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TRAUMAS DA INFÂNCIA E SEUS REFLEXOS NA
VIDA ADULTA
Paulo Eduardo Moretti 8505394
Profº José Fernando Fontanari - Psicologia da educação II
Índice:
1- Introdução p.1
2- Traumas relacionados às diversas formas de violência física e psíquica p.6
3- Fobias: Possível conseqüência dos traumas de infância p.7
4- Traumas ligados a sexualidade: Transtornos sexuais p.8
5- Fetiches : Possível ligação aos traumas da infância p.9
6- Conclusão p.11
1- Introdução
Parece-nos óbvia a relação existente entre as adversidades ocorridas na infância e o aumento de risco de
problemas mentais e emocionais na vida adulta. De fato, inúmeros estudos tem provado que essa ligação é
verdadeira.
Os traumas ocorridos na infância são os mais difíceis de serem solucionados, por permanecerem no plano
subconsciente ou inconsciente. Não restam mais as lembranças de um fato concreto, apenas um trauma, que é
lembrado ao vivenciar uma situação semelhante àquela que o causou.
[...] No trauma de infância, alguns dos nossos músculos esqueletais se contraem e não voltam a relaxar, mas
retém a memória corporal, da mesma forma como a mente retém a memória mental do trauma. Quando o
músculo se fixa numa posição e não consegue relaxar, pode-se dizer que há uma lembrança guardada no
músculo.
(Wolf, 1986, p.220)
Os comprometimentos devido aos traumas físicos e psicológicos muitas vezes se iniciam no ventre materno,
quando a mãe sofre fome, agressões físicas, abandono, rejeição, sustos, tensões, e que são, inconscientemente,
sentidos pelo feto. Dessa maneira o trauma permanece retido em sua memória.
Vemos abaixo alguns trechos de uma história em quadrinhos publicada em março desse ano (Almanaque da
Magali 43. Editora Panini, 2014, P. 3-14) onde vemos um relato de um trauma de infância do personagem
Dudu (Mesmo que o personagem tenha ainda 4 anos, age na trama como um adulto)
Vemos na cena o verdadeiro pavor que o garoto possui somente em ver gatos. Vale a pena lembrar que a
Magali possui um gato em casa (O mingau) o qual, em outras histórias, o personagem também não gosta de
aproximar-se.
A característica principal do personagem nas histórias é o fato de não gostar de comer. Assim, o trauma
relacionado a comida que lhe era oferecida foi responsável por causar uma fobia de gatos. Vendo isso, Magali
busca encontrar uma possível solução para o problema:
O que a Magali disse não é uma idéia dela. Uma técnica de cura de fobias desenvolvida por Joseph Wolpe
(1915-1997), conhecida como imersão (fazer a pessoa vivenciar a situação fóbica por um determinado intervalo
de tempo, contando com a presença e auxílio de um terapeuta) baseia-se nesse princípio. Vamos ver como
Dudu irá reagir encarando o seu medo.
De fato, vemos que a técnica funcionou!
A história nos dé uma idéia do que são e de como funcionam os traumas da infância e a forma como
interferem em nossas vidas. Poderemos, a partir de agora, compreender melhor como ocorrem estes traumas, o
modo como nos afetam e quais as possíveis formas de tratamento
2- Traumas relacionados às diversas formas de violência física e
psíquica
2.1- Violência sócio-econômica e cultural
As influências que nos chegam a todo momento através da televisão, jornais, rádio, internet, aparelhos
eletrônicos repercutem em nossas atitudes e pensamentos que geram uma predisposição a agir e atuar de forma
violenta. Nascemos com uma natureza original que é transformada através do meio em que vivemos. O
ambiente agressivo e violento estimula o comportamento na formação de crianças e reforça uma cultura de
violência, pois os padrões e valores culturais oferecidos através da família, ambiente físico e social serão
reproduzidos em todos os contextos em que se vive. Por exemplo: ninguém nasce violento, embora a
agressividade faça parte da natureza humana (Maldonado 1998, p.116)
Os registros latentes dos sofrimentos e traumas causados pela família, pela influência dos meios de
comunicação, pelas instituições educacionais e religiosas ficam no inconsciente do indivíduo e podem
repercutirem todos os seguimentos e etapas da sua vida.
Os impactos emocionais sofridos pelas pessoas também sofrem influência pelos valores e cultura da
sociedade em que vive. Essas influências levam a massificação, discriminação e exclusão das pessoas, quando
não conseguem satisfazer os seus desejos e suas necessidades básicas. As insatisfações geram sentimentos de
não pertencimento, de pouca valia dentro do seu contexto familiar e social, pois não conseguem atingir as
exigências impostas pela sociedade de consumo.
O poder econômico, o mercado e as vantagens de alguns diante dos outros se sobrepõem ao bem da
maioria e acarretam doenças pela má adaptação das pessoas ao meio cultural, social ou econômico.
Observa-se assim uma sociedade que oprime e aliena as pessoas ressaltando seus valores negativos. O ter
sobrepõe-se ao ser.
2.2- Maus tratos físicos
A inexistência de um ambiente adequado na família repercute em todos os direcionamentos da vida da
criança e do adolescente e podem detectar os possíveis agressores dentro do contexto familiar. O histórico de
vida dos pais reflete os padrões de comportamento vivenciado por eles em sua família de origem.
Essas influências repercutem em todas as esferas de relacionamentos da criança seja na escola, nas relações
interpessoais, e principalmente na vida adulta, pois ocasionam traumas que irão prejudicar o seu
desenvolvimento. “Numa família onde toda a estrutura é neurótica, a criança certamente vai “herdar” esse
comportamento dos pais” (CENTEVILIE et al, 1977, p. 100).
O que acontece, muitas vezes, é que a família não percebe que o seu ambiente apresenta uma estrutura
neurótica. Assim, só se percebe que algo não vai bem quando acontecem fatos graves como maus tratos físicos,
abuso sexual, dentre outros.
Os princípios morais e religiosos, e as influências externas podem desestruturar as famílias e enfraquecer
o relacionamento de seus membros. Quando há falha nessa estrutura familiar, acontecem os maus tratos como
as agressões físicas e psicológicas. Esses impactos negativos que a criança recebe de seus familiares causam
danos psicológicos, criam bloqueios na criatividade e iniciativa, permitindo inseguranças e medos que as
deixam em situação de risco na sociedade. Essa insegurança causa frustrações nas expectativas do indivíduo
devido à falta da satisfação não correspondida das suas necessidades básicas, e se sentem dissociadas do
contexto familiar.
As pessoas que sofreram algum trauma em conseqüência dos maus tratos físicos, tendem a retrair-se,
demonstram timidez e geralmente se dissociam no ambiente ou perante o seu grupo, enquanto outras têm
comportamentos inesperados e agressivos perante situações ou eventos que relembrem as memórias traumáticas
com conteúdos inconscientes.
“Sabe-se hoje que a criança agredida, se não for tratada corretamente para diminuir as cicatrizes
psicoemocionais, poderá se tornar também um agressor na idade adulta” (MELO; CAIXETA; RODRIGUES,
UFMG)
2.3- Maus tratos psicológicos
Por maus tratos psicológicos compreendemos todas as atitudes de rejeição, depreciação, desrespeito,
cobrança e punição descontroladas por parte de um adulto para atender as suas necessidades psíquicas, e que
podem causar danos ao desenvolvimento biopsicossocial da criança. (FERREIRA, 2001, p.26)
As formas de maus tratos Psicológicos são:
- Castigos excessivos, recriminações, culpabilização e ameaça.
- Rejeição ou desqualificação da criança ou adolescente.
- Uso da criança como intermediário de desqualificações mútuas entre pais em processo de separação.
- Responsabilidades excessivas para a idade
- Isolamento devido mudanças freqüentes ou a proibição de convívio social.
- Clima de violência entre os pais e uso da criança como objeto de descarga emocional.
- Uso inadequado da criança como objeto de gratificação, não permitindo independência afetiva. (SPB,
CLAVES, ENSP, FIOCRUZ, 2001.p.27)
Todos estes citados acima podem ocasionar sintomas e transtornos patológicos com tendências a psicose
depressão e tendências suicidas, dentre outros.
2.4- Bullying
Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneira
repetitiva, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas. O termo bullying tem origem na palavra
inglesa bully, que significa valentão, brigão. Mesmo sem uma denominação em português, é entendido como
ameaça, tirania, opressão, intimidação, humilhação e maltrato.
(http://revistaescola.abril.com.br/formacao/bullying-escola-494973.shtml Acessado em 10/09/2014)
Além de um possível isolamento ou queda do rendimento escolar, crianças e adolescentes que passam por
humilhações racistas, difamatórias ou separatistas podem apresentar doenças psicossomáticas e sofrer de algum
tipo de trauma que influencie traços da personalidade. Em alguns casos extremos, o bullying chega a afetar o
estado emocional do jovem de tal maneira que ele opte por soluções trágicas, como o suicídio.
3- Fobias: Possível conseqüência dos traumas de infância
Uma fobia é um medo persistente e irracional de um determinado tipo de objeto, animal, atividade ou
situação que represente pouco ou nenhum perigo. Essas fobias podem ser classificadas de três maneiras
diferentes:
Agorafobia - Medo de estar em lugares públicos concorridos, onde o indivíduo não possa retirar-se de uma
forma fácil ou despercebida.
Fobia Social - Medo perante situações em que a pessoa possa estar exposta a observação dos outros, ser
vítima de comentários ou passar perante uma situação de humilhação em público.
Fobia Simples - Medo circunscrito diante objetos ou situações concretas.
De maneira geral as fobias têm raízes em alguma experiência extremamente negativa no passado. Uma
mulher certa vez relatou em um consultório, ter medo de borboletas e segundo ela isso começou um dia em
uma borboleta muito grande sobrevoou o seu pai, e no seu imaginário infantil a borboleta poderia levar
para longe o seu genitor.
Alguns pesquisadores ressaltam que as fobias podem ter causa genética. Segundo eles existem alguns
indícios que levam a essa conclusão. Nessa linha de pensamento é apontado o fato de dois terços das
pessoas que sofrem desse mal possuírem algum parente que também possuam algum tipo de fobia.
Também são apontados casos em que gêmeos idênticos criados separadamente apresentam a mesma fobia.
Diante desses dados é impossível negar que fatores genéticos tenham influência sobre o aparecimento
desse transtorno, entretanto assim como tantas outras doenças as fobias podem ser resultadas de múltiplos
fatores (genéticos, ambientais e sociais).
Algumas técnicas de tratamento para fobias são:
Terapia Cognitiva Comportamental: o enfoque é ajudar o paciente modificar a forma de pensamento
e perceber que as situações que ele compreende como perigosas são na verdade seguras.
Dessensibilização: Consiste em aproximar gradualmente o paciente do objeto fóbico, respeitando os
limites da pessoa. Os primeiros contatos podem ser através de fotos e então as formas de contato vão sendo
intensificadas. O paciente é monitorado através de aparelhos de biofeedback, que passa para os
especialistas dados como respiração, batimento cardíaco e resistência da pele.
Alguns exemplos de fobias:
Cinofobia: Medo de cães Selenofobia: Medo da lua
4- Traumas ligados a sexualidade: Transtornos sexuais
Aversão sexual: A perspectiva de relação sexual produz medo ou ansiedade suficiente para que a atividade
sexual seja evitada.
Compulsão Sexual: É caracterizado pelo fracasso em resistir a um impulso ou tentação de realizar atos ou
fantasias sexuais. O ato precede de uma sensação crescente de tensão ou excitação seguido de prazer,
gratificação ou alívio depois de realizado. Por ser de caráter altamente impulsivo, causa problemas
significativos tanto na vida amorosa quanto pessoal e profissional de ambos os parceiros.
Dispareunia: A Dispareunia é caracterizada por fortes dores durante as relações sexuais, ocorrendo tanto na
mulher quanto no homem. O desenvolvimento desse transtorno está relacionado ao abuso sexual ou estupro
Ejaculação precoce: Incapacidade de controlar a ejaculação, que pode ocorrer com estimulação sexual
mínima antes ou logo após a penetração. Relações de estresse, a novidade de um relacionamento, ansiedade e
problemas relacionados à intimidade podem desempenhar um papel no desenvolvimento desta doença.
Exibicionismo: É o hábito de mostrar genitais a um estranho, geralmente em locais públicos. A própria
reação de surpresa da vítima proporciona ao exibicionista excitação e prazer sexual. Às vezes, o indivíduo se
masturba durante o ato, porém, sem qualquer tentativa de atividade sexual com a vítima.
Fetichismo Transviético: É caracterizado pela utilização de roupas femininas por homens heterossexuais,
para se excitarem, se masturbarem ou praticar o ato sexual; sendo que em situações não sexuais, esses
indivíduos se vestem de maneira normal. Para ser diagnosticado como Fetichismo transvéstico, esse
comportamento deve ser frequente e tido como única maneira para o indivíduo obter prazer sexual.
Frotteurismo: Frotteurismo é caracterizado por um comportamento em que o indivíduo toca ou se esfrega
de maneira sexual em uma pessoa sem seu consentimento.
Masoquismo: Os atos masoquistas são praticados geralmente com um parceiro sádico - que sente prazer em
infringir dor-, e inclui simulação de estupro, contenções (sujeição) colocação de vendas , palmadas,
espancamento, açoitamento, choques elétricos, ser cortado, "perfurado e atravessado" e humilhado (receber
sobre si a urina ou as fezes do parceiro, ser forçado a rastejar e latir como um cão, ou ser submetido a abuso
verbal por exemplo).
Orientação sexual egodistônica: O indivíduo reconhece sua identidade ou preferência sexual
(heterossexualidade, homossexualidade, bissexualidade ou pré-púbere), mas apresenta transtornos psicológicos
ou comportamentais associados a essa identidade ou preferência, podendo buscar tratamento para alterá-la.
Pedofilia: Envolve fantasias e atração sexual por crianças pré-púberes (entre 13 anos ou menos) do sexo
oposto ou mesmo sexo. Está muito associado a casos de incesto, ou seja, a maioria dos casos de pedofilia
envolve pessoas da mesma família - pais / padrastos com os filhos e filhas.
Sadismo: Sadismo Sexual envolve atos reais (não simulados) em que o indivíduo sente excitação sexual
infringindo sofrimento psicológico ou físico (incluindo humilhação) ao seu parceiro (a).
Transexualismo: Trata-se de um desejo de viver e ser aceito enquanto pessoa do sexo oposto. Este desejo
se acompanha em geral de um sentimento de mal estar ou inadaptação ao seu próprio sexo e do desejo de
submeter-se a uma intervenção cirúrgica ou a um tratamento hormonal a fim de tornar-se o mais semelhante
possível ao sexo desejado.
Transtorno da maturação sexual: Ocorre em adolescentes que não estão certos quanto a sua orientação
(homo, hetero ou bissexual), ou em indivíduos que após um período de orientação sexual aparentemente estável
(frequentemente ligada a uma relação duradoura), descobre que sua orientação sexual está mudando, causando-
lhe fortes crises de ansiedade e/ou depressão.
Vaginismo: Espasmo da musculatura da vagina, impossibilitando a penetração do pênis ou causando muita
dor à pessoa com o transtorno.
Voyeurismo: é caracterizado pelo desejo de um individuo em observar sem qualquer consentimento uma
pessoa em ato intimo (trocando de roupa, tomando banho ou em ato sexual).
5-Fetiches : Possível ligação aos traumas da infância
O fetichismo pode ser entendido como uma perturbação da sexualidade, ou seja, um desvio quanto ao objeto
sexual. Segundo Greencre, em 1979, o fetichismo teria a sua origem em dificuldades e problemas na relação
mãe-criança. Assim, quando a criança não consegue ser acalmada pela mãe, para experimentar integridade
corporal, a criança necessita de um objeto transacional, por exemplo, um bicho de pelucia, algo durável e
confiável.
Estas perturbações genitais precoces são reativadas mais tarde, quando existe uma preocupação com a
integridade genital no homem. Para Greencre, o fetiche funcionaria como um objeto transicional.
Alguns exemplos:
Bondage: é uma prática oriental, onde o prazer está especialmente ligado à imobilização de um dos
parceiros, seja braços, pernas ou imobilizar o outro completamente com cordas, panos, fitas adesivas, etc...
quando não é apenas uma simulação que não o sofrimento da vítima pode ser associada ao fetichismo, mas se
houver dor e sofrimento considera-se uma parafilia
Bondage barber: Trata-se de um grupo americano que faz vídeos para a internet explorando, ao mesmo
tempo, 2 fetiches: O Bondage, e o fetiche em que se sente prazer ao cortar os cabelos (assistir pessoas raspando
a cabeça, raspar a cabeça de alguém, se imaginar passando a máquina nos cabelos). Nos vídeos, as pessoas são
amarradas (Fato sempre ligado a vingança, chantagem ou perda de aposta) e tem a cabeça raspada. São
explorados, nos 40 vídeos até hoje produzidos pelo site , as diversas ramificações do fetiche por cabelo: A capa
usada, o som da máquina, a sensação de passar a máquina na cabeça, etc.
Existem também na rede diversos grupos em que pessoas que sentem esse mesmo fetiche trocam
experiências. Alguns membros do grupo relatam que tudo teve início após sofrerem castigos, sendo amarrados
ou presos no quarto (Bondage) ou em situações em que foram ameaçados pelos pais de terem a cabeça raspada
ou quando, a força, a mãe ou algum familiar de fato o obrigou a raspar a cabeça.
Podolatria: Fetiche relacionado ao desejo sexual por pés (pé, chulé, meias, calçados, etc). São atos comuns
que levam o podólatra a ter excitação e prazer sexual exclusivamente com o ato de ver, tocar com as mãos,
lamber, cheirar, beijar ou massagear os pés de outra pessoa, entre muitos outros; muito raramente um fetichista
pode ainda ter prazer quando os próprios pés são objeto dessas ações.
Clismafilia - obtenção de prazer sexual pela introdução de líquidos pelo ânus.
Coprofilia - obtenção de prazer sexual pelo uso de fezes.
Fetiche de sangue - obtenção de prazer sexual ao ver uma pessoa sangrar. no caso específico de menofilia, há
atração sexual por sangue de menstruação.
Necrofilia - atração sexual por cadáveres.
Urolagnia - obtenção de prazer sexual ao entrar em contato com o xixi de outra pessoa, ou ao urinar em alguém.
Teratofilia - atração sexual por pessoas deformadas.