5
 Universidade Católica de Brasília Curso de Letras Estudos Crítico-Te óricos da Literatura I Professora Lívila Pereira Maciel “LINGUÍSTICA E POÉTICA”, DE ROMAN JAKOBSON 1  – TRECHOS ESCOLHIDOS Destacamos todos os seis fatores envolvidos na comunicação veral! e"ceto a #ró#ria mensa$em% & #endor '  Einstellung ( #ara a ME)*+,EM como tal! o enfoue da mensa$em [pág1!"# #or ela #ró#ria! eis a função  poética da lin$ua$em Essa função não #ode ser estudada de maneira #roveitosa desvinculada dos #rolemas $erais da lin$ua$em! e #or outro lado! o escrutínio da lin$ua$em e"i$e consideração minuciosa da sua função  #o.tica% /ualuer tentativa de redu0ir a esfera da função #o.tica 1 #oesia ou de confinar a #oesia 1 função  #o.tica seria uma sim#lificação e"cessiva e en$anadora% + função #o.tica não . a 2nica função da arte veral! mas tão-somente a função dominante! determinante! ao #asso ue! em todas as outras atividades verais ela funciona como um constituinte acessório! susidi3rio Com #romover o car3ter #al#3vel dos si$nos! tal função a#rofunda a dicotomia fundamental de si$nos e o4etos% Daí ue! ao tratar da função  #o.tica! a Lin$5ística não #ossa limitar-se ao cam#o da #o esia% /ual . o crit.rio lin$5ístico em#írico da função #o.tica6 Em #articular! ual . o característico indis#ens3vel! inerente a toda ora #o.tica6 Para res#onder a esta #er$unta! devemos recordar os dois modos  3sicos de arran4o utili0ados no com#ortamento veral!  seleção e combinação. *e 7criança7 for o tema da mensa$em! o ue fala seleciona! entre os [pág1!$# nomes e"istentes! mais ou menos semel8antes! #alavras como criança! $uri'a(! $aroto'a(! menino'a(! todos eles euivalentes entre si! so certo as#ecto e então #ara comentar o tema! ele #ode escol8er um dos veros semanticamente co$natos 9 dorme! coc8ila! caeceia! dormita% +mas as #alavras escol8idas se cominam na cadeia veral% + seleção . feita em ase de euival:ncia! semel8ança e dessemel8ança! sinonímia e antonímia! ao #asso ue a cominação! a construção da se5:ncia! se aseia na conti$5idade% A função poética projeta o princípio de equivalência do eixo de  seleção sobre o eixo de combinação. + euival:ncia . #romovida 1 condição de recurso constitutivo da se5:ncia% Em #oesia! uma sílaa . i$ualada a todas as outras sílaas da mesma se5:ncia; cada acento de  #alavra . considerado i$ual a ualuer outro acento de #alavra! assim como aus:ncia de acento i$uala aus:ncia de acento; lon$o '#rosodicamente( i$uala lon$o! reve i$uala reve; fronteira de #alavra i$uala fronteira de #alavra! aus:ncia de fronteira i$uala aus:ncia de fronteira; #ausa sint3tica i$uala #ausa sint3tica! aus:ncia de #ausa i$uala aus:ncia de #ausa% +s sílaas se convertem em unidades de medida! e o mesmo acontece com as moras ou acentos% Pode-se o4etar ue a metalin$ua$em tam.m fa0 uso se5encial de unidades euivalentes uando com ina e"#re ss<es sin=nimas numa sente nça euaciona i> +?+ '7+ .$ua . a f:mea do cavalo 7(% Poesia e metalin$ua$em! todavia! estão em o#osição diametral entre si; em metalin$ua$em% a se5:ncia . usada #ara construir uma euação! ao #asso ue em #oesia . usada #ara construir uma se5:ncia% Em #oesia! e! em certa medida! nas manifestaç<es latentes da função #o.tica! se5:ncias delimitadas  #or fronteiras de #alavra s e tornam mensur3veis! uer se4am sentidas como isocr=n icas ou $raduais% '%%%( '%%%( + su#er#osição de um #rincí#io de euival:ncia 1 se5:ncia de #alavras ou! em outros termos! a montagem da forma m.trica sore a forma usual do discurso! comunica necessariamente a sensação de uma confi$uração du#la! amí$ua! a uem uer ue este4a familiari0ado com a lín$ua e com o verso em uestão% Tanto as conver$:ncias uanto as diver$:ncias entre as duas formas! tanto as e"#ectativas satisfeitas uanto as frustradas! #rovocam tal sensação% [pág1%&# *em d2vid a al $um a! o verso . fundamentalmente um a 7fi $u ra de som7 re co rr ente% @undamentalmente! sem#re! mas nunca unicamente% Todas as tentativas de confinar convenç<es #o.ticas como met ro! ali ter ação ou rima! ao #lan o son oro são mer os rac ioc ínios es# eculativos! sem nen 8uma  4ustificação em#írica% + #ro4eção do #rincí#io de euival:ncia na se5:ncia tem si$nificação muito mais vasta e #rofunda% + conce#ção ue Aal.r tin8a da #oesia como 78esitação entre o som e o sentido7 '( . muito mais realista e ci entífica ue todas as tend:ncias do isolacionismo fon.tico% Conuanto a rima! #or definição! se aseie na recorr:ncia re$ular de fonemas ou $ru#os de fonemas euivalentes! seria uma sim#lificação ausiva tratar a rima meramente do #onto de vista do som% + rima  F+G&B*&)! Homan% Lin$5ística e Po.ticaJ% In> -  Lingística e comunicação% *ão Paulo> Cultri"! KK! #% -%

Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

  • Upload
    duccini

  • View
    218

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

7/21/2019 Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

http://slidepdf.com/reader/full/trechos-escolhidos-de-linguistica-e-poetica-roman-jakobson 1/5

Universidade Católica de BrasíliaCurso de LetrasEstudos Crítico-Teóricos da Literatura IProfessora Lívila Pereira Maciel

“LINGUÍSTICA E POÉTICA”, DE ROMAN JAKOBSON1 – TRECHOS ESCOLHIDOS

Destacamos todos os seis fatores envolvidos na comunicação veral! e"ceto a #ró#ria mensa$em% & #endor ' Einstellung ( #ara a ME)*+,EM como tal! o enfoue da mensa$em [pág1!"# #or ela #ró#ria! eis a função

 poética da lin$ua$em Essa função não #ode ser estudada de maneira #roveitosa desvinculada dos #rolemas$erais da lin$ua$em! e #or outro lado! o escrutínio da lin$ua$em e"i$e consideração minuciosa da sua função #o.tica% /ualuer tentativa de redu0ir a esfera da função #o.tica 1 #oesia ou de confinar a #oesia 1 função #o.tica seria uma sim#lificação e"cessiva e en$anadora% + função #o.tica não . a 2nica função da arteveral! mas tão-somente a função dominante! determinante! ao #asso ue! em todas as outras atividadesverais ela funciona como um constituinte acessório! susidi3rio Com #romover o car3ter #al#3vel dossi$nos! tal função a#rofunda a dicotomia fundamental de si$nos e o4etos% Daí ue! ao tratar da função #o.tica! a Lin$5ística não #ossa limitar-se ao cam#o da #oesia%

/ual . o crit.rio lin$5ístico em#írico da função #o.tica6 Em #articular! ual . o característicoindis#ens3vel! inerente a toda ora #o.tica6 Para res#onder a esta #er$unta! devemos recordar os dois modos 3sicos de arran4o utili0ados no com#ortamento veral!  seleção e combinação. *e 7criança7 for o tema damensa$em! o ue fala seleciona! entre os [pág1!$# nomes e"istentes! mais ou menos semel8antes! #alavrascomo criança! $uri'a(! $aroto'a(! menino'a(! todos eles euivalentes entre si! so certo as#ecto e então #aracomentar o tema! ele #ode escol8er um dos veros semanticamente co$natos 9 dorme! coc8ila! caeceia!dormita% +mas as #alavras escol8idas se cominam na cadeia veral% + seleção . feita em ase deeuival:ncia! semel8ança e dessemel8ança! sinonímia e antonímia! ao #asso ue a cominação! a construçãoda se5:ncia! se aseia na conti$5idade%  A função poética projeta o princípio de equivalência do eixo de

 seleção sobre o eixo de combinação. + euival:ncia . #romovida 1 condição de recurso constitutivo dase5:ncia% Em #oesia! uma sílaa . i$ualada a todas as outras sílaas da mesma se5:ncia; cada acento de #alavra . considerado i$ual a ualuer outro acento de #alavra! assim como aus:ncia de acento i$uala

aus:ncia de acento; lon$o '#rosodicamente( i$uala lon$o! reve i$uala reve; fronteira de #alavra i$ualafronteira de #alavra! aus:ncia de fronteira i$uala aus:ncia de fronteira; #ausa sint3tica i$uala #ausa sint3tica!aus:ncia de #ausa i$uala aus:ncia de #ausa% +s sílaas se convertem em unidades de medida! e o mesmoacontece com as moras ou acentos%

Pode-se o4etar ue a metalin$ua$em tam.m fa0 uso se5encial de unidades euivalentes uandocomina e"#ress<es sin=nimas numa sentença euacionai> +?+ '7+ .$ua . a f:mea do cavalo7(% Poesia emetalin$ua$em! todavia! estão em o#osição diametral entre si; em metalin$ua$em% a se5:ncia . usada #araconstruir uma euação! ao #asso ue em #oesia . usada #ara construir uma se5:ncia%

Em #oesia! e! em certa medida! nas manifestaç<es latentes da função #o.tica! se5:ncias delimitadas #or fronteiras de #alavra se tornam mensur3veis! uer se4am sentidas como isocr=nicas ou $raduais% '%%%(

'%%%( + su#er#osição de um #rincí#io de euival:ncia 1 se5:ncia de #alavras ou! em outros termos! a

montagem da forma m.trica sore a forma usual do discurso! comunica necessariamente a sensação de umaconfi$uração du#la! amí$ua! a uem uer ue este4a familiari0ado com a lín$ua e com o verso em uestão%Tanto as conver$:ncias uanto as diver$:ncias entre as duas formas! tanto as e"#ectativas satisfeitas uantoas frustradas! #rovocam tal sensação% [pág1%&#

*em d2vida al$uma! o verso . fundamentalmente uma 7fi$ura de som7 recorrente%@undamentalmente! sem#re! mas nunca unicamente% Todas as tentativas de confinar convenç<es #o.ticascomo metro! aliteração ou rima! ao #lano sonoro são meros raciocínios es#eculativos! sem nen8uma 4ustificação em#írica% + #ro4eção do #rincí#io de euival:ncia na se5:ncia tem si$nificação muito maisvasta e #rofunda% + conce#ção ue Aal.r tin8a da #oesia como 78esitação entre o som e o sentido7 '( .muito mais realista e científica ue todas as tend:ncias do isolacionismo fon.tico%

Conuanto a rima! #or definição! se aseie na recorr:ncia re$ular de fonemas ou $ru#os de fonemaseuivalentes! seria uma sim#lificação ausiva tratar a rima meramente do #onto de vista do som% + rima

 F+G&B*&)! Homan% Lin$5ística e Po.ticaJ% In> - Lingística e comunicação% *ão Paulo> Cultri"! KK! #% -%

7/21/2019 Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

http://slidepdf.com/reader/full/trechos-escolhidos-de-linguistica-e-poetica-roman-jakobson 2/5

im#lica necessariamente uma relação semNntica entre unidades rímicas '7com#an8eiros de rima7! r!"me#

 fello$s% na nomenclatura de Oo#ins(% [pág1%%#

'%%%(+ rima . a#enas um caso #articular! condensado! de um #rolema muito mais $eral! #oderíamos

mesmo di0er do #rolema fundamental! de #oesia! a saer! o paralelismo. )este #onto tam.m Oo#ins! nosseus escritos de estudante! de Q! demonstrou uma #rodi$iosa com#reensão da estrutura da #oesia>

7+ #arte artificial da #oesia! talve0 fosse 4usto di0er toda forma de artifício! se redu0 ao #rincí#io do #aralelismo% + estrutura da #oesia . a de um contínuo #aralelismo! ue vai dos c8amados #aralelismost.cnicos da #oesia 8eraica e das antífonas da m2sica da I$re4a 1 com#le"idade do verso $re$o! italiano ouin$l:s% Mas o #aralelismo . necessariamente de duas es#.cies 9 auele em ue a o#osição . claramenteacentuada e auele em ue . antes da transição ou crom3tica% *omente a #rimeira es#.cie! a do #aralelismoacentuado! est3 envolvida na estrutura do verso 9 no ritmo! recorr:ncia de certa se5:ncia de sílaas! nometro! recorr:ncia de certa se5:ncia de ritmo! na aliteração! na assonNncia e na rima% + força destarecorr:ncia est3 em en$endrar outra recorr:ncia ou #aralelismo corres#ondente nas #alavras ou nas id.ias! e!

 grosso modo% e mais como uma tend:ncia ue como um resultado invari3vel! . o #aralelismo mais acentuadona estrutura 'se4a na elaoração! se4a na :nfase( ue en$endra mais acentuado #aralelismo nas #alavras e nosentido% '%%%( R es#.cie de #aralelismo acentuado ou aru#to #ertencem a met3fora! o símile! a #ar3ola! etc!em ue se #rocura um efeito de #arecença entre as coisas! e a antítese! o contraste! etc! em ue o ue se #rocura . dessemel8ança7 '(%

Em suma! a euival:ncia de som! #ro4etada na se5:ncia como seu #rincí#io constitutivo! im#licainevitavelmente [pág1%'# euival:ncia semNntica! e em ualuer nível lin$5ístico! ualuer constituinte deuma se5:ncia ue tal suscita uma das duas e"#eri:ncias correlativas ue Oo#ins define 8ailmente como7com#aração #or amor da #arecença7 e 7com#aração #or amor da dessemel8ança7% [pág1%"#

'%%%(Em #oesia! não a#enas a se5:ncia fonoló$ica! mas! de i$ual maneira! ualuer se5:ncia de

unidades semNnticas! tende a construir uma euação% + similaridade su#er#osta 1 conti$5idade comunica 1 #oesia sua radical ess:ncia simólica! multí#lice! #oliss:miea! elamente su$erida #ela fórmula de ,oet8e! Alles &erganglic!e ist nur ein 'leic!nis '7Tudo uanto se4a transitório não #assa de símofo7(% Dito em

termos mais t.cnicos> tudo uanto . transitório . um símile% Em #oesia! onde a similaridade se su#er#<e 1conti$5idade! toda metonímia . li$eiramente! metafórica e toda met3fora tem um mati0 metonímico%+ ami$5idade se constitui em característica intrínseca! inalien3vel! de toda mensa$em voltada #ara

si #ró#ria! em [pág1%$# suma! num corol3rio ori$atório da #oesia% He#itamos com Em#son> 7+smauinaç<es da ami$5idade estão nas raí0es mesmas da #oesia%7Q )ão somente a #ró#ria mensa$em! masi$ualmente seu destinat3rio e seu remetente se tornam amí$uos% +l.m do autor e do leitor! e"iste o 7Eu7 do8erói lírico ou do narrador fictício e o 7tu7 ou 7vós7 do su#osto destinat3rio dos monólo$os dram3ticos! dass2#licas! das e#ístolas% Por e"em#lo! o #oema (restling )acob '+ Luta Contra o +n4o( . endereçado! #eloseu 8erói! ao *alvador e simultaneamente funciona como uma mensa$em su4etiva do #oeta C8arles Sesleaos seus leitores% /ualuer mensa$em #o.tica .! virtualmente! como ue um discurso citado! com todos os #rolemas #eculiares e intrincados ue o 7discurso dentro do discurso7 oferece ao lin$5ista%

+ su#remacia da função #o.tica sore a função referencial não olitera a refer:ncia! mas torna-a

amí$ua% + mensa$em de du#lo sentido encontra corres#ond:ncia num remetente cindido! num destinat3riocindido e! al.m disso! numa refer:ncia cindida! conforme o e"#<em convincentemente os #reNmulos doscontos de fada dos diversos #ovos! como! #or e"em#lo! o 8aitual e"órdio dos contadores de 8istória deMa4orca> Aixo era " no era '7isso era e não era7(% + re#et:ncia #rodu0ida #ela a#licação do #rincí#io deeuival:ncia 1 se5:ncia torna reiter3veis não a#enas as se5:ncias da mensa$em #o.tica! mas a totalidadedesta% + ca#acidade de reiteração! imediata ou retardada! a reificação de uma mensa$em #o.tica e de seusconstituintes! a conversão de uma mensa$em em al$o duradouro 9 tudo isto re#resenta! de fato! uma #ro#riedade inerente e efetiva da #oesia%

 )uma se5:ncia em ue a similaridade se su#er#<e 1 conti$5idade! duas se5:ncias fon:micassemel8antes! #ró"imas uma da outra! tendem a assumir função #aronom3sica% [pág1()# Palavras de somsemel8ante se a#ro"imam uanto ao seu si$nificado% verdade ue o #rimeiro verso da estrofe final do*orvo de Poe fa0 lar$o uso de aliteraç<es re#etitivas! conforme o assinalou Aal.r! mas 7o efeitoirresistível7 desse verso e de toda a estrofe . fundamentalmente devido ao domínio da etimolo$ia #o.tica%[pág1(1#

7/21/2019 Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

http://slidepdf.com/reader/full/trechos-escolhidos-de-linguistica-e-poetica-roman-jakobson 3/5

'%%%(Por outras #alavras! a 7#oeticidade7 não consiste em acrescentar ao discurso ornamentos retóricos;

im#lica! antes! numa total reavaliação do discurso e de todos os seus com#onentes! uaisuer ue se4am%[pág1')#

NOTAS DO CAPÍTULO *AS +UE APARECEM NOS ECERTOS-

P% Aal.r! +be Art of ,oetr". Bollin$en series VQ ')ova Iorue! WQ(%W ,% M% Oo#ins! +!e )ournal and ,apers

K S% G% Simsatt! +!e &erbal -con 'Le"in$ton! WQV(% ,% M% Oo#ins! +!e )ournals and ,apers.

Q S% Em#son! even +"pes of Ambiguit" ')ova Iorue! terceira edição! WQQ(% S% ,iese! 7*ind M1rc8en L5$en67 *a!iera ,uscarice I 'WQ(! #% ss% P% Aal.r! +!e Art of ,oetr".

+UEST.ES PARA RE/LE0O

A p2342 5 674382 7 57937 5: 37;3: 57 R:<= J>:9?:=, 27?p:=5 : @87 ?7 p757

% & ue . função #o.tica6% /ue dicotomia a função #o.tica a#rofunda6% /uais são os dois modos 3sicos de arran4o utili0ados no com#ortamento veral6V% Em ue sentido a #oesia se o#<e 1 metalin$ua$em6Q% Como Oo#ins define o verso6% & ue uer di0er 7monta$em7 6 Para res#onder confira a #3$ina V6% /ual era a conce#ção de Aaler #ara verso6% Deve-se tratar a rima e"clusivamente do #onto de vista do som6

W% /ual #a#el desem#en8a a ami$uidade na #oesia6K% & ue acontece 1 função referencial uando a função #o.tica domina6% Como se avalia as similaridades nos sons6% & ue #ensa Faoson da relação somXsi$nificado no domínio da #oesia6% Em ue consiste a #oeticidade! #ara Faoson6

Lingüística e Poética

[...]

[Poética]

Foram-me solicitadas obser- vações sumárias acerca da Poética em sua relação com a Lingüística. Poéticatrata !undamentalmente do "roblema# Que é que faz de uma mensagem verbal uma obra de arte?  $endo o ob%eto"rinci"al da Poética as differentia specifica entre a arte verbal e as outras artes e es"écies de condutas verbais& cabe-l'e um lugar de "reemin(ncia nos estudos literários.

Poética trata dos "roblemas da estrutura verbal& assim como a análise de "intura se ocu"a da estrutura"ictorial. )omo a Lingüística é a ci(ncia global da estrutura verbal&

a Poética "ode ser encarada como "arte integrante da Lingüística.

*...+

[!ins]

,uvimos dier& s vees& /ue a Poética& em contra"osição Lingüística& se ocu"a de %ulgamentos de valor. 0stase"aração dos dois cam"os entre si se baseia numa inter"retação corrente& mas err1nea& do contraste entre a

estrutura da "oesia e outros ti"os de estrutura verbal# a!irma-se /ue estas se o"õem& merc( de sua naturea 2casual2&não intencional& naturea 2não casual2& intencional& da linguagem "oética. 3e !ato& /ual/uer conduta verbal tem uma!inalidade& mas os ob%etivos variam e a con!ormidade dos meios utiliados com o e!eito visado é um "roblema /ue"reocu"a "ermanentemente os investigadores das diversas es"écies de comunicação verbal.

7/21/2019 Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

http://slidepdf.com/reader/full/trechos-escolhidos-de-linguistica-e-poetica-roman-jakobson 4/5

[!unções]

4ndubitavelmente& "ara toda comunidade lingüística e "ara toda "essoa /ue !ala& e5iste uma unidade de língua&mas esse c6digo global re"resenta um sistema de subc6digos relacionados entre si7 toda língua encerra diversos ti"ossimult8neos& cada um dos /uais é caracteriado "or uma !unção di!erente.

*...+

["rocesso de comunicação verbal]

linguagem deve ser estudada em toda a variedade de suas !unções. ntes de discutir a !unção "oética&devemos de!inir-l'e o lugar entre as outras !unções da linguagem. Para se ter uma idéia geral dessas !unções& émister uma "ers"ectiva sumária dos !atores constitutivos de todo "rocesso lingüístico& de todo ato de comunicaçãoverbal. , 90:0;0<;0 envia uma :0<$=0: ao 30$;4<;>94,. Para ser e!ica& a mensagem re/uer um ),<;0?;, a/ue se re!ere *ou 2re!erente2& em outra nomenclatura algo ambígua+& a"reensível "elo destinatário& e /ue se%a verbalou suscetível de verbaliação7 um )@34=, total ou "arcialmente comum ao remetente e ao destinatário *ou& emoutras "alavras& ao codi!icador e ao decodi!icador da mensagem+7 e& !inalmente& um ),<;;,& um canal !ísico e umacone5ão "sicol6gica entre o remetente e o destinatário& /ue os ca"acite a ambos a entrarem e "ermanecerem emcomunicação. ;odos estes !atores inalienavelmente envolvidos na comunicação verbal "odem ser es/uematiadoscomo segue#

  ),<;0?;,

9emetente :ensagem 3estinatário.....................

)ada um desses seis !atores determina uma di!erente !unção da linguagem. 0mbora distingamos seis as"ectosbásicos da linguagem& di!icilmente lograríamos& contudo& encontrar mensagens verbais /ue "reenc'essem uma Anica!unção. diversidade reside não no mono"6lio de alguma dessas diversas !unções& mas numa di!erente ordem'ierár/uica de !unções. estrutura verbal de uma mensagem de"ende basicamente da !unção "redominante. :ascon/uanto um "endor *Einstellung+ "ara o re!erente& uma orientação "ara o ),<;0?;, - em suma& a c'amada !unção90F090<)4L& 2denotativa2&

2cognitiva2 - se%a a tare!a dominante de numerosas mensagens& a "artici"ação adicional de outras !unções em taismensagens deve ser levada em conta "elo lingüista atento.

[!unção emotiva]

c'amada !unção 0:,;4B ou 2e5"ressiva2& centrada no 90:0;0<;0& visa a uma e5"ressão direta da atitudede /uem !ala em relação /uilo de /ue está !alando. ;ende a suscitar a im"ressão de uma certa emoção& verdadeira

ou simulada7 "or isso& o termo 2!unção emotiva2& "ro"osto e de!endido "or :artC& demostrou ser "re!erível a2emocional2. , estrato "uramente emotivo da linguagem é a"resentado "elas inter%eições. 0stas di!erem dos"rocedimentos da linguagem re!erencial tanto "ela sua con!iguração sonora *se/ü(ncias sonoras "eculiares ou mesmosons al'ures incomuns+.

[!unção conativa]

orientação "ara o 30$;4<;>94,& a !unção ),<;4B& encontra sua e5"ressão gramatical mais "ura novocativo e no im"erativo& /ue sintática& mor!ol6gica e amiAde até !onologicamente& se a!astam das outras categoriasnominais e verbais. s sentenças im"erativas di!erem !undamentalmente das sentenças declarativas# estas "odem ea/uelas não "odem ser submetidas "rova de verdade. *...+

, modelo tradicional da linguagem& tal como o elucidou Dü'ler "articularmente& con!inava-se a essas tr(s !unções -emotiva& conativa e re!erencial - e aos tr(s á"ices desse modelo - a "rimeira "essoa& o remetente7 a segunda& odestinatário7 e a 2terceira "essoa2 "ro"riamente dita& alguém ou algo de /ue se !ala. )ertas !unções verbais adicionais"odem ser !acilmente in!eridas desse modelo triádico. *...+

[!unção !ática]

Eá mensagens /ue servem !undamentalmente "ara "rolongar ou interrom"er a comunicação& "ara veri!icar seo canal !unciona *2l1& está me ouvindo2+& "ara atrair a atenção do interlocutor ou a!irmar sua atenção continuada*20stá ouvindo2 ou& na dicção s'aGes"ereana& 2Prestai-me ouvidosH2 - e& no outro e5tremo do !io& 2Em-'mH2+. 0ste"endor "ara o ),<;;, ou& na designação de :alinoIsGi& "ara a !unção F>;4)& "ode ser evidenciada "or uma troca"ro!usa de !6rmulas ritualiadas& "or diálogos inteiros cu%o Anico "ro"6sito é "rolongar a comunicação.

[metalingüística]

Jma distinção !oi !eita& na L6gica moderna& entre dois níveis de linguagem& a 2linguagem-ob%eto2& /ue !ala deob%etos& e a 2metalinguagem2& /ue !ala da linguagem. :as a metalinguagem não é a"enas um instrumento cientí!iconecessário& utiliado "elos l6gicos e "elos lingüistas7 desem"en'a também "a"el im"ortante em nossa linguagemcotidiana. )omo o Kourdain de :olire& /ue usava a "rosa sem o saber& "raticamos a metalinguagem sem nos dar

conta do caráter metalingüístico de nossas o"erações. $em"re /ue o remetente eMou o destinatário t(m necessidadede veri!icar se estão usando o mesmo c6digo& o discurso !ocalia o )@34=,7 desem"en'a uma !unção:0;L4<=üí$;4) *isto é& de glosa+. *...+

7/21/2019 Trechos Escolhidos de Linguística e Poética - Roman Jakobson

http://slidepdf.com/reader/full/trechos-escolhidos-de-linguistica-e-poetica-roman-jakobson 5/5

[!unção "oética]

3estacamos todos os seis !atores envolvidos na comunicação verbal& e5ceto a "r6"ria mensagem. , "endor*0instellung+ "ara a :0<$=0: como tal& o en!o/ue da mensagem "or ela "r6"ria& eis a !unção "oética da linguagem.0ssa !unção não "ode ser estudada de maneira "roveitosa desvinculada dos "roblemas gerais da linguagem e& "oroutro lado& o escrutínio da linguagem e5ige consideração minuciosa de sua !unção "oética. Nual/uer tentativa dereduir a es!era da !unção "oética "oesia ou de con!inar a "oesia !unção "oética seria uma sim"li!icação e5cessivae enganadora. !unção "oética não é a Anica !unção da arte verbal& mas tão somente a !unção dominante& ao "asso/ue& em todas as outras atividades verbais& ela !unciona como um constituinte acess6rio& subsidiário.

[g(nero "oético e !unções]

)on!orme dissemos& o estudo lingüístico da !unção "oética deve ultra"assar os limites da "oesia& e& "or outrolado& o escrutínio lingüístico da "oesia não se "ode limitar !unção "oética. s "articularidades dos diversos g(neros"oéticos im"licam uma "artici"ação& em ordem 'ierár/uica variável& das outras !unções verbais a "ar da !unção"oética dominante. "oesia é"ica& centrada na terceira "essoa& "õe intensamente em desta/ue a !unção re!erencialda linguagem7 a lírica& orientada "ara a "rimeira "essoa& está intimamente vinculada !unção emotiva7 a "oesia dasegunda "essoa está imbuída de !unção conativa e é ou sA"lice ou e5ortativa& de"endendo de a "rimeira "essoa estarsubordinada segunda ou esta "rimeira.

0m resumo& a análise do verso é inteiramente da com"et(ncia da Poética& e esta "ode ser de!inida como

a/uela "arte da Lingüística /ue trata a !unção "oética em sua relação com as demais !unção da linguagem. Poética&no sentido mais lato da "alavra& se ocu"a da !unção "oética não a"enas na "oesia& onde tal !unção se sobre"õe soutras !unção das linguagem& mas também !ora da "oesia& /uando alguma !unção se sobre"on'a !unção "oética.