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REV PORT PNE UMOL VII (2): 145-151 CASO CLI NICO/CLINICAL CASE Tumores de celulas germinativas primarios do mediastino: a prop6sito de om caso clinico Primary mediastinal germ cell tumors: case report MARIA HELENA LUCAS*, MARIA DE FAT IMA RODRI GUES**, LEOPOLDO DOMINGUEZ***, JOSE ANT6NIO SENA UNO**** . SA!'\CI A RAMOS*****. A:-.IA PAULA MARTINS******. MARGARIDA CANCELA DE AB REU******* RESUMO Os tumores de celulas genninativas primitivos do mediastino sao neoplasias pouco frequentes, e o carcinoma embriomirio e uma das suas fonnas mais raras. Os autorcs apresentam uma revisao desta entidadc a prop6sito do caso clinico de urn homem de 35 anos de idade, cuja inicial foi mascarada pela hip6tese de empiema septado, no contexto de p6s-toracotomia para de bolhas de enfisema. REV PORT PNEUMOL 2001; VII (2): 145-151 Palavras-chave: Carcinoma embriom1 rio; Tumor do med iastina. Assistcnte Graduada de Pncumologia do Hospital de Egas Moniz ·• Assistentc de Pneumologia do Hospital de Egas Moniz •• lntcmo de Pn eumologia do Hospital de Egas Moni z **** Chcfc de de Cirurgia Cardio-Toracica do Hospital de St. Cruz •• •• Assbtcntc de Anatomia Patol6gi ca do Hospi tal de St. Cruz ****** do Scrvi\O de Anatomia Patol6gica do Hospital de St. Cruz *******DircctorJ do de Pneumol og ia do Hospital de Egas Moniz Recebido para 00.10.02 Ace ite para 01.03.01 ABSTRACT Primary mediastinal genn cell tumors are uncommon neoplasms, and embryonal carcinoma is one of less frequent histologic type among them. The authors present a literature review of this entity departing from a case report of a 35-year-old man, whose clinical presentation was hidden by the suspicion of a loculated empyema after a thoraco- tomy perfonncd for bullectomy. RE V PORT PNEUMOL 2001; VII (2): 145-151 Key-words: Embryonal c arcinoma; Mediastinal tumor. Marr;o/Abri I 200 I Vo l. VII N "2 145

Tumores de células germinativas primários do mediastino: a ... · -hilar direita, de baixa densidade, homogenea, nao ... densidade=1030; proteinas=5.6; glucose=25; ADA=l04. A broncofibroscopia

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CASO CLINICO/CLINICAL CASE

Tumores de celulas germinativas primarios do mediastino: a prop6sito de om caso clinico

Primary mediastinal germ cell tumors: case report

MARIA HELENA LUCAS*, MARIA DE FATIMA RODRIGUES**, LEOPOLDO DOMINGUEZ***, JOSE ANT6NIO SENA UNO****. SA!'\CIA RAMOS*****. A:-.IA PAULA MARTINS******. MARGARIDA CANCELA DE ABREU*******

RESUMO

Os tumores de celulas genninativas primitivos do mediastino sao neoplasias pouco frequentes, e o carcinoma embriomirio e uma das suas fonnas mais raras. Os autorcs apresentam uma revisao desta entidadc a prop6sito do caso clinico de urn homem de 35 anos de idade, cuja apresenta~ao inicial foi mascarada pela hip6tese de empiema septado, no contexto de p6s-toracotomia para ressec~ao de bolhas de enfisema.

REV PORT PNEUMOL 2001; VII (2): 145-151

Palavras-chave: Carcinoma embriom1rio; Tumor do mediastina .

Assistcnte Graduada de Pncumologia do Hospital de Egas Moniz ·• Assistentc de Pneumologia do Hospital de Egas Moniz ••• lntcmo de Pneumologia do Hospital de Egas Moniz **** Chcfc de Servi~o de Cirurgia Cardio-Toracica do Hospital de St. Cruz • • ••• Assbtcntc Gr~duada de Anatomia Patol6gica do Hospital de St. Cruz ****** Director~ do Scrvi\O de Anatomia Patol6gica do Hospital de St. Cruz *******DircctorJ do Serv i~o de Pneumologia do Hospital de Egas Moniz

Recebido para publica~iio: 00.10.02 Aceite para publica~iio: 01.03.01

ABSTRACT

Primary mediastinal genn cell tumors are uncommon neoplasms, and embryonal carcinoma is one of less frequent histologic type among them. The authors present a literature review of this entity departing from a case report of a 35-year-old man, whose clinical presentation was hidden by the suspicion of a loculated empyema after a thoraco­tomy perfonncd for bullectomy.

REV PORT PNEUMOL 2001; VII (2): 145-151

Key-words: Embryonal carcinoma; Mediastinal tumor.

Marr;o/ Abri I 200 I Vol. VII N"2 145

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REVISTA PORTUGUESA DE PNEUMOLOGJA/CASO CLlNICO

INTRODUc;AO

Os tumores de celulas germinati vas (TCG) do mediastina tcm sido reconhecidos na literatura desde ha muitos a nos 1• No en tanto, o facto de a maioria destes tumores serem descri tos como casas clfnicos ou como pequenas series de casas, tem di ficultado um melhor conhecimento das suas caracterfsticas clfnicas e demograficas, bem como do seu comportamento biol6gico nesta locali za~ao2•

A sua histogenese mantem-se controversa. Pensa­-se que resultam da transforma~ao maligna de celulas genninativas que migram ao Iongo da linha media durante a embriogenese, ou que se originam de celulas primitivas do timo, com potencial genninativo 1

0 mediastina e a local i za~ao mais frequente dos TCG extra-gonadais, correspondendo, segundo diversos autores, a 10 a 20% de todos os tumores do mediastina. Ocorrem no mediastina anterior, a maio­ria em homens jovens, sem hist6ria previa de neopla­sia testicular ou de outra localiza~aot.3.4·5•6·7·8 .

Os TCG primitivos do mediastina sao neoplasias pouco frequentes, com caracterfsticas histopatol6gicas semelhantes aos TCG das g6nadas, mas com caracte­rfsticas biol6gicas distintas9

• Podem ser divididos em dais grandes grupos: OS seminomas e OS tumores nao seminomatosos.

Os seminomas, que representam 18% destes tumores, nao apresentam diferencia~ao a partir da celula germinal primitiva.

Os nao seminomatosos incluem os tumores com diferencia~ao intra-embrionaria (teratomas qufsticos maduros - 44% e teratomas imaturos - 6% ), tum ores com diferencia~ao extra-embriomiria (tumores do saco de Yolk e coriocarcinomas - 2%), e ainda tumores derivados da celula embriomiria primitiva (carcinoma embrionario - 5%). Cerca de 23% podem ter caracterfsticas histol6gicas mistas1

A apresenta~ao clfnica dos TCG pode traduzir-se por queixas sistemicas (ex: febre, perda de peso, astenia, anorexia e sudorese) ou relacionar-se com a presen~a de uma massa do mediastina anterior (ex: toracalgia, tosse, dispneia, taquipneia, disfonia,

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disfagia, linfadenopatia supra-clavicular, sfndrome da veia cava superior). Nos tumoi·es germinativos funci­onantes e frequente 0 aparecimento de hirsutismo na mulher e puberdade precoce no rapaz. Sao descritas tambem associa~oes com sfndrome de Klinefelter e doen~as mal ignas hematol6gicas 1 ·5 .c..~.t o. tt.t 2• 1 3 • 14 • 1 5 •

CASO CLINICO

lndivfduo do sexo masculino, de 35 anos de idade, ra~a caucasiana, motorista de pesados, grande fuma­dor (aproximadamente 40 U.M.A.), toxicodependen­te, detido no Estabelecimento Prisional de Caxias. Deu entrada no Servi~o de Urgencia em Novembro de 1997 por queixas de anorexia, perda de peso, tosse, expectora~ao hemopt6ica e toracalgia direita, sendo transferido para o Servi~o de Pneumologia com os diagn6sticos de pneumot6rax e pneumonia do lobo inferior direito.

Devido a nao resolu~ao do pneumot6rax com drenagem pleural, foi submetido a toracotomia com ressec~ao de bolhas de enfi sema no lobo superior direito e abrasao pleural homolateral. A cirurgia e o perfodo p6s-operat6rio decorreram sem incidentes. Retirou drenagens tonkicas ao 312 dia e teve al ta 1 semana mais tarde.

Em Janeiro de 1998, par dor ton1cica difusa persistente, mais intensa no hemit6rax direito, agrava­da com os movimentos respirat6rios e queixas suges­tivas de infec~ao respirat6ria, fez uma radiografia do t6rax que revejou discreta hipotransparencia para­-hilar direita, de baixa densidade, homogenea, nao apagando as sombras vasculares e coexistindo com imagem nodular no hila homolateral e bolhas apicais bilaterais.

A T AC tonicica revelou hipotransparencia com provavel ponto de partida na pleura costal anterior direita, de limites intemos bem definidos, sem altera­~ao do parenquima pulmonar adjacente, infiltrado parenquimatoso do segmento apical do lobo inferior direito e provaveis adenopatias hilar direita e sub­-carina!.

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TUM ORES DE CELULAS GERMINA TIV AS PRIMARIOS DO MEDIASTINO: A PROP6SITO DE UM ~ASO CLINICO/MARIA HELENA LUCAS, MARIA DE FATIMA RODRIGUES, LEOPOLDO DOMINGUEZ,

JOSE ANT6NIO SENA UNO, SANCIA RAMOS, ANA PAULA MARTINS, MARGARIDA CANCELA DE ABREU

Foi efectuada uma broncofibroscopia que nao revelou altera~oes endobronquicas, com citologia, microbiologia das secre~oes bronquicas e bi6psia bronquica negativas.

As altera~oes clfnicas e radiognificas foram interpretadas como sequelas de toracotornia recente, e o doente foi medicado com terapeutica analgesica.

Em Junho de 1998, ocorre novo intemamento por toracalgia mantida, agora mais localizada a face anterior e lateral do hemit6rax direito, tosse nao produtiva, anorexia intensa, perda de 4-5 Kg no ultimo mes e dor na regiao inguinal direita com irradia~ao a coxae agravamento com a marcha.

Ao exame objectivo apresentava-se febril, com cianose labial ligeira, taquicardico, cifose dorsal acentuada, t6rax hipom6vel bilateralmente, sobretudo a direita, diminui~ao da transmissao das vibra~oes vocais e sub-macissez a percussao na face anterior do hemit6rax direito. A ausculta~ao pulmonar revelava diminui~ao do murmurio vesicular na face anterior do hemit6rax direito. 0 abdomen apresentava hepatome­galia com bordo inferior fino, 3 em abaixo do bordo costal direito, linha media-clavicular, indolor a palpa­~ao. Evidenciou-se tambem a presen~a de hernia inguinal a direita. Mostrava claudica~ao da marcha por impotencia funcional do membro inferior direito. 0 restante exame objectivo era normal.

Na radiografia do t6rax observavam-se imagens hipotransparentes homogeneas projectando-se no campo pulmonar direito, de base pleural, com hipo­transparencia mediastfnica que se projectava no mediastina medio.

A T AC toracica revelou multiplas colec~oes

hipodensas no espa~o retro-cava, pre-traqueal, infra­-carina!, no espa~o pleural anterior direito e no espa~o pleural posterior direito, com adenopatias sub e pre­-carinais e do hilo direito e multiplas zonas enfisema­tosas no apex pulmonar esquerdo. A hepatomegalia foi confirmada por ecografia, que nao revelou lesoes secundarias. A T AC da col una lombar documentou procidencia do disco L4-L5, sem evidente compres­sao radicular.

0 hemograma, a bioqufmica geral, e o estudo da

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coagula~ao hao apresentavam altera~oes relevantes, excepto VS-69, PCR-28,3, LDH-3809.

Dos marcadores tumorais apenas estava elevado o CA 19.9 (52,4 para valor normal <33.7) apresentando­se os valores de CEA, aFP, PSA, CA 15.3, CA 125 e ~HCG dentro da normalidade.

Em vanas toracocenteses exploradoras efectuadas, apenas se obteve uma escassa quantidade de lfquido acastanhado, com pH=7.134; densidade=1030; proteinas=5.6; glucose=25; ADA=l04.

A broncofibroscopia efectuada nesta ocasiao apresentou edema e estenose concentrica do BLM e BUD e seus segmentares e, dada a persistencia do quadro clfnico e agravamento radiol6gico progressi­vo, resolveu-se intervir cirurgicamente, com a inten­

~ao de proceder a drenagem cirurgica de locas de empiema septado.

Foi efectuada toracotomia postero-lateral direita que revelou aderencias muito marcadas dos dois folhetos pleurais, especialmente na goteira costo­-vertebral, apex e regiao anterior, onde tomam uma dureza petrea, coexistindo com massas nodulares. Estas massas, que sao duras e esfericas, observam-se tambem na superffcie do parenquima do lobo superior e, quando seccionadas, verifica-se estarem preenchi­das por conteudo encefal6ide.

0 exame histol6gico do material colhido do mediastina revelou uma neoplasia maligna extensa­mente necrosada, com tecido tumoral vilivel apenas de localiza~ao peri-vascular (Fig.l ). As celulas eram poligonais com m1cleos redondos pleom6rficos, com cromatina finamente granular, nucleolo proeminente e citoplasma clara. As mitoses eram numerosas e atfpicas. 0 estudo imunohistoqufmico revelou que as celulas expressavam positividade para o MNF116 (celulas epiteliais) e negatividade para a vimentina (celulas mesenquimatosas) e ~HCG (gonadotrofina cori6nica) e aFP (a-feto-protefna) (Fig.2).

Estes resultados penn.itiram estabelecer o dia­gn6stico de Carcinoma Embriomirio do Mediastina.

Foi efectuada cintigrafia 6ssea que revelou metas­tases 6sseas lfticas em tres areas costais posteriores direitos e no acetabula do ossa ilfaco direito, o que

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Fig. 1 - Neoplasia com extensa necrose e tecido tumoral vi<ivel com localiza~ao peri-vascular (HEx 40)

Fig. 2- Caracteristicas das celulas tumorais (HE X 400) Em janela- Positividade para o marcador epitelial (MNF116 x 400)

justificava a existencia de claudica~ao da marcha. No infcio de Julho iniciou quirnioterapia com

Ciclofosfarnida, Etoposido e Carboplatina (CEP), tendo feito 3 ciclos com boa tolerancia. Foi tambem submetido a radioterapia sobre o acetabulo direito.

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Verificou-se agravamento progressivo da situa~ao clfnica, com crescimento da massa toracica, invasao da parede, destrui~ao de arcos costais e extensao as partes moles ( documentados por TAC - Fig. 3), tendo vindo a falecer em Novembro de 1998.

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Fig. 3 - Volumosa massa toracica, com invasao da parede, destruitriio de arcos costais e ex ten sao as partes moles

Resumindo, descreve-se urn caso clfnico de Carcinoma Embrionano do Mediastina num doente de 35 anos de idade, cuja apresenta<;ao inicial foi mascarada pela hip6tese de empiema septado no contexto de p6s-toracotornia para ressec<;ao de bolhas de enfisema.

DISCUSSAO

0 carcinoma embriom1rio representa uma das formas tumorais mais raras de tumor de celulas germinativas do mediastina. 0 seu diagn6stico e muito dificil a partir dos dados clfnicos e imagio16gi­cos; os marcadores tumorais dao, nesta fase, urn contributo importante: os tumores do seio endodermi­co segregam alfa-fetoprotefna; os coriocarcinomas produzem gonadotrofina cori6nica humana e os carcinomas embrionanos podem expressar ambos os marcadores. A LDH tern urn importante valor prog­n6stico, estando particularmente elevada nos tumores gerrninativos altamente invasivos 6•

8•1

1.14

•16

No caso apresentado verificava-se urn valor extremamente elevado do LDH mas, ao contnrrio do

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que seria esperado, cursou com valores normais de

PHCGeaFP. A imagiologia e fundamental para o estadiamento

e decisao terapeutica destes tumores; perrnite decidir a melhor via de abordagem cirurgica e apreciar a extensao da doen<;a e os sinais de invasao de estrutu­ras adjacentes. AT AC dos tumores de origem gerrni­nativa mostra habitualmente massas de grandes dimensoes, heterogeneas, com margens irregulares que sugerem malignidade, podendo igualmente evidenciar invasao e destrui<;ao das estruturas medias­tfnicas, como os grandes vasos, as vias aereas cen­trais, o pericardia ou a pleura6

•12

•17

A Ressonancia Magnetica e de grande utilidade na suspeita de invasao de estruturas vitais, nomeada­mente vasculares, mostrando claramente a necrose hemom1gica6

•17

Sao les6es de grandes dimens6es (alguns autores, consideram as dimensoes do tumor urn importante elemento predictivo de malignidade em doentes sintomaticos18

), com focos de hemorragia e necrose, e invadem estruturas adjacentes.

0 material para diagn6stico pode ser obtido por bi6psia asp irati va com agulha fin a, dirigida porT AC,

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REVIST A PORTUGUESA DE PNEUMOLOGIA/CASO CLfNICO

mas e frequente ter de se recorrer a estemotomia ou a toracotomia para colheita de material para diagn6stico

destes tumores6·15'17

Em presen~a de marcadores sericos elevados

(aFP, PHCG), pode dispensar-se a caracteriza~ao

histol6gica. A mediastinoscopia nao deve ser utilizada neste

tipo de tumores, poise uma tecnica de alto risco em

doentes com invasao vascular6•

Os tumores malignos de celulas germinativas sao os mais agressivos de todos os tumores do medias­tino6·15. Contudo, apesar de comportarem pior pro­

gn6stico que OS de Jocaliza~ao testicular, sao potenci­

almente cuniveis1 ~. A resposta a terapeutica depende do tipo histol6gico, da extensao (invasao loco-regional

e metastiza~ao a distancia), idade do doente (quanto mrusjovem, maior a probabilidade de recidiva)14·17

A sobrevivencia ap6s ressec~ao cirurgica, radiote­rapia ou quimioterapia sem cisplatino, como modali­

dades isoladas e muito rara13·14. A ressec~ao primaria completa do tumor s6 deve

ser encarada ap6s QT de indu~ao. Assi m, ha autores que, dadas as caracterfsticas histopato16gicas hetero­

geneas destes tumores nao-seminomatosos de localiza~ao no mediastina e a extensao territorial que

habitualmente apresentam, consideram de elei~ao

iniciar ciclos de quimioterapia baseada no cisplatino, ate atingir uma regressao maxima do tumor. S6

depois se deve proceder a ressec~ao cirurgica do tumor residual, o mais radical possfvel, incluindo os tecidos vizinhos afectados (pericardiectomia, ressec­

~ao do nervo frenico, lobectomia, ressec~ao da auricula direita, etc.)13. H.Is.n.19•

A radioterapia, muito eficaz nos seminomas, nao

parece ter grande utilidade nos tumores de celulas

germinativas nao-seminomatosos7·13·14·17. A introdu~ao do cisplatino na terapeutica multi pia

destes tumores, tern vindo a melhorar substancialmen­

te o progn6stico, conseguindo-se a normaliza~ao dos

marcadores tumorais e a regressao da imagem radio­gnifica do tumor6· 13' 1~' 1 5 ' 1 7 ' 19'20. 0 pmtocolo de quimio­

terapia mais usado e BEP (Bleomicina, Etoposido e Cisplatinoi3,14.20.21).

!50 Vol. VII N° 2

Em algumas institui~oes de origem franccsa, foi efectuada quimioterapia intensiva com PVBE (Cispla­tino, Vimblastina, Bleomicina e Etoposido) e trans­

plante aut61ogo de medula 6ssea dcpois da cirurgia,

com sucesso e scm recidiva em dois dos tres casos

aplicados 14. 0 progn6stico deste tipo de tumor c mau, uma vez

que a grande maioria destas lesoes nao c cirurgica­

mente ressecavel, devido a invasao local ou <l existencia de metastases e a resposta a quimioterapia e a radioterapia e ma. Os tumores que, no Inomento do diagn6stico, nao se limitam ao mediastina tcm uma conduta mais agressiva. Apresentam melhor

progn6stico os casos que cursam com diminui~ao ou normaliza~ao dos marcadores tumorais ap6s quimio­terapia13·14. Apesar da melhoria da sobrevivcncia com

tratamento multidisciplinar, a morte por recidiva da

doen~a e um problema que pcrsistc. A evolu~ao mais frequente e uma progressao rapida c fatal , existindo

uma forte correla~ao entre a apresenta~ao de sintomas e a malignidade do tumor1x. Trinta a 75% dos doentes

(variavel segundo as fontcs) mon·cm de 6 a J6 meses

ap6s o diagn6stico, apcsar de tcrapcutica agressi­va ~~ . 1 5. 1 9.

Finalmente, nao podcmos csquccer que os melho­res resultados terapeuticos obtidos sao aqucles que tiveram uma estreita colabora~ao entre a Pneumologia,

a Cirurgia Tonicica, a Oncologia e a Radiotcrapia.

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