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ihu.unisinos.br Três teólogos perseguidos e reabilitados de maneira diferente: Congar, Häring e Rahner by Cepat • 5 min read • original É certo que Yves-Marie Congar, Bernard Häring e Karl Rahner foram perseguidos, primeiro, pelo ex-Santo Ofício e, alguns deles, posteriormente, pela Congregação para a Doutrina da Fé. E também é certo que os três foram reabilitados, embora de maneiras diferentes. Plenamente, no caso de Congar; bem menos, no caso de Rahner; e, certamente, não, no caso de Häring. O artigo é de Jesús Martínez Gordo e publicado no sítio Foro de Curas de Bizkaia, 17-10-2013. A tradução é de André Langer. Eis o artigo. É certo que Yves-Marie Congar, Bernard Häring e Karl Rahner foram perseguidos, primeiro, pelo ex-Santo Ofício e, alguns deles, posteriormente, pela Congregação para a Doutrina da Fé. E também é certo que os três foram reabilitados, embora de maneiras diferentes. Plenamente, no caso de Congar; bem menos, no caso de Rahner; e, certamente, não, no caso de Häring.

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Três teólogos perseguidos ereabilitados de maneiradiferente: Congar, Häring eRahner

by Cepat • 5 min read • original

É certo que Yves-Marie Congar, Bernard Häring e Karl Rahnerforam perseguidos, primeiro, pelo ex-Santo Ofício e, algunsdeles, posteriormente, pela Congregação para a Doutrina da Fé.E também é certo que os três foram reabilitados, embora demaneiras diferentes. Plenamente, no caso de Congar; bem menos,no caso de Rahner; e, certamente, não, no caso de Häring.

O artigo é de Jesús Martínez Gordo e publicado no sítio Foro deCuras de Bizkaia, 17-10-2013. A tradução é de André Langer.

Eis o artigo.

É certo que Yves-Marie Congar, Bernard Häring e Karl Rahnerforam perseguidos, primeiro, pelo ex-Santo Ofício e, algunsdeles, posteriormente, pela Congregação para a Doutrina da Fé.

E também é certo que os três foram reabilitados, embora demaneiras diferentes. Plenamente, no caso de Congar; bem menos,no caso de Rahner; e, certamente, não, no caso de Häring.

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Yves-Marie Congar teve sua particular travessia do deserto antesdo Concílio. A participação no mesmo como “perito” permitiu-lhereabilitar-se e chegar a ser cardeal com João Paulo II.

Karl Rahner também teve dificuldades, mas não sofreu (como é ocaso de Congar) exílio algum. O problema havido com o“imprimatur” de seu estudo sobre o dogma da Assunção de Mariafoi resolvido discretamente, embora as suspeitas nuncadesaparecessem completamente. Sua participação no ConcílioVaticano II o reabilitou, mas a involução pós-conciliar (que eleconstata com particular surpresa e dor) leva-o a adotarposicionamentos cada vez mais “proféticos” ou “rebeldes”.

Finalmente, Bernard Häring também é perseguido pelo SantoOfício, antes do Concílio. O traço singular da sua biografiateológica é que continuará a sê-lo depois por suas críticasconsiderações à Encíclica Humane Vitae, sobre o controle danatalidade (Paulo VI, 1968) e sobre a autoridade do magistérioeclesial nestas questões. Toda uma preocupante antecipação dosproblemas que muitos moralistas (embora não exclusivamente)terão ao longo do pontificado de João Paulo II (começando pelaretirada da “missio docendi”).

Se tivesse que apontar o que é mais significativo em cada umdestes percursos e nas complicadas relações institucionais quemantiveram, teria que indicar que é possível uma dupla ecomplementar reflexão: atendendo à singularidade quetransparece na trajetória teológica de cada um deles e prestandoatenção ao que têm em comum.

O singular de cada um deles

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Quando se atende à sua singularidade, então é preciso destacar acoragem de Congar para padecer (sem perecer) três exílios.

Sua trajetória mostra como é capaz de enfrentar (e sofrer) ascondenações (e as posteriores suspeitas) do ex-Santo Ofício e,sobretudo, os três exílios sem desfalecer. É certo que, sobretudono terceiro deles (Cambridge), sua situação existencial éparticularmente delicada. Mas também é verdade que, apesar detudo, não baixa a guarda nem joga a toalha.

O “Diário” escrito durante estes anos é uma desabafo pessoal (e,frequentemente, uma dolorosa oração), um texto referencial paraconhecer a situação da Igreja no tempo imediatamente anteriorao concílio e, de maneira particular, um documento no qual seinforma sobre a maneira como se comportava a cúria romana comas pessoas que, anos depois, defenderiam a renovação eclesial(por sua coragem teológica e espiritual, posta desmedidamente àprova).

Hoje, assim como na época, também são muitas as pessoas egrupos nos quais se pode ver novamente algo da coragemmostrada por Congar em seu dia para padecer (sem perecer) ofustigamento teológico, espiritual e pastoral daqueles que, porexemplo, defendem uma leitura involucionista do Vaticano II.

A lista destas pessoas e grupos seria interminável. E talvez, porisso, sejam midiaticamente menos conhecidos. Mais notório é oelenco de teólogos que publicaram em castelhano: Juan A.Estrada, José María Castillo, Gustavo Gutiérrez, B. Forcano,Marciano Vidal, Jon Sobrino, Andrés Torres Queiruga e JoséAntonio Pagola.

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Fica a esperança de que sejam abertos, mais cedo que tarde, osoportunos processos de reabilitação que devolvam ahonorabilidade eclesial, injusta e improcedentemente arrancada,na grande maioria das vezes.

De Bernard Häring devemos destacar sua coragem para proporuma alternativa moral à oficial e enfrentar o autoritarismoeclesial.

O redentorista tem em comum com Congar a lucidez para propor,apesar de tudo, uma moral que ultrapasse a casuística imperanteaté então. Se o dominicano francês dá uma contribuiçãoeclesiológica de indubitável nível, Häring formula uma impagávelalternativa de teologia moral.

No entanto, e ao contrário do dominicano francês, mantém umaatitude mais beligerante com o Santo Ofício (e posteriormentecom a Congregação para a Doutrina da Fé). Neste sentido,mostra-se menos propenso a padecer (como no caso dodominicano francês) as decisões que podem ser adotadas contraele e a calar diante dos procedimentos empregados.Provavelmente, muito tem a ver com isso o fato de estar maisfamiliarizado que com Congar com a vida romana e com os“lobbies” vaticanos e também por ter sido reconhecido, naquelaépoca, como uma autoridade teológica mundial.

O que é sofrida paciência em Congar converte-se, no caso deHäring, em denúncia pública, sem paliativos, do autoritarismo eda arbitrariedade. Esta maneira diferente de se relacionar com oex-Santo Ofício mostra-se com toda a clareza quando secontrasta o livro-entrevista do redentorista com o Diário doeclesiólogo francês de 1946 até 1956.

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Nunca é demais recordar que são modos de proceder que nãodesapareceram nem em nossos dias. Os casos mais recentes, entreoutros, de Sobrino, Pagola ou de Torres Queiruga, testificam-no.

De Karl Rahner é preciso destacar, segundo se pode apreciar nabiografia de H. Vorgrimler (o melhor biógrafo) sua coragem paracolaborar na renovação conciliar e rebelar-se contra a involuçãoeclesial.

O teólogo alemão compartilha com Congar e Häring a redação deuma proposta, neste caso de teologia fundamental, que é a queestá na origem da sua problemática relação com o Santo Ofício.Também compartilha com eles um enorme interesse pelarenovação da Igreja antes, durante e depois do Concílio VaticanoII.

Ao contrário de Congar, e em sintonia com Häring, não cala nemtolera a recepção involucionista e se rebela diante dela.

Diferencia-se do moralista pela “sorte” de poder rebelar-se semter que enfrentar os problemas que teve que padecer oredentorista com a Congregação para a Doutrina da Fé. O fatode ser um teólogo mundialmente consagrado (e, muitoprovavelmente, estar geograficamente mais afastado doVaticano) concede-lhe algo como uma espécie de “patente decorso” para dizer o que estima mais oportuno e conveniente,mesmo que não seja do gosto da cúria vaticana.

Muitos dos grupos (de presbíteros, leigos, mulheres e religiosos)que afloraram nestes últimos anos e que ativam uma crítica, aomesmo tempo, propositiva da comunhão eclesial desejável, dasecularidade que teria que recuperar e da justiça que teria que

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resituar no coração da fé, do pensamento e da ação, estãoprolongando, em grande medida, a atitude empregada por K.Rahner rebelde no pós-concílio.

O comum: a coragem, a “parresia”

Mas se a atenção se centra no que é comum, então devemosressaltar, em primeiro lugar, a “parresia” ou a coragem.

A coragem para suportar os dissabores e o sofrimento queacarreta ser suspeito e, inclusive, condenado.

A audácia para propor e redigir uma alternativa, quer sejaeclesiológica, moral ou fundamental e, sobretudo, para defendê-laem diálogo com a modernidade ilustrada.

E o arrojo ou “parresia” para dialogar (de maneirainaceitavelmente assimétrica) com as teologias romanas evaticanas que então (assim como ainda hoje, ao menos com JoãoPaulo II e Bento XVI) calaram qualquer contribuição que nãosintonize com seus postulados metodológicos ou com aperspectiva por eles adotada.

Evidentemente, trata-se de uma audácia assentada no encontrocom Deus que (presente na mediação eclesial) impulsiona a estarparticularmente atento aos sinais dos tempos e ao clamor dejustiça de nosso mundo. Isto, que é comum aos três, ficamodulado, uma vez mais, em cada um deles com acentos próprios.

E em segundo lugar, uma coragem para não se calar e seguirdefendendo, de maneira argumentada, seus posicionamentos,primeiro, diante do Santo Ofício e, posteriormente, diante daCongregação para a Doutrina da Fé.

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Talvez, por isso, suas propostas teológicas seguem sendo emnossos dias tão vivas quanto eram interpelantes em seu tempo.

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