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TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO E DIMENSÕES INSTITUCIONAIS: O PAPEL DOS ORGANISMOS DE INTERFACE ACADÉMICO NO DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL BASEADO NA INOVAÇÃO Hugo Pinto ([email protected]) [orientador: Tiago Santos Pereira ([email protected])] OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO A transferência de conhecimento entre universidade e empresa é um tópico central para compreender o sucesso dos processos de inovação nos territórios num contexto onde a universidade assume novos papeis ( Gibbons et al., 1994; Etzkowitz e Leydesdorff, 1997). A transferência de conhecimento é entendida como um processo de partilha entre diferentes actores para benefício mútuo. No caso das relações universidade-empresa este processo é identificado normalmente com projectos de investigação em colaboração, criação de novas empresas (spin-offs) e licenciamento dos direitos de propriedade industrial. Estes mecanismos, eminentemente formais, são suportados por um leque alargado de contactos prévios, actividades preliminares e relações pessoais que reforçam a importância da informalidade neste processo (D’Este e Patel, 2007). O trabalho de doutoramento procura compreender os arranjos institucionais que facilitam e restringem a transferência de conhecimento. Partindo das contribuições dos estudos das variedades de capitalismo (Hall e Soskice, 2001) é efectuada uma comparação dos sistemas de inovação em onze países europeus. Esta macro-análise é complementada com estudos de caso a gabinetes e mecanismos de transferência de conhecimento usando conceitos derivados da Teoria Actor- Rede, em particular a relevância dos actores humanos e não-humanos, dos espaços de fronteira, e do processo de tradução (para uma síntese ver Latour, 2005). No final, é esperado conseguir algumas considerações de orientações políticas para promover um ambiente mais adequado à transferência de conhecimento na União Europeia. PRINCIPAIS RESULTADOS A análise dos sistemas de inovação, que beneficia da proposta institucionalista dos Sociais de Inovação e Produção (Amable, Barré e Boyer, 1997), inclui aspectos comummente explorados neste tipo de estudos. É efectuada a estimação de uma função de produção de conhecimento utilizando princípios da econometria espacial em dados de painel que explicita a importância de diferentes tipos de proximidade na geração de inovação nos países europeus. Seguidamente uma bateria de sessenta e quatro variáveis, com proeminência para variáveis ligadas à inovação e à relação universidade- empresa, é transformada em índices que ao serem organizados sob a forma de building blocks institucionais (Figura 1) permitem a criação de agrupamentos de países que sublinham a diversidade de perfis na Europa (Figura 2) e resultam em desempenhos económicos variados. INVESTIGAÇÃO EM CURSO Beneficiando de uma estadia no Instituto de Estudios Sociales Avanzados do Consejo Superior de Investigaciones Científicas em Córdoba, está a ser desenvolvido em 2010 um modelo microeconométrico de variáveis dependentes limitadas comparativo das intensidades de transferência de conhecimento e seus factores explicativos na perspectiva das empresas e dos grupos de investigação na Andaluzia. O caso espanhol é particularmente relevante para Portugal pela aplicação de políticas de forte ímpeto territorial e pela transformação recente dos sistemas regionais de inovação com o aumento da densidade de actores de conhecimento. ALGUMAS CONCLUSÕES PARCIAIS A União Europeia apresenta uma elevada diversidade arquitecturas institucionais que moldam os sistemas de inovação e a transferência de conhecimento. Mesmo num país como Portugal, esta diversidade é evidente quando analisamos os KTO. As análises efectuadas permitem destacar como a diversidade de perfis dos sistemas científicos, de estruturas económicas e de enfoques em diferentes mecanismos de transferência de conhecimento origina a impossibilidade de reprodução do sucesso de políticas baseadas em boas-práticas. A replicação de métodos de trabalho e abordagens da transferência de conhecimento bem sucedidas numa arquitectura institucional diferente não garante qualquer sucesso. Uma análise cuidada de cada contexto institucional é essencial. A segunda vertente complementa estes resultados com estudos de caso utilizando uma abordagem inspirada na Teoria do Actor-Rede (Actor-Network-Theory ou ANT) à transferência de conhecimento. No centro da análise encontra-se o processo de tradução, ou seja como determinado actor, o translation enabler, tenta partilhar os seus objectivos e metas engajando outros actores para se constituírem como pontos obrigatórios de passagem em determinado domínio. A ANT foi utilizada nas análises dos processos de criação de duas empresas nascidas a partir da universidade, destacando a evolução da ideia até à sua concretização. A empresa E1 e a empresa F1 são dois casos muito diferentes (uma spin-off na área do eco-turismo e a outra na Saúde) que permitem compreender os constrangimentos e traduções necessárias na transferência de conhecimento através da criação de empresas avançadas. As Figuras 3 e 4 ilustram as conexões que E1 e F1 tiveram de fazer para chegarem ao mercado. A actuação dos gabinetes de transferência de conhecimento (knowledge transfer offices KTO) foi destacada pelos empreendedores como central para a abordagem ao mercado com a criação e legitimação da utilização de objectos de fronteira. Por este motivo, a abordagem ANT foi ainda aplicada a três actores: o Instituto Pedro Nunes (IPN) ligado à Universidade de Coimbra, a Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC) da Universidade de Aveiro e o Centro Regional para a Inovação do Algarve (CRIA), a Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve. Social Democrat Economies Southern European Capitalism Continental European Capitalism Liberal Market Economies Hugo Pinto beneficia de uma bolsa de Doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/35887/2007) financiada pelo POPH QREN Tipologia 4.1 Formação Avançada, comparticipado pelo Fundo Social Europeu e por fundos nacionais do MCTES. PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM GOVERNAÇÃO, CONHECIMENTO E INOVAÇÃO, (CES/FEUC) REFERÊNCIAS Amable, B., Barré, R. e Boyer, R. (1997) Les Systèmes d’Innovation à l’Ére de la Globalisation. Paris: Economica. D’Este, P., e Patel, P. (2007) University-industry linkages in the UK: What are the factors underlying the variety of interactions with industry?, Research Policy, 36, 1295-1313. Etzkowitz, H., e Leydesdorff, L., (eds) (1997). Universities and the Global Knowledge Economy A Triple Helix of University-Industry-Government Relations, London: Continuum. Gibbons, M., Limoges, C., Nowotny, H., Schwartzman, S., Scott, P., e Trow, M., (1994). The New Production of Knowledge: The Dynamics of Science and Research in Contemporary Societies, London: Sage. Hall, P. A. e Soskice, D. (2001) An Introduction to Varieties of Capitalism in Hall, P., Soskice, D. (eds.) Varieties of Capitalism: The institutional foundations of comparative advantage. Oxford: Oxford University Press, pp. 1-68. Latour, B., (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory, New York: Oxford University Press. Esta análise permitiu constatar que mesmo no quadro nacional a diversidade de respostas no domínio da transferência de conhecimento é grande e depende da trajectória de construção de cada organismo, dos domínios científicos de excelência da universidade, da cooperação anterior e da capacidade de absorção das empresas na região. O poster estará disponível, a partir de 8 de Julho, em www.ces.uc.pt/ciencia2010

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TRANSFERÊNCIA DE CONHECIMENTO

E DIMENSÕES INSTITUCIONAIS: O PAPEL DOS ORGANISMOS DE INTERFACE ACADÉMICO NO

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL BASEADO NA INOVAÇÃO

Hugo Pinto ([email protected]) [orientador: Tiago Santos Pereira ([email protected])]

OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO

A transferência de conhecimento entre universidade e

empresa é um tópico central para compreender o sucesso

dos processos de inovação nos territórios num contexto

onde a universidade assume novos papeis (Gibbons et al.,

1994; Etzkowitz e Leydesdorff, 1997). A transferência de

conhecimento é entendida como um processo de partilha

entre diferentes actores para benefício mútuo. No caso

das relações universidade-empresa este processo é

identificado normalmente com projectos de investigação

em colaboração, criação de novas empresas (spin-offs) e

licenciamento dos direitos de propriedade industrial. Estes

mecanismos, eminentemente formais, são suportados por

um leque alargado de contactos prévios, actividades

preliminares e relações pessoais que reforçam a

importância da informalidade neste processo (D’Este e

Patel, 2007).

O trabalho de doutoramento procura compreender os

arranjos institucionais que facilitam e restringem a

transferência de conhecimento. Partindo das contribuições

dos estudos das variedades de capitalismo (Hall e

Soskice, 2001) é efectuada uma comparação dos

sistemas de inovação em onze países europeus. Esta

macro-análise é complementada com estudos de caso a

gabinetes e mecanismos de transferência de

conhecimento usando conceitos derivados da Teoria Actor-

Rede, em particular a relevância dos actores humanos e

não-humanos, dos espaços de fronteira, e do processo de

tradução (para uma síntese ver Latour, 2005). No final, é

esperado conseguir algumas considerações de

orientações políticas para promover um ambiente mais

adequado à transferência de conhecimento na União

Europeia.

PRINCIPAIS RESULTADOS

A análise dos sistemas de inovação, que beneficia da

proposta institucionalista dos Sociais de Inovação e

Produção (Amable, Barré e Boyer, 1997), inclui aspectos

comummente explorados neste tipo de estudos. É

efectuada a estimação de uma função de produção de

conhecimento utilizando princípios da econometria

espacial em dados de painel que explicita a importância de

diferentes tipos de proximidade na geração de inovação

nos países europeus. Seguidamente uma bateria de

sessenta e quatro variáveis, com proeminência para

variáveis ligadas à inovação e à relação universidade-

empresa, é transformada em índices que ao serem

organizados sob a forma de building blocks institucionais

(Figura 1) permitem a criação de agrupamentos de países

que sublinham a diversidade de perfis na Europa (Figura

2) e resultam em desempenhos económicos variados.

INVESTIGAÇÃO EM CURSO

Beneficiando de uma estadia no Instituto de Estudios Sociales

Avanzados do Consejo Superior de Investigaciones

Científicas em Córdoba, está a ser desenvolvido em 2010 um

modelo microeconométrico de variáveis dependentes

limitadas comparativo das intensidades de transferência de

conhecimento e seus factores explicativos na perspectiva das

empresas e dos grupos de investigação na Andaluzia. O caso

espanhol é particularmente relevante para Portugal pela

aplicação de políticas de forte ímpeto territorial e pela

transformação recente dos sistemas regionais de inovação

com o aumento da densidade de actores de conhecimento.

ALGUMAS CONCLUSÕES PARCIAIS

A União Europeia apresenta uma elevada diversidade

arquitecturas institucionais que moldam os sistemas de

inovação e a transferência de conhecimento. Mesmo num

país como Portugal, esta diversidade é evidente quando

analisamos os KTO. As análises efectuadas permitem

destacar como a diversidade de perfis dos sistemas

científicos, de estruturas económicas e de enfoques em

diferentes mecanismos de transferência de conhecimento

origina a impossibilidade de reprodução do sucesso de

políticas baseadas em boas-práticas. A replicação de métodos

de trabalho e abordagens da transferência de conhecimento

bem sucedidas numa arquitectura institucional diferente não

garante qualquer sucesso. Uma análise cuidada de cada

contexto institucional é essencial.

A segunda vertente complementa estes resultados com

estudos de caso utilizando uma abordagem inspirada na

Teoria do Actor-Rede (Actor-Network-Theory ou ANT) à

transferência de conhecimento. No centro da análise

encontra-se o processo de tradução, ou seja como

determinado actor, o translation enabler, tenta partilhar os

seus objectivos e metas engajando outros actores para se

constituírem como pontos obrigatórios de passagem em

determinado domínio.

A ANT foi utilizada nas análises dos processos de criação

de duas empresas nascidas a partir da universidade,

destacando a evolução da ideia até à sua concretização. A

empresa E1 e a empresa F1 são dois casos muito

diferentes (uma spin-off na área do eco-turismo e a outra

na Saúde) que permitem compreender os

constrangimentos e traduções necessárias na transferência

de conhecimento através da criação de empresas

avançadas. As Figuras 3 e 4 ilustram as conexões que E1

e F1 tiveram de fazer para chegarem ao mercado.

A actuação dos gabinetes de transferência de

conhecimento (knowledge transfer offices – KTO) foi

destacada pelos empreendedores como central para a

abordagem ao mercado com a criação e legitimação da

utilização de objectos de fronteira. Por este motivo, a

abordagem ANT foi ainda aplicada a três actores: o Instituto

Pedro Nunes (IPN) ligado à Universidade de Coimbra, a

Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC) da

Universidade de Aveiro e o Centro Regional para a

Inovação do Algarve (CRIA), a Divisão de

Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da

Universidade do Algarve.

Social Democrat Economies

Southern European Capitalism

Continental European Capitalism

Liberal Market Economies

Hugo Pinto beneficia de uma bolsa de Doutoramento da Fundação para a Ciência

e a Tecnologia (SFRH/BD/35887/2007) financiada pelo POPH – QREN – Tipologia

4.1 – Formação Avançada, comparticipado pelo Fundo Social Europeu e por

fundos nacionais do MCTES.

PROGRAMA DE DOUTORAMENTO EM GOVERNAÇÃO, CONHECIMENTO E INOVAÇÃO, (CES/FEUC)

REFERÊNCIAS

Amable, B., Barré, R. e Boyer, R. (1997) Les Systèmes d’Innovation à l’Ére de la Globalisation. Paris:

Economica.

D’Este, P., e Patel, P. (2007) University-industry linkages in the UK: What are the factors underlying the

variety of interactions with industry?, Research Policy, 36, 1295-1313.

Etzkowitz, H., e Leydesdorff, L., (eds) (1997). Universities and the Global Knowledge Economy – A

Triple Helix of University-Industry-Government Relations, London: Continuum.

Gibbons, M., Limoges, C., Nowotny, H., Schwartzman, S., Scott, P., e Trow, M., (1994). The New

Production of Knowledge: The Dynamics of Science and Research in Contemporary Societies, London:

Sage.

Hall, P. A. e Soskice, D. (2001) An Introduction to Varieties of Capitalism in Hall, P., Soskice, D. (eds.)

Varieties of Capitalism: The institutional foundations of comparative advantage. Oxford: Oxford

University Press, pp. 1-68.

Latour, B., (2005). Reassembling the Social: An Introduction to Actor-Network-Theory, New York:

Oxford University Press.

Esta análise permitiu constatar que mesmo no quadro nacional

a diversidade de respostas no domínio da transferência de

conhecimento é grande e depende da trajectória de construção

de cada organismo, dos domínios científicos de excelência da

universidade, da cooperação anterior e da capacidade de

absorção das empresas na região.

O poster estará disponível, a partir de 8 de Julho, em www.ces.uc.pt/ciencia2010