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TRESC Fl. Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 - REPRESENTAÇÃO - 27 a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI) Relatora: Juíza Luísa Hickel Gamba Recorrente (s): Coligação Por Amor a Araquari (PMDB-PPS-PP-PSD-PCdoB) Recorrido(s): Coligação Araquari que Queremos (PDT-PRB-PSL-REDE-PR-DEM- PSB-PSDB); Clenilton Carlos Pereira; Ludgero Jasper Junior; Célio Gomes ELEIÇÕES 2016 - RECURSO ELEITORAL REPRESENTAÇÃO - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO - REALIZAÇÃO DE EVENTO, COM DISTRIBUIÇÃO DE COMIDA E BEBIDA AOS PRESENTES - DISCURSOS DE CANDIDATOS - INEXISTÊNCIA DE PROVA DO OFERECIMENTO DE BENS OU VANTAGENS CONDICIONADO À OBTENÇÃO DO VOTO - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA GRAVIDADE DA CONDUTA - RECURSO DESPROVIDO. A condenação por captação ilícita de sufrágio exige a comprovação do oferecimento de bens ou vantagens em troca de votos, assim como o abuso do poder econômico só se configura com a demonstração da gravidade da conduta. Por essa razão, a mera apresentação de fotografias postadas no Facebook de um pequeno evento em que, além da apresentação de propostas pelos candidatos, foram servidas comida e bebida aos presentes, não é suficiente para ensejar a cassação dos diplomas dos eleitos. A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto da Relatora, que fica fazendo parte integrante da decisão. ACÓRDÃO N. 2 2 6 1 Sala de Sessões do Tribunal Florianópolis, 25 de janeiro de Juíza LU (SA HICKEL GAMBA Relatora

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TRESC Fl.

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 -REPRESENTAÇÃO - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI) Relatora: Juíza Luísa Hickel Gamba Recorrente (s): Coligação Por Amor a Araquari (PMDB-PPS-PP-PSD-PCdoB) Recorrido(s): Coligação Araquari que Queremos (PDT-PRB-PSL-REDE-PR-DEM-PSB-PSDB); Clenilton Carlos Pereira; Ludgero Jasper Junior; Célio Gomes

ELEIÇÕES 2016 - RECURSO ELEITORAL REPRESENTAÇÃO - CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO E ABUSO DO PODER ECONÔMICO - REALIZAÇÃO DE EVENTO, COM DISTRIBUIÇÃO DE COMIDA E BEBIDA AOS PRESENTES -DISCURSOS DE CANDIDATOS - INEXISTÊNCIA DE PROVA DO OFERECIMENTO DE BENS OU VANTAGENS CONDICIONADO À OBTENÇÃO DO VOTO - AUSÊNCIA DE DEMONSTRAÇÃO DA GRAVIDADE DA CONDUTA - RECURSO DESPROVIDO.

A condenação por captação ilícita de sufrágio exige a comprovação do oferecimento de bens ou vantagens em troca de votos, assim como o abuso do poder econômico só se configura com a demonstração da gravidade da conduta.

Por essa razão, a mera apresentação de fotografias postadas no Facebook de um pequeno evento em que, além da apresentação de propostas pelos candidatos, foram servidas comida e bebida aos presentes, não é suficiente para ensejar a cassação dos diplomas dos eleitos.

A C O R D A M os Juízes do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, à unanimidade, em conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto da Relatora, que fica fazendo parte integrante da decisão.

ACÓRDÃO N. 2 2 6 1

Sala de Sessões do Tribunal

Florianópolis, 25 de janeiro de

Juíza LU (SA HICKEL GAMBA Relatora

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 -REPRESENTAÇÃO - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI)

R E L A T Ó R I O

Trata-se de recurso interposto peia COLIGAÇÃO POR AMOR A ARAQUARI em face da sentença proferida pelo Juízo da 27a Zona Eleitoral - São Francisco do Sul, que julgou improcedente representação por captação ilícita de sufrágio e abuso do poder econômico por ela proposta contra a COLIGAÇÃO ARAQUARI QUE QUEREMOS, CLENILTON CARLOS PEREIRA, LUDGERO JASPER JÚNIOR e CÉLIO GOMES.

A recorrente alega, em síntese, que o Juiz Eleitoral julgou improcedente a representação com fundamento "na certidão de folhas produzida unilateralmente pelos recorridos, a qual não foi dado a oportunidade do recorrente de impugnar o documento". No mais, apenas reprisou os argumentos expostos na inicial (fls. 50-56).

Contrarrazões às fls. 60-68, pugnando pela manutenção da sentença.

A Procuradoria Regional Eleitoral, em parecer de fls. 83-87, manifestou-se pelo conhecimento e desprovimento do recurso.

É o relatório.

V O T O

A SENHORA JUÍZA LUISA HICKEL GAMBA (Relatora):

O recurso é tempestivo e preenche os demais requisitos de admissibilidade, motivo pelo qual voto por dele conhecer.

No mérito, a Coligação Por Amor a Araquari narrou, na inicial, a postagem, no dia 26 de agosto de 2016, na página de Célio Gomes, no Facebook, de fotografias dele com os demais representados em evento de campanha, que teve a presença de vários eleitores, em um quiosque, onde teria sido servido churrasco.

As fotografias possuíam a seguinte legenda:

Estive na reunião na casa do Sr. Amilton no Bairro Rainha com a participação de lideranças do bairro, momento muito produtivo e gratificante, onde apresentei os trabalhos e propostas. Muito obrigado.

/ a

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Afirmou a representante, ora recorrente, que as imagens demonstram a realização do churrasco, que teria sido realizado em troca de votos, caracterizando a conduta prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 e o abuso do poder econômico do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, requerendo a cassação dos registros de Clenilton Carlos Pereira, Ludgero Jasper Júnior e Célio Gomes, candidatos, respectivamente, aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador no Município de Araquari. Apresentou, como prova, unicamente, ata notarial lavrada pelo Tabelionato de Notas e Protesto de Títulos da Comarca de Araquari, que extraiu do Facebook as fotografias do evento (fIs.7-15 e 18-22).

A defesa, por sua vez, afirmou referirem-se as fotografias a uma confraternização promovida por Amilton de Souza, com o intuito de "inaugurar área de lazer destinada a encontros sociais (quiosque), edificada em imóvel particular pertencente a ele", que contou com a presença de amigos, entre os quais, os representados Célio, Clenilton e Ludgero. Explicou que foi concedida oportunidade para que os representados, como candidatos, conversassem com os presentes, expondo ideias e compromissos, mas que o evento não possuiu "viés de campanha eleitoral", como demonstram as fotografias apresentadas com a inicial, porquanto não se visualiza propaganda eleitoral alguma, como cartazes ou adesivos. Admite que foram servidas comida e bebida aos presentes, mas que as despesas foram custeadas pelo anfitrião.

Para provar o alegado, trouxe aos autos escritura pública de declaração efetuada por Amilton de Souza perante a Escrivania de Paz de Itapocú, da Comarca de Araquari, no sentido do afirmado na peça de defesa (fl. 34), fotografias do local do evento (fls. 36-41) e fotocópia de contrato particular de compra e venda para comprovar a propriedade do imóvel (fls. 42-43).

Possui razão a recorrente quando alega - com outras palavras, mas que permitem concluir ser essa a insurgência que a sentença foi fundamentada em declaração unilateral, não submetida ao crivo do contraditório. A declaração unilateral, ainda que prestada por meio de escritura pública, comprova apenas que a pessoa identificada pelo tabelião a emitiu, mas não a verdade dos fatos nela narrados.

Nesse sentido, a jurisprudência do TSE:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. ELEIÇÕES 2012. VEREADOR. REPRESENTAÇÃO. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 -REPRESENTAÇÃO - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI)

SUFRÁGIO. ART. 41-A DA LEI 9.504/97. GRAVAÇÃO AMBIENTAL. ILICITUDE DA PROVA. DESPROVIMENTO.

1. (...)

2. Ademais, também nos termos da jurisprudência deste Tribunal, a declaração extrajudicial firmada em cartório é insuficiente para a condenação, visto que produzida de forma unilateral e sem a observância do contraditório e da ampla defesa.

3. (...)

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n° 48559, Acórdão de 04/09/2014, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 178, Data 23/09/2014, Página 55/56).

Registro que não restou comprovado quem pagou pelos alimentos e bebidas consumidos, porquanto a declaração firmada por Amilton de Souza, isoladamente, para isso não se presta, segundo os precedentes citados.

Mas o simples fato de ter sido patrocinado por terceiro não afastaria a configuração dos ilícitos, caso provada a compra de votos ou o abuso do poder econômico. Da mesma forma, seria irrelevante tratar-se de ato de campanha ou de evento particular, se, como foi dito, estivessem caracterizados e devidamente provados os ilícitos.

Ainda assim, diante das provas colacionadas nestes autos, não merece reforma a sentença, que deve ser mantida, no meu entendimento, por fundamento diverso: a inexistência de prova da captação ilícita e do abuso do poder econômico.

Com efeito, restou incontroversa a realização do evento, comprovado pelas fotografias apresentadas pela recorrente, extraídas do perfil no Facebook do candidato Célio Gomes, inexistindo negativa dos recorridos nesse sentido. A prova também demonstra a existência de um microfone, utilizado por três pessoas, que não foram identificadas especificamente nestes autos, mas que se presume sejam os candidatos representados, o que, de qualquer forma, também não foi negado, assim como a existência de comida e bebida, que admitidamente foram distribuídas aos convidados.

Ainda assim, não logrou a recorrente comprovar, como lhe competia, a alegada captação ilícita de sufrágio ou o abuso do poder econômico.

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O art. 41-A da Lei n. 9.504/1997 estabelece:

Art. 41-A. Ressalvado o disposto no art. 26 e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil Ufir, e cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar n. 64, de 18 de maio de 1990.

§ 1o Para a caracterização da conduta ilícita, é desnecessário o pedido explícito de votos, bastando a evidência do dolo, consistente no especial fim de agir.

§ 2o As sanções previstas no caput aplicam-se contra quem praticar atos de violência ou grave ameaça a pessoa, com o fim de obter-lhe o voto.

§ 3o A representação contra as condutas vedadas no caput poderá ser ajuizada até a data da diplomação.

§ 4o O prazo de recurso contra decisões proferidas com base neste artigo será de 3 (três) dias, a contar da data da publicação do julgamento no Diário Oficial.

Como se vê, a captação ilícita de sufrágio pressupõe a doação, oferta, promessa ou entrega de bem ou vantagem pessoal a eleitor em troca de voto, sendo desnecessário o pedido explícito de voto, bastando o dolo, que consiste no especial fim de agir.

Nessa senda, não comprovou a recorrente, no caso concreto, que a comida e a bebida servidas no evento foram oferecidas, prometidas ou condicionadas ao voto nos candidatos, pois isso não foi admitido pelos recorridos, e as fotografias apresentadas não se prestam para a comprovação.

De acordo com o TSE, "para a caracterização da captação ilícita de sufrágio, é necessário que o oferecimento de bens ou vantagens seja condicionado à obtenção do voto" (Recurso Contra Expedição de Diploma n° 766, Acórdão de 18/03/2010, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 10/05/2010, Página 20).

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No voto condutor daquele acórdão, o Relator esclarece que "tal elemento não se revela apenas quando há pedido expresso de votos, o que, aliás, fulminaria a eficácia da norma, mas as circunstâncias do caso concreto devem evidenciar que houve a troca". Nestes autos, nenhuma prova foi produzida - ou requerida - que demonstrasse a prática da compra de votos.

Extraio da jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, ainda, as seguintes ementas (transcritas apenas em suas partes pertinentes ao ora examinado), aplicáveis, mutatis mutandis, à hipótese em tela:

(...) 1. A configuração de captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei 9.504/97) demanda a existência de prova robusta de que a doação, o oferecimento, a promessa ou a entrega da vantagem tenha sido feita em troca de votos, o que não ficou comprovado nos autos. 2. Conforme a jurisprudência do TSE, o fornecimento de comida e bebida a serem consumidas durante evento de campanha, por si só, não configura captação ilícita de sufrágio. (...) (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n° 47845, Acórdão de

28/04/2015, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 95, Data 21/05/2015, Página 67 - grifei).

(...) 1. Na espécie, das circunstâncias fáticas delineadas no acórdão

regional, depreende-se que o recebimento da vantagem - materializada na distribuição gratuita de bebidas - foi condicionado à permissão de colagem do adesivo de campanha, e não à obtenção do voto. 2. Não há como enquadrar a conduta imputada aos recorrentes no ilícito previsto no art. 41-A da Lei das Eleições, porquanto não restou demonstrado o especial fim de agir consistente no condicionamento da entrega da vantagem ao voto do eleitor. (...) (Recurso Especial Eleitoral n° 63949, Acórdão de 19/12/2014, Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 23, Data 03/02/2015, Página 86/87 - grifei).

Agravo regimental em recurso contra a expedição de diploma. Festa supostamente promovida por candidato com fins eleitoreiros. Distribuição de comida e alimentos. Contrariedade dos arts. 39, §§ 6° e 7o, e 41-A, da Lei n. 9.504/97 não demonstrada. Fundamentos da decisão agravada não infirmados. Agravo regimental ao qual se nega provimento.

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(AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO CONTRA EXPEDIÇÃO DE DIPLOMA n° 675, Acórdão de 26/08/2010, Relator(a) Min. CÁRMEN LÚCIA ANTUNES ROCHA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 220, Data 17/11/2010, Página 14).

(...) 1. Para a caracterização da captação ilícita de sufrágio, é necessário que o oferecimento de bens ou vantagens seja condicionado à obtenção do voto, o que não ficou comprovado nos autos. 2. A simples realização de eventos, ainda que com a oferta de comida e bebida, no qual esteja presente o candidato, não caracteriza, por si só, a captação ilícita de sufrágio, embora seja vedada a realização de propaganda eleitoral por meio de oferecimento de dádiva ou vantagem de qualquer natureza. 3. É certo que o art. 41-A da Lei n° 9.504/97 não faz distinção entre a natureza social ou econômica dos eleitores beneficiados ou entre a qualidade ou valor da benesse oferecida. Ocorre que a conduta imputada ao recorrido é insuficiente para a caracterização do ilícito eleitoral. (...) (Recurso Contra Expedição de Diploma n° 761, Acórdão de 18/02/2010, Relator(a) Min. MARCELO HENRIQUES RIBEIRO DE OLIVEIRA, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 24/3/2010, Página 37 RJTSE - Revista de jurisprudência do TSE, Volume 21, Tomo 1, Data 18/2/2010, Página 15).

Este Tribunal respondeu no seguinte sentido à Consulta n. 2.229, Classe X:

Quanto ao candidato patrocinar jantares ou almoços durante reunião política ou promover eventos para angariar fundos para sua campanha, nono e décimo quesitos, também não existe vedação expressa na legislação de regência. Lógico, ressalvando, sempre, que qualquer abuso, como por exemplo a utilização de tais eventos para cooptação de eleitores, deverá ser devidamente apurado. (CONSULTA n° 2229, Resolução n° 7489 de 13/07/2006, Relator(a) NEWTON VARELLA JÚNIOR, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Data 21/07/2006-grifei).

Portanto, não havendo, nestes autos, provas incontroversas de que houve captação ilícita de sufrágio, correta a decisão que julgou improcedente a representação, que se amolda ao seguinte julgado desta Corte:

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TRESC Fl.

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- ELEIÇÕES 2008 - RECURSO - AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (CF, ART. 14, § 10) - ALICIAMENTO ELEITORAL E USO ABUSIVO DO PODER ECONÔMICO - DISTRIBUIÇÃO DE CHURRASCO E ENTREGA DE TELEVISÃO - EXAME DAS PRELIMINARES PREJUDICADO (CPC, ART. 249, § 2o) - AÇÃO IMPUGNATÓRIA FUNDAMENTADA EM PROVAS COLHIDAS EM INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ANTERIORMENTE EXAMINADA PELA CORTE - AUSÊNCIA DE NOVOS ELEMENTOS PROBATÓRIOS - ADOÇÃO DOS FUNDAMENTOS E CONCLUSÕES DO PRECEDENTE - PROVIMENTO DO RECURSO. 1. Conquanto prevalente na doutrina e na jurisprudência o entendimento de ser desnecessária a comprovação de pedido expresso de votos para que se tenha como caracterizada a vedada "captação de sufrágio", é imprescindível prova segura da ocorrência de fatos praticados pelo candidato - ou por terceiros com seu consentimento -que importem no ato de "doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública" (Lei n. 9.504/1997, art. 41-A). No dizer do Ministro Sálvio de Figueiredo "caracteriza-se a captação de sufrágio prevista no art. 41-A da Lei n. 9.504/97 quando o candidato pratica as condutas abusivas e ilícitas ali capituladas, ou delas participa, ou a elas anui explicitamente" (TSE, MC n. 1.229). Ausente prova segura e conclusiva demonstrando a oferta de churrasco acompanhada de pedido de voto, ou mesmo, a prática de conduta que indique o condicionamento da entrega do alimento à promessa de sufrágio, não há como concluir pela caracterização da infração do art. 41-A da Lei n. 9.504/1997. 2. A confraternização com simpatizantes de campanha em evento festivo local não configura abuso do poder econômico quando ausente o uso desproporcional de recursos financeiros ou de vantagens materiais com intuito de angariar votos. Vale dizer, na hipótese em que restar demonstrado a falta de "potencialidade lesiva da conduta, apta a influir no resultado do pleito", exigida para configuração do referido abuso (TSE, RO n. 2.338, Min. Marcelo Ribeiro)" (Precedente: TRESC, Ac. n. 24.302, de 20.04.2010). (RECURSO CONTRA DECISÕES DE JUIZES ELEITORAIS n° 1971, Acórdão n° 24515 de 26/05/2010, Relator(a) SÉRGIO TORRES PALADINO, Publicação: DJE - Diário de JE, Tomo 97, Data 02/06/2010, Página 10 -grifei).

No que diz respeito ao abuso do poder econômico, também não houve demonstração de sua ocorrência.

O art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, estabelece:

Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 -REPRESENTAÇÃO - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI)

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito:

(...)

XIV - julgada procedente a representação, ainda que após a proclamação dos eleitos, o Tribunal declarará a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribuído para a prática do ato, cominando-lhes sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes à eleição em que se verificou, além da cassação do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferência do poder econômico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicação, determinando a remessa dos autos ao Ministério Público Eleitoral, para instauração de processo disciplinar, se for o caso, e de ação penal, ordenando quaisquer outras providências que a espécie comportar; (Redação dada pela Lei Complementar n. 135/2010).

(...)

XVI - para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.

Como se vê, o abuso do poder econômico não possui definição legal, devendo-se buscar, na doutrina e na jurisprudência, substrato para tanto. Nesse sentido, extraio da obra de Rodrigo Lópes Zilio o seguinte conceito:

Caracteriza-se o abuso de poder econômico, na esfera eleitoral, quando o uso indevido de parcela do poder financeiro é utilizado com o intuito de obter vantagem, ainda que indireta ou reflexa, na disputa do pleito. (Direito Eleitoral, Porto Alegre : Verbo Jurídico. 3.ed. ver. e atual., p. 441-442).

Exige o inciso XVI do art. 22 da Lei Complementar n. 64/1990, para a configuração do ato abusivo, a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.

Sobre a gravidade da conduta para configurar abuso de poder - e todas as condutas proibidas na legislação eleitoral cuja prática leva à cassação do registro/diploma ou a perda do mandado - entende o TSE:

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - CLASSE 30 -REPRESENTAÇÃO - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI)

( - ) Com base na compreensão da reserva legal proporcional, a cassação de diploma de detentor de mandato eletivo exige a comprovação, mediante provas robustas admitidas em direito, de abuso de poder e condutas vedadas graves, suficientes para ensejar essa severa sanção, sob pena de a Justiça Eleitoral substituir-se à vontade do eleitor. (...) (Recurso Especial Eleitoral n° 69541, Acórdão de 19/05/2015, Relator(a) Min. GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 120, Data 26/06/2015, Página 246/248).

1. Para a configuração do abuso de poder "faz-se necessária a comprovação da gravidade das circunstâncias do caso concreto que caracterizam a prática abusiva, de modo a macular a lisura da disputa eleitoral" (AgR-REspe n° 349-15/TO, Rei. Min. Dias Toffoli, DJe de 27.3.2014). (...)

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral n° 56365, Acórdão de 11/11/2014, Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 226, Data 01/12/2014, Página 141).

No caso em exame, é forçoso concluir que a distribuição de comida e bebida aos convidados presentes ao evento fotografado não demonstra gravidade suficiente para desequilibrar a eleição municipal, inexistindo mácula à sua normalidade e legitimidade.

A recorrente sequer demonstrou a gravidade do fato por ela narrado, o que também não pode ser aferido pelas fotografias. Pelo contrário, elas mostram uma reunião com poucas pessoas, na qual não se vê propaganda eleitoral, exceto pelo que parecem ser dois pequenos adesivos do Partido da República (fotografias de fls. 9,10,13, 19 e 21-verso), agremiação que compunha a Coligação Araquari que Queremos, ora recorrida, sendo o partido dos candidatos a vice-prefeito e vereador, respectivamente, Ludgero Jasper Júnior e Célio Gomes. Mesmo assim, essas propagandas são pouco significativas, sujeitas até a não terem sido vistas pelos presentes, dadas as dimensões e o local em que se encontravam.

Não há, ademais, como se concluir que a distribuição de comida e bebida aos poucos eleitores que aparecem nas fotografias poderia angariar votos para os recorridos em proporção capaz de comprometer a isonomia entre os concorrentes, inexistindo, assim, gravidade nos fatos em exame.

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TRESC FI.

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Assim, ainda que o evento pudesse reverter-se em votos para os candidatos, nas proporções provadas nos autos, não haveria benefício a criar um desequilíbrio com as demais candidaturas. Ressalto que não há notícias de outros pequenos eventos como esse, que somados, pudessem macular a legitimidade do pleito.

O Tribunal Superior Eleitoral assim decidiu em relação à distribuição de alimentação ao público em geral na convenção que escolheu os candidatos:

4. No caso dos autos, a conduta praticada - fornecimento de alimentação e bebida, no horário de almoço, aos participantes de convenção partidária -não configurou abuso do poder econômico, porquanto não apresentou gravidade para prejudicar a normalidade e a legitimidade do pleito. (Recurso Especial Eleitoral n° 158836, Acórdão de 30/09/2015, Relator(a) Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Publicação: D JE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 222, Data 24/11/2015, Página 191/193).

Ressalto que os TREs de São Paulo e do Ceará, por outro lado, consideraram abusiva a conduta narrada nestes autos em casos em que se comprovou grande quantidade de eleitores participando dos eventos (TRE/CE, RECURSO ELEITORAL n° 15293, Acórdão n° 15293 de 09/07/2010, Relator(a) JORGE LUÍS GIRÃO BARRETO, Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 127, Data 16/07/2010, Página 15; TRE/SP, INVESTIGAÇÃO JUDICIAL n° 93234, Acórdão de 01/09/2015, Relator(a) CARLOS EDUARDO CAUDURO PADIN, Publicação: DJESP - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-SP, Data 09/09/2015).

No entanto, isso não se comprovou nestes autos, razão pela qual, também sob a ótica do abuso do poder econômico, deve ser mantido o julgamento de improcedência da ação.

(...)

Ante o exposto, nego provimento ao recurso.

É como voto.

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Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina

TRESC Fl.

EXTRATO DE ATA

RECURSO ELEITORAL N° 452-92.2016.6.24.0027 - RECURSO ELEITORAL - REPRESENTAÇÃO -CAPTAÇÃO ILÍCITA DE SUFRÁGIO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DE REGISTRO - PEDIDO DE CASSAÇÃO DE DIPLOMA - PEDIDO DE APLICAÇÃO DE MULTA - 27a ZONA ELEITORAL - SÃO FRANCISCO DO SUL (ARAQUARI) RELATORA: JUÍZA LUÍSA HICKEL GAMBA

RECORRENTE(S): COLIGAÇÃO POR AMOR A ARAQUARI (PMDB-PPS-PP-PSD-PCdoB) ADVOGADO(S): ALEXANDRE CAROLINDO; JOÃO MATIAS FRANCISCO NETO; ROBERTA WOITEXEM GUIMARÃES RECORRIDO(S): COLIGAÇÃO ARAQUARI QUE QUEREMOS (PDT-PRB-PSL-REDE-PR-DEM-PSB-PSDB); CLENILTON CARLOS PEREIRA; LUDGERO JASPER JÚNIOR ADVOGADO(S): JAIME DA SILVA DUARTE; RUANITO ROBERTO LUIZ CRISPIM; ADÃO ILSON MICHLESKI; FELIPE EDUARDO SCHMITZ RECORRIDO(S): CÉLIO GOMES ADVOGADO(S): JAIME DA SILVA DUARTE; RUANITO ROBERTO LUIZ CRISPIM

PRESIDENTE DA SESSÃO: JUIZ CESAR AUGUSTO MIMOSO RUIZ ABREU PROCURADOR REGIONAL ELEITORAL: MARCELO DA MOTA

Decisão: à unanimidade, conhecer do recurso e a ele negar provimento, nos termos do voto da Relatora. Foi assinado o Acórdão n. 32261. Participaram do julgamento os Juízes Cesar Augusto Mimoso Ruiz Abreu, Antonio do Rêgo Monteiro Rocha, Hélio David Vieira Figueira dos Santos, Ana Cristina Ferro Blasi, Davidson Jahn Mello, Luísa Hickel Gamba e Wilson Pereira Júnior.

PROCESSO JULGADO NA SESSÃO DE 25.01.2017.

R E M E S S A

Aos dias do mês de de 2016 faço a remessa destes autos para a Coordenadoria de Registro e Informações Processuais - CRIP. Eu,

, servidor da Seção de Preparação, Acompanhamento e Registro das Sessões Plenárias, lavrei o presente termo.