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TRANSIÇÃO DO 5º PARA O 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL:
Continuidade ou ruptura pedagógica?
Cláudia Simone Gonçalves Conceição1
Edmilson Lenardão2
Resumo
Diante de problemas como a dificuldade do ensino aprendizagem e da adaptação surge à necessidade de preparar os professores com reflexões, embasamento teórico para entender e conhecer a continuidade do processo pedagógico, já que as escolas estaduais recebem alunos da rede municipal. Apesar do domínio do conteúdo e prática dos professores diversificando suas metodologias e estratégias de ensino, o entrave nos parece ser a transição do quinto para o sexto ano do ensino fundamental. Ao término do trabalho desenvolvido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional os docentes do ensino fundamental deverão ser capazes de perceber as diferenças conceituais e pedagógicas existentes entre as duas etapas do Ensino Fundamental e estar preparados para exercitar uma continuidade pedagógica entre o primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental. Será realizado levantamento de dados da realidade escolar e levantamento bibliográfico promovendo junto aos docentes do Ensino Fundamental a reflexão sobre as diferenças conceituais, curriculares e dos Projetos Político Pedagógico existente entre os dois modelos públicos da Educação Básica, refletindo sobre a concepção histórico-crítica e o enfrentamento no campo educacional dos problemas decorrentes na transição do quinto para o sexto ano do Ensino Fundamental, tendo como parâmetro a função social da escola. Palavras-chave: Educação Básica. Ensino Fundamental. Transição do 5º para o 6º ano.
INTRODUÇÃO
O Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) possibilitou o estudo do
presente estudo sobre a Transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental.
Como um dos seus objetivos está a reflexão teórica que poderá permitir aos
professores serem capazes de perceber as diferenças conceituais e pedagógicas
existentes entre os dois ciclos do Ensino Fundamental e estar preparados para
exercitar uma continuação pedagógica entre eles.
Tomando como função da escola proporcionar aos alunos a aquisição dos
instrumentos que possibilitam acesso ao saber elaborado (ciência), bem como os
rudimentos desse saber (SAVIANI, 2000) devemos organizar currículos priorizando
e destinando tempo maior ao processo de transmissão e assimilação do
conhecimento produzido socialmente.
1 Professora Pedagoga da Rede Estadual de Educação do Paraná, participante do PDE/2012.
2 Professor do Departamento de Educação da Universidade Estadual de Londrina, orientador do
Trabalho.
Portanto, uma das tarefas que se colocam é preparar os professores por meio
de embasamento teórico para que entendam a ruptura pedagógica da transição do
5º para o 6º ano do Ensino Fundamental e deem continuidade ao ensino-
aprendizagem.
Consideramos que não deva ocorrer o “fim” do 1º ciclo e “início” do 2º ciclo,
mas sim a continuidade do processo pedagógico, para que haja maior integração e
assimilação por parte dos alunos; uma vez que ambas: (Rede Municipal e Estadual)
pertencem à etapa da Educação Pública Básica.
É necessário que os docentes das redes Municipal e Estadual reflitam sobre
os problemas decorrentes da transição do 5º para o 6º ano no Ensino Fundamental;
tendo como parâmetro a compreensão da função social da escola, assim como as
opções pedagógicas à sua disposição para contribuir na melhoria da qualidade de
ensino.
1 REFLEXÕES SOBRE OS PROBLEMAS DECORRENTES DA TRANSIÇÃO DO
5º PARA O 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Após varias reuniões e práticas pedagógicas no colégio Estadual Professora
Cléia Godoy Fabrini da Silva - Ensino Fundamental e Médio percebeu-se que, para
melhoria da qualidade do ensino-aprendizagem, necessitava-se de reflexões a
respeito de como se trabalhar os conteúdos, evitando a ruptura entre o 5º e o 6º ano.
A implementação pedagógica de nosso Projeto do PDE na escola apresentou
como uma das ações a organização de um Grupo de Estudos realizado junto a
professores das redes públicas de ensino Municipal e Estadual, e teve como objetivo
refletir acerca das diferenças conceituais dos Projetos Político-Pedagógicos das
redes. Tal reflexão visou a melhoria do trabalho pedagógico desenvolvido com os
alunos do 6º ano do Ensino Fundamental.
Para verificar qual (ou quais) a tendência pedagógica presente nas redes
Municipal e Estadual, foi aplicado questionário aos professores. Observou-se, pelo
resultado, que não houve uma única concepção pedagógica que embasasse o
trabalho docente nas diferentes redes, bem como não houve clareza por parte dos
professores sobre quais concepções pedagógicas norteiam o seu trabalho e se as
mesmas eram fiéis ou não ao modelo proposto pela mantenedora.
Diante dessas observações, optou-se pela proposição do Grupo de Estudos
“A Transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental: Consequências da
Diferença dos Projetos Políticos Pedagógicos das Redes Municipal e Estadual”, que
refletiu sobre as concepções pedagógicas presentes nas Redes de Ensino dentre
elas: Pedagogia Tradicional, Escolanovismo, Pedagogia Histórico-Crítica,
Construtivismo, Pedagogia das Habilidades e Competências. Essa reflexão
pretendeu:
a) Dar aos professores condições de, à luz dos textos estudados, diagnosticar
a presença daquelas concepções nos Projetos Político-Pedagógicos das
escolas e em suas práticas, mapeando as diferenças e similitudes
existentes;
b) Permitir aos professores refletirem sobre a possibilidade de melhoria da
qualidade do ensino, especialmente na transição do 5º para o 6º ano, caso
se adotassem concepções e práticas pedagógicas mais próximas (entre as
redes de ensino).
O Grupo de Estudos foi realizado no período de dois de março a 18 de maio
de 2013 em seis encontros com quatro horas de duração cada e mais oito horas
destinadas à leitura prévia dos textos utilizados, perfazendo um total de 32 horas de
duração. Participaram 18 docentes, sendo cinco da Rede Municipal e 13 da Rede
Estadual.
1.1 Análises e Reflexões no Grupo de Estudos
Para melhor análise e reflexão do tema, serão abordados textos de Moraes
(2009), Forquin (2000), Saviani (2000), Arendt (1979), Young (2007) e Duarte
(1998), uma vez que esses autores apresentam ideias similares e claras sobre a
função social da escola. Deste conteúdo pretendemos extrair as consequências para
pensar na matriz pedagógica do Ensino Fundamental sem rupturas na Transição do
5º para o 6º ano.
O primeiro encontro, portanto, refletiu sobre as ideias de Moraes (2009).
A autora denuncia que o conhecimento e a ciência estão sob ameaça,
notadamente as ciências humanas e sociais. O contexto de ceticismo
epistemológico e de relativismo ontológico que hoje nos cerca compromete
acentuadamente a capacidade de as ciências superarem suas próprias antinomias,
tanto no plano explanatório e como no enfrentamento prático de seus problemas
(MORAES, 2009, p. 586).
O filósofo Christopher Norris (apud MORAES, 2009, p. 587) detalha as
consequências positivas e negativas da teoria. Por um lado, a teoria pode acentuar o
ceticismo generalizado sobre o conhecimento, a verdade e a justiça, tornando-os
sem sentido e em decorrência, introduzir uma boa dose de irracionalismo, cinismo e
niilismo como é o caso das várias correntes que compõem a agenda pós-moderna.
Contudo, em seu lado positivo a teoria pode nos oferecer as bases racionais e
críticas para rejeitar muito do que a nova direita nos apresenta como sabedoria
política realista.
Na educação, a teoria pode desnudar a lógica do discurso que, na mesma
hora em que afirma a centralidade, realiza a pragmática construção de um novo
vocabulário que ressignifica conceitos, categorias e termos, tornando-os condizentes
com os emergentes paradigmas que referenciam as pesquisas, reformas, planos e
propostas para a educação brasileira e latino-americana.
Na perspectiva da autora, o capitalismo produz forte degradação da vida
humana, verificando-se certa tendência de supressão do aprofundamento teórico
nas pesquisas na área da educação com implicações políticas, éticas e
epistemológicas. Esta tendência possui dupla vertente: em uma delas verifica-se a
crescente influência do realismo empírico, movimento que prioriza a eficiência e a
construção de um terreno consensual que reduz o horizonte da pesquisa e da
formação docente ao saber tácito, à prática instrumental, plasmando-se o processo
cognitivo no interior de limites que se definem pela formatação da capacidade
adaptativa dos indivíduos e pela narrativa descritiva da experiência (MORAES, 2009,
p. 587).
Observa-se, na outra vertente um aspecto mais grave: o embaralhamento
entre ceticismo epistemológico e relativismo ontológico, de acentuado perfil pós-
moderno. Nesse caso, nossos conhecimentos são relativos, porque são sociais,
históricos, contextualizados, culturais e etc. Desse caráter transitório e relativo,
infere-se que o conhecimento não pode ser objetivo, será sempre um ponto de vista
individual e cultural.
Nessa perspectiva cética e relativista, o mundo social é esvaziado de
qualquer dimensão estrutural duradoura que apenas o esforço teórico pode alcançar
(MORAES, 2009, p. 588). Por conseguinte, a teoria que se constrói, nivelada em seu
conjunto por indiferenciado relativismo, restringe-se a descrever e, quando muito a
nomear as formas fenomênicas do cotidiano. A sociedade não existe de forma
independente da atividade humana, mas não é o produto da atividade humana. O
mundo social é estruturado, diferenciado, e está em mudança, enfim, é histórico
(MORAES, 2009, p. 596).
Segundo Moraes (2009) o processo histórico crítico do conhecimento
científico nos ensina a capacidade emancipatória da teoria, que nos torna
conscientes de nosso papel de educadores que não ignoram que a transmissão do
conhecimento e da verdade dos acontecimentos é um instrumento de luta e tem a
função de mediação na apreensão e generalização de conhecimentos sobre a
realidade objetiva, sob a perspectiva do domínio sobre a realidade segundo as
exigências humanas. “Está fora de questão qualquer proposta de desqualificar a
experiência dos docentes em sala de aula, o desenvolvimento de seu saber tácito, o
aprimoramento de sua percepção da prática cotidiana” (MORAES, 2009, p. 593).
A teoria deve estar associada à experiência, deve-se fazer um paralelo entre
o conhecimento teórico e a experiência docente. A autora relata que o empírico está
sendo deixado de lado. Porém, assevera, devemos retomar o conhecimento
científico aliado à experiência, valorizando o profissional. Corrobora aqui, o que
defende Saviani (2000), para quem o conhecimento escolar deve estar em primeiro
plano sendo transmitido, o conhecimento clássico sistematizado ensinado no
ambiente escolar.
No segundo encontro do grupo são apresentadas as ideias de opiniões de
Forquin (2000).
O autor conceitua o currículo a partir de pensadores relativistas e
universalistas, nos auxiliando a relacionar os conceitos à fundamentação dos
Projetos Político-Pedagógicos das escolas.
Currículo, para o autor, é entendido como:
[...] tudo que é suposto de ser ensinado ou aprendido, segundo uma ordem determinada de programação e sob a responsabilidade de uma instituição de educação formal, nos limites de um ciclo de estudos (FORQUIN, 2000, p. 48).
Para o autor as escolas e professores devem oferecer a cada aluno a
possibilidade de compreender a multiplicidade das vozes que se falam no mundo
como uma polifonia cristalina (FORQUIN, 2000, p. 47). O currículo relativista traz
como pressuposto a relatividade de valores e a cultura, de acordo com o seu tempo
e lugar.
A opção por determinados conteúdos se faz mediante a fusão entre o
conhecimento científico e o histórico (entendido como o que se está vivendo),
oportunizando ao indivíduo o espírito crítico face aos acontecimentos nos quais está
inserido. Mostrar a funcionalidade do conteúdo e sua utilidade.
A cultura escolar é a cultura geral, faz a transmissão dos saberes públicos e
de conhecimentos, que está aberta a todo desenvolvimentos cognitivo possível. No
pensamento universalista a cultura é aberta, flexível e capaz de se estender
infinitamente (FORQUIN, 2000, p. 58).
O ensino multicultural está baseado nas multifaces de culturas, costumes,
padrões, não diz só do lugar em que o aluno está inserido, mas também do mundo
que o cerca. Ele é possível em nossas escolas considerando que o aluno já faz
parte dessa cultura de acordo com a temática vivida pela comunidade ou país.
Forquin (2000) explica que este ensino somente ocorrerá quando forem realizadas
escolhas pedagógicas éticas ou políticas.
Isto é, se na escolha dos conteúdos, dos métodos e dos modos de organização do ensino, levar em conta a diversidade dos pertencimentos e das referências culturais dos grupos de alunos a que se dirige, rompendo com o etnocentrismo explícito ou implícito que está subentendido historicamente nas políticas escolares “assimilacionistas” discriminatórias e excludentes (FORQUIN, 2000, p. 61).
A função social da escola é, além de proporcionar a aquisição dos
instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado, proporcionar um espaço
educativo pedagógico. Aqui, mais uma vez o autor se aproxima das ideias de
Saviani (2000). O texto deste autor foi discutido no terceiro encontro. Para ele,
A função da Educação Escolar é proporcionar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado que é a ciência, clássico e não ao conhecimento espontâneo.
[...] o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das
formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, 2000, p. 17-19).
Para Saviani (2000) o currículo é o conjunto das atividades desenvolvidas
pela escola. As atividades de transmissão do conteúdo escolar clássico,
sistematizadas são nucleares no currículo. É a partir do saber sistematizado que se
estrutura o currículo da escola, o acesso ao saber elaborado.
Podem ocorrer trocas que fazem com que o secundário (atividades
extracurriculares) ocupe o lugar do que é principal na atividade escolar. Portanto, os
educadores precisam distinguir os conteúdos essenciais dos secundários.
A escola não pode se tornar uma agência a serviço de interesses
corporativistas ou clientelistas. Um currículo sério, baseado no saber elaborado,
constitui a razão de ser da escola.
A escola deve ensinar como o mundo é, e não instruir na arte de viver.
Independente da classe social, todos os alunos devem ter a mesma qualidade de
ensino.
As atividades extracurriculares só têm sentido na medida em que possam enriquecer as atividades curriculares, com isso não perdemos de vista a distinção entre o que é principal e o que é secundário (SAVIANI, 2000, p. 21).
A escola trabalha com o saber sistematizado. Não se trata, pois de qualquer
tipo de saber. A escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao
conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à
cultura erudita e não à cultura popular (SAVIANI, 2000, p. 19).
Devemos destinar maior tempo ao processo de transmissão assimilação de
conhecimentos sistematizados, não perder de vista a atividade nuclear da escola.
Ora, o saber dosado e sequenciado para efeitos de sua transmissão assimilação no
espaço escolar, ao longo de um tempo determinado, é o que nós convencionamos
chamar de “saber escolar” (SAVIANI, 2000, p. 23).
Faz-se necessário possibilitar as condições de sua transmissão e
assimilação, dosando e sequenciando a aprendizagem de modo que a criança
percorra gradualmente o caminho rumo ao domínio do conhecimento.
A compreensão da natureza da educação enquanto um trabalho não material cujo produto não se separa do ato de produção nos permite situar a
especificidade da educação como referida aos conhecimentos, ideias, conceitos, valores, atitudes, hábitos, símbolos sob o aspecto de elementos necessários à formação da humanidade em cada indivíduo singular, na forma de uma segunda natureza, que se produz, deliberada e intencionalmente, através de relações pedagógicas historicamente determinadas que se travam entre os homens (SAVIANI, 2000, p. 28).
Não fazem parte da função social específica da escola o assistencialismo,
dejejum, entrega do leite, relacionar-se com as famílias ou formação moral das
crianças. A família deve preparar os filhos para a escola com a ajuda dela e não a
escola se preparar para receber os distintos tipos de alunos e seus múltiplos
interesses.
Arendt e suas concepções a respeito da educação foram objeto do quarto
encontro do grupo de estudos.
A escola deve ser a mediadora entre o passado e o futuro, considerando a
necessidade da educação formal priorizar a cultura para o desenvolvimento do ser
humano.
O papel desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, a partir dos tempos antigos, mostra o quanto parece natural iniciar um novo mundo com aqueles que são por nascimento e por natureza novos. Por esse motivo na Europa, de que se deve começar das crianças se se quer produzir novas condições, permaneceu sendo principalmente os monopólios dos movimentos revolucionários de feitio tirânico que, ao chegarem ao poder, subtraem as crianças a seus pais e simplesmente as doutrinam. A educação não pode desempenhar papel nenhum na política, pois na política lidamos com aqueles que já estão educados (ARENDT, 1979, p. 225).
Elucida Arendt (1979, p. 234) que a educação está entre as atividades mais
elementares e necessárias da sociedade humana, que jamais permanece tal qual é,
se renova continuamente através do nascimento, da vinda de novos seres humanos.
Esses recém-chegados, além disso, não se acham acabados, mas em estado de vir
a ser. Assim, a criança, objeto da educação, possui para o educador um duplo
aspecto: é nova em um mundo que lhe é estranho e se encontra em processo de
formação; é um novo ser humano e é um ser humano em formação.
Mas a criança é nova em relação a um mundo que existia antes dela, que
continuará após sua morte e no qual transcorrerá sua vida. Os pais, não apenas
trouxeram seus filhos à vida, mas simultaneamente os introduziram em um mundo.
Eles assumem na educação a responsabilidade pela vida e desenvolvimento da
criança e pela continuidade do mundo.
O ensino será conduzido de novo com autoridade; o brinquedo deverá ser interrompido durante as horas de aula, e o trabalho sério retomado; a ênfase será deslocada das habilidades extracurriculares para o conhecimento prescritos no currículo; fala-se mesmo, por fim, de transformar os atuais currículos dos professores de modo que eles mesmos tenham de aprender algo antes de se converterem em negligentes para com as crianças (ARENDT, 1979, p. 233).
A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo e ser capaz de
instruir os alunos acerca deste. Porém, sua autoridade se assenta na
responsabilidade que assume por este mundo (ARENDT, 1979, p. 239).
Em todo caso, todavia, o educador esta aqui em relação ao jovem como representante de um mundo pelo qual deve assumir a responsabilidade, embora não o tenha feito e ainda que secreta ou abertamente possa querer que ele fosse diferente do que é (ARENDT, 1979, p. 239).
A partir do momento em que os adultos recusam a autoridade de ensinar,
deixam de assumir a responsabilidade pelas crianças que trouxeram ao mundo. O
professor, por sua vez, deve conhecer o mundo e ser capaz de transmitir
conhecimento científico, para que os alunos não sejam mais estrangeiros no mundo.
No quinto encontro, a visão Young (2007) foi objeto de reflexão. Para o autor,
as escolas devem capacitar jovens a adquirir o conhecimento que, na maioria das
vezes, não pode ser adquirido em casa ou na comunidade, e pelos adultos, em seus
locais de trabalho. Segundo argumenta, a escola deve transmitir o “conhecimento
poderoso”, o que este conhecimento é capaz de fazer. Por exemplo, fornecer
explicações confiáveis ou novas formas de se pensar a respeito do mundo.
As escolas precisam de professores com conhecimento especializado; elas
devem considerar seriamente a base de conhecimento do currículo mesmo quando
isso parecer ir contra as demandas dos alunos e às vezes de seus pais.
A escolaridade envolve o fornecimento ao conhecimento especializado
incluso em diferentes domínios. As questões centrais sobre o currículo envolverão:
a) As diferenças entre formas de conhecimento especializado e as relações
entre elas.
b) Como esse conhecimento especializado difere do conhecimento que as
pessoas adquirem no seu cotidiano.
c) Como o conhecimento especializado e o cotidiano se relacionam entre si.
d) Como o conhecimento especializado é tratado em termos pedagógicos. Em
outras palavras, como ele é organizado ao longo do tempo, selecionado e
sequenciado para diferentes grupos de alunos (YOUNG, 2007, p. 1295).
Para isso as escolas terão que se envolver com especialistas de base
universitária, para a seleção, o sequenciamento e o inter-relacionamento de
conhecimento, em vários campos. As escolas precisarão da autonomia necessária
para desenvolver esse conhecimento, preservar suas condições estáveis e a
aquisição de “conhecimento poderoso” (YOUNG, 207, p. 1294).
As escolas devem promover a igualdade social, o currículo precisa ser um
meio para que nossos alunos adquiram o conhecimento poderoso, ou seja, erudito,
clássico e cultural. Deve haver classificação entre o conhecimento forte e fraco, para
que os conteúdos não fiquem isolados e os alunos possam adquirir o conhecimento
poderoso, que poderá levar à autonomia necessária para o desenvolvimento cultural
e profissional.
No sexto e último encontro, trabalhou-se com texto de Duarte (1998). Para
esse autor, o trabalho educativo está entre a essência humana abstrata e a
existência empírica. A essência abstrata é recusada na medida em que a
humanidade (as forças essenciais humanas) é conhecida como cultura humana
objetiva e socialmente existente, produto da atividade histórica dos seres humanos.
O autor se remete a Saviani.
O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI, apud DUARTE, 1998).
O trabalho educativo atinge a sua meta quando o indivíduo singular apropria-
se da humanidade produzida histórica e coletivamente, o indivíduo apropria-se dos
elementos culturais para a sua formação como ser humano e à sua humanização. A
referência fundamental é o quanto o gênero humano conseguiu se expandir no
decorrer do processo histórico.
De acordo com Duarte (1998), as concepções negativas em relação ao ato de
ensinar manifestam-se em três exemplos: 1º Teoria crítico-reprodutivista afirma que
a escola capitalista reproduz as relações sociais dominantes (capitalistas); não há
concepção crítica nem pedagogia. Esta teoria conclui que nas sociedades
capitalistas as escolas só podem servir aos membros das classes dominantes.
Quando dirigida aos dominados trabalhará no sentido da manutenção de sua
condição de classe.
2º Pedagogia da Escola Nova contrapondo-se à Escola Tradicional, que tinha
como centro do processo educativo a transmissão de conteúdos pelo professor. A
Escola Nova coloca o aluno e o ato de “aprender a aprender” como centro do
processo educativo rebaixando o nível de ensino destinado às classes populares.
3º O Construtivismo, respaldado em teorias psicológicas que valorizam as
aprendizagens que o individuo realiza sozinho.
É interessante notar que tanto no Construtivismo como na Escola Nova, assumiram um acento de valor claramente negativo ao verbo ensinar e à expressão “transmissão de conhecimentos”. O professor é reduzido a um “animador”, a alguém que fornece condições para que o aluno construa por si mesmo o conhecimento. Para não ser reduzido a um mero enfeite do processo educativo, pode até “eventualmente”, fornecer alguma orientação para o aluno (DUARTE, 1993, p. 4).
Quanto aos posicionamentos positivos em relação ao ato de ensinar
exemplifica a escola transmissora do saber sistematizado, valorizando processo de
ensino. O docente não pode ser um animador, deve transmitir à criança aquilo que
ela não consegue aprender sozinha.
A função da escola é a transmissão de conhecimento sistematizado, do saber
clássico, mantendo-se crítica em relação à formação dos seres humanos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após análise e discussões das ideias dos autores e os Projetos Político
Pedagógicos das escolas das redes Municipal e Estadual percebeu-se que a
tendência pedagógica da rede Municipal e, marcadamente, construtivista, e que
outras tendências estão presentes. No construtivismo, como estudado, o aluno é
levado a construir seu próprio conhecimento, sendo o professor o mediador entre os
interesses do estudante e as atividades escolares.
Na rede Estadual a tendência pedagógica preponderante é a Histórico-
Crítica, tendo como base a transmissão do saber universal, respeita a diversidade
social e visa uma sociedade emancipada das diferentes formas de dominação.
Entretanto, ficou claro no grupo, que há docentes da Rede que não seguem essa
tendência.
Na esteira dos apontamentos dos textos estudados, também se concluiu que
a rede Municipal segue a concepção relativista de currículo, enquanto a rede
Estadual tende para o currículo universalista, no qual as atividades extracurriculares
não devem ser o componente principal.
Após a conclusão do grupo de estudos, alguns fatores que dificultam a
transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental foram identificados. Dentre
eles temos sim a diferença entre as tendências pedagógicas orientadoras das Redes
Municipal e Estadual; falta de conhecimento teórico sobre as concepções
pedagógicas e sua relação com o tipo de homem e sociedade buscados pelas
escolas, por parte de muitos professores; preferências docentes quanto ao trabalho
com alunos maiores; duração curta das aulas (50 minutos); imaturidade dos alunos;
ausência de uma relação escola-família que deixe claro e auxilie as famílias a
participarem “pedagogicamente” da vida escolar das crianças; diferenças na
estrutura e funcionamento das escolas das redes Municipal e Estadual.
Do ponto de vista da manifestação dos alunos do 6º ano, na coleta de dados
que realizamos foi possível perceber que a queixa apresentada quanto à dificuldade
de lidar com os conteúdos deste ano escolar se comparados com os do ano anterior,
reitera a relevância de atentarmos para a diferença entre teoria e prática das
diferentes redes e sua implicação negativa na continuidade pedagógica.
Para o enfrentamento, no campo pedagógico, dos problemas decorrentes da
transição do 5º para o 6º ano do Ensino Fundamental algumas sugestões foram
levantadas no presente trabalho: aprofundamento de estudos sobre as tendências
pedagógicas das redes Municipal e Estadual; ampliação dos momentos de reflexão
sobre as diferenças conceituais e curriculares existentes entre os dois modelos
públicos de Educação Básica; estudo dos Projetos Político-Pedagógicos das redes
Municipal e Estadual visando conhecer e modificar os aspectos pedagógicos
divergentes; implementar estratégias de adaptação física e pedagógica para os
alunos da rede municipal que cursam o 5º anos e frequentarão a Rede Estadual;
orientação às famílias sobre as distintas concepções pedagógicas das redes e suas
implicações acadêmicas; implementar ações que favoreçam a sondagem
diagnóstica, permitindo a professores da Rede Estadual familiarizar-se com o
público que receberá e incorporar estes dados ao planejamento.
No Ensino Fundamental l e ll, os conteúdos e metodologias precisam ser
melhor estabelecidos para que os alunos não sejam prejudicados com as
divergências de concepções entre uma fase e outra.
Segundo os professores que participaram do Grupo de Estudos, não existem
atualmente ações planejadas visando o favorecimento da continuidade pedagógica
na transição do 5º para o 6º ano. Houve discordância da política da alfabetização da
rede Municipal que não permite mudanças nos anos iniciais, o que impede aos
alunos que amadureçam para avançar, mantendo certa discrepância em algumas
turmas cujos alunos despreparados academicamente prosseguem aos anos
seguintes.
A oportunidade, proporcionada pelo PDE, de podermos conhecer melhor as
temáticas aqui tratadas, bem como sobre diversas outras pautadas nas atividades
de formação na instituição de ensino superior, e propor ações no sentido de
solucionar alguns problemas enfrentados na educação básica, sem dúvida trouxe
grande contribuição formativa e certamente nos ajudará a melhorar nossas ações e
a dos colegas que trabalham ao nosso lado rumo a uma escola pública de melhor
qualidade para todos aqueles que por ela passarem.
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A Crise na Educação. In:______ Entre o Passado e o Futuro. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 229-247. DUARTE, Newton. A individualidade para si(contribuição a uma teoria histórico-social da formação do indivíduo).Campinas: Autores Associados,1993. ______. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Caderno CEDES. Campinas, São Paulo, v. 9, n. 44, abril/1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-326219980001000&script=sci_arttext>. Acesso em: 25 nov. 2012. FORQUIN, Jean-Claude. O Currículo entre o Relativismo e o Universalismo. Educação & Sociedade. Campinas, São Paulo, v. 21, n. 73, dez.2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v21n73/4205.pdf> Acesso em: 25 nov. 2012.
LONDRINA. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Escola Municipal “Dr. Claudio de Almeida e Silva” – Educação Infantil e Ensino Fundamental, Londrina, Paraná, 2012. PARANÁ. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO. Colégio Estadual Profª Cléia Godoy Fabrini da Silva – Ensino Fundamental e Médio, Londrina Paraná, 2012. MORAES, Maria Célia Marcondes de. A Teoria Tem Consequências: Indagações sobre o Conhecimento no Campo da Educação. Educação & Sociedade. Campinas, São Paulo, v. 30, n. 107, maio/ago. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v30n107/14.pdf>. Acesso em: 25 nov. 2012. SAVIANI, Dermeval. Sobre a Natureza e Especificidade da Educação. In:______ Pedagogia Histórico-crítica: Primeiras Aproximações. 7. ed. Campinas, São Paulo: Autores Associados, 2000. p.15-28. YOUNG, Michael. Para que Servem as Escolas? Educação & Sociedade. Campinas, São Paulo: v. 28, n. 101, set/dez.2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10. 1590/S0101-73302007000400002>. Acesso em: 02 jun. 2012.