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Universidade de São Paulo Escola de Comunicações e Artes CJE 0518 - Pensamento Filosófico Prof.ª Dr.ª Marília Pacheco Fiorillo Leonardo Dáglio Colombani de Sousa 7999032 Trabalho Final - Pensamento Filosófico São Paulo, 05 de Dezembro de 2012

Trabalho Final - Pensamento Filosófico (5)

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Universidade de São PauloEscola de Comunicações e ArtesCJE 0518 - Pensamento FilosóficoProf.ª Dr.ª Marília Pacheco Fiorillo

Leonardo Dáglio Colombani de Sousa7999032

Trabalho Final - Pensamento Filosófico

São Paulo, 05 de Dezembro de 2012

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A discussão sobre cotas é antiga. Entretanto, o projeto (de 29/08/2012) que, quando aprovado, as legalizou, é recente. (Lei nº 12.711, 11/10/12).

Tanto a implementação das cotas raciais quanto o contrário têm consequências positivas e negativas. Seria ignorância dizer que elas não paliam o problema do negro, que na história teve menos condições e que portanto integra a maioria das famílias das classes menos abastadas do país. Por outro lado, seria antiético tapar os olhos à discriminação que elas representam. Julgar que o negro precisa de uma pontuação extra maior que um branco educado nas mesmas condições é, no limite, duvidar da sua capacidade de superação e tê-lo por inferior. Me é impossível, outrossim, ignorar o gosto de culpa que permeia a decisão por elas, comparável ao remorso alemão com relação aos judeus.

As cotas universitárias e o racismo: Três pensamentos e uma opinião

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A conclusão do alemão

A principal contribuição de Immanuel Kant para a Filosofia foi, sem dúvida, o que se chama de imperativo categórico. Ele busca, por meio da reflexão e da análise, não da mera emissão de opiniões, os "mandamentos" - estes, não divinos, mas racionais - que determinam o que é moral e o que não é. Assm, chega a três pontos essenciais (a ausência de qualquer deles dá a uma certa ação potencial impacto negativo ou a torna impossível de fazer). São eles: concordância com a lei da natureza (ser um mandamento da razão); possibilidade de se tornar lei universal; utilização do humano como fim, e não meio.

Foram estabelecidas por meio da razão, e implementá-las não vai de encontro às imposições da natureza, como "voar" iria.

Mas o que diria, então, sobre cotas?

Se todas as universidades as oferecessem, a porcentagem de negros e brancos dentro delas mudaria. Nada que ameace o futuro da sociedade.

O fim formal da lei é diminuir a desigualdade racial, prejudicial aos negros. Pode-se, porém, considerá-los meios para um outro fim, o de quitar uma dívida histórica com eles e frente ao mundo, por interesse.

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(Gálatas 6:7b): "pois tudo que o homem semear, isso também ceifará."

Embora crítico veemente da igreja quando adulto, até considerado ateu e herege, David Hume chegou a frequentar a igreja e até mesmo a estudar um manual calvinista. Talvez por isso, o seu pensamento (a ética consequencialista) pode ser muito bem descrito pela fala de Paulo apresentada, posto não se resuma a isso.

Se Kant estipulou uma "fórmula" para determinar a

moralidade de uma atitude, Hume vai de encontro a esse método. Para ele, a dúvida não é o que leva

alguém a pensar e a chegar a alguma conclusão, mas é a própria conclusão do raciocínio.

Ultrapassando os limites da análise fundamentada no pensamento de Hume, eu o afirmaria a favor das cotas. Afinal, ele representava uma minoria perseguida pelas autoridades de seu país, por enfrentar ideias que, apesar de originadas de uma contestação aos dogmas católicos, não haviam sido, até então, elas mesmas criticadas assim.

O pensador não admite relações de causa como verdadeiras, mas afirma ser toda aparente causalidade uma percepção de regularidades, assim,

erroneamente, classificada.

Os porquês, para o escocês

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O rompimento do estadunidense

Apesar de o sentido dado por Richard Rorty a "clichê" não ser o que é comumente associado à palavra (chavão, expressão desgastada),seus ideais propõem uma atualização do passado; em suas palavras, "uma maneira de tornar-se mais sensível às conquistas e promessas de seu próprio tempo é parar de fazer as perguntas que foram formuladas em outros tempos".

Rorty...

■ cultivava o hábito de enviar dezenas de livros aos amigos pobres da Europa do Leste ou da África, todo mês, às suas próprias custas;

■ abrigava, por vezes, os estudantes sem recursos em sua casa;

■ jamais aceitava pagamento quando dava palestras em países pobres.

(Luiz Eduardo Soares)

Rorty era pragmático. Logo, desprezava a crítica desacompanhada da prática.

Suas atitudes, descritas por seu colega Luiz Eduardo Soares, mais que seu pensamento registrado, me levam a pensar que ele seria a favor das cotas.

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Vão-se os anéis, ficam-se os dedos...

Aristóteles só atingiu a plenitude do seu intelecto ao romper com Platão. Não me comparo a ele, mas discordo do que apreendi da produção dos três pensadores citados.

A questão se resume a um ponto. Até os que são a favor das cotas afirmam sê-lo em razão do prejuízo histórico das pessoas negras, que as faz financeiramente inferiores aos brancos.

Logo, é muito mais lógico aumentar as cotas para alunos de escolas públicas - ou melhor, de famílias que tenham uma renda baixa - do que atribuí-las à cor do indivíduo (até porque, no censo, "escolhemos" nossa tez). Mais eficiente, não-discriminatório e resolve o problema histórico.

Assisti a um trecho de uma novela, em que se falava disso. A empregada dizia: "Nossa, como as coisas mudaram, nunca me imaginei trabalhando pra uma negra." A resposta foi: "É, mas as coisas vão mudar mesmo quando falarmos disso sem surpresa."

Ou quando pararmos de falar.