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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIAFACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOSDEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO EDOCUMENTAÇÃOCURSO DE DOUTORADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
O PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO DIANTE DOS DESAFIOSDA SOCIEDADE ATUAL.
Desenvolvimento de Pensamento Crítico em Cursos de EducaçãoContinuada e a Distância via Internet, através da Metodologia da
Problematização.
Maria Júlia Giannasi
ORIENTADOR: Dra. Neusi Aparecida Navas BerbelCO-ORIENTADOR: Dr. Jaime Robredo
BRASÍLIA1999
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UNIVERSIDADE DE BRAS�LIA
FACULDADE DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOSDEPARTAMENTO DE CI � NCIA DA INFORMA ��� O EDOCUMENTA ��� OCURSO DE DOUTORADO EM CI � NCIA DA INFORMA ��� O
O PROFISSIONAL DA INFORMA ��� O DIANTE DOS DESAFIOSDA SOCIEDADE ATUAL.
Desenvolvimento de Pensamento Crítico em Cursos de Educaç � oContinuada e a Distância via Internet, através da Metodologia da
Problematizaç � o.
Maria Júlia Giannasi
Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Ciênciada Informaç � o da Universidade de Brasília, comorequisito parcial para a obtenç � o do grau de Doutorem Ciência da Informaç � o.
ORIENTADOR: Dra. Neusi Aparecida Navas BerbelCO-ORIENTADOR: Dr. Jaime Robredo
BRAS�LIA
1999
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PARTE I - O CONTEXTO ATUAL DA SOCIEDADE DA
INFORMA ��� O
A informação nos dias atuais vem se transformando em um importante
elemento de produção, em poderoso instrumento de dominação, modificando as relações de
poder entre os povos, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento científico e
tecnológico (Araújo, 1991).
Para Cianconi (1991, p.204) foi Porat quem “apresentou a idéia de uma
economia de informação, estudo que serviu de base para a identificação do setor
quaternário da economia - o setor informacional” . Segundo este autor
“ a maior parte da força de trabalho dos países mais desenvolvidos estáenvolvida com atividades informacionais. Os trabalhadores de diferentesramos ocupacionais vêm se distanciando dos aspectos físicos dasatividades agrícolas, industriais ou artesanais e se envolvendo comatividades baseadas na capacidade intelectual, que pressupõe acapacidade de manusear informações” (Porat, 1987, apud Cianconi,1991, p. 204).
O setor quaternário da economia é “caracterizado pela ação de conceber,
criar, interpretar, organizar, dirigir, controlar e transmiti r, com a intervenção do
ambiente científico e técnico, atribuindo a esses atos um valor econômico. Sua atividade
dominante é a criação” (Tomelin, 1988, p.71).
Em 1982, Masuda já afirmava que o conceito de ” setor quaternário” era
invocado para demarcar uma linha nítida entre as indústrias relacionadas com a informação.
O autor assim definia sociedade da informação:
“ uma sociedade que cresce e se desenvolve em torno da informação,levando a um estado geral de florescimento da criatividade intelectualhumana, ao invés de um copioso consumo material” (Masuda, 1982, p.197).
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Já naquela data ele previa que a força motriz da formação e do
desenvolvimento dessa sociedade seria a produção de valores informacionais e não valores
materiais (Masuda,1982, p.45). E apregoava que a estrutura econômica poderia ser a de
uma economia centrada na informação, quando enfatizava:
“ Mais precisamente, a expressão sociedade da informação estáassociada a uma economia em que (1) a informação está no centro dasnecessidades econômicas da sociedade, (2) a economia e a própriasociedade crescem e se desenvolvem em função da produção e do uso devalores informacionais, e (3) a importância da informação, comoproduto econômico excede a de bens, energia e serviços. Essa estruturaeconômica poderia ser chamada de uma economia centrada nainformação” (Masuda, 1982, p. 111).
Caracterizada pela abundância de informação organizada, a sociedade da
informação estrutura-se, segundo Araújo (1998), em bases: teórica, material e política. A
base teórica,
“ se direciona a um só ponto – a substituição da produção industrial pelainformação, da experiência profissional pela ciência, do trabalhooperário pelo trabalho dos engenheiros. Estaríamos presenciando umasubstituição das atividades industriais – fundadas na manipulação damatéria – por atividades fundadas no tratamento da informação, talcomo aconteceu no processo de substituição da agricultura pelaindústria. Este processo de substituição caracteriza-se pela valorizaçãodos ofícios informacionais (Araújo, 1998, p.1).
As novas tecnologias de informação constituiriam o objeto para o qual
converge a base material da sociedade da informação, na concepção da autora. Seriam os
equipamentos que podem desempenhar tarefas que envolvem como elemento principal, o
processamento e a transferência de informação. “A partir dessas tecnologias, tem-se a
possibili dade de armazenar, acessar, usar e transferir uma imensa gama de informações
de forma extremamente rápida (velocidade eletrônica) a um custo relativamente baixo”
(Araújo, 1998, p. 1).
Partindo-se do pressuposto de que as tecnologias de informação criam
possibili dades tanto de se reduzir quanto de fortalecer os monopólios informacionais,
alterando as relações entre os povos detentores e os carentes da informação organizada,
possibili tando tanto o aspecto da democratização da informação quanto o aspecto do
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fortalecimento das “ditaduras informacionais” , estrutura-se a base política da sociedade da
informação, “na qual se discute a questão da informação como elemento de poder
“(Araújo, 1998, p. 2).
Para Webster (1994) é possível distinguir na literatura, para efeito de
análise e discussão, definições de sociedade da informação sob cinco diferentes aspectos:
tecnológico, econômico, ocupacional, espacial e cultural. O autor discute cada um desses
aspectos sob diferentes correntes teóricas e sob enfoques favoráveis e desfavoráveis. No
entanto, para este trabalho, trataremos de contextualizar a sociedade da informação,
extraindo apenas o que nos interessa como meio de caracterizar e melhor entender essa
sociedade.
A definição mais comum de sociedade da informação enfatiza as
inovações tecnológicas. A idéia chave é que os avanços no processamento, recuperação e
transmissão da informação permitiram aplicação das tecnologias de informação em todos os
cantos da sociedade, devido à redução dos custos dos computadores, seu aumento
prodigioso de capacidade de memória, e sua conseqüente aplicação em todo e qualquer
lugar, a partir da convergência e imbricação da computação e das telecomunicações. O
barateamento da tecnologia de processamento e armazenagem da informação, ou seja, do
computador, permitiu uma distribuição extensa de informação, interligando computadores
em larga escala, ligando escritórios, bancos, lares, lojas, fábricas, indústrias, escolas, enfim o
globo como um todo (Webster, 1994).
Na seqüência, Webster (1994) cita o trabalho pioneiro na área – The
Production and Distribution of Knowledge in the United States de autoria de Machlup
(1902-1983), publicado em 1962 - como a semente no estabelecimento de medidas da
sociedade da informação em termos econômicos. Segundo ele, Machlup tentou delinear as
indústrias de informação em termos estatísticos, distinguindo cinco amplos setores da
economia, dois dos quais são a educação e os meios de comunicação de massa (mass
media), agregando a estes valores econômicos e delineando suas contribuições para o
Produto Interno Bruto (PIB) de uma nação.
Baseado nestes estudos de Machlup e identificando certa fragili dade
nestes, Porat desenhou um modelo econômico para os Estados Unidos, dividindo os setores
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da economia em três partes: o setor informacional primário, o setor informacional
secundário e o setor não informacional. O setor primário inclui as indústrias que de alguma
maneira produzem, processam e disseminam ou transmitem conhecimento ou informação.
Os bens e serviços deste setor primário devem ser fundamentalmente avaliados em função
de suas características de produção, processamento ou distribuição da informação. O setor
secundário inclui atividades informacionais importantes tais como de pesquisa e
desenvolvimento dentro das companhias farmacêuticas, informações produzidas por
departamentos governamentais para consumo interno e recursos de biblioteca de uma
companhia de petróleo, por exemplo. Assim, este setor inclui atividades informacionais da
burocracia pública e privada. Tomando o setor informacional separado dos elementos do
setor não informacional da economia e através de estatísticas econômicas nacionais sobre
eles, é possível afirmar que este ou aquele país possui uma economia baseada em
informação. A sociedade da informação consiste de uma sociedade onde a maior parte da
atividade econômica se baseia em bens, serviços e produtos de informação da burocracia
pública e privada (setor secundário da informação) (Porat, apud Webster, 1994).
Continuando, o autor nos fala que a medida emergente de uma sociedade
da informação focaliza-se na mudança de ocupacional, ou seja, quando o número de
ocupações ligadas ao trabalho informacional predomina sobre o de outras ocupações.
Podemos dizer que estamos em uma sociedade da informação quando o trabalho de
escriturários, executivos, professores, advogados e animadores excede o dos trabalhadores
das minas de carvão, de fundição de aço, de estaleiros e da construção. Quando o trabalho
que demanda esforço físico e destreza manual declina para ser substituído por mais e mais
manipulação de figuras e textos estamos entrando em um novo tipo de sociedade, onde o
que predomina são as atividades informacionais (Webster, 1994).
Isto pode ser encontrado, por exemplo, em duas publicações influentes da
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (Organisation for Economic
Co-operation and Development - OECD) distribuídas para todos os países membros,
assinalando que o crescimento continua naquelas ocupações que dizem respeito
principalmente à criação, manuseio e infra-estrutura de informação. Esta mudança na
distribuição das ocupações constitui-se o cerne das teorias mais influentes da sociedade da
informação (OECD, apud Webster, 1994).
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Porat também apresenta uma tipologia para localizar as ocupações que
estão engajadas primordialmente com a produção, o processamento e a distribuição de
informação, qual seja: numa primeira categoria inclui aqueles trabalhadores cujo produto
final de sua atividade principal é a produção e venda de conhecimento. Aqui estão incluídos
os cientistas, os inventores, os professores, os bibliotecários, os jornalistas e os autores. A
segunda maior classe de trabalhadores cobre aqueles que coletam e disseminam informação.
Estes trabalhadores movimentam informação entre firmas e mercados; eles buscam
informações, coordenam, planejam e as processam no mercado de informação. Aqui estão
incluídos os gerentes, os secretários, os escriturários - executivos das empresas -, os
advogados, os corretores e os digitadores. A última classe inclui os trabalhadores que
operam máquinas e tecnologias de informação que suportam as duas categorias anteriores.
Aqui estão incluídos os operadores de computador, os instaladores de telefone e os técnicos
de televisão (os que consertam aparelhos de TV) (Porat, apud Webster, 1994).
Jonscher (apud Webster, 1994) simplifica esta categorização, distinguindo
apenas dois setores da economia: o primeiro, um setor informacional, constituído pelas
pessoas que têm por função básica criar, processar e manusear informação; o segundo, um
setor produtivo, constituído pelas pessoas cujas atividades primordiais de trabalho
envolvem criação, processamento e manuseio de bens físicos.
São distinções que aparentam ser razoáveis, precisas e válidas
empiricamente, mas não são tão simples de se visualizar na prática. A categorização pode
ser uma maneira de julgar em que extensão uma atividade é informacional ou não. Uma
importante conseqüência disso é a dificuldade para distinguir qual é a ocupação
estrategicamente central de uma atividade ocupacional.
Na concepção espacial da sociedade da informação Webster nos fala da
ênfase no espaço geográfico, com as redes de informação, conectando diferentes locais e,
em conseqüência, provocando efeitos dramáticos na organização do tempo e do espaço. A
informação está vindo para ocupar o espaço central, como recurso estratégico chave, no
qual a organização da economia do mundo está dependente. O mundo moderno demanda a
coordenação da manufatura globalmente distribuída, planejando através e entre os estados
soberanos e vendendo através dos continentes. A informação é axial para estas diversas
atividades e por isso sua importância é tão reforçada neste mundo contemporâneo. Isto
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implica também no gerenciamento desta informação, que é uma atividade de pertinência
excepcional neste contexto. Como resultado deste gerenciamento testemunhamos uma
rápida expansão de ocupações ligadas à informação (Webster, 1994).
Computadores e tecnologia de informação provêem uma infra-estrutura
que possibili ta o processamento e a distribuição da informação, permitindo o seu manuseio
numa escala sem precedentes históricos, facili tando as relações de comércio instantâneo e
em tempo real num estágio global. Tem sido excepcionalmente rápido o crescimento do
setor comercial da informação na economia, ressaltando o crescimento explosivo de
serviços, tais como os meios de comunicação de massa (transmissão por satélite, cabo,
vídeo) e as bases de dados on-line provendo informações em hosts (hospedeiros) de
assuntos que variam desde relações de estoque e preço de mercadoria, listas de patentes e
flutuações de mercado até resumos de periódicos técnicos e científicos. O crescimento da
“informatização” da economia está facili tando a integração das economias regional e
nacional. Juntando estas tendências – a importância estratégica da informação, o
estabelecimento de infra-estrutura de tecnologia de informação, o crescimento do setor
comercial da informação e a globalização – enfatiza-se a centralidade das redes de
informação, ligando localidades dentro e entre cidades, regiões, nações, continente e o
mundo como um todo, eliminando as fronteiras geográficas. Todas as coisa acontecem em
lugares específicos e em tempos determinados mas as caraterísticas de espaço e tempo estão
sendo transformadas com o advento das redes e não há como negar que as redes de
informação são uma importante característica da sociedade contemporânea. Satélites estão
permitindo comunicação instantânea ao redor do globo. Base de dados podem ser acessadas
de qualquer parte do mundo. Sistemas de facsímiles e computadores estão interconectados.
Todos estes elementos fazem parte desta rotina que caracteriza o mundo moderno dos
negócios (Webster, 1994).
Por último, a concepção final de uma sociedade da informação, no
entender de Webster, é a cultural. Para o autor, esta talvez seja a mais facilmente
reconhecida, mas a menos facilmente medida. Do ponto de vista da nossa vida diária, do
nosso cotidiano, todos sabemos e sentimos que tem havido um extraordinário aumento de
informação em nosso meio de circulação social. A televisão, o rádio, o cinema – ainda que
tenha diminuído o público nas salas de exibição, aumentou consideravelmente as formas de
distribuição e acesso aos filmes –, as livrarias dentro dos shoppings, com uma gama imensa
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de títulos de diferentes áreas de assunto e relativamente baratos, são parte do cotidiano das
pessoas, de uma forma tão invasiva que acabamos por consumir determinado produto,
quando é divulgado maciçamente pela mídia. Ou seja, este ambiente informacional nos
satura com mensagens de natureza distintas, às quais podemos responder muitas vezes, até
sem muito questionar. Esta extraordinária expansão do conteúdo informacional da vida
moderna, é sem dúvida, na opinião dos especialistas, uma forte característica da sociedade
da informação (Webster, 1994).
Em síntese, a maioria das definições de sociedade da informação oferecem
medidas quantitativas e assumem que, de alguma maneira, nós entramos em uma sociedade
da informação quando estas condições começam a predominar. O que é especialmente
curioso é que muitos daqueles que identificam uma sociedade da informação como um novo
tipo de sociedade presumem que a mudança qualitativa pode ser definida simplesmente pelo
cálculo de quanta informação está em circulação, quantas pessoas trabalham em atividades
informacionais etc. Segundo Webster (1994), o que vemos é o pressuposto de que, de certa
forma, o aumento quantitativo transforma em mudanças qualitativas no sistema social.
O documento de Trabalho (versão 3: novembro de 1997) do Grupo de
Trabalho sobre sociedade da informação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia
(CCT), intitulado “Ciência e Tecnologia para a Construção da Sociedade da Informação
no Brasil ” , apresenta
“ os aspectos principais de um projeto de amplitude nacional, propostoao Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (CCT) para estabelecer etestar no Brasil a necessária infra-estrutura, os futuros serviços e astípicas aplicações da futura sociedade da Informação, tendo como baseo desenvolvimento de uma nova geração de redes Internet, combenefícios estendidos a toda a sociedade brasileira” (Ciência ..., 1998, p.1).
Este, destaca no item Visão do Projeto:
“ a Sociedade da Informação é um novo ambiente global baseado emcomunicação e informação, cujas regras e modos de operação estãosendo construídos em todo o mundo. Não somente redes físicas esistemas lógicos de comunicação digital estão sendo pesquisados,desenvolvidos, instalados e utili zados mundialmente, mas uma miríadede novos serviços e aplicações, bem como modelos e regras de uso, estão
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sendo discutidos em escala global neste momento.
“ O paradigma tecnológico e as conseqüências industriais, sociais,econômicas e culturais da era da informação serão cada vez maissustentados por setores de conhecimento intensivo, associados àstecnologias da informação e comunicação. É bem possível que nessanova matriz tecnológica, industrial e econômica esteja a maioria dosprodutos e serviços do futuro, fundamentais para a atração deinvestimentos e criação sustentada de empregos em qualquer país”(Ciência ..., 1998, p.1).
Por último, o documento sugere “que cada um dos temas ou problemas
correspondentes às dez áreas de aplicação consideradas [aqui] seja objeto de
planejamento, definição e detalhamento por grupos de interesse que seriam depois
responsáveis pela condução dos processos correspondentes a cada área ...” (Ciência ...,
1998, p.8).
As dez áreas de aplicação detalhadas nos anexos do documento acima,
são: 1) Ciência e Tecnologia; 2) Tecnologias de Informação Aplicada à Área de Educação;
3) Saúde; 4) Tecnologias da Informação Aplicadas ao Meio Ambiente e Agricultura; 5) As
Empresas Brasileiras na Sociedade da Informação; 6) Tecnologias da Informação Aplicada
à Cultura; 7) As Tecnologias da Informação e o Trabalho; 8) Transporte e Trânsito na
Sociedade da Informação; 9) Governo e Cidadania; 10) As Relações Internacionais e a
Internet na Construção da Sociedade da Informação do Brasil (Ciência..., 1998).
A chamada sociedade da informação vem provocando questionamentos
com relação a níveis de ocupação, qualificação da força de trabalho, conhecimentos
necessários, locais e formas de construção das experiências sociais e da identidade das
pessoas, dos grupos e das classes, interferindo também na natureza das ocupações, levando
à idéia do surgimento de uma nova classe social, a dos trabalhadores do conhecimento
(Marengo, 1996).
11
1.1 Desafios, ameaças e oportunidades aos profissionais da
informaç � o e ao ensino de Biblioteconomia e Ci ncia da
Informaç � o
O setor de informação não se restringe exclusivamente aos bibliotecários.
Vivemos em uma sociedade onde critérios e exigências de produção e de qualidade estão
baseados na eficiência do trato com a informação. A valorização da informação como bem
econômico, a introdução das novas tecnologias de comunicação, entre outros fatores,
transformaram o mercado profissional da área informacional em um mercado aberto a novas
e diversas áreas e aquelas atividades que têm origem na coleta, organização, armazenagem e
disseminação da informação são cada vez mais exigidas por este mercado que apresenta
novos desafios bem como ameaças para os bibliotecários (Marengo, 1996).
A biblioteconomia tradicional, baseada em processos rotineiros e com
limites de espaço, por natureza, tinha um objetivo claro, segundo Hill (1993, p. 226), que
era organizar coleções de materiais impressos nas bibliotecas, e por isso apresentava pouca
competição para outras profissões. Na sociedade da informação, com o advento das
tecnologias de informação, principalmente das telecomunicações e das redes, a limitação de
espaço está desaparecendo e a profissão está se tornando muito competitiva. Especialistas
em computação e de outras profissões estão competindo com o bibliotecário, fazendo parte
de um contingente de profissionais denominados profissionais da informação. Egressos de
outros cursos profissionalizantes, são vistos assumindo funções do bibliotecário com
competência e destaque, o que torna a profissão ainda muito mais competitiva, diante de um
mercado de trabalho cada vez mais exigente.
Para Wagner (1993, p. 45), o papel dos profissionais da informação é
estudar as questões de como a tecnologia pode ser usada, apropriada ou inadequadamente,
na produção e transferência da informação.
Neste cenário o mercado profissional apresenta-se “aberto a novas
atividades e carreiras diversificadas; [...] direcionado pela aplicação das novas
tecnologias; [...] multidisciplinar; e [...] sofrendo mudanças de paradigmas” (Cianconi,
12
1991, p. 204-5), exigindo uma nova postura profissional e uma formação voltada para o
enfoque das novas tecnologias.
Budd (1991, p.17) enfatiza que a profissão está sofrendo uma mudança
tão rápida em si mesma, que até o estudante treinado para as necessidades de hoje pode
estar mal preparado para as de amanhã.
Segundo Arías (1990, p.21), o bibliotecário para esta nova sociedade que
estamos vislumbrando, é o que hoje estamos formando. É ele quem vai ter que enfrentar
essas novas realidades e construir esses novos espaços para a informação. Deve portanto,
ser formado com o máximo de componentes acadêmicos e práticos que o tornem apto a ser
um profissional com a qualidade que a nova sociedade requer.
Ainda segundo o mesmo documento
“ Mais do que em qualquer era da história da humanidade, recursoshumanos qualificados serão de fundamental importância para a era dainformação:
• cientistas, engenheiros, educadores e técnicos em todas asáreas associadas às tecnologias da informação, especialmenteem sistemas de informação, de comunicação e computação,mas também em administração e aplicação de informação econhecimento;
• uma força de trabalho treinada para o uso dessas tecnologias esistemas, capaz de produzir com qualidade e competitividadeem ambiente baseados em conhecimento, (...) “ (Ciência ...,1998, p.5).
Como se pode perceber, a educação deve desempenhar um papel
importante no desenvolvimento da sociedade da informação. Preocupação com a formação
do profissional da informação, especificamente com a formação do bibliotecário, se justifica
em função desses desafios todos, apresentados pela sociedade atual. O profissional da
informação deve estar alerta para os desafios e ameaças que uma sociedade com estas
características lhe impõe, mas, sobretudo, deve estar apto para transformar esses desafios e
ameaças em oportunidades. As condições para estes profissionais estarem buscando uma
atuação ampla e responsável, bem como a conscientização de que talvez estejamos em um
dos momentos mais profícuos e mais oportunos para mostrarmos a importância da profissão
13
deve ser responsabili dade das escolas e das pessoas envolvidas neste processo, preocupadas
com a qualidade do ensino de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação e
com olhos voltados para uma atuação profissional competente.
Mudanças nos currículos, de forma a refletir as tendências da sociedade
atual, e garantir a sobrevivência dos cursos, são a tônica da maioria dos autores
selecionados para este trabalho, preocupados de alguma forma com a responsabili dade das
escolas na formação de seus alunos (Budd, 1991; Cronin, 1993). Alguns indicam mudanças
de conteúdo, de tópicos a serem abordados dentro dos conteúdos ou ainda mudança de
enfoque no tratamento dos tópicos já existentes (Brakel, 1991; Breglia e Rodrigues, 1994;
Brittain, 1985; Budd, 1991; Cronin, Stiffer e Day, 1993; Cunha, 1991; Guimarães,1994;
Hill , 1993; McLain, Wallace e Heim, 1990; Piñon, 1993; Santos, 1996; Souza et al., 1994;
Wagner, 1993; Watkins, 1994).
Segundo Watkins (1994), o grande desafio para as escolas, atualmente, é
prover habili dades aos seus alunos para atender a demanda atual de profissionais capazes de
manusear a informação em formas eletrônicas. Além disso, necessitam de professores
conhecedores dessas novas tecnologias, das suas aplicações nos processos de armazenagem,
recuperação e disseminação da informação, de forma a atender, com competência, as
exigências da sociedade atual. Para tal precisam ser preparados também, pois sabemos que
muitos professores de biblioteconomia e ciência da informação, “por não terem experiência
prévia, é provável que (...) não se sintam preparados para utili zar regularmente o
computador em suas aulas e/ou atividades rotineiras” como salientou Cunha (1991, p.
153).
Ainda para Souza e colaboradores
“ Os cursos e escolas de biblioteconomia devem estar preparados paraabsorver as inovações tecnológicas e capacitar seus docentes,proporcionando condições de ensino identificadas com odesenvolvimento tecnológico e situações favoráveis ao desenvolvimentoda criatividade e da capacidade de tomar decisões e gerenciar oprocesso de inovação das funções inerentes às bibliotecas e serviços deinformação” (1994, p.419).
Pode-se observar igual preocupação nas palavras de Watkins (1994), para
quem as escolas devem rever os seus currículos de forma que reflitam os avanços na
14
computação e contar com profissionais orientados tecnicamente. Este autor considera ainda
que os recursos financeiros estão diminuindo, e não é fácil incorporar tecnologias ao
currículo quando não se têm recursos.
Nos dias atuais, no entanto, as mudanças estão acontecendo tão
rapidamente que se torna quase impossível adequar currículos e programas das escolas de
graduação, de formação profissional, de maneira a atender essas exigências da sociedade e
do mercado de trabalho. Para Guimarães (1994), em discurso quando era presidente da
Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação (ABEBD), mais
importante do que mudar o currículo é operacionalizar bem o que está em andamento. Isso
para nós é a tarefa mais difícil quando temos clareza que não se muda um currículo sem
mudar a postura dos docentes, a atitude destes e, conseqüentemente, o enfoque do
conteúdo dado. O uso dos recursos informacionais automatizados, das novas tecnologias de
informação pode e deve estar contemplado dentro do conteúdo programático de qualquer
disciplina de qualquer currículo.
“ Dessa forma é importante que a estrutura educacional promova aimplantação de programas de ensino, nos quais, apesar da infra-estrutura deficitária do ambiente pedagógico, a absorção deconhecimentos esteja assegurada pela reflexão de questões e pelaprática de situações próprias da modernidade” (Souza et al., 1994, p.480).
Questionamos, portanto, até que ponto os currículos e programas dos
cursos de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação são os únicos
responsáveis pela formação de seus profissionais numa sociedade em desenvolvimento
constante.
Concordamos com Souza quando nos fala que “a produção, aprovação e
adoção de um novo curr ículo (...) talvez nem seja necessária, mais necessário que isso é
uma nova abordagem, (...) das matérias previstas no atual curr ículo, ou seja, a adoção de
novas metodologias de trabalho didático-pedagógico” , que possibili te aos profissionais
bibliotecários conhecer “o porquê do seu que fazer, a razão de ser de seu papel social”
(1996, p. 53).
15
Por outro lado, a quantidade de informação hoje disponível, a abundância
das formas de acesso, a necessidade constante de profissionais para facili tar o seu uso e
transformá-la em conhecimento, e o aparecimento das novas tecnologias de informação e
telecomunicações passam a exigir do profissional uma atitude próativa, que não serão os
conteúdos dos currículos, tão somente, que irão lhe proporcionar. Consideramos impossível
a um profissional, de qualquer área do conhecimento, basear sua carreira apenas no curso
de graduação. Não serão apenas os novos conteúdos dos cursos que irão melhor preparar o
aluno para as exigências do mercado, pois estes cursos demoram de quatro a cinco anos
para formar seu aluno, e neste espaço de tempo, muitos conteúdos poderão estar também
defasados.
Portanto, reforçamos a importância da educação continuada como “ a
extensão dos conhecimentos da área de interesse de cada profissional” (Macedo, 1985, p.
54), enfatizando que as oportunidades desta modalidade de ensino devem atender as
diferentes necessidades e demandas, quer seja através de cursos formais de pós-graduação
lato sensu e stricto sensu, quer seja através de cursos e eventos em geral, promovidos
sistematicamente ou não, ou ainda através de outras formas de educação continuada. A
responsabili dade pela educação continuada deve ser das escolas, para seus egressos, das
associações de classes, para seus membros associados, das empresas, para seus
funcionários, enfim de todos os segmentos envolvidos diretamente nesta sociedade da
informação e preocupados com a atuação responsável e competente do profissional.
1.2 A Educaç � o Continuada e a Distância neste Contexto
Educação continuada é um termo amplo, abrangendo uma gama imensa
de atividades de aprendizagem, que pode ir desde a leitura de textos técnicos, passando por
participações em palestras, seminários e outros eventos, bem como freqüentando cursos
formais de educação e treinamento. Pode ser entendida para fins de desenvolvimento
profissional - de iniciativa pessoal -, a partir de uma motivação própria, com foco na
necessidade do indivíduo ou para fins de treinamento em serviço, desenvolvimento de
16
pessoal - de iniciativa da organização - e com foco na necessidade desta. Neste caso a
motivação do indivíduo estará muito mais afeta à promoção funcional.
No contexto atual, a competência profissional está fortemente associada à
educação continuada, e por que não dizer, totalmente dependente desta. Para Foresti e
colaboradores,
“ A Universidade brasileira tem sido foco de atenção no que se refere àqualidade do trabalho acadêmico que realiza e à competência dosprofissionais que forma. À medida que aumentam as demandas externaspor excelência acadêmica e pertinência social da instituição, algunsreflexos se fazem sentir internamente, (...) na busca de um diagnósticosobre a Universidade (...). Mas quando se questiona o desempenho doprofissional formado pela Universidade, é a qualidade do ensinoministrado que está sendo objeto de avaliação” (1997, p. 47).
Ao nosso ver, tanto a qualidade do ensino que se verifica no ambiente
interno da Universidade quanto a competência dos profissionais – no ambiente externo -
têm uma forte relação com a educação continuada de professores e profissionais de todas as
áreas, sem exceções.
Em se tratando de profissionais bibliotecários, a necessidade de educação
continuada tem sido debatida há várias décadas na literatura nacional e internacional. Esta
necessidade se faz presente em função dos desenvolvimentos tecnológicos que têm forte
influência sobre a atuação profissional bem como das mudanças dos contextos social,
econômico, político e cultural que caracterizam hoje a chamada sociedade da informação.
Como já enfatizamos, os cursos de Biblioteconomia, Documentação e
Ciência da Informação, principalmente a partir da década de 60, quando o conceito de
ciência da informação começou a emergir e ser definido (Rayward, 1985), estão
permanentemente sendo desafiados a atender às exigências do mercado de trabalho, no
contexto desta sociedade da informação.
Atualmente, bibliotecários e demais profissionais da informação estão
obrigatoriamente envolvidos pela automação em pelo menos dois aspectos distintos:
aplicação da automação no seu trabalho rotineiro - processos automatizados de registro,
descrição, empréstimo etc. do material bibliográfico, mas também, e muito mais fortemente,
17
na aquisição e acesso de suportes mecânicos de informação, suportes legíveis por máquina -
CD ROMs, CD laser, bases de dados de acesso on-line (locais e/ou remotos), bibliotecas
virtuais etc. Esses profissionais têm que estar em alerta e cientes dos impactos que as
mudanças atuais podem ocasionar na sua atuação profissional. Mais que isso, a própria
natureza da profissão está mudando e o que vemos é que “o profissional que, para muitos,
teria que ser o catalisador das mudanças na sociedade, nem sempre está preparado para
atuar como participante ativo, permanecendo muitas vezes como mero espectador”
(Figueiredo, 1990, p.97).
Para Figueiredo, o profissional da informação deve saber “selecionar,
desenvolver, organizar, avaliar e tratar coleções documentárias [bibliográficas ou não] de
qualquer tipo de material, de acordo com as necessidades específicas de seus usuários, e
disseminar a informação usando as técnicas mais apropriadas a cada caso” (1991, p. 171).
Assim, é de extrema importância que os currículos e programas de
graduação e pós-graduação - lato sensu e stricto sensu - estejam sempre se atualizando,
buscando atender às exigências da sociedade, do mercado de trabalho. Mas isso não basta,
como já enfatizamos. Tão importante quanto atualizar currículos e programas de graduação
é promover programas sistemáticos e eficientes de educação continuada.
Educação continuada é essencial em uma sociedade em constante
mudança. Experiências de aprendizagem e habili dades práticas adquiridas com educação
continuada contribuem para melhorar a competência profissional neste ambiente em
mudança. A oferta de serviços de alta qualidade para a sociedade reflete na performance
dos bibliotecários e possibili ta que os mesmos, automaticamente, aumentem o seu valor
profissional (Figueiredo, 1993, p. 322).
Para Fisher e Matarazzo (1993), a educação continuada é importante em
toda e qualquer profissão e absolutamente necessária em um ambiente profissional onde as
mudanças rápidas alteram o escopo, a base do conhecimento e as metodologias dessa
profissão, como é o caso dos profissionais da informação. Para estes autores, atualização
através de leitura profissional, conferências, demonstrações de produtos, workshops,
seminários e cursos formais devem constituir um componente contínuo da vida de um
profissional da informação.
18
Weingand (1994), falando de competências do bibliotecário de referência,
aborda aspectos que são totalmente válidos para os profissionais da informação em geral e
não apenas aos bibliotecários de referência. Para a autora, educação profissional continuada
não é uma opção; ela é vital para a saúde profissional. Segundo a mesma, a educação
continuada para profissionais de biblioteconomia e informação é um dos mais importantes
problemas para a profissão hoje. A qualidade dos serviços de informação é baseada em
grande parte na competência do profissional. E a competência do profissional está cada dia
mais dependente da educação continuada. Para a autora, há quatro aspectos relacionados à
competência que podem acrescentar profundidade ao seu argumento: O primeiro aspecto
diz respeito à obsolescência ocupacional – o que leva um indivíduo expert em um assunto se
transformar em desatualizado em menos de cinco anos se não se preocupar em adquirir
novos conhecimentos, novas habili dades, novas atitudes, em se atualizar. Devido à
quantidade de novos produtos, novas tecnologias e o aumento da quantidade de
informação, o desafio é constante.
O segundo aspecto a ser discutido, segundo Weingand (1994), é o
escopo, ou seja, a necessidade de todo bibliotecário se engajar em educação continuada.
Hoje há um forte movimento entre o pessoal de bibliotecas (bibliotecários e/ou pessoal de
apoio) em busca de oportunidades para continuar sua educação. Nesse sentido, é
fundamental que os administradores de biblioteca reconheçam a importância da educação
para todo o seu pessoal e possibili te suporte administrativo para facili tar este ambiente
proativo.
Um terceiro aspecto através do qual a competência pode ser vista é sob a
ótica da responsabili dade ética e profissional. Um fator importante da prática profissional é
que esta deve ser governada por um código de ética, explícito e atualizado, que conduzirá o
comportamento do profissional. Dado que a competência é vital para uma performance de
alta qualidade, a educação continuada é definitivamente uma consideração ética (Weingand,
1994).
O quarto aspecto, segundo a autora, é a avaliação da competência. As
habili dades individuais de cada bibliotecário contribuirão para a qualidade do produto da
biblioteca. Isso leva à avaliação do serviço como um todo, à constatação da necessidade da
avaliação pelos pares e da vontade política de sanar deficiências. Para isso, os empregadores
19
deverão destinar fundos próprios para programas de desenvolvimento e treinamentos para
seu pessoal (Weingand, 1994).
Há um tempo atrás, os melhores papéis desempenhados pelas bibliotecas
se referiam a acesso, armazenagem e recuperação da informação. Hoje as bibliotecas são
parte da indústria da informação, rapidamente em expansão. Assim, o bibliotecário de hoje
tem responsabili dades, desafios e oportunidades que são crescentes em diversidade e
complexidade. Portanto, para permanecer na indústria da informação e estar no centro da
estrutura emergente é necessário reconhecer que as bibliotecas devem operar com um novo
paradigma. O modelo conceitual de bibliotecas de grandes acervos e de lugar aonde as
pessoas possam ir e ali permanecer, usando esse amplo e valioso acervo – velho paradigma
– não é mais válido. O novo paradigma está focado no cliente e nas necessidades deste. A
biblioteca não é mais um lugar; é mais do que isso; está se transformando em uma
biblioteca virtual – um espaço sem paredes onde clientes e necessidades de informação
estarão conectados, quer seja através de materiais físicos, redes de telecomunicações,
ligações eletrônicas etc., quer seja através de mecanismos que se tornarão disponíveis
amanhã.
É vital que a educação continuada seja usada para possibili tar a passagem
para o novo paradigma, pois o profissional da informação atuante nesta sociedade não pode
permitir-se estar preso ao velho paradigma (Weingand, 1994).
Para Elkin (1994) o bibliotecário do futuro necessitará cada vez mais de
habili dades específicas. O mercado necessitará de indivíduos flexíveis, adaptáveis,
imaginativos e proativos, que reconheçam novas oportunidades e estejam preparados para
os desafios. Serão pessoas altamente educadas que demandarão desenvolvimento
profissional contínuo para estar à altura de sua área de especialização.
Assim, a educação continuada deve ser planejada visando não somente
atualização relativa aos aspectos técnicos da profissão, mas também de maneira a fornecer
elementos para os profissionais da informação transformarem sua realidade de trabalho de
forma eficiente e competitiva, sempre possibili tando uma reflexão crítica de sua prática
profissional. Mas, por outro lado, não bastam cursos, eventos, periódicos especializados,
20
listas de discussão etc. etc., inúmeras modalidades de educação continuada, se não houver
interesse pessoal, se não houver uma motivação individual própria.
Os cursos – em todos os níveis e modalidades - devem manter um certo
equilíbrio entre o conteúdo de suas disciplinas e o contexto social, político, cultural e
econômico nas esferas micro e macro. Para que o aluno estabeleça a relação entre o
conteúdo das disciplinas e o contexto social faz-se necessário que ele seja constantemente
desafiado neste sentido, já que uma elaboração própria de cada um é fundamental. Vemos a
necessidade do requisito básico curricular para formar o profissional da informação com
conhecimento técnico eficiente na sua área – na esfera dos cursos regulares de graduação -,
mas também vemos a necessidade de esse profissional assumir uma postura crítica que
possibili te uma prática transformadora, comprometida com a realidade da profissão, o que
demanda uma atualização contínua. Isso será possível a partir da capacidade de elaboração
de cada indivíduo, mas a contribuição dos cursos é um elemento importante neste processo.
Merecem ser destacados alguns aspectos dos sistemas de aprendizagem
aberta que nos parecem importantes e que reforçam a idéia de maior oportunidade de
acesso a um maior número de pessoas, quais sejam: 1) a quebra de barreiras de tempo e
lugar; 2) um sistema mais flexível; 3) um sistema em que, além das escolas e dos
professores, atuam os pais, membros da comunidade, a mídia, o ambiente etc.; 4) sistema
que privilegia as diferenças individuais, ou seja diferentes alunos têm diferentes
necessidades; 5) a tecnologia ajuda, mas não é um fim em si mesma; 6) a aprendizagem é
vista como processo contínuo, para toda vida; 7) a aprendizagem é vista como colaborativa
e não competitiva; 8) o ambiente requer certa organização, personalizado, base para
inovações, mas não necessariamente organizado em termos de local físico (Almeida, 1996).
Ao mesmo tempo que a demanda por educação continuada tem forte
influência na provisão de cursos de educação e treinamento em todos os níveis, as modernas
tecnologias de comunicação, associadas às idéias emergentes de educação centrada no
aluno, entre outros aspectos, parecem favorecer a educação continuada a distância.
No final da década passada, alguns educadores afirmavam que a educação
a distância se caracterizava pela separação completa, entre alunos e professores, em termos
de espaço e tempo (Perraton, apud Questões..., 1998; Kaye apud Adonis, 1998). Hoje, com
21
o advento das novas tecnologias de comunicação, o tempo deixou de ser um diferencial
característico do ensino a distância, quando pensamos, por exemplo, em uma
videoconferência como meio para o ensino. Ainda assim, continua sendo um componente
forte desta modalidade de ensino.
A questão do espaço, permanece até os dias atuais e podemos definir
educação a distância como aquela modalidade de ensino não estabelecida na relação cara a
cara (Peters, apud Adonis, 1994), ou, por outro lado, onde alunos e professores, estejam
separados fisicamente, independente da distância física entre eles.
Tratando de definir e caracterizar educação a distância apenas para nos
situarmos na nossa proposta de educação continuada, selecionamos alguns trabalhos dentre
uma gama imensa de literatura específica desta área.
Para Holmberg (apud Terblanche, 1995) educação a distância cobre as
várias formas de estudo, em todos os níveis, as quais não estão sob supervisão imediata e
contínua de tutores presentes com seus alunos em salas de aula ou sob as mesmas
premissas, mas beneficiados pelo planejamento e organização próprios, através de guias e
tutoriais, específicos para situações a distância.
Como se pode observar esta definição enfatiza dois elementos básicos da
educação a distância: a separação entre instrutor e aluno e o papel da organização
instrucional.
Dentro do planejamento e organização específicos para situações de
ensino a distância, o papel do material instrucional foi por muito tempo bastante enfatizado
(Fiorentini, 1992, Garcia Sanchez, 1991, Reis e Santos JR, 1991, Silva, 1991),
principalmente quando o suporte de informação era primordialmente o material impresso,
na forma tradicional, com distribuição basicamente via correios. Este conceito muda um
pouco quando a tecnologia de produção e distribuição dos materiais mediadores desse
processo de ensino avança, e estes se tornam mais sofisticados e industrializados. As
tecnologias atuais de distribuição – teleconferência, aprendizagem assistida por
computador, pacotes multimídia, podendo incluir vídeos, CD-ROMS, entre outros, facili tam
a comunicação interativa entre aprendizes e instrutores e diminui ao nosso ver, a
necessidade de material instrucional próprio, ou preparado exclusivamente para o ensino a
22
distância. Passam a ser utili zados todos os tipos de materiais existentes, desde os periódicos
convencionais impressos até as publicações eletrônicas e todos os outros suportes possíveis
de comunicação e de transferência de informação.
Um outro aspecto importante a ser considerado na educação a distância é
que o controle do aprendizado é realizado mais intensamente pelo aluno do que pelo
instrutor (Jonassen, apud Questões ...., 1998). Neste sentido, ao se planejar cursos a
distância teremos que, na medida do possível, tentar identificar a capacidade dos alunos
para trabalhar sozinhos ou seja, o quanto eles são independentes em situações de
ensino/aprendizagem e se a motivação que eles possuem para o curso é suficiente para a
superação de barreiras inerentes ao aprendizado independente, entre outros aspectos. Do
contrário, a evasão em cursos a distância pode ser um componente complicador para se
conseguirem os resultados esperados. No entanto, o problema da evasão não é único dos
cursos a distância.
De acordo com Moore (apud Barnard, 1992) educação a distância
consiste de todo arranjo para prover instrução através de meios de comunicação impressos
ou eletrônicos para pessoas engajadas em planejar aprendizagem em um lugar ou tempo
diferente do instrutor.
Terblanche (1995) busca justificar o uso da educação a distância como
veículo de educação continuada para profissionais da informação citando Keegan (apud
Terblanche, 1995), para quem a educação a distância reúne os seguintes elementos:
separação física entre professor e aluno (instrutor e aprendiz); influência da organização
educacional – planejamento, sistematização, plano, projeto, organização dirigida etc.;
utili zação de meios técnicos – usualmente impressos - e eletrônicos de comunicação, para
unir o professor ao aluno e transmitir os conteúdos educativos; previsão de comunicação
interativa, de mão dupla, onde o estudante se beneficia de um diálogo, e da possibili dade de
iniciativas de ambos os lados; possibili dade de encontros ocasionais para contatos pessoais -
situações presenciais – com propósitos didáticos e de socialização; participação de uma
forma industrializada de educação e treinamento e privatização da aprendizagem
institucional.
23
Para Diaz Bordenave (1988, p. 31) a educação a distância tem sido
descrita nos seguintes termos:
“ ...é uma organização de ensino-aprendizagem na qual estudantes dediversas idades e antecedentes estudam, quer em grupos querindividualmente, em seus lares ou lugares de trabalho, com materiaisauto-instrutivos produzidos em um centro docente, e distribuídos atravésde diversos meios de comunicação, com a possibili dade, ainda, demanterem comunicação regular com os professores” .
Mata (1995, p. 11) nos fala da educação a distância como “uma
alternativa tecnológica que se apresenta em nível mundial e, especificamente, na
sociedade brasileira, como um caminho privilegiado de democratização da educação e
que muito pode colaborar para a humanização do indivíduo, para a formação do cidadão
e para a constituição de uma sociedade mais igualitária e justa” . Além disso, segundo a
autora, “é mediatizada e isto exige uma tecnologia, entendida como processo lógico de
planejamento, de pensar os curr ículos, métodos, procedimentos e meios, para tornar
possível a aprendizagem. Globalizante e integrador, não se refere a produtos, mas a
processos, métodos e técnicas, o que enfatiza seu caráter mediatizador” .
Podemos assim afirmar que por educação a distância se entende todas as
formas de estudos flexíveis que não exijam a presença física de alunos e professores no
mesmo lugar durante todo o tempo, mas que estejam juntos desde o início do processo
educativo ou formativo. Onde o aluno realize suas tarefas de forma independente e os
materiais contenham os conceitos necessários para a aprendizagem, com a máxima
flexibili dade em termos de nível do curso, estrutura, condições de atendimento, horário de
estudos, metodologia de trabalho, uso de diferentes meios de comunicação e acesso à
informação, assim como meios de apoio ao aluno. Deve fazer parte uma tutoria individual –
síncrona ou assíncrona (Adonis, 1998).
Não se pode negar, neste contexto, o papel facili tador das tecnologias de
informação e comunicação hoje existentes, que muito têm contribuído para uma maior
expansão dessa modalidade de ensino no Brasil (Bordenave, 1991).
O primeiro registro de educação a distância de que se tem notícia data do
século passado, no ano de 1881, quando o primeiro Reitor e fundador da Universidade de
24
Chicago ofereceu um curso de hebreu, por correspondência (Loyolla e Prates, 1998). As
primeiras formas de educação a distância em todo o mundo foram assim, os cursos por
correspondência, bastante utili zados até meados deste século, quando o rádio e televisão
tornaram-se populares. Hoje, passam a ser amplamente utili zadas para este fim as
tecnologias interativas cada vez mais sofisticadas.
Embora a correspondência tenha sido desde sempre um meio de interação
entre aprendizes e instrutores a distância, cada vez que um novo meio torna-se disponível,
verifica-se inúmeras pesquisas sobre o seu uso em educação a distância. A invenção do
rádio abriu muitas possibili dades para os educadores enriquecerem suas aulas para grupos
bem maiores de pessoas. A televisão propiciou aos instrutores adicionar imagens e sons em
suas apresentações. O advento da fita magnética para gravação de material de áudio e vídeo
e a expansão do número de métodos de gravação, de registro de dados e de distribuição de
material possibili taram a revisão do material em qualquer tempo e lugar e uma maior
flexibili dade de comunicação entre alunos e professores. E agora, temos a Internet como
mais um meio disponível para se dar oportunidade à educação a distância.
Nos Estados Unidos, o que anos atrás se iniciou como estudo por
correspondência, a educação a distância está em franca ascensão, e se transformando em
uma indústria em crescimento, com um amplo e legítimo meio de distribuir e acessar
educação pós-secundária, segundo Wolcott (1995). Para a autora, os avanços na tecnologia
de telecomunicação têm expandido grandemente as possibili dades para prover e acessar
instrução. Por exemplo, as fibras óticas, os satélites e a tecnologia digital facili tam a
transferência de textos eletrônicos e de vídeoteleconferência. Através de redes digitais
integradas o sistema telefônico pode ser associado a redes capazes de carregar
simultaneamente voz, dados e transmissão de vídeoimagem.
Em função da tecnologia de distribuição do material mediador para
educação a distancia, a evolução desta pode ser dividida em três fases cronológicas (Saba,
1996). A primeira foi a geração dos materiais textuais, baseada no auto-aprendizado e com
suporte de textos impressos, distribuídos por correios a qual permaneceu até a década de
1960. Nesta fase encontram-se os chamados cursos por correspondência (Questões ...,
1998, Saba, ©1996, Nunes, 1996).
25
A segunda fase foi a chamada analógica, também baseada no auto-
aprendizado e com suporte de textos impressos, mas fortemente complementados por
recursos tecnológicos de multimídia, tais como gravações de vídeo e áudio, que marcam as
décadas de 60 a 80. Proliferam nesta fase os telecursos – notadamente pela televisão e pelo
rádio.
A terceira fase é a atual, chamada de geração digital. Baseia-se no auto-
aprendizado, como as anteriores, continua tendo como suporte materiais impressos, mas
agrega a estes as publicações eletrônicas e o grande diferencial é a maneira de distribuição
dos materiais mediadores, que é fortemente baseada nos recursos tecnológicos de geração e
difusão de informações – computador, redes de comunicação etc. e nas tecnologias
interativas sofisticadas, tais como e-mail, BBS’s, Internet, audioconferência baseada em
telefone e videoconferências (Questões ..., 1998). Uma ferramenta da Internet que tem sido
muito utili zada é o WWW, que possibili ta a elaboração de cursos a distância com avançados
recursos de multimídia (Questões ..., 1998).
Como podemos verificar, a característica forte, que permanece até hoje no
conceito de educação a distância, é o auto-aprendizado. O aluno deve ser incentivado a
estudar de forma independente com o objetivo de fortalecer seu aprendizado. Também suas
características individuais – ritmo próprio, motivação etc. – devem ser respeitadas e,
quando possível, estimuladas.
A educação a distância parece ser uma alternativa que atende aos
requisitos da sociedade atual, entendendo esta como uma forma de proporcionar instrução,
conhecimento e informação às pessoas interessadas, em tempo ou lugares diferentes dos do
instrutor, através de diferentes meios de comunicação. As tecnologias de informação
disponíveis atualmente, e em convergência com as telecomunicações e redes, mais
especificamente, a Internet, podem se tornar um meio de excelência para prover educação
continuada e a distância.
No Brasil destacam-se, como precursores da educação a distância a
fundação do Instituto Rádio-Monitor, em 1939 e o Instituto Universal Brasileiro, em 1941,
como experiências precursoras e levadas a termo com relativo sucesso (Nunes, 1996). Nos
anos de 1962 a 1965 existiu um Programa de Educação à Distância da Rádio Alvorada de
26
Londrina, financiado pela Igreja Católica e pelo Governo do Estado do Paraná, do qual a
Profa. Eda Machado de Sousa foi a Coordenadora (Sousa, 1995).
A Lei Nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que estabelece as diretrizes da
educação nacional – a chamada nova LDB -, contempla em seu Art. 80 e seus parágrafos, a
educação a distância “em todos os níveis e modalidades de ensino e de educação
continuada” (A Nova ..., 1996). O Decreto Nº 2.494, de 10 de fevereiro de 1998,
regulamenta o Art. 80 da LDB determina em seu Art. 1º - “Educação a distância é uma
forma de ensino que possibilit a a auto-aprendizagem, com a mediação de recursos
didáticos sistematicamente organizados, apresentados em diferentes suportes de
informação, utili zados isoladamente ou combinados, e veiculados pelos diversos meios de
comunicação” (Educação ..., 1998, p.1). Na seqüência, seus artigos e respectivos
parágrafos regulamentam questões tais como organização, certificação, matrícula,
transferência, credenciamento institucional, avaliação etc., no nível do Ministério da
Educação e Cultura. Ressaltamos, no entanto, que nosso interesse, neste trabalho, é a
educação a distância como modalidade de educação continuada, tão somente.
Constatamos e concordamos com Almeida (1996) que a demanda para
educação e treinamento cresce numa progressão geométrica; portanto, o crescimento é
exponencial, enquanto que o atendimento clássico cresce linearmente, ou seja, numa
progressão aritmética. E ainda: há uma redução de recursos para o atendimento da
educação no modelo clássico. Num dado momento, escolas e universidades recebem ordens
para reduzir os custos; no momento seguinte, pedem-lhes que expandam seus programas
para atender os não atendidos. Uma solução para este problema, segundo o autor, seria
então a educação a distância.
Podemos citar, como exemplos de educação aberta, continuada e a
distância no mundo, dez universidades denominadas "mega-universidades", por contarem
com mais de 100 mil alunos nos seus cursos a distância, situadas nos seguintes países:
China - Universidade Central de Rádio e TV (CCRTVU); França - Centro Nacional de
Ensino à Distância (CNED); Índia - Universidade Aberta Nacional Indira Ghandi (IGNOU);
Indonésia - Universidade de Terkuba (UT); Coréia - Universidade Nacional Aberta da
Coréia (KNOU); África do Sul - Universidade da África do Sul (UNISA); Espanha -
Universidade Nacional de Educação à Distância (UNED); Tailândia - Universidade Aberta
27
Sukhothai Thammathirat (STOU); Turquia - Universidade Anadolu (OEF) e Reino Unido -
Universidade Aberta (OU); além de outras iniciativas "consideradas exemplares" na 17a
Conferência Mundial de Educação à Distância, realizada em Birmingham (Reino Unido), de
26 a 30 de junho de 1995, sendo: México, Austrália, Canadá e Estados Unidos (Sousa e
Bruzzi, 1995).
No Brasil, contamos com o Consórcio Interuniversitário de Educação
Continuada e à Distancia constituído por 51 universidades, coordenado pela Universidade
de Brasília e do qual fazemos parte. Este consórcio,
"através da provisão de uma plataforma, via satélite, deverá favorecer oestabelecimento de mecanismos de cooperação entre as universidades deforma a permiti r o desenvolvimento de programas de educação e deformação continuada (grifo nosso) a serem realizados em colaboraçãocom institutos de pesquisa, centros de educação tecnológica, centros detreinamento, centros de informática, televisão educativa, empresas,organizações e entidades da sociedade civil " (Anteprojeto, 1994, p. 5).
Paralelo ao Consórcio, ou como forma de estabelecer efetivamente
mecanismos de cooperação e desenvolvimento de programas de educação continuada a
distância, citamos, por exemplo, que a Internet usada para este fim pode trazer benefícios
de toda ordem para o indivíduo. Possibili dade de gerenciar seu tempo de atualização e
estudo em seu próprio local de trabalho ou até mesmo em sua própria casa; possibili dade de
atuar individualmente, ou em grupo, dependendo de seu livre arbítrio; possibili dade de
ascensão e reconhecimento no trabalho, pelo fato de conhecerem uma tecnologia e
dominarem a informação1, possibili dade de maior interação aluno-conteúdo, aluno-
professor, aluno-aluno2; entre outros benefícios, que ao nosso ver, podem contribuir
significativamente para a melhoria do perfil profissional dos egressos dos cursos de
graduação, suprindo possíveis lacunas que os currículos não têm condições de atualizar
durante sua realização.
De igual forma Pujol (1994, p. 65) nos diz:
1 BAILEY, E. K.; COTLAR, M. Teaching via the Internet. Communication Education, v.43, p. 184-193, Apr. 1994.2 GUNAWARDENA, Charlotte N. Avaliando sistemas de educação à distância; questões e desafios. In:
CONFERÊNCIA INTERAMERICANA DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA, 1., 1995, Brasíli a.
28
"... os recursos financeiros destinados à formação não apresentam, nomomento atual, um ritmo de crescimento proporcional ao aumento dasnecessidades de quali ficação. Para fazer frente a essas necessidades,tem-se procurado identificar formas que permitam-se alcançar umamaior eficiência dos recursos, cada vez mais limitados. Busca-seconseguir resultados qualitativa e quantitativamente superiores semcontar com aumento significativo de recursos, destacando-sebasicamente dois tipos de instrumentos:
"1) a introdução de tecnologias educacionais baseadas em aplicaçõesdidáticas da informação, do vídeo e das telecomunicações, com um fortepotencial quanto à cobertura de grandes populações, possibili dades dereprodução da realidade com uma grande fidelidade e uma fortecapacidade de individualização da aprendizagem.
"2) instrumentos de flexibili zação da oferta de formação que buscam -sobre a base de uma compatibili zação dos tempos que as pessoas podemdedicar à formação com os tempos que elas destinam ao trabalho, à vidafamili ar, e ao lazer - uma maior cobertura dos sistemas sem um aumentosignificativo de recursos e assegurando um nível qualitativo adequado àsações de formação.
"Estes instrumentos recebem, em geral, o nome de sistemas de formaçãoaberta' e incluem, entre outros, os sistemas de `formação a distância"(Pujol, 1994, p.65).
Prieto Castilho (1994, p. 82), ao tratar do uso de redes no ensino,
destaca: "o processo [em rede] supera as limitações da educação a distância tradicional"
por possibili tar a aprendizagem por interação e por colaboração, considerando os contatos
com os colegas que as redes permitem (grifos nossos).
Para a UNESCO (1995, p.2), a crescente variedade de meios interativos
aumenta o escopo e as possibili dades da aprendizagem autodirigida. Isto é particularmente
importante para aquelas pessoas que não têm acesso aos meios convencionais, seja por
limitações de tempo e espaço, idade, ambiente sócio-cultural entre outras. Similarmente,
muitas necessidades específicas da aprendizagem não podem ser satisfeitas devido a
limitações de flexibili dade dos sistemas de educação formal. Ambas limitações podem ser
minimizadas através de sistemas modernos de educação a distância. O sistema “ Learning
without frontiers” é uma iniciativa precursora, que possibili ta aos aprendizes não somente o
acesso ao conhecimento disponível em diferentes partes do mundo, como também assegura
o diálogo - principal fator de aprendizagem efetiva - entre os próprios aprendizes e entre
estes e as fontes de aprendizagem (humanas e não humanas).
29
Para Moran (1997, p. 146) a “ Internet está explodindo como mídia ... [e]
também está explodindo na educação” . Para o autor, ela altera significativamente tanto a
educação presencial como a educação a distância e “a educação continuada é otimizada
pela possibili dade de integração de várias mídias, acessando-as tanto em tempo real como
assincronicamente, isto é, no horário favorável a cada indivíduo, e também pela facili dade
de pôr em contato educadores e educandos” .
Sobre o uso da Internet na educação temos visto atualmente uma gama
imensa de trabalhos publicados – impressos e eletrônicos - muitos deles disponíveis na
própria rede. Citaremos alguns destes trabalhos, lidos para esta pesquisa que não entraram
nesta revisão, mas que poderão servir de norte para interessados na área. São eles: Novak e
Patterson (1996); Ponta e Scapolla, 1996; Littman (1996) e Davis (1996) – veiculados nos
eventos ED_MEDIA e ED_TELECOM, realizados em Bostom, em 1996. E ainda: Caplan,
(1997); Updegrove (1996); Open Univerrsity (1996); Andrews, Neoumov e Scherbakov
(1995); Marshall (1995); Silva e Cartwrhight (1993); Monoham e Dhrarm (1995); Lasmar
(1995); Distance ... (1995 e 1996); Peraya (1996); Axt e Fagundes (1996), entre outros.
Como forma de garantia da qualidade dos cursos a distância consideramos
que as novas tecnologias de informação estão contempladas nos novos paradigmas da
educação que privilegiam a obtenção e organização do conhecimento de forma a possibili tar
ao indivíduo uma visão global de mundo, onde a inovação e a descoberta são etapas
importantes do processo de aprendizagem. Além disso, no contexto do ensino "os
ambientes hipermídia constituem a mais recente tecnologia para a integração e
contextualização do saber" (Passarelli , 1993, p. 39) e os experimentos no processamento
mental de imagens provêm fortes argumentos para o uso de multimídia no ensino (Barnard,
1992, p. 141).
Por outro lado, a clareza de que a tecnologia, por si só, não provocará
mudanças, é muito importante para que transformemos a chamada sociedade da
informação. "É a mudança social que tem que acontecer para que transformemos em
realidade as possibili dades tecnológicas de acesso ao conhecimento..." (Souza e Bruzzi,
1995, fl.40).
Segundo o Presidente da Internet Society:
30
“ Não há filt ros eletrônicos para distinguir a verdade da ficção. Nãoexiste nenhum ‘V-chip’ cognitivo para separar o ouro do chumbo. Nóstemos uma ferramenta para usar: o pensamento crítico (grifo nosso).Esta verdade se aplica para todos os meios de comunicação, não só paraa Internet. Talvez o World Wide Web tenha meramente nos forçado a verisso mais claramente do que em outras mídias. A completa justaposiçãode conteúdos com e sem valor nos leva a pensar. Aqui está umaoportunidade para educar-nos a nós todos” (Cerf, 1996, p.114).
Como alternativa para atualização contínua do profissional da informação
elegemos a educação continuada e a distância, visto que as novas tecnologias de informação
contempladas nos novos paradigmas da educação privilegiam a obtenção e organização do
conhecimento num contexto global de mundo. Segundo Thornburg (1991, apud Passarelli ,
1994, p. 44), a aprendizagem "não é necessariamente linear, uma vez que incorpora a
utili zação de múltiplas mídias". O uso dos computadores e de outras tecnologias de
comunicação em ambientes de ensino/aprendizagem tem considerado os novos paradigmas
para a educação, que realçam que "todos os alunos são únicos e, portanto, diferentes entre
si". Isto não significa retornar ao ensino individualizado da forma anteriormente concebida,
mas sim assumir uma nova postura no ensino que deverá exigir do aluno, cada vez mais, a
utili zação de diferentes meios, o contato com colegas, com diferentes grupos de estudos e
com diferentes pessoas, mesmo para suas atividades individuais. As novas tecnologias
privilegiam, no processo de aprendizagem, uma visão global de mundo, novas descobertas,
iniciativa própria etc., que são elementos fundamentais no ensino a distância.
Selecionamos na literatura alguns argumentos favoráveis ao uso de
sistemas hipermídia no ensino, via Internet que serão citados a seguir, sem a pretensão de
entrarmos no mérito da análise crítica e julgamento de cada um deles, mesmo porque são
bastante controversos, se considerarmos autores favoráveis ao uso de novas tecnologias no
ensino e autores que apresentam fortes argumentos contrários, e ainda, porque não serão
objeto de estudo isoladamente neste trabalho. Assim, segundo Moran (1997), Pacheco
(1997), Bailey e Cotlar (1994), Gunawardena (1995) e Prieto Castilho (1994), só para citar
alguns, e também através de troca de informação com estudiosos da área extraímos os
seguintes aspectos que nos pareceram importantes:
• interação aluno-conteúdo. Permite que os alunos construam junto com o
professor/instrutor seu próprio aprendizado e conhecimento à medida que o
curso avança;
31
• interação aluno-professor. Não só com o professor instrutor mas também
com outros professores e/ou profissionais de destaque na área, no cenário
nacional e internacional, para esclarecimentos de dúvidas, orientações de
leitura etc.;
• interação aluno-aluno. De diferentes locais, com diferentes experiências e
oportunidades; “cada um busca a sua turma” (Moran, 1997, p. 150)
• democratização da informação. Oportunidades de contato com outras
realidades para alunos que durante sua formação básica não as tiveram;
• ênfase no desenvolvimento da habili dade de pensar e reconhecer a educação
como um processo durante grande parte da sua vida, como qualidade de
vida, e não simplesmente como forma de conseguir o que uma carreira
profissional exige;
• contribuição para diminuição da estratificação da sociedade entre usuários e
não usuários de computadores e, portanto, entre os que dominam a
informação e os que não dominam, o que geralmente ocorre por medo e/ou
ansiedade;
• possibili dade de ascensão e reconhecimento no trabalho. Também pela
questão dos que conhecem a tecnologia e dominam a informação, além de
outros fatores;
• possibili dade de avançar no processo de aprendizagem considerando o feed-
back imediato, tanto para o professor quanto para o aluno;
• facili dade de distribuição de textos básicos para leitura, através de
transferência de arquivos (via ftp - file transfer protocol);
• possibili dade de fóruns de discussão freqüentes, através de listas de discussão
(listservers) e correio eletrônico (e-mail;);
• possibili dade de unir o aprendizado de conteúdo, necessário para
determinada atividade profissional, com o aprendizado da tecnologia, ao
mesmo tempo;
• eliminação de diferenças individuais, animosidade, preconceitos etc.,
presentes nas relações interpessoais face a face, que muitas vezes interferem
no processo de ensino-aprendizagem;
32
• eliminação da tonalidade da voz, na linguagem falada, que muitas vezes
carrega sentimentos fortes de aprovação/desaprovação, amor/ódio etc.,
perceptíveis por alunos e professores e intervenientes no processo;
• possibili dade de acessar informações sobre os mais diversos assuntos,
disponíveis na rede;
• aumento das conexões lingüísticas, geográficas e interpessoais;
• possibili dade de desenvolvimento de novas formas de comunicação;
• aumento do interesse pelo estudo de línguas.
A nossa proposta de educação a distância refere-se a uma proposta de
educação continuada em que alunos e professores estão separados fisicamente. Esta
proposta pedagógica baseia-se em um planejamento próprio para ensino a distância, sem
forte referência na elaboração dos materiais instrumentais e sim, nos recursos mais
acessíveis existentes na própria Internet, quais sejam WWW, lista de discussão, chat e e-
mail, basicamente.
A partir das considerações feitas até então pelos autores com conceitos,
definições, características etc. da educação continuada e a distância, queremos retomar o
aspecto da motivação e da iniciativa individual de cada um, que acreditamos deva ser
debatido em função da imagem do profissional da informação nesta sociedade atual.
Vemos um quadro interessante quando tratamos especificamente da
educação continuada na área de Biblioteconomia, em um cenário onde os egressos de
nossos cursos têm praticamente duas vertentes básicas de atuação profissional,
tradicionalmente falando, quais sejam: a área das bibliotecas públicas e escolares e a área
das bibliotecas universitárias, especializadas, centros de informação e documentação em
ciência e tecnologia. Profissionais que atuam na área de bibliotecas universitárias,
especializadas, centros de informação e documentação em ciência e tecnologia são os que
estão mais envolvidos em situações de educação continuada. São eles os profissionais mais
bem remunerados e, portanto, podem estar sempre se atualizando na área, adquirindo
periódicos especializados, participando de eventos, de atividades de pesquisa etc. Nas
participações em eventos, freqüentemente têm suas inscrições garantidas pelas instituições
de trabalho, bem como suas despesas de viagem, quando o evento acontece fora das suas
cidades de origem. Ao contrário, os profissionais atuantes em bibliotecas públicas e
33
escolares são os mais mal remunerados, salvo raras exceções, portanto menos envolvidos
em atividades de educação continuada devido às limitações decorrentes disso. Suas
Instituições dificilmente promovem eventos e envolvem estes profissionais em atividades de
pesquisa. Estes profissionais dificilmente têm possibili dades de assinar periódicos em suas
áreas de interesse e de participar de eventos fora de suas cidades de origem, pois suas
instituições tampouco custeiam suas inscrições quando o evento acontece nas próprias
cidades onde trabalham. Assim, a educação continuada para estes últimos fica restrita à sua
iniciativa individual, a uma motivação própria. Sabemos o quanto é difícil ter motivação
quando não se tem incentivo, reconhecimento profissional, e mais que isso, quando o salário
é insuficiente. Estes profissionais, exatamente por estarem mais próximos da sociedade
como um todo, são os mais responsáveis pela imagem que a sociedade tem da profissão. Ou
seja, a imagem que a sociedade tem do profissional da informação é, em maior escala, afeta
a estes profissionais de bibliotecas públicas e escolares. Este cenário precisa ser mudado. É
necessário que o incentivo à educação continuada se faça presente de forma mais efetiva
nestas Instituições, que muitas vezes são dirigidas pelos próprios bibliotecários, pelos
próprios profissionais da informação.
Quando se conceitua educação a distância o auto-aprendizado é talvez a
característica mais forte quando se trata de aquilatar o sucesso de um aluno em cursos e/ou
atividades de ensino a distância. O incentivo para se aprender a estudar de maneira
independente, como fortalecimento para o aprendizado, deve estar sempre presente de
alguma forma nos cursos a distância. Temos que buscar desenvolver uma cultura própria de
desenvolvimento profissional independente, de cada indivíduo e da profissão, que ao nosso
ver, é um aspecto bastante difícil. Estamos sempre delegando responsabili dades a outros,
nos desculpando por um motivo ou outro por não estarmos estudando sozinhos, nos
aperfeiçoando, nos atualizando e por conseguinte melhorando nossa atuação profissional,
porque ainda não desenvolvemos essa cultura própria, nem no nível pessoal nem no coletivo
da profissão.
Também as alternativas de educação continuada e a distância, via Internet,
por exemplo, estão muito mais acessíveis, para os profissionais das áreas especializadas,
pelos mesmos motivos. São estes os que estão aprendendo mais, desenvolvendo
competências de uso etc. Por outro lado, novamente a falta de motivação e de pré-
disposição para o auto-aprendizado independente é algo que tolhe a iniciativa de muitos
34
profissionais da informação para se envolverem em cursos a distância, quando não é
altamente responsável pela evasão destes cursos independente de sua área de atuação
profissional.
Ou seja, quando analisamos a educação continuada na forma presencial,
vemos os bibliotecários de bibliotecas especializadas mais envolvidos, mas quando falamos
da educação continuada a distância, também estes não estão aptos para o auto-aprendizado.
E isso poderemos estar identificando com estudos dessa natureza que, no momento,
desconhecemos. Enfatizamos, porém, mais uma vez a importância da educação para o
desenvolvimento dessa cultura de desenvolvimento profissional independente, nesta
sociedade da informação.
Antes de sabermos mais sobre motivação para cursos a distância bem
como sobre auto-aprendizagem independente, é fundamental que os dirigentes de
bibliotecas públicas e escolares, estejam sensibili zados para o uso da Internet como forma
de educação continuada a distância, como uma alternativa viável para todos, quer seja
através de cursos disponibili zados na rede, quer seja através de participação em listas de
discussão para troca de informações e experiências, ou mesmo como simples meio de
acessar artigos de periódicos impressos, publicações eletrônicas, bibliotecas virtuais ou
outra forma de educação continuada dentro de uma imensa gama de oportunidades já
disponíveis na Internet.
35
PARTE II - O PENSAMENTO CR TICO NA
ATUALIDADE: Contextualizaç� o, definições,
características e habilidades
No contexto atual da sociedade da informação, com a avalanche de
informações a que podemos ter acesso todos os dias na escola, no trabalho, em casa, enfim
em qualquer lugar em que estejamos, temos ouvido que a capacidade de pensar criticamente
é o que diferencia um indivíduo do outro, principalmente nas tomadas de decisões. O
indivíduo necessita desenvolver esta habili dade para usá-la como elemento de discernimento
entre o que é bom ou ruim, o que é necessário ou supérfluo, o que tem qualidade e o que
não tem, para ele, naquele momento, ou naquela situação de vida - pessoal ou profissional.
Em se tratando de informações veiculadas em publicações impressas, os
bibliotecários e profissionais da informação em geral, são conhecedores de elementos que
permitem melhor selecionar essas publicações, sejam elas de caráter científico sejam de
caráter geral, informativo. Por exemplo, um periódico científico possui uma série de
características que permitem classificá-lo como excelente, bom ou razoável, dependendo
dos critérios obedecidos para publicação de seus artigos, do seu conselho editorial, dos
referees deste periódico, enfim de tudo aquilo que o diferencia e o qualifica no cenário de
cada área específica do conhecimento científico. A qualidade de um Lancet, só para citar
um exemplo na área médica, é inquestionável, ou seja, todos sabemos do status de um
profissional da área que tem um artigo aceito para publicação neste conceituado periódico.
E as informações veiculadas pela Internet, por exemplo, nos chamados periódicos
eletrônicos? Quais são os critérios que as distinguem das demais? Esses critérios existem
para as publicações eletrônicas? Neste sentido há quem afirme que “o poder da Internet é
uma faca de dois gumes. Ela também promove a desinformação e dissemina opiniões não
corroboradas com a mesma facili dade” (Cerf, 1996, p.114). Pessoas de diferentes tipos de
pensamentos, competências, opiniões, tendências, ideologias etc. coexistem lado a lado no
universo eletrônico da Internet, o que por um lado é extremamente salutar, mas, por outro,
36
nos traz problemas para distinguir o que de fato nos interessa, nos faz crescer e nos é
confiável daquilo que não nos interessa, não nos traz contribuição alguma ou mesmo não
são dignos de confiança. Este é um aspecto a ser considerado no contexto da sociedade da
informação, entre outros existentes.
Sabemos também que isso acontece não apenas no ambiente da Internet.
Precisamos realmente pensar sobre o que vemos e o que ouvimos em qualquer ambiente.
No caso das publicações impressas, como já dissemos, nós temos elementos concretos que
nos possibili tam essa avaliação, essa seleção. Quando não dispomos de elementos concretos
de avaliação, podemos pensar que o desenvolvimento de habili dades de raciocínio de ordem
superior, tais como o pensamento crítico, pode, melhor do que qualquer filtro eletrônico,
nos possibili tar esse livre arbítrio com maior segurança. “Não há filt ros eletrônicos para
distinguir [por exemplo] a verdade da ficção, (...) para separar o ouro do chumbo. Nós
temos uma ferramenta para usar: o pensamento crítico (Cerf, 1996, p.114).
A habili dade de pensar criticamente é essencial para o indivíduo que está
vivendo, trabalhando e atuando efetivamente nesta atual sociedade em constante mudança,
segundo Howe e Warren (1997).
Strong (1991) enfatiza que nesta sociedade da informação é essencial que
os estudantes desenvolvam não somente habili dades para manusear informações, mas
também aquelas habili dades de pensamento crítico necessárias para a vida toda.
Entendemos que para integrar habili dades de desenvolvimento de pensamento crítico nas
áreas de assunto dos currículos escolares há necessidade de esforço cooperativo dos
professores, dos administradores das escolas, bem como dos demais profissionais
envolvidos no processo ensino aprendizagem – bibliotecários, por exemplo. Uma atitude
proativa, nessa direção, é o grande desafio para todos nós.
Numa crítica aos sistemas educacionais atuais Henri e Dill on (1992)
argumentam que os educadores têm que tomar nota das evidências que o aprendizado, em
muitas escolas e para muitos alunos, está longe de ser eficiente e mais do que estruturar
programas de ensino predominantemente para o absorção de um corpo fixo de
conhecimento, os professores deveriam estar investigando o uso de métodos instrucionais
que coloquem o aluno no centro do processo ensino/aprendizagem e que possibili tem o
37
desenvolvimento de pensamento crítico. Assim, mais do que unicamente alterar currículos e
programas escolares – como vimos com freqüência - acreditamos na necessidade de buscar
métodos de ensino que possibili tem desenvolver determinadas habili dades de raciocínio de
ordem superior, e buscamos, principalmente, elementos para entender o que é o pensamento
crítico e como desenvolvê-lo.
A origem do pensamento crítico pode ser traçada longinquamente, desde
Sócrates (469-399 a.c.) que nos deixou o seu Método Socrático. Ele não somente
estabeleceu uma íntima conexão entre ação correta e pensamentos corretos, mas tentou
mostrar que era possível pensar pensamentos corretos, segundo Boyd e King (apud Morgan
Jr., 1995).
Uma contribuição posterior pode ser encontrada em Montaigne (1533-
1592), que foi um crítico da educação direcionada à memorização. Para ele, a distinção
entre conhecimento e sabedoria tinha uma dicotomia essencial que separava a instrução que
vale a pena, das demais. Afirmava que o melhor método para direcionar uma criança a
transformar em conhecimento uma aquisição pessoal era tornar cada lição uma
oportunidade para exercitar o seu próprio julgamento (Montaigne, apud Morgan Jr., 1995).
Já no nosso século, em 1910, Dewey denominou de “pensamento
reflexivo” o que hoje na literatura é chamado de pensamento crítico (Dewey, apud Morgan
Jr., 1995). Dewey argumentava que, se uma pessoa não foi suficientemente crítica em suas
idéias, então seu pensamento pode não ser reflexivo, o que sugere um relacionamento forte
entre os termos reflexivo e crítico, quando não tratados como sinônimos. De interesse
particular são as cinco fases do pensamento reflexivo de Dewey, quais sejam: (1) sugestões
onde a mente salta para uma solução possível; (2) uma intelectualização da dificuldade ou
perplexidade que tem sido sentida (diretamente experienciada) em um problema a ser
solucionado, uma questão para a qual a resposta deve ser buscada; (3) o uso de uma
sugestão depois outra como idéia principal (como pano de fundo), ou hipótese, para iniciar
e guiar a observação e outras operações na coleta do material factual; (4) a elaboração
mental da idéia ou suposição (raciocínio, no sentido em que o raciocínio é a parte, não o
38
todo, da inferência); e (5) testar as hipóteses por ação clara ou imaginativa (Dewey, apud
Garrison, 1991)3.
Na década de 50 Dressel e Mayhew traçam algumas habili dades chamadas
de essenciais para o pensamento crítico, sendo inicialmente quatro, usadas em um teste
padrão de pensamento crítico, quais sejam: (1) Identificar questões centrais; (2) Reconhecer
pressupostos derivados; (3) Avaliar evidência ou autoridade através de: reconhecimento de
estereótipos e clichês, reconhecimento de vieses e fatores emocionais em uma apresentação;
distinção entre dados verificáveis e dados não verificáveis; distinção entre o relevante e o
não relevante; distinção entre o essencial e o incidental; reconhecimento da adequação dos
dados; determinação se os fatos suportam uma generalização; checagem de consistência; e
(4) Chegar a conclusões garantidas (Dressel e Mayhew, apud Morgan JR., 1995).
Neste mesmo relatório, os autores acrescentam uma lista de habili dades
de pensamento crítico desenvolvidas pelo Intercollege Committee on Critical Thinking que,
como pode-se observar, é uma outra elaboração da idéia, mas há superposição daquelas
vistas anteriormente. São elas: (1) Habili dade para definir um problema; (2) Habili dade para
selecionar informações pertinentes para a solução de um problema; (3) Habili dade para
reconhecer pressupostos estabelecidos e não estabelecidos; (4) Habili dade para formular e
selecionar hipóteses relevantes e promissoras; (5) Habili dade para chegar a conclusões
válidas e julgar a validade das referências (Dressel e Mayhew, apud Morgan Jr., 1995).
Em 1962, uma outra definição de pensamento crítico pode ser
incorporada e junto dela são associadas doze habili dades, sendo: (1) Focalizar uma questão;
(2) Analisar argumentos; (3) Fazer e responder questões que clareiam ou desafiam; (4)
Julgar a credibili dade da uma fonte; (5) Observar e julgar relatórios de observação; (6)
Deduzir e julgar deduções; (7) Induzir e julgar deduções; (8) Fazer e julgar julgamentos de
valor; (9) Definir termos e julgar definições; (10) Identificar pressupostos; (11) Decidir
sobre uma ação; (12) Interagir com outros (Ennis, 1962 apud Ennis, 1985).
Ennis (1985) enfatiza ainda que pensamento crítico é o pensamento
reflexivo e racional que está focalizado na decisão do que acreditar ou fazer. Segundo o
3 Este trabalho de Dewey, de 1910, foi reeditado em 1933 e pode ser considerado um clássico no assunto já que a
grande maioria dos textos atuais sobre pensamento crítico, li dos para esta revisão, se reportam a ele.
39
autor, há atividades criativas envolvidas nesta definição, incluindo formulação de hipóteses,
questões, alternativas e planos para experimentos e, assim definido, pensamento crítico é
uma atividade prática porque decidir sobre o que acreditar ou fazer é uma atividade prática.
Ao tratar de habili dades de raciocínio de ordem superior, Resnick (1987)
argumenta: raciocínio de ordem superior é não algorítmico; tende a ser complexo;
freqüentemente produz múltiplas soluções, cada uma com custos e benefícios, mais do que
uma única solução; envolve nuances de julgamento e interpretação; envolve aplicação de
múltiplos critérios, os quais algumas vezes conflitam uns com os outros; freqüentemente
envolve incerteza; envolve auto-regulação do processo de pensamento; envolve imposição
de significado, encontrando estrutura em uma desordem aparente; envolve esforço. Há um
trabalho mental considerável envolvido em tipos de elaborações e julgamentos requeridos
(Resnick, apud Morgan Jr, 1995).
Ainda em 1987, abordando o pensamento crítico nas ciências sociais,
Patrick nos informa que as definições encontradas variam quanto à extensão e quanto aos
aspectos que incluem. Definições amplas equiparam pensamento crítico com processos e
estratégias cognitivas envolvendo tomada de decisão, solução de problemas ou
investigação. Definições limitadas focalizam na avaliação ou apreciação. Neste caso,
pensamento crítico é formulação e uso de critérios para se ter garantia de julgamentos sobre
conhecimento declarado, estabelecimentos normativos, métodos de investigação, políticas
de decisões, posições alternativas sobre questões públicas ou qualquer outro objeto. Nesta
concepção, pensamento crítico é definido como um elemento essencial de processo
cognitivo geral, como solução de problemas ou tomada de decisão, mas não como
sinônimos destes. Ressalta o autor que, em qualquer das duas concepções, pensamento
crítico implica em curiosidade, ceticismo, reflexão e racionalidade. Pensadores críticos, para
ele, têm uma propensão para levantar e explorar questões sobre crenças, afirmações,
evidências, definições, conclusões e ações (Patrick, 1987).
Scriven e Paul (1997) definem pensamento crítico como um processo
intelectualmente disciplinado de conceituar ativa e habili dosamente, aplicando, analisando,
sintetizando e/ou avaliando forma de obtenção ou geração de informação através de
observação, experiência, reflexão, raciocínio ou comunicação, como um guia para crença e
ação. Desta forma exemplar, pensamento crítico está baseado em valores intelectuais
40
universais que transcendem divisões de temas como: clareza, exatidão, precisão,
consistência, relevância, evidência, boas razões, profundidade, abrangência e justiça.
Segundo eles, pensamento crítico pode ser visto como tendo dois componentes: (1) um
elenco de habili dades para processar e gerar informação e crenças, e (2) o hábito, baseado
no compromisso intelectual, de usar aquelas habili dades para guiar o comportamento.
Siegel define pensamento crítico como sendo apropriadamente movido
por razões. Para este autor, pensamento crítico está para a educação como a racionalidade
está para a filosofia (Siegel, apud Morgan Jr., 1995). Ruggiero nos apresenta uma definição
holística de pensamento crítico como sendo: qualquer atividade que ajude a formular ou
resolver um problema, tomar uma decisão, ou cumprir um desejo de entender; é uma busca
de respostas, um alcance de significado (Ruggiero, apud Morgan Jr., 1995).
Para Bodi (1988) não há uma única definição, totalmente aceita, de
pensamento crítico. Mas, pensamento crítico não é sinônimo de pensamento criativo, de
solução de problemas, ou de pensamento lógico, embora cada uma dessas atividades faça
parte do pensamento crítico (grifo nosso). Por exemplo, segundo D´Angelo (apud Bodi,
1988, p151), pensamento criativo não envolve um processo de avaliação como o
pensamento crítico envolve, mas o pensamento crítico inclui o pensamento criativo porque
novas combinações de conceitos são necessárias para avaliar idéias. Kinney (apud Bodi,
1988) afirma que pensamento crítico envolve mais que solução de problemas. Solução de
problemas é um processo progressivamente limitado enquanto o pensamento crítico é um
processo exploratório, em expansão. McPeck (apud Bodi, 1988) sugere que pensamento
crítico não é o mesmo que pensamento lógico, embora as regras da lógica possam ser úteis
para pensar criticamente. Buscar falácias na lógica é apenas uma parte do pensamento
crítico e a lógica não pode gerar teorias ou argumentos.
Também para Pellegrino, não há uma definição única de pensamento
crítico ou tampouco uma uniformidade entre os componentes do pensamento crítico na
literatura. No entanto, um bom ponto de partida para uma discussão neste sentido é
focalizar a solução de problemas, devido ao seguinte argumento: se não há problema para
ser solucionado, não há necessidade de pensamento crítico (Pellegrino, 1995). Ou seja,
acreditamos que deva existir uma situação desafiadora, conflituosa, que requeira do sujeito
41
uma elaboração. Nesta elaboração, ao nosso ver, é que ele vai poder demonstrar seu
pensamento crítico.
Constatamos que, nos anos 80, a literatura internacional sobre
pensamento crítico é bastante extensa. Da literatura existente no Brasil, tivemos acesso a
uma dissertação de Mestrado da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília
(UnB), onde a autora ressalta, entre outros aspectos:
“ Desnecessário salientar que, na sociedade complexa em que vivemos, acada momento, com maior freqüência, o indivíduo é compelido a tomardecisões a respeito das mais variadas situações com que se defronta.Num mundo em constante mudança e contradições, desenvolver opensamento crítico apresenta-se, pois, como necessidade imperiosa, umavez que habilit a o sujeito a manter-se num processo permanente deadaptação às novas situações e de superação dos problemas” (Pereira,1983, p.2-3).
O objetivo educacional de desenvolver o pensamento crítico se situa numa
concepção pedagógica abrangente onde a “aquisição de conhecimentos não se constitui um
fim em si mesmo, mas se configura como recurso necessário à compreensão do meio físico
e social, através do qual o indivíduo se capacita a refletir e agir, de forma produtiva”
(Pereira, 1983, p.2).
“ Pressupõe-se que [o desenvolvimento de pensamento crítico] seja uminstrumento que permita [ao aluno] efetivo conhecimento da realidade e,assim, dote-o de melhores condições para agir sobre ela. O indivíduocom capacidade de raciocínio crítico revela maior curiosidade eimaginação a respeito da realidade que o cerca; é capaz de colocarnovas questões, problematizar o conhecimento existente, enfim, assumiruma postura dinâmica frente a vida. Isso revela uma crescentecapacidade de emiti r julgamentos que possam, de forma criativa econseqüente, direcionar-lhe a ação” (Pereira, 1983, p.2).
O então Departamento de Metodologia de Ensino e Educação Comparada
da Universidade de São Paulo (USP) dedica, nesta mesma década, uma publicação
denominada Cadernos de Didática, para tratar do assunto, com três textos selecionados.
No primeiro deles - na introdução da publicação, Parra (1984) nos fala da importância do
assunto e da necessidade de desenvolver pesquisas sobre o mesmo, no Brasil. Na seqüência,
Passmore salienta: “encorajar a discussão crítica é diferente de mero levantamento de
42
objeções; e a discussão é um exercício de imaginação” (1984, p.11). Mais à frente, o autor
reforça: “À medida, pois, que a escola enfatiza, segundo as grandes tradições, a prática da
habili dade, em vez da aprendizagem mecânica - o uso da inteligência em lugar do
desenvolvimento de hábitos - ela, de certa forma, prepara o caminho para o pensamento
crítico-criativo” (Passmore, 1984, p.17).
Dando continuidade, Siegel (1984, p.2) questiona “que habili dades,
destrezas, atitudes, hábitos e traços um pensador crítico possui? E em que condições mais
amplas essas características se encaixam?” Como habili dades ele enfatiza:
“ Racionalidade - pensador crítico é o que reconhece a importância e aforça persuasiva de razões. Ao levantar argumentos, avaliarprocedimentos, ou julgar, o pensador crítico procura razões para apoiarseu posicionamento, sua avaliação ou seu julgamento” (Siegel, 1984,p.3).
“ Princípios - procurar razões é reconhecer e comprometer-se comprincípios que governam tal atividade. Pensamento crítico é portanto,pensamento baseado em princípios: - de maneira não arbitrária; -imparcial; - objetivo; - baseado na evidência” (Siegel, 1984, p.4).
E como “atitudes, disposição, hábitos e traços de caráter que, em
conjunto podem ser denominado espírito crítico ou atitude crítica” ele acrescenta um
terceiro elemento:
(3) “ Predisposição - um pensador crítico deve ter a disposição deadequar julgamento ou princípios, não simplesmente a habili dade defazê-lo. Aquele que possui o espírito crítico tem um tipo especial decaráter bem como certas habili dades: um caráter propenso a procurarrazões, que rejeita parcialidade e arbitrariedade, e que estácomprometida com a avaliação objetiva de evidências relevantes. Umaatitude crítica demanda não apenas uma habili dade para procurarrazões, mas um comprometimento com a busca de razões; não apenashabili dade para julgar imparcialidade, mas o desejo para julgar destaforma, mesmo quando o julgamento imparcial não é em interessepróprio” (Siegel, 1984, p.4-5).
Em aula proferida aos alunos da Pós-Graduação do Departamento de
Ciência da Informação e Documentação - CID - da Universidade de Brasília - UnB, o Prof.
Alaciel Almeida, abordando o tema Tecnologias de Informação que suportam Educação a
Distância, enfatizando educação e treinamento, nos apresenta os pontos comuns das
43
principais teorias de aprendizagem na sociedade atual, da era do conhecimento. Neste
contexto ele reforça a necessidade de “desenvolvimento de habili dades de raciocínio de
ordem superior, como sendo habili dade de exercitar a capacidade de análise, de crítica,
de síntese, de solução de problemas e de criatividade” (Almeida, 1996).
Enquanto alguns educadores argumentam que pensamento crítico pode
ser conhecimento alicerçado em áreas específicas, outros sugerem que pensadores críticos
possuem certos traços e atitudes característicos que podem ser transportados de um campo
ou disciplina para outro. McPeck argumenta que pensamento crítico pode estar relacionado
ao conhecimento subjetivo, ou seja, não se pode dizer que uma pessoa que pensa
criticamente em uma área do conhecimento fará o mesmo em outra área desconhecida. Mais
ainda, segundo ele, uma pessoa não pode pensar criticamente sobre todas as coisas. Isso
porque, para ter conhecimento de uma área ou disciplina e poder pensar criticamente sobre
essa área, a pessoa deve estar inteirada das convenções e dos princípios daquela disciplina,
daquela área (apud Bodi, 1988). Por outro lado, Furedy e Furedy (apud Bodi, 1988),
argumentam que um pensador crítico pensa criticamente em todas as áreas. Os elementos
essenciais do pensamento crítico, segundo eles, incluem: uma facili dade para questionar
todos os pressupostos, uma habili dade para reconhecer quando é necessário questionar e
uma habili dade para realizar avaliações e análises de maneira racional, independente de ser
sobre uma ou outra área do conhecimento.
A habili dade de pensar criticamente pode envolver um processo de
desenvolvimento gradativo, segundo alguns autores. Perry nos fala de quatro estágios para
desenvolver a capacidade de pensar criticamente. O primeiro deles, chamado de dualismo, é
o estágio característico dos calouros. Neste estágio, segundo o autor, os estudantes vêem o
mundo como preto ou branco, certo ou errado; percebem que existem respostas certas para
tudo e que alguma autoridade, normalmente um professor, conhece qual a resposta certa; e
acreditam que, se há uma diversidade de opiniões, é porque alguém está confuso. No
segundo estágio, o da multiplicidade, os alunos questionam de maneira crescente o
pressuposto de que existam respostas absolutas; são facilmente confundidos sobre
diferentes pontos de vista; e freqüentemente baseiam suas decisões em vieses ou emoções
pessoais mais que sobre evidência secundária ou análise objetiva. O terceiro estágio é o do
relativismo. Neste estágio, segundo Perry, os alunos não mais vêem o conhecimento como
absoluto; combinam vieses e emoções pessoais com evidência objetiva em seus argumentos;
44
pensam analiticamente e podem avaliar suas próprias idéias e as idéias de outros; e
consideram as qualificações dos especialistas à luz das possíveis opiniões e viéses do
especialista. O estágio final, para o autor, é o de compromisso com o relativismo. Neste
nível de desenvolvimento os estudantes estão aptos para analisar e sintetizar informações;
para usar argumentos objetivos na definição de um ponto de vista; para entender a
importância das qualificações e viéses dos especialistas; e para entender que à medida que
uma nova evidência seja apresentada, seus pontos de vista podem ter que mudar (Perry,
apud Bodi, 1988).
No campo da biblioteconomia, Krapp (1988) sugere atividades para
ensinar habili dades de pesquisa para bibliotecários que atuam em bibliotecas escolares,
utili zando o enfoque do pensamento crítico. No entanto, em seu texto, os conceitos de
pensamento crítico e solução de problemas são tomados como sinônimos sem a distinção
que a literatura atualmente faz e que já enfatizamos.
Solução de problemas como método de ensino é citado na literatura, entre
outros métodos, como facili tador do processo de desenvolvimento de pensamento crítico.
Para Paul (apud MacAdam, 1995), humanos são os únicos animais cujo
pensamento pode ser caracterizado como claro, preciso, exato, relevante, consistente,
profundo e justo; eles também são os únicos animais cujo pensamento é freqüentemente
impreciso, vago, inconsistente, irrelevante, superficial, trivial e tendencioso. Partindo deste
paradoxo inerente à natureza humana, MacAdam (1995) enfatiza a necessidade dos
humanos de pensar criticamente e não simplesmente confiar em seus instintos e afirma que
entre todas as controvérsias, análises e redirecionamento em torno do currículo de
graduação nos anos 80, o pensamento crítico é um dos mais significativos elementos.
A habili dade de pensar criticamente é uma das habili dades cruciais para
sobrevivência no mundo de hoje. Sem tal habili dade as pessoas não podem participar
efetivamente de uma sociedade democrática. Em uma época onde o acesso ao
conhecimento é geral e imediato, conhecer como usar a informação para descobrir novas
informações ou resolver problemas tem uma importância crescente. A necessidade de
pensar criticamente neste ambiente intelectual “tumultuado” significa, para MacAdam
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(1995), que o desafio no currículo atual é ensinar aos estudantes a gerenciar o trabalho de
suas próprias mentes.
Também direcionada a bibliotecários de bibliotecas escolares, Rankin
(1988) relata uma experiência bem sucedida para desenvolvimento de pensamento crítico
com atividades de pesquisa e instrução bibliográfica, especificamente no uso de bibliotecas e
fontes de informação. Niles e Jacobson descrevem um curso de educação continuada de
dois dias para bibliotecários interessados em pensamento crítico. Primeiramente os alunos
exploram as teorias educacionais e psicológicas sobre as quais muitos dos trabalhos de
pensamento crítico são baseados, depois discutem e desenvolvem aplicações práticas em
situações de Instrução Bibliográfica, com técnicas ativas de aprendizagem que são usadas
para encorajar os participantes a se engajarem por eles mesmos no desenvolvimento do
pensamento crítico (Niles e Jacobson, 1991).
Atton (1994a) reafirma a importância do pensamento crítico na
biblioteconomia e salienta que ele deve ser precedido pelo ensino crítico, que significa
constantemente estar aprimorando, experimentando e correndo riscos. Segunda a autora, se
você espera que os alunos façam isso você deve estar preparado para fazê-lo sozinho. Ela
relata sua experiência em um curso de Instrução Bibliográfica, na graduação, salientando a
necessidade do desenvolvimento de pensamento crítico como base para a educação e
treinamento de usuários em bibliotecas. Conclui que os exercícios dados para
desenvolvimento de pensamento crítico foram muito bem sucedidos para desenvolver um
enfoque de questionamento entre os estudantes e encorajá-los a analisar e avaliar a
informação que eles encontraram e os métodos para sua recuperação e apresentação (Atton,
1994b).
Jones (1997), preocupada com a profissão do bibliotecário na sociedade
atual, nos fala da importância do desenvolvimento de pensamento crítico no mundo on-line.
Segundo a autora, a integração da Internet no cotidiano de nossas vidas não afeta uma
profissão tão completamente quanto a do bibliotecário. Para ela, a informação tem sido,
durante séculos, arquivada e acessada através de uma única localização - a biblioteca. O
acesso instantâneo à informação on-line, a disseminação direta da informação como ela é
gerada, e a interação e geração da informação on-line, de casa ou do trabalho - são
46
conceitos revolucionários e anárquicos. Questiona como vimos nós mesmos assumindo a
dianteira e não somente reagindo a esta revolução (Jones, 1997).
No texto acima a autora nos fornece uma visão geral do corpo de
conhecimento necessário aos bibliotecários, da natureza do pensamento crítico, de
oportunidades para instrução e de como ensinar e planejar instrução visando o
desenvolvimento de habili dades de pensamento crítico.
Nurius (1995) nos fala de uma nova etapa na era da tecnologia da
informação - da integração do treinamento com a prática. A autora enfatiza que já passamos
do estágio de revolução para a evolução dos computadores nos serviços humanos. Assim,
naturalmente, começamos a olhar para diferentes questões e olhar, de maneira diferente, as
questões. Um aspecto desta evolução é a nova maneira de ver o computador - deixamos de
nos orientar para o computador como uma máquina per se - ênfase nas habili dades de
operação - para o computador como meio de pensar e expressar. E como meio de pensar e
expressar, começamos a considerar mais completamente o relacionamento desta tecnologia
com o como nós conceituamos a missão e as tarefas que são esperadas dessa tecnologia;
como nós comunicamos e acompanhamos aquela missão e aquelas tarefas; e como nós
vamos além das tarefas e tecnologia existentes para visualizar e criar novas possibili dades.
Deste modo, ainda na fala da autora, há uma mudança significativa na forma como vemos a
máquina, que tem aumentado nossa capacidade de armazenar e manipular informação para
focalizar sobre o potencial do meio e otimizar o uso significativo da informação. Neste
sentido, segundo ela, é importante contextualizar o pensamento crítico em três dimensões:
(1) a habili dade para mover-se mentalmente para trás e para frente entre conceitos, línguas,
funções e assim por diante, entre múltiplas facetas, em múltiplas estruturas (Dimensão da
Compreensão); (2) a habili dade para usar observações críticas construtivamente no
reconhecimento das dificuldades e engajar na solução do problema (Dimensão da
Aplicação); e (3) a habili dade para criar; mover-se através do que é para ver e contribuir
para o que poderia ser (Dimensão Geradora) (Nurius, 1995).
Neste contexto, parece-nos importante considerar que, nos próximos
anos, os indivíduos ao ingressarem na escola vão estar mais conhecedores do uso do
computador e dos comandos necessários - computador como máquina - e portanto mais
devotados aos conceitos e idéias - computador como meio - exigindo uma troca maior na
47
aprendizagem destes conceitos e idéias. Ou seja, a maior familiaridade com o uso da
máquina e o maior domínio desta como instrumento de uso doméstico otimizam funções
que liberam o indivíduo para o desenvolvimento de atividades de pensamento de ordem
superior. O que vai fazer a diferença no método de ensino e na aprendizagem será o melhor
uso do software.
Martorana e Doyle (1996) abordam os desafios do ensino no contexto dos
ambientes eletrônicos e do desenvolvimento de pensamento crítico. Segundo as autoras, há
três categorias de problemas que são praticamente inerentes ao ambiente que podem causar
obstáculos ao desenvolvimento do pensamento crítico, que são: o fator distração, o fator
confusão e o fator sedução. Como fator distração as autoras consideram que o equipamento
pode impedir o pensamento crítico por, literalmente e figurativamente, provocar ‘ ruído” no
ambiente instrucional. Por exemplo: pouca familiaridade com o teclado, pouca experiência
em digitação, inconsistências no teclado (teclas usadas para um fim em um sistema e para
fins diferentes em outro); falhas na própria máquina - estações de trabalho que saem da
rede; aplicações que travam subitamente; interrupções para reconexão etc. são alguns dos
fatores que interferem na atenção do aluno. Isto, como dissemos anteriormente, poderá
estar superado em questão de pouco tempo.
No fator confusão, segundo as autoras (Martorana e Doyle, 1996) há uma
enorme quantidade de bases de dados disponíveis hoje e cada uma com seu próprio escopo
e capacidades. Há a necessidade de selecionar os recursos mais adequados, mas ainda
assim, quando diferentes sistemas são demonstrados, convivemos com uma avalanche de
comandos diferentes. Isso tudo contribui para confundir o aluno no ambiente instrucional.
Também acreditamos que, ao terem maior domínio do uso da máquina, os alunos terão mais
tempo para dedicarem-se ao melhor uso dos softwares, maior domínio das características de
cada base e este fator confusão também tende a diminuir.
Como fator sedução destacam as autoras que, para a maioria dos nossos
clientes, qualquer coisa eletrônica é preferível à impressa. Esta relutância em considerar as
fontes impressas é exacerbada quando nós oferecemos instrução expressamente no ambiente
da sala de aula para demonstrar e usar recursos eletrônicos. O entusiasmo do bibliotecário
para ferramentas eletrônicas também conspira contra o encorajamento para o uso dos
recursos em todos os formatos. Muitos alunos estão envolvidos pela ilusão de que a busca
48
por computador é mágica - tudo que é exigido é digitar algumas palavras, apertar alguma
tecla, como enter, por exemplo, e o resultado será relevante e aceito. Não se questionam as
fontes, a busca nem os resultados (Martorana e Doyle, 1996).
Embora nenhum remédio possa erradicar completamente os três fatores e
seus impactos, as autoras recomendam: melhorar a equipe de professores; avaliar tarefas em
grupo, pois podem reduzir bastante a distração e a confusão e usar uma grande variedade
de meios e técnicas instrucionais. Por último, concluem que usar técnicas de
desenvolvimento de pensamento crítico para eliminar o misticismo da busca por
computador, ajuda os alunos a desenvolverem suas habili dades para manipular fontes,
acessar as várias opções e escolher por eles mesmos o que eles necessitam, conscientemente
(Martorana e Doyle, 1996).
Os impactos assinalados pelas autoras citadas acima são relevantes e
devem ser considerados neste contexto. No entanto, é necessário cautela. Melhorar a
equipe de professores é uma recomendação importante mas nem sempre possível a curto e
médio prazo. Da mesma forma, tarefas em grupo, podem, em determinados momentos,
contribuir para o aumento dos fatores distração e confusão. Igualmente, usar grande
variedade de meios e técnicas educacionais. Corremos o risco de sermos “engolidos” pela
variedade de meios e técnicas e contribuirmos ainda mais para o aumento destes fatores.
Temos que ter clareza de que, se por um lado um fator pode ter um benefício grande com
uma determinada estratégia, por outro, a mesma estratégia pode exigir um número maior de
variáveis para serem controladas na tentativa de diminuição do fator interveniente. Ou seja,
todo cuidado deve ser levado em conta, pois muitas são as variáveis em jogo. Entretanto se,
ao finalizarmos um curso que também tem por objetivo desenvolver habili dades de
pensamento crítico, e este objetivo for atingindo, estes problemas tenderão a ser
amenizados, no nosso entender.
No contexto da educação a distância, Anderson e Garrison (1995)
apresentam uma revisão de literatura onde tratam do impacto teórico da aprendizagem
socialmente situada, do pensamento crítico e suas implicações para a educação a distância.
Apresentam os resultados de um estudo de percepção de aprendizes quando envolvidos em
diferentes modelos de educação a distância, concluindo que grupos de aprendizes que
suportam o desenvolvimento de habili dades de pensamento crítico podem ser criados a
49
distância e que eles fornecem um mecanismo para melhorar a qualidade do alto nível da
educação a distância.
Para Morgan Jr. (1995), apesar da variedade de definições para
pensamento crítico, os autores mencionados não apresentam contradições. O que fazem é
acrescentar novos elementos às definições já existentes. Neste sentido, salienta que pensar
criticamente é um ato fundamentalmente diferente de pensar meramente `sobre alguma
coisa, pois sem um processamento profundo, não há pensamento crítico.
Parece haver um consenso na literatura de que, em uma sociedade
democrática, a liberdade de opinião e de fazer escolhas independentes devem ser passadas
de geração a geração através do sistema educacional. Mas para isso, a habili dade de pensar
criticamente é necessária para o desenvolvimento da independência e da competência na
idade adulta.
Para Bodi (1988), pensar criticamente é uma marca de uma pessoa
educada. Assim, se pensarmos que o pensamento crítico é um importante objetivo
educacional, precisamos buscar caminhos, desenvolver competências e habili dades para
alcançar este objetivo. Devido a mudanças muito rápidas em nossa sociedade, certos tipos
de informação se tornam obsoletas muito facilmente e saber como pensar tem se tornado
tão importante como saber o quê pensar. Neste sentido, segundo a autora, os cursos que
exigem uso dos recursos da biblioteca, podem trazer grande contribuição. Ela sugere uma
estratégia de ensino apropriada para um curso de Instrução Bibliográfica que possibili ta
encorajar e reforçar o desenvolvimento de pensamento crítico nos alunos (Bodi, 1988).
Vamos encontrar na literatura dos anos 90, dois trabalhos de Garrison
(1991 e 1992), com uma boa revisão sobre o assunto. Preocupado com a educação de
adultos o autor propõe um modelo conceitual para desenvolvimento de pensamento crítico.
Este modelo conceitual, consistindo de cinco fases, foi usado em pesquisas futuras de
Newman, Webb e Cochrane (1995) e Newman et al (1996), que identificaram e trabalharam
com alguns indicadores de pensamento crítico. Esses indicadores de Newman e
colaboradores (1995 e 1996), bem como o modelo conceitual de Garrison (1991 e 1992)
foram usados neste nosso trabalho, conforme já anunciamos na Introdução. Sobre os
mesmos trataremos mais adiante.
50
Garrison (1991) inicia seu texto com uma discussão sobre conceituação
de pensamento crítico. Segundo ele, muitos autores acreditam haver uma conexão íntima
entre o pensamento crítico e a educação. Concorda com McPeck (apud Garrison, 1991) o
qual estabelece que pensamento crítico é uma condição necessária para a educação e é
logicamente exigido pela educação.
Segundo Garrison (1992, p. 137), pensar é um complexo processo interno
no qual o indivíduo se separa do seu mundo externo para engajar num diálogo interno e na
contemplação de idéias e conceitos abstratos. Em sentido literal, criticar significa julgar.
McPeck (1981, apud Garrison, 1991) sugere que “ talvez a característica mais notável do
pensamento crítico é que ele envolve um certo cepticismo, argumento ou suspeita de
consentimento, através de uma afirmativa dada, de uma norma estabelecida ou de um
modo de fazer as coisas” (p.289). O indivíduo pode explorar maneiras para reduzir
dissonâncias, considerar possibili dades alternativas, ou alcançar um entendimento mais
satisfatório de uma situação ou experiência. Tal enfoque demanda uma forma pró-ativa de
pensar e aceitar responsabili dade para interpretar experiência (Garrison, 1992, p. 137-138).
Mas isto não é para dizer que o pensamento crítico é puramente um processo cognitivo ou
reflexivo. Quando pensar pode ser um pequeno processo interno entendido, o uso do
adjetivo “crítico” muda o significado do processo consideravelmente. Criticar significa
julgar e não tomar as coisas como garantidas, como certas. Para Peters (1972, apud
Garrison, 1991) o criticismo é essencial para o raciocínio. Para fugir da arbitrariedade, deve
ser entendido, no julgamento, procedimentos significativos de conformação (testes). Isto
efetivamente move o processo de pensamento crítico para o mundo compartilhado. Quando
pensar ou refletir pode ser representado por um diálogo interno, isto não ocorre sem um
conteúdo ou problema surgido fora da experiência prévia.
Também McPeck (1990 apud Garrison, 1991) sugere que o pensamento
crítico ou questionamento racional envolve análise de premissas, argumentos e evidências
encontradas no mundo compartilhado de nossas experiências. Não é simplesmente análise
de argumentos e independente do contexto e do conteúdo. O autor argumenta ainda que o
pensamento crítico demanda compreensão de questões complexas e informações associadas
com o problema. Pensamento crítico não é uma habili dade generalizada ou destreza. É um
processo de fazer sentido (processo cognitivo interno) de experiências externas através de
análises das questões e informações.
51
No contexto da educação de adultos, Brookfield (1987) sugere um
modelo de pensamento crítico de cinco fases, não muito diferentes das fases do pensamento
reflexivo de Dewey. São elas: (1) evento gatilho; (2) avaliação da situação; (3) exploração
para explicar anomalias; (4) desenvolvimento de perspectivas alternativas e (5) integração
das perspectivas dentro da dinâmica da vida (apud Garrison, 1992).
Acrescentando elementos às definições já existentes, McPeck (apud
Garrison, 1991) esclarece que talvez a mais notável característica do pensamento crítico é
que ele envolve um certo ceticismo, ou suspensão de aprovação, com respeito a uma
afirmação dada, uma norma estabelecida ou um modo de fazer as coisas. Em essência, é a
busca de um insight mais satisfatório ou resolução de uma situação incômoda. Ceticismo
implica não tomar as coisas como garantidas mas, mais importante, levar em conta
possibili dades alternativas. O indivíduo deve explorar caminhos para reduzir as
discordâncias, considerar as possíveis alternativas ou alcançar um entendimento mais
satisfatório de uma situação ou experiência. Este enfoque demanda uma forma pró-ativa de
pensar e aceitar a responsabili dade para interpretar experiências (apud Garrison, 1992).
Enfatiza também Garrison (1991) que as atividades racionais de
pensamento crítico estão sempre associadas com solução de problemas. Solução de
problemas está fortemente associado a raciocínio lógico e inferência. Por outro lado
pensamento crítico é um processo extenso que inclui não somente a descoberta (os
processos intuitivo e criativo) mas a justificativa (avaliação e o processo de raciocínio
lógico). Solução de problemas é geralmente visto como um componente do pensamento
crítico. Pensamento crítico é algo maior que solução de problemas e raciocínio lógico. A
diferença entre os dois é que pensamento crítico envolve raciocínio sobre problemas “não
fechados” enquanto solução de problemas é normalmente considerado mais estreito no
escopo (Kurfiss, apud Garrison, 1991, p.292). A questão desafiante, segundo Garrison
(1991), é integrar e reconhecer a contribuição que tais conceitos - solução de problemas,
raciocínio lógico, pensamento reflexivo e pensamento criativo - acrescentam ao pensamento
crítico.
Garrison (1991) ainda salienta que o objetivo principal deste seu trabalho
não é conceituar pensamento crítico e sim, fornecer uma visão geral do conceito para, em
52
seguida, visualizá-lo num contexto educacional amplo e finalmente, relacioná-lo com a
educação de adulto em especial, explorando formas para facili tar seu desenvolvimento.
Em outro texto, Garrison (1992) introduz um novo enfoque na educação
de adultos que é aprendizagem auto-dirigida. Segundo ele, o termo muitas vezes pode se
referir a uma busca independente de aprendizagem, uma maneira de organizar instrução, ou
um atributo pessoal. Sem nos aprofundarmos no conceito, no entanto, concordamos com o
autor quando nos fala que a realidade é que muitos, senão a maioria dos adultos não
aprenderam ou não têm tido sucesso em aceitar a responsabili dade sobre sua aprendizagem.
Uma experiência de aprendizagem bem sucedida, segundo o autor citado
acima (Garrison, 1992), normalmente exigirá mais do que responsabili dade e independência
pessoal. Exigirá um ambiente bem estruturado, que permita informação e feedback para as
atividades de ensino e conseqüentemente uma avaliação positiva para validação do
conhecimento e do desenvolvimento conceitual. Para se transformarem em críticos,
desenvolverem responsabili dade pessoal e maximizarem o controle individual, os estudantes
necessitam serem desafiados a aprender e isso exige um suporte considerável. As condições
externas também têm profundo efeito no ensino, entre tantos outros fatores mais. Além
disso, sem uma motivação mínima inicial e sem uma tentativa de manter este interesse, essa
motivação inicial, é pouco provável que o aprendiz tome responsabili dade sobre sua
aprendizagem e persista, na opinião do autor.
Percebe-se ainda na literatura, na opinião de Garrison (1992), que há um
relacionamento entre pensamento crítico e aprendizagem auto-dirigida, embora não
claramente explicado. Na opinião dele, a chave para entender esse relacionamento está no
foco interno e externo do processo de aprendizagem. Autodirecionamento demanda do
indivíduo total responsabili dade pelo processo cognitivo interno enquanto compartilha o
controle de objetivos e atividades externas.
Após essas considerações sobre conceitos, voltamos ao texto de Garrison
(1991) que estabelece um modelo para desenvolvimento de pensamento crítico, constituído
de cinco fases, quais sejam: identificação do problema; definição do problema; exploração
do problema; aplicabili dade e integração. A fase inicial do ciclo de
aprendizagem/pensamento crítico - Identificação do problema - é concernente ao
53
reconhecimento de um problema ou da existência de alguma dissonância pessoal. O
indivíduo entra nesta fase com um corpo de conhecimento existente e uma perspectiva de
mundo. Devido a um evento gatilho ou sem orientação o indivíduo reconhece a existência
de uma questão ou problema.
Brookfield (apud Garrison, 1991) descreve um evento gatilho como
alguma coisa que acontece sem esperar, a qual induz a uma sensação de desconforto interno
e de perplexidade, e acrescenta que um evento gatilho pode ser uma experiência positiva ou
negativa. Pode portanto surgir de uma insatisfação ou de uma euforia diante de uma
situação.
A segunda fase do pensamento crítico, para Garrison (1991), é a definição
do problema. Nesta fase o pensamento se torna direcionado e determinado. Seguindo o
reconhecimento de uma questão ou dilema é o processo de apreciar e entender a natureza
exata do problema. Uma das mais importantes atividades no processo de pensamento crítico
é entender ou redefinir a questão ou dilema. Para fazer isso requer alguma deliberação e
obtenção de informação (i.e., avaliar). Também neste ponto, o indivíduo começa a
questionar os pressupostos básicos os quais podem ter direcionado e constrangido seu
pensamento. Isto pode ser feito individualmente ou, mais provável, através de colaboração
ou interação com outros. Através deste processo de questionamento preliminar o indivíduo
obtém um melhor entendimento do problema e está pronto para considerar direções
alternativas de ações e possíveis explanações.
A terceira fase, segundo o autor, é a exploração. A exploração nos leva
do mundo dos fatos para o mundo das idéias. É onde o indivíduo busca uma explicação
através da exploração de idéias alternativas para resolver a questão ou dilema. Deve haver
alguma elaboração da questão para explicar suficientemente o evento gatilho original. É
também onde predomina o processo de pensamento crítico/criativo. Neste ponto nunca se
tem total certeza de onde os insights e idéias se originaram, contudo é essencial que se
tenha um bom entendimento do contexto ou do elenco dos fatos. Benderly (apud Garrison,
1991) acredita que o domínio de um campo torna o pensamento intuitivo possível. A
habili dade para ver o núcleo do problema (i.e., insight) está baseada num entendimento
profundo de uma situação, e quanto mais informação é criticamente analisada e integrada,
maiores são as chances do insight. Assim, esperteza e intuição parecem ser aspectos da
54
mesma coisa. Deve também ser observado que, para não bloquear a exploração criativa de
idéias alternativas, o ceticismo e o questionamento de pressupostos podem ser
temporariamente suspensos.
A quarta fase, para Garrison (1991) é a da aplicabili dade. Durante esta
fase as idéias são exploradas através do pensamento abstrato para determinar com maior
certeza a aplicabili dade de uma idéia na solução de um problema. Neste ponto o ceticismo e
o questionamento de pressupostos - que foram temporariamente suspensos na fase anterior
- reemergem fortemente quando alternativas são criticamente analisadas como uma possível
solução para o dilema. A idéia selecionada e explicada (i.e., explanação) pode ser
considerada uma hipótese. Neste estágio é que a maior confiança pode estar localizada no
raciocínio lógico. Em muitas situações acadêmicas o raciocínio lógico iria conter
virtualmente o processo completo de solução de problemas no qual está o porquê de a
solução ser freqüentemente considerada tão dependente da análise lógica. Deve ainda ser
notado que o indivíduo pode bem voltar repetidamente para a fase de exploração para gerar
uma explanação mais satisfatória ou para checar o procedimento anterior, para confirmar e
integrar a idéia. Durante esta fase o indivíduo não está somente buscando uma idéia
aplicável mas está buscando um significado pessoal e uma nova perspectiva ou
entendimento de um dilema ou problema.
E por último, a quinta fase é a integração. A fase final representa um teste
da aplicabili dade da idéia e um retorno ao mundo concreto. Confirmar e adotar uma idéia
pode nem sempre ser observável. Como Dewey (apud Garrison, 1991) estabelece, testar
pode ser ‘por ação clara ou imaginativa’ . Este estágio, num contexto social, é visto como a
integração de uma nova perspectiva. Brookfield (apud Garrison, 1991) estabelece que,
tendo decidido sobre o valor, a exatidão e a validade de novas formas de pensar ou viver,
nós começamos a encontrar maneiras de integrar tudo isso dentro de nossas vidas. Esta
integração é algumas vezes satisfatória, enquanto, em outras, ela simplesmente leva a uma
busca renovada para uma solução mais satisfatória do dilema. Nesta situação o processo
cíclico do pensamento crítico recomeça novamente. Entretanto, há uma chance real de que
um indivíduo possa proceder diretamente para a fase de aplicabili dade, tendo já gerado
idéias alternativas promissoras.
55
Seguindo este raciocínio, segundo o autor, o ciclo do pensamento crítico
pode ser assim representado:
Figura 1 – Ciclo do Pensamento Crítico
Apli cabilidade
(Dedução)
ConceitualizaçãoGeral
FormularHipóteses
Base doConhecimento
SelecionarInformaçao/Conhecimento
Identificação/Definição doProblema
(Dissonânica/Apreciação)
Exp
lora
ção
(Ind
ução
)
Inte
graç
ão
(Con
firm
açã
o)
MundoPrivadodas Idéias
MundoCompartilhadodoConhecimento
Fonte: Garrison, 1991, p. 293
Aos estágios de pensamento crítico de Garrison (1991 e 1992), já
enunciados, Henri (apud Newman, Webb e Cochrane, 1995) acrescentou habili dades de
raciocínio critico necessárias em cada um deles. As habili dades de raciocínio de Henri,
somadas aos estágios de Garrison (1991 e 1992), podem ser visualizados no quadro
referencial a seguir:
56
Figura 2 - Estágios/Habili dades de Pensamento/Raciocínio Crítico
ESTÁGIOS DE PENSAMENTOCRÍTICO DE GARRISON , 1991
HABILIDADES DE RACIOCÍNIOCRÍTICO DE HENRI, 1991
1 IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMAUm evento gatilho que despertainteresse num problema.
1 ESCLARECIMENTO ELEMENTARObservar ou estudar um problema, identificarseus elementos, observar suas ligações.
2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMADefine os limites, fins e significados doproblema
2 ESCLARECIMENTO PROFUNDOAnalisar o problema buscando entender seusvalores, crenças e pressupostos ressaltados
3 EXPLORAÇÃOBusca ver o núcleo do problemabaseado em entendimento profundo dasituação
3 INFERÊNCIAAdmitir ou propor uma idéia baseada nasligações admitidas como verdadeiras. Fazergeneralizações, desenvolver conclusões,formular uma proposição precedidade depoimentos prévios
4 APLICABILIDADEAvaliação de soluções alternativas enovas idéias
4 JULGAMENTOTomar decisões, fazer avaliações e críticas.Julgar as soluções relevantes, fazerjulgamentos de valor e julgar as inferências
5 INTEGRAÇÃOAção sobre o entendimento da validadedo conhecimento
5 ESTRATÉGIASAplicação de solução seguida de mudança oudecisão.
Fontes: Garrison (1991) e Newman, Webb e Cochrane (1995).
De posse das definições e conceitos de pensamento crítico, de indicações
para seu desenvolvimento no ensino, de análises, críticas, sugestões e implicações sobre o
mesmo, passamos a buscar na literatura alguns que nos possibili tassem uma mensuração das
habili dades, destrezas, atitudes etc., de um pensador crítico em situações de ensino.
Costa e O’Leary (apud Morgan Jr, 1995) identificaram oito indicadores
de comportamento inteligente que, segundo eles, podem ser mesclados às definições de
pensamento crítico, sendo: (1) persistência; (2) domínio de impulsividade; (3) atenção (ou
57
capacidade de escutar); (4) flexibili dade; (5) metacognição; (6) precisão; (7)
questionamento e (8) criatividade.
Newman, Webb e Cochrane (1995) em pesquisa visando medir
pensamento crítico em situações de ensino e baseados nos estágios de pensamento crítico
de Garrison e nas habili dades de raciocínio de Henri já citados, utili zaram-se de pares
(positivo e negativo) de indicadores de pensamento crítico, para mostrar a evidência ou não
de cada um deles, em cada estágio. Estes indicadores com seus significados e respectivos
aspectos positivos e negativos foram os norteadores desta nossa pesquisa e são
apresentados a seguir:
Figura 3 - Indicadores de Pensamento Crítico
RR+
R-
RELEVÂNCIADepoimentos (afirmações/avaliações) relevantes.
Depoimentos (avaliações) irrelevantes, distrações, desvios.
II+
I-
IMPORTÂNCIAPontos/Questões/Assuntos importantes.Pontos/Questões/Assuntos não importantes, triviais, insignificantes.
NN+
N-
NOVIDADE (NOVAS INFORMAÇÕES, IDÉIAS, SOLUÇÕES)Novas informações relacionadas ao problema.Novas idéias para discussão.Novas soluções para os problemas.Boas vindas às novas idéias.Aprendiz (o aluno) introduz novas coisas.
Repetir o que já foi dito.Lideranças falsas ou triviais (insignificantes).Aceitar a primeira solução oferecida.Eliminando/excluindo, pondo fora novas idéias.Puxado pelo monitor/tutor/professor.
C/E
C/E+
C/E-
CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA (TRAZER CONHECIMENTO /EXPERIÊNCIA RELACIONADOS AO PROBLEMA)Recorrer à experiência pessoal.Referir ao material do curso.Usar material relevante de fora.Evidenciar o uso de conhecimento prévio.Fornecer (trazer) problemas de fora relacionados ao curso (Ex. alunos identificam problemas a partir de aulas e textos).Boas vindas ao conhecimento externo, abertura para novas inclusões.Descartar tentativas de trazer conhecimentos externos.Apegar-se a preconceitos ou suposições (pressupostos).
58
Figura 3 - Indicadores de Pensamento Crítico (continuaç � o)
AA+
A-
AMBIGUIDADES (ESCLARECER /CLAREAR OU CONFUNDIR)Clarear/Esclarecer, afirmações não ambíguas.Discutir as ambigüidades para clareá-las(esclarecê-las).
Afirmações confusas.Continuar ignorando as ambigüidades.
A/IA/I+
A/I-
ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS/ INTERPRETAÇÃOAssociar fatos, idéias e noções .Gerar novos dados a partir das informações coletadas.
Repetir informações sem fazer inferências ou o ferecer uma interpretação.Estabelecer que alguém divida as idéias ou op iniões apresentadas, sem ir alémou sem adicionar comentários pessoais.
JJ+
J-
JUSTIFICATIVAProver/Oferecer/Fornecer provas ou exemplos.Justificar soluções ou julgamentos.Extrair vantagens e desvantagens da situação ou solução.
Questões ou exemplos obscuros ou irrelevantes.Oferecer julgamentos ou soluções sem explicações ou justificativas.Oferecer várias soluções sem sugerir qual a mais apropriada.
A/CA/C+
A/C-
AVALIAÇÃO CRÍTICAAvaliação/Diagnó stico crítico de contribuições próprias ou d e outras pessoas.Aberto a uma avaliação crítica.
Aceitar sem crítica ou rejeitar sem razão.Aceitar de forma não crítica.
U/PU/P+
U/P-
UTILIDADE PRÁTICARelacionar possíveis soluções a situações familiares.Discutir a utilidade prática das novas idéias.
Discutir em um vazio (tratar como se em Marte).Sugerir soluções não práticas.
EX EX+
EX-
EXTENSÃO DA COMPREENSÃODiscussão ampla. Ex.: problema com uma grande perspectiva. Utili za estratégias de intervenção de amplo alcance.
Discussão limitada, em pedaços, fragmentada. Intervenções fracas, parciais.
Fonte: Newman, Webb e Cochrane, 1995.
Estes indicadores, ao nosso ver, são elementos representativos do
pensamento crítico, e a eles poderão ser agregadas novas características, dependendo da
59
necessidade, à medida que se tornarem insuficientes ou inadequados, no decorrer do estudo.
Com isso queremos ressaltar que eles serão os norteadores do nosso estudo.
Podemos verificar que os autores citados, ao definir pensamento crítico o
fazem de uma forma bastante abrangente, usando abordagens, terminologias, enfoques e
conteúdos bastante variados. Por exemplo, falam de abordagens amplas ou estreitas, vistos
sob a ótica da filosofia e/ou da psicologia cognitiva. Falam de habili dades essenciais, de
destrezas, de atitudes, de hábitos e de traços de pensamento do pensador crítico ao
incluírem características tais como: racionalidade, curiosidade, reflexão, ceticismo,
capacidade de adaptação a situações novas, imaginação, criatividade, predisposição etc.
Falam de estágios, níveis e etapas que devem ser levadas em conta no desenvolvimento de
pensamento crítico, enfim, fornecem uma ampla gama de elementos que nos permitem
proceder a uma análise qualitativa dentro da abordagem por nós eleita para este estudo.
Sem desprezar o conjunto de autores lidos e citados para este trabalho e a
riqueza de suas contribuições para o pensamento crítico, centrar-nos-emos nos cinco
estágios de pensamento crítico de Garrison (1991) e nas habili dades de Henri (apud
Newman, Webb e Cochrane, 1995) já citadas e esquematicamente apresentadas na Figura 2,
eleitos como os norteadores dos indicadores que estaremos utili zando na pesquisa, como já
informamos.
Com base na literatura sobre pensamento crítico que aborda aspectos
concernentes tanto aos conceitos, às definições, quanto às habili dades necessárias para um
pensador crítico e nos estágios para desenvolvimento de pensamento crítico em situações de
ensino, e, após uma análise dos métodos de ensino já anunciados na Introdução deste
trabalho, que possibili tam o desenvolvimento de pensamento crítico, decidimos pela
Metodologia da Problematização (Berbel, 1995) para desenvolvimento de um curso a
distância visando desenvolver pensamento crítico, visto que pudemos concluir ser este o
método que mais condiz com o objetivo da pesquisa.
Além disso, parece haver um alinhamento bastante nítido deste amplo
conjunto de elaborações teóricas sobre desenvolvimento de pensamento crítico, com as
etapas da Metodologia da Problematização. Isso pode ser facilmente demonstrado quando
grande parte dos autores citados, ou iniciam a discussão de pensamento crítico a partir de
60
um problema ou abordam de alguma forma a solução de problemas (Bodi, 1988; Dressel e
Mayhell, apud Morgan Jr., 1995; Garrison, 1991 e 1992; Newman, Webb e Cochrane,
1995; Newman et al, 1996; Pellegrino, 1995). Outros ainda focalizam o desenvolvimento de
pensamento crítico como “um instrumento que permita efetivo conhecimento da realidade
e assim, dote-o de melhores condições para agir sobre ela “ (Pereira, 1983, p.3). Enfim, é
possível também verificar que nessas definições e conceitos de pensamento crítico pode-se
até mesmo visualizar todas as etapas da Metodologia da Problematização, quais sejam
observação da realidade e definição de um problema), identificação dos pontos chaves do
problema, teorização, hipóteses de solução e aplicação à realidade.
Ao estabelecermos um paralelo entre os estágios do desenvolvimento de
pensamento crítico (Garrison, 1991), as habili dades de raciocínio exigidas em cada estágio
(Henri, apud Newman, Webb e Cochrane, 1995), e as etapas da Metodologia da
Problematização (Berbel, 1995), pretendemos demonstrar que esse alinhamento e essa
adequação se fazem presentes (ver Quadro Comparativo - Anexo 1).
61
PARTE III - A METODOLOGIA DA PROBLEMATIZA��� O:
alternativa para desenvolvimento de pensamento crítico,
em cursos de educaç� o continuada e a distância no contexto
da sociedade da informaç � o
Paulo Freire, em seus 42 anos de intensa produtividade intelectual, com
25 livros e muitas outras publicações que revelam seu pensamento, defendeu sempre uma
Educação Problematizadora, uma Pedagogia Problematizadora. Aquela que, contrapondo-
se à educação bancária ou à pedagogia bancária, pudesse servir para libertar o homem da
servidão, de seus opressores e pudesse servir para a emancipação do homem, para a sua
humanização.
Assim como Paulo Freire, Libâneo e outros têm apontado para a
importância desta Educação Problematizadora, ressaltando seus princípios teóricos e sua
justificativa, a partir de alguns pressupostos inspirados na concepção Histórico-Crítica da
Educação.
A educação bancária, citada por Díaz Bordenave e Pereira (1980),
inspirados em Paulo Freire, caracteriza-se pela transmissão do conhecimento e da
experiência do professor, atribuindo toda a carga de sua importância ao conteúdo
programático. O aluno não é considerado em seu contexto, como uma pessoa integral,
membro de uma comunidade e consequentemente torna-se uma entidade passiva, um
tomador de notas, um grande memorizador.
Por outro lado, a Educação Problematizadora parte do pressuposto de
que “uma pessoa só conhece bem algo quando o transforma, transformando-se ela
também no processo” (Díaz Bordenave e Pereira, 1980, p.10).
Mais ainda, a Educação Problematizadora
62
“ desenvolve o protagonismo transformador do estudante, guarda estreitarelação com processos sociais de significativa relevância para aconstrução de uma sociedade justa, democrática e participativa, comdesenvolvimento sustentável. Isto parece constituir o desideratumhistórico da era que vivemos” (Díaz Bordenave, 1995, p.34).
No plano pedagógico, é necessário assumir uma atitude indagadora,
problematizadora e crítica. Para Paviani (1991, p.85),
“ o conhecimento sistematizado deve ser visto como um meio de apoio,um modo de criar condições de aprendizagem. Na verdade, umprograma de ensino deveria ser montado como uma espécie de programade pesquisa (...). Deveria se caracterizar por uma atitude crítica e jamaisdogmática” .
A problematização como postura pedagógica “visa a reconstruir
criti camente o processo do conhecimento desde o surgimento até a solução do problema,
sem, todavia, apresentar este percurso isoladamente do contexto histórico e da evolução
do conhecimento” (Paviani, 1991, p. 85)
Para realizar/concretizar uma concepção pedagógica é preciso lançar mão
de meios adequados e coerentes com os princípios. Segundo Berbel (1997), o método do
Arco, de Charles Maguerez, apresentado por Bordenave e Pereira (Figura 4, p. 80), se
apresenta como uma idéia metodológica bastante apropriada para se experimentar na
prática vários princípios de uma Pedagogia Problematizadora, com vistas a uma educação
transformadora da sociedade. Este é um caminho metodológico capaz de orientar a prática
pedagógica de um educador preocupado com o desenvolvimento de seus alunos, com sua
autonomia intelectual, com o seu pensamento crítico e criativo e com uma atuação política.
Díaz Bordenave e Pereira (1980) utili zaram-se deste esquema de trabalho
construído por Charles Maguerez, para escrever uma série de textos que deram origem aos
capítulos do livro didático para a formação de professores. Este esquema de Maguerez,
chamado de Método do Arco, pode ser visto como um caminho metodológico capaz de
orientar a prática pedagógica de um educador preocupado com o desenvolvimento de seus
alunos, com sua autonomia intelectual, com o pensamento crítico e criativo e ainda com
uma atuação política claramente definida. Assim, dentro dos ensinamentos, das idéias de
Paulo Freire, e utili zando-se o esquema do Arco é que foi inspirada a Metodologia da
63
Problematização, assim chamada por Berbel (1995 e 1996), por considerar como uma das
formas possíveis de desenvolver a Pedagogia Problematizadora ou a Educação
Problematizadora de que nos fala Paulo Freire (1970 e 1989).
Figura 4 - Esquema do Arco1
Esta metodologia apoia-se no modelo histórico-crítico, dentro de uma
pedagogia crítico-social (Libâneo, 1990) e de uma abordagem sócio-cultural (Mizukami,
1986).
“ À medida que se concebe a ação escolar como inserida na totalidadeda prática social, a pedagogia crítico-social (...) propõe uma teoriapedagógica embasada numa concepção de mundo que, expressando osinteresses majoritários da sociedade, parte das condições concretas(históricas e sociais) em que se desenvolve a luta de classes; pordecorrência propõe uma didática (...) que, partindo de situaçõespedagógicas que ocorrem nessas condições concretas, determinaprincípios e meios como diretrizes orientadoras para os processos deensino necessários ao domínio de conhecimentos, garantindo, assim,durabili dade aos efeitos formativos da instrução e da formação”(Libâneo, 1990, p. 127-128).
Na abordagem sócio-cultural, segundo Mizukami (1986), o homem se
torna o sujeito da educação. A ação educativa deve partir de uma reflexão sobre o homem e
64
de uma análise do seu meio. Ao contrário, ele não participará ativamente da história da
sociedade, das transformações da realidade. Ele não só necessita tomar consciência da
realidade como também da sua própria capacidade de transformá-la.
“ É preciso que se faça, pois, desta tomada de consciência, o objetivoprimeiro de toda educação: provocar e criar condições para que sedesenvolva uma atitude de reflexão crítica, comprometida com a ação(Mizukami, 1986, p.94).
A Metodologia da Problematização, que se insere no contexto da
Educação Problematizadora, apresenta-se-nos como o instrumento capaz de desenvolver
atitudes de reflexão crítica e comprometida com a ação, de que nos fala Mizukami (1986,
p.94) na citação anterior, e ainda, capaz de formar uma consciência de práxis, da qual nos
fala Vazquez (apud Berbel, 1996). O profissional da informação que reflete sobre sua ação
na realidade e busca uma nova postura transformadora, consciente e intencionalmente
realizada, estará desenvolvendo pensamento crítico, comprometido com a sua realidade
profissional, de modo a transformá-la.
Segundo Berbel (1995), a Metodologia da Problematização
“ é destinada ao ensino ou estudo” (p.9), e “ possui uma lógica bastantepróxima do método científico, mas não se confunde com ele. Também seassemelha em muitos pontos com o método de resolução de problemas(Problem Based Learning - PBL), mas dele se distingue em vários pontosimportantes” (p.11)4.
A Metodologia da Problematização, pelas suas características e potencial,
pode desenvolver nos alunos o pensamento crítico, já que
“ o estudante é levado a ficar mais atento e observar o que ocorre narealidade próxima, relacionada com a temática com a qual está lidandoem seus estudos, (...). Esse olhar mais atento do próprio estudante farácom que perceba aspectos interessantes/ importantes/ intrigantes, queprovavelmente passariam desapercebidos em estudos teóricos de sala deaula. (...). É aí que se dá o início da problematização enquanto métodoou a problematização propriamente dita, enquanto exercício intelectual esocial.
4 Para maiores informações sobre o assunto ver: BERBEL, N.A.N. A problematização e a aprendizagem baseada em
problemas: diferentes termos ou diferentes caminhos? Interface – Comunicação, Saúde, Educ., v.2, n.2, p. 139-154, fev.1998.
65
“ Vários problemas podem ser identificados.
“ Numa segunda etapa, o professor estimula os alunos a identificar ospontos chaves do problema, refletindo sobre que aspectos estão com elerelacionados.(...).
“ (...) O que importa é que esses pontos chaves constituirão a orientaçãopara continuidade do estudo, que acontece com a Teorização.
“ Diferentes ângulos do problema são analisados a partir de informaçõescolhidas em diferentes fontes, compondo assim a melhor forma possívelde explicá-lo e ao mesmo tempo justificar as definições que se seguirãona próxima etapa, quando serão elaboradas as hipóteses de soluçãopara o problema.
“T odas as possibili dades são registradas e analisadas (...). Ou seja, ashipóteses passarão por um crivo ou uma seleção. (...) Os alunosraciocinam com critérios. Avaliam e tomas decisões a partir de critérios.
“ Essa etapa da Metodologia da Problematização não é um meroexercício intelectual, pois as decisões tomadas deverão ser executadasou encaminhadas. Nesse momento, o componente social e político estámais presente. A prática que corresponde a essa etapa implica numcompromisso dos alunos com o seu meio. Do meio observaram osproblemas e para o meio levarão uma resposta de seus estudos, visandotransformá-lo em algum grau. (Berbel, 1996, p.4-5).
Sintetizando, são as seguintes as etapas da Metodologia da
Problematização: 1) observação da realidade (e definição de um problema de estudo);
2) identificação dos pontos-chave do problema; 3) teorização; 4) hipóteses de solução;
5) aplicação à realidade (prática transformadora) (Giannasi e Berbel, 1998). Os alunos são
levados a realizar as atividades correspondentes a cada uma dessas etapas acompanhados
pelo professor.
Ou seja, quando temos como ponto de partida a realidade social,
procuramos entendê-la e desenvolvemos mecanismos para transformar aspectos
identificados como problemáticos, através de soluções viáveis e exeqüíveis, elaboradas a
partir de investigação dessa mesma realidade, estamos pressupondo o desenvolvimento de
habili dades de pensamento de ordem superior e conseqüentemente, o desenvolvimento de
pensamento crítico.
Por que a denominação de Metodologia da Problematização? Porque
cada uma de suas etapas supõe a realização de atividades orientadas por diferentes técnicas
66
e procedimentos tais como: observação, registro sistemático, análise, síntese, elaboração de
instrumentos de coleta de dados, aplicação, tabulação, organização dos dados, elaboração
de relatório etc.
Além disso, na teorização, dependendo da natureza do problema e da área
de conhecimento em que se situe, vai demandar para seu estudo técnicas e procedimentos
adequados nem sempre possíveis de serem previstos antes de iniciarem os estudos, como
exemplos: realização de entrevistas, solicitação de depoimentos, gravação, transcrição,
análise do conteúdo, aplicação de questionários, novas observações, consulta a fichários,
leitura e resumo de livros, de artigos etc (Giannasi e Berbel, 1998).
Também na fase de aplicação prática das hipóteses de solução na
realidade, dependendo das condições e circunstâncias, o estudante ou grupo de estudantes
vai escolher as técnicas e os procedimentos mais adequados e viáveis. Por exemplo:
conversar, encaminhar cartas, publicar resultados, fazer palestras, elaborar cartazes,
elaborar peças de teatro, coletar recursos, discutir a temática com a população, fazer
reuniões, orientar condutas etc. (Giannasi e Berbel, 1998).
Em resumo, a Metodologia da Problematização tem uma orientação geral
como todo método, dirigida por etapas distintas e encadeadas a partir de um problema
detectado na realidade. Constitui-se uma verdadeira metodologia, entendida esta como um
conjunto de métodos, técnicas, procedimentos ou atividades intencionalmente selecionados
e organizados para realização do propósito maior que é preparar o estudante/ser humano
para tomar consciência de seu mundo e atuar intencionalmente para transformá-lo, sempre
para melhor, para um mundo e uma sociedade que permitam uma vida mais digna para o
próprio homem (Giannasi e Berbel, 1998).
Entendemos assim que, na educação problematizadora, mais importante
que a transmissão dos conteúdos é a construção do conhecimento e do aluno como pessoa
competente, responsável, crítica e agente de transformação importante na construção de
uma sociedade justa, democrática e participativa (Giannasi e Berbel, 1998).
Para o desenvolvimento do Curso, utili zamo-nos de um conjunto de
orientações visando preparar o aluno para o cumprimento das etapas previstas na
67
metodologia. Estas orientações são apresentadas na parte 4 deste trabalho, quando
descrevemos o experimento.
Desta forma, encerramos parafraseando Figueiredo, acreditando que no
mundo atual, precisamos, “na verdade, de metodologias inovadoras para o treinamento e a
educação continuada dos bibliotecários brasileiros, que realmente possibilit em mudanças
de mentalidade, de comportamento e de atuação técnica, adequadas à era da informação”
(1990, p. 99). A Metodologia da Problematização pode ser essa metodologia inovadora que
nos leve às mudanças de que fala a autora.
68
PARTE IV - O CURSO DE GER NCIA DE SISTEMAS DE
INFORMA ��� O VIA INTERNET
Apresentamos aqui a proposta de educação continuada e a distância, via
Internet, visando ao desenvolvimento de pensamento crítico, proposta esta que vem a ser
um curso para profissionais da informação. Teve como origem a necessidade do
desenvolvimento profissional contínuo, em vista dos constantes avanços da sociedade atual,
caracterizada como sociedade da informação.
As transformações aceleradas nos processos de produção de bens e de
serviços, os avanços nas tecnologias de informação e de telecomunicação, a conseqüente
mudança nos métodos de gestão e no mercado de trabalho, entre outros aspectos, estão
exigindo qualificação profissional dentro de um processo contínuo.
Considerada a parte experimental do nosso trabalho de pesquisa, este
curso teve como objetivo geral demonstrar que resultados, em termos de desenvolvimento
de pensamento crítico (descrito na Parte II deste trabalho), podem ser obtidos em cursos a
distância para profissionais da informação via Internet, através da metodologia da
problematização, também já descrita anteriormente (Parte III) .
Estaremos descrevendo, a partir deste momento, a proposta do curso,
com suas características e finalidades, bem como o perfil dos alunos inscritos, o processo de
desenvolvimento, as orientações e o acompanhamento dados durante todo o seu
desenvolvimento, constituindo-se, portanto, o núcleo através do qual desenvolvemos todo
nosso trabalho de tese.
69
4.1 Proposta do Curso
Dentro da proposta de educação continuada e a distância e preocupados
com o desenvolvimento de habili dades de raciocínio de ordem superior, como o
desenvolvimento de pensamento crítico - que ao nosso ver, é fundamental nas atividades
profissionais da atualidade -, fizemos a escolha do tema do curso: Gerência de Sistemas de
Informação, em função de alguns fatores, tais como:
1) a necessidade de atingir uma clientela potencial de indivíduos que
ocupassem cargos de gerência ou de maior poder de decisão;
2) a necessidade de abordar um assunto de interesse de profissionais que
estivessem trabalhando em sistemas de informação especializados, em
vista de uma demanda potencial maior para o assunto em questão;
3) a possibili dade de contar com uma demanda maior de profissionais
interessados no assunto, conectados, de alguma forma, à rede
Internet e com acesso à ela de seu local de trabalho e/ou de suas
residências;
4) a possibili dade de trabalhar com um conteúdo para o qual tínhamos
como referência disciplinas e ementas de um curso presencial, em
nível de especialização, ofertado pelo Departamento de Ciências da
Informação da Universidade Estadual de Londrina. Este foi um fator
importante para que pudéssemos restringir os temas e sugerir
bibliografias, o que facili tou a orientação.
O local para desenvolvimento do curso foi o próprio local de trabalho
e/ou residência de cada aluno, via Internet, e os recursos foram aqueles da própria rede,
disponíveis a toda a clientela, sendo: a home page do curso, e-mail para troca de
correspondência, uma lista de discussão fechada e um Web chat, também com acesso
restrito. Ressaltamos que, diferentemente da maioria das alternativas de educação a
distância conhecidas, os recursos aqui utili zados não são específicos para educação a
distância, nem tampouco foi utili zado qualquer referencial teórico para elaboração e
70
desenvolvimento de material específico para educação a distancia, uma vez que utili zamos
somente os recursos existentes e disponíveis na própria rede Internet, considerando apenas
a distância física entre os elementos do curso – professores e alunos.
Após a escolha do tema do curso, após a identificação de cinco ementas
de disciplinas como referência para desenvolvimento do conteúdo programático, com suas
respectivas bibliografias básicas, e na convicção de estar buscando o desenvolvimento de
pensamento crítico, nesta proposta de ensino, a escolha da metodologia foi o passo
seguinte.
Buscamos uma metodologia de ensino que possibili tasse o
desenvolvimento de pensamento crítico. Com esta predisposição específica encontramos na
literatura o estudo de caso (McDade, 1995), o método de resolução de problemas
(Bernstein, 1995), o método de análise de conteúdo (Newman, Webb e Cochrane, 1995), e
a metodologia da problematização (Berbel, 1995 e 1996), entre outros métodos. A partir da
leitura e estudo prévios destas metodologias de ensino propícias ao desenvolvimento de
habili dades de raciocínio de ordem superior, o critério decisivo para a escolha da
metodologia da problematização foram as suas próprias características que, somadas às
bases teóricas do pensamento crítico de Garrison (1991) e as habili dades de pensamento
crítico de Henri (1991), nos pareceram bastante adequadas para o propósito do estudo. já
explicitado na Parte II , e exemplificado nas Figuras 1 e 2, às páginas 71 e 72, bem como no
Anexo 1 – Quadro Comparativo das Etapas da Metodologia da Problematização com os
Níveis de Pensamento Crítico de Garrison e as Habili dades de Pensamento Crítico de Henri
nos diferentes níveis.
Eleita a Metodologia da Problematização (Berbel,1995) para o andamento
do curso, iniciamos o planejamento do mesmo.
Tendo definido todas as etapas do curso, o conteúdo e os procedimentos
de cada etapa, elaboramos o pré-teste e o submetemos a três docentes do Departamento de
Ciências da informação da Universidade Estadual de Londrina, solicitando sugestões e
críticas. Após a devolução deste, efetuamos as alterações necessárias e iniciamos as
providências para a disponibili zação do pré-teste definitivo na home page do curso.
71
Para a elaboração desta home page contratamos um Webmaster que se
encarregou tanto do processo de criação da página, da elaboração dos formulários de
inscrição, da transposição do conteúdo do curso em linguagem HTML, como de todo o
gerenciamento – desde o pré-teste até a última etapa do mesmo. Quaisquer questões
relativas à rede, tais como acesso à página, autorização de senhas, controle de entrada em
cada etapa, disponibili zação de textos em arquivos, disponibili zação de textos completos
para bibliografia, alterações de conteúdo nas páginas, enfim todos os mecanismos de
controle necessários para o bom andamento do curso, foram realizados graças à
colaboração competente deste Webmaster. No entanto, este gerenciamento poderia ter sido
feito pela própria proponente da pesquisa, de seu próprio local de trabalho ou de
desenvolvimento da mesma. Outro destaque importante é que este Webmaster também não
se utili zou de qualquer referencial teórico de elaboração de material didático específico para
educação a distância. As informações constantes da home page do curso foram repassadas a
ele pela proponente, da forma como se pretendia que fossem apresentadas na página e partir
daí, foram apenas transformadas em linguagem HTML.
A página de entrada do curso continha uma breve definição de educação
continuada e um único link5 para o curso, no próprio título (Ver Anexo 2). Ao clicar este
título, acessava-se a página de sumário do curso (Ver Anexo 3), com links para:
- Introdução – onde se contextualizava a proposta do curso, buscava-se
sensibili zar os alunos para a importância da educação continuada para o
profissional da informação, salientava-se o objetivo geral do mesmo, as
etapas da Metodologia da Problematização através do esquema do
Método do arco, de Charles Maguerez – que constituía-se de um outro
link, bem como se fornecia uma orientação geral para os alunos, sobre o
desenvolvimento do curso.
5 Optamos por utili zar o termo link no original inglês, e não o seu correspondente li gação em português porque,
dependendo do sistema hipertexto utili zado podemos ter ainda, como sinônimos os termos elo, âncora, botão etc. Oimportante é frisar que links ou li gações são pontos sensíveis na tela que podem produzir diferentes resultados taiscomo: indicar a origem ou o destino desses links, transferir para outro tópico, exibir uma ilustração, um esquema,uma foto etc.; fornecer uma informação adicional, entre outros (Vilan Filho, 1994).
72
- Disciplinas com suas respectivas ementas – onde cada título
constituía-se em outro link que permitia acesso à bibliografia básica da
mesma, em formato Word for Windows (Ver Anexo 4);
- Alunos Participantes – tratava-se de uma lista com nomes, endereços,
e-mails de cada aluno – constituindo-se estes, novos links automáticos -
perfil profissional, fotografias etc. dos mesmos;
- Pré-teste – ligado a um arquivo, também em Word for Windows, com
orientações de prazo e procedimentos para a realização do mesmo;
- Orientações – contendo instruções sobre como acessar as etapas do
curso; sobre os prazos de cumprimento de cada etapa; bem como
endereços dos proponentes (do coordenador, orientador e co-
orientadora) do curso; e links para: as disciplinas/ementas norteadoras
da escolha do tema de estudo; explicações de como fazer download de
arquivos (Anexo 5 – apesar da exigência do pré-requisito para o curso,
sentiu-se esta necessidade); e para o e-mail do professor-coordenador
do curso.
- Grupos de Conversa on-line – um Web Chat do curso;
- Etapas 1, 2, 3, 4 e 5 – com orientações específicas para cada uma das
cinco etapas da Metodologia da Problematização, quais sejam:
Observação da Realidade/Problematização, identificação dos Pontos-
Chave do problema, Teorização, elaboração de Hipóteses de Solução e
Aplicação Prática. Tais orientações estarão sendo descritas mais adiante,
no item 4.3; e
- Bibliografia - Texto Completo – arquivos em Word for Windows,
disponibili zados para os alunos.
Apenas o item Avaliação Final, constante do Sumário não se constituía
em link, uma vez que as avaliações foram feitas, em sua maioria, individualmente, em
situação presencial.
73
A previsão inicial de duração do curso era de 18 semanas, com uma carga
horária de 90 horas e com exigência de uma hora de dedicação por dia, perfazendo cinco
horas semanais. Com o andamento do mesmo, verificamos que o tempo teria que ser
adequado ao ritmo de cada aluno e a carga horária foi então estendida para 120 horas.
Desta forma, mantendo o tempo de conexão diária inicialmente exigido, estendemos o curso
para 24 semanas.
A divulgação do curso foi feita na própria rede, durante o mês de março
de 1997, através da lista de discussão - Discutindo EAD no Brasil - [email protected] - e de
endereços de bibliotecas, serviços e sistemas de informação disponíveis em publicações
impressas, tais como o Boletim Informativo do IBICT, bem como através de endereços
pessoais obtidos na rede Internet. A lista dos endereços para onde foram enviadas as
mensagens de divulgação consta do Anexo 6.
A partir do interesse manifestado pelos alunos, através de contatos pela
rede, foi disponibili zada para os mesmos a home page do curso com informações sobre a
Inscrição Prévia. Naquele momento, para obtenção de informações sobre o conteúdo do
curso, sobre a metodologia a ser utili zada e todos os procedimentos para cursar o mesmo, o
aluno teria que acessar a home page, preencher o formulário de inscrição prévia e nos
remeter de volta, via rede. Na oportunidade contávamos com aproximadamente 60 alunos
interessados. Divulgamos ainda, na seqüência, os requisitos mínimos para aceitação do
aluno no curso, bem como o custo total do mesmo. A decisão de cobrar pelo curso, ainda
que um preço simbólico, foi principalmente pela preocupação de garantirmos a
perseverança do aluno no curso. Acreditávamos ser um elemento importante que poderia
contribuir para a permanência do aluno do curso.
Ao finalizarmos a fase da inscrição prévia tivemos a clientela reduzida
para 12 alunos. Pelo nosso estudo inicial, ao examinar a possibili dade de acompanhamento e
orientação tínhamos decidido trabalhar com 10 alunos. Contudo, em virtude do baixo
número de inscrições, praticamente ficamos sem possibili dade de seleção, o que nos levou à
decisão de matricularmos os 12 interessados, já que todos preenchiam os requisitos prévios
para a inscrição: primeiramente o interesse demonstrado pelo curso e, em seguida, a
constatação de alguns requisitos, como:
74
� Todos eram profissionais da Informação, atuando em bibliotecas,
unidades, serviços ou sistemas de informação em cargos de gerência ou
outro cargo com poder de decisão e com possibili dade de acesso à
Internet de no mínimo uma hora diária, quer do seu local de trabalho quer
de outro local;� Aqueles que não eram gerentes de unidade, serviço ou sistema de
informação demonstraram ter capacidade de decisão para interferir na
realidade de seu local de trabalho;� Todos demonstraram interesse pelo curso e vontade de se dedicar ao
mesmo, dispondo-se a atuar como colaboradores na pesquisa e assumindo
compromisso de não desistirem sem justificativa;� Todos afirmaram ter disponibili dade de tempo para as atividades do curso
na rede bem como fora dela.
Voltamos aos alunos que inicialmente demonstraram interesse para saber
se o custo do curso foi o impedimento para não se inscreverem e apenas um aluno
respondeu afirmativamente, mas, quando autorizado a fazer o curso sem o pagamento, ele
ainda assim não se inscreveu. Os outros afirmaram não ter disponibili dade de acesso, não
ter interesse, quando conheceram o conteúdo do curso, não ter tempo, já que sentiram que
o curso exigiria muito deles, entre outros motivos. Assim, fechamos o período de inscrições
com 12 alunos.
4.2 Perfil dos Alunos Inscritos
Destes 12 alunos inicialmente matriculados no curso, apenas dois não
tinham formação básica em Biblioteconomia – eram coincidentemente graduados em
Engenharia Elétrica - embora atuassem como gerentes de sistemas de informação. Os dez
restantes, graduados em Biblioteconomia, eram egressos das seguintes escolas: um da
Escola de Biblioteconomia Teresa D´Ávila de Lorena-SP; dois da ECA/USP-SP; um da
75
UFG-Goiânia-GO; três da UEL-Londrina-PR; um da UnB-Brasília-DF; um da UFPe-
Recife-PE e um da UDESC-Florianópolis-SC. Destes, cinco se formaram na década de 80,
dois no início da década de 90, dois na década de 70 e um aluno não informou. Onze
alunos, do total de inscritos no curso, possuíam curso de especialização. Todos atuavam em
Unidades, Serviços, Sistemas de Informação Especializados, com algum poder de decisão,
sendo que quatro deles informaram ter total poder de decisão em seu ambiente de trabalho.
A maioria deles tinha acesso à Internet do seu local de trabalho, com pelo menos uma hora
diária de disponibili dade para conexão. Quatro dos alunos tinham acesso à Internet dos seus
locais de trabalho e também de suas casas, sendo que um deles informou não ter restrição
alguma de horário para acesso, apesar de ter poder de decisão parcial dentro do seu local de
trabalho.
Apenas um dos alunos inscritos informou exercer atividade de ensino, em
nível de terceiro grau, paralela à atividade profissional como gerente. No entanto, na
entrevista de avaliação pudemos constatar que mais um aluno exercia esta atividade, em
nível de segundo grau, dentro de seu próprio local de atuação, ainda que esporadicamente.
Mais elementos sobre o perfil dos alunos serão apresentados na Parte V,
quando trataremos de comentar as atividades desenvolvidas por eles durante o decorrer do
curso.
4.3 Desenvolvimento, Orientações e Acompanhamento do Curso
Juntamente com as inscrições definitivas destes 12 alunos, foi-lhes dado
um password e uma senha de acesso. A primeira parte do curso a ser disponibili zada na
rede, como já informamos anteriormente, foi o Pré-Teste, no endereço:
http://www.gepe.uel.br/ecad/intro.html. Nesta página, como já foi visto, o título do curso
constituía-se um link. Ao clicar-se este link, o acesso à página seguinte era permitido
apenas com o password e senha individual de cada aluno, passando este para a página de
76
sumário do curso. Nesta página, as etapas do curso que estavam disponíveis, e constituíam-
se em links eram, até aquele momento: Introdução; Ementas das disciplinas tidas como
referência e suas respectivas Bibliografias básicas; Orientações e o Pré-Teste (Anexo 3).
O prazo previsto para o pré-teste foi de 15 dias inicialmente, mas, como
apenas dois alunos concluíram neste tempo, houve necessidade de revisão e prorrogação.
Assim, os nove alunos restantes foram entregando o pré-teste à medida que terminavam, até
com um mês de atraso. Um aluno não o entregou e desistiu do curso já nesta etapa, ficando
portanto, onze alunos.
No pré-teste, como se previa no planejamento, os alunos não tiveram
nenhuma orientação além da constante na página Web e no texto introdutório ao mesmo.
À medida que os alunos iam entregando o pré-teste, íamos
disponibili zando a cada um separadamente a Primeira Etapa do curso propriamente dito –
Observação da Realidade/Problematização - com orientações específicas na página e
também individuais, sempre que solicitadas e também a Bibliografia – Texto Completo.
Salvo se eles se conhecessem, até este momento não lhes foi informado quem eram seus
colegas de curso. Este procedimento se deu em função das exigências desta etapa. Como os
alunos estavam em fase de observação da realidade, o ideal seria que eles não sofressem
influências externas na identificação do seu problema de estudo.
O Curso teve a proponente da pesquisa como coordenadora, fazendo-se
referência a esta como professor-orientador, e cada ocorrência deste termo, no texto,
constituía-se um link para o e-mail da mesma. O orientador de tese e principalmente a co-
orientadora, doutora em metodologia do ensino, que atua sistematicamente com a
metodologia da problematização em cursos de pós-graduação, também foram designados
como orientadores do curso. Os e-mais deles foram passados aos alunos no início do curso,
enfatizando-se que eles poderiam entrar em contato com os mesmos no momento que
achassem oportuno. Permitiu-se ainda, a cada aluno, consultar especialistas nos respectivos
assuntos/temas tratados no decorrer do curso, nos seus locais de trabalho ou fora deles.
Qualquer orientação poderia ser buscada tanto pelos alunos como pelos coordenadores e
orientadores, na rede ou fora dela, dependendo da necessidade.
77
As orientações específicas constantes da Etapa 1, na home-page do curso,
foram:
“ Nesta primeira etapa vocês devem se apropriar de toda e qualquerinformação sobre sua realidade de trabalho, buscando identificar umproblema para estudo. Através da observação da realidade, vocês vãoproceder a uma espécie de diagnóstico. Suas observações levarão aidentificar o que precisa ser ampliado, aperfeiçoado, corr igido etc. Istosignifica problematizar a realidade. Nesta etapa de problematização,você deve formular o problema a partir dos fatos observados. ELEJAUM PROBLEMA e redija-o da forma mais clara possível. Não como umtítulo ou tema, mas como um questionamento ou uma pergunta para aqual não se tem uma resposta pronta e que precise ser buscada atravésdo estudo. ‘É aí que se dá o início da problematização enquanto métodoou da problematização propriamente dita enquanto exercício intelectuale social’ (Berbel, 1996, p.8). Em termos de organização você poderáapresentar o seu trabalho seguindo as etapas do arco. É muitoimportante também, nesta e em todas as outras etapas, estar sempre emcontato com o professor coordenador, em caso de dúvidas” (http://www.gepe.uel.br/ecad/etapa1/etapa1.html).
A senha de acesso à primeira etapa do curso bem como às demais etapas
eram dadas pelo Webmaster, à medida que a coordenadora do curso informava o aluno a
respeito. O controle de entrada de cada aluno nas páginas do curso – login de cada aluno,
dia e hora de acesso a cada etapa e/ou página do curso - era passado para a coordenação
diariamente. Desta forma, foi possível ter, durante todo o tempo, o controle de quem entrou
em cada etapa, quando entrou, enfim, todo o acompanhamento com relação ao acesso à
home page do curso.
As orientações específicas de cada etapa do curso eram fornecidas na
própria home page, como exemplificado acima, mas aos alunos era permitido e incentivado
o contato com a coordenação a qualquer momento. Para as dúvidas que poderiam ser
comuns a todos os alunos ou que interessassem à maioria deles, foi criado uma página
denominada Perguntas mais Freqüentes, prevendo aquelas perguntas que poderiam ser de
grande parte dos alunos. Esta página, no entanto, não evoluiu porque as perguntas, foram
sempre muito específicas e de interesse de cada aluno em particular, não servindo a todos.
A partir do momento da entrada de uma lista de discussão no ambiente do curso, a página
de Perguntas mais Freqüentes tornou-se totalmente desnecessária, já que os assuntos
passaram a ser tratados neste fórum próprio que é a própria lista. Na página Bibliografia –
78
Texto Completo foram disponibili zados textos de interesse dos alunos e de difícil acesso.
Como a maioria dos textos necessários aos estudos ou estavam disponíveis na própria rede
ou a eles os alunos tinham acesso na forma impressa, os únicos disponibili zados nesta
página foram aqueles que tratavam da Metodologia da Problematização.
As etapas 2, 3, 4 e 5 – Determinação dos Pontos-Chave; Teorização;
Hipóteses de Solução e Aplicação à Realidade, respectivamente – foram disponibili zadas
também individualmente, assim que o aluno concluísse a etapa anterior, mesmo que ele não
a tivesse entregue ainda, já que a metodologia prevê um retorno, durante todo o processo,
às etapas anteriores. Dependendo da evolução dos estudos, a cada etapa, o aluno avaliava a
necessidade de alterar ou não aspectos da etapa anterior.
Em resumo, as orientações específicas para a etapa 2 – Estabelecimento
dos Pontos-Chave do problema foram:
“ Nessa fase é importante distinguir, dentre tudo o que foi observado, oque é mais importante e prioritário do que é puramente superficial oucontingente. Uma das formas de explorar o problema para se ter maiorclareza sobre ele é identificar as possíveis causas e/ou fatores e osdeterminantes mais amplos que influem sobre ele. É extremamenteimportante fazer aqui uma distinção clara entre causas e determinantesde um problema. As causas constituem tudo o que dá origem aoproblema, são os seus condicionantes imediatos. Portanto, são maispróximas, mais diretas. As determinantes são encontrados quandoperguntamos: por que essas causas existem? Ou seja, as determinantessão as respostas aos porquês, com uma maior profundidade. São fatoresque nem sempre estão aparentes, mas que estão determinando aexistência do problema, interferindo nas próprias causas jáidentificadas. Estão em um contexto social maior. Quando questionamose buscamos ultrapassar as causas aparentes, podemos chegar mais pertoda essência do problema. Tomemos, por exemplo, um problema da nossaárea de atuação: por que nossos alunos universitários não lêem? Comocausa, podemos dizer que eles não lêem porque não têm o hábito daleitura e, conseqüentemente, não têm a compreensão do que lêem comfacili dade e, por conseguinte, não retêm o que lêem, não entendem, nãogostam, não adquirem o hábito etc. Porém essas são as causas possíveisda não-leitura, as causas imediatas, aquelas mais diretamenteobservadas. E quais seriam os determinantes desse problema? Por quenossos estudantes universitários não têm hábito de leitura, não entendemo que lêem, não gostam de leitura? Dessa forma então poderemosverificar questões de origem mais remotas, como, por exemplo, o custode material impresso, a não-preocupação das autoridades com oanalfabetismo do povo, a inexistência de programas de motivação para
79
leitura, a falta de leitura dos pais, professores e outras pessoas quefazem parte do ambiente social mais amplo dos estudantes. Enfim,veremos que buscar as determinantes de um problema significa buscaras causas das causas, ou em outras palavras, analisar o problema comuma maior profundidade. Nesta fase, outras informações podem serbuscadas na própria instituição ou fora dela. É possível ainda contatarespecialistas do próprio local de trabalho, da própria cidade, ou atémesmo do país e/ou do exterior, mas informando sempre e registrando onome desses especialistas bem como o seu local de trabalho, área deatuação, função que exercem etc. Concluídos os estudos desta etapa,teremos então condições de estabelecer quais são os pontos realmenteimportantes do problema que precisam ser estudados, para que se possacompreendê-lo melhor e buscar para ele soluções. É isso que significadefinir quais são os pontos-chave do problema, os quais, uma vezdefinidos, orientarão os estudos a serem realizados, quando já estaremosna próxima etapa“ (http://www.gepe.uel.br/ecad/etapa2/etapa2.html).
A partir da disponibili zação da terceira etapa – Teorização – foi
informado a todos os alunos os nomes e endereços dos colegas participantes, bem como
disponibili zada uma lista de discussão (restrita aos inscritos no curso) e um web chat
(também restrito). Neste momento, a orientação dada foi que houvesse o maior número de
troca de informações possíveis entre os alunos.
As orientações específicas para as etapas 3, 4 e 5 – Teorização, Hipóteses
de Solução e Aplicação à Realidade foram:
Etapa 3 - Teorização
“ Embora vocês já tenham contemplado aspectos teóricos (idéias,conceitos, representações) nas duas etapas anteriores, esta, a daTeorização, é o momento de construir respostas mais elaboradas para oproblema. Vocês devem procurar responder o porquê, o como, o onde, asincidências, as relações etc., sobre o objeto de estudo. Os aspectosregistrados como pontos-chave na etapa anterior devem orientá-losnessa busca de informações. Como vocês podem perceber, essa é a etapade busca e análise das informações, em que sempre se registram asfontes de busca (tanto as bibliográficas quanto as não bibliográficas).Como numa revisão de literatura, os aspectos importantes devem serdiscutidos e analisados à luz das idéias de especialistas, teóricos doassunto etc. Informações contidas nos livros, nos periódicos, bem comonos próprios fatos que estão ocorrendo e sendo vividos pelas pessoas(fontes primárias e/ou iniciais) devem ser buscadas. Nesta etapa ainda,
80
poderemos utili zar questionários, entrevistas, observações, bem comorealizar visitas a órgãos e instituições relacionadas com o problema oucom aspectos do mesmo, para busca das informações necessárias. Ouvirespecialistas, ouvir usuários, enfim buscar todo tipo de informação quedê respaldo à análise e discussão do problema em questão. No caso deescolha de entrevistas, inquirições ou observações, nesta etapa, vocêsprecisarão elaborar adequadamente instrumentos para a coleta de dadose informações, tais como: o roteiro para entrevista, o questionário paraa inquirição, e/ou a ficha de observação. Procurem submeter estesinstrumentos à apreciação do professor coordenador ou de outrosprofessores e/ou profissionais visando à perfeita adequação e validaçãodos mesmos antes da aplicação definitiva. Estes instrumentos deverãoser validados em termos de clareza (linguagem clara, correta eacessível), de adequação aos objetivos (para isso os objetivos terão queestar sendo apresentados lado a lado com os instrumentos) e dacompatibili dade com o tema e ainda, adequados quanto de que vocêsdisporão para a aplicação dos mesmos. Todos os dados e informaçõesaqui obtidos, registrados e tratados devem ser analisados e discutidos,buscando-se um sentido para eles, tendo em vista o problema. E agoraatenção!!! Além de poder estar em contato com o professor coordenador,vocês podem conversar entre vocês mesmos, através da lista dediscussão, através de e-mail , bem como falar com qualquer pessoa quevocês conheçam e que possa lhes dar contribuições significativas,localizar sites específicos sobre o assunto na própria Internet, localizarespecialistas no assunto etc. Enfim, a partir daqui, vocês podemextrapolar. Buscar informações em fontes diferentes, com o objetivo deampliar a leitura da realidade sob diferentes ângulos. Dentro do tempode que vocês dispõem procurem eleger os locais e fontes maisimportantes, relacionados com o seu problema os quais poderão ajudarno encaminhamento de soluções. NÃO SE ESQUEÇAM: sempreregistrem e informem as fontes de todos os dados. Os dados da etapaTeorização podem ser organizados em tópicos ou capítulos sob essadenominação, seguindo-se, por exemplo, os aspectos identificados naetapa Pontos-Chave. Encerrada a etapa da Teorização, passaremosentão para a etapa seguinte que é a de identificação das possíveissoluções para o problema”(http://www.gepe.uel.br/ecad/etapa3/etapa3.html).
Etapa 4 - Hipóteses de Solução
“ O estudo até aqui desenvolvido, por vocês, deve servir de base para atransformação da realidade de cada um, relativamente ao problemaestudado. Assim, nesta etapa, vocês devem procurar responder àseguinte questão: Quais as possíveis alternativas de solução que podemser apontadas para o problema estudado? Aqui é muito importante a suacriatividade e originalidade. Nesta etapa vocês devem pensar em serinovadores. Procedimentos comuns, padrões já conhecidos, normas já
81
concebidas reforçam a existência do problema. É preciso pensarinovando de modo a provocar a superação ou a solução do problema.Para isso vocês já contam com todas as informações colhidas na fase deTeorização, que são comparadas com o que se pensava e foi registradonas fases anteriores. Um aspecto importante que não pode sernegligenciado nesta etapa é a questão da viabilidade e factibilidade dassuas hipóteses de solução, por meio do confronto com os dados darealidade (características específicas, condicionamentos, possibili dades,limitações). Esses dois aspectos devem ser bem equacionados. Nestaetapa também, contatos com outras pessoas serão bem vindos, seja como professor-coordenador, com os professores orientadores, comespecialistas da área, seja com os colegas etc. Vocês devem buscar atroca de idéias com pessoas entendidas no assunto sobre as possíveissoluções encontradas para o seu problema. Não se esqueçam de quepode haver alguém que já tenha estudado o mesmo problema e já tenhaencontrado soluções para ele, ainda que estas não sejam,necessariamente as soluções que mais lhes agradem ou com que vocêsconcordem, mas é importante trocar idéias, e discutir sobre o assunto.Buscaremos esgotar a discussão nessa fase para, na fase seguinte,identificar uma ou mais soluções possíveis para o problema, de modo atransformar a realidade observada na primeira etapa do processo”(http://www.gepe.uel.br/ecad/etapa4/etapa4.html).
Etapa 5 - Aplicação à Realidade
“ Esta é a etapa da prática, da ação real e concreta sobre a realidadeestudada, quando se visa solucionar ou encaminhar para a solução oproblema em estudo. Chegou a hora da prática transformadora! Oprimeiro passo será eleger, entre todas as hipóteses de solução, quais asque são mais importantes para resolver o problema. O que vocês podemfazer para transformar essa realidade? O que depende de uma iniciativasua? Disso, o que vocês se dispõem e se comprometem a realizar? Doque não depende de vocês, como vocês vão atuar para intermediar essasolução? Aqui então vocês vão indicar sua ação prática transformadora,o seu compromisso profissional e político com a sua realidade. Éimportante salientar que o trabalho todo, até agora, foi orientado tendo-se em vista transformar algo de forma construtiva e buscando-seprepará-los para uma atuação social (profissional, políti ca etc.) cadavez mais fundamentada e consciente, como de cidadãos inseridos nocontexto socieconômico e político do país, para uma atuação competentee resolutiva no ambiente profissional de cada um. Portanto, vocês devemindicar as práticas transformadoras que serão realizadas imediatamentepor vocês, com informações que as tornem claras e verificáveis do pontode vista da sua factibili dade. Para aquelas ações a serem realizadasapós o término deste curso, ou seja, ações a médio e longo prazo,elaborem um pequeno plano de ação incluindo um cronograma. Paraplanejar essas ações, tanto as imediatas quanto aquelas de médio e
82
longo prazo, ‘algumas perguntas devem ser respondidas (...) [ taiscomo] : - o que fazer? - como fazer e em que condições? - com queestratégias? - com que recursos? - para obter que efeitos ou quesoluções? E principalmente: com que finalidade e para beneficiar aquem?’ (Berbel, 1996, p.9). Tendo finalizado esta etapa, teremoscompletado o arco, teremos completado o estudo daquele aspecto eleitopara ser trabalhado e cujos resultados podem sugerir o reiniciar demuitos outros arcos, num processo contínuo visando a transformação darealidade” (http://www.gepe.uel.br/ecad/etapa5/etapa5.html).
Como já enfatizamos, o curso, previsto para ter 90 horas, teve sua carga
horária aumentada para 120, com duração estendida para 24 semanas. Ainda assim, apenas
dois alunos concluíram neste prazo.
Ao final, quando cada aluno concluiu a última etapa, foi agendado um
encontro, presencial, como parte do processo de avaliação final do curso, quando foram
ouvidas também as reclamações e sugestões dos alunos. Esta avaliação, em forma de
entrevista, constituiu-se de questões relativas às expectativas do aluno em relação ao curso
(no início e no final do mesmo); a influência da metodologia no processo de ensino ou no
resultado final do trabalho do aluno; as atividades desenvolvidas que perceptivelmente
possibili taram o desenvolvimento de pensamento crítico; os recursos utili zados pelo curso –
home page, e-mail , chat e lista de discussão - além de questões específicas de cada
trabalho. Buscamos identificar no texto escrito o que era elaboração do aluno, anterior ao
curso e durante o mesmo, e o que era de outros autores e/ou de outras pessoas, para
confrontar, com uma maior segurança, com os indicadores de pensamento crítico.
Os certificados foram fornecidos pelo ITEDES – Instituto de Tecnologia
e Desenvolvimento Econômico e Social - órgão que viabili za a prestação de serviços da
Universidade Estadual de Londrina, estabelecendo parcerias da mesma com empresas da
cidade e região, e gerenciando toda a parte administrativa do curso, a partir da aprovação
de um projeto.
Nos certificados constam as seguintes informações: o nome do aluno, o
título e as especificidades do curso, a metodologia utili zada, a carga horária total e o título
do tema desenvolvido e apresentado por ele. Assinam os mesmos a Profa. Dra. Nilza
Aparecida Freres Stipp como Diretora-Presidente e a Profa. Dra. Maria Helena Silva de
Oliveira e Carvalho como Diretora de Capacitação e Extensão. No verso constam os nomes
83
das disciplinas norteadoras do curso e os nomes dos proponentes – Coordenador,
Orientador de Tese e Co-orientadora (Ver Modelo no Anexo 7).
Foram entregues certificados apenas aos cinco alunos que concluíram o
curso, e a carga horária especificada foi a mesma para todos, independente do tempo que
cada um levou para concluir.
4.4 Os Indicadores de Pensamento Crítico Utilizados
Tendo contextualizado o pensamento crítico na sociedade atual, e
enfatizado sua importância, seus conceitos e definições, bem como suas características e
habili dades na Parte II , optamos por trabalhar com os indicadores de pensamento crítico de
Newman Webb e Cochrane (1995) - Figura 3, p.74-75 - que, como já enfatizamos ali, são
representativos do pensamento crítico e a eles pudemos agregar novas caraterísticas, para
melhor compreensão e adaptação às necessidades do curso, no decorrer deste trabalho de
pesquisa.
Tomando esses indicadores de pensamento crítico como norteadores do
curso proposto, agregando a eles os estágios de pensamento crítico de Garrison (1991), as
habili dades de raciocínio em cada estágio (Henri, 1991 – Parte II , Figura 2, p. 72) e as
etapas da Metodologia da Problematização (Berbel, 1995) explicitadas anteriormente e
estabelecendo um paralelo entre estes referenciais teóricos, elaboramos um Formulário
para Avaliação de Indicadores de Pensamento Critico, no contexto do curso dado.
Para cada etapa da Metodologia da Problematização destacamos, neste
Formulário, o que pretendíamos verificar de cada um dos indicadores de pensamento
crítico, considerando os estágios de pensamento crítico e as habili dades exigidas em cada
estágio. Estabelecemos um peso relativo a cada indicador em cada etapa e ainda graus
crescentes de demonstração de cada indicador em cada etapa.
84
O peso relativo foi atribuído considerando-se que desde o planejamento
do curso tinha-se a idéia de que a demonstração, de cada indicador de pensamento crítico,
alcançada pelo aluno, no decorrer do trabalho, variasse de etapa para etapa. Por exemplo,
na etapa 1 – Observação da Realidade – consideramos, após análise criteriosa, que entre os
dez indicadores utili zados, os valores extremos de peso fossem atribuídos aos indicadores
Utili dade Prática (U/P) e Novidade (N). Isto porque, ao observar o aluno a realidade e
extrair/identificar um problema para estudo o que se espera dele é que se ativesse àquilo
que realmente pudesse ter utili dade para a sua realidade e portanto, merecesse ser estudado
em busca de uma solução e não simplesmente pelo fato de ser o novidade. Os pesos mais
significativos, nesta etapa, foram atribuídos aos indicadores U/P, R, J, A/I e I, nesta ordem
e os pesos menos significativos aos indicadores N, A/C, A, EX e C/E, também nesta ordem.
Por outro lado, o indicador N, na etapa 3 – Teorização, recebeu um peso relativo bastante
significativo ao passo que o indicador U/P recebeu peso 2 (Ver Anexo 8).
A partir deste tipo de análise atribuiu-se um peso relativo para cada
indicador em cada etapa. O raciocínio utili zado foi subjetivo e arbitrário, mas não aleatório.
Procurou-se estabelecer uma associação, para nós a mais adequada, entre aquilo que se
esperava do aluno em cada etapa e as ementas elaboradas para cada indicador, na mesma
etapa, portanto, uma associação do significado da etapa com o significado do indicador.
Temos clareza de que o raciocínio analítico utili zado é sujeito a críticas,
sugestões e reelaborações, e mais ainda que, ao aplicarmos novamente o mesmo
instrumento, em outra situação de ensino, com outro tema, em condições diferentes ou
mesmo iguais a esta, estes pesos deverão ser revistos e poderão ser alterados,
considerando-se as características do momento e não se invalidando a proposta.
Por outro lado, conforta-nos o resultado da análise feita para atribuição
de peso a cada indicador em cada etapa, porque, ao considerarmos encerrada nossa análise
e registrados na planilha os pesos relativos e ao visualizarmos estes pesos atribuídos a cada
indicador no decorrer de todo o processo, etapa por etapa do curso, obtivemos uma ordem
de importância, ao nosso ver, bastante próxima e representativa do processo como um
todo, por nós vivenciado nesta situação de ensino, a saber: em primeiro lugar aparece o
indicador R - Relevância, em segundo A/I - Associação de Idéias, em terceiro U/P -
Utili dade Prática, em quarto I - Importância, em quinto A/C – Avaliação Crítica e EX –
85
Extensão da Compreensão na mesma posição, em sexto C/E – Conhecimento e Experiência,
em sétimo J - Justificativa, e por último, em oitavo N – Novidade e A - Ambigüidade.
Nosso objetivo inicial não era estabelecer uma hierarquia de valores, mas
isto acabou acontecendo, ao considerarmos nossa percepção durante o desenvolvimento do
processo, talvez pelo fato de estarmos associando modelos já existentes na literatura que
nos forneciam apenas orientações gerais. No nosso entender, a necessidade de uma
reelaboração, que atendesse as especificidades da nossa realidade se fez imperiosa. Por não
termos parâmetros disponíveis na literatura para que o aluno avaliasse a demonstração do
indicador, fomos praticamente obrigados a construir nosso próprio critério de análise, que,
como já dissemos, é passível de críticas, sugestões e reelaborações.
As ementas de cada indicador de pensamento crítico, por nós elaboradas,
os pesos relativos atribuídos a cada um e os níveis de demonstração de cada indicador em
cada etapa do curso, estarão sendo explicitados a seguir.
Ressaltamos que os níveis de demonstração de cada indicador foram
sendo analisados em uma perspectiva crescente, a partir: 1º) da análise de uma situação real;
2º) do conhecimento/ informação demonstrado pelo aluno, sobre esta situação real; e 3º) do
acesso ou não ao conhecimento/informação existente, sendo:
Nível 1 – onde se detectava ausência de qualquer grau de
demonstração do indicador , no texto apresentado pelo aluno.
Nível 2 – onde se permitia detectar um grau de demonstração do
indicador , no texto apresentado pelo aluno, ainda que insuficiente, fraco ou baixo, e onde
a habili dade mais aparente era a habili dade de copiar conhecimento/informação existente
sobre a realidade ou sobre o assunto.
Nível 3 – onde se permitia detectar um grau de demonstração do
indicador , mais elaborado, razoável ou médio, no texto apresentado pelo aluno, e
identificar algum grau de elaboração do mesmo, por exemplo, a capacidade de adaptação
do conhecimento/informação existente à sua própria realidade.
Nível 4 – onde se permitia detectar um grau de demonstração do
indicador , mais significativo, intenso ou alto, no texto apresentado pelo aluno, e onde se
86
identificava uma maior capacidade de elaboração do mesmo, como por exemplo, algo que
ele elaborara sozinho ou algo que ele criara.
4.4.1 Ementas dos indicadores de pensamento crítico
A partir dos indicadores de pensamento crítico de Newman, Webb e
Cochrane (1995), dos estágios de pensamento crítico de Garrison (1991), das habili dades de
raciocínio em cada estágio (Henri, 1991) e das etapas da Metodologia da Problematização
(Berbel, 1995), como já enfatizamos, elaboramos ementas específicas para cada Indicador
em cada etapa, atribuímos níveis de demonstração do indicador pelos alunos bem como
pesos para a cada um, em cada etapa, como se segue:
ETAPA 1 - OBSERVA ��� O DA REALIDADE/PROBLEMATIZA ��� O (QUEST � O 1)
Ind icador R = RELEVÂNCIA PESO 9
R - CONSIDERA-SE COMO RELEVANTE TUDO AQUILO QUE EM UM DETERMINADO
MOMENTO É IMPORTANTE PARA UMA DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA À
ELABORAÇÃO PESSOAL, AOS DEPOIMENTOS RELEVANTES, AOS ASPECTOS HISTÓRICOS.
NESTA ETAPA A RELEVÂNCIA ESTÁ RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA
OBSERVAR A REALIDADE COM SEUS PRÓPRIOS OLHOS, REGISTRAR OS FENÔMENOS
PRESENTES NESTA PARCELA DA REALIDADE E IDENTIFICAR UM PROBLEMA PARA
ESTUDO, RESSALTANDO ELEMENTOS ESSENCIAIS, LIGAÇÕES, ASPECTOS RELEVANTES
ETC. DO PROBLEMA. ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE
87
RELEVÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA ETAPA DE OBSERVAÇÃO DA
REALIDADE.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
Ind icador I = IMPORTÂNCIA PESO 6
I - É AQUELE VALOR PREPONDERANTE EM TODO E QUALQUER MOMENTO PARA UMA
DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA A TEMAS ELABORADOS, PRINCÍPIOS
(CIENTÍFICOS), CONHECIMENTOS/VALORES MAIS PERMANENTES. NESTA ETAPA ESTÁ
ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA OBSERVAR A REALIDADE COM SEUS
PRÓPRIOS OLHOS, REGISTRAR OS FENÔMENOS PRESENTES NESTA PARCELA DA
SOCIEDADE E IDENTIFICAR UM PROBLEMA PARA ESTUDO, RESSALTANDO ELEMENTOS
ESSENCIAIS, LIGAÇÕES, ASPECTOS IMPORTANTES ETC. DO PROBLEMA. ASSIM,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE IMPORTÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO
ALUNO, NA ETAPA DE OBSERVAÇÃO DA REALIDADE.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
88
Ind icador N = NOVIDADE PESO 1
N - ESTÁ ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA TRAZER NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES PARA DISCUSSÃO E/OU MOSTRAR-SE RECEPTIVO ÀS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA. ASSIM, NESTA ETAPA,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO
OBSERVAR-SE A REALIDADE E IDENTIFICAR-SE UM PROBLEMA PARA ESTUDO.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
Ind icador C/E = CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA PESO 5
C/E- ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA: EVIDENCIAR O USO DE CONHECIMENTO
PRÉVIO; RECORRER À EXPERIÊNCIA PESSOAL, ESTAR RECEPTIVO, BUSCAR E USAR
NOVOS MATERIAIS RELEVANTES PARA ASSOCIAR E REELABORAR ESSES
CONHECIMENTOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A
REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
89
Ind icador A = AMBIGÜIDADE PESO 3
A - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA IDENTIFICAR COM CLAREZA A EXISTÊNCIA
DE ALGO QUE SE PODE TOMAR EM MAIS DE UM SENTIDO; PARA ANA LISÁ-LO E
DISCUTI-LO VISANDO ESCLARECÊ-LO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A
REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
Ind icador A/I = ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS PESO 7
A/I - RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA GERAR NOVOS
DADOS/CONHECIMENTOS A PARTIR DE ASSOCIAÇÕES DE FATOS/IDÉIAS E NOÇÕES
EXTRAÍDOS DO CONTEXTO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A
REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
90
Ind icador J = JUSTIFICATIVA PESO 8
J - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA EXTRAIR VANTAGENS OU DESVANTAGENS
DE SITUAÇÕES, SOLUÇÕES OU JULGAMENTOS, APRESENTANDO PROVAS OU
EXEMPLOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
Ind icador A/C = AVALIAÇÃO CRÍTICA PESO 2
A/C - ASSOCIADA À CA PACIDADE DE UTILIZAÇÃO DE AVA LIAÇÃO/DIAGNÓSTICO CRÍTICO
DAS CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS PESSOAS, DAS SUAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES E À
DEMONSTRAÇÃO DE ABERTURA PARA RECEBER AVA LIAÇÃO CRÍTICA PARA SUAS
ELABORAÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A
REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
91
Ind icador U/P = UTILIDADE PRÁTICA PESO 10
U/P - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA RELACIONAR NOVAS IDÉIAS/
INFORMAÇÕES /SOLUÇÕES COM SITUAÇÕES REAIS, FAMILIARES E DISCUTIR COM
CLAREZA A UTILIDADE PRÁTICA DESSAS NOVAS IDÉIAS/ INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
Ind icador EX = EXTENSÃO DA COMPREENSÃO PESO 4
EX - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA APRESENTAR/DISCUTIR O PROBLEMA
COM GRANDE PERSPECTIVA E/OU UTILIZAR ESTRATÉGIAS DE AMPLO ALCANCE.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO OBSERVAR-SE A REALIDADE/PROBLEMATIZAR.
1. NÃO DEMONSTRA.
2. DEMONSTRA GRAU INSUFICIENTE/FRACO/BAIXO. COPIA
3. DEMONSTRA GRAU MAIS ELABORADO/RAZOÁVEL/MÉDIO. ADAPTA
4. DEMONSTRA GRAU SIGNIFICATIVO/INTENSO/ALTO. ELABORA/CRIA
92
ETAPA 2 – PONTOS-CHAVE (QUEST � O 2)
Ind icador R = RELEVÂNCIA PESO 10
R - CONSIDERA-SE COMO RELEVANTE TUDO AQUILO QUE EM UM DETERMINADO
MOMENTO É IMPORTANTE PARA UMA DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA À
ELABORAÇÃO PESSOAL, AOS DEPOIMENTOS RELEVANTES, AOS ASPECTOS HISTÓRICOS.
NESTA ETAPA A RELEVÂNCIA ESTÁ RELACIONADA À CAPACIDADE DE DISTINGUIR,
DENTRO DO QUE FOI OBSERVADO, O QUE É VERDADEIRAMENTE IMPORTANTE DO QUE
É PURAMENTE SUPERFICIAL OU CONTINGENTE. ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DE RELEVÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA ETAPA DE
IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS-CHAVE DO PROBLEMA.
� OBS: DAQUI PARA FRENTE OS NÍVEIS NÃO SERÃO MAIS APRESENTADOS, JÁ QUE SÃO
OS MESMOS PARA TODAS AS ETAPAS
Ind icador I = IMPORTÂNCIA PESO 6
I - É AQUELE VALOR PREPONDERANTE EM TODO E QUALQUER MOMENTO PARA UMA
DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA A TEMAS ELABORADOS, PRINCÍPIOS
(CIENTÍFICOS), CONHECIMENTOS/VALORES MAIS PERMANENTES. NESTA ETAPA ESTÁ
RELACIONDA COM A CAPACIDADE DE DISTINGUIR, DENTRO DO QUE FOI OBSERVADO,
O QUE É VERDADEIRAMENTE IMPORTANTE DO QUE É PURAMENTE SUPERFICIAL OU
CONTINGENTE. ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE IMPORTÂNCIA
DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA ETAPA DE IDENTIFICAÇÃO DOS PONTOS-CHAVE DO
PROBLEMA.
93
Ind icador N = NOVIDADE PESO 1
N - ESTÁ ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA TRAZER NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES PARA DISCUSSÃO, MOSTRAR-SE RECEPTIVO ÀS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA. ASSIM, NESTA ETAPA,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO
IDENTIFICAREM-SE OS PONTOS-CHAVE DO PROBLEMA EM ESTUDO.
Ind icador C/E = CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA PESO 5
C/E- ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA: EVIDENCIAR O USO DE CONHECIMENTO
PRÉVIO; RECORRER À EXPERIÊNCIA PESSOAL, ESTAR RECEPTIVO, BUSCAR E USAR
NOVOS MATERIAIS RELEVANTES PARA ASSOCIAR E REELABORAR ESSES
CONHECIMENTOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS PONTOS-CHAVE DO
PROBLEMA.
Ind icador A = AMBIGÜIDADE PESO 4
A - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA IDENTIFICAR COM CLAREZA A EXISTÊNCIA
DE ALGO QUE SE PODE TOMAR EM MAIS DE UM SENTIDO; PARA ANA LISÁ-LO E
DISCUTI-LO VISANDO ESCLARECÊ-LO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS
PONTOS-CHAVE DO PROBLEMA.
94
Ind icador A/I = ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS PESO 8
A/I - RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA GERAR NOVOS
DADOS/CONHECIMENTOS A PARTIR DE ASSOCIAÇÕES DE FATOS/IDÉIAS E NOÇÕES
EXTRAÍDOS DO CONTEXTO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS
PONTOS-CHAVE DO PROBLEMA.
Ind icador J = JUSTIFICATIVA PESO 2
J - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA EXTRAIR VANTAGENS OU DESVANTAGENS
DE SITUAÇÕES, SOLUÇÕES OU JULGAMENTOS, APRESENTANDO PROVAS OU
EXEMPLOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS PONTOS-CHAVE DO
PROBLEMA.
Ind icador A/C = AVALIAÇÃO CRÍTICA PESO 7
A/C - ASSOCIADA À CAPACIDADE DE UTILIZAÇÃO DE AVA LIAÇÃO/DIAGNÓSTICO CRÍTICO DAS
CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS PESSOAS, DAS SUAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES E À
DEMONSTRAÇÃO DE ABERTURA PARA RECEBER AVA LIAÇÃO CRÍTICA PARA SUAS
ELABORAÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS PONTOS-CHAVE DO
PROBLEMA.
95
Ind icador U/P = UTILIDADE PRÁTICA PESO 9
U/P - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA RELACIONAR NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/SOLUÇÕES COM SITUAÇÕES REAIS, FAMILIARES E DISCUTIR
COM CLAREZA A UTILIDADE PRÁTICA DESSAS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/SOLUÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS
PONTOS-CHAVE DO PROBLEMA.
Ind icador EX = EXTENSÃO DA COMPREENSÃO PESO 3
EX - ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA APRESENTAR/DISCUTIR O PROBLEMA
COM GRANDE PERSPECTIVA E/OU UTILIZAR ESTRATÉGIAS DE AMPLO ALCANCE.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE OS PONTOS-CHAVE DO
PROBLEMA.
ETAPA 3 - TEORIZA ��� O (QUEST � O 3)
Ind icador R = RELEVÂNCIA PESO 3
R - CONSIDERA-SE COMO RELEVANTE TUDO AQUILO QUE EM UM DETERMINADO
MOMENTO É IMPORTANTE PARA UMA DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA À
ELABORAÇÃO PESSOAL, AOS DEPOIMENTOS RELEVANTES, AOS ASPECTOS HISTÓRICOS.
96
NESTA ETAPA A RELEVÂNCIA ESTÁ RELACIONADA À BUSCA DA INFORMAÇÃO PARA A
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO; À BUSCA E ELABORAÇÃO DO
CONHECIMENTO/INFORMAÇÃO DISPONÍVEL NA ÁREA ATÉ O MOMENTO – REVISÃO DE
LITERATURA; À CONSULTA A DOCUMENTOS OFICIAIS PRIMÁRIOS, CONSULTA A
ESPECIALISTAS E A USUÁRIOS ETC. ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DE RELEVÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA ETAPA DE TEORIZAÇÃO.
Ind icador I = IMPORTÂNCIA PESO 10
I - É AQUELE VALOR PREPONDERANTE EM TODO E QUALQUER MOMENTO PARA UMA
DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA A TEMAS ELABORADOS, PRINCÍPIOS
(CIENTÍFICOS), CONHECIMENTOS/VALORES MAIS PERMANENTES. NESTA ETAPA ESTÁ
RELACIONADA À BUSCA DA INFORMAÇÃO PARA A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO,
À BUSCA E ELABORAÇÃO DO CONHECIMENTO/ INFORMAÇÃO DISPONÍVEL NA ÁREA
ATÉ O MOMENTO –REVISÃO DE LITERATURA; À CONSULTA A DOCUMENTOS OFICIAIS
PRIMÁRIOS, CONSULTA A ESPECIALISTAS E A USUÁRIOS ETC. ASSIM, AVA LIA-SE O
GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE IMPORTÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA
ETAPA DE TEORIZAÇÃO.
Ind icador N = NOVIDADE PESO 6
N - ESTÁ ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA TRAZER NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES PARA DISCUSSÃO, MOSTRAR-SE RECEPTIVO ÀS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA. ASSIM, NESTA ETAPA,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE
TEORIZAR SOBRE O PROBLEMA DA SUA REALIDADE.
97
Ind icador C/E = CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA PESO 4
C/E - ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA: EVIDENCIAR O USO DE CONHECIMENTO
PRÉVIO; RECORRER À EXPERIÊNCIA PESSOAL, ESTAR RECEPTIVO, BUSCAR E USAR
NOVOS MATERIAIS RELEVANTES PARA ASSOCIAR E REELABORAR ESSES
CONHECIMENTOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador A = AMBIGÜIDADE PESO 5
A - ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA IDENTIFICAR COM CLAREZA A EXISTÊNCIA
DE ALGO QUE SE PODE TOMAR EM MAIS DE UM SENTIDO; PARA ANA LISÁ-LO E
DISCUTI-LO VISANDO ESCLARECÊ-LO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador A/I = ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS PESO 7
A/I - RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA GERAR NOVOS
DADOS/CONHECIMENTOS A PARTIR DE ASSOCIAÇÕES DE FATOS/IDÉIAS E NOÇÕES
EXTRAÍDOS DO CONTEXTO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador J = JUSTIFICATIVA PESO 1
J - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA EXTRAIR VANTAGENS OU DESVANTAGENS
DE SITUAÇÕES, SOLUÇÕES OU JULGAMENTOS, APRESENTANDO PROVAS OU
98
EXEMPLOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador A/C = AVALIAÇÃO CRÍTICA PESO 8
A/C - ASSOCIADA À CA PACIDADE DE UTILIZAÇÃO DE AVA LIAÇÃO/DIAGNÓSTICO CRÍTICO
DAS CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS PESSOAS, DAS SUAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES E À
DEMONSTRAÇÃO DE ABERTURA PARA RECEBER AVA LIAÇÃO CRÍTICA PARA SUAS
ELABORAÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador U/P = UTILIDADE PRÁTICA PESO 2
U/P - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA RELACIONAR NOVAS IDÉIAS/
INFORMAÇÕES /SOLUÇÕES COM SITUAÇÕES REAIS, FAMILIARES E DISCUTIR COM
CLAREZA A UTILIDADE PRÁTICA DESSAS NOVAS IDÉIAS/INFORMAÇÕES/SOLUÇÕES.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE TEORIZAR.
Ind icador EX = EXTENSÃO DA COMPREENSÃO PESO 9
EX - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA APRESENTAR/DISCUTIR O PROBLEMA
COM GRANDE PERSPECTIVA E/OU UTILIZAR ESTRATÉGIAS DE AMPLO ALCANCE.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO TEORIZAR-SE.
99
ETAPA 4 - HIPÓTESES DE SOLU ��� O (QUEST � O 4)
Ind icador R = RELEVÂNCIA PESO 9
R - CONSIDERA-SE COMO RELEVANTE TUDO AQUILO QUE EM UM DETERMINADO
MOMENTO É IMPORTANTE PARA UMA DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA À
ELABORAÇÃO PESSOAL, AOS DEPOIMENTOS RELEVANTES, AOS ASPECTOS HISTÓRICOS.
NESTA ETAPA A RELEVÂNCIA ESTÁ RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA
QUESTIONAR/DISCUTIR, COM BASE EM TODO O ESTUDO ATÉ AQUI DESENVOLVIDO,
QUAIS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO PODEM SER APONTADAS PARA O PROBLEMA, COM
VISTAS À TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE. ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DE RELEVÂNCIA DA SITUAÇÃO , PELO ALUNO, NA ETAPA DE
ELABORAÇÃO DE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO.
Ind icador I = IMPORTÂNCIA PESO 5
I - É AQUELE VALOR PREPONDERANTE EM TODO E QUALQUER MOMENTO PARA UMA
DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA A TEMAS ELABORADOS, PRINCÍPIOS
(CIENTÍFICOS), CONHECIMENTOS/VALORES MAIS PERMANENTES. NESTA ETAPA ESTÁ
RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA QUESTIONAR, COM BASE EM TODO O
ESTUDO ATÉ AQUI DESENVOLVIDO, QUAIS ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO PODEM SER
APONTADAS PARA O PROBLEMA, COM VISTAS À TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE.
ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DA IMPORTÂNCIA DA SITUAÇÃO,
PELO ALUNO, NA ETAPA DE ELABORAÇÃO DE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO.
100
Ind icador N = NOVIDADE PESO 3
N - ESTÁ ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA TRAZER NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES PARA DISCUSSÃO, MOSTRAR-SE RECEPTIVO ÀS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA. ASSIM, NESTA ETAPA,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO SE
BUSCAREM E ELABORAREM HIPÓTESES DE SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA.
Ind icador C/E = CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA PESO 4
C/E - ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA: EVIDENCIAR O USO DE CONHECIMENTO
PRÉVIO; RECORRER À EXPERIÊNCIA PESSOAL, ESTAR RECEPTIVO, BUSCAR E USAR
NOVOS MATERIAIS RELEVANTES PARA ASSOCIAR E REELABORAR ESSES
CONHECIMENTOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO IDENTIFICAREM-SE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO
PARA O PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
Ind icador A = AMBIGÜIDADE PESO 1
A - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA IDENTIFICAR COM CLAREZA A EXISTÊNCIA
DE ALGO QUE SE PODE TOMAR EM MAIS DE UM SENTIDO; PARA ANA LISÁ-LO E
DISCUTI-LO VISANDO ESCLARECÊ-LO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO BUSCAREM-SE HIPÓTESES
DE SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA.
101
Ind icador A/I = ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS PESO 10
A/I - RELACIONADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA GERAR NOVOS
DADOS/CONHECIMENTOS A PARTIR DE ASSOCIAÇÕES DE FATOS/IDÉIAS E NOÇÕES
EXTRAÍDOS DO CONTEXTO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOREM-SE HIPÓTESES
DE SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
Ind icador J = JUSTIFICATIVA PESO 2
J - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA EXTRAIR VANTAGENS OU DESVANTAGENS
DE SITUAÇÕES, SOLUÇÕES OU JULGAMENTOS, APRESENTANDO PROVAS OU
EXEMPLOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO BUSCAREM-SE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO PARA O
PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
Ind icador A/C = AVALIAÇÃO CRÍTICA PESO 8
A/C - ASSOCIADA À CA PACIDADE DE UTILIZAÇÃO DE AVA LIAÇÃO/DIAGNÓSTICO CRÍTICO
DAS CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS PESSOAS, DAS SUAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES E À
DEMONSTRAÇÃO DE ABERTURA PARA RECEBER AVA LIAÇÃO CRÍTICA PARA SUAS
ELABORAÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO BUSCAREM-SE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO PARA
O PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
102
Ind icador U/P = UTILIDADE PRÁTICA PESO 6
U/P - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA RELACIONAR NOVAS IDÉIAS/
INFORMAÇÕES /SOLUÇÕES COM SITUAÇÕES REAIS, FAMILIARES E DISCUTIR COM
CLAREZA A UTILIDADE PRÁTICA DESSAS NOVAS IDÉIAS/INFORMAÇÕES/SOLUÇÕES.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO BUSCAREM-SE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO PARA O
PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
Ind icador EX = EXTENSÃO DA COMPREENSÃO PESO 7
EX - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA APRESENTAR/DISCUTIR O PROBLEMA
COM GRANDE PERSPECTIVA E/OU UTILIZAR ESTRATÉGIAS DE AMPLO ALCANCE.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO BUSCAREM-SE HIPÓTESES DE SOLUÇÃO PARA O
PROBLEMA EXTRAÍDO DA REALIDADE DO ALUNO.
ETAPA 5 - APLICA ��� O À REALIDADE (QUEST � O 5)
Ind icador R = RELEVÂNCIA PESO 9
R - CONSIDERA-SE COMO RELEVANTE TUDO AQUILO QUE EM UM DETERMINADO
MOMENTO É IMPORTANTE PARA UMA DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA À
ELABORAÇÃO PESSOAL, AOS DEPOIMENTOS RELEVANTES, AOS ASPECTOS HISTÓRICOS.
NESTA ETAPA A RELEVÂNCIA ESTÁ RELACIONADA À PRÁTICA DOS ALUNOS NA
103
REALIDADE OBSERVADA /ESTUDADA (AÇÕES A REALIZAR, O COMPROMISSO DO
ALUNOS COM ESTAS AÇÕES E/OU A DESCRIÇÃO DE AÇÕES REALIZADAS). ASSIM,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE RELEVÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO
ALUNO, NA ETAPA DE APLICAÇÃO À REALIDADE.
Ind icador I = IMPORTÂNCIA PESO 8
I - É AQUELE VALOR PREPONDERANTE EM TODO E QUALQUER MOMENTO PARA UMA
DETERMINADA SITUAÇÃO. ESTÁ ASSOCIADA A TEMAS ELABORADOS, PRINCÍPIOS
(CIENTÍFICOS), CONHECIMENTOS/VALORES MAIS PERMANENTES. NESTA ETAPA ESTÁ
RELACIONADA À PRÁTICA DOS ALUNOS REFERENTE À REALIDADE
OBSERVADA /ESTUDADA . ASSIM, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DE
IMPORTÂNCIA DA SITUAÇÃO, PELO ALUNO, NA ETAPA DE APLICAÇÃO À REALIDADE.
Ind icador N = NOVIDADE PESO 3
N - ESTÁ ASSOCIADA À CAPACIDADE DO ALUNO PARA TRAZER NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES PARA DISCUSSÃO, MOSTRAR-SE RECEPTIVO ÀS NOVAS
IDÉIAS/INFORMAÇÕES/ SOLUÇÕES PARA O PROBLEMA. ASSIM, NESTA ETAPA,
AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO
PROPOR-SE A APLICAÇÃO PRÁTICA À REALIDADE DO ALUNO.
Ind icador C/E = CONHECIMENTO/EXPERIÊNCIA PESO 4
C/E - ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA: EVIDENCIAR O USO DE CONHECIMENTO
PRÉVIO; RECORRER À EXPERIÊNCIA PESSOAL, ESTAR RECEPTIVO, BUSCAR E USAR
104
NOVOS MATERIAIS RELEVANTES PARA ASSOCIAR E REELABORAR ESSES
CONHECIMENTOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À REALIDADE.
Ind icador A = AMBIGÜIDADE PESO 1
A - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA IDENTIFICAR COM CLAREZA A EXISTÊNCIA
DE ALGO QUE SE PODE TOMAR EM MAIS DE UM SENTIDO; PARA ANA LISÁ-LO E
DISCUTI-LO VISANDO ESCLARECÊ-LO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR–SE A APLICAÇÃO
À REALIDADE.
Ind icador A/I = ASSOCIAÇÃO DE IDÉIAS PESO 6
A/I - RELACIONADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA GERAR NOVOS
DADOS/CONHECIMENTOS A PARTIR DE ASSOCIAÇÕES DE FATOS/IDÉIAS E NOÇÕES
EXTRAÍDOS DO CONTEXTO. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE
DEMONSTRAÇÃO DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À
REALIDADE.
Ind icador J = JUSTIFICATIVA PESO 2
J - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA EXTRAIR VANTAGENS OU DESVANTAGENS
DE SITUAÇÕES, SOLUÇÕES OU JULGAMENTOS, APRESENTANDO PROVAS OU
EXEMPLOS. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À REALIDADE.
105
Ind icador A/C = AVALIAÇÃO CRÍTICA PESO 5
A/C - ASSOCIADA À CA PACIDADE DE UTILIZAÇÃO DE AVA LIAÇÃO/DIAGNÓSTICO CRÍTICO
DAS CONTRIBUIÇÕES DE OUTRAS PESSOAS, DAS SUAS PRÓPRIAS CONTRIBUIÇÕES E À
DEMONSTRAÇÃO DE ABERTURA PARA RECEBER AVA LIAÇÃO CRÍTICA PARA SUAS
ELABORAÇÕES. ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO
DESTA CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À REALIDADE.
Ind icador U/P = UTILIDADE PRÁTICA PESO 10
U/P - ASSOCIADA À CA PACIDADE DO ALUNO PARA RELACIONAR NOVAS IDÉIAS/
INFORMAÇÕES /SOLUÇÕES COM SITUAÇÕES REAIS, FAMILIARES E DISCUTIR COM
CLAREZA A UTILIDADE PRÁTICA DESSAS NOVAS IDÉIAS/INFORMAÇÕES/SOLUÇÕES.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À REALIDADE.
Ind icador EX = EXTENSÃO DA COMPREENSÃO PESO 7
EX - ASSOCIADO À CAPACIDADE DO ALUNO PARA APRESENTAR/DISCUTIR O PROBLEMA
COM GRANDE PERSPECTIVA E/OU UTILIZAR ESTRATÉGIAS DE AMPLO ALCANCE.
ASSIM, NESTA ETAPA, AVA LIA-SE O GRAU DE DEMONSTRAÇÃO DESTA
CAPACIDADE, PELO ALUNO, AO PROPOR-SE A APLICAÇÃO À REALIDADE.
Com o objetivo inicialmente proposto de demonstrar quais resultados, em
termos de desenvolvimento de pensamento crítico, podem ser obtidos em cursos a distância
para profissionais da informação via Internet, através da Metodologia da Problematização
106
descrevemos a proposta do curso, com suas características e finalidades, bem como o perfil
dos alunos inscritos, o processo de desenvolvimento, as orientações e o acompanhamento
dados durante todo o decorrer do mesmo.
De posse do formulário acima descrito, pudemos analisar os trabalhos dos
alunos, tanto no pré-teste como durante as etapas do curso propriamente dito, para
podermos avaliar a possibili dade de desenvolvimento de pensamento crítico em cursos a
distância, via Internet, utili zando a Metodologia da Problematização, cujos resultados
apresentamos a seguir, na Parte V deste trabalho.
107
PARTE V - APRESENTA ��� O, ANÁLISE E DISCUSS� O
DOS RESULTADOS
O Curso de Gerência de Sistemas de Informação foi totalmente
desenvolvido via Internet segundo as etapas da Metodologia da Problematização.
No entanto, ele possui dois momentos distintos, com orientações
específicas – pré-teste e curso propriamente dito – seguidos de uma entrevista de avaliação
presencial na maioria dos casos.
No pré-teste, os alunos foram orientados a redigir um texto em cinco
partes distintas, respondendo a questões relativas às cinco etapas da Metodologia da
Problematização e salientando em cada uma delas seus principais aspectos. Por exemplo: na
primeira etapa - questão 1 – foi-lhes solicitado que identificassem em sua realidade
profissional um problema para ser estudado. Este problema deveria ter alguma relação com
as ementas das disciplinas sugeridas, pelos motivos já expostos. O problema também
deveria ser redigido da forma mais clara possível e contextualizado na realidade de cada um.
Na questão seguinte do pré-teste foi-lhes solicitado eleger alguns pontos-
chave do problema para serem estudados, dentro do tempo previsto para o término do
mesmo – 15 dias, inicialmente. Deviam-se o registrar estes pontos-chave de forma clara e
precisa.
Na terceira questão do pré-teste – correspondente à etapa da teorização –
estudar-se-ia o problema através de seus pontos-chave, à luz da literatura e de outras fontes
de informação não registradas. Reforçava-se que este item poderia parecer uma revisão de
literatura, mas os alunos deveriam incluir também as outras fontes que porventura pudessem
usar, através de questionários de opinião, entrevistas etc. Pedia-se lhes então que
registrassem tudo incluindo as fontes bibliográficas e as não bibliográficas.
108
Até este ponto, os alunos estariam buscando respostas necessárias para
esclarecer o problema e torná-lo objetivo, claro e preciso. Possibili dade de rever e
reformular as etapas anteriores existia durante todo o tempo.
Na quarta questão do estudo – correspondente à etapa das hipóteses de
solução - os alunos teriam que indicar, com base no estudo feito, possíveis alternativas de
solução ou encaminhamentos para o problema, de forma concisa, mas esclarecedora.
Como última questão – etapa da aplicação à realidade - o pré-teste
solicitava que, após o estudo completo do problema e as alternativas de solução
apresentadas, os alunos demonstrassem como iriam colocá-las em prática de forma a
transformar a realidade estudada. Para demonstrar essa competência eles teriam que
registrar tudo, também de forma clara e precisa, como em um projeto de execução de
serviços, com um cronograma de atividades. Os resultados obtidos no pré-teste são
apresentados no item 5.1, a seguir.
No segundo momento, portanto, no desenvolvimento do curso
propriamente dito, as orientações gerais iam sendo passadas aos alunos através da home
page, etapa por etapa, e as orientações específicas através de troca de mensagens e de
arquivos via correio eletrônico.
Na primeira etapa do curso, as orientações foram dadas no sentido de
levar os alunos a observarem a realidade que os cerca, com seus próprios olhos de maneira
a registrar os fenômenos presentes nesta parcela da realidade, tendo como foco principal o
campo de estudo (gerência de sistemas de informação) e podendo captar diferentes aspectos
com ele relacionados (o econômico, o cultural, o ético, o administrativo, o social etc.).
Nesta etapa inicia-se “um processo de apropriação de informação pelos
alunos” onde “as percepções primeiras, extraídas das aparências ou mesmo do senso
comum começam a dar lugar a inquietações e explicações mais pensadas, mais
informadas, mais elaboradas, ao mesmo tempo que se percebem os aspectos positivos
(equilíbrio, satisfação, organização etc.) e negativos (desequilíbrio, carências,
dificuldades, desorganização etc.) dessa prática social observada” (Berbel, 1995, p. 15).
Em geral, nesta etapa, os problemas começam a surgir e são inúmeros. Cada aluno elegeu
109
um tema/problema, relacionado com uma das disciplinas norteadoras do curso, fornecidas
na home page com suas respectivas ementas e bibliografias (Anexo 4).
Com a finalidade de comparar o seu desenvolvimento no curso com o seu
desempenho no pré-teste, os alunos tiveram como orientação básica a retomada dos
temas/problemas apresentados no pré-teste.
Após a observação da realidade, contextualização e identificação dos
temas/problemas de estudo, os alunos foram levados, na segunda etapa do curso, a se
voltarem para uma nova análise dos aspectos relacionados com o problema, separando, “do
que foi observado, o que é verdadeiramente importante do que é puramente superficial ou
contingente” (Díaz Bordenave, 1989, p.25). Foram orientados a identificar possíveis causas
do problema em estudo, bem como determinantes mais amplas do mesmo. Dessa forma, os
pontos-chave, então, deveriam ser expressos “ através de questões básicas que se
apresentam para o estudo; através de afirmações (pressupostos) fundamentais sobre
aspectos do problema; através de um conjunto de tópicos a serem investigados; através de
princípios a serem considerados no estudo ou ainda outras formas” (Berbel, 1995, p. 16).
Nas fases de identificação do problema e de estudo dos seus pontos-
chave, bem como durante o desenvolvimento do curso, toda a orientação, dada
individualmente, constava muito mais de perguntas, que levassem os alunos a refletir sobre
o que haviam apresentado por escrito do que de correções diretas no texto produzido.
Este procedimento de orientação deu-se através do e-mail do aluno. As
orientações gerais foram dadas através da home-page do curso, e para complementá-las
utili zamos a lista de discussão, que se incorporou ao curso na terceira etapa e que
abordaremos adiante.
Tendo identificado os pontos-chave do problema, com suas possíveis
causas e determinantes, na terceira etapa do curso, a da teorização, os alunos foram
orientados a buscar respostas mais elaboradas para o problema, embora muitos aspectos
teóricos já estivessem presentes nas etapas anteriores. Esta etapa consistiu-se portanto, na
busca de informação nas diferentes fontes e através de diferentes mecanismos. Os dados e
as informações registrados e tratados nesta etapa teriam que ser analisados e discutidos
tendo-se em vista o problema em questão. Quando os alunos chegam a “entender” o
110
problema, é porque a teorização foi bem sucedida (Díaz Bordenave, 1989, p.25). Por outro
lado, a teorização possibili ta aos alunos, uma reformulação do problema de estudo e/ou dos
seus aspectos mais importantes, os pontos-chave, para garantir a coerência e a relevância de
todo o processo. Somente após esta revisão é que passaram para a etapa seguinte, de
levantamento de hipóteses de solução para o problema identificado.
As orientações dadas através da lista de discussão, para todos os alunos, a
partir da teorização, foram, por exemplo: - vocês podem usar os títulos das etapas como
direcionadores de seus trabalhos, compondo o sumário dos mesmos; - vocês devem ter
muito cuidado ao se apropriarem das idéias de outros. Sempre que isto ocorrer, é
fundamental informar a fonte; - sobre referências bibliográficas de material impresso vejam
as normas específicas da ABNT, NBR 6023; - sobre referências de documentos eletrônicos
ver tal sítio (e fornecia-se a URL do sítio) ou tal documento; – entre outras.
Na etapa seguinte, de elaboração de hipóteses de solução, onde “ a
criatividade e a originalidade devem ser bastante estimuladas” (Berbel, 1985, p.15), os
alunos foram levados a questionar, com base em todo o estudo desenvolvido até este ponto,
quais alternativas de solução poderiam ser apontadas para o problema, com vistas à
transformação da sua realidade de trabalho. Nesse momento a criatividade e a atitude
proativa dos alunos, quando existentes, se tornaram evidentes.
Por último, na etapa de Aplicação à Realidade, “destinada à prática dos
alunos na realidade social” (Berbel, 1985, p. 16), buscou-se ter a garantia de alguma forma
de aplicação real do estudo no contexto a partir do qual teve origem o problema. Ou os
alunos apresentaram o que desenvolveram durante o curso – aqueles que conseguiram
concluir a execução do projeto -, ou indicaram o início de alguma transformação na sua
realidade de trabalho e apresentaram um cronograma de execução de ações concretas, a
curto, médio e longo prazo.
Após a entrega dos trabalhos finais, nos deslocamos para os locais de
trabalho de quatro alunos para procedermos a uma entrevista de avaliação. Um único aluno,
do total dos concluintes não fez esta entrevista por falta de tempo. Para este, utili zamos um
questionário, via rede, com as mesmas questões tratadas na entrevista, em que se
abordavam os mesmos aspectos, a saber: quais eram as suas expectativas antes e ao final do
111
curso; o que sentiram como atuantes nesta modalidade de ensino; se o curso lhes trouxe
alguma contribuição (quanto ao conteúdo, metodologia, ou outro aspecto); que
contribuições críticas eles poderiam dar (considerando aqui uma avaliação crítica das
dificuldades inerentes aos problemas da rede; dos recursos disponíveis e da utili zação; da
orientação que tiveram, entre outras); até que ponto o resultado do trabalho desenvolvido
pelos alunos foi fruto de processo vivenciado por eles durante o curso, e em que medida os
indicadores de pensamento crítico – os dez utili zados na pesquisa - estiveram presentes no
processo, entre outros aspectos. Nesta entrevista eles tiveram ainda a oportunidade de falar
sobre seus interesses pelo curso, sobre as motivações, os motivos que os levaram a continur
até o final e principalmente, sobre o que eles sentiram em termos da mudanças em si
mesmos. Os resultados desta entrevista, juntamente com os demais dados obtidos no curso,
agregaremos aos resultados finais, relatados no item 5.2.
5.1 Resultados Obtidos no Pré-Teste
Iniciamos e terminamos o pré-teste com 11 alunos, já que apenas um
aluno inscrito inicialmente desistiu do curso antes mesmo de acessar o pré-teste.
No item correspondente à etapa de Observação da
Realidade/Problematização, apenas dois alunos - 18% - contextualizaram a sua realidade
profissional e destes, apenas um - 9% - identificou um problema para estudo. Ou seja, de 11
alunos, apenas um atendeu ao que se pedia na questão nº 1 do pré-teste. Para exemplificar
tomaremos alguns trechos do que obtivemos como resposta para a primeira questão do pré-
teste com total fidelidade à redação dos alunos, e portanto, abolindo a expressão latina sic
para destacar possíveis imprecisões gramaticais e/ou erros de digitação existentes:
Aluno A1:
“Questao 1 - O profissional da Informação frente as novas tecnologias.
112
“O maior problema vivido hoje em nossa sociedade é o grande numero deprodutos e servicos, para o gerenciamento da informacao, cada vez mais omercado consumidor de informacao exige tecnologias para oprocessamento, armazenameno e disseminacao . Cada vez a nossasociedade se sente carente do acesso rapido a informacao, por outro ladosas empresas que disputam esta grande fatia de mercado, travam entre sium luta de gigantes, para dominar o mercado. Tambem se percebe a naofidelidade do publico alvo, se é uma empresa de porte, ou uma instituicaotida como modelo, faz uma opcao por determinada tecnologia, as demaisnao se preocupam em conhecer a fundo o porque da opcao da primeirapor determinada tecnologia.
“No geral, os centros de referencia tem por tras toda uma infra-estruturamontada, que da todo o subsidio necessario para que ele resolva todos osproblemas futuro.
“Outro item que merece ser tambem discutido é o da nao padronizacaodo tratamento (linguagem) e a recuperacao (software) a nivel nacional ouinternacional, sao criados sistemas que nao permitem a integracao dosdiferentes bancos de dados.
“O despreparo dos tecnicos em conhecer a fundo todo o potencial dequalidade do produto, bem como a resistencia do proprio tecnico e de seuconsumidor a esta nova tecnologia e a sua fidelidade aos metodostradicionais” .
Aluno A2:
“Questão 1:
“Identifico como um dos principais problemas apresentados aosprofissionais da informação a questão da mediação entre si e o usuário” .
Aluno A3:
“1. Técnicas para estabelecer diretrizes em Unidades de Informação”.
Aluno A7:
“Diagnóstico do setor de periódicos da biblioteca central, visando a suaautomação, através do software SECS - da BIREME”.
Aluno A8:
“Questão nº 1 - O estabelecimento de diretrizes para o Centro deDocumentação, visando os critérios do Sistema de Avaliação, para aobtenção e manutenção do título de CENATEC (Centro Nacional deTecnologia) - categoria bronze”.
Aluno A9:
“Problema dentro da realidade profissional:
113
“Dificuldade na mudança de cultura do usuário para a importância dainformação e os benefícios de sua utili zação” .
Sabemos da dificuldade de identificar um problema para estudo e defini-lo
claramente em um contexto, até mesmo em cursos de doutorado. E por vivermos esta
situação, sermos também aprendizes e necessitarmos de orientações constantes, não
pretendíamos em nenhum momento que os alunos, no pré-teste, nos apresentassem algo de
definitivo, acabado, com total clareza e precisão. Todavia surpreendeu-nos o nível e a
brevidade das respostas, considerando o perfil da clientela – gerentes de sistemas de
informação e com algum tempo de atividade profissional. O aluno A1 foi quem mais
escreveu. Não levou em conta os acentos e os sinais gráficos que qualquer editor de texto
hoje assinala, através de um corretor ortográfico (digno de adequações, claro, pois se trata,
muitas vezes do português de Portugal). Ou seja, o mínimo de cuidado na redação não foi
observado. Ademais, neste mesmo caso, as frases não são encadeadas de forma lógica e
compreensível.
Foi-lhes solicitado redigir o problema da forma mais clara possível dentro
do contexto de suas realidades profissionais. Fizeram-no, no entanto, muitas vezes, em uma
frase. Os textos acima apresentados constituem tudo o que os alunos redigiram sobre a
questão. Acreditamos ser praticamente impossível a um gerente de informação, mesmo com
muito tempo de experiência profissional e muita objetividade e poder de síntese,
contextualizar sua realidade de trabalho e situar um problema que mereça ser estudado
dentro desta realidade, em apenas uma frase (Alunos A2, A3, A7, A8 e A9).
Em favor deles, consideramos como possíveis fatores intervenientes a
brevidade do tempo que lhes foi dado (apesar de muitos não se terem limitado ao prazo
estabelecido); a ansiedade para entrar logo no curso; a despreocupação com o produto final
que iriam apresentar; o desinteresse pelo pré-teste – confirmado pelo depoimento de um
aluno, ao final, na entrevista de avaliação - em relação ao interesse maior pelo curso
propriamente dito. Ou ainda a falta de compreensão suficiente do valor do pré-teste de
maneira a motivá-los a serem mais cuidadosos com suas respostas. Enfim, fatores alheios ao
nosso controle que levaram os alunos a ser bastante breves, neste momento.
114
Na questão seguinte, correspondente à segunda etapa da Metodologia da
Problematização, foi possível verificar que apenas três alunos - 27% - apesar de não
esclarecerem os pontos-chave do problema, os esboçam, os delineiam de alguma forma,
ainda que de maneira precária. Dos oito restantes -73% - apenas um, em alguns itens,
identifica quatro aspectos que poderiam ser pertinentes ao problema se o problema estivesse
suficientemente claro, mas não foi o caso. Até esta etapa contamos com os mesmos três
alunos que, de alguma maneira, trabalharam o problema a ponto de possibili tar que se
conhecesse o que eles buscavam estudar (alunos A4, A10 e A11). Assim, de um total de 11
alunos, apenas 3 - 27% - atenderam, de alguma forma, ao que foi solicitado na questão do
pré-teste.
Na etapa da teorização, observamos que cinco alunos – 45% - não
fizeram o que se lhes pedia, sendo que três deles – 27% - demonstraram não saber o que é
uma revisão de literatura e dois – 18% - não elaboram nada; apenas listaram uma pequena
bibliografia (cinco a sete itens).
Os seis alunos restantes – 36% - que apenas esboçaram uma revisão
bibliográfica, o fizeram dando margem a dúvidas, o que é compreensível, considerando-se a
complexidade deste tipo de elaboração. Interessante foi observar que um aluno que não
identificou o problema na etapa correspondente, nem tampouco conseguiu definir os
pontos-chave do mesmo, ao teorizar demonstrou um esforço significativo no sentido de
esclarecer o problema e os pontos-chave. Fez uma pequena revisão de literatura com
algumas associações pertinentes e elaborações próprias, ainda que não completas.
Na quarta etapa em que os alunos teriam que indicar, com base no estudo
feito até o momento, as possíveis alternativas de solução ou os encaminhamentos para a
solução do problema, cinco deles - 45% - apresentaram suas propostas. Destes, apenas dois
- 18% - apresentaram coerência nas soluções apontadas e o problema definido, com
propostas possíveis de serem realizadas. Os outros 54%, ao proporem as soluções,
acrescentaram aspectos novos que ainda não tinham sido abordados no estudo. O aluno A8,
que tinha como problema “Estabelecimento de diretrizes para o Centro de Documentação
...” apresentou, como hipóteses de solução, o seguinte:
“Leitura e interpretação do “manual do Centro de Documentação...;
“Elaboração de procedimentos e instruções de trabalho do setor;
115
“Verificação e avaliação dos indicadores de desempenho do setor” .
Tais alternativas parecem vagas e, para sua elaboração, não necessitam de
um estudo especial. Na nossa avaliação, fazem parte das tarefas cotidianas de um gerente de
informação.
Dos 11 alunos que concluíram o pré-teste apenas quatro – 36% -
demonstraram, em itens, o que pretendiam realizar para solucionar o problema, e as formas
de intervenção nas suas realidades de trabalho. O restante – 73% - não chegou a este nível
de detalhamento e/ou elaboração.
Com estes dados passamos à análise dos indicadores de pensamento
crítico que é o nosso objetivo maior neste estudo, relativo ao momento do pré-teste.
Para esta análise, elaboramos um Formulário para Avaliação dos
Indicadores de Pensamento Crítico já descrito no capitulo anterior (item 4.4.1). De posse
deste Formulário e dos textos apresentados no pré-teste, atribuímos a cada aluno um nível
de demonstração6 de cada indicador de pensamento crítico em cada questão específica,
correspondente às etapas da Metodologia da Problematização. Os dados obtidos e
transportados para as planilhas com os respectivos pesos atribuídos a cada indicador, em
cada etapa (Anexo 8), foram analisadas e obtivemos os resultados demonstrados na Figura
5, a seguir.
6 Os níveis de demonstração de pensamento crítico do Formulário para Avaliação dos Indicadores de
Pensamento Crítico são: 1 – Não demonstra; 2 – Demonstra grau insuficiente/fraco/baixo; 3 –Demonstra grau mais elaborado/razoável/médio; 4 – Demonstra grau significativo/intenso/alto.
116
Figura 5 – Pensamento Crítico do s Aluno s no Pré-Teste
500
395
474
275
275
285
335
288
435
275
290
300
400
350
300
250
200
150
100
50
0
450A luno 11 A luno 1
A luno 2
A luno 3
A luno 4
A luno 5
A luno 6
A luno 7
A luno 8
A luno 9
A luno 10
Fonte: Planilhas de dados do pré-teste (Anexo 9).
Ressaltamos que todos os alunos que produziram e entregaram um texto
relativo ao pré-teste, foram avaliados. Mesmo não demonstrando nenhuma capacidade de
pensamento crítico ainda (com o referencial por nós utili zado), foi-lhes atribuído Nível 1 de
demonstração – Não demonstra (ver 4.4.1). Estes alunos aparecem com 275 pontos. O zero
foi destinado àqueles alunos que, estando inscritos no curso, não apresentaram nenhum
texto por escrito. Este caso, no pré-teste, não ocorreu.
Todos os alunos que se encontram acima dos 275 pontos, atingiram
apenas até o Nível 2 – no pré-teste – independente de maior ou menor peso atribuído aos
indicadores em cada etapa. Pretendemos demonstrar com isso que, de acordo com nossos
117
referenciais de análise, estes alunos manifestam alguma capacidade de pensamento crítico,
ainda que em grau insuficiente, fraco ou baixo (ver 4.4.1 - Nível 2 ).
Quatro alunos se destacaram, ficando acima dos 300 pontos, em termos
de capacidade de pensamento crítico – A4, A6, A10 e A11. Destes, dois alunos – A4 e A10
- apresentaram o Nível 2 de demonstração (maior nível encontrado no pré-teste) no
indicador de maior peso de cada etapa, sem terem tido nenhuma orientação específica ou
direcionada para isto, quais sejam: Etapa 1 – UP; Etapa 2 – R; Etapa 3 – I; Etapa 4 – A/I;
Etapa 5 – U/P (ver planilhas de dados – Anexo 9).
Os sete alunos restantes – A1, A2, A3, A5, A7, A8 e A9 - ficaram entre
275 e 300 pontos, sugerindo que havia uma certa homogeneidade entre eles, quanto ao
pensamento crítico demonstrado no início do curso, através dos instrumentos e critérios de
avaliação por nós utili zados.
5.2 Resultados Obtidos no Curso
Durante o curso, a evasão foi significativa. Dos 11 alunos que fizeram o
pré-teste, apenas cinco (A4, A6, A7, A10 e A11) - 45% - concluíram. Dos restantes, quatro
deles (A1, A3, A5 e A8) – 36% - não apresentaram nenhum aproveitamento escrito após o
pré-teste. Um aluno (A2) desenvolveu seu estudo, razoavelmente, apenas até a etapa 2, e
outro (A9), até a etapa 3, mas ambos permaneceram até quase o final do curso, acessando
todas as etapas, participando da lista e recebendo orientações. É importante salientar que
estes seis alunos que não concluíram o curso, permaneceram acessando a home page do
curso, com todas as etapas liberadas, até serem totalmente impedidos, com a suspensão das
suas senhas de acesso. Durante boa parte do curso, até quase o final, alguns ainda
continuaram solicitando tempo para a entrega dos trabalhos.
118
Insistimos muitas vezes com todos eles, para que continuassem,
ressaltando a importância da sua colaboração conosco; comunicamo-nos por telefone várias
vezes tentando motivá-los e demovê-los de desistir do curso; fomos ao encontro de quatro
alunos – dois em Brasília e dois em São Paulo – para orientação presencial, o que pudemos
realizar com apenas três. Nem assim, conseguimos evitar a falta de aproveitamento no
curso.
Retomamos as informações fornecidas pelos alunos sobre possibili dade de
acesso à rede, restrições de horário, poder de decisão no seu local de trabalho e aspectos
relativos ao pagamento do curso, com vistas a associar estes dados à falta de perseverança
para permanecerem no curso. Consideramos estes possíveis fatores, pois acreditávamos
inicialmente que seriam os principais intervenientes na motivação do aluno. Não houve
confirmação desta correspondência de causa e efeito.
A exigência para o curso era de cinco horas semanais, sendo uma hora/dia
de conexão, independente de horário. Dos quatro alunos que informaram ter acesso à rede
de casa e do trabalho, um deles afirmou não ter qualquer restrição de horário, tanto no
trabalho quanto em casa, ter total poder de decisão na empresa, e ainda ter seu curso
integralmente pago por ela. Este aluno não passou do pré-teste.
A atribuição de um valor monetário ao curso, ainda que pequeno, foi
também para uma maior valorização do mesmo por parte do aluno. Acreditávamos que,
sendo a empresa a pagar, a motivação externa seria mais forte e contribuiria para a
permanência do aluno até a conclusão do curso . Tínhamos expectativa de que as empresas
que investem em qualificação profissional, como alternativa de treinamento on-the-job
(Atherton e Greer, 1968,to no trabalho cobrassem de alguma forma uma retribuição dos
seus funcionários. Por outro lado, do indivíduo esperávamos uma espécie de compromisso
no sentido de que, se não apresentasse resultados imediatos, ao menos concluísse o curso,
correspondendo ao investimento feito. Mas isto também não se confirmou, já que três dos
alunos que desistiram, ao término do pré-teste, tiveram seus cursos totalmente pagos por
suas empresas.
O que nos pareceu ser o elemento preponderante na motivação do aluno
para permanecer em um curso desta natureza foi a capacidade individual de aprendizagem
119
autodirigida e o reconhecimento da importância deste tipo de atividade, em um nível de
compromisso. A simples consciência da necessidade de educação continuada como forma
de desenvolvimento profissional contínuo não basta, já que ela se manifestou presente no
discurso dos alunos deste curso, mas, de certa forma, esteve ausente na sua atuação. Isto
ficou muito claro para nós pelas afirmações do que eles julgavam ser um profissional da
informação de sucesso, das qualidades de um profissional da informação competente, das
atitudes proativas que deveriam ter um profissional da informação na sociedade atual etc.
Parecia claro para todos, por exemplo, que as iniciativas de educação continuada eram de
responsabili dade exclusiva deles próprios, como forma de atualização permanente, de
melhoria das suas competências profissionais etc., mas não demonstraram isso na prática.
Aqueles que tinham sua prática mais próxima do discurso foram os que concluíram o curso
em menor espaço de tempo, com melhor aproveitamento demonstrado em termos de
elaboração do trabalho e do desenvolvimento da capacidade de pensamento crítico.
Já em 1992, Garrison nos alertava sobre a importância da aprendizagem
autodirigida em cursos de educação de adultos, estabelecendo um paralelo com o
desenvolvimento do pensamento crítico. Para o autor, havia falta de um entendimento único
sobre o termo, querendo isso dizer não apenas uma forma independente de aprender mas
também uma maneira de organizar a instrução, ou ainda um atributo pessoal. Mesmo
reconhecendo os vários sentidos apresentados pelo autor, consideramos elementos
importantes no conceito a responsabili dade e o controle sobre a aprendizagem, que passam
a ser exclusivos do aluno. Vivemos independentemente, mas, como o conhecimento é
socialmente determinado, sentimos muita dificuldade de assumir total responsabili dade e
controle sobre nossa aprendizagem, já que, em uma situação de ensino a distância, estes
elementos são de ordem exclusivamente pessoal. Em situações de aprendizagem presenciais
temos uma série de mecanismos de controle que praticamente nos obrigam a freqüentar, ter
aproveitamento, assumir compromissos etc. com relação a este ou àquele curso, este ou
àquele evento, o que não acontece em uma situação de educação continuada e a distância.
Sobre isto ressaltamos o depoimento de um aluno, na avaliação final, que
nos informou ter sido para ele muito difícil estabelecer e cumprir uma rotina diária de
dedicação ao curso, mas que graças ao fato de ter insistido em cumpri-la, pôde completar
todas as etapas no prazo dado de 120 dias. Informou ainda, em outro momento, ter-se
120
disciplinado e estar pretendendo concorrer a um curso de especialização a distância,
considerando-se com uma certa vantagem em relação aos seus concorrentes.
A partir da etapa 3 – da teorização – é que foi disponibili zada a lista de
discussão, pensando-se num maior entrosamento entre os alunos, mas que na verdade se
mostrou muito mais como meio de divulgação de notícias interessantes veiculadas na
própria Internet, de endereços de sítios interessantes para o curso, de questões de interesse
geral, como piso salarial dos bibliotecários, do que propriamente um fórum de discussão
sobre problemas/assuntos do curso. Da forma como foi proposta, ou seja, como um espaço
coletivo para discussão dos problemas de cada aluno no curso, não teve receptividade. Em
raras ocasiões houve contribuição de um colega para o problema do outro. Nas poucas
oportunidades em que o professor-coordenador utili zou-se do espaço da lista com textos
para discussão sobre pensamento crítico, a reação dos alunos foi de receptividade,
elogiando a providência, mas nenhuma contribuição para discussão foi apresentada.
Uma explicação para este fato, que pode ser considerada para análise e
discussão, nos foi dada por um aluno, no momento da avaliação. Enfatizou que, se todos
estivessem trabalhando com um mesmo problema, a inter-relação aluno-aluno seria mais
efetiva. Por estar cada um envolvido com um trabalho específico no curso, além do seu
trabalho na empresa, parar para opinar e fazer sugestões no trabalho do colega demandaria
uma energia adicional que faria falta depois para dar conta das suas próprias tarefas. É uma
situação bastante particular e individualista, diferente de um espaço de sala de aula, onde
muitas vezes se discutem questões que não são propriamente de um aluno mas que trazem
um certo ganho coletivo para o processo de ensino-aprendizagem. No entanto, dentro das
premissas desta modalidade de ensino e das circunstâncias atuais de sobrecarga de
atividades em que vive a maioria dos profissionais de nível superior, nos parece
compreensível esta atitude.
Uma outra explicação para o pouco uso da lista talvez possa estar no fato
de que as orientações eram dadas individualmente através do e-mail. Uma alternativa seria
utili zá-la como o veículo principal para troca de correspondência entre os elementos do
grupo, até mesmo para as orientações individuais, uma vez que era restrita aos 11 alunos e
aos três professores. O entrosamento entre os próprios elementos do curso teria sido maior
tornando o uso da lista mais efetivo e os comportamentos menos individualistas.
121
O Web Chat, um outro recurso disponível que possibili ta conversa em
tempo real, foi ainda menos utili zado do que a lista de discussão. Poucos foram os alunos
que participaram, sendo o horário comum para conexão o impedimento maior. Houve um
único encontro com quatro alunos e o professor-coordenador. Os demais foram, na maioria,
entre um aluno e o professor. Ou às vezes, coincidentemente, encontrávamos alguém
conectado e iniciávamos um diálogo rápido, nada muito estruturado, nada muito
comprometido com o curso. Ao decidirmos introduzir um Web Chat, também a partir da
etapa 3 do curso, já tínhamos uma expectativa de que isso não tivesse muita utili dade,
considerando as características iniciais da proposta. A necessidade de um horário comum,
previamente combinado, com todos os alunos, para um encontro, contrariava a proposta
inicial de estudo baseada na premissa de que cada aluno teria o seu próprio horário de
acesso, dependendo apenas de seu interesse e disponibili dade. A dificuldade de concili ar um
horário comum para todos advinha não só de problemas decorrentes da falta de tempo para
os elementos do grupo como também de problemas de conexão. Em duas oportunidades,
com horário previamente agendado, os alunos se encontraram sozinhos porque o professor-
coordenador não conseguiu conexão devido a problemas com seu provedor de acesso. Esta
é a nossa realidade e não podemos deixar de considerá-la ainda hoje. Sabemos que
avançamos muito em termos de conexão através de provedores comerciais, mas ainda
sofremos problemas de ordem elementar quando conectados através de provedores de
instituições acadêmicas.
Os temas/problemas identificados inicialmente pelos alunos, extraídos os
elementos que permitiriam a identificação dos mesmos, bem como os temas finais, que
resultaram nos títulos dos trabalhos foram os seguintes:
A1 - “O profissional da Informação frente às novas tecnologias” (sic).
A2 e A3 - “Técnicas para estabelecer diretrizes em unidades de informação”.
A4 - “Como utilizar eficientemente a Internet na divulgação e oferta de nossos
serviços”, posteriormente redefinido como: “A Internet na divulgação e oferta de
serviços do (...)” – uma biblioteca especializada.
A5 - “Planejamento de serviços de informação que utilizem novas tecnologias”.
A6 - “Qualidade do Serviço de Pergunta e Resposta Técnica da Biblioteca (...)”- uma
biblioteca especializada – (Neste caso, a disciplina norteadora do tema,
122
segundo a aluna foi: Estabelecimento de Diretrizes em Unidades de
Informação).
A7 - “Diagnóstico do Setor de Periódicos da Biblioteca (...) visando sua automação” –
uma biblioteca universitária. Posteriormente redefinido como: “Reestruturação
do Setor de Periódicos da Biblioteca (...) visando automação através do software
SECS-BIREME”.
A8 - “Estabelecimento de Diretrizes para o Centro de Documentação visando os
critérios do Sistema de Avaliação, para obtenção do Título de CENATEC –
categoria bronze”.
A9 - “Dificuldade de mudança de cultura do usuário para a importância da informação e
os benefícios de sua utilização” (sic).
A10 - “O papel do bibliotecário em um contexto onde as tecnologias de informação,
comunicação e telecomunicações estão presentes”, posteriormente redefinido
como: “A Internet, o bibliotecário e a melhoria da qualidade e da produtividade das
organizações”.
A11 - “Estudo da imagem da Biblioteca (...) através do atendimento oferecido pelo
Setor de Referência da mesma” – uma biblioteca universitária, posteriormente
redefinido como: “Percepção dos usuários sobre os serviços oferecidos pela
Divisão de Referência da Biblioteca (...)”.
Dentre estes temas/problemas eleitos para estudo verificou-se que quatro
alunos (A2, A3, A6 e A8) identificaram praticamente o mesmo, embora não tivessem
qualquer contato. Como desde o pré-teste a orientação para a escolha/identificação do
problema foi que este tivesse como referência o conteúdo de uma das disciplinas
norteadoras do curso – pela questão da viabili dade de orientação - percebemos que o título
de uma delas: “Estabelecimento de Diretrizes em Unidades de Informação” , norteou a
escolha de 36% dos alunos, sendo que um deles – A8 – elegeu exatamente o mesmo e um
outro – A6 – mesmo tendo eleito um problema mais específico – “Qualidade do Serviço de
Pergunta e Resposta” – informou ter a disciplina como norteadora. Isso nos permite inferir
que, se por um lado, faltou criatividade aos alunos ao atribuírem/identificarem um título
para seu problema, optando por copiar o título da disciplina, por outro a mesma representa
uma temática importante na realidade desses profissionais.
123
As orientações, como já enfatizamos, foram dadas individualmente, muito
mais através de perguntas do que de respostas prontas, mas ainda assim destacamos que o
aluno A9, que intitulou o seu problema “Dificuldade de mudança de cultura do usuário
para a importância da informação e os benefícios de sua utili zação” (sic), foi durante todo
o processo questionado: o que você entende por essa afirmação? O que você quer dizer
com mudança de cultura? É necessário definir, explicar. Vamos esclarecer o seu problema
para melhorar o seu enunciado? Você não acha que seu problema está solto? Você não acha
importante associá-lo aos seus objetivos, às características e ao funcionamento da sua
Unidade?
Este aluno, mesmo tendo chegado até a etapa da teorização, e com todos
os questionamentos do orientador, feitos desde a etapa 1, não alterou em nada o seu texto.
Não houve registro de que ele tivesse acatado qualquer orientação dada. Como pode ser
verificado adiante – Figura 7, ele foi até a terceira etapa e apresentou um desenvolvimento
pouco significativo (275 pontos no pré-teste e 328 após o curso).
Os cinco alunos que concluíram o curso tiveram, ao nosso ver, um
desenvolvimento além do esperado no que diz respeito aos textos apresentados,
comparativamente com o pré-teste, resguardadas as peculiaridades de cada momento.
Quanto ao aproveitamento dos alunos durante o curso, é possível
demonstrar através dos próprios textos dos seus trabalhos – que não estão incluídos aqui
neste relatório, mas serão disponibili zados oportunamente na Internet. Ressaltamos que
todas as mensagens enviadas e recebidas durante todo o curso foram gravadas e
armazenadas em arquivos impressos e eletrônicos e utili zadas para comporem, juntamente
com os textos, os índices dos indicadores de pensamento crítico demonstrados pelos alunos,
quando necessário.
Através dos relatos dos cinco alunos que concluíram o curso, nas
entrevistas finais de avaliação, ressaltamos que quatro deles não possuíam nenhuma
experiência semelhante, anterior a esta. Destes quatro, um informou que dois motivos o
levaram a se interessar pelo curso – o tema e uma inquietação em relação aos cursos a
distância, que era: “se aprende em cursos a distância?” E ao final ele pôde responder: “Sim,
vi que realmente se aprende e que a metodologia me permitiu ir para onde eu quisesse,
124
desde que me preparasse para tal” . O aluno que informou já ter tido experiência anterior,
em um curso pela Internet, insistiu em reforçar que tinha sido totalmente diferente. Além de
não ter a “exigência” deste, era um curso informativo sobre uso de um software de
navegação na rede, sem muito compromisso, já que não exigia um retorno das tarefas
cumpridas. Os alunos desenvolviam suas atividades de treinamento sem a preocupação com
o feed-back do professor. As dúvidas eram sanadas também individualmente através de seus
e-mails, e a lista de discussão era usada mais como um fórum de bate-papo entre os alunos
do que para tirar dúvidas relativas ao conteúdo do curso.
Quanto ao interesse pelo curso, todos afirmaram ter sido o tema o motivo
maior de interesse; e quanto às expectativas antes e ao final do curso, foram unânimes em
afirmar que, ao iniciar, esperavam trabalhar item por item os conteúdos das disciplinas
norteadoras do curso, com aulas “mastigadas” e ainda, com um tema único para ser
desenvolvido como trabalho final. Apesar de todos afirmarem não ter sido frustrante
perceber que estavam errados, e sim compensador pelo que conseguiram desenvolver,
alguns informaram ter tido dificuldade em prosseguir, em entender e/ou “ incorporar” a
metodologia no seu trabalho; outros demonstraram ter tido momentos de desinteresse pelo
curso, relatando: “achei que não me levaria a lugar nenhum, por exemplo, no pré-teste. Só
quando obtivemos a orientação do arco, me senti mais motivada a continuar e a entender
o processo e vislumbrar onde eu poderia chegar” .
Sobre a contribuição do curso para o profissional e para o indivíduo,
todos informaram estar saindo do curso com uma postura mais crítica, através de
depoimentos do tipo:
A10 - “me possibilit ou questionar o papel do bibliotecário como
profissional da informação no contexto atual e me ajudou a convencer as
pessoas de que somos mais importantes do que nunca. (...) Senti maior
segurança ao demonstrar o produto (o trabalho final desenvolvido pelo
aluno) para meus superiores. Me senti com um poder de persuasão que
até então eu desconhecia. Fiz um trabalho de leitura e discussão dos
textos com os elementos da minha equipe e isso possibilit ou um
conhecimento que eu não tinha de que o que eu estava fazendo estava de
acordo com a literatura” .
125
A4 – “associo o pensamento crítico com problemas e em várias situações
eu tenho usado esse mecanismo de raciocínio de olhar para frente, olhar
para trás. (...) estou sempre aberto às novas informações e essa maneira
de vocês levarem a gente a procurar coisas novas achei muito
interessante. (...) Volto a insistir na questão do olhar para frente, olhar
para trás. Tenho feito isto sempre em reuniões, por exemplo, quando
estamos trabalhando com problemas” .
Sobre isso particularmente é interessante comentar a adequação da
Metodologia da Problematização com o desenvolvimento do pensamento crítico. Mais de
um aluno comentou como positiva esta característica da metodologia, qual seja, a
possibili dade de rever a etapa anterior e reelaborar. E sem que os alunos tivessem acesso
aos textos lidos por nós sobre pensamento crítico, que fazem parte da nossa revisão
bibliográfica, ou a alguma referência deles, enfatizamos o trabalho de Nurius (1995) já
citado, que explica o pensamento crítico em três dimensões: a da compreensão, a da
aplicação e a da geração, onde estão presentes respectivamente as habili dades para: mover-
se mentalmente para trás e para a frente entre conceitos, línguas, funções etc. de muitas
facetas; usar construtivamente observações críticas no reconhecimento das limitações e/ou
das fraquezas e engajar na solução do problema e por último, na dimensão geradora, a
habili dade para criar, movendo-se através do que é para ver e contribuir com o que pode
ser.
Outro aluno também informou já ter tido experiência de estudar sozinho e
que, por isso, a rotina, a responsabili dade e o controle pelo seu aprendizado já haviam sido
aprendidos anteriormente. Estes dois alunos citados foram os que apresentaram maior
rendimento em termos de participação e de contribuição aos colegas, bem como os
melhores textos escritos e os maiores índices obtidos nos indicadores de pensamento crítico
(alunos A4 e A10 – Fig.6).
De posse dos textos entregues pelos alunos, ao final do curso, das
observações anotadas durante o processo sobre as formas como os alunos acataram as
sugestões feitas, como responderam/enviaram mensagens, como tomaram suas decisões,
como interagiram no curso, com os colegas e com os professores, enfim, com todos os
dados registrados à mão, tomamos novamente o Formulário para Avaliação dos
126
Indicadores de Pensamento Crítico e analisamos o grau de demonstração de cada
indicador em cada etapa do curso. Os resultados podem ser visualizados na Figura 6, a
seguir.
Figura 6 – Capacidade de Pensamento Crítico do s Aluno s
Demonstrada no Curso
1200
1000
800
600
400
200
0
Aluno 1
A luno 2
A luno 3
A luno 4
A luno 5
A luno 6A luno 7
A luno 8
A luno 9
A luno 10
A luno 11
883
1074
328
602
680
948
331
0
0
00
Fonte: Planilhas de dados do Curso (Anexo 10).
Os cinco alunos concluintes – A4, A6, A7, A10 e A11 estão acima dos
600 pontos, portanto, comparativamente com o pré-teste – Figuras 7 e 7A– obtiveram um
127
ganho bruto de 300 pontos em média. Os alunos A2 e A9 que só cursaram até as etapas 2 e
3 respectivamente, apesar de continuarem no curso até o final, não apresentaram
rendimento nas etapas subseqüentes, tendo nível 1 – ausência de demonstração (item 4.4.1)
– em todos os indicadores nas etapas não concluídas, e portanto, apresentaram um valor
pouco significativo em termos de desenvolvimento de pensamento crítico.
Figura 7 – Comparação do s Dados de Pensamento Crítico do s
Aluno s no Pré-Teste e no Curso
1200
1000
800
600
400
200
0
883
1074
328
602
680
948
331
0
0
00
300 290
275
435
288
335285
275
275
474
395
Pré-Teste Curso
Fonte: Planilhas de dados do Pré- Teste e do Curso (Anexos 9 e10).
128
Como se observa na Figura 7 os alunos que não apresentaram nenhuma
etapa após o pré-teste, e portanto, se situam na posição zero (A1, A3, A5 e A8),
comprometem a visualização do gráfico em termos de área de abrangência. Devido a isso, o
gráfico de barras da Figura 7A, na página seguinte, nos parece mais elucidativo.
129
Fig
ura
7A
– C
om
par
açã
o do
s D
ado
s d
e P
ensa
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to C
ríti
co d
os
Alu
nos
no P
ré-T
este
e n
o C
urs
o
331
948
680
602
328
1074
883
300
290
275
435
288
335
285
275
275
474
395
0000 020
040
060
080
010
0012
00
1234567891011
Cu
rso
Pré
-Te
ste
Font
e: P
lani
lhas
de
dado
s do
Pré
-Tes
te e
do C
urso
(Ane
xos
9 e
10)
130
Nas Figuras 8 e 8A a seguir, podemos visualizar os resultados obtidos
apenas com os cinco alunos concluintes, o que nos permite uma idéia melhor de abrangência
e ainda afirmar que, se no início do curso tínhamos uma certa homogeneidade entre os
alunos, quanto à capacidade de desenvolvimento de pensamento crítico por eles
demonstrados, ao final, podemos concluir, através dos dados, que quanto maior o índice
identificado no início – pré-teste – maior foi seu desenvolvimento, em termos de
pensamento crítico, após o curso.
Se tomarmos os valores de entrada dos cinco alunos: A4 = 434; A6 =
335; A7 = 285; A10 = 474 e A11 = 395 e os colocarmos em uma ordem de classificação,
veremos que a mesma ordem se mantém nos dois momentos – pré-teste e pós-curso; o
aluno A10 em primeiro lugar e o A7 em último. Após o curso, o acréscimo para o último
lugar foi de 317 pontos, enquanto que para o primeiro, foi de 600 pontos.
Figura 8 – Comparação do s Dados dos Aluno s Concluintes
1200
1000
800
600
400
200
0
883
948
1074
602
680
435
335
285
474
395
A4
A6A11
A7A10
Fonte: Planilhas de dados do Pré-Teste e do Curso (Anexos 9 e 10).
131
Figura 8A – Comparação do s Dados dos Aluno s Concluintes
680
1074
435
335
285
474
395
948
602
883
0 200 400 600 800 1000 1200
A4
A6
A7
A10
A11
Curso Pré-Teste
Fonte: Planilhas de dados do Pré-Teste e do Curso (Anexos 9 e 10).
Com isso podemos afirmar que os efeitos estimuladores do curso para o
desenvolvimento do pensamento crítico são maiores para aqueles que têm mais habili dades,
ou seja, quanto maior o desenvolvimento do indivíduo em termos de pensamento crítico no
início, maiores as chances de ele sair-se mais bem ao final.
Ressalta-se ainda que o aluno A10 teve Nível 4 de demonstração no
indicador de maior peso de cada etapa, quais sejam: Etapa 1 – U/P; Etapa 2 – R; Etapa 3 –
I; Etapa 4 – A/I; Etapa 5 – UP (ver planilhas - Anexo 10).
Novamente enfatizamos que não houve, em nenhum momento do curso
(incluindo o pré-teste), um direcionamento ou uma estimulação diferenciada para um ou
outro indicador, independente do peso que ele tivesse na etapa, mesmo porque, até esse
momento desconhecíamos esse potencial do instrumento de análise. Só tivemos o
instrumento de avaliação dos indicadores totalmente pronto e adequado ao estudo após
alguns alunos – dois deles – já terem concluído o curso. O processo de elaboração do
instrumento deu-se paralelo ao andamento do curso.
132
Com isso pretendemos enfatizar que, mesmo não tendo o instrumento de
análise dos dados pronto e adequado ao estudo antes de iniciarmos o curso, ainda assim, a
fidedignidade dos mesmos foi preservada e os objetivos iniciais da pesquisa alcançados com
sucesso.
Abordaremos mais estes aspectos, buscando enriquecer a discussão dos
dados, no próximo item.
5.3 Discuss � o dos Resultados
Iniciamos a discussão tentando justificar, de certa forma, nosso pequeno
número de alunos. Considerando um pressuposto da educação a distância do início desta
década “a EAD só se justifica quando a quantidade de pessoas com uma necessidade
educativa é suficientemente grande que torna impossível ou ineficiente o uso de métodos
de educação presencial (Díaz Bordenave, 1990, p. 29), entendemos que o mesmo não se
aplica à situação de ensino deste curso, principalmente por se tratar de educação continuada
a distância como forma de desenvolvimento profissional contínuo, e ainda, envolvendo
investigação. Pelo investimento feito e pela finalidade do curso, trabalhamos com um
número pequeno de alunos, mas que pode ser considerado suficiente numa situação
experimental como esta.
Ao utili zarmos o rádio ou a televisão para educação a distância, por
exemplo, teremos um canal de comunicação que deixará de transmitir sua programação
normal para introduzir o curso, havendo substituição da função tradicional destes veículos.
Neste caso, o investimento, em termos de custo é muito maior. Portanto, deve atingir uma
clientela numericamente significativa para justificar-se.
Nossa experiência mostrou que além de utili zarmos um meio que está
disponível para quem quiser utili zá-lo e no momento do interesse e da disponibili dade
individual, não havendo portanto, prejuízo de outras propostas paralelas, o atendimento a
133
um número maior de alunos inviabili zaria o curso devido à grande quantidade de tarefas do
professor-coordenador, oriundas da natureza individual da temática desenvolvida. Neste
caso, o custo fica relativizado em função das características qualitativas da proposta e da
necessidade de estarmos, durante todo o tempo, assumindo uma postura de orientação
diferente da prática profissional cotidiana, sempre orientando alunos em termos do como e
do porquê de fazer ou não determinada atividade cuja responsabili dade e controle são dele
próprio. Tínhamos, a todo momento, que estar atentos para o objetivo do nosso estudo
além de não nos distanciarmos dos indicadores de pensamento crítico, orientando os alunos
mais com perguntas do que com respostas prontas, com o extremo cuidado de não induzi-
los, de não direcioná-los e sim, de possibili tar o desenvolvimento das habili dades que
buscávamos.
A questão do tempo para o desenvolvimento do curso é outro aspecto
que deve ser discutido. Nossa previsão inicial se mostrou totalmente inadequada refletindo
nossa inexperiência na área. Previmos iniciar o curso em junho de 1997 e concluí-lo até
outubro do mesmo ano. Iniciamos na data prevista mas só concluímos em outubro de 1998.
Portanto, programamo-lo para cinco meses e concluímo-lo em 17, mas com a certeza de
que, ao considerarmos o que buscávamos, ou seja, o desenvolvimento de habili dades e não
a assimilação de conteúdos programáticos e com as condições existentes, não poderia ter
sido diferente.
Possivelmente a necessidade de extensão do tempo tenha-se dado também
em função da falta de responsabili dade e controle por parte dos alunos, pelo seu
aprendizado, já que a maioria deles não tinha experiência prévia nesta modalidade de
ensino, e portanto, sentiram-se despreparados.
Por outro lado, consideramos ainda que esta modalidade de ensino a
distância, objetivando o desenvolvimento de habili dades específicas e não a
transmissão/aquisição de conteúdos específicos, aplica-se com sucesso e eficiência em
cursos que visem educação continuada/desenvolvimento profissional contínuo. Para outras
situações, acreditamos ser importante inserir e explorar estratégias específicas de motivação
para educação a distância, de forma a refletir diretamente sobre o desempenho dos alunos
num contexto que é alterado pela distância física. A motivação do aluno para permanecer
no curso, demonstrada na pesquisa, está diretamente relacionada à sua capacidade de
134
aprender sozinho e de autodirecionar sua aprendizagem. Para isso, os alunos devem ser
estimulados, com técnicas e mecanismos adequados, a fim de assumirem o controle e a
responsabili dade pela aprendizagem, que é quase exclusivamente deles.
O aluno que demonstrou ter consciência da necessidade de educação
continuada como um processo de aprendizagem para a vida toda, demonstrou ter mais
perseverança em situações de ensino a distância.
Sobre os recursos da própria rede Internet utili zados no curso,
destacamos que o correio eletrônico foi o de maior uso e utili dade. Praticamente todo o
processo de comunicação entre o professor-coordenador e os alunos foi realizado através
de e-mail. Muitas vezes foram utili zados os anexos (attachment) para troca de arquivos –
de trabalho dos alunos e de orientações do professor. Salientamos aqui que o uso do
correio eletrônico é qualitativamente mais indicado no mundo acadêmico - no contexto das
discussões - do que no mundo dos negócios, por exemplo, de acordo com Burton (1994).
É importante ressaltar ainda outras vantagens do uso do correio
eletrônico: a distribuição da informação é direta ou por transmissão de anexos, permitindo
assim tanto a troca de pequenas mensagens como de grandes documentos compactados; a
eliminação das distâncias geográficas; o fato de ser assíncrono é outra importante dimensão
do uso do correio eletrônico em situação acadêmica, pois permite ao receptor, em primeiro
lugar, ler a mensagem na medida da sua disponibili dade de tempo e depois, fazer
considerações sobre sua resposta, diferente da pergunta/resposta imediata, que pode ser
incompreendida/impensada, por exemplo pelo telefone ou mesmo em uma conferência
(Burton, 1994). O que não quer dizer que se eliminem totalmente as perguntas e respostas
impensadas. Estas características são válidas também para as listas de discussão que nada
mais são do que uma variante do correio eletrônico. No nosso caso específico, a lista de
discussão praticamente não teve uso.
Um outro aspecto a considerar sobre as características do curso é o fato
de não conhecermos nossos alunos e eles também não nos conhecerem. A falta de uma
fisionomia para associar aos temas desenvolvidos e às orientações dadas é muito
significativa. Há uma certa dificuldade de associar os assuntos aos alunos, vinculando
apenas aos seus nomes. Isso foi parcialmente resolvido com aqueles que enviaram fotos
135
para a página dos alunos, e também depois das visitas efetuadas para avaliação e tentativa
de mobili zá-los para o término do curso. Imediatamente estes alunos “conhecidos”
passaram a ter uma “imagem” própria e a associação do nome, fisionomia e tema foi
imediata, facili tando o processo de comunicação e orientação.
Destacamos ainda que, elementos citados na literatura como
intervenientes no processo de ensino-aprendizagem, como, por exemplo, diferenças
individuais, animosidades, preconceitos, tonalidade de voz na linguagem falada que pode
carregar sentimentos fortes de aprovação/desaprovação, amor/ódio etc. e perceptíveis para
alunos e professores em situações presenciais (Bailey e Cotlar, 1994), em situações de
ensino a distância estarão ausentes. No entanto, outros tipos de interferências, como por
exemplo, o relato de um aluno que, ao ser interpelado por um dos professores do curso,
comentando sobre uma participação sua na lista de discussão, teve um bloqueio e não
conseguiu mais participar. Temos que considerar que este fato possa ter acontecido devido
a pouca experiência de participação, em listas de discussão, pois um aspecto bastante
enfatizado na literatura é a ausência de censura; existe ainda a possibili dade de cada um
expressar livremente sua opinião, sem necessariamente saber quem são os seus
interlocutores.
Um aspecto interveniente no processo de ensino-aprendizagem, que
superou nossas expectativas foi a possibili dade de acesso aos mais variados tipos de
informação de interesse, na própria rede. Os alunos, reconhecidamente identificados como
proativos e interessados, traziam citações em seus textos de URLs muito interessantes para
o assunto que desenvolviam. Por outro lado, alunos menos participativos e desinteressados,
mesmo tratando de assunto com informação extremamente farta na rede não trouxeram
nenhuma novidade, neste sentido. Por exemplo o aluno que intitulou seu tema/problema “o
profissional da informação frente às novas tecnologias” , não consultou nem mesmo
material impresso sobre o assunto.
Merece destaque ainda a utili zação da Metodologia da Problematização
como metodologia de ensino, pois, conforme já enfatizado anteriormente, através do
confronto com a literatura, demonstrou-se perfeitamente adequada ao desenvolvimento de
pensamento crítico. Também através das falas dos alunos na entrevista de avaliação final
isso foi ressaltado. Todos os alunos concluintes enfatizaram a metodologia como alternativa
136
eficaz para estudo, e dois deles afirmaram ter mudado sua imagem perante os colegas e
superiores, após terem dominado a metodologia e incorporado o que dela apreenderam, no
cotidiano de suas vidas profissionais. Um dos alunos - A11 - fez questão de registrar que
antes de conhecer a metodologia lhe faltavam argumentos, muitas vezes, diante dos seus
superiores, mas depois, os seus superiores é que não conseguiam demovê-lo de uma idéia,
pois ele trazia tudo documentado e previamente analisado, ainda que como exercício
mental. Ressaltou ainda que o seu trabalho, desenvolvido como produto final do curso, foi
amplamente divulgado e elogiado na empresa, e que a possibili dade de interferir na sua
realidade, transformando-a, foi bastante compensadora em temos profissionais. De
semelhante teor foi o depoimento do aluno A4, que também interferiu positivamente na sua
realidade de trabalho, resultando em certas compensações em termos profissionais. Este
aluno relatou ainda ter desenvolvido uma nova postura profissional, tendo sido notado por
seus superiores nas reuniões de diretoria, bem como por seus subordinados.
Ao pretendermos, durante todo o processo, que ao final os alunos
efetuassem alguma transformação na sua realidade de trabalho, com atuação direta nesta, e
com isso, ao completarem o processo, fossem estimulados a desenvolverem o pensamento
crítico medido através dos indicadores utili zados, podemos afirmar que, como orientadores,
também passamos por uma transformação bastante significativa. Conseqüentemente, se
iniciássemos hoje nossa proposta de tese, teríamos com certeza, outro encaminhamento,
outra postura nas orientações e outros resultados. Este para nós foi um dos aspectos
importantes do trabalho desenvolvido. Neste sentido, Axt e Fagundes reforçam que
“ ... as mudanças pretendidas nos (...) programas de informáticaeducativa são muito mais substanciais do que se possa pensar – elaspressupõem mudanças de paradigma, estas concretizando-se na própriapráxis pedagógica, seja ela relativa à docência ou à supervisão. Pois,como pretender observar e avaliar mudanças de comportamentosresultantes de desenvolvimento cognitivo se não passarmos também portais mudanças? e, se não passamos pelo processo, como reconhecerquando o aluno passa? como aprender a provocá-lo?” (1996, p. 132).
Podemos afirmar que atingimos nossos objetivos quando conseguimos
demonstrar em primeiro lugar, que desenvolvemos uma alternativa de ensino em ambiente
de aprendizagem assistido por computador, a distância, via Internet, a qual promoveu o
desenvolvimento de pensamento crítico, para profissionais da informação, mediante o uso
137
da Metodologia da Problematização (nosso objetivo específico 1, p. 14). Mesmo os alunos
que apresentaram um pequeno referencial de pensamento crítico no início do curso,
conseguiram avançar na capacidade de desenvolver pensamento crítico, ou seja todos os
alunos concluintes tiveram um ganho com o curso, neste aspecto.
Em segundo lugar, buscamos indicadores de pensamento crítico na
literatura internacional e elaboramos, com a associação de diferentes modelos teóricos, um
Formulário para Avaliação de Indicadores de Pensamento Crítico, totalmente voltado
para esta realidade de pesquisa, através do qual pudemos demonstrar que tais indicadores se
mostram capazes de contribuir para a caracterização de perfis de desenvolvimento de
pensamento crítico também na nossa realidade brasileira (nossos objetivos 2 e 3, p.14). Este
formulário é passível de adaptações, sempre que se fizerem necessárias, para aplicação em
outras situações de ensino visando o desenvolvimento do pensamento crítico.
Por último, conseguimos demonstrar quais resultados, em termos de
desenvolvimento de pensamento crítico, podem ser obtidos em cursos a distância para
profissionais da informação via Internet, através da Metodologia da Problematização, e com
estes resultados, afirmar que é possível desenvolver pensamento crítico nestas condições,
respondendo afirmativamente à questão formulada no nosso problema inicial de pesquisa.
Com os resultados alcançados podemos afirmar que quanto mais
condições nossos alunos tinham ao entrar no curso, maior desenvolvimento tiveram, em
termos de capacidade de pensamento crítico.
Neste sentido, retomamos para discussão autores que sugerem que o
pensamento crítico pode ser alicerçado em áreas especificas e que é subjetivo. Ou seja, o
indivíduo que pensa criticamente em uma área do conhecimento não fará o mesmo em outra
área desconhecida e mais, não se pode pensar criticamente em todas as áreas do
conhecimento, pois para tanto é necessário inteirar-se dos princípios básicos, das
convenções, das peculiaridades etc. de cada área (Mc Peck, apud Bodi, 1988).
Contrapondo-se a isto, há aqueles que argumentam que os pensadores críticos possuem
certos traços e atitudes característicos, que podem ser transportados de um campo ou
disciplina para outro, ou seja, que um pensador crítico pensa criticamente em todas as áreas,
já que, os elementos essenciais do pensamento crítico, segundo eles, incluem certa
138
facili dade para questionar os pressupostos, habili dade para reconhecer quando é necessário
questionar e habili dade para realizar avaliações e análises de maneira racional, independente
de ser sobre uma ou outra área do conhecimento (Furedy e Furedy, apud Bodi, 1988.
Os resultados obtidos nesta pesquisa, nos levam a pensar que ambas as
correntes de pensamento acima estão em parte corretas. A capacidade de pensar
criticamente pode, sim, ser uma característica de qualquer pessoa em qualquer área, mas
envolve necessariamente um processo gradativo de apropriação dos princípios, convenções,
peculiaridades etc. de cada uma. Sem contudo, desconsiderar que, quanto mais se tem essa
capacidade mais se pode desenvolvê-la. O processo é evolutivo, necessitando
constantemente de aprimoramento das idéias já apropriadas, experimentação de novas
idéias, disposição para correr riscos, para realizar análises racionais profundas, para rever
pressupostos já enraizados, elementos estes necessários ao desenvolvimento da
independência e da competência em qualquer área.
Estas características também estão presentes na fundamentação teórica da
Metodologia da Problematização, por nós utili zada neste estudo.
Partimos da preocupação inicial com a formação do profissional da
informação na sociedade atual em constante desenvolvimento e da conseqüente necessidade
do desenvolvimento profissional contínuo como alternativa para atualização constante do
indivíduo, capacitando-o a enfrentar os desafios e as exigências do mercado de trabalho
nesta sociedade.
Como alternativas para o desenvolvimento profissional contínuo ou para a
educação continuada no contexto das tecnologias de informação hoje existentes, pensamos
em um curso a distância, via Internet.
Mas isso só não nos satisfazia e assim, buscamos encontrar um diferencial
qualitativo que pudesse e tivesse condições de ser apresentado neste contexto.
Vislumbramos a possibili dade de trabalhar com algo que possibili tasse desenvolver
habili dades de raciocínio de ordem superior diferencial qualitativo. E qual habili dade? _ A
do pensamento crítico.
139
Ao identificarmos na literatura os indicadores de pensamento crítico de
Newmann, Webb e Cochrane (1995), passamos a buscar os pressupostos teóricos dos seus
estudos e chegamos aos originais de Garrison (1991) e de Henri (1991). Após análise de
toda a literatura encontrada decidimos trabalhar com estes indicadores já citados porque
estávamos convictos de que eles contemplavam a grande maioria das habili dades indicadas
pelos teóricos da área. Não seria o caso de acrescentar novos indicadores, mas
simplesmente adequar os mencionados para cada situação objeto de nossa investigação,
fazendo uso do questionamento: que habili dades, destrezas, características, atitudes,
hábitos, traços etc. um pensador crítico possui? Imbuídos deste espírito passamos a elaborar
o instrumento de análise. Percebemos, por exemplo que a criatividade é um elemento
bastante citado nos estudos sobre pensamento crítico e que não estava contemplada nos
indicadores. No entanto, está contemplada no nível mais complexo de demonstração, pelo
alunos, dos diferentes indicadores, no instrumento que elaboramos.
Bem, faltava então o como fazer isso – e decidimos que seria através da
Metodologia da Problematização. Mais uma vez, a decisão se baseou no estudo da
literatura e, como já demonstramos anteriormente, na percepção de uma harmonia muito
grande dos pressupostos teóricos do pensamento crítico com os da Metodologia da
Problematização, numa correspondência quase que perfeita entre os níveis e estágios de
pensamento crítico e as etapas da Metodologia da Problematização (Figura 2, p. 72).
De posse de tudo que já tínhamos, passamos a buscar muito mais.
Tínhamos nosso problema, nossos objetivos e a fundamentação teórica que necessitávamos,
com as diversas nuances, com os diferentes aspectos necessários para iniciar a nossa
elaboração. Agora, após um trabalho árduo, muitas vezes tendo pensado em parar tudo,
aqui estamos, concluindo um processo de investigação que para nós tem um significado
maior, qual seja: constatar, com muito entusiasmo que, se ao iniciarmos, tínhamos apenas
intuitivamente uma convicção de que desta forma conseguiríamos ir adiante e demonstrar o
que pretendíamos, ao final pudemos constatar que fomos felizes ao eleger nosso referencial
teórico no que diz respeito tanto aos níveis e estágios de pensamento crítico, quanto aos
seus indicadores e ainda, quanto à metodologia eleita.
Não só empiricamente como também cientificamente conseguimos chegar
a um resultado altamente positivo. O modelo aqui desenvolvido, se não é passível de
140
utili zação imediata em outras situações de ensino, as adaptações necessárias, daqui para
frente, serão mínimas. A maior dificuldade encontrada no decorrer da pesquisa foi
chegarmos a um instrumento apropriado para medir a capacidade demonstrada pelos
alunos, de desenvolvimento do pensamento crítico. Capacidade esta necessária para todo e
qualquer indivíduo na sociedade atual, mas especialmente para os bibliotecários, os
profissionais da informação por excelência.
Sentimo-nos, ao término da pesquisa, imbuídos da vontade e da
capacidade para, através de uma situação de ensino-aprendizagem, desenvolver habili dades
de raciocínio de ordem superior, tal como o pensamento crítico, como modalidade de
ensino a distância, e também presencial. Não só para gerentes de informação preocupados
em buscar e conseguir o que uma carreira profissional exige e, portanto, engajados com o
desenvolvimento profissional contínuo, mas também para todas aquelas pessoas
preocupadas com a educação continuada como instrumento de qualidade de vida, como
forma de estudar a vida toda para se tornar cada dia melhor, no campo intelectual e
humano.
141
A INVESTIGA ��� O DEVE CONTINUAR
As considerações anteriores, tomadas como importantes e conclusivas, só
foram possíveis ao final da investigação como já enfatizamos. Temos clareza de que nossa
proposta de tese chegou ao seu final mas a investigação não se encerra. Ao contrário,
sugere novas investigações. E a julgar pelo que concluímos e aprendemos com nossos
alunos, agora sabemos um pouco mais; portanto teremos condições de aprender mais
também.
Se, por um lado, a insegurança inicial que tivemos com apenas uma lista
de indicadores de pensamento crítico (Figura 3, p.74), sem qualquer outro referencial ou
alternativa de como dar o passo seguinte, nos desafiou para continuarmos e por isso,
aprendemos com o processo, por outro lado, hoje temos a segurança e a convicção de que
nossa elaboração para análise se mostrou bastante adequada para o que pretendíamos
demonstrar. Neste momento, percebemos que a possibili dade de direcionar o
desenvolvimento de determinados indicadores desejados, através de orientações
estimulantes e motivadoras, visando aumentar o nível/capacidade de desenvolvimento do
pensamento crítico nos indivíduos é fantástica.
Com base nisso e reconhecendo as limitações inerentes a um único
experimento, ainda que com todos os pontos positivos realçados, temos a clareza de não
podermos generalizar nossos dados, em função de tudo o que já enfocamos. A
generalização só será possível a partir de novas pesquisas que se fazem necessárias. Após os
resultados de outras pesquisas, com elaborações semelhantes, a partir do referencial teórico
aqui utili zado, poderemos com certeza estabelecer parâmetros de comparação e
generalizações.
Para finalizar este trabalho, queremos salientar algumas consideraçõs que
poderão ser norteadoras de novas pesquisas no assunto:
142
Estender o estudo para outras situações de ensino a distância bem como
em situações presenciais, como forma de educação continuada e visando desenvolvimento
de habili dades ou de conteúdos específicos, tendo em vista todos os aspectos - negativos e
positivos - desta experiência, no sentido de investir esforços para diminuir/eliminar os
negativos e aumentar os positivos.
Avaliar os resultados advindos de técnicas de motivação e de dinâmica de
grupo em cursos com estas características. Se por um lado podem trazer resultados
compensadores em termos de uma maior inter-relação aluno-aluno, por outro, há que se
considerar a viabili dade do tempo necessário para conclusão dos mesmos. Pela nossa
avaliação, apenas em um nível de observação empírica, acreditamos que, da forma como foi
proposto o curso aqui relatado, se tivéssemos tais dinâmicas, teríamos aumentado o seu
tempo de duração, já que cada aluno foi orientado a trabalhar com problema específico da
sua realidade e assim eles o fizeram. A necessidade de interagir com o grupo, poderia,
usando a fala de um aluno, demandar uma energia adicional, que, em termos de tempo de
duração, poderia ser comprometedora para o nosso estudo.
Verificar a possibili dade de desenvolver domínio de conteúdos juntamente
com a capacidade de pensamento crítico. Neste caso, o domínio de conteúdo apareceu
como resultado paralelo, ainda que não intencionalmente direcionado no estudo.
Desenvolver uma habili dade de raciocínio de ordem superior, tal como o pensamento crítico
e ainda o domínio de conteúdo, não teria um valor considerável como proposta alternativa
de educação continuada para nossos egressos?
Analisar o potencial dos recursos disponíveis e acessíveis para a maioria
dos usuários da rede Internet hoje. Os recursos básicos, usados nesta pesquisa, estão cada
vez mais acessíveis e representando um custo menor. Com isto, a possibili dade de seu uso
em situações de ensino-aprendizagem parece estar aumentando a cada dia. Não seria o
caso, portanto, de buscar alternativas para melhorar o uso que se faz da rede atualmente e
aumentar as possibili dades de educação para todos? Retomamos aqui a idéia do presidente
da Internet Society, em 1996, quando enfatiza que as tecnologias hoje existentes não
possibili taram ainda a invenção de um “V-chip” cognitivo para distinguir a verdade da
ficção, o joio do trigo, mas que há uma ferramenta para usar neste caso que é o pensamento
143
crítico. Portanto, aliar o desenvolvimento do pensamento crítico ao uso da Internet em
situações de ensino-aprendizagem nos parece atual e necessário.
Testar a utili zação da Metodologia da Problematização em outras
situações de ensino, buscando o desenvolvimento do pensamento crítico e contribuindo
para maior utili zação dos resultados obtidos. Hoje vemos o esquema do arco, de Maguerez,
no qual se baseia a Metodologia da Problematização, como uma espiral, já que a
possibili dade de idas e vindas nas suas cinco etapas mostrou ser o seu forte, neste estudo. A
possibili dade de voltar, rever e reelaborar, se necessário, a etapa anterior, à medida que se
esclarece mais e se domina a etapa seguinte, encerra um processo muito rico de aquisição
de conhecimento e desenvolvimento. Tivemos a oportunidade de constatar que a
metodologia se mostrou eficiente não só para o desenvolvimento do pensamento crítico,
como também para a aquisição e elaboração de conteúdo e ainda, para mudança de atitude,
segundo relato de alguns alunos.
Por último, realçamos a possibili dade agora de, com este referencial
teórico, utili zar o instrumento de análise de dados desde o início do estudo, buscando
identificar qual indicador deve ser mais valorizado em cada etapa e, a partir daí, direcionar
as orientações no curso, estimulando o desenvolvimento de cada um deles. Sabemos que os
resultados poderão ser extremamente positivos em termos de aquisição da capacidade de
pensamento crítico. Isto não é desafiador? E, se chegamos ao resultado de que, quanto mais
se tem esta capacidade, mais aumentam as possibili dades de adquiri-la, podemos inferir que,
em todo e qualquer nível de ensino ela poderá trazer contribuições significativas,
melhorando nossas possibili dades intelectuais, nossas oportunidades de estudo, de ensino,
de aprendizagem e de trabalho, reforçando a adequação deste modelo como alternativa de
desenvolvimento profissional contínuo, com algum diferencial de qualidade.
Se iniciamos nossa proposta de pesquisa preocupados com a educação
continuada dos profissionais da informação, na sociedade atual, como forma de melhorar
seu desenvolvimento profissional, concluímos com a esperança de ter trazido alguma
contribuição neste sentido, ao associarmos a isto a possibili dade de desenvolvimento da
capacidade de raciocínio crítico.