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Tributos e Desenvolvimento - cut.org.br · Incidência dos Impostos sobre os Diferentes Níveis de ... favorecer a produção frente aos ganhos fi-nanceiros, promover a distribuição

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Tributos e Desenvolvimento: perspectivas para o trabalho e a distribuição de renda

PROPOSTAS DA CUT

Março de 2011

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Expediente

DIREÇÃO EXECUTIVA NACIONAL DA CUT GESTÃO 2009-2012

PRESIDENTE

Artur Henrique da Silva Santos

VICE-PRESIDENTE

José Lopez Feijóo

SECRETÁRIO-GERAL

Quintino Marques Severo

SECRETÁRIO DE ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS

Vagner Freitas de Moraes

SECRETÁRIA DE COMBATE AO RACISMO

Maria Julia Reis Nogueira

SECRETÁRIA DE COMUNICAÇÃO

Rosane Ber totti

SECRETÁRIO DE FORMAÇÃO

José Celestino Lourenço (Tino)

SECRETÁRIA DA JUVENTUDE

Rosana Sousa de Deus

SECRETÁRIA DE MEIO AMBIENTE

Carmen Helena Ferreira Foro

SECRETÁRIA DA MULHER TRABALHADORA

Rosane da Silva

SECRETÁRIO DE ORGANIZAÇÃO E POLÍTICA SINDICAL

Jacy Afonso de Melo

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SECRETÁRIO DE POLÍTICAS SOCIAIS

Expedito Solaney Pereira de Magalhães

SECRETÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

João Antonio Felício

SECRETÁRIA DE RELAÇÕES DO TRABALHO

Manoel Messias Melo

SECRETÁRIO DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Junéia Mar tins Batista

DIRETORES/AS EXECUTIVOS/AS

Antonio Lisboa Amâncio do Vale

Aparecido Donizeti da Silva

Dary Beck Filho

Elisângela dos Santos Araújo

Jasseir Alves Fernandes

Julio Turra

Pedro Armengol

Rogério Pantoja

Shakespeare Mar tins de Jesus

Valeir Er tle

CONSELHO FISCAL

Joice Belmira da Silva

Maria Josana

Waldir Mauricio

SUPLENTES

Marlene Ruza

Rubens Graciano

Sergio Irineu Bolzan

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PROGRAMA

21 de março de 201115h00 – Abertura

Artur Henrique – Presidente da CUT

15h10 – Mesa Inicial

Tributos, Trabalho e Desenvolvimento• Prof.Dr.EvilásioSalvador–UnB• Prof.Dr.AnselmoLuizdosSantos–CESIT/Unicamp

22 de março de 201109h30 – Mesa: Experiências internacionais de Sistema Tributário

• Klaus Beck - SecretárioExecutivoNacionaldaDGBAlemanha

10h30 - Mesa: Desafios para uma Reforma Tributária no Brasil

• Prof.Dr.MárcioPochmann–PresidenteIPEA• NelsonBarbosa–Sec.ExecutivoMin.Fazenda• CláudioPuty–Dep.FederalPT• PedroDelarueTolentino-PresidenteSINDFISCONacional• ClementeGanzLúcio–DIEESE

14h00 – Almoço

Coletiva de Imprensa

15h30 – Estratégia e Ações da CUT

17h30 – Encerramento

SeminárioTributos e Desenvolvimento:

perspectivas para o trabalho e a distribuição de renda”

Objetivo: aprofundarodebateevisibilizaraspropostasdaCUTsobreaestruturatributáriabrasileira,contidasnaPlataformadaCUT,quebuscamaunidadeecoerênciaentreapolíticaeconômicaeaopçãodedesenvolvimentodecarátersustentável,democráticoepopular,com

novoreposicionamentopúblicodoEstado.

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Índice

Apresentação ......................................................................................... 9

A Perspectiva Geral da CUT Sobre a Questão Tributária ................................................................ 10

A Visão da CUT Sobre Temas Tributários Específicos ......................................................................... 16

I-OImpostosobreGrandesFortunaseHeranças...................................................... 16

II - Nova Estrutura para a Tabela do Imposto de Renda Pessoa Física ................... 19

III - Formalização do Trabalho e as Contribuiçõessobre a Folha de Pagamento ............................................................................................... 28

IV - Proposta de Construção de Indicador para captar a IncidênciadosImpostossobreosDiferentesNíveisdeRendimentos Familiares no Brasil........................................................................................ 33

Resoluções da CUT ............................................................................ 35

Artigos .................................................................................................. 39

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Apresentação

O movimento sindical brasileiro tem dado contribuições imprescindíveis à disputa de rumos do desenvolvimento brasilei-

ro. Para a CUT, liderança fundamental dessemovimento, o objetivo estratégico é que todos etodasvivamcomqualidadeedignidade.Para avançarmos nesse rumo, é preciso aumen-tar a capacidade do Estado de planejar e inve-stir.Suapresençaédecisivanaconformaçãodeum padrão de desenvolvimento com sustenta-bilidade política, econômica, ambiental e social, segundoosprincípiosdemocráticos,assentadonaampliaçãoegarantiasdedireitos–especial-menteosdotrabalho.

Umaestratégiadedesenvolvimentoquetenhacomo centro o trabalho não pode prescindir deumapolíticaeconômicaousada.Estadeveser articulada às demais políticas públicas, de forma a orientar o país para alcançar elevadas taxas de crescimento com sustentabilidade ambiental, redução da pobreza, da desigual-dade de renda, das disparidades regionais e um sistemadeproteçãosocialadequado.É por isso que a Jornada pelo Desenvolvimen-to continua a ser ferramentar poderosa da nossaCentral.Combinandomobilizaçãoene-gociação das propostas contidas na Plataforma daCUTParaasEleições2010,potencializare-mosnossopapeldeliderançanocenárioatual. Ampliar o papel redistributivo do Estado é tarefa absolutamente emergencial. O sistematributáriopodeser forte instrumentodedis-tribuição de renda e riqueza, no caminho inver-sodoconstruídonasúltimasdécadas.Permiteaumentas as possibilidades de erradicação da pobrezaereduçãodasdesigualdadessociais.É imperativo implementar uma reforma tribu-tária que institua a progressividade comoprincípio e amplie a tributação sobre a proprie-

dade, lucroseganhosdecapital.Énecessáriofavorecer a produção frente aos ganhos fi-nanceiros, promover a distribuição de renda e eliminar a guerra fiscal entre estados e municí-pios.

Oseminárionacional“TributoseDesenvolvi-mento: perspectivas para o trabalho e a dis-tribuição de renda” pretende aprofundar o debate sobre esses temas e dar visibilidade às propostasdaCUTsobreaestruturatributáriabrasileira,contidasemnossaPlataforma.

Defendemos unidade e coerência entre apolítica econômica e a opção de desenvolvi-mento de caráter sustentável, democrático epopular, com novo reposicionamento público doEstado.

Direção Nacional da CUT

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a) BRASIL TEM ESTRUTURA COMPLEXA E INJUSTA

• Umaestruturatributáriacomoabrasileira-queécalcadanosimpostosindiretos,enãonosimpostosdiretos-contribuiparaelevaradesigualdade.

• Políticasdeunificaçãoesimplificaçãodaestruturatributáriapodemcontribuirparapromoverocrescimento.Noentanto,éprecisogarantirqueelasnãosignifiquemaelevaçãodacargatributária,quenocasobrasileiro,jáemmédiaéelevada.

• Acargatributáriasobreosassalariadoséproporcionalmentemaiordoqueacargatributáriapagapelascamadasdealtarendadapopulação.

b) RICOS PAGAM PROPORCIONALMENTE MENOS IMPOSTOS QUE OS MAIS POBRES

• NoBrasil, os trabalhadores que recebem até 2 saláriosmínimos pagam48%deimpostosenquantoqueaquelesquerecebemacimade30saláriosmínimospagam26%.

• Asrendasdelatifundiários,banqueiroseproprietáriosdegrandesfortunasdeveriampagarmaisimpostosdoquefazemhojenoBrasil.

• Embora previsto na Constituição, o Imposto sobre Grandes Fortunas necessita ainda serregulamentado.

• Produtosdeconsumopopular(comoalimentos,calçadosevestuário)erelativosàsaúdebásica–sofreriamreduçãodeimpostos.Estareduçãodeveriasercompensadapeloincrementodosimpostosnosbenseserviçostípicosdas/camadasmaisricas.

• A estrutura atual da tabela do Imposto de Renda, baseada em 5 faixas, resulta em injustiça social, sobrecarrega a contribuição dos segmentos assalariados de renda médiaetaxamenosdoquedeveriaossegmentosdemaisaltarenda.

c) AUSÊNCIA DE CONTRAPARTIDAS SOCIAIS QUANDO DA REDUÇÃO DE IMPOSTOS

• Umdosproblemasdaestrutura tributárianoBrasiléquepolíticasdereduçãodealíquotas não são, em geral, acompanhadas de exigências de redução de preços

A Perspectiva Geral da CUT Sobre a Questão Tributária

I – Os Problemas da Estrutura Tributária Brasileira

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e estabelecimento de contrapartidas em termos de mais e melhores emprego e democratizaçãodasrelaçõesdetrabalho,entreoutras.

d) GUERRA FISCAL TRAZ PREJUÍZOS PARA O PAÍS

• Ocombateaguerrafiscaldeve ser combinadocoma realizaçãodeumPlanodeDesenvolvimento Regional, que, elaborado em nível nacional, estabeleça as iniciativas eprojetosparacadaregião.Assim,osincentivostributáriosestariaminseridosemumescopomaisbemdefinido.

e) TRIBUTAÇÃO SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTOS É ELEVADA, MAS DESONERAÇÃO DEVE VIR ACOMPANHADA DE GARANTIA DE RECURSOS PARA A SEGURIDADE SOCIAL

• A desoneração da folha de pagamentos das contribuições previdenciárias e dosistema“S”podecontribuirparaaformalizaçãodasrelaçõesdetrabalho,masessadesoneração deve ser acompanhada da garantia de recursos compensatórios para o orçamento da seguridade, conforme garantido na Constituição Federal de 1988 e de reais contrapartidas como a redução da jornada de trabalho, redução da rotatividade, ageraçãodemaisemelhoresempregosdentreoutras.

II – Objetivos de uma Reforma Tributária na Visão da CUT

1. Aperfeiçoarprogressividadedaestruturatributária,tantonoqueserefereaostributosdiretos (aplicados sobre a renda) quanto aos indiretos (aplicados sobre os preços);

2. Elevar o peso dos tributos diretos no total arrecadado;

3. Taxar as Grandes Fortunas e heranças, de forma a criar novos recursos para dar suporteàpolíticadevalorizaçãodosaláriomínimoeàsoutraspolíticassociais;

4. Desoneraracestabásica;

5. Incentivar a formalização do trabalho;

6. Propiciaraoscontribuintesmaiortransparênciadosimpostosecontribuiçõesaplicados;

7. Aperfeiçoar a distribuição dos recursos no chamado Pacto federativo;

8. Eliminar a guerra fiscal;

9. Viabilizar o crescimento com estabilidade de preços;

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10. Incentivar o investimento produtivo, especialmente aqueles que geram mais empregos; e desincentivar as aplicações financeiras especulativas;

11. Recuperar a capacidade de investimento do Estado nas áreas sociais e de infra-estrutura econômica;

12.EliminaraDesvinculaçãodasReceitasOrçamentárias(DRU);

13.GarantirrecursosparaoOrçamentodaSeguridadeSocial;

14. Combater a fraude e sonegação;

15. Regulamentar o ar tigo 192 da Constituição Federal que regula o sistema financeiro nacional.

a) SIMPLIFICAÇÃO DO SISTEMA TRIBUTÁRIO

• AdiretrizdasimplificaçãodaestruturatributáriaédefendidapelaCUTeécompatívelcomumaReformaTributáriasocialmentemaisjusta;

• A diretriz do fim da Guerra fiscal pressupõe, entre outras medidas, a unificação das alíquotas de ICMS;

• A unificação nacional das alíquotas de impostos deve ser acompanhada da progressividade: alíquotas maiores para os bens e serviços de luxo ou que onerem oEstadoemenoresparaosdeprimeiranecessidade,comoalimentoseremédios.

b) FIM DA GUERRA FISCAL

• Além da unificação das legislações e alíquotas do ICMS e da cobrança do ICMS no destino nas operações interestaduais (com a possibilidade da adoção de um sistema misto:destino/origem),aCUTdefendequeocombateaguerrafiscalsecompletecomaexigênciade contrapartidasobrigatórias aqualquer incentivo concedidoàsempresas.Entreestascontrapartidasestão:ocompromissocommetasdegeraçãode empregos; o respeito ao direito de sindicalização; índices de nacionalização obrigatórios;metasdeexportação;apresentaçãodebalançosocialanual.

As Propostas da CUT Para a Reforma Tributária por Eixo Temático

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c) CONTRIBUIÇÃO PARA O INSS

• CONTRIBUIÇÃO DOTRABALHADORAO INSS: a contribuição do trabalhadorparaoINSSdeveserprogressiva,pormeiodosistemade“cascata”;

• CONTRIBUIÇÃO PATRONALAO INSS: considerando-se que a desoneração dafolha pode ser uma medida importante na formalização das relações de trabalho assim como é pertinente a preocupação com os impactos da medida sobre o orçamento daSeguridadeSocial,aCUTsugerealgumaspossibilidades(vercapítuloespecíficosobreotemanestapublicação).

d) DESONERAÇÃO DOS INVESTIMENTOS

• Incentivar prioritariamente os investimentos produtivos, em detrimento da especulação financeira;

• ACUTdefendequequalquer incentivo tributário àsempresas seja acompanhadoda exigência de contrapartidas obrigatórias. Entre estas contrapartidas estão:o compromisso com metas de geração de empregos; o respeito ao direito de sindicalização; índices de nacionalização obrigatórios; compra de máquinas eequipamentosnacionais;metasdeexportação;apresentaçãodebalançosocialanual.

e) DESONERAÇÃO DE PRODUTOS DIRETAMENTE RELACIONADOS À SOBREVIVÊNCIA HUMANA

• Defendemosqueositensdacestabásica,osmedicamentosdeprimeiranecessidadee os equipamentos de suporte à vida (como os equipamentos para os deficientes físicos)tenhamisençãodeimpostosfederais,estaduaisemunicipais.Paraadefiniçãodos medicamentos e equipamentos a serem isentos, devem ser ouvidos o Conselho NacionaldeSaúdeeosConselhosFederaisdeFarmáciaedeMedicina.

f) SAÚDE

• PropomosqueaReformaTributáriagarantarecursosvinculadosprevistosnaEmendaConstitucional nº 29 (EC29, que estabelece recursos obrigatórios para a saúde).

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g) POLÍTICA DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

• Eliminar a guerra fiscal;

• FimdosincentivostributáriosprevistosnoProjetodeLeidasZonasdeProcessamentodeExportação,jáqueestesincentivoscontribuemparaacirraraguerrafiscal;

• Nos casos das decisões de transferência deplantas produtivas de uma regiãoparaoutra, as empresas devem contribuir, por meio:

-daapresentaçãodeumprojetoderevitalizaçãodaárea,aprovadopelaprefeitura; ou

- da continuidade do pagamento de IPTU por mais um período de tempo a serdefinido, visando propiciar condições ao setor público de avaliar os danos sócio-ambientaiserevitalizarasáreasatingidaspelasaídadeempresas.

h) CONSTITUIÇÃO DO IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS

• Um sistema tributário mais justo pressupõe a participação das fortunas nacionaisno financiamentos das políticas públicas necessárias ao desenvolvimentodo país. Assim a CUT defende o envio imediato ao Congresso Nacionalum Projeto de Lei que cria o IMPOSTO DE SOLIDARIEDADE SOBREGRANDES FORTUNAS (ver capítulo específico sobre o tema nesta publicação).

i) IMPOSTO TERRITORIAL RURAL (ITR)

• CriaralíquotaespecialdeITRparaseraplicadanocasodasterras improdutivas.Osrecursos derivados desta alíquota especial deverão ser obrigatoriamente destinados aoprogramadeReformaAgráriadogovernofederal.

j) IMPOSTO DE RENDA

• Os impostos diretos, como é o Imposto de Renda, conseguem alcançar níveis deprogressividademaioresdoqueosimpostosindiretos,comoICMSeISS.

• Por isso, o debate sobre a estrutura do IRRF e a configuração de sua tabela é de extremaimportânciaparaareorganizaçãodosistematributáriobrasileiroembasesmaisjustas(vercapítuloespecíficosobreotemanestapublicação).

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l) DESVINCULAÇÃO DAS RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS (DRU)

• PropomosofimdaDesvinculaçãodasReceitasOrçamentárias.

m) TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA

• A CUT defende que os impostos e contribuições pagos pelo contribuintesejam explicitados com clareza em cada mercadoria e serviço.

n) CARGA TRIBUTÁRIA

• DefinirmontantedacargatributáriaapartirdeumaampladiscussãodoEstadoquequeremos e, por conseguinte, das despesas associadas a este Estado;

• Avaliar todos os casos de bens e serviços em que se pode estimular negociações tripartites, de forma que a redução de alíquotas de impostos seja acompanhada do compromissodamanutenção/elevaçãodaarrecadação,aumentodaproduçãoedoemprego.

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ApropostadaCUTdacobrançadoImpostosobreGrandesFortunasnãoénovidadeàluzdaexperiênciainternacional.EsseimpostoéoujáfoiadotadoemdiversospaísesdaUniãoEuropéia(França,Alemanha,Espanha,Dinamarca,Bélgica,PaísesBaixos,Grã-Bretanha, Itália,Portugal,Gréciaeoutros),sobdenominaçõeseformatosvariados.Emgeral, sua aplicação objetivou o financiamento da dívida pública ou o combate à pobreza edesigualdadesocial.

Oatualmomentodemudançasnaestruturabrasileira é adequadoà recolocaçãodaproposta de IGF (que também poderia ser ainda complementado por um imposto sobre heranças).Nãopropomosoaumentodacargatributária,e,sim,queaestruturatributárialeve em conta critérios de justiça social. Por isso, defendemos que o novo impostodeveriasercobradodeumaúnicavez.Apóssuaaplicação,haveriaocomprometimentopúblico de que ele não seria cobrado no ano seguinte. E mais: ele teria um destinobastanteclaro:odeviabilizarumfundoparaapolíticadevalorizaçãodosaláriomínimo.

A proposta que se segue leva em conta o seguinte conjunto de considerações:

I. A necessidade de constituir um Fundo exclusivamente destinado ao Programa deValorizaçãodoSalárioMínimo;

II.Afontedereceitadestefundodeveteroapoiodapopulação.Portanto,aidéiadofundodeveserdefácilentendimentoetornar-sefatordemobilizaçãosocial;

III.Cercade300milfamíliasnoBrasilrespondempormaisde50%dariquezapessoaldoPaís,cujopatrimôniomédioédeaproximadamenteUS$2,2milhõesdedólares(extraído do Relatório do Projeto de Lei Complementar, de 1989, que instituía a tributação sobre as grandes fortunas);

IV.OImpostosobreGrandesFortunas(IGF)jáestáprevistonaConstituiçãoBrasileirade1988(ar t.153,incisoVII),masaindanãoestáregulamentado,poisdemandaumalegislação complementar (o que exige quorum de maioria absoluta);

V.NoBrasil,algunsprojetosimportantesqueinstituemoIGFtramitaramoutramitamnoCongressoNacional,entreosquais:oProjetodeleiComplementar(PLP)nº202

A Visão da CUT Sobre Temas Tributários Específicos

O IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS E HERANÇAS

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de 1989, do senador Fernando Henrique Cardoso e os Projetos a ele apensados PLP 108/1989,dodeputadoJuarezMarquesBatista;PLP208dodeputadoAntonioMariz;PLP218/1990,doPoderExecutivo;PLP268/1990,dodeputadoIvoCersosimo,cujoparecer incorpora a emenda substitutiva do deputadoAluízio Mercadante e estáprontoparaa“OrdemdoDia”desde06/12/2000.Foramarquivados,nostermosdoartigo105doRegimentoInterno1,osPLP70/1991dodeputadoMaviaelCavalcanti;oPLP77/1991dodeputadoWilsonCamposeoPLP193/1994dedeputadoErnestoGradella;

VI.NoBrasil,oimpostosobreopatrimôniogravaprincipalmenteapropriedadeimobiliária(IPTU,ITR,ITBI)eapropriedadedeveículosautomotores(IPVA),deixandodeladooutros itens importantes como ações e participações, metais e pedras preciosas, animais, obras de ar te entre outros;

VII.OIGFgravaprincipalmenteopatrimônioacumulado,enãoofluxoderiqueza,comoé o caso do Imposto de Renda: por conseguinte, o IGF pode ser visto como um imposto complementar ao IR;

VIII.Apesardoexpostoanteriormente,ocenárioébastantedesfavorávelparaacriaçãode impostos no Brasil, tendo em vista o forte crescimento da carga tributária noBrasilnaúltimadécada(quepassoude28%emmédiaem1994paracercade35%,atualmente, segundo dados do IBPT); por isso, o novo imposto deveria ser cobrado deumaúnicavezecomfinalidadebastanteclara.

IX.ACUT,emdocumentodesetembrode2003,intitulado“ReformaTributária:propostasdaCUT”,jáhaviasepronunciadopositivamentearespeitodainstituiçãodoImpostosobreGrandesFortunas:“TalcomonoImpostosobreaherança,defendemosqueoimposto sobre grandes fortunas seja aplicado em programas sociais para as camadas de baixa renda (vincular esta receita às despesas relativas a estes programas, a partir dospróximosorçamentos)”.

Assim, a proposta é:

1. O envio imediato ao Congresso de Projeto de Lei que cria o IMPOSTO DESOLIDARIEDADESOBREGRANDESFORTUNAS,quedeve incidir, deumaúnicavez, sobre o patrimônio líquido das pessoas físicas e jurídicas, de valor superior a, respectivamente,R$2.550.000,00,ou4678saláriosmínimosnacionais.

1“Art105–Findaalegislatura,arquivar-se-ãotodasasproposiçõesquenoseudecursotenhamsidosubmetidasàdeliberação da Câmara e ainda se encontrem em tramitação, bem como as que abram crédito suplementar ...”

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2. A determinação do valor tributável tomará como base a declaração anual derendimentos.

3. Os bens patrimoniais imobiliários e mobiliários serão avaliados pelos seus valorescorrentesdemercado.

4. A criação de um intervalo de alíquotas, de forma que os maiores patrimônios sejam gravadoscomalíquotasmaiselevadas,sendoqueaalíquotamédiadeveráserde1,5%.

5. AestimativadearrecadaçãocomoimpostoédeR$23,8bilhões.

2ValorbaseadonasestimativasapresentadasnasemendasoferecidasaoPLC202-1de1989(PLS162/89).Correspondeacercade300milfamíliasquepossuemmaisde50%dariquezapessoaldopaís(estimadaemUS$1,2trilhão),comaplicaçãodealíquotamédiade1,5%.

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6. Este valor deve ser integralmente aplicado na Política de Valorização do SM.’

1. Introdução

Ésabidoqueapolíticatributáriaéumdosprincipais instrumentosdedistribuiçãoderenda de umanação,mas para que issoocorra é necessário um sistema tributário quetenhacomoprincípioaprogressividadenasuaformadeincidência,ouseja,quetributeoscidadãoscomrendasmaiselevadasedesonereosqueganhammenos.

A experiência internacional mostra que os impostos indiretos - “tributos que oscontribuintes podem transferir o ônus da contribuição, total ou parcialmente, para terceiros” –como,porexemplo,oICMSeISS,tendemasermenoseficientesemefetivaroprincípiodaprogressividadeumavezqueincidemsobreoconsumo.

Já os impostos diretos, ou seja, os “tributos cujos contribuintes são os mesmosindivíduos que arcam com o ônus da respectiva contribuição” tendem a alcançar níveis de progressividademaiores,esteéocasodoIRPF(ImpostodeRendaparaPessoaFísica).

Este estudo procura demonstrar que na história do IRPF outras configurações de tabela jáexistiramequeoutraspodemserimplantadas.

2. Histórico

É possível verificar que ao longo dos últimos 30 anos, o IRPF já teve diferentesconfigurações de tabelas e faixas de alíquotas (ver tabela 1), com destaque para o período de1976-78emquehavia16faixasderendimento.

NOVA ESTRUTURA PARA A TABELA DO IMPOSTO DE RENDA PESSOA FÍSICA

II

3Glossário-www.tesouro.fazenda.gov.br

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Tabela 1

HISTÓRICO DE FAIXAS E ALÍQUOTAS DO IRPF – 1969/2010

No mesmo sentido, a alíquota inicial já esteve abaixo do atual 7,5%. Note-se, porexemplo,que,entre1969e1975,aalíquotadaprimeirafaixacorrespondiaa3%equefoiseelevandoaté2008,ondeaalíquotaatingiuopercentualde15%.

AalíquotadatabeladoIRPFreferenteaúltimafaixatambémsofreuváriasalteraçõesnesseperíodo.Entre1984e1986,aalíquotaalcançouopercentualde60%paraasrendasmais elevadas, e ao longo dos anos foi se reduzindo e atingiu, em 1991, o menor percentual doperíodo(25%).Estamesmaalíquotatambémserepetiunosperíodoscompreendidosentre1992-1994eentre1996-1998.

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Da mesma forma, a faixa de renda limite para isenção também variou muito no período, atingindoseumenorpatamaremrelaçãoaosaláriomínimoem1989,quandoestavaisentode desconto na fonte somente os cidadãos com rendimentos inferiores a 1,18 SaláriosMínimos.Naoutraponta,foiem1995queafaixadeisençãoatingiuseumaiorvaloremcomparaçãocomosaláriomínimovigente,8,2SM.

Vale ressaltar que foi especialmente a partir da década de 1990, sobretudo com asalteraçõesde1991,queseelaborouoformatodaestruturadeIRPFquedurouaté2008:menor número de faixas; maior intervalo de isenção, associado a uma alíquota mais alta naprimeirafaixa,emenorfaixasuperiorfazemparteda“enxuta”estruturadatabelaquefoialteradasomenteem2009,comacriaçãodemaisduasfaixas.Essaalteraçãofoifrutoda negociação feita entre as Centrais Sindicais e o Governo, a partir de uma proposta elaboradapelaCentralÚnicadosTrabalhadores–CUTem2006.

A idéia que norteou a elaboração de uma estrutura de Imposto de Renda mais restrita reside, ao que parece, na intenção de concentrar um grande número de contribuintes na faixa intermediária,demodoque,nocômputofinal, aarrecadaçãoapresentasseumaelevação.

Noexercício2010(ano-calendário2009),atabeladoIRPFadotouaatualestruturadetabela, com cinco faixas de renda e quatro alíquotas de imposto, na ocasião, variando entre 7,5%e27,5%.EmborarepresenteumavançoaindaestámuitoaquémdaprogressividadepropostapelaCUT.

Abaixo,atabelavigenteem2010:

Renda Líquida (R$)

Alíquota (%)

Parcela a deduzirdo imposto (R$)

Até1.434,59 Isento -

De1.434,60até2.150,00 7,5 1.291,13

De2.150,01até2.866,70 15 3.226,13

De2.866,71até3.582,00 22,5 5.806,16

Acimade3.582,00 27,5 7.955,36

Quantia a deduzir, por dependente 144,20

Fonte: Receita FederalElaboração:SubseçãoDIEESEMetal-ABCeSubseçãoDIEESE/CUT

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Estatabela,secorrigidapeloíndicedeinflaçãode2010medidopeloIPCA/IBGEteriaos seguintes valores:

TABELA DO IMPOSTO DE RENDA PARA PESSOA FÍSICA (IRPF)

ANO-CALENDÁRIO DE 2009

ATUALIZADA PELO IPCA/IBGE*

Renda Líquida (R$)

Alíquota (%)

Parcela a deduzirdo imposto (R$)

Até1.519,36 Isento -

De1.519,37até2.277,07 7,5 1.367,44

De2.277,08até3.036,12 15 3.416,79

De3.036,13até3.793,70 22,5 6.149,30

Acimade3.793,71 27,5 8.425.52

Quantia a deduzir, por Dependente 152,72

3. Parâmetros para a Construção de um Novo Ordenamento para o IRPF

ApósnegociaçãojuntoaoGovernoFederal,em2006,estabeleceu-sequeatabeladeImpostodeRendaPessoalFísicaseriaatualizadaanualmenteaté2010em4,5%.

Estaregradefiniuatabelautilizadaatéoanocalendáriode2009.AatualtabelamensaldoIRPFparaoanocalendário2010nãofoicorrigida,sofreusomenteumajuste

nasfaixas.

TABELA DO IMPOSTO DE RENDA PARA PESSOA FÍSICA (IRPF)

ANO-CALENDÁRIO DE 2010

Renda líquida (R$)Alíquota(em %)

Parcela a deduzir do im-posto em R$

Até1.499,15 Isento -

De1.499,16até2.246,75 7,5 112,43

De2.246,76até2.995,70 15 280,94

De2.995,71até3.743,19 22,5 505,62

Acimade3.743,19 27,5 692,78

Quantia a deduzir, por dependente 150,69

Fonte: Receita FederalElaboração:SubseçãoDIEESEMetal-ABCeSubseçãoDIEESE/CUT(*)Oíndiceacumuladodejaneirode2010atédezembrode2010segundooIPCA/IBGEéde5,91%.

Fonte:ReceitaFederal/Elaboração:SubseçãoDIEESEMetal-ABCeSubseçãoDIEESE/CUT

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A discussão da atualização da tabela do IRPF continua na pauta de discussão das centrais sindicais com o governo, uma vez que, a não correção faz com que os aumentos reais de saláriosconquistadosporgrandepartedostrabalhadoresnoanode2010,sejam“engolidos”peloimpostoderenda.

Mais do que discutir a correção da tabela, cabe uma nova negociação sobre a estruturação de uma futura tabela e novas regras para o IRPF, sob novas bases de maneira que busque corrigir as injustiças da estrutura tributária brasileira, onde os mais pobres pagam maisimpostos.

3.1 – A tabela do IRPF

O parágrafo 1º do artigo 145 da Constituição Federal no capítulo sobre o SistemaTributárioBrasileirodeterminaque:

“Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte(...)”;

Sendo assim, entende-se que esta deva ser a determinação que norteie a revisão da atual estrutura de tabela do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e para tanto se indica, a seguir, parâmetros que possam melhorar a progressividade do IRPF, bem como melhor graduar o imposto à capacidade econômica do contribuinte:

1. Aumento da faixa de isenção para o IRPF com vistas a permitir a elevação da renda disponível das famílias;

2. Diminuição da alíquota da 1ª faixa de contribuição, com o objetivo de desonerar os trabalhadores de menor renda;

3. Aumento do número de faixas de rendimentos, associando-as com alíquotas que recuperemocaráterprogressivodoimposto;

4. Garantir que o estabelecimento das alíquotas das faixas de rendimentos superiores nãoresulteemmaiorevasãofiscal.

3.2 - Rendimentos tributáveis e não tributáveis

No que se refere a base de tributação do IRPF é fundamental a alteração das regras noqueserefereao13ºsalário.Atualmenteo13ºdispõedetributaçãoexclusiva,quenapráticaoretiradocálculoanualparafinsdeajustedadeclaraçãodoIRPFedeeventuaisrestituições.Portanto,propõe-sequeaolimitedeisençãodorendimentomensalacumulado

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em12mesessejamacrescidosdo13ºsalárioeomesmofaçapartedocálculoparaajusteanualdadeclaraçãodoIRPF.

Propõe-se tambémque os valores pagos comobenefícios previdenciários vinculadosaoregimegeraldeprevidênciaouaregimespróprios,atéotetodoRGPSpassemaserconsideradosrendasnãotributáveis.

3.3- Deduções

Por dependente

Propõe-se que para as deduções referentes a dependentes, os assalariados com renda brutadeatéolimitemáximodecontribuiçãodoRGPS(R$3.689,66)possaseabaterR$184,48pordependente.

PararemuneraçõesmensaisentreR$3.689,66eR$10.900,00,adeduçãoseráde5%pordependente.

JápararemuneraçõesacimadeR$10.900,00,adeduçãopermitidaseráfixaeigualaR$545,00pordependente.

DEDUÇÃO POR DEPENDENTE

Até R$3.689,66 R$184,48

De3.689,67a R$10.900,00 5%

Acima de R$10.900,01 R$545,00

Dedução de gastos com educação

Atualmente,adeduçãoindividualcomeducaçãoestálimitadaaR$2.830,84,tantoparaocontribuintecomoparaseusdependentes.

4 Valor equivalente ao teto de contribuição do RGPS5Valorequivalentea5%dolimite6Valorequivalentea20SM7 Valorequivalentea5%dotetodefinidonaproposta8Valorequivalenteamédiadasmensalidadesdasescolasformaisemfevereiro/2011.FonteICV-DIEESE

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Nestetópico,propõe-sequeasdespesascominstruçãodocontribuintee/oudeseusdependentes mediante comprovação, poderão ser deduzidas até o limite individual anual pordependentedeR$10.660,00,incluindo-sedentreasdespesaspassíveisdededuçãoasrealizadascomcursoprofissionalizantesedeidiomas.

Dedução de gastos com saúde

No que se refere às despesas médicas e odontológicas, propõe-se que seja incluindo a possibilidade de dedução dos gastos com medicamentos de uso contínuo, mediante comprovação,bemcomodepróteses,equipamentosparadeficiênciaemanutençãodavida.

Dedução com gastos em habitação

Propõe-se o retorno das deduções com aluguéis, que desde 1990 deixaram de serabatidas, bem como gastos realizados com o pagamento de taxas incluídas no valor da moradia,taiscomocondomínio.

Desconto da contribuição ao INSS realizada para o Empregado Doméstico do Imposto de Renda devido.

Propõe-se o fim do limite de desconto realizado das contribuições do INSS para os empregadosdomésticos,comvistasaevitarosub-registroemcarteira.

Além disso, propõe-se que seja permitido o desconto das contribuições para o INSSparaosempregadosdomésticosquerecebamsaláriosportarefa,comoéocasodasdiaristas.

Deduções mensais

Por fim, propõe-se que seja permitido aos assalariados que tem o IRPF descontado diretamente na fonte a dedução mensal dos valores gastos com saúde coletiva, educação formal(desdequecomprovadamensalmenteseupagamento)eprevidênciacomplementar,talcomoacontececomasdeduçõescomdependentes.

7 Valorequivalenteamédiadasmensalidadesdasescolasformaisemfevereiro/2011.FonteICV-DIEESE

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4 - Considerações finais

Ressalte-se que qualquer tabela a ser instituída devem se ajustar as faixas de acordo com a capacidade contributiva das pessoas, permitindo a elevação da renda disponível e possibilitando o aumento dos gastos das famílias, o que, por sua vez, tende a elevar a arrecadaçãodeimpostos,viaaumentodoconsumo.

AcadaR$10,00dirigidosaomercadodeconsumo,R$3,33retornaaoscofrespúblicos,ouseja,umterçonomínimo.Essecomponentegeraumcírculovir tuoso,eoqueémaisimportante,contribuiparaoaumentodoemprego,darendaealavancaaeconomiadoPaís.

É preciso ainda considerar que a arrecadação deve manter uma correlação com a flutuaçãodaeconomia:sehouvercrescimentodarenda,aumenta-seaarrecadação;seomovimentoforinverso,apolíticatributáriadeveráexercerumpapelativonaretomadadoconsumoedoinvestimento.

Enfim, o Imposto de Renda sobre os assalariados no Brasil não deve ser um instrumento deajustedapolíticamonetária,neminibidordeconsumo.

Propostas da CUT para Novas Regras no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)

AspropostasdaCUTparaaestruturaçãodenovasregrasparaoIRPFsão:

1. AmpliaronúmeroeaamplitudedefaixasdoIRPF,demodoarecuperarocaráterprogressivo desse imposto, tal qual verificado em outros momentos da história do País.

2. AumentarolimitederendatributávelisentadoIR,comvistasapermitiraelevaçãodarendadisponíveldasfamíliasdebaixarenda.

3. AtualizaranualmenteatabeladoIRPFconformeaexpectativadeinflaçãoeaofinaldeumperíodonegociadofazerosdevidosajustes.

4. ConsiderarcomorendimentosnãotributáveisosrecebimentosdeaposentadoriasepensõespagaspeloINSSouRegimesPrópriosdePrevidência,atéotetodefinidoparaoRegimeGeraldePrevidênciaSocial.

5. Estabelecerqueosganhosoriundosdo13ºSalário,queatualmentetemtributaçãoexclusiva, passem a incorporar a remuneração anual possibilitando assim a restituição doimpostorecolhidosobreele,quandodevida.

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6. Aumentarosvaloresmensaisdededuçãodegastoscomdependentes.

7. Elevar o limite individual anual de dedução das despesas com instrução do contribuinte e/oudeseusdependentes.

8. Deduzirtodasasdespesascomeducaçãoprópriaedosdependentes.

9. Deduzirosgastoscommedicamentosdeusocontínuo,mediantecomprovação.

10.Deduzir os gastos com próteses ortopédicas, equipamentos para deficiência eequipamentosdesuporteavida(talqualmarca-passo).

11.Retornar a dedução dos aluguéis até um limite a ser definido como mínimo para garantia do direito à moradia, bem como a incorporação a esses gastos os pagamentos detaxasincluídasnovalordamoradia,taiscomocondomínio.

12.Deduzir mensalmente os valores gastos com saúde, educação e previdênciacomplementar,talcomoacontececomasdeduçõescomdependentes.

Com vistas a viabilizar o debate em torno dessas propostas e a sua futura transformação emdecisõesgovernamentais,aCUTdefendeainstauraçãodeumespaçodenegociaçãonaqualparticipeos representantesdos trabalhadores, conformeacordadoem2006noacordodoSalárioMínimoereajustedatabeladoIRPF.

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Oartigo195daConstituiçãoFederal (CF)de1988estabeleceascontribuiçõesquesedestinamaofinanciamentodaseguridadesocial(PrevidênciaSocial,assistênciasocialesaúde).Dizoreferidoartigo:

Art. 195-A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta eindireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintescontribuições sociais:

I–doempregador,daempresaedaentidadeaelaequiparadanaformadalei,incidente sobre:

afolhadesaláriosedemaisrendimentosdotrabalhopagosoucreditados,a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo;

a receita ou o faturamento;

olucro(...)

Além da contribuição do empregador, a CF determina que o sistema de financiamento daseguridadeserácompostoaindapelacontribuiçãodotrabalhadoredemaisseguradosàPrevidênciaSocial;acontribuiçãosobrereceitasdeconcursosdeprognósticosecontribuiçãodoimportadordebensouserviçosdoexterior,oudequemaeleseequiparar.

Areferência,naConstituiçãoFederal,àcobrançadacontribuiçãoprevidenciáriapatronalsobreafolhadesaláriostemimportantesimplicações,poisqualquerpropostadeeliminaçãodacobrançadacontribuiçãopatronaldo INSSsobrea folhasalarial,comatransferênciapara outras bases de cálculo (como o valor adicionado), exigirá emenda constitucional(comorespectivoaumentodevotosparaasuaaprovaçãonoCongresso).

FORMALIZAÇÃO DO TRABALHO E AS CONTRIBUIÇÕES SOBRE A FOLHA DE PAGAMENTO.

III

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Obs:Elaboração:SubseçãoDIEESE-SindicatodosMetalúrgicosdoABC.

O sistemade cobrança da contribuição previdenciária patronal, que vigora noBrasilna atualidade embute um problema ainda maior do ponto de vista da formalização das relações de trabalho. Como mostra a tabela a seguir, as empresas intensivas em mão-de-obraarrecadamproporcionalmentemaisàPrevidenciáriadoqueasempresasquesecaracterizam pela baixa intensidade na utilização de mão-de-obra.Assim, por exemplo,setores como têxtil, calçados, alimentação e comércio arrecadam relativamente mais àPrevidênciadoquesetorescomoindústriaautomobilística,petroquímicaebancos.Estesúltimos setores, como se sabe, têm faturamento e produtividade elevados e custos demão-de-obra relativamente baixos. Não obstante isso, eles acabam sendo beneficiadospelosistemaatualdecobrançaprevidenciáriasobreafolhadepagamentos.Há,portanto,umagravedistorçãoasercorrigida.

Empresa “A”(Capital intensivo)

Empresa “B”(Mão-de-obra intensiva)

Faturamento R$1.000.000,00 R$1.000.000,00Valor Adicionado R$600.000,00 R$600.000,00Número de empregados 100 200Saláriomédio R$1.000,00 R$600,00Contribuiçãop/previdência(20%) R$20.000,00 R$24.000,00Terceiroseacid.detrab.(7,8%) R$7.800,00 R$9.360,00Despesa total R$27.800,00 R$33.360,00%sobreseufaturamento 2,8% 3,3%%sobreseuvaloradicionado 4,6% 5,6%

Pela tabela hipotética, verifica-se que a empresa“B”, que emprega duas vezes mais

trabalhadoresqueaempresa“A”,arrecadaparaaPrevidênciaR$24.000,00(20%dafolha

desalários)emaisR$9.360,00,naformadecontribuiçãoàPrevidêncianacontrataçãode

terceiroseacidentesdetrabalho,totalizandoR$33.360,00(3,3%doseufaturamentoou

5,6%doseuvaloradicionado).Porsuavez,aempresa“A”arrecadaparaaPrevidênciaR$

20.000,00(20%),naformadecontribuiçãoprevidenciáriapatronalaplicadasobreafolhade

salários.Aestevaloracrescentam-seR$7.800,00naformadearrecadaçõesàprevidência

comterceirosecomosacidentesdetrabalho.Noexemplo,aempresa“A”contribuicom

R$27.800,00,istoé,com2,8%deseufaturamentoou4,6%deseuvaloradicionado.

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Conclui-se, portanto, que, mesmo tendo o dobro de postos de trabalho e pagando

umvalor 40% inferior nos salários, a empresa“B” contribui para a Previdência comum

valor 20% superior à empresa“A”.Vale dizer aindaque, neste cálculo, não estão sendo

consideradas outras obrigações que também oneram a produção da empresa “B” e

diminuemsuarentabilidade.

Esta distorção, que penaliza as empresas empregadoras, termina por desestimular a

formalizaçãodasrelaçõesdetrabalho.

A proposta de desoneração da folha no contexto da atual reforma tributária

Desde2008,ogovernoeosempresáriosfalamemapresentarumprojetodedesoneraçãodafolha.Aintençãoseriadereduziraalíquotapatronalparaaprevidência,de20%para14%,aolongodeumperíododeseisanos(umpontopercentualamenosacadaano).

A CUT, desde aquele momento, tem manifestado sua preocupação com uma meradesoneração, sem a garantia de recursos para compensar a perda desta arrecadação da seguridadesocialedecontrapartidassociais.

Segundoosdadosdisponibilizadospelaprevidênciasocial,onúmerodecontribuintesempregadosem2008erade43,5milhões,comumarendamédiamensaldeR$884,94.Noano,amassasalarialdessecontingentedetrabalhadoresatingiaR$500bilhõesesignificavaumaarrecadaçãoparaaprevidênciadaordemdeR$155,2bilhões,sendoR$100bilhõesoriundos de arrecadação patronal e R$ 49,2 bilhões de arrecadação dos trabalhadoresassalariados.

A partir desses números é possível estimar que cada ponto percentual de redução naalíquotapatronalsignificaumareduçãodaordemdeR$5bilhõesnaarrecadaçãodaprevidência.Tendo-secomobasearendamédiaverificadaparaestemesmoanode2008.Essa redução na arrecadação gerada pela redução da alíquota pode ser compensada pela receita adicional resultante da geração de novos postos de trabalhos formais. Como aarrecadaçãoprevidenciáriatemcomofatoresdeterminantesaquantidadedetrabalhadoresformaiseamédiasalarialdestes,essenúmeroé influenciadodiretamentepeloaumentorealdorendimentodostrabalhadoresformais.

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Fonte:AnuárioestatísticodaPrevidênciaSocial,2006.Elaboração:SubseçãoDIEESE/CUT-Nacional

2008

Nº de contribuintes médio mensal 43.499.390Média salarial mensal R$884,94Média salarial anual (13 meses) R$11.504,25Massa salarial anual R$500.427.994.000Contribuiçãopatronalparaaprevidência(20%) R$100.085.598.800Contribuiçãodotrabalhadorassalariado(faixasde7,65%a11%) R$49.292.157.410Total de recolhimento ao INSS R$155.238.547.000Impactonaprevidênciaacada1%dereduçãona contribuição patronal R$5.004.279.940

Como incentivar a formalização do trabalho e garantir o fortalecimento do Sistema de Proteção Social da CF 88

Considerando-se que a desoneração da folha pode ser uma medida importante na formalizaçãodasrelaçõesdetrabalho,masqueénecessáriaapreocupaçãocomosimpactosda medida sobre o orçamento da Seguridade Social, sugerem-se a seguir algumas propostas para o debate:

1. Criar Programa que estabeleça compromisso de contrapartida das empresas que vieremausufruirdadesoneraçãodafolhadesalários.DeacordocomestePrograma,acadaumpontopercentualdereduçãodacontribuiçãoprevidenciáriapatronal,aempresa se comprometeria a elevar em um ponto percentual o valor real da sua folha de pagamentos (seja por meio de novas contratações, seja por intermédio do incrementodos salários). Esta contrapartida visa garantir, aomesmo tempo,oaumentodaformalizaçãoeapreservaçãodaarrecadaçãoprevidenciária

2. Estabelecer no Programa compromisso com a redução da jornada de trabalho e a redução da rotatividade.A cada ponto percentual de redução da contribuiçãopatronal signifi casse uma redução proporcional na jornada de trabalho e no índice derotatividade.

3. Todas as empresas contempladas pela desoneração se comprometeriam com um programa,aserestabelecidoemconjuntocomossindicatos,contraaspráticasanti-sindicais

4. Concentrar a desoneração da folha de pagamentos apenas nos setores intensivos em mão-de-obra, sem que esta medida seja aplicada para todos os setores da economia nacional.

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5. Desonerarnãoa contribuiçãoprevidenciáriapatronalda folhade salários,masasparcelas relativas ao sistema“s” (contribuições repassadas ao SESI/SESC, SENAI/SENAC,INCRAeSEBRAE).

Esteconjuntodealternativaspermitirá,anossover,umaestruturaquenãoconfronteosinteressesdaarrecadaçãoprevidenciáriaeaformalizaçãodasrelaçõesdetrabalho.

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1. Justificativa:

De1994paracá,acargatributáriabrasileiratemseelevadosubstantivamenteanoapósano.Partindo-sede28%doPIBem1994acargatributáriaatingehojecercade35%doPIBem2010.

ASecretaria daReceita Federal eo InstitutoBrasileirodePesquisaTributária (IBPT),respectivamente,demodooficialenãooficial,sãoasduasprincipaisinstituiçõesresponsáveispelocálculodacargatributárianopaís.

No entanto, nenhuma destas instituições apresenta a carga tributária de mododesagregadoporfaixaderendimentofamiliar.

Aausênciadetalpesquisacontribuiparaqueodebatedacargatributáriasejamarcadoquasequeexclusivamentepeloviésdo“tamanho” idealdoEstado.Grossomodo,nesteembate, os liberais argumentam em favor das idéias voltadas para um Estado mínimo e para

PROPOSTA DE CONSTRUÇÃO DE INDICADOR PARA CAPTAR A INCIDÊNCIA DOS IMPOSTOS SOBRE OS DIFERENTES NÍVEIS DE

RENDIMENTOS FAMILIARES NO BRASIL

IV

9Cargatributáriasignificaaparticipaçãodetodosostributosfederais,estaduaisemunicipaisnoPIB.OCódigoTributárioNacionalestabelecequetributoé“todaprestaçãopecuniáriacompulsória,emmoedaoucujovalor

nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativaplenamentevinculada”(ar t.3ºdoCódigo).Entreasespéciesdetributosestão:“Imposto–tributocuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa

aocontribuinte.Suaarrecadaçãonãotem,emregra,umadestinaçãoespecífica.Taxa–Tributoquetemcomofatogerador o exercício regular do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico edivisívelprestadoaocontribuinte. Contribuição de melhoria – tributo cuja obrigação tem como fato gerador

oacréscimodevalordoimóvellocalizadonasáreasbeneficiáriasdiretaouindiretamenteporobraspúblicas.Empréstimo compulsório – tributo restituível que pode ser instituído, por meio de lei complementar, para atender

àsdespesasextraordinárias,decorrentesdecalamidadepública,deguerraexternaousuaiminência,ounocasodeinvestimentopúblicodecaráterurgenteederelevanteinteressenacional.Contribuições especiais – Têm

comoprincipalcaracterísticaafinalidadeparaaqualsãocriadas.Subdividem-seem:contribuições sociais gerais, contribuições sociais para a seguridade social, contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE),

contribuição de interesse das categorias profissionais ou econômicas (corporativas), contribuição para o custeio do serviço de iluminação pública (Cosip)”.(MarcosAntonioOliveiraFernandeseMauroSilva.DireitoTributário.

SãoPaulo:Barros,Fischer&Associados,2005.[ParaaprenderDireito]).

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afixaçãodeumabaixacargatributária,aopassoqueosnãoliberaisdefendemaexistênciade um Estado indutor do desenvolvimento econômico e social, que, para isso, necessita de umcorrespondentevolumedearrecadaçãodeimpostos.

1. Construirumindicadorqueconsigamedircomoacargatributáriaafetaasfamíliasde diferentes rendas;

2. Constituirumgrupotripartitequetenhacomoobjetivoacompanhareavaliartodooprocessodearrecadaçãoeaplicaçãodessesrecursosdeformadetalhada.Terátambémoobjetivodedesenvolvereproporadequaçõesnesseprocesso.

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Resoluções da CUT

Resolução Sobre a Proposta de Emenda Constitucional Que Trata da Reforma Tributária

Reunida em São Paulo, nos dias 10 e 11 de abril de 2008, a Direção Nacional daCUTdebateu e deliberou, entreoutros pontos de pauta, sobre a proposta de EmendaConstitucional que trata da ReformaTributária. Esta reforma é de interesse direto doconjunto dos trabalhadores, porque tem relação com a viabilização de políticas públicas, eleiçãodesetoresprioritáriosetransferênciaderecursosentreasclasseseossegmentossociais.Elatambémdeterminaráarendalíquidadisponíveldostrabalhadores.

ParaaCUT,asdiretrizesquedevemnortearumaReformaTributáriasocialmentejustano Brasil são: a elevação do peso dos impostos diretos no total dos tributos e contribuições; ataxaçãodasgrandesfortunaseheranças;adesoneraçãodacestabásicaedeprodutoseserviçosrelacionadosàsobrevivênciahumana;adesoneraçãoda folhadepagamentos,de forma a incentivar a formalização, mas sem perdas de recursos da seguridade; o aperfeiçoamentodadistribuiçãodosrecursosnochamado“pactofederativo”;aeliminaçãoda guerra fiscal; a viabilização do crescimento com estabilidade de preços; o incentivo ao investimento produtivo, especialmente aqueles que geram mais empregos; a eliminação da DesvinculaçãodasReceitasOrçamentárias(DRU);amaiortransparênciados impostosecontribuiçõesaplicadossobreoscontribuintese;ocombateàfraudeeàsonegação.

A proposta de Emenda Constitucional da ReformaTributária, recém enviada peloGoverno Federal ao Congresso Nacional, tem como diretrizes a simplificação do sistema tributárioeaeliminaçãodepartedacumulatividadedeimpostos,procurando,noentanto,ser“neutra”quantoaosseusefeitosdistributivos.Nestesentido,ogovernocriaoIVAFederal,que,emdoisanosapósareforma,substituiráaCOFINS,oPIS,oCIDEsobrecombustível,acontribuiçãosobrefolhadepagamentosparaosalárioeducaçãoeacontribuiçãosocialsobreolucrolíquido.Alémdisso,aReformadeterminamecanismosparaaunificaçãodas27 legislações estaduais do ICMS hoje existentes e a transição gradual para a cobrança do ICMSnodestinonasoperaçõesinterestaduais(cujoprocessodeveráocorreraolongodeoitoanosapósareforma).OProjetodogovernoindicatambémque,apósaaprovaçãodaEmendaConstitucional,seráenviadoprojetodeleiqueprevêadesoneraçãodafolhadepagamentos.Porfim,eleanunciaquehaveráfuturasdesoneraçõesdeimpostosaplicadossobreacestabásica.

EmboraaReformaTributáriaseja limitadaporqueseconcentraapenasnos itensqueexigem alterações constitucionais, ela contém pontos positivos, muitos dos quais convergentes comoacúmulodediscussões,elaboraçõeseproposiçõesdaCUTnosúltimosanos.Porém,traz tambémpreocupaçõespara aCentral.Alémdisso, naperspectivadeumaReformaTributáriamaisampla,elaapresentalacunasimportantes.

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Entre os PONTOS POSITIVOSdaReformaTributáriaestãoasimplificaçãodaestruturade tributos e de contribuições; o combate à guerra fiscal; a desoneração futura da cesta básica;oestabelecimentodealgunsincentivosaoinvestimentoprodutivoe;apossibilidadedapromoçãodaformalizaçãodotrabalho.

São as seguintes as principais PREOCUPAÇÕES da Central:

1) GARANTIR O VOLUME DE RECURSOS PARA A SEGURIDADE, O FUNDO DE AMPARO AO TRABALHADOR (FAT) E O SALÁRIO EDUCAÇÃO, RESULTANTE DAS NOVAS VINCULAÇÕES SOBRE A ARRECADAÇÃO

AReformatributáriagaranteexplicitamenteospercentuaisquevinculamasdestinaçõesda arrecadação do total dos principais impostos federais (IVA-F, IPI e IR) para os referidos orçamentos,programasefundosdeinteressediretodostrabalhadores.Paraaseguridade,estão previstos 38,8%; para o seguro desemprego e abono salarial, 6,7%; e comosuplementaçãodosrecursosparaaeducaçãobásica(salárioeducação),2,3%,atéquesejadefinidonovopercentualemleicomplementar.

No entanto, em todos estes casos (seguridade, seguro desemprego, abono salarial e salárioeducação),apreocupaçãodaCUTédequeestespercentuaisrealmentegarantama ampliaçãodos recursos que atualmente sãodestinadas a estas áreas, uma vez que asalíquotasdoIVAserãodefinidaspeloCongressoNacionalapósaprovaçãodaEmenda.

2) GARANTIR O VOLUME DE RECURSOS NECESSÁRIOS PARA A SEGURIDADE NA DESONERAÇÃO DA FOLHA DE PAGAMENTOS

A ReformaTributária sugere o envio de PL com a mera desoneração da folha depagamentossobreacontribuiçãopatronalaoINSS.ACUT,emboraconcordandocomadiretriz do incentivo à formalização do trabalho, tem a preocupação com os efeitos desta medida sobre o orçamento da seguridade. Por isso, a Central propõe outros caminhospara a desoneração da folha de pagamentos. Entre as alternativas estão a transferênciada cobrança da contribuição patronal da folha de pagamentos para o faturamento (com percentual específico determinado para a seguridade) ou; a criação de um programa que vincule a desoneração das folhas de pagamento com a obrigatoriedade da expansão real dafolhadepagamentos(viaaumentodoempregooudossalários),namesmaproporçãodadesoneraçãodafolha.

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3) GARANTIR O VOLUME DE RECURSOS PARA O FUNDO NACIONAL DA EDUCAÇÃO BÁSICA (FUNDEB)

AEmendaConstitucionaldareformatributáriatrazalteraçõessignificativasnalegislaçãodoICMS.Destaforma,háapreocupaçãodequeosrecursoshojevinculadosaoFUNDEBsoframdiminuição.

4) CONTRADIÇÃO ENTRE O COMBATE À GUERRA FISCAL PROPOSTO NA REFORMA TRIBUTÁRIA E A APROVAÇÃO DO PROJETO DE LEI DAS ZONAS DE PROCESSAMENTO DE EXPORTAÇÃO (ZPEs)

ACUTverificaumaclaracontradiçãonofatodequeogoverno lançaumaReformaTributáriaquepretendeatacaraguerrafiscal,mas,aomesmotempo,apóianoCongressoNacionalaaprovaçãodasZPEs,que,aoconcederdiversosincentivoseisenções(impostode importação, Imposto de renda, IPI, entre outros) às empresas instaladas nestas zonas, acabaporincentivarnovamenteaguerrafiscal.

Considerando que a ReformaTributária deve ser vista como um processo e que odebate sobreaReformaTributáriadeverácontinuarocorrendo,aCUTconsideraqueénecessária a aprovação de um conjunto de outras alterações importantes na estruturatributáriabrasileiraequeexigemlegislaçãoinfraconstitucional.Destaforma,aCUTapontaas seguintes LACUNASnaatualreformatributária:

A) MEDIDAS EM RELAÇÃO AOS IMPOSTOS QUE CONTRIBUEM PARA A REDUÇÃO DA DESIGUALDADE DE RENDA E QUE AUMENTEM O PESO DOS IMPOSTOS DIRETOS NO TOTAL DOS TRIBUTOS DO PAÍS, TAIS COMO:

• Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF): No caso deste imposto – que já estáprevisto na Constituição e que exige Projeto de lei complementar - a CUT tempropostadetalhada.

• Imposto sobre Heranças: Reconfiguração do atual imposto sobre as heranças, de formavalorizarageraçãoderiquezapelotrabalho.

• Imposto de Renda - IR:NovaestruturaparaatabeladoIR(aCUTtemtambémpropostadetalhadasobreesteponto).

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• Imposto Territorial Rural - ITR: Novas alíquotas para o ITR e vinculação deste impostoparaofinanciamentodaReformaAgrária.

• Novos impostos sobre a especulação financeira.

B) PRINCÍPIO DAS EXIGÊNCIAS DE CONTRAPARTIDAS SOCIAIS NA CONCESSÃO DE INCENTIVOS FISCAIS ÀS EMPRESAS

O Governo, na ReformaTributária, propõe incentivar o investimento produtivo. Noentanto, a reforma não adota a lógica da exigência de contrapartidas sociais a cadaincentivo tributárioconcedido, tais como:metasdeempregoe respeitoà sindicalizaçãoe organização no local de trabalho, combate ao trabalho escravo, combate ao trabalho infantil,preservaçãodomeioambiente,questãodegênero,entreoutras.

C) MEDIDAS DE DESONERAÇÃO DE ITENS RELACIONADOS À SOBREVIVÊNCIA HUMANA

AReformaTributáriasugereumafuturadesoneraçãodacestabásica.Contudo,elanãofazmençãoànecessáriadesoneraçãodosmedicamentoseequipamentosnecessáriosàsobrevivência.Paraestadesoneração,aCUTsugereaconvocaçãodoConselhoNacionaldeSaúdeedosConselhosdeMedicinaeFarmácia.

D) MEDIDAS QUE ESTABELEÇAM MAIOR TRANSPARÊNCIA TRIBUTÁRIA PARA OS CONTRIBUINTES

A ReformaTributária não prevê a inclusão de medidas que determinem que todosos produtos e serviços terão expressamente os percentuais de impostos pagos pelos contribuintes.

E) DETERMINAÇÃO DO FIM DA DESVINCULAÇÃO DAS RECEITAS ORÇAMENTÁRIAS (DRU)

Comoencaminhamento,aCUTdeveráencaminharsuaspropostasaoExecutivoeaoCongresso Nacional, com vistas a garantir a aprovação dos pontos positivos, eliminar as preocupaçõesepreencheraslacunashojeexistentesnaReformaTributária.

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Artigos

Ajustiçatributária–ouseja,quempagaacontapública–aindanãoestáemdebate.OBrasilpossuiumsistematributárioaltamenteregressivo.Quemganhaatédoissaláriosmínimospaga49%dosseusrendimentosemtributos.Masquemganhaacimade30pagaapenas26%.Issoocorreporque,nacomparaçãointernacional,setributaexcessivamenteoconsumo,emvezdopatrimônioedarenda.

Amádistribuição tributária e de renda restringeopotencial econômicoe social dopaís. Cabe ao Estado induzir a política distributiva, ao fazer com que quem ganha maispague proporcionalmente mais do que quem ganha menos e ao destinar maior parcela do orçamentoparaasnecessidadesbásicasdapopulação.

A justiça tributáriaocorrecomareduçãodacarga tributáriaedaregressividadedostributosecomaeliminaçãodelesdacestabásica.Areduçãodacargatributáriapermitemaiorcompetitividadeparaasempresas,geraçãodeempregos,diminuiçãoda inflaçãoeinduçãodocrescimentoeconômico.

A diminuição da regressividade se faz pela redução do ICMS, PIS e Cofins, que respondem emmédiapor38%dospreçosnoconsumofinal.Dessemontante,oICMSrepresenta70%.

As propostas de reforma do sistema tributário em discussão no Congresso apenastrocam esses tributos por outro, o Imposto sobre o Valor Adicionado (IVA), que mantém a mesma regressividade. Com isso, criam um problema técnico ao exigir uma elevaçãodecercade75%dasatuaisalíquotasdoICMS,ampliandoasonegaçãoeainformalidade.Se entrasse o IPI no IVA, essa elevação alcançaria 92%. E, se a desoneração do INSSdas empresas e o maior aporte ao Fundo de Equalização de Receitas exigissem recursos adicionais do IVA, o problema se agravaria ainda mais. Para evitar isso, uma alternativaseriaadiminuiçãodacargatributáriaqueincidesobreovaloradicionado,compensando-aparcialmentecomaelevaçãodatributaçãosobreopatrimônioearenda.

Pela justiça tributáriaAmir Khair10

Fonte: LeMondeDiplomatiqueBrasil-04dejulhode2008

10AmirKhairémestreemFinançasPúblicaspelaFGV.FoisecretáriodeFinançasdaPrefeituradeSãoPaulo,consultordoBIDepresidentedaAbrasf.Éconsultornaáreafiscal,orçamentáriaetributária.

O horizonte da justiça fiscal encontrará sem dúvidas barreiras e interesses divergentes. O Governo Federal deu um passo importante ao fazer sua proposta e está disposto a negociá-la. Cabe agora ao Congresso aperfeiçoá-la, vencer a resistência de alguns governadores e votá-la sem protelações

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Com a redução da carga tributária sobre o consumo, todos ganham. A populaçãode baixa e média renda, pela melhora no seu poder aquisitivo.A de maior renda pelodesenvolvimento econômico e social, que gera ganhos econômicos e financeiros, novas oportunidadeseexpansãodaofertadeempregos.

Poroutro lado, a substituiçãodos tributos indiretosque atingemofluxoeconômicopor tributos que incidam sobre o estoque da riqueza tem o mérito de criar maior desenvolvimento econômico, pois gera mais consumo, produção e lucros que compensam atributaçãosobreariqueza.Éocasodostributossobreosbens,especialmenteoImpostosobreGrandesFortunas.

Odesenvolvimentoeconômicoampliaaarrecadaçãopública,proporcionandomaioresrecursos para investimentos em políticas sociais e em infra-estrutura, e cria maior atratividade para os investimentos nas empresas como decorrência do maior poder aquisitivo dapopulação.

Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF)

OIGF–ImpostosobreGrandesFortunas–,previstopelaprimeiraveznaConstituiçãoFederalde1988comodecompetênciadaUnião,demandaleicomplementarparaasuaregulamentação. Poderia ser cobrado de forma progressiva, com um nível mínimo deisenção, e alíquota reduzida sobre o valor do patrimônio declarado no imposto de renda dofinaldoexercíciodepessoasfísicasejurídicasqueexcederovalordaisenção.

ApropostadereformatributáriafacilitaaaprovaçãodoIGF,pois51,6%deleirãoparaos estados e municípios.Assim, governadores, prefeitos e potenciais candidatos a essespostosnoCongressoteriaminteresseemaprovaressanovafontederecursos.

Segundo o Global Stability Repor t do FMI, a riqueza mundial atingiu, em agosto de 2007,US$190trilhões.EoPIB(ProdutoInternoBruto)global,US$48trilhões.Ouseja,a riqueza é quatro vezes o PIB. Como o Brasil apresenta há décadas uma das pioresdistribuiçõesderendadomundo,éprovávelqueessarelaçãoaquisejasuperior.Assim,umaalíquotamédiade1%aplicadasobreovalordosbensatualizadospoderá,apósosaperfeiçoamentosnecessáriosdecontrole,permitirumaarrecadaçãosuperiora4%doPIB.Essevalorsuperaoconjuntodetributosindiretos–IPI,PIS,ISS,CideeImpostodeImportação–eequivaleàCofins.

Justiça Tributária: algumas sugestões

Osistematributárioquefacilitaodesenvolvimentoeconômicoesocialdevereduziracargatributária,elevaraprogressividadeeadesonerarostributosindiretosdeconsumopopular.Seguemdezsugestõesquepodemcontribuirparaisso:

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• Queda da Carga Tributária

ACargaTributária (CT) resultadadivisãoda arrecadaçãode tributospeloPIB. Se aarrecadação crescer menos que o PIB, ocorre redução, que eleva a competitividade das empresas em relação às do exterior e o poder aquisitivo de todos, especialmente os de menorrenda.Ográfico2apresentaaevoluçãodaCTdesde1991,segundoametodologiaoficialdecálculodaReceitaFederaldoBrasil.

De1970até1993,aCTsemanteveestávelemcercade25%doPIB.De1991a2007,houveumatendênciadeelevaçãodaCTem0,7%acadaano,atingindo35,9%doPIBem2007.

Há elevação da CT com o crescimento econômico, pois a arrecadação vai além docrescimentodoPIBdevidoàmaioreficiênciadofiscoemdecorrênciadainformatização.Além disso: a) os lucros e a massa salarial crescem acima do PIB e a arrecadação é diretamente proporcional a essas evoluções; e b) o crescimento das importações aumenta o imposto de importação,quepertenceaonumeradordaCT,ediminuioPIB,queéoseudenominador.

Oque fazcairaCTnãoéasimplificaçãodosistematr ibutár io,masareduçãodealíquotas.

• Autorizar a progressividade para qualquer Tributo

AConstituiçãoFederal,no§1ºdoartigo145,estabeleceque:“Semprequepossível,osimpostosterãocaráterpessoaleserãograduadossegundoacapacidadeeconômicadocontribuinte, facultadoàadministraçãotributária,especialmenteparaconferirefetividadea esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio,osrendimentoseasatividadeseconômicasdocontribuinte”.

Emboraessetextosejaclaro,decisõeslegislativasejudiciaistêmimpedidoasuaaplicação.Énecessáriodeixar issoaindamaisexplícito,acrescentandoaoartigo145umparágrafo:“Ostributospoderãosempre,emqualquercaso,seremprogressivosnostermosdaleiqueoscriaroualterar”.

• Regulamentação do igf com desoneração no inss empresas

Anovidade na proposta da reforma tributária do governo é que51,6%do ImpostosobreGrandesFortunas(IGF) irãoparaosestadosemunicípios,oquepoderáviabilizarsuaaprovação.Éotributocommaiorníveldepartilha,poisoimpostoderenda,IPIeoIVAfederalpartilhamapenas28,7%.

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Como mencionado, uma alíquota média de 1%, aplicada sobre o valor dos bensatualizados, poderá, após os aperfeiçoamentos necessários de controle, permitir umaarrecadação superior a 4% do PIB. Esse nível corresponde a todo o INSS pago pelasempresas,podendoserusado,partedele,paraadesoneraçãodafolhadepagamento.Acompensação da desoneração pelo IVA sobrecarrega ainda mais sua alíquota e se for pelo faturamentoaumentaacumulatividadetributáriaquesequereliminar.

• Desoneração total da cesta básica

A Constituição Federal pode estabelecer o princípio da desoneração integral dos produtosdacestabásicaaserregulamentadocomprazodefinidoporLeiComplementar.

• Passar o ITR e ITCD aos municípios

OImpostoTerritorialRural(ITR)eoImpostodeTransmissãoCausaMortiseDoações(ITCD)sãoreceitasmarginaisparaaUniãoeestados,respectivamente.Juntosrepresentamsó0,05%doPIB.Aopassaremparaacompetênciamunicipalpoderão,dentrodasregrasa serem estabelecidas por Lei Complementar, apresentar evolução significativa, devido à possibilidadedemaiorcontroleefiscalizaçãopelosmunicípios.

• Elevar a alíquota do imposto sobre heranças

Aherançaétributadacomalíquotade4%.Essenívelébaixonacomparaçãointernacional.Assim, conjugando progressividade com elevação de alíquota, será possível ampliar suaarrecadação, contribuindo para reduzir a regressividade e criando importante fonte de recursosparaosmunicípios,seficaremnasuacompetência.

• Estabelecer Alíquotas do ISS entre 2% e 3%

AsalíquotasdoISSvariamde2%a5%,sendomaiscomumestaúltima.Comareformatributáriapropostapelogoverno,aUniãopassariaacobrartambémosserviços,ampliandoacargatributáriasobreosprestadoresdeserviçoeelevandoaindamaisainformalidadeeasonegação.Apropostaémantersóatributaçãomunicipalcomalíquotasentre2%e3%.Não ocorreria perda de arrecadação, pois seria reduzida a informalidade, a sonegação e a guerrafiscal.Alémdisso,haveriareduçãodacumulatividadetributária.

• Ampliar a progressividade do IRPF

OImpostodeRendaRetidonaFontedaPessoaFísica(IRPF)tinha13faixasde1983a

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1985,comalíquotasquevariavamde0%a60%,comintervalode5%.Apartirde1998,sóduas,15%e27,5%.Comparativamenteaopadrãointernacional,oimpostosobrearendaeaContribuiçãoSocialsobreoLucroLíquido(CSLL)atingiramseunívelmáximoem2007,com7,6%doPIB, enquantonamédiadospaísesdaOrganizaçãopara aCooperaçãoeDesenvolvimentoEconômico(OCDE)correspondema13,6%doPIB.

Amédiaédecincofaixas,queteriamcomoextremos13%e42%.Assim,poder-se-iaproporumaisençãonopagamentodoIRdeR$2.000(base:abrilde2008),valorpróximoaosaláriomínimodoDieese,comasfaixasvariandode10%a42%,comintervalosde8%.Ovalordasfaixasdeveriasercalibradodeformaapermitirumaarrecadaçãosuperioràatual,de3,6%doPIB,considerandoinclusiveototalarrecadadonafonte.

• Eliminar o teto de contribuição do INSS com desoneração nas empresas

Existeforteregressividadeparaosqueganhamacimadotetodecontribuição.Namédia,osqueganhamatéotetocontribuemcomumaalíquotade8,9%sobreoseurendimento.Acimadotetoessamédiacaipara5,2%.RendimentosdeR$10.000pagam3,2%edeR$20.000pagam1,6%.

O sistema previdenciário é pelo regime de repartição e supõe solidariedade entreparticipantes.Issoocorreabaixodoteto.Acimadele,asolidariedadeseinverte.

Nossa proposta é eliminar o teto como limite de contribuição, mas não de benefício, tornandoosistemamaissolidário.Issopermitiráumamaiorarrecadação,quecompensariaadesoneraçãodasempresas.Apenas5,8%dostrabalhadoresganhavamacimadoteto,masdetinham33,2%dosrendimentos.Casopassassemacontribuircom11%dosvencimentos,seriapossíveldesonerarem2,3%aalíquotadasempresas.Essadesoneraçãocontribuiriapara reduzir a informalidade, gerando maior número de contribuintes de empresas e de assalariados.Issopermitiráampliarumpoucomaisessadesoneração.

• Estabelecer a alíquota padrão do iva estadual em 15% e a máxima em 20%

OICMSéomaiorresponsávelpelaregressividade.Éotributodemaiorarrecadaçãonopaís, atingindo7,3%doPIBem2007,metadeda carga tributáriaque incide sobreoconsumo.

Pela proposta do Governo, compete ao Senado definir as alíquotas do IVA e ao conselho a serconstituídopelossecretáriosdeFazendadosestadosclassificarosbensnessasalíquotas,cabendoaoSenadoaceitá-lasourejeitá-las,masnãomodificá-las.

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Issocriaoriscodeumaelevaçãodacargatributáriadoatual ICMS,comapassagemparaoIVAestadual.Comosugestão,aalíquotapadrão,atualmentede18%,passariaa15%;eamáxima,a20%;sendoimpedidaaalíquotadonovoIVAsuperaracorrespondentedoatualICMSparacadabemouserviço.

Os estados nãoperderão recursos, pois a reforma tributária: a) estabeleceo fimdaguerra fiscal; b) cria o Fundo de Equalização de Receitas (FER); c) torna obrigatória a modernizaçãofiscalparaterdireitoaosrecursosdoFER;d)prevêapossibilidadedealteraralgumas alíquotas do IVA estadual nas Assembléias Legislativas; e) reduz a sonegação e informalidadepelasmenoresalíquotas;ef)estimulaocrescimentoeconômico.

Ohorizontedajustiçafiscalencontrarásemdúvidasbarreiraseinteressesdivergentes.Além de esbarrar no conflito federativo pela disputa de receitas, a reforma do sistematributáriodeveavançarpararepararainjustiçafiscalepermitirummaiordesenvolvimentoeconômicoe social aopaís.OGovernoFederaldeuumpasso importante ao fazer suapropostaeestádispostoanegociá-la.Cabeagora aoCongressoNacional aperfeiçoá-la,venceraresistênciadealgunsgovernadoresevotá-lasemprotelações.

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No fi nal do século 19, com o nascimento da República no Brasil, havia uma importante expectativa em torno da transformação do sentido da tributaçãooriginária do períodoImperial.Naquelaoportunidade,aprincipalfontedatributaçãoassentava-seessencialmentenos impostos indiretos, o que terminava por fazer com que os pobres tivessem justamente quesustentaramáquinadoEstadoliberal.

QuaseduasdécadasdepoisdainstalaçãodaRepública,jáeraevidenteodescompassoentre o desejo de tornar progressivo o sistema tributário republicano e a realidade demanteraregressividadedos impostos.Tantoassimque,noanode1905,ManuelBonfimlançouolivroAméricaLatina,emquedestacavaainiqüidadetributáriavigente,responsávelportornarospobresedesfavorecidosdolimiardoséculo20osegmentosocialcommaiorparcelada rendadeslocadaparaa receitapública:77%de todaaarrecadação tributáriaprovinhadosimpostosindiretos.

Umséculodepois,constata-sequeasituaçãopermanecepraticamenteamesma.Nãoobstanteasdiversasmodificaçõesimplementadasaolongodoperíodonosistematributáriobrasileiro, os pobres e desfavorecidos continuam a compor o segmento visado para o maior pagamentoproporcionaldesuasrendascomtributação.Emgrandemedida,aperpetuaçãoda grave desigualdade no Brasil se deve à incapacidade para alterar o sentido regressivo do sistematributárionacional.

Tributação que Aprofunda a DesigualdadeMarcio Pochmann11

Fonte: Cesit–UnicampCartaSocialedoTrabalhon.8–JaneiroaAgostode2008

11 Professor do Instituto de Economia e pesquisador do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho licenciado,daUniversidadeEstadualdeCampinas.PresidentedoInstitutodePesquisaEconômicaAplicada(Ipea).

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Como se sabe, a maior ou menor par ticipação da tributação sobre o PIB (Carga TributáriaBruta)pode indicaroquantoopoderpúblicopesa sobre a sociedade,masnãonecessariamentequeelesejajustoeadequadoaoconjuntodapopulação.Emfunçãodisso,opresentear tigotratadosprincipaistraçosdosistematributárioatual,tendoemvista a sua contribuição inegável para o aprofundamento da desigualdade de renda eriquezanoBrasil.

Desigualdade pessoal e funcional da renda no Brasil

AdesigualdadeextremanoBrasilpodeserobservadapelarepartiçãoprimáriadarendaeriqueza.Narepartiçãofuncionaldarenda,quetratadaparticipaçãodarendadotrabalhoem relação às demais rendas do patrimônio (lucros, juros, alugueis de imóveis, renda da terra,dentreoutras),pode-seobservardeformaagregadaograudedesigualdadeexistente.

Pode-seobservarqueatendência,desdeadécadade1950,temsidoamenorparticipaçãodorendimentodotrabalhonarendanacional.Atualmente,menosde40%darendanacionalsãoapropriadospelostrabalhadores;nofinaldadécadade1950,aproximava-sedequase60%.Emcontrapartida,osdetentoresdepatrimônioassistemàexpansãocontínuadeseusrendimentosrelativosàrendanacional.

Na repartição pessoal da renda, referente ao peso de cada indivíduo com rendimento no total da renda, também se chega ao indicador de desigualdade. Nesse caso, dada adificuldadeparacontabilizarasdeclaraçõesde rendimentodosproprietários, termina-se

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fundamentalmente analisando-se o rendimento do trabalho, o que não é necessariamente um problema estatístico nos países em que o rendimento do trabalho supera a metade da rendanacional.

NoBrasil,asprimeirasinformaçõesoficiaisdisponíveisderivamdoCensoDemográficode1960,oprimeirodasériearegistrarorendimentodapopulação.Deláparacá,percebe-seapéssimarepartiçãodarenda.

Ainda que as investigações tendam a captar fundamentalmente o rendimento do trabalho, o que torna subestimadas outras formas de renda como os ganhos obtidos pela propriedade (juros, lucros, aluguéis e renda da terra), o indicador de desigualdade dadistribuiçãopessoal registradoem1960 jamais foi alcançadonosúltimos46anosdepesquisas do IBGE.Mesmoque no período recente o indicador de desigualdade (Gini)tenhaapresentadoumainflexão,eleaindaencontra-se12%acimadode1960.12

12Destaca-sequeoíndicedeGinimedeadesigualdadepessoaldarenda,variandode0a1.Quantomaispróximode1,pioradesigualdade.PaísescomíndicedeGiniacimade0,45expressamgrauprimitivode

sociedade.AAlemanha,porexemplo,registraoGiniem0,28;aSuécia,0,25;aNoruega,025;Canadá,0,31,dentreoutros.NoíndicedeGini,oBrasilencontra-seacompanhadodepaísescomoLesotho,0,56;Zimbabwe,0,57;

GuinéBissau,0,56,dentreoutros

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Tributação sobre os pobres

A desigualdade no Brasil poderia ser perfeitamente inferior a apresentada atualmente, casohouvessenopaís um sistema tributário justo, progressivo sobre a rendae riqueza.Comonãoéessaaexperiêncianacional, compreende-seoquantoelecontribuiparaoaprofundamentodadesigualdade.

Isso ocorre fundamentalmente porque são os mais pobres que terminam pagando mais tributosnopaís.Noanode2003,porexemplo,opesodatributaçãosobreorendimentodasfamíliascomatédoissaláriosmínimosmensais(menosde830reaisde2008),alcançaquase49%.Ou seja, a cadadois reaisque recebe, a família transferequaseumreal aoscofres públicos na forma de tributos. Já uma família com rendimento superior a trintasaláriosmínimosmensais(acimade13,5milreaisde2008)comprometiamenosde27%comtributação.

Para piorar, contata-se tambémque entre 1996 e 2003,momentos de realizaçãodaPesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, a carga tributária sobre a renda das famíliascresceumaisparaospobresdoqueparaasfamíliasricas.Oaumentofoidemaisde73%paraas famíliasdeaté2 saláriosmínimosmensaisedemenosde47%paraaquelasdemaisde30saláriosmínimosmensais.Aclassemédia,entretanto,tevemaioradicionaldetributação no mesmo período de tempo, mesmo que a carga tributária seja ainda 1/3inferioràdasfamíliaspobresnoBrasil.

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A principal razão pela qual os pobres pagam mais impostos do que os ricos se deve à naturezafortementeregressivadosistematributárionacional.Ouseja,afortepredominânciados chamados tributos indiretos, geralmente embutidos no preço fi nal dos bens e serviços, muitosdosquaisatendemaoconsumodospobres.

Por outro lado, a tributação direta, geralmente atrelada à renda e patrimônio, tem reduzidaimportâncianaarrecadaçãodopaís.Ademaisdepoucoatuaremprogressivamentesobre os ricos, inexistem tributos sobre diversas formas de riqueza, com o imposto sobre grandesfortunas,conformeexperiênciadospaísesdesenvolvidos.

Nessesentido,os10%maispobresdopaís,cujarendamédiafoide73reaismensaisem2006,transferiamnaformadetributosquase33%dorendimento.Jáos10%maisricosdopaís,comrendamédiadequase4milreaismensais,contribuíamcommenosde23%darendacomosistematributário.

Porcontadisso,adesigualdadeentreorendimentomédiobrutodos10%maisricoseodos10%maispobresfoide54vezesem2006.Jáadesigualdadeentreorendimentomédiolíquido(apósoefeitodatributação)dos10%maisricoseodos10%maispobresfoide80,5vezesem2006.Nessemesmoano,oaumentonadesigualdadeentreosrendimentosmédios(brutoelíquido)dosextremosdadistribuiçãopessoaldarendanoBrasilem49,1%sedeveuaopapelregressivodosistematributárionacional.

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Isso se torna ainda mais evidente, quando se compara a evolução do grau de desigualdade entreorendimentomédiobrutoelíquidodos10%maisricoseodos10%maispobres.Em2003,porexemplo,adesigualdadeentreosrendimentosmédiosbrutosdosdoisdecisextremos era de 65,6 vezes e de 73,6 vezes entre os rendimentos médios líquidos, enquanto em1996foide40,5vezes(rendimentomédiobruto)ede42,9vezes(rendimentolíquido).

Ademais da constatação do crescimento da desigualdade a partir da identifi cação do papel do sistema tributário no Brasil, percebe-se como o aumento da carga tributáriaterminoucontribuindoparaagravaraindamaisadesigualrepartiçãodarendaeriqueza.Emsíntese,oaumentodesproporcionaldacargatributáriaentreosdiferentesníveisderendados brasileiros terminou por agravar ainda mais o grau de desigualdade verifi cado durante osanosde1996e2003.

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ParacompreenderosfundospúblicosnoBrasiléprecisoanalisaroseufinanciamento.São recursos socialmente criados e administrados pelo Estado por meio da extração de tributos da sociedade: contribuições, impostos e taxas14.

No Brasil os estudos sobre o financiamento do Estado limitam-se a comentar o expressivo crescimentodacargatributáriadosúltimos12anos.Masénecessárioiraocernedaquestãopara desvendar sobre quem recaiu este aumento de tributos ou em outras palavras, quem de fato pagou e paga a conta.A questão-chave é quem financia o Estado brasileiro. Osistematributáriotemsidouminstrumentoquefavorecearedistribuiçãoderenda?

Nos últimos doze anos, a despeito das dificuldades de crescimento econômico do país, da elevação do desemprego e da queda da renda dos trabalhadores, a arrecadação de impostos continua quebrando todos os recordes históricos e reforça a injusta estrutura tributáriabrasileira.

Historicamente os recursos fiscais no Brasil sempre foram usados para subsidiar e financiar a acumulação de capital, enquanto os recursos contributivos cobrados na folha de saláriosfinanciavamosocial.

AocontráriodospaísesquefinanciamseusEstadosdeBem-Estarcomrecursosfiscais,emgeral impostosdiretos, oBrasil permanece comarrecadação tributária centrada emtributos indiretos, significando que os mais pobres pagam proporcionalmente mais tributos emrelaçãoàsuarendadoqueosmaisricos.15

Esta sobrecarga de impostos sobre os trabalhadores assalariados também se expressa na política dos impostos diretos no Brasil, que incidem predominantemente sobre a renda destesetor.

Já os ricos, que se encontram no topo da pirâmide social, pagam cada vez menosimpostosnoBrasil,principalmenteapós1994,comasinúmerasmodificaçõesrealizadasnalegislaçãotributáriaquecaminharamnacontramãodajustiçasocial.Aliás,esteéumtemaausentenaagendadedebatessobrereformatributáriaapósaConstituiçãode1988.

Questão tributária no Brasil: Como fazer a elite pagar conta?Evilásio Salvador 13

Fonte: www.fag.edu.br

13EvilásioSalvadoréeconomista,doutorempolíticasocial(UnB).AssessordepolíticafiscaleorçamentáriadoInstitutodeEstudosSocioeconômicos(INESC).

14UmaprofundamentodestetemapodeservistoemSALVADOR,E.FundoPúbliconoBrasil:FinanciamentoeDestinodosRecursosdaSeguridadeSocial.TesedeDoutorado.ProgramadePós-GraduaçãoemPolíticaSocial.

UniversidadedeBrasília.2008.15SOARES,Laura.Acharangadoajustefiscaledafocalizaçãodogastosocial.RiodeJaneiro:UERJ,Laboratóriode

PolíticasPúblicas,2005.Disponívelemwww.lpp-uerj.net/outrobrasil/docs/175200516042_laura_abril_2005.doc.

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A discussão sobre quem financia o Estado passa pelo debate teórico do seu tamanho e da distribuição da carga tributária entre os membros da sociedade. Diversos estudosrevelamqueacargatributáriabrasileiraaumentoumuitonosúltimosanos.De fato, jáémaisaltaqueademuitospaísesdesenvolvidos.Mas,aocontráriodessespaíses,oBrasiltira a maior parte de sua receita de tributos indiretos e cumulativos, que oneram mais o trabalhadoreaclassemédia.Nacomposiçãodareceitatributária,maisdemetadedacargaprovém de tributos que incidem sobre bens e serviços, enquanto a tributação sobre a rendanãoultrapassa25%dototal.

A construção do Estado de Bem-Estar Social nos países desenvolvidos privilegiou a redistribuição da renda gerada por meio do orçamento, com tributação sobre os mais ricos etransferênciasdosrecursosdosfundospúblicosparaosmaispobres.

Nos países desenvolvidos, no segundo pós-guerra, foram realizadas reformas como a tributária,asocialeatrabalhista.Pelaviadareformatributáriaosricospassaramapagarimpostos,especialmentecomomecanismodaprogressividadesobrearendaepatrimônio.Construiu-se uma nova estrutura de redistribuição da renda e, com isso, os mais ricos passaram a ser tributados consideravelmente com impostos sobre a renda, patrimônio e herança,permitindoacriaçãode fundospúblicosparafinanciara transferênciaderendapara a população de menor renda, combatendo à pobreza, o desemprego e à desigualdade social nos países desenvolvidos16.

OBrasil, combasenaexperiência internacional e levandoemcontaosobjetivosdeerradicar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e construir uma sociedade mais justa, deveria utilizar o sistema tributário como instrumento de distribuição de renda eriqueza,nocaminhoinversodoconstruídonasúltimasdécadas.MasaPropostadeEmendaConstitucional(PEC)233/2008nãocaminhaparaaconstruçãodeumsistematributárioprogressivo,pautadopelatributaçãoderendaedopatrimônio.Alémdisso,apropostadereformatributáriatrazgravesconseqüênciasaofinanciamentodaspolíticassociaisnoBrasil,pois altera de forma substancial a vinculação das fontes de financiamento exclusivas das políticasdaseguridadesocial(previdência,saúdeeassistênciasocial),educaçãoetrabalho.17

Onossopaísencontra-seentreasdezeconomiasmais ricasdomundo18 e uma das maiores concentrações de renda do planeta19.NossoprincipalproblemaéadesigualdadeeapesardamelhorianocoeficientedeGini,noperíodode1995a2005,de0,601para0,569, a concentração de renda do nosso país só é comparada a de alguns países da

16Vernessesentido:POCHMANN,Marcio.Proteçãosocialnaperiferiadocapitalismo:consideraçõessobreoBrasil.SãoPauloemPerspectiva,SãoPaulo,18(2),p.3-16,2004.17UmaanálisedapropostadereformatributáriaemdebatenoCongressoNacionalpodeservistaemSALVADOR,Evilásio.Reformatributáriadesmontafinanciamentodaseguridadesocial.Campinas,Unicamp,CartaSocialedoTrabalho,v.8,2008.18WORLDBANK.WorldDevelopmentIndicatorsdatabase14September2007.Disponívelem:http://siteresources.worldbank.org/DATASTATISTICS/Resources/GDP_PPP.pdf19PNUD.RelatóriodoDesenvolvimentoHumano2006.NovaYork:ProgramadasNaçõesUnidasparaDesenvolvimento,2006.Disponívelemsiteemhttp://hdr.undp.org

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ÁfricaSubsaariana,umadasregiõesmaismiseráveisdomundo.Paraagravaraindamaisestasituação,éprecisolevaremcontaqueosdadosquesãoutilizadosnocálculodoCoeficientede Gini são baseados na Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro deGeografiaeEstatística(IBGE),quesubestimaarendadocapital:juros,lucrosealuguéis.

OSistemadeContasNacionais (SCN)do IBGEapresenta informaçõesvaliosasparaa análise da iniqüidade social no Brasil. Os dados revisados do SCN pelo IBGE (2007)revelam o quadro de iniqüidade em vigor no país: em 2000, os salários representavam32,1%doPIB,reduzindo-separa31,7%,em2005;enquantooslucros,mensuradosapartirdoexcedenteoperacionalbruto,aumentaramsuaparticipaçãonarendanacionalde34%(2000)para35,2%,em2005.

OImpostodeRenda(IR)temsidoutilizadocomoinstrumentoderenúnciasfiscaisefavorecidoaelisãoeoplanejamentotributário,namesmalinhadotratamentomaisgravosodos rendimentos do trabalho e a isenção dos rendimentos do capital, como a distribuição do lucro.OquetornanecessáriaumaprofundarevisãodoIRcomoobjetivoderestabelecero seu verdadeiro significado, contribuindo para assegurar a eqüidade horizontal e vertical natributação.

Além de precisar rever a distribuição proporcional dos tributos entre os distintos setoressociais,areformatributáriaprecisatambémgarantiraprogressividadedostributosparareduziraconcentraçãoderenda.Onossopaíscarecedaprogressividade:taxarcomalíquotasmaioresecrescentesasrendasmaiores.

A construção de uma tributação mais justa no país passa pelo resgate e reafirmação dediversosprincípiostributários,jáexistentesnaConstituiçãobrasileiraequenosúltimosanos não vêm sendo observados20.A política tributária não pode conceder tratamentoprivilegiado à renda dos capitalistas, de forma que todos os rendimentos tributáveis dapessoa física devem ser feitos obrigatoriamente na tabela progressiva do IR e sujeitos ao ajusteanual.

Apolíticatributáriadeveser,antesdetudo,uminstrumentodedistribuiçãoderendaeindutoradodesenvolvimentoeconômicoesocialdopaís.Deveserbuscadoummodelotributário que assegura a sustentação do Estado que priorize as políticas sociais. Nessesentido, é necessário revogar algumas das alterações realizadas na legislação tributáriainfraconstitucional, após 1996, que sepultaram a isonomia tributária no Brasil com ofavorecimento da renda do capital em detrimento da renda do trabalho. Entre essasmudançasqueprecisamserrevertidasdestacam-se:areduçãodaalíquotadoIRPJde25%para15%edoadicionalsobreoslucros;apossibilidadederemunerarcomjurosocapitalpróprio das empresas, reduzindo-lhes o Imposto de Renda e a CSLL; a isenção de IR na distribuição dos lucros e dividendos, na remessa de lucros e dividendos ao exterior e nas aplicaçõesfinanceirasdeinvestidoresestrangeirosnoBrasil.

20HICKMANN,Clair.Princípiosparaumareformatributáriacidadã.In:MORHY,Lauro.Reformatributáriaemquestão.Brasília:EditoradaUnB,2003,p.109-122.

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Opilardosistematributáriodevesero impostoderenda,poiséomais importantedos impostosdiretos,capazdegarantirocaráterpessoaleagraduaçãodeacordocoma capacidade econômica do contribuinte. O imposto de renda é um instrumentofundamental para redistribuição da renda, garantindo a justiça fiscal. Por intermédiodele serápossível aplicar amáxima“igualdadeé tratardesigualmenteosdesiguais”noordenamentotributáriodopaís.Por tanto,deverserampliadoonúmerodefaixasedeintervalos da tabela do IR, estabelecendo alíquotas iniciais inferiores às vigentes hoje e com correção periódica da tabela21.

As modificações propostas são passos importantes para a construção de uma estrutura tributáriamaisprogressivae,portanto,mais justa.Comisso,asclassesdeelevadopoderaquisitivo passariam a arcar com o maior ônus tributário, permitindo na prática umaredistribuiçãoderendanopaíseadesoneraçãodatributaçãosobreoconsumo.

A desoneração da tributação sobre bens e serviços seria um forte incentivo aos investimos produtivos, contribuindo para a retomada do crescimento econômico. Osdonos do capital financeiro seriam chamados a contribuir com uma maior parcela do financiamentodoEstadobrasileiroenão simplesmente seremo seumaiorbeneficiário.Por outro lado, não haveria tratamento desigual da renda, a partir do momento em que todososrendimentosfossemtributadospelatabelaprogressivadoimpostoderenda, járecuperada de novas alíquotas e maior número de faixas de contribuição. O resultadoesperadodaspropostas apresentadaséuma inversãonadistribuiçãoda carga tributáriaquepassariaaserconcentradaemtributosdiretos,ouseja,sobrearendaeopatrimônio.

21ConformeHICKMANN,C.“QuemPagaAConta?PrivilégiodeRentistas:ImpostodeRendaExclusivonaFonte”,BeloHorizonte,anaisdoVIIICongressoNacionaldosAuditores-Fiscais-Conaf,13a19deoutubrode2002.

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Apesar do crescimento brasileiro observado a partir de 2003, os bancos tiveramuma contribuição pouco significativa no desenvolvimento econômico do país. IndicadorinquestionáveldestaafirmaçãoéabaixaparticipaçãodocréditonoProdutoInternoBruto(PIB).EmpaísescomoosEstadosUnidos,InglaterraeAlemanha,aparticipaçãodocréditointernoaosetorprivadonoPIBfoiem2008,segundooBancoMundial,de190%,211%e108%,respectivamente,enquantooBrasilatingiu55,7%.

Nas últimas décadas, os bancos privados estiveram muito longe de sua função de fornecedordecréditoàsfamíliaseaossegmentosprodutivos.Concentraramsuasatividadesna esfera especulativa, principalmente na aplicação em títulos públicos, com alta rentabilidade e risco praticamente zero e nos financiamento de curto prazo a custos elevados, tanto em razãodaelevadataxabásicadejuros,quantoaotambémelevadospreadbancário.Comoosetoréoligopolizado,nãoháconcorrênciaviapreço.Assimmesmoemumcenáriodeestabilidade econômica, inadimplência emqueda , crescimento do emprego e da renda,medidas governamentais de liberação do compulsório, o spread bancário praticado noBrasilsemantémcomoumdosmaisaltosdomundo,atingindoopatamarde34,9%,noúltimotrimestrede2008.

O crescimento sustentado da economia, base objetiva para um desenvolvimentosustentável,necessitadeumaestruturadefinanciamentodelongoprazo.Nosúltimosanosfoi o sistema público, constituído pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal e os fundos públicos dos trabalhadores (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço - FGTS e Fundo de Amparo ao Trabalhador-FAT)quefinanciaramoinvestimentonopaís.

Fruto deste contexto, segundo a agência de risco Austin Rating, em 2009, os oitoprincipaisbancosprivadosbrasileirostiveramumlucrolíquidodeR$23,174bilhões,24,1%superioraolucrode2008.

Neste sentido é preciso impulsionar o debate e negociação em torno do papel do sistemafinanceironoBrasil,conformejávemsendopropostopelaConfederaçãoNacionaldosBancáriosdaCUTdesde1992epelaCentralÚnicadosTrabalhadores-CUT,umavezqueaausênciadeumaregulaçãoestataladequadatemgeradoineficiênciadosistemanotocanteàpromoçãododesenvolvimento.

O papel dos bancos no desenvolvimento do BrasilVagner Freitas 22

Fonte: www.fag.edu.br

22VagnerFreitasésecretáriodeAdministraçãoeFinançasdaCUTNacionaleex-presidentedaContraf-CUT.

Rediscutir o papel do sistema financeiro no processo de desenvolvimento não é tarefa simples, mas talvez seja hoje, o maior e mais importante desafio da sociedade brasileira e mundial.

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A Emenda Constitucional nº 40 de 2003, ao reformar a redação do artigo 192 daConstituição Federal dispôs sobre a regulamentação do artigo por lei complementar.Desde então o artigo 192 que trata sobre a regulamentação do sistema financeiro nacional estápara ser regulamentado.Naausênciada lei complementar, asnormasque regemosistemafinanceironacionaléamesmadesde1964,apesardasmudançasqueocorreramnaeconomiamundialenaeconomiabrasileira.

Oqueseobserva,nocasobrasileiroéquenodecorrerdotempoosistematransforma-se numa estrutura oligopolizada a partir das mudanças econômicas que conduziram a uma for teconcentraçãobancária,masreguladoporumarcabouçonormativodeumtempoemqueaestruturafinanceiradopaíseracompletamentedistintadaatual.

Alei4.595/64nãoasseguraumaregulaçãoadequadasobreumaestruturavoltadaparaaobtençãodeganhosespeculativosemdetrimentoaofomentodasatividadesprodutivas.

O papel do Banco Central definido na legislação em vigor não atende mais a ummodeloquesediferenciaestruturalmentedaqueleexistenteemmeadosdadécadade60.A introduçãodoregimedecâmbioflutuanteedemetasde inflaçãoreservouumpapeldiferenciadoaoBancoCentral.Fortalece-seaidéiadequeexisteumviésinflacionárionaeconomiaequeomelhorresultadoquesepodeobterpormeiodapolíticamonetáriaéa estabilidade de preços, razão pela qual esse deve ser o principal papel do Banco Central, que só é possível comumBancoCentral autônomodas políticas de governo.OpapelreservadoaoBancoCentralédeguardiãodaestabilidadedopoderdecompradamoeda.

Nessecenárioecomaperspectivadeumcrescimentoeconômicosustentadoparaospróximos anos, é que ganha importância, a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal.

ACentralÚnicadosTrabalhadores-CUTesuaConfederaçãoNacionaldosTrabalhadoresdoRamo Financeiro -CONTRAF que já experimentaram com sucesso a realização denegociações nosmais diversos campos: da política de valorizaçãodo saláriomínimo aocréditoconsignado,vemapresentandoparaareflexãoenegociaçãoasseguintesdiretrizespara a regulamentação do artigo 192 da Constituição Federal:

• Aregulamentaçãodevesergeralenãodeformafatiadacomopropõeaemenda40.

• Definir volume, custos e setores a serem atingidos por operações de crédito obrigatórias.

• Promover políticas de crédito direcionado com juros regulados a exemplo do SFH, que tem como funding a poupança

• Concessão de garantias de redesconto e assistência à liquidez de operações decrédito de segmentos a serem incentivados

• Criar regras para atuação dos bancos públicos e de sua relevância econômico social,

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considerandosuaspeculiaridadesemrelaçãoaosetorprivado.

• Regulaçãodasinstituiçõesbancáriasestrangeirasnopaís,subordinando-asaosobjetivos nacionais, principalmente no que diz respeito a remessa de lucros paraoexterior.

• Diminuiçãodebarreirasàentradaquepermitamaumentodaconcorrêncianosetorapartirdarecriaçãoedesenvolvimentodosbancosregionaisemunicipais.

• Regulação específica para os cartões de crédito abrangendo a compensação e as tarifaspraticadas.

• Revisão dos processos de terceirização, horário de atendimento e da figura docorrespondentebancário.

• Participação dos trabalhadores nos conselhos de administração de todas as instituiçõesfinanceiras.

• Estabelecimento de regras concorrenciais que possam proteger efetivamente a sociedadeeostrabalhadoresnocasodefusãoeaquisição.

• Regrar a remuneração dos altos executivos que tem incentivado a prática deoperaçõescadavezmaiscomplexasearriscadasnosmercadosdecapitais.

• Criar regras que promovam o desenvolvimento do segmento de cooperativas de modoaquerepresentempelomenos30%doSistemaFinanceiroNacional.

• Estabelecer uma menor independência do Banco Central com a ampliação doConselho Monetário Nacional e diversificação dos objetivos macroeconômicos aseremperseguidos.

• Criaçãodeumaouvidoria.

• Definirmetasparaque a atuaçãodobanco central conduza apolíticamonetáriaparaageraçãodeempregoerenda.

• Assegurarcondiçõesadequadasparaasupervisãobancária.

Enfim, fazer com que os bancos contribuam para o desenvolvimento do consumo, produçãoeinvestimento,inclusiveodelongoprazo,nãoétarefadasmaisfáceisnoBrasildehoje,mesmoporquesignificadiscutirarolagemdadívidainterna.Mas,seguramente,seopaísnãoenfrentarestedesafio,dificilmentehaverácrescimentoeconômicosustentado,poisavalorizaçãoporviadaespeculaçãoserásempremaisvantajosaqueporviadaprodução.

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A propaganda enganosa e os mitos da carga tributáriaArtur Henrique

PresidentenacionaldaCUT16/06/2010

Umcertotipodecríticaquesefazàcargatributáriabrasileiraescondepropósitosmuitoegoístas, apesar da aparência patriótica. É uma campanhaque tem até painel eletrôniconuma rua da capital paulista – o “impostômetro” de uma associação empresarial – ehumorista de televisão se fingindo de frentista de posto para vender gasolina mais barata, “semimposto”.Algoqueospatrocinadoresdessasaçõesqueremdeverdade,mastentamocultar, é a diminuição dos investimentos do Estado em programas sociais ou em políticas detransferênciaderendacomooBolsaFamília.

Essa conclusão salta aos olhos diante de um levantamento divulgado recentemente pela SecretariadePolíticaEconômicadoMinistériodaFazenda.Algunsdeseusdadoscontrariamabertamente a mais comum das críticas, a de que o governo federal tem aumentado seus gastoscomafolhadepagamentooucomo“inchaço”damáquina.

Em 2002, último ano de FHC, o governo federal gastava 4,8% do PIB (ProdutoInternoBruto)compagamentodepessoal.Emmarçode2010,depoisda“gastança”,do“aparelhamento”eoutrasimprudênciasatribuídasaogovernoLula,afolhadepagamentodos servidores consome… 4,8% do PIB. Houve, sim, aumentos salariais e contratações,essenciais para o processo de recomposição do Estado, mas dentro de uma lógica de acompanhamentodaarrecadaçãoedocrescimentodaeconomia.Aliás,essesinvestimentostambémfuncionamcomomotivadoresdocrescimentoeconômico.

Poroutrolado,osprogramasdetransferênciaderenda,queem2002correspondiama6,4%doPIB,emmarçode2010saltarampara9,1%doPIB,oquerepresentaalgoemtornodeR$R$29,6bilhõesde reais.Assim, se a carga tributária fosse simplesmente reduzida,comobradamanalistaseempresários,aspolíticaspúblicasesociaisestariamentreasmaisfortementeatingidas.

Para esses analistas, quando o Estado aplica recursos em programas e projetos para combater a fome, a miséria e diminuir as desigualdades sociais existentes, isso é de política assistencialista.Masquandooestadofortaleceosbancospúblicos,garantindorecursosparaosinvestimentosprivadosajurossubsidiadosportodaasociedade,aíelesaplaudem.

Outrodadodolevantamentodesfazacrençadequeoatualgovernovemsistematicamenteaumentandoacargatributária,enquantoogovernoanterior–atualmentenaoposiçãoequerendovoltar–eramaiscomedido.Entre1998e2002,períododosegundomandatoFHC, marcado por momentos de forte retração da economia, de desemprego e doação do patrimôniopúblico,acargatributáriadaUniãosubiu3,32%.EmseteanosdegovernoLula,aquantidadedeimpostosarrecadadospelaUniãosubiu1,02%.Bemmenos,esemvenderoudoarnenhumaempresapública,aocontrário.

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A carga tributária está em torno de 34% do PIB. Mas não se trata de loucura semparalelo no mundo civilizado, como querem fazer parecer muitos analistas por aí. EssaproporçãoestánamesmafaixadepaísescomoPortugal,Espanha,InglaterraeAlemanhae muito, muito abaixo de nações com forte estrutura de bem estar social, como Suécia e Dinamarca.Semosimpostos,comoinvestirnopapelsocialdoEstado,naspolíticaspúblicas?

O debate correto seria discutir a qualidade dos gastos, as prioridades, o orçamentoparticipativo, e outros instrumentos que garantam que o Estado esteja realmente a serviço damaioriadasociedade.

Para os trabalhadores e trabalhadoras; mais importante que a proporção dos impostos emrelaçãoaoPIB,échamaraatençãoparaquemémaispenalizado.SegundoestudodoeconomistaAmirKhair, famíliasqueganhamaté2saláriosmínimospagamquase49%desuarendamensalemimpostos. Jáosmais favorecidos,queganhamacimade30saláriosmínimospormês,comprometem26,3%desuarendacomimpostos.Muitomenos.

Então,odesafioéalteraressalógicaperversaecriarummodelotributárioprogressivo:quemganhamais,pagamais.Quemganhamenos,pagamenos.Voltaremosaoassunto.

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JORNADA PELO DESENVOLVIMENTO

PLATAFORMA DA CUT PARA AS ELEIÇÕES 2010

COORDENAÇÃO

Ar tur Henrique

Rosane da Silva

ORGANIZAÇÃO Anderson de Souza Campos

Darlene Testa

Patrícia Toledo Pelatieri

APOIO TÉCNICO

SubseçãoDIEESE–CUTNacional

APOIO INSTITUCIONAL

Fundação Friedrich Eber t (FES)

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃO

MGiora Comunicação

Ficha técnica

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