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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul ACÓRDÃO N.° 6.382 (23.02.2010) REPRESENTAÇÃO N.° 897 - CLASSE 42. a ORIGEM: Campo Grande Relator: Juiz MIGUEL FLORESTANO NETO Representante: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Procuradoria Regional Eleitoral) Representada: MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) Advogados: RODOLFO EVARISTO TEIXEIRA e VANIRA CONCEIÇÃO PAULISTA B. MARTINS EMENTA - REPRESENTAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO. PESSOA JURÍDICA. CAMPANHA POLÍTICA. DOAÇÃO. VALOR SUPERIOR AO PERMITIDO. ARTS. 81, §§ 2.° E 3.°, C.C. 96, §§ 3.° E 5.°, DA LEI N.° 9.504/97. PRELIMINARES DE ILICITUDE DA PROVA E DECADÊNCIA. REJEITADAS. CEDÊNCIA DE ESPAÇOS PARA VEICULAÇÃO DE PROPAGANDA EM JORNAL. INACEITABILIDADE DA ALEGAÇÃO. BEM ESTIMÁVEL EM DINHEIRO. EMPRESA CONSTITUÍDA EM 2006. INEXISTÊNCIA DE RENDIMENTO EM 2005. LIMITE LEGAL EXCEDIDO. PROIBIÇÃO DE PARTICIPAÇÃO EM LICITAÇÕES PÚBLICAS E CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS COM O PODER PÚBLICO POR 5 ANOS. SANÇÃO GRAVOSA E DESMEDIDA. PARCIALMENTE PROCEDENTE. PENALIDADE DE MULTA NO MÍNIMO LEGAL. Tratando-se de representação que busca apurar e eventualmente aplicar sanção a terceiro que faz doação acima do limite legal, a teor dos arts. 23, 27 e 81 da Lei n.° 9.504/97, é razoável reconhecer a coerência da fixação do prazo para o ajuizamento da representação em 5 (cinco) anos, contados a partir da ocorrência da doação ilegal, tendo por parâmetro o tempo fixado pelo § 3.° do art. 81 (Precedentes).

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul ACÓRDÃO N.° 6.382

(23.02.2010)

REPRESENTAÇÃO N.° 897 - CLASSE 42.a

ORIGEM: Campo Grande Relator: Juiz MIGUEL FLORESTANO NETO Representante: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Procuradoria Regional Eleitoral) Representada: MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) Advogados: RODOLFO EVARISTO TEIXEIRA e VANIRA CONCEIÇÃO PAULISTA B. MARTINS

E M E N T A - REPRESENTAÇÃO. MINISTÉRIO PÚBLICO.

PESSOA JURÍDICA. CAMPANHA POLÍTICA. DOAÇÃO.

VALOR SUPERIOR AO PERMITIDO. ARTS. 81, §§ 2.° E 3.°,

C.C. 96, §§ 3.° E 5.°, DA LEI N.° 9.504/97. PRELIMINARES DE

ILICITUDE DA PROVA E DECADÊNCIA. REJEITADAS.

CEDÊNCIA DE ESPAÇOS PARA VEICULAÇÃO DE

PROPAGANDA EM JORNAL. INACEITABILIDADE DA

ALEGAÇÃO. BEM ESTIMÁVEL EM DINHEIRO. EMPRESA

CONSTITUÍDA EM 2006. INEXISTÊNCIA DE RENDIMENTO

EM 2005. LIMITE LEGAL EXCEDIDO. PROIBIÇÃO DE

PARTICIPAÇÃO EM LICITAÇÕES PÚBLICAS E CELEBRAÇÃO

DE CONTRATOS COM O PODER PÚBLICO POR 5 ANOS.

SANÇÃO GRAVOSA E DESMEDIDA. PARCIALMENTE

PROCEDENTE. PENALIDADE DE MULTA NO MÍNIMO

LEGAL.

Tratando-se de representação que busca apurar e eventualmente

aplicar sanção a terceiro que faz doação acima do limite legal, a teor dos

arts. 23, 27 e 81 da Lei n.° 9.504/97, é razoável reconhecer a coerência da

fixação do prazo para o ajuizamento da representação em 5 (cinco) anos,

contados a partir da ocorrência da doação ilegal, tendo por parâmetro o

tempo fixado pelo § 3.° do art. 81 (Precedentes).

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

Tendo sido, pois, ajuizada no corrente ano a representação, por

excesso de doação referente à campanha política do pleito 2006, não incide

o instituto da decadência.

É lícita a prova circunscrita pela informação prestada pela Secretaria

da Receita Federal ao Ministério Público Eleitoral (art. 4.°, parágrafo único,

da Portaria Conjunta TSE/SRF n.° 74/2006), quanto à doação de recursos a

candidato conforme os limites fixados pelos arts. 23, 27 e 81 da Lei n.°

9.504/97, tendo por base os comandos instituídos pela Lei Complementar

n.° 104, de 10.01.2001 (que alterou a redação do art. 198, caput, § 1.°, e

inciso I, do CTN), assegurados pelo art. 145, § 1.°, da Constituição Federal,

sendo possível que a Administração Pública apure os dados financeiros do

doador e os encaminhe ao Ministério Público Eleitoral, não incidindo

qualquer vício de inconstitucionalidade em tal procedimento (Precedentes).

Não é de prosperar a alegação de que não houve doação e de que

apenas foram cedidos espaços para veiculação de propaganda em jornal, já

que houve uma prestação de serviço gratuita, pois o mesmo serviço foi

cobrado de outros candidatos e, de outro modo, a doação pode ser feita

também em bem estimável em dinheiro, sujeitando-se, também, ao limite

legal.

Inaceitável o argumento de que, tendo sido a empresa constituída em

2006, não é de se falar em exceder o limite do faturamento do ano anterior.

Se assim fosse entendido, nasceria um precedente para burlar o limite de

doações e, em ano eleitoral, várias empresas seriam criadas para não

ficarem sujeitas ao limite de donativos. Se inexistia a empresa no ano-

calendário de 2005, inadmissível a doação para a campanha de 2006, por

faltar parâmetro para auferir o limite do quantum a ser doado, de acordo

com a legislação, em relação ao rendimento bruto anual, como meio de

preservar a lisura do processo eleitoral e afastar eventual abuso do poder

econômico.

A teor do princípio da proporcionalidade entre a ilicitude e a sanção, a

sanção inserta no § 3.° do art. 81 da Lei n.° 9.504/97, quanto à proibição de

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

participação em licitações públicas e celebração de contratos com o Poder

Público pelo prazo de 5 (cinco) anos, mostra-se, para o presente caso,

gravosa e desmedida, sendo que a multa já se mostra satisfatória para

reprimir a infração cometida.

Tendo a representada excedido o limite de doação permitido em lei,

violando o preceituado pelo art. 81, § 1.°, da Lei n.° 9.504/97, julga-se

procedente a representação, aplicando-se tão -somente a punição em seu

mínimo legal, como anotado no parágrafo anterior, que, neste caso, é

aceitável, como base de cálculo da sanção, o próprio valor doado.

Pedido parcialmente procedente.

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Juizes do

Tribunal Regional Eleitoral, na conformidade da ata de julgamentos e das notas

taquigráfícas, que ficam fazendo parte integrante desta decisão, após rejeitar as

preliminares de ilicitude da prova e de decadência, em julgar parcialmente procedente a

representação e em aplicar à representada a penalidade de multa, no mínimo legal, nos

termos do voto do relator. Decisão unânime.

Participaram do julgamento, cuja decisão foi certificada, além do relator,

os Exm.°s Srs. Juizes: ANDRÉ LUIZ BORGES NETTO, PAULO RODRIGUES, LUIZ

GONZAGA MENDES MARQUES, Des. RÊMOLO LETTERIELLO e ARY RAGHIANT

NETO.

Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul Gabinete da Diretoria-Geral

23.02.2010 REPRESENTAÇÃO N.° 897 - CLASSE 42.a

ORIGEM: Campo Grande Relator: Juiz MIGUEL FLORESTANO NETO Representante: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Procuradoria Regional Eleitoral) Representada: MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) Advogados: RODOLFO EVARISTO TEIXEIRA e VANIRA CONCEIÇÃO PAULISTA B. MARTINS

CERTIDÃO DE JULGAMENTO

CERTIFICO que o egrégio TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL, ao apreciar o processo em epígrafe, em sessão ordinária realizada nesta data, como consta em ata e nos termos das notas taquigráficas, proferiu a seguinte DECISÃO:

O TRIBUNAL, APÓS REJEITAR AS PRELIMINARES DE ILICITUDE DA PROVA E DE DECADÊNCIA, JULGOU PARCIALMENTE PROCEDENTE A REPRESENTAÇÃO E APLICOUÀ REPRESENTADA A PENALIDADE DE MULTA, NO MÍNIMO LEGAL, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR. DECISÃO UNÂNIME.

Participaram do julgamento, sob a presidência do Exm.° Sr. Des. LUIZ CARLOS SANTINI, além do relator, os Exm.°s Srs. Juizes: ANDRÉ LUIZ BORGES NETTO, PAULO RODRIGUES, LUIZ GONZAGA MENDES MARQUES, Des. RÊMOLO LETTERIELLO e ARY RAGHIANT NETO.

O referido é verdade e, para que produza todos os efeitos legais, firmo a

Secretário da Sessão

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul 23.02.2010 REPRESENTAÇÃO N.° 897 - CLASSE 42." ORIGEM: Campo Grande Relator: Juiz MIGUEL FLORESTANO NETO Representante: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Procuradoria Regional Eleitoral) Representada: MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) Advogados: RODOLFO EVARISTO TEIXEIRA e VANIRA CONCEIÇÃO PAULISTA B. MARTINS

R E L A T Ó R I O

O SENHOR JUIZ MIGUEL FLORESTANO NETO

A PROCURADORIA REGIONAL ELEITORAL, com fulcro nos arts. 81,

§ 2o e 3o c.c. art. 96, §§ 3.° e 5.°, da Lei n.° 9.504/97, propôs, em outubro de 2009,

representação em face da empresa MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal

BOCA DO POVO), ao argumento de que a mesma efetuou doação, aos então candidatos a

deputado estadual ADAIR DE OLIVEIRA MARTINS, LONDRES MACHADO E

YOUSSIF ASSIS DOMINGOS, acima do limite legal de dois por cento dos rendimentos

brutos auferidos em 2005, ano anterior ao pleito de 2006.

Informando que a requerida teria se apresentado omissa junto à Receita

Federal no ano de 2005, defende que o montante de doações no valor de R$ 3.000,00

extrapolaria em sua totalidade o limite imposto pela lei, o que daria suporte para a

incidência da multa elencada no § 2.° e 3.° do art. 81 da Lei das Eleições.

Aduz que não haveria necessidade de comprovação da potencialidade da

conduta sobre o pleito ou prova de dolo específico, não havendo, ainda, qualquer óbice

temporal, legal ou ainda jurisprudencial ao pedido, que não demandaria a formação de

litisconsórcio com partido ou donatário, em detrimento da limitação subjetiva da sanção. E,

ainda, que o pedido não seria inconstitucional por afronta ao direito de propriedade, visto

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

que, tratando-se de direito relativo, admitir-se-ia sua limitação em razão de sua função

social e do interesse público.

Nesse sentido, salienta que os dados que dão suporte ao pedido,

provenientes do Tribunal Superior Eleitoral, tendo como fonte informações prestadas pela

Receita Federal, gozariam de presunção de veracidade, desnecessária então requisição de

cópia de declaração de rendimentos ou cópia de recibo eleitoral contido em prestação de

contas, eis que o órgão seria dotado de fé pública.

Via mandado de notificação (fls. 15), foi devidamente notificada a

representada (fl. 21) que, por intermédio de seu representante legal, apôs ciência no

mandado expedido.

A representada juntou às fls. 17/24 sua defesa alegando preliminares de

ilicitude das provas e decadência, e, no mérito, alega que não há que ser falado em exceder

o limite de faturamento do ano anterior, tendo em vista que a empresa fora constituída

apenas em 02/01/2006 e que suas doações não foram pecuniárias e sim em espaço

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul 23.02.2010 REPRESENTAÇÃO N.° 897 - CLASSE 42.a

ORIGEM: Campo Grande Relator: Juiz MIGUEL FLORESTANO NETO Representante: MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL (Procuradoria Regional Eleitoral) Representada: MERCURY COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) Advogados: RODOLFO EVARISTO TEIXEIRA e VANIRA CONCEIÇÃO PAULISTA B. MARTINS

V O T O

O SENHOR JUIZ MIGUEL FLORESTANO NETO

Tratam os autos de representação contra a empresa MERCURY

COMUNICAÇÕES LTDA. - ME (Jornal BOCA DO POVO) que teria efetuado doações

na campanha eleitoral de 2006 além do limite imposto no art. 81, § 1.°, da Lei n.°

9.504/97.

Em sua defesa, a representada alega as preliminares de ilicitude da prova e

decadência do direito.

Entretanto, esta Corte já pacificou entendimento sobre a decadência ante a

perda do interesse de agir ao julgar o Acórdão n.° 6.266, de 10.11.2009, de relatoria do

Juiz ARY RAGHIANT NETO, cuja ementa ficou assim expressa:

Tratando-se de representação que busca apurar e eventualmente aplicar sanção a terceiro que faz doação acima do limite legal, a teor dos arts. 23, 27 e 81 da Lei n.0 9.504/97, é razoável reconhecer a coerência da fixação do prazo para o ajuizamento da representação em 5 (cinco) anos, contados a partir da ocorrência da doação ilegal, tendo por parâmetro o tempo fixado pelo § 3." do art. 81.

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

Tendo sido, pois, ajuizada no corrente ano a representação, por excesso de doação referente á campanha política do pleito 2006, não incide o instituto da decadência.

Ademais disso, o próprio TRE/SP, precursor no reconhecimento da perda do

interesse, reviu tal posicionamento e hodiernamente afasta a incidência do referido instituto

quanto ao caso em análise (Acórdão n.° 169.048, Representação n.° 996, julgado em

1.°. 10.2009).

De efeito, não incide sobre o caso dos autos a perda do interesse de agir,

porquanto efetuada em 2006 a doação e ajuizada em 2009 a presente representação, de

modo a não ter havido o transcurso do prazo de cinco anos necessário ao reconhecimento

desta.

Também, deve-se ter presente que a prova produzida nestes autos não é

ilícita nem afronta direitos constitucionais.

Assim entendeu unanimemente esta Corte Regional no Acórdão n.° 6.266,

de 10.11.2009, de relatoria do Juiz ARY RAGHIANT NETO, cuja ementa, neste

particular, ficou assim expressa:

E lícita a prova circunscrita pela informação prestada pela Secretaria da Receita Federal ao Ministério Público Eleitoral (art. 4.°, parágrafo único, da Portaria Conjunta TSE/SRF n. ° 74/2006), quanto à doação de recursos a candidato conforme os limites fixados pelos arts. 23, 27 e 81 da Lei n.° 9.504/97, tendo por base os comandos instituídos pela Lei Complementar n.° 104, de 10.01.2001 (que alterou a redação do art. 198, caput, § 1°, e inciso I, do CTN), assegurados pelo art. 145, § 1°, da Constituição Federal, sendo possível que a Administração Pública apure os dados financeiros do doador e os encaminhe ao Ministério Público Eleitoral, não incidindo qualquer vício de inconstitucionalidade em tal procedimento.

A propósito, não é diversa a interpretação em outros Tribunais Eleitorais:

A informação de dados sobre doação em campanha eleitoral pela Receita Federal ao TSE, em face de portaria administrativa conjunta, não viola o sigilo fiscal. (...) (TRE/TO - Representação n.° 149, rei. Juiz HÉLIO MIRANDA, p. no DJE n.° 139, de 14.8.2009, pág. 4).

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

Representação eleitoral - Doação de campanha acima dos limites autorizados - Ilicitude da prova e quebra do sigilo fiscal - Inocorrência -Documentos remetidos pela Justiça Eleitoral ao Ministério Público (...) (TRE/ES - Processo n.° 592, rei. Des. SÉRGIO BIZZOTO PESSOA DE MENDONÇA, p. no DO de 29.9.2009, pág. 4 - Anexo).

(...) inexiste quebra indevida de sigilo fiscal a caracterizar ilicitude, quando a Receita Federal, mediante convênio com o TSE, apresenta apenas o nome do Representado e o valor que declarou como rendimento no ano de 2005 e, ainda, o valor doado e o que teria excedido ao limite previsto na Lei 9.504/97. Nulidade da prova rejeitada. (...) (TRE/GO - Acórdão n.° 10.076, rei. Juíza ILMA VITORIO ROCHA, de 02.9.2009).

Considero, pois, lícita a prova produzida nestes autos.

Resta, agora, a análise se efetivamente houve doação em afronta aos limites

legais.

Nesta senda, a Lei n.° 9.504/97 preceitua que as doações devem ser feitas,

no caso de pessoa jurídica, no limite de 2% dos rendimentos brutos auferidos no ano

anterior à eleição, sendo aplicável multa a quem ultrapasse este limite estipulado em lei.

Art. 81. As doações e contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais poderão ser feitas a partir do registro dos comitês financeiros dos partidos ou coligações.

§ 1.° As doações e contribuições de que trata este artigo ficam limitadas a dois por cento do faturamento bruto do ano anterior à eleição.

§ 2. °A doação de quantia acima do limite fixado neste artigo sujeita a pessoa jurídica ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso.

§3.° Sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior, a pessoa jurídica que ultrapassar o limite fixado no § 1° estará sujeita à proibição de participar de licitações públicas e de celebrar contratos com o Poder Público pelo período de cinco anos, por determinação da Justiça Eleitoral, em processo no qual seja assegurada ampla defesa.

Nesse passo, consta à fl. 3/4 que a empresa ora representada teria, no ano de

2006, doado a quantia total de R$ 3.000,00 a três candidatos ao cargo de deputado

estadual, bem como que não teria auferido rendimentos em 2005, conforme declarado à

Secretaria da Receita Federal.

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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul REPRESENTAÇÃO N.° 897

Sobre a confiabilidade das informações que embasam o pedido, merece

destaque o seguinte trecho da representação ministerial:

Tendo em vista que os dados provenientes do TSE tiveram como fontes as informações prestadas pela própria Receita Federal do Brasil, é notável a desnecessidade de se requisitar à RFB a cópia da Declaração de Rendimentos da pessoa física requerida relativa ao ano imediatamente anterior ao pleito eleitoral em que foi verificada a doação irregular. Tampouco é necessário juntar aos autos a cópia do recibo eleitoral mencionado, considerando que está contido na prestação de contas do candidato favorecido pela doação, além do que os dados provêm de órgão dotado de fé-pública, ostentando presunção de veracidade (fl. 06).

Tendo o representado não auferido qualquer rendimento no ano de 2005,

legalmente seria impossível doação à campanha eleitoral por parte da representada no ano

de 2006. Apesar disso, doou R$ 3.000,00, excedendo o limite de doação em sua totalidade.

A representada aduz em sua defesa que não houve doação, apenas foram

cedidos espaços para veiculação de propaganda em jornal.

Este argumento da requerida não condiz com a verdade.

Conforme cópias do jornal (fls. 31/41) trazidas pela própria representada,

não foram apenas os candidatos que receberam a doação que anunciaram no jornal,

portanto, deduzo que os outros candidatos pagaram por seu espaço, ficando claro então que

o espaço possuía preço, e o valor correspondente então não foi repassado à cedente pelos

três candidatos ADAIR DE OLIVEIRA MARTINS, LONDRES MACHADO E YOUSSIF

ASSIS DOMINGOS. Havendo então um prestação de serviço gratuita para estes três

candidatos, fica claro que houve a doação, pois o mesmo serviço foi cobrado de outros

candidatos.

O segundo argumento da empresa ré combatendo o mérito é de que não que

ser falado em exceder o limite de faturamento do ano anterior se a empresa foi constituída

em 02/01/2006.

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Se assim fosse entendido, nasceria um precedente para burlar o limite de

doações e. em ano eleitoral, várias empresas seriam criadas para não ficarem sujeitas ao

limite de donativos.

Se a empresa não existia em 2005, seu rendimento é R$ 0,00. E o seu limite

para doações também será R$ 0,00, pois 2% de zero são zero.

Portanto, não há qualquer prova de que a empresa não tenha efetuado as

doações somando R$ 3.000,00 ou que não tenha excedido o limite legal.

Penso, contudo, não ser razoável a aplicação da penalidade do § 3.° do art.

81 da Lei das Eleições, que impõe a proibição de participar de licitações públicas e

celebrar contratos com o poder público pelo prazo de 5 anos, mormente, quando a multa já

se mostra satisfatória para reprimir a infração cometida.

Outrossim, em relação às pessoas jurídicas, as sanções previstas no artigo

em comento não são cumulativas, podendo, tão somente, ser aplicada a pena de multa em

face da gravosa sanção do § 3.° do dispositivo mencionado.

Posto isto, ante a violação pela representada ao preceituado pelo art. 81,

§ 1.° da Lei n.° 9.504/97, julgo parcialmente procedente o pedido e, por conseguinte,

proporcionalmente aplico a penalidade de multa em seu mínimo legal (cinco vezes o

valor do excesso), fixando o seu valor no importe de R$ 15.000,00, que deverá ser

devidamente corrigido pelo IPC, acrescido de juros de mora de 0,5% (meio por cento) ao

mês, desde a efetiva doação dos recursos.

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