os efeitos tóxicos e a toxicocinética de dois

metais pesados: cádmio e mercúrio que têm ocorrência natural em todo o mundo. Ambos têm

distribuição no ambiente marinho, estudada através de fracionamento isotópico, que fornece

informações para o melhor entendimento de seus processos biogeoquímicos. As maiores

concentrações de cádmio encontram-se em massas de água mais profundas (>900 m), já que o

metal é associado à remineralização da matéria orgânica. Rippeger e colaboradores (2007)

quantificaram cádmio no Oceano Atlântico e Pacífico em diferentes profundidades e as águas

rasas tiveram concentração de aproximadamente 2 ng.L-1

, em águas oceânicas rasas e 30 e

100 ng.L-1

de altas profundidades do Oceano Atlântico e Pacífico, respectivamente.

O mercúrio se distribui em águas marinhas de maneira diferente. Em águas

profundas, o metal é menos concentrado, esse perfil vertical do metal é relacionado com a

deposição atmosférica de mercúrio (FITZGERALD; LAMBORG; HAMMERSCHMIDT,

2007). Fu (2010) encontrou a concentração média de mercúrio de 1,2 ng.L-1

em águas rasas

oceânicas do norte da China, uma das regiões de maior emissão do metal (SELIN et al., 2008).

As concentrações naturais de ambos os metais têm escala menor do que outros

metais essenciais envolvidos em processos bióticos. Porém atividades humanas vêm

incrementando níveis de cádmio e mercúrio em escalas locais, regionais e globais (GREEN;

LEADER; KÜNITZER, 2003).

O cádmio de origem antrópica atinge o ambiente proveniente de atividades

agrícolas, através da aplicação de fertilizantes, esgotos urbanos, pesticidas e resíduos de

veículos automotivos (NABULO; ORYEM-ORIGA; DIAMOND, 2006; ZHAI et al., 2008).

Dentre os metais, o cádmio é um dos que apresenta maior mobilidade no ambiente aquático e

maior absorção pelos organismos (NABULO; ORYEM-ORIGA; DIAMOND, 2006). Assim

como o mercúrio, o cádmio era caracterizado por não atuar em processos biológicos, porém,

foi constatado que o metal é essencial na captação de sílica por diatomáceas (MOREL;

PRICE, 2003).

O mercúrio ainda é amplamente utilizado pelo homem, sendo principalmente

descartado no ambiente pela mineração, queima de carvão, produção de cimento e refino de

óleo (UNEP, 2013). É emitido por fontes naturais e antrópicas principalmente na forma

Page 14: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

13

elementar, Hg0, que é facilmente volatilizada, permitindo sua dispersão a longas distâncias,

tanto que foi detectado em zonas extremas, como no Oceano Ártico (FISHER et al., 2012). Os

níveis de emissão de mercúrio vêm crescendo em graus alarmantes, as concentrações

atmosféricas do metal dobraram em relação à era pré-industrial e sua deposição aumentou de

duas a quatorze vezes em relação aos níveis pré-industriais (AMOS et al., 2013). Apenas no

ano de 2010, foram emitidas por via antrópica 1960 toneladas de mercúrio e a tendência é que

esse número tenha aumentado (UNEP, 2013).

Cádmio e mercúrio têm grande relevância para os estudos ecotoxicológicos por

serem elementos de alta toxicidade (BARBIERI, 2009; CASTAÑÉ et al., 2003). Um dos

grupos de organismos mais vulneráveis a esses estressores são os invertebrados (SARMA,

2000), que quando expostos a altas concentrações, apresentam alterações em seus processos

fisiológicos e bioquímicos, como na transmissão dos impulsos nervosos e em atividades

enzimáticas (CASTAÑÉ et al., 2003). Umas das causas disso seria a competição iônica com o

cálcio, elemento essencial na regulação homeostática, visto que este tem raio atômico similar

e mesma valência em relação a cádmio e mercúrio (REILEY, 2007).

Após ultrapassar os canais de cálcio na membrana celular, o cádmio pode se ligar

a biomoléculas, ser acumulado ou ser depositado em compartimentos subcelulares, onde

talvez sofra transformação ou eliminação metabólica. Para remover cádmio, proteínas com

alta afinidade ao metal, como glutationa e metalotioneínas garantem o fluxo de saída do

cádmio da célula (CHANDRAN et al., 2005). Quando não eliminado, o metal causa danos

celulares ao inibir a transferência eletrônica nas mitocôndrias e produzir espécies reativas do

oxigênio (ROS) que causam o estresse oxidativo celular e consequentemente danos como

peroxidação de lipídios e danos no DNA (CHELOMIN et al., 2005). Estes efeitos tóxicos

causados pelo cádmio foram constatados em vários táxons de organismos marinhos, como

peixes, bivalves e crustáceos (CHANG et al., 2009).

O mercúrio é tóxico a crustáceos em concentrações pouco acima do nível natural.

Seus efeitos nos organismos marinhos já foram descritos por diversos estudos, dentre eles

mortalidade, e danos subletais, como anormalidades no desenvolvimento embrionário,

inibição da acetilcolinesterase, que afeta a transmissão de impulsos nervosos, dentre outros

(ELUMALAI et al., 2007). A forma mais tóxica desse metal, naturalmente, é produzida em

ambientes aquáticos, o metilmercúrio é uma neurotoxina extremamente forte e tem alto poder

de bioacumulação e transferência através da cadeia trófica (FISHER et al., 2012; UNEP,

2013).

Page 15: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

14

A bioacumulação ocorre quando há aumento da concentração de substâncias nos

organismos, é uma característica tanto de mercúrio quanto de cádmio e considerada como um

bom indicador de exposição a estressores químicos em indivíduos habitantes de ecossistemas

poluídos. A bioacumulação existe quando a taxa de captação supera a de eliminação, sendo

assim, a concentração de substâncias nos organismos depende dos processos associados a

absorção, metabolização (desintoxicação) e excreção (ROESIJADI, 1992).

A relação entre bioacumulação e toxicidade não é simples, e efeitos tóxicos são

resultados de influências de condições geoquímicas e biológicas nos contaminantes

acumulados. Então, a toxicidade seria causada pela forma como as substâncias são

sequestradas do material bioacumulado (LUOMA; RAINBOW, 2005).

O processo de bioacumulação tem entendimento complexo, visto que há

diferentes formas de entradas de assimilação dentre as espécies aquáticas, podendo ser via

solução, através de contato superficial direto ou via alimentação e consequente retenção de

tecido ou órgão contaminado (LUOMA; RAINBOW, 2005). Sendo assim, este trabalho

considerou também o conceito de bioconcentração, que se refere à acumulação de substâncias

apenas através da água, enquanto a bioacumulação ocorre através de as fontes bióticas do

ambiente, ou seja, alimento, ou da combinação de ambas as vias (GRAY, 2002).

Quando absorvidos, os metais passam por processos diferentes de acordo com a

entrada no organismo. Em invertebrados, a captação de metais dissolvidos do meio externo é

feito principalmente pelas brânquias, onde ocorre indução de proteínas sequestradoras de

metais, as denominadas metalotioneínas. Enquanto que metais ingeridos se ligam às

metalotioneínas logo na glândula digestiva e então são transportados para outros órgãos

(ROESIJADI, 1992).

As metalotioneínas são proteínas participantes de processos saudáveis da célula,

sua função é de transportar metais essenciais que são úteis em reações importantes, como o

zinco, componente de diversas enzimas de invertebrados marinhos (EMERSON; HEDGES,

2008). Além disso, as metalotioneínas também têm função de desintoxicação, elas evitam

efeitos tóxicos devido à alta afinidade a metais traço não essenciais, como cádmio e mercúrio,

por conta da forte atração desses metais a enxofre, componente das metalotioneínas

(RAINBOW, 2002). Outra forma de desintoxicação é a formação de grânulos de metais

dentro das células, que ficam armazenados em compartimentos residuais (BARKA, 2007).

Estas técnicas de proteção contra efeitos deletérios de metais, produção de

proteínas sequestradoras de metais e formação de grânulos permitem a sobrevivência do

organismo, porém geram impacto. Essas medidas têm alto custo energético, perturbando

Page 16: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

15

crescimento e reprodução dos organismos, podendo ser expandido a níveis superiores de

organização, como populações e comunidades (DELEEBEECK et al., 2007).

Para facilitar a compreensão de como ocorre a absorção, a distribuição e a

eliminação de substâncias, foram elaborados modelos toxicocinéticos que correspondem a

caracterização matemática de tais processos. Esses modelos fornecem a previsão das

concentrações de substâncias no organismo em função do tempo de exposição e da

concentração em meio externo (BARRON; STEHLY; HAYTON , 1990).

Os modelos cinéticos têm sido utilizados com êxito pela farmacologia por décadas

e foram incorporados por estudos ambientais sobre sistemas aquáticos há alguns anos. Porém,

há dificuldades nessa relação, e a maior delas é a quantidade de parâmetros usados nos

modelos farmacológicos, no entanto, se houver informações suficientes, modelos cinéticos

podem prover previsão de acumulação tanto para exposições simples e curtas, quanto para

exposições de várias rotas de captação (LANDRUM; LEE; LYDY, 1992).

Um dos tipos de modelos cinéticos mais aplicados são os compartimentais. Sua

definição é dada como a descrição matemática simplificada do comportamento de uma

substância química em um ou mais compartimentos de um animal. Um compartimento não

significa a delimitação de órgãos ou tecidos específicos, e sim grupos de tecido/órgãos que

são distinguíveis cineticamente para cada substância. O modelo utilizado neste presente

estudo considera apenas um compartimento, que assume uma teórica distribuição homogênea

de certa substância pelo corpo do organismo (BARRON et al., 1990).

Os padrões de acumulação e eliminação de metais que serão abordados neste

trabalho nos permite o melhor entendimento das estratégias dos organismos a fim de conter os

efeitos tóxicos dos metais e fornecer informações sobre a fisiologia das espécies estudadas.

A ciência criada para estudar esses efeitos tóxicos no meio ambiente, com

objetivo de mitigar e prevenir impactos com intuito de recuperar e preservar ecossistemas, é

denominada ecotoxicologia. Em países desenvolvidos, como europeus e norte americanos, por

conta do desenvolvimento das leis regulatórias, a ecotoxicologia é mais avançada, porém

ainda há muito o que fazer; há vários programas de monitoramento de áreas poluídas que

evidenciam novas substâncias de antes potencial tóxico desconhecido (VAN STRAALEN,

2003). No Brasil, as leis ambientais vigentes têm sido questionadas com o argumento de que

esforços mais vigorosos são necessários, visto que os limites de contaminantes legalmente

previstos não correspondem às capacidades de suporte de seus ecossistemas.

Há três resoluções ambientais brasileiras, a primeira, CONAMA N° 344/2004

regula procedimentos mínimos para avaliação do material dragado. A seguinte, CONAMA N°

Page 17: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

16

357/2005 apresentou um relevante avanço em relação à proteção dos sistemas aquáticos, pois

nela estão inseridas condições e padrões para lançamento no meio aquático diferenciando

corpos d’água doces e salgados e com exigência de caracterização ecotoxicológica. Assim

como a resolução CONAMA N° 363/2007 que exige monitoramento de águas de processo de

plataformas marítimas. Porém, apenas em 2011 através da resolução CONAMA N°430,

importantes definições para ensaios ecotoxicológicos como CL50, concentração letal mediana,

CE50, concentração efetiva mediana, e CENO, concentração de efeito não observado, foram

abordadas na legislação brasileira.

A ecotoxicologia foi criada por especialistas em Toxicologia, que se restringe a

tratar humanos, com interesses no meio ambiente. Consequentemente, muitos conceitos

utilizados na farmacologia foram importados para a ecotoxicologia, como descrito

anteriormente. Exemplos desses são: análise da relação dose-resposta, estimativa de

concentração de efeito e mortalidade (CE50 e CL50) e testes ecotoxicológicos (VAN

STRAALEN, 2003).

Tais testes ecotoxicológicos são instrumentos eficientes usados pelos

ecotoxicologistas para avaliar a toxicidade de agentes químicos e a qualidade da água ou

sedimento, dessa maneira, podem servir de base na elaboração de limites permissíveis de

contaminantes no ambiente (ARAGÃO; ARAÚJO, 2006).

De forma geral, os testes ecotoxicológicos são classificados em agudos e crônicos.

Ensaios agudos são realizados em curto período exposição comparados ao ciclo de vida dos

organismos, e o efeito observado é ríspido, geralmente mortalidade. A grosso modo, testes

crônicos têm duração mais longa em relação aos agudos, e seus parâmetros são sub-letais,

como alterações na reprodução e crescimento (WALLER; ALLEN, 2008).

Neste trabalho, foram realizados testes ecotoxicológicos agudos com duas

espécies de microcrustáceos, grupo taxonômico bem utilizado na ecotoxicologia aquática,

dentre as vantagens de seu uso, se destacam a facilidade de obtenção, rapidez do ciclo de vida

e reprodutibilidade entre os testes. Além disso, o pequeno porte dos animais é bastante

vantajoso, pois seus ensaios são de baixo custo, de rotina simples e de métodos práticos e

seguros (VANHAECKE; PERSOONE, 1981).

Os táxons utilizados neste estudo foram os microcrustáceos Artemia e Mysidopsis

juniae. O primeiro táxon, bem abordado na ecotoxicologia marinha há algumas décadas, tem

distribuição geográfica bastante difundida pelo mundo todo devido à sua característica

considerada incomum de suportar condições extremamente adversas, principalmente regiões

hipersalinas. Sendo assim, espécies de Artemia levam vantagem onde habitam por não haver

Page 18: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

17

presença de predadores (NUNES et al., 2006). No Brasil, sua dispersão é relacionada às

atividades de aquicultura e produção de sal, essa última devido à capacidade de sobrevivência

em ambientes hipersalinos. A espécie Artemia franciscana foi registrada em dispersos pontos

na costa litorânea do Ceará, desde o extremo leste, Icapuí, até o estremo oeste, Camocim

(CAMARA, 2012).

Artemia é um microcrustáceo filtrador obrigatório, o gênero se alimenta de

bactérias, algas unicelulares, pequenos protozoários e detritos em solução (REEVE, 1963). O

gênero é constituído por seis espécies bissexuais com grande número de populações

partogênicas, uma estratégia de reprodução, assim como a formação de cistos, que permite a

manutenção do embrião por muito tempo em condições adversas. Além disso, Artemia se

adapta a um grande intervalo de salinidade (5-250) e, sobrevive em diferentes temperaturas

(6-35°C) (NUNES et al., 2006).

Além disso, também há vantagens laboratoriais no uso de Artemia, sua menor

escala de testes requer pequenos volumes de água do mar e pouco espaço, além de produzir

resíduos em pequenas quantidades (Nunes et al., 2006).

O gênero do microcrustáceo Artemia (Crustacea; Anostraca) tem intensa

utilização em diversas áreas como Aquicultura, Ecologia e Genética, o que provém

importantes informações gerais sobre o táxon para sua utilização na Ecotoxicologia. Dentre as

características do gênero Artemia que o torna bastante aplicável em ensaios ecotoxicológicos,

são: relevância ecológica, ciclo de vida curto, pequeno tamanho e alimentação não seletiva, o

que assegura a assimilação dos organismos a todos os contaminantes expostos, o que prova a

adequabilidade do uso do táxon em ensaios ecotoxicológicos, mesmo sendo ausente na

maioria dos ecossistemas marinhos.

A outra espécie utilizada por este estudo é Mysidopsis juniae, pertencente da

família Mysidae, bem discutido em trabalhos ecotoxicológicos, onde o Mysidopsis bahia, por

exemplo, foi utilizado num ensaio crônico padronizado pela USEPA. O próprio Mysidopsis

juniae tem sido utilizado em ensaios de toxicidade crônica e aguda no Brasil, esse último com

protocolo normatizado pelo órgão brasileiro ABNT em 2011.

Uma característica distintiva do táxon é que por pertencerem à ordem Peracarida,

é a presença de marsúpio, uma bolsa incubadora que tem função de abrigos para os filhotes

carregados pelas fêmeas adultas. Os misidáceos se reproduzem sexuadamente, os ovos são

produzidos e transportados do oviduto para o marsúpio onde ocorre a fertilização e o

desenvolvimento dos imaturos iniciando pelas fases embrionárias, larval e pós-larval. Quando

Page 19: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

18

o desenvolvimento marsupial se completa, os filhotes são liberados da bolsa na fase juvenil

(WITTMANN, 1981).

Os misidáceos habitam ambientes costeiros e estuarinos e ocupam uma posição

de grande relevância ecológica. Além de ser o táxon de maior abundância entre o as

comunidades suprabentônicas, têm papel importante nos ambientes que habitam por

servirem de alimento para outras espécies nas primeiras fases de vida. O gênero é

considerado omnívoro, se alimentando geralmente de detritos, algas e zooplâncton, a

escolha seletiva de suas presas ocorre a ponto de determinar comunidades zooplantônicas

(VILAS; DRAKE; FOCKEDEY; 2008).

Os misidáceos (Crustacea; Mysidae) são microcrustáceos amplamente

utilizados em estudos ecotoxicológicos devido a várias características favoráveis para este

tipo de uso, como alta sensibilidade a várias classes de contaminantes, cultivo de manuseio

fácil, desenvolvimento direto e ciclo de vida curto.

Esses dois táxons, náuplios de Artemia sp. e juvenis de Mysidopsis juniae, foram

os organismos-teste utilizados neste trabalho com objetivo de analisar a toxicidade aguda de

cádmio e mercúrio, expressa através de CL50 e CENO.

Posteriormente, foi avaliada a toxicocinética e bioacumulação dos metais para

artemias e misidáceos através de modelos de um compartimento com cinética de primeira

ordem que permitem estipular as taxas de assimilação e eliminação dos metais nesses

crustáceos sob exposição ao CENO de cada metal e após transposição para água do mar sem

contaminantes. A finalidade deste estudo foi de comparar e analisar e comparar a absorção de

eliminação de cádmio e mercúrio em Artemia sp. e, bem como a absorção dos metais via

alimento por Mysidopsis juniae.

Nos primórdios da ecotoxicologia, os metais eram experimentados principalmente

para se observar efeitos agudos (BRUCE, 1985; SLOOF; CANTON; HERMES, 1983). Com

o avanço dos estudos ecotoxicológicos, os modos de ação de vários contaminantes, inclusive

metais, foram sendo esclarecidos e as causas da mortalidade e também de efeitos sub-letais

foram sendo conhecidos. Além disso, modelos bem utilizados na farmacologia foram

importados com êxito para estudos ambientais permitindo o melhor entendimento do

comportamento nos metais quando incorporados pela biota marinha

(BARRON;STTEHLY;HAYTON, 1990).

Page 20: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

19

Com tantas ferramentas de análise química e de caracterização matemática, vários

trabalhos sobre toxicocinética em sistemas marinhos surgiram nos últimos anos. Porém, a

maioria analisou organismos de regiões temperadas e polares, a abordagem com espécies

tropicais é escassa, o que exibe uma lacuna de conhecimento, já que animais de climas

quentes têm metabolismo diferente e, portanto, interagem com os contaminantes de forma

distinta.

Neste trabalho, os táxons de microcrustáceos utilizados, a cosmopolita Artemia sp.

e a nativa do Brasil Mysidopsis juniae. Ambos foram eleitos para análise pela facilidade em

obtenção e cultivo, importância na cadeia alimentar e reduzida escala de teste. Além disso, a

sensibilidade a metais traço dos misidáceos é uma condição vantajosa na análise da toxicidade

aguda e, por outro lado, a alta capacidade de acumulação de metais e a resistência das

artemias são fatores positivos para analisar a bioacumulação de cádmio e mercúrio em dois

níveis da cadeia alimentar (VILAS; DRAKE;FOCKEDEY, 2009).

Page 21: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

20

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Avaliar a toxicidade, toxicocinética e bioacumulação de cádmio e mercúrio nos

microcrustáceos marinhos Artemia sp. e Mysidopsis juniae.

2.2 Objetivos específicos

2.2.1 Analisar a toxicidade aguda dos metais cádmio e mercúrio em Artemia sp. e

Mysidopsis juniae

Determinar a relação dose-resposta aguda para cádmio e mercúrio;

Determinar o CEO, concentração de efeito observado, e CENO, concentração de

efeito não observado, para cada organismo e metal;

Definir a concentração letal para 50% da população exposta para cádmio e mercúrio.

2.1.2 Avaliar o comportamento toxicocinético dos metais cádmio e mercúrio em Artemia sp.

e Mysidopsis juniae

Determinar teores de cádmio e mercúrio em Artemia sp. e Mysidopsis juniae sob

exposição a esses metais em diferentes períodos, via exposição a água;

Determinar as constantes de assimilação e eliminação de cádmio e mercúrio em

Artemia sp. e Mysidopsis juniae durante a exposição e após a transferência para meio

desprovido de contaminantes.

2.1.3 Avaliar a bioacumulação dos metais cádmio e mercúrio em Mysidopsis juniae através

de alimento contaminado (Artemia sp.)

Analisar a transferência de cádmio e mercúrio de Artemia sp. para Mysidopsis juniae

através da alimentação

Page 22: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

21

3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Reagentes e soluções

O cloreto de mercúrio, HgCl2, (CAS 7387-94-7) e o cloreto de cádmio, CdCl2,

(CAS 10108-64-2) foram adquiridos da Sigma-Aldrich Co. (St. Louis, MO, USA). Tais produtos

foram diluídos em água pura mili-Q para o preparo das soluções-estoque para os bioensaios, nas

concentrações de 9,0 g.L-1 para o cádmio e 2,5 g.L-1 para o mercúrio. A solução estoque foi

acrescida de ácido nítrico a 1% atingindo pH 2 para prevenir a precipitação dos metais e mantidas

a 4°C.

3.2 Experimentos de toxicidade aguda

3.2.1 Artemia

Náuplios de artemia (Artemia sp.) foram obtidos por meio de cistos comerciais de

artemia (Bio Artemia – Grossos, RN, Brasil) no Laboratório de Ecotoxicologia Marinha da

Universidade Federal do Ceará (Figura 1).

Figura 1 – Artemia sp.: Náuplios de eclosão

recente (esquerda) e de após 24 horas (direita).

Fonte: Virginia State University (2009).

Inicialmente, os cistos foram imersos em água destilada com aeração por

uma hora na etapa de hidratação que tem objetivo de reativar o metabolismo interno dos

cistos; posteriormente, a água destilada foi trocada por 100 mL de solução de hipoclorito de

sódio, NaClO, (2,5%) permitindo a desencapsulação sob vigorosa agitação.

Este procedimento foi interrompido a partir da mudança de cor dos cistos, de

marrom para laranja, sendo o hipoclorito de sódio f totalmente retirado por lavagem com

água destilada. Os resíduos de cistos flutuantes foram retirados com água do mar filtrada e

Page 23: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

22

em aeração constante em um funil de separação, onde os cistos completaram sua eclosão e

atingiram a fase náuplio I e náuplio II após 24 h e 48 h, respectivamente.

Os experimentos agudos foram realizados em placas estéreis de 24 cavidades.

Em cada cavidade foram inseridos 10 náuplios de Artemia sp., solução de cádmio ou de

mercúrio e água do mar natural, completando o volume final de 2,5 mL. Os testes tiveram

concentrações de 40 a200 µg.L-1

para cádmio e 10 a 500 µg.L-1

para mercúrio e foram

realizados em triplicata, com duração total de 48 h (Tabela 1).

Tabela 1 – Dados gerais sobre o teste de toxicidade Artemia sp.

Recipiente de experimento Placa estéril de 24 cavidades

Volume final 2,5 mL

Água de diluição Água do mar filtrada (0,8µm)

Idade dos náuplios no início do

experimento

48 h

Náuplios por cavidade 10

Temperatura 25°C

Fotoperíodo 12 h luz : 12 h escuro

Duração 48 h

Efeito observado Mortalidade

Aceitabilidade Porcentagem de mortos no controle

menor que 10%

Alimentação -

Duração 48 h

Page 24: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

23

3.2.2 Mysidopsis juniae

Os organismos-teste usados nos experimentos deste estudo foram obtidos do

cultivo do Laboratório de Ecotoxicologia Marinha da Universidade Federal do Ceará. (Figura

2).

Figura 2 – Mysidopsis juniae macho adulto.

Fonte: Cebimar, USP.

Os misidáceos foram cultivados de acordo com as condições presentes na

Tabela 2. A água do mar contida nos aquários foi filtrada na bomba a vácuo (TECNAL

modelo TE-058) com salinidade ajustada para 35 com adição de água destilada. A cada

semana, ocorreu a troca de 25% de água de cada aquário, assim como a contagem dos

juvenis gerados e o reestabelecimento da proporção de fêmeas e machos (45:15,

respectivamente), para casos de eventuais mortes de adultos. Diariamente, os misidáceos

foram alimentados por náuplios de Artemia sp. de 72 horas com as últimas 24 horas com

meio enriquecido com óleo de fígado de bacalhau e ômega 3, a fim de acelerar o

desenvolvimento gonadal dos misidáceos.

Tabela 2 – Condições de cultivo de Mysidopsis juniae.

Recipiente de cultivo Aquários de 10 litros

Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)

Troca de água Mensalmente: 100%

Semanalmente: 25%

Proporção sexual por aquário 45 fêmeas: 15 machos

Salinidade 35

Temperatura 25 ± 2°C

Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro

Aeração Constante e suave

Alimentação Náuplios de Artemia sp. Fonte: elaborada pela autora.

Page 25: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

24

Os experimentos foram realizados de acordo com a norma padronizada NBR

15.308 da ABNT de 2011 (ABNT, 2011). O padrão de ensaio incluiu as condições, como

fotoperíodo, temperatura e salinidade que foram as mesmas das de cultivo (Tabela 3). As

concentrações utilizadas tiveram valores entre 5 µg.L-1

e 5000 µg.L-1

para cádmio e 0,05

µg.L-1

até 50 µg.L-1

para o mercúrio. Para cada metal, foram feitos quatro experimentos. A

cada 24 h, o número de mortos foi registrado, assim como foi fornecido náuplios de Artemia

sp. para os misidáceos.

As variáveis físico-químicas da solução de teste, pH e oxigênio dissolvido, foram

medidas após o encerramento do teste (96 h) em ou quando mortalidade total nas três réplicas

de uma concentração antes da contagem no período final.

Tabela 3 - Dados gerais teste de toxicidade de Mysidopsis juniae

Tipo de experimento Estático; Sem renovação de água

Volume por réplica 300 mL

Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)

Salinidade 35

Temperatura 25°C

Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro

Recipiente de experimento Béqueres 400 mL

Idade dos misidáceos no início do

teste

1-8 dias

Misidáceos/réplica 10

Réplicas/concentração 3

Alimentação diária Náuplios Artemia sp. 24 h

Aeração -

Page 26: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

25

3.2 Experimentos de bioconcentração

Foram realizados quatro experimentos com Artemia sp. e Mysidopsis juniae,

sendo dois para cádmio e dois para mercúrio para cada espécie. Cada teste foi executado com

concentração única, equivalente aos valores de CENO dos misidáceos (Concentração de

efeito não observado) separadamente para cada metal, sendo 50 µg Cd.L-1

e5 µg Hg.L-1

.

Os ensaios com Artemia sp. tiveram maior escala em relação ao teste agudo para

que a massa amostrada fosse suficiente para permitir as análises químicas. Os testes foram

executados em soluções de água do mar acrescidas de cádmio e mercúrio em volumes totais

de 300 mL com cerca de 3000 náuplios de Artemia sp.

Partindo do início da exposição, após 1,5; 3; 4,5; 6; 9; 12 e 24 h, três réplicas de

solução para cada período de tempo foram filtradas em malha e as amostras de artemias foram

congeladas ainda com vida na temperatura de -20°C. Com 24 h de exposição, as réplicas

restantes tiveram suas soluções contaminadas trocadas por água do mar isenta de cádmio e

mercúrio. Após 2; 8; 12 e 24 h deste procedimento, os náuplios filtrados foram congelados

também a -20°C.

3.3 Experimentos de bioacumulação

Os experimentos de bioconcentração de misidáceos ocorreram de forma similar.

As concentrações de exposição de cádmio e mercúrio também corresponderam ao CENO de

cada metal para os misidáceos. A duração total do experimento teve 96 h, sendo as primeiras

48 h de exposição aos metais. Nesse estágio, foram alimentados com artemia no estágio

náuplio II (48 h de eclosão) que haviam passado suas últimas 24 h em exposição também as

CENO dos misidáceos. Após as 48 h de exposição, os misidáceos foram transferidos para

água do mar sem contaminantes e foram alimentados por náuplios de artemia livre de metais.

Após 1,5; 3; 4,5; 6; 9; 12; 24; 36 e 48 h de exposição aos metais, três réplicas de

solução para cada período de tempo foram filtradas em malha e as amostras de misidáceos

foram congeladas ainda com vida na temperatura de -20°C. Com 48 h de exposição, as

réplicas restantes tiveram suas soluções contaminadas trocadas por água do mar isenta de

cádmio e mercúrio. Após 12; 24; 36 e 48 h deste procedimento, os misidáceos filtrados foram

congelados também a -20°C.

Os desenhos experimentais para os ensaios com Artemia sp. e Mysidopsis juniae

encontram-se esquematizados na Figura 3.

Page 27: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

26

Meio Com

Metais 50 µg

Cd.L-1

5 µg

Hg.L-1

Meio Livre

de metais

0 1,5

3 4,5

6

9

12

24 26

32

36

48

Troca de

solução

teste

0 1,5 4,5

6

9

12

24

36

48

60

72

96

3

84

Períodos de amostragem (h)

Artemia sp.

Mysidopsis juniae

Alimentação: Náuplios Artemia sp. expostos por 24

hrs a

50 µg Cd.L-1

ou

5 µg Hg.L-1

Alimentação: Náuplios Artemia sp.

livres de metais

Meio Com

Metais 50 µg

Cd.L-1

5 µg

Hg.L-1

Meio Livre

de metais

Troca de

solução

teste

Alimentação: Náuplios Artemia sp.

expostos por 24 h a

50 µg Cd.L-1

ou

5 µg Hg.L-1

Alimentação: Náuplios Artemia sp.

livres de metais

Figura 3 – Desenho experimental dos ensaios de acumulação/eliminação de

Artemia sp. e Mysidopsis juniae.

Page 28: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

27

As condições externas foram as mesmas dos experimentos agudos com Artemia

sp. e Mysidopsis juniae e os parâmetros físico-químicos, pH e salinidade, foram registrados ao

fim da exposição em todos os períodos de tempo de exposição. Alíquotas de solução teste

foram armazenadas acidificadas e em baixa temperatura para posterior quantificação de

cádmio e mercúrio.

Amostras de solução teste de artemias e misidáceos foram acidificadas com ácido

nítrico (1%) e armazenadas em baixa temperatura (0°C) após os experimentos para posterior

quantificação de metais. Réplicas do início do teste (t = 0 h), do fim após a transferência dos

crustáceos para meio sem metais e do controle foram escolhidas para análise. As soluções

brutas com mercúrio foram analisadas, ou seja, não passaram por qualquer tratamento antes

da análise pelo detector de mercúrio. Já as amostras contendo cádmio foram diluídas para

evitar que os íons do sal marinho não interferissem no plasma do ICP-MS.

Tabela 4 – Dados gerais do experimento de bioconcentração em Artemia sp.

Tipo de experimento Estático

Volume por réplica 300 mL

Água de diluição Água do mar filtrada (0,8 µm)

Salinidade 35

Temperatura 25°C

Fotoperíodo 12 h luz: 12 h escuro

Recipiente de experimento Béqueres 400 mL

Idade dos náuplios no início do teste 24 h

Náuplios/réplica 3000

Réplicas/período de exposição 3

Aeração -

Posteriormente, as amostras de misidáceos e artemias foram descongeladas e as

soluções-teste que acompanhavam os animais foram substituídas por água mili-Q, essa troca

foi repetida três vezes a fim de remover resíduos de metais nos organismos. As amostras

foram recongeladas e posteriormente secadas a frio por 12 horas, através do liofilizador (L

101 Liotop). A liofilização foi escolhida como método de secagem por conservar o corpo dos

crustáceos, facilitando suas posteriores pesagens.

Page 29: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

28

3.3 Quantificação de metais

Mercúrio e cádmio foram quantificados no Laboratório de Análises Química

Ambiental, coordenado pelo prof. Jorge Sarkis, e pertencente ao Centro de Química e Meio

Ambiente do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) da Universidade de São

Paulo (USP).

3.3.1 Mercúrio

Para determinar as bioconcentrações de mercúrio, o equipamento utilizado foi o

analisador direto de mercúrio DMA80 Tricell (Milestone). O mecanismo da máquina resume-

se em decompor amostra em alta temperatura (750°C) causando a sublimação do mercúrio

que é posteriormente reduzido e aprisionado em uma câmara fria por uma amálgama de ouro.

Finalmente, o mercúrio é vaporizado para um feixe único e quantificado por espectrometria

de absorção atômica, sendo sua absorbância, medida a 253,9 nm, proporcional à massa de

mercúrio na amostra (D’AGOSTINO et al., 2014). Dentre as vantagens da utilização deste

equipamento de quantificação, destacam-se a ausência de pré-tratamento das amostras, devido

à decomposição térmica, e o baixo limite de detecção.

3.3.2 Cádmio

Para a quantificação de cádmio, foi utilizado o espectrômetro de massa com

plasma acoplado (ICP-MS NexIon 300D). O equipamento analisa amostras líquidas, por isso

as amostras sofreram digestão ácida como pré-tratamento.

A digestão foi executada em micro-ondas (modelo Mars 5 - CEM), o equipamento

aquece as amostras em tubos e cada um deles recebeu uma réplica de amostra, anteriormente

pesadas em papel manteiga através de uma balança de precisão. Para a digestão, em cada tubo

foi inserido 0,5 mL de ácido nítrico purificado através de destilação, 0,5 mL de peróxido de

hidrogênio, que aumenta a eficiência da digestão da matéria orgânica pelo seu poder oxidante,

e 3 mL de água, totalizando 4 ml de solução de digestão. Foram feitas seis soluções de

digestão com esse mesmo tratamento descrito, porém na ausência de amostra, sendo

considerados como brancos.

O aquecimento gerado pelo equipamento micro-ondas, que operou com potência

variando entre 1030 a 1080 W, foi crescendo constantemente durante 20 a 25 minutos até a

solução de digestão dos tubos atingirem 170°C. Nesse estado, a temperatura foi mantida por 5

minutos, depois disso, o aparelho micro-ondas paralisou seu aquecimento e os tubos

resfriaram até temperatura ambiente.

Em seguida, os tubos de reação tiveram tampas e paredes enxaguadas com água

pura mili-Q e foram diretamente vertidas para tubos falcon, esta transferência foi feita de

Page 30: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

29

forma extremamente cuidadosa para não haver perda de material. Além da amostra, foram

adicionados nos tubos falcon volumes de 1 mL de índio (100µg.L-1

), o padrão interno do ICP-

MS, e água mili-Q até que se completasse 10 mL.

As seis amostras do branco tiveram valores de intensidades medidas de cádmio

cerca de 100 vezes inferiores em relação a média das amostras que continham artemias e

misidáceos. As concentrações de cádmios dos brancos foram em média 7 ± 6 µg.L-1

.

3.4 Análise estatística

A partir dos dados de toxicidade, foi obtida a CL50, definida como concentração

letal mediana para 50% dos organismos expostos, através do software Sigma Plot® 10.0, 2006,

utilizando a equação 2, mostrada abaixo, pertencente à categoria sigmoidal e nomeada como

logística com três parâmetros:

Equação 1

𝑦 = 𝑎

1+(𝑥

𝑥0)

𝑏 (2)

Sendo:

a = Sobrevivência do controle;

b = Inclinação da curva;

y = Sobrevivência;

x = Concentração;

x0 = CL50.

O valor da CENO foi obtido através da análise de variância (ANOVA one way)

seguida do teste de Dunnett. Foi considerada como CENO a maior concentração que não

apresentou diferença estatística significativa da mortalidade em relação ao controle.

Nos ensaios de bioconcentração (via água) com Artemia, os dados foram

analisados estatisticamente através de um modelo não linear de um compartimento que

descreve a assimilação e eliminação de metais através da cinética de primeira ordem, sendo k1

e k2 constantes de absorção e eliminação pelos organismos, respectivamente:

k1

[Metal]em solução ⥂ [Metal]absorvido k2

Page 31: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

30

Considerando adicionalmente a concentração de exposição constante e a variável

tempo, há duas equações, uma para a etapa de acumulação, quando ocorre exposição aos

metais, e outra para de eliminação (EQUAÇÕES 3 e 4):

Acumulação: 𝑄(𝑡) = 𝑘1

𝑘2 ⨉ 𝐶𝑒𝑥𝑝 ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡)) (3)

Eliminação: 𝑄(𝑡) = 𝑘1

𝑘2 ⨉ 𝐶𝑒𝑥𝑝 ⨉ (1 − 𝑒(−𝑘2⨉(𝑡−𝑡𝑐)) − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡)) (4)

Em que Q(t) é a concentração dos metais nos crustáceos em função do tempo t; tc

é o tempo, em horas, de exposição após a transferência dos organismos para meio

descontaminado; as unidades de k1 e k2, respectivamente, L/g/h e 1/h; Cexp é a concentração

nominal de exposição dos metais e e representa a função exponencial.

Para os misidáceos, os dados foram igualmente modelados por equações de

bioacumulação, considerando a absorção de metais via alimentação e água. As variáveis

adicionais nessas equações de bioacumulação são a concentração do alimento, considerada a

concentração de cádmio e mercúrio em Artemia (Calimento) após 24 h de exposição, além de

kalimento e kágua. Sendo também k1 e k2 para as fases de acumulação e eliminação,

respectivamente (EQUAÇÕES 5 e 6).

Absorção: 𝑄(𝑡((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)⨉ (𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡) ) (5)

Eliminação: 𝑄(𝑡) = ((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)⨉ (𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜

𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2⨉𝑡) ) –

((𝑘á𝑔𝑢𝑎⨉𝐶á𝑔𝑢𝑎)+(𝑘𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜⨉𝐶𝑎𝑙𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜)

𝑘2) ⨉(1 − 𝑒(−𝑘2(𝑡−48))) (6)

A razão entre k1 e k2 resulta no fator de bioconcentração (FBC) (EQUAÇÃO 7).

FBC = 𝑘1

𝑘2 (7)

Com objetivo de aprimorar o ajuste das curvas dos modelos, as somas dos

resíduos entre as concentrações reais e das equações foram reduzidas através da ferramenta

Page 32: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

31

Solver presente no Microsoft Office Excel 2010. Para isso, o software altera os valores de k e

da concentração final dos metais nos crustáceos.

Page 33: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

32

4 RESULTADOS

4.1 Toxicidade aguda

Nos ensaios agudos para as duas espécies de crustáceos, o mercúrio foi mais

tóxico em relação ao cádmio em todos os períodos de exposição. Os valores das CL50 para

Artemia sp. expostas a cádmio foram 141770 ± 60305 µg.L-1

em 24 h e 115533 ± 52351

µg.L-1

em 48 h (Tabela 5).

A espécie Mysidopsis juniae foi mais sensível a cádmio e mercúrio em relação à

Artemia sp. (Tabela 5). Portanto, as CL50 entre os dois metais tiveram diferença significativa

de acordo com o teste T de student (p<0,05) para todos os períodos de exposição (Tabela 5).

Tabela 5 - Concentrações letais medianas (CL50) com médias em µg.L-1

em Artemia sp. e

Mysidopsis juniae para cádmio e mercúrio dos períodos de 24 até 96 h. Os valores

representam a média ± desvio padrão de três experimentos independentes (n=3).

Metal Espécie 24 h 48 h 72 h 96 h

Cd Artemia sp. 141767

± 60.305

115533

± 52.351

- -

Mysidopsis

juniae

850,0

± 353,55

333,33

± 152,75

233,33

± 115,47

182,33

± 126,62

Hg Artemia sp. 51100

± 5544

30700

± 5900

- -

Mysidopsis

juniae

19,0

± 9,54

16,1

± 9,44

15,3

± 9,70

15,0

± 9,79

Page 34: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

33

4.2 Bioconcentração de cádmio e mercúrio

4.2.1Curvas de calibração e validação do método de análise de cádmio e

mercúrio

A calibração do analisador de mercúrio teve início na etapa primária, feita após a

instalação do equipamento e realizada através da solução certificada (SEM 3133) que contém

9,954 ± 0,053 mg/g. A partir dela, foram feitas alíquotas de 0,01; 0,1 e 1 µg.L-1

de mercúrio

que foram diluídas para a obtenção de 15 valores para a curva, entre 0,5 e 300 ng (Figura 4 e

Figura 5). A curva foi baseada em massa, não em concentrações, e na altura do pico de

absorbância. Os valores discrepantes foram desconsiderados. O limite de detecção, de acordo

com EPA, método 7473, é 0,01 ng, porém a faixa de trabalho característica fica entre 0,05 e

600 ng.

Figura 4 - Curva de calibração das massas de 0,5 a 15 ng de mercúrio.

Page 35: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

34

Figura 5 - Curva de calibração das massas de 20 a 300 ng de mercúrio.

Para tornar a calibração primária válida, a cada dia de utilização do detector de

mercúrio, foi feita a calibração diária. Neste procedimento, uma solução de padrão foi

analisada e como seus resultados foram menores que 10% de sua concentração nominal, a

calibração primária foi validada. Além disso, a verificação do padrão gera um fator de

calibração (FC) que é multiplicado pelo resultado das análises gerando as concentrações de

mercúrio assumidas (Equação 1). Os considerados brancos foram recipientes de níquel, onde

a amostra é armazenada para análise, desprovidos de material.

FC = (Concentração nominal/Concentração medida) (1)

Para validar do método, foi utilizada a amostra de referência DORM 2 (Proteína

de peixe produzida por National Research Concil of Canada (NRC – CNRC)). A análise foi

feita em duplicata e em massas pequenas (0,001 e 0,0001g), na mesma escala de pesagem das

amostras para assegurar que a medição de peso dos crustáceos estava sendo feita de forma

precisa. Os resultados das concentrações das amostras de referência não tiveram diferença

Page 36: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

35

maior que 20% em relação ao determinado para DORM 2, que valida o método e classifica a

taxa de recuperação do protocolo como satisfatório (Tabela 6).

Tabela 6 – Valores certificados e taxas de recuperação do material certificado DORM 2.

Massa (g) Concentração (µg/g) Concentração

certificada

Taxa de

recuperação

(%)

0,001 5,04 4,47 ± 0,032 112,92

0,0001 4,43 99,21

A curva de calibração para o cádmio foi composta de sete concentrações, sendo

elas 0,1; 0,2; 0,5; 1, 5, 10 e 20 µg.L-1

, provenientes da diluição de soluções estoque padrão de

2 e 100 µg.L-1

. A equação da curva foi y = 4052,7 x + 304, considerando além de

concentração, intensidade de cádmio medida (Figura 6).

Figura 6 – Gráfico relativo à curva de calibração de cádmio com a correlação entre as

concentrações nominais das soluções padrão e intensidade medida (R2= 0,999).

Concentração g.L-1

-5 0 5 10 15 20 25

Inte

nsid

ade (

cps)

0

2e+4

4e+4

6e+4

8e+4

1e+5

Page 37: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

36

O material de referência certificado utilizado foi a proteína de peixe DORM 4

(NRCC) também em massas pequenas, entre 0,03 e 0,007, para assegurar a pesagem. Dentre

as 4 análises, todas apresentaram taxa de recuperação acima de 90%, sendo considerado

excelente (Tabela 7).

Tabela 7- Concentrações medidas do material de referencia DORM -4 e suas respectivas taxas

de recuperação.

Massa (g) Concentração

(µg/g)

Concentração

certificada

Taxa de recuperação

(%)

0,0072 278,649

0.299 ± 0.018

93,19

0,0083 273,137 91,35

0,0316 277,512 92,81

0,0290 272,391 91,10

4.2.2 Toxicocinética de Artemia sp.

As concentrações medidas de cádmio das soluções dos experimentos de

bioconcentração se aproximaram das concentrações nominais. Após a transferência das

artemias e misidáceos, a concentração de cádmio da água era próxima ao controle (Tabela 8).

Tabela 8 – Concentrações medidas de cádmio (µg.L-1

) medidas em água do mar durante a fase

de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos para

meio sem contaminantes.

Espécie Fase do

experimento

Concentração

nominal (µg.L-1

)

Concentração

real (µg.L-1

)

Artemia sp. Acumulação 50 49,69

Eliminação 0 0,093

Controle 0 0,195

Mysidopsis juniae Acumulação 50 51,34

Eliminação 0 0,132

Controle 0 0,110

Page 38: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

37

O mercúrio medido nas amostras da fase de exposição teve aproximação em relação

aos valores nominais. As réplicas que receberam os crustáceos após a acumulação tiveram

concentrações medidas de mercúrio próximas ao controle (Tabela 9).

Tabela 9 - Concentrações medidas de mercúrio (µg.L-1

) medidas em água do mar durante a

fase de acumulação em meio contaminado, eliminação após a transferência dos organismos

para meio sem contaminantes.

Espécie Fases do

experimento

Concentração

nominal (µg.L-1

)

Concentração real

(µg.L-1

)

Artemia sp. Acumulação 5 5,93

Eliminação 0 1,8

Controle 0 1,93

Mysidopsis juniae Acumulação 5 6,63

Eliminação 0 1,9

Controle 0 0,9

Os dados de bioconcentração foram expressos em microgramas de metal dividido

pelo peso seco dos microcrustáceos (µg.g-1

). Em média, cádmio foi mais absorvido pelas duas

espécies, sendo a maior diferença para Artemia sp., com bioconcentração média do metal para

essa espécie 2000 µg.g-1

e 35 µg.g-1

para Mysidopsis juniae. Enquanto os náuplios de artemia

continham em média 10 µg.g-1

de mercúrio frente a 5 µg.g-1

dos misidáceos.

O máximo acumulado pelos náuplios de Artemia sp., na fase de exposição a

cádmio, foi de 3930,1 µg.g-1

com 9 h de expostos, seguido de decréscimo nos períodos de 12

e 24 h, 2308,34 e 3317,02 µg.g-1

. Após a transposição de uma solução contendo cádmio para

meio limpo, os náuplios reduziram a concentração do metal, tendo em média 1427,13 µg.g-1

de cádmio em 26 h de experimento, 2 h depois de transpostos. Porém o decréscimo não se

correlacionou com o tempo, a concentração média desse período foi ultrapassada por 32 h e

48 h de experimento, tendo 1996,12 e 2101,36 µg.g-1

, respectivamente (Figura 7). Foi

verificado que no total de 48h os organismos não conseguiram eliminar o composto

totalmente.

Page 39: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

38

Figura 7 – Toxicocinética da exposição de 24h a 50 µg Cd.L-1

em Artemia sp. A curva do

modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção e

pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 24 h.

Em relação ao mercúrio, o pico de acumulação de Artemia sp. ocorreu no período

máximo de exposição ao metal, 24 h, sendo a concentração 18,53 µg.g-1

. Em meio limpo, os

náuplios atenuaram a concentração de mercúrio em 26 e 36 h de experimento, sendo 11,32 e

10,65 µg.g-1

, respectivamente. Porém na última etapa de amostragem, 48 h, o metal teve

maior acumulação em Artemia sp., com concentração de 14,14 µg.g-1

(Figura 8). Neste caso a

eliminação de Hg foi muito baixa a nula.

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

0 6 12 18 24 30 36 42 48

[Cd

] (µ

g.g-1

)

Tempo (horas)

[Cd] (µg.g-1 )

Modelo [Cd] (µg.g-1 )

Page 40: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

39

Figura 8 - Toxicocinética da exposição de 24h a 5 µg Hg.L-1

em Artemia sp. A curva do

modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção e

pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 24 h.

A partir das equações da cinética de absorção e eliminação de metais, as

constantes k1 e k2 foram respectivamente determinadas. Para o cádmio e mercúrio em Artemia

sp., k1 e k2 foram aproximadamente 17,7 e 0,5 e 0,32 e 0,17, respectivamente. A grande

superioridade de k1 para o cádmio e a similaridade entre os k2 dos dois elementos químicos

indicam a maior acumulação do cádmio pelos náuplios de artemia, de modo que o valor de

FBC foi maior para o cádmio (Tabela 10).

Tabela 10 – Parâmetros cinéticos k1, k2 de absorção e eliminação, respectivamente, obtidos

através da equação 1 e 2, fator de bioconcentração (FBC) e soma dos quadrados dos resíduos

(SQ) de Artemia sp.

Metal k1 (L/g/h) k2 (1/h) FBC SQ

Cd 17,7 0,32 54,68 26,8 x 106

Hg 0,5 0,17 2,82 403

0

5

10

15

20

25

30

0 6 12 18 24 30 36 42 48

[Hg]

g.g-1

)

Tempo (horas)

[Hg] (µg.g-1)

Modelo [Hg] (µg.g-1)

Page 41: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

40

4.2.3 Bioacumulação em Mysidopsis juniae

O valor máximo de cádmio acumulado pelos misidáceos que foi de 49,68 µg.g-1

após 24 h de exposição. Em meio limpo, os misidáceos reduziram a sua concentração interna

para 12,05 µg.g-1

após 60 h mantendo o mesmo nível de cádmio até o fim do experimento,

sendo 6,19 µg.g-1

com 96 h (Figura 9).

Figura 9 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 50 µg Cd.L-1

em Mysidopsis juniae. A curva

do modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção

e pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 48 h.

A concentração média de mercúrio nos misidáceos atingiu o extremo após 12 h de

exposição, sendo 17,86 µg.g-1

, reduzindo em seguida até a concentração de 6,61 µg.g-1

no

último período de exposição ao metal, nas 48 h. As seguintes amostragens tiveram menor

nível de mercúrio, com concentrações em torno de 4 µg.g-1

até o encerramento do

experimento, nas 96 h (Figura 10).

0

20

40

60

80

100

0 12 24 36 48 60 72 84 96

[Cd

] (µ

g.g-1

)

Tempo (horas)

[Cd] (µg.g-1 )

Modelo [Cd] (µg.g-1 )

Page 42: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

41

Figura 10 - Toxicocinética da exposição de 48 h a 5 µg Hg.L-1

em Mysidopsis juniae. A curva

do modelo cinético de um compartimento foi determinada pela equação 1 na fase de absorção

e pela equação 2, fase de eliminação, iniciada após 48 h.

Para a modelação dos ensaios de bioacumulação, a adição das concentrações de

cádmio e mercúrio em Artemia sp. forneceu constantes de absorção via água e alimento no

período de exposição de 48 h para os misidáceos. Para cádmio, a entrada do metal por meio

da água foi maior (kágua = 0,06) em relação à via alimentação (kartemia =0,0029), enquanto que

para mercúrio ocorreu o inverso, a constante cinética de absorção através da água (kágua = 0,01)

foi menor em relação à de alimento (kartemia = 0,67), sugerindo maior absorção de mercúrio

pelos misidáceos através da predação de artemia (Tabela 11).

Tabela 11 - Parâmetros cinéticos kágua, kartemia e k2, contante de eliminação, em Mysidopsis

juniae e a soma dos quadrados dos resíduos (SQ) obtidos através das equações de

bioacumulação 4 e 5.

Metal kágua kartemia k2 SQ

Cd 0,06 0,0029 0,29 5555

Hg 0,01 0,24 0,67 282

0

5

10

15

20

25

0 12 24 36 48 60 72 84 96

[Hg]

g.g-1

)

Tempo (horas)

[Hg] (µg.g-1 )

Modelo [Hg] (µg.g-1 )

Page 43: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

42

5 DISCUSSÃO

O fato de o gênero Artemia ser tolerante a várias classes de contaminantes entre os

crustáceos (NUNES et al., 2006) foi corroborado pelas altas concentrações letais medianas de

cádmio e mercúrio observadas neste estudo. Hadjispyrou e colaboradores (2001) encontrou

valor de CL50 para cádmio de 24 h de 155100 µg.L-1

, similar ao observado neste trabalho

(141767 µg.L-1

).

Há poucos trabalhos com dados de CL50 em animais marinhos de duração igual ou

inferior a 48 h, onde a grande maioria dos trabalhos determina CL50 para 96 h. Outras

espécies marinhas foram mais sensíveis a cádmio num período de exposição mais prolongado,

96 h, porém a discrepância entre as CL50 dessas espécies com Artemia sp. deste estudo

evidencia a alta tolerância de Artemia sp. a cádmio. Como, por exemplo, o bivalve adulto

Modiolus philippinaru e as pós-larvas de camarões Farfantepenaeus paulensis e Penaeus

duorarum com CL50 de 221, 830 e 832 µg.L-1

, respectivamente (BARBIERI, 2009; CRIPE,

1994; RAMAKRITINAN; CHANDURVELAN; KUMARAGURU, 2012).

A toxicidade de mercúrio para Artemia sp., assim como cádmio, foi baixa , sendo

a CL50 para 48 h, 30700 µg.L-1

. Uma busca na literatura não encontrou estudos que expressem

o efeito tóxico agudo do metal para náuplios de artemia em CL50. Porém vários efeitos sub-

letais como danos na eclosão dos cistos e desenvolvimento embrionário foram relacionados à

mercúrio em Artemia sp (MACRAE; PANDEY, 1991; SARABIA et al., 1998).

O provável motivo para a elevada tolerância de Artemia sp. a metais é a alta

indução de metalotioneína, proteína com função de eliminar metais tóxicos, pelo gênero. Del

Ramo e colaboradores (1995) observou que a produção de metalotioneína induzida pelo

cádmio em Artemia se correlaciona com a concentração de exposição. Quando não retidos

pelas metalotioneínas, cádmio e mercúrio agem com modos de ação similares em Artemia sp.

ambos atuam perturbando o equilíbrio celular de íons células ao interferir no funcionamento

do transporte ativo de sódio e potássio ou na bomba de sódio-cálcio (MACRAE; PANDEY,

1991).

Como esperado, Mysidopsis juniae teve sensibilidade significantemente superior à

Artemia sp. em relação aos dois metais experimentados. Por exemplo, os valores de CL50 de

48 h para cádmio foram 115533 e 333,33 µg.L-1

para Artemia sp. e Mysidopsis juniae. No

período citado, a toxicidade de cádmio entre as duas espécies apresentou diferença

significativa (p<0,05) entre as duas espécies.

A concentração letal de cádmio no período de 96 h para os misidáceos, 182,33

µg.L-1

é superior aos valores encontrados para outras espécies de misidáceos, 16 e 19,6 para

Page 44: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

43

Mysidopsis bahia e 99,3 µg.L-1

para neonatos de Siriella armata (PÉREZ; BEIRAS, 2010).

Apesar de variáveis, estes valores inferiores a CL50 de outras espécies de decápodes, como os

camarões Farfantepenaeus paulensis, Penaeus duorarum e Penaeus indicus, revelando a

elevada sensibilidade dos misidáceos, uma grande vantagem em testes ecotoxicológicos

(BARBIERI, 2009; CRIPE, 1994; MCCLURG,1984).

Os misidáceos foram mais sensíveis a mercúrio. A CL50 de 96 h foi cerca de 10

vezes maior do que a de cádmio. Na maioria dos trabalhos que aborda a toxicidade de vários

metais traço, o mercúrio é considerado o mais tóxico (LUSSIER; GENTILE; WALKER, 1985;

MACRAE; PANDEY, 1991; VERSLYCKE; VAN, 2003). Isso evidencia o elevado risco

ambiental desse elemento químico, que em meio aquático pode se transformar em metil

mercúrio, sua forma muito mais biodisponível e consequentemente mais tóxica em relação ao

mercúrio inorgânico, utilizado neste estudo (MACRAE; PANDEY, 1991; PANDEY;

MACRAE, 1991).

As tabelas seguintes 12 e 13 contêm dados adicionais de CL50 de cádmio e

mercúrio para outras espécies de água salgada.

Page 45: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

44

Tabela 12 - Valores de CL50 de cádmio para diversas espécies de invertebrados marinhos e

estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h.

Grupo

taxonômico Espécie

Estágio

de vida

Tempo de

exposição

CL50 (µg.L-

1)

Referência

Crustáceo Palaemon

serratus Larval 72 h 1,7

Mariño-

Balsa et al.,

(2000)

Crustáceo Mysidopsis

bahia Juvenil 96 h 16 Nimmo et

al. (1978)

Crustáceo Tigriopus

brevicornsi Náuplio 96 h 17,4 Forget et al.

(1998)

Crustáceo Mysidopsis

bahia Juvenil 96 h 19,6 Cripe (1994)

Crustáceo Tigriopus

brevicornis Copepodit

o 96 h 29,7

Forget et al.

(1998)

Crustáceo Homarus

gammarus Larval 48 h 34

Mariño-

Balsa et al.,

(2000)

Crustáceo Tigriopus

brevicorni Adulto 96 h 47,9 Forget et al.

(1998)

Crustáceo Siriella

armata Neonato 96 h 99,3

Pérez;

Beiras,

(2010)

Crustáceo Maja

squinado Larval 72 h 158

Forget et al.

(1998)

Crustáceo Mysidopsis

juniae Juvenil 96 h

182,3

3

Este

trabalho

Molusco

Modiolus

philippinaru

m Adulto 96 h 221

Ramakritina

n et al.,

(2012)

Crustáceo

Farfantepen

aeus

paulensis Pós-larva 96 h 830

Barbieri

(2009)

Crustáceo Penaeus

duorarum Pós-larva 96 h 832 Cripe (1994)

Crustáceo Penaeus

indicus Juvenil 96 h 2070 McClurg

(1984)

Peixe Mugil seheli Alevino 96 h 5.360 AMED

(2005)

Molusco Cerithedia

cingulata Adulto 96 h 9193

Ramakritina

n et al.,

(2012)

Crustáceo Artemia sp. Náuplio 48 h 11553

3

Este

trabalho

Page 46: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

45

Crustáceo Artemia sp. Náuplio 24 h 141.7

67

Este

trabalho

Crustáceo Artemia

franciscana Náuplio 24 h 155.1

00

Hadjispyrou

(2001)

Page 47: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

46

Tabela 13 - Valores de CL50 de mercúrio para diversas espécies de invertebrados marinhos e

estuarinos. A maioria dos experimentos teve duração de 96 h.

Grupo

taxonômico Espécie

Estágio

de vida

Tempo de

exposição

CL50

(µg.L-1

) Referência

Crustáceo Palaemon

serratus Larval 72 h 1,7

Mariño-

Balsa et

al., (2000)

Crustáceo Mysidopsis

bahia Juvenil 96 h 3,5

Lussier;

Gentile;

Walker

(1985)

Molusco Modiolus

philippinarum Adulto 96 h 7

Ramakritin

an et al.,

(2012)

Crustáceo Neomysis

integer Juvenil 96 h 6.9

Verslyckle

et al.

(2003)

Crustáceo Mysidopsis

juniae Juvenil 96 h 15 Este

trabalho

Crustáceo Penaeus

indicus Juvenil 96 h 15,3 McClurg

(1984)

Crustáceo Homarus

gammarus Larval 48 h 34

Mariño-

Balsa et

al., (2000)

Molusco Cerithedia

cingulata Adulto 96 h 53

Ramakritin

an et al.,

(2012)

Crustáceo Tigriopus

breicornis Adulto 96 h 53 Barka

(2007)

Peixe Rutilus frisii Juvenil 96 h 86,8

Gharaei;Es

maili-Sari

(2008)

Crustáceo Maja squinado Larval 72 h 158

Mariño-

Balsa et

al., (2000)

Peixe Therapon

jarbua - 96 h 310

Nagarani

(2012)

Peixe Acanthopagrus

latus Imaturo 96 h 648,87 Hedayati et

al., (2010)

Crustáceo Artemia sp. Náuplio 48 h 30.700 Este

trabalho

Page 48: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

47

Em relação ao valor de CENO de 96 h de cádmio para Mysidopsis juniae (50

µg.L-1

), Perez e Beiras (2010) encontraram valor de 80 µg.L-1

para o misidáceo Siriella

armata, já o mercúrio teve CENO de 5 µg.L-1

para 96 h, Thondra-gar e colaboradores (2003)

determinaram valor de 30 µg.L-1

para larvas da espécie de peixe Lates calcarifer . A análise

de toxicidade através da CENO deve ser feita de forma cuidadosa, visto que seu valor é a

maior concentração experimentada que não causou morte, sendo assim, tem grande

dependência em relação ao desenho experimental (JAGER, 2011). Porém, neste estudo, os

valores de CENO foram úteis na determinação das concentrações de exposição dos

experimentos de bioconcentração pelo período de 96 h.

Analisar bioconcentrações de metais em organismos aquáticos é importante, visto

que efeitos tóxicos se correlacionam mais fortemente com concentrações internas do que de

exposição. A relação concentração-efeito baseada em concentrações internas é menos variável

entre diferentes espécies e condições ambientais, isso porque a assimilação de substâncias

depende de sua biodisponibilidade (MCELROY et al., 2011). A bioconcentração também é

influenciada por características intrínsecas das espécies. Propriedades fisiológicas podem

determinar a variabilidade de bioacumulação entre táxons. Parâmetros fisiológicos que

incluem taxas de absorção de substâncias através da água e do alimento, assim como níveis de

perda são gerados por modelos de toxicocinética (LUOMA;RAINBOW, 2005).

De acordo com os modelos cinéticos de bioconcentração utilizados neste trabalho

para Artemia sp., as bioconcentrações previstas para cádmio e mercúrio aumentaram

consideravelmente nas primeiras horas de exposição, e nos últimos períodos de exposição as

bioconcentrações permaneceram no mesmo nível (Figura 7 e Figura 8). Isso sugere que há um

equilíbrio entre a taxa de absorção e eliminação de cádmio e mercúrio. Blust e colaboradores

(1991) observaram o mesmo em Artemia franciscana para cobre e indicaram que esse padrão

de equilíbrio é atingido porque o transporte de metais é facilitado por processos de difusão e

que tal mecanismo seria limitado pelo número de transportadores e pela velocidade que ocorre.

Após o fim da exposição, houve o transporte dos náuplios de artemia e juvenis de

misidáceos para solução sem metais, porém, mesmo sem continuar em exposição a mercúrio,

Artemia sp. não conseguiu eliminar o composto já acumulado até o fim do experimento

(Figura 8). Relativamente ao cádmio, misidáceos e artemias tiveram as suas concentrações

internas reduzidas com o tempo, indicando a eliminação do metal (não total). Isso contrapõe

Rainbow e White (1998) que afirmam que crustáceos não regulam a concentração de cádmio,

os organismos apenas desintoxicam o metal através das metalotioneínas que posteriormente

Page 49: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

48

sofrem quebra nos lisossomos, apesar de raramente serem visualizados em corpos residuais

dos lisossomos.

Os fatores de bioacumulação (FBC) para Artemia obtidos pelo modelo de um

compartimento tiveram valores de 54,68 para cádmio e 2,82 para mercúrio. Geer (2003)

calculou a FBC médio para vários metais baseando-se em trabalhos com diversas espécies de

organismos aquáticos, em que os valores menores para cádmio e mercúrio foram 2623 e

14550 com concentrações de exposição 0,1 – 0,3 µg.L-1

e 0,1-1 µg.L-1

, respectivamente. A

discrepância de FBC encontrado neste trabalho em relação às médias calculadas por Geer

(2008) pode ter causa na diferença entre níveis de exposição a metais. Sarabia (2006)

encontrou correlação inversa entre FBC e concentrações de cádmio analisando diferentes

populações de espécies de Artemia.

Em relação aos parâmetros cinéticos das equações de bioacumulação, a maior

constante de absorção via alimento (kartemia) foi do mercúrio, 0,2431, frente a 0,0029 do

cádmio, isso indica que os misidáceos acumularam melhor o mercúrio através da ingestão de

Artemia. Esse metal é, de fato, um elemento com alto potencial bioacumulativo e de

biomagnificação, e isso é atribuído ao seu caráter altamente lipofílico, enquanto ao cádmio, há

poucas evidências na literatura que constataram sua bioacumulação e biomagnificação (GEER,

2003).

As constantes de cinética de absorção através da água (kágua) têm maior valor para

cádmio, 0,06, em relação a mercúrio, 0,01. A maior captação de cádmio pelos misidáceos via

água se relaciona com o fato do fator de bioconcentração do cádmio ser superior a vinte vezes

o valor para mercúrio em Artemia sp., que foi exposta apenas ao cádmio em solução.

A aplicação dos modelos matemáticos de cinética de um compartimento foi

certamente útil para descrever, analisar e comparar padrões de acumulação e eliminação de

cádmio e mercúrio, apesar das equações de um compartimento considerarem a distribuição

dos contaminantes no corpo dos misidáceos e artemias de maneira uniforme, o que na

realidade não ocorre. O uso de modelos bicompartimentais praticamente é inviável para

animais desse porte, a limitação de tamanho não permite a análise de tipos de tecido

específico das espécies.

Page 50: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

49

6 CONCLUSÃO

A partir dos dados obtidos de toxicidade aguda neste estudo, pôde-se concluir que

os naúplios de Artemia sp. apresentaram alta tolerância a cádmio e mercúrio em relação à

Mysidopsis juniae. Mercúrio foi o metal mais tóxico para ambas as espécies de crustáceos. Os

modelos toxicocinéticos de um compartimento para avaliar bioconcentração e bioacumulação

foram utilizados com êxito e permitiram a interpretação de padrões de acumulação e

eliminação de metais. Os náuplios de artemia tiveram fator de bioconcentração superior para

cádmio, portanto acumularam mais cádmio em relação a mercúrio. Após a transferência para

meio sem contaminantes, apenas o cádmio foi eliminado, mercúrio manteve-se em mesmo

nível. Nos ensaios de bioacumulação, os modelos de bioacumulação permitiram observar que

a transferência de metais de Artemia sp. para Mysidopsis juniae via alimentação é mais

intensa para o mercúrio do que para cádmio. Os resultados obtidos neste estudo evidenciaram

a alta capacidade do mercúrio ser transferido pela cadeia alimentar e sua persistência.

Page 51: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

50

REFERÊNCIAS

AMOS, H.M.; JACOB, D.J.; STREETS, D.G.; SUNDERLAND, E.M. Legacy impacts of all-

time anthopogenic emissions on the global mercury cycle. Global Biogeochem Cycles v.27,

n. November 2012, p. 410-421, 2013.

ARAGÃO, M.A.; ARAÚJO, R.P.A. Ecotoxicologia Aquática - Princípios e Aplicações. In:

ZAGATTO, P.A.; BERTTOLETI, E. (Orgs.). Ecotoxicologia. [S.I.]: RiMa, 2006. p.160-202.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR – 15.308.

Ecotoxicologia Aquática – Toxicidade Aguda – Método de ensaio com misidáceos

(Crustacea), 2011.

BARBIERI, E. Effects of zinc and cadmium on oxygen consumption and ammonium

excretion in pink shimp (Farfantepenaeus paulensis, Pérez-Farfante, 1967, Crustacea).

Ecotoxicology v. 18, n. 3, p. 312-8, 2009.

BARKA, S. Insoluble detoxification of trace metals in a marine copepod Tigriopus

brevicornis (Müller) exposed to copper, zinc, nickel, cadmium, silver and mercury.

Ecotoxicology v. 16, n. 7, p. 491–502, 2007.

BARRON, M.G.; STEHLY, G.R.; HAYTON, W.L. Pharmacokinetic modeling in aquatic

animals. I. Models and concepts. Aquatic Toxicology v. 18, n. 2, 61–85, 1990.

BLUST, R.; FONTAINE, A.; DECLEIR, W. Effects of hydrogen ions and inorganic

complexing on the uptake of cooper by brine shimp Artemia franciscana.

Mar.Ecol.Prog.Ser. v. 76, n. 1, p. 273, 1991.

BRASIL. Resolução Conama nº 344, de 25 de março de 2004. Estabelece as diretrizes gerais e

os procedimentos mínimos para a avaliação do material a ser dragado em águas

jurisdicionais brasileiras, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, Edição

no 87 de 07/05/2004.

________. Resolução Conama n° 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos

corpos de água e diretrizes ambientais que estabelece as condições e padrões de lançamento

de efluentes, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, Edição no 153 de 18/03/2005.

________. Resolução Conama n° 363, de 08 de agosto de 2007. Dispõe sobre o descarte

contínuo de água de processo ou de produção em plataformas marítimas de petróleo e gás

natural, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, Edição no 53 de

09/08/2007.

________. Resolução nº 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre os parâmetros, condições,

padrões e diretrizes para gestão do lançamento de efluentes em corpos de águas receptores,

alterou parcialmente e complementou a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Diário Oficial da União, Brasília, Edição nº 92 de 16/05/2011.

BRUCE, R.D. An up-and-down procedure for acute toxicity testing. Fundam. Appl. Toxicol.

v. 5, n. 1, p. 151–7, 1985.

Page 52: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

51

CAMARA, M.R. Review of the biogeography of Artemia Leach, 1819 (Crustacea: Anostraca)

in Brazil. Special Issue on Biogeography (I) v. 2, n. 1, p. 3–8, 2012.

CASTAÑÉ, P.; TOPALIÁN, M.; CORDERO, R.; SALIBIÁN, A. Influencia de la

especiación de los metales pesados en medio acuático como determinante de su toxicidad.

Revista de Toxicología v. 20, p. 13–18, 2003.

CHANDRAN, R. et al. Effect of cadmium and zinc on antioxidant enzyme activity in the

gastropod, Achatina fulica. Comparative Biochemistry and Physiology. Toxicology and

Pharmacology: CBP v, 140, p. 422–426, 2005.

CHANG, M.; WANG, W.-N.; WANG, A.-L.; TIAN, T.-T.; WANG, P.; ZHENG, Y.; LIU, Y.

Effects of cadmium on respiratory burst, intracellular Ca2+ and DNA damage in the white

shimp Litopenaeus vannamei. Comparative Biochemistry and Physiology. Toxicology and

Pharmacology: CBP v. 149, n. 4, p. 581–586, 2009.

CHELOMIN, V.P.; ZAKHARTSEV, M. V.; KURILENKO, A. V.; BELCHEVA, N.N. An in

vitro study of the effect of reactive oxygen species on subcellular distribution of deposited

cadmium in digestive gland of mussel Crenomytilus grayanus. Aquatic Toxicology v. 73, n.

2, p. 181–189, 2005.

CRIPE, G.M. Comparative Acute Toxicities of Several Pesticides and Metals to Mysidopsis

bahia and Postlarval Penaues duorarum. Envirionmental Toxicology and Chemistry p.

1867–1872, 1994.

D’AGOSTINO, F.; OLIVERI, E.; BAGNATO, E.; FALCO, F.; MAZZOLA, S.;

SPROVIERI, M. Direct determination of total mercury in phosphate rock using alkaline

fusion digestion. Anal. Chim. Acta v. 852, p. 8–12, 2014.

DELEEBEECK, N.M.E.; MUYSSEN, B.T. A.; DE LAENDER, F.; JANSSEN, C.R.; DE

SCHAMPHELAERE, K. C. Comparison of nickel toxicity to cladocerans in soft versus hard

surface waters. Aquatic Toxicology v. 84, n. 2, p. 223–35, 2007.

EL-NAGA, E.H.A.; EL-MOSELHY, K.M.; HAMED, M.A. Toxicity of Cadmium and

Copper and Their Effect on Some Biochemical Parameters of Marine Fish Mugil seheli.

Egyptian Journal of Aquatic Research v. 31, n. 2, p. 60–71, 2005.

ELUMALAI, M.; ANTUNES, C.; GUILHERMINO, L. Enzymatic biomarkers in the crab

Carcinus maenas from the Minho River estuary (NW Portugal) exposed to zinc and mercury.

Chemosphere v. 66, n. 7, p. 1249–1255, 2007.

EMERSON, R.; HEADGES, J. Chemical Oceanography and the Marine Carbon Cycle.

Nova Iorque, Estados Unidos: Cambridge University Press. 2008, p.445.

FISHER, J. A.; JACOB, D.J.; SOERENSEN, A.L.; AMOS, H.M.; STEFFEN, A.;

SUNDERLAND, E.M. Riverine source of Arctic Ocean mercury inferred from atmospheric

observations. Nature Geoscience v. 5, n. 7, p. 499–504, 2012.

Page 53: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

52

FITZGERALD, W.F.; LAMBORG, C.H.; HAMMERSCHMIDT, C.R. Marine

Biogeochemical Cycling of Mercury Marine Biogeochemical Cycling of Mercury. Public

Health v. 107, p. 641–662, 2007.

FORGET, J.; PAVILLON, J.F.; MENASRIA, M.R.; BOCQUENÉ, G. Mortality and LC50

values for several stages of the marine copepod Tigriopus brevicornis (Müller) exposed to the

metals arsenic and cadmium and the pesticides atrazine, carbofuran, dichlorvos, and

malathion. Ecotoxicology and Environmental Safety v. 40, n. 3, p. 239–244, 1998.

FU, X.; FENG, X.; ZHANG, G.; XU, W.; LI, X.; YAO, H.; LIANG, P.; LI, J.; SOMMAR, J.;

YIN, R.; LIU, N. Mercury in the marine boundary layer and seawater of the South China Sea:

Concentrations, sea/air flux, and implication for land outflow. Journal Geophysical

Researche v. 115, n. D6, p. 1-11, 2010.

GHARAEI, A.; ESMAILI-SARI, A. LC50 and bioaccumulation of mercury chloride (HgCl2)

in Rutilus frisii (Nordmann, 1840). Journal of Applied Ichthyology v. 24, p. 705–706, 2008.

GRAY, J.S. Biomagnification in marine systems: the perspective of an ecologist. Marine

Pollution Bulletin v. 45, p. 46–52, 2002.

GREEN, N.; BJERKENG, B.; HYLLAND, K.; RUUS, A.; RYGG B.. Norwegian Institute for

Water Research. Hazardous substances in the European marine environment: Trends in

metals and persistent organic pollutants. Copenhagen, Dinamarca: European Enviromental

Agency. 2003. 71 p.

HADJISPYROU, S.; KUNGOLOS, A.; ANAGNOSTOPOULOS, A. Toxicity,

bioaccumulation, and interactive effects of organotin, cadmium, and chomium on Artemia

franciscana. Ecotoxicology and Environmental Safety. v. 49, n. 2, p. 179–86, 2001.

HEDAYATI, A.; SAFAHIEH, A.; AHMAD, S.; MARAMMAZI, J.G. Detection of mercury

chloride acute toxicity in Yellowfin Seabream (Acanthopagrus latus). World Journal of Fish

and Marine Science v. 2, n. 2, p. 86-92, 2010.

JAGER, T. Some good reasons to ban ECx and related concepts in ecotoxicology.

Environmental Science Technology v. 45, n. 19, p. 8180–8181, 2011.

JOYEUX, J.C.; CAMPANHA FILHO, E.A.; JESUS, H.C. Trace Metal Contamination in

Estuarine Fishes from Vitória Bay, ES, Brazil. Brazilian Archives of Biology and

Technology v. 47, p. 765–774, 2004.

LAFABRIE, C.; PERGENT, G.; KANTIN, R.; PERGENT-MARTINI, C.; GONZALEZ, J.-

L. Trace metals assessment in water, sediment, mussel and seagrass species – Validation of

the use of Posidonia oceanica as a metal biomonitor. Chemosphere v. 68, n. 11, p. 2033–

2039, 2007.

LANDRUM, P.F.; LEE, H.; LYDY, M.J. Toxicokinetics in Aquatic Systems - Model

Comparisons and Use in Hazard Assessment. Environmental Toxicology and Chemistry v.

11, n. 12, p. 1709–1725, 1992.

Page 54: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

53

LUOMA, S.N.; RAINBOW, P.S. Why Is Metal Bioaccumulation So Variable? Biodynamics

as a Unifying Concept. Environmental Science Technology v. 39, p. 1921–1931, 2005.

LUSSIER, S.M.; GENTILE, J.H.; WALKER, J. Acute and chonic effects of heavy metal and

cyanide on Mysidopsis bahia (crustacea: mysidacea). Aquatic Toxicology v. 7, p. 25–35,

1985.

MACRAE, T.H.; PANDEY, A.S. Effects of metals on early life stages of the brine shimp,

Artemia: A developmental toxicity assay. Archives of Environmental Contamination and

Toxicology. v. 20, p. 247–252, 1991.

MARIÑO-BALSA, J.C.; POZA, E.; VÁZQUEZ, E., BEIRAS, R. Comparative toxicity of

dissolved metals to early larval stages of Palaemon serratus, Maja squinado, and Homarus

gammarus (Crustacea: Decapoda). Archives of Environmental Contamination and

Toxicology. v. 39, n. 3, p. 345–51, 2000.

MCCLURG, T.P. Effects of fluoride, cadmium and mercury on the estuarine prawn Penaeus

indicus. Water S.A. v. 10, n. 1, p. 40–45, 1984.

MCELROY, A.E.; BARRON, M.G.; BECKVAR, N.; KANE DRISCOLL, S.B.; MEADOR,

J.P.; PARKERTON, T.F.; PREUSS, T.G.; STEEVENS, J. A. A review of the tissue residue

approach for organic and organometallic compounds in aquatic organisms. Integr. Environ.

Assess. Manag. v. 7, n. 1, p. 50–74, 2011.

MCGEER, J.C.; BRIX, K. V.; SKEAFF, J.M.; DEFOREST, D.K.; BRIGHAM, S.I.;

ADAMS, W.J.; GREEN, A. Inverse relationship between bioconcentration factor and

exposure concentration for metals: implications for hazard assessment of metals in the aquatic

environment. Environ. Toxicol. Chem. v. 22, n. 5, p. 1017–1037, 2003.

doi:10.1002/etc.5620220509

MISHA, V.K.; TRIPATHI, B.D. Concurrent removal and accumulation of heavy metals by

the thee aquatic macrophytes. Bioresour. Technol. v. 99, n. 15, p. 7091–7097, 2008.

MOREL, F.M.M.; PRICE, N.M. The Biogeochemical Cycles of Trace Metals in the Oceans.

Science. v. 300, p. 944–947, 2003.

MUNIZ, P.; VENTURINI, N., BORJA, A. Marine pollution and assessment of marine status

in Latin America. Mar. Pollut. Bull. v. 91, n. 2, p. 401–402, 2015.

NABULO, G.; ORYEM-ORIGA, H.; DIAMOND, M. Assessment of lead, cadmium, and

zinc contamination of roadside soils, surface films, and vegetables in Kampala City, Uganda.

Environ. Res. v. 101, p. 42–52, 2006.

NAGELKERKEN, I.; SHEAVES, M.; BAKER, R.; CONNOLLY, R.M. The seascape

nursery: a novel spatial approach to identify and manage nurseries for coastal marine fauna.

Fish and Fisheries v. 16, n. 2, p. 362–371, 2015.

NIMMO, D.R.; RIGBY, R. A.; BAHNER, L.H.; SHEPPARD, J.M. The acute and chonic

effects of cadmium on the estuarine mysid, Mysidopsis bahia. Bull. Environ. Contam.

Toxicol. v. 19, n. 1, p. 80–85, 1978.

Page 55: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

54

NUNES, B.S.; CARVALHO, F.D.; GUILHERMINO, L.M.; VAN STAPPEN, G. Use of the

genus Artemia in ecotoxicity testing. Environ. Pollut. v. 144, n. 2, p. 453–462, 2006.

PANDEY, A.S.; MACRAE, T.H. Toxicity of organic mercury compound to developing brine

shimp, Artemia . Ecotoxicol. Environ. Saf. v. 21, p. 68, 1991.

PÉREZ, S.; BEIRAS, R. The mysid Siriella armata as a model organism in marine

ecotoxicology: Comparative acute toxicity sensitivity with Daphnia magna. Ecotoxicology v.

19, p. 196–206, 2010.

RAINBOW, P.S. Trace metal concentrations in aquatic invertebrates: why and so what?

Environ. Pollut. v. 120, n. 3, p. 497–507, 2002.

RAMAKRITINAN, C.M.; CHANDURVELAN, R.; KUMARAGURU, A. K. Acute toxicity

of metals: Cu, Pb, Cd, Hg and Zn on marine molluscs, Cerithedia cingulata G., and Modiolus

philippinarum H. Indian J. Mar. Sci. v. 41, p. 141–145, 2012.

Reeve, M.R. The Filter-Feeding of Artemia. J. Exp. Biol. v. 40, p. 207-214, 1963.

REILEY, M.C. Science, policy, and trends of metals risk assessment at EPA: how

understanding metals bioavailability has changed metals risk assessment at US EPA. Aquatic

Toxicology v. 84, n. 2, p. 292–298, 2007.

RIPPERGER, S.; REHKÄMPER, M.; PORCELLI, D.; HALLIDAY, A. N. Cadmium isotope

fractionation in seawater - A signature of biological activity. Earth Planet. Sci. Lett. v. 261,

n. 3-4, p. 670–684, 2007.

ROESIJADI, G. Metallothioneins in metal regulation and toxicity in aquatic animals. Aquat.

Toxicol. v. 22, p. 81–114, 1992.

SARABIA, R.; TORREBLANCA, A.; DEL RAMO, J.J.; DIAZ-MAYANS, J. Effects of low

mercury concentration exposure on hatching, growth and survival in the Artemia strain La

Mata parthenogenetic diploid. Comp. Biochem. Physiol. Part A: Mol. Integr. Physiol. v.

120, n. 1, p. 93–97, 1998.

SARABIA, R.; VARÓ, I., AMAT, F., PASTOR, a., DEL RAMO, J., DÍAZ-MAYANS, J.,

TORREBLANCA, A. Comparative toxicokinetics of cadmium in Artemia. Arch. Environ.

Contam. Toxicol. v.50, p. 111–120, 2006.

SARMA, S. Comparison of the Sensitivity of Brachionus calyciflorus and Brachionus patulus

(Rotifera) to Selected Heavy Metals Under Low and High Food ( Chlorella vulgaris ) Levels.

Bull. Environ. Contam. Toxicol. v. 64, n. 5, p. 735–739, 2000.

SELIN, N.E.; JACOB, D.J.; YANTOSCA, R.M.; STRODE, S., JAEGLÉ, L.,

SUNDERLAND, E.M. Global 3-D land-ocean-atmosphere model for mercury: Present-day

versus preindustrial cycles and anthopogenic enrichment factors for deposition. Global

Biogeochem. Cycles v. 22, n. 2, p. 1–13, 2008.

Page 56: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

55

SLOOF, W.; CANTON, J.H.; HERMES, J.L.M. Comparison of the Suscepitibility of 22

Freshwater Species to 15 Chemical Compounds. I. (Sub)Acute Toxicity Tests. Acute

Toxicol. v. 4, p. 113–128, 1983.

THONGRA-AR, W.; PARKPIAN, P.; TANG, A. Toxicity of Mercury to Growth and

Survival of Seabass Larvae, Lates calcarifer and the Modifying Effects of Salinity.

ScienceAsia v. 29, p. 209–219, 2003.

UNEP. Global Mercury Assessment 2013: Sources, Emissions, Releases, and Environmental

Transport. Unep p. 42, 2013.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Cifonauta. Banco de Imagens de Biologia Marinha.

Disponível em: < http://cifonauta.cebimar.usp.br/photo/4800/>. Acesso em: 07 dez. 2015.

US EPA. Method 7473, Mercury in solids and solutions by thermal decomposition,

amalgamation, and atomic absorption spectrometry, 2007.

USERO, J.; MORILLO, J.; GRACIA, I. Heavy metal concentrations in molluscs from the

Atlantic coast of southern Spain. Chemosphere. v. 59, n. 8, p. 1175–1181, 2005.

VAN STRAALEN, N.M. Ecotoxicology Becomes Stress Ecology. Environ. Sci. Technol. n.

1, p. 325–330, 2003.

VANHAECKE, P.; Persoone, G. Report on an Intercalibration Exercise on a Short-term

Standard Toxicity Test with Artemia Nauplii. Ecotoxicology and Environmental Safety. v.

5, n. 3, p. 382-387, 1981.

VERSLYCKE, T.; VANGHELUWE, M.; HEIJERICK, D.; DE SCHAMPHELAERE, K.,

VAN SPRANG, P.; JANSSEN, C.R. The toxicity of metal mixtures to the estuarine mysid

Neomysis integer (Crustacea: Mysidacea) under changing salinity. Aquat. Toxicol. v. 64, n.

3, p. 307–315, 2003.

VILAS, C.; DRAKE, P.; FOCKEDEY, N. Feeding preferences of estuarine mysids Neomysis

integer and Rhopalophthalmus tartessicus in a temperate estuary (Guadalquivir Estuary, SW

Spain). Estuar. Coast. Shelf Sci. v. 77, p. 345–356, 2008.

VILAS, C.; DRAKE, P.; PASCUAL; E. Inter- and intra-specific differences in euryhalinity

determine the spatial distribution of mysids in a temperate European estuary. J. Exp. Mar.

Bio. Ecol. v. 369, n. 2, p. 165–176, 2009.

VIRGINIA STATE UNIVERSITY. Publications and Educational Resources. Artemia

Culture for Intensive Finfish and Crustacean Larviculture. Disponível em: <

http://pubs.ext.vt.edu/600/600-106/600-106.html >. Acesso em: 7 dez. 2015.

WALLER, W.T.; ALLEN, H.J. Acute and Chonic Toxicity. Encycl. Ecol. p. 32–43, 2008.

WAYCOTT, M.; DUARTE, C.M.; CARRUTHERS, T.J.B.; ORTH, R.J.; DENNISON, W.C.

et al. Accelerating loss of seagrasses across the globe theatens coastal ecosystems. Proc. Natl.

Acad. Sci, USA v. 106, n. 30, p. 12377–12381, 2009.

Page 57: Toxicidade, Toxicocinética E Bioacumulação De Cádmio E Mercúrio

56

WITTMANN, K.J. On the breeding biology and physiology of marsupial development in

mediterranean with Leptomyszs (mysidacea : crustacea) with special reference to the effects of

temperature and egg size. J. exp. mar. Biol. Ecol. v. 53, p. 261–279, 1981.

ZHAI, L.; LIAO, X.; CHEN, T.; YAN, X.; XIE, H.; WU, B.; WANG, L. Regional assessment

of cadmium pollution in agricultural lands and the potential health risk related to intensive

mining activities: A case study in Chenzhou City, China. J. Environ. Sci. v. 20, n. 6, p. 696–

703, 2008.