trabalho de qvt

Embed Size (px)

Citation preview

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso Policial de cornlio ProcPio/PrJoo de Lima - SESP Gerson Antonio Melatti - UEL

INTRODUOao longo de dcadas vrios estudiosos do comportamento humano dedicaram-se e vm se dedicando ao entendimento dos fatores que influenciam o homem na execuo de suas tarefas laborais. Isso se deve importncia que o trabalho tem na vida das pessoas, uma vez que estas, alm de utilizarem o trabalho como referencial para o seu sustento, tambm o utilizam para a sua satisfao pessoal e profissional. antigamente o arteso era responsvel pelo mtodo de produo, controle do tempo e venda dos produtos, mas, com o advento da Revoluo industrial, o trabalho passou a ser organizado, padronizado e repetitivo. Com o advento da administrao cientfica, os artesos foram desapropriados de seus conhecimentos e perderam espao na sociedade, pois a produo industrial alijou-os do seu saber, do seu poder de planejar e controlar as prprias atividades, separando assim o trabalho manual do intelectual. o sistema taylorista, na viso de dejours, (1992) limitou a atividade mental dos operrios, tornando-os simples instrumentos da produo industrial e, consequentemente, as primeiras vtimas do sistema. Em conformidade com tal raciocnio, observa-se que o homem teve que se adequar a um trabalho totalmente diferenciado ao que estava acostumado a desenvolver. Em consequncia do contato com um trabalho desinteressante, os operrios desenvolveram uma falta de envolvimento, frustrao e indignidade, o que, na concepo de dejours, (1992) cria uma vida profissional fria e passiva sem qualquer significao para o indivduo, sua famlia e seu meio social. Em face da situao criada pelo distanciamento do trabalhador em relao s suas novas atribuies no trabalho, vrios pesquisadores como: Maslow, McGregor, Herzberg, Mayo, entre outros, buscaram conhecer as condies que favoreceriam os trabalhadores a se identificarem com o trabalho. dessa forma os primeiros estudos de qualidade de vida no trabalho surgem no necessariamente como uma preocupao com os trabalhadores, mas, como um processo da necessidade de maiores nveis de produo. (olIVEIRa, 2001) dentre os vrios autores que se dedicaram e conceituaram QVt, destaca-se Walton (1973), que compreende a Qualidade de Vida no trabalho como uma expresso para caracterizar determinados valores ambientais e humanos que foram suprimidos em favor do avano tecnolgico, da produtividade industrial e do crescimento econmico. alm de Walton, autores como lippit, (1978) Westley, (1979) Hackman e lawler, (1971) Hackman e oldham, (1975) thriault, (1980) denis, (1980) Belanger, (1973) Werther e davis, (1983) Nadler e lawler, (1983) e Huse e Cummings (1985) tambm se destacaram no estudo de QVt, buscando analisar as variveis que melhor explicam a qualidade de vida dos trabalhadores no mbito das organizaes. (FERNaNdEs, 1996)Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

477

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

diante dessas consideraes, este trabalho foi direcionado para o constructo de Qualidade de Vida no trabalho (QVt), em razo de que a valorizao e o reconhecimento pessoal e profissional dos indivduos inseridos no mbito organizacional devem ser uma necessidade a ser suprida. para aumentar o recurso produtivo, deve-se buscar a promoo do homem, vislumbrando-o como um ser repleto de potencialidades e ansioso pela sua autorrealizao. a abordagem de Walton (1973) foi escolhida como modelo terico pois abrange uma anlise que enfoca desde as necessidades bsicas do ser humano at as condies da organizao passando pelas suas necessidades secundrias com destaque para a autorrealizao. (olIVEIRa, 2001) a segurana pblica vem sendo debatida em vrios setores da sociedade brasileira em razo da sua importncia no contexto da vida da sociedade civil organizada. temas que dizem respeito insegurana urbana, recluso do cidado em sua residncia, medo latente de violncia, crimes violentos, dentre outros, fazem parte do dia a dia da populao. dentro desse enfoque, este trabalho procura avaliar a QVt dos policiais civis que prestam servios na rea da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio-pR, sendo que tal escolha foi fundamentada em inmeros questionamentos que envolvem as condies de trabalho desses policiais, tanto no mbito interno como no externo, da corporao. No Brasil, a classe policial alvo de descrdito, e uma grande parte da populao observa essa profisso com desconfiana. tal fato foi levantado em pesquisa realizada no Estado de so paulo, onde foi apontado que muitos brasileiros jamais escolheriam a profisso de policial e em razo disso, tal profissional enfrenta uma rejeio social e isso estendido para as corporaes. (CaRdIa, 1997 apud olIVEIRa, 2001) Em estudo apresentado por souza na Escola Nacional de sade pblica, foi levantado que os policiais so submetidos a sofrimento psquico, considerado sob o ponto de vista do estresse a que so submetidos em seu trabalho, onde esse entendido como o desequilbrio entre as demandas do trabalho e a capacidade de resposta dos trabalhadores. Fatores estressores como alta demanda, baixo controle sobre o processo de trabalho, frequente contato com o pblico, longas jornadas de trabalho, recursos materiais insuficientes, insatisfao com a atividade e a remunerao, dificuldade de ascenso profissional, alm da exposio ao sofrimento alheio, a situaes perigosas e a problemas familiares, estariam relacionados ao sofrimento ou distrbios psquicos nos indivduos, resultando em afastamentos. Moraes, (1994) prefaciando o livro: Qualidade de Vida no trabalho, (RodRIGuEs, 1994) afirma que, hoje em dia, pode-se dizer que muitas pessoas adoecem por causa do trabalho, pois possvel ver os mesmos sintomas em qualquer local quando se trata de sociedades industrializadas, mostrando que o mundo moderno toma uma configurao pouco saudvel, tanto mental como espiritualmente. a intensificao da violncia exige polticas mais eficazes de segurana pblica, acarretando uma sobrecarga fsica e emocional para os profissionais desse setor. as precrias condies de trabalho interferem no desempenho desses profissionais, que, alm de lidarem com presses da sociedade por um policiamento eficiente, afetam sua sade, geram desgaste, insatisfao e provocam estresse e sofrimento psquico. o policial civil lida com riscos reais e imaginrios que so prprios da profisso, os quais geram estresse e sofrimento. (souZa et al., 2005) Visando encontrar meios que proporcionem uma melhoria na prestao de servios comunidade interna e externa da polcia Civil, imperativo que se faam estudos capazes de diagnosticar os problemas visando fundamentar a busca de solues, e nesse propsito que se elaborou o presente estudo. 478Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHOdesde os tempos mais remotos o trabalho vem sendo uma preocupao bsica da humanidade e tornou-se um fator fundamental com a Revoluo industrial. de acordo com drucker, (1981) apud assaf, (2008) nos ltimos duzentos anos as teorias econmicas e sociais concentraram-se no trabalho. a Revoluo industrial deu princpio a esse debate que traz em seu ncleo a sistematizao dos mtodos de produo em prejuzo das estruturas artesanais. diversos pesquisadores passaram a estudar o trabalho de forma cientfica visando responder s exigncias dos gestores organizacionais, com o objetivo de encontrar parmetros norteadores para a obteno de maior produtividade dos trabalhadores. (olIVEIRa, 2001) a expresso Qualidade de Vida no trabalho surgiu na Inglaterra, no incio da dcada de 50, atravs de estudos de Eric trist e alguns colaboradores (1951), baseando-se no trinmio: indivduo, trabalho e organizao. (CaEtE, 2004) atualmente o setor empresarial j reconhece que necessrio criar condies adequadas para que as pessoas possam desenvolver o seu potencial e sua criatividade e evitar aquelas que possam gerar uma m qualidade de vida e estresse no trabalho, j que, segundo assaf, (2008) a maior parte do tempo das pessoas ocupada vivendo ou trabalhando dentro de organizaes. Com isso se cria um grande e duradouro impacto sobre a vida e sobre a qualidade de vida dos indivduos. Em razo disso o tema Qualidade de Vida no trabalho vem ganhando destaque, sendo cada vez mais debatido e considerado como objeto de pesquisas. (RodRIGuEs, 1994) Vrios conceitos podem ser encontrados na literatura sobre o tema Qualidade de Vida no trabalho, que vem sendo abordado com mais nfase a partir de 1970. Walton (1973) definiu Qualidade de Vida no trabalho como sendo o atendimento das necessidades e pretenses humanas baseadas na ideia de humanizao e responsabilidade social da empresa. drucker (1981) definiu QVt como uma avaliao qualitativa da qualidade relativa das condies de vida incluindo-se ateno aos agentes poluidores, barulho, esttica, complexidade etc. (lIMoNGI-FRaNa, 2003) Walton, (1973) apud oliveira, (2001) afirma que a Qualidade de Vida no trabalho pode ser aceita como uma expresso para caracterizar determinados valores ambientais e humanos que foram abolidos em benefcio do avano tecnolgico, da produtividade industrial e do crescimento econmico. Na concepo de limongi-Frana e arellano, (2002) QVt o agrupamento de aes de uma empresa que envolve a implantao de melhorias e inovaes gerenciais, tecnolgicas e estruturais no ambiente de trabalho. limongi-Frana (2003) considera QVt como um conceito muito amplo e em razo disso, interdisciplinar, envolvendo a medicina, ergonomia, enfermagem, fisioterapia e a psicologia. Em razo disso, a QVt tem uma viso biopsicossocial, a qual revela a preocupao com o indivduo como um todo e adota uma viso ampla e moderna do conceito de sade. ogata (2004) observa que h maior disposio para o trabalho, melhoria do clima interno, maior comprometimento, fidelidade empresa e atrao pelos benefcios quando os mtodos de gesto incorporam os conceitos de qualidade de vida no trabalho. E para essa autora, a qualidade de vida envolve ainda outros elementos como: os direitos da cidadania, os benefcios e satisfaes proporcionados pelas aes do tempo livre e pelo equilbrio ambiental. Caete (2004) escreve que a QVt consiste numa interveno na organizao e no processo de trabalho e, portanto, no se reduz ao cumprimento das leis ou discusso deCaptulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

479

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

direitos dos trabalhadores. trata-se de modificar os valores e crenas das organizaes, que precisam ser repensados, revisados e modificados. Caete (2004) afirma ainda, que QVt pode ser compreendida como um conjunto de aes de uma empresa que envolve diagnstico, implantao de melhorias e inovaes gerenciais, tecnolgicas e estruturais, dentro e fora do ambiente de trabalho, procurando propiciar condies plenas de desenvolvimento humano para a realizao do trabalho. os primeiros estudos acerca da QVt no Brasil, ainda muito influenciados pelos modelos estrangeiros s se realizaram a partir da dcada de 80 e somente na dcada de 90 medidas voltadas para QVt ganharam importncia dentro das organizaes. (lIMoNGI-FRaNa e aREllaNo, 2002) para oliveira, (2001) atualmente observa-se um grande interesse na disseminao do tema de Qualidade de Vida no trabalho. Conforme o autor, a QVt est bastante difundida na Europa, nos Estados unidos, Canad e Mxico e vem recebendo as merecidas atenes nos pases asiticos. a abordagem da QVt no Brasil foi originalmente adotada por estudiosos da EMBRapa, (Empresa Brasileira de pesquisa agropecuria) da universidade Federal do Rio Grande do sul (uFRGs) e da universidade Federal de Minas Gerais. (uFMG) limongi-Frana e arellano (2002) destacam que aps a crise da dcada de 1930 a QVt estaria relacionada com os objetivos do movimento sindical, que se centraram na segurana e salubridade do trabalho, no tratamento dispensado ao trabalhador e no aumento de salrios. Na dcada de 50, estaria associada ao enfoque da psicologia, onde foi considerada uma correlao positiva entre o estado de nimo e produtividade, afirmando que possvel elev-los com a melhoria das relaes humanas. Nos anos 60, fez parte de novos conceitos como a igualdade de oportunidades e esquemas de enriquecimento do trabalho. durante sua evoluo foram criados vrios modelos para a QVt, sendo alguns de carter abrangente os quais compreendem uma amplitude maior de anlise, como os modelos de Walton (1973), lippit (1978) e Westley (1979) e outros, de carter especfico como os modelos de Hackman e lawler (1971) e Hackman e oldham, (1975) centrados nas dimenses bsicas da tarefa; thriault, (1980) voltado para o aspecto da remunerao; denis, (1980) voltado para o ambiente fsico de trabalho; Belanger, (1973) Werther e davis, (1983) Nadler e lawler (1983) e Huse e Cummings, (1985) focados no cargo. (RodRIGuEs, 1994) Embora o tema relacionado QVt seja recente, vrios autores efetuaram pesquisas no Brasil envolvendo a categoria policial, elaborados junto polcia Militar, polcia Civil e polcia Rodoviria Federal. (asFoRa, 2004; olIVEIRa 2001; GaspaRY et al. 2008) Em todos esses estudos os resultados apontam para nveis insatisfatrios de QVt.

O MODELO DE WALTON PARA QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHOo modelo de Walton (1973) considerado um dos mais abrangentes, pois dividido em oito fatores, e cada um abrange diversas dimenses, que afetam a QVt . de acordo com Walton, (1973) apud oliveira, (2001), um nmero crescente de indivduos est passando a menosprezar o valor do seu trabalho e da carreira profissional em face de suas organizaes, com reflexos altamente negativos na autoestima do trabalhador. sendo que o nvel de satisfao e a autoestima do empregado esto diretamente relacionados Qualidade de Vida no trabalho. do ponto de vista de Walton, (1973) apud oliveira, (2001) as oito dimenses apresentadas so importantes em razo de que os empregados envolvidos nas diferentes organizaes de trabalho possuem expectativas sobre as mesmas. as oito dimenses so as seguintes: 1. compensao justa e adequada; 2. condies de segurana e sade no trabalho; 3. oportunidade imediata para utilizao e desenvolvimento das capacidades humanas; 480Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

4. oportunidade futura para crescimento contnuo e segurana; 5. integrao social na organizao Igualdade de oportunidades; 6. constitucionalismo; 7. trabalho e espao total da vida; 8. relevncia social do trabalho: imagem da empresa. Na concepo de Walton, (1973) apud asfora, (2004) os oito critrios elencados se relacionam entre si, portanto a alterao de um critrio poder gerar alterao em outros. a tentativa desagregar o conceito de qualidade de vida no trabalho para expor os elementos que podem ser mensurados separadamente e posteriormente reagregados quando as suas inter-relaes tiverem sido restabelecidas. Em razo de tais consideraes o estudo em questo recebeu como suporte terico a abordagem de Walton, (1973) e tal escolha se justifica em razo de que esta contm em sua estrutura de critrios, aspectos amplos que envolvem, alm do contedo do trabalho, a vida do indivduo fora da organizao.

IMPACTOS DO TRABALHO NA QUALIDADE DE VIDA DO POLICIAL CIVILa partir da dcada de 80 um aumento dos ndices de violncia foi constatado e expresso nos indicadores do setor sade e da segurana pblica do Brasil. (souZa et al. 2007) Em virtude dessa massificao da violncia, polticas de segurana pblica tm sido exigidas, e isso gera uma sobrecarga fsica e emocional para os profissionais dessa rea, os quais, alm de lidar com as presses da sociedade por um policiamento eficiente, enfrentam precrias condies de trabalho que interferem no seu desempenho, afetam a sade, geram desgaste, insatisfao e provocam estresse e sofrimento psquico. (souZa et al. 2007) souza et al. (2007) explanam que o sofrimento psquico um conjunto de condies psicolgicas que, apesar de no caracterizar uma doena, gera determinados sinais e sintomas que indicam sofrimento. Essas condies podem ser causadas por vrios fatores, dentre os quais as condies de trabalho insatisfatrias, falta de instalaes adequadas, estresse e falta de preparo para a funo, ocorrendo ainda a necessidade de o policial no poder demonstrar fragilidade, tudo isso leva somatizao de doenas, como hipertenso e insnia. o sofrimento humano inerente ao processo laboral, devendo-se compreender suas causas para modific-lo e reorganizar o processo de trabalho, e os estudos que privilegiam a relao entre estresse e trabalho ressaltam a importncia e centralidade do trabalho na vida das pessoas, num momento favorecendo a sade e noutro, a doena. o descompasso entre a organizao do trabalho prescrito e a organizao do trabalho real favorece o surgimento de sofrimento mental, pois os trabalhadores so obrigados a transgredir a regra para realizarem a tarefa laboral. a rigidez organizacional impede a atividade criativa e aumenta as causas do sofrimento, podendo gerar intensa angstia. (dEJouRs, 1992 apud souZa et al., 2007) o estresse a que os policiais so submetidos no trabalho pode ser considerado sofrimento psquico, que pode ser entendido como um desequilbrio entre as demandas do trabalho e a capacidade de resposta dos trabalhadores. (patIs, 1987 apud souZa et al., 2007) o sofrimento ou distrbio psquico estaria relacionado a alguns fatores estressores como alta demanda, baixo controle sobre o processo de trabalho, frequente contato com o pblico, longas jornadas de trabalho, recursos materiais insuficientes, insatisfao com a atividade e a remunerao, dificuldade de ascenso profissional, alm da exposio ao sofrimento alheio, a situaes perigosas e a problemas familiares. (souZa et al., 2007) silva (2000) relata que nenhum Estado brasileiro tem programa de valorizao dos recursos humanos policiais, que cuide concretamente da autoestima e de outras necessidades crticas: salrios, atendimento mdico-hospitalar, oportunidades de carreira, condies ambientais adequadas, programas de moradia, transporte e alimentao, preveno dos riscosCaptulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

481

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

profissionais. o autor continua afirmando que os governantes investem na infraestrutura da segurana, atravs de melhores instalaes, carros, rdios, armas etc., com o intuito de reduzir a criminalidade, mas relegam a segundo plano os policiais e deixam de observar o quo estressante o trabalho policial. Fatores como: exposio continuada s intempries, horrios prolongados, salrio indigno, escala desumana, embates dirios com a populao, contato direto com as piores tragdias humanas e permanente risco de vida geram resultados que podem ser observados nos altos ndices de absentesmo, hospitais cheios de policiais hipertensos, com doenas do trato digestivo, alcoolismo, uso de drogas, sndrome de burnout e ocorrncia de suicdios. (saRtoRI, 2006; sIlVa, 2008)

ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DA 11 SUBDIVISO POLICIAL DE CORNLIO PROCPIOa 11 subdiviso policial est localizada no norte do Estado do paran na cidade de Cornlio procpio e tem em sua rea jurisdicional 21 (vinte e um) Municpios, dos quais apenas 09 (nove) possuem sede de Comarca e 12 (doze) so distritos judiciais. a subdiviso policial em estudo dividida administrativamente em delegacias Regionais de polcia, delegacias de polcia Municipais e delegacias de polcia distritais. a sede da subdiviso est localizada na cidade de Cornlio procpio, as 03 (trs) delegacias Regionais de polcia esto sediadas em so Jernimo da serra, assa e Bandeirantes. as 17 (dezessete) delegacias de polcia e delegacias de polcia distritais esto distribudas nas sedes de Comarcas de andir, Congonhinhas, Nova Ftima, santa Mariana e ura, e nos distritos Judiciais de Barra do Jacar, Itambarac, Jataizinho, lepolis, Nova amrica da Colina, Nova santa Brbara, Rancho alegre, santa amlia, santa Ceclia do pavo, santo antnio do paraso, so sebastio da amoreira e sertaneja. Informaes do efetivo disponibilizado em rea restrita de recursos humanos no stio da polcia Civil do paran (www.policiacivil.pr.gov.br) do conta que em toda a rea da 11 subdiviso policial h 99 funcionrios, compreendendo funcionrios da carreira policial civil, policiais militares, auxiliares de carceragem, servidores municipais e estagirios. apenas 67 efetivamente fazem parte do quadro de funcionrios de carreira da polcia Civil, funcionrios estes compostos por: 10 delegados, 20 Escrives, 35 Investigadores e 02 agentes de operaes policiais. dados do censo realizado no ano de 2000 pelo IBGE, apontam que a populao existente nos Municpios sob jurisdio da 11 subdiviso policial de 236.856 habitantes, a qual est distribuda nos 21 Municpios citados. Conforme j foi explanado, o nmero de policiais da rea em estudo de 67 policiais civis, portanto, conclui-se que na rea da subdiviso em estudo, h um policial civil para cada 3.644 habitantes, valor prximo do quantitativo estadual que de 3.809 policiais civis por habitante, nmero muito aqum do estipulado pela oNu.

METODOLOGIAa pesquisa em questo caracteriza-se como exploratria e descritiva, envolvendo um estudo de campo, seguindo os pressupostos estabelecidos por Vergara. (2007) Como objetivo geral do estudo buscou-se mensurar o nvel de Qualidade de Vida no trabalho dos policiais civis lotados na rea sob jurisdio da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio/pR, utilizando-se o modelo de avaliao de QVt proposto por Walton. (1973) 482Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

para a elaborao do presente estudo, optou-se pelas estratgias quantitativa e qualitativa, sendo que a adoo dos mtodos quantitativo e qualitativo tem fundamentao na anlise de trivios (1995), que aponta que toda pesquisa pode ser, ao mesmo tempo, quantitativa e qualitativa. o universo de pesquisa constituiu-se dos 67 policiais civis lotados na 11 subdiviso policial de Cornlio procpio/pR, a qual tem como papel primordial o gerenciamento de trs delegacias Regionais de polcia que por sua vez possuem sob jurisdio outras 17 unidades policiais localizadas nos Municpios sob responsabilidade da subdiviso policial em questo. do nmero total de 67 policiais, obteve-se uma amostra de 34 respondentes, consultados mediante os critrios de acessibilidade e convenincia, perfazendo um percentual de respostas equivalente a 50,75%. os sujeitos de pesquisa atuam nas unidades localizadas nas cidades de andir, Bandeirantes, Cornlio procpio, santa Mariana e ura e ocupam os cargos de delegado, Escrivo, Investigador e agente de operaes policiais. o instrumento de pesquisa foi composto por critrios estabelecidos no modelo de avaliao de QVt de Walton (1973), sendo adaptado realidade da organizao policial em estudo e adotado como instrumento bsico para a coleta dos dados. Esse instrumento constitudo por nove blocos e explora dados pessoais e as variveis do modelo terico de Walton. o questionrio aplicado uma adaptao do instrumento utilizado por oliveira, (2001) que teve como objeto de estudo os detetives lotados na MEtRopol de Belo Horizonte/MG. para a aplicao do questionrio, realizada nos meses de abril e maio de 2009, foram utilizados o meio eletrnico e o correio convencional, alm de contatos feitos pessoalmente pelos autores. a adaptao do questionrio utilizado por oliveira (2001) foi constituda de escalas de cinco pontos (likert), sendo formado por dez blocos estruturados. o bloco I apresentou 19 questes que levantam dados sociodemogrficos (local de lotao, a jornada de trabalho, sexo, faixa etria, estado civil, escolaridade, tempo de servio, entre outros), objetivando uma caracterizao da amostra obtida. No bloco II ao bloco IX foram introduzidas 59 questes que abrangem o modelo proposto por Walton (1973) e adaptado para esta pesquisa. tais blocos contm os itens referentes a: remunerao, uso e desenvolvimento de capacidades, oportunidade de crescimento profissional, integrao social na organizao, direitos na Instituio, equilbrio trabalho e vida, e relevncia do trabalho, conforme mostrado no quadro 1, onde se observa, de forma detalhada, os itens abordados em cada critrio. o bloco X foi composto por 6 perguntas pertinentes sade fsica e psicolgica, onde se procurou analisar dados relacionados prtica de esportes, uso de lcool, uso de medicamentos controlados, atendimento psicolgico/psiquitrico e afastamento por problemas de sade. a anlise dos dados envolveu aspectos qualitativos e quantitativos. para a anlise dos dados oriundos da aplicao do questionrio foi utilizada a estatstica descritiva atravs de usos do software Ms Excel, sendo elaborados tabelas, descries e comentrios sobre as distribuies das frequncias.

Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

483

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Quadro 1 - critrios utilizados para a mensurao da QVT.

FoNtE: adaptado do modelo terico de Walton, (1973) apud oliveira (2001)

APRESENTAO DOS RESULTADOS DA PESQUISANa anlise dos dados demogrficos do bloco I do questionrio, ficou demonstrado que dos 21 Municpios, mais da metade, ou seja, 11 no possuem policiais civis lotados e atuando nas suas respectivas atribuies, os quais, segundo o censo demogrfico de 2000, contam com uma populao total de 54.755 habitantes. o fato de essas 11 cidades (Jataizinho, Itambarac, sertaneja, lepolis, santa amlia, Rancho alegre, santa Ceclia do pavo, Nova santa Brbara, Nova amrica da Colina, santo antnio do paraso e Barra do Jacar) no possurem policiais civis lotados em suas delegacias de polcia, gera uma sobrecarga s delegacias de sedes de comarcas, uma vez que esses policiais so obrigados a suprir a deficincia da falta de funcionrios nos distritos judiciais. diante dessa situao os 34 policiais civis que responderam pesquisa se concentraram em apenas cinco cidades: Cornlio procpio (47,06 %), Bandeirantes (20,59 %) andir (14,71 %), santa Mariana (11,76%) e ura (5,88 %). Com a presena de policiais do sexo feminino nas cidades que esto sob jurisdio da subdiviso em estudo, constatou-se que dos 34 respondentes, 24 deles (70,59%) so do sexo masculino e 10 (29,41%) so do sexo feminino, o que demonstra que, mesmo em nmero menor, as mulheres tambm esto presentes numa profisso tida como tipicamente masculina. portanto, mesmo em graus diferentes, sentem e sofrem as mesmas dificuldades que os policiais do sexo masculino. a anlise da faixa etria dos respondentes demonstrou que 13 pessoas (38,2 %) possuem entre 41 e 45 anos; 10 pessoas (29,4 %) tm mais de 46 anos, 6 indivduos (17,6 %) esto 484Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

na faixa de 36 a 40 anos e apenas 5 pessoas (14,7%) possuem at 35 anos. tal constatao demonstra que a maioria dos policiais est acima dos 41 anos, o que sinaliza que a Instituio est deixando de investir em novas contrataes, o que prejudicial para o futuro da prpria Instituio, uma vez que, sem a entrada de novos integrantes nos quadros, no h uma renovao do efetivo, resultando num pessoal desgastado fisicamente, cansado e com vcios adquiridos durante a carreira. Em relao ao estado civil observou-se que a maior parte dos respondentes 28 pessoas (70,6%) so casados ou vivem em unio estvel, j os solteiros somam um total de 4 respondentes (11,76 %), e os separados/divorciados so apenas 2 (5,88%). Isso significa que os policiais civis pesquisados possuem famlias constitudas, indicando que a qualidade de vida no trabalho torna-se muito importante para equilibrar a atuao profissional com a vida pessoal. Quanto escolaridade dos pesquisados, constatou-se que 23 policiais (67,6%) possuem 3 grau completo, 6 (17,6%) so ps-graduados, 4 (11,8%) possuem 3 grau incompleto, apenas 1 policial possui o 2 grau e no h nenhum policial com grau de escolaridade inferior ao 2 grau. Como h exigncia de 3 grau para a incluso nos quadros da polcia Civil do paran e o incentivo do Estado para que os servidores retomem seus estudos, nota-se um investimento pessoal dos policiais em buscar qualificao para o trabalho. Focalizando os dados referentes ao tempo de servio na Instituio, constatou-se que existe equivalncia no nmero de policiais (25 indivduos) que se enquadram nas escalas compreendidas entre 0 a 5 anos, 6 a 10 anos e 11 a 15 anos de casa, ou seja, 23,5%, 26,5% e 23,5%, respectivamente. Na escala compreendida entre 16 a 20 anos h 02 policiais, perfazendo 5,9%, na escala entre 20 e 25 anos tambm h 02 policiais, perfazendo 5,9% e na escala acima de 25 anos h 05 policiais, perfazendo 14,7%. Esses dados mostram que 50% dos servidores possuem mais de 10 anos de tempo de servio e 20,6 % esto h mais de 20 anos na rea, o que novamente leva constatao da ausncia de polticas voltadas renovao do efetivo.

ANLISE DOS DADOS SEGUNDO O MODELO DE WALTONComo base para anlise dos nveis de satisfao dos respondentes foi utilizada uma escala que varia de 1 a 5, que foi aplicada nos blocos II, III, IV V VI, VII, VIII e IX do , , questionrio, conforme se visualiza a seguir: Quadro 2 - ndices de referncia para o nvel de satisfao.

Conforme se observa na tabela 1, que apresenta respostas de 7 perguntas sobre a remunerao, pode-se constatar que h uma maior frequncia de respostas que abrangem os ndices de muita insatisfao e insatisfao, onde a maior frequncia para muita insatisfao se deu na pergunta 7 que trata da diferena salarial entre os cargos de chefia e o cargo dos respondentes, com 21 respostas; na sequncia vem a pergunta 2 que trata da comparao do salrio recebido com as atividades desempenhadas que recebeu 19 respostas, e a pergunta 4, que se refere aos benefcios recebidos, a qual tambm obteve 19 respostas. atravs das 6 respostas que demonstram muita insatisfao encontradas nas perguntas 2, 4, 5, 6 e 7 e uma resposta de insatisfao nas perguntas 1 e 3, d margens a concluir-se que osCaptulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

485

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

respondentes esto muito insatisfeitos quanto remunerao recebida, pois observa-se o total de 114 respostas no campo de muita insatisfao e de 89 respostas no campo de insatisfao, perfazendo 203 contra uma frequncia de 23 respostas para o ndice de satisfao e muita satisfao e 12 respostas para a indiferena, demonstrando um alto ndice de insatisfao com relao ao salrio percebido pelos respondentes. Tabela 1 - caracterizao das respostas referentes remunerao bloco ii

FoNtE: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.

a tabela 2 demonstra as respostas obtidas sobre as condies de trabalho, onde pode-se verificar que os maiores ndices tambm se deram nos campos de muita insatisfao e insatisfao, sendo que a maior frequncia se deu na pergunta 7, que obteve 22 respostas, seguido pela pergunta 8, com 21 respostas e a pergunta 9, que recebeu 15 respostas de insatisfao. Nas maiores frequncias relacionadas s condies do trabalho foram constatadas 202 respostas no somatrio dos ndices de muita insatisfao com 113 e de insatisfao com 89 respostas. para o ndice de indiferena obteve-se 31 respostas e para o somatrio dos ndices de satisfao e muita satisfao obteve-se 51 respostas, com apenas 10 para muito satisfeito. diante disso pode-se concluir que os dados demonstram que, quanto s condies do trabalho, tambm h um alto ndice de insatisfao dos respondentes.

486

Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Tabela 2 - caracterizao das respostas sobre as condies do trabalho bloco iii

Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa. Na sequncia foi argumentado sobre o desenvolvimento de capacidades, onde foi percebida uma tendncia de maiores frequncias divididas entre a satisfao, insatisfao e indiferena, sendo que maior frequncia ocorreu no ndice de satisfao, com 86 respostas; o ndice de insatisfao obteve 72 respostas, e o ndice de indiferena obteve 55 respostas, como pode ser visualizado na tabela 3. Esse nvel pode ser bem percebido atravs das respostas dadas pergunta 8, que obteve 11 respostas no campo de muita insatisfao. ainda no campo de insatisfao observou-se que na pergunta 7 obteve-se 14 respostas, seguido pela pergunta 6 com 11 respostas. Em contrapartida, nas perguntas 1 e 2 obteve-se 18 respostas de satisfao em cada uma. o elevado grau de satisfao levantado nas perguntas 1 e 2 deste bloco, no serve de parmetro, pois os respondentes esto insatisfeitos e muito insatisfeitos sobre o desenvolvimento de suas capacidades, o que visto no total de 117 respostas, contra 97 da soma dos ndices de satisfao e muita satisfao.

Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

487

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Tabela 3 - respostas sobre o desenvolvimento de capacidades - bloco iV

FoNtE: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.

No questionamento sobre as oportunidades de crescimento profissional (tabela 4) observou-se que as maiores frequncias ocorreram nos campos de muita insatisfao e insatisfao, sendo constatado 84 respondentes muito insatisfeitos e 63 insatisfeitos. 22 consideram-se indiferentes, 26 esto satisfeitos e 9 esto muito satisfeitos. o nvel de muita insatisfao foi observado pelas 22 respostas dadas pergunta 1, pelas 18 respostas dadas pergunta 4 e pelas 17 respostas dadas pergunta 2, alm das 18 respostas encontradas no campo da insatisfao na pergunta 3. o nmero de respostas dadas nos campos de muita insatisfao e insatisfao atingiu 147 respostas, demonstrando que a maioria dos respondentes est insatisfeita ou muito insatisfeita com as oportunidades de crescimento profissional. Tabela 4 - respostas sobre as oportunidades de crescimento profissional bloco V

FoNtE: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.

488

Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

a integrao social na organizao tambm foi indagada junto aos respondentes, e notou-se que os mesmos observam como positivo tal fator dentro da organizao, sendo encontrados ndices voltados satisfao, com 139 respostas. Quanto ao ndice de muita satisfao foram encontradas 44 respostas, o que demonstra que h um grande grau de satisfao quanto a este fator. o grau de satisfao quanto integrao social na organizao pode ser melhor observado atravs da pergunta 2 que obteve 22 respostas de satisfao, seguido pelas 21 respostas dadas pergunta 1 e pergunta 4, conforme visualiza-se na tabela 5. Tabela 5 - respostas sobre a integrao social na organizao bloco Vi

FoNtE: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.

No levantamento dos direitos dos servidores na Instituio (tabela 6) tambm prevaleceram os ndices de muita insatisfao e insatisfao. as perguntas 9 e 3 receberam 16 e 10 respostas de muita insatisfao, respectivamente. No campo da insatisfao a pergunta 5 recebeu 12 respostas e as perguntas 3, 7 e 9 obtiveram 10 respostas cada. a fim de se demonstrar com maior clareza o ndice de insatisfao dos respondentes quanto aos direitos na Instituio, efetuou-se a somatria dos valores levantados nos campos de muita insatisfao e insatisfao e constatou-se que houve uma frequncia de 164 respostas, contra 61 respostas para respondentes indiferentes e uma somatria de 81 respostas para satisfao e muita satisfao.

Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

489

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Tabela 6 - respostas sobre os direitos na instituio bloco Vii

FoNtE: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.

No bloco de questes seguinte foi pesquisado acerca do equilbrio entre o trabalho e vida dos respondentes, os quais novamente se manifestaram com maior frequncia como insatisfeitos, com 15 respostas dadas na pergunta 2, seguido por 13 respostas na pergunta 1 e com 12 respostas na pergunta 4. J no campo de muita insatisfao destacou-se a frequncia de 12 respostas para a pergunta 3. Com um total de 53 respostas encontradas para o grau de muita insatisfao e um total de 58 respostas para o grau de insatisfao, totalizando 111 respostas, repete-se o grau de insatisfao dos policiais civis. Viii Tabela 7 - respostas sobre o equilbrio entre trabalho e vida bloco

FoNtE: Elaborada a partir dos resultados da pesquisa.

490

Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

Quanto relevncia do trabalho foi constatado um alto grau de satisfao por parte dos respondentes, como pode ser observado atravs das 19 respostas dadas na pergunta 7 e nas 18 respostas obtidas nas perguntas 3, 4 e 5. Cabe salientar, todavia, que a pergunta 1 sobre o respeito que a populao tem por um policial recebeu 18 respostas de insatisfao, podendo-se concluir que os respondentes percebem que a populao no trata os policiais com o respeito que a profisso merece e com isso pode haver uma falta de colaborao para a realizao do servio desses profissionais uma vez que a segurana pblica um a via de mo dupla, onde a populao tem o direito de exigir uma boa prestao de servio e em contrapartida deveria fornecer subsdios necessrios para isso. a caracterizao do alto grau de satisfao neste fator foi obtida atravs da anlise dos nmeros obtidos nos campos de satisfao e muita satisfao, cuja soma perfaz um total de 141 respostas. Tabela 8 - respostas sobre a relevncia do trabalho bloco iX

FoNtE: Elaborada a partir dos resultados da pesquisa.

a avaliao final dos dados levantados nas questes do bloco II ao bloco IX est apresentada na tabela 9, onde podem ser visualizados os totais das frequncias por blocos, as mdias por blocos e a mdia geral, a qual demonstra o ndice insatisfatrio da Qualidade de Vida no trabalho dos policiais civis em estudo. Tabela 9 - avaliao final dos dados levantados no bloco ii ao bloco iX.

FoNtE: Elaborada a partir dos resultados da pesquisa.Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

491

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

para uma melhor anlise dos resultados obtidos nos blocos de questionamentos, foi calculada a mdia ponderada de cada um dos critrios estabelecidos pelo modelo de Walton (1973), obtendo-se os seguintes valores: a) Quanto ao critrio da Remunerao constatou-se um ndice muito insatisfatrio por parte dos policiais civis analisados, pois obteve-se mdia de 1,8 pontos, de um total de 5 pontos. Isso tambm foi observado em todos os outros fatores analisados, caracterizando assim, um nvel geral muito insatisfatrio de QVt. b) No critrio das Condies do trabalho, encontrou-se um ndice significante de insatisfao, pois constatou-se uma mdia de 2,1. c) Quanto ao critrio do uso e desenvolvimento de Capacidades, foi registrado outro baixo nvel de QVt, com a mdia de 2,8. d) Na avaliao do critrio oportunidades de Crescimento profissional, constatou-se a mdia de 2,1 ficando tambm comprovado o nvel de insatisfao. e) No que tange Integrao social na organizao, foram registradas as maiores frequncias no campo da satisfao alcanando a mdia de 3,5 pontos. Isso demonstra que no cmputo geral das frequncias constata-se um nvel de QVt voltado para a indiferena, ou seja, normal. apesar de as maiores frequncias serem de satisfao, outras frequncias foram pulverizadas nos campos de indiferena, insatisfao e muita insatisfao, o que justifica a constatao do nvel encontrado. f) Em se tratando do critrio sobre os direitos na Instituio registrou-se uma QVt insatisfatria, tendo em vista que a mdia constatada foi de 2,5 pontos, uma vez que a maior frequncia foi encontrada no fator da seriedade e respeito ao direito de promoo e as demais frequncias se deram nos campos de muita insatisfao e de insatisfao. g) Em relao ao critrio que envolvia o Equilbrio entre trabalho e Vida, novamente foi encontrado nvel insatisfatrio de QVt, fato caracterizado pela mdia de 2,3 pontos. h) Na dimenso relacionada Relevncia do trabalho, novamente foi encontrado um alto nvel de satisfao, tendo em vista que as maiores frequncias se deram no campo da satisfao, contudo a mdia ponderada de 3,2 pontos demonstra que o nvel de QVt est voltado para a indiferena ou normal. diante das consideraes feitas a partir da anlise dos dados levantados constatou-se uma mdia final de 2,5 pontos, ou seja: um nvel baixo ou insatisfatrio para a QVt dos policiais civis da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio, e esse nvel pode interferir significativamente no desempenho dos profissionais. Como este trabalho foi inspirado em estudo semelhante desenvolvido por oliveira (2001) na universidade Federal de Minas Gerais, onde foi dimensionada pelos mesmos critrios a QVt dos detetives lotados na Regio Metropolitana de Belo Horizonte, no qual constatou-se uma mdia geral de 2,8 para a QVt daqueles profissionais; comprova-se que a QVt dos policiais Civis da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio-pR (2,5 pontos), est abaixo da apresentada em Minas Gerais e isso, aps um intervalo de tempo equivalente a 8 anos.

CONSIDERAES FINAISCom base nos dados obtidos e analisados, buscou-se identificar e entender a Qualidade de Vida no trabalho dos policiais civis da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio-pR, visando subsidiar o oferecimento de propostas Instituio com o intuito de proporcionar 492Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

aos policiais civis uma melhoria nas suas atuaes no contexto do trabalho e vida pessoal. Muito se questiona, mas pouco se faz de concreto para que ocorra qualquer melhora na QVt dos policiais civis. o nvel da Qualidade de Vida no trabalho dos policiais civis lotados nas delegacias sob jurisdio da 11 subdiviso policial de Cornlio procpio/pR, baseado nos oito critrios sugeridos por Walton, (1973) demonstra a realidade das condies de trabalho dos policiais pesquisados, e atravs da mdia 2,5 pontos de um total de 5 pontos, observou-se um nvel insatisfatrio de QVt no contexto de trabalho desses profissionais de segurana pblica. tal nvel pode ser comprovado atravs da anlise de todos os critrios que fundamentaram a avaliao da Qualidade de Vida no trabalho apresentada neste trabalho. No contexto geral observou-se que, com exceo de um respondente, que se eximiu de responder, todos os demais gostam de ser policial e desejariam realizar um trabalho srio e significativo para a sociedade. Mas a falta de policiais (efetivo policial), descaso com os salrios, no valorizao das potencialidades existentes e a despreocupao da Instituio frente s necessidades de programas de sade fsica e mental desses policiais, interferem de forma negativa na eficcia e eficincia no desempenho de suas atribuies. Com fundamento nos dados levantados, so sugeridas algumas iniciativas aos rgos responsveis pela segurana pblica do Estado do paran, conforme segue: a. proceder elaborao de um plano de cargos e salrios da carreira policial civil de base uma vez que no h uma estruturao formal quanto a esse critrio; b. rever os critrios de promoes, procurando estabelecer a correta aplicao estabelecidos na lei orgnica, em face da observncia de que h um alto ndice de insatisfao, o que leva a crer que no h muita seriedade na aplicao dos critrios; c. buscar junto aos rgos competentes melhorias nas condies de trabalho, remunerao e infraestrutura das delegacias, a fim de propiciar aos policiais, condies de realizar suas atividades de maneira mais eficiente; d. tratar de forma igualitria os policiais civis lotados na Capital, Regio Metropolitana da Capital e os policiais lotados no interior do Estado; e. proporcionar atendimento mdico, psicolgico e psiquitrico aos policiais a fim de no comprometer a sua sade fsica mental, em razo do estresse a que so submetidos nas suas atividades dirias; f. utilizando a infraestrutura da Escola superior de polcia Civil, ampliar o campo das pesquisas, visando analisar os aspectos positivos e negativos do contexto de trabalho dos policiais; g. ampliao do quadro funcional e contratao de pessoal a fim de proporcionar uma diviso de atribuies mais justa, sem sobrecarga de trabalho ou desvio de funo. se tais iniciativas forem adotadas certamente se propiciar um acompanhamento eficaz da QVt, permitindo a manuteno de um clima adequado a uma boa sade fsica e mental dos funcionrios. Em resumo, o estudo em questo adverte sobre a necessidade de maiores indagaes, envolvendo o espao da organizao policial civil, tendo em vista a importncia deste setor na sociedade.Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

493

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

REFERNCIASasFoRa, silvia Caus. Qualidade de vida no trabalho de Policiais militares da regio metropolitana do recife. 2004. dissertao (Mestrado em administrao) - universidade Federal de pernambuco. Recife-pE. assaF, aedel Nassif. Qualidade de vida no trabalho na Polcia militar de minas Gerais. 2006. (apresentao de trabalho / Comunicao). VI Congresso de stress da IsMa-BR. Centro de Convenes plaza. porto alegre/Rs. CaEtE, Ingrid. Qualidade de vida no Trabalho: muitas definies e inmeros significados. In: BItENCouRt, Claudia. (org.). Gesto Contempornea de pessoas. porto alegre: Bookman, 2004. dEJouRs, Cristophe. a loucura do trabalho. so paulo: Ed. Cortez, 1992. FERNaNdEs, Eda Conte. Qualidade de vida no trabalho. salvador. Ed. Casa da Qualidade, 1996. GaspaRY leonardo tomazi; sElau, lisiane priscila Roldo; aMaRal, Fernando Gonalves. anlise das condies de trabalho da polcia rodoviria federal e sua influncia na capacidade para trabalhar. Gesto industrial (online), ponta Grossa, v. 4, p. 48, 2008. disponvel em: < http://www.pg.cefetpr.br/ppgep/revista/revista2008 > acesso em 11 nov 08. lIMoNGI-FRaNa, ana Cristina. Qualidade de vida no trabalho: conceitos e prticas nas empresas da sociedade ps-industrial. so paulo: atlas, 2003. lIMoNGI-FRaNa, ana Cristina; aREllaNo, Eliete Bernal. Qualidade de vida no trabalho. In: lIMoNGI-FRaNa, ana Cristina. (org.) as pessoas na organizao. so paulo: Ed. Gente, 2002. MoRaEs, lcio Flvio Renault de. prefcio. In: RodRIGuEs, Marcus Vincius Carvalho. Qualidade de vida no trabalho: evoluo e anlise no nvel gerencial. 9 edio. petrpolis/ RJ: Vozes. 1994. oGata, alberto Jos N. Qualidade de vida no trabalho como ferramenta de gesto nas organizaes pblicas. In: Congreso Internacional del Clad sobre la Reforma del Estado y de la administracin pblica, 9. Madrid, Espaa, 2004. olIVEIRa, Rita de Cssia Martins de. a configurao da QVT no contexto de trabalho dos detetives da polcia civil metropolitana de belo horizonte. 2001. dissertao (Mestrado em administrao) universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte. RodRIGuEs, Marcus Vincius Carvalho. Qualidade de vida no trabalho: evoluo e anlise no nvel gerencial. 9. ed. petrpolis/RJ: Vozes. 1994. saRtoRI, leonardo Fvero. avaliao de burnout em policiais militares: a relao entre o trabalho e o sofrimento. 2006. dissertao (Mestrado em administrao) universidade Estadual de londrina. londrina. sIlVa, Jos Vicente da. stress policial. Jornal da Tarde, 2000, so paulo, 09 nov 2000. disponvel em: acesso em 15 fev 2009. sIlVa, luiz Eduardo antero da. a aplicao peridica da psicologia na capacitao do policial, como instrumento de minimizao dos desvios de conduta. 2008. Monografia (Especializao em polticas e Gesto em segurana pblica) universidade Estcio de s do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. disponvel em: acesso em 15 fev 2009. 494Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

souZa, Edinilsa Ramos de, et al. sofrimento psquico entre policiais civis: uma anlise sob a tica de gnero. Cadernos de sade pblica (on-line). Vol. 23, n. 1. pp. 105-114, 2007. tRIVIos, a. N. s. introduo pesquisa em cincias sociais. so paulo: atlas, 1995. VasCoNCElos, anselmo Ferreira. Qualidade de vida no trabalho: origem, evoluo e perspectivas. Caderno de pesquisas em administrao. so paulo, v. 8, n. 1, jan/mar, 2001. VERGaRa, sylvia Constant. Projetos e relatrios de pesquisa em administrao. so paulo: Ed. atlas, 2007.

Captulo 4 - sEGuRaNa pBlICa

495

GEsto dE poltICas pBlICas No paRaN

496

Qualidade de Vida no Trabalho de Policiais ciVis: um esTudo na rea da 11 subdiViso...