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Transcendent e

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transcendente.Compreendemos, então, a proposição nuclear da ontologia donecessário, a proposição 18 da Parte I da Ética: “Deus é causaimanente de todas as coisas e não causa transitiva”. A distinçãoentre causa eficiente imanente e causa eficiente transitivasignifica que a eficiente não é tomada como causa externaartesanal, e sim como causa interna. A eficiente transitivapressupõe não só a separação entre causa e efeito e adesemelhança entre ambos, como ainda o caráter instantâneo dacausa (como tão bem lembra Descartes a Arnauld: uma coisarecebe o nome de causa eficiente no ato de causar o efeito). Aeficiente imanente, ao contrário, afirma que a causa e o efeito nãose separam e que o segundo é a própria causa modificada ou, paramantermos a precisão conceitual de Espinosa, ele a exprime e elao envolve. A permanência da causa no efeito significa que estenão é um mero paciente, mas uma causa tambémi e que produziráseus próprios efeitos imanentes.Deus é causa de todas as coisas porque tudo o que é só podeser e ser concebido por Ele, que, portanto, produz as coisas queNele são e que, não sendo substâncias e sim modos, não existemem si nem por si são concebidas, devendo existir em outro que ascausa como efeitos imanentes ou como seus modos. Se aunicidade substancial envolve a imanência das coisas a Deus, acausalidade substancial envolve a imanência de Deus às coisas.O primeiro axioma da Ética possui um enunciado universal:“tudo o que é, ou é em si ou é em outro”, ou seja, tudo o que é, oué substância ou é modo da substância. Por sua vez, o terceiroaxioma afirma que de uma dada causa determinada segue-senecessariamente um efeito (e, ao contrário, se não for dada umacausa determinada, nenhum efeito se seguirá); e o quarto, que oconhecimento da causa depende do conhecimento da causa e oenvolve. Ao demonstrar os efeitos imanentes necessários dasubstância absolutamente infinita, a causa é a natureza absoluta26do atributo, bem como a natureza do atributo enquanto afetadapor uma modificação infinita. Passamos, assim, do que énecessário, infinito e eterno pela essência (a substância) ao que énecessário, infinito e eterno pela causa (as modificaçõesproduzidas pelos atributos substanciais). Entramos na NaturezaNaturada, isto é, chegamos às leis da Natureza que seguem danecessidade das leis da natureza de Deus ou da natureza absolutade seus atributos (ou o que Espinosa designa com a expressãomodos infinitos imediatos) e da natureza de seus atributos afetadapor uma modificação infinita (ou os modos infinitos mediatos). Anecessidade, infinitude e eternidade dos modos infinitos imediatose mediatos não lhes pode advir de sua própria essência, pois sãomodos e não envolvem existência necessária, mas lhes vem pelacausa que, imanente, lhes transmite necessariamente suaspropriedades. Em outras palavras, com os modos, exprime-se adistinção entre o necessário pela essência e o necessário pela causa,e a distinção entre o infinito pela essência e o infinito pela causa.Os atributos infinitos são as infinitas ordens de existência oumaneiras de existir do absolutamente infinito, os modos infinitossão as leis universais da Natureza e os constituintes de sua ordemimanente. Os modos infinitos imediatos são o encadeamento e aconexão necessária das causas, isto é, das proporções demovimento e repouso, que constituem os corpos, e dospensamentos, que constituem as idéias; o modo infinito mediato é

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a fácies totius universi, a fisionomia do universo inteiro, isto é, aconservação e constância das causas e de suas leis sob a infinitamudança e variação das coisas singulares. Os modos infinitos, oua ordem inteira da Natureza Naturada, não são mediações entre oinfinito e o finito, mas a infinitude atual da causa eficienteimanente; os modos finitos são as expressões físicas determinadasou singulares das leis universais de proporção de movimento erepouso (os corpos) e as expressões psíquicas singulares das leisuniversais do encadeamento e conexão necessária dospensamentos particulares (as idéias). Não sendo mediações, osmodos infinitos não são hipóstases emanadas dos atributos, e simmodalidades diversas de infinitas ordens de existência em que seexprime o ser absolutamente infinito. São princípios ordenadoresdas coisas singulares que exprimem a essência de seus atributos,27os quais constituem e exprimem a essência do ser absolutamenteinfinito.Longe de introduzir a idéia de coisas possíveis, ademonstração de que a essência do modo não envolve existêncianecessária introduz com maior força a necessidade. De fato, foidemonstrado que Deus é causa livre, primeira, eficiente, imanentede todas as coisas que seguem da necessidade de sua natureza eapenas das leis de sua natureza; foi demonstrado que danecessidade da natureza de Deus, isto é, das leis de sua naturezaou de sua potência seguem infinitas coisas em infinitos modos; efoi demonstrado que da natureza absoluta de qualquer atributo deDeus ou da natureza do atributo afetado por uma modificaçãoinfinita seguem modos infinitos. Conseqüentemente, édemonstrado que o que não existe pela necessidade de suaessência (por não ser causa de si) existe pela necessidade de suacausa e, portanto, uma essência que não envolva existêncianecessária não é uma coisa possível e sim uma coisa necessáriapela causa. Espinosa pode então demonstrar (na proposição 25)que “Deus é não somente causa eficiente da existência das coisas,mas também de sua essência” e que “ no sentido em que se dizque Deus é causa de si deve dizer-se também que é causa detodas as coisas”, pois, as coisas particulares nada mais são do quemodos pelos quais se exprimem os atributos de Deus de maneiracerta e determinada.Quais as conseqüências, para as coisas particulares, do fato deserem modos ou afecções da potência absolutamente infinita? Emprimeiro lugar, a Natureza Naturada se deixa ver como nexo eencadeamento de causas necessárias que excluem (melhor seriadizer: tornam impossível) a contingência. A ação livre dapotência absolutamente infinita determina a operação necessáriadas coisas particulares de maneira tal que coisa alguma éindeterminada e cada coisa é uma causa e um efeito na cadeiainfinita de causas da Natureza Naturada. Em segundo, asessências das coisas particulares estão compreendidas na naturezados atributos do absoluto e, por conseguinte, suas existênciasestão determinadas pela potência dos atributos. Determinadasquanto à essência e à existência, as coisas particulares estãodeterminadas pela ação do absolutamente infinito a operar demaneira também determinada. A causa de si, livre e primeira, age