Trabalhadores e Trabalhadoras Em São Bernardo Do Campo

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    Trabanhadores e Trabalhadoras

    Os metalrgicos formam aprimeira categoria a organi-zar-se, enquanto ramo, no in-

    terior da CUT, cumprindo deliberao

    do 3 Congresso Nacional da Central,realizado em 1988. Em 1989 foi fun-dado, em congresso, o DepartamentoNacional dos Metalrgicos da CUT.Em 23 de maro de 1992, no 2 Con-gresso da categoria, o Departamentotransformou-se em Confederao Na-cional dos Metalrgicos da CUT, comfederaes em todas as regies brasi-leiras. A CNM/CUT teve sede na RuaCaetano Pinto, no Brs, em So Paulo

    6.Trabalhadores e Trabalhadoras

    A

    A CNM/CUT em So Bernardo. Os metalrgicos fizeram histria

    . Os pontos his-tricos, os pontos

    de luta

    . A histria

    resgatada, a his-

    tria construda

    .A luta pelas 40

    horas semanais

    de trabalho

    . Um movimento

    em favor da in-

    dstria nacional

    tre outros pontos referenciais da cidadeque marcaram os passos contempor-neos dos trabalhadores do ABC nummomento enigmtico da ditadura mi-

    litar. A sede fica a 100 metros da ViaAnchieta, sempre palco de marchas ecaminhadas rumo ao Pao Municipal;ou a um quilmetro e meio do EstdioPrimeiro de Maio, na Vila Euclides, dasgrandes assemblias; se voc percorrerum quilmetro, chega ao Pao; a doisquilmetros, Igreja Matriz, que sem-pre acolheu os trabalhadores, rumo aoutro ponto referencial de passeatasinesquecveis, a Rua Marechal Deodo-

    junto CUT - at transferir-se paraSo Bernardo do Campo.

    A sede da CNM/CUT localiza-se Rua Antrctico, 488, no Jardim do Mar,

    a meio caminho entre o pavilho VeraCruz onde a CUT foi fundada e oCorredor de Piraporinha, de tantasindstrias que se transformaram empalcos de batalhas histricas dos meta-lrgicos.

    um bero poltico que no podeser desprezado, comenta Paulo Cayres,presidente da CNM/CUT.

    Do mesmo modo, a sede da CNM/CUT localiza-se, estrategicamente, en-

    Pioneira fbrica de mveis

    de So Bernardo, fundada

    por Joo Basso em 1905: os

    moveleiros do incio do scu-

    lo passado sero sucedidos

    por novas categorias de tra-

    balhadores, entre as quais as

    txteis, qumicas, construo

    civil e metalrgicas. Acervo:

    famlia Basso

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    ro; a trs quilmetros da sede da Con-federao est o Sindicato dos Metalr-gicos, que produziu um presidente daRepblica, o metalrgico Luiz IncioLula da Silva. Este o embrio da Rotados Trabalhadores, que est no compu-tador, nas caminhadas quase dirias ena cabea de Paulo Cayres.

    O dirigente da CNM/CUT lembra

    que, de So Bernardo, expandiu-se omovimento metalrgico nacional. OSindicato dos Metalrgicos do ABC, ainda, a grande casa dos metalr-gicos brasileiros, mas em breve pode-r ser alcanado por outros centros.Manaus cresceu muito, Pernambucotambm, desde a posse de Lula naPresidncia da Repblica, aproxi-mando-se dos 100 mil metalrgicos;

    Minas Gerais avana muito na linhaBelo Horizonte e Contagem.

    De qualquer forma, fica com o ABCuma histria de luta fundamental, dif-cil de ser construda em outra regio.Crescero novos plos industriais, mascomo tirar do ABC a luta que aqui seconstruiu contra a ditadura, a lembran-a da primeira greve na Scania tambm

    durante o regime militar?No passado o ABC representou 70%

    do setor automobilstico. Hoje est me-nos. A gente se dizia nico. E hoje faze-mos movimentos com outras Centrais,porque houve uma expanso. Temosdiferenas, mas quando est colocadoo interesse do trabalhador, vamos jun-tos raciocina Paulo Cayres.

    Com descentralizao e tudo, o

    ABC, a partir de So Bernardo, se re-

    organiza de vrias maneiras. Houve

    o advento do Rodoanel, o Metr est

    chegando ao municpio. E So Ber-

    nardo tem uma histria e tradio de

    luta, que leva a CNM/CUT a ideali-

    zar esse Roteiro dos Trabalhadores,

    para que jamais as novas geraes se

    esqueam da luta de geraes ime-

    diatamente anteriores sua.

    O Roteiro dos Trabalhadores neces-

    sita de alguns elementos, at para que

    ganhe placas nas ruas, blogs, resenhas e

    publicaes. No passado, com as inter-venes nos sindicatos, interventoresdestruram documentos. Mas os Me-talrgicos do ABC possuem o Centrode Documentao. Est a o acervo da

    Estdio da Vila Euclides,

    atual Primeiro de Maio:

    1980. Foto: Estevam

    Figueiredo

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    Os escravos resistem.Os operrios se organi-zam. E participam daderrubada do regimemilitarH uma linha do tempo dispersa, mascoerente, que interliga os quilombosorganizados por negros fugidios dossculos em que o Brasil manteve a es-cravido de negros e ndios no seu en-to mundo rural e os dias presentes.

    Sim, houve escravido em So Ber-

    nardo e negcios e negociatas envol-vendo a compra, venda e troca de es-cravos. A sempre citada Rua MarechalDeodoro chegou a ter argolas ondeeram presos e postos chacota negrosrevoltosos e nem tanto.

    Linha do TempoNa Colnia e no Imprio h a organi-zao de negros fugidios e quilombosnas matas da Serra do Mar. ProfessorJos de Souza Martins cita os casos de

    uma fuga e perseguio em 1807 e abarbrie de 1830. Em junho daqueleano, 20 negros se refugiaram nas matas:trs foram mortos e sete feridos.

    1901 Operrios da fbrica detecidos Ipiranguinha deflagramgreve. o mais antigo registro deuma paralisao do trabalho que seconhece no ABC.

    1907 Funda-se, em So Bernar-

    do, a Liga Operria, aderente Fede-rao Operria de So Paulo.

    1933 17 de janeiro. Fundado oSindicato dos Marceneiros, Carpin-

    teiros e Classes Anexas de So Ber-

    nardo. o primeiro sindicato dos

    trabalhadores do ABC a receber car-ta do Ministrio do Trabalho aps a

    TV dos Trabalhadores, catalogado nacabea de pesquisadores/metalrgicosdo porte de um Josimar Bezerra, o Ba-nana, que sabe de cor e salteado o con-tedo de cada vdeo gravado h 10, 20,30 anos, e onde localiza-lo. A produoacadmica se expande. O Museu doTrabalho e do Trabalhador se dese-nha forte. E existem os protagonistasdesta histria para serem consulta-dos, ouvidos, perpetuados em entre-

    vistas e depoimentos.Os episdios vividos pela gerao

    anterior esto presentes para seremregistrados, estudados, como a Greveda Gola Vermelha na Ford e a da VacaBraba na Mercedes-Bens, de uma cate-goria, acima de tudo, criativa.

    Paulo Cayres defende a importn-cia da transferncia desse saber. Vocno leva o saber para o tmulo. Vocleva a inteligncia. A inteligncia voc

    no transfere, o saber sim. Isso que oBanana tem, outros companheirostm, tem que transferir, ser utilizadopara formar outras pessoas.

    Claro que existem obstculos eetapas a serem vencidas. Se verda-de que os acadmicos tm voltado

    vistas histria do movimento sindi-cal, produzindo trabalhos, o campoprecisa ser mais e melhor explorado.

    Paulo Cayres recebeu, recentemente,na Federao, um dirigente sindicaldos Estados Unidos. O sindicato deletem 2,5 milhes de scios; a categoriametalrgica brasileira tem 900 miltrabalhadores e no chega a 200 milsindicalizados.

    O dirigente americano disse que osmetalrgicos do ABC so estudadosna Harvard, j aqui h, ainda, um pre-conceito da nossa Universidade com omovimento sindical.

    E h muito a se estudar, e vrias pos-sibilidades, alinhava Paulo Cayres:

    1.A histria de Lula um exemplo.Ele mostrou que um homem oriundoda classe trabalhadora pode chegar aopoder. No so apenas os iluminadose os intelectuais que podem chegar l.

    2. O advento de Dilma Roussef

    tambm algo fantstico. Hoje as mu-lheres olham para cima e no vo verapenas os homens no poder.

    3. Luiz Marinho, igualmente, vemdo movimento sindical. Atuou no chode fbrica. Presidiu o Sindicato. Tem oDNA dos metalrgicos do ABC. Temelevado a cidade para algo melhor. Re-cuperou a Chcara Silvestre.

    Cooperativa So Ber-

    nardo: os trabalhadores

    se cotizaram e compra-

    ram esta fbrica, depois

    de uma greve. Acervo:

    Oswaldo Coppini

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    Trabanhadores e Trabalhadoras

    legislao getulista. Atual Sindica-

    to da Construo Civil.18 de maio. Fundao do Sindica-

    to dos Vidreiros de So Paulo hojecom base no ABC.

    1938 8 de outubro. Fundado o Sin-dicato dos Qumicos do ABC.

    1944 28 de outubro. Trinta e cincomulheres participam da fundao daAssociao Profissional dos Trabalha-dores na Indstria de Fiao e Tecela-

    gem de So Bernardo. Sindicato reco-nhecido em 1947.

    1959 12 de maio. Fundao daAssociao Profissional dos Trabalha-dores nas Indstrias Metalrgicas e deMaterial Eltrico de So Bernardo doCampo e Diadema, o futuro sindicatoque revelaria o lder Luiz Incio da Sil-

    va, o Lula.Fundao do Sindicato dos Banc-

    rios do ABC.

    1960 26 de agosto. Associaodos Metalrgicos de So Bernardotransforma-se em sindicato, hoje o

    Sindicato dos Metalrgicos do ABC.

    1969 19 de abril. Lula assumeo seu primeiro mandato no Sindi-cato dos Metalrgicos de So Ber-nardo e Diadema, como suplentedo Conselho Fiscal.

    1971 28 de junho. Circula oprimeiro exemplar da Tribuna Me-talrgica, rgo oficial do Sindicatodos Metalrgicos de So Bernardoe Diadema: 15 mil exemplares.

    1974 setembro. Realizadoo I Congresso dos Metalrgicos

    de So Bernardo e Diadema. Em

    pauta a reformulao da atuao

    sindical.

    1975 19 de abril. Lula tomaposse pela primeira vez como pre-

    sidente do Sindicato dos Metalr-

    gicos de So Bernardo e Diadema.

    1978: 12 de maio. Eclode a grevehistrica da Scania: os metalrgicosdo ABC comeam a se transformar

    em manchete nacional. Anterior-

    mente houve greves relmpagos naMercedes-Benz e na Ford.

    18 de outubro. Fundao da AMA Associao dos Metalrgicos Apo-sentados de So Bernardo e Diade-ma, hoje AMA/ABC.

    1979:1 de maio No ABC, oDia do Trabalhador se transformano 1 de Maio Unificado, com pas-seata e missa campal no Pao de SoBernardo, celebrada por Dom Clu-

    dio Hummes. Nesse mesmo evento,Vinicius de Morais interpreta o con-sagrado Operrio em Construo.

    Primeiro semestre. Fundada asubsede do Sindicato dos Qumicosem So Bernardo: Rua Artur Cor-radi, 299, em Vila Duzzi.

    1980: abril. Metalrgicos defla-gram nova greve geral no ABC,mantida por 41 dias.

    1 de maio O Dia do Trabalhador lembrado e celebrado em So Ber-nardo, num 1 de Maio Unificado,mesmo que os principais dirigentes,Lula includo, estejam presos.

    Lanado o Fundo de Greve, juri-dicamente legalizado com o nomede Associao Beneficente e Cultu-ral dos Trabalhadores de So Ber-nardo do Campo e Diadema.

    1981 O Sindicato dos Metalrgi-

    cos de So Bernardo e Diadema estsob interveno, que substituda poruma junta governativa, presidida porAfonso Monteiro da Cruz sindica-lista de confiana da categoria. A juntaconvoca eleies livres e duas chapasse apresentam. A Chapa 1 vence porlarga maioria. Assim, Jair Meneguelli o novo presidente dos Metalrgicosde So Bernardo e Diadema.

    Inaugurao do monu-

    mento ao trabalhador no

    cemitrio de Vila Euclides

    Acervo: Julio Lopes Gar-

    cia (em memria)