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UFCD 3539 –Deontologia e Ética Profissional Início a 18 de julho e término a 27 de julho de 2013. Duração: 25 horas Formadora: Sophie Pires E-mail: [email protected]

UFCD 3539 – Deontologia e ética

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UFCD 3539 –Deontologia e Ética Profissional

Início a 18 de julho e término a 27 de julho de 2013.

Duração: 25 horas

Formadora: Sophie Pires

E-mail: [email protected]

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Índice

1 – Objetivos.......................................................................................2

2 – Introdução ao módulo...................................................................3

3 - Os princípios fundamentais:

1. A ética e a deontologia profissional.................................................5

i) Como enfrentar conflitos institucionais........................................6

ii) Código ético e deontológico dos Agentes de Geriatria...................9

2. Atos lícitos e ilícitos......................................................................15

3. Os atos legítimos e ilegítimos........................................................15

4. A responsabilidade do Agente de Geriatria......................................16

5. Sigilo profissional.........................................................................17

4 – Direitos da pessoa humana:

1. Direito da pessoa humana e da pessoa idosa, em particular.............19

2. A vida e a morte..........................................................................21

i) O que é a morte.....................................................................21

ii) O medo da morte...................................................................22

3. O agente em geriatria e a morte...................................................23

i) Etapas do processo da morte e do luto......................................23

ii) Meios para reforçar a vida dos idosos........................................24

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Nota: Os conteúdos persentes no manual estão em conformidade com a

planificação programática do módulo estando, por isso, sujeitos a alterações

no decorrer das sessões.

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Objetivos:

Objetivo geral:

• Dotar os formandos de competências ético-profissionais e saber

reconhecer a sua importância no posto de trabalho.

Objetivos específicos:

• Reconhecer e aplicar os princípios fundamentais da deontologia e ética

profissional, na função de acompanhamento de pessoas idosas.

Reconhecer e respeitar os direitos da pessoa humana.

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2 – Introdução ao módulo.

O presente manual pretende constituir uma ferramenta funcional de

trabalho para os formandos de “Ética e Deontologia”. Tem o intento de

servir como instrumento de consulta no decorrer da atividade profissional do

agente de geriatria, sempre que sinta necessidade de recorrer ao suporte

bibliográfico para o seu desempenho.

De um modo pragmático, com uma linguagem clara e concisa,

pretende-se que os formandos, que trabalham ou venham a desenvolver

funções na geriatria, conheçam os conceitos e metodologias de trabalho mais

eficazes para aplicar na área da institucionalização de pessoas idosas.

Atribuem-se, na atualidade, varias designações ao séc. XXI, contudo,

parece pertinente denomina-lo o “século dos idosos”. O nosso mundo

caracteriza-se pela era da longevidade, logo, suscita diversos problemas e

desafios à nossa sociedade.

O envelhecimento da população portuguesa fez emergir consequências

de várias ordens, mas não significa que, por si só, que seja algo negativo.

Desta forma, pretende-se que este manual possa ser um pequeno

contributo para ao tema da 3.ª idade, bem como mais apreciado e estimado

ganhando maior importância na sociedade atual.

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3 - Os princípios fundamentais:

• A Ética e a Deontologia Profissional:

Existem conflitos éticos nos cuidados que envolvem o contacto com o

próximo, não só na esfera científica ou de investigação. Estes existem no

cuidado dos idosos em situações que vão desde a dinâmica do dia-a-dia como

em situações de maior complexidade.

O termo ética tem origem no grego “ethiké” ou do latim “ethica”,

vinda da filosofia como objetivo o juízo de apreciação que distingue o bem e

o mal, o comportamento correto e o incorreto. Os seus princípios constituem

como diretrizes para os humanos, enquanto sujeitos sociais, com a finalidade

de dignificar um comportamento. Os códigos de ética são, dificilmente,

separáveis da deontologia profissional pelo que é, igualmente, pouco usual

serem utilizados indiferentemente.

A deontologia deriva das palavras gregas “ déon, déontos”, que

significa dever, e “logos” que se traduz como discurso ou tratado. Assim, é o

tratado do dever ou conjuntos de deveres, princípios e normas adaptadas a

um grupo profissional. É uma disciplina da ética especial adaptada ao

exercício de uma profissão.

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Existem inúmeros códigos de deontologia, sendo esta codificação da

responsabilidade de associações ou ordens profissionais. Regra geral, os

códigos deontológicos têm por base as grandes declarações universais e

esforçam-se por traduzir o sentimento ético expresso nestas, adaptando-o, no

entanto, às particularidades de cada país e de cada grupo profissional. Para

além disso, estes códigos propõem sanções, segundo princípios e

procedimentos explícitos, para os infractores do mesmo. Alguns códigos não

apresentam funções normativas e vinculativas, oferecendo apenas uma

função reguladora.

• Como enfrentar os conflitos éticos nos lares:

No cuidado com as pessoas idosas em lares, surgem conflitos éticos.

Alguns dos que podemos encontrar são, por exemplo, os relacionados com as

diretrizes antecipadas, ou testamento vital, os maus tratos, as restrições

físicas, a tutela, a negação de tratamentos ou indicações terapêuticas e a

oportunidade ou não de persuasão, assim como quanto tem que ver com as

atitudes nos cuidados e a formação adequada dos cuidadores.

Os passos aconselhados a seguir para resolver conflitos devem ser:

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Deliberação

A deliberação é um procedimento de diálogo, um método de trabalho

quando se quer abordar em grupo um conflito ético. Parte-se do pressuposto

de que ninguém é detentor da verdade moral e de uma vontade racional:

cada um dá as suas razões e está aberto a que os outros possam modificar o

seu ponto de vista pessoal.

Algumas condições para que se produza a deliberação:

• Ausência de restrições externas;

• Boa vontade;

• Capacidade de dar razões;

• Respeitar os outros quando se discorda;

• Desejo de entendimento, cooperação e colaboração;

• Compromisso.

Atrás da atitude deliberativa está um modo de conceber o conflito ético

não só como dilema, mas também como problema. Quem vê nos conflitos

somente dilemas, quando dialoga arranca de um ponto de partida fixo

(crenças, preferências…), considera as questões éticas como algo que tem

sempre de ter resposta e para as quais tem sempre de haver uma solução

apropriada, já que formula um dilema entre duas posições, defendendo-se a

que se julga mais correta. Em contrapartida, quem vê nos conflitos éticos

sobretudo problemas e não dilemas, situa-se de maneira aberta no debate

ético, considera que não tem a solução desde o início, que se pode mudar de

ponto de vista, que o ponto de chegada será decisões prudenciais e não

certezas nem soluções únicas (a ética não é matemática).

A persuasão

Frequentemente, ao cuidar-se das pessoas idosas, é necessário

recorrer à persuasão, particularmente perante as negativas, as indicações

terapêuticas e, de modo especial, quando tal negativa tem repercussões

indesejáveis sobre terceiros ou graves consequências na saúde. Pode

acontecer que o caso seja tão simples como a pessoa idosa não deixar que a

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ajudem a tratar da sua higiene pessoal ou não querer comer ou ir ao hospital

fazer uma análise ou exame.

Se é verdade que é importante acompanhar um idoso a adoptar

estratégias construtivas, adaptativas e favoráveis ao processo terapêutico,

também não nos escapa a dificuldade que tem a persuasão por ter uma

relação tão próxima com a manipulação.

De preferência recomenda-se aos Agentes de Geriatria que evitem a

tentativa de persuadir os ajudados, dando maior importância aos processos

de tomada de decisão autónomos individuais. Caso contrário, está-se a

contribuir para o perigo de criar novas atitudes de dependência relativamente

ao ajudante, alimentando assim a imaturidade psíquica.

Na relação entre o agente e a pessoa idosa, há situações em que

podemos falar claramente de persuasão.

Está claro que, diante de um paciente que não quer lavar-se, diante de

uma pessoa que não quer abandonar atitudes antissociais, o agente terá de

adoptar estratégias de persuasão, mas com alguns critérios, entre os quais os

seguintes:

• A prudência e a humildade de quem não quer conduzir a vida dos

outros nem se considera dono da verdade;

• Acompanhamento na tomada de decisões responsáveis e saudáveis

para si mesmo e para os outros;

• Promoção do máximo de responsabilidade;

• Facilitação para que as condutas sejam adoptadas por razões que o

ajudado encontre dentro de si como válidas, ou descubra a sua

validade, embora inicialmente venha de fora;

• O segredo está:

- No peso dos argumentos em si

- Na bondade da intenção

- No modo de induzir o outro (os meios utilizados)

- Nos valores que orientam quem persuade

- No objectivo da persuasão, não centrado na lei nem na norma, mas

na pessoa e as suas possíveis repercussões sobre terceiros.

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Aqui, a relação de ajuda tem de entrar em diálogo aberto com as

posições éticas de respeito pela autonomia da pessoa idosa, em possível

conflito com os outros princípios éticos.

Convém ter sempre em atenção que, a linha divisória entre a

persuasão, a manipulação e a coerção, é muito subtil. Existe coerção quando

alguém, intencional e efetivamente, influi noutra pessoa, ameaçando-a com

danos indesejados e evitáveis tão severos que a pessoa não pode resistir a

não agir, a fim de evitá-los. A manipulação, pelo contrário, consiste na

influência intencional e efetiva de uma pessoa por meios não coercivos,

alterando as opções reais ao alcance de outra pessoa ou alterando por meios

não persuasivos a percepção dessas escolhas pela pessoa. Finalmente, a

persuasão é a influência intencional e conseguida de induzir uma pessoa

mediante procedimentos racionais, a aceitar livremente as crenças, atitudes,

valores, intenções ou ações defendidas pelo persuasor.

As pessoas persuasivas geram confiança, segurança e são

consideradas “credíveis” e “desinteressadas” e são, quase sempre, pessoas

assertivas, que sabe mover-se de maneira harmoniosa. Quanto às mensagens

“persuasivas”, é preferível que sejam explicados os motivos que levam aquela

recomendação. Se prevemos oposição ao nosso conselho, tornar-nos-emos

mais persuasivos se começarmos com os argumentos que o apoiam para, no

fim, introduzir a recomendação. Não sendo este o caso, preferiremos iniciar

sempre a nossa intervenção diretamente pelas conclusões e, depois,

argumentá-las de maneira conveniente.

Quando a opinião da pessoa idosa é radicalmente diferente da nossa e

não conseguimos convencê-la, a nossa imagem sofrerá alguma

desvalorização. O idoso não pode aguentar a contradição de nos julgarmos

melhores que ele (ou mais bem informados) e, ao mesmo tempo, pensarmos

que é ele quem tem razão. Por conseguinte, ele diminui essa contradição,

desvalorizando a imagem que tinha de nós.

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• Código ético e deontológico dos agentes de geriatria

É considerado profissional de Geriatria (adiante designado de Agente

de Geriatria - A.G.) toda a pessoa habilitada desde que legalmente

reconhecido com certificação profissional legalmente reconhecida.

A geriatria tem em consideração os aspectos deontológicos da conduta

profissional e do exercício da profissão de acordo com este código, assenta

em quatro princípios interdependentes:

Respeito Geral

Os A.G. defendem e promovem o desenvolvimento dos direitos

fundamentais, dignidade e valor de todas as pessoas. Respeitam os direitos

dos indivíduos à privacidade, confidencialidade, autodeterminação e

autonomia. No exercício da profissão o A.G. deve:

• Respeitar a diversidade individual e cultural, nomeadamente,

decorrente da raça, nacionalidade, etnia, género, orientação sexual,

1. Respeito pelos direitos e dignidade da pessoa

2. Competência

3. Responsabilidade

4. Integridade

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idade, religião, ideologia, linguagem e estatuto socioeconómico dos

idosos com quem se relaciona;

• Respeitar o conhecimento experiência de todos os idosos com quem se

relaciona;

• Respeitar a diversidade individual resultante das incapacidades dos

idosos, garantindo assim igualdade de oportunidades;

• Não impor o seu sistema de valores perante as pessoas.

Privacidade e Confidencialidade

No exercício da profissão o A.G. respeita o direito à privacidade e à

confidencialidade dos idosos. Este tem o dever de manter a confidencialidade,

e fornecer apenas a informação estritamente relevante para o assunto em

questão.

Limites da Confidencialidade

No exercício da profissão, deve informar os idosos, quando considerar

apropriado, acerca dos limites legais da confidencialidade, divulga informação

dos relatórios a terceiros quando tal lhe seja imposto com legitimidade

jurídica e, neste caso, informa, obrigatoriamente o idoso. No exercício da

profissão o A.G. tem o dever de informar, de forma compreensível para o

idoso e para terceiras partes relevantes, todos os procedimentos que vai

adoptar e obter destes o consentimento explícito. Quando a relação com o

idoso for mediada pela terceira parte relevante é a esta que compete o

consentimento informado.

Autodeterminação

No exercício da profissão o A.G. deve:

• Respeitar e promover a autonomia e o direito à autodeterminação dos

idosos; Assegurar-se de forma fundamentada que é respeitada a

liberdade de escolha do idoso no estabelecimento da relação

profissional;

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• Respeitar e promover o direito do idoso de iniciar, continuar ou

terminar a relação profissional;

• Ter em conta que a autodeterminação do idoso pode ser limitada pela

idade, capacidades mentais, nível do desenvolvimento, saúde mental,

condicionamentos legais ou por uma terceira parte relevante.

Os Agentes em Geriatria empenham-se em assegurar e manter

elevados níveis de competência na sua prática profissional.

Reconhecem os limites das suas competências particulares e as

limitações dos seus conhecimentos. Proporcionam apenas os serviços e

técnicas para os quais estão qualificados mediante a educação, treino

e experiência;

• Ter um conhecimento aprofundado e atualizado deste Código

Deontológico.

• Ter uma reflexão crítica contínua sobre a sua conduta e em qualquer

contrato que o A.G. estabeleça, deve ter em conta o preconizado no

Código Deontológico, tendo um conhecimento aprofundado e

atualizado da lei geral, no que concerne na sua prática;

• Fornecer apenas os serviços para os quais está legalmente habilitado e

estando atento as suas limitações pessoais e profissionais, sempre que

o A.G. não tenha necessária competência profissional ou pessoal para

trabalhar com determinados idosos deve, na medida do possível

encontrar soluções alternativas;

• Apenas utilizar métodos e técnicas cientificamente validadas e ter

obrigatoriamente em conta as limitações dos métodos e técnicas que

utilizam, bem como os dados que recolhe, e deve manter-se atualizado

a nível profissional e justificando a sua conduta profissional á luz do

estado atual da ciência;

• Estar particularmente atento às limitações físicas e psicológicas,

temporárias ou impeditivas de uma adequada prática profissional. Caso

estas existam, não deve dar inicio ou manter qualquer atividade

profissional. “Os A.G. estão conscientes das suas responsabilidades

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profissionais e científicas para com os seus clientes. A comunidade e a

sociedade em que trabalham e vivem;

• Evitar causar prejuízo e ser responsável pelas suas próprias ações,

assegurando eles próprios e tanto quanto possível que os seus serviços

não sejam mal utilizados;

• Contribuir para o desenvolvimento da disciplina de Geriatria

responsável pela qualidade e consequências da sua conduta

profissional e deve assegurar a manutenção de elevados padrões de

integridade e conhecimento científico e deve trabalhar em instalações

convenientes e locais adequados que garantam a dignidade dos seus

atos profissionais e o Idoso;

• Assumir a responsabilidade de uma difusão adequada da Geriatria,

quando se dirige ao público em geral e aos media;

• Evitar causar dano ou prejuízo a qualquer pessoa, deve ponderar de

forma sistematizada os prejuízos que a sua ação possa vir a causar,

utilizando todos os dispositivos para os minimizar. Nas circunstâncias

em que o prejuízo seja inevitável, os A.G. devem avaliar de forma

fundamentada a relação custo/ benefício da sua ação.

Aptidão necessária ao A.G.

• Maturidade e capacidade de adaptação (trabalhar para o idoso e não

só com o idoso;

• Empatia e sensibilidade (colocar-se no lugar do outro para melhor

compreender o que ele sente, aceitá-lo e respeitá-lo);

• Amor pelos outros (o idoso é um ser humano global cujo potencial é

necessário conhecer);

• Objectividade e espírito crítico (estas qualidades permitem que os A.G.

tenham uma visão alargada dos problemas ligados ao envelhecimento

e á morte e que possam estabelecer soluções adequadas);

• Sentido social e comunitário (trabalhar de forma a manter a população

idosa no máximo de autonomia facilitando a abolição de atitudes

sociais negativas);

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• Flexibilidade e polivalência (ser capaz de se adaptar ao ritmo do idoso

e trabalhar em parceria com profissionais de saúde);

• Criatividade (campo em que cada um deve exercer a sua criatividade).

Responsabilidade alargada

No exercício da profissão, A.G. é também responsável pelo

cumprimento do presente Código Deontológico por parte daqueles que com

ele colaboram, colegas de profissão hierarquicamente superiores ou inferiores

apoiando-os, nas necessidades deontológicas e profissionais.

Resolução de Dilemas

No exercício da profissão o A.G. deve ter consciência da potencial

ocorrência de dilemas éticos e da sua responsabilidade para os resolver de

uma forma que seja consistente com este Código Deontológico. No exercício

da profissão, quando confrontado com um dilema ético, o A.G. deve procurar

com os colegas o objectivo de encontrar a melhor solução. Se ocorrer um

conflito de interesses entre as obrigações para com o idoso ou terceiras

partes relevantes e os princípios deste Código Deontológico, o A.G. é

responsável pelas suas decisões. Se estas contrariarem este Código

Deontológico, o A.G. tem o dever de informar os idosos e/ou as terceiras

partes relevantes fundamentando a sua relação.

Reconhecimento das limitações profissionais

No exercício da profissão de evitar situações que possam levar a juízos

enviesados e interfiram com a sua capacidade para o exercício da prática

profissional. O A.G. deve procurar apoio profissional e/ou supervisão para a

resolução de situações pessoais que possam prejudicar o exercício da

profissão.

Honestidade e Rigor

No exercício da profissão o A.G. deve:

• Reger-se por princípios de honestidade e verdade;

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• Assegurar-se que as suas qualificações são entendidas de forma

inequívoca pelos outros;

• Ser objectivo perante terceiras partes relevantes, acerca das suas

obrigações sob o Código Deontológico, e assegurar-se que todas as

partes envolvidas estão conscientes dos seus direitos e

responsabilidades;

• Assegurar que terceiras partes relevantes ou outros (pessoas ou

entidades) estão conscientes de que as suas principais

responsabilidades são, geralmente, para com o idoso;

• Expressar as suas opiniões profissionais de forma devidamente

fundamentada.

Franqueza e Sinceridade

No exercício da profissão o A.G. deve:

• Fornecer aos idosos e terceiras partes relevante, de forma clara e

exata, informação sobre a natureza, os objectivos e os limites dos seus

serviços;

• Tentar, por todos os meios possíveis, minimizar a ocorrência de erro.

Se este ocorrer deve, de forma clara e inequívoca, acionar os

mecanismos para a sua correção;

• Evitar todas as formas de logro na sua conduta profissional.

Conflito de interesses e exploração

No exercício da profissão, o A.G. não se pode servir as suas relações

profissionais com os idosos com o objectivo de promover os seus interesses

pessoais ou de terceiros.

Relações entre colegas

As relações entre os A.G. devem basear-se nos princípios de respeito

recíproco, lealdade e solidariedade. O A.G. deve apoiar os colegas que lhe

solicitem ajuda para situações relacionadas com a prática profissional.

Quando o A.G. tem conhecimento de uma conduta deontologicamente

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incorreta por parte de um colega deve, de forma fundamentada, apresentar-

lhe a sua critica e tentar, com ele, estabelecer formas para a corrigir. Se esta

conduta se mantiver deve informar a instituição dando disso conhecimento ao

colega.

• Atos lícitos e ilícitos

• Atos legítimos e ilegítimos

O critério de distinção é o de conformidade com a lei, projeta-se esta

distinção igualmente no regime dos efeitos jurídicos do ato, é uma distinção

privativa dos atos jurídicos.

A razão de ser desta delimitação reside na circunstância de a ilicitude

envolver sempre um elemento de natureza subjetiva que se manifesta num

não acatamento, numa rebeldia à Ordem Jurídica instituída. Envolve sempre

uma violação da norma jurídica, sendo nesse sentido a atitude adoptada pela

lei a repressão, desencadeando assim um efeito tipo da violação – a sanção.

Assim, podemos dizer que:

• Os atos ilícitos envolvem sempre uma violação da norma jurídica,

sendo nesse sentido atitude adoptada pela lei a repressão,

desencadeando assim um efeito tipo da violação – a sanção.

• São contrários à Ordem Jurídica e por ela reprovados, importam uma

sanção para o seu autor (infractor de uma norma jurídica).

• Os atos lícitos são conformes à Ordem Jurídica e por ela consentidos.

Não podemos dizer que o ato ilícito seja sempre inválido.

• Um ato ilícito pode ser válido, embora produza os seus efeitos sempre

acompanhado de sanções. Da mesma feita, a invalidade não acarreta

também a ilicitude do ato.

• Os atos legítimos são de ação fundado no direito e na razão, com

carácter legal, valido, genuíno, verdadeiro e justo.

• Os atos ilegítimos são uma ação não fundada na razão, com carácter

inválido, falso e ilegal.

 

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• Responsabilidade do Agente de Geriatria

Responsabilidade define-se como a obrigação que o individuo tem em

dar conta dos seus atos e suportar as suas consequências do mesmo. Diz que

alguém é responsável quando age com conhecimento e liberdade dos atos e

estes possam ser considerados dignos, devendo responder por eles, dentro

de um grupo.

A relação entre o Profissional/Utente resulta na forma como o Agente

de Geriatria deve cuidar do utente, com respeito, como uma pessoa que tem

direito de tomar as suas decisões de ser autodeterminação e que merece a

defesa ou a confidencialidade das suas informações.

• Segredo Profissional (sigilo)

A palavra sigilo está relacionada à ideia de segredo, ou ainda, com

algo que precisa de ser guardado frente a uma verdade. Assim, definido o

sigilo podemos concluir que se procura estabelecer vínculos de confiança.

Contudo, gostaria de apresentar o sigilo não como um imperativo técnico ou

moral na relação que mantemos com o outro mas sim como uma dimensão

ética da própria relação.

Manter sigilo é silenciar frente a algo que se encontra posto. A partir

deste contexto, podemos entender que o sigilo parece indicar antes de um

uso técnico, uma ação que se prolonga no mundo como espaço para a escuta

do silêncio. Este silêncio torna o homem detentor de uma verdade ao mesmo

tempo que aberto para outras possibilidades de constituir sentido e

significado ao vivido. Do sigilo ao silêncio parece ser a postura esperada.

Portanto, podemos afirmar que constitui obrigação do agente de

geriatria:

• A salvaguarda do sigilo sobre os elementos que tenha recolhido no

exercício da sua atividade profissional, porém, se utilizar alguns desses

elementos deverá ter o cuidado de não identificar as pessoas visadas.

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• Obrigação de, quando o sistema legal exige divulgação de dados,

fornecer apenas a informação relevante para o assunto em questão e,

de outro modo, manter confidencialidade.

• O sigilo é referido à difusão oral, ou escrita da informação.

A violação da confidencialidade é o desrespeito por uma determinada

pessoa, é uma irresponsabilidade do profissional, já que o seu papel é

responsabilidade perante a sociedade. Manter o sigilo profissional ajuda o

utente a manter a sua própria integridade moral.

∗ Deveres do Agente em Geriatria:    

1. Exercer com competência e zelo a atividade, no campo que tiver

confiado;

2. Observar e fazer observar rigorosamente as leis e regulamentos,

defendendo todas as circunstância;

3. Honrar os seus superiores na hierarquia administrativa, tratando-os em

todas circunstâncias com consideração e respeito;

4. Guardar segredo profissional sobre todos os assuntos que por lei não

estejam expressamente autorizados a revelar;

5. Desempenhar, com pontualidade e assiduidade, o serviço que lhe estiver

confiado.

∗ Deveres do Agente em Geriatria:

1. Respeito e dignidade;

2. Remuneração/horas de trabalho;

3. Promoção da saúde e prevenção da doença.

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4 – Direitos da pessoa humana:

                       • Direitos da pessoa humana e da pessoa idosa, em particular

Direitos dos Idosos

(Princípios das Nações Unidas para o Idoso, Resolução 46/91 - Aprovada na

Assembleia Geral das Nações Unidas, 16/12/1991)

INDEPENDÊNCIA

ü Ter acesso à alimentação, à água, à habitação, ao vestuário, à saúde,

a ter apoio familiar e comunitário.

ü Ter oportunidade de trabalhar ou ter acesso a outras formas de

geração de rendimentos.

ü Poder determinar em que momento se deve afastar do mercado de

trabalho.

ü Ter acesso à educação permanente e a programas de qualificação e

requalificação profissional.

ü Poder viver em ambientes seguros adaptáveis à sua preferência

pessoal, que sejam passíveis de mudanças.

ü Poder viver em sua casa pelo tempo que for viável.

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PARTICIPAÇÃO

ü Permanecer integrado na sociedade, participar ativamente na

formulação e implementação de políticas que afectam diretamente o

seu bem-estar e transmitir aos mais jovens conhecimentos e

habilidades.

ü Aproveitar as oportunidades para prestar serviços à comunidade,

trabalhando como voluntário, de acordo com seus interesses e

capacidades.

ü Poder formar movimentos ou associações de Idosos.

ASSISTÊNCIA

ü Beneficiar da assistência e proteção da família e da comunidade, de

acordo com os seus valores culturais.

ü Ter acesso à assistência médica para manter ou adquirir o bem-estar

físico, mental e emocional, prevenindo a incidência de doenças.

ü Ter acesso a meios apropriados de atenção institucional que lhe

proporcionem proteção, reabilitação, estimulação mental e

desenvolvimento social, num ambiente humano e seguro.

ü Ter acesso a serviços sociais e jurídicos que lhe assegurem melhores

níveis de autonomia, proteção e assistência.

ü Desfrutar os direitos e liberdades fundamentais, quando residente em

instituições que lhe proporcionem os cuidados necessários,

respeitando-o na sua dignidade, crença e intimidade. Deve desfrutar

ainda do direito de tomar decisões quanto à assistência prestada pela

instituição e à qualidade da sua vida.

AUTO-REALIZAÇÃO

ü Aproveitar as oportunidades para o total desenvolvimento de suas

potencialidades.

ü Ter acesso aos recursos educacionais, culturais, espirituais e de lazer

da sociedade.

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DIGNIDADE

ü Poder viver com dignidade e segurança, sem ser objecto de exploração

e maus-tratos físicos e/ou mentais.

ü Ser tratado com justiça, independentemente da idade, sexo, raça,

etnia, deficiências, condições económicas ou outros factores.

• A vida e a morte:

Todos os seres vivos, incluindo os humanos, estão sujeitos ou

condenados à morte. Nascer é começar a morrer. Todavia, embora se possa

morrer em qualquer idade e sem aviso prévio, os idosos, sabem com certeza

que não lhes resta muitos anos de vida (segundo a sabedoria popular: quem

não vai de novo, de velho não escapa; hoje com saúde, amanhã no ataúde;

contra a morte não há remédio).

• O que é a morte?

A morte, ainda hoje, é um tabu, a nível pessoal, embora seja exibida

em altas doses nas televisões, jornais, etc. Todo o ser humano, mais cedo ou

mais tarde, confronta-se com esse drama existencial e mais ainda à medida

que a vida vai declinando, assumindo o morrer e a morte não apenas como

uma dimensão biológica (de doença e cuidados contínuos), mas também

psicológica (consciência da finitude e fragilidades da vida) e sociológica

(isolamento do moribundo e outros problemas sociais).

Em todo o caso, preparar a própria morte é uma das tarefas mais

importantes, senão a mais importante, de todo o ser vivo pensante e mais

ainda o idoso. A morte deve ser encarada com naturalidade e não como um

fatalismo ou fracasso da medicina. Para além de que a aceitação ou não

desta fase terminal depende, com frequência, do grau com que a pessoa

idosa continua a situar-se em relação à família, aos amigos, à sua

comunidade, assim como aos seus valores e à sua consciência de continuar a

ser útil aos outros.

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Apresenta-se mesmo uma perspectiva (positiva, mas não sem algumas

apreensões) quanto à velhice no século XXI, supondo-se que a ansiedade

face à morte pode evoluir positivamente em alguns aspectos mas também

negativamente noutros; por exemplo, no futuro pode-se ter mais medo de ser

vítima de violência e também, a nível mais pessoal, de ficar suspenso entre a

vida e a morte, considerado nem vivo nem morto, dadas as possibilidades da

tecnologia e da medicina. Mas em geral, pode supor-se que o envelhecimento

e a morte se tornarão menos marginais e mais integrados socialmente.

Os idosos podem beneficiar com o pensamento consciente sobre as

suas preferências a respeito da qualidade vs quantidade de vida ou sobre o

género específico de tratamento e do contexto que preferem a sua morte.

Ainda a respeito do pensamento da morte, os idosos tendem também

a fazer mais seguros de vida, a preocupar-se com o testamento, a fazer

(alguns deles) uma autobiografia ou ao menos a transmitirem oralmente as

suas vontades, para além de outros comportamentos psicossociais, como

voltar-se mais para si mesmos, relativizar certos acontecimentos, etc.

• Medo da morte

O medo da morte relaciona-se na maior parte das vezes com o seu

processo, o facto de ser destruído, de deixar as pessoas mais significativas,

medo do desconhecido, da sorte do corpo.

A morte não só bate à porta dos idosos como também dos jovens. É

comum a todas as idades, embora o jovem espere durar ainda muito tempo,

enquanto tal expectativa não a pode ter o velho, a menos que seja insensato;

neste sentido, o idoso encontra-se em melhor situação por já ter alcançado o

que esperou.

Uma boa atitude face à morte leva a uma melhor vivência do tempo no

presente: passam as horas, os dias, os meses, certamente os anos; o tempo

que passou já não volta e desconhecemos o futuro; deve cada um contentar-

se com aquela porção de tempo que lhe foi dada para viver. Mais importante

que a quantidade é a qualidade do tempo: o tempo para se viver, ainda que

breve, é suficientemente longo para se viver bem e com honra.

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• O Agente Geriátrico e a morte :

A aceitação da morte e do luto são processos complexos. Muitas

pessoas estão sós quando se encontram perante a morte. Aqui o agente de

geriatria desempenha um papel fundamental no acompanhamento na morte,

ou no auxílio à ultrapassagem do luto.

Estas duas experiências, embora muito dolorosas, podem

conduzir o indivíduo a um estado sereno face à morte ou a um novo período

da sua vida no qual se sente psicologicamente mais forte. A morte é

incontornável e as nossas sociedades devem reintegrá-la, a fim de auxiliar os

idosos a partir dignamente.

É importante que o agente de geriatria se consciencialize que numa

fase em que a morte está perto, se deve transmitir serenidade e paz interior

ao moribundo. Para o auxiliar a atingir este estado, é necessário que o

cuidador esteja sereno perante a morte e suficientemente equilibrado

relativamente a esta questão.

Para que o idoso ultrapasse o estado de angústia e chegue a uma fase

de aceitação, são necessárias muitas horas de diálogo e escuta. É também de

extrema relevância um trabalho de aconselhamento e de apoio aos pais,

filhos amigos, etc. .

Na maior parte dos casos, o idoso apenas reclama apoio e atenção.

Qualquer que seja a sua forma, o acompanhamento na morte faz parte do

direito que toda a pessoa tem de morrer em dignidade.

• Etapas do processo da morte e do luto:

ü Negação: o Idoso não quer acreditar que vai morrer e rejeita a ideia da

morte.

ü Revolta: o Idoso indigna-se e questiona-se “porquê eu?”.

ü Melancolia: período de tristeza (dita depressiva), o Idoso desliga-se do

seu meio e isola-se.

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ü Medo: depois da tristeza vem o medo ligado ao sentimento de

abandono, o medo geralmente manifesta-se por sintomas físicos,

angustia ou reações agressivas.

ü Negociação: o Idoso aceita a morte mas dá-se conta de que o tempo

lhe falta, que a sua vida está a acabar e tenta ganhar tempo

negociando. Ex. “sim, eu vou morrer mas falta algum tempo”

ü Aceitação: não é feliz nem infeliz é um estádio da paz e conformismo

“a minha hora vai chegar em breve e estou pronto”.

ü Reajustamento da rede social: o Idoso tenta encontrar outras pessoas

fontes positivas de energia para encher o seu vazio interior.

ü Perdão: o Idoso torna-se capaz de se desligar concretamente de

alguém ou de alguma coisa e de se desprender, o que lhe permite

integrar o que vive da sua experiência pessoal.

• Meios para reforçar o sentido da vida nos Idosos:

ü Reminiscência: através de uma discussão orientada, facilitar o exame

da vida passada, de modo a resolver os conflitos latentes, realçar os

êxitos/ talentos e transmitir as lições da experiência.

ü Compromisso: dar aos Idosos ocasiões de consagrar/ dedicar o seu

tempo e energias a uma tarefa ou a outra pessoa.

ü Optimismo: Evocar acontecimentos em perspectiva e manter a

esperança de um futuro melhor. “É olhando para o futuro que se tem

melhores oportunidades de ultrapassar as dificuldades presente.”

ü Religião: encorajar as crenças religiosas e as práticas enriquecedoras.

“Quando tudo está perdido, incluindo a saúde, a faculdade espiritual

de tender para Deus continua a ser um meio eficaz de combater o

absurdo da vida e o desespero.”