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roteiro de direito eleitoral, intrumentos de democracia participativa
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CIDADANIA
Instrumentos de democracia participativa
Introdução
Democracia é costumeiramente apresentado como um tipo de regime político.
Geralmente, faz-se uma comparação entre democracia e suas vantagens ante a
monarquia e a aristocracia, ficando seu conceito limitado a uma comparação entre
regimes.
Conhecida definição para democracia foi dada por Abraham Lincoln, que disse
ser “o governo do povo, pelo povo, para o povo”. Essa definição, embora sucinta,
encerra a essência do que é a democracia.
O mestre José Afonso da Silva (2006, p. 125) ensina que democracia não é um
valor-fim, mas meio e instrumento de realização de valores essenciais de convivência
humana, que se traduzem basicamente nos direitos fundamentais do homem. Assevera
também (p. 145) que a nossa Constituição Federal contempla um “modelo de
democracia representativa que tem como sujeitos principais os partidos políticos, que
vão ser os protagonistas quase exclusivos do jogo político, com temperos de princípios
e institutos de participação direta dos cidadãos no processo decisório governamental.
Discorre que o regime assume uma forma participativa, ou seja, em que a participação
se dá por via representativa (mediante representantes eleitos de partidos políticos, art.
1º, parágrafo único, 14 e 17; associações, art. 5º, XXI; sindicatos, art. 8º, III, eleição de
empregados junto aos empregadores, art. 11) e por via direta do cidadão (exercício do
direto do poder, art. 1º, parágrafo único; iniciativa popular, referendo e plebiscito, art.
14, I, II e III; participação de trabalhadores e empregadores na administração, art. 10;
participação na administração da justiça pela ação popular, participação na fiscalização
financeira municipal, art. 31, §3º; participação da comunidade na seguridade social, art.
194, VII; participação na administração do ensino, art. 206, VI)”.
Formas de exercício da democracia
Didaticamente, classifica-se a democracia em: direta, representativa ou indireta e
semidireta ou mista (também denominada plebiscitária):
Democracia direta é aquela em que o povo exerce, por si, os poderes
governamentais. Não há outorga de mandato do povo aos parlamentares e
representantes políticos, e as funções políticas são geridas e desenvolvidas
pelos próprios detentores do direito de votar.
Democracia indireta ou representativa é o tipo mais utilizado e é entendida
como aquela em que o povo escolhe os seus representantes para gerir as
funções de governo e decidir em seu nome.
Democracia semidireta ou mista ou participativa é a junção da democracia
representativa com alguns institutos de participação direta do povo.
A Constituição Federal de 1988 combina a democracia representativa e a
democracia direta, tendendo à democracia participativa, conforme previsão do parágrafo
único do art. 1º que diz que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos (democracia representativa) ou diretamente (democracia
participativa) (SILVA, p. 137).
A democracia participativa pode realizar-se por diversos instrumentos de
manifestação da vontade popular, como, por exemplo, a iniciativa popular de leis e de
emendas constitucionais, o referendo, o plebiscito, a revogação de mandatos1 e o veto
legislativo popular2. Contudo, no Brasil, estão contemplados na Constituição Federal
apenas três institutos: o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular.
Instrumentos de democracia participativa
A Constituição Federal brasileira traz, no seu artigo 14, a previsão de três
instrumentos de democracia participativa: o plebiscito, o referendo e a iniciativa
popular. 3
1 O instituto da revogação de mandatos eletivos ou recall é um mecanismo por meio do qual os eleitores
têm o poder de cassar ou revogar o mandato de qualquer representante político que não esteja
correspondendo às expectativas do eleitorado. Atualmente, há uma Proposta de Emenda à Constituição
(PEC), de nº 73, de 2005, que altera dispositivos dos artigos 14 e 49 da Constituição Federal e acrescenta
o artigo 14-A, que institui o referendo revocatório do mandato de presidente da República e de
congressista. 2 O veto popular consiste em uma consulta ao eleitorado sobre uma lei existente, visando revogá-la.
3 Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor
igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
Plebiscito é uma consulta popular formulada anteriormente à edição de um ato
legislativo ou administrativo, cabendo ao povo, pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe
foi submetido. Exemplo desse instrumento de democracia participativa é exigido no art.
18, §§3º e 4º da Constituição Federal, que prevê a aprovação da população diretamente
interessada para que os estados e municípios incorporarem-se entre si, subdividam-se ou
desmembrem-se para se anexarem a outros ou formarem novos estados ou municípios.
Ainda como exemplo é possível citar que, em 21 de abril de 1993, foi realizado no
Brasil um plebiscito para que a população deliberasse sobre o regime de governo –
monarquia parlamentar ou república – e sobre o sistema de governo – parlamentarismo
ou presidencialismo –, ocasião em que o povo brasileiro escolheu que o país seria um
regime republicano com sistema presidencialista.
Referendo também é um meio de consulta popular, só que formulada
posteriormente à aprovação de projetos de lei pelo Legislativo, o que demonstra que,
por meio dele, o povo apenas confirmará ou rejeitará o ato legislativo criado. Nas
questões de competência da União, a autorização para a realização de referendo é
exclusiva do Congresso Nacional, e a Constituição Federal não estabeleceu critérios
para o seu exercício. Naquelas de competência dos estados, do Distrito Federal e dos
municípios, o referendo (assim como o plebiscito) será convocado de conformidade
com as constituições estaduais e com as leis orgânicas, respectivamente. No nível
nacional, exemplo de utilização do referendo pode ser visto na votação realizada em 23
de outubro de 2005 sobre a proibição da comercialização de armas de fogo no Brasil – o
chamado referendo do desarmamento, por meio qual o povo decidiu pela livre
comercialização das armas.
Iniciativa popular consiste na apresentação de um projeto de lei de iniciativa do
povo ao Legislativo. Esse é um instrumento de participação popular que permite ao
povo submeter para aprovação do Congresso Nacional textos de lei de grande
importância para a sociedade. Conforme prevê a Constituição Federal no art. 61, § 2º,
para sua aceitação, é exigido que o projeto esteja subscrito por, no mínimo, um por
cento do eleitorado nacional (1 milhão e 400 mil eleitores), distribuído por, pelo menos,
cinco estados, com não menos do que três décimos por cento de eleitores em cada um
desses estados. Exemplo de lei proveniente da iniciativa popular é a Lei Complementar
nº 135/2010, Lei da Ficha Limpa, que surgiu de uma campanha do Movimento de
Combate à Corrupção Eleitoral, composto por várias organizações da sociedade civil
que conseguiram coletar 1,3 milhão de assinaturas para o projeto. Além desse, dez anos
antes, outro projeto de iniciativa popular culminou com a aprovação da Lei nº 9.840/99,
denominada Lei Contra a Compra de Votos, que permite a cassação de mandatos por
compra de votos e uso eleitoral da máquina administrativa.4
Considerações finais
Os instrumentos da democracia participativa estão à disposição da sociedade
civil para que participe diretamente das decisões governamentais.
Conforme foi mencionado, os constituintes brasileiros de 1988 optaram por um
modelo de democracia representativa que tivesse como sujeitos principais os partidos
políticos, os quais, até hoje, são os protagonistas quase exclusivos do jogo democrático,
deixando os instrumentos de participação direta como leve tempero no processo
decisório (SILVA, p.145).
Na realidade brasileira, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular têm sido
muito pouco utilizados, uma vez que a grande parte das pessoas desconhece esses
institutos e os partidos, por sua vez, não têm interesse em sua utilização devido à
dificuldade de abrir mão da exclusividade do processo decisório.
A inclusão desses três instrumentos de democracia participativa na Constituição
de 1988 foi, sem dúvida, um grande avanço. Contudo, ainda é necessário, em nosso
país, o fortalecimento da cultura de participação popular que pode se dar, por exemplo,
mediante a adoção da revogação de mandatos ou recall, instituto já existente em outros
países e cujo objetivo é dotar o povo de poder para decidir se uma pessoa que foi eleita
deve ou não continuar no cargo.
Referências
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em 22
abr de 2013.
ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Democracia Participativa autoconvocação de referendos e
plebiscitos pela população (análise do caso brasileiro). Estudos Eleitorais. Tribunal
Superior Eleitoral, v. 5. n.2, p. 65-87, maio/ago. 2010.
4 Quando da aprovação dos projetos, constatou-se que, na prática, é inviável fazer tramitar rapidamente
um projeto de lei de iniciativa popular devido ao trabalho de contagem, conferência e verificação dos
números dos títulos de eleitor. Assim, apesar de ter recebido o número de assinaturas necessárias, os
projetos foram recebidos como iniciativa do Legislativo. Informações no site:
http://www.abramppe.org.br e http://www.mcce.org.br/node/6.
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 8. Ed. – São Paulo: Atlas, 2012.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 27ª ed. São Paulo:
Malheiros Editores, 2006.