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UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS CURSO DE PSICOLOGIA CAMPUS PARAISO 2° Semestre / Matutino ANÁLISE DO LIVRO PINÓQUIO AS AVESSAS DO PONTO DE VISTA DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS NOME: RA: ANDERSON DE ANDRADE SOARES C2180D-8 HERIKA O. ANGELUTI C2998J-5 HYE HYUN RYOU T12825-0 VERA NICE SOARES DA SILVA C02FII-1 Psicologia do Desenvolvimento Teorias da Aprendizagem

Trab. O Pinóquio, de Ruben Alves.docx

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Page 1: Trab. O Pinóquio, de Ruben Alves.docx

UNIVERSIDADE PAULISTA - UNIP

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS

CURSO DE PSICOLOGIA

CAMPUS PARAISO

2° Semestre / Matutino

ANÁLISE DO LIVRO PINÓQUIO AS AVESSAS

DO PONTO DE VISTA DAS ABORDAGENS PEDAGÓGICAS

NOME: RA: TURMA:

ANDERSON DE ANDRADE SOARES C2180D-8 PS2A68

HERIKA O. ANGELUTI C2998J-5 PS2A68

HYE HYUN RYOU T12825-0 PS2B68

VERA NICE SOARES DA SILVA C02FII-1 PS2A68

SÃO PAULO

2014

Psicologia do Desenvolvimento

Teorias da Aprendizagem

Prof. Ruth Gheler

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1. INTRODUÇÃO

No trabalho aqui apresentado, procuramos fazer um paralelo entre o livro

"Pinóquio às Avessas", do autor Rubem Alves, e as abordagens pedagógicas

tradicional, construtivista e humanista. O objetivo foi refletir como essas abordagens

lidam com temas atuais, como formam o adulto quanto pedagogicamente, e como

esses adultos são ou não moldados mediante esses sistemas.

Em seu livro, Rubem Alves faz uma crítica clara aos moldes da escola vigente, por

meio de uma paródia do livro infantil Pinóquio. Segundo o autor, na introdução de

seu livro, ele conta que a inspiração ocorreu depois de adulto, ao rever os contos

infantis, e perceber que muitos aspectos em sua "moral da história", eram para se

criar os comportamentos desejáveis nas crianças.

A história do Pinóquio, me parece, ensina que as crianças nascem de

pau e só depois de passar pela escola viram crianças de verdade. Se não

passarem pela escola, correm o risco de se tornar jumentinhos, com rabo e

orelha de burro, além de zurrar. (ALVES, 2010)

Ele imaginou, em sua crítica à escola, que o que ocorre é exatamente o contrário:

Felipe, seu personagem, nasce de carne e osso e é moldado durante a vida escolar,

deixando suas características humanas, e se tornando mais um como qualquer

outro.

Em que escola baseou-se Rubem Alves para elaborar essa história? Cabe aqui,

definir o que é o método de ensino tradicional e comentar as diferenças deste com

os métodos comportamental e humanistas que serão embasado em paralelo

proposto neste trabalho.

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2. ANÁLISE

A base da formação humana é imposta pela forma em que o indivíduo é inserido em

seu meio começando pela sua educação. Há inúmeras abordagens pedagógicas,

cada um seguindo diferentes modelos epistemológicos. Este trabalho abordará três

delas: Abordagem Tradicional, Comportamentalista e Humanista, ressaltando

características de cada uma encontradas no livro de Rubens Alves, "O Pinóquio às

Avessas".

Por meio dessa análise, podemos refletir como a sociedade interfere nos indivíduos

por meiodos métodos de ensino, e como os métodos de ensino podem interferir na

sociedade. O livro conta a história de Felipe, um menino que não vê a hora de entrar

na escola, e sua saga para virar adulto.

A Metodologia Tradicional

O Método Tradicional, tem como características gerais o autoritarismo sobre a

criança, no qual o professor é o detentor do conhecimento e tem como função

repassá-lo de forma programada para o aluno. O aluno, por sua vez, deve sempre

seguir o programa e é avaliado pela sua capacidade de acumular e armazenar

informações. Ignora-se por este método, por exemplo, as diferenças individuais. A

relação é diretiva: o professor detém o conhecimento, o aluno é designado como

tábula rasa.

No livro de Alves,os pais de Felipe dizem que na escola ele todas as suas perguntas

respondidas e dessa forma se tornará uma “pessoa de verdade”, fazendo um

paralelo à história do Pinóquio. No entanto, não é isso o que acontece, pois todas as

vezes que o menino faz perguntas para a professora, ela diz que aquele assunto

não é o tema da aula, e acaba não respondendo. A professora só ensina os

conteúdos que são pré-estabelecidos pelo programa que visa o vestibular no final da

vida escolar, e se detém a sua área de conhecimento específica – como por

exemplo, matemática.Este trecho do livro, mostra claramente o pensamento do

Felipe, entre dúvidas ereflexões do que experienciouna escola:

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Aprendi duas outras lições. A minha cabeça não tem hora certa para pensar

sobre as coisas. Eu estava pensando sobre pássaros. Perguntei sobre

pássaros, e a professora me ensinou que não era hora de pensar sobre

pássaros. Aprendi que na escola há hora certa para pensar sobre as coisas.

Professor de português sabe português, professor de geografia sabe

geografia, professor de estória sabe estória... Mas qual é o professor que

sabe o nome do pássaro azul? (ALVES, 2010)

Neste contexto, as dúvidas e questões que eventualmente aparecem são tratadas

como insignificantes ou irrelevantes para aquele momento. A professora de Felipe dá

a entender que na hora da aula, somente os assuntos pertinentes à matéria devem

ser questionados, isso tira a liberdade de Felipe comentar e questionar sobre outros

assuntos.Desta forma, a professora não está facilitando o desenvolvimento

intelectual do aluno, está brecando toda a iniciativa e criatividade do mesmo,

coibindo a auto descoberta e a autonomia. Pode-se, assim, verificar no livro, a

crítica à abordagem tradicional, através da figura da escola e dos professores. A

escola ensina o que se está programada para ensinar eo foco das aulas se

concentra no professor, detentor de todo o conhecimento. E assim, o responsável

pelo sucesso ou fracasso é o aluno e sua capacidade de acumular as informações

certas e padronizadas.

Após a sua formação, Felipe se tornou um bem sucedido especialista em linguiças

de frango. Pelo ponto de vista da metodologia tradicional, a escola cumpriu seu

objetivo.

Metodologia Comportamental

O seu coração é um ninho de pássaros. Mas os pássaros do seu coração

não cantam nas horas certas. Assim vamos trocá-los por um cuco, que

canta sempre nas horas certas. (ALVES, 2010)

Logo no começo do livro analisado, o pai de Felipe lhe conta a história do

Pinóquio. Ao terminar, tentando ver se o filho entendera o recado da história, o pai

lhe explica de forma objetiva que "é preciso ir à escola, para não ficar burro, ser

gente de verdade". É possível encontrar em quase todos os contos infantis esse tipo

de "moral da história" com o objetivo de explicar para as crianças, por meio de

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fábulas e histórias fantasiosas, quais comportamentos são esperados e quais são

repudiados.

Segundo as teorias comportamentais, o homem é uma consequência das influências

do meio. O propósito da abordagem comportamentalista é exatamente criar pessoas

autocontroláveis e autosuficientes, afim de transferir o controle ambiental para o

próprio sujeito. Acredita-se que assim, poderá haver uma sociedade ideal. Se o

sujeito não controla o meio, é controlado por ele. Por isso, no método

comportamental ou behaviorista o controle é um fator central: considera-se que o

meio e o comportamento podem ser manipulados e modificados de acordo com

objetivos determinados.

A escola behaviorista é de origem americana, e diz muito sobre o estilo de vida dos

Estados Unidos e de todo mundo ocidental da atualidade. Uma criança, sob este

ponto de vista, deve ser preparada para o futuro, deve se destacar, buscar sempre

ser a melhor. Os melhores são recompensados, e por isso tentam ser cada vez

melhores. O método procura criar pessoas competentes, e como consequência, a

competitividade é estimulada. Quando os pais têm seus filhos, já projetam nele um

futuro de sucesso: será bom aluno, tirará boas notas, passará no vestibular, será

muito bem sucedido – como visto na expectativas que os pais de Felipe tiveram ao

ele nascer, logo no começo do livro de Alves (2010).

Essa projeção que se faz, passa para a criança que mistura sonhos infantis com

objetivos de futuro. No livro, o Felipe antes de ir a escola pela primeira vez, já projeta

toda sua vida: ele quer "deixar de ser criança", quer se "transformar em adulto". Para

isso, sabe que é preciso "entrar na escola", "tirar boas notas", "tirar as melhores

notas para entrar na universidade" para finalmente ter um diploma que vai falar

quem ele é. Sobre essa utilização de reforços e enfoque no futuro, principalmente

profissional, Mizukami diz:

Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por

condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus, notas,

prêmios, reconhecimentos do mestre e dos colegas, prestigio etc., os quais,

por sua vez, estão associados com uma outra classe de reforçadores mais

remotos e generalizados, tais como: o diploma, as vantagens da futura

profissão, a aprovação final no curso, a possibilidade de ascensão social,

monetária, status, prestígio da profissão etc. (MIZUKAMI, 2013, p. 30)

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Na escola, o professor tem controle do processo de aprendizagem do aluno, e por

isso a metodologia pode ser considerada mais individualizada do que a tradicional e

ter objetivos específicos e não generalizados, respeitando o ritmo do aluno. O

professor deve conseguir analisar e aprender elementos do comportamento dos

alunos com o objetivo de ganhar controle sobre eles para guiá-los em determinadas

direções ou criar novos padrões de comportamentos utéis e desejáveis. No livro,

Felipe demonstra dificuldades em conter sua atenção na matéria que o professor

tem a passar, e por isso é diagnosticado com distúrbio de atenção. Não está no

caminho esperado. Isso é corrigido com a ameaça de virar um burro, como Pinóquio.

Então ele aprende, por meio dessa possível punição, que deve manter a atenção

onde "o professor manda", e não onde "o coração deseja" (ALVES, 2010).

Neste método é muito comum haver "recompensas". A Teoria do Reforço diz que os

comportamentos desejados são instalados e mantidos por esses condicionantes e

reforçadores. Mizukami cita Skinner, psicólogo americano que é considerado o

representante da psicologia comportamental mais conhecido no Brasil. Segundo ele,

o indivíduo é responsável por seu comportamento, merecendo ser punido quando

procede mal ou ser elogiado e admirado em suas realizações. Porém, apesar de

possibilitar maior controle, Skinner critica a escola que usa de controles aversivos.

Apesar disso, o pai de Felipe usa um controle aversivo. Diz que o filho, se não

mudar, não vai ser ninguém na vida. Vai virar, como Pinóquio um burro. Por isso,

Felipe aprende a se controlar, e ganha, em troca de seu bom comportamento, boas

notas e vira motivo de admiração e orgulho de seus pais como recompensa. E mais

adiante, ganha prestígio e dinheiro com a profissão, apesar de não ter se tornado,

como esperado por ele e seus pais, uma pessoa feliz.

Metodologia Humanista

Segundo Mizukami (1986), o método humanista de aprendizagem se

caracteriza pela valorização das relações interpessoais e tem o aluno como figura

central. O desenvolvimento da personalidade, da organização pessoal da realidade

e na integridade humana são aspectos fundamentais. Para tanto, o indivíduo é visto

como um ser psicológico e emocional, e essas duas esferas são levadas em

consideração durante a aprendizagem.

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A pergunta que relaciona o livro analisado e a abordagem humanista é: quem Felipe

se tornaria se a escola fosse o que ele esperava?

Neste trecho, antes da começar a ira escola, e com a típica e insaciável curiosidade

infantil, Felipe imagina a escola que frequentará:

Quando nem o pai nem a mãe sabiam as respostas para as perguntas do

menino, eles diziam: Na escola você aprenderá..." E Felipe dormia feliz,

pensando: "A escola deve ser um lugar maravilhoso. Lá os professores

responderão minhas perguntas." (Alves, 2010)

Porém, na abordagem humanista o professor não transmite conteúdo. Pelo menos

não nos moldes tradicionais, e por isso talvez os professores não respondessem as

perguntas de Felipe. Apesar disso, refletindo sobre o que ele esperava da escola, a

abordagem humanista, das três discutidas neste trabalho, seria a opção que mais

respeitaria as experiências individuais para fazê-lo se desenvolver pela sua própria

evolução, guiando sua curiosidade para gerar conhecimentos.

Os professores desta abordagem criam as condições para a aprendizagem a partir

do que o aluno traz de experiências. São vistos como facilitadores. Esta imagem de

professor como facilitador veio dos conceitos de Rogers, psicólogo americano

representante da corrente humanista, que defende que o Homem é bom e curioso,

mas precisa de ajuda para evoluir.

O Felipe, neste método, seria encarado como um projeto em construção em

processo de "vir-a-ser". A liberdade faz o aluno criar-se a si próprio.

A indignação de Felipe ao saber que tudo o que já sabia não servia para a escola é

notada neste trecho: "Quer dizer que o que eu aprendi fora da escola não vale nada

lá dentro?" Segundo as diretrizes humanistas, a aprendizagem deve ser significativa,

possibilitando a autoaprendizagem intelectual e emocional. Por isso, provavelmente,

em uma escola humanista, as experiências de Felipe seria de grande valia em seu

processo como aluno.

A criança tem que estudar para crescer e se fortalecer como cidadão.O Homem é o

principal elaborador do conhecimento humano, considerado como uma pessoa

situada no mundo, sem regras, e modelos a seguir. Ele apenas tem de ser ele

mesmo procurando conhecer o seu interior.

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No livro, que retrata uma escola diretiva, e portanto não humanista, as crianças são

influenciadas a seguir um padrão de aprendizagem. Felipe não se enquadra neste

modelo. Ele se mostra como um perfeito aluno para uma escola humanista – se é

que podemos dizer que alguma criança não seja – ele tem iniciativa, curiosidade,

discernimento, sabe se adaptar à novas situações e usar o que já sabe para resolver

problemas, é capaz de colaborar com os outros e ainda ser ele mesmo. Aliás, seu

desejo era ser ele mesmo, quando crescesse. E neste processo, rendeu-se: tornou-

se o que queriam que ele se tornasse. Perdeu sua identidade como pessoa, tornou-

se vazio e não entendia o porquê. Sua mirabolante mente infantil e seus sonhos

cheios de significados ficaram para trás.

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O livro de Alves é uma crítica clara aos modelos pedagógicos comumente

encontrados em nossa sociedade. Ele induz o leitor a acreditar que esses modelos

geram pessoas incapazes de pensar por si só, como peças de um mecanismo

maior, no qual ou você se encaixa, ou está à margem da sociedade. Nesta

realidade, sucesso é reduzido ao âmbito profissional e financeiro, não importando o

indivíduo em suas questões psicológicas e emocionais.

Ele nos mostra que muitas vezes somos moldados a seguir um padrão de vida.

Crianças são moldadas a pensar igual, de forma padronizada, e sobre assuntos que

muitas vezes não interessam a elas, visando a formação e o mercado de trabalho.

Apesar de não citar as escolas humanistas, percebe-se que essa é a abordagem,

dentre as estudadas neste trabalho, que mais se enquadraria no que Alves pensa

ser uma escola ideal. Por ela, Felipe poderia ter alimentado sua paixão por

pássaros, não importando o que ele seria profissionalmente quando crescesse,

portanto que fosse uma pessoa solidária, realizada, auto-suficiente e feliz.

A proposta de Rubem Alves, neste livro, leva a questionar como adultos, o que se

ganha ou perde durante o processo de aprendizagem e o que pode melhorar para

as futuras gerações.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, R. Pinoquioas avessas. Campinas: Verus Editora, 2010.

MIZUKAMI, M. da G. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 2013.

TEXTOS DISPONÍVEIS NA INTERNET

BECKER, F. Modelos pedagogicos e modelos epistemologicos. Disponível em:

http://livrosdamara.pbworks.com/f/Educacao_e_Realidade-1.pdf. Acesso em:

10/setembro/2014.