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Livro de Referência: “Modern Macroeconomics”, Snowdon & Vane (2005) 1 Tradução Livre: Milhomem, E; Exel, G. & Geminiano, B. Curso de Macroeconomia II UFRJ Profª Maria Isabel Busato 2 6. A Escola de Ciclo Reais de Negócios 6.1 Introdução: O Fim da Macroeconomia Novo Clássica - Mark I A dramática declaração de Lawrence Summers sobre a teoria dos ciclos reais de negócio não é exagero. A razão tem a ver com as impressionantes implicações dos desenvolvimentos na teoria dos ciclos de negócios associados com a escola de ciclos reais de negócios que ocorreu inicialmente no início dos anos 80. Já vimos nos dois capítulos anteriores como a influência tanto do monetarismo quanto da escola novo clássica colocou em questão a conveniência e a eficácia das políticas discricioárias ativas de estabilização. Tais políticas foram fundamentadas na crença de que os choques agregados de demanda eram a principal fonte de instabilidade. Mas ao invés de advogar o uso persistente de políticas de demanda agregada expansionistas em uma tentativa de atingir alguma meta de pleno emprego, tanto Friedman quanto Lucas defenderam, no máximo, o uso de políticas do lado da oferta para atingir metas de emprego (Friedman, 1968a; Lucas 1978a, 1990a). Durante as décadas de 1960 e 1970, tanto Friedman quanto Lucas, em sua explicação dos ciclos econômicos, enfatizaram os choques monetários como o principal mecanismo de impulso que impulsionava o ciclo econômico. Os teóricos dos ciclos reais de negócios foram muito mais longe em suas análises do lado da oferta. No modelo desenvolvido no início dos anos 80 por Kydland e Prescott (1982), é fornecida uma explicação para o ciclo de negócios puramente do lado da oferta. Este documento marcou o lançamento de uma versão "mark II" da macroeconomia novo-clássica. De fato, a pesquisa de Kydland e Prescott representou um sério desafio para todas as escolas anteriores dos ciclos de negócios que se concentravam nos choques da demanda agregada, em particular aquelas que enfatizavam os choques monetários. Particularmente chocante para a sabedoria convencional é ideia ousada promovida pelos teóricos dos ciclos reais de negócios de que cada estágio do ciclo de negócios (pico, recessão, vale e recuperação) é um equilíbrio! (1998), "para o senso comum, os booms econômicos são bons e os baixos são ruins". Essa visão de "senso comum" foi capturada no período de síntese neoclássica com a suposição de que "pleno emprego" representava equilíbrio e que recessões eram períodos de desequilíbrio que reduzem o bem-estar e implicavam uma falha de mercado e a necessidade de uma política de estabilização. Teóricos dos ciclos reais de negócios rejeitam essa visão de falha de mercado. Enquanto as recessões não são desejadas pelos agentes econômicos, elas representam os resultado agregado de respostas a mudanças inevitáveis nas restrições que os agentes enfrentam. Dadas essas restrições, os agentes reagem otimamente, resultando em flutuações agregadas que são eficientes. Não há, portanto, necessidade de os economistas recorrerem a análises de desequilíbrio, falhas de coordenação, rigidez de preços, choques monetários 1 Nota de agradecimento: Agradeço aos alunos Eduarda Milhomem, Guilherme Excel e Bernardo Geminiano que realizaram voluntariamente a tradução do livro texto que serve de apoio para o curso de Macroeconomia II na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2 Onde ndr, leia-se nota do revisor.

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Livro de Referência: “Modern Macroeconomics”, Snowdon & Vane (2005) 1

Tradução Livre: Milhomem, E; Exel, G. & Geminiano, B.

Curso de Macroeconomia II – UFRJ – Profª Maria Isabel Busato2

6. A Escola de Ciclo Reais de Negócios

6.1 Introdução: O Fim da Macroeconomia Novo Clássica - Mark I

A dramática declaração de Lawrence Summers sobre a teoria dos ciclos reais de

negócio não é exagero. A razão tem a ver com as impressionantes implicações dos

desenvolvimentos na teoria dos ciclos de negócios associados com a escola de ciclos reais

de negócios que ocorreu inicialmente no início dos anos 80. Já vimos nos dois capítulos

anteriores como a influência tanto do monetarismo quanto da escola novo clássica

colocou em questão a conveniência e a eficácia das políticas discricioárias ativas de

estabilização. Tais políticas foram fundamentadas na crença de que os choques agregados

de demanda eram a principal fonte de instabilidade. Mas ao invés de advogar o uso

persistente de políticas de demanda agregada expansionistas em uma tentativa de atingir

alguma meta de pleno emprego, tanto Friedman quanto Lucas defenderam, no máximo,

o uso de políticas do lado da oferta para atingir metas de emprego (Friedman, 1968a;

Lucas 1978a, 1990a). Durante as décadas de 1960 e 1970, tanto Friedman quanto Lucas,

em sua explicação dos ciclos econômicos, enfatizaram os choques monetários como o

principal mecanismo de impulso que impulsionava o ciclo econômico. Os teóricos dos

ciclos reais de negócios foram muito mais longe em suas análises do lado da oferta. No

modelo desenvolvido no início dos anos 80 por Kydland e Prescott (1982), é fornecida

uma explicação para o ciclo de negócios puramente do lado da oferta. Este documento

marcou o lançamento de uma versão "mark II" da macroeconomia novo-clássica. De fato,

a pesquisa de Kydland e Prescott representou um sério desafio para todas as escolas

anteriores dos ciclos de negócios que se concentravam nos choques da demanda agregada,

em particular aquelas que enfatizavam os choques monetários.

Particularmente chocante para a sabedoria convencional é ideia ousada

promovida pelos teóricos dos ciclos reais de negócios de que cada estágio do ciclo de

negócios (pico, recessão, vale e recuperação) é um equilíbrio! (1998), "para o senso

comum, os booms econômicos são bons e os baixos são ruins". Essa visão de "senso

comum" foi capturada no período de síntese neoclássica com a suposição de que "pleno

emprego" representava equilíbrio e que recessões eram períodos de desequilíbrio que

reduzem o bem-estar e implicavam uma falha de mercado e a necessidade de uma política

de estabilização. Teóricos dos ciclos reais de negócios rejeitam essa visão de falha de

mercado. Enquanto as recessões não são desejadas pelos agentes econômicos, elas

representam os resultado agregado de respostas a mudanças inevitáveis nas restrições que

os agentes enfrentam.

Dadas essas restrições, os agentes reagem otimamente, resultando em flutuações

agregadas que são eficientes. Não há, portanto, necessidade de os economistas recorrerem

a análises de desequilíbrio, falhas de coordenação, rigidez de preços, choques monetários

1 Nota de agradecimento: Agradeço aos alunos Eduarda Milhomem, Guilherme Excel e Bernardo Geminiano que realizaram voluntariamente a tradução do livro texto que serve de apoio para o curso de Macroeconomia II na Universidade Federal do Rio de Janeiro. 2 Onde ndr, leia-se nota do revisor.

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e instabilidades financeiras e noções como incerteza fundamental para explicar a

instabilidade agregada.

Em vez disso, pode-se fazer uso do modelo de crescimento neoclássico básico para

entender o ciclo econômico, com ênfase para a aleatoriedade na taxa de progresso

tecnológico (o modelo de crescimento neoclássico é discutido no Capítulo 11). Nesse

cenário, o ciclo de negócios surge como o resultado agregado da maximização das

decisões tomadas por todos os agentes que povoam uma economia.

6.4 Ciclo versus Random walks

Durante a década de 1970, com o renascimento do interesse na pesquisa de ciclo

de negócios, economistas estiveram mais envolvidos com as propriedades estatísticas das

séries temporais econômicas. Um dos principais problemas naqueles trabalhos era o de

separar a tendência do ciclo.

A abordagem convencional tem alegado que a economia evolui ao longo de um

caminho que reflete uma tendência subjacente de crescimento descrita pelo modelo

neoclássico de Solow (Solow, 1956). Essa abordagem assume que o componente de

tendência de longo prazo do PNB é a suave, com flutuações no curto prazo sobre a

tendência sendo determinada principalmente pelos choques de demanda. Essa sabedoria

convencional foi aceita pelos economistas keynesianos, monetaristas e novos-clássicos

até o início dos anos 80. Os três grupos interpretam os desvios de produção da tendência

como temporária, e a causa primária está nos choques de demanda. Se os ciclos de

negócios são eventos temporários, então as recessões não criam efeitos adversos de longo

prazo sobre o PIB. No entanto, enquanto os keynesianos sentem que tais desvios podem

ser graves e prolongados e, portanto, justificam a necessidade de ações corretivas,

monetaristas, e especialmente os economistas novo-clássicos, rejeitam a necessidade de

uma política de estabilização ativista, tendo mais fé no poder de equilíbrio das forças do

próprio mercado e da política monetária baseada em regras.

Em 1982, Nelson e Plosser publicaram um artigo importante que desafiava essa

sabedoria convencional. Sua pesquisa baseada em séries temporais macroeconômicas os

levou a concluir que “modelos macroeconômicos que focalizam perturbações monetárias

como fonte de flutuações puramente transitórias podem nunca ser bem sucedidos em

explicar uma grande fração da variação de produção e que a variação estocástica devida

a fatores reais é um elemento essencial de qualquer modelo de flutuações

macroeconômicas”. Se fatores reais estiverem por trás de flutuações agregadas, os ciclos

de negócios não devem ser vistos como eventos temporários. As recessões podem ter

efeitos permanentes no PIB. A muito discutida "desaceleração da produtividade" após

1973 representa um desses exemplos (ver Fischer et al., 1988). Abel e Bernanke (2001)

observam que o PIB nos EUA permaneceu abaixo dos níveis consistentes com a tendência

de 1947-73 ao longo dos anos 80 e 90.

Em uma análise da economia do Reino Unido no período entre-guerras,

Solomou (1996) descobre que o choque da Primeira Guerra Mundial e outros choques no

período imediato do pós-guerra tiveram um efeito permanente na trajetória do produto de

equilíbrio. Nelson e Plosser chegaram a uma importante conclusão porque, em sua

pesquisa sobre dados dos EUA, não conseguiram rejeitar a hipótese de que o PNB segue

um passeio aleatório. Como esta conclusão difere da abordagem convencional? A visão

de que as flutuações cíclicas reversíveis podem explicar a maioria dos movimentos de

curto prazo do PNB real pode ser representada pela equação (6.1):

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𝑌𝑡 = 𝑔𝑡 + 𝑏𝑌𝑡−1 + 𝑧𝑡 (6.1)

onde t representa o tempo, g e b são constantes e z representa choques aleatórios que têm

média zero.

Na equação (6.1), gt representa a taxa de crescimento média subjacente do PIB,

que descreve a tendência determinística. Suponha que haja algum choque no 𝑧𝑡que faz

com que o produto suba acima da tendência no tempo t. Assumimos que o choque dura

apenas um período. Como Yt depende de Yt-1, o choque será transmitido no tempo,

gerando correlação serial. Mas desde que na abordagem tradicional 0 <b <1, o impacto

do choque na produção acabará por desaparecer e a produção retornará à sua tendência

de crescimento. Nesse caso, o produto é entendido como "reversão de tendência" ou

"tendência-estacionária" (ver Blanchard e Fischer, 1989).

O impacto de um choque na trajetória da renda no caso tendência estacionária é

ilustrado na Figura 6.1, onde assumimos que um choque monetário expansionista ocorre

no tempo t1. Observe que Y eventualmente reverte para o seu caminho de tendência e,

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portanto, este caso é consistente com a hipótese da taxa natural, que afirma que os desvios

do produto do seu nível natural são temporários e causados por choques monetários

imprevistos.

Em contraste com o acima exposto, Nelson e Plosser argumentam que a maioria

das mudanças que observamos no PNB são permanentes, na medida em que não há

tendência de a produção voltar à sua trajetória anterior após um choque. Neste caso, o

PIB evoluirá como um processo estatístico conhecido como passeio aleatório. A equação

(6.2) mostra um passeio aleatório com desvio para o PNB:

𝑌𝑡 = 𝑔𝑡 + 𝑌𝑡−1 + 𝑧𝑡 (6.2)

Na equação (6.2), gt reflete o "desvio" da produção e, com Yt também sendo

dependente de Yt-1, qualquer choque em zt afetará a produção permanentemente.

Suponha que um choque aumente o nível de produto no tempo t1 na Figura 6.2. Como a

produção no próximo período é determinada pela produção no período t1, o aumento da

produção persiste em todos os períodos futuros. No caso de um passeio aleatório com

desvio, diz-se que o produto tem 'raiz unitária'; isto é, o coeficiente no termo do produto

defasado na equação (6.2) é igual à unidade, b = 1. A identificação de raízes unitárias é

assumida como uma manifestação de choques para a função de produção.

Essas descobertas de Nelson e Plosser têm implicações radicais para a teoria

dos ciclos econômicos. Se choques no crescimento da produtividade devido à mudança

tecnológica são frequentes e aleatórios, então a trajetória do produto segue um caminho

aleatório e exibirá características que se assemelham a um ciclo de negócios. Neste caso,

no entanto, as flutuações observadas no PIB são flutuações na taxa natural (tendência) do

produto, e não desvios da produção de uma tendência determinística suave. O que parece

flutuar em torno de uma tendência suave são, na verdade, flutuações na própria taxa

natural do produto induzida por uma série de choques permanentes, cada choque de

produtividade permanente determinando uma nova trajetória de crescimento. Enquanto,

seguindo o trabalho seminal de Solow, os economistas tradicionalmente separaram a

análise do crescimento da análise das flutuações, o trabalho de Nelson e Plosser sugere

que as forças econômicas que determinam a tendência não são diferentes daquelas que

causam as flutuações. Como mudanças permanentes no PIB não podem resultar de

choques monetários em um mundo novo-clássico por causa da proposição de neutralidade

da moeda, as principais forças que causam a instabilidade devem ser choques reais.

Nelson e Plosser interpretam suas descobertas como limitantes da importância das teorias

monetárias do ciclo de negócios e alegam que os distúrbios reais provavelmente são uma

fonte muito mais importante para explicar as flutuações na produção. Se houver

interações importantes entre o processo de crescimento e os ciclos de negócios, a prática

convencional de separar a teoria do crescimento da análise das flutuações é ilegítima.

Teóricos dos ciclos reais abandonam, portando, a distinção entre tendência e cicloe

buscam integrar a teoria do crescimento e as flutuações (ver King et al., 1988a, 1988b;

Plosser, 1989).

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6.7 A Teoria do Ciclo Real de Negócios

O moderno programa de pesquisa Novo-Clássico3 começa a partir da posição

que de "crescimento e flutuações não são fenômenos distintos a serem estudados com

dados separados e diferentes ferramentas analíticas" (Cooley, 1995). O programa de

pesquisa REBCT foi iniciado por Kydland e Prescott (1982), que na verdade assumiram

o desafio proposto por Lucas (1980a) para construir uma economia de artificial capaz de

imitar as principais características das economias reais. A economia artificial consiste em

atentes otimizadores que atuam em um ambiente perfeitamente competitivo e sem

fricções, sujeito a repetidos choques na produtividade. Embora a segunda fase da

macroeconomia novo clássica tenha afastado a ênfase das explicações monetárias do ciclo

de negócios, os modelos de equilíbrio mais recentemente desenvolvidos mantiveram e

refinaram os outros novos blocos de construção clássicos.

Seguindo Frisch (1933) e Lucas (1975, 1977), os teóricos dos ciclos econômicos

reais distinguem entre os mecanismos de impulso e de propagação. Um mecanismo de

impulso é o choque inicial que faz com que uma variável se desvie do seu valor de estado

estacionário. Um mecanismo de propagação consiste naquelas forças que levam os efeitos

do choque ao longo do tempo e fazem com que o desvio do estado estacionário persista.

A marca mais recente de novas teorias clássica de equilíbrio tem as seguintes

características gerais (Stadler, 1994):

1. REBCT utiliza uma estrutura de agentes representativos onde os

agentes/famílias/firmas visam maximizar sua utilidade ou lucros, sujeito às

restrições de recursos.

2. Agentes formam expectativas racionalmente e não sofrem assimetrias

informacionais. Embora os preços esperados sejam iguais aos preços reais, os

agentes ainda podem enfrentar um problema de extração de sinal ao decidir se

um determinado choque de produtividade é temporário ou permanente.

3. A flexibilidade de preços garante o contínuo equilíbrio nos diversos mercados,

de modo que o equilíbrio sempre prevaleça. Não há atritos nem custos de

transação.

4. Flutuações na produção e no emprego agregados são impulsionadas por grandes

mudanças aleatórias na tecnologia de produção disponível. Choques de

tecnologia exógenos atuam como mecanismo de impulso nesses modelos.

5. Uma variedade de mecanismos de propagação leva adiante o impacto do

impulso inicial. Estes incluem o efeito de suavização de consumo, atrasos no

processo de investimento ("tempo para construir") e substituição

intertemporal do trabalho.

6. Flutuações no emprego refletem mudanças voluntárias no número de horas que

as pessoas escolhem trabalhar. Trabalho e lazer são considerados altamente

substituíveis ao longo do tempo.

7. A política monetária é irrelevante, não tendo influência sobre variáveis reais, ou

seja, a moeda é neutra.

8. A distinção entre o curto prazo e o longo prazo na análise das flutuações e

tendências econômicas é abandonada.

3 N.d.r: atenção para o fato de que os teóricos da Teoria dos Ciclos Reais de Negócios são, em grande parte, dissidentes da escola Novo-Clássica. Por esse motivo, o autor eventualmente se refere a esses como moderna teoria novo-clássica ou novos clássicos ‘Mark II’.

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Pode ser visto do exposto acima que as principais mudanças da MEBCT

(modelo de surpresa monetária de Lucas) são com relação a: (i) o fator de impulso

dominante, com choques tecnológicos substituindo choques monetários; (ii) o abandono

da ênfase dada à informação imperfeita em relação ao nível geral de preços que

desempenhou um papel tão crucial nos modelos anteriores de percepção equivocada

monetária inspirados por Lucas; e (iii) a quebra da dicotomia de curto/longo prazo na

análise macroeconômica, integrando a teoria do crescimento à teoria das flutuações.

A falta de evidências econométricas claras sobre o papel causal da moeda nas

flutuações econômicas foi geralmente interpretada como um argumento forte para mudar

a direção da pesquisa para modelos em que as forças reais desempenham um papel

crucial. Como já vimos, esse caso foi reforçado pelos achados de Nelson e Plosser (1982)

de que a maioria das séries temporais macroeconômicas é melhor descrita como um

caminho aleatória, em vez de flutuações ou desvios de tendências deterministas. Os

teóricos dos ciclos reais também afirmam que suas teorias fornecem uma explicação

melhor dos "fatos estilizados" que caracterizam as flutuações agregadas. De fato, eles

desafiaram muito da sabedoria convencional em relação a quais são os fatos estilizados

(ver seção 6.14 abaixo).

6.8 A Estrutura de um Modelo de Ciclos Reais de Negócios No modelo típico de ciclos reais de negócios, a produção agregada de um único

bem, que pode ser usado para fins de consumo ou investimento, acontece de acordo com

uma função de produção neoclássica com retornos constantes de escala dada pela equação

(6.3):

Yt = At F(Kt, Lt) (6.3)

Onde Kt é capital, Lt é trabalho, e At representa um fator de deslocamento de produtividade

estocástico (choques na tecnologia ou na produtividade total dos fatores = TFP). A

evolução do parâmetro tecnologia, At, é aleatória e assume a forma mostrada na equação

(6.4):

At+1 =ρAt + εt+1, onde 0 < ρ <1, (6.4)

Aqui ρ é grande, mas menor que 1, e ε é um distúrbio aleatório à tecnologia. A

equação (6.4) nos diz que o nível de tecnologia em um período qualquer depende do nível

prevalecente no período anterior mais uma alteração aleatória (Kydland & Prescott,

1996). Em modelos de ciclos reais de negócios costuma-se assumir que a economia típica

é povoada por indivíduos idênticos. Isso permite que o comportamento do grupo seja

explicado pelo comportamento de um agente representativo (Plosser, 1989; Hartley,

1997). A função de utilidade do agente representativo assume a forma geral dada por

(6.5):

Ut = f (Ct,Let), onde f ‘(Ct ) > 0, e f ′(Let ) > 0 (6.5)

Aqui, Ct é unidades de consume e Let horas de lazer para nosso agente representativo.

Assume-se que a função objetivo do agente representativo (Robinson Crusoé) é

maximizar a soma descontada esperada de sua utilidade atual e futura ao longo de um

horizonte de tempo infinito. Este problema de maximização é dado pela equação (6.6):

(6.6)

onde Ct é o nível de consumo do agente representativo, Lt é horas de trabalho, 1–Lt é horas

de lazer consumidas, Et· é o operador de expectativas matemáticas, Ωt é o conjunto de

informações no qual as expectativas são baseadas e β o fator de desconto do agente

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representativo. A equação (6.6) fornece uma especificação da disposição de um agente

representativo em substituir consumo por lazer. Assim, o problema de escolha para o

agente representativo é como maximizar sua utilidade vitalícia (infinita) sujeita às

restrições de recursos mostradas nas equações (6.7) e (6.8):

Ct + It ≤ At F(Kt, Lt) (6.7)

Lt + Let ≤ 1 (6.8)

A equação (6.7) indica que a quantidade total de consumo (Ct) mais investimento

(It) não pode exceder a produção (Yt), e a equação (6.8) limita o número total de horas

disponíveis a um máximo de 14. A evolução do estoque de capital depende do

investimento atual (=poupança) e da taxa de depreciação, δ, conforme indicado na

equação (6.9):

Kt+1 = (1−δ)Kt + It (6.9)

Neste cenário, uma perturbação no fator de mudança de produtividade At (choque

tecnológico) resultará em uma resposta dinâmica do agente representativo maximizador

de utilidade, de tal forma que observaremos variações na produção, horas trabalhadas,

consumo e investimento ao longo de muitos períodos.

Para ilustrar como um ciclo de negócios pode ocorrer em um mundo sem moeda

ou instituições financeiras, vamos considerar o caso extremo de Robinson Crusoé em uma

ilha deserta. Suponha que um choque exógeno ocorra (uma mudança em At na equação

6.3), elevando a produtividade de Robinson Crusoé. Neste exemplo em particular,

podemos pensar em termos de uma melhoria atípica no clima em comparação com o que

Crusoé estava acostumado em anos anteriores. Com o mesmo número de horas

trabalhadas, Crusoé pode agora produzir muito mais, devido ao clima mais favorável.

Como Crusoé está preocupado com o consumo tanto no futuro quanto no presente (ver

equação 6.6), é provável que ele escolha reduzir o lazer atual e trabalhar mais horas no

período atual; isto é, Crusoé realizará uma substituição de trabalho intertemporal.

O incentivo para economizar e trabalhar por mais horas será especialmente forte

se Crusoé acreditar que o choque (‘clima favorável’) provavelmente será de curta duração.

Como parte do aumento da produção é economizado e investido, de acordo com a equação

(6.9), o estoque de capital será maior no próximo período e em todos os períodos futuros.

Isso significa que o impacto de um choque na produção, mesmo que temporário, é levado

adiante no futuro. Além disso, a resposta do agente representativo ao choque econômico

é ótima, de modo que a economia de Crusoé exibe eficiência de Pareto dinâmica. Quando

o tempo volta ao normal no ano seguinte, Crusoé volta ao seu padrão normal de trabalho

e a produção cai, embora agora seja maior que antes do choque. Lembre-se, Crusoé agora

tem um estoque de capital mais alto devido à acumulação que ocorreu durante o ano

anterior. Como argumenta Plosser (1989), os resultados que observamos em resposta a

um choque são os escolhidos pelo agente representativo. Portanto, o planejador social não

deve, de forma alguma, tentar impor um resultado diferente por meio de políticas

intervencionistas. Note que, ao longo desse exemplo hipotético, observamos uma

flutuação da produção (um ciclo de negócios) na ilha de Crusoé, induzida inteiramente

por um choque do lado da oferta e pela resposta ótima de Crusoé a esse choque. Em

momento nenhum moeda ou variáveis financeiras tiveram algum papel.

Na história de Crusoé, notamos como nosso agente representativo se envolvia na

substituição intertemporal do trabalho quando o preço do lazer aumentava (em termos de

perda de produto potencial corrente) devido ao clima mais favorável. De acordo com os

4 NDR: Normalizado em 1 ou 100% das horas disponíveis além da quantidade necessário para o descanso.

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teóricos dos ciclos reais de negócios, a grande resposta da oferta de mão de obra a

pequenas mudanças no salário real, resultante da substituição intertemporal do trabalho,

atua como um poderoso mecanismo de propagação. De acordo com essa hipótese,

introduzida por Lucas e Rapping (1969), as famílias mudam sua oferta de trabalho ao

longo do tempo, estando mais dispostas a trabalhar quando os salários reais estão

temporariamente altos e trabalhando menos quando os salários reais estão

temporariamente baixos. Por que isso acontece?

Uma vez que a oferta agregada de trabalho depende das decisões de oferta de

trabalho dos indivíduos, precisamos considerar os vários fatores que influenciam a

quantidade de trabalho que os indivíduos escolhem ofertar. Os benefícios do emprego

presente se relacionam primariamente (mas não exclusivamente) à renda auferida, que

permite ao trabalhador individual consumir bens e serviços. Para obter renda, os

trabalhadores precisarão dedicar menos tempo ao lazer, um termo usado para encapsular

todas as atividades que não geram renda. A função de utilidade para o trabalhador

representativo indica que ambos consumo e lazer geram utilidade. Mas, ao tomar suas

decisões sobre a oferta de mão de obra, os trabalhadores considerarão o futuro assim como

o consumo atual e o lazer. Ao levar em conta o futuro ao decidir quanto trabalho ofertar

no período atual, os trabalhadores precisarão considerar o quanto as ofertas presentes de

salário real estão acima ou abaixo do salário norma. O efeito de substituição de um maior

salário real tenderá a aumentar a quantidade de mão de obra ofertada. No entanto, como

os salários reais mais altos também fazem os trabalhadores se sentirem mais ricos, isso

tenderá a suprimir a oferta de trabalho (efeito riqueza). Esse efeito de riqueza ou renda

funciona na direção oposta ao efeito de substituição. O impacto de um aumento no salário

real presente sobre a quantidade de mão de obra ofertada claramente dependerá de qual

dos efeitos acima mencionados predomina. Os teóricos de ciclos reais de negócios

distinguem entre mudanças permanentes e temporárias no salário real, a fim de analisar

como indivíduos racionais maximizadores respondem, ao longo do tempo, a mudanças

em suas circunstâncias econômicas provocadas por choques tecnológicos. A hipótese da

substituição intertemporal do trabalho sugere duas coisas. Primeiro, se um choque

tecnológico for transitório5, de modo que o aumento no salário real acima do normal seja

temporário, os trabalhadores “aproveitam enquanto podem” e substituem trabalho por

lazer. Menos trabalho será ofertado no futuro quando se espera que o salário real seja

menor e, portanto, a decisão de fornecer mais mão de obra agora também é uma decisão

de trocar lazer agora por lazer no futuro. Portanto, a teoria dos ciclos reais de negócios

prevê uma grande resposta da oferta a partir de mudanças temporárias no salário real. Os

choques tecnológicos permanentes, ao elevar o salário real futuro, induzem efeitos riqueza

que tendem a reduzir a oferta atual de mão de obra.

Segundo, alguns teóricos enfatizaram a importância das taxas de juros reais sobre

a oferta de trabalho em modelos de preços flexíveis (ver Barro, 1981, 1993). Um aumento

na taxa real de juros incentiva as famílias a ofertar mais mão de obra no período atual,

uma vez que o valor da renda obtida com o trabalho de hoje em relação ao de amanhã

aumentou. Esse efeito apareceria como uma mudança da curva de oferta de trabalho para

a direita.

Podemos, portanto, expressar a forma geral da função de oferta de mão de obra

no modelo de ciclos reais de negócios como a equação (6.10), em que r = taxa de juros

real:

SL = SL (W/P, r) (6.10)

5 Ndr: lembrem-se que aqui também há o ‘problema de extração de sinal’ presente no modelo de Lucas e não é fácil distinguir efeitos permanentes dos transitórios, de modo que em geral teóricos dos RBC sugerem que a oferta de mão de obra é bastante elástica às variações nos salários reais.

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O preço relativo intertemporal (PIR) é dado por:

IRP = (1+r)(W/P)1 / (W/P)2 (6.11)

de acordo com (6.11), quaisquer choques na economia que levem a taxa de juros real a

subir ou o salário real presente (W/P)1 a ficar temporariamente alto em relação ao salário

real futuro (W/P)2, aumentarão a oferta de mão de obra e, consequentemente, o emprego.

6.9 Choques Tecnológicos Embora algumas versões da teoria dos ciclos reais admitam que choques reais de

demanda, como mudanças nas preferências ou gastos governamentais, atuem como

mecanismo de impulso, esses modelos são mais tipicamente impulsionados por choques

exógenos de produtividade. Essas flutuações estocásticas na produtividade dos fatores são

o resultado de grandes variações aleatórias na taxa de mudança tecnológica. O modelo de

crescimento neoclássico de Solow postula que o crescimento da produção por trabalhador

durante períodos prolongados depende do progresso tecnológico que se supõe que ocorra

suavemente ao longo do tempo. Teóricos de ciclos reais de negócios rejeitam essa visão

e enfatizam a natureza errática da mudança tecnológica que eles consideram a principal

causa de alterações no produto agregado.

Para ver como o produto agregado e o emprego variam em um modelo real de

ciclo de negócios, considere a Figura 6.3. O painel (a) da Figura 6.3 ilustra o impacto de

um choque tecnológico positivo, que desloca a função de produção de Y para Y*. O

impacto dessa mudança no produto marginal do trabalho e, portanto, na demanda por

trabalho é mostrado no painel (b). Ao aumentar a demanda por mão de obra, um choque

de produtividade aumenta tanto o emprego quanto a produção. O quanto o emprego se

expande dependerá da elasticidade da oferta de trabalho em relação ao salário real

presente. Os "fatos estilizados" do ciclo econômico indicam que pequenas variações pró-

cíclicas no salário real estão associadas a grandes variações pró-cíclicas do emprego.

Assim, um requisito crucial para que a teoria dos ciclos reais de negócios seja consistente

com esses fatos é que a oferta de mão de obra seja altamente elástica em relação ao salário

real, conforme indicado no painel (b) por SL2. Nesse caso, um choque tecnológico fará

com que o produto se expanda de Y0 para Y2 com o salário real aumentando de (W/P)a

para (W/P)c, e o emprego aumentando de L0 para L2. Se a oferta de mão de obra for

relativamente inelástica, como mostrado por SL1, grandes variações do salário real e

pequenas mudanças no emprego resultariam de um choque tecnológico. No entanto, isso

não se encaixa nos fatos estilizados.

É evidente que, para que as teorias de ciclos reais de negócios expliquem as

variações substanciais no emprego observadas durante as flutuações agregadas, deve

haver uma substituição intertemporal significativa do lazer. Uma vez que nesses modelos

se assume que os preços e os salários são completamente flexíveis, o mercado de trabalho

está sempre em equilíbrio. Em tal matriz, os trabalhadores escolhem desemprego ou

emprego de acordo com suas preferências e oportunidades disponíveis. Para muitos

economistas, especialmente para aqueles com uma orientação keynesiana, esta explicação

dos fenômenos do mercado de trabalho permanece pouco convincente (Mankiw, 1989;

Tobin, 1996).

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Figura 6.3Flutuações de produção e emprego devido a um choque tecnológico

6.10 Um Modelo de Oferta e Demanda Agregada dos Ciclos Reais de Negócios

O modelo apresentado acima é incompleto para ilustrar o impacto de um choque

tecnológico porque negligencia o impacto dos choques de oferta sobre a taxa real de juros.

Nesta seção, apresentamos um modelo mais completo de 'demanda e oferta agregada real'

para ilustrar o impacto de choques tecnológicos que inclui a influência de mudanças na

taxa de juros real sobre a oferta de trabalho, conforme especificado na hipótese de

substituição intertemporal do trabalho. No entanto, neste exemplo, vamos ignorar o

impacto que um choque tecnológico pode ter sobre a demanda agregada real via efeitos-

riqueza.

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Em um mundo de expectativas racionais, perfeita flexibilidade de preços e

informações completas relativas à oferta monetária, a neutralidade da moeda é garantida.

Como as variáveis nominais não influenciam as variáveis reais, a produção e o emprego

são inteiramente determinados pelas forças reais subjacentes à função de produção e à

oferta de fatores de produção. Um modelo IS-LM que se conforma a tal mundo é mostrado

na Figura 6.4. A curva IS mostra que a demanda agregada real (RAD) é uma função

Figure 6.4 The IS-LM model with flexible prices

decrescente da taxa de juros real. A curva LM/P sempre mudará de modo a cruzar a curva

IS no nível de emprego total da produção, desde que os preços sejam perfeitamente

flexíveis. A posição da curva de oferta agregada real (RAS) é determinada pela posição

da função de produção e pela disposição dos trabalhadores em fornecer mão de obra (ver

Figura 6.3). Uma melhoria de tecnologia que desloque a função de produção fará com

que a curva RAS se desloque para a direita e qualquer ponto no RAS representa uma

posição de equilíbrio (pleno) de emprego; isto é, a curva RAS é uma curva de equilíbrio

do mercado de trabalho. Uma vez que o nível de preços irá se ajustar automaticamente

para que a curva LM/P sempre se cruze com a RAD no produto de pleno emprego,

precisamos considerar apenas as curvas RAD e RAS. No entanto, na Figura 6.4, não foi

levado em conta o impacto da taxa de juros real sobre a oferta de trabalho. Uma modelo

de demanda e oferta agregada de ciclos reais de negócios que incorpora os efeitos reais

da taxa de juros sobre a oferta de mão de obra é mostrado na Figura 6.5.

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Figure 6.6 The real business cycle aggregate demand and supply model

A curva RAS agora aparece com uma inclinação positiva porque um aumento da

taxa real de juros irá também aumentar o salário real presente relativo ao salário real

futuro esperado, aumentando assim a oferta de trabalho (deslocando a curva de oferta de

trabalho para a direita no mercado de trabalho), logo, o produto. A equação (6.11) indica

que a oferta presente de mão de obra aumentará se a taxa real de juros aumentar. Vários

pontos importantes valem ser notados:

1. Este modelo é inteiramente real, uma vez que a quantidade de moeda e o nível de

preços agregados não têm impacto sobre a produção agregada ou o emprego.

2. A distinção entre as curvas de oferta agregada de longo prazo e de curto prazo, que

desempenham um papel importante nos modelos monetaristas, novos clássicos e

novos keynesianos é abandonada.

3. A curva RAS traça uma série de posições de equilíbrio que são todas consistentes com

o ‘pleno emprego’.

4. A hipótese de flexibilidade de preços permite que a taxa real de juros equilibre o

mercado de bens, de modo que RAD = RAS.

5. Ao explicar as flutuações na produção, os teóricos dos ciclos reais de negócios

enfatizaram mudanças na curva RAS devido a choques tecnológicos (ver Kydland e

Prescott, 1982; Plosser, 1989).

6. Alguns teóricos do equilíbrio mostraram que os choques reais de demanda agregada

também podem ser importantes durante alguns períodos como uma explicação das

flutuações agregadas. Por exemplo, Barro mostrou como um aumento temporário nos

gastos do governo pode fazer com que a produção se expanda (ver Barro, 1993, cap.

12). Ele conclui que "as variações nas compras do governo desempenham um papel

importante durante a guerra, mas não nas flutuações dos negócios em tempo de paz"

(ver abaixo, Figura 6.7).

Na Figura 6.6, ilustramos o impacto de um choque tecnológico favorável, levando

em conta o impacto de tal choque no produto real (Y), na taxa real de juros (r) e no salário

real (W/P). Na Figura 6.6, plotamos novamente as curvas RAD e RAS como Cd e Ys,

respectivamente. A posição de equilíbrio inicial está no ponto ‘a’ em todos os quatro

quadrantes da Figura 6.6. Um choque favorável de tecnologia desloca a curva Ys de Ys1

para Ys2 no quadrante (d) e a função de produção de AF(K,L) para A*F(K,L) no quadrante

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(b). Um choque tecnológico favorável aumenta a produtividade marginal do trabalho,

deslocando a curva de demanda de mão de obra (DL) para a direita no quadrante (a); isto

é, de DL1 a DL2. No entanto, a curva de oferta de mão de obra também muda de SL1 para

SL2 no quadrante (a), sendo essa redução na oferta de trabalho uma resposta intertemporal

racional à queda na taxa de juros real (de r1 para r2). O novo equilíbrio, considerando

todos esses efeitos, é dado pelo ponto b em todos os quatro quadrantes da Figura 6.6.

Assim, um choque tecnológico favorável aumenta o produto real (de Y1 para Y2), diminui

a taxa real de juros (de r1 para r2), aumenta a produtividade do trabalho e o salário real

(de (W/P)1 para (W/P)2). Ou seja, o salário real e a produtividade do trabalho são pró-

cíclicos, como sugerem os fatos estilizados.

A Figura 6.7 mostra o provável impacto de um aumento nas compras do governo.

Como antes, a posição inicial de equilíbrio está no ponto ‘a’ em todos os quatro

quadrantes da Figura 6.7. Um aumento nos gastos do governo muda a curva da demanda

agregada real de Cd1 para Cd2. Neste caso, a produção real aumenta (de Y1 para Y2), a taxa

real de juros aumenta (de r1 para r2) e o salário real cai (de (W/P)1 para (W/P)2) em

resposta a um aumento na oferta de trabalho, com a curva de oferta de trabalho mudando

de SL1 para SL2 no quadrante (a). O novo equilíbrio, considerando todos esses efeitos, é

dado pelo ponto b em todos os quatro quadrantes da Figura 6.7. No modelo clássico

antigo, a oferta agregada é perfeitamente inelástica, como na Figura 6.4, e um aumento

nas compras governamentais não têm efeito no produto real.

Figura 6.6 O impacto de um choque tecnológico

Em contraste, no REBCT, um aumento nas compras do governo leva a um

aumento na produção real, porque o aumento induzido na taxa real de juros estimula um

aumento na oferta de trabalho (que se desloca para a direita), aumentando assim o

emprego e a produção real.

Finalmente, podemos usar o modelo Cd-Ys para examinar o impacto de choques

de tecnologia temporários versus permanentes. Neste caso, simplesmente reproduzimos

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o diagrama Cd-Ys por si só, mas também permitimos possíveis efeitos-riqueza na curva

Cd.

A Figura 6.8 representa o diagrama básico de market-clearing, que é central para a

abordagem de equilíbrio novo clássica moderna para a análise macroeconômica.

Seguindo Barro (1993), a condição de market-clearing é dada por (6.12):

Cd (r, …) =Ys(r, …) (6.12)

Figura 6.7O impacto de um choque de gastos do governo

Na equação (6.12), as variáveis omitidas e indicadas por ‘…’ incluem os vários efeitos

riqueza e substituição que resultam de choques na função de produção ou gastos do

governo e assim por diante. As respostas de Cd e Ys a mudanças na taxa real de juros são

ilustradas por movimentos ao longo das curvas de demanda e oferta agregadas. As curvas

Cd e Ys mudam se qualquer uma das outras variáveis que influenciam Cd e Ys mudarem,

como um choque na função de produção ou um aumento nos gastos do governo.

Para ver como um choque tecnológico influenciará a produção agregada nesse modelo,

considere a Figura 6.8, onde, partindo do ponto a, supomos que uma mudança tecnológica

positiva ocorre como considerado na Figura 6.3. Tal choque irá claramente mudar a curva

Ys para a direita de Ys1 para Ys*. Se o choque tecnológico for visto como temporário, o

impacto do efeito-riqueza na demanda do consumidor provavelmente será pequeno e a

resultante mudança para a direita de Cd será menor que o deslocamento de Ys: um

movimento do ponto a para o b.

( b )

b a

Y 2 Y 1

Y Y = AF ( K , L )

L 1 L 2 L

) c (

b

a

Y 2 Y 1

Y

Y 1 Y 2 Y 45 °

( a )

b a

( W/P ) 2

L 1 L 2 L

( ) d

r 2

r 1

r

Y 1 Y 2 Y

a

b

Y S

C d 2

S L 2 ( r 2 ) S L 1 ( r 1 )

D L

( W/P ) 1

( W/P )

C d 1

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Figura 6.8 O impacto de choques tecnológicos temporários e permanentes no modelo de

ciclos reais de negócios

A produção aumenta de Y1 para Y2 e a taxa de juros real cai para r2. Se o choque

tecnológico for visto como permanente, o efeito riqueza do choque sobre o consumo é

mais poderoso. Neste caso, os desvios para a direita de Ys e Cd são provavelmente de

magnitude similar, levando a um aumento na produção de Y1 para Y*, mas com a taxa de

juros real permanecendo em r1: um movimento do ponto a para c. De acordo com Barro,

esse modelo é razoavelmente bom em explicar os fatos estilizados das flutuações nos

negócios. Para uma discussão detalhada dessas questões, ver Barro (1993), especialmente

pp. 232–416.

6.12 Teoria dos Ciclos Reais de Negócios e a Neutralidade da Moeda

Teóricos dos ciclos reais de negócios afirmam que pesquisas recentes dão suporte

à ideia geral de que as flutuações são fenômenos “reais” em oposição à ideia de que seriam

fenômenos “monetários”. Entretanto, como mencionado anteriormente, a correlação entre

moeda e produção (produto) é um fato estilizado aceito. Como teóricos dos ciclos reais

de negócios lidam com a aparente influencia causal da moeda?

Neutralidade monetária é uma importante propriedade dos modelos de ciclos reais

de negócios. Nesses modelos, a neutralidade é aplicada tanto no curto quanto no longo

prazo. No final da década de 1970, lideranças representativas das outras escolas de

pensamento, como Tobim, Friedman e Lucas, concordavam que a taxa de crescimento da

oferta de moeda teria efeitos reais na economia com um importante papel para a

explicação das flutuações do produto. Existiam, claro, consideráveis discordâncias acerca

da natureza e força da relação entre moeda e produto e o poder relativo das políticas ficais

e monetárias, mas economistas de todas as convicções tomavam como garantido que

fenômenos monetários eram cruciais para pesquisas sobre as flutuações econômicas. O

fato estilizado aceito é que moeda e produto apresentam correlação positiva, com a moeda

conduzindo o produto, era tomado por muitos como uma forte evidência de causalidade

partindo da moeda até o produto (Sims, 1972). A pesquisa de Friedman e Schwartz (1963,

1982) adicionou ainda mais relevância à afirmação monetarista de que instabilidades reais

6 Ndt: REBCT = Teoria dos ciclos reais de negócios.

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têm como cerne as instabilidades monetárias. Entretanto, a estabelecida relação positiva

entre moeda e produto agregado pode simplesmente indicar que a oferta de moeda está

respondendo à atividade econômica, ao invés do contrário. Nessa situação, a moeda é

endógena e a correlação moeda-produto que observamos nos fatos estilizados são, na

verdade, evidências da relação causal oposta; isto é, expectativas de aumento futuro do

produto resultam nos aumentos atuais da oferta de moeda. De acordo com a teoria dos

ciclos reais de negócios, a demanda por moeda se expande durante as expansões e resulta

numa resposta acomodatícia da oferta de moeda, especialmente se a autoridade monetária

estiver buscando uma determinada taxa de juros (see Barro, 1993, chap. 18). O ímpeto de

diminuir o papel causal da moeda também teve suporte de evidências que surgiram da

análise de vetores auto-regressivos, que indicou que uma vez que taxas de juros fossem

incluídas entre as variáveis do modelo estimado, a moeda deixava de ter um forte poder

preditivo. As contribuições de Sims (1980, 1983) e Litterman e Weiss (1985) forneceram

importantes evidências em defesa da abordagem dos ciclos reais de negócios em sua

preferência de modelagem não monetária dos ciclos reais (veja também Eichenbaum and

Singleton, 1986).

Inicialmente os modelos de ciclos reais de negócios foram construídos sem

aspectos monetários. Kydland e Prescott (1982) originalmente tentaram construir um

modelo que incluía apenas variáveis reais, mas que poderia ser estendido para levar em

conta variáveis nominais. Porém, depois de construir seu modelo real, Kydland e Prescott

concluíram que a adição de um setor monetário podia não ser necessária, já que ciclos de

negócios podem ser explicados, quase que totalmente, por grandezas reais (veja Prescott,

1986). Embora o modelo de Long e Plosser (1983) não contenha um setor monetário,

King e Plosser (1984) explicam a histórica associação entre moeda e produto como sendo

um reflexo da resposta endógena da moeda para com o produto. A partir dos trabalhos de

Black (1987) e Fama (1980), King e Plosser rejeitaram a interpretação monetarista

ortodoxa da causalidade moeda-produto. No modelo deles, “os serviços monetários são

bens intermediários privadamente produzidos, cujas quantidades aumentam e diminuem

com o desenvolvimento da economia real”. King e Plosser veem o setor financeiro como

fornecedor de um fluxo de serviços de contabilidade que ajudam a facilitar transações de

mercado. Por inserir um setor financeiro num modelo de equilíbrio geral de produção e

consumo, King e Plosser mostram como uma correlação positiva entre produto real,

serviços de crédito e transacionais surgirá em sincronia nesses co-movimentos de acordo

com a fonte de variação do produto real. Seu modelo indica que o volume de “inside

Money” (depósitos bancários) vai variar positivamente em função do produto. Além

disso, o fato de que os serviços financeiros poderem ser produzidos mais rapidamente do

que o produto final, significa que uma expansão desses serviços provavelmente ocorrerá

antes da expansão do produto. O estoque de depósitos bancários é, portanto, fortemente

correlacionada com o produto e um forte indicador nos ciclos de negócios.

A correlação moeda-produto mencionada acima corresponde à evidência

apresentada por Friedman e Schwartz (1963), mas sob uma perspectiva totalmente

diferente. Enquanto nos modelos monetaristas mudanças exógenas na quantidade de

moeda tem um importante papel nas variações do produto, King e Plosser enfatizam a

resposta endógena dos depósitos à movimentos planejados do produto. Na verdade, o

produto do setor financeiro segue alinhado com o produto dos outros setores. Entretanto,

no final da década de 1980, apesar do progresso feito pela REBCT em explicar a

correlação moeda-produto, a visão de Plosser (1989) era de que “o papel da moeda em

uma teoria de crescimento e flutuações em equilíbrio não está bem compreendida, e

permanece, portanto, um problema em aberto”.

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Paradoxalmente, o argumento da REBCT de que a moeda é endógena, é também

uma proposição importante da escola Pós-Keynesiana (veja Kaldor, 1970a; Davidson,

1994). Por exemplo, com relação a essa mesma questão da causalidade moeda-produto,

Joan Robinson (1971) sugeriu que a correlação poderia ser explicada “em termos da teoria

quantitativa se a equação fosse lida da direita para a esquerda. Logo, podemos sugerir que

um aumento no nível de atividade é provavelmente precedido por um aumento na oferta

de moeda”. Numa profana aliança, tanto teóricos Pós-Keynesianos quanto dos ciclos reais

de negócios aparentemente concordam com Robinson, que a equação da teoria

quantitativa (MV = PY) deveria ser lida, em termos causais, da direita para esquerda.

Keynesianos Ortodoxos também levantaram a questão temporal ao questionar a

causalidade moeda-produto. Tobin (1970) mostrou como um modelo ultra-Keynesiano

pode ser construído com a oferta de moeda sendo uma resposta endógena às mudanças

na renda. Nesse modelo, mudanças na atividade econômica real são precedidas por

expansões na oferta de moeda, já que as firmas tomam fundos emprestados do setor

bancário para financiar suas expansões planejadas. Tobin demonstrou que inferir, a partir

das evidencias temporais, que mudanças na oferta de moeda causam mudanças na

atividade econômica real, é cair na falácia post hoc ergo propter hoc (depois disso, logo,

por causa disso). Entretanto, apesar de Tobim tenha usado esse argumento para contestar

o que ele considerava ser uma afirmação exagerada feita pelos monetaristas acerca do

poder da moeda, ele certamente não concluiu que a moeda não tem influência sobre as

flutuações (veja também Cagan, 1993).

Kydland e Prescott (1990) questionaram toda a base deste desse debate sobre

temporalidade e causalidade, ao rejeitar um dos fatos estilizados “estabelecidos” dos

ciclos de negócios acerca dos agregados monetários. Eles argumentam que “não há

nenhuma evidência que a base monetária ou a M1 lideram os ciclos, embora alguns

economistas ainda acreditem nesse mito monetário”. Claramente tais afirmações

representam um sério desafio às visões convencionais acerca do papel da moeda. Essa

“blasfêmia” foi rejeitada tanto por keynesianos como por monetaristas, que, como

resultado de uma análise dos ciclos reais de negócios, forjaram uma aliança que era ate

então inimaginável, ao longo dos intensos debates protagonizados por Tobin e Friedman

durante as décadas de 60 e início de 70. (Para uma defesa da pesquisa inicial de Friedman

e Schwartz, veja Schwartz, 1992.)

6.15 As Implicações Políticas da Teoria dos Ciclos Reais de Negócios

Antes de 1980, embora houvesse uma considerável guerra entre teóricos da

macroeconomia, havia um consenso implícito relacionado à três importantes questões.

Primeira, economistas viam flutuações no produto agregado como desvios temporários

de alguma taxa de crescimento tendencial. Um fator determinante dessa tendência era

uma suave taxa de progresso tecnológico, determinada exogenamente. Segunda, a

instabilidade agregada, na forma de ciclos de negócios era vista como socialmente

indesejável, já que ela reduzia o bem-estar econômico. A instabilidade poderia e deveria

ser reduzida através de políticas apropriadas para tal. Terceira, forças monetárias são um

importante fator para explicar ciclos de negócios. Economistas Keynesianos Ortodoxos,

monetaristas e novo-clássicos aceitavam todos esses três pilares do saber convencional.

Claro, esses mesmos não concordavam em como a instabilidade agregada deveria ser

reduzida. Também não existia concordância sobre o mecanismo de transmissão que

ligava a moeda ao produto real. Em modelos Keynesianos e monetaristas, a não-

neutralidade da moeda era explicada pela hipótese das expectativas adaptativas e o lento

ajuste de salários e preços à choques de demanda nominal. Nos modelos novo-clássicos

de market-clearing dos anos 70, a não-neutralidade era uma consequência do fato dos

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agentes não trem perfeita informação. No que tange as políticas para estabilizar a

economia, monetaristas e novo-classicos eram a favor da regra da taxa de crescimento

monetário fixa (k por cento), enquanto Keynesianos argumentavam em favor da

discricionalidade (veja Modigliani, 1986; Tobin, 1996). O principal impacto da primeira

onda da teoria novo-clássica na análise de política foi fornecer uma defesa teórica mais

robusta contra o ativismo (políticas econômicas ativas) (veja Kydland and Prescott,

1977). A literatura sobre política dos ciclos de negócios políticos (ciclos usados por

razoes políticas) também questionava se políticos poderiam ser confiáveis para usar

políticas de estabilização com objetivo de reduzir as flutuações ao invés de as usarem

para seu próprio interesse (veja Nordhaus, 1975 and Capítulo 10).

Durante os anos 80 tudo mudou. Os trabalhos de Nelson e Plosser (1982) e

Kydland e Prescott (1982) incitaram uma pergunta nos economistas: “Existe um ciclo de

negócios?”. Teóricos dos ciclos reais de negócios acham o termo “ciclo de negócios”

inadequado (Prescott, 1986) pois sugeriria a existência de um fenômeno a explicar

independentemente das formas que explicavam o crescimento econômico. Teóricos dos

ciclos reais de negócios, ao fornecer uma abordagem integrada para o crescimento e as

flutuações, mostraram que grandes flutuações no produto e nível de emprego em períodos

de tempo relativamente curtos eram “o que a teoria neoclássica padrão prevê”. De fato,

isso “seria um quebra-cabeça se a economia não mostrasse grandes flutuações no produto

e nível de emprego” (Prescott, 1986). Como instabilidade é o resultado de agentes

econômicos racionais respondendo de forma ótima à mudanças no ambiente econômico,

essas flutuações observadas não deveriam ser vistas como desvios que reduzem o bem-

estar, de alguma tendência ideal do produto. Numa teoria competitiva de flutuações, o

equilíbrio é Pareto-eficiente (veja Long and Plosser, 1983; Plosser, 1989). Portanto, a

ideia de que o governo deva a todo custo reduzir as flutuações é contrária a teoria dos

ciclos reais de negócios. Tais políticas quase certamente reduzirão o bem-estar. Como

Prescott (1986) argumentou, “as implicações políticas dessa pesquisa é que custosos

esforços para estabilização são provavelmente contra producentes. Flutuações

econômicas são respostas ótimas à incerteza da taxa de progresso tecnológico”. Ciclos de

negócios traçam um caminho do GPD que reflete flutuações aleatórias no nível

tecnológico. Isso vira do avesso o pensamento convencional acerca das flutuações

econômicas. Se as flutuações são respostas Pareto-eficientes aos choques na função de

produção, choques esses causados largamente por mudanças tecnológicas, então fatores

monetários não são mais relevantes para explicar tal instabilidade; e também, políticas

monetárias não tem nenhum efeito real. Moeda é neutra. Desde que os trabalhadores

possam decidir quanto eles querem trabalhar, o desemprego é apenas voluntario. De fato,

as flutuações observadas no PIB é nada mais do que um equilíbrio constantemente em

movimento. Na teoria dos ciclos reais de negócios, não pode haver sentido num objetivo

declarado do governo, tal como o ‘pleno emprego’, porque a economia já está lá! É claro

que na visão dos teóricos dos ciclos reais de negócios o governo pode fazer muito mal se

ele criar várias distorções através de políticas de taxação e gastos. Entretanto, como

previamente dito, nos modelos de ciclos reais de negócios um aumento temporário dos

gastos do governo vai causar um aumento do produto e do nível de emprego porque a

oferta de trabalho aumenta em resposta à maior taxa de juros real, gerada pelo aumento

da demanda agregada real.

Se a mudança tecnológica é o fator chave para determinar crescimento e flutuação,

nós certamente precisamos desenvolver um melhor entendimento acerca dos fatores que

determinam a taxa de progresso tecnológico, incluindo estruturas institucionais e arranjos

(veja Capitulo 11). Para os teóricos dos ciclos reais de negócios a ênfase dada por

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Keynesianos e monetaristas para a questão da estabilização foi um erro custoso. Num

mundo dinâmico, instabilidade é tão desejável quanto é inevitável.

Finalmente, Chatterjee (1999) apontou que a emergência da REBCT é o legado

de políticas anticíclicas bem sucedidas no período pós-segunda guerra mundial. Essas

políticas, ao reduzirem de forma bem-sucedida a volatilidade do PIB causadas por

distúrbios na demanda agregada, quando comparada com períodos anteriores, permitiram

que os impactos de distúrbios tecnológicos emergissem com fonte dominante dos ciclos

de negócios modernos.

6.16 Críticas a Teoria dos Ciclos Reais de Negócios

Nessa seção vamos revisar algumas das mais importantes críticas à teoria dos

ciclos reais de negócios. Para uma síntese crítica da literatura, o leitor deve ver Summers

(1986), Hoover (1988), Sheffrin (1989), Mankiw (1989), McCallum (1989), Phelps

(1990), Eichenbaum (1991), Stadler (1994), and Hartley et al. (1997, 1998).

A análise neoclássica convencional da oferta de trabalho destaca dois efeitos

opostos decorrentes do aumento no salário real. Um maior salário real induz um aumento

da oferta de trabalho através do efeito substituição, mas ao mesmo tempo um maior

salário real também tem um efeito-renda que induz um trabalhador a consumir mais lazer.

Nos modelos dos ciclos reais de negócios o efeito substituição deve ser muito poderoso

quando comparado ao efeito-renda para que tais modelos possam explicar, de forma

plausível, grandes variações do nível de emprego induzidos por choques tecnológicos.

Entretanto, como previamente notado, as evidências microeconômicas disponíveis, a

respeito da elasticidade substituição intertemporal da oferta de trabalho, indicam uma

fraca resposta às mudanças transitórias no salário. Se a elasticidade da oferta de trabalho

é baixa à variações salariais, então, os choques tecnológicos que deslocam a curva de

demanda de trabalho (veja Figura 6.3) vão produzir grandes variações do salário real e

pequenas variações no nível de emprego. Porém, as variações no nível de emprego

observadas durante o ciclo de negócios parecem ser muito grandes para serem creditadas

à substituição intertemporal. Além disso, Mankiw (1989) argumentou que a taxa real de

juros não é levada em consideração de forma significativa nas decisões de oferta de

trabalho. Como, por exemplo, pode-se esperar que os agentes prevejam de forma acurada

as taxas de juros e os salários futuros para realizar a substituição intertemporal?

Uma segunda grande crítica central à teoria dos ciclos reais de negócios está

relacionada à dependência desses modelos em choques tecnológicos majoritariamente

não observáveis. Muitos economistas duvidam se os choques tecnológicos requeridos

para gerar o fenômeno dos ciclos de negócios são grandes ou frequentes o suficiente.

Nesses modelos, grandes movimentos no produto requerem distúrbios significantivos na

tecnologia. Muellbauer (1997) argumenta que o tipo de volatilidade tecnológica requerida

na REBCT é “deveras implausível” por três razoes, quais sejam: (i) difusões tecnológicas

tendem a ser lentas; (ii) agregação de processos de difusão tendem a produzir um

resultado suave no agregado; (iii) o regresso tecnológico necessário para produzir

recessões não poder receber microfundamentos plausíveis. Com relação a essa questão,

Summers (1986) rejeita o uso de Prescott’s de variações no resíduo de Solow como

evidência de significantes choques na tecnologia. Grandes variações no resíduo de Solow

podem ser explicadas como resultado de um comportamento fora da função de produção,

na forma de trabalho poupado. Enquanto teóricos dos ciclos reais de negócios interpretam

a produtividade do trabalho pró-cíclica como evidência de mudanças na função de

produção, a explicação Keynesiana tradicional atribui este fato estilizado a quase rigidez

no mercado de trabalho. A razão do porque a produtividade cai durante recessões é que

firmas retêm mais trabalhadores do que precisam, devido a ajuste de custos de curto

Page 20: Tradução Livre: Milhomem, E; Exel, G. & Geminiano, B ... · ciclos reais de negócios foram muito mais longe em suas análises do lado da ... 1973 representa um desses exemplos

prazo. Nessas circunstancias valerá a pena para as empresas suavizarem o fator trabalho

ao longo do ciclo, implicando na acumulação de mão de obra durante uma recessão. Isso

explica porque a redução percentual do produto tipicamente é maior que a redução

percentual da oferta de trabalho durante uma recessão. A medida que a economia se

recupera, firmas utilizam sua força de trabalho mais intensamente, de modo que o produto

aumenta, percentualmente, mais que o nível de emprego.

Em geral, muitos economistas explicam o movimento pro cíclico do residu de

Solow destacando a subutilização tanto do capital quanto do trabalho durante períodos de

recessão. Seguindo Abel and Bernanke (2001), podemos ilustrar essa ideia ao reescrever

a função de produção dada por (6.13) e (6.14) como (6.18):

onde µk representa a taxa de subutilização do capital, e µL representa a subutilização do

trabalho. Substituindo (6.18) por Y em (6.15) obtemos uma nova expressão (6.19) para o

resíduo de Solow que reconhece que o capital e trabalho podem estar sendo subutilizados.

A equação (6.19) mostra que o resíduo de Solow pode variar mesmo se a

tecnologia permanecer constante. Se as taxas de utilização de trabalho e capital são pró

cíclicas, como a evidência empírica sugere, então observaremos um resíduo de Solow pró

cíclico que reflete essa influência (para discussões sobre essa questão veja Fay and

Medoff, 1985; Rotemberg and Summers, 1990; Bernanke and Parkinson, 1991; Burnside

et al., 1995; Braun and Evans, 1998; Millard et al., 1997).

Uma terceira linha de críticas está relacionada à ideia de recessões serem períodos

de regresso tecnológico. Como Mankiw (1985, p.85) diz, “recessões são eventos

importantes; elas recebem atenção generalizada de policy-makers e da mídia. Não há, no

entanto, nenhuma discussão sobre declínios na tecnologia disponível. Se a sociedade

sofresse um sério choque tecnológico adverso, nós perceberíamos isso”. Em resposta à

essas críticas, Hansen e Prescott (1993) ampliaram a interpretação de choques

tecnológicos de modo que “qualquer mudança na função de produção, ou, de forma mais

geral, o conjunto de possibilidades de produção” pode ser considerado como uma fonte

potencial de distúrbio. Em sua análise da recessão de 1990-91 nos EUA, eles sugeriram

que mudanças nos arcabouços legais e institucional podem alterar os incentivos para

adotar certas tecnologias; por exemplo, uma barreira de regulação governamental pode

agir como um choque tecnológico negativo. Entretanto, como Muellbauer (1997) aponta,

a severa recessão no Reino Unido no início dos anos 90 é facilmente explicada como

consequência do “massivo” aumento da taxa de juros em 1988-89, um colapso associado

aos preços relativos; e a participação do Reino Unido com uma taxa de cambio

sobrevalorizada, ao ERM depois de outubro de 1990. Poucas dessas influências tem

algum papel na REBCT.

Uma importante quarta critica está relacionada a questão do desemprego. Nos

modelos de ciclos reais de negócios o desemprego é completamente inexistente ou é

voluntário. Críticos não acham esse argumento convincente e apontam a experiência da

Grande Depressão, a qual “desafia a credulidade explicar movimentos desta escala

através da substituição intertemporal e de choques de produtividade” (Summers, 1986).

Carlin e Soskice (1990) argumentam que grande parte do desemprego europeu ao longo

dos anos 80 foi involuntário e isso representa um importante fato estilizado que não pode

ser explicado dentro do arcabouço novo clássico. Tobin (1980b) também questionou a

abordagem geral dos economistas novo-clássicos ao tratar o desemprego como

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voluntário. Os críticos apontam que o padrão das flutuações no mercado de trabalho é

inconsistente com a teoria de equilíbrio. Se pudéssemos explicar o desemprego como

resultado de uma decisão voluntária dos agentes econômicos, então não observaríamos o

movimento pró-cíclico já estabelecido das taxas de vacância e demissão voluntária.

Recessões não são períodos onde observamos um aumento das taxas de demissão

voluntária. Na visão de Blinder, o desafio colocado pela alta taxa de desemprego nos anos

80 não foi respondido por policy makers e economistas. Num comentário direcionado

obviamente para teóricos dos ciclos reais de negócios, Blinder (1988b) diz que “nós não

vamos contribuir muito para aliviar o desemprego enquanto usarmos teorias ótimas no

sentido de Pareto para recessões – uma defesa que talvez possa ser chamada de Economia

Nero-Classica”. Embora o modelo de mudanças intersetoriais associado com Lilien

(1982) introduza o desemprego num modelo onde choques tecnológicos motivam a

necessidade de realocar recursos entre os setores, os críticos consideram a negligência do

desemprego na teoria dos ciclos reais de negócios como uma grande fraqueza (veja

Hoover, 1988).

Uma quinta objeção à teorias dos ciclos reais de negócios está relacionada a

neutralidade da moeda e a irrelevância da política monetária para resultados reais. É

irônico que esses modelos tenham surgido no começo dos anos 80 quando, tanto nos EUA

quanto no Reino Unido, as desinflações monetárias iniciadas por Volcker e Thatcher

foram seguidas por profundas recessões nos dois países. A desaceleração econômica de

1990-92 no Reino Unido também parece ter sido uma consequência direta de outra dose

de desinflação monetária. Em resposta a essas críticas, teóricos dos ciclos reais de

negócios apontam que as recessões no início dos anos 80 foram precedidas por um

segundo choque do petróleo em 1979. Entretanto, a maioria dos economistas continuam

convencidos que a moeda é não-neutra no curto prazo (veja Romer and Romer, 1989,

1994a, 1994b; Blanchard, 1990a; Ball, 1994; and Chapter 7).

Uma sexta linha de críticas está relacionada à importante descoberta de Nelson e

Plosser de que é difícil rejeitar a ideia de que o PIB real é tão persistente quanto um

passeio aleatório randômico com distúrbios. Essa descoberta pareceu dar suporte a ideia

de que as flutuações são causadas por choques no lado da oferta. O trabalho de Nelson e

Plosser (1982) mostrou que o produto agregado não parece ser tend-reverting. Se

flutuações pudessem reverter a tendência, então um desvio temporário do produto de sua

taxa natural não causaria uma mudança na estimativa do produto prevista em dez anos.

Campbell and Mankiw (1987, 1989), Stock and Watson (1988) and Durlauf (1989)

confirmaram as descobertas de Nelson e Plosser. Como resultado, a persistência de

choques é agora vista como um “fato estilizado” (veja Durlauf, 1989, p.71). Entretanto,

Campbell, Mankiw e Durlauf não aceitam que a descoberta de uma quase raiz unitária na

série do PIB é uma clara evidência de choques reais, ou que as explicações de flutuações

baseadas em perturbações na demanda devem ser abandonadas. Demanda agregada

poderia ter efeitos permanentes se a inovação tecnológica é a afetada pelo ciclo de

negócios ou se o efeito de histerese é importante (veja Capítulo7). Durlauf mostrou como,

na presença de falhas de coordenação, mudanças substancias na atividade real podem ser

resultado de choques na demanda agregada. Isso implica que políticas no lado da

demanda podem ter efeitos duradouros no produto. Stadler (1990) também mostrou como

a introdução de mudanças tecnológicas endógenas alteram fundamentalmente as

propriedades reais e monetárias das teorias dos ciclos reais de negócios. REBCT não

fornece nenhuma fundação microeconômica profunda para explicar mudanças

tecnológicas e atividade inovativa. Mas a plausível dependência, do progresso

tecnológico, de fatores econômicos como, condições de demanda, gastos com pesquisa e

desenvolvimento e “lerning by doing”(conhecimento tácito) “Arrow, 1962) implica que

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mudanças no lado da oferta da economia não são independentes de mudanças no lado da

demanda. Consequentemente, um aumento não antencipado na demanda agregada

nominal pode induzir mudança tecnológicas no lado da oferta que permanentemente

aumentarão o produto. Num modelo como esse, a taxa natural de desemprego vai

depender do histórico da demanda agregada e também de fatores no lado da oferta. Um

modelo puramente monetário do ciclo de negócios onde tecnologia é endógena também

pode explicar as descobertas de Nelson e Plosser de que o produto aparentemente segue

uma “Randon walk”.

Uma sétima critica está relacionada ao uso difundido do constructo do agente

representativo na teoria dos ciclos reais de negócios. Teóricos dos ciclos reais de negócios

evitam os problemas de agregação inerentes à análise macroeconômica utilizando um

agente representativo cujas escolhas são assumidas como coincidentes com o agregado

das decisões de milhões de indivíduos heterogêneos. Esses modelos, portanto, evitam os

problemas associados com informação assimétrica, trocas e coordenação. Para muitos

economistas a questão mais importante na teoria macroeconômica é relacionada aos

problemas associados com coordenação e heterogeneidade. Se a questão de coordenação

e possiblidade associada de falhas nas trocas estão no centro das flutuações econômicas,

então contornar o problema assumindo que a economia é povoada apenas por Robinson

Crusoe é uma estratégia não aceita por muitos economistas (veja Summers, 1986;

Kirman, 1992; Leijonhufvud, 1992, 1998a; Akerlof, 2002; Snowdon, 2004a).

Uma última importante critica diz respeito a falta de testes empíricos robustos

(veja Fair, 1992; Laidler, 1992a; Hartley et al., 1998). No que diz respeito aos fatos

estilizados, tanto novos-keynesianos, como teóricos dos ciclos reais de negócios podem

dar conta de um padrão de co-movimentos de séries de tempo mais ampla (veja

Greenwald and Stiglitz, 1988). Numa avaliação acerca da plausibilidade empírica da

teoria dos ciclos reais de negócios, Eichenbaum (1991) considera as evidências

apresentadas por seus proponentes como “muito frágeis para serem críveis”.