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1 INTRODUÇÃO O presente trabalho de conclusão de curso de especialização em “Desenvolvimento integrativo do ser: danças circulares e jogos cooperativos”, intitulado danças circulares sagradas na integralidade do cuidado: uma história de autoconhecimento individual e coletivo objetivou reconstruir a história do surgimento da roda de dança circular bem como atribuir os significados pelos integrantes na participação de oficinas sistemáticas de Danças Circulares Sagradas em um Centro de Convivência da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas/SP. A vinculação profissional com a região estudada antecedeu anteriormente ao ano de 2002 quando ainda estagiaria participava das reuniões desse Centro de Convivência para planejamento das suas ações. Ainda neste momento não constituía-se como serviço do município, mas sim como estratégias potentes de convivência saudável na região desde 1999, idealizado por profissionais da saúde, assistência social, educação, cultura e principalmente por lideranças comunitárias. Somente no final de 2002 após concurso público passei a trabalhar efetivamente como terapeuta ocupacional no Centro de Saúde do município. Muitos atendimentos foram realizados, participação em reuniões com a equipe e parceiros, como também membro atuante na organização das ações do Centro de Convivência Toninha, neste momento ainda como técnica. A partir da necessidade de ampliação do projeto de vida de um caso clássico da saúde mental em atendimento terapêutico ocupacional nesse Centro de Saúde, foi criada em 2005, uma roda de dança circular na Praça dos Trabalhadores, mais especificamente na Casa de Cultura Tainã, com objetivo inicial de favorecer suporte sócio emocional e ampliação da comunicação verbal e não verbal através do movimento de qualidade grupal ao caso referido. As rodas foram sistematizadas em consonância com os atendimentos individuais a fim de garantir a participação do mesmo. A evolução clínica obtida desde os atendimentos domiciliares, a escuta qualificada dos familiares, aproximação das danças circulares nos atendimentos e posteriormente os atendimentos individuais no Centro de Saúde favoreceram a entrada, de um

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso de especialização em

“Desenvolvimento integrativo do ser: danças circulares e jogos cooperativos”,

intitulado danças circulares sagradas na integralidade do cuidado: uma história de

autoconhecimento individual e coletivo objetivou reconstruir a história do

surgimento da roda de dança circular bem como atribuir os significados pelos

integrantes na participação de oficinas sistemáticas de Danças Circulares Sagradas

em um Centro de Convivência da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas/SP.

A vinculação profissional com a região estudada antecedeu anteriormente ao

ano de 2002 quando ainda estagiaria participava das reuniões desse Centro de

Convivência para planejamento das suas ações. Ainda neste momento não

constituía-se como serviço do município, mas sim como estratégias potentes de

convivência saudável na região desde 1999, idealizado por profissionais da saúde,

assistência social, educação, cultura e principalmente por lideranças comunitárias.

Somente no final de 2002 após concurso público passei a trabalhar

efetivamente como terapeuta ocupacional no Centro de Saúde do município. Muitos

atendimentos foram realizados, participação em reuniões com a equipe e parceiros,

como também membro atuante na organização das ações do Centro de

Convivência Toninha, neste momento ainda como técnica.

A partir da necessidade de ampliação do projeto de vida de um caso clássico

da saúde mental em atendimento terapêutico ocupacional nesse Centro de Saúde,

foi criada em 2005, uma roda de dança circular na Praça dos Trabalhadores, mais

especificamente na Casa de Cultura Tainã, com objetivo inicial de favorecer suporte

sócio emocional e ampliação da comunicação verbal e não verbal através do

movimento de qualidade grupal ao caso referido.

As rodas foram sistematizadas em consonância com os atendimentos

individuais a fim de garantir a participação do mesmo. A evolução clínica obtida

desde os atendimentos domiciliares, a escuta qualificada dos familiares,

aproximação das danças circulares nos atendimentos e posteriormente os

atendimentos individuais no Centro de Saúde favoreceram a entrada, de um

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esquizofrênico recluso que apresentava corpo e mente cindidos pelo processo de

doença, em um ambiente de trocas afetivas e de novos desafios.

Há muito gostaria de poder relatar esta experiência exitosa – da transição

individual de um caso que começou a se beneficiar das estratégias adotadas do

recurso terapêutico ocupacional bem como das danças circulares, anteriormente

utilizadas exclusivamente nos atendimentos domiciliares para uma proposta de

ação coletiva para pessoas interessadas em dançar, de forma colaborativa,

proposta sugerida pelas danças circulares. Do um para o todo, e do todo para o

uno, ao poucos os objetivos foram se ampliando, assim como a participação de

novas pessoas na constituição de uma roda forte e a qualidade percebida na

melhoria da ambiência na Praça dos Trabalhadores após trabalho corporal com

qualidade.

Para apreciação da temática além dos registros imagéticos e memoriais que

foram obtidos ao longo destes seis anos foi elaborado um projeto que constituiu de

depoimentos orais de forma grupal dos participantes de maneira a compor e

valorizar versões da história do surgimento da oficina e os significados atribuídos

aos integrantes ao participarem sistematicamente das rodas de danças circulares.

Para composição dos relatos utilizei a técnica de grupo focal através de três

perguntas norteadoras como: a) quais as memórias do surgimento da roda e outras

pertinentes, b) qual o significado de participar da oficina de dança circular, e c) e

após o grupo eleger três músicas que marcaram a oficina, quais os sentimentos

atribuídos aos movimentos das danças circulares.

E como parte da técnica do grupo focal para busca de novos olhares para

pesquisa, o grupo montará uma imagem/cena para registro de uma fotografia que

melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo dançando.

Escolhi para registrar as pessoas e os dados que para esta pesquisa se

mostraram importantes, de forma diferencial, mas utilizada nas dinâmicas grupais,

um acolhimento inicial, incluindo: a) nome (identificação), o tempo que freqüenta a

oficina, c) o que eu trago para roda e d) o que eu levo da roda.

A escrita desta monografia desta maneira proporcionará um relato histórico

dos acontecimentos da roda e possibilitará demonstrar os benefícios atribuídos

pelos participantes ao realizarem a oficina de Dança Circular. Os resultados de

alguma forma contribuirão para divulgar o movimento das danças circulares como

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também demonstrar que as Práticas Alternativas e Complementares preconizadas

pelo Ministério da Saúde, mais enfaticamente desde 2006, e o jeito de fazer dos

Centros de Convivência baseado na participação igualitária dos sujeitos são

ferramentas potentes na integralidade do cuidado dos cidadãos.

APRESENTAÇÃO

As danças no meu caminho

Dançar parecia ser um verbo não reconhecido do meu vocabulário e

causava certo estranhamento ao meu corpo tímido, embora admirasse esta arte

nas outras pessoas em forma de espetáculo.

Em 1998 havia participado de um curso no espaço Brincante de

“Brincadeiras de Roda”, que havia adorado embora sentisse que faltava alguma

coisa, pois minha timidez me bloqueava e depois também participei de um encontro

para pessoas com deficiência que uma focalizadora leu a história de Môo e depois

fez duas danças circulares. Adorei o movimento, mas neste momento estava tão

impactada e extremamente emocionada de ver pessoas com tantas “limitações”

dançando juntas que eu não consegui entrar lá dentro, como a história inicial

sugeria. E como tudo estava se expandindo na minha vida, as danças circulares

sagradas aconteceram aos poucos, mas na hora certa!

Mas, foi no segundo ano de faculdade em um Congresso de Terapia

Ocupacional em Lindóia/SP, em 1999, que o encantamento de se permitir dançar

aconteceu: dançar junto apoiado em um coletivo. Ana Lúcia, terapeuta ocupacional,

e uma das autoras do Livro: Danças Circulares Sagradas: uma proposta de

educação e cura1 estava lançando o livro com direito a noite de autógrafos na

abertura do congresso. E este foi finalizado com algumas danças. A primeira

iniciática foi Ena Mythos. Ao ver aquela multidão diversa reunida com um único

objetivo – de celebrar o encontro, realizando passos tão harmoniosos e às vezes

atrapalhados, que fui literalmente fisgada pelo movimento das danças circulares.

Naquele momento não queria parar de dançar. Comprei o livro, com um belo

1 O livro já havia sido lançado em 1998 com noite de autógrafos com todos os autores, mas no congresso de

terapia ocupacional, Ana Lúcia B. Da Costa foi homenageada e teve a possibilidade de divulgar melhor o

movimento das danças circulares para os terapeutas ocupacionais.

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autografo da autora que dizia “Para Denise, muitas danças em seu

caminho”, e fiquei conversando com ela e me encantando ainda mais por tudo

aquilo.

E a partir de então muitas danças circulares cruzaram o meu caminho... E é

hoje o meu caminho. Realizei diferentes vivências ao longo de quatro anos, que

acompanharam minha formação na faculdade, no entanto, não apresentavam

nenhum cunho de formação propriamente dita.

Depois de formada terapeuta ocupacional procurei realizar cursos de

formação em danças circualares, mas por diferentes motivos não foram possíveis.

Neste vai e vem que a vida nos coloca acabei prolongando a minha

formação. Mudei de cidade, assumi a responsabilidade de ser a primeira terapeuta

ocupacional do C. S. Integração após ter passado no concurso público, ampliei

serviços, fiz especialização e em 2003 me casei.

Para o dia do casamento tudo o que sabia era que teria danças circulares

como forma de celebração. Não sabia com quem e como conseguiria contato. Ao

entrar em contato com Triom Editora, indicaram Nadir Mercedes Tiveron, que

aceitou de imediato o meu convite.

Com toda a sua simpatia o casamento seguiu de forma mágica, diferenciado

e cheio de significados.

Em 2004 iniciei um curso de principiantes em danças circulares sagradas

com Renata Ramos, passei a participar sistematicamente da roda da Mirian, nossa

colega de pós, que iniciou um projeto com a Escola da Família. Neste espaço

conheci pessoas fantásticas como Janaina, Élida, Mairany, Júlia, Fernanda e Vânia.

E também conheci as rodas de dança circulares em parques de São Paulo.

Na sequencia iniciei alguns cursos com Wiliam Vale em Nazaré Paulista/SP,

como também com Innana e Tereza no mesmo local.

Em 2005 participei da tentativa de pós- graduação em danças circulares que

Uniluz propôs com a junção dos focalizadores: Renata Ramos, Mônica

Gobertaing e Wiliam Vale.

Foi em 2005 também que iniciei o caminho da focalização ao abrir a roda de

danças circulares na Praça dos Trabalhadores, tema inspirado para escrita desta

monografia.

Também comecei a participar das Rodas no parque Ecológico organizadas

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por Mairany Gabriel em Campinas/SP e em Guarulhos/SP com Vanery.

Participei com grande emoção do Encontro Brasileiro em 2006 e lá tive o

grande prazer de conhecer Gwyn Peter, focalizadora que divide sua residência no

EUA e México, da qual obtive forte inspiração de trazer a leveza e a possibilidade

de fazer TODOS dançar na Roda.

As danças circulares me ajudaram profundamente a conduzir o mestrado e

este finalizei em 2006, mas com a demanda que ele exigiu a formação das danças

circulares ficou adormecida.

Realizei também vivencias de danças circulares com alunos de Terapia

Ocupacional como docente e convidada, bem como utilizei em grandes encontros e

eventos temáticos ao longo do meu trabalho na prefeitura de Campinas/SP.

Continuei realizando cursos de maior aprofundamento e em 2007 fiquei

grávida, mas não parei de dançar, só o fiz no final por restrições médicas. Hoje

tenho uma dançarina – Beatriz em casa que dança desde muito pequena.

Para que a roda não se extinguisse com minha licença gestante, convidei a

amiga e irmã do coração Janaina Campos para ajudar em uma formação para

estagiárias e aprimorandas de Terapia Ocupacional e um usuário da saúde mental

que se destaca pela facilidade rítmica e memória corporal, para que capacitados,

continuassem a Roda na Praça dos Trabalhadores. E assim foi: a roda cresceu e

ficou mais forte do que nunca!

Em 2008 como coordenadora do Centro de Convivência e Cooperativa

Toninha organizei uma pesquisa de opinião para saber dos benefícios das oficinas

desenvolvidas no espaço. A oficina de dança circular também foi avaliada

positivamente devido à integração que promove entre as pessoas.

Fiquei um período embalando a minha filha, muitas vezes com as músicas

de danças circulares e que também precisei ficar um período afastada das

formações.

E em 2009 ingressei no curso de pós-graduação: “Desenvolvimento

integrativo do ser: Danças Circulares e Jogos Cooperativos”, que foi um momento

mágico de encontro com amigos de alma e de muito desenvolvimento pessoal... E

a certeza de seguir o caminho como focalizadora nas danças circulares.

“O casamento acabou... mas as danças circulares ficaram!” Usei esta frase

em um módulo de formação com tom de brincadeira. Mas tem muita seriedade no

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sentido de estar no caminho certo... O das danças.

Aproximei-me novamente do Encontro Brasileiro de Danças Circulares, em

um encontro de grande nascimento e na certeza de estar dentro de uma comum-

unidade.

Este ano também tive o privilégio de ir ao XV Encontro Internacional de

Danças Circulares no México, organizado por Gwyn Peter que foi uma experiência

encantadora.

Enfim, as rodas na minha vida não param e este movimento leva a certeza

de estar no caminho certo... Do encontro do ser... Do encontro do outro... Do

encontro do UNO.

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CAPÍTULO I

1. Histórico das Danças Circulares Sagradas

A dança é o primeiro testemunho de comunicação criativa (WOSIEN, 2000).

A dança, assim como todas as artes, constituiu-se da necessidade de expressão

humana. Em sítios arqueológicos é possível ver pinturas rupestres representando

rodas de dança, constatando que as rodas em círculo é uma das formas mais

antigas de celebração comunitária (COSTA, 1998). Caracteriza-se como a

manifestação mais antiga do homem que leva a um caminho interior. Segundo

WOSIEN, é “(...) uma mensagem poética do mundo divino”, que em outras palavras

do autor, harmoniza corpo, espírito e alma (WOSIEN, 2000, p. 18). E para dançar

precisa-se única e exclusivamente lançar mão do seu instrumento: o corpo.

A dança é a única arte que não depende de nenhum elemento intermediário

para concretizar-se: o ser humano dançante é ao mesmo tempo criador e criação.

Segundo Wosien (2000) a dança era o modo mais natural do homem

harmonizar-se com os poderes cósmicos. O movimento rítmico seria, para o autor,

a chance para a compressão das leis que governavam as manifestações desses

poderes sedo, desta forma, um meio de estar em contato com a fonte da vida.

Para os povos antigos, integrados à natureza, a dança era uma ação

espontânea que se agregava no dia a dia no qual a comunidade marcava seu

pertencimento ao vivenciar valores e crenças. Dançar era forma de expressão da

natureza humana e as danças eram utilizadas em diferentes ocasiões: como forma

de celebração, nos diferentes ciclos de vida – nascimento, morte, entrada para

adolescência, para vida adulta e na tensão dos mistérios humanos e divino

(COSTA, 1998; OSTETTO, 2007). Dançavam assim os momentos considerados

importantes na vida: guerra, à paz, casamentos, funerais, plantação, colheita, as

estações, os ciclos da natureza, segundo GAURAUDY citado por OSTETTO em

2007, em seu livro “Dançar a vida”.

Existe uma forte relação do homem com o universo e sua Dança Cósmica

Sagrada. Assim, os movimentos circulares realizados em algumas danças

representam a expressão dos ciclos da natureza, com base na compreensão de

que o ritmo é o elemento fundamental que domina o movimento cósmico.

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Muitas técnicas corporais foram criadas ao longo da história da humanidade,

e aos poucos a experiência de dançar junto os acontecimentos foi se perdendo

para o avanço linguístico e para forma de expressão da dança clássica, rebuscada

com técnicas a serem seguidas. O palco passou a ser um local de destaque.

Saímos do natural aos incrementos de técnicas e estudos do funcionamento da

movimentação humana. Por um lado, ganhou-se em conhecimento técnico, mas

perdeu-se a alegria de poder simplesmente dançar junto. O que de certa forma

acompanhou a evolução científica. Para Wosien (2000) com o tempo foi se

perdendo cada vez mais o sentido da dança como alegria e como celebrações da

vida

Estas inquietações levaram Bernhard Wosien (1908-1986) coreógrafo

alemão/polonês a sintetizar os seus conhecimentos para criação de um movimento

que revolucionaria os conceitos artísticos da época e da atualidade: as Danças

Circulares Sagradas ou Danças Sagradas.

Bernhard Wosien nasceu em Passinheim Prússia do Leste, Alemanha.

Estudou teologia, dança, história da arte e pintura, na Universidade de Breslau e na

academia de artes em Berlim.

Para destacar o histórico das danças em especial das danças circulares

sagradas, contamos com o livro Danças: um caminho para a totalidade, de

Bernhard Wosien, que foi um marco para o fortalecimento do movimento. Começou

a esboçá-lo em 1985 quando considerou que estava com um todo precioso o

bastante para passar adiante aos seus alunos. Demonstrou a síntese de todos os

conhecimentos adquiridos na sua vida e também na sua carreira artística. Wosien

era um homem completo naquilo que se propôs a estudar e vivenciar.

Bernhard Wosien reuniu conhecimentos importantes desde aproximação na

infância com a música e danças de sua localidade, ao estudo das danças clássicas

constituindo-se em um grande bailarino da época, como também com o estudo

aprofundado desde 1962 das danças folclóricas, começando com as da Europa

Central e gradativamente expandindo para outras regiões.

Wosien já tinha passado dos 60 anos e estava procurando uma forma

orgânica de expressão de sentimentos. Aos frequentar os grupos folclóricos

percebeu a alegria, a amizade, amor, consigo e com as pessoas que dançavam

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(RAMOS, 1998). Percebeu que neste momento imperava um clima de Paz entre as

pessoas, independente dos conflitos externos que assombravam a humanidade.

Wosien comparou as danças de roda como um dialeto – é continuamente

transformado em uma encantadora evolução fonética. Para ele são danças

originárias que apresentam fundo religioso e ritual. Segundo o autor há uma

vibração contagiante pelo “fogo maravilhoso da comunidade”. Acontece uma

liberação das energias criativas e ao mesmo tempo organizadoras. Wosien

acrescenta que:

“(...) Na dança popular eu vivencio a essência de um povo e sua

tradução artística. Daí eu posso ler o caráter, a imagem e ao mesmo

tempo anímica, a vida e seus enraizamentos” (Wosien 2000, p. 109).

Em 1976, através de um pedido de Peter Caddy, Wosien levou para os

moradores de Findhorn uma coletânea de músicas e coreografias de dança de

roda, somando a elas uma consciência de círculo - conectando assim as pessoas

na roda. Seria esta grande contribuição de Wosien, inserir o poder do círculo nas

músicas denominadas folclóricas. Trouxe também uma coreografia que

representava a Roda de Jesus dos versículos de São João (WOSIEN, 2000).

É importante destacar que a Fundação Findhorn2 uma ecovila3 formada em

1965 por Peter Caddy, Elien Caddy e Dorath Maclean já trabalhava na ‘governança

circular’, um dos preceitos das ecovilas. Neste sentido, Bernhard Wosien encontrou

um terreno fértil, ou uma mãe geradora das danças circulares, como comentou a

focalizadora Céline Lorthions (RAMOS, 1998). Implantou uma semente de um

acontecimento sagrado na dança. Na Fundação as danças trazidas por Wosien

obtiveram grande aceitação. Nasceu desta forma o que se denominou Danças

Circulares Sagradas, perpetuadas através dos tempos, na lógica da Cultura de Paz.

Com o tempo cada vez mais vinham pessoas para a comunidade e

2 Segundo Wikípedia e Carlos Solano Carvalho, 1998, Findhorn Foudation, é uma Fundação em

forma de vilarejo, situada no norte da Escócia, sem fins lucrativos, onde vivem em torno de 400 pessoas de todos continentes, que mantêm uma vida comunitária e de partilha, com interesse comum: estabelecer valores mais humanos na vida pessoal e coletiva. Desenvolvem cursos de desenvolvimento pessoal. Foi uma das primeiras ecovilas a serem formadas, e hoje constitui uma das mais importantes, sendo exemplo em diversas áreas como sustentabilidade, economia local e educação holística. 3 Comunidades urbanas ou rurais de pessoas que tem a intenção de integrar uma vida social

harmoniosa a um estilo de vida sustentável, (disponível no site Wikipédia. Acessado em 10/10/2011).

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dançavam as danças de roda como uma forma de meditação da dança e um

caminho para o silêncio, como ressaltava o percursor:

“(...) Ao dançar, o mundo é de novo circulado e passado de mão

em mão (…) sentimos na caminhada uma mudança através da reviravolta

conjunta (...) na atuação conjunta de ritmo, melodia e compasso, as

camadas mais antigas do fundo do poço da alma ganham vida, e como,

por um toque de mitos de outrora, fecundam criativamente o momento”

(Wosien, 2000, p. 120).

Cada vez mais Bernhard Wosien buscou os significados dos símbolos para

compreender os passos e manifestações que a dança abarca e para ele a dança

constituía-se como uma vivência harmoniosa do corpo e emoções.

Com o tempo notou que há uma passagem do singular para o comunitário, para um

estar junto em vibração.

Em Findhorn, Anna Barton, seguiu os trabalhos das danças circulares

sagradas dentro da Fundação, coordenando-os por 20 anos. E ainda hoje, as

danças sagradas são integrantes da dinâmica de Findhorn, nas quais são incluídas

em praticamente todos os programas de cursos oferecidos ao longo do ano

(CARVALHO, 1998).

As danças circulares sagradas continuaram a circular na Fundação Findhorn

e aos poucos foram repercutindo pela Europa e todo Ocidente. As danças

circulares sagradas continuaram vivas mesmo após o falecimento de seu criador

em 1986, continuando a semear o caminho das danças de meditação através da

dança, como desejava Wosien.

Findhorn continuou com a pesquisa de Wosien e existe também em paralelo

o trabalho desenvolvido por sua filha Maria-Gabrielle Wosien, coreografa e PhD em

mitologia que trás um estudo aprofundado dos símbolos através do movimento

(CARVALHO, 1998). Outra pessoa expoente para as danças circulares é a

bailarina, coreografa, e aluna de Bernhard Wosien, Freidel Klocke-Eibl, que tem

trazido ao movimento criações de coreografias através de musicas

contemporâneas que elevam a Alma.

Mas sem dúvida, acredito que as danças circulares sagradas deram um

colorido às práticas corporais por possibilitar ao mesmo tempo busca da inteireza

do Ser em seus aspectos mais simples como também o encontro, estar junto com o

Outro celebrando a vida.

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1.1. Das Danças Circulares Sagradas para as palavras: a

busca de uma definição

As Danças Sagradas, Danças Circulares Sagradas ou Danças dos Povos,

como também são denominadas, caracteriza-se por danças realizadas de mãos

dadas, com passos que vão dos mais simples aos mais elaborados, a partir de

músicas étnicas, clássicas e new age. Recupera e integra antigas formas de

expressões de diferentes povos, acrescida de novas criações, coreografias e

ritmos, que através da consciência de um centro comum favorece integração,

busca de autoconhecimento individual e grupal como também auto cura (RAMOS,

1998). E sintetiza OSTETTO (2009) o como se dança:

“(...) de mãos dadas, o grupo, voltado para o centro comum,

descreve formas variadas no espaço”. A principal e mais comum é

formação em círculo, que pode abrir-se ou fechar-se, desenhando linhas,

espirais, meandros na sua movimentação. As danças de pares são

também bastante comuns e lembram diretamente as tradicionais danças

de roda festivas (p. 179).

As Danças Circulares não enfatizam a técnica em si, mas acolhem os

possíveis erros, e incentivam os indivíduos a expressarem o que eles têm de

melhor do seu interior (RAMOS, 1998). Conforme Wosien (2000) o passo é o

símbolo essencial do bailarino. Ao se reportar às danças de roda ele acrescenta

que o passo de cada um encontra sua expressão viva nos grupos.

Wosien buscou os significados dos símbolos para compreender os passos e

suas manifestações na dança, por exemplo, caminhar para o lado esquerdo o

dançarino representa o passado e ir para a direita: o futuro. Segundo Wosien

somente no presente que podemos vivenciar o todo. O instante é o impacto de

atingir o conhecimento máximo, pois o ontem o e amanhã vivenciamos somente na

lembrança. Assim, o bailarino será exigido pela dança a sua presença mais atenta

– em sua totalidade, sendo assim o grande convite que as danças circulares nos

trazem.

Nas danças circulares sagradas quem centraliza uma ideia, ou seja, o

conhecimento das músicas, coreografia e “(...) foco de vibrações densas e sutis no

Círculo da Dança” (RAMOS, 1998, p. 190) para estas serem passadas com clareza,

calma e tranquilidade é o focalizador. O termo nasceu na Comunidade de Findhorn

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na Escócia, e que nos foi abrasileirado, como tanto outros. Segundo RAMOS

(1998) o focalizador:

“(...) vai um pouco além da simples orientação dos passos e do ritmo.

Implica na postura do orientador que se coloca como foco de atenção dos

participantes e, principalmente, como foco catalizador e expansionista de

energias mais sutis no momento da vivência, facilitando o Sagrado” (p.

10) 4.

As danças circulares sagradas empregam em sua maioria a) as músicas do

folclore dos povos, com passos originais, em sua maioria, ou seja, aqueles que

foram e continuam sendo usados pelo povo da região dos quais surgiram.

Recuperaram b) as danças étnicas, que remontam a cultura de um determinado

povo, simbolizando sua expressão musical, corporal e espiritual, e c) as músicas

coreografadas recentemente conhecidas como contemporâneas5, que são

regionais e não fazem parte do repertório de danças folclóricas e são coreografas

com um objetivo específico, levando as pessoas da roda da Dança a partilharem a

mesma atitude. Após a criação das Danças Circulares Sagradas por Wosien pode-

se destacar focalizadores e coreógrafos importantes como Anna Barton, Peter

Vallace, Maria-Gabrielle Wosien, Anastasia Geng e tantos outros que vêm

contribuindo para enriquecer o movimento das Danças Circulares Sagradas

(RAMOS, 1998).

Assim, as danças circulares sagradas contemplam diferentes culturas,

tradições e como as da Grécia, Israel, Países Bálticos e América do Sul, entre

outros e simbologias a elas inscritas (OSTETTO, 2010).

Constituem também como legado cultural, ao possibilitar que as culturas e

tradições permaneçam vivas de forma integrada entre as pessoas de diferentes

culturas. Ao dançar, estamos ativando as expressões regionais e folclóricas dos

diversos povos e recriando/fazendo a cultura. Há possibilidade do entendimento da

cultura vivificada pelos cantos das músicas e melodias, dos ritmos, dos

instrumentos dos diversos povos.

Nas danças dos povos, como por exemplo, as danças gregas, há um

caminho do encontrar-se a si mesmo, mas também do encontrar- comunidade.

4 Referente a arte introdutória do livro, primeira página sobre a apresentação dos autores.

5 Conteúdos adquiridos na aula de Pós-graduação em desenvolvimento Integrativo do Ser: Danças

Circulares Sagradas e Jogos Cooperativos, promovido pela Unipaz Campinas e Faculdade campos Elíseos de 2009 a 2011.

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Desta forma, reporta-se do passo individual para o grupal (Wosien, 2000).

“(...) Aquele que medita dançando encontra um adensamento de

seu ser em tempo não mais mensurável, no qual a força mágica da roda

se manifesta”. Quando os dançarinos se ordenam num círculo, de acordo

com a tradição, eles se dão as mãos. A mão direita torna-se que recebe e

esquerda que dá6” (Wosien, p. 29).

Wosien (2000) pesquisou as leis cósmicas na arte da dança através das

correntes das reminiscências, ou seja, dos primórdios da Dança e segundo o autor

“(…) os elementos das épocas magica, mítica, palaciana e outras, com suas

variações de estilos, continuam a viver em nossos tempos e conduzem a novas

gerações” (WOSIEN, p. 31), dando-nos a noção que estamos interligados com o

fluir da história civilizatória.

Wosien além de criar um movimento revolucionário para atualidade

colocando as pessoas em movimento de mãos dadas com o objetivo comum de

integração grupal, planetária e desenvolvimento pessoal, trouxe também para a

humanidade uma reconstrução histórica através das Dança as dimensões culturais

e tradicionais dos mais variados povos. Esta vivificação possibilitou a nós um

sentido de continuidade das gerações. Não é de se estranhar que o surgimento das

Danças circulares sagradas tenha ocorrido quando Bernhard Wosien tinha mais de

60 anos, culminando na fase, segundo Jung, de maior inteireza e integralidade do

Ser.

Esta questão se aproxima do conceito de geratividade estabelecida por

Erikson (1963) apud. Neri (2001) que, segundo Neri, é um tema de

desenvolvimento da vida adulta e velhice:

“(...) diz respeito à motivação e ao envolvimento com continuidade e

o bem-estar de indivíduos particulares, de grupos humanos, da sociedade

de modo geral e de toda a Humanidade. Sua origem é uma necessidade

interna de garantir a própria imortalidade, de ser necessário de passar o

bastão para geração seguinte, tanto no sentido biológico quanto

cultural” (NERI, 2001, p. 52).

6 Os tradutores Maria Leonor Rodenbach e Raphael de Haro Júnior, do livro “Dança: um

caminho para totalidade” de Bernhard Wosien, acrescentam que no hemisfério sul, a mão direita dá e a mão esquerda recebe.

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14

Para Erikson (1998), a geratividade “inclui procriatividade, produtividade e

criatividade, portanto, a geração de novos seres, novos produtos e ideais, incluindo

uma espécie de autogeração relativa ao desenvolvimento adicional da identidade”

(p. 59).

Para Céline Lorthiois assim como os cantos tradicionais e/ou juntos com eles

as danças circulares sagradas têm o poder de abarcar os costumes que se

transmitem de geração para a geração. Assim, “(...) além do seu ritmo próprio (este

ritmo que transmitimos à Terra com os pés e com o corpo), há nelas o poder do

ritmo das gerações sucessivas que as retomam” (LORTHIOIS, 1998, p. 37).

Segundo BONETTI leva-nos há transcender o Tempo e o Espaço, sendo que

suas imagens e fontes de inspiração são arquetípicas e primitivas e favorecem

entrar em contato com sentimentos e sensações registradas nos traços

encontrados na história da humanidade, e para a autora especialmente no

simbolismo mitológico (BONNETTI, 1998).

A partir de um movimento coletivo as marcas das tradições são dançadas e

acolhidas e experenciadas no círculo. O círculo é uma circunferência ininterrupta,

que simboliza a totalidade. Estabelece uma forma geométrica perfeita, na qual

todos os pontos estão na mesma distância do seu centro. E remete-nos a um

espaço igualitário de aprendizagem (BOLEN, 2003). No aspecto social, estar na

forma circular simboliza, em sua plenitude, fraternidade, igualdade e sensação de

pertencer à espécie humana.

O Círculo é a materialização da sabedoria associada aos aspectos femininos

da humanidade e correlação entre todos os seres e o planeta. Não apresenta

hierarquias e é a própria expressão de equidade. “(...) É assim que a cultura se

conduz quando ouve e aprende a partir da contribuição de todos” (BOLEN, 2003, p.

29).

Segundo Bolen (2003) há uma mandala invisível na existência de um Círculo

de Mulheres, como fonte de energia, compaixão e sabedoria. O centro é o

organizador do Círculo e da relação com as pessoas no grupo. É um local simbólico

de visão e sabedoria. O centro7 é o que torna o Círculo especial ou sagrado. E

justamente que o torna sagrado é uma parte invisível da roda que se conecta com

todas as outras do Círculo através do centro, o que possibilita certa familiaridade

7 Os gregos chamavam essa fonte invisível de luz e calor de Héstia a divindade feminina no centro, Deusa da Lareira e do Templo (BOLEN, 2003).

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mesmo com pessoas estranhas no começo. Desta forma, há importância de

começar o Círculo com algo que centralize e valorizar a quietude como uma

maneira de centramento para possibilitar a chama que o alimenta. A conexão com

centro é sentida intuitivamente, é uma experiência subjetiva que nos leva a

conectar-se com o nosso centro como também com o Centro do Círculo.

Wosien (2000) acrescentou que o círculo representa uma imagem

microcósmica do espaço cósmico original. Sobrepõe ainda que é um processo de

transformação que representa o princípio da mudança.

De acordo com Mircea Eliade, no livro Sagrado e o Profano o “(...) centro é

justamente o lugar onde se efetua uma rotura de nível, onde o espaço se torna

sagrado, real por excelência” (ELIADE, 2008, p. 44).

O termo sagrado para o movimento das danças circulares não conotam um

sentido religioso, mas representa a essência da vida dos povos. Segundo

BONEETTI representa “(...) a confluência de sentimentos, pensamentos e visões de

mundo de um determinado povo, cultura e raça” (BONETTI, 1998, p. 109).

As danças circulares sagradas possibilitam a integração e

resgate/reconstrução do sagrado na vida cotidiana. De acordo com NICOLESCU no

seu livro “O manifesto da Transdisciplinaridade”, o sagrado escapa da compressão

do saber, pois para ele “(...) entre o saber e a compressão há o ser” (p. 82). Para o

autor a realidade é constituinte ao mesmo tempo de Sujeito, Objeto e o Sagrado. O

autor completa ressaltando que uma sociedade viável é aquela que consegue o

equilíbrio das três facetas da Realidade. O sagrado, dentro desta ótica, faz parte

integrante da nova racionalidade (NICOLESCU, 2008). O sagrado, de acordo com

Eliade (2008) “(...) é o real por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de

vida e fecundidade” (ELIADE, 2008, p. 31).

Segundo Mircea Eliade o tempo de origem apresenta um cunho terapêutico

que é nascer de novo. “(...) a vida não pode ser reparada, mas somente recriada pela

repetição simbólica da cosmogonia8” (p. 75), neste sentido, o que se propõe também

as danças circulares sagradas. Ainda de acordo como o autor nas festas

8 Significado segundo dicionário da língua portuguesa Hoauiss cosmologia significa corpo de

doutrinas, princípios (religiosos, míticos ou científicos) que se ocupa em explicar a origem, o princípio do universo; cosmogênese. 2 conjunto de teorias que propõe uma explicação para o aparecimento e formação do sistema solar. 3. Qualquer fundamento teórico que busque explicar a formação das galáxias a partir de um princípio primordial (Disponível em http://educacao.uol.com.br/diconarios/, acessado em 08/10/2011).

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16

encontram-se a dimensão sagrada da vida e nota-se uma repetição dos gestos

divinos. A participação no sagrado permite aos homens viver periodicamente na

presença dos deuses.

Desta maneira, o espaço sagrado é forte e significativo e conforme Eliade

(2008) ao estabelecer o tempo sagrado da origem aproxima-se o homem religioso,

tornando-o contemporâneo aos deuses. A experiência religiosa relacionada com o

simbolismo do Centro conota viver próximo dos deuses.

O Círculo, conforme Bolen (2003) vai além de uma experiência atual, pois é

uma experiência sagrada por excelência, por conter informações que estão

guardadas na imaginação e memória das pessoas como um legado da

humanidade.

Correlacionando o Círculo das Danças Circulares Sagradas, eles

correspondem a muito mais que uma experiência da geração atual, é enfim uma

experiência sagrada. Essas informações já estão guardadas na imaginação e

memória das pessoas como um legado da humanidade. Outra relação existente

seria quando Bolen em 2003 expõe que estar em um Círculo nos leva a estar em

outros Círculos. Assim, a cultura de Paz que as danças circulares sagradas

promovem nos conecta a outras rodas de danças em diferentes lugares no mundo

e como também em outros momentos históricos da cultura dos povos.

1.2. O manifesto e o imanisfeto das danças circulares

Conforme discussão no item anterior, de acordo com Bolen (2003) no livro

Milionésimo Círculo há uma mandala invisível na existência de um círculo. Para ela

o Círculo intensifica a cooperação e aproxima emocionalmente as pessoas,

favorecendo um lugar igualitário de aprendizado. E complementando através de

OSTETTO (2009), a imagem de um círculo invoca equilíbrio, totalidade, integração

de diferenças e interdependência.

Desta maneira, segundo Renata Ramos, em 1998, “(...) o círculo formado

pelas pessoas de mãos dadas significa nossa vida, nosso dia a dia (...). No qual

também (...) transitamos em volta do Centro e que dele extraímos forças para viver”

(RAMOS, 1998, p. 184).

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Wosien acrescenta que na dança o ser humano consegue exprimir todos os

altos e baixos de suas sensações. As danças sagradas equivalem como uma

oração e conversa com deus sem palavras, assim, o bailarino encontra o

reconhecimento (Wosien, 2006). Ressalta ainda, que nos tempos de irreligiosidade

geral de nosso tempo as Danças Circulares Sagradas prestam esta função de

comunhão com religioso, “sem palavras”. E ao expressar sobre o bailarino Wosien

ressalta que:

“(...) Nos exercícios diários ele constrói, dançando, a forma

movimentada do invisível, e supera sua crise existencial através da

experiência de uma transformação relativa ao ser e da elevação do seu

eu divino” (Wosien, 2001, p. 138).

As danças circulares são consideradas uma meditação em movimento, e

tem diferentes objetivos, tanto terapêuticos, como benefícios mentais e físicos,

quanto como atividade de relaxamento, diversão e integração de grupos. Ao

trabalharem o equilíbrio entre o individual e o coletivo estimulam as atitudes

cooperativas e o respeito às diferenças, já que a roda precisa de todos para

acontecer e cada um tem seu tempo de aprender.

As danças circulares sagradas apresentam um potencial curador, pois

através da forma circular e sua consciência favorecem espaço para potencializar

significados e organizar sentimentos e emoções. As formas com as quais as

coreografias vão desencadeando, aproximam-se de representações mandálicas, ou

seja, verdadeiras mandalas humanas dinâmicas, sendo o conteúdo amplamente

estudado por Jung.·.

De acordo com Wosien, as danças circulares sagradas favorecem como

propriedade dinamizadora como de diluir tensões (Wosien, 2001).

As danças circulares são polissêmicas, pois despertam novas linguagens,

ampliam repertório artístico-cultural, juntam diferente saberes. São reconhecidas

como um meio educacional funcional, pois ao mesmo tempo possibilita um

processo de autoconhecimento, pois os conteúdos falam em particular a cada

dançarino, possibilita também o reconhecimento do outro – e sua aproximação,

mesmo na diversidade9. O sujeito é despertado a integra-se com o pensar, o sentir

9 Baseado no site (HTTP://www.unipazcampinas.org.br), sobre o curso de especialização:

Desenvolvimento integrativo do Ser: danças Circulares Sagradas e Jogos Cooperativos, promovido pela UNIPAZ e Faculdade Campos Elíseos.

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e o agir. Aos realizar as danças circulares o sujeito é convidado a desempenhar um

movimento corporal de forma consciente, o que favorece assimilar melhor o

aprendizado.

O criador das danças circulares Bernhard Wosien (2001) no livro Dança: um

caminho para totalidade, já prenunciava que as danças são um dos meios em que

se destaca a pedagogia criativa. Traz também a dimensão lúdica, pois as

coreografias trazem um senso de bem-estar ao executá-la, ativando recursos de

nossa criança interior.

As danças circulares sagradas além de trazer a consciência para o

movimento de qualidade proporcionam melhoras em outros aspectos como: na

coordenação motora, na concentração, na flexibilidade, no seu próprio ritmo, e, por

conseguinte uma elevação na autoestima (RAMOS, 1998).

1.3. No Brasil também se dança: um pouco de história

Como toda história as danças circulares no Brasil apresentam algumas

versões para seu surgimento, mas sem deixar de cumprir os propósitos

preconizados por Wosien de pulverizá-las nos diferentes seguimentos: sejam eles

na saúde, na educação, no social e nas organizações.

No Brasil10, o mineiro Carlos Solano Carvalho foi o precursor ao vivenciar em

1984 a fonte primordial do movimento das danças circulares sagradas em Findhorn,

onde viveu por seis meses. Quando retornou para Belo Horizonte, começou a

reunir informalmente os seus amigos para dançar. E aos poucos sua paixão pela

10

Para a reconstrução história da utilização das danças circulares no Brasil foi necessário à consulta em diferentes sites que abordam o assunto, pois ainda não existe um todo agrupado em forma de publicação. Está sendo organizado por Renata Carvalho Lima Ramos um documentário que retratará está história, bem como trará entrevista com Maria-Gabrielle Wosien, filha de Bernhard Wosien que segue com uma linha do movimento das Danças Circulares Sagradas. Parte do documentário foi apresentada no IX Encontro Brasileiro de danças Circulares Sagradas em 2010 em Embu das Artes em São Paulo. No entanto, este documentário está na fase de edição. Utilizei para reconstrução histórica sites como de Sirlene Barreto da Bahia, linha do tempo das danças circulares descrito por Willian Vale de Belo Horizonte revisado e atualizado em 02/04/2009, disponível no site http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, (acessado em 09 de setembro de 2011), ciranda de roda e de outras informações de Renata Carvalho Lima Ramos. O principal livro que traça uma versão histórica é Danças Circulares Sagradas uma Proposta de Educação e Cura da Editora Triom, organizado por Renata Carvalho Lima Ramos (1998).

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dança originou em trabalhos mais organizados através de cursos isolados, aulas

regulares e promoção de eventos (CARVALHO, 1998).

Como a história não se concretiza somente por um único fato e as versões

vão construindo um todo organizado, ao formar verdadeiros mosaicos de

acontecimentos, as danças circulares estavam circulando também desde

praticamente do surgimento do Centro de Vivências Nazaré/SP em 1981. Esta

comunidade alternativa foi construída nos moldes da ecovila de Findhorn, no norte

da Escócia. As danças passaram a ser utilizada através de gravações K7 e livretos

de 1982 a 1987, pois recebiam visitas de pessoas conhecedoras das danças

circulares, e o Centro de Vivências, passou desta forma, a experienciar a sensação

agradável de estar em roda e compartilhando-a. Duas pessoas expoentes e

moradores da comunidade foram Davi Arnaldo e Evelyn Zaydenberg11.

As danças circulares sagradas no Centro de Vivência em Nazaré Paulista

começaram a fazer parte das atividades cotidianas, sendo especificamente mais

utilizadas por Sara Marriot, ex-moradora de Findhorn, que passou a residir na

comunidade, trazendo grande conhecimento vivencial pelo fato de ter morado por

muitos anos em uma ecovila.

O Centro de Vivências em Nazaré Paulista começou também a utilizar em

1987 o material didático de Anna Barton coordenadora do programa de danças

circulares em Findhorn e introduziu em seu programa de cursos, vivências com

Carlos Solano Carvalho e desta maneira, ocorreram trocas de experiências com

David Arnaldo e Jane Vieira12.

Aos poucos o movimento das danças circulares sagradas no Brasil foi se

pulverizando por diferentes pessoas e lugares, por encontrar um terreno fértil entre

os brasileiros (RAMOS, 1998). Uma pessoa importante foi Bia Esteves que

começou a focalizar rodas de danças circulares para grupos em São Paulo e iniciou

o trabalho nos Parques também em São Paulo, em especial no parque da Água

Branca, assunto que será abordada nesta monografia adiante13.

Em 1992 Renata Carvalho Lima Ramos conheceu Finddhorn e ficou

surpreendida com que encontrou. Ela retornou a Fundação em 1993 para participar

de um treinamento das danças circulares sagradas com Anna Barton. Quando

11

Disponível em http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, acessado em 09 de setembro de 2011). 12

Idem a nota 11. 13

Idem a nota 12.

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20

retornou para o Brasil, começou a ensiná-las. E somente em 1994 no Centro de

Vivências de Nazaré que Renata conheceu Carlos Solano Carvalho (RAMOS,

1998).

O movimento ganhou grande força no Brasil em 1995, ano que Renata

Carvalho Lima Ramos de São Paulo, Carlos Solano de Carvalho de Belo Horizonte

e Sirlene Barreto da Bahia, organizaram a vinda de Anna Barton, para ensinar as

danças no Brasil, indicado por May East, brasileira residente de Findhorn. Eles

estruturaram três workshops em suas cidades respectivas. Para Sirlene Barreto14

está data marca definitivamente a implantação das danças circulares no país.

De acordo com Renata Ramos em 1995 ocorreu um encontro internacional

em São Paulo chamado Imaginário no qual a brasileira residente em Findhorn May

East e o australiano Graig Gibsone também residentes à época da Fundação

focalizaram, importante momento para movimento das danças circulares no Brasil

(RAMOS, 1998).

Um episódio culminante foi à ida de 25 brasileiros para Festival dos 20 Anos

das danças Sagradas em Findhorn em julho de 1996, no qual marcou-se a

importância do trabalho com as danças circulares sagradas devido à

responsabilidade da “(...) União dos Povos e a Comunhão das pessoas entre si e

com elas mesmas”, que lhes conferem (RAMOS, 1998, p.15).

Após o retorno do festival os brasileiros, Renata Carvalho Lima Ramos

autora e organizadora e mais 11 focalizadores: Ana Lúcia Borges da Costa, Céline

Lorthiois, Gláucia Helena Castelo Branco Rodrigues, Luiz Nogueira Arad, Marcus

Ivan Santana Sampaio, Maria Cristina de Freitas Bonetti, Maris Stella Alvares

Gabriel, Marizilda M. Rodrigues Eid, Nadir Mercedes Tiveron, Paulo Murakata,

escreveram o livro “Danças Circulares Sagradas: uma proposta de educação e

cura”, sobre as suas experiências com as danças circulares nas diferentes áreas de

trabalho. O livro foi prefaciado por Carlos Solano Carvalho precursor das danças no

Brasil, que também esteve no Festival. O livro foi lançado em 1998 pela Editora

Triom. Segundo Renata Carvalho Lima Ramos a elaboração do livro foi um

encontro com seus amigos “dançantes” para escrever sobre um tema comum que

tanto os encantavam (RAMOS, 1998).

14

Disponível em http://www.sirlenebarreto.com.br, e consultado no dia 09 de setembro de 2011.

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Outros nomes foram importantes para o movimento das danças circulares no

Brasil e tantos outros estão surgindo para circular e harmonizar os diferentes

cantos de nosso país.

Foram criados também espaços de estudo, aprofundamento e divulgação

das danças circulares como: Triom Centro de Estudos, Semeia Dança, Dança Viva,

Ciranda da Lua entre outros15.

Segundo Sirlene Barreto em seu site16, na medida em que as danças

circulares de origem gregas, escocesas, celtas, israelitas, húngaras foram

encantando o país, as rodas brasileiras foram sentindo a necessidade de resgatar e

fortalecer as danças e cantigas sagradas estritamente brasileiras, dentre elas:

danças indígenas, cirandas, coco, samba de roda, carimbo, pau de fita, balaio,

pezinho, siriri, entre outras. Em 2005 foi organizado I Festival Vira a Dança que

para Sirlene foi um marco no fortalecimento das danças circulares brasileiras.

Para Maria Cristina Bonetti encontramos na nossa cultura raiz – a Indígena,

todo o sentimento de expressão da dança do povo brasileiro. Bonetti define que

somos “(...) a mistura de três raças e dessa base nasce a nossa Dança Sagrada.

Trazemos na formação do nosso povo os valores culturais das raízes, a Ameríndia –

cultura indígena, a Branca – cultura europeia e a Negra – cultura africana” (BONNETTI,

1998, p. 118).

Desde 2002, realiza-se sempre no feriado de Corpus Christi em São Paulo, o

Encontro Brasileiro de Danças Circulares... Sagradas, sob a organização de Rodas

dos Povos, através das focalizadoras Renata Carvalho Lima Ramos, Andreia

Leoncini e Sônia Yamashita Lima, no qual reúne pessoas de todos os cantos do

país, proporcionando uma grande troca de informações, contato e aprendizado com

focalizadores vindos de diversas partes do mundo.

A partir desta iniciativa importante para as danças circulares sagradas no

Brasil, outros encontros foram surgindo como Rodas do Sul, Encontro do Nordeste,

recentemente Encontro do Vale do Paraíba, entre outros.

Atualmente, as Danças Circulares Sagradas acontecem cada vez mais

disseminadas pelo nosso país, através de diversos focalizadores em diferentes

regiões do Brasil. E são realizadas em diferentes ocasiões como eventos temáticos,

empresas (corporativo), parques, escolas, eventos, workshop e como recurso

15

Grupos de meu maior conhecimento. 16

Disponível em http://www.sirlenebarreto.com.br, e consultado no dia 09 de setembro de 2011.

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terapêutico possibilitando a harmonização individual e/ou grupal na busca de

autoconhecimento e auto cura (Ramos, 1998).

As pesquisas relacionadas às danças circulares sagradas estão crescendo

nas academias universitárias como: Unipaz/Faculdade Campos Elíseos, Unimonte,

Anhembi Morumbi, na Unicamp, Puc- São Paulo e Universidade Católica de Goiás,

em trabalhos de especialização, mestrado e doutorado. Os principais trabalhos

encontram-se em anexo (Anexo 4). Vale ressaltar que em 2009 ocorreu a criação

do primeiro curso de pós Graduação ligado a Unipaz e Faculdade Campos Elíseos

em danças circulares sagradas, intitulado “Desenvolvimento Integrativo do Ser:

danças circulares e jogos cooperativos”, que trouxe para o movimento das danças

circulares no Brasil mais um espaço para reflexões e expansão do movimento, que

encontra-se em anexo a teia curricular do curso (Anexo 3).

1.4. Danças Circulares nos Parques

A prática da vivência de danças circulares em parques em áreas verdes,

mais especificamente, na cidade de São Paulo, teve início com Beatriz Esteves e

focalizadores voluntários na década de 1990 com a perspectiva de expandir, às

mais diversas pessoas e lugares, a Cultura de Paz17.

Assim o primeiro parque em São Paulo a ter sistematicamente a vivencia de

danças circulares foi o Parque da Agua Branca. E depois em 1995 que se inicia

roda no Parque Trianon também com Bia Esteves.

Em 2006 as vivências das danças integraram a programação das atividades

da UMAPAZ18, instalada no Parque do Ibirapuera, orientadas para a sensibilização

das questões socioambientais e incorporações dos valores da cultura de paz.

O sucesso dessa ação favoreceu em 2009 na proposta de descentralização

das vivências de danças circulares nos diversos parques municipais, promovido

pela UMAPAZ em parceria com o DEPAVE (Departamento de Parques e Áreas

Verdes), sob a coordenação de Estela Maria G. P. Gomes.

Em São Paulo há uma programação sistemática das danças circulares em

17

Disponível em http://rodamaria.org/nsite/?page_id=55, acessado em 09 de setembro de 2011). 18

Universidade aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz, da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente.

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diversos parques. A cada domingo do mês, em sua maioria as 10 h: 00 recebe-se

um focalizador19 diferente a fim de reunir pessoas dispostas a dançar em círculo.

Por exemplo, no primeiro domingo do mês a vivência ocorre no Parque Ibirapuera,

no segundo no Parque da Luz, no terceiro no Parque Trianon e no último domingo

no Parque da Água Branca, e outros que também estão se organizando, realizando

em dias diferentes da semana.

Em Campinas/SP, segundo depoimento de Mairany Gabriel20, grande

expoente das rodas de dança circulares sagradas em nossa cidade e no Brasil,

relatou que nos anos de 2002 e 2003 ela e Maria da Glória Coelho, mais conhecida

como Góia, psicóloga da Prefeitura Municipal de Campinas, realizaram o primeiro

de curso de danças circulares com Marcos Guilherme e Paula, que moravam no

Centro de Vivências Nazaré, e após a vivência abriram a primeira Roda em

Campinas. A primeira a se formar foi no Bosque São José, permanecendo por três

anos.

Posteriormente a Góia iniciou um trabalho de comunhão de Danças

Circulares Sagradas e Movimento Vital Expressivo no Parque Ecológico.

Atualmente está iniciativa conta somente com a prática do Movimento Vital

Expressivo, realizado todos os domingos do mês.

Outra pessoa importante para o movimento das Danças Circulares Sagradas

em Campinas foi Mirian Dias Furlanetti, que iniciou Roda nas escolas em 2004, e

estas aconteciam todos os domingos do mês. O projeto estava ligado ao Programa

Escola da Família, e por muito tempo permaneceu na escola Estadual Aníbal de

Freitas e tinha grande objetivo incluir os adolescentes nas Rodas.

Estas rodas possibilitaram encontro de focalizadores e incentivaram outros

como: Mairany Gabriel, Janaina Campos, Vânia e como também me impulsionou

ao desenvolver o trabalho das Danças Circulares. Era um verdadeiro laboratório e

encontro de Almas.

A focalizadora Mirian Dias Furlanetti também realizava algumas vivências no

Parque Taquaral em Campinas, uns dos principais parques da cidade, mas estas

eram esporádicas.

Em 2005 Janaina Campos inicia rodas sistemáticas no Distrito de Barão

19

Denominação atribuída a pessoa que ensina as danças circulares. 20

Relatos colhidos por e-mail no mês a agosto de 2011. Organizadora Raízes e Matrizes Eventos Culturais.

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Geraldo em Campinas e vivências em alguns parques esporádicas também. No

mesmo ano forma-se a Roda tema desta monografia na Praça Esportiva dos

Trabalhadores.

No dia primeiro de maio de 2007 iniciou-se uma nova roda sistemática com

Mairany Gabriel no Ripado do Parque Ecológico, que objetivava primeiramente

realizar uma roda de meditação com Reiki e que fora um sucesso. Atualmente a

Roda acontece dentro de um salão de um restaurante desativado, todo o último

domingo de cada mês, as 10 h: 00, com participação de mais de 60 pessoas por

encontro.

Segundo Mairany Gabriel focalizadora da roda de dança circular do Parque

Ecológico, a característica que se mantem é que ela continua desenvolvendo como

se fosse uma Roda regular, pois tem preocupação com a preparação energética do

ambiente, traz sempre água com hortelã, velas, a carta dos anjos para

harmonização e também se preocupa com a finalização da Roda.

De 2009 para atualidade, a roda no Parque Ecológico apresenta em média

60 participantes a cada domingo e com a média de 30 a 40 % que nunca

dançaram. Para ela o objetivo da roda está sendo cumprindo: divulgar o movimento

das Danças Circulares Sagradas na Cidade de Campinas/SP, ao impulsionar que

outras rodas se formem, como também, segundo Mairany, o “fazer acontecer” o

primeiro curso de Pós-graduação em danças Circulares sagradas, vinculado a

UNIPAZ Campinas, que para ela está atrelada a esta Roda.

1.5. Danças circulares na saúde

Para produção de saúde efetiva há necessariamente a ampliação dos contextos

de saúde no qual os diferentes seguimentos de suporte social, emocional e

educacional se confluem para está prática (BRASIL -MS 2009). Estas proposições

no campo da saúde se aproximam da construção cientifica transdisciplinar, pois

visa agregar saberes favorecendo de forma integrativa para compreensão

abrangente da realidade em seus diferentes níveis, interagindo ao mesmo tempo

sujeito, objeto e o sagrado (NICOLESCU, 2008).

“(...) Abordagens científicas como a Transdisciplinaridade e a Visão

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Integral vêm trazendo de forma consistente uma revisão dos paradigmas

sobre os quais se fundamenta a visão contemporânea, ou pós moderna

de realidade possibilitando novas formas de compressão do humano que

contemplam a ciência e a transcendência simultaneamente, e, portanto

nos remetendo a possibilidades transdisciplinares, transpessoais e

integrais de compreensão da vida e do homem. Tais compreensões têm

se mostrado altamente integrativas e capazes de conciliar saberes de

modo que os seres humanos possam rever suas perspectivas de vida e

vislumbrar um futuro pessoal e coletivo com sustentabilidade (BERNI,

2009, p.7).

Para Berni (2002), estudos evidenciam que a necessidade de mudança do

pensamento moderno que foram levando o homem à separação do corpo e mente

e o predomínio da racionalidade em detrimento da intuição e da sensibilidade,

reforçada pela visão científica cartesiana, levou-nos também ao distanciamento do

homem e da natureza (BERNI, 2002).

As danças circulares segundo Berni se enquadram no novo contexto de

saúde, no incentivo ao emprego de novas práticas, ou seja, novas formas de

tratamento, complementares as técnicas do homem tradicionais, e que trabalha-se

pela busca de harmonização dos ritmos e conexões energética (BERNI, 2002). E

segundo o mesmo autor em 2009, as práticas das danças circulares promovem

uma compreensão da realidade de forma mais integrativa de maneira que uma vida

com qualidade corresponde, de acordo com Berni, como uma ação de

autoconhecimento que viabilize a sustentabilidade. Este autoconhecimento é

desejável ao se utilizar os referenciais mentais, emocionais, corporais, e espirituais,

para vivenciar o presente e construir um futuro sustentável (BERNI, 2009).

A formulação em 04/04/2006 da Política Nacional de Práticas Integrativas e

Complementares em Saúde (PNPIC) consolidada dentro do contexto nacional e

recomendada pelas OMS através de práticas anteriormente denominadas

alternativas constitui estratégias potentes para fortalecimento de um novo

paradigma: o da harmonização, do qual abrange os aspectos fiscos, emocionais,

mentais e ambientais concomitantemente.

O docente do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade

de Ciências Médicas da Unicamp Nelson Felice de Barros, teceu comentário em

forma de Carta sobre PNPIC, no periódico Ciências da Saúde, ressaltando que:

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26

“(...) A Política, de caráter nacional, recomenda a implantação e

implementação de ações e serviços no SUS, com o objetivo de garantir a

prevenção de agravos, a promoção e a recuperação da saúde, com

ênfase na atenção básica, além de propor o cuidado continuado,

humanizado e integral em saúde, contribuindo com o aumento da

resolubilidade do sistema, com qualidade, eficácia, eficiência, segurança,

sustentabilidade, controle e participação social no uso” (BARROS, 2006,

s/n p).21

A Portaria geral n°. 3059 de 27/04/2007 da Política Nacional de Práticas

Integrativas e Complementares no SUS PNPIC- SUS, mais especificamente na

cartilha de Atitude de Ampliação de Acesso, ressalta que estudos têm evidenciado

que tais abordagens contribuem para a ampliação da corresponsabilidade do

indivíduo pela sua saúde, colaborando assim para o aumento do exercício da

cidadania. Os benefícios foram demonstrados na melhora na formação de vínculos,

na ampliação da percepção dos problemas e no empoderamento das redes

pessoais e da possibilidade de resolução de situações adversas junto à

comunidade.

Estas práticas integrativas e complemetares22, como homeopática, ioga,

acupuntura, danças circulares, medicina antroposófica, movimento vital expressivo,

lian gong, entre outras, objetivam aumentar a resolutividade das práticas do

Sistema Único de Saúde - SUS, incentivar o controle e participação social e intervir

através dos diferentes níveis de realidade e em especial a promoção de saúde.

Desta maneira, as distintas abordagens configuram-se como prioritárias para o

Ministério da Saúde, tornando opções preventivas e terapêuticas do SUS.

As danças circulares dentro deste novo paradigma podem ser aplicadas em

diferentes contextos de saúde e podem ser utilizadas como oficinas de Centros de

Convivência, em grupos abertos, Unidades Básicas de Saúde, como estratégia do

NASF – Núcleo de Atenção a Saúde da Família, CAPS – Centro de Atenção

Psicossocial, hospitais, abrangentes do público do território em questão, ou

delimitado pelos profissionais de saúde, quando utilizada em cunho estritamente

21

Disponível em http://dx.doi.org/10.1590/5143-8/232006000300034, acessado em 08/10/2011 no portal

Scielo. 22

Ainda não há um consenso fechado segundo Ministério da Saúde de quais práticas entram como práticas

integrativas ainda encontram-se em discussão. Em Campinas/S P a Secretaria Municipal de Saúde inclui as

danças circulares no rol das atividades saudáveis e práticas integrativas, observadas no site http://2009.

Campinas.sp.gov.br/saúde/.

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27

terapêutico, para um público especifico.

Na cidade de São Paulo, as práticas corporais começaram a serem

fortemente utilizadas em 2001 nos serviços de saúde, influenciadas pelas práticas

corporais da Medicina Tradicional Chinesa (Lian Gong em 18 Terapias, Tai Chi Pai

Lin, meditação, Lien Ch’i, Xian Gong, Tai Ji Qui Gong) e atualmente as práticas

integrativas e complementares em saúde vão além, incluindo caminhada,

alongamento, relaxamento, danças circulares, shantala, entre outras. A Secretaria

Municipal de Saúde criou estratégias e vem investindo em capacitações de

profissionais. Desta maneira, as formas de mobilização corporal e comunitária,

adaptadas às necessidades e realidades de cada polo de atuação, atingem em

média 70% de equipamentos municipais de saúde (MORETTIL, ANEIDALL,

WESTPHALL, BÓGUSIV, 2009).

Em Campinas/SP, em 2001 ocorreu a criação do Projeto Corpo em

Movimento, idealizado pelo GETRIS – Grupo de Estudos e Trabalho em Terapias

Integrativas com objetivo de trabalhar a prevenção, diagnósticos e tratamento dos

transtornos musculoesqueléticos no SUS Campinas, para garantir maior

empoderamento dos usuários em seu tratamento. Atualmente este projeto

transformou-se em um programa da Secretaria Municipal de Saúde, coordenado

pela área de assistência do Departamento de Saúde, especificamente na área da

Saúde Integrativa, sob a responsabilidade do médico Dr. William Hypólito

Ferreira23.

As danças circulares são ofertadas em algumas Unidades Básicas de Saúde

e Centro de Convivência, compondo a grade municipal na relação de atividades

saudáveis e práticas integrativas, grupos educativos, vivências e terapêuticas do

Programa Saúde e Movimento. Em 2008 e 2009 ocorreram cursos introdutórios de

capacitação sobre esta temática aos funcionários da saúde, distribuídos

equilibradamente entre os distritos de saúde do município para disseminação desta

prática. O curso foi ministrado por profissionais defensores destas novas práticas

na cidade de Campinas e funcionários da Prefeitura Municipal de Campinas, como

psicóloga Maria da Glória Coelho, que iniciou as práticas integrativas a mais de 10

anos em uma Unidade Básica de Saúde, como o Sistema Rio Abierto e danças

23

Matéria de Denize Dias do dia 14/11/2006, extraído no site da Prefeitura Municipal de Campinas, disponível em: http://2009.campinas .sp.gov.br/saúde/, acessado no dia 08/10/2011.

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28

circulares sagradas. Atualmente, estas atividades são desenvolvidas no Distrito de

Barão Geraldo24.

Entre os anos de 1989 a 1991 a terapeuta ocupacional Eliane Dias de Castro

(1992) utilizou a dança (sem a denominação circular) como recurso terapêutico

através de grupo aberto em um CAPS para pessoas com transtorno psíquico e

constatou que a dança e a expressão corporal constituem-se como um recurso de

autoconhecimento e expressão para pessoas que buscam auxílio psiquiátrico,

assim como os instrumentaliza para a própria vida. Em seus estudos de avaliação

processual notou melhoras nos aspectos físicos como: alterações na postura,

movimentação, respiração, cor, temperatura. Nos aspectos psíquicos destaca a

possibilidade de expressão de sentimentos, ideias, sensações, percepções e das

próprias emoções. Já nos aspectos sociais observou trocas entre o grupo,

vinculação entre as pessoas e aproximação de si mesmo.

A dança é um dos meios mais destacados da pedagogia criativa e possibilita

alto valor terapêutico, pois a dança, segundo Wosien (2000), educa o homem como

um todo. Para ele há uma interdependência e conexão entre as funções do

movimento e as funções psicofísicas. “(...) Ela exige adaptação e integração, cria

equilíbrio, dá asas à fantasia, relaxa e solta, e oferece um plano a partir do qual se

pode acessar a multiplicidade da educação” (Wosien, 2000, p. 64-5). , Maria

Gabrile Wosien (2002) completa que nas danças de roda, a liberdade e a ligação se

equilibram e ocorre, segundo a autora, uma correção continua do balanço interno e

externo. A dança também oferece ferramenta de integração com os pares – o

encontrar-se – de – si e o encontrar-da-comunidade, ou seja, no prazer na

convivência conjunta. E segundo Wosien está no rol da formação humana.

As danças circulares sagradas também foram retratadas através de outro

lugar, em material do Jornal Folha25, na qual a jornalista foi traçando aspectos

importantes sobre os benefícios da mesma. Para enriquecer a matéria à jornalista

24

Matéria do dia 21/02/2011 da Notícias SUS Campinas – Núcleo de Comunicação da Secretaria Municipal de Saúde de Campinas. Centro de Saúde Barão Geraldo: “Quando a dor de viver vira doença”, extraído do site http://2009.campinas.sp.gov.br/saude/carta_da_saude/ed_14_barao.htm, acessado em 08/10/2011. 25

Dados extraídos de matéria jornalista escritos para Jornal Folha de São Paulo na parte Equilibram

por Iara Bederman, disponível em http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/740581-dancas-

circulares-rompem-circuito-alternativo-e-viram-moda-ate-na-noite.shtml, acessado em 08 de outubro

de 2011.

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29

Iara Bederman utilizou-se de entrevistas e depoimentos de pessoas implicadas com

as danças circulares, em especial da saúde, mas sob diferentes olhares. Ressaltou

os aspectos inclusivos e coletivos proporcionados pelas danças circulares

sagradas, ressaltando a capacidade de criar vínculos e relações de solidariedade

entre os participantes.

Este aspecto embora de conteúdo social está intimamente ligado com a

saúde integral, pois estudos internacionais e nacionais apontam que a qualidade

percebida de suporte de relacionamentos tem evidenciado contribuições na saúde

e no bem-estar dos indivíduos. Assim, pessoas que sentem-se apoiadas enfrentam

melhor as condições de doenças, estresse e outras dificuldades relacionadas com

experiência de vida. Neste sentido, a qualidade de relacionamentos tem efeitos

psicológicos, afetando, por exemplo, os níveis de depressão e qualidade de vida

percebida, e efeitos físicos, associados com frequência de doenças, mortalidade e

funcionamento fisiológico (ANTONUCCI 2001).

Segundo Berni (2002) as danças circulares contribuem enquanto instrumento

de ampliação de consciência individual e grupal, sendo um canal de

desenvolvimento humano pessoal e da interação grupal.

Outro aspecto levantado na matéria jornalística, já citada, refere-se aos

conteúdos neurotransmissores, pois segundo médico psiquiatra Paulo Toledo

Machado Filho, do Instituto Sedes Sapientae em São Paulo, as danças em círculo

levam a um ritmo diferente daqueles estabelecidos pelos comportamentos

ansiosos, pois a dança circular, segundo o médico, relaxa, alterando os

neurotransmissores do estresse.

Há também através desta prática a liberação de neurohormônios, como a

endorfina, ligados à sensação de bem-estar, que são liberados pelo fator de prazer.

Desta maneira, na alegria da música, na animação do grupo, assim como na

liberação de efeitos de uma atividade cardiovascular.

Agregando outro aspecto bastante requisitado, seria o que a fisioterapeuta

Beth Gervitz relacionou na matéria, supracitada, como aspecto neuromotor, uma

vez que, ao dançar desenvolve-se bastante a bilateralidade, controle motor dos

lados esquerdo e direito do corpo sob o movimento de forma não habitual. Para ela

o movimento em roda leva ao dançante fazer o contrario de quem está a sua frente,

ou espelho do outro. A fisioterapeuta acrescenta ainda que a contagem rítmica das

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30

diferentes culturas expressas nas coreografias, também favorece ao aprendizado

de movimentos corporais que eram pouco utilizadas e na medida em que os passos

se repetem essas novas informações são assimiladas gradativamente. Esta

assimilação é importante para inclusão de diferentes pessoas, que sabem ou que

nunca tiveram experiência de danças, possibilitando a inclusão de todos na roda.

Existem igualmente os benefícios extras corporais que de acordo com

Glaucia Rodrigues, do Centro de Estudos Universais, também citada na matéria

jornalística, pois o movimento circular ajuda a pessoa a se autocentrar e a se

equilibrar. Como exposto no capítulo anterior o círculo é o modelo organizador da

psique e ao materializa-lo em forma de movimento externamente, auxilia a pessoa

a se organizar internamente. O que também ressaltou BERNI (2002) que as danças

circulares do ponto de vista da dinâmica psicológica facilitam abertura para canais

de circulação de energia psíquica entre o Self e o Ego, ora de um eixo extroversor,

de dentro para fora, ora introversor, de um eixo de fora para dentro (BERNI, 2002;

2009).

Outro aspecto importante seria que as danças circulares sagradas convidam

as pessoas a estarem inteiramente na situação, sendo esta conexão entendida

como uma forma de meditação ativa, ou uma oração em movimento (BERNI, 1998,

2002).

Para Wosien (2000) a dança é simplesmente vida intensificada e há:

“(...) No jogo rigidamente regulamentado, do qual ele desenvolve

foças mágicas, na livre manifestação de sentimentos, pendulado entre

êxtase, movimento e calma, entre visão e meditação, o homem que

dança liberto pela vontade, sente o hálito da respiração universal (…). A

dança se comunica do ponto onde a respiração, a representação, a

imagem e a vivência onírica afloram e se tornam criativas, desprendidas

do plano da realidade prosaica e dos grilhões terrestres” (WOSIEN, p.

26).

Wosien (2000) acrescenta que a dança surge no silêncio, a partir da

meditação. Para o bailarino o objeto da meditação é o seu corpo. Na oração corpo

e alma participam – natureza espirito corporal, pois uma oração puramente

espiritual é adequada somente aos anjos e não aos homens. “(...) A dança também

não é uma viva imagem reminiscente – a dança é, em tempo e espaço, um signo,

um acontecimento visível, uma forma cinética para o invisível” (Op. Cit, p. 27).

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31

Através dos signos a dança transmite uma tradição de interioridade objetiva na

compreensão do homem em sua totalidade. “(...) O homem vivencia na dança a

transfiguração de sua existência, uma metamorfose transcendente e seu interior,

relativa ao ser e também à elevação ao seu divino. A dança, como na forma de

uma imagem característica e móvel é o próprio sagrado (…)” (Wosien, pp. 27-8).

De acordo com BERNI (1998) a Saúde e Educação, cada vez mais estão

inclinadas para uma visão integral, e para o papel ativo que o homem tem na cura

de seus males. Para ele energia parada é doença e energia em movimento é

saúde. Dentro desta correlação, Berni apontou o significado da meditação ativa,

que seriam técnicas com foco na atenção que nos levam a realizar a conexão com

o nosso ser interior divino, através de um olhar consciente do Eu Exterior para o Eu

Interior26. Assim:

“(...) No círculo, mobilizamos uma energia poderosa, criativa e

construtiva – alegre e introspectiva – que nos traz de volta a criança

interior, a pureza no nível mais elevado de energia, que se dá através de

conexão do nosso eu Exterior como nosso eu Interior, e que nos remente

a energia Cósmica (BERNI, 1998, p. 65).

Os arquétipos da Criança e da grande Mãe também foram estudados por

ALMEIDA, (2005) e OSTETTO (2006), relacionados ao estudo das danças

circulares sagradas na saúde/psicologia e na educação através da formação de

educadores.

A terapeuta ocupacional focalizadora de danças circulares sagradas e

pesquisadora Ana Lúcia Borges da Costa foi pioneira ao empregar a técnica das

danças em 1995 em uma disciplina para alunos do terceiro ano do Curso de

Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo na

qual objetivava ampliação do conhecimento de métodos e técnicas do aluno e do

desenvolvimento de análise de suas possibilidades terapêuticas, através de

vivências de expressão através da música, da dança e do teatro. Os resultados de

seu trabalho apontam que além das danças contribuírem com a reflexões de

emoções e sentimentos, também favorece um instrumento de formação grupal

através da universalização da comunicação através do movimento (COSTA, 1998).

26

Segundo Berni 1998, o Eu Exterior se traduz pela conexão com o mundo objetivo estabelecendo relações sociais com o mundo exterior em que vivemos (Ego). Já o Eu Interior corresponde às características mais permanentes da entidade humana (Self).

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32

Neste ano (2011), Ana Lúcia Borges da Costa idealizou uma pesquisa na

área da saúde com a finalidade de validar cientificamente a importância da prática

das danças circulares. A pesquisa baseia-se em um questionário elaborado pela

pesquisadora. Para compor a pesquisa outras focalizadores convidadas farão parte

como:27 Estela Maria Gomes, Fernando C. Lima Ramos, Janete Aparecida Costa e

Nida Renata Remencius, profissionais da área da saúde do setor público e privado

da cidade de São Paulo. E para o desenvolvimento das vivências outras

focalizadoras farão parte como: Cathia Santos Bureloni, Nora Maraia S. Cortez e

Rosana Veloso, com pessoas que estejam dispostas a firmar um compromisso de

responder a este questionário padrão. Um destes grupos acontecerá no espaço da

editora Triom e através da focalização de Renata C. L. Ramos e Estela M. Gomes.

A orientadora convidada da pesquisa será a Dra. Maria Augusta Nogueira

Machado Dib, sendo a pesquisa aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da

Secretaria Municipal de São Paulo.

A pesquisa será de grande valia para o movimento das danças circulares

sagradas ao destacar o segmento saúde, demonstrando a efetiva potência de sua

empregabilidade.

1.6. Danças Circulares nos Centro de Convivência: uma

oficina possível

A aproximação das danças circulares com a proposta dos Centros de

Convivência demonstra-se frutífera devido aos objetivos propostos: facilitar o

encontro com o outro e consigo mesmo, ainda diante da diversidade.

Segundo Maria Cecília Galetti, terapeuta ocupacional e gestora de um Centro

de Convivência e Cooperativa em São Paulo28, os definem como dispositivos

institucionais que propiciam a invenções de novas relações entre sujeitos marcados

por histórias de “exclusão” e destes com o restante da população. E desta maneira

promovem:

27

Dados colhidos através do site do Centro de Estudos Transdisciplinares: http://www.cetras.com.br/cursos/mod/forum/discuss php?d=217. 28

Berço dos movimentos da reforma psiquiátrica e da inovação de serviços substitutivos para

“pacientes” da saúde mental. No final da década de 80 do século passado.

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33

“(...) O encontro entre as pessoas, criando condições favoráveis para

inserção e a integração dos indivíduos, isto é, colocá-los efetivamente em

cena por meio de atividades coletivas, como atividades manuais, culturais,

esportivas etc., interferindo, portanto, no cenário social” (GALETTI, 2004, p.

57).

BARROS e LOPES (2003) citam Isabel Cristina Lopes, idealizadora dos

Centros de Convivência e Cooperativa na cidade de São Paulo, na qual defende

que são espaços propícios para unir pessoas por afinidades, favorecendo a

convivência dos diferentes em um lugar comum. Apresentam um alcance

terapêutico e despertam a autonomia mediante a arte. Neste sentido, correlaciono

às danças circulares como uma prática artística que possibilitam estar com o outro

de forma igualitária, onde as pessoas se reconhecem enquanto parte importante

para constituição harmoniosa do Todo, através da ampliação da consciência

individual e coletiva.

GALETTI (2004) acrescenta que as práticas das oficinas dos Centros de

Convivência e Cooperativa, são marcadas pela hibridade, pela diversidade e

através de misturas e dos encontros, que se colocam como potentes espaços do

experimentar e efetivar a transdisciplinariedade, pois favorece a possibilidade de

experimentar as bordas e limites ao se criar outras formas de subjetividade, que de

certa forma, subvertem as formas majoritárias de assistência em saúde. Estes

projetos, segundo GALETTI favorecem mais que projetos de saúde “(...) formam

projetos de vida, entendendo a vida para além da simples ausência de doença, mas vida

como pluralidade, como inauguração de novas possibilidades, como impossibilidade de se

totalizar em modelos” (GALETTI, 2004, p. 123).

Em Campinas S/P, as experiências dos Centros de Convivência foram

diversas e apoiadas nas diversidades dos territórios e necessidades das demandas

locais. Em 2005 pela necessidade de possibilitar o encontro das pessoas que

estavam promovendo a convivência na cidade e a fim de estruturar algumas

definições e diretrizes com objetivo de estruturação de política pública para estes

dispositivos, foi criado um Fórum de Centro de Convivência municipal que definiu

estes espaços como:

“(...) Dispositivos comunitários que compõe a rede substitutiva de

saúde mental, que convida os usuários dos serviços de saúde e

comunidade geral a vivência de laços sociais e afetivos. Sendo o objetivo:

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34

construir coletivamente espaços de convivência nos territórios capazes de

operar no fortalecimento de vínculos solidários, através de práticas que

promovam a cultura, educação, saúde e lazer, garantindo a singularidade

de cada um no acolhimento e desenvolvimento de potencialidades”

(Definição coletiva – produto Fórum Centro de Convivência Campinas) 29.

A prática destes dispositivos tem se mostrado um importante recurso de

produção de saúde e fortalecimento de cidadania das pessoas que lá frequentam.

Nota-se através de observações dos diferentes espaços em Campinas, um

aumento significativo das redes de suporte social, aumento na autoestima como

também maior empoderamento para autonomia e consequentemente para a

cidadania das pessoas envolvidas.

Em novembro deste corrente ano (2011) serão apresentados os resultados

de uma pesquisa de avaliação de Centros de Convivência, desenvolvida pelos

representantes do Fórum de Centro de Convivência em parceria com o Centro de

Educação dos Trabalhadores em Saúde – CETS, a fim de avaliar os efeitos das

ações oferecidas pelos Centros de Convivência aos usuários com objetivo de

legitimar os trabalhos desenvolvidos e reunir um instrumento para construção de

uma diretriz que aponte para política pública para este Serviço. Esta pesquisa

envolveu usuários, familiares, voluntários, parceiros, trabalhadores dos serviços,

gestores locais e municipais das secretarias de saúde, educação, esporte, cultura e

assistência social, para se criar minimamente um consenso deste potente espaço.

Nos Centros de Convivência e Cooperativas (CECCOS) de São Paulo a

prática também é oferecida na grade de atividades. As que eu pude tomar

conhecimento são no CECCO Vila Guarani, desenvolvida pela terapeuta

ocupacional Cathia Santos Soares Bereloni, e no CECCO Mooca realizada por

Maria Vilma Magalhães Carneiro, assistente social e por Laura Hiromi Abe no

CECCO Parque Previdência nas quais atuam de forma sistemática.

Em Campinas a prática das danças circulares em Centros de Convivência

deu-se de forma esporádica através de eventos temáticos. No entanto, a primeira

oficina sistemática de danças circulares ofertada em um Centro de Convivência foi

em 2005, que embasou o tema deste trabalho de conclusão de curso.

29

Definição apresentada no XXIV Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo, através da apresentação de pôster.

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35

Esta roda de Danças Circulares foi também à primeira oficina corporal ligada

as práticas integrativas sistematicamente oferecidas no Centro de Convivência

Toninha30, contribuindo desta forma, para sua reafirmação enquanto dispositivo

potente da rede de cuidado do Distrito de Saúde Noroeste situado na Praça dos

Trabalhadores, na cidade de Campinas/SP.

Os encontros ocorrem semanalmente com uma hora e meia de duração com

frequência crescente de participantes, que em média hoje abarca 25 dançantes. A

metodologia empregada para a oficina de Dança Circular tem por base: a) uma

dinâmica de acolhimento e harmonização grupal com utilização de cartas de

qualidades nos quais os integrantes são convidados a retirar a carta e após a

leitura relacioná-la com o seu estado atual31; e b) 4 Danças Circulares de diferentes

povos favorecendo uma intercomunição de significados, em torno de quatro a cinco

músicas e c) seguido de reflexões a cerca da experenciação corporal e

harmonização/fechamento final.

A fim de avaliar o impacto das oficinas do Centro de Convivência Toninha foi

realizada no final de 2008 uma pesquisa de opinião (Anexo 6) entre os participantes

através de perguntas estruturadas tal como: “Depois que você começou a participar

das atividades, você percebeu mudança e/ou benefícios (na saúde física, mental,

nas relações sociais, entre outras)? Quais? Na tentativa de identificar os benefícios

oriundos do trabalho de qualificação do movimento e integração proporcionada

pelas oficinas do Centro de Convivência Toninha. Outra forma de coleta de dados

foram através da avaliação processual reflexões da vivencia corporal das rodas de

dança circulares.

Nesta ocasião, o Centro de Convivência Toninha estava vivendo um novo

momento, de estruturação de serviço e a pesquisa de opinião foi importante na

ocasião para demonstrar a importância deste dispositivo para o município de

Campinas como novo espaço de articulação de saúde.

Os dados obtidos com análise da escrita dos depoentes foram apresentados

no XXIV Congresso de Secretários Municipais de Saúde do Estado de São Paulo,

através da apresentação em forma de pôster, intitulada: “As danças circulares na

30

Histórico encontra-se em anexo para melhor apropriação da potencia Centro de Convivência e a sua particularidade Anexo 5. 31

Dinâmica utilizada a partir do Livro Cartas dos Anjos: mensagens de inspiração e de meditação de Kathy Tyler e Joy Drake. Tal dinâmica é muito utilizada pela Fundação Findhorn, na Escócia, para desenvolvimento de trabalhos grupais.

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36

integralidade do cuidado: um caminho de autoconhecimento individual e coletivo”,

realizado no período de 21 a 23 de abril de 2010, em Campinas/SP. E

posteriormente apresentado no IX Encontro Brasileiro de Danças Circulares

Sagradas em Embu das Artes/SP.

Os resultados apontam que a partir da participação nas atividades do Centro

de Convivência e Cooperativa Toninha, em especial na oficina de Dança Circular,

ocorreram melhoras nos relacionamentos sociais devido ao fato de conhecerem

novas pessoas, estreitamento de laços afetivos, o reconhecimento da singularidade

de cada participante, através da interação entre as pessoas, o que tem gerado o

sentimento de união e comunhão entre elas, assim como, a ampliação da

comunicação. “(...) Mudou (minha vida) para melhor tive mais relações com as pessoas (...) e

danço (agora) apoiada no próprio grupo”. (Participante 1 e 2). Ressaltaram também que

as danças contribuem para um aprendizado constante e melhora psíquica, motora

(percepção corporal), e emocional favorecendo o autoconhecimento e interação do

corpo e mente. “(...) Percebi bastantes mudanças na saúde e na participação das atividades (...)

melhorou o meu emocional minha “psicoemocional” corpo em geral” (Participante 1 e 4). Para

os integrantes a oficina tem proporcionado mudanças interiores, pois facilita a

percepção dos seus sentimentos, aumentando o sentimento de felicidade,

estimulando novas sensações e “trocas de energias”. “(...) Eu me sinto mais feliz em

todas as coisas que tive conhecimento... (consegui) esquecer as próprias dificuldades, ser feliz”

(Participante 1 e 2).

Para eles, a percepção corporal e o acolhimento coletivo e individual, geram

o prazer de estarem em grupo, pois proporciona um caráter motivacional e

sensibilizador das emoções. (...) A mudança maior foi no meu interior (...) a cada aula eu fui

permitindo e aprendendo deixar os meus sentimentos vir à tona. Hoje eu sou muito mais feliz do que

era antes” (Participante 3). E a oficina também favorece aos integrantes valores

culturais, pelo fato das danças serem representantes de diversas localidades do

mundo. “(...) Nunca pensei em escutar uma música deste pais... E mais legal foi dançá-la”

(Participante 1).

Desta maneira, avalia-se que a oficina de dança circular tem proporcionado

aos demais frequentadores: a) o autoconhecimento através da meditação ativa,

favorecendo ao mesmo tempo relaxamento e disposição para o agir; b) a

cooperação, a integralidade, harmonia grupal e integração entre os participantes; c)

a expressão da afetividade e equilíbrio emocional; d) a melhora nos aspectos

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37

cognitivos como atenção, concentração e percepção; e) o fortalecimento da

memória operativa através de vivência lúdica; f) a melhora na coordenação motora,

na lateralidade, no ritmo, nas noções de espaço e tempo e no equilíbrio; g) o

desenvolvimento do repertório musical e cultural dos participantes e h)

favorecimento da noção de grupalidade sem perder a essência da individualidade.

Outro benefício que a roda tem produzido, que, no entanto necessita maior

avaliação, seria a harmonização do ambiente e “saúde” – da Praça dos

Trabalhadores que por muito tempo tornou-se um local ocioso e propicio somente

para as práticas ilícitas. Atualmente as pessoas sentem-se mais seguras para

transitar na Praça, assim como estão mais cuidadosas com os espaços públicos

quanto a sua conservação e embelezamento. Em consonância com esta produção

localizei em Maria-Gabrille Wosein uma aproximação dos achados na qual

destaque que “(...) o ser humano que se conecta novamente ao centro de vida pela

vivência da dança na comunidade, pode, enquanto transformador, atuar sobre o seu

ambiente, aprimorando-o” (Wosien, M-G., 2002, p. 66).

1. 7. De uma intervenção individual a uma proposta coletiva:

danças circulares sagradas como potente recurso... Um

pouco de histórias

É possível um objetivo do atendimento terapêutico ocupacional individual se

tornar em um instrumento de favorecimento coletivo?

A princípio a pergunta parece deslocada de contexto e fora da realidade

cotidiana dos atendimentos propostos em saúde mental. A desconexão nos remete

a imagem de uma pessoa esquizofrênica e foi exatamente está predefinição que

me direcionou a uma abordagem terapêutica ao caso que irei relatar.

Em janeiro de 2004 estava com horas expandida devido também a vinculação

com outra forma de contrato, Puc- Campinas, pois estava neste período fazendo a

cobertura de férias da docente da universidade que fazia supervisão a alunos de

terapia ocupacional na mesma unidade onde estava lotada na prefeitura.

O primeiro caso para acompanhamento foi de W.V, na época com 34 anos com

diagnóstico psiquiátrico de esquizofrenia paranoide. O acompanhamento do caso

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havia sido uma solicitação do Centro de Atenção Psicossocial da região, serviço de

parceria estreita com Centro de Saúde em questão, pois desde sua inserção no

serviço poucos manejos foram possíveis ao longo de 10 anos, pois o usuário não

aceitava qualquer tipo de aproximação e já havia passado por inúmeras

internações psiquiátricas traumáticas.

A esquizofrenia segundo site de psiquiatria geral é um severo transtorno do

funcionamento cerebral que caracteriza-se como:

“(...) essencialmente definido pela presença de diversos sintomas entre um

grupo de sintomas característicos, acompanhados por uma deterioração

funcional significativa durante um período de tempo relativamente longo e

constante (variando de 1 a 6 meses, dependendo da definição que está sendo

usada). Em geral, os sintomas característicos permanecem por muito mais tempo

e, muitas vezes, alguns persistem pelo resto da vida da pessoa. A combinação

de incapacitação significativa, que começa cedo na vida, com a cronicidade da

doença tornam a esquizofrenia um distúrbio particularmente trágico para muitas

pessoas. Ademais, ela é bastante comum, ocorrendo entre 0,5 a 1% da

população. Esta combinação de características – comum, severa e pervasiva em

seus efeitos – torna a esquizofrenia “o câncer da psiquiatria” .(...) Comumente, os

sintomas positivos incluem delírios, alucinações, fala desorganizada e

comportamento desorganizado e bizarro. Estes sintomas representam distorções

ou exageros das funções cognitivas ou emocionais normais. Enquanto os

sintomas positivos da esquizofrenia são, muitas vezes, exuberantes e atraem a

atenção para a doença do paciente, os sintomas negativos tendem a prejudicar a

capacidade da pessoa de levar uma vida cotidiana normal. Estes sintomas

tendem a impedir que os pacientes esquizofrênicos mantenham relacionamentos

familiares normais, frequentem escolas, mantenham um emprego ou formem

amizades e relacionamentos íntimos (NICOLAU, P.F, s/ ano, Disponível em

http://www.psiquiatriageral.com.br/esquizofrenia/aprendendo01htm> Acesso em

23 de out. de 2011).

Diante de um cenário nada propício e taxativo de impossibilidades, me

aventurei sem predefinições e estratégias para abordagem do caso. Embora

soubesse como profissional da saúde mental as complicações e dificuldades na

abordagem terapêutica diante do caso. No entanto, não foi esse norte que me

conduziu até a casa de W. V.

No contato prévio com sua mãe para marcação da consulta domiciliar fui

orientada que nenhuma abordagem com seu filho tinham dado certo, mas se eu

quisesse tentar, não seria ela que iria impedir. Mesmo ainda com está negativa, eu

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estava disposta a achar alguma brecha de possibilidade, pois estava sendo guiada

pela crença do potencial de desenvolvimento humano que toda pessoa abarca.

Ao chegar ao seu domicílio fui recebida por L.V, mãe do caso referido, que

disse que o mesmo estava no quarto e se recusava a sair. Aos poucos fui

conhecendo as dependências e dialogando com sua mãe, conhecendo e me

fazendo conhecer naquele espaço novo e imprevisto. Em um dado momento, sua

mãe apresentou um cômodo externo relatando que W. V. havia ajudado seu pai a

construir. Aproveitei a brecha e comecei a perguntar da sala para o quarto, onde

ele estava, se ele realmente havia feito? Ele respondeu positivamente e a partir

deste momento o diálogo se tornou possível, mesmo em cômodos totalmente

diferentes. E o produto desta aproximação foi que na próxima semana ele mesmo

iria mostrar para mim como havia feito aquele espaço.

Os atendimentos seriam de 1 hora e meia de duração semanalmente e o

inesperado se cumpriu na semana seguinte. W. V. estava me esperando para

mostrar a sua feitura. Havia tocado um núcleo que até então estava adormecido

pelo perfil da doença e pela sua descrença e de seus familiares que alguma coisa

poderia ser mudada.

Aos poucos os atendimentos terapêuticos ocupacionais foram ganhando vida e

a participação da família (pai e mãe) neste espaço foi de extrema importância,

devido à segurança que W. V. tinha na figura familiar, como também a segurança

que a família precisava adquirir com a minha presença.

Uma das primeiras atividades propostas foi a leitura comentada de um livro

sobre cuidados com a saúde, de uma gerontóloga chamada Alda Ribeiro. A saúde

neste sentido começou a aparecer, primeiramente através de aspectos mentais, na

análise do livro sobre as implicações da saúde e posteriormente nos aspectos

corporais, sociais e relacionais. Na medida em que íamos avançando nos capítulos

W. V. também foi se permitindo a experimentar outras práticas que pareciam

impossíveis a um esquizofrênico recluso a um quarto de sua casa. Os

atendimentos eram construídos também como desafios, de experimentações em

sair do que estava estabelecido: “é assim e sempre será?” Para vamos tentar. Após

a leitura da parte do livro, a autora falava da importância da caminhada como

produtora de saúde e aproveitando esta deixa, propus a W. V. que no próximo

atendimento domiciliar iriamos caminhar. Seria a primeira tentativa de sair do

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espaço protegido de sua residência, que segundo informações de sua mãe a muito

não acontecia. Na semana seguinte aconteceu a caminhada, sem maiores

dificuldades.

Um fator importante foi que a dinâmica proposta de atendimento em conjunto

com seus familiares possibilitou que W. V. se aproximasse de seu pai, que há muito

não o legitimava como tal, devido à desconexão da doença. E a partir desta

aproximação foi possível que duas vezes na semana, pai e filho, começassem a

fazer caminhada no entorno do quarteirão da residência.

Outros livros foram lidos e os comentários ganhando riqueza de detalhes e

pensamentos que diria no mínimo filosóficos e de grande profundidade. Um livro

importante foi “Vivendo, amando e aprendendo” de Leo Buscaglia, um livro que

avalio como envolvente e que traz reflexões a cerca da vida de uma forma simples,

mas profunda.

Enquanto terapeuta ocupacional me emprestava como elo forte da realidade

para W. V. e concomitante a atividade reflexiva sempre propunha também

atividades expressivas e artísticas, embora com maior resistência.

Para minha surpresa, W. V. se interessou pelas danças circulares, em um dado

momento do atendimento na qual falava de “o encontro consigo mesmo” e a busca

da essência de cada um. Aproveitei a oportunidade de ressaltar outras práticas

corporais, além da caminhada, que propunham esta busca que tanto falava. Assim,

nos próximos atendimentos analisamos criteriosamente as diferentes gravações da

Meditação do Sol, ou Dança do Sol, coreografia de Bernhard Wosien, através de

uma cantata de Bach, (concerto para cravo, Ré Maior, Adágio).

Como se familiarizava ainda com fita k-7 realizei para W. V. a gravação na

mesma para que pudesse manusear seu gravador para escutarmos as versões da

música. No atendimento seguinte dançamos todas as versões de mãos dadas em

seu domicílio. W. V. teve grande aceitação, neste momento, a resistência maior

estava em seus familiares que não se propuseram a dançar. Nasceu desta

experiência o embrião da oficina de dança circular que iremos relatar adiante.

Os atendimentos estavam ficando cada vez mais ricos, seus sintomas

produtivos estavam amenizados e a integração familiar acontecendo

gradativamente. No entanto, ainda não havia favorecido que W. V. estabelecesse

contato com outras pessoas além de seus familiares.

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Após um ano e meio de atendimentos semanais em seu domicílio, outra brecha

foi possível. Havia ganhado no final do ano de sua mãe duas gravuras de pinturas

famosas e uma delas era: “O homem feliz”. Posteriormente, mandei colocar

molduras nas gravuras e trouxe para W. V. ver como tinha ficado, mas demonstrei

temorosa, ressaltando que teria dificuldades de pregá-las na sala do Centro de

Saúde. Para minha surpresa W. V. reafirmou que iria pregá-las para mim.

A partir desta oportunidade do viés do fazer os atendimentos domiciliares

migraram para atendimentos individuais no Centro de Saúde, sendo um grande

salto para o caso em questão.

Os atendimentos ganharam qualidade devido à diversidade de matérias que

poderíamos trabalhar no espaço terapêutico ocupacional e bem como na

aproximação de W. V. com outras pessoas, como na espera do atendimento na

sala de espera.

Mas estava na hora de produzir novos espaços que ultrapassassem as

fronteiras da saúde, dos atendimentos propriamente dito, para um contexto mais

ampliado de produções de relações, vida além dos aspectos tradicionais de saúde.

Desta maneira, criei a oficina de dança circular no Centro de Convivência que

ocorreria no horário posterior ao seu atendimento individual no Centro de Saúde.

Como os espaços eram próximos eu realizaria após a consulta o acompanhamento

terapêutico para W. H. para a oficina, que estava prevista para acontecer na casa

de Cultura Tainã.

Desta maneira, com objetivo de ampliação do projeto de vida de V.W. bem

como o favorecimento de suporte socio emocional e ampliação da comunicação

verbal e não verbal através do movimento de qualidade grupal a oficina de dança

circular inaugura-se.

E muitas foram as histórias de aproximações de diferentes seguimentos, a

ajuda incansável da docente da Puc-Campinas Denise Mulati e suas alunas e

aprimorandas de terapia ocupacional e principalmente da possibilidade de trocas

interpessoais que W. V. foi estabelecendo através do resgate da confiança no

outro, a integração espontânea de sentimentos no estar em outro espaço que

gerasse saúde, mas não estritamente na forma convencional de atendimentos. O

que antes se apresentava como corpo e mente cindido pelo processo de doença,

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agora estava inserido em um ambiente de trocas afetivas e novos desafios e

integração gradativa de corpo, mente emoções.

Os atendimentos individuais, a inserção em uma nova prática de saúde como a

oficina de dança circular, a confiabilidade familiar no trabalho desenvolvido e os

medicamentos propostos pela médica do serviço especializado contribuíram para

melhora significativa do caso referido, com a diminuição de sintomas produtivos e

negativos, e em especial a partir do início dos atendimentos até o presente

momento W. V. não precisou de espaços mais protegidos como dos leitos

psiquiátricos e nem de qualquer forma de contenção para seu manejo. Aos poucos

além de participar da oficina destacada começou a frequentar um projeto de

geração de renda da região, incialmente com bastantes resultados positivos, pois

havia conseguido estar em um espaço de trabalho significativo.

Aos poucos, foi migrando cada vez mais para oficinas de convivência, por maior

identificação, saindo do projeto de geração de renda, e frequentando outras oficinas

como teatro, oficina ambiental, passeios externos entre outros. E a sua

continuidade na oficina de dança circular é marcada até a atualidade e cada vez

mais demonstrando confiabilidade no grupo e trocas afetivas com os participantes.

Embora os benefícios relatados estivessem focados no caso em questão, a

abertura desta oficina proporcionou para comunidade uma possibilidade de cuidado

em saúde e trocas sociais diferenciadas. Aos poucos os resultados levantados

ajudaram a conduzir discussões no território e com gestores da saúde sobre a

importância da sistematização das atividades para consolidação do Centro de

Convivência, como um serviço comunitário e de saúde.

Desta maneira, para Glaucia Helena C. B. Rodrigues:

“(...) quando se dança a dança de todos os povos, cria-se uma nova

identidade cultural universal, onde se vivencia a ideia da Unidade do

mundo, e se trabalha de forma incessante pela PAZ. Ao mesmo tempo, a

dança em grupo, com sua sequencia cadenciada e rítmica, proporciona

maior ordem, harmonia e alegria individual e coletiva” (RODRIGUES,

1998, p. 45).

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CAPITULO II

PESQUISANDO A DANÇA CIRCULAR EM UM CENTRO DE

CONVIVÊNCIA EM CAMPINAS/SP

Descortina-se através desta pesquisa a possibilidade de trazer ao público

esta vivência que tem sido tão rica e gratificante do ponto de vista de uma

profissional da saúde mental, assim como focalizadora de danças circulares, que

tive a felicidade de construir ao longo da história desta oficina.

Desta forma a pesquisa resultante do trabalho de conclusão de curso

pretende-se:

OBJETIVOS GERAIS:

Descrever as memórias coletivas da oficina de danças circulares do Centro

de Convivência Toninha.

Verificar os significados e sentimentos individuais e grupais acerca da

participação em uma oficina de dança circular.

Objetivos específicos

Verificar o grau de satisfação dos integrantes ao participarem de uma oficina

de dança circular sistematicamente.

Identificar as motivações para integrarem em uma oficina de danças

circulares.

MÉTODO

Sujeitos/dançantes

Os sujeitos dessa pesquisa fazem parte dos bairros de abrangência dos

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Centros de Saúde: Integração e Agápio de Aquino Neto, correspondendo a: Vila

Castelo Branco, Jardim Garcia, Jardim Londres, Vila Padre Manoel da Nóbrega e

Jardim Paulicéia, Jardim Campos Elíseos. Estão localizados - pela divisão da

Secretaria da Saúde do Município de Campinas, na região Noroeste de Campinas,

SP.

Por se tratar de uma roda aberta para experiência da coleta dos dados todos

os integrantes que ali estiveram e dispostos a colaborar com a pesquisa foram

incluídos, não havendo para esta pesquisa uma definição prévia de sujeitos.

Participaram desta pesquisa 28 dançantes com idades que variam de 30

anos a 85 anos, com participação do público geral, pessoas com deficiência e

pessoas com transtornos psíquicos. Desta forma, mostra a heterogeneidade das

oficinas do Centro de Convivência em especial da oficina de dança circular. Como

toda e boa oficia “aberta” acolhemos diversas situações e problemáticas do

universo humano, que embora sejam fatores concretos, são amenizadas pelo

contexto grupal e igualitário que a roda provoca, mas sem, no entanto, mascarar a

situação posta, como da limitação de uma deficiência: visual, mental, motora, com

sequelas de tratamento de câncer e Parkinson e outras. Assim como pessoas com

transtorno mental, como esquizofrenia, depressão severa, ansiedade e outros e

demências senis. Desta maneira, a roda é constituída de pessoas interessadas em

dançar de forma conjunta através da metodologia das danças circulares.

Contamos com pessoas do sexo masculino e com predominância do sexo

feminino, moradores dos bairros acima descritos e a média de permanência é muito

variável por se tratar de roda aberta, pois existem pessoas que estão desde o

começo da oficina há seis anos , outras há seis meses e outras ainda que estejam

apenas há um dia.

PROCEDIMENTOS

Colhendo ... também depoimentos, emoções e sentimentos

O estudo realizado valeu-se da metodologia qualitativa, “termo genérico que

abrange uma multiplicidade de suportes filosóficos e métodos de pesquisa, onde as

informações são reunidas formando um mosaico de experiências humanas” (Lobiondo-

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Wood & Haber, 2001, p. 123). Desta maneira, não se trata de um processo

acumulativo e linear, mas de idas e voltas, dentre as diversas etapas da pesquisa e

na interação com seus sujeitos (CHIZZOTTI, 1998).

Tal pesquisa aproxima-se da estratégia de pesquisa ação, pois agregou

vários métodos ou técnicas de pesquisa social, estabelecendo uma estrutura

coletiva, participativa e ativa ao nível da capacitação de informações. Assim os

sujeitos foram envolvidos simultaneamente para transformar a realidade

(THIOLLENT, 2000). O método cria condições favoráveis para combinações de

técnicas apropriadas aos objetivos da pesquisa através da utilização de técnicas de

grupos para lidar com a dimensão coletiva e interativa da investigação. O

pesquisador nesta metodologia se faz participante. Desta maneira a pesquisa:

“(...) pode ser vista como modo de conhecer e de organizar uma

pesquisa social de finalidade prática e que de acordo com as exigências

próprias da ação e da participação dos atores da situação observada

(THIOLLENT, 200, p. 26).

Neste sentido, de agregar as técnicas favoráveis para a investigação dos

dados utilizei a principio a metodologia do grupo focal que se constitui como

importante recurso para coleta coletiva de informações em pesquisa qualitativa, o

que possibilita o reconhecimento de si nos outros integrantes da coleta, ao

favorecer a experiência grupal. Dados que poderiam ser negligenciados nos relatos

individuais são revistos, ou relembrados no depoimento grupal. Essa técnica

favorece um diagnóstico rápido, pois os depoimentos são realizados no momento

grupal (ANDRÉ & SPINOLA 2002).

A técnica de avaliação a cima citada, requer um moderador, muitas vezes, o

próprio pesquisador, para favorecer a participação de todos. Também se sugere a

presença de um observador para colher informações importantes do momento

grupal, que poderiam passar despercebidas pelo moderador. Além de anotações,

usa-se o gravador para facilitar a avaliação do conteúdo coletado (ANDRÉ &

SPINOLA 2002).

Neste sentido como observadores dispus do auxilio de uma estagiaria de

psicologia do Centro de Convivência e Cooperativa Toninha e um terapeuta

ocupacional, que em 2010 teve forte aproximação com a oficina devido ao

aprimoramento profissional ligada a Puc-Campinas em parceria com a Fundação

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de Desenvolvimento e Apoio a Pesquisa - FUNDAP realizado no serviço.

Para apreciação da temática além dos registros imagéticos e memoriais que

foram obtidos ao longo destes seis anos através de avaliações processuais bem

como de reflexões da vivência corporal ao longo destes foi elaborado um

instrumento que constituiu de depoimentos orais de forma grupal dos participantes

de maneira a compor e valorizar versões da história do surgimento da oficina e os

significados atribuídos aos integrantes ao participarem sistematicamente das rodas

de danças circulares.

Para composição dos relatos a técnica de grupo focal foi utilizada através de

três perguntas disparadoras norteadas pelo objetivo da pesquisa como: a) quais as

memórias do surgimento da roda e outras pertinentes, b) qual o significado de

participar da oficina de dança circular, e c) e após o grupo elegerem três músicas

que marcaram as oficinas, quais os sentimentos atribuídos aos movimentos de

cada dança circular (Anexo 9).

E como parte da técnica do grupo focal para busca de novos olhares para

pesquisa, foi sugerida ao grupo à montagem de uma imagem para registro de uma

fotografia que melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo

dançando.

Escolhi para registras as pessoas e os dados que para esta pesquisa se

mostraram importantes, de forma diferencial, mas utilizada nas dinâmicas grupais,

um acolhimento inicial32, incluindo: a) nome (identificação), o tempo que frequenta a

oficina, c) o que eu trago para roda e d) o que eu levo da roda, para valorizar os

conteúdos internos que cada dançante dispõe, além de observar os efeitos através

de qualidades após a vivência na oficina.

Levei também em consideração as observações grupais ao longo destes seis

anos para a interpretação dos dados a partir de ilustrações de episódios e registros

imagéticos relevantes.

Local

O local escolhido para os relatos grupais foi o salão Multiuso da Casa de

Cultura Tainã devido a maior tranquilidade, privacidade e pela diminuição de

possíveis ruídos, pois a oficina habitualmente acontece na Quadra Coberta da

32

Baseado em uma dinâmica de grupo do livro “Descoberta Divertida: uma abordagem da Fundação Findhorn para desenvolver a confiança nos grupos”, de David Earl Platts, da editora Triom.

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Praça dos Trabalhadores, sendo um local de grande trânsito de pessoas.

O local também servirá como disparador de memórias por constituir o

primeiro espaço oficial da origem da oficina.

Aspectos éticos

O projeto foi submetido ao Comitê de ética e Pesquisa da Faculdade Campos

Elíseos com aceite na sua aplicabilidade, vide Anexo1 e 2.

Os participantes foram convidados a participarem da pesquisa na própria

oficina, com objetivo de verificar o interesse em participar do estudo.

Nesse contato os participantes foram:

Convidados para participar do estudo

Informados sobre o a) objetivo do estudo, b) a instituição pela qual o

estudo está vinculado e assim como as c) as razões pelas quais foram

convidados a participar.

Motivados a participar com base na importância de sua colaboração por

“fazerem a roda acontecer”

Assegurados sobre a divulgação dos dados contidos nos depoimentos de

acordo com o termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em Anexo 7.

Os dançantes, foram identificados com targetas (Anexo 8), de forma a

contribuir com a organização da transcrição dos dados, e principalmente

para não serem identificados com o seus nomes.

Informados sobre a possibilidade posterior de divulgação dos resultados

em eventos e publicações científicas.

Retorno para os depoentes do material transcrito.

Apresentação da versão grupal final da pesquisa para o grupo

pesquisado.

As entrevistas foram gravadas em gravador digital e filmadora, após

autorização dos mesmos, em um ambiente tranquilo, para garantir fidedignidade

dos relatos. Assim como fotos foram tiradas ao longo da pesquisa para vivificar os

acontecimentos para o resultado final.

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ORGANIZAÇÃO DAS INFORMAÇÕES

Baseado em Turato (2003), o tratamento e apresentação dos dados em

pesquisa qualitativa seguem algumas fases com: (a) preparação inicial do material

– transcrição das falas gravadas em fitas e das anotações de campo do

entrevistado para arquivos de computador; (b) pré-análise - realização da leitura

flutuante, (c) categorização e subcategorização – destacamento dos assuntos por

relevância e/ou por repetição e eventuais reagrupamentos; (d) validação externa –

supervisão com o orientador da investigação, discussão de seus pares em grupos

de pesquisa; (e) apresentação dos resultados – de forma descritiva e com citações

ilustrativas das falas, interpretando esse material.

Os depoimentos e outras informações foram analisados dentro do paradigma

fenomenológico, através da análise reflexiva das informações que as pessoas

contam. Somadas aos outros conhecimentos obtém-se um ponto de ancoragem

para retraçar o que foi vivenciado: as relações interpessoais, o contexto e os

significados a ele atribuídos. A investigação fenomenológica busca um significado

central, dentro do recorte temático escolhido, através das narrativas que as

entrevistas trazem (GIORGI, 1978, KVALE, 1997). E “estabelece um conjunto de

reflexões que permitem indagar sistematicamente os conteúdos de consciência,

privilegiando os dados experienciais” (TURATO, 2003, p. 440).

Pretendi identificar e organizar o conteúdo das entrevistas em unidades

significativas (GIORGI, 1978) a partir do referencial teórico adotado com vistas a

favorecer a compreensão, basicamente, das memórias significativas do surgimento

e do acontecer da oficina de dança circular coletivamente, os significados por eles

atribuídos ao participarem da oficina e os sentimentos atribuídos ao dançarem

coreografias preferidas relacionadas com sua vivência.

As fotos tiradas ao longo da pesquisa foram utilizadas no corpo do trabalho

para ilustração dos depoimentos bem como se deu a preparação da entrevista.

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CAPÍTULO III

Produto grupal

O material da coleta grupal foi analisado a partir da análise fenomenológica,

destacando as unidades de significados que emergiram a partir das falas dos

dançantes individualmente e coletivamente e também através dos movimentos

corporais expressos nas danças e na intensificação de emoções nas falas,

conforme material da filmagem. E depois as unidades significativas foram

aglutinadas em temas.

Primeiramente, destaquei a contribuição de cada participante ao integrar

uma oficina de dança circular, material extraído da dinâmica inicial de acolhimento

para valorizar a bagagem que cada dançante traz no contexto circular e os

benéficos atribuídos por eles ao final de cada oficina, ou o conjunto das vivências.

No segundo momento, destaquei a versão da história referida pelos

dançantes e fotos que registraram estas passagens como forma de assegurar uma

versão coletiva do surgimento e principais acontecimentos da oficina de dança

circular.

Na sequencia, interpretei os significados atribuídos pelos dançantes ao

participarem da oficina.

E por último abordei os sentimentos relacionados às músicas que

elegeram como as que mais marcaram a oficina e outros relacionados a vivencia

desses seis anos.

Interpretando os resultados

O que eu trago para a roda

A figura abaixo representa de forma figurada as qualidades atribuídas pelos

dançantes, o que trazem de si, ou seja, o seu melhor para compor um Todo

harmonioso e cooperativo. As palavras com maior repetição encontram-se em letra

maiúscula.

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Esperança

Cooperação

ALEGRIA

Vontade

CARINHO

AMOR

AMIZADE

União

Convívio

Paz Bondade

Força

Figura 1: Representação das qualidades que eu levo para a roda.

As qualidades trazidas que mais se repetiram foram: amor, carinho, amizade

e alegria.

Outras se mostram interessante como abundância, que segundo o Livro

Cartas dos Anjos, significa cultivar “uma atitude generosa e aja como se existisse

fartura para você e para todos, em todos os lugares. Doe generosamente e

livremente” (TYLER e DRAKE, 2011, p. 36), tema que abordo as relações afetivas e

sociais que vão sendo traçadas com a participação na oficina.

As qualidades permearam sentimentos valiosos que são fundamentais para

trabalho grupal, relacionam-se ao convívio, cooperação, sentimento de união,

doação, “ajudar quem não pode dar um passo” (dançante 13), compaixão e bondade.

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As qualidades que se referiram a conteúdos internos que segundo o

dançante 15 protagonista do surgimento da roda retrata: “essa energia de dentro que

faz girar a vida ... do eu interior” . Como a: coragem, força, muita vontade, paz,

carinho, amor, agradecimento, bondade e curiosidade.

Mesmo diante das dificuldades cada dançante pode trazer com bastante

emoção as qualidades que eles dispõem para estarem em grupo, em roda

dançando. Assim a dançante 4 relatou: “trago amor, paz, carinho...eu já sofri muito,

mas graças a Deus agora eu estou na Paz” (dançante 4) e como outra dançante : “vim

por porque eu andava muito triste... por questão emocional. Trago amor e carinho”

(dançante 7).

Ao colocar as pessoas como parte integrante na melhora de suas

dificuldades, trazemos aos sujeitos a possibilidade de autoconhecimento ao

descobrirem que mesmo na diversidade e na dificuldade na qual a vida nos impõe,

seja por uma doença, perda de pessoas querias ou por limites sociais, as pessoas

são autores na sua busca por saúde, bem estar ou qualidade de vida, assim como

queiram definir.

As danças circulares enfatizam a presença de cada um como constituintes

de uma roda, de um todo. A percepção de qualidades que eu posso ofertar a este

espaço constitui de princípio um movimento de autoconhecimento, na medida em

que favorece entrar em contato com minha parte essencial, pois mesmo em

condições adversas o ser humano é capaz de se perceber integrante e contribuinte

de uma dada realidade. Ao mesmo tempo em que a roda nos transforma também

vamos transformando-a através de minha bagagem, a partir de uma movimentação

cíclica, sem ponto de partida e nem de chegada.

O que eu levo da roda

A figura abaixo representa de forma figurada as qualidades ou os benéficos

que a roda de dança circular produz em suas vidas. Assim como a Figura 1 as

palavras com maior repetição encontram-se em letra maiúscula e as qualidades

trazidas encontram-se no centro, compondo a especificidade desta roda.

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FELICIDADE Contentamento

BEM ESTAR

Autoconfiança Disposição

ALEGRIA

Motivação

Vontade

CARINHO

AMOR

AMIZADE

Oração

Tranquilidade

Transformação

PAZ RENOVAÇÂO

Força/Energia

Figura 2: Representação das qualidades do que eu trago da roda.

A dinâmica proposta se mostrou eficiente para que os dançantes pudessem

trazer conteúdos de seus benefícios ou efeitos que a roda produz ao participarem

da oficina de danças circulares.

As qualidades que mais apareceram foram: amor, felicidade, alegria,

amizade, carinho, bem estar e renovação.

A oficina apareceu como um espaço de enfretamento de estressores

expressa na fala da depoente 8, ao se espelhar nos exemplos das pessoas do

grupo: “o exemplo de cada um que dá força para continuar a luta de cada dia”.

Cooperação, vontade, amor, união, esperança, alegria, amizade, convívio, paz, força, bondade.

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Assim como o depoente 15, o incentivador da origem da roda, que expressa

ao participar da oficina adquiriu: “mais confiança no grupo”, ou seja, ressignificou a

sua condição de isolamento para se aventurar na relação com o outro.

Outro aspecto importante seria que uma depoente entendeu os benéficos e a

roda como uma oração, devido à comunhão entre as pessoas e de se pensar

coletivamente o bem para a humanidade.

Com maior detalhamento as qualidades atribuídas são próximas aos

conceitos de saúde e qualidade de vida: disposição, felicidade, alegria, motivação,

renovação, transformação, paz e bem estar e no que tange a enfrentamentos de

estressores, como suporte social destacam-se qualidades como: sentimento de

amizade, companheirismo e confiança no outro.

Outras qualidades que necessitam de outros campos de saberes também

foram expressos como levar consigo muita luz e energia, mas que também estão

ligadas com conceito de saúde a incluir em seu arcabouço os aspectos de

religiosidade, como proposta pela Organização Mundial de Saúde e pela

Classificação Internacional de Funcionalidade em 2003.

A roda e sua história

“(...) Ao dançar em roda, o indivíduo coloca-se em contato com o seu

corpo em movimento, com o seu ser em expressão e com o grupo,

estabelecendo e transformando suas relações sociais. É um instrumento

para a ampliação da consciência individual e grupal” (COSTA, 1998, p.

22).

Como abordado anteriormente está oficina de dança circular teve origem a

partir da necessidade de ampliação do repertório socio emocional de um caso

clínico atendido em um Centro de Saúde.

Inicia-se desta maneira no dia 26 de fevereiro de 2005 às 10 horas e 30

minutos na Casa de Cultura Tainã (cartaz de divulgação em Anexo 9) , relembrado

por um dançante: “a primeira vez que dançamos foi na biblioteca, na Tainã em 2005”

(Dançante 1).

A roda sempre teve objetivo de ser aberta, porém a aproximação das

pessoas aconteceu de forma gradativa e inicialmente com a participação em maior

número de pessoas acompanhadas por profissionais da saúde mental. Era também

composta pela docente Denise Mulati e suas estagiarias de terapia ocupacional da

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Puc-Campinas, que davam suporte importante para a facilitação da roda, devido ao

número expressivos com pessoas com dificuldades na imagem corporal.

Aos poucos a oficina foi transferida para o salão multiuso da casa de Cultura

Tainã, possibilitando melhor acesso e ampliação da roda. A oficina também era

levada para atender eventos temáticos e comemorativos, sendo uma metodologia

interessante para que novas pessoas pudessem entrar na roda.

Imagem 1: Imagem das primeiras oficinas de dança circular

A roda uma vez aberta não deixou de existir. Mesmo em uma licença

gestante que precisei me afastar em 2008 por seis meses o grupo continuou a se

reunir e novas expansões aconteceram. Para tal iniciativa, um mês antes de sair

definitivo promovi em parceria com a focalizadora Janaina Campos uma

capacitação para iniciantes, através de 12 coreografias para aprimorandas de

terapia ocupacional e estagiarias que continuariam o trabalho, bem como a

capacitação do Dançante 1, que desde a origem da oficina demostrou facilidade

com os passos, boa memória para história das coreografias e por ser um facilitador

na oficina, expresso em seu relato: “E ensino a dançar.... ensinar para mais pessoas...

assim... quando alguém não sabe dançar, ajudo as pessoas com os passos” ( Dançante

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1).

O grupo também o elegeu como aquele que ajuda a ensinar expresso na

opinião da dançante 3: “(...) quanto alguém não sabe o passo as pessoas perguntam

para ele”. O grupo também se manifestou: “olhamos para o pé dele”....fico olhando

sempre para os pés dele. Vamos vigiar os pés do dançante 1. E a dançante 3

acrescenta sobre sua capacidade de memória: “(...) ele tem uma memória, não

esquece de nada, ele ensina...é impressionante” (Dançante 3).

No período da minha licença e com a expansão que o serviço Centro de

Convivência estava se propondo, a oficina passou a ser ofertada na quadra

Coberta da Praça dos Trabalhadores com objetivo de possibilitar maior participação

das pessoas uma vez que seria aberta e todos poderiam ver o seu funcionamento.

Segundo a percepção do depoente 1 a mudança de lugar foi: “ bem melhor ... para

conhecer mais pessoas achei que foi bem melhor, deu mais espaço para as pessoas,

fazerem amizade” (Dançante 1).

Imagem 2: Imagem que representa a mudança para a quadra coberta da praça dos

Trabalhadores.

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Com a mudança tivemos alguns benefícios e novos desafios, uma vez que

novamente as danças circulares eram desconhecidas para muitas pessoas e de

princípio causavam estranhamentos. A roda neste momento passou a apresentar

nova configuração, como ampliação da população em geral e as coreografias

passaram novamente por aquelas de maior facilidade na aplicação e o aumento

das músicas de pares.

“(...) Achava estranho ficar em roda e a Isabel foi explicando para gente,

hoje faz parte da minha vida. Quando não tem, quando a Denise tira

férias ou acontece alguma coisa, parece que está faltando alguma coisa.

Porque eu já levanto feliz, cantando. Não é ser puxa saco não Denise,

sou suspeita de falar, é porque eu gosto mesmo. Eu amo as danças

circulares (Dançante 3).

Como estávamos em uma quadra dentro de uma Praça de Esporte a ideia

inicial das pessoas não era participar da oficina de dança circular, pois estas davam

preferencia à ginástica como recurso para potencializar sua saúde e

emagrecimento. Mesmo porque a modalidade não era conhecida por todos. Essa

questão foi expressa pela depoente 23: “(...) Quando eu conheci não achava muito

legal... foi acontecendo, vai conhecendo as danças de outros lugares...” (Dançante 23).

A motivação para entrada na oficina também aparece de diferentes

maneiras. Pela curiosidade do convite de sua amiga “(...) É a primeira vez que eu

venho... vim mais pela curiosidade pela curiosidade de conhecer o grupo... hoje eu vim

para ficar mais nos aparelhos, fazer caminhada, mas mudei” (Dançante 19). Pelo

cadastro do Centro de convivência que divulgou a oficina: “(...) É a primeira vez que eu tô

vindo aqui, eu gostei muito... e fiz amizade com todo mundo (...) Fiquei feliz de dar certo

aqui, porque eu sou assim uma pessoa muito sofrida, Gostei muito...da roda. ...e estava

precisando ficar assim em roda” (Dançante 12). Ou pela orientação médica: “(...) vim

por necessidade ...tive que vir por necessidade e gostei muito. Procurei alguma ginástica

para meu problema que tive, vim gostei, continuo vindo há 4 meses e estou aqui”

(Dançante 14). E até mesmo como forma de aprimorar outros aspectos: “(...) eu já

falei muito nesta vida... agora quero dançar” (Dançante 8, p. 12).

Os depoentes também trouxeram outros dois eventos marcantes da oficina.

O primeiro se refere à participação da oficina de dança circular na creche do bairro,

com objetivo de levar a experiência para as crianças, como também de trazer um

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novo conceito de itinerância e trouxe a tona aspectos intergeracionais.

“(...) Ainda no tempo da Isabel a creche nos convidou para fazer

roda...Normalmente as crianças dançam para os avós e lá dançamos

juntos...avó com neto...foi muito legal. lá foi o contrario, nos dançamos

para as crianças...foi uma coisa que marcou muito...jamais achei que

poderia acontecer” (Dançante 3).

O segundo acontecimento relaciona-se com a participação que a oficina teve

para filmagem do Ministério da Saúde através do Programa de Atenção Básica em

2010, que ainda não foi editada. (...) “Dançamos para a filmagem. A dança do mar

vermelho... Adorei! (referindo-se a música Al Achat)” (Dançante 2).

Também trouxeram das memórias as danças e seus estilos: “(...) A primeira

dança que dancei foi a “dança do sol” .Várias músicas me toca mais o que me tocou mais

foi Prisma (...) Gosto também de música agitadas da Irlanda...que faz tempo que não

dança” (Dançante 1). Ou: “(...) A dança em caracol? ...em seu ponto foco...bem

organizada...começo meio e fim” (Dançante 15). Também relataram o reconhecimento

da dança circular em outro espaço, demonstrando identificação: “(...) Em Holambra,

dançaram a Dança do Sol, eu vibrei. E eu fiquei batendo palma, dançando junto na plateia

e no final foram até me cumprimentar” (Dançante 13). E músicas que os tocaram

profundamente: “(...) todas as músicas que você coloca eu gosto muito, que você colocou

para abrir a primavera, no meu aniversário... como chama (sementes de amor)...me tocou

muito” (Dançante 14).

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A roda e seus significados

Figura 3: Desenho realizado como forma de expressão do que representa a roda

por uma integrante natural de Portugal e apresenta Síndrome de Down.

Os significados atribuídos pelos dançantes permearam toda a pesquisa.

Nas diferentes falas demostram a importância para eles em participar da oficina, no

que se referem à igualdade, cooperação, aspectos de produção de saúde, tanto

emocionais e como relacionais, busca de significados, aspecto do sagrado e outros,

das quais foram retratadas nas unidades de significados abaixo:

A roda representando a igualdade circular, cooperação e o encontro

com as diferenças:

Igualdade:

“(...) O círculo acolhe também a humildade” (Dançante 14, p. 13).

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“(...) Muito bom estar no meio de todo mundo... com diversidade...é muito

importante as pessoas poderem desabafar” (Dançante, 21, p. 6).

Cooperação:

“(...) Pra mim é muito importante, porque toda a semana abre com está

roda (...) toda segunda começa a semana. Pra mim representa muito

espirito de cooperação, tod0s aqui são importantes para fazer a roda.

Individualmente ninguém não faz nada sozinho” (Dançante 2, p. 1).

Encontro com as diferenças:

“(...) Busco sempre dar o melhor de si, ajudo quem não pode dar um passo, vou lá

ajudo, converso, ajudo... é gratificante” (Dançante 13, p. 4).

A oficina também evidenciada como produtora de saúde, nos

aspectos:

- Emocionais:

Para Céline Lorthiois a dança seria uma ajuda real, “(...) capaz de limpar

angustias e temores, de re-erguer após a exaustão, a morte, o fracasso” (LORTHIOIS,

1998, p. 31), como também são observadas nas falas a seguir:

“(...) Eu acho que essa roda de dança é como se fosse autoajuda, porque começa a

semana com está dança ...seria uma coisa de autoajuda é o começo de tudo. Essa dança

é uma forma de autoajuda no começo da semana... o começo de tudo” (Dançante 2, p.

10).

“(...) Procurava distração, tenho muito problemas...sou uma pessoa muito

sofrida, com muitos problemas com marido e coma menina também. Vim

para desopilar com se diz em Portugal, pessoas bocado deprimida para

conviver que vem para libertar um pouco para conversar, sair da rotina...

venho à procura do melhor...estava um bocado deprimida estava

deprimida...buscar o convívio com o resto das pessoas, tomar ar fresco,

melhorar. conviver...” (Dançante 27, p. 7).

Segundo Maris Stella Alvares Gabriel, “(...) quando se dança, a repetição dos

passos leva a um estado alterado de consciência, possibilitando às pessoas entrarem em

contato com seu interior mais profundo, com suas raízes, o que as remete à tranquilidade e

à quietude” (GABRIEL, 1998, p. 141). E a autora completa observando que a dança

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apresenta uma força curativa e para ela é explicado segundo o equilíbrio energético

do corpo através da regulação do tônus e por consequência a harmonização da

saúde psicofísica.

MURAKATA também completa que as danças sagradas ao entrarem em

contato com simbologias como círculo, o ponto, o centro, o lado externo, a espiral,

o labirinto, adquirimos “(...) a consciência de que, através dos movimentos corporais e,

principalmente, da intenção, podemos despertar e movimentar energias que equilibram,

harmonizam, curam e nos elevam, permitindo transcender nossa percepção comum”

(MURAKATA, 1998, P. 169).

- Relacionais - revendo aspectos da personalidade:

“(...) Era muito tímida e agora estou me soltando com a roda... e me sinto feliz” (Dançante

16, p. 3).

“(...) Venho e me sinto muito feliz graças a Dona Rosa que conseguiu me trazer

para cá...me sinto muito bem” (Dançante 9, p. 3).

Nestas falas pode-se observar que o desenvolvimento humano não

tem limites de idades, a todo o momento podemos nos rever, e essa flexibilidade

também é entendida como fator protetor de saúde para as pessoas. Desta forma, é

possível desenvolver-se mesmo no envelhecimento. Neri (1995) aponta a velhice

como uma condição social e individual, vinculada aos ideais e valores de sociedade

no ambiente em que o indivíduo envelhece. As histórias pessoais e de seu grupo, a

forma de engajamento social são fundamentais nesse processo. Assim, o

desenvolvimento pessoal não se completa ao atingir o grau máximo de maturidade,

como era entendido pelos estudiosos da psicologia do desenvolvimento até

meados do século passado, mas incorpora-se em uma constante busca de

aquisição de novas metas.

Oficina como espaço para evitar o isolamento - conviver:

“(...) Não gosto de ficar em casa. Adoro estar no meio de todo mundo. Me faz muito

bem (estar na oficina) e isso é a coisa mais importante (Dançante 4, p. 5).

“(...) No nosso mundo hoje existe muita falta de amor” (dançante, 20, p. 7).

“(...) Moro há 45 anos no bairro e a maioria das pessoas não conhecia...agora

(depois da oficina) estou conhecendo ... tendo amizades. (Dançante, 3, p. 9).

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Como destaquei no capítulo anterior as danças circulares promovem

benefícios à saúde e podem favorecer espaço de continência e de novos

encontros, contribuindo para efeitos positivos na saúde. As relações sociais

positivas funcionam como fator protetor a saúde (ANTONUCCI, 2001).

-Físicos:

“(...) Eu me sinto bem ... tá melhorando a minha caibra, fico contente” (Dançante 6,

p. 2).

Murakata conseguiu sintetizar os benefícios proporcionados pela dança

circular, que seriam eles: uma forma de meditação, um meio de alcançar outro nível

de consciência, forma de alinhar as energias, favorece a harmonização, e nos

conecta com a nossa divindade (MURAKATA, 1998).

Oficina favorece dançar os ritmos da vida:

“(...) Aquela vontade de estar junto e aquele desejo de estar

compartilhando cada passo., porque é um aprendizado. E assim cada

passo que a gente dá, agente percebe na própria vida da gente, são

passos que assim do que acontece no nosso dia a dia porque muitas

vezes não percebe, mas é muito lindo. Porque cada ritmo de dança, o

que agente dança é o que acontece na nossa vida, é o que acontece em

casa” (Dançante 20, p. 6).

A terapeuta ocupacional Ana Lúcia Borges da Costa também apresentou

semelhante apontamento percebido nas vivencias de danças circulares sagradas,

pois para ela os diversos ritmos e passos experimentados possibilitam “(...) uma

ampliação no repertório de movimentos de cada participante. Compartilhando com o grupo,

cria-se uma linguagem particular que se estabelece com a dança e que vai sendo decifrada

e assimilada por cada indivíduo à sua maneira” (COSTA, 1998, p. 22).

A dança e seus símbolos:

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Renata Ramos em 1998 já apontava que ao dançarmos os movimentos

circulares sagrados experenciamos simbologias universais e curativas. Para ela

quando transitamos em volta do Centro resgatamos forças para viver devido à

representação do Centro do Círculo como Fonte ou Deus. Os encontros e

desencontros também são simbolizados nas danças de pares. Segundo a autora

dançar de forma espiral traz a paz e tranquilidade e significa aceitar o ciclo de

morte e renascimento. Assim como o Círculo que formamos de mãos dadas

representam nossa vida, ou seja, nosso dia a dia (RAMOS, 1998). Os símbolos

também foram expressos pelos dançantes:

Amor:

“(...) Simbologia a gente tem que ter na própria vida da gente... às vezes

um botão de rosa, quando aconteceu, uma vez,(de ter trazido para o

centro da roda) , além do perfume ele trás uma simbologia muito

importante que o símbolo do amor, que a gente pode e deve compartilhar

uns com os outros...porque no nosso mundo de hoje o que existe é muito

falta de amor. Entre todos os irmãos... porque todo mundo é irmão, filho

de Deus...independente de raça, cor, independente de tudo” (dançante,

20, p. 7).

Dançar de mãos dadas:

Este ato que as danças circulares favorecem através da movimentação com

qualidade, nos remete segundo Luiz Carlos Nogueira Arad, a uma “(...) sensação do

toque e a consciência de que se continua a ser um indivíduo dentro de um grupo em

harmonia (...) e a tolerância e a sutileza de perceber que, através do silencio, se estabelece

a comunicação amorosa” (ARAD, 1998, p. 84).

“(...) Para mim... o contato com gente (é muito importante)... adoro o beijo circular,

adoro pegar nas mãos... dançar de mãos dadas” (Dançantes, 3, p. 14).

“(...) Às vezes a gente comenta algumas coisas com as pessoas que não

dançam e eles não dão importância: “mas dançar de mãos dadas”? Que

só a gente que esta participando todo mundo junto sabe o ... como se diz

o mistérios da dança, porque, as pessoas que não dança não sabem, (...)

só quem tá junto que sabe explicar... a gente começa, a contar, contar,

mas ninguém sabe... às vezes as pessoas que não dança não dão

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importância, mas nós que estamos juntos sabemos explicar. (Dançante,

13, p. 13).

Berni também ressaltou o segredo que as danças circulares sagradas

abarcam ao expressar que o sagrado é percebido e valorizado somente por

aqueles que vivenciaram a experiência. Segundo o autor a prática das danças

proporcionam uma busca da integração com o todo inseparável , que para ele

ocorre através da experiência particular de vivência com o Divino, levando-nos a

um despertar (BERNI, 1998).

O Sagrado também apareceu entre as falas, no sentido da dança ser

sagrada para eles, como um dia especial:

O Sagrado:

“(...) Este espaço é sagrado’ (Dançante 3, p. 1).

“(...) Segunda feira é sagrada... muito sagrado começar a semana aqui! Me sinto

bem aqui...a gente não esquece das danças” (Dançante 10, p. 4).

Outra participante referiu que para ela é tão importante este espaço que não

gostaria que acabasse:

“(...) A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi à roda... quando

termina, vou muito triste porque tem que ir embora. Por mim não acabava

nunca. Fico triste quando não tem...dança é comigo mesma. Quando vou

embora quero mais” (Dançante 13, p. 3).

A oficina também foi vista como privilégio, pois a depoente localiza que

não são todas as pessoas que podem estar em roda em plena segunda feira:

“(...) Na segunda feira as pessoas vão trabalhar Agradeço ser aposentada para

viver para a dança circular...agradeço todos os dias o privilégio de poder dançar”

(Dançante, 3, p. 9).

A seguir a carta na integra da dançante 11 sobre o significado de estar em

roda:

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Figura 4: Carta na integra da depoente 11. Carta oferecida a focalizadora no dia da

pesquisa.

A roda e os muitos sentimentos

Em vários momentos da oficina os sentimentos foram acolhidos desde

perdas de familiares, as grandes catástrofes como o que aconteceu no Japão o ano

passado, ou o assassinato de crianças na escola este ano como também

celebração do nascimento e dos aniversariantes. Desta maneira, a pesquisa

evidenciou algumas emoções mais expressivas.

Oficina como espaço de elaboração de perdas e forma de oração:

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“(...) Acabei de perder minha filha faz pouco tempo...encontro aqui muita,

paz, oração. Me sinto muito bem. Por isso que eu volto, quero continuar

fazendo parte. Me sinto, tão, bem me sinto, tão bem...É por isso que é o

primeiro lugar que voltei (foi aqui)...e queria agradecer a homenagem que

fizeram na semana passada a minha filha” (Dançante10, p. 4).

Nesta ocasião, a dançante havia perdido a sua filha abruptamente. E na

roda podemos falar a respeito e dançamos para seus familiares e que sua filha

pudesse ter a melhor passagem.

Vale ressaltar que o centro do dia da pesquisa foi presenteado com um

anjinho que a depoente 3 ofereceu no final para depoente 10 e a dançante 10

trouxe para compor o centro também a mensagem de falecimento para a sua filha.

Também na fala da dançante 4 que está atravessando momento de

recuperação de sua saúde que percebeu na roda um espaço para seguir seu

caminho lutando:

“(...) Amo muito, muito cada um... esse exemplo de cada um que dá força para

continuar a luta de cada dia” (Dançante, 8, p. 4).

Homenagem à mãe:

“(...) Gosto de todas as músicas mas aquela que você colocou em

homenagem a minha mãe, me tocou muito... (ficou muito emocionada)

(...) Sempre que tocar ou dançar esta música, vou lembrar, isto é uma

coisa que me toca muito. (...) Porque ir para o cemitério, levar flores, eu

não entendo isso, na minha cabeça temos que fazer quando a pessoa

está viva. Então, n(...) nós já tínhamos feito esta dança, e eu achei linda,

linda...e eu falei “vou pedir para Denise”. E eu achei que todo mundo foi

assim uma coisa mágica, um momento único, como se eu tivesse contato

com ela ali. Gostei muito, muito, eu só tenho a agradecer, toda vez que

eu venho eu sempre aprendo alguma coisa...e passo para as pessoas”

(Dançante 3, p. 12).

A dançante havia solicitado para a focalizadora dançar em homenagem a sua

mãe a coreografia da Nani Kloke – Estrela da Manhã. Já havíamos dançado em

outro momento, e a mesma gostaria de trazer a magia da dança para fazer lembrar-

se de forma diferente os 20 anos da morte de sua mãe.

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Oficina como produtora de autoconhecimento:

Durante toda a pesquisa o dançante que instigou o surgimento da oficina

trouxe frases importantes, que poderiam parecer sem contexto, mas que avalio de

grande importância, pois nos convida a focar na nossa essência, sendo a frase

principal a seguir:

“(...) A essência como foco básico” (Dançante, 2, p.12).

Em consonância com esta frase SAMPAIO (1998) ressaltou que as danças

circulares sagradas possibilitam “(...) o desenvolvimento dos dois níveis de consciência,

individual e coletivo, desperta a percepção do espaço do outro como extensão do seu

próprio, e a percepção da própria individualidade como parte de um grupo maior”

(SAMPAIO, 1998, p. 101).

Ainda segundo Sampaio o tripé autoestima, autoimagem e autoconfiança são

reforçados pelo apoio do grupo, que desperta no individuo a coragem e a

determinação (SAMPAIO, 1998).

Na sequência, segue uma carta que a depoente 5 trouxe para a

focalizadora uma semana antes da pesquisa relatando transformações em sua

vida:

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Figura 5: Carta elaborada pela depoente 5 como forma de contribuição para a

pesquisa.

Pertencimento:

Mesmo com dificuldades para dançar ao longo dos anos na oficina, o depoente

18 sente-se acolhido e valorizado neste espaço. O que pode ser observado o

dançar de diferentes maneiras:

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“(...) Gosto muito do povo... tô muito acostumado e fico muito feliz. Quero só que

Deus dá boa saúde e abençoa todo mundo... aqui. Fico muito contente, alegre e feliz aqui”

(Dançante, 18, p. 6).

Grande emoção:

“(...) Se eu vir todo o dia na dança vou sentir a mesma emoção... eu procurei site

sobre dança circular, e têm coisas maravilhosas, eu acesso todo dia aquilo... mexe demais

comigo” (Dançante 11, p. 11).

Como produto das danças circulares escolhidas pelo o grupo os sentimentos

foram atribuídos por estas que marcaram a oficina de diferentes maneiras:

AlChat

Para o grupo representa sentimentos de: auto confiança, gostei me senti

muito bem, alegria, suavidade, confiança, amor, sentir-se bem, humildade,

presença, esperança, satisfação, tranquilidade, paz, flexibilidade, vontade, união,

controle, felicidade, perseverança.

Seeds of Love – Sementes de amor.

Os sentimentos atribuídos pelo o grupo foram: oração, harmonia, parece que

esta pegando uma semente, serenidade, humildade, emoção, muito bom, união,

tudo de bom, paz, oração, harmonia, pegando alguma coisa, semente...,

serenidade e suavidade, coração dispara, emoção, foco.

Dança do Sol

Nesta dança os sentimentos levantados foram: tranquilidade, bem-estar,

sentir-se sol, leveza, ótima, tranquilidade, bem-estar (com que transmite),

suavidade, energia, paz, melhora ainda mais a roda.

Para finalizar o grupo elaborou com outra linguagem uma cena em imagem

congelada do que representava para eles o grupo. A foto a seguir mostra o

significado de união por eles batizados. O grupo se abraçou, olhando para o centro,

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e no final com a mão esquerda no centro finalizaram como se fossem uma torcida

de uma equipe com o grito Há ha, utilizado também na prática da Ioga.

Imagem 3: Foto Cena final da pesquisa representando segundo o grupo UNIÃO.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos iniciais de ampliação do repertório sócio emocional e bem como

aumento na comunicação do caso estudado foram possível, favorecendo benéficos

a ele, mas também como todos os integrantes da oficina.

A metodologia mostrou-se adequada para valorização das falas, emoções,

sentimentos e significados atribuídos pelos dançantes e demostra-se de fácil

utilização.

A oficina de Dança Circular tem se mostrado um importante recurso para

promoção e manutenção da saúde dos frequentadores e um espaço

potencializador para a integralidade do corpo, da mente e das emoções do sujeito

devido ao autoconhecimento de suas competências.

A partir da percepção dos dançantes/depoentes, existe uma influência

positiva na participação em oficinas de danças circulares no que diz respeito ao

suporte social e emocional, além dos benefícios físicos que as práticas corporais

proporcionam, sendo os resultados que estão em consonância com a Política

Nacional de Práticas Integrativas e Complementares.

Novas rodas e pesquisas precisam ser feitas para avaliar os impactos para

verificar se há cruzamentos nos dados aqui apresentados.

A escrita desta pesquisa também contribuirá para valorização do movimento

das danças circulares no Brasil, através de dados consistentes, assim como para o

incentivo a implantação e sustentação dos Centros de Convivência como um

espaço possível do encontro com a heterogeneidade e novas formas de produção

de saúde.

“Não há sol a sois”

(Música: Inclassificáveis, Arnaldo Antunes)

E termino com a foto do centro utilizada na pesquisa como forma de

olharmos para nosso centro, de não termos a certeza do começo e nem do final,

mas sim da busca constante que precisamos fazer da nossa

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essência.

Imagem 4: Centro da oficina de Dança Circulares Sagradas do Centro de

Convivência Toninha. Arte do desenho do centro Guataçara Brasil.

Através da pesquisa foi possível a elaboração de um filme de 10 minutos que

retratou a sequência metodologia abrangendo vários sentimentos e movimentos

que não foram possíveis de serem expressos na escrita da monografia sendo

fundamental para abarcar a riqueza do produto desta oficina.

A pesquisa será apresentada como retorno aos depoentes, assim como aos

profissionais do Distrito de Saúde em questão. O resultado deste trabalho de

conclusão de curso de especialização será disponibilizado para o CETS – Centro

de Educação dos Trabalhadores da Saúde para eventuais consultas.

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ANEXOS

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Anexo 1

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Anexo 2

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Anexo 3

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Anexo 4

Principais pesquisas relacionadas a danças Circulares Sagradas:

resumo e reflexões

Área sociologia: BERNI, L. E. V. A dança Circular sagrada e o sagrado: um estudo

exploratório das relações históricas e práticas de um movimento New Age, em

busca de seus aspectos os numinosos e herofanicos. Dissertação de mestrado,

PUC-SP, 2002, 204 p.

A pesquisa percorre sobre um rastreamento das danças circulares enquanto dança

contemporânea integrada no complexo Canto-Dança-Oração, que segundo o

pesquisador compõe uma técnica de autoconhecimento e transcendência. Busca

também as origens do canto-dança-oração, a biodança, danças étnicas, dança da

Paz Universal e as danças circulares sagradas através do histórico e descrição da

prática, análise do benefício e estudo do Sagrado. A pesquisa deu-se de forma

exploratória ao detalhar o aspecto histórico-prático do movimento, identificando

suas origens tradicionais, como também suas relações com o Sagrado sob a visão

fenomenológica. Além do estudo bibliográfico, o pesquisador realizou uma pesquisa

de campo com dez experientes focalizadores de danças circulares sagradas de

diferentes partes do Brasil e analisou as relações da prática com o Numinoso.

Para o autor as danças circulares retomam antigas formas de expressão de

diferentes culturas através da dança, trazendo a leveza e o estado de motivação ao

trazerem de novo o homem para dançar. São consideradas sagradas por

transcenderem as culturas onde surgiram promovendo a integração corpo-mente e

espírito. Para o pesquisador, do ponto de visa da prática tradicional, impregnada

pelo elemento cultural, surgem em uma denominação canto- dança- oração. Do

ponto de vista técnico transpessoal, são impregnas de elementos arquétipos e

promovem estados alterados de consciência tornando, desta maneira, as pessoas

que praticam mais competentes em melhorar sua qualidade de vida, como na

identificação de bloqueios. E ainda no aspecto da dinâmica psicológica essas

danças proporcionam abertura de canais de circulação da energia entre o Self e

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Ego, agindo no eixo extroversor, de dentro para fora, como também no eixo

introversor, de fora para dentro.

Área psicologia: ALMEIDA, Lúcia Helena Hebling. Danças circulares sagradas:

imagem corporal, qualidade de vida e religiosidade segundo uma abordagem

junguiana. 2005. 311 f. Tese (Doutorado em Ciências Médicas) – Programa de Pós-

Graduação em Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas,

Campinas/SP.

A pesquisa considerou previamente que a ressignificação na imagem corporal, na

qualidade de vida e na religiosidade, pudesse contribuir para o ajustamento

psíquico no estado geral da pessoa. A pesquisa envolveu aspectos teóricos e

práticos, na qual a pesquisadora Lúcia Helena Hebling Almeida, realizou sua

pesquisa com 10 voluntárias do curso de pós-graduação em arteterapia na

Unicamp através de vivencias de danças circulares sagradas sob a análise sobre a

qualidade de vida possível através do questionário WHOQOL versão 100 e a

relações com as unidades significativas que mais apresentaram alterações foram

às relacionadas à: A) qualidade de vida social: as danças circulares propiciaram

que o grupo ficasse mais próximo e integrado. B) no domínio psicológico: ganho

intrapsíquico – as participantes referiram que houve melhoras no humor,

entusiasmo, revigoramento e sentiram-se mais alegres. C) nível de independência

– mobilidade física: as participantes pontuaram maior disposição física e sensação

do corpo mais relaxado. Em síntese, a pesquisa contatou modificações na imagem

corporal, alterações na religiosidade, melhora na qualidade de vida e a constelação

(aparecimento) do arquétipo da criança, do arquétipo da grande mãe e do arquétipo

do feminino.

Área educação: OSTETTO, Luciana Esmeralda. Educadores na roda de dança:

formação-transformação. 2006. 250 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa

de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas,

Campinas/SP.

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A formação de educadores e a utilização da técnica de dança circular foram

amplamente estudadas por Ostetto (2006) em sua tese de doutorado para discutir

outras formas de dimensões da formação de professores. A pesquisa deu-se

realizado com quatro grupos de educadoras de Campinas (SP) e Blumenau (SC),

desenvolvido por meio de “encontros para dançar em roda”, segundo a

pesquisadora. No movimento das danças circulares e na atribuição de novas

ferramentas para educação, os conhecimentos advindos de seu estudo

possibilitaram abertura para novos olhares na educação a partir da utilização das

danças circulares, uma vez que, os resultados da pesquisa apontaram para a

compreensão da busca da inteireza do educador, da educação estética e do

espaço de encontro com a dimensão poética do ser, ou seja as múltiplas

linguagens do adulto educador. Utilizou-se do dialogo o campo da arte e a

psicologia de C. G. Jung.

Área da Educação Física: UEG –GO- Bonetti, Maria Cristina. Danças Folclóricas

Brasileiras. (Dissertação de Mestrado).

Área de Terapia Transpessoal: DEP- SP.Silva, Dagmar Ramos da Silva. Danças

Circulares sagradas e dinâmica da energética do psiquismo. (monografia de

especialização).

Área Terapia Transpessoal: Unipaz- DF. Zago, Isabel. A Terapia Sutil das danças

circulares sagradas. (monografia de especialização).

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Anexo 5

Histórico do Centro de Convivência Toninha A história do Centro de Convivência e Cooperativa Toninha (Cecco Toninha) é marcada por

uma memória coletiva através da construção diária desde seu surgimento. O Cecco Toninha surgiu

em 1999 para atender a necessidade

local (primeiramente a abrangência

dos bairros do C.S. Integração) que era

efetivar ações de convivência saudável

através do planejamento e construção

de melhorias de lugares e áreas

comuns (praças, sedes) da

comunidade. Tais ações tornaram-se

possíveis graças à atuação de

diferentes atores sociais relevantes da

comunidade como grupos organizados

- Reviver -, Ongs - Progen e Casa de

Cultura Tainã -, equipamentos de

saúde - C.S. Integração e CAPS

Integração -, escolas municipal e estaduais, parcerias pontuais da assistência social e conselho local

de saúde.

A metodologia para sua estruturação foi embasada no curso de Formação e Capacitação de

Agentes de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania promovido pela Themis e pela aproximação

teórica das experiências de Ceccos de São Paulo relatadas pelos profissionais de saúde mental.

Desta maneira algumas ações coletivas foram possíveis, tais como eventos temáticos

(intergeracional, semana da mulher, luta antimanicomial, festa junina), Saraus Culturais, incentivo a

revitalização da praça dos trabalhadores, ações na Sede Social da Vila Castelo Branco (SSVCB),

articulação comunitária para criação da Cooperativa de Reciclagem Santo Expedito, tematização de

grupos de geração de renda e primeiros passos da Casa das Oficinas, Feira “De Tudo um Pouco” e

reuniões sistemáticas com diferentes parceiros para concretização destas ações.

Vale destacar que o local das reuniões era itinerante acompanhando as ações no território e suas

demandas.

Em 2001, durante a I Conferencia de Saúde Mental de Campinas, o Cecco Toninha foi citado

como exemplo de experiência bem sucedida na ampliação de espaço alternativo extra-hospitalares

para pacientes com transtorno mentais.

A partir do fortalecimento das discussões municipais sobre Ceccos em 2005 disparada pela

apresentação das experiências dos Ceccos de Campinas e Belo Horizonte (articulação realizada pela

Coordenadoria de Saúde Mental do Ministério da Saúde), o Cecco Toninha ganhou maior

reconhecimento para além do seu território.

A única oficina na ocasião que ocorria sistematicamente era oficina de dança circular em

parceria com Centro de Saúde Integração, que ocorria em um espaço legitimo de convívio e

organização comunitária que era a Casa de Cultura Tainã.

No final de 2005, a priorização do projeto de geração de rendas – Casa das Oficinas –

implica em uma redução de pessoal e o Cecco vive um pequeno período de refluxo em suas

atividades.

Construção da Sede do Cecco Toninha - 2007

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Em 2006, além das parcerias de diferentes profissionais para desenvolver as ações acima

mencionadas, tivemos a disponibilização de 12 horas de um educador social para realizar ações

que, naquele momento, estavam voltadas para a revitalização da SSVCB. Nesse período retoma-se a

rotina de reuniões semanais de planejamento e avaliação, com a participação de representantes da

saúde, assistência social, educação, AR5, Casa de Cultura Tainã e Progen, além de eventuais

participações da GCRES Rosa de Prata.

Em meados de 2007 definiu-se a Casa de Cultura Tainã como sede para o Cecco Toninha,

visando evidenciar sua presença, dando-lhe uma concretude, uma materialidade e, assim, nomear e

sistematizar as ações até então desenvolvidas construindo sua identidade. Também o Cecco

Toninha ganhou visibilidade devido ao maior incentivo distrital, através da

contratação/remanejamento de um técnico da saúde mental para potencializar as ações.

O local foi estrategicamente escolhido devido a: a) geograficamente a Praça dos

Trabalhadores favorece o acesso para os principais bairros da região Micro Noroeste, b) o

reconhecimento da Casa de Cultura Tainã como pioneira das ações artístico/culturais e ações em

parceria com a saúde e c) atender a diretriz federal que preconiza a estruturação de Ceccos em

pontos de cultura (como a Casa de Cultura Tainã).

A definição da sede, articulação gestora e incremento de recursos materiais favoreceram a

ampliação de novas ações coletivas e criação de uma grade de oficinas abertas à população.

As ações no território estão inseridas nas ações macro do Cecco Toninha que englobam: a)

discussão da apropriação da Fazenda Roseira como Casa de Cultura, b) espaço de educação

ambiental e articulação das discussões de melhoria da sede Social da VCB e c) revitalização da Praça

dos Trabalhadores através de

eventos como Ação cidadã.

E o oferecimento de oficinas

sistemáticas que ganharam maior

destaque em 2008 a partir do

levantamento de interesses

realizados através de um

questionário em 2007.

Atualmente a grade de oficinas

engloba ações de caráter cultural,

artístico, social, ambiental, que se

desenvolvem na área da Praça dos

Trabalhadores e seu entorno,

prioritariamente, mas que se

espalham pelo território da região

noroeste como um todo e, em alguns eventos, até abrangências maiores. (Vide Cronograma de

Atividades Regulares anexo)

Algumas ações estão sendo planejadas para prevalecer o caráter itinerante, e, assim

atender a demandas da região noroeste ampliada.

Atualmente, contamos com os seguintes profissionais: 1 TO 30 horas na coordenação das

atividades, 1 educador social de 36 horas. E as seguintes parcerias: 15 horas de um agente de

limpeza da Única ligada a Casa das Oficinas, 18 horas de psicólogos do CAPS Integração com três

profissionais distintos, 2 horas de TO do C. S. Integração, 1h30 de T.O. CAPS Integração, 6 horas de

TO do Balão do Laranja, 2 horas de psicologia do Craisa, 2 horas assistente social distrito de saúde

Grupo Vocal – Novembro de 2008

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(para terapia comunitária), 20 horas do docente de T.O. Puc- Campinas na educação e projeto de

extensão e aprimoramento e estagiários e aprimorandos de TO da Puc- Campinas auxiliando nas

diferentes oficinas.

Muitas ações se tornaram possíveis pela parceria com o projeto de extensão da Puc- Campinas

como: oficina experimental, oficina de sociabilidade, oficina de teatro, oficina de saídas sócio

culturais, projeto de educação ambiental e grupo vocal, atividades essas que seguem o calendário

escolar e tem uma duração determinada para existir.

O Cecco Toninha está inserido em uma sólida rede de saúde mental da região noroeste de

Campinas o que possibilita viabilizar ações de promoção de saúde e pensar o sujeito integral dentro

do pulsar comunitário, fundamental para a reinserção social dos usuários e para o fortalecimento

dos laços comunitários.

Equipe do Cecco Toninha

Oficina de Movimento Vital Expressivo – Evento de encerramento de 2008

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Anexo 6

Data:___/___/___

Avaliação das oficinas Centro de Convivência Toninha em 2008

Nome:_____________________________________________________(opcional) Data de nascimento: _____/_____/______ (opcional) Atividade(s) que realiza e a frequência: ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Há quanto tempo realiza as atividade(s) acima? __________________________________________________________________________________________________________________________________ Depois que você começou a participar da(s) atividade(s), você percebeu alguma mudança e/ou benefícios (saúde física e mental, nas relações sociais, entre outras)? Quais? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Você tem alguma crítica(s), sugestão (ões) e outros comentários? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Quais são seus desejos em relação às atividades e outras para 2009? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ FELIZ 2009

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Anexo 7

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezada Sr (a).___________________________________________________

Quero convidá-lo (a) a para colaborar como depoente de um estudo que

estou realizando sobre o história da oficina de danças circulares do Centro de

Convivência e Cooperativa Toninha, intitulado “Danças Circulares Sagradas na

integralidade do cuidado: uma história de autoconhecimento individual e coletivo”.

O Sr (a) foi convidado (a) a participar do estudo, pois frequenta ativamente

das rodas de danças circulares, todas as segundas feiras, as 08h00min horas na

quadra coberto da Praça dos Trabalhadores.

Será realizado um encontro com uma hora de meia de duração, por mim, a

focalizadora responsável e um auxiliar colaborador. Para que não haja perda das

informações importantes, pretendo registrar o encontro através de uso de gravador

e filmadora.

Através deste encontro pretendo organizar um registro com qualidade das

memórias da formação da roda de dança circular e identificar possíveis significados

mediante a sua participação.

Esse estudo está ligado ao curso de especialização que faço na Unipaz/

Campinas ligado a Faculdade Campos Elíseos e depois os resultados serão

divulgados, sem, no entanto, citar o nome daqueles que forneceram as

informações. Os registros fotográficos feitos, serão utilizados para complementar a

análise que o trabalho fará, preservando melhor a memória para as futuras

gerações.

A Sr (a) terá, a qualquer hora, esclarecimento de quaisquer dúvidas acerca

de assuntos relacionados com a pesquisa, bem como poderá deixar de participar

dela a qualquer momento, sem nenhum prejuízo na participação na oficina e no

serviço. A sua participação é voluntária, não existindo nenhum pagamento e não

implica em nenhuma despesa ou risco para a Sr (a).

Aceito participar desta pesquisa e autorizo publicação posterior de meu

depoimento e das fotos em que eu aparecer.

Assine se concordar:

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_________________________________________________________________

Nome ou

Responsável

Responsável: Denise Castanho Antunes

Terapeuta Ocupacional do Distrito de Saúde Noroeste

Fone: 3268-6244

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Anexo 8

PARTICIPAÇÃO NOS DEPOIMENTOS GRUPAIS

(Registro do Pesquisador)

N. Dançante Assinatura

1

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9

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Anexo 9

PRÉVIO ROTEIRO PARA OS DEPOIMENTOS ORAIS DE FORMA

GRUPAL DOS ENTREVISTADOS

Harmonização grupal: abertura da Roda e dança para acolhimento do grupo.

1. Nome (dançante) e tempo que frequenta a oficina.

2. O que eu levo e o que trago para roda?

3. Quais as memórias do surgimento da roda e outras pertinentes?

4. Qual o significado para vocês ao participarem da oficina de dança circular?

5. Após o grupo elegerem três músicas que marcaram a oficina, trazer a

questão: quais os sentimentos atribuídos a cada música dançada

grupalmente (no final de cada dança)?

Finalização: Montagem de uma imagem para registro de uma fotografia que

melhor represente os significados e sentimentos de estar em grupo dançando.

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Anexo 10