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Tribunal da Relação de Évora Processo nº 36/18.5GDFTR.E1 Relator: SÉRGIO CORVACHO Sessão: 08 Outubro 2019 Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: RECURSO PENAL Decisão: NEGADO PROVIMENTO OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA QUALIFICADA CRIME CONTINUADO ARMA Sumário I - O bem jurídico especialmente tutelado pela norma que prevê e pune os atentados contra a integridade física de outrem é de natureza eminentemente pessoal, pelo que está afastada a punição como um único crime continuado de atos reiterados dessa natureza, ainda que cometidos sobre a mesma pessoa. II - A agravação prevista no n.º3 do artigo 85.º da Lei n.º 5/2006, de 23 de Fevereiro, opera pelo mero porte da arma pelo agente ou por um dos agentes, não sendo necessário, para tanto, que dela se faça algum tipo de utilização, quanto mais não seja a sua simples exibição, mesmo que o agente esteja legitimado a deter a arma, no caso um machado, que é um instrumento de aplicação de nida. III – O que a justi ca a agravação é a perigosidade objetiva do objeto (arma), que tem o condão de potenciar a danosidade da conduta integradora do crime. Texto Integral ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL DA RELAÇÃO DE ÉVORA I - Relatório Por acórdão do Tribunal Colectivo proferido em 4/4/2019 no Processo Comum 1 / 25

Tribunal da Relação de Évora OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA

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Page 1: Tribunal da Relação de Évora OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA

Tribunal da Relação de ÉvoraProcesso nº 36/18.5GDFTR.E1

Relator: SÉRGIO CORVACHOSessão: 08 Outubro 2019Votação: UNANIMIDADEMeio Processual: RECURSO PENALDecisão: NEGADO PROVIMENTO

OFENSA À INTEGRIDADE FÍSICA QUALIFICADA

CRIME CONTINUADO ARMA

Sumário

I - O bem jurídico especialmente tutelado pela norma que prevê e pune os

atentados contra a integridade física de outrem é de natureza eminentemente

pessoal, pelo que está afastada a punição como um único crime continuado de

atos reiterados dessa natureza, ainda que cometidos sobre a mesma pessoa.

II - A agravação prevista no n.º3 do artigo 85.º da Lei n.º 5/2006, de 23 de

Fevereiro, opera pelo mero porte da arma pelo agente ou por um dos agentes,

não sendo necessário, para tanto, que dela se faça algum tipo de utilização,

quanto mais não seja a sua simples exibição, mesmo que o agente esteja

legitimado a deter a arma, no caso um machado, que é um instrumento de

aplicação definida.

III – O que a justifica a agravação é a perigosidade objetiva do objeto (arma),

que tem o condão de potenciar a danosidade da conduta integradora do crime.

Texto Integral

ACORDAM, EM CONFERÊNCIA, NA SECÇÃO CRIMINAL DO TRIBUNAL

DA RELAÇÃO DE ÉVORA

I - Relatório

Por acórdão do Tribunal Colectivo proferido em 4/4/2019 no Processo Comum

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nº 36/18.5GDFTR, que correu termos no Juízo Central Cível e Criminal do

Tribunal Judicial da Comarca de Portalegre, foi decidido:

a) Absolver o arguido NG pela prática, como autor material, de um crime de

violência doméstica na pessoa de EN, p. e p. pelo artigo 152.º, n.º 1, alínea

b) e n.º 2, do Código Penal, condenando-o como autor material na prática, em

concurso efectivo, de dois crimes de ofensa à integridade física

qualificada na pessoa de EN, ambos p. e p. pelo artigo 145.º, n.º 1, alínea a) e

n.º 2, com referência ao artigo 132.º, n.ºs 1 e 2 alínea b), do Código Penal,

condenando-o na pena de 2 (dois) anos e 6 (seis) meses de prisão

relativamente a cada um desses crimes;

b) Unificar as penas fixadas na alínea a), condenando o arguido NG na pena

única de 3 (três) anos e 8 (oito) meses de prisão efectiva;

c) Absolver a arguida EN pela prática, como autora material, de um crime de

violência doméstica na pessoa de NG, p. e p. pelo artigo 152.º, n.º 1, alínea

b) e n.º 2, do Código Penal, condenando-a como autora material na prática, em

concurso efectivo, de um crime de ofensa à integridade física qualificada

na pessoa de NG, p. e p. pelo artigo 145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, com

referência ao artigo 132.º, n.º 1 e 2, alínea b), do Código Penal, na pena de 2

(dois) anos e 10 (dez) meses de prisão e de um crime de ofensa à

integridade física qualificada agravado na pessoa de NG, p. e p. pelo artigo

145.º, n.º 1, alínea a) e n.º 2, com referência ao artigo 132.º, n.º 1 e 2, alínea

b), do Código Penal e ao artigo 86.º, n.ºs 3 e 4, da Lei n.º 5/2006, de 23/02, na

pena de 3 (três) anos de prisão;

d) Unificar as penas fixadas na alínea c), condenando a arguida EN na pena

única de 4 (quatro) anos de prisão efectiva;

Com base nos seguintes factos, que então se deram como provados:

1. Os arguidos NG e EN viveram em união de mesa, cama e habitação desde o

ano de 2010 até Janeiro de 2015.

2. Na constância desta união de facto, nasceu a 8 de Setembro de 2010, BG.

3. Em data não concretamente apurada, mas que se situa no mês de Junho de

2018, os arguidos voltaram a viver em união de mesa, cama e habitação.

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4. Para tal fixaram residência na casa sita…, em Seda, propriedade de BN.

5. Em datas não concretamente apuradas, mas pelo menos com uma cadência

semanal, os arguidos discutiam entre si, no interior do domicílio comum.

6. Nessas circunstâncias, a arguida EN apelidava o arguido NG de “frouxo”.

7. E o arguido NG chamava à arguida EN “puta”.

8. No dia 25 de Agosto de 2018 os arguidos, quando se dirigiam para a sua

residência começaram a discutir por motivo não concretamente apurado.

9. Nessas circunstâncias de tempo e lugar, os arguidos começaram a gritar um

com o outro e bateram-se mutuamente atingindo o corpo um do outro.

10. No dia 3 de Setembro de 2018, junto ao portão de entrada da Tapada onde

residem, os arguidos começaram a discutir por motivo não concretamente

apurado.

11. Durante esta discussão, os arguidos bateram-se e empurraram-se

mutuamente, o que provocou a queda da arguida no chão.

12. Após, o arguido NG foi para a vila de Seda e de seguida a arguida EN

entrou no interior do veículo automóvel de matrícula LA e foi atrás do arguido

NG.

13. Chegada à paragem de autocarros da vila de Seda, sita na Estrada dos

Espinheiros, a arguida EN viu o arguido NG e imobilizou o seu veículo

automóvel, em frente ao veículo automóvel deste, vedando-lhe a passagem.

14. De seguida, a arguida saiu de dentro do seu veículo automóvel, os

arguidos envolveram-se novamente, batendo no corpo um do outro e, então, a

arguida retirou da sua viatura um machado, com cabo de madeira de cerca de

13 centímetros de lâmina e brandiu-o enquanto andava na direcção do

arguido.

15. Vendo a arguida com o machado nas mãos, o arguido começou a fugir à

volta do veículo automóvel.

16. A determinada altura, o arguido conseguiu deitar mãos ao machado e

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puxou-o logrando retirá-lo à arguida.

17. Em consequência da retirada do machado, a arguida caiu ao solo e ficou

com um ferimento na zona do queixo.

18. A arguida EN não quis receber auxílio médico.

19. Em consequência das agressões físicas atrás descritas nos pontos 6 a 9, os

arguidos ficaram com dores nas zonas atingidas e a arguida com hematomas

no corpo na face, nos braços e nas pernas.

20. Os arguidos são consumidores de produtos estupefacientes e de bebidas

alcoólicas.

21. O arguido NG foi condenado no processo número --/15.6GDFTR, que

correu termos no Juízo de Competência Genérica de Fronteira, Comarca de

Portalegre, na pena de 3 anos de prisão, suspensa, pela prática do crime de

violência doméstica sobre a arguida EN, transitada em julgado a 4 de Julho de

2016.

22. A arguida EN foi condenada no processo número --/15.0GDFTR, que

correu termos na Instância Central de Portalegre, Juiz 3, na pena de 4 anos e

dois meses, suspensos, pela prática sobre o arguido NG do crime de ofensas à

integridade física grave agravada, já transitada em julgado a 18 de Janeiro de

2017.

23. Ao actuar do modo acima descrito, o arguido NG quis atingir o corpo de

EN, provocando-lhe lesões físicas e dores, humilhando-a, ofendendo-a e

fazendo-a temer pela sua integridade física, o que efectivamente conseguiu,

bem sabendo que tais comportamentos eram idóneos a provocar naquela

marcas que afectaram o seu equilíbrio emocional.

24. Ao actuar do modo acima descrito, a arguida EN quis atingir o corpo de

NG, provocando-lhe lesões físicas e dores, humilhando-o, ofendendo-o e

fazendo-o temer pela sua integridade física, o que efectivamente conseguiu e

bem sabendo que tais comportamentos eram idóneos a provocar naquele

marcas que afectaram o seu equilíbrio emocional.

25. Agiram sempre os arguidos de forma livre, voluntária e consciente e bem

sabendo que as suas condutas eram proibidas e punidas por Lei.

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Mais se provou quanto à arguida EN:

26. A subsistência económica do agregado da arguida era assegurada pelos

rendimentos provenientes do subsídio de desemprego recebido por NG e

outros rendimentos variáveis provenientes do salário de EN, trabalhadora

rural eventual e pelo apoio económico e logístico por parte da progenitora de

EN, auxiliar de acção directa. EN iniciou a união de facto com o pai da filha,

há cerca de dez anos, quando tinha 16 anos, e segundo a mesma foi desde o

início pautada por grandes dificuldades de relacionamento com episódios

graves de violência doméstica que deram origem a processos judiciais e

rupturas temporárias constantes. Desta relação nasceu uma filha, actualmente

com 8 anos de idade. A arguida evidencia ligação afectiva à filha. A vivência

conjunta e dinâmica familiar é descrita não só por conflitos e violência

constantes, mas também por elevada dependência afectiva. Na sequência do

agravamento dos conflitos, e após a última separação do casal foram

reguladas as responsabilidades parentais relativas à filha de ambos que ficou

entregue aos cuidados da mãe (arguida), com a atribuição de uma prestação

de alimentos da responsabilidade do pai.

27. EN é a mais nova de duas filhas de um casal com hábitos de trabalho e

inserido socialmente na comunidade. O pai faleceu há cerca de 5 anos vítima

de doença súbita, facto que acentuou a irreverência da arguida e provocou

alguma desestabilização económica no agregado. Descreve uma infância feliz

num contexto familiar tradicional, com vínculos afectivos. A arguida concluiu o

9º ano, e abandonou a escolaridade por desinteresse pelas actividades

lectivas, absentismo, irreverência e iniciando o percurso laboral com

irregularidade, primeiramente junto do progenitor, numa empresa de

construção civil e depois no sector da restauração e hotelaria como

indiferenciada e também em campanhas sazonais da agricultura. Está

habilitada com um curso de formação na área da estética – manicura. EN

iniciou comportamentos aditivos na fase da adolescência, designadamente

consumo regular de substâncias estupefacientes e de bebidas alcoólicas,

hábitos que diz ter abandonado após o cumprimento da medida de coação em

curso. No âmbito do presente processo, a arguida evidenciou um

comportamento compatível com as regras a execução da medida de coação de

obrigação de permanência na habitação.

28. Em termos de projecto de vida, a arguida pretende inserir-se

profissionalmente, ponderando também a possibilidade da prossecução dos

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estudo e da formação profissional, por forma a conseguir recursos para

proporcionar estabilidade e uma boa educação à filha. Paralelamente, refere a

intenção de não reatar a vida em comum com o pai da filha, situação que

considera nefasta para si e para a filha, expostas constantemente a conflitos.

No meio comunitário de residência, EN é detentora de uma imagem social

conotada com comportamentos aditivos e integração em grupo de pares com

problemáticas idênticas, pese embora não se registe hostilidade à sua

presença. A arguida evidencia consumos regulares de haxixe que refere ter

interrompido, pelo que não equaciona tratamento a este nível. EN dispõe do

apoio da mãe com quem reside e que se constitui como seu suporte afectivo e

material, bem como da sua filha.

29. A arguida, para além da condenação descrita no ponto 22, tem os

seguintes antecedentes criminais:

- No Processo n.º ---/07.4PBPTG, do 1.º Juízo do Tribunal da Comarca de

Portalegre, foi condenada por dois crimes de furto qualificado praticados em

14 de Fevereiro de 2008, em pena de trabalho a favor da comunidade. O

acórdão foi proferido em 17 de Outubro de 2008. Tal pena já foi declarada

extinta.

- No Processo n.º ---/09.0GBPTG, do Tribunal da Comarca de Fronteira, foi

condenada por um crime de furto qualificado praticado em 14 de Março de

2009, na pena de 1 ano e 5 meses de prisão suspensa na sua execução por

igual período. A sentença foi proferida em 23 de Novembro de 2009. Tal pena

já foi declarada extinta.

- No Processo n.º ---/09.3GCFTR, do Tribunal da Comarca de Fronteira, foi

condenada por um crime de ofensa à integridade física qualificada e um crime

de consumo de estupefacientes, praticados em 26 de Junho de 2009, nas

penas de 5 meses de prisão e 2 meses e 15 dias de prisão, respectivamente, e

em cúmulo jurídico que englobou também a pena do processo --/09.0GBPTG,

na pena única de 20 meses de prisão suspensa na execução por igual período.

A sentença foi proferida em 16 de Julho de 2010. Tal pena já foi declarada

extinta.

- No Processo n.º --/11.1GBPSR, do Tribunal da comarca de Ponte de Sôr, foi

condenada por um crime de condução sem habilitação legal praticado em 5 de

Fevereiro de 2011, na pena de 150 dias de multa à taxa diária de 5 euros. A

sentença foi proferida em 7 de Fevereiro de 2011. Tal pena já foi declarada

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extinta.

Mais se provou quanto ao arguido NG:

30. À data dos factos, NG desempenhava regularmente trabalhos eventuais na

agricultura ou construção civil, estando à data dos factos inscrito no Instituto

de Emprego e Formação Profissional, sendo beneficiário do subsídio de

desemprego. Simultaneamente fazia pequenos trabalhos eventuais por conta

própria. A subsistência económica do agregado era assegurada pelo montante

referente à prestação de subsídio de desemprego atribuído ao arguido, pelos

rendimentos variáveis provenientes do vencimento da companheira,

trabalhadora rural eventual e pelo apoio económico e logístico por parte da

progenitora desta, como auxiliar de acção directa.

31. NG iniciou a união de facto com a mãe da filha, há cerca de dez anos,

pautada desde o início por grandes dificuldades de relacionamento com

episódios de violência que deram origem a intervenção judicial. A relação

caracteriza-se por rupturas frequentes mas também por elevada dependência

afectiva.

32. A mãe de NG suicidou-se quando este tinha seis anos de idade, de seguida

foi integrado num agregado familiar do pai, disfuncional e residente na área

da grande Lisboa. Posteriormente ficou a cargo da avó paterna, elemento de

referência no seu trajecto vivencial. Relativamente ao progenitor os vínculos

parecem pouco consistentes. NG frequentou o ensino escolar, tendo concluído

o 9º ano de escolaridade, com 17 anos, após institucionalização na Casa Pia.

Posteriormente, ingressou na Escola Profissional Agrícola, em regime de

internato, frequentou o curso profissional de “Técnico de Gestão de

Ambiente”, onde permaneceu durante 3 anos, sem concluir o referido curso,

que lhe daria equivalência ao 12º ano, o qual veio a concluir, já em adulto, no

ensino nocturno, com cerca de 26 anos. Com 20 anos, o arguido passou a

residir com a avó na localidade de Seda e iniciou actividade laboral na área

agrícola, em campanhas sazonais e também na construção civil. No ano

seguinte iniciou a união de facto com a mãe da sua filha e co-arguida no

presente processo. Na sequência do agravamento dos conflitos, e após a

última separação do casal foram reguladas as responsabilidades parentais

relativas à filha de ambos, que ficou entregue aos cuidados da mãe, com a

atribuição de uma prestação de alimentos da responsabilidade do pai. NG

iniciou comportamentos aditivos na adolescência e mais tarde bebidas

alcoólicas. Após o início da medida de coacção de obrigação de permanência

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na habitação com vigilância electrónica (OPHVE), no âmbito do presente

processo, foi encaminhado para o Centro de Respostas integradas de

Portalegre (CRI), acompanhamento a que aderiu. Em 07jul2017 foi remetido

ao tribunal relatório de anomalias dando conta da falta de adesão de NG ao

acompanhamento da DGRSP, no âmbito do processo nº --/15.6GDFTR.

Encontra-se em curso a execução deste processo aguardando o arguido a sua

inserção no programa PAVD, que ficou suspensa por determinação judicial até

ao desfecho do presente processo. No meio comunitário de residência, o

arguido tem uma imagem que não lhe é desfavorável, embora seja conhecido

pela sua problemática aditiva.

33. Em termos de projecto de vida, o arguido pretende reinserir-se

profissionalmente podendo dessa forma cumprir o estipulado no processo de

regulação das responsabilidades parentais da filha e manter um

acompanhamento activo no seu processo educativo. Paralelamente, denotou

disponibilidade e interesse em dar cumprimento ao determinado na sentença

em execução, designadamente, a frequência do programa para agressores de

violência doméstica. NG tem apoio da avó paterna, em termos logísticos,

afectivos e económicos. Equaciona no entanto a possibilidade de afastamento

do meio residencial onde se insere, eventualmente na zona da grande Lisboa

onde a avó possui habitação.

34. O arguido, para além da condenação descrita no ponto 21, tem os

seguintes antecedentes criminais:

- No Processo n.º --/09.3GCFTR, do Tribunal da Comarca de Fronteira, por

sentença proferida em16/07/2010, transitada em julgado em 07/10/2010, foi

condenado por um crime de ofensa à integridade física qualificada, praticado

em 26 de Junho de 2009, na pena de 4 meses de prisão substituída por 120

dias de multa à taxa diária de €5,50. Esta pena foi declarada extinta.

- No Processo n.º --/11.0 GBPSR, do Tribunal da Comarca de Ponte de Sôr, por

sentença proferida em 23/01/2014, transitada em julgado em 24/02/2014, foi

condenado por um crime de consumo de estupefacientes, praticado em

05/02/2011, na pena de 4 meses de prisão suspensa na execução por um ano.

Esta pena foi declarada extinta.

O mesmo acórdão julgou os seguintes factos não provados:

a) No circunstancialismo descrito na acusação a arguida EN apelidou o

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arguido NG de “cabrão” e o arguido NG chamou “vaca” à arguida EN.

b) No dia 24 de Agosto de 2018, quando as moléstias físicas começaram, a

menor BG ainda estava dentro do domicílio comum, de onde foi retirada pela

avó materna BN.

c) A discussão ocorrida no dia 3 de Setembro de 2018 teve início no interior

do domicílio comum do casal.

d) Nessa ocasião, os arguidos desferiram chapadas e pontapés no corpo um do

outro.

e) Em consequência da conduta da arguida o arguido NG ficou com

hematomas na face, nos braços e nas pernas

f) No circunstancialismo descrito no ponto 14 a arguida perguntou ao arguido

NG se agora “não lhe batia”

g) Ao actuar do modo acima descrito, o arguido NG quis maltratar EN,

ofendendo-a na sua dignidade pessoal, o que efectivamente conseguiu.

h) Ao actuar do modo acima descrito, a arguida EN quis maltratar NG,

ofendendo-o na sua dignidade pessoal, o que efectivamente conseguiu.

Da referida sentença interpôs recurso a arguida EN, com a devida motivação,

tendo formulado as seguintes conclusões:

a) A factologia dada como provada resulta fundamental e unicamente na

valoração que o Tribunal a quo fez das declarações prestadas pelos arguidos

em sede de interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede de

audiência.

b) Com exceção das declarações prestadas pelos arguidos em sede de

interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede de audiência, não

existem quaisquer outros elementos probatórios que permitam sustentar a

factologia dada como provada e consequentemente a condenação da arguida.

c) Resulta assim que a condenação da arguida se funda exclusivamente na

valoração que o Tribunal a quo faz das declarações prestadas pelos arguidos

em sede de interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede de

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audiência ou seja tudo indica que as valorou como confissão, violando dessa

forma o disposto no nº2 do artigo 357º do C. P. P.

d) Legalmente afastada que a valoração, das declarações prestadas pelos

arguidos em sede de interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede

de audiência, como confissão, resta-nos a sua valoração ao abrigo da livre

apreciação da prova de que o Tribunal se encontra investido.

e) Compulsando as declarações prestadas pelos arguidos em sede de

interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede de audiência,

constata-se que ambos se acusam mutuamente imputando-se factos

suscetíveis de consubstanciarem a prática do crime pelo qual foram

condenados.

f) Considerando o interesse que cada um tem em imputar ao outro o

cometimento de tais factos e não estando nenhum deles vinculado à obrigação

de verdade, jamais poderemos dar a essas declarações, a necessária

credibilidade para sustentar a condenação que através do presente se

impugna.

g) Assim condenar a arguida com base exclusivamente nas declarações

prestadas pelos arguidos em sede de interrogatório de arguido detido e

reproduzidas em sede de audiência, sem qualquer credibilidade e valoradas ao

abrigo do principio da livre apreciação da prova, é, seguramente levar longe

demais o exercício de tal princípio.

h) Do acórdão ora recorrido consta que a arguida foi condenada por dois

crimes de ofensa à integridade física qualifica sendo um deles, o ocorrido

posteriormente, agravado pelo disposto no artigo 86º nº3 e 4 da Lei n.º

5/2006, de 23/02, por a arguida ter alegadamente empunhado um machado.

i) Sem conceder a valoração feita pelo Tribunal à quo, as declarações

anteriormente prestadas pelos arguidos e reproduzidas em audiência, das

mesmas não consta a prática de qualquer facto suscetível de consubstanciar o

cometimento do crime que à arguida é imputado ou qualquer outro, com

recurso ao uso desse machado.

j) Efetivamente dessas mesmas declarações apenas se pode extrair que a

arguida empunhou o machado em sua defesa e quanto muito como tentativa

de dissuadir o arguido NG de voltar a agredi-la, mas não que com ele tenha

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praticado qualquer agressão sobre o mesmo.

k) Salvo lapso da defesa, das declarações prestadas pelos arguidos em sede de

interrogatório de arguido detido e reproduzidas em sede de audiência quanto

ao episódio eventualmente ocorrido junto à paragem de autocarros da vila de

Seda, sita na Estrada dos Espinheiros, não resulta que aí tenham ocorrido

quaisquer agressões.

l) Acresce que nem o machado consubstancia uma arma aparente nem se

encontrava oculto no sentido de intencionalmente escondido com intenção de

fazer e fazer mesmo uso dele na prática da agressão que à arguida é imputada

e pela qual foi condenada.

m) Resulta assim não se verificar o agravamento do crime em causa porquanto

não subsumível ao estatuído no artigo 86º nº3 e 4 da Lei 5/2006 de 23/02.

n) Acresce ainda que os dois crimes pelos quais a arguida foi condenada

ocorreram num curto espaço temporal e visam a proteção do mesmo bem

jurídico.

o) Considerando que os mesmos foram executados por forma essencialmente

homogénea e num quadro de uma mesma solicitação exterior, agressão da

vítima sobre a arguida e não apresentação de queixa por aquela, encontra-se

assim diminuída consideravelmente a culpa desta.

P) Resulta assim estarmos na presença de um crime continuado e na de dois

crimes de ofensa à integridade física qualificada, impondo-se uma significativa

redução da respetiva pena por força do disposto no nº2 do artigo 30 do C.

Penal.

Termos estes os expostos em que deverá ser dado provimento ao presente,

revogando-se o douto acórdão e em consequência absolver-se a arguida do

crime de que vinha acusada por manifesta falta ou errada valoração da prova

produzida.

Caso assim não entendam os venerandos desembargadores, deverão

considerar não verificada a condição de agravamento do segundo crime

imputado à arguida por manifesta falta dos requisitos estatuído no artigo 86º

nº3 e 4 da Lei 5/2006 de 23/02, operando-se uma significativa redução na

respetiva pena, a qual não deverá exceder os dois anos, assim se respeitando

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os princípios da proporcionalidade e adequação.

Caso ainda assim não entendam os venerandos desembargadores, deverão

considerar que a situação dos autos é subsumível ao disposto no nº2 do artigo

30º do C. Penal e consequentemente ser a arguida condenada por um crime

continuado, operando-se, em conformidade, uma significativa redução na

respetiva pena, a qual não deverá exceder os dois anos, assim se respeitando,

igualmente, os princípios da proporcionalidade e adequação.

Vossas Excelências, Senhores Desembargadores, ao decidirem, farão, como

sempre

JUSTIÇA

O recurso interposto foi admitido com subida imediata, nos próprios autos, e

efeito suspensivo.

O MP respondeu à motivação do recurso, formulando as seguintes conclusões:

1. A decisão do Tribunal “a quo” não violou qualquer norma legal e foi

correctamente aplicada face à prova existente.

2. Não existindo qualquer erro na apreciação da matéria de facto provada.

3. Nem violação do princípio da livre apreciação da prova.

4. Como sobressai da fundamentação do acórdão, de forma clara, que a

actuação da arguida não se enquadra na figura do crime continuado.

5. Pelo que inexiste qualquer violação do preceituado no artigo 30.º do Código

Penal.

6. Revelando a douta decisão ora recorrida cuidadosa fundamentação, quer

quanto à matéria de facto quer no que concerne à matéria de direito.

7. Expressando uma acertada subsunção dos factos à lei.

8. E optando por uma pena que se julga justa e adequada face aos critérios

consignados nos artigos 40.º, 70.º, 71.º e 77.º do Código Penal.

Louvando-nos, pois, no bem fundado do douto acórdão recorrido somos de

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parecer que o recurso dele interposto não merece provimento.

V. Ex.as, porém, com superior apreciação e critério, farão, certamente, Justiça.

Pelo Digno Procurador-Geral Adjunto em funções junto desta Relação foi

emitido parecer sobre o mérito do recurso interposto no sentido da sua

improcedência.

O parecer emitido foi notificado aos sujeitos processuais, a fim de se

pronunciarem, nada tendo respondido.

Foram colhidos os vistos legais e procedeu-se à conferência.

II. Fundamentação

Nos recursos penais, o «thema decidendum» é delimitado pelas conclusões

formuladas pelo recorrente, as quais deixámos enunciadas supra.

A sindicância do acórdão sob recurso, tal como transparece das conclusões da

arguida recorrente, desdobra-se nas seguintes questões:

a) Impugnação da decisão sobre a matéria de facto;

b) Subsunção dos crimes por que a recorrente responde num único crime

continuado, nos termos do art. 30º nº 2 do CP;

c) Não agravação da conduta incriminada, nos termos do art. 86º nºs 3 e 4 da

Lei nº 5/2006 de 23/2.

A ordem por que enunciámos as questões suscitadas pela recorrente é aquela

que nos parece ser a da prioridade lógica da sua apreciação e não aquela pela

qual a arguida as expôs.

A propósito da impugnação da decisão sobre a matéria de facto, convirá

recordar que tem vindo a constituir jurisprudência constante dos Tribunais da

Relação a asserção segundo a qual o recurso sobre esta matéria não envolve

para o Tribunal «ad quem» a realização de um novo julgamento, com a

reanálise de todo o complexo de elementos probatórios produzidos, mas antes

tem por finalidade o reexame dos erros de procedimento ou de julgamento,

que tenham afectado a decisão recorrida e que o recorrente tenha indicado, e,

bem assim, das provas que, no entender deste, impusessem, e não apenas

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sugerissem ou possibilitassem, uma decisão de conteúdo diferente.

A impugnação da decisão sobre a matéria de facto, deduzida pela recorrente,

comporta, por sua vez, duas vertentes.

Por um lado, a recorrente vem arguir a invalidade da valoração, em sede de

acórdão, das declarações prestadas pelos arguidos, aquando do respectivo

primeiro interrogatório judicial, em situação de detenção, por violação do

disposto no nº 2 do art. 357º do CPP.

Como adiante melhor se verá, foi a valoração conjunta das declarações, cuja

validade agora se impugna, que serviu de fundamento à convicção probatória

do Tribunal Colectivo, relativamente aos factos dos pontos 1 a 20 da matéria

assente.

Por outro lado, argumenta a recorrente que as referidas declarações não são

merecedoras de credibilidade, por não estarem os declarantes sujeitos ao

dever de verdade e terem interesse em imputar um ao outro a prática de

crimes, e delas não resulta que, aquando do episódio ocorrido junto da

paragem de autocarro da vila de Seda, tenha havido agressões e que a arguida

tenha empunhado o machado com o propósito de com ele atingir o também

arguido NG, mas apenas para se defender dele ou de o dissuadir de continuar

a agredi-la (pontos 13, 14, 15 e 16 da matéria provada).

Para fundamentação do juízo probatório nele emitido, o acórdão recorrido

expende (transcrição com diferente tipo de letra):

1.3. CONVICÇÃO DO TRIBUNAL E EXAME CRÍTICO DAS PROVAS:

O Tribunal formou a sua convicção com base na análise, crítica e global, de

toda a prova produzida em audiência, bem como da prova documental que

consta dos autos, com recurso a juízos de experiência comum, nos termos do

artigo 127º do C.P.P..

No caso em apreço, perante o silêncio dos arguidos na audiência de

julgamento, atendendo a que a testemunha BN recusou-se a prestar

depoimento ao abrigo do artigo 134.º, alínea a), do Código de Processo Penal e

na ausência de testemunhas presenciais dos factos descritos na acusação, a

convicção do Tribunal baseou-se, fundamentalmente, nas declarações

prestadas pelos arguidos em sede de interrogatório judicial, nos termos e em

conformidade com o previsto no artigo 141.º, n.º 4, al. b) do citado diploma

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processual penal.

Assim, tendo por base a valoração crítica das referidas declarações prestadas

pelos arguidos em sede de primeiro interrogatório e reproduzidas em sede de

audiência de julgamento, o Tribunal deu como provada a factualidade vertida

nos pontos 1 a 20 dos factos provados.

Com efeito, o arguido NG referiu que regressou ao Alentejo para dar apoio à

avó e à filha, tendo reatado a relação sentimental com a arguida EN em Junho/

Julho de 2018; referiu a existência de discussões várias entre o casal,

motivada pelos ciúmes da arguida, pelo estilo de vida que esta possui, pelo

temperamento da arguida e por questões monetárias, mencionado ainda que

nessas discussões a arguida grita e lhe chama frouxo, tentando o arguido pôr

termo às discussões saindo momentaneamente de casa, mas que a arguida

persiste nessas discussões seguindo-o, como ocorreu no dia 03.09.2018,

descrevendo que nessa data a discussão entre o casal começou junto ao portão

da quinta onde residem, que ocorreram empurrões mútuos e que a EN

escorregou, arranhou-se um bocado, nas costas e nos braços e nas pernas,

tendo o arguido abandonado esse local na sua viatura, dirigindo-se para a Vila

de Seda; de seguida a arguida na sua viatura seguiu-o e junto à paragem do

autocarro bloqueou o carro do arguido, tirou a machada da bagageira do carro

dela e foi em direcção ao arguido com a machada para a usar no arguido, que

andava à volta do carro, até que conseguiu puxar-lhe a machada das mãos, o

que fez com que a arguida caísse ao chão e ficasse com um ferimento no

queixo; então, o arguido atirou a machada para o quintal de uma habitação

próxima daquele local; o arguido relatou ainda a situação ocorrida no dia 25

de agosto, afirmando que nesse dia a arguida vinha do trabalho no campo

(segundo o arguido, apesar da arguida sair do trabalho às 2 horas da tarde, só

chegou a casa às 7 porque fora “dar na coca”, juntamente com um amigo para

um bairro na cidade de Abrantes); quando chegou a casa a arguida começou a

gritar, dizendo ao arguido que ele é um frouxo e que queria cerveja, sempre

com maus modos; o arguido acabou por ir buscar cerveja com ela, mas ela foi

sempre a “moer-lhe” o juízo, até que se envolveram os dois em agressões

físicas.

Já a arguida EN, em sede de interrogatório judicial, referiu que reatou a sua

relação amorosa com NG em Julho de 2018, passando ambos a viver na casa

da mãe da arguida, sita em Seda, mas que sempre tiveram muitas discussões,

com uma periodicidade quase diária, ocasiões em que o arguido lhe chamava

puta, e outros nomes (que não concretizou), disse ainda que o arguido não

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quer que ela frequente o café e que as discussões eram motivadas por ciúmes

da arguida, dizendo ainda que se bateu no arguido foi para se defender; no

que se refere ao episódio situado no dia 3 de Setembro a arguida disse que

estava a chegar a casa, no caminho velho, e disse-lhe “mentiste-me”, ele

agarrou-a pelos braços e mandou-a ao chão e desferiu-lhe pontapés na cabeça,

após o arguido abandonou o local e a arguida foi atrás dele, chegada à

paragem do autocarro parou a sua viatura barrando o veículo do arguido, este

bateu-lhe e arguida bateu-lhe também para se defender e tirou a machada que

trazia na bagageira do seu carro e disse que lhe partia o carro todo

acrescentando “ tu não gozas com a minha cara e hoje se a guarda vier é a tua

avó que os vai chamar”, entretanto ele tirou a machada das mãos da arguida e

atirou-a para local que a arguida não logrou identificar.

Disse ainda a arguida que as suas pernas estão negras, que tem “altos” na

cabeça e os joelhos cheios de arranhões.

Cotejada a versão de cada um dos arguidos e tendo em consideração que

ambos têm, evidentemente, um interesse directo e pessoal nas situações

relatadas, circunstância que, como é lógico, eiva de particular subjectividade e

parcialidade as respectivas descrições dos factos, o que não pode deixar de

ser ponderado pelo Tribunal em sede de valoração crítica dessas declarações,

importa identificar concretamente que factos são relatados de forma uniforme

e consentânea entre si por cada um dos arguidos e que são os seguintes:

factualidade descrita nos pontos 1 a 5 e 10, 12 a 13, 14 (em parte), 15 a 18

dos factos provados a versão dos arguidos é absolutamente consensual, além

de ser igualmente corroborada pelo teor dos documentos juntos aos autos a

fls. 35/36 (cópia do assento de nascimento de BG), 37/40 (cópias dos assentos

de nascimento dos arguidos), 158/160 (fotografias), 161 (auto de apreensão) e

pelas declarações da testemunha EB, militar da GNR que efectuou a

apreensão do machado, pelo que, se concluiu pela sua verificação.

No mais as declarações prestadas pelos arguidos não foram inteiramente

coincidentes, não porque as versões apresentadas pelos arguidos fossem

dissonantes ou inconciliáveis, mas porque se tratam de factos referidos apenas

por um dos arguidos, concretamente quanto à factualidade vertida nos pontos

6 e 7, relatada apenas pelo arguido. Todavia, afigura-se absolutamente crível

que, face à exaltação do momento e até à motivação subjacente a algumas das

discussões havidas entre o casal, que nessas ocasiões a arguida se dirigisse ao

arguido apelidando-o de frouxo enquanto este apelidava aquela de puta, como

foi aliás confirmado pelo arguido quer enquanto autor quer enquanto

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ofendido.

Já a prova da factualidade referente ao episódio situado no dia 25 de

Setembro resultou apenas das declarações do arguido, na medida em que

apenas este mencionou a existência de uma discussão nesse dia, seguido de

agressões mútuas entre os arguidos. Este episódio foi descrito pelo arguido de

forma coerente e circunstanciada, sendo a sua descrição condizente com a

natureza e com o temperamento próprio da relação do casal, i. e., sempre

marcada por acesas discussões, elevada emotividade, ciúme e uma particular

intensidade e dependência relacional.

Assim, face a esta versão e na falta de outra prova em sentido contrário, o

Tribunal concluiu que a versão do arguido foi suficientemente credível para

sustentar a prova dos factos descritos nos pontos 8 e 9.

A principal divergência detectada entre a versão de cada um dos arguidos

radica, fundamentalmente, na descrição relativa ao episódio ocorrido no dia

03.09.2018, junto ao portão da quinta onde residiam os arguidos e depois,

num segundo momento, junto à paragem do autocarro. De acordo com o

arguido NG, naquele primeiro momento, a arguida caiu após empurrões

mútuos; já a arguida refere que, num primeiro momento, junto ao portão da

tapada, na sequência de uma discussão, o arguido agarrou-a pelos braços e

atirou-a ao chão, pontapeando-a e que depois, junto à paragem do autocarro o

arguido bateu-lhe e arguida bateu-lhe também para se defender.

Perante estas declarações que, como acima já se salientou, estão naturalmente

eivadas de parcialidade e subjectividade próprias dos intervenientes dos

factos, o Tribunal, mais uma vez, teve de ponderar na natureza e

agressividade que sempre marcou esta relação e os foros de certeza que deve

presidir o espírito do julgador na apreciação da prova, nesta perspectiva, não

havendo nenhuma outra prova quanto a esta matéria, apenas foi possível

concluir que também nesta ocasião, junto ao portão da quinta, os arguidos se

agrediram e empurraram mutuamente, o que provocou a queda da arguida e

que, no segundo momento, junto à paragem do autocarro, os arguidos

envolveram-se novamente, batendo no corpo um do outro, conforme decorre

dos pontos 11 e 14 dos factos provados.

A prova dos factos vertidos em 19 teve por base as regras da experiência

comum, à luz das quais as agressões perpetradas contra cada um dos arguidos

são idóneas a causar ferimentos dores na respectiva vítima, tendo ainda sido

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considerado o teor das fotografias constantes de fls. 510/514. De salientar que

concretamente quanto esta factualidade, foram igualmente consideradas as

declarações da testemunha HN, militar de GNR que no exercício das suas

funções se dirigiu à habitação dos arguidos no dia 25/08/2018, tenha

mencionado que nessa data observou hematomas no corpo da arguida, não

tendo detectado qualquer ferimento no corpo do arguido NG.

No que tange ao elemento subjectivo enformador das condutas em análise, os

factos descritos nos pontos 23 a 25 resultam do cotejo da matéria objectiva

dada como provada, que permitiram a este Tribunal inferir a sua verificação,

com base em regras de experiência comum e recorrendo a princípios lógico-

racionais. Com efeito, face à factualidade objectiva provada não existe

qualquer dúvida quanto à actuação livre e voluntária dos arguidos, e quanto à

sua intenção de ofender o corpo e integridade física do visado.

Por último, para a determinação da situação pessoal e familiar dos arguidos,

bem como a prova dos factos vertido no ponto 20, fundou-se o Tribunal no teor

dos relatórios sociais junto aos autos.

Foi ainda considerada o teor dos CRC de fls. 605/612 para a prova dos

antecedentes criminais dos arguidos e da factualidade vertida em 21 e 22.

O nº 2 do art. 357º do CPP, cuja transgressão a recorrente invoca, dispõe:

As declarações anteriormente prestadas pelo arguido reproduzidas ou lidas

em audiência não valem como confissão nos termos e para os efeitos do artigo

344.º.

Por sua vez, o art. 344º do CPP é do seguinte teor

1 - No caso de o arguido declarar que pretende confessar os factos que lhe são

imputados, o presidente, sob pena de nulidade, pergunta-lhe se o faz de livre

vontade e fora de qualquer coacção, bem como se se propõe fazer uma

confissão integral e sem reservas.

2 - A confissão integral e sem reservas implica:

a) Renúncia à produção da prova relativa aos factos imputados e consequente

consideração destes como provados;

b) Passagem de imediato às alegações orais e, se o arguido não dever ser

absolvido por outros motivos, à determinação da sanção aplicável; e

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c) Redução da taxa de justiça em metade.

3 - Exceptuam-se do disposto no número anterior os casos em que:

a) Houver co-arguidos e não se verificar a confissão integral, sem reservas e

coerente de todos eles;

b) O tribunal, em sua convicção, suspeitar do carácter livre da confissão,

nomeadamente por dúvidas sobre a imputabilidade plena do arguido ou da

veracidade dos factos confessados; ou

c) O crime for punível com pena de prisão superior a 5 anos.

4 - Verificando-se a confissão integral e sem reservas nos casos do número

anterior ou a confissão parcial ou com reservas, o tribunal decide, em sua livre

convicção, se deve ter lugar e em que medida, quanto aos factos confessados,

a produção da prova.

Da conjugação dos normativos acabados de transcrever resulta claro que o nº

2 do art. 357º não enuncia qualquer proibição de valoração probatória, mas

antes determina que a eventual confissão integral e sem reservas, feita pelo

arguido em declarações prestadas em momento processual anterior ao da

audiência de julgamento, não dá origem a qualquer das consequências

previstas no art. 344º, em que avulta, na perspectiva do interesse do arguido

confitente, a redução da taxa de justiça, prescrita pela al. c) do nº 2.

A valoração probatória em julgamento de declarações prestadas pelo arguido

em fase processual anterior, independentemente da sua vontade, é regulada

pelo nº 1 al. b) do art. 357º do CPP:

A reprodução ou leitura de declarações anteriormente feitas pelo arguido no

processo só é permitida:

a)…; ou

b) Quando tenham sido feitas perante autoridade judiciária com assistência de

defensor e o arguido tenha sido informado nos termos e para os efeitos do

disposto na alínea b) do n.º 4 do artigo 141.º.

A al. b) do nº 4 do art. 141º do CPP, para que remete o normativo antecedente,

estatui:

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b) De que não exercendo o direito ao silêncio as declarações que prestar

poderão ser utilizadas no processo, mesmo que seja julgado na ausência, ou

não preste declarações em audiência de julgamento, estando sujeitas à livre

apreciação da prova.

As declarações, reproduzidas em audiência e valoradas no acórdão recorrido,

foram prestadas aquando do seu primeiro interrogatório judicial, em

13/9/2018 (vd. acta de julgamento a fls. 661 a 663).

Do auto que formalizou o primeiro interrogatório dos arguidos, junto a fls. 115

a 122, resulta que cada um deles foi assistido, nesse acto, pela ilustre

advogada que assumia então o patrocínio da respectiva defesa, tendo sido

comunicadas a ambos as advertências impostas pela al. b) do nº 4 do art. 141º

do CPP.

Nestas condições, mostram-se reunidos os requisitos de validade da valoração,

em sede de decisão final, das declarações anteriormente prestadas pelos

arguidos, a qual se encontra sujeita à regra geral da livre apreciação

Procedemos à audição do registo auditivo dos elementos de prova pessoal

relevantes para a impugnação em apreço.

A recorrente pugna por uma descredibilização geral das declarações

prestados pelos arguidos em primeiro interrogatório, incluindo, algo

paradoxalmente, as que ela própria prestou, pois tal desvalorização, no actual

estado do processo, seria vantajosa à sua estratégia de defesa.

No trecho do acórdão recorrido, dedicado à motivação do juízo probatório, o

Tribunal Colectivo efectuou uma análise crítica aprofundada dos únicos

elementos prova pessoal disponíveis.

Tal análise crítica não passa ao lado daqueles aspectos que, no entender da

recorrente seriam justificativos da denegação de poder de convicção aos

meios de prova examinados, como seja não estarem os arguidos sujeitos ao

dever de verdade, ocuparem ambos os declarantes, simultaneamente, a

posição de arguido e de ofendido no processo, terem óbvio interesse no

desfecho deste e terem produzido declarações fortemente moldadas pelo seu

interesse processual, mas também pelas emoções do conflito entre os dois,

subjacente ao procedimento criminal dos autos.

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Ainda assim, o Tribunal não optou por rejeitar em bloco o conteúdo das

declarações em causa, o que garantiria a impunidade aos dois arguidos

(proporcionando uma saída «salomónica» para o processo, estando em causa

crimes recíprocos), mas antes logrou selecionar, mediante um juízo lógico,

racional e não arbitrário, os factos que lhe mereciam crédito e aqueles que lho

não mereciam.

Semelhante operação não passou pela adesão do Tribunal de julgamento a

alguma das versões em confronto ou pelo apuramento de uma espécie de

média aritmética entre as duas.

Nesta conformidade, o exame crítico de prova, elaborado pelo Tribunal «a

quo» não nos merece censura, do ponto vista dos critérios que devem orientar

a livre apreciação da prova, nos termos do art. 127º do CPP, mormente, a

experiência comum, a normalidade das coisas e a lógica geralmente aceite,

tendo presente que é apanágio a primeira instância a imediação no contactos

com os meios de prova pessoal.

Por isso, impõe-se confirmar o juízo de prova impugnado.

De resto, também a recorrente carece de razão quando alega que não resulta

das declarações dos arguidos que tenha havido agressões, aquando do

episódio descrito nos pontos 13 e 14 da matéria assente.

No que se refere ao uso do machado, a arguida prestou declarações em

primeiro interrogatório, que não se ajustam totalmente à versão dos factos

que veio defender em sede de recurso, pois afirmou que foi o arguido NG

quem empunhou o machado contra ela, pelo que carece de apoio probatório a

tese da recorrente.

Consequentemente, teremos de concluir pela improcedência da impugnação

da decisão sobre a matéria de facto, deduzida pela arguida EN.

Seguidamente, conheceremos das questões jurídicas suscitadas pela

recorrente.

Em matéria de unidade pluralidade de infracções, rege o art. 30º do CP:

1 - O número de crimes determina-se pelo número de tipos de crime

efectivamente cometidos, ou pelo número de vezes que o mesmo tipo de crime

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for preenchido pela conduta do agente.

2 - Constitui um só crime continuado a realização plúrima do mesmo tipo de

crime ou de vários tipos de crime que fundamentalmente protejam o mesmo

bem jurídico, executada por forma essencialmente homogénea e no quadro da

solicitação de uma mesma situação exterior que diminua consideravelmente a

culpa do agente.

3 - O disposto no número anterior não abrange os crimes praticados contra

bens eminentemente pessoais.

A arguida recorrente foi condenada em primeira instância pela prática de dois

crimes de ofensa à integridade física qualificada p. e p. pelas disposições

conjugadas dos arts. 145º nºs 1 al. a) e 2 e 132º nº 1 e 2 al. b) do CP, ambos na

pessoa do mesmo ofendido, sendo um deles agravado, nos termos do art. 86º

nº s 3 e 4 da Lei nº 5/2006 de 23/2.

Independentemente de saber se estão reunidos os pressupostos do crime

continuado, previstos no nº 2 do art. 30º do CP, a aplicação dessa figura

jurídico-penal às condutas por que a recorrente responde mostra-se excluída à

partida, por força do disposto no nº 3 do mesmo normativo.

Na verdade, o bem jurídico especialmente tutelado pela norma incriminadora

das infracções, por cuja prática a arguida foi condenada, é a integridade física,

a qual se caracteriza, sem sombra de dúvida, como um valor eminentemente

pessoal.

De resto, os crimes de ofensa à integridade física integram, na sistemática do

Código Penal, a categoria dos «crimes contra as pessoas», tratada no Título I

do Livro II.

Assim, e sem necessidade de ulteriores considerações, terá a pretensão

recursiva de fracassar, nesta parte.

No que se refere à agravação de um dos crimes, a mesma encontra-se prevista

nos nºs 3 e 4 do art. 86º da Lei nº 5/2006 de 23/2:

3 - As penas aplicáveis a crimes cometidos com arma são agravadas de um

terço nos seus limites mínimo e máximo, exceto se o porte ou uso de arma for

elemento do respetivo tipo de crime ou a lei já previr agravação mais elevada

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para o crime, em função do uso ou porte de arma.

4 - Para os efeitos previstos no número anterior, considera-se que o crime é

cometido com arma quando qualquer comparticipante traga, no momento do

crime, arma aparente ou oculta prevista nas alíneas a) a d) do n.º 1, mesmo

que se encontre autorizado ou dentro das condições legais ou prescrições da

autoridade competente.

Com eventual relevo para o caso concreto, temos a al. d) do nº 1 do mesmo

artigo, que reza:

d) Arma branca dissimulada sob a forma de outro objeto, faca de abertura

automática ou ponta e mola, estilete, faca de borboleta, faca de arremesso,

cardsharp ou cartão com lâmina dissimulada, estrela de lançar ou equiparada,

boxers, outras armas brancas ou engenhos ou instrumentos sem aplicação

definida que possam ser usados como arma de agressão e o seu portador não

justifique a sua posse, as armas brancas constantes na alínea ab) do n.º 2 do

artigo 3.º, aerossóis de defesa não constantes da alínea a) do n.º 7 do artigo

3.º, armas lançadoras de gases, bastão, bastão extensível, bastão elétrico,

armas elétricas não constantes da alínea b) do n.º 7 do artigo 3.º, quaisquer

engenhos ou instrumentos construídos exclusivamente com o fim de serem

utilizados como arma de agressão, artigos de pirotecnia, exceto os fogos-de-

artifício das categorias F1, F2, F3, T1 ou P1 previstas nos artigos 6.º e 7.º do

Decreto-Lei n.º 135/2015, de 28 de julho, e bem assim as munições de armas

de fogo constantes nas alíneas q) e r) do n.º 2 do artigo 3.º, é punido com pena

de prisão até 4 anos ou com pena de multa até 480 dias.

A definição legal de «arma branca», para os efeitos previstos na Lei nº 5/2006

de 23/2, é fornecida pela al. m) do nº 1 do art. 2º desse diploma legal:

«Arma branca» todo o objeto ou instrumento portátil dotado de uma lâmina ou

outra superfície cortante, perfurante ou corto-contundente, de comprimento

superior a 10 cm (…).

Por sua vez, a al. ab) do n.º 2 do art. 3º da Lei a que nos reportamos é do

seguinte teor:

ab) As armas brancas com afetação ao exercício de quaisquer práticas

venatórias, comerciais, agrícolas, industriais, florestais, domésticas ou

desportivas, ou objeto de coleção, quando encontradas fora dos locais do seu

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normal emprego e os seus portadores não justifiquem a sua posse.

A agravação do segundo crime praticado pela arguida EN contra NG baseou-

se em ter ela empunhado contra este um machado, nas condições descritas

nos pontos 14 a 16 da matéria provada.

Independentemente de definições legais, um machado corresponde ao

conceito corrente (que não técnico-jurídico), que temos de «arma branca».

Concretamente, o machado empunhado pela arguida EN, no

circunstancialismo apurado nos autos, integra também o conceito legal de

arma branca, relevante para a agravação que nos ocupa, desde logo em razão

da dimensão da sua lâmina.

Ainda assim, o machado é um instrumento com aplicação definida, é

normalmente utilizado em actividades agrícolas ou florestais e a arguida, nas

declarações que prestou, afirmou que o usava para «ir à lenha».

Nestas condições, não é pelo menos claro se, no momento em que a arguida

empunha o machado contra NG, se encontrava fora do local do normal

emprego desse instrumento.

Foi este contexto fáctico-jurídico, que levou o MP a não deduzir acusação

contra a arguida EN, por um eventual crime de detenção de arma proibida p. e

p. pelo art. 86º nº 1 al. d) da Lei nº 5/2006 de 23/2, conforme despacho de

arquivamento a fls. 604 e 605.

Contudo, a agravação, que agora nos interessa, não depende da

censurabilidade criminal autónoma da detenção da arma, pois ocorre mesmo

que o agente se encontre autorizado ou dentro das condições legais ou

prescrições da autoridade competente.

Nos termos do disposto no nº 4 do art. 86º da Lei nº 5/2006 de 23/2, a

agravação do crime tem lugar se o agente ou um dos agentes for detentor de

arma «aparente ou oculta».

Como é sabido, tal locução consta da al. f) do nº 2 do art. 204º do CP como

circunstância agravante qualificativa do crime de furto tipificado no art. 203º.

Ora, temos vindo a entender que a referida formulação implica que a

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agravação opere pelo mero porte da arma pelo agente ou por um dos agentes,

não sendo necessário, para tanto, que faça dela algum tipo de utilização,

quanto mais não seja a sua simples exibição.

Nesta ordem de ideias, teremos de concluir que a agravação prevista nº 3 do

art. 86º da Lei nº 5/2006 de 23/2 deve funcionar, mesmo quando o agente

esteja legitimado a deter a arma, como parece ser o caso, pois aquilo que a

justifica é a perigosidade objectiva do objecto (arma), que tem o condão de

potenciar a danosidade da conduta integradora do crime sujeito à agravação.

Consequentemente, carece a recorrente de razão, também quanto à questão

agora em apreço, improcedendo o recurso por inteiro.

III. Decisão

Pelo exposto, acordam os Juízes da 1ª Secção Criminal do Tribunal da Relação

de Évora em negar provimento ao recurso e confirmar a decisão recorrida.

Custas pela recorrente, fixando-se em 3 UC a taxa de justiça.

Notifique.

Évora, 8-10-19 (processado e revisto pelo relator)

(Sérgio Bruno Povoas Corvacho)

(João Manuel Monteiro Amaro)

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