6
22 WWW.CARTACAPITAL.COM.BR Ao onerar mais o consumo que a renda e a propriedade, o sistema tributário brasileiro pune os mais pobres e alivia a carga do topo da pirâmide social por Samantha Maia D aqui a mais ou menos seis me- ses, encerrada a Copa do Mundo, o Brasil mergu- lhará em uma no- va campanha presidencial. Ainda não se sabe qual tema “novo” dominará os de- bates. Em 2010, o aborto consumiu um tempo precioso dos candidatos e, pior, esgotou a paciência do eleitorado, em desfavor de assuntos mais pertinentes. A “velha” agenda é, porém, fartamente conhecida. Tanto a candidata à reeleição, Dilma Rousseff, quanto os seus prová- veis adversários, Aécio Neves e Eduar- do Campos, vão prometer, antes de o galo cantar três vezes, uma série de reformas para melhorar a vida dos cidadãos. Entre elas não faltarão as propostas de refor- mulação do sistema tributário. A mudança nos tributos é uma pau- ta antiga dos empresários e da chamada classe média. A carga de impostos de 36% do Produto Interno Bruto está bem aci- ma da média dos países de economia se- melhante à brasileira. O sistema é buro- crático, confuso, pune quem deseja pro- duzir, encarece os produtos nas gôndo- las e não estimula a inovação. Em resu- mo, é anticompetitivo e atrasado. Segun- do a consultoria Deloitte, as empresas de pequeno porte gastam 3,53% do seu fatu- ramento somente para cuidar da comple- xa administração dos tributos. Dito isso, o debate sobre o assunto tem servido muito mais a mistificações do que ao esclarecimento das ideias, em- bora não faltem informações a respeito (especialistas de distintas filiações ideo- lógicas e diferentes nações produziram nos últimos anos diagnósticos interes- santes sobre os impostos brasileiros). Os dados, em boa medida, contradizem as versões dominantes sobre onde real- mente se localizam as distorções. Um problema central, apontam os es- tudos, está no fato de a estrutura brasilei- ra ser um fator determinante para o apro- fundamento das diferenças regionais e da desigualdade social. O sistema onera for- temente o consumo e pouco a renda ( qua- REPORTAGEM DE CAPA dro à página 24). Os tributos sobre o patri- mônio, raramente lembrados nas discus- sões, são metade do cobrado nas nações desenvolvidas, segundo dados da insus- peita Organização de Cooperação e Desen- volvimento Econômico (OCDE), clube dos países ricos. Na outra ponta, os impostos recolhidos em mercadorias e serviços al- cançam 45% da carga total, um peso insu- portável para quem se propõe a produzir. “Quanto menor o nível de renda de uma família, maior a destinação ao consumo, e maior a exposição à tributação mais alta. Essa é a origem básica da regressividade”, resume a diretora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, Maria Helena Zockun. A palavra regressividade signifi- ca que quem grita menos, a imensa maio- ria desinformada, é uma espécie de Atlas mitológico: carrega nas costas um modelo iníquo e vilipendiado pela sonegação dos espertos e as manobras contábeis urdidas por advogados bem remunerados. Os cidadãos que mais reclamam em ge- ral são menos molestados pelo famoso Leão. O quadro à página ao lado é ilustrativo. Leão Quem alimenta o ••CCReportagemCapa786.indd 22 07/02/14 01:13

Tributos No Brasil

Embed Size (px)

Citation preview

  • 22 WWW.CARTACAPITAL.COM.BR

    Ao onerar mais o consumo que a renda e a propriedade, o sistema tributrio brasileiro pune os mais pobres e alivia a carga do topo da pirmide social p o r S a m a n t h a M a i aDaqui a mais ou menos seis me-ses, encerrada a Copa do Mundo, o Brasil mergu-lhar em uma no-

    va campanha presidencial. Ainda no se sabe qual tema novo dominar os de-bates. Em 2010, o aborto consumiu um tempo precioso dos candidatos e, pior, esgotou a pacincia do eleitorado, em desfavor de assuntos mais pertinentes. A velha agenda , porm, fartamente conhecida. Tanto a candidata reeleio, Dilma Rousseff, quanto os seus prov-veis adversrios, Acio Neves e Eduar-do Campos, vo prometer, antes de o galo cantar trs vezes, uma srie de reformas para melhorar a vida dos cidados. Entre elas no faltaro as propostas de refor-mulao do sistema tributrio.

    A mudana nos tributos uma pau-ta antiga dos empresrios e da chamada classe mdia. A carga de impostos de 36% do Produto Interno Bruto est bem aci-ma da mdia dos pases de economia se-

    melhante brasileira. O sistema buro-crtico, confuso, pune quem deseja pro-duzir, encarece os produtos nas gndo-las e no estimula a inovao. Em resu-mo, anticompetitivo e atrasado. Segun-do a consultoria Deloitte, as empresas de pequeno porte gastam 3,53% do seu fatu-ramento somente para cuidar da comple-xa administrao dos tributos.

    Dito isso, o debate sobre o assunto tem servido muito mais a mistificaes do que ao esclarecimento das ideias, em-bora no faltem informaes a respeito (especialistas de distintas filiaes ideo-lgicas e diferentes naes produziram nos ltimos anos diagnsticos interes-santes sobre os impostos brasileiros). Os dados, em boa medida, contradizem as verses dominantes sobre onde real-mente se localizam as distores.

    Um problema central, apontam os es-tudos, est no fato de a estrutura brasilei-ra ser um fator determinante para o apro-fundamento das diferenas regionais e da desigualdade social. O sistema onera for-temente o consumo e pouco a renda (qua-

    R E PORTAGE M DE CA PA

    dro pgina 24). Os tributos sobre o patri-mnio, raramente lembrados nas discus-ses, so metade do cobrado nas naes desenvolvidas, segundo dados da insus-peita Organizao de Cooperao e Desen-volvimento Econmico (OCDE), clube dos pases ricos. Na outra ponta, os impostos recolhidos em mercadorias e servios al-canam 45% da carga total, um peso insu-portvel para quem se prope a produzir. Quanto menor o nvel de renda de uma famlia, maior a destinao ao consumo, e maior a exposio tributao mais alta. Essa a origem bsica da regressividade, resume a diretora da Fundao Instituto de Pesquisas Econmicas, Maria Helena Zockun. A palavra regressividade signifi-ca que quem grita menos, a imensa maio-ria desinformada, uma espcie de Atlas mitolgico: carrega nas costas um modelo inquo e vilipendiado pela sonegao dos espertos e as manobras contbeis urdidas por advogados bem remunerados.

    Os cidados que mais reclamam em ge-ral so menos molestados pelo famoso Leo. O quadro pgina ao lado ilustrativo.

    LeoQuem alimenta o

    CCReportagemCapa786.indd 22 07/02/14 01:13

  • O PESO DO IMPOSTO

    EM QUE MAIS GASTA (R$)

    220,8Alimentao

    479,6Habitao

    98,5Vesturio

    17% a carga tributria

    EM QUE MAIS GASTA (R$)

    70,8Alimentao

    116,4Habitao

    20Vesturio

    EM QUE MAIS GASTA (R$)

    432,8Alimentao

    1.260,1Habitao

    208,4Vesturio

    37% a carga tributria

    Font

    e: d

    ados

    prim

    rio

    s do

    IBG

    E/P

    OF

    23% a carga tributria

    REAIS724SALRIO

    REAIS6 MILSALRIO

    REAIS22 MILSALRIO

    153DIAS

    de trabalho do ano so destinados

    ao pagamento de tributos

    115DIAS

    de trabalho do ano so destinados

    ao pagamento de tributos

    DIAS de trabalho do ano so destinados

    ao pagamento de tributos

    106

    CCReportagemCapa786.indd 23 07/02/14 01:13

  • 24 WWW.CARTACAPITAL.COM.BR

    a alquota total sobre os seus ganhos pa-ra 17%. Na mdia, o porcentual efetivo no Brasil no ultrapassa 10% da renda.

    Outro comparativo da Comisso Econmica para a Amrica Latina e o Caribe expe o resulta-do dessa distoro. Por si s, o sistema brasileiro, entre a arrecada-o e a distribuio dos recursos, reduz em meros 3,6% a desigualdade de ren-da (quadro pg. 25), um pouco abaixo da mdia medocre da Amrica Latina (3,8%), subcontinente campeo das dis-paridades sociais. Entre 15 pases da Unio Europeia, o Fisco responsvel por uma redistribuio mdia de 32,6%. Na Dinamarca, o ndice alcana 40,8%.

    Algum dir: o Estado no oferece ser-vios altura dos impostos pagos anual-mente pela sociedade. fato, em parte. A sada estaria, portanto, em uma reduo radical da carga tributria, certo? No,

    diz o economista Jos Roberto Afonso, pesquisador do Ibre. O desafio no re-duzir a carga, mas melhorar a sua quali-dade, com a diminuio dos impostos in-diretos, perversos, e o aumento dos dire-tos, mais justos.

    Nos ltimos anos, Afonso tem se de-dicado ao tema dos impostos e produz estudos fundamentais para entender as iniquidades e ineficincias do sistema no Brasil. Antes que algum liberal o acuse de sofrer a doena do estatismo ou do comunismo, seria bom lembrar sua tra-jetria. O economista historicamente ligado ao PSDB e, em especial, ao ex-tu-do-menos-aquilo-que-ele-realmente--gostaria-de-ser Jos Serra.

    Afonso faz uma ressalva ao impostme-tro, o festejado medidor da Associao Co-mercial de So Paulo que atualiza a cada segundo o total de tributos pagos no Pas. Segundo ele, o valor global pouco explica a estrutura perversa das cobranas. O 1,7 trilho de reais indicado no painel como

    Enquanto um trabalhador que recebe sa-lrio mnimo deixa, ao consumir, 37% de sua renda nos cofres do governo, quem au-fere 22 mil mensais desembolsa apenas 17%, de acordo com o seu padro de gastos.

    Nem se fale da poro superior da pir-mide social, o nosso 1%. O Brasil, em com-parao maioria dos pases e em espe-cial s naes desenvolvidas, alm de tri-butar mal o patrimnio, como j expos-to, tambm cobra poucos impostos sobre a renda e praticamente nada quando se trata da transmisso de herana. A maior alquota do Imposto de Renda de 27,5%, ante 55,9% nos Estados Unidos, para ci-tar a meca do livre-mercado. Mesmo as-sim, trata-se de um dado meramente es-tatstico: ningum paga 27,5% de IR. Com os descontos por faixa de renda vlidos a todos os contribuintes e as dedues permitidas (os gastos com escola, sade e previdncia privada podem ser em par-te descontados), um indivduo com sal-rio de 22 mil por ms consegue derrubar

    R E PORTAGE M DE CA PA

    Fonte: OCDE

    33

    38

    19

    27 26 26

    5 6 4

    34

    29

    45

    1 1

    7

    CARGA INJUSTA % de impostos por categoria (% da carga total)

    Rendas e ganhos Salrios Patrimnio Mercadorias, servios e bens

    Outros

    BrasilMdia OCDE Mdia Avanados OCDE

    A MORDIDA DO LEO Alquotas mximas de Imposto de Renda nos pases selecionados (%)

    Paraguai

    Bolvia

    Rssia

    Brasil

    Colmbia

    Chile

    frica do Sul

    Itlia

    China

    Alemanha

    Reino Unido

    Japo

    Israel

    EUA

    Sucia 57

    101213

    27,533

    4040

    43434545

    5052

    55,9

    CCReportagemCapa786.indd 24 07/02/14 01:13

  • CARTACAPITAL 12 DE FEVEREIRO DE 2014 25

    o total no ano passado esconde uma infor-mao reveladora: quem recebe acima de 30 salrios mnimos precisou trabalhar trs meses a menos para pagar o seu qui-nho do que um cidado da base da pir-mide social. Ningum est incomodado, pois os mais prejudicados no tm voz, e os outros ficam quietos. O debate no ga-nhou densidade, um tema rido, os mais pobres nem percebem que pagam impos-to, e fica por isso mesmo, diz Zockun.

    Embutidos nos preos, os im-postos indiretos (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins) pas-sam praticamente des-percebidos, apesar de seu enorme peso na arrecadao. A soma das alquotas , em mdia, de 68%, ante 16% na mdia do mximo taxado em 31 pases que adotam tributos semelhantes, segun-do levantamento da Fipe. Desde junho de 2013, uma lei exige a decomposio, na nota fiscal, dos impostos, uma forma de o comprador ter a exata noo de quan-to paga ao adquirir um produto ou servi-

    o. Os comerciantes reclamam, porm, da dificuldade em fazer o detalhamento, da-da a complexidade do sistema tributrio.

    Saber o quanto se paga na aquisio de um bem poderia provocar uma pres-so da sociedade por uma reforma tribut-ria, mas no h soluo fcil, diz Clemen-te Ganz Lucio, diretor do Dieese. Um pri-meiro passo, diz Zockun, teria sido apro-var, no Senado, uma proposta de 2008 que previa o estabelecimento de um imposto nico nacional sobre valor agregado, aos moldes do IVA europeu. O projeto no avanava sobre a regressividade, mas, ao simplificar o sistema e mostrar o imposto nas notas fiscais, surgiria alguma reao de baixo, acredita a pesquisadora. A ideia no avanou pela presso dos governado-res, contrrios a reduzir o ICMS, a prin-cipal fonte de arrecadao das adminis-traes estaduais. As alquotas de ICMS so particularmente altas em servios es-senciais: luz eltrica e telecomunicaes.

    O ISS tambm tem ganho importncia nos oramentos municipais, em mais um movimento de aumento da desigualdade,

    QUEM GANHA ACIMA DE

    30 SALRIOS PRECISA

    TRABALHAR TRS MESES

    A MENOS NO ANO

    PARA PAGAR TRIBUTOS DO

    QUE QUEM VIVE COM O

    MNIMO

    FOTO

    : PED

    RO

    PR

    ESO

    TTO

    Fonte: Cepal, La Hora de la Igualdad

    IMPACTO SOBRE A DESIGUALDADEQuanto o sistema reduz as diferenas de renda, em %

    AMRICA LATINA

    Brasil

    Chile

    Colmbia7

    4,23,6

    EUROPA

    40,8

    32,6

    34,6

    34,7

    34,9

    35,6

    41,5

    Unio Europeia (15 pases)

    Reino Unido

    Finlndia

    Alemanha

    Sucia

    Dinamarca

    Luxemburgo

    Impostmetro: 1,7 trilho em impostos

    arrecadados em 2013

    CCReportagemCapa786.indd 25 07/02/14 01:14

  • 26 WWW.CARTACAPITAL.COM.BR

    ao encarecer tarifas de nibus, cabeleirei-ros e oficinas mecnicas. Enquanto isso, o IPTU, o imposto sobre propriedades ur-banas que pode ter alquotas diferencia-das por faixa de renda, perdeu participa-o na arrecadao. Em 93% das cidades, o valor recolhido com o imposto fica abai-xo do IPVA, cobrado dos veculos. Pior: se-gundo o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada, as falhas no sistema de avalia-o do valor do imvel tornaram o IPTU regressivo, ou seja, proprietrios de im-veis mais caros pagam proporcionalmen-te menos imposto. O IPTU um imposto mais justo, mas tem uma alta rejeio por falta de conhecimento de quem paga, de quem no paga e, principalmente, por no haver transparncia dos governos em rela-o aplicao dos recursos, diz Afonso.

    So Paulo o principal campo dessa guerra. O prefeito pe-tista Fernando Haddad foi proibido pela Justia de au-mentar o IPTU. Antes da in-terferncia do Judicirio, Haddad ha-via, porm, perdido a batalha da comu-nicao: at aqueles que desembolsariam menos e os isentos da taxa se declararam contra as mudanas na cobrana.

    O caso brasileiro de tributar pouco a propriedade peculiar, afirma Afonso. Nos EUA, existe um sistema de educao vinculado ao pagamento do IPTU e co-mum uma famlia escolher morar em um distrito por conta da escola pblica. o tipo de lio para a qual o Brasil deveria olhar.

    Na mesma linha, o Pas quase no ar-recada de propriedades rurais. A arreca-dao do ITR corresponde a 0,01% do PIB e, provavelmente, mal cobre os custos de seu lanamento. A falha, diz o economista Ladislau Dowbor, estimula a concentra-o e a improdutividade. No temos re-torno dos grandes investimentos em ter-ra. possvel ficar sem produzir, pois ela no custa ao proprietrio.

    O imposto sobre herana tambm irrisrio. Em meio a tantos discursos in-

    flados em defesa da meritocracia, o Brasil permite a herdeiros usufruir, sem a neces-sidade de algum esforo prprio, com as riquezas construdas pelos pais. Nos Es-tados Unidos, a doao de fortunas pa-ra fundaes estimulada pelo fato de a transferncia da herana ser tributada em at 50%. No Brasil, a alquota mais al-ta de 8%. Claro que existe uma margem de iseno, mas ningum acusa os Esta-dos Unidos de serem contra a propriedade por tributar dessa forma, diz Claudio Ha-milton dos Santos, diretor do Ipea.

    A tributao sobre a renda representa apenas 19% da carga brasileira. O Sindi-fisco encabea uma campanha pelo rea-juste da tabela do IR, cuja defasagem de 66% e leva os salrios mais baixos a paga-rem cada vez mais. Outros grupos defen-dem a incluso de alquotas maiores para chegar a patamares mais elevados de ga-nhos, alm da taxao de grandes fortu-nas. Mas a pouca representatividade do IR no total da carga, avalia Zockun, em nada seria afetado se mantidas as permisses para descontos. A tributao direta aca-ba pequena para qualquer nvel de renda, pois as dedues fazem com que a tribu-tao efetiva seja muito menor.

    Para alcanar as camadas mais altas de renda, explica Afonso, o foco precisa sair do imposto sobre pessoa fsica e ir para a jurdica, onde existe uma alquota ge-Fontes: OCDE e FMI

    PATRIMNIO LIVRERanking de tributao sobre propriedade em geral...

    ...e sobre imveis

    Posio Pas % do PIB1 Reino Unido 4,23

    2 Frana 3,65

    3 Canad 3,49

    4 EUA 3,21

    5 Israel 3,12

    7 Argentina 2,90

    31 Brasil 1,12

    MAIS IPVA QUE IPTU Em % do PIB

    1990 2000 2010

    IPTU IPVA

    Fonte: Elaborao J.R. Afonso

    0,47

    0,09

    0,45 0,43

    0,56

    0,18

    A AVALIAO FALHA DO

    VALOR DOS IMVEIS

    PERMITE AOS PROPRIETRIOS

    PAGAR CADA VEZ MENOS

    TRIBUTOS

    Posio Pas % do PIB1 Reino Unido 3,42

    2 EUA 3,07

    3 Canad 3,04

    4 Frana 2,46

    5 Israel 2,32

    12 Rssia 1,23

    39 Brasil 0,40

    R E PORTAGE M DE CA PA

    FOTO

    : CLA

    YTO

    N D

    E S

    OU

    ZA

    /ES

    TAD

    O

    CO

    NTE

    D

    O

    CCReportagemCapa786.indd 26 07/02/14 01:14

  • Tarifa mnima

    CARTACAPITAL 12 DE FEVEREIRO DE 2014 27

    ral de 15%. Como forma de reduzir o cus-to do trabalho, o Brasil estimulou certas categorias profissionais e funcionrios de altos salrios das empresas a se torna-rem empresas. Por extenso, permitiu--se a muitos deles ingressar no Simples, um sistema de recolhimento que reduz o porcentual de pagamento. O aumen-to das alquotas sobre pessoas fsicas vai atingir apenas o funcionalismo pblico, no os profissionais liberais, jogadores de futebol, artistas. E por que to di-fcil mudar? Sabemos onde mexer, mas o financiamento da poltica por parte de quem quer manter o sistema como est trava a discusso, diz Dowbor.

    Sem grandes esforos para me-xer nos impostos, a distribui-o de renda recente foi obti-da, segundo o Ipea, a partir do aumento dos gastos so-ciais, a exemplo do Bolsa Famlia. O go-verno federal conseguiu efeitos distribu-tivos por meio dos gastos, no dos tribu-tos. H o risco de o discurso anti-impos-to se voltar contra os ganhos dos inves-timentos, o que representaria um dano ainda maior, diz Fernando Gaiger, pes-quisador do instituto.

    Alm de ser o grupo que deixa a maior parte dos seus rendimentos com o Leo, a populao de baixa renda aquela que

    tem mais a perder na hiptese de reduo dos impostos. Segundo o Ipea, em uma carga tributria de 36% do PIB, 15 pon-tos porcentuais so redistribudos po-pulao por meio de servios pblicos. Se quisermos uma educao melhor, vamos precisar de mais professores, e a verdade que ainda faltam recursos pa-ra investir. Os servios so mais baratos quando coletivos, mas, se a elite consegue fazer seu mundo parte, ela no se preo-cupa com isso, diz Dowbor.

    H um claro limite para a expanso dos efeitos de distribuio de renda via aumento de gastos. Se quiser um dia se tornar um pas mais justo, o Brasil ter de inverter a lgica: cobrar de quem, de fato, pode custear o esforo rumo civi-lizao. Seria uma revoluo. Fonte: IBPT

    QUANTO TEM DE IMPOSTO NO PREO

    Acar

    Conta de luz

    Feijo

    gua mineral

    Pilhas/baterias

    Carne bovina

    Ar-condicionado

    Sabo em p

    Televisor

    45%

    17%

    45%

    48%

    48%

    24%

    31%

    52%

    41%

    IMPOSTO SOBRE PRODUTOS (%)

    Fonte: Deloitte Consultoria*Inclui IPI (mnima de 0% e mxima de 60%, no conside-rando fumo), ICMS (mnima de 7% e mxima de 25%, PIS de 1,65% e Cofins de 7,6%

    Tarifa mxima

    18,5

    10,5

    4,0

    2,1

    18

    8,0

    7,0

    10,0

    5,0

    27,0

    20,0

    18

    17,5

    16,0

    16,0

    15,0

    5,0

    135

    Impopular, o reajuste do IPTU sofre crticas

    at dos isentos

    0,0

    19,6

    Brasil*

    Argentina

    Itlia

    Frana

    Chile

    Reino Unido

    Venezuela

    Alemanha

    Mxico

    Japo

    CCReportagemCapa786.indd 27 07/02/14 01:14