Turner - Contra a Sociologia Pública

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    Jonathan H. Turner

    A bem difundida recepo do chamamento por uma sociologia pblica confirma o desejoquase desesperado da disciplina tornar-se pertinente s grandes questes atuais. Em vriaspartes do mundo socilogos sentem-se, de alguma forma, marginalizados na esfera pblica, eraramente so indagados acerca das suas percepes. Assim, a sociologia pblicaparece pro-por um caminho para que as vrias sociologias se unam, visando a torn-la mais relevante adiferentes pblicos e comunidades. O presente trabalho, entretanto, argumenta que esse con-vite para uma sociologia pblica , na realidade, por uma sociologia radical de esquerda, quevai infundir ideologia e pregao moral face pblica da sociologia. O resultado que adisciplina tende a afastar mais do que engajar os prprios pblicos que tenta influenciar. Maissensato seria manter a nfase na cincia e na neutralidade de valor, desenvolvendo uma men-talidade de engenharia, na qual os socilogos utilizam suas teorias e pesquisas para ajudar osclientes a solucionar problemas do mundo real. Somente aps o legado da prtica bem sucedi-da da sociologia cientfica, a sociologia ser considerada de interesse para as questes maisimportantes do debate pblico.PALAVRAS-CHAVE:sociologia radical, cincia, engenharia, prtica, teoria sociolgica.

    DOSS

    I

    Jonathan H. Turner*

    CONTRA A SOCIOLOGIA PBLICA: ser ela a melhor forma detornar a Sociologia relevante?1

    * Doutor em Sociologia pela Universidade de Cornell. Pro-fessor do Departamento de Sociologia da Universidadeda Califrnia.Department of Sociology. University of California, Riverside.Riverside, CA 92521-0419. [email protected]

    1Traduzido por Maria Lavnia Sobreira de Magalhes. Re-viso Anete Ivo aceita pelos organizadores do dossi.

    O chamamento de Michael Burawoy (2004a,2004b, 2004c, 2005a, 2005b) por uma sociologiapblica certamente ecoou entre os socilogos, nos nos Estados Unidos, mas efetivamente em todoo campo da sociologia. Sua defesa estimulou acontinuidade da discusso sobre o papel da soci-ologia, e seu argumento de que as quatro sociolo-gias conseguem, de alguma forma, corrigir os ex-tremos ou os pontos cegos uma das outraspare-ce, primeira vista, um toque de gnio, ao integraro que normalmente se constituem faces hostisna disciplina. Em primeiro lugar, situa-se a socio-logia profissional, comprometida com a cincia e

    que enfatiza a reviso pelos pares da atividade ci-entfica, buscando acumular conhecimento sobreo mundo emprico (eu poderia acrescentar: expli-car como o mundo social opera com as teorias ge-rais). Em segundo, vem a sociologia para polticas

    pblicas, que ao oferecer solues a seus pro-blemas especiais utiliza o conhecimento sociolgi-co para atender s necessidades de clientes efinanciadores ou patrocinadores. Em terceiro lu-gar, vem a sociologia crtica, que questiona as su-posies e os pontos de vista morais fundamenta-dos nas premissas de base de toda a sociologia,mas especialmente hostil sociologia cientfica. E,por ltimo, vem a sociologia pblica, que engajaos pblicos tanto o geral quanto os vrios pbli-cos locais em questes contemporneas e pro-blemas que consideram importantes.

    Segundo Burawoy, cada um desses quatro

    tipos de sociologia possui seu lado sombrio. Nasociologia profissional, existe uma tendnciaautorreferencial em relao s questes nem sem-pre muito importantes; na sociologia para polti-cas pblicas, observa-se uma submisso em rela-o s demandas dos clientes; na sociologia crti-ca ao dogmatismo e na sociologia pblica, ao seucarter transitrio. H certo grau de verdade emrelao a essas afirmativas, e a maioria dos soci-logos reconhece essas patologias. Assim, a crenade Burawoy de que as quatro sociologias juntas

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    podem corrigir, ou at mesmo curar as patologiasumas das outras uma ideia que agrada, embora

    de difcil execuo prtica. Na realidade, confor-me j argumentei em outro trabalho (Turner, 2005),existem perigos reais em perseguir peremptoria-mente a presena pblica da sociologia, pela sim-ples razo de termos quatro sociologias distintasque no podem facilmente ser harmonizadas.

    O argumento de Burawoy deixa claro que asociologia pblica deve ser o veculo pelo qual asociologia crtica e radical tornar-se-ia dominante.Se os socilogos expem suas polticas aos pbli-cos, em muitas sociedades estes possivelmente

    prestaro ainda menos ateno aos socilogos doque o fazem atualmente, principalmente em siste-mas capitalistas, como o dos Estados Unidos. Emum mundo cheio de problemas de organizao dosseres humanos, solidarizo-me com uma sociologialevada a srio. Porm ainda no estou convencidode que uma sociologia impregnada de ideologiaconsiga fortalecer-nos e, mais importante, conce-der-nos um lugar mesa do poder, onde esto sendotomadas as mais importantes decises, que afetamo bem-estar das pessoas.

    realmente gratificante ver os socilogosserem consultados e at mesmo constatar sua pre-sena como especialistas na mdia. Porm elescorrem o risco de se tornarem simplesmente maisum grupo de cabeas falantes na televiso. Serealmente a cincia conseguisse disciplinar essediscurso, eu poderia ento ter esperanas. Entre-tanto, levando em conta que, no mnimo, metadeda disciplina est comprometida com uma ideolo-gia em especial com tendncias de esquerda o

    que, a propsito, compartilho com os colegas soci-logos , vejo poucas possibilidades da sociologiapblica ser disciplinada. Os pblicos mais am-plos no precisam ouvir nosso discurso, comomuitos dos meus colegas j fazem em suas salasde aula para atrair alunos, ou como constato emtantas apresentaes em reunies profissionais.Muito do que se apresenta como sociologia consti-tui-se, essencialmente, num caminho ideologica-mente percorrido sobre o que bom para as pes-soas e para a sociedade, na grande maioria total-

    mente fora do controle da explicao cientfica, decomo o mundo social realmente funciona. Na rea-

    lidade, muitas vezes a cincia vista como o ini-migo de uma sociologia ideologicamente orienta-da. Se os socilogos ficarem expostos dessa ma-neira a pblicos cada vez mais amplos, quase sem-pre mais conservadores do que eles, vamos nosdistanciar deles, perdendo, assim, aquilo que as-piramos a exercer: a influncia.

    Na realidade, constrangedor, para no di-zer humilhante, que uma disciplina dedicada compreenso do mundo social seja ignorada nos pelo pblico, mas por todos em geral. Tambm

    duplamente enervante que uma disciplina comum modelo equivocado de comportamento huma-no e com muito pouca compreenso sobre as for-as sociais mais amplas do universo social ouseja, a economia tenha tanta influncia. Nos Es-tados Unidos, at os historiadores recebem maisdestaque na esfera pblica dos que os socilogos.E, infelizmente, o mesmo se aplica a alguns psic-logos. Assim, entendo as frustraes dos socilo-gos quanto ao fato de outros profissionais, muitomenos qualificados, estejam sendo consultadospara discutir a maioria das questes pblicas e noeles. Essa frustrao constitui-se o cerne do inte-resse global predominante na proposta deBurawoy, o de reconciliar as quatro sociologias soba bandeira da sociologia pblica, embora o objeti-vo real seja subordinar todas as sociologias soci-ologia crtica. Porm, para que a sociologia exerainfluncia duradoura nas polticas pblicas e nasdecises tomadas pelos que detm o poder, preci-samos engajar pblicos como cientistas, com ex-

    plicaes que sejam teis. Engajar plateias comocruzadas morais tende a reduzir ainda mais ainfluncia j bastante limitada que os socilogosexercem em debates e decises importantes.

    Ao invs de partir para as cruzadas pbli-cas, a sociologia precisa resolver algumas divisesfundamentais referentes sua prtica divisesque a sociologia pblica no consegue e que, narealidade, no tem interesse em resolver. Uma de-las a diviso, h longo tempo, entre os que dese-jam ser neutros em relao a valores e os que que-

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    rem defend-los, ou a diviso entre cincia versusmoral (tica). Outra separao a retrica de

    anticincia da maior parte da sociologia contem-pornea, seja da sociologia crtica ou a crena filo-sfica na impossibilidade de uma cincia naturaldo processo social. Outra, conforme observaBurawoy, a diviso entre a sociologia para polti-cas pblicas, ou o que chamarei de sociologia apli-cada ou prtica sociolgica, e todas as outras soci-ologias. Outra diviso a separao drstica entrea teoria e a pesquisa, como tambm entre a teoria ea prtica. Muito da sociologia profissional autorreferencial, como Burawoy apropriadamente

    ressalta, ou simplesmente enfadonha, uma vez que excessivamente descritiva, frequentemente esta-tstica, sem outra justificativa a no ser a de serestatstica. Ademais, muito raramente a sociologiaemprica testa as teorias. Por outro lado, muito doque chamado de teoria, na sociologia, no cien-tfico, mas uma combinao de sociologia crtica,histria das ideias, venerao dos heris, dos mes-tres antigos no cnone sociolgico, praticamenteum filosofar derivativo e um pessimismoepistemolgico sobre as possibilidades de a socio-logia ser uma cincia explicativa.

    Assim, a sociologia possui uma imensa casaque precisa ser organizada antes de engajarmos opblico com o que temos. E o que temos mesmo?Conhecimento acumulado? Percepes tericas com-provadas? Indignao moral? No ficou claro paramim que a sociologia tenha tudo isso a oferecer aopblico no estado atual. Gostaria de abordar cada umadessas questes, comeando pelas consequncias deassumirmos uma perspectiva moral.

    SOCILOGOS PBLICOS COMO CRUZADOSMORAIS

    O mago da misso de Burawoy tornar asociologia uma disciplina moral talvez um pou-co disciplinada pela sociologia profissional. Po-rm, Burawoy deseja finalmente, que oengajamento da sociologia seja moral e que desafiesuposies ticas, fundamentos, debates e deci-

    ses. Em vrios pontos ele menciona alguns estu-dos admirveis da sociologia nos Estados Unidos

    para embasar seu ponto de vista de que a melhoranlise sociolgica traz tambm implicaes mo-rais. Por exemplo, oRelatrio Coleman(sobre es-colas segregadas), oRelatrio Moynihan(sobre adesintegrao da famlia africana), o livro deVaughn(sobre o desastre do Challenge) e o trabalho deMassey e de vrios coautores sobre a imigrao esegregao na Amrica. Todos foram bastante elo-giados, e gostaria de juntar-me a Burawoy nessaavaliao.

    Esses trabalhos influenciaram decisivamen-

    te a organizao poltica e as decises nos EstadosUnidos, e figuram entre os poucos que o consegui-ram. O que todos esses relatrios oferecem so da-dos quantitativos e uma anlise embasada. Eles tam-bm possuem uma mensagem moral, porm limita-da, o que no chega a ser um sermo. Os dadosfalam por si. No h razo para adotarmos excessi-vamente uma perspectiva moral, mas a minha im-presso a de que Burawoy gostaria de algo mais:transform-los em um caso moral, envolvendo opblico e aqueles que decidem politicamente emum debate moral. Assim, creio, esses excelentesrelatrios tornar-se-iam uma desculpa para emitir amoral dos socilogos. Nas sociedades, como, porexemplo, a dos Estados Unidos, esse tipo de cruza-da moral no levar a sociologia muito longe. Almdisso, bem provvel que a cruzada moral acabereduzindo a credibilidade dos dados, suficientespara sustentar uma causa, fazendo com que estaseja menos plausvel exatamente a ltima coisaque a sociologia pblica almejaria.

    No seremos socilogos muito competentes pblicos, cientficos, aplicados, ou at mesmocrticos se tudo que tivermos a oferecer ao mun-do for nossa indignao, revestida na roupagemde extremistas no espectro poltico. DouglasMassey (1993, 2005) corretamente conclamou poruma poltica fraca, na qual os pesquisadorespolticos (e eu acrescentaria os tericos) recuariame ficam subordinados coleta, anlise e explicaoterica dos dados. Existe uma fora na polticafraca, pois os dados e a anlise minuciosa esto

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    em primeiro plano, e no a ideologia poltica oumoral que, inicialmente, se constituiram na moti-

    vao para a realizao da pesquisa. Precisamosmostrar ao mundo externo o poder da sociologiacomo cincia, mais do que desfilar nossas convic-es morais. Creio que a defesa de Burawoy tendea subordinar nossa cincia pregao moral, o quesimplesmente afastaria e indisporia as pessoas quequeremos influenciar.

    Burawoy enfatiza que a sociologia pblica eaplicada precisa ser disciplinada pela sociologiaprofissional (cientfica). Porm, se partimos da vi-so de que devemos adotar uma perspectiva mo-

    ral, improvvel que as outras sociologias consi-gam disciplinar a sociologia pblica. A minha ex-perincia a de que, sem um firme propsito demanter os prprios critrios pessoais e morais longeda cincia, a moral e a ideologia sempre vo preva-lecer sobre a anlise. O resultado final que nostornaremos cruzados morais e nada mais.

    A sociologia dos Estados Unidos, assimcomo aconteceu em muitas sociologias nacionais,surgiu com uma personalidade dividida. No casoestadunidense, grande parte do discurso voltava-se para produzir uma sociologia cientfica, po-rm somente um dos primeiros socilogos ameri-canos Lester Ward foi preparado como cientis-ta; os demais possuam formao jornalstica eoutras no-cientficas. Portanto, o compromissocom a cincia era mais verbal do que real. A socio-logia estadunidense nunca solucionou essa divi-so: a moral versusa cincia; a defesa de valoresversusa neutralidade cientfica. Os que tentampermanecer neutros em relao aos valores so vis-

    tos comumente como parte do problema (con-forme definido pelos socilogos crticos), ou comoos que se vendem s foras do mal na socieda-de. Ao passo que aqueles que se tornam excessi-vamente ideolgicos devem tolerar esse tipo derejeio que agora lano proposta de Burawoy.

    Desde sua fundao a sociologia nos Esta-dos Unidos teve muitas oportunidades para com-provar sua utilidade (ver, em relao anlise cr-tica, Turner e Turner, 1990), porm, ou a discipli-na no conseguiu impressionar, pois realizava pes-

    quisas destitudas de rigor e sem base terica, ouse tornou uma cruzada moral. Portanto, no de

    estranhar que os benfeitores abastados (sejam elespessoas ou fundaes) se desinteressem da disci-plina, e acho que no ser surpresa se nossos pou-cos patrocinadores e clientes restantes venham anos abandonar novamente, se a proposta deBurawoy continuar a ganhar adeptos.

    Deixem-me apresentar outro exemplo decomo os socilogos no conseguem exercer a socio-logia pblica de modo a fazer a diferena. No come-o da invaso dos Estados Unidos ao Iraque, amaioria dos socilogos, nos Estados Unidos, esta-

    va contra a guerra. Os membros da AssociaoAmericana de Socilogos (ASA) apresentaram umapetio e um manifesto contra a guerra, e, como erade se esperar, a aprovao foi grande. Acho que estefoi um esforo ineficaz, pois ningum no poder, ouo pblico em geral, prestou realmente ateno aoque os socilogos pensavam. E, considerando queo pblico apoiava a invaso, poucos ouviriam ossocilogos e, mesmo se o fizessem, s iramos con-seguir irrit-los o que no seria exatamente umbom comeo para a sociologia pblica.

    O que argumentei na poca e que defendoagora que, se os socilogos quisessem engajar opblico em relao guerra, era preciso que fsse-mos acadmicos e no cruzados morais. So mui-tos os socilogos que estudam guerras, imprios,foras armadas, dinmicas do sistema internacio-nal e outros aspectos da dinmica em jogo noIraque. So esses os indivduos que deveramosapresentar ao pblico como especialistas, com ca-pacidade para conversar sobre a invaso e seus

    efeitos possveis, de forma neutra. Tenho certezaque at Burawoy concordaria com esse ponto, po-rm sua sociologia pblica deseja ir mais adiante eproclamar como imoral (uma ponderao com aqual compartilho, mas que no pertinente, vindade um socilogo pblico competente) esse esforopela poltica americana. No comeo da guerra, pre-cisvamos de pessoas frias e analticas frente aopblico, estudiosos com dados histricos, comdiscernimento sobre a dinmica da operao mili-tar e suas mltiplas consequncias no planejadas

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    e imprevistas. No se conseguiu encontrar essescientistas em lugar algum. Em vez deles, usamos o

    cl costumeiro de enfeite, polticos ignorantes, comalguns generais reformados fazendo os comentri-os. Onde estavam os socilogos? No se conse-guiu encontr-los na esfera pblica, porque nosomos respeitados o bastante para que se perce-besse que detemos um conhecimento apropriadoa acrescentar aos comentrios sobre a guerra. Ofato de sermos cruzados morais tambm no teriaajudado, e assim ningum prestou ateno ao ma-nifesto da Associao Americana de Sociologia ouaos socilogos adeptos de uma perspectiva moral.

    Porm, por que foi assim? Por que se considerouque os no-socilogos tinham mais conhecimentoe qualificao do que os socilogos sobre a guerrae a formao do imprio? As respostas a essas per-guntas podem ser encontradas nas demais divi-ses da disciplina.

    A PREVALNCIA DA RETRICA DAANTICINCIA NA SOCIOLOGIA

    A sociologia cientficaest sendo atacadade vrios ngulos, quando Burawoy (2005b) pro-clama o fim da cincia pura. Segundo muitossocilogos crticos, os esforos para que permane-amos neutros em relao aos valores contraria osprincpios morais. De acordo com socilogos maisvoltados para a filosofia, a sociologia cientfica aoimitar a epistemologia das cincias naturais estfadada a falhas, pois os seres humanos e suas cri-aes a sociedade e a cultura supem o poder

    de interferncia e a capacidade de modificar a na-tureza fundamental da realidade social. O resulta-do que no existem leis sociolgicas atemporaise duradouras. Consequentemente, para estes soci-logos crticos a sociologia cientfica no possvel. bem verdade que podemos coletar dados e usar aestatstica, mas a cincia no um mtodo, e nemum amontoado de dados: um meio de explicaratravs de teorias como o universo social opera.

    Se a sociologia no consegue ser uma disci-plina cientfica, seria impossvel disciplinar o

    dogmatismo da sociologia pblica radical? Achoque a sociologia, ao estabelecer conjuntos de prin-

    cpios tericos, consegue ser apropriada aos pro-blemas e s questes atuais, os quais, avaliadosempiricamente, so trazidos esfera pblica. Amaioria dos socilogos crticos tem uma perspecti-va anticincia, com algumas excees notveis (in-cluindo talvez Burawoy, embora eu no tenha cer-teza pela leitura de seus trabalhos mais importan-tes). Eles veem a cincia como inerentemente con-servadora especialmente a cincia social que ten-ta ser uma cincia natural e, de certo modo, re-jeitam os esforos de desenvolvimento de leis so-

    ciolgicas capazes de explicar fenmenos signifi-cativos de interesse para o pblico e para osformuladores de polticas.

    Atualmente, grande o ceticismo em rela-o ao desenvolvimento da sociologia explicativa.Porm, na realidade, a sociologia terica tem mui-to a explicar sobre o universo social. Infelizmente,nosso conhecimento no est totalmente codifica-do, e, sem um compromisso de desenvolver e in-tegrar teorias sobre processos sociais gerais, a soci-ologia no consegue concretizar seu potencial deinformar os pblicos. Uma sociologia pblica queno seja dominada pela cincia e pelo conheci-mento dos socilogos uma sociologia que passapara o modo crtico, dominado espontaneamentepor idelogos. No que so nitidamente momentosenganosos. Burawoy diz tudo o que correto so-bre a sociologia profissional, embora ele pareapensar que ela tem mais a ver com a coleta de da-dos do que com a explicao terica. E assim, osque respondem ao seu chamamento por uma so-

    ciologia pblica, esto mais propensos a serem ostericos nesse campo, e no cientistas. Entretanto,a chave para uma sociologia pblica vivel estnos cientistas, pois o mundo precisa de uma ex-plicao sobre oporqu dos acontecimentos. Se opblico no aprecia o rumo que estes tomaram, asociologia terica e no a de carter ideolgica quetem mais possibilidades de oferecer uma orienta-o para mudar o rumo dos acontecimentos, seque seja possvel modific-los.

    A teoria disciplina a ideologia, indicando o

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    que possvel ou no. A ideologia simplesmentereafirma o que seriarealmente possvel, mas certa-

    mente no o caso. O pblico precisa da explica-o sociolgica dos acontecimentos e perodos, node nossas divagaes morais. Existe um vasto cor-po de cincia social explanatria, em especial, dasociologia explanatria, disposio dos clientes,dos formadores de polticas e dos pblicos. Os pro-blemas com os quais as sociedades humanas sedeparam so demasiadamente importantes parapermitir que a melhor faceta da sociologia para omundo exterior seja um punhado de tericos, mui-tas vezes condescendentes e quase sempre irritan-

    tes. Eles no ajudam a alcanar esses objetivos atra-vs das doutrinas de suas ideologias, pois vo setornar um outro ator ainda mais poltico no fluxo erefluxo da poltica. Naturalmente, se as pessoasdesejam ser polticas e agir moralmente enquantocidads, quem pode se opor? Porm, nos seus pa-pis de socilogos, como cruzados morais, eles satingem nossa disciplina. Um modo de operaobrando ou apoltico o melhor, se a sociologiaquiser exercer um impacto real no mundo, fora dosconfins de nossas seguras carreiras na academia.

    A DESCONEXO ENTRE TEORIA, PESQUISAE PRTICA SOCIOLGICAS

    No obstante o considervel avano da teo-ria explicativa nos ltimos quarenta anos, a socio-logia profissional ainda apresenta grandes lacunasentre teoria, pesquisa e prtica. Assim, antes que asociologia profissional seja usada como um corre-

    tivo para qualquer coisa, ela precisa primeiro arru-mar a prpria casa. So evidentes as lacunas entreas vrias linhas. Em primeiro lugar, muito do quese chama de teoria, em sociologia, no teoriacientfica, como mencionei antes. A histria dasideias, a crtica dos males existentes, a filosofia, onegativismo epistemolgico e muitas outras ativi-dades so chamadas de teoria, muito embora noexpliquem nada e, na realidade, frequentementesintam prazer em dizer que a sociologia no conse-gue explicar nada cientificamente. Existem, na ver-

    dade, muitos programas de pesquisa terica querepresentam um grande avano acerca do que era

    conhecido em relao ao universo social h ape-nas meio sculo. Ainda assim, a ala terica da so-ciologia profissional divide-se entre as cientficase anticientficas.

    O resultado que os pesquisadores no tes-tam as teorias sistematicamente; na realidade, amaioria dos testes de teoria feita pelos que for-mulam as teorias. Nas cincias maduras, existe umadiviso de trabalho entre a teoria e a pesquisa, umavez que so atividades intelectuais bem diferentes.A teoria abstrata, afastando-se dos casos empricos

    para explicar fenmenos genricos, enquanto quea pesquisa segue na direo dos casos empricospara medir os acontecimentos de forma precisa.Quando preciso que os tericos sejam tambmpesquisadores, suas teorias tendem a ser limita-das e preenchidas pelo alcance das escalas, en-quanto que os pesquisadores simplesmente, na faltade teorias cientficas para testar, coletam os dadose descrevem acontecimentos. Assim, existe umagrande lacuna entre a teoria e a pesquisa. E vai serdifcil para a sociologia ter muito que dizer em re-lao a questes importantes, a no ser que seustericos desenvolvam teorias e seus pesquisado-res as testem, de modo que a disciplina consigaacumular mais conhecimento. Sem conhecimen-to, o que vamos dizer aos nossos pblicos?

    A prtica sociolgica tambm tende a no teruma base terica. Como Burawoy salienta, quasesempre, em alguns contextos aplicados, as necessi-dades de agradar aos clientes tornam a explicaodos acontecimentos menos importante. Entretanto,

    se a prtica fosse voltada para a teoria, os que estocomprometidos com o trabalho sociolgico aplica-do poderiam usar essas teorias para propor solu-es aos problemas dos clientes. Visto que a prticaenvolve intuio, extrapolao e coleta de dadosdescritivos, ela no consegue contribuir significati-vamente para a disciplina da forma como deveria.A utilizao das teorias para os problemas do mun-do real somente uma forma de avaliar as teorias,quando se transpe o conhecimento sociolgico daacademia para o mundo real. De fato, como saliento

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    podem prender a ateno do pblico, como ficoubastante evidente nas estaes de rdio AM de

    direita nos Estados Unidos. Sua ala de esquerdaest certamente mais prxima de minhas inclina-es morais e polticas, mas tambm elas fazemmais barulho do que substncia. Um verdadeirodilogo poltico entre esquerda e direita tambmpode ser bom para democracia, como processopoltico em geral, pois poderia engajar a coletivi-dade de cidados, mas tenho dvidas se esseengajamento por si s possa solucionar nossosproblemas. O que necessrio no tempestadeou contra-tempestade, porm conhecimento em

    relao a questes e problemas particulares. Se asociologia no fornecer esse conhecimento, entoos que esto lhe procurando vo tentar encontr-lo em outro lugar, como acontece atualmente, mui-to embora o tipo de conhecimento oferecido poreconomistas, historiadores, cientistas polticos eat mesmo por psiclogos no seja o mais apropri-ado. Porm, se a sociologia deixar cair a bola, comoo fez no passado, outros vo tornar a agarr-la e elaser mais uma vez marginalizada.

    A convocao de Burawoy por uma socio-logia pblica atrativa, pois se abriria a todas aspossibilidades consideradas corretas para os soci-logos: uma chamada para ajudar os oprimidos,os humilhados, os que tiveram seus direitos civiscassados, os pobres, os impotentes, e outros p-blicos, enquanto se visualiza como o inimigo des-ses valorosos pblicos os detentores de dinheiro ede poder. Esse tipo de polarizao no conseguemuito, a no ser levantar as tropas sociolgicaspara gritar e bramir. Segundo Burawoy, sociologia

    pblica significa que os socilogos devem tomarparte dos movimentos sociais na realidade, ser avanguarda desses pblicos, a partir da seguran-a dos seus gabinetes na academia.

    Sustento o ponto de vista de que, se os so-cilogos desejam ajudar as pessoas, temos de iralm da chamada e da convocao s armas. O fatode sermos transformados em soldados de infanta-ria ou lderes de um movimento social no nosgarante muito poder, e nem a capacidade de aju-dar as pessoas s quais emprestamos nossa revol-

    ta moral. No preciso um doutorado, ou acmulode conhecimento de toda uma vida, para ser um

    ativista. Eu sei disso como algum que, quandomuito jovem, foi ativista do movimento pelos Di-reitos Civis no sul dos Estados Unidos. Se a pre-tenso se tornar um ativista algo que vale apena fazer na arena poltica ento que o seja.Porm, se quisermos fazer com que a sociologiaseja relevante para os problemas enfrentados pe-las pessoas, usemos nosso treinamento e qualifi-cao de sociolgicos. Algumas vezes, tudo de queprecisamos para mudar a poltica fornecer dadosdescritivos, como exemplifica o relatrio de

    Colemanno caso emblemtico de segregao esco-lar nos Estados Unidos, ou o que a equipe deDouglas Massey (1993, 2005) forneceu ao Congres-so estadunidense em relao s questes de imi-grao. Os dados no mudam a mente das pesso-as, mas produzem um efeito expressivo em mo-mentos-chave nos debates pblicos. Uma polticabranda uma forma bem melhor de sociologiado que a poltica de jogo duro dos moralistas.

    Porm, em relao s questes importantes,tenho ainda uma viso bem maior do papel dossocilogos no debate pblico. A sociologia comocincia pode oferecer bem mais ao mundo do quea sociologia como uma torre de babel ou fonte prin-cipal da revolta moral. A cincia requer o desen-volvimento e o teste das teorias explicativas, acu-mulando, assim, conhecimento que pode ser uti-lizado para lidar com os problemas do mundo real.Ainda assim, para a sociologia crtica a cincia quase sempre considerada como parte do proble-ma, e no sua soluo. Como isso seria possvel?

    COMO A CINCIA TORNOU-SE O PROBLEMAE NO A SOLUO?

    Burawoy descreve a carreira sociolgica t-pica como aquela que passa por quatro estgios.Os estudantes de graduao so atrados pela soci-ologia pela sua relevncia aparente no mundo so-cial. Em seguida, as escolas de ps-graduao aoforar alimentarem-se de teoria-padro (cientfica)

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    e os mtodos quantitativos e estatsticos privamesses alunos deste altrusmo. Esse estgio seria

    seguido por uma competio renhida para garan-tir um posto acadmico no qual as publicaes e ono desagradar algum so mais importantes.Assim, possvel que, no quarto estgio, quandoencontram alguma segurana profissional, os im-pulsos crticos reprimidos do estudioso possamdeixar de ser segredo e manifestarem-se. Essacaracterizao no totalmente imprecisa, ao me-nos em relao ao primeiro estgio. O segundoestgio, no qual a tirania das cincias domina um tanto exagerado. O terceiro, pelo menos se-

    gundo minha experincia, tambm j que obser-vei que os socilogos radicais no permanecem emsilncio antes de obterem seus postos (na realida-de, justamente o oposto). E assim, o ltimo est-gio tambm no foi alvo de uma descrio exata-mente acurada. Entretanto, esta descrio revela ovis de Burawoy: a cincia (pelo menos a cincianormal) ruim, a sociologia crtica boa. O ativismo bom, ao passo que a neutralidade de valor nasociologia ruim. Minha experincia na academia,nos ltimos quarenta e cinco anos como socilo-go, a de que, se existe tirania, ela no se originada cincia, mas sim da correo poltica pelomenos no contexto acadmico estadunidense.

    O xito dos movimentos sociais na socieda-de mais ampla foi internalizado pela academia econtinua sendo fonte constante do despertar mo-ral, mesmo quando a sociedade j se pacificou eseguiu em frente. Normalmente o corpo docente,mais do que os alunos, que fica colrico edogmtico em suas crenas de que determinados

    tpicos s podem ser estudados da forma corretae que alguns tpicos no podem ser estudados por-que so nocivos. No h dvidas de que deter-minadas categorias de pessoas e tpicos foram ex-cludos do cenrio, durante o ltimo sculo, pelospreconceitos do homem, branco, de classe mdiada academia, e foram necessrios esforos paramud-los. Na realidade, foram relativamente bemsucedidos pelo menos do ponto de vista das ci-ncias sociais no campo de humanidades de fa-culdades ou universidades estadunidenses.

    Portanto, tendo em vista minha prpria ex-perincia, a ideologia crtica est bem viva e ativa

    na academia e , como Burawoy observa em rela-o sua patologia, um tanto dogmtica e intole-rante. Assim, simplesmente substitumos um con-junto de problemas por outro. Se for nessa dire-o que o comprometimento moral nos leva, noacho que sua institucionalizao tenha sido algoespecialmente bom para a academia (foi bom parauma sociedade mais ampla, pois as oportunida-des dos grupos sociais destitudos aumentaram,embora ainda haja muito mais a ser feito sobre isso).Assim, se algo foi reprimido nos departamentos

    de sociologia, mais provvel que tenha sido acincia dura e o apelo neutralidade de valores.

    O que me perturba que os muitos proble-mas enfrentados pelos pblicos no mundo socialprecisam da sociologia cientfica. No necessrioque os socilogos digam s pessoas que elas tmproblemas; elas j o sabem. Dessa forma, no ne-cessitam de socilogos de vanguarda para engaj-las em torno de um movimento ou organizao.Elas, geralmente, j tm capacidade para tanto. Oque precisam do conhecimento imparcial epreciso sobre o mundo social, que pode ser uti-lizado pelos pblicos, clientes, formuladores depolticas ou quem tiver um problema de organiza-o social. Porm, no universo de Burawoy, nossoconhecimento cientfico parece suspeito, pois nos autorreferencial, seja l o que significa, mastambm no moral. Os dados sempre devemexplicitar certas concluses politicamente aceit-veis; e as teorias que no criticam so parte doproblema e no da soluo. Chegamos a esse esta-

    do de coisas no pela tirania da cincia, mas simpela tirania da sociologia crtica e de outros mode-los de perfeio, virtude e retido poltica da aca-demia, pelo menos nos Estados Unidos. A socio-logia pblica no foi sendo retirada das pessoas medida que iam passando pela ps-graduao einiciavam suas vidas profissionais. Na verdade,ela lhes foi sendo incutida insistentemente, quan-do elas no tivessem a atitude poltica corretaou, mais possivelmente, reforada e intensificadase elas j a tivessem.

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    COMO TORNAR A SOCIOLOGIA RELEVANTE

    Talvez parea absurdo meu ponto de vistade que a sociologia pblica de carter moral possase tornar rapidamente uma sociologia irrelevante,no mnimo fora da disciplina. Os pblicos locais eos clientes que enfrentam problemas no precisamser estimulados moralmente ou engajados por so-cilogos. Eles precisam de dinheiro, de organiza-o e poder, nada que os socilogos estejam emcondies de oferecer. Os pblicos mais amplospossivelmente no sero receptivos a pronuncia-mentos sociolgicos de natureza moral, com ten-

    dncia de esquerda, pelo menos no contexto dosEstados Unidos. O que eles precisam de dados eexplicaes que superem seus preconceitos e, in-felizmente, sua ignorncia. O mesmo vlido paraos formuladores de polticas. Enquanto a ala dasociologia crtica se restringir academia, o dano pequeno, a no ser limitar o escopo da buscasociolgica. Mas, no caso de atingir um pblicomais amplo, poderia desgastar a credibilidade e acapacidade da sociologia proporcionar um conhe-cimento til aos que precisam. A sociologia pbli-ca ao acusar criticamente poderia danificar grave-mente nossas possibilidades de atingir uma socio-logia consequente quando o mundo realmentenecessita de conhecimento sobre a organizao dosseres humanos.

    Assim, a sociologia pblica, na forma como defendida por Burawoy, no soluciona os pon-tos de fratura da disciplina; somente os ressalta.Ademais, privilegia duas das quatro sociologias erejeita as outras duas: a sociologia cientfica e a

    prtica. Somos conduzidos por Burawoy na dire-o errada. Eu recomendaria justamente a direooposta, privilegiando a cincia e a prtica como amelhor direo para a sociologia, agora e no futu-ro, tornando a sociologia uma disciplina com men-talidade de Engenharia.

    A simples ideia da engenharia social altamente questionada nos Estados Unidos e emoutras partes. Portanto, usarei esse rtulo apenaspara chamar a ateno para um fato simples: ascincias maduras possuem aplicaes de engenha-

    ria. O que, ento, a engenharia no sentido geral ea engenharia social no sentido especfico? Quase

    sempre a engenharia relaciona-se ao emprego deprincpios tericos gerais, via mtodos empricos,para problemas prticos de construir ou de demo-lir algo. O engenheiro de estruturas conta com equa-es em livros, ou agora incorporadas emalgoritmos de computador, que determinam o que necessrio para construir um tipo especial deestrutura. Os princpios tericos, por fim, os defsica, so menos importantes do que os mtodosempricos contidos no algoritmo de computador.O mesmo verdadeiro para a sociologia. Temos

    um vasto conhecimento do universo social. Elepode ser expresso em princpios tericos abstra-tos, os quais, por sua vez, podem ser desdobra-dos em mtodos empricos para os praticantes. Noh nada no universo social que nos impea de nostornar engenheiros sociais, com exceo talvez docinismo presunoso em relao cincia que, atu-almente, to preponderante na sociologia crtica.

    J demonstrei antes como desenvolver mtodosempricos gerais. Portanto, no entrarei aqui emdetalhes (Turner, 1998, 2001, 2008).

    O melhor caminho para que os socilogosatraiam os pblicos e os formuladores de polticas como engenheiros, embora usando um outro r-tulo. Dessa forma, comearemos a criar princpiosgerais para os problemas dos clientes, reduzidos expresso mais simples em mtodos empricos,como, por exemplo, clientes com problemas paramanter os empregados, desnimo, alienao emuitas outras questes potenciais. O cliente tam-bm pode ser um formulador de polticas preocu-

    pado com questes mais importantes, como, porexemplo, a imigrao, o emprego de tecnologiasecolgicas, o controle do contgio de infeces emuitos outros problemas. Todos esses so pornatureza problemas sociolgicos, alm dos princ-pios tericos que lhes so pertinentes.

    Meu ponto de vista, ento, tornar a prti-ca sociolgica mais eficiente rumo a uma mentali-dade derivada da engenharia. Muito frequente-mente, a intuio, os vieses ideolgicos, asextrapolaes e outros modos de avaliar as situa-

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    es so utilizados para aconselhar os clientes, emvez de ideias tericas que foram se acumulando

    nocorpusdo conhecimento sociolgico durante oltimo sculo. Por exemplo, se um cliente traz aopraticante da sociologia um problema relativo forma de despertar a solidariedade, certamente asociologia pode reforar as condies que aumen-tam ou diminuem a solidariedade; o conhecimen-to dos detalhes da situao do cliente pode serutilizado para despertar o estmulo solidarieda-de. Usando outro exemplo, os socilogos estobastante familiarizados com o conflito. Portanto,se um cliente apresenta um problema que gira em

    torno de conflitos, certamente podemos oferecersugestes, pois as condies que potencializam osconflitos so tambm variveis que atuam para ten-tar reduzi-los.

    Assim, a sociologia precisa treinar novamenteseus praticantes para que sejam mais tericos; e ostericos precisam afirmar as teorias de maneira for-mal, para que fique claro o que a teoria postula.Ento, alguns tericos precisam comear a montaro corpusde conhecimento sobre os processos soci-ais, de modo que possam ser usados pelos prati-cantes como um sistema de ndice cruzado deprincpios da prtica sociolgica. No estou suge-rindo que os praticantes se tornem tericos ou vice-versa, porm insisto que as teorias se expressem deforma que possam ser testadas e aplicadas ao mun-do real. Infelizmente, muito da teoria em sociologiano se exprime nesses termos, e, portanto, no muito til na vida real. Se institucionalizarmos ateoria na prtica, a sociologia vai ser mais respeita-da pelo seu conhecimento. Vai levar tempo para

    que a utilidade da sociologia seja disseminada maisamplamente, mas, se nossas aplicaes do conheci-mento de engenharia forem comprovadamente teis,a sociologia ser cada vez mais valorizada, e nossainfluncia nas decises polticas aumentar.

    Se adotarmos a proposta de Burawoy paraque a sociologia pblica engaje pblicos em ques-tes morais, a disciplina pode at ter compensa-es no curto prazo, porm o dano ser duradou-ro. Se formos vistos como um bando de moralis-tas de esquerda, no seremos valorizados pelo que

    conhecemos sobre o funcionamento do mundosocial. Nas sociedades em que a poltica tende

    esquerda, talvez tenhamos acesso s posies depoder, no como socilogos, mas como serviaisideolgicos. Acho que bem melhor seguirmos ocaminho mais lento, impressionando os clientesquanto ao que podemos fazer, e, com o tempo,ganhar cada vez mais credibilidade, para exercer,no final das contas, uma influncia verdadeira ondecompense. possvel que Burawoy esteja propon-do que faamos as duas coisas e que tenhamos aperspectiva moral disciplinada pela cincia, masacho que isso na prtica dificilmente funciona.

    Como disse anteriormente, a ideologia quase sem-pre fala mais alto que a racionalidade e a cincia.

    O que central em minha estratgia queprecisamos informar os clientes sobre o que podeser feito (sobre seus problemas), mas, igualmenteimportante, devemos dizer-lhes o que no pode serfeito. Por exemplo, se uma organizao possui umahierarquia coerciva, existem limites quanto ao que possvel, digamos, em termos de aumentar a soli-dariedade ou de desdobrar subsolidariedades nahierarquia que trabalhem contra as metas da orga-nizao. Os idealistas (tericos) raramente consi-deram as proposies de que algumas metas daideologia podem ser atingidas. Assim, o conheci-mento sobre as leis da dinmica sociocultural tam-bm permite que sejamos realistas e ofereamosorientao de que haja esperana de realmentemudar uma situao problemtica. Trazendo umexemplo extremo aos meus objetivos, os socilogosconhecem muito sobre as condies crescentes dasdesigualdades na distribuio de recursos. Algum

    desse conhecimento j foi codificado e mais conhe-cimento pode ser codificado. Consequentementetalvez ele possa ser utilizado para abordar a preo-cupao do cliente em relao s desigualdades.Os idelogos simplesmente poderiam partir dapremissa de que a desigualdade um mal que deveser eliminado, quando, na realidade, sabemos queisso no possvel em grandes sistemas comple-xos orientados pelo mercado e regulados pela con-centrao de poder. Assim, esses idelogos estopregando no deserto. O engenheiro pode oferecer

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    um conselho mais realista sobre o que e o queno possvel, levando em conta as particularida-

    des empricas da situao. O idelogo, ainda, podever a situao como se o engenheiro estivesse sevendendo como Burawoy certamente faz com ospraticantes da sociologia caracterizados como sub-metidos s necessidades dos clientes. Existe umagrande diferena entre sermos dirigidos pelos cli-entes ou darmos conselhos realistas, em termosprticos, luz dos limites concretos da situao.

    Ser que os engenheiros sociais simples-mente se venderiam a clientes com dinheiro? Al-guns poderiam faz-lo, outros no. Ademais, se

    no acharmos que clientes certos esto tendoacesso ao conhecimento sociolgico, no h nadaque impea um engenheiro social de dar conse-lhos, oferecidos gratuitamente. Na realidade, se osadvogados e mdicos gananciosos podem faz-lo,com certeza socilogos com maior conscinciamoral e menos gananciosos certamente tambmpodem fazer a mesma coisa. possvel, portanto,tomar partido de quem queremos ajudar. Essesclientes no precisam de soldados de infantaria;precisam de especialistas com conhecimento queos ajudem a atingir seus objetivos, seja l quaisforem. Assim, os engenheiros sociais podem per-mitir que suas polticas os ajudem a escolher que-les a quem estejam dispostos a ajudar. Porm, como distanciamento moral e emocional necessrio paraanalisar as situaes do ponto de vista terico. Quaisas foras que esto em jogo? Quais as leis e princ-pios da sociologia que so pertinentes? Qual aenergia dessas foras? Quais as contra-foras exis-tentes? E assim por diante. Questionamentos se-

    melhantes no so questes morais. Elas levam anlise sociolgica, utilizando linguagem acumu-lada e codificada.

    TRAZER A ENGENHARIA E A PRTICA SOCI-OLGICA PARA O CENTRO DA DISCIPLINA

    Com a ala da disciplina de engenharia ali-nhada aos clientes, essa situao poderia inspiraros tericos a comearem a afirmar suas teorias de

    forma mais precisa e formalmente, de forma quepossam ser utilizadas. Alm disso, as aplicaes

    de engenharia das ideias tericas representam umaforma tomada como sendo menos rigorosa e pre-cisa de testar a plausibilidade das ideias teri-cas. Quando as ideias tericas so utilizadas nasaplicaes de engenharia, e quando elas funcio-nam (ou deixam de funcionar), ento foi feito umteste da teoria. E esses testes podem ser feitos semque seja realizada a reviso pelos conselhos de ti-ca da disciplina nas universidades, embora, nosEstados Unidos, bem provvel que os advoga-dos venham a revisar as sugestes do engenheiro

    para evitar processos. Por exemplo, um socilogo,cujo nome no citarei, fez um estudo sobre os pro-blemas de rotatividade de pessoal em uma organi-zao. Ele utilizou a anlise de redes sociais paraexaminar a natureza dos vnculos entre os funcio-nrios e descobriu que os que deixavam a empre-sa normalmente tinham sido colocados margemde outras redes geralmente mais densas. Eles ti-nham menos elos com os outros e, portanto, sen-tiam-se isolados e, assim, mais propensos a sair.Uma descoberta admirvel, com muitos dados paraapoiar a proposio de que a solidariedade aumentacom a densidade das redes sociais. Porm, algoaconteceu na forma de programar a soluo bvia:os advogados ficaram preocupados com os dados,pois a gerncia da organizao poderia ser foradaa levar os dados ao tribunal como parte do proces-so de descoberta nas cortes estadunidenses, seum funcionrio decepcionado processasse seuempregador anterior. Tais dados poderiam ser en-to interpretados como um ambiente de trabalho

    hostil, uma vez que os empregados estariammarginalizados (uma situao ilegal nos EstadosUnidos). O resultado: os dados nunca foram utili-zados para implantar as solues bvias organi-zao.

    Assim, problemas sempre existem, especi-almente em sociedades como a dos Estados Uni-dos, com sua superproduo de advogados, o que,consequentemente, estimula os processos na jus-tia. Todavia, a anlise de dados coletados na or-ganizao e a utilizao de ideias tericas bem co-

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    nhecidas poderiam ter solucionado ou, no mni-mo, mitigado o problema; e o cliente poderia ficar

    satisfeito (na realidade, muito embora os dados nopudessem ser utilizados, ou a orientao informa-da oficialmente ser implantada, o cliente - uma gran-de empresa estadunidense ficaria impressiona-do com que o que o socilogo foi capaz de fazer).Se a sociologia fosse exitosa com esse tipo de es-foro, seria convidada a sentar mesa de estrate-gistas polticos com mais frequncia e, desse modo,influenciar as decises que podem exercer grandeefeito na vida das pessoas. esse potencial que amentalidade de engenharia apresenta, e, embora

    consuma muito mais trabalho e dedicao para queseja atingida a longo prazo, mais compensadorapara a sociologia e para os socilogos do que osataques radicais e efmeros na esfera pblica.

    Todavia, tornei-me ctico quanto ao que aprtica sociolgica nos Estados Unidos possa seconverter. Alis, a seo de prtica sociolgica daAssociao Americana de Sociologia foi recente-mente renomeada por eles mesmos de Prtica So-ciolgica eSociologia Pblica. Infelizmente, os pra-ticantes da sociologia foram colocados margemda disciplina, quando, na realidade, deviam estarno ncleo da sociologia cientfica. E, portanto, noque parece uma mudana mais drstica, para tirarpartido da recepo bem difundida do convite deBurawoy para a sociologia pblica, a seo da pr-tica na Associao Americana de Sociologia mo-dificou seu ttulo, fato que interpreto como umattica para conseguir mais membros e ficar maisimportante em termos do que considerado soci-ologia quente, e a sociologia pblica quente,

    se que algo mais que isso. Portanto, enquanto oque proponho possvel e passvel de ser realiza-do, fico ctico quanto s probabilidades de umaprtica sociolgica orientada teoricamente ou quan-to sociologia aplicada nos Estados Unidos. Mi-nha esperana talvez esteja em algum outro lugarno mundo, mas, novamente, afirmo que maisdifcil e que requer consideravelmente mais disci-plina do que o chamamento para uma sociologiapblica.

    CONCLUSO

    A sociologia pblica, agora, um movimen-to social intelectual e no mostra indcios de quemudar de curso dentro da disciplina. Os socilo-gos permaneceram por tanto tempo margem dosdebates pblicos sobre polticas e das decises po-lticas, igualmente relevantes, que, agora, vo ten-tar se agarrar a qualquer coisa que lhes garanta im-portncia nos assuntos do dia. Certamente compar-tilho desse sentimento e relembro as dificuldades,o meu esforo despretensioso de influenciar as po-lticas em algumas oportunidades em que fui con-

    vidado para a mesa de tomada de decises. Foicom grande frustrao que vi os economistas ocu-parem esse espao, muito embora suas recomenda-es, com certeza, estivessem fadadas ao fracasso(uma vez que no conhecem as leis sociolgicas).Entretanto, no existe um caminho fcil. Este deveser alcanado, acho eu, pela ligao da teoria cient-fica prtica. Porm, como agora ficou claro, grandeparte da teoria, na sociologia, no explica nada, emuito da prtica est prestes a lanar-se no tremexpresso da sociologia pblica, sem fazer um rduotrabalho conceitual. Seria esse trabalho que nosconfere respeito que, com o tempo, permitir-nos-ia engajar pblicos e polticas de formacompensadora para a sociologia e para o mundosocial, que precisa, desesperadamente, de ajuda.

    Assim, recomendo aos meus colegas soci-logos que evitem ser seduzidos pelo chamamentode Burawoy e de muitos outros por uma sociolo-gia pblica. uma ideia fascinante, articulada deforma magistral e eloquente, mas o que ela oferece

    tem poucas possibilidades de acontecer, pois ossocilogos no so respeitados nas muitas esferasnas quais gostaramos de exercer alguma influn-cia. E no somos respeitados por no sermos ca-pazes de demonstrar plenamente o que nosso co-nhecimento cientfico tem a oferecer aos clientes,pblicos e formuladores de polticas. Na realida-de, meus colegas tericos e muito outros veem acincia como parte do problema da sociologia, eno como a soluo para sua marginalidade. Umadisciplina que rejeita a cincia, em nome do compro-

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    metimento moral, tem poucas oportunidades deexercer influncia onde conta, e no consegue aju-

    dar os mesmos pblicos que precisam do conheci-mento sociolgico. J so muitos os pregadores naesfera pblica; os sociolgicos adeptos da perspec-tiva moral dificilmente sero vistos na torre de babelconstruda nesse setor. Portanto, se esse fato tornar-se real, a sociologia pblica no vai prejudicar (enem ajudar) aqueles a quem queremos ajudar, mes-mo que venha a prejudicar, no longo prazo, os de-senvolvimentos futuros da prpria sociologia.

    Burawoy proclama (2005b) que a sociologiaatingiu agora o fim da cincia pura, e que seu

    objetivo converter a sociologia em uma discipli-na moral, que engaje os pblicos. Porm, quantoaos socilogos impulsionados ideologicamente, aideologia vai quase sempre remover os obstculosdo pensamento alternativo, com exceo, talvez,dos que formulam contra ideologias. Burawoy podeestar certo quanto a ser esse o rumo da sociologia.E, se esse for o caso, ela vai ficar cada vez maisirrelevante na esfera pblica. Ter pouca influn-cia fora da disciplina propriamente dita, e no serum veculo para a mudana, o que seria a perdade seu prprio objetivo. Conseguiria, quandomuito, expor a sociologia ao ridculo do pblico.Isso seria aceitvel se significasse que a sociologiapoderia realizar algo, mas sua nova onda de so-ciologia far muito pouco, a no ser fazer com queos socilogos ideolgicos se sintam bem em rela-o a si mesmos. Burawoy (2005b) criticou os quedesafiam seu mtodo como excessivamente emo-cionais. Porm difcil ficar parado e ver umadisciplina envolvida no caminho autodestrutivo

    da irrelevncia. Portanto, o normal que aquelesque esto comprometidos com a cincia se sintamconsternados, seno ofendidos. Pode no haveresperana para a sociologia estadunidense, masespero que as sociologias, em outras partes domundo, ainda mantenham o compromisso com acincia pura e evitem o chamamento sedutor, po-rm vazio, da sociologia pblica.

    (Recebido para publicao em maio de 2009)(Aceito em julho de 2009)

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    AGAINST PUBLIC SOCIOLOGY: not thebest way to make Sociology relevant

    Jonathan H. Turner

    The widespread reception of the call for apublic sociology confirms the discipline almostdesperate desire to be relevant to the big social issuesof time. Sociologists in many nations have feltsomewhat marginalized in the public arena, rarelybeing asked about their insights. Thus, publicsociology appears to offer a way for the varioussociologies to come together to make sociology morerelevant to different publics and communities.However, it is argued in this paper that this call forpublic sociology is, in reality, radical-left wingsociology that will infuse ideology and moral

    preaching into sociologys public face. The resultwill be that the discipline will alienate more thanengage the very publics it seeks to influence. Farmore sensible is to retain an emphasis on scienceand value neutrality, and to develop an engineeringmentality in which sociologists use their theory andresearch to help clients solve real world problems.Only after a legacy of successful practice usingscientific sociology will sociology be consideredrelevant to the bigger issues of public debate.

    KEYWORDS:radical sociology, science, engineering,practice, theory.

    CONTRE LA SOCIOLOGIE PUBLIQUE: serait-elle la seule manire de rendre la Sociologie

    importante?

    Jonathan H. Turner

    Le trs grand accueil rserv lappel unesociologie publique confirme le dsir pratiquementdsespr de voir cette discipline devenir perti-nente face aux grandes questions actuelles. Dansplusieurs parties du monde de nombreuxsociologues se sentent, dune certaine manire,marginaliss au sein de la sphre publiquepuisquon ne senquiert que trs rarement de leursperceptions. Cest ainsi que la sociologie publiquesemble proposer une alternative pour que lesdiverses sociologies sunissent afin que la sociologiedevienne plus intressante pour des publics

    diffrents et des communauts diverses.Cependant, le travail que nous prsentons montreque cet appel une sociologie publique est, enralit, un appel une sociologie radicale de gauchequi va inculquer lidologie et le discours moralau caractre public de la sociologie. Il en rsulteque cette discipline a tendance loigner pluttqu engager les publics quelle essaie dinfluencer.Il est bien plus sage de continuer mettre laccentsur la science et sur la neutralit de valeur endveloppant une mentalit d ingnierie au seinde laquelle les sociologues utilisent leurs thorieset leurs recherches pour aider les intresss trouver une solution aux problmes du monde rel.Ce nest quaprs avoir lgu une pratique efficace

    de la sociologie scientifique que la sociologie seraconsidre valable pour les questions plus impor-tantes du dbat public.

    MOTS-CLS:sociologie radicale, science, ingnierie,pratique, thorie sociologique.

    Jonathan H. Turner- um Distinguished Professor de Sociologia da University of Califrnia,Riverside,Doutor em Sociologia pela Cornell University(1968). Entre 1999 e 2004 foi editor de Sociological Theory,peridico publicado pelaAmerican Sociological Association. reconhecido especialista em teoria social, esuas reas de interesse de pesquisa so: a sociologia das emoes, relaes tnicas, instituies sociais,estratificao social e a bio-sociologia. Foi professor visitante em vrias Universidades:Cambridge University;Universitat Bremene Universitat Bielefeld; Shandong UniversityeNan Kai University. autor de inmeroslivros, dentre os quais destacam-se: The Structure of Sociological Theory(Wadsworth, 1998) e com AnthonyGiddens Social Theory Today, 1987, publicado no Brasil pela UNESP, em 1996.