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tutela bens jurídicos difusos
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Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
Universidade Anhanguera-Uniderp
Rede de Ensino Luiz Flávio Gomes
CIÊNCIAS PENAIS/CP18
A tutela penal de bens jurídicos difusos, como o meio ambiente, impede a aplicação do princípio da insignificância, por força da
pluralidade de vítimas atingidas?
EDUARDO REDIVO SESTREM
BLUMENAU /SANTA CATARINA
2012
Universidade Anhanguera-Uniderp
PÓS-GRADUAÇÃO Unidade de Transmissão
1. INTRODUÇÃO
A aplicação do princípio da insignificância, em relação aos crimes que
atingem bens jurídicos difusos, tem sido alvo de amplo debate por parte da doutrina
e, por consequência, gerado os mais antagônicos entendimentos por parte dos
tribunais pátrios.
Para entendermos acerca da possibilidade ou não de aplicação do referido
princípio nesses casos em específico, necessário se faz, inicialmente, uma
apreciação daquilo que se considera por insignificância, bem como do próprio
conceito de bem jurídico supra-individual.
2. DESENVOLVIMENTO
Examinando o princípio da insignificância, percebe-se que este funciona como
causa de exclusão de tipicidade, desempenhando uma interpretação restritiva do
tipo penal. Assim, tem-se que o Direito Penal não se ocupa de todos os
comportamentos antijurídicos que decorrem das relações sociais, mas tão somente
daqueles mais molestadores e lesivos para os bens jurídicos.1
Em relação aos bens jurídicos supra-individuais, estes são uma espécie de
bem jurídico que ultrapassa o interesse individual, abrangindo interesses de grupos
determinados, determináveis ou indeterminados de pessoas (bens jurídicos coletivos
e difusos). Temos como exemplo desses bens: o sistema econômico, tributário,
financeiro, consumerista e o meio-ambiente.2
De acordo com Prado (2004, p. 255), apesar de se destinar à coletividade,
nem por isso o bem jurídico meta ou supra individual é mais importante que o
individual. Há entre eles, uma relação de complementaridade, o que afasta o
pensamento de preponderância entre eles.
Os que firmam tese contrária à aplicação do princípio da insignificância nos
casos de bens difusos, enunciam que por gerar dano a toda coletividade e,
1 Disponível em: <http://conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29397>. Acesso em: 15/11/2012.
2 Idem.
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mormente, por não ser fácil perceber suas dimensões ou consequências, o ato
criminoso nunca poderá ser abarcado pela bagatela.
APELAÇÃO-CRIME. CRIME AMBIENTAL. ART. 38 DA LEI 9.605/1998. [...] APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPROVIMENTO. [...] inaplicável o princípio da insignificância, almejado pela defesa, já que o dano ambiental atinge toda a coletividade, sendo cumulativo e perceptível somente a longo prazo. Apelo improvido. (Apelação Crime Nº 70048129761, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Julgado em 28/06/2012).
Todavia, segundo Fábio Roberto D’Avila (2010):
[...] não são poucos os julgados em matéria penal ambiental que [...] consideram inaplicável o princípio da insignificância, sob o argumento de ela versar sobre bens jurídicos supraindividuais. [...] premissa igualmente equivocada [...] de que bens supraindividuais não são suscetíveis de análise em termos de insignificância. [...] É exatamente o caráter supraindividual dos crimes ecológicos, associado à técnica de tutela adotada, que reforça ainda mais a importância da análise de significação para a definição do âmbito de proteção da norma”
Constatamos que o princípio da insignificância merece aplicação na esfera do
Direito Penal, concordando, portanto, com o entendimento do Ministro Jorge Mussi,
no HC 143208/SC, do Superior Tribunal de Justiça:
HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. CRIME AMBIENTAL. ART. 34 DA LEI N.9.605/98. AUSÊNCIA DE DANO AO MEIO AMBIENTE. CONDUTA DE MÍNIMA OFENSIVIDADE PARA O DIREITO PENAL. ATIPICIDADE MATERIAL. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. TRANCAMENTO. ORDEM CONCEDIDA. 1. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da insignificância tem como vetores a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada. 2. Hipótese em que (...), não havendo notícia de dano provocado ao meio-ambiente, mostrando-se desproporcional a imposição de sanção penal no caso, pois o resultado jurídico, ou seja, a lesão produzida, mostra-se absolutamente irrelevante.3. Embora a conduta dos pacientes se amolde à tipicidade formal e subjetiva, ausente no caso a tipicidade material, que consiste na relevância penal da conduta e do resultado típicos em face da significância da lesão produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado. 4. Ordem concedida para, aplicando-se o princípio da insignificância, trancar a Ação Penal n. 2009.72.00.002143-8, movida em desfavor dos pacientes perante a Vara Federal Ambiental de Florianópolis/SC. 5ª Turma do STJ:HC 143208 / SC, Quinta Turma do STJ. Relator: Min. Jorge Mussi. Julgado em: 25/05/2010.
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Desse modo, nos casos em que a lesão mostra-se completamente
irrelevante, deverá ser aplicado o princípio da insignificância, mesmo se tratando de
bens de interesse de toda coletividade, não se limitando às questões ambientais,
mas abraçando, igualmente, questões relacionadas ao Fisco, Previdência Social etc.
3. CONCLUSÃO
No atual panorama jurídico-penal, cujos alicerces estão pautados nos
princípios constitucionais garantistas, não se pode, de forma alguma, conceber a
ideia de punir condutas não lesivas ou minimamente lesivas a um bem jurídico,
ainda que esse bem jurídico possua caráter difuso.
Todavia, em relação especificamente à questão ambiental, deve tal aplicação
ser realizada com extrema ponderação, porquanto, em questões dessa natureza,
não deve prevalecer o imediatismo na avaliação do dano, mas sim, buscar, de fato,
um diagnóstico das repercussões e desdobramentos futuros que possam advir do
ato delituoso por si só.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
D’AVILA, Fabio Roberto. Breves notas sobre o direito penal ambiental. Boletim
IBCCRIM n. 214, set. 2010.
PRADO, Luis Regis. Curso de direito penal brasileiro. 4. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2004. v. 1.
STJ, HC 143208 / SC, Quinta Turma, Relator: Min. Jorge Mussi. Julgado em:
25/05/2010.
TJRS, Apelação Crime nº 70048129761, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Marco Antônio Ribeiro de Oliveira, Julgado em 28/06/2012.
http://conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.29397
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