4
TRATAMENTO CIRURGICO DO LINFE- DEMA PENO-ESCROTAL Henrique Jorge Guedes Neto * Carlos Roberto P. de Almeida Prado ** Abelardo Souza Vaz *** Alberto Jose Kupcinskas Junior **** Austelino Ferreira Mattos **** Relatamos 8 casos de linfedema peno-escrotal tratados cirurgicamente pela tecnica de Cordeiro tendo acom- panhamento de ate 5 an os sem recidiva da doenr;a. Acreditamos tratar-se de terapeutica simples e eficiente para uma molestia rara e de tratamento ate entao com- plexo. Unitermos: Linfedema, linfedema de genitalia externa masculina, linfedema peno-escrotal. Chefe do Servico deCir. Vasco Per.do ICA VC - Santa Casa de Sao Paulo ** Responsavel pelo Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC - Santa Casa de Sao Paulo *** Estagiario de 4 9 Ano do Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC - Santa Casa **** Estagiarios de 2 9 Ano do Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC - Santa Casade Sao Paulo Dentre os casos de linfedema, fatu sensu, sabemos que as tecnicas cirurgicas naoapresentam bons resulta- dos. Trabalhando num hospital onde temos a oportunida- de de acompanhar varios casos de linfedema, notamos que o melhor resultado e no Linfedema peno-escrotal (LPE). o objetivo deste trabalho e relatar 8 casos tratados e seguidos noservi<;o, com descri<;ao de tecnica e acompa- nhamento de ate 5 anos. Oito pacientes com quadro de LPE caracterizados por edema com sinal Cacifo negativo (praticamente nao de- pressivo), de penis e/ou escroto (Fig. 1). Estes pacientes ti- veram a etiologia da doen<;a pesquisada e em todos tive- mos como causa da patologia 0 refluxo quiloso (Linfede- ma Primario Congenito). o quadro cHnico era caracterizado por aumento (in- cha<;o) da pele do penis e do escroto, levando 0 paciente a desconforto e grande altera<;ao estAtica. Outras doen<;as associadas foram pesquisadase nao se encontrou nada degrande importiincia. Em 6 doentes pudemos constatar a presen<;a de vesi- culas linfaticas que, ao romperem, drenavam linfa em grande quantidade (± 100 ml). Em 5 doentes fizemos a iinfografia bipodalica e a lin- fografia escrotal, que demonstraram hipoplasia linfatica

TRATAMENTO CIRURGICO DO LINFE- DEMA PENO-ESCROTALjvascbras.com.br/revistas-antigas/1992/1/01/1992_a8_n1.pdf · oquadro cHnico era caracterizado por aumento (in-cha

  • Upload
    buidat

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

TRATAMENTO CIRURGICO DO LINFE-DEMA PENO-ESCROTAL

Henrique Jorge Guedes Neto *Carlos Roberto P. de Almeida Prado **Abelardo Souza Vaz ***Alberto Jose Kupcinskas Junior ****Austelino Ferreira Mattos ****

Relatamos 8 casos de linfedema peno-escrotal tratadoscirurgicamente pela tecnica de Cordeiro tendo acom-panhamento de ate 5 anos sem recidiva da doenr;a.Acreditamos tratar-se de terapeutica simples e eficientepara uma molestia rara e de tratamento ate entao com-plexo.

Unitermos: Linfedema, linfedema de genitalia externamasculina, linfedema peno-escrotal.

Chefe do Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC - Santa Casa deSao Paulo

** Responsavel pelo Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC - SantaCasa de Sao Paulo

*** Estagiario de 49 Ano do Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC -Santa Casa

**** Estagiarios de 29 Ano do Servico de Cir. Vasco Per. do ICA VC -Santa Casa de Sao Paulo

Dentre os casos de linfedema, fatu sensu, sabemosque as tecnicas cirurgicas nao apresentam bons resulta-dos. Trabalhando num hospital onde temos a oportunida-de de acompanhar varios casos de linfedema, notamos queo melhor resultado e no Linfedema peno-escrotal (LPE).

o objetivo deste trabalho e relatar 8 casos tratados eseguidos no servi<;o, com descri<;ao de tecnica e acompa-nhamento de ate 5 anos.

Oito pacientes com quadro de LPE caracterizados poredema com sinal Cacifo negativo (praticamente nao de-pressivo), de penis e/ou escroto (Fig. 1). Estes pacientes ti-veram a etiologia da doen<;a pesquisada e em todos tive-mos como causa da patologia 0 refluxo quiloso (Linfede-ma Primario Congenito).

o quadro cHnico era caracterizado por aumento (in-cha<;o) da pele do penis e do escroto, levando 0 paciente adesconforto e grande altera<;ao estAtica.

Outras doen<;as associadas foram pesquisadas e nao seencontrou nada de grande importiincia.

Em 6 doentes pudemos constatar a presen<;a de vesi-culas linfaticas que, ao romperem, drenavam linfa emgrande quantidade (± 100 ml).

Em 5 doentes fizemos a iinfografia bipodalica e a lin-fografia escrotal, que demonstraram hipoplasia linfatica

com desarranjo da estrutura normal.Em 6 doentes com vesiculas linfaticas, fizemos previa-

mente a Ligadura de cadeia linfatica lombar'o.Apos preparo pre-operatorio completo, realizamos a

cirurgia conforme a tecnica de Cordeiro3.

A anestesia realizada e a peri-dural, sendo feita a son-dagem vesical com sonda de demora.

I - Marca<;ao da area a ser ressecada pela tecnica dezetaplastia no penis e em losango na rafe mediana do es-croto (fig. 2).

Figura 2: Marea~:io da area a ser resseeada pela tcenica de Zetaplastia no penis eem losango na Rare mediana de eseroto

2 - Incisao de pele e tecido celular sub-cutiineo namarca<;ao - ressec<;ao deste tecido com hemostasia rigo-rosa.

3 - Postectomia chlssica, isolamento dos testiculos,emagrecimento dos retalhos e fixa<;ao dos testiculos nabolsa escrotal com pontos externos de nylon-O.

4 - Drenagem com penrose (fig. 3)5 - Fechamento em "z", suspensorio escrotal e cura-

tivo.Apos 5 dias de interna<;ao, em media, com antibioti-

coterapia e seda<;ao da dor, foi dada a alta hospitalar3.

I - Resultado estetico2 - Resultado funcional3 - Infec<;ao4 - Recidiva da doen<;a

Quanto ao resultado estetico, somente 2 pacientes ne-cessitaram de complementa<;ao da ressec<;ao do tecido ede-matoso, que foi feita com anestesia local.

Quanto ao resultado funcional, seis pacientes naoconseguiam manter rela<;6es sexuais e os 8 estavam comfun<;ao normal apos a cirurgia. 0 volume do penis e escro-to impediam urn born desempenho sexual dos pacientes;com a redu<;ao do volume apos a cirurgia, houve uma re-cupera<;ao desta fun<;ao.

Quanto a infec<;ao, 3 pacientes tiveram urn quadro in-feccioso local de facil resolu<;ao com antibioticoterapia ecuidados locais. Somente I ficou com sinequia penianapor cicatriza<;ao aberrante do processo infeccioso, tendosido corrigida com anestesia local.

Quanto a recidiva, podemos dizer que nao ocorreucom urn seguimento de ate 5 an os em 5 pacientes e de ate12 meses nos outros 3 pacientes.

Como e de conhecimento de todo cirurgiao vascular,o tratamento dos linfedemas (clinicos ou cirurgicos), naotern resultado muito satisfatoriol,3,4,5,7,9,IO. Pelo exposto,pudemos notar que para 0 LPE 0 tratamento cirurgicomostrou-se como excelente alternativa terapeutica (Figs.

4, 5). Uma tecnica de simples reSSeC«aO(dermolipectomia),resolve uma patologia de etiologia hipoplasica. Este fatonos causou surpresa, ja que nao estamos tratando a causabase e sim uma deformidade estetica.

Pela simplicidade da tecnica, pela baixa morbidade,pela mortalidade nula e pela ausencia de recidivas, consa-gram os esta tecnica em nos so servi«o como a de escolhapara 0 tratamento do LPE.

SURGICAL TREATMENT OF PENO-ESCROTAL LYMPHE-DEMA

We repart 8 cases af lymphedema pena-escratal trea-ted by surgical technic (CORDEIRO TECHNIC) and we ha-ve nat had reicidence in 5 years af segment af this pa-tients.

We believe that this technic is up ta naw the mastsimple and efficient far the treatment af this rare and diffi-cult patalagy.

Uniterms: Limphedema, lymphedema af male external ge-nitalia, pena-escratal limphedema

Tratamento cirurgico do linfedema peno-escrotal

I. CHIT ALE YR - Role of tensor facia lata muscolo-cutaneous flap in lymphedema of lower extremityand external genitalia. Ann. Plast. Surg., 23 (4):297-304,1989.

2. CLARK WR, LIEBER MM - Genital filariasis inMinnesota. Urology, 28(6): 518-20,1986.

3. CORDEIRO AK, BARACA T FF - Linfedemapeno-escrotal. Linfologia. Sao Paulo, Fundo Edito-rial BYK-PROCIENX, 1983. p. 167-83.

4. GONELLA, HA - Linfedema peniano. Rev. Bras.Cir., 72(1): 23-6,1982.

5. HUANG GK, HU RQ, SHEN YL, PAN GP -Microlynphaticovenous anastomosis for Iynphede-ma of external genitalia in females. Surg. Gynecol.Obstet., 162(5): 429-32,1986.

6. PARTONO,F - The spectrum of disease inIynphatic filariasis. CIBA FoundSymp., 127: 15-31,1987.

7. SAUER PF, BUESHEN A J, YASCONEZ LO-Lynphedema of penis and escrotum. C1in. Plast..Surg.,15(3): 507-11,1988.

8. SEHGAL YN, JAIN MK, SHARMA YK - Pseu-doelephantiasis induced by donovanosis. GinitourIn Med., 63(1 ):54-6, 1987.

9. SERYELE M - Surgical treatment of Iynphede-ma. A report of 652 cases. Surgery,101(4):485-95, 1987.

10. SKOOG SJ - Verrucous elephantiasis of escrotum;an unusual variant of genital Iynphedema. J.Ural., 135(4):799-800, 1986.

Tratados de Medicina Tropical, como 0 de ROUX (1888) e deMANSON (1903l., jf! fazem referencia ao tratamento cirurgico do Linfe·dema peno-escrotal.

No Brasil, 0 Visconde de SABOIA (1886) descreveu uma tecnica deexerese, bem esquematizada por ARNOBIO MARQUES (presseMed.1903) e que ainda hoje e utiJizada no Servivo de Cirurgia Vasculardo Hospital das Clinicas da UFPE. Preferimos, entretanto, reaJizar tern·pos opera tori os separados para 0 penis e para a bolsa escrotal.

A tecnica apresentada pelos autores merece ser conhecida, par·ticularmente pela escassez de publicavOes sobre 0 assunto e pelos bonsresultados obtidos.

Os achados 1infogrMicos comprovam as alteravoes linfodinamicas,sobretudo 0 refluxo, que explicam a fisiopatologia mas nao identificam acausa. Este e urn ponto, ate 0 momento, ainda nao elucidado.

Waldemy SilvaRecife PE