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Revista Vox. Revista da Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas – Reduto/MG. Edição n.05, janeiro-junho 2017, p. 27-40 ISSN: 2359-5183 27 Trabalho informal no Brasil: uma questão de “opção”? Hudson S. dos Santos 1 Márcia C.S. de Oliveira 2 RESUMO: O presente artigo pretende compreender o fenômeno do trabalho informal na realidade brasileira, tendo em vista a necessidade de retomar o estudo da temática no atual cenário de crise econômica, momento em que a contradição da relação capital-trabalho se intensifica e promove uma ambígua oportunidade. Para tanto, com base em uma abordagem qualitativa, utilizam-se a revisão de literatura e dados oficiais sobre o mercado de trabalho no Brasil. O estudo, que compõe uma agenda de pesquisa sobre as reconfigurações do mundo do trabalho contemporâneo, estrutura-se da seguinte forma: (1) apresentação dos principais entendimentos sobre trabalho informal; (2) apresentação do histórico de regulamentação do trabalho; (3) análise do trabalho informal na realidade brasileira e seu significado no processo de acumulação capitalista. Palavras-chave: Trabalho; Precarização; Trabalho Informal. ABSTRACT: The aim of this article is to understand the phenomenon of informal employment in the scope of Brazil, as this study needs to be resumed due to the current scenario of economic crisis in the country, when the capital vs. work contradiction builds up and provides for an ambiguous opportunity. In this regard, based on a qualitative approach, both literature review and official data on the labor market in Brazil are considered. The study, which makes up a research agenda on reconfigurations of the modern working world, is structured as follows: (1) review of the key understandings of informal employment; (2) review of the history of labor regulations; (3) review of informal employment considering the Brazilian reality and its meaning in the capitalist accumulation process. Key-words: Employment; Precariousness; Informal employment. 1 Introdução Em um contexto de registro constante de taxa de desocupação de 11,8% no mês de agosto de 2016, conforme veiculação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) 3 , que, em essência, representa um dos sintomas da crise econômica vivenciada hoje pelo Brasil, a temática do trabalho informal sempre retorna à evidência, e consigo novas e velhas questões/desafios são colocados aos pesquisadores, estimulando-os a compreender a expressão deste fenômeno nas suas várias expressões. O presente artigo, que se enquadra em uma primeira etapa de uma agenda de pesquisa acerca das reconfigurações do mundo do trabalho contemporâneo, pretende compreender o fenômeno do trabalho informal na realidade brasileira, enfatizando a “opção” que o trabalho informal representa para a relação capital-trabalho. Para cumprir tal objetivo, buscou-se realizar uma abordagem qualitativa, com a revisão de literatura das áreas da sociologia do trabalho, economia do trabalho e 1 Mestre/PPGSD-UFF e Técnico-Administrativo/IFBA, (Gemut-UFF // IEPS UEFS). E-mail: [email protected] 2 Mestranda PPGSD-UFF. E-mail: [email protected] 3 Em setembro de 2016, o IBGE publicou o resultado da PNAD Contínua para o trimestre: junho, julho e agosto de 2016, em que se constata uma taxa de desocupação de 11,8% (IBGE, 2015); no trimestre anterior (março a maio), a taxa de desocupação foi 11,2%.

Trabalho informal no Brasil: uma questão de “opção”?

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Revista Vox. Revista da Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas – Reduto/MG. Edição n.05, janeiro-junho 2017, p. 27-40

ISSN: 2359-5183

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Trabalho informal no Brasil: uma questão de “opção”?

Hudson S. dos Santos1

Márcia C.S. de Oliveira2

RESUMO: O presente artigo pretende compreender o fenômeno do trabalho informal na realidade brasileira,

tendo em vista a necessidade de retomar o estudo da temática no atual cenário de crise econômica, momento

em que a contradição da relação capital-trabalho se intensifica e promove uma ambígua oportunidade. Para

tanto, com base em uma abordagem qualitativa, utilizam-se a revisão de literatura e dados oficiais sobre o

mercado de trabalho no Brasil. O estudo, que compõe uma agenda de pesquisa sobre as reconfigurações do

mundo do trabalho contemporâneo, estrutura-se da seguinte forma: (1) apresentação dos principais

entendimentos sobre trabalho informal; (2) apresentação do histórico de regulamentação do trabalho; (3)

análise do trabalho informal na realidade brasileira e seu significado no processo de acumulação capitalista.

Palavras-chave: Trabalho; Precarização; Trabalho Informal.

ABSTRACT: The aim of this article is to understand the phenomenon of informal employment in the scope

of Brazil, as this study needs to be resumed due to the current scenario of economic crisis in the country, when

the capital vs. work contradiction builds up and provides for an ambiguous opportunity. In this regard, based

on a qualitative approach, both literature review and official data on the labor market in Brazil are considered.

The study, which makes up a research agenda on reconfigurations of the modern working world, is structured

as follows: (1) review of the key understandings of informal employment; (2) review of the history of labor

regulations; (3) review of informal employment considering the Brazilian reality and its meaning in the

capitalist accumulation process.

Key-words: Employment; Precariousness; Informal employment.

1 Introdução

Em um contexto de registro constante de taxa de desocupação de 11,8% no mês de agosto de 2016,

conforme veiculação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua)3,

que, em essência, representa um dos sintomas da crise econômica vivenciada hoje pelo Brasil, a

temática do trabalho informal sempre retorna à evidência, e consigo novas e velhas questões/desafios

são colocados aos pesquisadores, estimulando-os a compreender a expressão deste fenômeno nas

suas várias expressões.

O presente artigo, que se enquadra em uma primeira etapa de uma agenda de pesquisa acerca das

reconfigurações do mundo do trabalho contemporâneo, pretende compreender o fenômeno do

trabalho informal na realidade brasileira, enfatizando a “opção” que o trabalho informal representa

para a relação capital-trabalho. Para cumprir tal objetivo, buscou-se realizar uma abordagem

qualitativa, com a revisão de literatura das áreas da sociologia do trabalho, economia do trabalho e

1 Mestre/PPGSD-UFF e Técnico-Administrativo/IFBA, (Gemut-UFF // IEPS – UEFS). E-mail:

[email protected]

2 Mestranda PPGSD-UFF. E-mail: [email protected]

3 Em setembro de 2016, o IBGE publicou o resultado da PNAD Contínua para o trimestre: junho, julho e agosto de 2016,

em que se constata uma taxa de desocupação de 11,8% (IBGE, 2015); no trimestre anterior (março a maio), a taxa de

desocupação foi 11,2%.

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direito do trabalho, bem como com a utilização de dados oficiais do mercado de trabalho no Brasil,

produzidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Assim, com este estudo, que também representa uma autocompreensão dos autores acerca da

temática, espera-se colaborar para a compreensão interdisciplinar do trabalho informal, de forma a

explicitar a ambiguidade que o fenômeno traz consigo, principalmente na realidade brasileira, em que

ocorreu nos últimos anos um aumento dos índices de emprego formal, mas que contraditoriamente

não promoveu impacto significativo sobre as taxas de informalidade, que, por sua vez, estão

retomando seu crescimento com a atual crise econômica.

2 Trabalho informal no Brasil: uma aproximação do campo de pesquisa.

Para compreender o fenômeno do trabalho informal na realidade brasileira, enfatizando a “opção”

que o trabalho informal representa para a relação capital-trabalho, serão abordados aqui (1) os

principais olhares sobre o fenômeno do trabalho informal, a fim de compreender as percepções e

significados dados à informalidade, e sua respectiva funcionalidade, para a apreensão do trabalho

informal no mundo do trabalho contemporâneo; (2) o percurso histórico da regulação do trabalho, a

fim de entender como o fenômeno do trabalho se relaciona com a regulamentação, para a partir daí

compreender o trabalho informal e sua relação com a proteção social; (3) o mundo do trabalho no

Brasil, a fim de compreender o trabalho informal na realidade brasileira contemporânea.

2.1 Trabalho informal: o fenômeno e alguns olhares.

A definição do fenômeno da informalidade é objeto constante de debates teóricos e políticos na

literatura especializada da Economia e da Sociologia do Trabalho. As compreensões e os objetivos

distintos dos autores sobre a temática e a realidade na qual está inserida revelam as dificuldades de

apreensão da realidade social e das alterações sociais, econômicas e políticas, ocorridas desde a

origem do conceito nos anos de 1960/70 até o presente início do século XXI (FILGUEIRAS,

DRUCK, AMARAL, 2004: 212; BARRETO, 2005: 54-55).

Neste debate acadêmico, o processo de acumulação global do capitalismo em nível mundial é o

principal critério utilizado para se proceder à conceituação do fenômeno da informalidade,

destacando-se as seguintes conceituações: Setor Informal, Economia Informal (ilegal, não registrada,

submersa ou subterrânea) e atividades não-fordistas.

Antes de iniciar a apresentação das três principais formas de compreensão do fenômeno da

informalidade, ressalta-se que as mesmas são as mais utilizadas para a elaboração e interpretação das

estatísticas do trabalho informal, sobretudo porque proporcionam objetivos investigativos e

referenciais teóricos diferentes.

Datado do final da década de 1960 e início de 1970, a primeira elaboração do conceito Setor Informal

é produto do Programa Mundial de Emprego, realizado pela Organização Internacional do Trabalho

(OIT) em 1969. Este programa institucional visou indicar proposições para os países

subdesenvolvidos sobre estratégias de desenvolvimento econômico, baseadas na criação de

empregos, em detrimento do crescimento rápido do produto, sendo que, para alcançar tal propósito,

faziam-se avaliações da estrutura produtiva e de emprego e renda dos países em estudo

(CACCIAMALI, 1982: 14-15; BARRETO, 2005: 58-59).

O marco importante sobre a delimitação teórica de Setor Informal está no relatório da OIT sobre

Emprego e Renda no Quênia (1972), no qual se demonstrava a finalidade de construir uma categoria

de análise adequada para descrever as atividades geradoras de uma renda relativamente baixa e que

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agrupassem os trabalhadores urbanos mais pobres (CACCIAMALI, 1982: 14-15). Este relatório

também declarava que o Setor Informal decorria do excedente de mão-de-obra advindo do elevado

crescimento demográfico (êxodo rural) e da incapacidade de absorção da força de trabalho crescente

pelos segmentos modernos (processo de industrialização pós-guerra dos países subdesenvolvidos –

substituição de importações).

Em outras palavras, a inexistência de mecanismos institucionais garantidores de uma renda mínima

conduzia a população não absorvida a sobreviver das atividades de baixa produtividade, fora da

relação assalariada e sem proteção social, apesar dos processos de industrialização tardia dos países

subdesenvolvidos, sendo que estas atividades se aproximavam dos setores mais tradicionais da

economia. Por consequência, as economias dos países dividiam-se em Setores Formais e Informais

(FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 213; BARRETO, 2005: 59).

Em consonância com as formulações duais (formal/informal e moderno/tradicional) dos estudos da

OIT, as “teorias da modernização e da marginalidade 4 ” compreendiam que a informalidade

desapareceria com o desenvolvimento e o crescimento econômico.

Em síntese, a “teoria da modernização 5 ”, balizada no entendimento de que os países

subdesenvolvidos tinham economias polarizadas - por um setor avançado e de ponta sucedido da

recente industrialização, e, por outro lado, um setor de atividades bastante atrasadas, compostas por

migrantes internos -, defendia que a informalidade é um processo transitório e seria superada quando

os países saíssem da condição de subdesenvolvimento.

A “teoria da marginalidade”, diante das dificuldades de superação do subdesenvolvimento pelos

países periféricos, defendia a tese de que certos grupos de trabalhadores seriam inseridos precária e

marginalmente, em longo prazo, no mercado de trabalho, em virtude de alguns fracassos do

desenvolvimento acelerado dos países de industrialização tardia (BARRETO, 2005: 56).

Assim, esta primeira significação do Setor Informal gerou dúvidas e críticas teóricas e empíricas, por:

a) não obedecer a algum rigor ou homogeneidade; b) continuar com a abordagem dual e estática,

semelhante à concepção de setores moderno/tradicional, que não apresentava a complexidade da

dinâmica do processo da produção e do emprego, e que tornava os dois setores (formal e informal) e

suas respectivas estruturas e dinâmicas independentes entre si; c) associar o Setor Informal

diretamente aos segmentos mais pobres e atrasados da população ocupada; d) não considerar a forma

de inserção do trabalhador na produção (FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL: 213).

Neste sentido, fundamentado em Oliveira (1972), Barreto (2005) refere-se às diretrizes gerais da

visão dualista sobre o Setor Informal, salientando que

4 Para um maior aprofundamento crítico sobre as teorias dualistas e sua correlação com a realidade brasileira,

especificamente a constituição do capitalismo brasileiro, sugere-se o texto clássico de Francisco de Oliveira, A economia

brasileira: crítica à razão dualista, em Estudos CEBRAP, n.2, 1972.

5 “De um lado, estava a ‘teoria da modernização’ que sustentava a tese de que o baixo nível global de capitalização dos

países do mundo subdesenvolvido produzia uma estrutura urbana de emprego bastante desequilibrada, contudo esta

situação era considerada provisória, caracterizava-se como uma forma de pré-incorporação dos trabalhadores aos

empregos assalariados. Nesta mesma direção, surgia a ‘teoria da marginalidade’ enfatizando as consequências do

processo de modernização das economias em desenvolvimento que geravam uma estratificação social em que os

trabalhadores não incorporados ao processo produtivo estariam fadados às situações marginais em longo prazo. Por esta

ótica, o trabalho informal era considerado marginal, desintegrado da estrutura produtiva, não exercendo nenhuma função

na estrutura econômica da sociedade. Portanto, estas duas teorias operam com dualismo estrutural que opõem

‘tradicional’ e ‘moderno’, ‘marginal’ e ‘integrado”. (DRUCK, OLIVEIRA, 2007: 03 - grifo nosso).

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[...] não se pode atribuir ao movimento das taxas demográficas a produção de excedentes de trabalhadores na

economia dos países marcados pela informalidade, muito menos se pode considerar que o rápido crescimento

urbano nestes países decorre de um inchaço do setor terciário ou setor de serviços. O setor de serviços que se

forma nestes países, marcados majoritariamente por relações informais de trabalho tem seu tamanho, forma e

característica estreitamente ligadas ao tipo de acumulação do capital que se forma de acordo com as

singularidades históricas de cada nação. [...] O setor de serviços que se forma, sustentado basicamente em

relações informais de produção, não se contrapõe, nem concorre com o setor industrial, ao contrário,

contribui com o processo de reprodução do capital, atuando, de um lado como exército industrial de reserva e

de outro, como escoador de mercadorias da indústria [...] (BARRETO, 2005: 64).

Para buscar a superação das fragilidades teóricas em meados dos anos 1970, a reelaboração do

conceito de Setor Informal atrelou-se às relações do trabalhador com os meios de produção, sendo

definido como

[...] um conjunto de atividades e formas não tipicamente capitalistas, caracterizadas em especial por não

terem na busca do lucro o seu objetivo central e por não haver uma separação nítida entre capital e trabalho,

ou seja, o produtor direto, de posse dos meios de produção, executa e administra a atividade econômica, com

o apoio de mão-de-obra familiar e/ou alguns ajudantes. (FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 213).

Esta definição, enquanto categoria analítica alternativa à dicotomia setores moderno/tradicional,

considera como parâmetro a forma de organização da produção pelas pessoas e firmas,

caracterizando os estabelecimentos informais por possuírem na organização de sua produção um

pequeno número de trabalhadores (remunerados e/ou membros da família), pouco capital e uso de

técnicas pouco complexas e intensivas de trabalho (CACCIAMALI, 1982: 16-17; 2000: 155).

Nesta abordagem, o Setor Informal (pequenos produtores e trabalhadores por conta própria) ocupa os

espaços de produção não capitalistas e subordina-se ao processo mais geral de acumulação. Por

conseguinte, submete-se à dinâmica da produção capitalista: perfil de demanda, distribuição de renda,

transferências de trabalhadores do setor formal para o informal nos períodos de crise etc.

(FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 213).

Destarte, os Setores Formal e Informal são componentes interdependentes do processo de

acumulação capitalista. A informalidade representa as atividades cuja organização não é tipicamente

capitalista (compra e venda de força de trabalho, propriedade dos meios de produção dentre outros),

bem como se recompõe de uma forma subordinada e intersticial ao setor formal nos processos de

desenvolvimento da produção (BARRETO, 2005: 64-65; CACCIAMALI, 1982: 26-35).

Este conceito de Setor Informal, formulado para compreender o fenômeno da informalidade, foi

elaborado num contexto pós-guerra, no qual o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar Social nos

países centrais propiciava a expansão das atividades capitalistas organizadas. Desta forma, os setores

privado e público eram incentivados a criar postos de trabalho, respaldados na legalidade das relações

de trabalho (FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 213-214).

Contudo, no final dos anos 1970, a crise do padrão fordista/taylorista6 e do Estado de Bem-Estar

Social (altas taxas de desemprego, desaceleração das economias, aumento da inflação etc.) e as

6 “Compreende-se o fordismo enquanto novo padrão de gestão do trabalho e da sociedade (ou do Estado) que sintetiza as

novas condições históricas, constituídas pelas mudanças tecnológicas, pelo novo modelo de industrialização

caracterizado pela produção em massa, pelo consumo de massa (o que coloca a necessidade de um novo padrão de renda

para garantir a ampliação do mercado), pela ‘integração’ e ‘inclusão’ dos trabalhadores. Tal inclusão, por sua vez, era

obtida através da neutralização das resistências (e até mesmo da eliminação de uma parte da classe trabalhadora – os

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respostas político-econômicas para esta conjuntura (implementação do processo de reestruturação

produtiva e programas de liberalização econômica) desestruturaram as relações de trabalho

predominantes até o presente momento nos países centrais capitalistas.

Tal desestruturação permitiu na época o surgimento de atividades não regulamentadas pela legislação

vigente (subcontratação, terceirização, cooperativismo, estagiarização etc.) e a redução do

contingente de trabalhadores assalariados e socialmente protegidos (FILGUEIRAS, DRUCK,

AMARAL, 2004: 213-214; BARRETO, 2005: 66). Com essa rearticulação na estrutura produtiva,

surge a necessidade de (re)definição da informalidade ante à imprecisão da divisão da economia em

Setores Formais e Informais e às alterações na conjuntura político-econômica.

Desse modo, na literatura especializada, o termo informalidade passou a ser sinônimo de Economia

Informal/Ilegal: “atividades e práticas econômicas ilegais e/ou ilícitas, com relação às normas e

regras instituídas pela sociedade, [...], sendo redefinida, portanto, por um critério jurídico”

(CACCIAMALI apud FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 214).

Observa-se na definição supracitada que não se confere mais centralidade ao trabalho informal e sua

forma de relação com o processo produtivo, mas fundamentalmente à dimensão dos conflitos de

legitimidade e regulamentação legal das atividades laborais (DRUCK, OLIVEIRA, 2007: 03). Esta

(re)significação de informalidade passa a englobar

[...] tanto certas atividades e formas de produção quanto relações de trabalho consideradas ilegais,

entretanto não pode ser identificada como um setor da economia, uma vez que o trabalho assalariado sem

carteira assinada, por exemplo, está presente tanto em empresas e atividades não registradas quanto em

empresas capitalistas formalmente constituídas de acordo com as regras vigentes. Desse modo, nesse segundo

conceito, o trabalhador informal se insere tanto na estrutura produtiva, quanto pelos mercados de produtos e

serviços (FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 214).

Ou seja, neste momento (final dos anos 1970), o conceito de informalidade está associado à

capacidade de regulação, pelo Estado, das atividades que infringem as diversas normatizações

relativas às relações de trabalho (legislação trabalhista, tributária, previdenciária, administrativa

dentre outras).

A partir da década de 1990, sobretudo nos países periféricos, diante do processo intenso de

reestruturação produtiva e de avanço das políticas neoliberais, principalmente pela flexibilização e

precarização nas relações de trabalho, essa segunda conceituação de informalidade demonstra-se

insuficiente para a compreensão da complexidade e heterogeneidade deste fenômeno.

Assim, a elaboração do terceiro significado para o trabalho informal passou a reunir tanto a acepção

de atividades e formas de produção não tipicamente capitalista (Setor Informal), quanto a de

ilegalidade (Economia Informal), denominando-se atividades não-fordistas. Esta denominação

refere-se aos trabalhadores que têm uma inserção precária no mercado de trabalho e contrapõem-se

àquelas atividades tipicamente fordistas, caracterizadas pelo assalariamento regulado

(FILGUEIRAS, DRUCK, AMARAL, 2004: 215; BARRETO, 2005: 69-74).

O foco da análise desta definição direciona-se para as atividades desenvolvidas pelos trabalhadores

nos mercados de bens e serviços e de trabalho, em um contexto de surgimento de novas e reprodução

de antigas e precárias relações de trabalho. A dinâmica econômica não assume papel de centralidade

no estudo.

trabalhadores de ofício) e da ‘persuasão’, sustentada essencialmente na nova forma de remuneração e de benefícios”

(DRUCK, 2001).

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Apresentadas as três principais formas de compreensão do fenômeno da informalidade à luz do

processo de acumulação capitalista – e suas transformações, reestruturações e crises -, sintetiza-se,

assim, que Setor Informal relaciona-se à organização da atividade econômica (capitalista/não

capitalista); Economia Informal, à natureza jurídica da atividade econômica (legal/ilegal); e

atividades não-fordistas, à junção da organização da atividade econômica com a natureza jurídica da

atividade econômica.

Observa-se que as apreensões sobre a informalidade possuem critérios diferentes para as suas

respectivas definições. A aplicação empírica dos mesmos revela graus diferentes de importância do

trabalho informal para o conjunto do sistema produtivo, pois cada um dos critérios engloba distintas

categorias de pessoas ocupadas e diferentes dimensões do mercado de trabalho. A não utilização de

critérios para compreender a informalidade implica numa definição genérica deste fenômeno e, por

conseguinte, uma camuflagem da realidade.

Deste modo, destaca-se que, na investigação empírica das qualificações de informalidade, a

utilização da definição Setor Informal evidencia a menor ou maior heterogeneidade do mercado de

trabalho, ou seja, a amplitude das relações de produção e distribuição não tipicamente capitalista

articuladas, direta ou indiretamente, ao processo de acumulação capitalista e a importância do

emprego e grau de difusão das relações capitalista no conjunto do sistema produtivo; a de Economia

Ilegal/informal demonstra a capacidade de regulamentação pelo Estado das atividades econômicas e

do acesso dos trabalhadores ocupados aos direitos sociais; a de atividades não-fordistas aponta a

amplitude e grau da precarização existente no mercado de trabalho (FILGUEIRAS, DRUCK,

AMARAL, 2004: 227-228).

As três conceituações, apesar de estarem relacionadas à precariedade das atividades econômicas e das

formas e relações de trabalho, possuem limitações para captar as várias expressões heterogêneas entre

si, existentes na realidade da informalidade, a citar os trabalhadores assalariados sem carteira, os

trabalhadores domésticos, os autônomos, os donos de negócio familiar.

Todavia, em consonância com Filgueiras, Druck, Amaral (2004), o conceito de atividades

não-fordistas sobre a informalidade abarca mais a dimensão deste fenômeno (trabalhador familiar,

dono de negócio familiar, empregado doméstico, assalariado sem carteira, trabalhador autônomo e

empregadores que não recolhem para a previdência), pois apenas não apreende as atividades/relações

de trabalho capitalistas registradas (trabalhadores assalariados com carteira, assalariado público e

empregadores que recolhem para a previdência social).

[...] dos três, o conceito mais adequado de informalidade, enquanto expressão do processo de precarização do

trabalho, é aquele que a define a partir das atividades não-fordistas em razão da própria definição de

precarização explicita, que abarca tanto indicadores que refletem situações econômicas específicas

(desfavoráveis) próprias das atividades econômicas não capitalistas vis-à-vis as capitalistas (como a

instabilidade da demanda e do rendimento e longas jornadas de trabalho, por exemplo), quanto indicadores

que expressam situações particulares (desfavoráveis) das atividades não regulamentadas vis-à-vis as

regulamentadas (como a impossibilidade de acesso ao seguro-desemprego e à aposentadoria, inexistência de

férias remuneradas e interrupção do fluxo de rendimentos em razão de doença, por exemplo) (FILGUEIRAS,

DRUCK, AMARAL, 2004: 228).

Assim, depois de apresentadas as principais formas de conceituação do fenômeno da informalidade,

contexto de elaboração e suas diferentes percepções sobre o trabalho informal, para fins deste

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trabalho 7 , adota-se a significação de atividades não-fordistas dada ao trabalho informal, por

possibilitar maior amplitude de análise do processo de precarização das relações de trabalho, no qual,

notadamente, o trabalho informal transversaliza vários dos seus indicadores 8 , por exemplo a

condenação e descarte do Direito do Trabalho.

2.2 Regulamentação do trabalho: um “passeio” na história.

As mutações no mundo do trabalho são uma constância, e também são marcadas por sobreposições e

encadeamentos de distintos momentos históricos. Esta constatação pode ser aferida por intermédio de

diversos mecanismos de controle social, sendo o Direito uma forma privilegiada de regulação, de

(tentativa de) “enquadramento” e de legitimação das variações internas e externas à produção

capitalista.

O desenvolvimento da Revolução Industrial, marco significativo do modo de produção capitalista,

tem raiz na outrora existência das relações feudais, constituídas por suas corporações de ofício e

grêmios de produção. Durante os séculos XVIII e XIX, a Europa assistiu à reimplantação de um

sistema de regulação estatal, e paulatinamente, a liberalização do trabalho industrial e o

desenvolvimento de relações trabalhistas assentadas na “autonomia da vontade”9 10, permanecendo,

contudo, controladas na esfera pública pelo direito público, em especial o penal (SILVA, 2008:

43-44).

Esse novo tipo de relação promoveu a despersonalização da relação laboral, na medida em que o

objeto do contrato deixou de ser a pessoa, passando a ser sua força de trabalho. Neste momento, o

processo de mercantilização da força de trabalho, como um bem colocado à venda no mercado livre,

atinge sua expressão jurídica. A modernização dos Estados e o desenvolvimento do

constitucionalismo liberal influenciaram o desenvolvimento da regulação laboral, passando o preço

do trabalho a ser determinado pelo mercado, transformando-se em mercadoria (SILVA, 2008: 44-45).

7 Tavares (2002), a partir de uma abordagem marxiana, define trabalho informal: “toda relação entre capital e trabalho na

qual a compra da força de trabalho é dissimulada por mecanismos, que descaracterizam a condição formal de

assalariamento, dando a impressão de uma relação de compra e venda de mercadorias consubstancia trabalho informal,

embora certas atividades desse conjunto heterogêneo divirjam no comportamento. Como as referências conhecidas para

regular o emprego estão perdendo sua pertinência, a tipologia formal/informal se torna insustentável, a não ser que se

tenha um conceito de formalidade, cuja base para ser trabalhador formal seja tão somente estar diretamente empregado

por meios de produção tipicamente capitalistas, embora submetido à mesma desproteção social que o trabalhador

informal” (2002: 52). 8 Os estudos de tipologia da precarização de Franco e Druck (2009) apontam como indicadores de precarização do

trabalho para a realidade brasileira: a vulnerabilidade das formas de inserção e desigualdades sociais, intensificação do

trabalho e terceirização, insegurança e saúde no trabalho, perda das identidades individual e coletiva, fragilização da

organização dos trabalhadores e condenação e descarte do Direito do Trabalho.

9 Pachukanis (1988) afirma que “toda relação jurídica é uma relação entre sujeitos. O sujeito é o átomo da teoria jurídica,

o seu elemento mais simples, que não se pode decompor” (1988: 68). Com esta inserção, explica porque o Direito, a partir

do conceito sujeito de direito, é elemento também estruturante do modo de produção capitalista.

10 “A constituição da forma sujeito de direito está, portanto, ligada ao surgimento de determinadas relações sociais de

produção no âmbito das quais a relação de troca de mercadorias se generaliza a tal ponto que passa a abarcar também a

força de trabalho humana. Para que as relações de produção capitalista se configurem, é necessária a existência, no

mercado, dessa mercadoria especial que permite a valorização do capital, a força de trabalho. Ora, a força de trabalho só

pode ser oferecida no mercado e, assim, penetrar na esfera da circulação, transfigurada em elemento jurídico, isto é, sob a

forma do direito, por meio das categorias jurídicas – sujeito de direito, contrato, etc. – enfim, sob a forma de uma

subjetividade jurídica” (NAVES, 2000: 68-69).

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O Direito do Trabalho não surgiu apenas a partir da Revolução Industrial, mas de um longo processo

histórico. A regulamentação do trabalho tal como se entende hoje, de proteção do empregado e

limitação do poder do empregador, tem relação com a ação dos trabalhadores, autônoma ou coletiva,

durante todo o século XIX, em um ambiente de concepção econômica liberal das forças livres de

mercado (SILVA, 2008: 46 e 48).

Já no século XX, datam do pós-Primeira Guerra mundial os movimentos em torno da criação de um

Direito Internacional do Trabalho, em parte, para responder às pressões empresariais nacionais que

argumentavam que os custos do trabalho afetavam sua competitividade e o comércio entre os países.

Após algumas tentativas infrutíferas, o Tratado de Versalhes europeu foi adotado, significando um

grande passo rumo à regulamentação do Direito do Trabalho, em especial com a criação da

Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, que impulsionou a regulação uniforme das

condições de trabalho no mundo (SILVA, 2008: 50).

Após a Segunda Guerra, o esfacelamento do território europeu e as necessidades de reconstrução do

continente foram determinantes para a criação de um Estado de Bem-Estar Social (Welfare State),

com base em uma rede de seguridade social e laboral. Neste sentido, a OIT reafirmou a proteção ao

trabalho, o direito das organizações dos trabalhadores aos ajustes coletivos e a busca do bem-estar

como direito fundamental (SILVA, 2008: 55).

No pós-guerra, o Estado foi obrigado a assumir novos papéis e construir novos poderes institucionais,

como o Direito do Trabalho, e, com a reconfiguração dos poderes estatais, o fordismo amadureceu

como regime de acumulação de capital. No âmbito do compromisso social fordista, a negociação

coletiva disciplinava a remuneração e duração do trabalho, deixando as questões organizativas de

produção a cargo da empresa que tinha liberdade quase completa de gestão (SILVA, 2008: 56 e 59).

A crise do Estado de Bem-Estar Social e o conservadorismo neoliberal abalaram as organizações de

trabalhadores (sindicatos) e a autonomia coletiva. Desde a crise do petróleo e do fordismo na década

de 1970, que o desemprego estrutural, a financeirização da economia, a globalização do capital, a

revolução tecnológica e a acumulação flexível dentre outros fatores desencadearam profundas

mudanças no mundo do trabalho. A regulamentação se fragiliza e os âmbitos de atuação são

contestados pelos defensores do neoliberalismo (SILVA, 2008: 59).

Esta panorâmica descrição geral da regulamentação do trabalho indica como a proteção social dos

trabalhadores é permeada de instabilidades, e como a correlação de força da relação capital-trabalho,

ao longo da processualidade histórica, determina avanços e retrocessos na luta por direitos, por

consequência, ampliação ou achatamento das garantias legais (e não necessariamente efetivas...) no

mundo do trabalho. Isto evidencia o quanto o Direito Capitalista do Trabalho11, principalmente nos

11 “O Direito Capitalista do Trabalho progressivamente vem deixando de ser utilizado como um dos principais

instrumentos de sedução do modo de produção para obter a aceitação da maneira de viver que propõe, eis que viver de

modo subordinado não se constitui na única possibilidade que se apresenta às populações dos países desenvolvidos e dos

países em desenvolvimento. O conteúdo deste ramo do Direito, que sempre se configurou como sendo mais protetivo da

ordem capitalista quanto menor a capacidade desestabilizadora dos movimentos populares e sindical, depende das lutas

sociais concretas e das relações estabelecidas entre as classes sociais fundamentais, materializando esta correlação

existente em cada sociedade. No Brasil, por força das precarizações jurisprudenciais e legislativas, havidas na virada do

século, o conteúdo do Direito Capitalista do Trabalho terminou por debilitar sua função de legitimação do modo de

produção e da maneira de existir a ele associada (...) Este ramo do Direito, em seu desenvolvimento histórico no Brasil,

experimentou diversas fases, sempre em decorrência das referidas correlações de força estabelecidas na sociedade. Nos

períodos em que as classes trabalhadoras conseguiram mais intensa mobilização, gradativamente, constatam-se alterações

na regulação estatal incidente sobre as relações de trabalho, com reconhecimento de direitos. Desta mesma forma, nos

períodos em que esta regulação estava à mercê da reação dos setores conservadores, a correlação de forças entre as classes

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cenários de crise econômica e sob a hegemonia neoliberal, progressivamente é utilizado como

ferramenta de garantia e legitimação do processo de acumulação, com a expansão da desproteção

social, em que o trabalho informal é apenas mais um sintoma.

2.3 Trabalho informal: a realidade brasileira em questão.

A teoria econômica neoliberal considera o trabalho mero fator de produção, “desprezando” o

trabalhador. Esta teoria se assenta na ideia de que os mercados se ajustam por si mesmos e seriam

eficientes nisso, pois o equilíbrio social ocorre independente das políticas de distribuição e riqueza,

sendo as ingerências externas, tais como os sindicatos, leis sobre salários mínimos e negociações

coletivas centralizadas, verdadeiros entraves à eficiência do mercado (SILVA, 2008: 59).

A partir da década de 1980, passamos a vivenciar períodos de grande instabilidade na economia

brasileira. Nesse período, houve uma contínua deterioração da qualidade dos produtos e a estagnação

da produtividade da maior parte do parque produtivo nacional. Uma estagnação que vigorou até a

primeira metade dos anos 1990. Nessa época, foi implantado o primeiro plano de estabilização

econômica, o Plano Cruzado (1986), e subsequentes planos econômicos, que colaboraram para que as

empresas, além de reduzirem seus investimentos, começassem a desrespeitar os direitos trabalhistas

estabelecidos, comprometendo sua competitividade (MALAGUTI, 2000: 34-35).

Hoje temos conhecimento de que, na década de 1980, boa parte da população brasileira vivia em

condições de miséria absoluta. Segundo dados oficiais e não oficiais, um terço dos brasileiros obtinha

seu sustento por meio de biscates, ou outros tipos de trabalho precário. De acordo com o Sistema

Nacional de Emprego (Sine), a consequência deste processo foi o aumento, neste período, do número

de pobres em 10 milhões. E isso não é tudo. Ao final dos anos 1980, ocorreu ainda uma das piores

mazelas do capitalismo, o desemprego em massa, inicialmente entre trabalhadores com menores

qualificações, e, em poucos anos, em boa parte da classe média, ou seja, indiscriminadamente

(MALAGUTI, 2000: 41-42).

“Finalmente” em 1994, foi implantado o Plano Real. A inflação foi controlada, foi retomado o

crescimento econômico e o parque produtivo nacional foi reestruturado. Um “sucesso”! No entanto,

as dificuldades dos anos anteriores não desapareceram. Cada vez mais se percebe que o modelo

econômico não permite brechas para que sejam implementadas políticas de emprego, melhores

salários, distribuição fundiária etc (MALAGUTI, 2000: 42-43).

Neste cenário de desprezo pela proteção social do trabalho, degradação do poder aquisitivo e da

qualidade de vida dos trabalhadores, marginalização da população, desmanche das organizações

sindicais, altos níveis de desemprego etc, multiplica-se o fenômeno da informalidade/atividades

não-fordistas. Nos últimos anos, milhares de famílias brasileiras foram privadas de rendimento e

obrigadas a se sujeitar a diversos modos de sobrevivência. Os que são expulsos do sistema formal de

trabalho são obrigados a entrar para a informalidade (MALAGUTI, 2000: 62-64).

Se inicialmente o trabalho informal oferece uma forma de “ganhar a vida”, vemos que persistem

alguns custos sociais desta ilusão. A remuneração, por exemplo, é menor do que as obtidas pelo

empregado formal, com carteira. Com relação às condições de trabalho, constata-se que a

informalidade não é uma fonte fértil de empreendedores, mas apenas um refúgio para aqueles que não

sociais fundamentais passou a ser mais favorável aos interesses dos empregadores, e a tutela estatal incidente sobre o

trabalho prestado em condições de subordinação restou subdimensionada (...)” (RAMOS FILHO, 2014: 157-158).

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têm opção. Esta é sua verdadeira face! Um mercado em que vigora a precariedade (MALAGUTI,

2000: 65-68).

Conforme ressalta Antunes (2007), se na década de 1980 era relativamente pequeno o número de

empresas de terceirização, posteriormente esse número cresceu consideravelmente, sobretudo para

atender à demanda por trabalhadores temporários, sem vínculo ou registro formalizado. O que se vê é

a crescente “informalização do trabalho, dos terceirizados, dos precarizados, subcontratados,

flexibilizados, trabalhadores em tempo parcial etc”. (2007: 16).

Se no passado, o contingente de trabalhadores informais era inexpressivo, em 2007, eles já

representavam mais de 50% da classe trabalhadora desprovida de direitos e sem carteira de trabalho12.

O aumento do desemprego, a acentuada precarização, o rebaixamento salarial e a perda constante de

direitos fazem parte da nova morfologia da classe trabalhadora. Em verdade, estamos vivendo a

erosão do trabalho contratado e regulamentado, que prevaleceu no século XX, e assistindo a sua

substituição por outras formas, tais como o chamado “empreendedorismo”, “cooperativismo”,

“trabalho voluntário”, “trabalho atípico”. (ANTUNES, 2007: 16-17).

É nesse quadro de precarização estrutural do trabalho que os capitais globais vêm exigindo o

desmonte da legislação trabalhista; e flexibilizar a legislação protetora do trabalhador significa

aumentar as formas de precarização e colaborar com a destruição dos direitos que foram arduamente

conquistados desde a Revolução Industrial, na Europa, e em especial no Brasil, a partir de 1930

(ANTUNES, 2007: 17).

Trata-se de uma destrutividade intensa na medida em que o capital desemprega cada vez mais

trabalho estável, substituindo-o por outros precarizados e em expansão no setor agrário, industrial, de

serviços e em suas múltiplas interconexões. O desemprego estrutural em escala transnacional é a

maior expressão da destrutividade que o mundo do trabalho vem sofrendo. Diante deste quadro, a

informalidade tornou-se um traço constitutivo e crescente da acumulação de capital dos nossos dias.

Entender seus modos de ser é importante para compreender as engrenagens que impulsionam o

mundo do trabalho em sua direção (ANTUNES, 2011: 407-408).

Dentre os modos de ser da informalidade, temos os contratos temporários, sem estabilidade, sem

registro em carteira, dentro ou fora das empresas, em atividades instáveis ou temporárias ou na

condição de desempregado. Dentre suas modalidades, temos os chamados trabalhadores informais

tradicionais, dentre os quais podemos citar costureiras, pedreiros, jardineiros, vendedores

ambulantes, camelôs, empregados domésticos, sapateiros, oficinas de reparos, carregadores,

carroceiros, trabalhadores de rua e serviços em geral, vendedores de produtos, digitadores,

salgadeiras, faxineiras e confecções de artesanato (ANTUNES, 2011: 408-9).

Essa gama de trabalhadores informais tradicionais, inseridos na divisão social do trabalho, contribui

para a circulação e consumo das mercadorias produzidas pelas empresas. Sua inserção é precária,

pois se caracteriza por uma renda muito baixa e sem acesso aos direitos sociais e trabalhistas, tais

como aposentadoria, FGTS, auxílio-doença dentre outros. Também não há horário fixo de trabalho, e

no serviço por conta própria ainda pode haver uso da força de trabalho de outros membros da família.

(ANTUNES, 2011: 409-10).

12 Em 2012, período em que o país ainda não vivenciava a crise econômica atual e possuía índices de emprego formal em

56% para pessoas acima de 16 anos, o contingente de mão de obra informal atingia 44,2 milhões de pessoas (22% da

população). Para a população feminina acima de 16 anos, o trabalho informal feminino atingia 45,2%; para o mesmo

raciocínio, o trabalho informal masculino atingia 43,2%. A média de estudos no trabalho informal era de 6,1 anos para

homens e 7,3 para mulheres (IBGE, 2012).

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Outra modalidade existente é a dos trabalhadores informais assalariados sem registro, tais como os

funcionários da indústria têxtil, de confecções e de calçados dentre outros, e os que trabalham em

domicílio, prestando serviços a grandes empresas. Por fim, podemos citar os trabalhadores informais

por conta própria (ou produtores simples de mercadorias), que contam com sua força de trabalho em

áreas que não atraem investimentos de vulto e também para atender a demanda por determinados bens

e serviços (ANTUNES, 2011: 410-11).

É importante ressaltar que estamos diante de uma fase de desconstrução do trabalho sem precedentes

na era moderna, que amplia os modos de ser da informalidade e da precarização. Neste movimento

“pendular”, estamos oscilando entre o trabalho cada vez mais reduzido, explorado e dotado de

direitos, e a crescente fluidade geradora do trabalho precário e informalizado (ANTUNES, 2011:

417).

Note-se que a desregulamentação das relações de trabalho, apesar de avançada, ainda é um processo

inconcluso no Brasil, aguardando as condições políticas necessárias à implementação do projeto

patronal, que inclui a extinção da CLT e, se possível, do Direito do Trabalho e suas conquistas

históricas. A meta que se pretende atingir é a “prevalência do contrato negociado sobre o legislado”,

ou seja, os trabalhadores passariam a negociar “livremente”, caso a caso, com os empregadores a

inclusão dos seus direitos, hoje estabelecidos em lei, nos seus contratos de trabalho (BORGES, 2007:

84).

Existem ainda outras implicações duradouras do processo de precarização do trabalho, qual seja, a

crescente parcela de trabalhadores sem proteção da previdência social em caso de doença/acidente

incapacitante e de famílias desprotegidas em caso de morte de seu mantenedor(a). Vale citar, ainda, o

aumento do contingente de trabalhadores que na velhice ou invalidez não terão os proventos da

aposentadoria. Assim, os processos em curso não só destroem a proteção social com base no trabalho

protegido, como também transformam aqueles que vivem do trabalho em idosos desprotegidos e

pauperizados. (BORGES, 2007: 89).

No Brasil, o trabalho informal tem sido identificado como a atividade laboral que é mais relacionada

à luta pela sobrevivência. Trata-se de uma parcela expressiva da população que se encontra excluída

da regulamentação trabalhista e proteção social. O país iniciou a década de 1980 com cerca de 1/3 do

total de ocupados submetidos à atividade informal. Mas, desde então, o desemprego vem crescendo e,

no mesmo ritmo, o trabalho informal. Em 20 anos, o Brasil gerou um contingente adicional de 13,1

milhões de trabalhadores não assalariados. No mesmo período, a informalidade cresceu no meio

urbano, absorvendo 15,7 milhões de novas ocupações informais. No ano de 2005, o segmento

informal urbano tinha 33,4 milhões de trabalhadores. Enquanto o número de trabalhadores informais

cresceu 88,5% (de 17,7 milhões em 1985, para 33,4 milhões em 2005), o contingente de

trabalhadores empregados cresceu 62,2%. Estes são dados, no mínimo, preocupantes

(POCHMANN, 2012).

Assim, contemporaneamente, tanto o trabalhador formal quanto o informal vivem momentos de

tensão. Se, por um lado, os trabalhadores formais sofrem com os baixos salários, a flexibilização dos

contratos, a terceirização e/ou a constante ameaça de perda dos direitos conquistados ao longo de

décadas; os trabalhadores que vivem na informalidade, por outro, sofrem por não possuírem

quaisquer direitos, seja os “custeados” pelas empresas, tais como assistência médica e odontológica

privada, vale transporte, vale refeição, vale alimentação etc., seja os “custeados” pelo Estado, tais

como o seguro-desemprego e prestações previdenciárias (benefícios: auxílios, salários,

aposentadorias e pensões; e serviços: reabilitação profissional e serviço social).

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O atual cenário de 2015 mostra quão concreto é o quadro de instabilidade e de nova ofensiva aos

direitos sociais, visto as propostas e alterações normativas em curso, como as alterações dos critérios

de acesso ao seguro-desemprego, a tramitação do projeto de lei da terceirização e o Programa de

Proteção ao Emprego (PPE) do governo federal (que tem como uma de suas propostas a redução da

jornada de trabalho com redução de salário, redução e isenção de impostos para o empresariado).

Enfim, a intensificação do processo de precarização do trabalho promovida pelo Estado dar novos

passos; no mundo do trabalho, o trabalho informal cada vez mais é consolidado como atividade de

sobrevivência; e o capital aproveita a crise para se revigorar.

3 Resultados alcançados

As relações de trabalho contemporâneas têm sido constantemente objeto de estudo, principalmente

devido às transformações estruturais, pelas quais vêm passando nos últimos tempos. No Brasil, após o

processo de reorganização econômica ocorrida a partir da década de 1980, vivenciou-se uma

profunda reestruturação produtiva, caracterizada, entre outros fatores, pela precarização das relações

e condições de trabalho, flexibilização das leis trabalhistas e aumento da informalidade.

O desemprego e o trabalho precário tornaram-se comuns, restando o mercado informal como

alternativa para milhões de trabalhadores, em geral, com pouca escolaridade e, portanto, sem grandes

perspectivas de uma inserção social mais substantiva. Sobretudo nas regiões metropolitanas do país, o

número de trabalhadores informais aumentou rapidamente. Após a estabilização da economia,

esperava-se que os números da informalidade retroagissem, porém, ao longo dos últimos 10 anos,

esse número diminuiu modestamente, de forma que, em 2012, ainda somava mais de 40 milhões13.

Dada a sua importância na captação da mão de obra “excedente” do mercado formal de trabalho, o

trabalho informal tem sido objeto de constante preocupação entre os estudiosos, principalmente por

deixar inúmeros trabalhadores à margem das leis trabalhistas, da proteção da previdência social e

contribuir de forma significativa para o aumento da exclusão social14.

4 Considerações finais

Por meio de pesquisa teórica e de indicadores sociais, conclui-se que, desde as décadas de 1980 e

1990, o país vem sofrendo com os resultados das mudanças econômicas capitalistas, que, além de

contribuírem para o aumento do desemprego, corroboram para o crescimento do número de

trabalhadores informais, que se sujeitam às precárias condições de trabalho e a ausência de direitos

sociais.

A “opção” ao trabalho informal está dada no modo de produção vigente: para o trabalho, a

necessidade de sobrevivência e de buscar, minimamente, sua reprodução social; para o capital, a

exploração funcional dos trabalhadores informais para o processo de acumulação capitalista, ao gerar

produtos e serviços que contenham o máximo possível de trabalho não pago; para o Estado, em

última instância e principalmente nos momentos de crise, a função de garantia do processo de

reprodução do capital.

5 Referências

13 Para maior detalhamento, ver Saraiva; Martins (2015).

14 Para fins de complementação/maior ampliação, sugere-se o texto de Santos (2008).

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