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SERVIÇO PÚBLICO FEDERALUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANASCAMPUS UNIVERSITÁRIO DO BAIXO TOCANTINS
João Baía da Rocha
O BAIRRO CENTRO DE ABAETETUBA (PA):
FORMAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL.
Abaetetuba - ParáOutubro - 2003
João Baía da Rocha
O BAIRRO CENTRO DE ABAETETUBA (PA):
FORMAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL.
Abaetetuba - ParáOutubro - 2003
i
João Baía da Rocha
O BAIRRO CENTRO DE ABAETETUBA (PA):
FORMAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL.
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como
requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciatura e
Bacharelado em Geografia, pelo Centro de Filosofia e
Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará.
Orientador: Prof. Dr. Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jr.
Abaetetuba - Pará
i
Outubro - 2003
João Baía da Rocha
O BAIRRO CENTRO DE ABAETETUBA (PA):
FORMAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO ESPACIAL
____________________________________Orientador:
Prof. Dr. Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jr. Departamento de Geografia, UFPA
____________________________________Primeiro Examinador:
____________________________________ Segundo Examinador:
Abaetetuba – Pa,
i
Outubro - 2003.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho à memória de Bruna
Cordeiro da Rocha e de João Monteiro da Rocha,
meus esternos avós, que me viram dar os
primeiros passos na vida acadêmica.
v
AGRADECIMENTOS
A Deus, por tudo que representa em minha vida e por proporcionar o caminho,.que
por suas palavras me levam à minha liberdade.
A todos os professores do Departamento de Geografia e de outros Departamentos,
que não mediram esforços para trabalhar no Campus Universitário do Baixo Tocantins, a
fim de proporcionar a cada estudante a dimensão do conhecimento que é a geografia.
Ao Professor Dr. Saint-Clair Cordeiro da Trindade Jr., pela sua dedicação como
orientador de meu Trabalho de Conclusão de Curso. Meus sinceros agradecimentos e estima.
Aos meus pais, Miguel Cordeiro da Rocha e Creusa Maria Sarges Baía, pois nos
momentos mais difíceis sempre estiveram próximos. Obrigado!
Aos meus irmãos Leonildo e Clemilton Baia e suas esposas Elaine e Aline pelo
apoio direto e indireto a mim atribuído.
A minha prima Lidiane e minha adorável sobrinha Camilly. Adoro vocês!
A minha adorável namorada, Rosemary. Te Amo!
A minha tia Janice que juntamente com seus filhos Jefferson, Maycon e Jôse que me
apoiaram e me ajudaram a ingressar na vida acadêmica.
A Manoel Rocha, meu tio, que durante minha estadia em Belém proporcionou-me
moradia em seu lar. Meus sinceros agradecimentos!
A todos meus amigos de Curso, um forte abraço e estima, em especial à minha
inesquecível equipe e amigos Aldelízia Feio, Cledson Nahum, José Carlos, Márcio
Benassuly, Maria de Lourdes, Maria Suely e Vanilda Araújo. Vocês foram demais!
vi
EPÍGRAFE
Não sou escravo de ninguém, ninguém é senhor de meu domínio, sei o que devo defender, por valor eu tenho e temo e agora se desfaz,... Minha terra é a terra que é minha, sempre seráMinha terra, tem a lua e tem estrelas, sempre terá.
vii
Renato Russo
viii
SUMÁRIO
Lista de Ilustrações .................................................................................................................... ix Lista de Tabelas .......................................................................................................................... x Lista de Quadros ........................................................................................................................ xi 1. INTRODUÇÃO. ................................................................................................................... 12 2.AS ÁREAS CENTRAIS E A ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO. ........ 14
O QUE É A ÁREA CENTRAL? .......................................................................................... 14
2.1.AS ÁREAS CENTRAIS NAS CIDADES AMAZÔNICAS: A ESPECIFICIDADE
DAS CIDADES RIBEIRINHAS. ................................................................................. 17
3.O BAIRRO CENTRAL DE ABAETETUBA: A CENTRALIDADE URBANA E SEU SIGNIFICADO SÓCIO-ESPACIAL. ................................................................................... 22 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ABAETETUBA E A FORMAÇÃO DE
SUA ÁREA CENTRAL. .............................................................................................. 22
OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO DO BAIRRO CENTRAL E AS FORMAS ESPACIAIS CORRESPONDENTES. .................................................................................. 33
Considerações Finais: ............................................................................................................... 48 Bibliografia Utilizada: ............................................................................................................... 49 ANEXOS .................................................................................................................................. 51
Lista de Ilustrações
Figuras Página
Figura 01: Asfaltamento da Rua Barão do Rio (1968)....................................................... 26
Figura02: Aspecto de uma das embarcações que trafegavam o rio Maratauíra durante a fase
áurea do regatão................................................................................................
27
Figura 03: Evolução do espaço urbano de Abaetetuba até 1970........................................ 29
Figura 04: Evolução do espaço urbano de Abaetetuba até 1980........................................ 29
Figura 05: Evolução do espaço urbano em Abaetetuba de 1990 até 2003......................... 30
Figura 06: Croqui do bairro Centro – 2003........................................................................ 33
Figura 07: Aspecto da Rua 15 de Agosto, próximo à zona portuária................................ 34
Figura 08: Aspecto da Travessa São Benedito.................................................................. 35
Figura 09: Aspecto da zona portuária de Abaetetuba........................................................ 37
Figura 10: Empresa Rodoviária Jarumã............................................................................. 38
Figura 11: Aspecto da Avenida D. Pedro II em horário de comercial pela manhã............ 38
Figura 12: Táxiciclistas localizados entre a Rua D. Pedro II e a Rua 1º de maio no bairro
Centro...............................................................................................................
39
Figura 13: Aspecto da Praça Manoel Castro...................................................................... 40
Figuras 14 e 15: Agências do Banco da Amazônia, BRADESCO e Banco do Brasil....... 40
Figura 16: Aspecto do comércio e da feira do bairro Centro na Rua Justo Chermont em frente
ao rio Maratauíra..............................................................................................
41
Figura 17: Igreja de Nossa Senhora da Conceição............................................................. 42
Figura 18: Secretaria Municipal de Educação.................................................................... 42
Figura 19: Escola Basílio de Carvalho e o Instituto Na. Sra. dos Anjos............................ 43
Figura 20: Aspecto da Fábrica de Gelo.............................................................................. 44
Figura 21: Escritório da indústria de refrigerantes Amazônia............................................ 45
Figura 22: Dona Nina Abreu fabricando bonecos em seu Núcleo Artesanal..................... 46
ix
Figura 23: Aspecto do Terminal Rodoviário Municipal ainda em fase de
construção.........................................................................................................
47
x
Lista de Tabelas
Tabelas Página
Tabela 01: População residente por sexo, situação de domicílio e taxa de crescimento
anual...........................................................................................................
22
Tabela 02: População dos municípios da Microrregião de Cametá.............................. 23
Tabela 03: Distribuição da população por bairro / 2000................................................ 31
x
Lista de Quadros
Quadros Página
Quadro 01: Formação histórico-espacial de Abaetetuba................................................ 32
Quadro 02: Diferenças entre Núcleo Central e Zona Periférica do Centro.................... 35
Quadro 03: escolas e centros educacionais presentes no bairro Centro......................... 43
xi
1. INTRODUÇÃO.
Este trabalho tem como preocupação de estudo o bairro do Centro de Abaetetuba
(Pará). Trata-se de entender a Área Central de um Município amazônico, situado na sub-
região do Baixo Tocantins (Estado do Pará) e que se caracteriza por ser um importante
Município do Estado, tendo uma área de 1.521,45 Km² e com cerca de 119.072 habitantes.
No decorrer do estudo, buscar-se-á analisar a Área Central, contextualizando-a a
produção do espaço urbano de Abaetetuba e entendendo como se deu a centralização deste
espaço no conjunto urbano no qual se insere, enfatizando a centralidade sócio-econômica do
bairro e de sua configuração espacial nos dias de hoje.
Nesse intento serão discutidas as características que formam aquele espaço e os
agentes que participam de sua formação, distinguindo seus papéis na caracterização do
espaço. Com isso, busca-se estabelecer uma visão histórico-espacial do Município de
Abaetetuba, tentando mostrar a ação dos agentes produtores/transformadores da Área Central
do Município.
Como procedimentos para a realização do trabalho, recorreu-se:
a) Pesquisa Bibliográfica - Este tipo de pesquisa teórica se fez necessário para
que se entenda melhor o conceito a respeito do centro urbano e de Área
Central, bem como fazer a caracterização das áreas centrais das cidades
ribeirinhas na Amazônia;
b) Pesquisa Documental - Que deu suporte à elaboração de um breve histórico
sobre Abaetetuba, a fim de entender a produção do espaço urbano deste
Município e a formação de sua Área Central;
c) Levantamento de Dados Empíricos - Este momento do trabalho foi realizado
por meio de levantamentos diversos. Dentre eles, fez-se uso do inventário da
paisagem, das formas espaciais da Área Central e levantamento de dados
secundários em órgãos públicos do Município, que ajudaram a identificar os
agentes que definem a configuração do bairro central.
O trabalho está dividido em dois capítulos substanciais, além da introdução e das
considerações finais.
Na primeira parte do estudo discute-se teoricamente as áreas centrais e a estruturação
do espaço intra-urbano. Aborda-se o centro do Município e a produção do espaço urbano de
maneira genérica. Em seguida, buscou-se visualizar as áreas centrais nas cidades amazônicas,
12
destacando-se a especificidade das cidades ribeirinhas. Na segunda parte do estudo, faremos
uma discussão sobre o bairro Centro de Abaetetuba, apresentando, inicialmente, uma análise
sobre a produção do espaço urbano de Abaetetuba e a formação de sua Área Central e, em
seguida, discute-se o papel dos agentes produtores do espaço do bairro central e as formas
espaciais correspondentes.
13
2. AS ÁREAS CENTRAIS E A ESTRUTURAÇÃO DO ESPAÇO INTRA-URBANO.
O QUE É A ÁREA CENTRAL?
Nesta parte do estudo iremos estabelecer um breve comentário teórico a respeito do
que é a Área Central e o centro urbano de uma cidade. Para isso, iremos contar com as
análises e as idéias de alguns geógrafos estudiosos e conhecedores sobre o assunto em pauta.
De início podemos descrever uma primeira posição a respeito do que é o centro
urbano:
Os centros urbanos principais são, portanto (...), pontos altamente estratégicos para o exercício da dominação. (VILLAÇA, 1998, p. 244).
VILLAÇA afirma que a Área Central não é o ponto de uma circunferência, assim
como a catedral e os bancos não formam o centro da cidade, porém o centro é o espaço
funcional, caracterizado pela presença de um conjunto de vários agentes sociais que atuam e
participam na formação do espaço. O autor explica, também, que a cidade não se converge
para o centro, mas esclarece que o centro possui uma forte atração sobre a comunidade e a
sociedade, pois na Área Central o espaço ganha evidência pelo funcionamento do conjunto
vivo de instituições sociais, ou seja, é o local onde a circulação de pessoas é intensa, tal
exemplo é a loja, a escola, a igreja, o supermercado e o palácio do governo, entre outras
inúmeras formas do espaço, cujos agentes necessitam de condições distintas de acessibilidade
ao centro urbano, a fim de que haja uma redução do tempo de deslocamento. O autor afirma
ainda que as instituições possuem, na Área Central, um forte valor simbólico para a
sociedade, e as ruas e avenidas servem principalmente para viabilizar os fluxos da cidade e
palco de disputa e controle do solo que passa a ter um excepcional valor de uso e facilitam a
acessibilidade a determinados pontos do centro. Nesse sentido,
Dominar o centro e o acesso a ele representa não só uma vantagem material concreta, mas também o domínio de toda uma simbologia. (VILLAÇA, 1998, p. 244).
CORRÊA (1989), em seu estudo sobre a Área Central, a caracteriza da seguinte
maneira:
(...) A Área Central constitui-se no foco principal não apenas da cidade, mas também de sua hinterlândia. Nela concentram-se as principais atividades comerciais, de serviços, da gestão
14
pública e privada, e os terminais de transportes inter-regionais e intra-urbanos. Ela se destaca na paisagem da cidade pela sua verticalização. (CORRÊA, 1989, p. 38)
O centro urbano da cidade capitalista, pela sua acessibilidade, atrai inúmeras redes de
lojas e supermercados e seus produtos industrializados, além de trabalhadores autônomos ou
em perspectiva de ingresso ao mercado de trabalho. E este centro estará sempre em constante
processo de reorganização via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, desinficando o
solo, deteriorando certas áreas, provocando uma renovação urbana e a relocação diferenciada
da infra-estrutura e mudança do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da
cidade, formando sempre um espaço urbano fragmentado e articulado.
CORRÊA (1989), também apresenta o processo de centralização como elemento
definidor da Área Central. Nesse caso, a cidade passaria por diversas etapas de
transformações, tendo em sua organização a dinâmica de agentes na mudança estrutural do
espaço urbano.
O autor também afirma que a Área Central sofre uma subdivisão. Nela se configuram
dois setores distintos, de um lado o núcleo central e, de outro, a zona periférica do centro que
se constitui na área em torno do núcleo central.
SPÓSITO (2001), por sua vez, nos fala da seguinte maneira a respeito da formação
da Área Central:
A ocorrência de Áreas Centrais nas cidades resulta, via de regra, de um processo histórico de localização das atividades comerciais e de serviços no interior delas. (SPÓSITO, 2001, p. 237).
Prossegue dizendo que este processo histórico ocorre devido à ação de diferentes
naturezas, ou seja, da atuação de diversos agentes no espaço, tais como: mudanças dos papéis
urbanos de cada cidade, numa divisão territorial do trabalho que se estabelece entre as cidades
de uma rede urbana; ritmo de crescimento econômico e demográfico das cidades; formas de
expansão dos tecidos urbanos relacionados a seus sítios urbanos; instalação de novas infra-
estruturas para circulação e emergência de novas formas de transporte; ampliação dos
gradientes intra-urbanos de preços fundiários e imobiliários; investimentos privados e
públicos; dinâmicas de diferenciação dos usos do solo residencial, comercial e de serviços. A
autora anteriormente mencionada acrescenta, também, que o centro urbano é a dimensão
espacial que decorre desses vários processos, mostrando, ainda, a relação entre centro e
centralidade:
15
Se o centro se revela pelo que se localiza no centro, a centralidade é desvelada pelo que se movimenta no território, relacionando a compreensão da centralidade, no plano conceitual, prevalentemente à dimensão temporal da realidade. (SPÓSITO, 2001, p. 238).
Em outras palavras, a autora assegura que a centralidade é redefinida pelos fluxos
que se desenham através da circulação das pessoas, das mercadorias, das informações, das
idéias e dos valores que constroem suas estruturas no solo da Área Central. Verifica-se, a
partir disso, a existência de alguns eixos de desdobramentos do centro principal, tal como a
construção do Shopping Center, e a instalação de hipermercados, que caracterizam uma
centralidade múltipla de benefícios comerciais.
A descentralidade ou eixos de desdobramento do centro principal não se darão
através do aparecimento de novos subcentros, mas de outras áreas centrais que atendem a
clientelas que vêm de diferentes parcelas da cidade; isso implica muitas vezes na
relocalização de estabelecimentos que antes estavam nesse centro.
16
2.1. AS ÁREAS CENTRAIS NAS CIDADES AMAZÔNICAS: A ESPECIFICIDADE
DAS CIDADES RIBEIRINHAS.
Continuando nossa discussão sobre as áreas centrais, discutiremos agora a respeito
das áreas centrais das cidades amazônicas, a fim de proporcionar um melhor entendimento a
respeito da gênese das áreas centrais nesse espaço, ressaltando a reestruturação das mesmas
após a década de 60 com a construção de rodovias.
A rede urbana1 amazônica se forma através da penetração portuguesa na Amazônia
no ano de 1616 e, neste momento, deu-se à fundação da cidade de Belém, bem como a criação
do Forte do Presépio para a conquista, manutenção e exploração da área. Desse modo,
notamos o surgimento das primeiras cidades ribeirinhas a partir desse contexto.
Podemos observar que as cidades retratadas nos primeiros momentos de ocupação da
Amazônia produziam, principalmente, o que o colonizador precisava para enviar a Portugal,
configurando, a partir daí, o papel da Amazônia na Divisão Internacional do Trabalho como
fornecedora de seus produtos para o mundo; fato este que enquadrou a região como principal
fornecedora de matérias-primas para exportação:
(...) Oficialmente, a coroa fomentava a agricultura, mas era claramente o setor extrativo que regia a vida econômica da região. (WEINSTEIN, 1997, p.28).
As cidades amazônicas originadas da colonização portuguesa eram ligadas aos rios,
que formavam as principais vias de entrada e saída da região. Deste modo, configuravam um
padrão dendrítico2 de organização da rede de cidades e com isso os portugueses conseguiram
manter o domínio e posse da região. O que era produzido nestas cidades ou próximo delas era
enviado para Belém e de lá os produtos eram mandados através de embarcações para o
mercado europeu.
Um ponto importante para ser observado na ocupação na Amazônia está relacionado
diretamente à formação da cidade de Belém, em 1616. Esta cidade servia de pólo
centralizador das cidades surgidas na região, ou seja, possuía a função de proteger o território
e proporcionar a penetração portuguesa para a exploração do mesmo. Em Belém foi
1 Sistema integrado de cidades, constituído por núcleos urbanos de diferentes tamanhos e importância, que vão das cidades pequenas ou locais até as maiores cidades (metrópoles). (MONTEIRO, 1997, p. 94)2 Ramificado como uma árvore. É portanto, um tipo de rede urbana considerada simples, posto que ela se estrutura principalmente em função das vias fluviais. (TRINDADE JR., 2002, p. 01).
17
construído o Forte do Presépio, localizado na confluência do rio Guamá com a baía de
Guajará e era destinado à proteção da região.
A criação de uma cidade, destinada a desempenhar funções de proteção e ponto de partida para a conquista de um território, implica na escolha de uma posição e um sítio condizentes com essas funções. (CORRÊA, 1987, p.43)
A respeito do padrão dendrítico das cidades, podemos notar que as mesmas foram
erguidas em pontos estratégicos para a penetração e conquista do território; deste modo, fez-
se necessário que cada cidade estivesse junto às margens dos rios. Neste mesmo momento era
necessário criar, também, uma unidade portuária, onde o porto e o trapiche principal
destacavam o acesso às áreas centrais a partir dos rios, configurando as primeiras cidades
amazônicas como cidades ribeirinhas. Nesse caso, a Área Central convergia para a borda
fluvial.
Os aldeamentos montados na Amazônia pelas Companhias da Igreja Católica e pelo
colonizador português foram os primeiros embriões de futuras cidades montadas nas
ramificações dos rios. Nesse contexto, os índios escravizados participavam inteiramente do
sistema de colonização. A coroa portuguesa via na escravidão indígena e, posteriormente, na
negra, o braço forte para se manter equilibrada a produção econômica e o comércio ocidental.
Com as aldeias missionárias implanta-se o embrião da rede urbana dendrítica. Esta rede está assentada no extrativismo vegetal e no comércio das drogas do sertão (CORRÊA, 1989, p.259)
Para os portugueses, a dominação era certa sobre os índios, uma vez que os colonos
possuíam um conhecimento armamentista muito superior ao arco e flecha, que eram usados
pelos índios para as atividades de caça e pesca, bem como para o combate na luta contra
tribos inimigas. Observa-se, assim, um choque entre índios e colonos. “O choque aconteceu,
porque os europeus conheciam tecnologia capaz de impor a vontade e porque acreditavam que
só eles tinham a verdade sobre todos os assuntos.” (PROST, 1997, p. 65).
As primeiras cidades fixadas na Amazônia não eram muito diferenciadas umas das
outras. Suas características, tanto físicas quanto funcionais não possuíam muita distinção. É
nesse sentido que OLIVEIRA (2000) faz uma descrição das cidades ribeirinhas tradicionais a
partir da Área Central das mesmas.
18
As pequenas cidades amazônicas têm um padrão urbano característico: as ruas e caminhos terminam invariavelmente no porto. A rua da frente ou a rua primeira tem as melhores casas e as ruas de trás, casebres cobertos de palha. Essas cidades localizadas às margens dos grandes rios, parecem ter sido criadas para serem vistas de longe, pois de perto toda a dimensão de beleza que existia no primeiro olhar esvai-se no arruamento caótico, nas casas novas, mas com as fachadas descobertas e precocemente envelhecidas. Talvez fosse melhor que delas só tivéssemos a primeira impressão. (OLIVEIRA, 2000, p.158).
Novos núcleos urbanos foram formados durante a política da Companhia Geral do
Grão-Pará e Maranhão entre os anos de 1750 e 1780, e também com o ciclo da borracha a
partir de 1820, mas as marcas principais das cidades ribeirinhas tradicionais permaneceram
praticamente inalteradas em seu aspecto físico.
O ciclo da borracha contribuiu para o revigoramento das cidades tradicionais da
Amazônia e o surgimento de novos núcleos de povoamento, sendo que alguns localizados
também próximos a estradas-de-ferro. Além de atrair uma imensa demanda de mão-de-obra
para a região, os efeitos dessa atividade contribuíram também para mudanças estruturais das
cidades de Belém e Manaus que vivenciaram a Belle Époque. Nesse momento, palacetes,
teatros e praças públicas etc., foram construídos para atender à elite local; diferentemente dos
trabalhadores da borracha, que não receberam as mesmas benesses.
A grande concorrência da borracha asiática concorreu para a crise do produto e para
a conseqüente estagnação do crescimento populacional em áreas e cidades diretamente ligadas
à produção. Essa estagnação perdurou até por volta da década de 1950, quando o governo
federal, especificamente na fase dos governos militares, passou a desenvolver projetos para
uma nova inserção da Amazônia na economia nacional.
Portanto, somente a partir da década de 1950 é que o espaço amazônico terá um novo
papel no desenvolvimento nacional. Buscava-se, a partir desse momento, a valorização
econômica da região, por meio de ações como a de criação, em 1953, da Superintendência do
Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA) e, na década de 1960, a estratégia
do governo militar de ocupação institucional, conhecido como “Operação Amazônia”. Esta
última década marcou o pacto do Estado desenvolvimentista-militar com a ocupação e o
"desenvolvimento" da Amazônia tendo em vista a sua integração à economia nacional.
O processo de modernização ocidentalizada avançou, porém com o projeto desenvolvimentista/militarista, no período de 1964-1985, este Estado intervencionista e desenvolvimentista constitui-se em instrumento de "modernização" do país e da viabilidade da expansão capitalista para a Amazônia. Para isto, era preciso incorporar à economia nacional a Amazônia. Uma região de grande dimensão física, rica em recursos naturais e "vazia" de "empreendedores" no sentido capitalista do termo. (COELHO, 2000, p. 01)
19
Ainda em 1970 é lançado o I Plano Nacional de Desenvolvimento – I PND (1970 a
1974), que tinha como fundamental objetivo promover a abertura dos eixos rodoviários na
Amazônia e, ao longo destes, originar a instalação de colonos nas regiões que apresentavam
conflitos pela posse da terra, como era o caso do Nordeste brasileiro; definindo a construção
da rodovia Transamazônica, além de coordenar os eixos de integração nacional.
As estradas construídas na Amazônia acabaram atraindo migrantes, que logo
constituíram os novos núcleos populacionais localizados próximos das rodovias. Para que
esse novo direcionamento acontecesse, foi criado também o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (INCRA), em 1970, sendo uma de suas intenções a
colonização agrária às margens da rodovia Transamazônica, a fim de controlar o excedente
rural migrante existente na própria região e provindo de outras regiões do País: "controle no
sentido de disciplinamento locacional do excedente rural, minimizando o afluxo para as
periferias metropolitanas e, ao mesmo tempo, criando na Amazônia um mercado de força de
trabalho para o capital.” (CORRÊA, 1987, p.57).
Nesse contexto, as rodovias assumiram grande importância:
As rodovias são os eixos da nova circulação, em detrimento da via fluvial, deslocando os sítios dos núcleos do vale para a terra firme ou revivendo cidades que comandavam a economia e a circulação dos grandes vales.(BECKER, 1997, p. 55).
Com a construção das rodovias houve um revigoramento daquelas cidades
ribeirinhas que foram atreladas às rodovias. Nesse caso, o crescimento da cidade não passa a
ser apenas às margens do rio, mas também às margens das estradas. As rodovias marcam
agora uma nova via de penetração, circulação e ligação:
A abertura de rodovias de penetração, concomitantemente à valorização, revigorou numerosos núcleos de povoamento que se encontravam estagnados ou que nunca tiveram maior importância na área em que se localizavam.(CORRÊA, 1989, p. 265).
Neste momento, surgiram, também, as novas cidades às margens das estradas,
enquanto outras nasceram a partir dos interesses dos projetos econômicos implantados na
região, a exemplo do caso das company town’s3.
De acordo com CORRÊA (1989), a company town se torna uma nova paisagem na
região:3 É uma criação planejada, dotada de moderna infraestrutura e dos serviços essenciais, e onde tudo está sob o controle direto e indireto da empresa que a criou e a administra (CORRÊA, 1989, p. 268)
20
A company town representa uma implantação moderna na Amazônia, introduzindo uma nova paisagem e um novo estilo de vida, que muito pouco ou nada tem a ver com a paisagem e a população regionais. (CORRÊA, 1987, p, 62)
A nova dinâmica regional acentuou uma grande mudança nas cidades tradicionais.
Estas não perderam terminantemente seu contato com o rio, que deu origem à Área Central da
cidade; entretanto, fez com que muitas dessas cidades ribeirinhas se reestruturassem,
causando, assim, a formação de bairros periféricos decorrentes da presença de uma mão-de-
obra excluída do desenvolvimento proposto pelo governo federal, assim como, provocasse,
muitas vezes, perceptíveis alterações na configuração espacial de suas áreas centrais, até então
voltadas principalmente para o rio.
21
3. O BAIRRO CENTRAL DE ABAETETUBA: A CENTRALIDADE URBANA E
SEU SIGNIFICADO SÓCIO-ESPACIAL.
A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO DE ABAETETUBA E A FORMAÇÃO DE
SUA ÁREA CENTRAL.
Neste terceiro ponto de discussão abordaremos não só a evolução da Município de
Abaetetuba a partir de sua gênese como Vila, mas também o significado do centro para esta
cidade ribeirinha em meio à observação dos aspectos sociais, políticos e econômicos que
influenciaram na formação urbana do Município, como a construção de rodovias e de projetos
econômicos, a exemplo do ALBRÁS/ALUNORTE, destacando-se a influência dos mesmos
para a dinâmica do Município.
Segundo MACHADO (1986, p 59-60), o Município de Abaetetuba está localizado na
região do Baixo Tocantins - Pará, à margem direita do rio Maratauíra, entre os rios Abaeté e
Jarumã, afluentes do Rio Tocantins. Tem uma área de 1.090 Km2 e limita-se ao norte pela
Baía do Marajó e Barcarena, a leste pelo Rio Moju, ao sul por Igarapé-Miri e a oeste pelos
Municípios de Limoeiro do Ajuru e Cametá.
Abaetetuba tem hoje, de acordo com os dados definitivos do censo demográfico de
2000, uma população de 119.072 habitantes. Desta, 70.752 estão na zona urbana e 48.320 na
zona rural (Tabela 01).
Tabela 01: População residente por sexo, situação de domicílio e taxa de crescimento anual.
Local População Total Homens Mulheres Urbana Rural Taxa Cresc.
AnualEstado do Pará 6.188.685 3.127.760 3.060.925 4.115.774 2.072.911 2,94Microrregião
de Cametá353.669 181.459 172.210 173.295 180.374 2,155*
Abaetetuba 119.152 60.595 58.557 70.752 48.320 2,77
(*) Média de taxas de crescimento populacional dos Municípios da Microrregião de Cametá.Fonte: IBGE – Censo 2000.
Destaca-se, ainda, que o Município de Abaetetuba apresenta um grande número de
pessoas em comparação a outros Municípios da Microrregião de Cametá (Tabela 02).
Tabela 02: População dos municípios da Microrregião de Cametá.
22
Local População Total Homens Mulheres Urbana Rural Taxa Cresc. Anual
Abaetetuba 119.072 60.520 58.552 70.752 48.320 2,77Baião 21.126 11.022 10.104 10.861 10.265 0,96Cametá 97.504 50.075 47.429 40.388 57.116 2,19Igarapé-Miri 52.599 26.967 25.632 24.975 27.624 2,89Limoeiro do Ajuru 19.566 10.236 9.330 3.771 15.795 2,10Mocajuba 20.550 10.236 10.053 14.570 5.980 2,30Oeiras do Pará 23.252 12.142 11.110 7.978 15.274 1,88TOTAL 353.669 181.459 172.210 173.295 180.374 1,155*
(*) Média de taxas de crescimento populacional dos Municípios da Microrregião de Cametá.Fonte: IBGE – Censo 2000.
O nome da cidade de Abaetetuba é de origem tupi-guarani, que tem por significado
lugar de homens fortes e valentes e sua “descoberta” é envolta por um episódio curioso, no
qual é narrado que uma tempestade desviou o então colonizador, o português Francisco de
Azevedo Monteiro4, da rota de sua sesmaria. Era o dia 8 de dezembro de 1724, dia de Nossa
Senhora da Conceição. Monteiro, temendo pela vida de sua família e de sua tripulação,
prometeu à santa que, caso encontrasse salvação, no local onde atracasse construiria uma
capela em sua honra. O colonizador conseguiu atracar onde hoje se chama Cruzeiro, atual
Travessa Pedro Rodrigues, às margens do Rio Maratauíra. “Construiu a capela, prometida
como pagamento à graça alcançada, comunicando ao Governo da Província do Pará que
tomaria posse da terra, fundando, com isso, um pequeno povoado, em 1724.” (MACHADO,
2002, p. 7).
A partir de então deu-se o processo de formação do pequeno núcleo:
Construída a capela, em torno da mesma se foram agrupando alguns casebres dando origem a um povoado. A este, Francisco Azevedo Monteiro denominou Povoado de Nossa Senhora da Conceição de Abaeté.(MACHADO, 2002, p. 08).
Manoel da Silva Raposo, um dos personagens responsáveis pelo crescimento do
vilarejo, por volta de 1773, juntamente com várias famílias marajoaras que se estabeleceram
na Vila, reconstruíram a antiga capela construída por Francisco Monteiro e, junto à capela,
anexaram uma casa destinada à permanência de missionários. Logo seu trabalho atraiu várias
famílias da região do Marajó, que fixaram residências e dedicaram-se à agricultura de
subsistência e ao extrativismo, e que, durante muito tempo, caracterizaram o setor econômico
de Abaetetuba. “Conseguiu alinhar as poucas casas do lugarejo, dando origem à primeira rua
4 Português de nascimento, atraído por promessas de riqueza, partiu para o novo mundo, sendo este, proprietário de uma sesmaria no rio Jarumã desde 1712 (MACHADO, 2002, p. 7).
23
do povoado.” (MACHADO, 2002, p. 09).
Outro personagem da história oficial a contribuir com a organização do vilarejo, foi
o Padre Aluízio Conrado Pfeil, que colaborou com os moradores e com Manoel Raposo na
administração do lugar. Em agradecimento pela ajuda prestada pelo Padre Pfeil, Manoel
Raposo, pouco antes de falecer, doou à Igreja a sesmaria que havia recebido do Governo.
Padre Pfeil logo solicitou aos seus superiores a elevação do povoado à categoria de Freguesia,
mas esta ainda estaria anexada ao território belenense:
Estando anexada ao território de Belém, a freguesia de Abaeté passou a receber, em vários aspectos, grande influência da capital. Assim, houve um rápido desenvolvimento e cogitou-se a possibilidade de uma Vila de Abaeté. (MACHADO, 2002, p. 14)
Somente em 1880, durante o Governo de José Araújo Danim, Abaeté passou a ter
seu território separado da capital, elevando a antiga freguesia à categoria de Vila, sendo
conhecida a partir daí como Vila de Abaeté.
A localização do núcleo urbano de Abaetetuba decorreu fundamentalmente da
influência das vias fluviais, sendo estas os elementos adequados para a comunicação e a
ocupação do meio físico. “Às margens do rio, a cidade se desenvolveu em função dele e de
atividades comerciais por ele facultadas.” (MACHADO, 1986, p. 83).
A Vila de Abaeté só passa a se tornar Vila de Abaetetuba com a aplicação do
Decreto Lei 4505, de 30 de setembro de 1843, que divulgava a proibição de que mais de uma
cidade ou vila pudessem possuir a mesma designação, uma vez que no Estado de Minas
Gerais já existia um Município e uma cidade denominados de Abaeté. A Vila cresceu e
assumiu proporções de cidade, o que já apontava para a necessidade de maiores perspectivas
de dinamismo. “Tais perspectivas surgiram quando o governador Lauro Sodré, através da lei
nº: 324 de 06 de julho de 1895, elevou a antiga Vila à categoria de cidade.” (MACHADO,
2002, p. 14-15).
Na obra de REIS (1969), encontramos alguns intendentes, interventores e prefeitos
que realizaram obras para a organização estrutural de Abaetetuba e do Bairro Centro, este
último, objeto principal de nossa análise. São eles:
• Intendente Dr. João Evangelista Corrêa de Miranda (1902-1906) - Construiu
e inaugurou em 1904 uma estrada rudimentar que atualmente liga Abaetetuba
até a Colônia Velha (Figura 01), promovendo ao agricultor melhores
possibilidades para que o colono trouxesse, do ponto de produção ao ponto de
24
consumo, os gêneros alimentícios agrícolas;
• Prefeito Nomeado Maximiniano Silvino Cardoso (24/11/1930 a 05/031933) -
Buscou recursos junto ao Governo do Estado para a implantação da usina de
energia movida à caldeira, tipo “LINCOLN”. Neste momento, as ruas do
Município foram iluminadas por energia elétrica, inaugurada em 21 de fevereiro
de 1932 na avenida Rui Barbosa. A usina fornecia luz para consumo particular
de casas e para o resto do Município;
• Prefeito Nomeado João Francisco Ferreira (12/02/1936 a 31/12/1937) -
Durante o seu mandato constrói um novo cemitério em Abaetetuba, localizado
no Bairro Centro de Abaetetuba;
• Prefeito Nomeado Aristides dos Reis e Silva (01/01/1938 a 28/02/1943) -
Instalou a rede de abastecimento de água para o Município (torneiras públicas
no bairro Centro) e criou escolas no Município;
• Prefeito Eleito Pedro Pinheiro Paes (15/02/1948 a 31/01/1951) - Possibilitou
a implantação da Usina à Caldeira (Caterpilar) que produzira energia elétrica;
• Prefeito Eleito Joaquim Mendes Contente (08/04/1951 a 31/01/1955) - Fez
com que as ruas do Município fossem limpas e iniciou o calçamento de muitas
delas, instalou diversas escolas públicas municipais, principalmente no interior
do Município;
• Prefeito Nomeado Dionísio Edmilson Lobato (26/01/1958 a 31/01/1958) -
Iniciou o calçamento de várias ruas do Município, renovou o serviço de energia
elétrica, possibilitando maior distribuição de energia para o Município;
• Interventor Mariuadir Miranda Santos (10/06/1966 a 31/01/1967) - Construiu
a Praça Francisco Azevedo Monteiro, terminou parte do aterro da frente do
Município, restaurou os setores do Mercado Municipal, assim como asfaltou
várias ruas do Município;
• Prefeito Eleito Hildo Tavares Carvalho (01/02/1967 a 31/01/1970) - Durante
a sua gestão foi construída uma nova usina de força e luz, a Praça Francisco
Azevedo Monteiro, em 1967, asfaltamento de ruas, em 1968 (Figura 01) e
também foi construído novo Prédio da Prefeitura de Abaetetuba.
25
Figura 01: Asfaltamento da Rua Barão do Rio (1968) - Localizada no bairro Centro entre a Travessa Pedro Pinheiro Paes com a Avenida Pedro Rodrigues.
Fonte: Memória Photográfica, (1998).
Abaetetuba, desde a sua origem, assume o caráter de cidade ribeirinha, mas a partir
de 1960, o Município passa a ser ligada também por estradas projetadas pelo Governo Militar
através do programa institucional de ocupação conhecido como “Operação Amazônia”, que
colocaria em prática o pacto do Estado desenvolvimentista-militar com a ocupação e o
desenvolvimento da Amazônia e sua integração à economia nacional e internacional. Durante
esta década foi aberta a rodovia Pa-2525 (ex-Pa-01).
Assim, novos assentamentos populacionais na região foram direcionados pelo
processo de migração promovido pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(INCRA) e pelo Programa de Integração Nacional (PIN), acentuando-se o mesmo processo,
mais precisamente no final da década de 1970, como afirma TOURINHO (1991):
Contudo, só no final da década de 70 que, impulsionada pelos contingentes migratórios que chegam à cidade, se verifica a ocupação, não só das franjas periféricas, localizadas ao longo da rodovia PA-252, como de áreas que, em função de seu caráter alagadiço tinham, até então, sido mantidas à margem do processo urbano (...). (TOURINHO, 1991, p. 317)
Até a década de 1970 Abaetetuba era composta por quatro bairros, a saber: o Centro,
o São Lourenço, o Algodoal e o Santa Rosa. Novos bairros, além desses já existentes até
1970, surgiram devido ao grande fluxo migratório advindo de outros Estados. Um deles
merece destaque, pois surgiu embrionariamente como resultado da desativação do pequeno
5 Estrada que vai de Abaetetuba até Mãe do Rio, no entroncamento com a BR-010, passando por Moju, Acará, Bujaru, Concórdia do Pará e São Domingos do Capim, tendo uma extensão de 211 km. Seguindo de Moju até o entroncamento com a PA-475. (PRODEPA, 1999)
26
aeroporto do Município, sendo, por esse motivo, denominado de bairro do Campo da
Aviação, em 1980:
O Campo da Aviação tornou-se um dos maiores bairros da cidade, paralelamente à emergência de uma série de outros, denominados: Francilândia. São João, São José, São Sebastião, Laranjal e Angélica, quase todos ocupados por meio de invasões. (TOURINHO, 1991, p. 317)
Esse bairro é considerado por LOBATO (1993) como sendo a primeira favela de
Abaetetuba:
“A primeira favela surgiu em terras da Aeronáutica, depois entregues à Prefeitura, com a construção do novo Aeroporto Municipal.” (LOBATO 1993, p. 37)
Outra rodovia que participa do processo de integração é a Pa-151, com extensão total
de 179 km, que se estende do porto do Arapari, em Barcarena, até Baião, passando pelos
municípios de Abaetetuba, Igarapé-Miri, Cametá e Mocajuba.
A década de 1970 é caracterizada pela impulsão dos contingentes migratórios que
atingiriam o Município, processando a ocupação dos setores periféricos e dos espaços
alagadiços do contorno do Município; ocupação essa que se intensificou durante os anos 80
com a implantação dos grandes projetos na Amazônia.
A zona portuária significou uma das principais características que definiria a
paisagem do lugar, em relação ao espaço urbano do Município. Sua produção era voltada
ainda para o comércio de regatão (Figura 02), implantado em Abaetetuba no ano de 1945.
Figura 02: Aspecto de uma das embarcações que trafegavam o rio Maratauíra durante a fase áurea do regatão.Fonte: Revista VER-O-PARÁ, (2002).
27
Entretanto, MACHADO (1986) afirma que este tipo de comércio só perdurou em
Abaetetuba até 1973, devido aos altos custos de manutenção das embarcações utilizadas,
considerando-se o alto preço dos combustíveis e da manutenção das tripulações. Todavia, este
tipo de comércio funcionava num sistema de troca de mercadorias:
Na ida, os comerciantes levavam os produtos de Abaeté, principalmente a cachaça, os refrigerantes (...), o mel e a rapadura, bem como querosene, sal e açúcar refinado, alguns medicamentos e produtos industrializados adquiridos de atacadistas em Belém do Pará. (MACHADO, 2002, p. 23-24).
Em 1980, a empresa de Alumínio Brasileiro S/A (ALBRÁS) começou a ser
construída e foi inaugurada em 1985.
Devido a problemas de mercado, a empresa Alumínio do Norte do Brasil
(ALUNORTE) teve a sua construção paralisada na década de 1980, voltando a ser reiniciada
em 1993 e inaugurada em 1995 pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso.
Em 1987 inicia-se a construção da segunda etapa da ALBRÁS, que é concluída em 1991.
Nota-se, neste momento, em Abaetetuba, um intenso fluxo de mão-de-obra para trabalhar
naquela empresa e, com isso, um intenso fluxo de moradores da área rural para a área urbana.
Abaetetuba obteve um crescimento urbano significativo com a presença de imigrantes, mas este fluxo migratório foi maior a partir da construção da empresa ALBRÁS/ALUNORTE. A partir de 1983, em conseqüência do aumento desordenado da população, gerado pelo assentamento do grande complexo industrial, instalado no Município de Barcarena, verificou-se o deslocamento da força de trabalho e mão-de-obra do campo para a cidade. (LOBATO, 1993, p. 50)
A respeito do crescimento urbano de Abaetetuba nas últimas décadas, que,
indiscutivelmente, originou-se como um pequeno núcleo urbano ribeirinho, foram
conseguidas algumas plantas, e por meio de dados obtidos no IBGE (2003), informações que
demonstram o crescimento da área urbana de Abaetetuba durante as décadas de 1970, 1980 e
1990-2003, representando o processo de ocupação do espaço urbano, bem como a atual
localização do Bairro Centro. (Figura 03, 04 e 05).
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Figura 2- Evolução do espaço urbano em Abaetetuba de 1980 até 1990
Fonte: Mapa Comercial de Abaetetuba 2002 - 2003
Figura 03: Evolução do espaço urbano de Abaetetuba até 1970.Fonte: Mapa Comercial de Abaetetuba 2002-2003.
Na figura acima podemos notar a presença do bairro Centro, São Lourenço, Santa
Rosa e Algodoal no espaço urbano de Abaetetuba durante a década 1970. Enquanto que na
figura abaixo (Figura 04), além dos bairros já citados anteriormente, notamos a presença dos
bairros de Cafezal, São João, Francilândia, Aviação, Cristo Redentor, São Sebastião, São
Domingos da Angélica, Mutirão.
Figura 04: Evolução do espaço urbano de Abaetetuba até 1980.FONTE: Mapa Comercial de Abaetetuba 2002-2003.
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Figura 3- Evolução do espaço urbano em Abaetetuba de 1990 até 2003
Fonte: Mapa Comercial de Abaetetuba 2002 - 2003
Figura 05: Evolução do espaço urbano em Abaetetuba de 1990 até 2003.Fonte: Mapa Comercial de Abaetetuba 2002-2003.
Na figura acima, podemos notar a presença dos bairros de Santa Clara e Castanhal,
criados em 1990. Constituindo os 14 bairros oficiais de Abaetetuba.
Apesar da construção das rodovias, os rios ainda são de grande importância para as
pessoas que transitam pelas vias fluviais e, também, para os produtos comercializados na feira
do Município, onde é notório um grande contingente de embarcações que aportam e dão
destaque a Abaetetuba como cidade ribeirinha:
Os transportes fluviais são feitos através do barco a motor, à vela, pequenos motores e grandes motores, navios e embarcações de pequeno porte, como os reboques, montarias, batelões e cascos, já estando com menos uso o regatão, embarcação tradicional do Município (LOBATO 1993, p. 32)
Mesmo com o crescimento recente do Município, poderemos perceber que o centro
ainda continua a ter uma significativa importância para a população local e do interior.
Podemos notar por exemplo, através da análise do Censo 2000 (Tabela 03) que,
apesar do Município ter crescido substancialmente em direção à rodovia, originando assim
novos bairros em Abaetetuba, o Bairro Centro continua sendo um dos maiores bairros do
Município.
30
Tabela 03: Distribuição da população por bairro / 2000.
BAIRRO POPULAÇÃOAlgodoal 9.666Aviação 6.081Cafezal 4.356Castanhal 602Centro 10.108Cristo Redentor 2.340Francilândia 7.656Mutirão 1.559Santa Clara 665Santa Rosa 3.532São Domingos da Angélica 2.930São João 3.995São Lourenço 10.745São Sebastião 5.082
Fonte: IBGE – Censo 2000.
Mesmo com o surgimento de alguns setores comerciais e de serviços nos novos
bairros, a Área Central ainda possui uma diferenciação expressiva em relação aos mesmos,
seja relacionada à sua estrutura, seja em relação ao intenso fluxo de pessoas que conformam
aquele espaço.
Baseados nos aspectos histórico-espaciais de Abaetetuba, sistematizamos um quadro
que periodiza a dinâmica urbana em duas fases: de 1724 a 1960 e de 1960 a 2003. Nesse
quadro são expostos os elementos sócio-econômicos da formação do município e as
repercussões na organização espacial do Município e da sua Área Central (Quadro 01).
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Quadro 01: Formação histórico-espacial de Abaetetuba.
Fases ELEMENTOS SÓCIO-ECONÔMICOS DA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO
REPERCUSSÕES NA ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA CIDADE E DA SUA ÁREA CENTRAL
1724a
1960
1724 - É fundado por Francisco Azevedo Monteiro um lugarejo que seria denominado de Freguesia de Abaeté.1773 - Intensifica-se a vinda de famílias marajoaras para a Vila.1895 - Separação do território de Abaeté do território belenense .1843 - É publicado o Decreto Lei nº: 4505 de 30 de setembro de 1943, que divulgava a proibição de que mais de uma cidade ou vila pudessem possuir a mesma designação.1895 - O governador Lauro Sodré decreta a Lei nº: 324 de 06 de julho de 1895 que elevou a antiga Vila à categoria de cidade.1904 - É construída uma estrada rudimentar que ligaria Abaetetuba ao “Trevo da Colônia” localizado no Km 12 da Pa-252. 1932 - É implantada a primeira usina de energia movida à caldeira tipo “LINCOLN”, durante a administração do Sr. Maximiniano Silvino Cardoso.1945 - Implantação do comércio de "regatão" no Município.1938 - É instalada no Município a rede de abastecimento de água para o Município.1948 - É implantada a Usina à caldeira (Caterpilar) que passou a produzir energia elétrica.1955 - Iniciada a limpeza das ruas e instaladas diversas escolas públicas municipais.
1724 - Extrativismo voltado para o abastecimento do comércio europeu e agricultura direcionada para a subsistência; Instalação do “Cruzeiro”, localizado na primeira rua do Município e caracterização do Município como cidade ribeirinha; Dá-se início a implantação das primeiras casas da freguesia de Abaeté, localizadas próximas à via fluvial.1773 - Com a demanda de marajoaras para a antiga Vila, Manoel Raposo destaca-se no trabalho de organização da antiga Vila de Abaeté.1895 - Elevação da antiga Freguesia de Abaeté à categoria de Vila de Abaeté.1843 - A antiga Vila de Abaeté recebe agora a denominação de Vila de Abaetetuba.1895 - Elevação da antiga Vila à categoria de Cidade.
1904 - A construção da estrada possibilita ao produtor a venda de seus produtos no Município.
1932 - Iluminação das de algumas ruas do Município, onde a usina fornecia luz para consumo particular de casas e para a cidade;
1938 - A rede de abastecimento de água era realizada por torneiras públicas espalhadas na Área Central de Abaetetuba;
1945 a 1955 - Correspondem à fase áurea do comércio de regatão em Abaetetuba, mas seu apogeu declinou em 1973, devido a grande elevação de custos operacionais das embarcações e tripulação.
1948 - Com a implantação da Usina à Caldeira (Caterpilar) é substituída a Usina à Caldeira para possibilitar uma melhor iluminação da cidade.
1955 - Iniciou-se o calçamento algumas ruas da cidade e implantação de escolas no interior de Abaetetuba.
1960a
2003
1960 - É projetada para a região a “Operação Amazônica”. Nesta mesma década, dá-se início a construção de rodovias na Amazônia.1966 - Asfaltadas várias ruas da cidade;1967 a 1970 - Foram construídos a usina de força e luz (atual Rede CELPA), inaugurada a Praça Francisco Azevedo Monteiro (1967); ruas foram asfaltadas (1968); construção e inauguração do novo Prédio da Prefeitura de Abaetetuba.1970 - É posto em prática o I Projeto de Integração na Amazônia (I PIN).1980 - Inicia-se a construção da empresa ALBRÁS, 1985 - É inaugurada a ALBRÁS para produção de alumínio na região, com forte influência na dinâmica sócio-espacial do Município.1995 - Inaugurada a ALUNORTE para a produção de alumina, com forte influência na dinâmica sócio-espacial do Município.2002 - Inaugurada a "Alça Viária", responsável pela completa integração rodoviária entre Abaetetuba e Belém, prescindindo do sistema de balsas até então usado sistematicamente para acessar a capital.
1960 - São construídas as rodovias Pa - 252 e Pa -151, surgindo um novo eixo de ligação entre os Municípios e favorecendo o transporte de mercadorias e pessoas entre o Município e o restante da Amazônia Oriental.1966 - Além das estradas, as ruas do Município foram também asfaltadas, assim como algumas ruas do bairro Centro. 1970 - Acontece o primeiro surto de crescimento urbano em Abaetetuba devido à chegada de migrantes de outros Estados pelas rodovias principalmente, formando e/ou adensando alguns bairros periféricos de Abaetetuba.1980 - Amplia-se o contingente de pessoas na periferia de Abaetetuba, uma vez que nem toda mão-de-obra é absolvida pela empresas instaladas devido à falta de qualificação.1985 - Com o término das obras de construção do complexo ALBRÁS muitas famílias sem ter para onde ir montam seus casebres próximos a company town de Barcarena e na zona periférica de Abaetetuba.1995 - Momento negativo para os ex-trabalhadores que buscaram na periferia do Município e no setor informal e autônomo uma nova etapa de trabalho aliada, também, ao subemprego nos bairros de Abaetetuba.2002 - O Município passou a se interligar ainda mais pelas estradas, no entanto, essa interligação é direcionada, principalmente, ao benefício do comércio e da indústria exportadora.
Organização: João Baía da Rocha. Agosto/2003.
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OS AGENTES PRODUTORES DO ESPAÇO DO BAIRRO CENTRAL E AS FORMAS ESPACIAIS CORRESPONDENTES.
Neste último ponto de nosso trabalho, iremos responder porque o bairro Centro do
Município de Abaetetuba também pode ser classificado como Área Central, fundamentando
essa discussão nas idéias e colocações abordadas anteriormente por CORRÊA (1989),
SPÓSITO (2001) e VILLAÇA (1998) e, por fim, apresentando as formas espaciais de
circulação, produção e idéias que definem o bairro Centro como Área Central.
O bairro Centro do Município de Abaetetuba possui uma delimitação oficial recente,
pois foi somente a partir da Lei Nº 003/95 de 10 de março de 1995 que o perímetro urbano do
Município foi definido e seus bairros delimitados (ANEXO 01). Esta lei foi criada pelo ex-
vereador Everaldo da Silva Araújo.
Segundo a Lei acima citada, a delimitação do bairro Centro é definida a partir do
entroncamento entre o ponto inicial e final entre a Rua Santos Dumont e a Avenida São
Paulo, seguindo até a Avenida D. Pedro II e a Rua Joaquim Mendes Contente, continuando
pela Travessa Padre Pimentel até o rio Maratauíra e deste rio até o ponto final, Travessa
Santos Dumont. Esta delimitação descreve o bairro Centro que é a nossa área de estudo
(Figura 06).
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Figura 06: Croqui do bairro Centro – 2003.Fonte: João Baia da Rocha, Junho/2003.
Entretanto, a delimitação do bairro Centro realizada pelo poder público leva em
consideração somente o traçado de ruas e avenidas, enquanto que a definição geográfica de
Área Central é caracterizada a partir das formas espaciais e das atividades que elas
desempenham para o fluxo da sociedade e de capital.
CORRÊA (1989) afirma que através dos processos e das formas espaciais é que a
Área Central vai se organizando ao longo do tempo e concentrando as principais atividades
comerciais, de serviços, de gestão pública e privada, onde encontramos também os terminais
de transporte inter-regionais e intra-urbanos.
Em nosso trabalho a respeito do bairro Centro de Abaetetuba, notamos que tal
afirmativa, colocada anteriormente pelo autor, é válida para o bairro, que se destaca na
paisagem do Município por ser o centro de uma cidade ribeirinha e por participar da gênese
do Município. A partir daí verificamos que o preço da terra e de imóveis foi se tornando ainda
mais elevado através do envolvimento de fluxos de capitais, mercadorias, pessoas e idéias,
caracterizando, também, o bairro como área de decisões.
Uma outra característica que encontramos no bairro Centro, de acordo com as
colocações de CORRÊA (1989) é a presença de dois setores distintos no Área Central, que
são o Núcleo Central e a Zona Periférica do Centro, sendo este último setor o espaço entorno
da Área Central e possuindo uma funcionalidade menos intensiva em relação àquele. Deste
modo, observamos que no bairro Centro grande parte dos estabelecimentos, feiras e
instituições presentes naquela área está mais centrada em direção a zona portuária (Figura 07),
enquanto que uma menor parte de instituições e residências encontra-se distribuída no bairro,
constituindo assim a Zona Periférica do Centro (Figura 08).
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Figura 07: Aspecto da feira da Rua 15 de Agosto, próximo à zona portuária – Nota-se que as residências também atuam como casas comerciais no bairro Centro.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
Figura 08: Aspecto da Travessa São Benedito – Pode-se notar que nesta área as residências são de classe média baixa e de pouca mobilidade social.Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
Para entendermos melhor o que é o Núcleo Central e a Zona Periférica do Centro,
montamos um quadro onde observaremos as diferenças entre os mesmos. (Quadro 02).
Quadro 02: Diferenças entre Núcleo Central E Zona Periférica do Centro.
NÚCLEO CENTRAL ZONA PERIFÉRICA DO CENTRO
• Maior concentração das atividades econômicas, principalmente do setor terciário e elevados preços da terra;
• Ampla presença de edifícios e escritórios juntos uns dos outros e que possibilitam as relações interpessoais vinculadas aos negócios;
• Limitado em escala de extensão, ou seja, podendo ser percorrido a pé;
• Constante reorganização espacial onde os prédios mais antigos são substituídos por outros em geral mais altos;
• Foco de transportes intra-urbano;• Área de localização das sedes sociais,
escritórios ou empresas.
• Menor concentração das atividades econômicas e, portanto, possuindo menores preços da terra;
• Possuidora de prédios baixos que constituem fortes consumidoras de espaço;
• Limitado crescimento horizontal, o que faz com que empresas e indústrias busquem outros terrenos amplos e ao mesmo tempo de menor preço, mas que não sejam localizados na Zona Periférica;
• Área de baixo status social, sendo caracterizado por residências populares e de baixa classe média;
• Área de importante foco de circulação inter-regional, onde se localizam terminais ferroviários, rodoviários e portuários;
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ORGANIZAÇÃO: João Baía da Rocha. Agosto/2003, com base em CORRÊA (1989).
Um outro elemento que nos faz caracterizar o bairro Centro como sendo a Área
Central está relacionado à centralidade apresentada por SPÓSITO (2001). Essa autora afirma
que a concentração de atividades comerciais e de serviços se estabelece ao longo do tempo,
gerando fluxos formados pelas circulações de pessoas, de mercadorias, de informações, das
idéias, e deste modo promovendo a centralidade que é a concentração de atividades.
Em nossa análise, sobre o bairro Centro de Abaetetuba, podemos observar também
esta característica, pois desde a gênese do Município, o centro urbano se constituiu no centro
de diferentes atividades exercidas por bancos, igrejas, lojas, feira, porto, entre outros, que
proporcionam a circulação de pessoas, de mercadorias, de informações e de idéias. Essas
atividades estão materializadas nas formas espaciais presentes naquela área.
Outras colocações sobre Área Central foram apresentadas por VILLAÇA (1998), que
afirma que para o centro existir as formas espaciais devem possuir uma função em comum e
que esta função deve está relacionada a um tipo de trabalho que atraia a comunidade. Essa
atração seria promovida pela ação do conjunto de instituições presentes no centro, porque se
assim não fosse o centro não seria classificado como Área Central, pois não provocaria
mobilidade social na área. Esta mobilidade que o autor coloca é um dos pontos chaves para
que o centro urbano seja classificado como Área Central.
Fundamentados nas colocações de VILLAÇA (1998), compreendemos que as formas
espaciais presentes no bairro Centro de Abaetetuba exercem funções variadas que atendem
não só à comunidade abaetetubense, mas também a outras comunidades presentes nas ilhas,
estradas e de outros municípios, ou seja, o bairro Centro, referência empírica de nossa análise,
apresenta grande fluxo de pessoas, devido ao conjunto de instituições presentes em sua área.
Após termos observados quais as características que atribuem a definição de Área
Central para o bairro Centro de Abaetetuba, iremos apresentar agora as formas espaciais que
caracterizam aquele espaço e suas funcionalidades. Para isso nos pautaremos nas formas
espaciais relacionadas à circulação, à produção e à idéias, respectivamente.
Uma das primeiras formas espaciais relacionadas à circulação é a zona portuária que,
desde a gênese do Município até os dias atuais, possui função de promover a circulação de
pessoas e produtos extraídos ou produzidos na região através do trânsito diário de
embarcações que interligam Abaetetuba a outros Municípios pela via fluvial. São pequenas e
grandes embarcações, movidas à vela, a motor e a remo, mas que participam da organização
econômica do Município levando e trazendo diariamente pessoas e produtos que são
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comercializados na feira central, reforçando ainda mais a caracterização de cidade ribeirinha
para Abaetetuba (Figura 09).
Figura 09: Aspecto da zona portuária de Abaetetuba – Forma espacial de circulação de pessoas e produção no bairro Centro. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
Já a partir da década de 1960, com a construção das estradas Pa-252 e Pa-151,
Abaetetuba recebeu mais uma nova via de acesso, que interliga o Município a outras
localidades e, juntamente com essa nova via de acesso, encontramos no bairro Centro
empresas rodoviárias particulares que proporcionam a interligação de moradores de
Abaetetuba com outros municípios, gerando assim a mobilidade de pessoas tanto no
Município quanto na Área Central. Devido esta área conter várias instituições que atendem à
demanda da população abaetetubense é que o fluxo de pessoas torna-se constante e, deste
modo, acarretando a localização das empresas rodoviárias e de seus terminais de fluxo na
Área Central.
Entretanto, Abaetetuba ainda não conta com um único terminal rodoviário e, devido
a isto, as empresas rodoviárias localizam-se aleatoriamente no bairro Centro. São quatro as
empresas que desenvolvem o transporte interurbano, a saber: Jarumã Rodo-fluvial localizada
na Avenida D. Pedro II com a Rua Lauro Sodré (Figura 10); Transarapari localizada na Rua
Padre Luiz Varela entre a Travessa 15 de Agosto e a Avenida D. Pedro II; Boa Esperança
localizada na Travessa 15 de Agosto entre a Rua Padre Luiz Varela e a Rua Barão do Rio
Branco; Associação dos Transportes Rodoviários de Abaetetuba (ASTRAPABAT). Esta
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associação é regularizada pela Prefeitura Municipal, sendo constituída a partir de proprietários
de ônibus particulares que atuam no transporte público.
Figura 10: Empresa Rodoviária Jarumã - Na mesma foto podemos notar a presença de um ônibus da empresa Transarapari. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Outubro de 2003.
As ruas que interligam a Área Central aos bairros mais próximos do centro também
são formas espaciais de circulação onde os fluxos são intensos durante o horário comercial.
Nas ruas do bairro Centro encontramos muitas pessoas se deslocando a pé, outras resolvem se
deslocar através de bicicletas, motos e carros (Figura 11). Com base nessas formas de
acessibilidade é que encontramos instalados na Área Central os táxiciclistas, taxistas e
mototáxiclistas que representam elementos funcionais que proporcionam o encurtamento das
distâncias entre as pessoas e as instituições presentes no bairro.
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Figura 11: Aspecto da Avenida D. Pedro II em horário de comercial pela manhã - Nota-se nesta figura a presença de pedestres, ônibus, ciclistas, motociclistas e carros particulares. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
O bairro Centro, por constituir um amplo espaço de inúmeros serviços, proporciona
também a necessidade de meios que possam transportar a população até o centro, havendo
assim a criação de condições distintas de acessibilidade ao centro para que este seja visitado e
utilizado pela comunidade geral. No entanto, algumas pessoas resolvem deslocar-se a pé até a
Área Central por serem moradores do centro e de bairros próximos.
(...) as diferentes classes sociais têm condições distintas de acessibilidade ao centro e a localização do centro em relação a elas. Em tais sociedades, o centro não é mais o ponto que minimiza o deslocamento de toda a comunidade, pois as diferentes famílias agora têm distintas condições e necessidades de deslocamento. (VILLAÇA, 1998, p. 243)
Os táxiciclistas, também conhecidos como “batalhadores de bicicleta”, definem seus
pontos nas esquinas que dão acesso à Avenida D. Pedro II e também em diversos bairros do
Município (Figura 12), enquanto que os mototáxistas encontram-se em pontos distantes da
Avenida D. Pedro II. Enquanto que os taxistas se encontram próximos da feira do bairro
Centro, na avenida D. Pedro II entre a Rua Barão do Rio Branco e a Rua Justo Chermont.
Figura 12: Táxiciclistas localizados entre a Rua D. Pedro II e a Rua 1º de maio no bairro Centro – Uma das formas espaciais alternativas de circulação. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
39
Outras formas espaciais ligadas à circulação são as praças, onde no bairro Centro
encontramos a Praça Nossa Senhora da Conceição, a Praça Vereador Manoel Castro
“Vereador Dé” (Figura 13) e a Praça Francisco Azevedo Monteiro. As praças são locais por
onde encontramos a circulação de pessoas que se dirigem para o centro comercial, residências
ou para outras instituições, tais como as escolas e supermercados.
Figura 13: Aspecto da Praça Manoel Castro – Esta praça foi reformada no ano de 2001 e antigamente era conhecida como Praça Jader Barbalho e Praça do Operário. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro de 2003.
No bairro Centro, encontramos também as agências bancárias (Figuras 14 e 15) que
atendem à cidade e que constituem formas espaciais de circulação. No bairro encontramos a
agência Banco do Estado do Pará (BANPARÁ), do Banco BRADESCO, da Caixa Econômica
Federal, do Banco do Brasil e do Banco da Amazônia (BASA). A localização das agências
bancárias está também relacionada ao fluxo de pessoas em direção ao bairro Centro a fim de
se beneficiarem dos serviços existentes naquele espaço, bem como dos serviços das agências
bancárias.
40
Figuras 14 e 15: Agências do Banco da Amazônia, BRADESCO e Banco do Brasil - Formas de circulação localizadas, exclusivamente, naquele bairro.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro (2003).
O comércio e a feira, surgiram praticamente com a cidade, e hoje tomam conta de
grande parte do bairro (Figura 16). Outras atividades foram introduzidas a partir da ação de
novos agentes com o processo de crescimento urbano ao longo dos anos. Tais atividades são
promovidas por vendedores ambulantes, lojas de confecções e calçados, lojas e depósitos de
materiais de construção, os mercados municipais de carne e peixe, concessionárias de motos,
vídeo locadoras, rede de farmácias, papelarias, supermercados, hotéis e postos de gasolina.
Estas formas espaciais, juntamente com seus agentes, transformam o bairro Centro de
Abaetetuba em um amplo espaço de fluxo de mercadorias e de pessoas e, conseqüentemente,
reforça também a caracterização do bairro como Área Central, através da intensa circulação
de capital. Com isso ocorre uma maior valorização do espaço, que é disputado por donos de
lojas, empresas, feirantes e vendedores ambulantes.
Figura 16: Aspecto do comércio e da feira do bairro Centro na Rua Justo Chermont em frente ao rio Maratauíra. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro (2003).
As formas relacionadas às idéias são características fundamentais para
determinarmos o bairro Centro como Área Central.
As igrejas católicas e protestantes presentes naquele espaço, por exemplo, ergueram
suas estruturas e exercem a função de orientação espiritual de pessoas das mais variadas
classes e idades. A localização das instituições religiosas no bairro ajuda a caracterizá-lo
como Área Central através do fluxo de pessoas ligadas à funcionalidade dos templos e igrejas
naquela área. As igrejas presentes no bairro Centro são: Igreja de Nossa Senhora da
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Conceição (Figura 17), Capela de São Benedito, Capela de São Pedro, Comunidade
Evangélica Integrada da Amazônia, Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja Cristã
Evangélica, Igreja do Evangelho Quadrangular, Comunidade Evangélica do Espírito Santo.
Figura 17: Igreja de Nossa Senhora da Conceição – Forma espacial ligada às idéias. Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro (2003).
No bairro Centro, encontramos também o poder público local e suas secretarias e
demais instituições públicas que desenvolvem o papel de formas espaciais relacionadas à
idéia. As secretarias municipais (Figura 18) estão distribuídas no bairro Centro e a presença
destas instituições públicas demonstra que, ao longo da história do Município, as instituições
públicas foram se organizando naquele bairro e hoje desenvolvem trabalhos ligados ao
atendimento social e administrativo para a manutenção do espaço urbano local.
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Figura 18: Secretaria Municipal de Educação – Localizada na Avenida Pedro Rodrigues, configurando as formas espaciais ligadas à idéias.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Outubro (2003).
As escolas públicas e particulares (Figura 19) também assumem o papel de formas
relacionadas às idéias, pois constituem instituições que atendem aos moradores do bairro
Centro e demais bairros e/ou localidades através da educação regular de adultos, jovens e
crianças que desfrutam dos serviços de educação infantil, ensino fundamental e médio. Como
produtores e formadores de idéias são instituições localizadas no bairro Centro que
contribuem para a definição deste bairro como Área Central da Cidade.
Figura 19: Escola Basílio de Carvalho e o Instituto Na. Sra. dos Anjos – Localizadas na Rua Barão do Rio Branco, caracterizando a presença de escolas públicas e particulares no bairro Centro.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Setembro (2003).
As instituições escolares presentes no bairro Centro são apresentadas no quadro
abaixo (Quadro 03).
Quadro 03: Escolas públicas e particulares presentes no bairro Centro.
Escolas Públicas
Colégio São Francisco Xavier, Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Basílio de Carvalho e Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Prof. Bernardino Pereira de Barros, Centro Educacional Mundo da Criança, Centro de Educação Infantil da Igreja Cristã e o Centro de Educação Infantil Turma da Mônica.
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Escolas Particulares
Instituto Nossa Senhora dos Anjos, Colégio Engels, Centro Educacional Nossa Senhora de Santana, Centro Educacional de Educação Infantil e Ensino Fundamental SEMEAR, Centro Educacional Santa Helena
Organização: João Baía da Rocha. Pesquisa de Campo, Agosto, 2003.Por fim, verificamos no bairro a presença de algumas formas espaciais ligadas à
produção, que são a fábrica de gelo, a indústria de refrigerantes Amazônia, o estaleiro São
José e o Centro Artesanal Nina Abreu (CANA).
A fábrica de gelo (Figura 20) é uma forma espacial de produção que vende gelo para
os barcos pesqueiros de outras localidades, para os moradores do centro e demais bairros. Sua
localização no bairro Centro, entretanto, está relacionada, principalmente, aos barcos que
atracam na orla do Município e que utilizam o gelo para resfriar o pescado e os demais
alimentos perecíveis. Como podemos notar, a fábrica de gelo que se localiza na rua Siqueira
Mendes entre a travessa Santos Dumont e a Travessa 15 de agosto, às margens do rio
Maratauíra, possui uma localização vantajosa para o consumidor local e principalmente para
os donos de embarcações e, trata-se da única fábrica com tradição no Município.
Figura 20: Aspecto da Fábrica de Gelo - A única fábrica deste porte no Município, localizada no bairro Centro.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Outubro (2003).
Outra empresa que participa da caracterização do bairro Centro como Área Central é
a indústria de refrigerantes Amazônia (Figura 21), localizada na rua Siqueira Mendes, entre a
Travessa Santos Dumont e a Travessa 15 de agosto. Ela tem sua produção voltada apenas para
o comércio local, contudo, se destaca na configuração do bairro por ser uma indústria
exclusivamente abaetetubense e com grande aceitação no comércio local.
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Figura 21: Escritório da indústria de refrigerantes Amazônia – Refrigerante de boa aceitação no mercado local.
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Outubro (2003).
O estaleiro São José, também conhecido como Indústria de Construção Naval São
José Ltda., é uma pequena empresa de fabricação de barcos de pequeno e meio porte
localizado na Travessa Padre Pimentel, às margens do rio Maratauíra e que desde 1977
desenvolve este tipo de trabalho, e sua localização no bairro Centro visa promover
atendimento aos donos de embarcações do Município e de outras localidades. Entretanto, este
estaleiro está num espaço onde podemos configurar como Zona Periférica do Centro, pois as
características estruturais da área onde se localiza são diferentes daquelas localizadas
próximas à fábrica de gelo e de refrigerantes, pois a área urbana próxima do estaleiro é
constituída por casas populares e com falta de outras instituições que possam promover a
mobilidade social naquele espaço.
O Centro Artesanal Nina Abreu (CANA) é também um outro estabelecimento que
pode ser classificado como forma espacial de produção. O funcionamento deste Núcleo
Artesanal é administrado pela Sra. Nina Abreu (Figura 22), que é uma pessoa veterana na
produção de artigos de miriti, bonecos e bonecas de panos, formação de grupos de danças
folclóricas, artigos para festas juninas, entre outros. Este núcleo, localizado na Travessa 15 de
Agosto, entre a rua Padre Luiz Varela e a rua Lauro Sodré no bairro Centro, é um dos poucos
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núcleos artesanais organizados de Abaetetuba. Tem por objetivo resgatar e manter viva a
história e a cultura de um povo abaetetubense que é um povo ribeirinho, através de objetos
como “o pato no tucupi”, “as pequenas montarias”, “embarcações”, “o pescado”, “os
pagadores de promessa” etc. A venda dos produtos artesanais é realizada em pequena escala
na própria residência da proprietária do Centro Artesanal e nas oficinas e exposições
promovidas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) em Belém e
outros Municípios com preços mais elevados do que é vendido em Abaetetuba.
Figura 22: Dona Nina Abreu fabricando bonecos em seu Núcleo Artesanal.
Fonte: Revista VER-O-PARÁ, Outubro (2003).
Como podemos notar, o bairro Centro possui formas espaciais variadas e, em alguns
casos exclusivas, que atendem à uma demanda social não só do próprio bairro, mas também
dos demais bairros e de outras localidades que se beneficiam dos serviços fornecidos pelas
formas espaciais presentes naquele espaço. As funções desempenhadas por essas formas
espaciais ligadas à circulação, à idéias e às produções em grande parte diferenciam o centro
em relação aos demais bairros de Abaetetuba, e ajudam a configurá-lo como Área Central da
Cidade.
Contudo, em nossa análise sobre o bairro Centro, percebemos que uma das formas
espaciais que deveria sair do centro são as agências rodoviárias, que fazem parte das formas
relacionadas à circulação, pois o tráfego diário de ônibus interurbanos causa transtorno entre
pedestres e ciclistas que trafegam a avenida D. Pedro II, principalmente no horário comercial,
que é o horário de maior fluxo de pessoas para o centro comercial do Município. Portanto, a
re-locação dos transportes rodoviários num espaço mais apropriado possibilitaria a
diminuição do congestionamento nas ruas daquele bairro e maior segurança aos circulantes.
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Porém, Abaetetuba conta com um Terminal Rodoviário (Figura 23) que começou a ser
construído na gestão do ex-Prefeito João de Deus Ferreira (1989-1992), mas que até esta
última administração (2003) ainda não foi concluído.
Figura 23: Aspecto do Terminal Rodoviário Municipal ainda em fase de construção – Localizado na Rodovia Dr. João Miranda (Bairro de Santa Rosa).
Fonte: João Baia da Rocha, Pesquisa de Campo – Outubro (2003).
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Considerações Finais:
O bairro Centro foi um dos primeiros bairros a surgir no Município e a sofrer as
primeiras transformações em sua estrutura. Por ser o bairro localizado às margens do rio
Maratauíra ajudou a configurar Abaetetuba como uma das cidades ribeirinhas da Amazônia.
No entanto, podemos verificar que a delimitação do bairro Centro, realizada pelo
poder público, possibilitou, também que aquele bairro fosse dividido em dois setores que são
o Núcleo Central e Zona Periférica do Centro, onde notamos neste último setor uma pequena
demanda de pessoas e localização de residências populares de classe média baixa. Em alguns
casos, constatamos a ausência de instituições que pudessem ocasionar o fluxo de pessoas e
reforçando ainda mais a caracterização do espaço em Zona Periférica do Centro e
ocasionando assim menores preços da terra devido a menor concentração de atividades
econômicas e de serviços.
Outro aspecto que também notamos no bairro Centro é a presença das formas
espaciais que o configuram, pois as mudanças ocorridas naquele bairro ao longo dos anos
foram significativas para que novas instituições fossem introduzidas naquele espaço,
formando hoje as diversas formas espaciais (circulação, idéias e produção) que caracterizam
aquele bairro como Área Central, como área de intensas relações e de negócios no contexto da
cidade e do Município de Abaetetuba, transformando o bairro Centro em importante espaço
de convergência de fluxos e que o processo de valorização do solo urbano no interior do
bairro.
Esperamos que este trabalho também resgate um pouco da historia de Abaetetuba.
Uma vez que verificamos que as transformações no espaço urbano do bairro Centro e demais
bairros ainda são significativas, uma vez que a presença dos fluxos migratórios e a falta de
políticas públicas para o Município promoveram um inchaço populacional e grande presença
de desempregados nos demais bairros de Abaetetuba e, conseqüentemente, um aumento
generalizado de feirantes, de táxiciclistas, mototáxistas, vendedores ambulantes, entre outros
no bairro Centro.
Finalizando, todas as pessoas que se deslocam para o bairro Centro sempre irão
contar com os mais variados tipos de serviços daquele espaço e que, mesmo com o
crescimento urbano ou a instalação de novos prédios comerciais, escolas, industrias, igrejas,
entre outros serviços nos demais bairros, o bairro Centro sempre terá sua característica física e
funcional diferente e especifico para a cidade, para o Município e para a Microrregião.
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Bibliografia Utilizada:
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ANEXOS
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