100
Iepé Museu Kuahí

Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Iepé

Museu Kuahí

Page 2: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Este livro resulta do interesse

dos povos indígenas do

Oiapoque em dar continuidade

as suas tradições culturais. Ele

mostra um substrato comum a

partir do qual se movem os

Karipuna, os Galibi Marworno,

Galibi Kali´na e Palikur, na

região do baixo rio Oiapoque,

Amapá. Ali, nas Terras

Indígenas Uaçá, Galibi e

Juminã, vivem hoje cerca de

7 mil índios. O ritual do Turé,

em que se agradece aos seres

sobrenaturais e invisíveis as

curas propiciadas por meio das

práticas xamânicas dos pajés,

é, neste livro, descrito por

jovens pesquisadores

indígenas, ligados ao Museu

Kuahí dos Povos Indígenas do

Oiapoque. Escrito em

linguagem acessível, com

muitos desenhos e fotografias,

o livro é um convite para

conhecer um pouco mais essa

importante área cultural. É

com satisfação que a Funai,

por meio do Museu do Índio,

associa-se ao Iepé na

publicação deste livro.

Márcio Meira

Presidente da Funai

Page 3: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

1

Page 4: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

2

Turé

Presidente da República

Luiz Inácio Lula da Silva

Ministro da Justiça

Tarso Genro

Presidente da Fundação Nacional do Índio

Márcio Augusto Freitas de Meira

Diretor do Museu do Índio

José Carlos Levinho

Coordenador de Publicações

Carlos Augusto da Rocha Freire

Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação em Educação Indígena

Conselho Diretor

Denise Fajardo Grupioni (Presidente)Lúcia Szmrecsányi (Secretária)Lux Boelitz Vidal (Tesoureira)

Secretário-Executivo

Luis Donisete Benzi Grupioni

Coordenação do Programa Oiapoque

Francisco Simões Paes

Assessoria Antropológica ao Programa Oiapoque

Lux Boelitz Vidal

Realização da publicação Apoio Institucional ao Iepé

Patrocínio à realização das oficinas

Apoio à publicação

Page 5: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

3

Iepé

Museu Kuahí

Museu do Índio – Funai

2 0 0 9

Page 6: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

4

Turé

©Autores do livro:

Ariana dos Santos (Karipuna)Bruna dos Santos Almeida (Karipuna)Cleniuria Narciso Monteiro(Galibi-Marworno)Daniel Iaparrá Ioiô (Palikur)Davi Felisardo dos Santos (Galibi-Marworno)Diena Maciel Sfair (Galibi-Marworno)Edmilson dos Santos Oliveira (Karipuna)Hélio Ioiô Labontê (Palikur)Jaizinho Maurício Monteiro (Galibi-Marworno)Luiz Yermollay Oliveira dos Santos (Karipuna)Macinaldo Forte Filho (Karipuna)Márcia Maria dos Santos Oliveira (Karipuna)Maria Leucy dos Santos (Karipuna)Maria Tereza Cristina Jeanjacque (Galibi Kali’na)Sandra Vidal da Silva (Karipuna)Sérgio dos Santos (Galibi-Marworno)Tomás Carlos Aniká Forte (Karipuna)

Organização do Livro:

Ugo Maia Andrade

Coordenação Editorial:

Luís Donisete Benzi Grupioni

Projeto Gráfico:

www.ideiad.com.br

Esta publicação é resultado de oficinas deformação de pesquisadores indígenas,desenvolvidas pelo Iepé, no âmbito do projeto“Valorização e Gestão dos Patrimônios CulturaisIndígenas no Amapá e Norte do Pará”,patrocinado pela Petrobras.

Rio de Janeiro, 2009

Crédito dos desenhos:

Ariana dos Santos – 76, 82Bruna dos Santos Almeida – 23Daniel Iaparrá Ioiô – 22(2), 47, 53(6), 57(2)Diena Maciel Sfair – 45Edmilson dos Santos Oliveira – 35, 44(1,3), 53(2,4),55, 65, 72, 83Hélio Ioiô Labontê – 22(1), 43, 51Jaizinho Maurício Monteiro – 12, 20(2), 81,86, 87Luiz Yermollay Oliveira dos Santos – 20(1), 21(2),59Macinaldo Forte Filho – 19, 21(1), 57(1)Manoel Labonté – 36Maria Leucy dos Santos – 25, 31, 53(3,5), 66Maria Tereza Cristina Jeanjacque – 44(2), 69, 81(1)Tomás Carlos Aniká Forte – 53(1), 54, 60(1), 60(2),75Jaizinho Maurício Monteiro – 43, 25, 14Luiz Yermollay Oliveira dos Santos – 46, 41, 40, 39,38, 36Macinaldo Forte Filho – 44, 23, 08Maria Leucy dos Santos – 32, 17, 16, 15Maria Tereza Cristina Jeanjacque – 33, 02, 01Tomás Carlos Aniká Forte – 28, 24, 13, 04, 03

Crédito das fotografias:Ariana dos Santos – 17(3), 33, 56,79. AldeiaEspírito Santo (2008).Francisco Simões Paes – 70, 78. Aldeia EspíritoSanto (2008).Luís Donisete Benzi Grupioni – 26, 32(1), 90.Museu do Índio (2007) e Aldeia Manga (2009).Mário Vilela / Funai – 32(2), 37,38-39, 62(2), 96.Aldeia Manga (2009).Sérgio Zacchi – 44, 48, 52, 55, 70, 71, 72, 82, 83, 88,89, 91. Acervo Museu do Índio (2007).Tomás Carlos Aniká Forte – 40(2), 71, 85. AldeiaEspírito Santo (2008).Ugo Maia Andrade –13, 14-15, 17, 27, 28, 29, 40(1),41, 45, 46, 47, 49, 61, 62(2), 63, 66, 67, 73, 76, 77, 84,94, 95. Aldeias Espírito Santo (2008), Manga (2005)

Page 7: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

5

Sumário

Apresentação 9

Turé 11

Os Karuãna (giwatyavo) 19

Pajé (piaii/piaii/ihãnmuwy, kottiye) 25

Os ajudantes do pajé 31

Os cantos 35

Os artefatos 43

Os bancos (bã/mulê/epti) 51

Os mastros (ma/beybuwri) 59

Regras 65

Caxixi (caxihí/woska) 69

As marcas (mak/abektey) 75

Enfeites do corpo 81

A produção deste livro 93

Page 8: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

6

Turé

Page 9: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

7

“Há milhares de anos não existia o Rio Uaçá, era tudo mata. Naquele tempo existiauma grande cobra de três cabeças chamada Uaçá, que vivia só no mar, era muito gordae tinha dois filhotes na barriga. Certo dia essa cobra resolveu entrar na mata, entroupróximo à Ponta do Mosquito, foi embora para dentro da mata e por onde ela passava,transformava-se em rio; chegando onde é o Encruzo, teve que parar, pois naquele momentoiam nascer seus filhotes. Nasceu então um filhote e não demorou muito tempo, foi emborada mãe seguindo o pôr-do-sol. O caminho deste filhote também se transformou em rio,que hoje é conhecido como o Rio Curipi. A cobra-mãe diminuiu de tamanho e também foiembora, seguindo outro rumo. Ao chegar onde é a boca do Urucauá, nasceu o outro filhote,que também foi embora seguindo o mesmo rumo que o irmão, o pôr-do-sol. Atualmente échamado de Rio Urucauá. A cobra Uaçá ficou muito magra, mas mesmo assim continuousua caminhada. No meio do caminho, todo tipo de animal que ela encontrava, comia ecom isso ela ia engordando de novo.

Passando pela montanha Tipoca, já estava um pouco gorda, até chegar à aldeiaKumarumã. Estava bem gorda mesmo e continuou andando sem destino algum. Depoisde algum tempo caminhando e comendo, essa cobra ficou doente. Ela não conseguiacomer nada, com isso começou a emagrecer de novo. Mas Uaçá era uma cobra que nãogostava de ficar parada. Mesmo doente continuou andando por muitos anos, até nãoconseguir andar, nem se mexer. Daí em diante a cobra não se moveu nem um pouco emorreu”.

Sr. Felisardo dos Santos, aldeia Kumarumã

Page 10: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

8

Turé

Page 11: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

9

Este livro tem por objetivo divulgar a cultura dos Povos Indígenas do Oiapoque,mostrando o valor que ela possui e a preocupação em manter vivas nossas tradições.Os Palikur, Galibi Kali’na, Galibi-Marworno e Karipuna somam uma população deaproximadamente sete mil pessoas, distribuídas em trinta e oito aldeias localizadasnos rios Urukauá, Oiapoque, Uaçá, Juminã e Curipi e ao longo da BR-156.

Anualmente, os povos indígenas do Oiapoque se reúnem em grandes assembléiaspara debaterem seus direitos e valorizarem suas tradições em busca de melhorias navida de suas comunidades. A festa do turé é um elemento muito importante quandofalamos na cultura dos Povos Indígenas do Oiapoque, por isso desejamos que elaseja um pouco conhecida pelas pessoas.

O turé é uma festa tradicional realizada para os Karuãna amigos como retribuiçãoàs curas que eles fazem através dos pajés. O grande turé é realizado no mês de outubro,quando a lua está cheia. É feito turé também como pequenas demonstrações emdatas comemorativas, como o dia do índio (dezenove de abril) e o dia de NossaSenhora (doze de outubro). A presença do pajé é fundamental para a realização doturé, pois é ele quem comanda tudo e é através de seus cantos que os Karuãna vão seapresentando.

Os homens participam fazendo e pintando os bancos e mastros, indo para amata pegar as clarinetes-turé e as varas de madeira, chamadas pirorô, que depois sãodescascadas, pintadas e fincadas no solo para formarem o lakuh, local onde a festa érealizada. As mulheres fazem e servem o caxixi, a bebida da festa oferecida aosKaruãna e aos demais presentes. E todos, mulheres, homens e Karuãna, bebem,cantam e dançam no turé.

Equipe do Museu Kuahí

Apresentação

Page 12: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

10

Turé

Page 13: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

11

Turé é uma festa de agradecimento às pessoas invisíveis que vivem no OutroMundo, chamadas Karuãna, pelas curas que elas propiciaram por meio das práticasxamânicas dos pajés. Os pajés dançam, cantam e bebem muito caxixi com os Karuãnaque vêm ouvi-los cantar várias vezes sem repetir o canto. O turé é feito no lakuh(higiw) cercado por varas chamadas de pirorô (gaianyu) que são enfeitadas combolas de algodão (kotõ/mauru/mawru)1 e ligadas por fios onde são presas penasbrancas de garça (plím/yssivigrit). Pode ser realizado a qualquer momento, mas overdadeiro turé é feito durante a lua cheia de outubro, quando são feitos os grandesbancos Cobra Grande e Jacaré, pintados os mastros e levantado o lakuh. O banco dopajé fica no pé do mastro principal, ao lado do pakará, o cesto onde ele guarda omaracá, cigarros de tawari e outras coisas. Ele canta para chamar os Karuãna, quesomente ele pode ver, e usa o maracá e os cigarros de tawari para viajar ao OutroMundo.

Os homens se vestem com um pedaço de pano vermelho preso à cintura e chamadode kalembê. Usam butxiê, kuhun de penas de arara e plimaj na cabeça. As mulheresenfeitam o corpo com kuhun, colares de miçangas e butxiê, além de pintarem o rosto,braços e barriga com marcas diferentes. Usam também saia de buriti ou de pano nascores vermelha ou verde e as blusas podem ser também de buriti ou pano e às vezesvestem sutiã feito de cuias.

A festa dura até o caxixi terminar, uma, duas ou três noites, parando no início damanhã e retornando no final da tarde. No intervalo da dança toca-se o cuti (buzina).

Turé

1 A tradução ao lado de algumas palavras segue a seguinte convenção: (patoá/galibi/palikur).

Page 14: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

12

Turé

Page 15: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

13

Page 16: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

14

Turé

Page 17: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

15

Page 18: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

16

Turé

As DançasPara dançar o turé é preciso de 15 a 25pares de dançarinos no lakuh, estes são osque vão imitar os Bichos ou Karuãna. E hápequenas diferenças na coreografia dadança entre os Karipuna e osGalibi-Marworno. No primeiro momentoa dança é normal. Ela começa no final datarde com a dança do gengibre (jiteuarimã). Quando dá meia-noite começamas imitações dos Bichos, aí logo têm quecomeçar imitando um grande Karuãna,como os Bichos da floresta (Djab dã bua),as Ondas (lamê), o Golfinho (masuê),Tucano (ghobek), o Sapo (khapô/kapô) eprincipalmente a Cobra Grande (ghãkulev/aramari/wamuí), que sempreaparece no turé dos Galibi-Marwornopara finalizar a festa. Para que issoaconteça é preciso fazer uma dançaespecial, a kulev, para mandar a CobraGrande de volta ao Outro Mundo. A kulevé feita alguns dias depois que termina aprimeira parte do turé e sem ela o pajénão pode terminar o turé, pois a CobraGrande fica vagando invisível pela aldeia.Lembrando que para cada dança há umcanto diferente.

Page 19: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

17

Page 20: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

18

Turé

Page 21: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

19

Os Karuãna ou Bichos são pessoas que vivem no Outro Mundo, onde são gentecomo nós, e que apenas os pajés conseguem ver e se comunicar com eles. Vêm domar, dos rios, lagos, da mata e do espaço e são espíritos de aves, cobras, peixes,árvores e estrelas.

Os Karuãna que vivem na água são geralmente Cobras Grandes de uma, duas outrês cabeças e Sereias (Mamã djilô). Os da floresta são Djab dã bua, como o anãocabeludo Hoho (Abex), o Curupira (Yaddeges), a Matintaperera (Maksilili/Mammatki)e Jurupari (Yorokãn). Os que vêm do espaço são considerados grandes médicos edoutores que curam as doenças das pessoas visíveis através dos pajés, como Laposiniê(conhecida em português como Sete Estrelas). Eles então pedem ao pajé que realizeuma grande festa para eles com dança e caxixi. Mas os Karuãna também provocamdoenças e até matam, por isso o pajé tem mesmo de fazer o turé para eles.

Há ainda Karuãna que já viveram no nosso mundo, como Yakaikani, e depois seencantaram e viraram Bichos e outros que gostam de ter filhos com as mulheresvisíveis, como a Cobra Kadaikaru e o Jacaré.

Os Karuãna (giwatyavo)

Cavalo que transporta Karuâna

Page 22: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

20

Turé

Yorokãn

Hoho fêmea

Page 23: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

21

Hoho macho

Mãe da Piranha

Page 24: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

22

Turé

Cobra Waramri

Cobra grande fêmea

Page 25: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

23

Matintaperera (Maksilili/Mammatki)“Havia um homem que foi caçar em uma mata bem distante de sua aldeia. Aoentrar na mata escutou o choro de umacriança, seguiu em direção ao choro equando viu estava em frente a umamenina muito bonita e um grande sapoque tomava conta da pequena garotinha.O homem perguntou ao sapo:- Onde está a mãe desta menina?O sapo respondeu:- Ela foi procurar comida.O homem colocou a menina no colo esaiu com ela. Quando viu que estavasendo levada por um estranho, agarotinha começou a chorar bem alto.Sua mãe escutou e saiu correndo atrás dohomem. O homem correu quando viu quealgo vinha atrás dele e largou a menina.Saiu correndo para o campo onde haviaum lago e pulou na água para se salvar.Quando ele pulou, a mãe da meninadisse:- Ainda bem que você pulou n’água,senão eu iria lhe bater e lhe matar”.

[Narrado por Hélio Ioiô Labontê eDaniel Iaparrá Ioiô]

Page 26: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

24

Turé

Page 27: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

25

O pajé é grande mestre do turé: sábio, líder e médico da aldeia. É ele quem anunciae conduz a festa para os Karuãna e tem contato com o Outro Mundo através decantos, sonhos, bebida e cigarros de tawari. Nesse momento os Karuãna vêm dofundo das águas, do espaço e da floresta ajudar o pajé. O pajé tem vários cantos, umpara cada Karuãna. Quando chega a Cobra Grande (ghã kulev/wamuí) no turé, eletem de cantar o seu canto certo, pois é nesse momento que a Cobra vem se divertirjunto com as pessoas que estão dançando. E precisa ter bastante caxixi, porqueantes de ir embora ela tem de encher bem a barriga para partir satisfeita.

Algumas pessoas já nascem com o dom de ver os Karuãna e outras aprendem a serpajé. De filhos que nascem gêmeos (hoho), um deles poderá se tornar pajé. Caso osdois venham a falecer, o próximo filho a nascer será um xen hoho (“cachorro dosgêmeos”) e virá com o dom para se tornar pajé.

Pajé (piaii/piaii/ihãnmuwy, kottiye)

Page 28: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

26

Turé

Page 29: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

27

Page 30: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

28

Turé

Page 31: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

29

Page 32: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

30

Turé

Page 33: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

31

Os ajudantes do pajé são os jãdam, os palikás e as lahen. Os jãdam são os homensque estão com os bastões nas mãos e eles ficam olhando se as pessoas estão dançandodireito ou fazendo qualquer coisa de errado. Os palikás ajudam o pajé com os cantosquando ele cansa e também conduzem o turé. As lahen são três moças escolhidaspelo pajé para servirem o caxixi às pessoas dentro do lakuh e durante os cantos emsua casa, antes de começar a festa.

Os ajudantes do pajé

Page 34: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

32

Turé

Page 35: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

33

Page 36: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

34

Turé

Page 37: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

35

No turé há vários cantos que são cantados pelo pajé, participantes, palikás eoutros ajudantes. Eles começam a cantar para chamar as pinturas quando vão pintaros bancos e mastros. Isso se repete todo dia até terminarem de pintar. Tambémcantam o canto do Karamatá durante todo o tempo de preparação da flauta turé(sinal/karamatá/powkanõ).

O pajé, os palikás e os participantes iniciam a festa, entrando no lakuh com ocanto “kã solei ka pose” (patuá)/“ueiô mitãmi” (galibi antigo), que quer dizer “quandoo sol se põe”. Depois tem o canto para passar gengibre nas pernas dos dançarinos ejogar no lakuh, ou “jite uarimã”. Em seguida, o pajé começa a cantar o canto dodono do cigarro tawari que ele fuma. É este canto acompanhado do som dos maracáse das flautas que vão chamar todo tipo de Karuãna para a festa. Quando eles chegam,cantam e bebem e a quantidade de cantos que o pajé cantará durante o turé dependeda quantidade de Karuãna que chegam à festa, pois há um canto para cada umdeles. Eles vêm de todo lugar (do espaço, da mata, do fundo d’água, do pôr do sol, danascente do sol, da costa do sol, etc.), diz o pajé: são muitas pessoas, de diferentesnações, que vêm para cantar seu canto. E com isso, num turé há cantos um atrás dooutro, a noite inteira, sem se repetirem.

Os Cantos

Page 38: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

36

Turé

Page 39: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

37

Page 40: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

38

Turé

Page 41: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

39

Page 42: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

40

Turé

Page 43: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

41

Page 44: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

42

Turé

Page 45: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

43

Alguns artefatos como bancos, mastros e as clarinetes-turé (sinal/karamatá/powkanõ) são Karuãna quando estão no lakuh. Existem ainda vários outros quenão.

A cuia (kui/kuaí/tumawri) é muito importante na festa, pois é nela que é servidoo caxixi aos visitantes, aos dançarinos e ao público geral que assiste a festa.

Os turés (sinal/karamatá/powkanõ) são os instrumentos que acompanham oscantos do pajé e marcam as danças. Existe também outro instrumento que é utilizadoe se chama cuti; tem também a função de fazer som, mas é diferente do turé naforma. O cuti é feito de bambu, tem um furo quadrado no meio e o som que sai deleé mais forte.

O bastão do pajé (batõ/sauli/sauri) tem a forma de uma vara feita de madeiramarapinima com um metro de altura e algodão amarrado na cabeça. Somente opajé pode pegar nele.

O maracá (mahaka/malaka/waw) é outro instrumento muito importante. É feitocom cabaça, sementes para produzir o som e cabo longo de madeira. Depois enfeitadocom penas coloridas de arara e brancas de garça recortadas na forma de dãdelo. Asmulheres usam no turé para acompanhar o ritmo da dança quando batem com ocabo longo no chão e o pajé tem um maracá de cabo curto que ele usa enquantocanta.

Os Artefatos

Page 46: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

44

Turé

Page 47: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

45

Page 48: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

46

Turé

Page 49: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

47

Page 50: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

48

Turé

Pakará (pagha/yamatu/yamat)O pakará é onde o pajé guardasuas coisas, como o maracá e oscigarros de tawari. É feito dearumã ou de acitá e tem a formade uma cestinha quadrada. Nelesão trançadas em preto asmarcas kuahí e escama de peixe(kai atxipá).

Page 51: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

49

Page 52: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

50

Turé

Page 53: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

51

Os bancos são feitos de madeira como caju, cedro ou marupá e esculpidos nasformas de aves, jacaré, cobra grande e espadarte. Representam os bichos da naturezae seus espíritos, os Karuãna. Os bancos maiores, como Cobra Grande, Jacaré eEspadarte são utilizados por todos durante o turé e os menores são do pajé que osusa tanto no turé, quanto no ritual de cura (xitotó ou cantarola). Esses são geralmenteaves como arara (aha/tonolo/arawa), beija-flor (kulubhi/tonolo/tukusmak), pombagalega (Hamiê/tonolo/tukwa), gaivota (guelã/uãnanã/wanawna), tucano (ghobek/yawk) ou urubu (khobo/isuw).

Os bancos são sempre pintados, desenhados e marcados com o kuahí, dãdelo,macocô, estrela d’alva (warukamã) e outras marcas, do jeito que o pajé sonha.O banco Cobra grande é onde sentam os participantes homens para tomarem caxixi;no banco Jacaré sentam as mulheres e no banco Espadarte e Kadaikaru (waramuwy)é onde sentam os palikás ou convidados do pajé. O banco do pajé fica no centro dolakuh, no pé do mastro principal, e no banco Urubu (ghobo/isuw) sentam as pessoasque desrespeitaram as regras do turé e vão pagar lamã tomando grandes cuias decaxixi.

Os Karuãna ou Bichos do mundo invisível são grandes médicos, doutores,cientistas, pessoas como nós que durante o turé são convidadas pelo pajé paraparticipar da festa, tomar muito caxixi e fumar os grandes cigarros de tawari.

Os Bancos (bã/mulê/epti)

Page 54: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

52

Turé

Page 55: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

53

Page 56: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

54

Turé

Banco Espadarte (ahetxi,espadhõ/woto/kaah)É feito de madeira, na forma de peixeespada, e usado mais pelos Karipuna. Temaproximadamente 2,0 metros decomprimento, bico de serra, marcadãdelo (que significa os dentes d’água oua maresia) e pode ser pintado de preto,azul e amarelo. Ele é usado no turé pelospalikás do pajé, para servir lamã etambém o peimã, que é o caxixi dasmulheres que prepararam a bebida.

Page 57: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

55

Banco Jacaré(kaimã/agale/païne)É feito de madeira, na forma do jacaré, etem cerca de três metros decomprimento. O banco dos Karipuna tema cabeça igual a do jacaré verdadeiro emarca de jacaré mesmo, chamada kahô.Essa marca é pintada na forma de xadrez evem junto com o kuahí. O banco Jacaréserve para as mulheres sentarem parabeber caxixi e assistirem o turé.

Page 58: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

56

Turé

Banco Cobra Grande (ghã kulev/aramari/wamuí)É feito de madeira, na forma de cobragrande, e pode comportar mais de dezpessoas adultas. Geralmente é marcadocom kuahí e pintado de preto e vermelho etem cerca de quatro metros decomprimento. Serve para os homenssentarem para tomar caxixi e assistir o turé.A cobra de duas cabeças (kulev de tet/konestabi/tunaki) é feita de madeiramarupá e pode ser pintada nas coreslaranja, preto, azul everde-claro. É marcada com kuahí e estrelad’alva (warukamã), que brilha no céu àsquatro horas da manhã.A cobra de três cabeças (kulev thoa tet/awawy) tem as mesmas marcas.

Page 59: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

57

Page 60: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

58

Turé

Page 61: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

59

Os mastros têm de quatro a seis metros de altura, são feitos de madeira marupá ede maneiras diferentes, de acordo com a cultura dos Karipuna, Galibi-Marwornoe Palikur. Podem ser pintados de azul, preto, verde, laranja, vermelho, do jeito que opajé vê as pintas dos Bichos no Outro Mundo. Neles coloca-se algodão, nas pontasdos braços e em baixo do maracá que é esculpido perto da cabeça da haste.

Durante o turé os mastros têm Karuãna. No turé Galibi-Marworno há cincomastros, sendo quatro dentro do lakuh e um fora. O principal fica bem no centro eé marcado, pintado e enfeitado com algodão e bandeira vermelha. Os braços dosmastros são marcados com kuahí, talhados com maracá e pregados na diagonal,formando um “V”. No topo do mastro principal fica a Pomba Galega (hamiê/uaramin/wamhãm), o Karuãna que protege o pajé e os participantes, caso hajaataque de Karuãna inimigos. É neste mastro onde pousam os Karuãna que vêm peloar e é por onde eles descem até o lakuh para dançar e tomar caxixi. Há mais trêsmastros, um em cada entrada do lakuh, que têm marcas e enfeites e servem parareceber os visitantes, sejam os visíveis ou os invisíveis. O outro mastro fica fora dolakuh, atrás do banco Urubu onde sentam as pessoas que vão pagar lamã. Todas asmarcas e enfeites dos mastros variam de acordo com os Karuãna de cada pajé.

Os Mastros (ma/beybuwri)

Page 62: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

60

Turé

Os Karipuna possuem três mastros, um no centro e um em cada entrada. Osenfeites são os mesmos dos Galibi-Marworno e algumas marcas são iguais, outrassão diferentes. O mastro principal geralmente tem duas hastes e o braço é pregadona horizontal e tem maracá esculpido nas pontas. O lamã é dado em um dos mastrosda entrada e a pessoa senta no banco Espadarte para pagar o castigo.

Os Palikur usavam quatro mastros no turé: um maior e com duas hastes, colocadono meio do lakuh, um menor em cada entrada e o mastro do lamã acompanhado dobanco Gaivota. Os braços são ligeiramente curvados e neles pousam os Karuãna quevêm para a festa. Todos os mastros são pintados com urucu (vermelho) e kumatê(preto) e decorados com várias marcas.

Page 63: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

61

Page 64: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

62

Turé

Page 65: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

63

Page 66: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

64

Turé

Page 67: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

65

Antes da realização do turé há uma grande preparação para a festa. O pajé, ospalikás, as lahen, os jãdam (kamaxekevutne) e todos os participantes só podem comercaça ou galinha, pois os grandes convidados e homenageados (os Karuãna) nãogostam do cheiro de peixe. Mas para alguns pajés isso não é problema, contantoque as pessoas se lavem bem e tirem antes do corpo o pitxiu (cheiro) do peixe.

Dentro do lakuh os participantes não podem atravessar os bancos, pois os mesmostêm Karuãna, nem podem sair por baixo dos fios do pirorô; seria um desrespeito.Também é proibido qualquer bagunça ou querer namorar dentro do lakuh. A pessoaque desobedecer a essas normas recebe um castigo chamado lamã (mbeyne avatra,utaraksan): ela terá de sentar no banco Urubu (Galibi-Marworno), Espadarte(Karipuna) ou Gaivota (Palikur) e tomar duas cuias grandes cheias de caxixi, sendoque a primeira é obrigada a tomar tudo, sem deixar derramar, mas pode pedir ajudaa outros participantes para tomar a segunda cuia.

A mulher que estiver em seu período menstrual não deve entrar e nem chegarperto do lakuh, a não ser que o pajé lhe dê defumação para que os Karuãna nãosintam o cheiro de sangue e não lhe façam mal.

Todas essas regras devem ser obedecidas, pois são uma forma de se mostrar respeitoaos Karuãna que proporcionam a cura através do pajé e não deixá-los zangados.

Regras

Page 68: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

66

Turé

Page 69: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

67

Page 70: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

68

Turé

Page 71: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

69

As mulheres se reúnem para fazer caxixi um dia antes da festa do turé. Vão até asroças arrancar mandioca (mãiok), levam até a casa de farinha (kahbê), descascam eralam para assarem um beiju (kasab) em um forno. Depois fazem outro beiju debatata doce e quando os dois beijus estiverem prontos, as mulheres levam para acasa de festa ou para a casa do pajé, onde são colocados em potes grandes feitos debarro. Colocam os beijus dentro dos potes e misturam com água. Podem colocarainda açúcar ou cana-de-açúcar. Fazem em grandes quantidades, até os potes ficarembem cheios, e depois cobrem com folhas de açaí ou bananeira e às vezes colocampeneiras ou bacias em cima para não cair mosquitos.

No dia da festa do turé, as mulheres coam o caxixi em peneiras (manahé/manale/huw) e colocam a bebida em baldes e potes e servem em cuias durante a dança. Oshomens também coam o caxixi quando não tem mulheres para coar, mas é tradiçãoque elas façam esse trabalho. Os beijus que as mulheres fazem para o caxixi sãocortados em forma de cruz e deram origem à marca pataje kasab, ou “divisão dobeiju”. Há também outras formas de se fazer caxixi e outros ingredientes que sãomisturados à bebida.

Caxixi é preparado em grande quantidade durante a festa do turé e também paraos mutirões (maiuhí) de plantio e derrubada de roça. É ele também, junto com otawari, que permite ao pajé o acesso ao Outro Mundo durante o turé e quando elecanta no tukay.

Caxixi (caxihí/woska)

Page 72: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

70

Turé

Page 73: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

71

Page 74: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

72

Turé

Os Potes (ja/samaku/darivwit)Os potes de caxixi são feitos de barroassado, só pelas mulheres. Os homensajudam apenas quando o trabalho é maispesado, como pegar o barro ou carregaros potes. Os maiores têm a boca bemaberta e o corpo arredondado. Dentro épintado com kumatê e fica preto e porfora pode ser pintado com marca kuahí,também com kumatê. Pinta assim ospotes pequenos e os grandes, usados naaldeia para fazer e guardar o caxixi. Hojeem dia apenas os Palikur fazem essespotes e durante o trabalho as mãesensinam às filhas como fazê-los.

Page 75: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

73

Page 76: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

74

Turé

?

Page 77: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

75

O pajé sonha, vai participar de turé no Outro Mundo e no dia seguinte diz aosseus ajudantes como fazerem a pintura e as marcas dos mastros e dos bancos, pois édesse jeito que ele vê as pintas dos Karuãna que vivem no Outro Mundo. As tintaspara pintar são de várias cores e podem ser compradas no comércio ou preparadasde urucu, jenipapo e kumatê.

Há vários tipos de marcas usadas em bancos, mastros, maracás, cuias de caxixi epinturas corporais, como o kahô, kuahí, warukamã, iarari, dãdjilo, macocô, xime djilavi, kai atxipa, kai txuhi, pataje kasab, kai totxi. Os Karipuna fazem banco Jacaré coma marca kahô e banco Espadarte com dãdjilo. Os Galibi-Marworno usam a marcaiarari (forma de nuvens) para pintar bancos Cobra Grande e mastros e os Palikurusam muito a borboleta (papiõ/kuru) nos bancos pequenos e grandes. Mas a marcamais comum entre todos os índios do Oiapoque é o kuahí, que é o nome de umpeixinho com forma de losango. Outras marcas comuns são:

Warukamãn/zetuel (estrela d‘alva) – pintada no banco, na cabeça da CobraGrande, e no topo do mastro.Macocô (pontinhos que são estrelas) – pintados nos mastros e bancos.Xime dji lavi (caminho da vida) – essa marca é muito pintada nas cuias.Kai atxipa (escama de tamuatá) – pintura corporal feita nas costas e peito.Kai txuhi (escama do pirarucu) – pintada nos mastros e bancos.Pataje kasab (divisão do beiju) – pintura corporal mais usada no rosto.Kai totxi (casco do jabuti) – pintura corporal usada no braço.

As Marcas (mak/abektey)

Page 78: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

76

Turé

Page 79: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

77

Page 80: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

78

Turé

Page 81: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

79

Page 82: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

80

Turé

Page 83: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

81

O butxiê (que significa flor em patuá) é um enfeite utilizado por homens e mulheresdurante a dança. É feito de miçangas, algodão e asas de besouro chamado mamãsolei que quando batem umas nas outras fazem barulho parecido com o maracá. Obutxiê dos homens é mais comprido que o das mulheres.

O kuhun (yuti) é um enfeite utilizado na cabeça por homens e mulheres. É feitode penas do peito da arara, cipó e fios para amarrar as penas. As mulheres às vezesusam kuhun só de penas brancas e os homens usam de penas vermelhas, amarelasou misturadas.

Koká é um enfeite dos Karipuna, tem a forma de um kuhun, é feito de penas dearara presas em pé numa coroa de cipó e usado apenas pelos homens.

Enfeites do Corpo

Page 84: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

82

Turé

Page 85: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

83

Page 86: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

84

Turé

Page 87: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

85

Page 88: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

86

Turé

Plimaj (yuti wewa)O plimaj é um enfeite usado nacabeça somente pelos homens. Hojeé produzido pelos Karipuna e Galibi-Marworno, mas sua origem vem dosPalikur. É feito com penas vermelhase azuis do rabo e do peito da arara,penas brancas de garça recortadas naforma da marca dãdelo, cipó titica,bambu, cera de abelha e fios dealgodão. Tem ainda placas de buriti,presas umas às outras por cordão dealgodão, que caem nas costas dodançarino. Essa parte do plimajchama-se dosiê e nele são colocadosfios de algodão com pequenas penasde arara e desenhados animais oumarcas diversas.

Page 89: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

87

Page 90: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

88

Turé

Page 91: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

89

Page 92: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

90

Turé

Page 93: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

91

Page 94: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

92

Turé

Page 95: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

93

Em julho de 2008 os técnicos indígenas do Museu Kuahí reuniram-se a fim departiciparem das Oficinas de Pesquisadores Indígenas realizadas na região do baixoOiapoque no âmbito do projeto “Valorização e gestão de patrimônios culturaisindígenas no Amapá e norte do Pará”, desenvolvido pelo Iepé com apoio da PetrobrasCultural. A eles somaram-se outros integrantes residentes em aldeias da regiãodistribuídas ao longo da BR-156 e que estiveram presentes nas edições anterioresdas oficinas ocorridas no ano de 2005. O tema e proposta das últimas oficinasenfatizaram a importância que o turé tem na vida dos povos indígenas do Oiapoquecomo expressão de conhecimentos múltiplos relativos à cosmologia, meio ambiente,etc., e como forma preferida de síntese e objetivação da cultura indígena regional.

Os participantes das oficinas produziram este livro pretendendo uma divulgaçãoampla dos vários aspectos relativos ao rito do turé, preocupados com a distânciados mais jovens em relação a essa importante manifestação da cultura dos povosindígenas do Oiapoque e com visões distorcidas que os não índios dela possuem.

A produção deste livro

Page 96: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

94

Turé

O processo de confecção do livro teve várias etapas. A primeira delas foi levantar oque os participantes das oficinas conheciam sobre o turé e trabalhar os motivospelos quais o consideram uma expressão cultural importante. O momento seguintefoi de sistematização dessas idéias a fim de selecionar e classificar os conteúdosconsiderados importantes e que seriam abordados no livro, por exemplo, falar sobreos enfeites corporais, sobre os papeis do pajé e ajudantes, sobre os bancos e sobre osKaruãna. Tendo isso em mente, o passo seguinte foi a produção dos textos e imagens(fotografias e desenhos). Para cumprir satisfatoriamente tal tarefa, os participantesorganizaram-se em grupos de trabalho, fizeram entrevistas com pajés e especialistase assistiram a um turé realizado na aldeia karipuna Espírito Santo, ocasião em queforam tiradas fotografias que integram o livro. Após isso, o trabalho concentrou-sena edição dos textos que já haviam sido iniciados, complementando-os com asentrevistas, traduzidas do patuá para o português; continuação da confecção dosdesenhos e seleção das fotografias. Desse esforço comum obteve-se um material ricoque foi organizado e que resultou nesta publicação.

Ugo Maia AndradeAntropólogo - consultor

Page 97: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Povos Indígenas do Oiapoque

95

Page 98: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

96

Turé

T934 TURÉ dos povos indígenas do Oiapoque. Rio de Janeiro, São Paulo : Museu do Índio, IEPÉ, 2009

96 p. il. color

ISBN 978-85-85986-18-6

1. Festa do Turé 2. Oiapoque 3. Rituais indígenas I. Título

CDU 394.3

Ficha catalográfica: Lidia Lucia Zelesco CRB-7 3401

Page 99: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque

Pesquisar, documentar,

preservar e difundir são

algumas das ações por meio

das quais o Museu do Índio-

Funai, em parceria com o Iepé

– Instituto de Pesquisa e

Formação em Educação

Indígena e com o Museu Kuahí

dos Povos Indígenas do

Oiapoque, vem apoiando o

processo de valorização

cultural indígena em curso

na região do Oiapoque, Estado

do Amapá. Esta publicação é

mais um resultado dessa

parceria e expressão do

movimento de fortalecimento

dos conhecimentos e das

práticas culturais

compartilhadas pelos povos

indígenas que habitam a bacia

do Uaçá, no Oiapoque.

José Carlos Levinho

Diretor do Museu do Índio - Funai

Page 100: Turé dos Povos Indígenas do Oiapoque