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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1
TRANSFORMAÇÕES NA PAISAGEM DA PLANÍCIE LITORÂNEA:
ESTUDO DE CASO DO BAIRRO MUCURIPE (FORTALEZA – CEARÁ
– BRASIL)
Tasso Ivo de Oliveira Neto(a)
, Yara Maria Castro de Oliveira(b)
, Ricardo Matos Machado (c)
;
Vládia Pinto Vidal de Oliveira(d)
(a) Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]
(b) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]
(c) Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará, [email protected]
(d) Programa de Pós-Graduação em Geografia/Departamento de Geografia, Universidade Federal do Ceará,
Eixo: Zonas Costeiras: processos, vulnerabilidades e gestão
Resumo
A geografia faz parte da vida humana e isso traz consigo a popularidade de termos e conceitos em nossa
linguagem, como paisagem. Ela está por todo lugar, toca nossos sentidos e emoções, conta uma história. Deste
modo, este artigo tem como objetivo analisar as transformações ocorridas na paisagem da planície litorânea do
bairro Mucuripe em Fortaleza/CE, no período de 1930 a 2000. A pesquisa tem caráter qualitativo, cuja
metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica, levantamento de dados secundário (fotos, retratos, fotografias
aéreas, imagens de satélite), e trabalho de campo. Como resultado tem-se que as pressões urbanas engendraram
forte descaracterização ambiental e social na paisagem do Mucuripe. Atualmente, a planície litorânea do bairro
Mucuripe reflete o processo global do modo de produção dominante e da apropriação espacial das zonas
costeiras. Também, verifica-se, pela análise da paisagem do Mucuripe, a contradição na produção espacial da
cidade.
Palavras chave: Categoria de Análise, Regiões Costeiras, Impactos Socioambientais.
1. Introdução
A geografia faz parte da vida humana e isso traz consigo a popularidade de termos e
conceitos científicos em nossa linguagem, como acontece com o conceito de paisagem. Além
do cotidiano, este conceito é bastante utilizado em várias ciências, como Geografia,
Sociologia, História, Biologia, por exemplo, e isto o torna polissêmico, porém não o
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desqualifica, tornando-o mais rico. Santos (2008), afirma que a paisagem está por todo lugar,
possui cores, volumes, odores, sons, funções, etc., toca nossos sentidos e emoções, conta uma
história.
O conceito sobre paisagem evoluiu ao longo da história, tornando também categoria
de análise da ciência geográfica. Este conceito remete a combinação dinâmica de elementos
físicos, biológicos e sociais reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazendo da paisagem
um conjunto único e indissociável, em constante evolução no tempo e no espaço
(BERTRAND, 1969). Com isso, a natureza é transformada culturalmente pelos sistemas
técnicos, que agregam e, materializam no espaço formas-conteúdo e que pode ser apreendido
na paisagem (CARLOS, 2002, p.39). Para Santos (2008), a paisagem remete ao conjunto
heterogêneo de formas naturais e artificiais, formada por frações de ambas.
A paisagem, enquanto categoria de análise, torna-se fundamental para o entendimento
da complexidade da produção do espaço geográfico, na busca por entender o modo de ser de
uma dada paisagem. Pois, conforme Bernardes (2015), as categorias de análise são
necessárias como formas fundamentais do pensamento para o conhecimento da realidade,
sendo utilizadas para distinguir a maneira como os fenômenos se apresentam. Neste caso,
buscando compreender o modo de ser de determinada paisagem.
Dentro deste contexto, este artigo busca analisar as transformações ocorridas na
paisagem da planície litorânea do bairro Mucuripe em Fortaleza/CE, (Figura 01) no período
de 1930 a 2000. Corroborando com Mendonça (2001), a paisagem deve ser entendida como
um conceito integrador entre os aspectos físicos e humanos. A análise tem caráter qualitativo
e se baseia num referencial teórico transversal da Geografia, cujas etapas foram às seguintes:
pesquisa bibliográfica, levantamento de dados secundário (fotos, retratos, fotografias aéreas,
imagens de satélite), e trabalho de campo.
Não se tem a pretensão de propor novas metodologias ou encerrar o assunto sobre
paisagem, mas fomentar os debates a cerca de questões teóricas que envolvam este conceito e
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categoria de análise. Vale salientar, que este ensaio é uma modesta reflexão, parte do
Trabalho de Conclusão de Curso intitulado “Estudo da Paisagem da Zona Litorânea do Bairro
Mucuripe, Fortaleza – CE”, como requisito para obtenção de título de bacharel em Geografia
pela Universidade Federal do Ceará.
Figura 01 - Localização da área de estudo.
2. Compreendendo a Paisagem do Mucuripe
A paisagem depende da visão humana, e de suas diversas maneiras de olhar1 (RONAI,
2015). Ademais, sua percepção ocorre não somente por meio da visão, pois os homens veem a
1 Sensores orbitais, câmeras, pinturas, fotografias, etc.
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realidade do mundo que os envolve também por todos os outros sentidos (PINCHEMEL,
PICHEMEL, 1997 apud PANIZZA, 2014). Dentro desta perspectiva, a paisagem existe
através dos sentidos do homem, ou seja, sua essência depende do que chega aos nosso
aparelho cognitivo (SANTOS, 2008). Antes mesmo da elaboração do conceito e sua
utilização como categoria de análise, a noção de paisagem já estava presente na sociedade,
tanto ocidental como oriental (MAXIMIANO, 2004). Entretanto, a partir do século XVI, na
Europa, a paisagem ganhou expressão devido às pinturas de sítios, locais próximos e
particulares, como os paisagistas holandeses do século XVII (MONBEIG, 2004).
Mesmo existindo bastante controvérsia sobre o surgimento do termo paisagem, pode-
se dizer que sua origem está ligado diretamente às abordagens filosóficas positivistas
(SCHIER, 2003). Etmologicamente, o termo é encontrado em diversos idiomas: landschaft,
no alemão, paysage, no francês, landschap, no holandês (MAXIMIANO, 2004, VITTE,
2007). Logo, o termo foi sendo trabalhado como categoria na incipiente Geografia para
designar e produzir uma imagem sintética da superfície terrestre, encerrando uma conotação
espacial (VITTE, 2007). Assim tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos
superficiais e de fundo da sociedade e da natureza, isto é, “uma realidade de funcionamento
unitário, um mosaico de relações, de formas, funções e sentidos” (SANTOS, 2008, p. 67).
Anteriormente a ocupação humana, a paisagem do Mucuripe remetia a uma área
subáerea que resultou da deposição de sedimentos marinhos e fluviais. Sua configuração
envolve parâmetros relacionados com flutuações do nível relativo do mar, oscilações
climáticas e transporte de grandes volumes de areia2 e esses processos possibilitaram a
formação dos terraços marinhos holocênicos, das praias atuais e das rochas de praia
(MEIRELES, SILVA, RAVENTOS, 2001). Apresenta aspecto geral em forma de enseada,
com contínua faixa de praia e sucessão de dunas de areia, no sentido SE e expostas ao vento
2 Referentes aos últimos 5.000 anos AP, período da última fase glacial, quando o nível do mar atingiu
aproximadamente 110m abaixo da cota atual.
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de NE e SE (MORAIS, 1967). Estudos comprovam que este pacote sedimentar, na área de
estudo, tem profundidade de 25 metros (MORAIS, 1981).
A faixa de praia tem origem relacionada aos processos de regressão marinha durante o
Holoceno, bem como pela ação das ondas, marés, correntes com disponibilidade de
sedimentos em deriva litorânea e conformação morfológica da zona costeira. Sobre esses
sedimentos ocorre alinhamento rochoso descontínuo, abaixo de linha de preamar, estando,
preferencialmente, próximo da desembocadura do riacho Maceió. Estas arranjam um depósito
contínuo, alongado, desde a linha de maré baixa até a base das dunas móveis, de areias de
granulação média a grossa, com presença de beach rocks ou arenitos de praia (MORAIS,
1981, BRANDÃO, 1998).
As principais características geomorfológicas da área estão relacionadas com a ação
das ondas, das marés e dos ventos, além das interferências humanas. Estes foram responsáveis
pela contínua transformação morfológica no perfil de praia e no campo de dunas (SOUZA, et
al., 2009). O bloqueio do transporte de sedimentos, iniciado pelas barracas de lazer dispostas
na Praia do Futuro e, mais adiante, pelas avenidas, ruas e edificações, associado à construção
do porto do mucuripe impediram a reposição desse material para o sistema praial aumentando
a curvatura de sua enseada (MORAIS, 1981).
O Mucuripe está inserido na bacia hidrográfica da vertente marítima, cujo os
principais recursos hídricos são os Riachos Maceió e Correntes/Papicu, bem como a Lagoa do
Papicu. Tais corpos d’água encontram-se bastante degradados e descaracterizados
(FORTALEZA, 2003). Quase nada restou da vegetação original, mas nos tempos passados
apresentava-se a vegetação pioneira psamófila, como a salsa-da-praia (Ipomoea pés-caprae),
ocupando o pós-praia e o sopé das dunas móveis. Na composição da fauna desta paisagem
destacam-se pequenos moluscos, crustáceos e aves (FORTALEZA, 2003).
Segundo Souza et al. (2009), a área de estudo corresponde ao sistema ambiental da
planície litorânea, com os subsistemas das dunas e das praias. Esta planície é formada por
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uma estreita faixa de terras, constituída de sedimentos recém formados, de granulometria
média e origem variada, que capea os sedimentos antigos da Formação Barreiras. Apresenta
um bom potencial hídrico superficial e subsuperficial, em razão das condições climáticas, da
natureza dos terrenos e das características geomorfológicas e fitoeocológicas. Tal área sofre
ação dos processos costeiros, de erosão, transporte e deposição de sedimentos. Assim, estes
ambientes são altamente instáveis e estão submetidos aos processos de morfogênese, onde a
pedogenêse é praticamente nula (Figura 02).
Figura 02 – À esquerda, faixa de praia com presença de beach rocks e, à direita, a vegetação da planície litorânea
do Mucuripe, por volta de 1930.Fonte: https://www.facebook.com/acervomucuripe/, acesso 23/11/2018.
3. Transformações no Mucuripe: paisagem de ontem e hoje
As velas do Mucuripe
Vão sair para pescar,
(Mucuripe, Belchior e Fagner, 1972)
O termo Mucuripe tem origem tupi e significa “Caminho dos Mocós”, designando esta
área como o local onde vivem os indígenas da tribo dos Mocós. Historicamente, os
pescadores jangadeiros do Mucuripe são descendentes desses índios e aprenderam com eles a
arte de pescar, como cantam em seus versos Belchior e Fagner na canção Mucuripe. Estes
primeiros habitantes causaram alterações na paisagem. Também, se instalaram ali retirantes
vindos para Fortaleza devido às secas recorrentes no Estado (RAMOS, 2003).
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Sabe-se que a produção da paisagem é resultado da sociedade agindo sobre o próprio
espaço, por meio de objetos, naturais e artificiais (SANTOS, 2008). Este autor afirma que a
paisagem é escrita uma sobre a outra, é um conjunto de objetos que tem idades diferentes, ou
seja, uma herança de muitos momentos distintos. Dentro do recorte espaço-temporal proposto
para o trabalho, a paisagem era marcada pela presença de jangadas, coqueiros, casas de taipa
de pescadores, extensas faixas de praia (Figura 03).
Figura 03 - Casas de pescadores na década de 1930. Fonte: http://biblioteca.ibge.gov.br, acesso em 13/08/2011 e
https://www.facebook.com/acervomucuripe/, acesso em 23/11/2018, respectivamente.
Nesse momento, a paisagem do Mucuripe era marcada pela forte presença dos
jangadeiros, que moravam perto do seu local de trabalho, ou seja, do litoral. Santos (2008)
afirma que existe uma relação direta entre os instrumentos de trabalho, objetos dos mais
diversos tamanhos, que o homem cria para poder produzir, podendo ser móveis ou imóveis, e
a paisagem. À medida que estes vão se alterando, a paisagem vai sofrendo transformações.
Isto pode ser observado a partir da década de 1960 na paisagem do Mucuripe. Com a
construção do novo farol (1958), a construção da Avenida Beira-Mar (1963) e da Avenida da
Abolição (1967), o Mucuripe passou a incorporar ainda mais a cidade de Fortaleza, quando
deixou de ser distrito (RAMOS, 2003).
Antes deste conjunto de instrumentos de trabalho imóveis, a população que ali vivia
concebia ao litoral a função de moradia e, sobretudo, trabalho, sendo um prolongamento da
vida dos que ali habitavam. Aos poucos estes instrumentos de trabalho foram sendo
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suprimidos pelo processo de produção da cidade de Fortaleza. A partir da inauguração do
primeiro calçadão e o advento do automóvel, facilitando seu acesso, os fortalezenses
começaram a frequentar as praias aos finais de semana, tendo como motivação os banhos de
sol e de mar.
Dessa forma, em poucas décadas, intensificou-se a urbanização da orla do Mucuripe,
com casas de veraneio e, em seguida, com a instalação de clubes, hotéis, bares e restaurantes
(RAMOS, 2003). Se os antigos moradores residiam próximo a praia, agora eles serão
expulsos para as áreas mais interioranas. As remoções aumentaram e levavam para cada vez
mais longe os “mucuripeiros3”, implicando em perdas como nas relações de vizinhanças ou o
tempo gasto no deslocamento para o local de trabalho, o litoral.
Para Correia (1989), a paisagem urbana é produto social, sua essência é resultado das
ações combinadas dos agentes produtores e consumidores do espaço, que o torna
fragmentado, apresentando diferentes usos da terra, em razão da divisão territorial do
trabalho, criando paisagens funcionalmente distintas geradas por mudanças estruturais. Toda
essa dinâmica é percebida na paisagem do Mucuripe, que revela os diversos agentes sociais
envolvidos no processo de (re)produção da Cidade, uma vez que esse processo acontece de
forma desigual no seu espaço. Isto é visualizada na crescente ocupação, marcada pela intensa
verticalização, iniciada na década de 1970 (Figura 04).
A partir de então, os terrenos do Mucuripe começaram a valorizar-se, passando para o
uso do mercado imobiliário, da rede hoteleira e do lazer. Para Coriolano (2007), a
incorporação do litoral como espaço de ócio, implicou a configuração de atividades
econômicas que o transformassem em mercadoria capaz de ser consumida ou usada. Assim,
passou-se a consumir o sol, o mar, o verde, mas também as terras litorâneas. E assim, a
paisagem do Mucuripe passa a ser transformada para satisfazer a necessidade de outra classe
social e de outras atividades. Isso porque os recursos naturais, neste caso os subsistemas
3 Morador antigo do Mucuripe, que tem relação de identidade com esta paisagem (RAMOS, 2003).
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ambientais da faixa de praia e das dunas móveis, na contemporaneidade, passaram a ser um
produto ofertado para os turistas, pois, a natureza é uma oferta turística, como frisa a autora
supracitada.
Figura 04 – Fotos do início da verticalização do Mucuripe década de 1970 e 1980, respectivamente. Fonte:
https://www.facebook.com/acervomucuripe/ e http://fortalezanobre.blogspot.com, acesso em 23/08/2011,
respectivamente.
Para Ramos (2003), a inserção do turismo no Mucuripe provocou um impacto muito
forte na comunidade que ali vivia, gerando o abandono da atividade tradicional da pesca e um
novo ordenamento litorâneo do Mucuripe. Todas estas transformações implicaram uma
concentração econômica no setor comercial e de serviços que expressa uma mudança de usos
e funções. Fruto dos níveis de articulações cada vez mais intensas, a Cidade de Fortaleza e,
também o Mucuripe, vão se transformando em lugar de consumo, sobretudo, para
estrangeiros e turistas. Este é o processo de litoralização, que incorpora o litoral ao mercado
de terras e a indústria do turismo, implicando uma intensa urbanização do litoral (DANTAS,
2009). Como resultado tem-se que as pressões urbanas engendraram forte descaracterização
ambiental e social na paisagem do Mucuripe (Figura 05).
Atualmente, o Mucuripe reflete o processo global do modo de produção dominante e
da apropriação espacial das zonas costeiras. Assim, na paisagem do Mucuripe verifica-se a
contradição na produção da cidade: segregação socioespacial. Observa-se na paisagem do
Mucuripe ricos e pobres, turistas e “nativos”, casas de alto padrão ou edifícios e favelas. Com
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a valorização da zona litorânea, as pessoas que moravam nas praias venderam suas casas,
outras foram expulsas, o que as obrigou a residirem nos morros, em favelas ou em bairros
adjacentes (RAMOS, 2003). Oliveira e Oliveira Neto (2014) apontam a existência de dois
aglomerados subnormais no bairro Mucuripe, revelando a desigualdade socioespacial do
bairro. Segundo o IBGE (2010), estes aglomerados subnormais são recortes territoriais
específicos, constituído total ou parcialmente por no mínimo 51 unidades habitacionais densas
e desordenadas, carentes de serviços essenciais e com ocupação ilegal da terra.
Figura 05 – À esquerda, paisagem na década de 1950 e, à direita, na década 2000. Fonte:
http://fortalezanobre.blogspot.com e http://www.fortalezabeaches.com/hoteis-em-Fortaleza.html e, acesso em
30/08/2011, respectivamente.
Deste modo, analisando a paisagem do Mucuripe podem-se ver diversos processos
históricos e sociais a transformaram ao longo dos anos. Os extensos coqueirais e as inúmeras
velas de jangadas foram suprimidos da paisagem, porém, os pescadores, ainda se encontram
lá, por trás e em meio aos grandes prédios a beira mar. Conforme afirma o pescador no
documentário “Jurema, terra de pescador”: “mucuripe é o porto seguro do pescador e a praia é
o ponto de apoio da pesca artesanal [...] nós chega do mar, do trabalho, ai vem se divertir
aqui, porque gosta da praia” GURGEL (2014).
4. Considerações Finais
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Para a ciência geográfica, a paisagem é um dos conceitos fundamentais, mormente, em
Geografia Física. Sabe-se, da dilatação conceitual que envolve a paisagem, permitindo, assim,
diferentes acepções. No entanto, percebeu-se que a categoria de análise paisagem assume
caráter integrador em Geografia, sendo de grande valor para a sistematização e
enriquecimento dos conhecimentos que envolvem o conceito de paisagem.
Com o decorrer da pesquisa, observou-se que o conceito de paisagem foi fundamental
para o entendimento/compreensão das transformações ocorridas na paisagem estudada.
Percebeu-se que a paisagem da planície litorânea do bairro Mucuripe é um processo fruto de
relações naturais e sociais. O processo de produção desta paisagem e apropriação do litoral do
Mucuripe tem sido marcado por constantes intervenções espaciais, ligadas a um conjunto de
estratégias políticas, imobiliárias e financeiras verificadas ao longo do tempo.
Conclui-se que a paisagem do Mucuripe sofreu transformações significativas. Antes,
o litoral apresentava uma extensa faixa de praia com extensos coqueirais, casas a beira mar e
jangadas, com dunas ao fundo. Hoje, corresponde a uma estreita faixa de praia e dunas,
totalmente urbanizadas e ocupadas pelas construções civis, engendrando um elevado potencial
erosivo da zona de praia. No que diz respeito aos complexos sociais, têm-se a
descaracterização da atividade pesqueira e a segregação socioespacial como principais
impactos visualizados no bairro.
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