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UNIVERSIDADE TUIUTI JANIELI FERREIRA DA SILVA TRANSTORNOS DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UMA ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS CURITIBA MARÇO 2009

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UNIVERSIDADE TUIUTI

JANIELI FERREIRA DA SILVA

TRANSTORNOS DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UMA

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

CURITIBA

MARÇO 2009

JANIELI FERREIRA DA SILVA

TRANSTORNOS DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UMA

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS

Artigo de pós-graduação em Psicopedagogia

apresentado à banca examinadora da

Universidade TUIUTI.

Profª Orientadora: Berenice Marie Ballande

Romanelli, mestre em Educação UFPR.

CURITIBA

MARÇO 2009

TRANSTORNOS DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE: UMA

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS.

RESUMO

A presente pesquisa tem por objetivo analisar os critérios diagnósticos de Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), verificando o risco e as conseqüências que, este pode trazer quando realizado equivocadamente. Os diagnósticos, quando a criança realmente sofre de TDAH, são muito importantes, uma vez que verificado o problema, poder-se-á orientar e oferecer uma melhora na qualidade de vida da criança e de seus familiares. Por outro lado, um diagnóstico mal elaborado que não leve em consideração todos os meios em que a criança vive pode levar a conseqüências prejudiciais. Salienta-se a importância do diagnóstico do TDA/H ser multidisciplinar e complexo.

Palavras-chave: Transtorno do Déficit de Atenção; Psicopedagogia; Diagnóstico

ABSTRACT

This search aims to examine the criteria of Attention Deficit-hyperactivity Disorder, (ADHD) the risk and the consequences that a wrong diagnosis can bring. The diagnostics, when the child really suffering from ADHD, are very important, becouse diagnosed the problem and it knowledge and it will guide and offer an improvement in quality of life of the child and their families. On the other hand, a diagnostic badly drafted not consider that the child lives can lead to harmful consequences. We emphasize the importance of the diagnosis of ADHD be multidisciplinary and complex Key words: Attention deficit-hyperactivity disorder; Psicopedagia; Diagnosis

ASPECTOS INTRODUTÓRIOS

Em minha experiência profissional, deparei-me com algumas crianças que,

segundo seus pais, sofriam de TDAH. Porém, no ambiente escolar, estas crianças

demonstravam um comportamento diferente daquele presente nas que realmente

sofrem de TDAH. Esta realidade despertou grande interesse no que se refere à

pesquisa uma vez que este assunto é discutido na atualidade e há muitas opiniões

divergentes a seu respeito.

Nos últimos anos, tornou-se comum, entre os pais e os professores, os

comentários de que determinada criança apresenta TDAH.

Como os sintomas apresentados por crianças com TDAH não são exclusivos

deste transtorno (PINHEIRO, 2007) pode haver um excesso de diagnósticos, quando,

na verdade, a criança apresenta os mesmos sintomas por outros motivos. Por isso, às

vezes, quando as crianças que não têm quem as dê limites estas podem ser confundidas

com crianças com TDAH.

O TDAH é um transtorno caracterizado por desatenção, impulsividade e

hiperatividade, que traz sofrimento para a criança e as pessoas do seu meio.

As crianças que apresentam os sintomas são, em muitos casos, rejeitadas pelos

amigos, rotuladas como causadoras de cansaço aos pais e professores, além se serem

consideradas motivo de transtornos no meio acadêmico.

A situação na qual estas crianças se encontram é preocupante. Por isso surge a

necessidade de profissionais competentes que orientem a criança, seus pais e

professores para, assim, descobrir a melhor maneira de enfrentarem este problema.

Diante desta realidade, a presente pesquisa buscará demonstrar a relação

criança, em seu social, com o TDAH, a forma de como este deve ser diagnosticado e a

importância do psicopedagogo neste meio.

A realidade do TDAH é, por muitas vezes, incompreendida. O meio social que

as crianças se encontram nem sempre é o melhor para o desenvolvimento delas, o que

tem por conseqüência a facilidade de desatenção destas. Pode-se apresentar, desde já, a

realidade na qual a humanidade está inserida, onde o comportamento é aquele que tem

a característica de exigir das pessoas atitudes rápidas tanto na execução dos trabalhos,

que se multiplicam cada vez mais, quanto na necessidade de estar-se informado com as

últimas notícias e acontecimentos mundiais.

Não se pode pensar que esta realidade social não atinge as crianças que são,

também, o fruto do meio social.

Por isso, faz-se necessário uma reflexão neste momento para verificar até que

ponto, em cada criança, há ou não a presença da hiperatividade, ou, ainda, se as

características aparentes seriam apenas algo passageiro em determinada idade.

A fim de alcançar este objetivo o presente trabalho estará dividido em quatro

tópicos e uma consideração final. Os tópicos serão os seguintes: O transtorno de déficit

de atenção hiperatividade; O diagnóstico; O tratamento; O papel do psicopedagogo.

O TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO HIPERATIVIDADE

O significado do que seja o TDAH nem sempre é conhecimento de toda a

sociedade. Por isso, torna-se necessário esclarecer a questão: Mas, afinal, o que é o

transtorno de déficit de atenção/ hiperatividade?

No Dicionário da Língua Portuguesa Novo Aurélio encontra-se o verbete

Hiperatividade que designa “A qualidade de hiperativo”, apontando, também, que

hiperatividade refere-se à “Atividade excessiva” (FERREIRA, 1999, p. 1048).

Com a definição ressaltando que hiperatividade refere-se à qualidade de quem é

hiperativo, convém definir também hiperativo, que, segundo o mesmo dicionário, é um

adjetivo que dá a qualidade a algo que acontece “excessiva ou patologicamente ativo”

(FERREIRA, 1999, p. 1048). Sendo assim, percebe-se que a hiperatividade apresenta-

se, em uma primeira observação lingüística, como sendo o excesso de atividade

provocada por um agente que possui atitudes excessivas ou patologicamente ativas.

Quando vista apenas como uma definição de dicionário, a hiperatividade pode

ser compreendida apenas como uma das diversas características que estão presentes na

raça humana. Por esse motivo é oportuno o aprofundamento do significado que o

TDAH tem nos manuais de educação e psicopedagogia.

Para Celso Antunes, em seu Glossário para educadores, a hiperatividade é:

Condição infantil de atividade excessiva e, aparentemente, incontrolável.

Muitas crianças que pais e professores normalmente rotulam de

“hiperatividade” são apenas mais ativas que seus pais e professores formam

ou desejariam que fossem. A hiperatividade somente se manifesta quando

existem comprometimentos na manutenção da atenção para diferentes

atividades. A criança, por exemplo, que não presta atenção à aula, mas presta

muita atenção ao jogo, não revela distúrbio de atenção, típico da

hiperatividade. A hiperatividade pode ser tratada com drogas relacionadas ao

grupo das anfetaminas, somente ministradas por especialistas após a óbvia

constatação dessa condição. Em muitos casos a hiperatividade permanece até

o final da adolescência (ANTUNES, 2001, p.127).

Rohde, professor Associado de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do

Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, apresenta

o TDAH como sendo:

Um problema de saúde mental que tem três características básicas: a desatenção, a agitação (ou hiperatividade) e a impulsividade. Este transtorno tem um grande impacto na vida das crianças ou do adolescente e das pessoas com as quais convive (amigos pais e professores). (ROHDE, 1999, p. 47).

Além desta definição apresentada por Rohde, Ayres, em seu artigo

“Hiperatividade: uma leitura simbólica das relações”, lembra que os profissionais que

estudam este problema acreditam que o TDAH “consiste em três problemas primários:

dificuldades na manutenção da atenção e do controle, inibição dos impulsos e da

atividade excessiva” (AYRES in SCOZ, 2004; BARKLEY, 2002). Percebe-se, na

literatura, que em uma criança com TDAH há dificuldade em manter a atenção em

determinada situação, a agitação e a impulsividade são características marcantes que

geram conseqüências. E, ainda, outros profissionais acreditam que os pacientes que

apresentam este transtorno “possuem dois problemas adicionais: dificuldades para

seguir regras e instruções, e variabilidade extrema em suas respostas em situações

(particularmente as tarefas ligadas ao trabalho)”. (AYRES in SCOZ, 2004, p. 106).

Quanto à atenção que, como apresentado, é uma característica do TDAH,

Ciasca, - Coordenadora do Laboratório de Distúrbios e dificuldades da aprendizagem e

transtornos da atenção - DISAPRE, da Faculdade de Ciências Médicas/UNICAMP -

em seu artigo: “Distúrbio de aprendizagem e transtornos de atenção: Algumas

reflexões”, apresenta que a capacidade de atenção varia não somente quando é

realizado uma comparação entre duas pessoas mas também na mesma pessoa nos

diferentes momentos ou condições. Por isso, para Ciasca:

quando fazemos um diagnóstico sobre o problema de atenção, devemos levar

em consideração três pontos centrais: inatenção, impulsividade e

hiperatividade, como critério de inclusão; e como critério de exclusão:

ausência de retardo mental, desordens sensórias específicas e destúrbio do

desenvolvimento (CIASCA in SCOZ, 2006, p. 240).

Desta forma, as causas da desatenção podem ter uma origem física ou uma de

ordem psicossocial.

Segundo Ciasca, quando se fala em TDAH este não pode ser confundido com o

DA (Déficit de Atenção). Para a referida autora há uma diferença de significado

considerável. Segundo ela,

Quando falamos em DA e TDAH, logo associamos um ao outro e, de fato,

existe uma enorme “confusão” relacionada aos mesmos. Mas, esses

conceitos não devem ser usados de forma igual ou como sinônimos, porque

representam duas entidades distintas, e pesquisas recentes afirmam que as

áreas cerebrais envolvidas nos dois problemas também são específicas; e,

ainda, a criança com TDAH pode ou não ter dificuldade de aprender

academicamente e, diferentemente do DA, a criança com déficit de atenção

apresenta outros problemas específicos, como dificuldade de relacionamento,

problema de comportamento entre outros. Considero importantíssimo frisar

que tanto os DA como os TDAH são compatíveis com inteligência normal,

fato que não ocorre nos problemas de retardo no desenvolvimento

neuropsicomotor ou nas deficiências mentais (CIASCA in SCOZ, 2006, p.

242).

Acentuando a diferenciação entre o DA e o TDAH, Ciasca apresenta que:

Os DA referem-se à compreensão verbal, informação de origem acadêmica,

integração de informação, sem comprometimento comportamental aparente.

Nos TDAH as dificuldades referem-se á abstração, percepção visomotora,

velocidade de processamento, com comprometimento comportamental

(CIASCA in SCOZ, 2006, p. 242).

Tanto o DA quanto o TDAH, foco deste trabalho, são de caráter interdisciplinar

e multidisciplinar uma vez que no tratamento deste há a necessidade de vários

profissionais que formem uma equipe de diagnóstico especializada além de realizar as

intervenções necessárias, tanto em trabalhos de intervenção quando na medicação.

Além deste cuidado especializado, no dia a dia, a criança com TDAH necessita

de maiores cuidados do que as demais crianças. Ela apresenta a desatenção que pode

levá-la a cometer erros como atravessar uma rua sem olhar para os lados, incomodar

os que convivem com ela, uma vez que apresenta uma agitação desenfreada, e se

coloca em maiores situações de risco.

Quem sofre deste transtorno apresenta impulsividade, tem dificuldades de

pensar antes de agir, característica comum em crianças, mas que nas hiperativas

aparece em nível elevado.

É importante entender que a criança hiperativa apresenta as dificuldades mais comuns da infância, porém de forma mais exagerada. Para a maioria das crianças afetadas, a desatenção, a atividade excessiva ou o comportamento emocional, irrefletido e impulsivo são característica do temperamento. (GOLDSTEIN, 1996, p. 20).

Silva, ao explicar o fundamento cerebral das crianças com TDAH, apresenta a

seguinte compreensão:

O distúrbio do déficit de atenção deriva de um funcionamento alterado no sistema neurológico cerebral, isto significa que substâncias químicas produzidas pelo cérebro, chamadas neurotransmissores, apresentam-se alteradas quantitativas e/ou qualitativamente no interior dos sistemas cerebrais que são responsáveis pelas funções da atenção, impulsividade e atividade física e mental no comportamento humano. (Silva, 2003, p. 176).

O TDAH não se apresenta em um fator isolado, sendo um conjunto de fatores

que implicam na formação da criança. GOLDSTEIN (1998, p. 29) afirma que:

� A hiperatividade resulta de quatro tipos de deficiência (atenção, impulsividade, excitação e frustração ou motivação) que podem causar problemas na escola e com os amigos. � Os problemas ocorrem com base na pouca habilidade da criança e nas exigências impostas à criança pelo ambiente. � A maioria das crianças hiperativa é desatenta, impulsiva, excessivamente ativa e excessivamente emotiva, tendo dificuldade em relação à motivação e a espera por recompensas. Cerca de 20% a 30% são basicamente desatentas. � A hiperatividade é melhor descrita como resultante da inconsistência e da incompetência do que como resultante do mau comportamento ou desobediência. � A causa mais provável da hiperatividade é a hereditariedade. � Os pais não provocam a hiperatividade, mas seu comportamento pode determinar o numero de problemas em casa na escola ou com amigos. � A hiperatividade atinge mais meninos do que meninas. � Meninos e meninas podem apresentar problemas iguais como resultado da hiperatividade. � A hiperatividade não tem cura e precisa ser controlada com eficácia durante toda infância: � Aproximadamente 3% a 5% entre todas as crianças apresenta problemas decorrentes da hiperatividade.

Diante destas atitudes descritas, aparece a importância do diagnóstico de

TDAH. O diagnóstico é fundamental para que o transtorno seja trabalhado de forma

que possibilite uma vida melhor a todos que estão relacionados com este problema. O

seguinte tópico buscará demonstrar a melhor forma de realizar este diagnóstico e a sua

importância.

O DIAGNÓSTICO DE TDAH

Quando os profissionais estão diagnosticando uma criança eles levam em conta

estes conceitos e características citados anteriormente. Porém, quando se analisa o

crescimento de uma criança, vê-se que estes comportamentos, dependendo a idade, são

naturais. Surge, então, a seguinte dúvida: A criança sofre de TDAH ou está em seu

processo de desenvolvimento natural?

O que se torna difícil, às vezes, é um diagnóstico correto. Pode ocorrer uma

confusão entre TDAH e desenvolvimento natural, já que as características de

desatenção, hiperatividade e impulsividade são comuns em crianças pequenas.

Partindo destes elementos vê-se que é necessário um acompanhamento e uma análise

bem elaborada e, assim surge a seguinte questão: Quais são os maiores desafios na

realização do diagnóstico do TDAH?

Considerando os critérios diagnósticos do TDAH percebe-se que a questão

precisa ser discutida, pois algumas crianças apresentam sintomas semelhantes aos do

TDAH, principalmente as crianças menores de sete anos que, nesta fase, buscam

conhecer tudo o que as cerca e são levadas por este desejo a uma grande agitação.

O diagnóstico continua sendo um desafio para os profissionais já que não existe

um exame específico. Para que haja um correto diagnóstico referente ao TDAH é

necessário que aconteça muitas conversas com os pais, os familiares, os professores,

os psicólogos que acompanham a criança. Além disso, é de suma importância que haja

as observações diárias e assim, com a ajuda de uma equipe multidisciplinar, o

diagnóstico seja correto em seu resultado.

Há vários autores que enfatizam a importância do diagnóstico

multidisciplinar no TDAH (AYRES in SCOZ, 2004; ROHDE, 1999; BARROS,

2002), já que nenhum profissional sozinho dispõe de todas as condições para definir o

diagnóstico.

Ayres apresenta a seguinte idéia referente ao diagnóstico:

O diagnóstico do TDAH depende de nosso conhecimento sobre o assunto e é

de grande importância a inclusão de relatos de pessoas inseridas no meio

social da criança, pois é o que nos traz informações sobre ‘Quem é a criança

de que vamos cuidar? Como é descrita pelas pessoas com quem convive?

Como descreve a si mesma? (AYRES in SCOZ, 2004, p. 107).

Para a realização do diagnóstico faz-se necessário um posicionamento sério

diante dele. O diagnóstico precisa levar em conta o crescimento natural da criança. Em

muitos casos ele é realizado da mesma forma em crianças das mais diversas idades não

levando em conta que em cada idade a criança se comparta de uma forma diferente.

Referente a isto Barros afirma que:

Geralmente, o transtorno é diagnosticado primeiramente nas séries iniciais,

quando está comprometido o ajustamento à escola. O diagnóstico em idade

precoce deve ser cauteloso, uma vez que crianças menores apresentam uma

característica de comportamento mais variada, podendo ser similares aos

sintomas do transtorno. (BARROS, 2002, p. 33).

Um diagnóstico mal realizado, que não leve em consideração esta realidade dos

diferentes comportamentos, segundo a idade, leva a um resultado equivocado tendo

graves conseqüências como, por exemplo, a medicação desnecessária da criança e um

“rótulo” desnecessário que a criança leva para o resto da vida.

O diagnóstico do TDAH deve ser realizado por uma equipe multiprofissional.

Essa equipe se baseia nos estudos das informações percebidas e coletadas pelos pais e

professores, e pelas observações dos profissionais referentes aos sintomas que

aparecem com freqüência na criança.

O diagnóstico clínico precisa ser detalhado levando em conta o completo

histórico do desenvolvimento da criança, como os “fatores pré e pós-natais, os marcos

do desenvolvimento, as alterações comportamentais, as alterações de sono, as

dificuldades de seguir regras e limites”. (BARROS, 2002, p.31).

É muito importante que a coleta de informações sobre atitudes e

comportamentos da criança seja realizada nos diferentes ambientes que a criança se

encontra. Barros lembra que os problemas e prejuízos decorrentes dos sintomas

precisam estar presentes em no mínimo dois ambientes freqüentados pela criança,

como em casa e na escola. (BARROS, 2002).

Tem-se a impressão que a democratização das informações sobre TDAH são

importantes, mas o excesso de informações na mídia e nos jornais de acesso ao grande

público não garante o uso ou compreensão adequada destes conhecimentos.

O DSM-IV - Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais) –

salienta que os prejuízos e conseqüentes transtornos causados pelos sintomas TDAH

são os principais motivos que levam uma pessoa, que apresenta estes problemas a

procurar uma ajuda especializada.

Para uma melhor compreensão da forma que se deve buscar o diagnóstico do

TDAH, seguem os critérios diagnósticos utilizados como referência pela maioria dos

autores. (SILVA, 2003, p. 187-189; BARROS, 2002):

A Ou (1) ou (2) 1. Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram

por pelo menos 6 meses em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento : Desatenção:

a. Freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou cometer erros por descuido, em atividades escolares, de trabalho ou outras.

b. Com freqüência tem dificuldades para manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas.

2. Seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade

persistiram por pelo menos 6 meses em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento : Hiperatividade:

a. Freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira.

b. Freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentada.

Impulsividade:

c. Freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas.

Além destes critérios, para ajudar o diagnóstico, Rohde (1999, p. 49) reforça

que “o exame neurológico evolutivo, realizado por neurologistas de crianças, pode

indicar dados que fortalecem o diagnóstico baseado na pesquisa de sintomas”.

Apesar de todas essas observações no que diz respeito ao diagnóstico, é preciso

que entre os responsáveis pela realização desta tarefa, haja a consciência da

importância daquilo que o presente trabalho denomina de desenvolvimento natural.

O novo paradigma da ciência do Desenvolvimento Humano (DESSEN e

COSTA JÚNIOR, 2007) ressalta o caráter complexo e multideterminado das

transformações e manifestações características do desenvolvimento.

O desenvolvimento natural acontece diferentemente em cada criança não

havendo um modelo determinado e linear. No entanto perece haver uma consciência

coletiva presente na sociedade de que em determinada idade a criança deva apresentar

tais respostas aos estímulos, numa tendência de normatizar o desenvolvimento.

Diante desta compreensão de desenvolvimento, fica mais fácil diagnosticar a

presença do TDAH. A questão que surge é se existe uma idade na qual este problema

comece a se desenvolver ou aparecer na pessoa.

Rohde demonstra que os pesquisadores discutem muito esta questão sobre se o

TDAH é um problema associado ao desenvolvimento, sempre se pensou que os

sintomas já deveriam estar presentes desde muito cedo na vida da criança ou do

adolescente. (ROHDE, 1999).

Em muitos casos afirmava-se que “para existir o TDAH, é necessário que

alguns sintomas estejam presentes antes dos sete anos e já causem dificuldades para a

criança”. (ROHDE, 1999, p. 41). Esta presença, em alguns casos, faz-se realidade,

quando, por exemplo, vê-se que algumas crianças choram muito desde bebê, ou não

param sentadas quando as demais crianças da mesma idade permanecem, em

determinadas situações, sentadas.

Porém, na atualidade, “tem-se percebido que em algumas crianças com TDAH

os sintomas aparecem após os sete anos, apresentando tantas dificuldades quanto as

crianças que começaram a tê-los antes desta idade”.(ROHDE, 1999, p. 41).

São estas realidades apresentadas no parágrafo anterior que exigem dos

profissionais muita atenção no diagnóstico. Deve-se levar em conta, como o trabalho

já lembrou, que cada criança tem o seu ritmo de desenvolvimento. Além disto há ainda

a influência do meio pscicosocial onde a família, escola, brincadeiras se fazem

presentes outra questão essencial, a partir da discussão do diagnóstico, é verificar as

possibilidades de tratamento .

TRATAMENTO

O tratamento do TDAH requer esclarecimento com muitas informações para

que os pais, os professores, toda a sociedade possam ajudar a criança na superação dos

sintomas. Precisa-se de um acompanhamento psicológico, com atividades organizadas

em um ambiente silencioso. É necessário que exista, também, uma relação entre escola

e família, onde haja a presença de professores orientados para que possam oferecer a

estas crianças um ambiente com estímulos que as ajude.

O estímulo é fundamental, pois se acredita que quanto mais a criança for

estimulada ela encontrará com isso menos dificuldade no processo de aprendizagem.

“O tratamento de uma criança com TDAH depende normalmente de uma combinação

de vários meios, inclusive um programa de educação especial, mudanças de

comportamento e aconselhamento”. (PERRET, 1990, p. 272).

A maioria dos autores ressalta que a combinação da medicação com a terapia é

o tratamento mais indicado nos casos de criança com TDAH. (SILVA, 2003;

BARROS, 2002; ROHDE, 1999).

A medicação é indicada como última alternativa, uma vez que seus efeitos

colaterais são, muitas vezes, de quantidade elevada, como por exemplo: a insônia, o

emagrecimento, irritabilidade, dores abdominais, náuseas, palidez e outros. Quem

avalia é o médico, mas todos podem participar da discussão e acompanhar a melhora e

os efeitos colaterais.

Para Silva (2003, p. 155), “os medicamentos psicoestimulantes quando

adequadamente receitados e monitorados, são eficazes para 75% a 80% das pessoas

com TDAH. Esses medicamentos incluem a Ritalina ®, Dexedrine ®, e a Dosoyn ®”.

Na busca de soluções para as crianças que sofrem de TDAH, encontra-se, ainda

outro método que “é a mudança de comportamento, de ambiente com estrutura e

reforços positivos”. (PERRET, 1990, p. 275). A adoção deste método tem efeito

devido a conseqüência. Como a conseqüência do comportamento gerará uma

recompensa (reforço positivo), determinadas atitudes deverão ocorrer com maior

freqüência no futuro, e o que não for recompensado terá o índice realização diminuído.

Como complementa Sisto, o “reforço positivo é quando após uma resposta é

apresentado um estímulo que aumenta a probabilidade desta resposta ocorrer no

futuro”. (SISTO, 2000, p. 225). E será este reforço positivo que ajudará, também, a

criança com TDAH a superar os sintomas.

Juntamente com este reforço positivo, os educadores poderão proporcionar

atividades como jogos, brincadeiras com regras, para que os portadores deste problema

sejam estimulados à superação dos sintomas.

Em muitos casos acontece a punição, em que pais, ou educadores, querendo

acabar com determinados atos, buscam, castigar as crianças pelo mau comportamento.

A punição com castigo não trará bons resultados quando usado, principalmente, com

crianças hiperativas, já que causam um aumento do comportamento agressivo.

O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO

O termo psicopedagogia é citado no “Novo Dicionário Aurélio da Língua

Portuguesa” em termos de “aplicação da psicologia experimental à pedagogia”, o que

é lembrado pelo professor Lino de Macedo (1992, p. 7). Macedo apresenta a

psicopedagogia, nesta definição, como um conhecimento científico que pode ser meio

ou instrumento para a produção de um novo saber ou fazer e como essa relação entre

fins e meios não é simples e nem visa um único fim. “Está aí a tarefa do novo

profissional: integrar, aglutinar e operacionalizar conhecimentos e práticas que se

apresentam segmentados em diferentes áreas do conhecimento, transformando-as em

partes de um novo todo”. (CAMPOS, in: OLIVEIRA, 1994, p. 209).

Na enciclopédia Verbo Luso-Brasileira de Cultura, encontra-se o verbete

Psicopedagogia que se refere:

Ao conjunto dos conhecimentos psicológicos que permitem justificar

cientificamente a prática pedagógica, tendo em conta que a relação

pedagógica depende das características pessoais dos professores e dos alunos

e, também, da dinâmica do grupo escolar em que tal relação se processa.

(VERBO, 1973, p. 1350).

Sendo assim percebe-se que o psicopedagogo, profissional da psicopedagogia,

atuando em seu campo de atuação, busca justificar cientificamente a prática

pedagógica. Mas esta justificação não pode ser realizada uma única vez, por exemplo

quando a escola é fundada, ou, ainda, tomar um resultado de determinada realidade

escolar e aplicá-lo em todas as demais escolas.

Essa atitude de querer realizar um certo “pré-conceito geral” não pode

acontecer uma vez que no campo da psicopedagogia, como o verbete da enciclopédia

verbo lembrava, depende, fundamentalmente, das “características pessoais dos

professores e dos alunos e, também, da dinâmica do grupo escolar em que tal relação

se processa”. Desta forma a psicopedagogia envolve pessoas com características e

atitudes diferentes o que não permite a generalização de um resultado às demais

realidades educacionais.

Na definição do verbete, psicopedagogia, a enciclopédia apresenta também que

“a psicopedagogia recorre especialmente aos conhecimentos da psicologia genética, da

psicologia diferencial e da psicologia em grupo”. (VERBO, 1973, p. 1350), o que

permite a compreensão de que a psicopedagogia precisa levar em conta a genética de

cada indivíduo, a diferença que cada um é e como acontece a relação entre as pessoas

que estão no determinado contexto em estudo.

Por isso o campo de atuação da psicopedagogia não é apenas o didático

ou o psicológico, mas onde estas duas ordens de ação estão presentes. Assim, a

psicopedagogia estrutura um novo campo de atuação.

Para Munhoz,

compreendemos o desenvolvimento da educação e maneira geral, e da

psicopedagogia, de forma específica, ao integrar os conhecimentos

psicológicos e pedagógicos à análise dos contextos sociais e familiares, e

poderemos dar conta da complexidade das relações humanas na realidade em

que as questões educativas ocorrem (MUNHOZ in SCOZ, 2006, p, 229).

E, para Campos:

Ao psicopedagogo não interessam as questões de estrutura de personalidade

enquanto estas não afetam de forma manifesta vínculo do indivíduo com a

aprendizagem; os dados do inconsciente...só interessam a estes profissionais

num quadro preciso de sintoma – o não aprender. (CAMPOS, in:

OLIVEIRA, 1994, p. 209).

Compreende-se, assim, que o psicopedagogo “não trabalha específica e

unicamente com os conteúdos escolares formais, mas, antes, com situações cognotivas,

como o próprio processo de pensamento e de solução de problemas”. (CAMPOS, in:

OLIVEIRA, 1994, p. 211).

Para Maturana todo o processo educativo pressupõe que “a criança aprenda a

aceitar-se e respeitar-se a si mesma ao ser aceita e respeitada em seu ser, porque assim

aprenderá a respeitar e aceitar aos outros”. (MATURANA, in AYRES, 2004, p. 109).

A educação é um processo contínuo que dura toda a vida, estrutura e conserva as

relações da comunidade em que se está inserido. Isto não quer dizer que os

pressupostos educacionais não mudem, mas sim que tenham efeitos de larga duração

numa determinada sociedade. “Como vivemos, educaremos e conservaremos o viver e

educaremos os outros com o nosso viver”. (MATURANA, in AYRES, 2004, p. 110).

Maturana apresenta, também, que:

O educar se constitui em um processo no qual a criança e o adulto convivem com o outro, e ao conviver com o outro se transforma espontaneamente, de maneira que seu modo de viver se faz progressivamente mais congruente com o do outro no espaço de convivência. O educar ocorre, portanto, todo o tempo, de maneira recíproca. (MATURANA, in AYRES 2004, p. 110).

Assim, como a educação é fundamentalmente convivência e interação, o

transtorno causa impactos de aprendizagem da criança e dos que convivem com ela.

De acordo com Rohde, (1999, p. 47) o transtorno, “pode levar a dificuldades

emocionais de relacionamento familiar e social bem como a um baixo desempenho

escolar. Muitas vezes é acompanhado de outros problemas mentais”. “Cerca de 25% a

30% das crianças e adolescentes com TDAH apresentam problemas de aprendizagem

secundários ou associados ao transtorno. Nesses casos a intervenção psicopedagógica

é fundamental”. (ROHDE, 1999, p. 65).

Esta presença é fundamental, uma vez que a maioria dos casos de TDAH são

diagnosticados tardiamente, trazendo consigo uma lacuna no aprendizado destas

crianças.

Necessita-se, por isso, de um acompanhamento que o psicopedagogo pode

oferecer, já que este problema não é resolvido simplesmente com conteúdos escolares.

O psicopedagogo buscará entender a criança de forma completa psicossocial

realizando o acompanhamento pedagógico.

Referente a esta atuação do psicopedagogo, Silva, Oliveira, Antoniuk e

Guimarães apresentam que:

No trabalho pscicopedagógico, (...) deparamo-nos, cotidianamente, com um

alto índece de problemas de aprendizagem atuando conjuntamente a diversas

doenças neurológicas em crianças e adolecentes. Inicialmente, a questão

maior recai na tarefa de identificar, com suficiente clareza, qual o grau de

implicação de tais fatores sobre a real possibilidade de aprendizagem destes

sujeitos. Num segundo momento, faz-se necessário traçar um modelo de

intervenção que evidencie e coloque em destaque as atuais possibilidades e

pontos fortes do modo de aprender destas crianças, abrindo-lhes

possibilidades para novas aprendizagens (SILVA in SCOZ, 2006, p. 112).

Para os referidos autores este trabalho de investigação é denominado de

“Avaliação diagnóstica” que é de fundamental importância para o profissional que

atua com crianças que apresentem dificuldades escolares, como, por exemplo, o

TDAH. Além de assinalar a dificuldade esta “Avaliação diagnóstica” “fornece

subsídios para implantar um programa de ensino-aprendizagem que atenda às

necessidades específicas dos alunos identificados” (SILVA in SCOZ, 2006, p. 113).

Mota, em seu livro Tendências Contemporâneas em Psicopedagogia apresenta

que “os problemas mais comuns relacionados ao fracasso escolar, evasão e distúrbio

de comportamento de diversas naturezas” (MOTA, 2004, p. 24) são enfocados de

maneira ampla pelo psicopedagogo, e, desta forma, a atuação deste é relacionada à:

Prevenção dos problemas escolares; participação de programas de saúde e

educação abrangendo a área institucional, comunitária e social; adequação

dos objetivos do sistema educacional às necessidades da comunidade escolar;

manutenção da saúde mental no ambiente escolar; busca da compreensão dos

valores, da motivação para aprendizagem e do processo cognitivo de todos

os alunos; aproximação entre teoria e prática no seu trabalho rotineiro; apoio

ao professor e equipe escolar nos aspectos de sua competência, isto é, da

psicologia na educação favorecendo o bom andamento da educação escolar;

reflexão junto à equipe escolar e comunidade sobre o papel da educação

escolar, seu caráter ideológico e sua prática pedagógica (MOTA, 2004, p.25).

Assim, o papel do psicopedagogo, não se limitando apenas à sala de aula

possibilita, no caso de Hiperatividade, ter um resultado mais eficaz seguro.

O psicopedagogo, em sua atuação, abordará também a questão das relações

uma vez que a escola apresenta um papel de socializar a criança, assim, o

psicopedagogo precisará ter um cuidado especial para que a criança que apresentar

TDAH possa usufruir desta função que a escola tem. Boruchovitch, em seu livro

aprendizagem: processos psicológicos e contexto social na escola, lembra que:

a escola funciona como um importante agente socializador, que amplia a

aquisição de conhecimento e de experiências afetivas, na medida em que se

configura como uma das primeiras situações instituídas, além da família a

proporcionar experiências e desafios, constituindo-se em um espaço

privilegiado para o desenvolvimento infantil (BORUCHOVITCH, 2004, p.

154).

Quando esse papel de socialização é bem desempenhado pela escola a criança

tem maiores possibilidades de se “familiarizar” com a sociedade em geral. Assim, no

que diz respeito à criança portadora de Hiperatividade, o psicopedadogo precisará

prestar o máximo de atenção para que a hiperatividade não seja um empecilho à

socialização.

No período em que a criança está iniciando suas experiências escolares, as

primeiras experiências podem, segundo Boruchovitch,

promover competências associadas à aprendizagem, à motivação para a

realização, ao funcionamento emocional e relacionamentos sociais, quando

podem, em algumas instâncias, potencializar dificuldades de aprendizagem,

principalmente quando associada a situações prévias de vulnerabilidade

pessoal e ambiental (BORUCHOVITCH, 2004, p. 156).

Assim, quando a criança apresenta hiperatividade o cuidado para que estas

primeiras experiências possam ser o máximo possível positivas deve estar presente.

Uma vez que as primeiras experiências escolares forem apresentadas de forma positiva

a criança terá mais possibilidade de aprendizagem, e criando, assim, um maior apreço

ao estudo, o que ajudará com que esta criança possa também se concentrar mais em

seu processo de aprendizagem o que será um grande passo para a superação do TDAH.

O psicopedagogo precisa estar preparado para que ele não seja mais uma

dificuldade à aprendizagem da criança, uma vez que “as dificuldades de

aprendizagem, no início da escolarização, podem estar relacionadas a fatores internos

da criança ou fatores ambientais como a qualidade do ensino e o preparo dos

professores” (BORUCHOVITCH, 2004, p.158). Ao psicopedagogo cabe a reflexão de

que é ele o responsável para ajudar a criança na superação destes problemas. Será ele,

o psicopedagogo, quem estará juntamente com a criança e que, com seus

conhecimentos, mostrará à criança a melhor forma de ter acesso à aprendizagem.

Para Munhoz,

A psicopedagogia como um saber interdisciplinar que estuda a aprendizagem

humana em suas relações, ao envolver a interatividade, a auto-organização, a

complexidade e a autonomia, conceitos básicos para o entendimento dos

sistemas vivos, possibilita uma visão mais ampla entre o ensinar e o aprender

na compreensão do quando, onde e como acontece (MONHOZ in SCOZ,

2006, p. 225).

Com esta atuação do psicopedagogo e sua intervenção nas necessidades das

crianças, onde uma delas é o TDAH, a escola e a equipe de formação estaria atingindo

a finalidade do ato de educar que é, segundo Monhoz, “facilitar ao aluno o acesso ao

reconhecimento da própria identidade humana, ao mesmo tempo individual e coletiva,

como um sistema vivo em constante interação com seu meio, num processo circular e

recursivo” (MUNHOZ in SCOZ, 2006, p. 227).

É importante lembrar, ainda, que o psicopedagogo, como outros profissionais,

são fundamentais na orientação dos pais e professores que, muitas vezes, pela falta de

conhecimento, podem aumentar o sofrimento da criança e do próprio grupo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Analisando os fatos sobre os critérios de diagnóstico, percebe-se que é

necessária muita responsabilidade para não causar problemas à criança, como a

rotulação, a medicação sem necessidade e a rejeição, conseqüentes de uma má

interpretação ou análise incoerente.

É significativo, neste momento de considerações finais, ressaltar também que o

psicopedagogo tem seu papel fundamental na busca da dimensão social que a escola

cumpre. No percurso de construção da cidadania, a aprendizagem deverá auxiliar no

desenvolvimento das competências e habilidades possibilitando, assim, que o educador

e o educando entendam a sociedade em que estão inseridos, como um processo

permanente de reconstrução humana ao longo das gerações. Compreendendo, também,

que a garantia desse espaço de socialização depende do respeito às individualidades,

para que cada um construa a si próprio como agente social, alcançando o bem da

coletividade.

Buscando este fim as crianças, quando realmente apresentam os sintomas de

hiperatividade, necessitam de ajuda.

Às crianças hiperativas não pode ser negado o direito de desfrutarem daquilo

que a escola pode oferecer e nem serem privadas do acesso ao meio social.

A hiperatividade deve ser vista como um desafio que pode ser superado.

A hiperatividade pode ser tratada de uma forma diferente àquela que a

sociedade, muitas vezes, de forma discriminatória, trata.

É importante lembrar que os diagnósticos multiprofissionais são importantes e

os pais sempre precisam ficar alertas e procurarem um bom profissional, levando em

consideração a idade da criança em seu desenvolvimento natural.

A ajuda que o psicopedagogo pode oferecer à realidade do TDAH auxiliará a

superação das dificuldades da criança na vida escolar e social. A tarefa do

psicopedagogo será a de integrar, aglutinar e operacionalizar conhecimentos e práticas

que se apresentam segmentados em diferentes áreas do conhecimento, transformando-

as em partes de um novo todo, apresentando uma saída para a superação do TDAH.

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