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Carolina Bouchardet Dias “O ser humano é chamado a ser ele mesmo nas suas relações.”. O homem, mesmo que queira, não consegue viver sozinho, pois é um ser social, que necessita de convivência. De contato com outros indivíduos para alcançar sua plenitude, sua autocompreensão e o desenvolvimento da própria humanidade. Portanto, a união entre os homens é natural e, por mais que alguém queira viver isolado, apresenta sempre a inclinação para a convivência com seu igual, para a comunicação. O pertencimento, então, é inevitavelmente, um desejo dos seres sociais. A busca de participação em grupos, tribos e comunidades que possibilitem enraizamento e gerem identidade e referência social é um impulso comum a todos. A partir desse pertencimento, percebe-se um lugar no mundo, um objetivo de vida, uma “missão”, talvez, que torna a vida um fenômeno fundamentado, com um escopo delineado, em vez de uma existência vazia, sem rumo, rasa, sem cores e mecânica. Neste caminho, os indivíduos humanos, então, não são exclusivamente conscientes e autores solitários e racionais de suas próprias vidas, uma vez que são guiados, majoritariamente, pelo sentimento de pertencimento aos seus grupos e complexos sociais, tendo sua individualidade dependente de suas relações. Tais grupos aos quais pertencemos e com os quais nos relacionamos nos influenciam e são influenciados por cada membro que os compõem. Essa influência é um norteador de

Trabalho de Religião

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“O ser humano é chamado a ser ele mesmo nas suas relações.”Aula "O ser humano e o fenômeno religioso"

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Page 1: Trabalho de Religião

Carolina Bouchardet Dias

“O ser humano é chamado a ser ele mesmo nas suas relações.”. O homem,

mesmo que queira, não consegue viver sozinho, pois é um ser social, que necessita de

convivência. De contato com outros indivíduos para alcançar sua plenitude, sua

autocompreensão e o desenvolvimento da própria humanidade. Portanto, a união entre os

homens é natural e, por mais que alguém queira viver isolado, apresenta sempre a inclinação

para a convivência com seu igual, para a comunicação.

O pertencimento, então, é inevitavelmente, um desejo dos seres sociais. A

busca de participação em grupos, tribos e comunidades que possibilitem enraizamento e

gerem identidade e referência social é um impulso comum a todos. A partir desse

pertencimento, percebe-se um lugar no mundo, um objetivo de vida, uma “missão”, talvez,

que torna a vida um fenômeno fundamentado, com um escopo delineado, em vez de uma

existência vazia, sem rumo, rasa, sem cores e mecânica. Neste caminho, os indivíduos humanos,

então, não são exclusivamente conscientes e autores solitários e racionais de suas próprias vidas, uma

vez que são guiados, majoritariamente, pelo sentimento de pertencimento aos seus grupos e complexos

sociais, tendo sua individualidade dependente de suas relações.

Tais grupos aos quais pertencemos e com os quais nos relacionamos nos

influenciam e são influenciados por cada membro que os compõem. Essa influência é um

norteador de pensamentos e comportamentos, é uma variável capaz de modificar as

tendências do ser humano, de transforma-lo, defini-lo.

Nessas relações com indivíduos e grupos ao longo de nossas vidas,

experimentamos uma variedade infinita de sentimentos e emoções que se matizam, o que

serve de fator de aprendizagem e compreensão da interioridade e profundeza do ser humano,

o qual, uma vez que convive, se comunica e dialoga com as próprias sensações, emoções e

sentimentos, percebe a si próprio como humano, como parte de uma universalidade e ao

mesmo tempo como indivíduo destacado, portador de uma história e características próprias.

A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá vida e sentido às vivências humanas, que

distingue um ser humano de um autômato, que estimula reflexões e epifanias e diminui a

objetividade. Sem essa afetividade, a mente torna-se vazia, sem experiências íntimas

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profundas e, portanto, sem aprendizado sobre si mesmo e sobre as humanidades. As relações,

então, nos servem de prisma para enxergarmos a nós mesmos.

O contato com outros homens proporciona a transmissão de informações e

cultura, de experiências. Essa assimilação do que os outros comunicam viabiliza a penetração

em outros níveis de consciência, que, sem interação e convívio, não seriam possíveis. A

comunicação entre os seres humanos permite o compartilhamento de experiências e vivências,

que podem ensinar aos outros; permite o planejamento do futuro e o estabelecimento de

objetivos, que guiarão o comportamento e até os princípios defendidos; permite a quebra das

fronteiras do pensamento, a ampliação das ideias, a expansão do raio de visão para as mais

diversas questões; proporciona o enriquecimento espiritual e o engrandecimento do homem.

 Enfim, segundo Hannah Arendt, “o ser humano só se percebe como tal quando entra

em contato com o outro, “só existe a partir do outro”, criando-se assim a necessidade de distinção. Pela

distinção, o ser humano expressa as diferenças e se torna singular, particular. De acordo com a filosofia

de Arendt, são estas áreas de diferença, as quais se distinguem das áreas de igualdade do homem, que

permitem a realização pessoal. Seguindo este raciocínio, os indivíduos não apenas existem, como

também é primordial que se expressem em suas autenticidades a fim de dar sentido à vida e a percepção

dessa autenticidade é fruto da vivência em grupo, entre os iguais. Já segundo o pensamento do filósofo

alemão Hellinger, os seres humanos são primeiramente coletivos, e, a partir de seus lugares no complexo

social, são capazes de manifestar as suas individualidades nos limites do que o sistema familiar permitir.

Portanto, ambas as teorias convergem para a ideia de que as relações do indivíduo com

a coletividade e seus membros, o permite se destacar ao mesmo tempo em que sente o apoio de seus

iguais e se constrói com a ajuda deles. A própria autenticidade é derivada da igualdade e a construção do

ser humano é fruto do seu contato com os outros.

Bibliografia complementar:

RAMOS, Paola Novaes. Condição Humana, Pertencimento e Individualidade.

Disponível em: <http://petpol.org/2012/08/03/condicao-humana-pertencimento-e-

individualidade/>.Acesso em: 13 abril 2015.