27
37 www.revistas.pucsp.br/ecopolitica A ética da resistência* Rodrigo de Castro Orellana RESUMO: A obra de Foucault entrenta a relação entre a liberdade postergada e a sujeição. Responde às lógicas biopolíticas e às configurações de práticas de liberdade. Resistir ao modelo pastoral, à lógica da soberania e ao biopoder é resistir em espaços heterotópicos e não com utopias (espaço sem lugar). palavras-chave: ética; resistência; biopolítica. ABSTRACT: The work of Michel Foucault faces the relation between postponed freedom and subjection. It responds to the biopolitical logics and to the configurations of freedom practices. Presenting resistance to the pastoral model, to the logic of sovereignty and to biopower is to resist in heterotopic spaces and not with utopias (spaces without place). keywords: ethic; resistence; biopolitic. * Extraído do livro Foucault y el cuidado de la libertad. Ética para um rosto de arena. Santiago: LOM, 2008, pp. 439-461. O capítulo traduzido inicia-se com o autor situando a discussão anterior: “No capítulo anterior, analisamos o sentido ad- quirido pela verdade e pela prática filosófica na estética da existência, procurando expor a alternativa apresentada, pela ética foucaultiana, aos mecanismos de sujeição vinculados ao saber e à verdade. Agora, de modo semelhante, o foco recairá sobre a questão específica das relações de poder, e o questionamento recairá sobre a liber- dade e seu papel na proposta que Foucault desenvolve, como resposta às lógicas biopolíticas da sociedade moderna”. Professor de Filosofia Contemporânea do Departamento de Filosofia III: Hermenêutica e Filosofia da História, na Faculdade de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid. ecopolítica, 2: 37-63, 2011-2012

A ética da resistência

Embed Size (px)

Citation preview

  • 37www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    A tica da resistncia*

    Rodrigo de Castro Orellana

    RESUMO:A obra de Foucault entrenta a relao entre a liberdade postergada e a sujeio.

    Responde s lgicas biopolticas e s configuraes de prticas de liberdade. Resistir

    ao modelo pastoral, lgica da soberania e ao biopoder resistir em espaos

    heterotpicos e no com utopias (espao sem lugar).

    palavras-chave: tica; resistncia; biopoltica.

    ABSTRACT:The work of Michel Foucault faces the relation between postponed freedom and

    subjection. It responds to the biopolitical logics and to the configurations of freedom

    practices. Presenting resistance to the pastoral model, to the logic of sovereignty and

    to biopower is to resist in heterotopic spaces and not with utopias (spaces without

    place).

    keywords: ethic; resistence; biopolitic.

    * Extrado do livro Foucault y el cuidado de la libertad. tica para um rosto de arena. Santiago: LOM, 2008, pp. 439-461. O captulo traduzido inicia-se com o autor situando a discusso anterior: No captulo anterior, analisamos o sentido ad-quirido pela verdade e pela prtica filosfica na esttica da existncia, procurando expor a alternativa apresentada, pela tica foucaultiana, aos mecanismos de sujeio vinculados ao saber e verdade. Agora, de modo semelhante, o foco recair sobre a questo especfica das relaes de poder, e o questionamento recair sobre a liber-dade e seu papel na proposta que Foucault desenvolve, como resposta s lgicas biopolticas da sociedade moderna.

    Professor de Filosofia Contempornea do Departamento de Filosofia III: Hermenutica e Filosofia da Histria, na Faculdade de Filosofia da Universidade Complutense de Madrid.

    ecopoltica, 2: 37-63, 2011-2012

  • 38www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    Microfsica da liberdadeChama a ateno o fato de a liberdade ser um problema relativamente

    distante s preocupaes de um autor clebre por sua tematizao do

    poder e por formular, segundo alguns, o enfoque mais radical sobre

    as formas de sujeio que existem em nossas sociedades. No entanto,

    esta argumentao est apressada, posto que, como veremos, a reflexo

    geral de Foucault pode ser caracterizada, em grande medida, como uma

    filosofia da liberdade.

    Uma das razes que, provavelmente, contriburam para o desenvolvimento

    desta leitura equivocada talvez seja o esforo sistemtico, pelo prprio

    Foucault, em anular ou questionar aquelas ideias ou experincias que o ser

    humano considerou como garantias para sua libertao. Onde o homem

    tentou encontrar o espao para concretizar uma liberdade infinitamente

    postergada, Foucault identifica estratgias de sujeio cada vez mais

    sofisticadas. Assim, por exemplo, em Histria da loucura, a liberao dos

    loucos por Pinel catalogada como uma nova modalidade de coao; as

    propostas emancipatrias do humanismo em As palavras e as coisas so

    desmascaradas como um sonho dogmtico; a humanizao do castigo

    em Vigiar e punir se mostra como uma reelaborao da submisso e a

    liberao da sexualidade em A vontade de saber denunciada como parte

    de um dispositivo de poder. Desta forma, cada obra de Foucault poderia

    ser compreendida como a desarticulao de algum sonho de autonomia

    ou emancipao. Compreende-se, ento, o que o autor francs confirma:

    sua desconfiana habitual diante do tema geral da liberao (Foucault,

    2010a: 265).

    Foucault rechaa a ideia de liberao porque esta sugere a eliminao

    de um obstculo que impede a ao e intimida uma essncia adormecida

    frente represso do poder. Para ele, sob esta noo se afirma a

    existncia de uma natureza ou de um fundo humano, que subjaz sob

    os processos histricos, econmicos e sociais, aprisionada ou alienada

  • 39www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    pelo poder. Esta interpretao deriva de uma simplificao da tarefa da

    liberdade, pois supe que basta eliminar as represses para que o homem

    alcance seu sentido pleno e se reconcilie com sua prpria natureza.

    Neste sentido, deve-se compreender a crtica de A vontade de saber

    hiptese repressiva como uma explicitao do juzo dos movimentos de

    liberao que se respaldam em uma teoria do desejo. Foucault desaprova

    o naturalismo e o biologismo que impregnam o discurso da liberao

    sexual, desmentindo a presena de um desejo selvagem que estaria

    negado ou coagido (Eribon, 2008). Para ele, os discursos de liberao,

    formulados nestes termos, so funcionais ao sistema, visto que nutrem o

    mito de uma natureza humana e, com ele, ocultam a verdadeira dinmica

    das relaes de poder. O poder no apenas reprime, mas tambm produz

    um modo de individualizao que aquele que nos conduz a buscar e

    tentar liberar uma identidade perdida.

    Quando Foucault fala de nossa impacincia da liberdade, podemos

    acreditar que se refere a uma certa urgncia que leva os indivduos a

    reconhecer a liberao onde ela efetivamente no est. Isto significa

    que o enfoque da liberao, posto em quarentena por Foucault, supe

    uma simplificao do prprio conceito de liberdade. Tal reducionismo

    se apoiar na filosofia do sujeito e em uma minimizao do campo

    operativo do poder.

    No se trata de negar a existncia da liberao, mas de questionar

    o contedo a ela atribudo e que a define como a realizao plena

    da liberdade. Entre a prtica da liberao e as prticas da liberdade

    h a abertura que mostra a maior importncia destas ltimas e a

    impossibilidade de entend-las como elementos equivalentes. Quando um

    povo se liberta de seu opressor, abre espao para enfrentar um dilema

    talvez maior: definir as prticas de liberdade que permitam articular

    formas vlidas e aceitveis de existncia individual e coletiva (Foucault,

    2010a: 265-266). O grande tema da sublevao no esgota por si mesmo

  • 40www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    o grande trabalho da liberdade. Por isso, diz Foucault, ainda mais

    relevante o problema tico das prticas de liberdade, relativo ao prazer

    e ao erotismo, do que a afirmao repetitiva de que h de se liberar a

    sexualidade ou o desejo.

    Esta distino entre prtica de liberao e prtica de liberdade mostra

    que no possvel atribuir a Foucault a inteno de negar a liberdade

    enquanto tal. Isto reafirmado por uma srie de intervenes em

    distintas entrevistas. Por exemplo, em 1982, afirmou: Creio na liberdade

    dos povos (Foucault, 2010b); em outra conversao vai mais alm e

    enftico ao concluir que (...) ns sempre seremos livres (Foucault,

    2004: 268). Todas essas referncias liberdade evidenciam um uso

    singular desta noo, obedecendo a uma complexa reformulao terica.

    Como afirma Morey, poderamos ser mais livres do que cremos (Morey,

    1991: 44) ou, dito de outro modo, a liberdade nos seria mais prpria do

    que estamos acostumados a pensar. Isto no implica em uma ausncia

    de determinaes, visto que a liberdade que se enuncia no exclui aos

    condicionamentos, e se alimenta das infinitas possibilidades de ruptura

    que existem em tudo o que nos rodeia. Foucault, ento, no coloca a

    liberdade no reino sonhado por ns, nem tampouco no mbito de uma

    propriedade que nos garante sua presena inextinguvel. Pelo contrrio,

    ele converte a liberdade em um problema estratgico, ligado s aes

    dos indivduos e do poder.

    O filsofo francs, portanto pretende se distanciar da concepo

    humanista da liberdade. Esta ruptura se explica por seu desacordo com

    trs teses centrais deste enfoque terico. Primeiro, com a afirmao de

    que a ao poltica, enquanto tende consecuo da liberdade, busca

    que alcancemos a verdadeira identidade. Segundo, com a aposta na

    verdade e no saber como agentes da liberao e como fatores que nos

    salvam dos aparelhos de alienao. Terceiro, com a ideia de que o poder

    um limite traado prpria liberdade, isto , de que existe uma mtua

  • 41www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    excluso entre tais noes antitticas (Higuera, 1999: 189). Foucault

    discorda ostensivamente, e defende que a liberdade no uma luta para

    alcanar o que efetivamente somos, mas um esforo de desprendimento

    da identidade a ns imposta. Desta forma, cr que a verdade e o saber

    no garantem a liberdade, nem se opem ao poder; para ele, enfim, o

    poder no o contrrio de liberdade.

    Esta relao entre poder e liberdade uma das chaves analticas

    do pensamento foucaultiano e no se pode compreender um destes

    conceitos sem se esclarecer simultaneamente o outro. Por isso, ao falar

    de liberdade preciso recordar que Foucault, mais do que se referir a

    o poder, fala de relaes de poder que se realizam em um campo

    estratgico de interaes (Idem:190). Este contexto no exclui a liberdade,

    mas a exige, de maneira que esta no existe fora do poder; preciso

    situ-la, necessariamente, dentro do espao das relaes de sujeio.

    Quando Foucault desmascara uma falsa leitura do modus operandi do

    poder e reafirma seu papel produtivo, torna a anlise sobre o campo da

    liberdade mais complexa. Quanto mais profundo e envolvente o labirinto

    do poder, mais intrincado e complexo ser o trabalho da liberdade. Em

    outras palavras, uma microfsica do poder corresponde a uma microfsica

    da liberdade.

    Para compreender a natureza das relaes entre o poder e a liberdade,

    em toda sua dimenso, preciso estabelecer a especificidade da situao

    estratgica que constitui as relaes de sujeio. Sobre isto, desde o

    final dos anos setenta, Foucault insistiu em assinalar um aspecto central

    que caracterizaria a relao de poder: ser uma ao que opera sobre as

    aes, eventuais ou atuais, dos indivduos (Cf. Foucault, 1995: 243). A

    relao de poder, como tal, exige o reconhecimento do outro como

    sujeito de ao e, ao mesmo tempo, exige que ante esta relao se abra

    um campo de respostas, reaes, efeitos e possveis intervenes.

    A afirmao de Foucault contundente: o poder se exerce unicamente

  • 42www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    sobre sujeitos livres e apenas na medida em que so livres (Idem:

    244); descreve um campo de batalha em que cada parte articula sua

    estratgia atenta aos movimentos tticos do outro. Por esta razo, nem

    a figura da violncia, tampouco a do consenso, encarnam o modo de

    exerccio do poder, posto que este se realiza sempre sobre um campo

    de possibilidades. A relao com o outro, no contexto desta situao

    estratgica, no consiste na destruio, nem em uma oposio entre

    elementos, nem tampouco no encontro e reconciliao das partes dentro

    da comunidade discursiva. Diante do outro, opera a provocao, a

    incitao ou a seduo.

    As relaes de poder so formas de conduo de condutas que

    necessitam, para operar, da virtualidade do comportamento e, por isso,

    no anulam aqueles sobre os quais atuam (Higuera, 1999: 190-191).

    Na violncia e no consenso se suspende esta tentativa de determinar a

    conduta do outro, o jogo estratgico permanece fechado pela fora cega

    que cerceia toda possibilidade, ou ento permanece suspenso pela trgua

    do acordo. Isto no significa que a violncia e o consenso no possam

    ser instrumentos das relaes de poder, mas que a lgica da sujeio

    opera sob um princpio muito distinto. Foucault identifica claramente

    este princpio quando afirma que, no jogo estratgico, a liberdade

    aparece como condio de existncia do poder, pois (...) deve existir

    a liberdade para que o poder se exera (...) (Foucault, 1995: 244). Se

    o poder somente se exerce sobre aquele que ainda tem certa escolha,

    devemos concluir que a liberdade o princpio operativo do poder.

    Em A tica do cuidado de si como Prtica da Liberdade, Foucault

    insiste sobre este fato: a existncia de sujeitos livres a condio que

    possibilita as relaes de poder (Cf. Foucault, 2010a: 276). Uma relao

    em que uma das partes est completamente disposio da outra uma

    relao em que no existe nenhum espao de resistncia; no uma

    relao de poder, pois nela est excluda a dimenso da liberdade em

  • 43www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    alguma das partes que a compem. Os jogos de poder so dinmicas que

    se articulam entre liberdades, com estratgias que pretendem determinar

    a conduta de outros e que provocam outras estratgias em resposta a

    estes esforos (Idem: 285). O modelo de luta apresenta aqui todo seu

    sentido, pois descreve com preciso esta lgica relacional qual estamos

    submetidos. Nossa experincia inter-subjetiva um espao ttico. Desta

    forma, se o poder est presente em cada relao humana, isto significa

    que em cada uma delas, em maior ou menor medida, pretende-se dirigir

    a conduta do outro.

    Isto no significa, por princpio, um mal, nem tampouco legitima

    uma interpretao apocalptica da realidade. As relaes de poder, ao

    se apoiarem no objetivo instvel da produo de condutas, configuram-

    se de uma maneira ampla e mvel, pois so relaes que podem ser

    modificadas segundo a resistncia que encontram. Elas representam

    uma dinmica flexvel e aberta ou, como disse Foucault, so relaes

    reversveis (Idem: 276). A situao estratgica no pode jamais ser

    considerada uma estrutura imutvel e estvel. Em seu interior, cada ao

    traz consigo a realizao de outra conduta, um comportamento que

    contra-ataca, trata de escapar (...), atua obliquamente, apoiando-se sobre

    o prprio ataque (Foucault, 1994: 799). Se a liberdade se incrementa, o

    desejo de regulao ser mais intenso, e o jogo mais aberto e fascinante

    (Foucault, 2010a: 286). Portanto, esta trama no deve ser interpretada a

    partir da perspectiva do mal, mas a partir do perigo. Quando em toda

    relao habita o poder e a virtualidade da liberdade dizemos que tudo

    perigoso e que sempre teremos algo a fazer (Foucault, 1988: 192). A

    analtica do poder no se fecha, porque a ao irrenuncivel.

    Desta forma, compreende-se a afirmao de Foucault, na qual (...)

    sempre temos a possibilidade de mudar a situao (...), no podemos

    nos colocar margem da situao e, de forma alguma, estamos livres

    de toda relao de poder. No entanto, sempre poderemos transformar a

  • 44www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    situao. Isto no significa que estaremos sempre enredados, antes, pelo

    contrrio, somos sempre livres (Foucault, 1984: 422). Desta forma,

    a extenso e a capilaridade das relaes de poder que em um

    primeiro momento se colocavam como um eixo analtico radicalmente

    negativo mostram-se, agora, como a prpria amplitude das prticas

    de liberdade. Se o poder se realiza por todo o corpo social, porque a

    liberdade est por todas as partes (Foucault, 2010a: 276) e, sendo assim,

    sempre cabe a possibilidade de transformar as coisas. Do mesmo modo,

    se o poder cada vez mais elaborado e complexo em seu exerccio,

    e penetra criando o desejo, provocando o prazer, produzindo o saber,

    ser preciso surpreend-lo neste trabalho com os comportamentos e o

    corpo (Foucault, 2011b). necessrio estabelecer qual o papel a ser

    jogado pela liberdade, identificar o que resiste a um sistema de sujeio

    especfico.

    Em A vontade de saber, a afirmao de que no h relaes de poder

    sem liberdade se expressa no sentido de que no h modalidades de

    poder sem focos de resistncia. Segundo Foucault, (...) onde h poder

    h resistncia e, sem dvida, esta nunca exterior ao prprio poder

    (Foucault, 1988: 105). A lgica relacional do poder implica como este

    se articula de maneira mltipla e no a partir de um centro nevrlgico;

    os pontos de resistncia tambm esto presentes por todas as partes e

    no h um lugar da grande oposio. Os poderes e as resistncias esto,

    portanto, disseminados em uma mesma rede de relaes, apoiando-se e

    reativando-se mutuamente. A relao de poder encontra seu limite na

    existncia de resistncias, o ponto de uma derrocada possvel a partir

    do qual retrocede e se reconfigura. Por sua vez, os pontos de resistncia

    tm seu pice nos mecanismos de sujeio, reinventando-se a partir do

    enfrentamento, escrevendo sua diferena sob a linguagem do poder.

    Um bom exemplo disto a regra da polivalncia ttica dos discursos,

    formulada por Foucault e que concebe no haver, no campo da sexualidade,

  • 45www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    um universo do discurso dividido entre o aceito e o excludo, mas

    uma multiplicidade de elementos discursivos que podem atuar em

    estratgias diferentes (Idem: 111). Desta forma, uma mesma enunciao

    pode ter distintas funes no interior da situao estratgica e servir

    para objetivos antagnicos. o que ocorre no sculo XIX, quando se

    desenvolve um discurso sobre a perversidade da homossexualidade que

    possibilita no apenas a existncia de mecanismos de controle social,

    como tambm a constituio de um discurso de resistncia em que a

    homossexualidade reivindica sua legitimidade e naturalidade, servindo-se

    das mesmas categorias mdicas com as quais era desqualificada (Idem:

    112-113). Este exemplo demonstra que as resistncias e seus discursos

    no so exteriores ao poder, visto que encontram sua fora sobre as

    mesmas categorias deste, invertendo seus significados. Desta maneira

    opera tambm, como assinala Eribon, o mecanismo de implantao da

    perverso (Idem: 43 et seq.), como um processo no qual os indivduos

    se apropriam das categorias que lhes qualificam, submetendo-se s

    normas, deleitando-se de falar de si mesmos, ou resistindo sujeio

    do sexo (Eribon, 2008).

    Em suma, o poder estabelece suas tticas em funo das resistncias

    que fendem as estratificaes sociais e as unidades individuais. De forma

    semelhante, a resistncia desenha o perfil de sua luta incorporando as

    tticas deste poder como suporte para uma inverso possvel. No entanto,

    surge a dvida de se, neste combate, como em qualquer outro frente a

    frente, no pode ocorrer um desequilbrio e os espaos de resistncia

    se vejam reduzidos a uma mnima expresso. A resposta de Foucault

    afirmativa e, neste sentido, introduz uma distino decisiva entre a

    situao estratgica (relaes de poder e prticas de liberdade) e os

    estados de dominao. Segundo nosso autor, os estados de dominao

    supem uma decomposio das relaes de poder, em que estas deixam

    de ser mveis e so impedidas de quaisquer intervenes no sentido

  • 46www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    de sua modificao, convertendo-se em estruturas bloqueadas e rgidas

    (Foucault, 2010a: 266). Desta forma, so negados a reversibilidade e o

    movimento inerentes situao estratgica j descrita.

    Assim como era fundamental distinguir a liberdade da liberao, agora

    ocorre o mesmo com estes conceitos de poder e dominao. Em certa

    medida, esta ltima distino pretende resolver uma deficincia e uma

    confuso que continha a analtica do poder, quanto sua explicao

    da resistncia. Esta consistia principalmente em entender as relaes de

    poder como estados de dominao (Ortega, 1999). No entanto, o poder,

    compreendido em sua lgica relacional, no um sistema totalmente

    controlado e que no deixa espao algum liberdade (Foucault, 2010a:

    277). No estado de dominao, pelo contrrio, h a minimizao da

    mobilidade das relaes de poder, em que as prticas de liberdade no

    existem ou esto sumamente esgotadas e limitadas (Idem: 266). Nestes

    estados, cabe identificar o ponto em que se formar a resistncia e, com

    ele, a ao concreta de liberao que abrir um novo campo de relaes

    de poder e prticas de liberdade.

    Neste sentido, possvel compreender que o clebre dispositivo

    panptico no apenas um exemplo do sentido ltimo das relaes de

    poder, nem tampouco de um estado de dominao. No se deve confundir

    uma ttica especfica da sociedade disciplinar com a estratgia geral

    que nela se realiza1. O panptico, que descreve uma relao estratgica

    a partir da qual um olhar envolve globalmente a individualidade, no

    supe o modelo de uma sociedade da dominao absoluta, mas de uma

    ferramenta concreta e definida que, ao servir a dispositivos mais amplos,

    1 Esta confuso seria resolvida caso se percebesse que panptico e panoptismo no so o mesmo. No entanto, alguns autores, como Donnelly, insistem em atribuir esta concepo ao prprio Foucault. Cf.: Michael Donnelly, Sobre los diversos usos de la nocin de biopoder, in: Etienne Balibar, Gilles Deleuze, Hubert Dreyfus (et all). Michel Foucault, filsofo, p. 193 ss. A crtica a respeito de Foucault deixar de explicar os processos que fazem com que disciplinas particulares se unam com outras e cheguem a se generalizar pode ser resolvida considerando as relaes de poder em funo de relaes de resistncia que determinam deslocamentos estratgicos.

  • 47www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    no pode resumir em si mesma o que so as relaes de poder, nem

    tampouco pode ser extrapolada a uma situao de dominao, pois seu

    horizonte se refere s condutas vigiadas.

    O mesmo no ocorre para o caso da escravido, que pode ser

    considerada um ato claro de dominao. Segundo Foucault, a escravido

    no uma relao de poder enquanto o homem est acorrentado (...)

    (Foucault, 1995: 244, grifos nossos), enquanto existe uma relao fsica

    direta e imediata sobre o outro que anula seu repertrio de aes e

    comportamentos. No entanto, a escravido poderia ser considerada uma

    relao de poder quando o homem submisso pode se deslocar, e

    capaz disso (Idem, grifos nossos). A escravido ingressa no campo do

    estratgico quando o escravo uma varivel sobre a qual se pode arbitrar

    determinada produo da subjetividade. No sentido estrito, o escravo

    valioso quanto sua liberdade, que entra no espao das relaes

    de poder uma vez que o encadeamento (objetivo e no metafrico)

    suspenso, dando lugar a um sistema de controle que se exerce sobre ele

    como uma pea de um modelo de produo.

    Este exemplo mostra que o que conduz da situao estratgica ao

    estado de dominao no a extino da liberdade, mas a negao de

    seu exerccio. Portanto, desde o jogo aberto e fascinante da situao

    estratgica at sua degradao na figura da dominao, subsiste um fundo

    de liberdade, a derradeira explicao para todo deslocamento. Segundo

    Foucault, no prprio centro da relao de poder e provocando-a de

    maneira constante, est a obstinao da vontade e a intransitividade

    da liberdade (Idem, 244). Esta habita tambm o centro da cruel

    necessidade de acorrentar a um escravo, est nas tticas para sua

    libertao e sobrevive no resduo que inflama sua luta pela libertao.

    No entanto, esta presena da liberdade enquanto elemento articulador

    de movimentos da situao estratgica no deve nos fazer supor que

    nisso no h ameaas. Certamente as relaes de poder no representam

  • 48www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    um mal e no devem ser concebidas como algo de que deveramos nos

    libertar. Porm, h um importante problema em tudo isso, que consiste

    em saber como seria possvel levar a cabo os jogos de poder com um

    mnimo possvel de dominao (Foucault, 2010a: 286-287). O perigo

    em toda relao de poder a possibilidade de que nesta se solidifique

    uma forma de domnio. Por isso, a luta poltica, como defende Foucault,

    assim como o exerccio da liberdade ao qual nos referimos, tem como

    fim minimizar a virtualidade da dominao, enfrentando o intolervel,

    cuja expresso mais intimidante se encontra na configurao fixa e

    fechada das relaes de poder. Aqui podemos apontar a poltica da

    arte de viver como um combate contra todas as formas presentes ou

    ameaadoras de fascismo (Schmid, 2002: 344).

    Isto no quer dizer que devemos enfrentar a tarefa de eliminar as

    restries que caracterizam nossas sociedades. Sobre isso, Foucault disse:

    A questo central (...) no saber se uma cultura isenta de restries

    possvel ou desejvel, mas se o sistema de represses dentro do qual

    uma sociedade funciona deixa os indivduos livres para transformar

    esse sistema (Foucault, 1994b: 327). Assim, a dimenso intolervel do

    sistema se encontra no ponto onde os indivduos esto desprovidos dos

    meios para a transformao. A verdadeira tarefa poltica consiste em

    defender, reafirmar e reinventar o mbito em que o indivduo exerce

    transformaes sobre si mesmo e sobre seu universo relacional. Por esse

    motivo, podemos concluir que a tarefa que aqui descrita representa

    uma tica do cuidado da liberdade.

    Em suma, as distines apresentadas por Foucault entre liberao e

    liberdade, entre poder e dominao, permitem entender porque, para

    ele, o fato de que no se pode estar fora do poder no significa

    que se est preso (Foucault: 2006). O indivduo habita uma situao

    estratgica em que a relao de poder e a rebeldia da liberdade no

    podem (...) se separar (Foucault, 1995: 244). Tanto a possibilidade de

  • 49www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    abuso e dominao, como a possibilidade da ruptura e transformao se

    desenvolvem dentro do sistema. Contudo, neste jogo, o elemento-chave

    a resistncia, j que ela se d em primeiro lugar e seu efeito fora

    mudanas nas relaes de poder (Foucault, 2004: 268). A situao

    estratgica, ento, no pode jamais ser uma armadilha, pois ela est

    sempre aberta transformao, inclusive em sua reduo condio

    mnima da dominao.

    Neste sentido, Deleuze afirmou que a ltima palavra do poder

    que a resistncia a primeira (Deleuze, 1988), isto , para a situao

    estratgica, como princpio e por finalidade, foi e a liberdade. Apenas

    este argumento permite explicar a historicidade das relaes de poder.

    Os pontos de resistncia so o princpio que sustenta a dinmica

    condutora aos diferentes cenrios do poder: o modelo pastoral, a lgica

    da soberania e, finalmente, o biopoder. Cada um deles constitui uma

    situao estratgica, com suas relaes de poder e suas prticas de

    liberdade transformando-se de acordo com os resultados do enfrentamento.

    A partir da possvel assinalar que as transformaes tticas das

    relaes de poder confirmam a possibilidade infinita da transgresso.

    Assim, a esttica da existncia pode ser definida como uma tica que

    se apia na mobilidade e na reversibilidade dos jogos de poder.

    A poltica de um mesmoA anlise aqui proposta sobre a dinmica da liberdade dentro da

    situao estratgica descrita por Foucault permite-nos observar que a

    onipresena do poder no se contrape com a proposta de uma tica da

    arte de viver. Se considerarmos que a situao estratgica que desenha a

    biopoltica aponta para a individualizao e que toda relao de poder

    encontra, em si mesma, o ponto de contra-ataque, compreende-se que

    no (existe) outro ponto, primeiro e ltimo, de resistncia ao poder

    poltico, do que o da relao de si para consigo (Foucault, 2006b:

  • 50www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    306). Assim, quando sustentamos que o indivduo est capacitado para

    exercer um poder sobre si mesmo, de construo e de criao, estamos

    constatando um espao de resistncia inscrito no jogo de um poder

    que nos impe uma identidade. A esttica da existncia, portanto, pode

    ser definida como uma tica que resiste ao regime de relaes entre

    saber, poder e subjetividade. Seu lugar no est fora das relaes de

    sujeio, nem na completa entrega diante destas. Seu espao consiste na

    elaborao ativa destas.

    Foucault concebe o cuidado de si como uma prtica que tende a

    administrar o espao de poder presente em toda relao, um modo de

    controlar e limitar o poder, com o objetivo de impedir seu desvio rumo

    ao estado de dominao (Foucault, 2010a, 272). O papel decisivo da

    tica, dentro do jogo de poder, consiste em cuidar do espao relacional

    e estratgico para que as relaes de poder no se solidifiquem como

    situaes de domnio. Segundo Schmid, isto supe a articulao de uma

    tica agonstica que, no lugar de excluir as relaes de poder, as impele

    a adentrar em seu terreno (Schimid, 2002: 206). Esta aposta equivale

    a no apenas estabelecer um combate com os mecanismos de controle

    e submisso que se espalham pela sociedade, como tambm estabelecer

    uma luta com as tcnicas de subjetivao que atravessam a ns mesmos.

    A tica agonstica pretende abraar tanto o poder que nos ameaa

    anonimamente, quanto o poder que nos prprio.

    Neste contexto, o maior perigo consiste na suspenso da reversibilidade

    das relaes de poder, tanto as que somos agentes, quanto as em que

    somos receptores. Contra esta ameaa da dominao, Foucault prope

    uma arte da existncia representada pelo esforo por constituir um modo

    de vida no fascista. Esta ideia desenvolvida pelo pensador francs na

    introduo edio americana de O Anti-dipo de Deleuze e Guattari.

    Neste breve texto, descreve o fascismo em um sentido histrico (o

    nazismo e as ideologias de outras tiranias do sculo XX) e em uma

  • 51www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    dimenso vital. Esta ltima se refere a um fascismo que habita em

    todos ns, que assedia nossas mentes e nossas condutas cotidianas, o

    fascismo que nos leva a amar o poder, a desejar por este que nos

    submete e explora (Foucault, 2010c: 105). O fascismo no apenas se

    encarna nas instituies ou nos aparatos de polcia, mas tambm pode

    estar inscrito em nossos corpos e nos gestos das pessoas.

    Por isso, o perigo da solidificao das relaes de poder nos compromete

    intimamente. Para Foucault, O Anti-dipo um livro de tica que nos

    coloca perguntas fundamentais: Como fazer para se converter em um

    fascista, inclusive quando (e principalmente quando) se acredita ser um

    militante revolucionrio? Como dissociar nossos discursos e nossas

    aes, nossos coraes e nossos prazeres, do fascismo? Como desalojar

    o fascismo que se instalou em nosso comportamento? (Idem). A

    resposta a estas questes atravessa a constituio de um modo de pensar

    e de viver que atue como resistncia a este fascismo que nos cerca.

    Foucault prope, em sua anlise de O Anti-dipo, uma srie de

    princpios que deveriam reger esta luta poltica da esttica e da existncia.

    Entre eles, separar a ao poltica do totalitrio; intensificar a ao e o

    pensamento; desenvolver o mltiplo, a diferena, os fluxos, o nmade;

    utilizar a prtica poltica como catalisadora do pensamento e da anlise

    como multiplicadora de formas de ao; produzir uma desindividualizao

    atravs da multiplicao e do deslocamento dos diversos dispositivos

    (idem: 105-106). Em poucas palavras, no se apaixonar pelo poder e

    maximizar sua liberdade.

    Estes princpios do modo de vida no fascista mostram que a tica

    da resistncia no pode se limitar a uma mera ao de negao. Como

    assinala Foucault, Dizer no constitui a forma mnima de resistncia

    (Foucault, 2004: 268), portanto a tica da resistncia deve envolver

    tambm a necessidade de criar e inovar nas formas de vida. No se trata

    apenas de articular uma prtica de liberdade que seja uma resposta aos

  • 52www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    mecanismos de sujeio, mas tambm uma prtica da liberdade em que

    a fora se sustente sobre si mesma e abra um novo campo de relaes.

    Esta dupla dimenso essencial ao modelo agonstico da tica, que

    encarna a esttica da existncia. De um lado, est o sujeito como forma

    constituda a partir de relaes de poder e, de outro lado, o indivduo

    que cultua esse poder que ele mesmo desenvolve, no sentido de um

    governo de si.

    A resistncia ao governo dos outros e a prtica do governo de si

    representam dois nveis diferenciados e inter-relacionados da poltica da

    arte de viver. O primeiro, est no contexto da situao estratgica, como

    ponto de reao suposto a qualquer relao de poder. O segundo implica

    ampliao do espao de luta poltica ao territrio do ethos, tendo como

    ponto de tenso a recriao ou reativao das relaes poder que nos

    atravessam, minimizando a dominao. Em ambos os casos se trata de

    um cuidado da liberdade e de um jogo de poder, noes que, como

    vimos, no se contrapem, visto que a esttica da existncia a arte

    reflexiva de uma liberdade percebida como jogo de poder (Foucault,

    1984: 317). Este o verdadeiro pano de fundo em que se cruzam, na

    tica foucaultiana, a relao com os outros e a relao consigo mesmo.

    Cabe sublinhar que esta liberdade no se refere a uma propriedade

    individual, mas alude a atos, gestos, estados de esprito ou do corpo

    que so refratrios ou indceis ao poder (Pizzorno, 1990: 201). Este

    o sentido que deve ser atribudo expresso prticas de liberdade,

    entendo-se a liberdade como um exerccio de modificao das relaes

    estratgicas de poder no necessrias (Higuera, 1999). Um processo

    complexo que se aplica sobre ns mesmos, como seres historicamente

    determinados e suscetveis transformao (Lanceros, 1996: 222).

    A partir da, a questo da liberdade de substituda pelo como

    da liberdade (Schimid, 2002: 243). Isto , se a liberdade ao,

    preciso refletir sobre a maneira como pode chegar a ser realizada.

  • 53www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    possvel supor que cada uma das pesquisas foucaultianas tem por

    horizonte iluminar este espao de ao e, neste sentido, so uma busca

    de ferramentas para o trabalho da liberdade. Compartilhamos, por fim,

    a hiptese de Rajchman sobre o cuidado da liberdade como elemento

    chave do pensamento de Michel Foucault (Rajchman, 1987: 66).

    A esttica da existncia poderia ento ser definida como uma

    intensificao dos espaos, possibilidades e alternativas de ao. Uma

    tica que pretende possibilitar o exerccio da liberdadede um indivduo

    que se encontra em uma rede de poder. Como tal, a proposta foucaultiana

    conduz, necessariamente, ao reconhecimento do valor da escolha pessoal

    no interior de uma situao que ameaa com o desequilbrio da

    dominao. Este contexto do ato de liberdade pessoal permite separar a

    noo de escolha de uma ingnua aposta na arbitrariedade da vontade.

    O indivduo no escolhe em um espao vazio, mas atua sobre um fundo

    de experincias histricas e biogrficas, polemizando com o atual e o

    intolervel, relacionando-se com instncias de normalizao e com focos

    de resistncia (Schmid, 2002: 263).

    Reconhecer que o indivduo possa escolher no supe coloc-lo em

    um ponto exterior s relaes de poder. O sujeito, que aqui exerce sua

    autonomia, continua sendo um sujeito constitudo por prticas e um

    sujeito operativo no interior do jogo estratgico (Higuera, 1999: 196).

    No se pode negar toda forma de sujeio para resgatar a autonomia

    do sujeito, pois isto significaria se colocar fora da dimenso histrica

    dos acontecimentos (Idem: 198). O exerccio da liberdade no pretende

    acabar com todas as modalidades de sujeio, mas fazer com que estas

    de desloquem e modifiquem indefinidamente.

    Em suma, a tica de Foucault prope que as escolhas do indivduo

    se orientem por dois critrios, que de forma alguma constituem contedo

    normativo ou forma de lei. So eles: impedir a solidificao das relaes

    de poder e articular prticas de liberdade que ofeream um amplo espao

  • 54www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    de jogo ao indivduo (Schmid, 2002: 263). Enquanto no primeiro nvel

    se d, principalmente, a negao de uma forma de subjetividade, ser

    a complexificao da luta que supor o segundo nvel, em que a

    desindividualizao se incrementa e se d o salto criao de novas

    formas de subjetividade. Esta dimenso criativa do exerccio da liberdade

    no aponta para a construo de uma subjetividade mais livre que as

    anteriores. No h tal telos de um sujeito mais pleno ao qual se dirija este

    movimento. Pelo contrrio, a tica foucaultiana consiste na possibilidade

    de criar formas de subjetividade novas (Higuera, 1999: 199). O sentido da

    subjetividade, ento, est em um movimento constante de desprendimento e

    criao de si, em um exerccio perptuo de desidentificao e reinveno,

    em que se arrisca a liberdade uma ou outra vez (Idem).

    Este movimento s possvel porque o cenrio em que se realiza, isto

    , a situao estratgica, frgil e tudo o que ocorre nela pode deixar

    de ser. Como sustenta Foucault, o otimismo consiste em compreender

    que tantas coisas podem ser mudadas, frgeis como so, ligadas a

    mais contingncias do que a necessidades, a mais arbitrariedades do que

    transparecem, a mais contingncias histricas complexas e passageiras

    do que a constantes antropolgicas inevitveis (Foucault, 2010g: 358).

    Poder-se-ia dizer que um dos eixos da filosofia de Foucault consiste

    em mostrar a fragilidade de nosso presente. Em cada uma de suas

    obras, fica evidente este esforo em retirar a impresso de consistncia

    atemporal e de persistncia futura que parece envolver a tudo o que nos

    rodeia2 para que assumamos que as coisas podem ser de outro modo,

    visto que uma vez j foram distintas (Schmid, 2002: 243). Se tudo o

    que determina a situao estratgica pode deixar de ser, o importante

    situar a estratgia tica neste espao em que o que no cessa de

    2 A histria da loucura na idade clssica, por exemplo, desloca a consistncia atemporal da noo de doena mental, As palavras e as coisas faz o mesmo a respeito da ideia de homem da modernidade, A arqueologia do saber no tocante ao discurso, Vigiar e punir com o carcerrio, ou A vontade de saber com o conceito de sexualidade.

  • 55www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    deixar de ser. Esta fragilidade inclui as relaes de poder e os pontos

    de resistncia, a subjetividade, o saber e a verdade. Apenas a liberdade

    pode ser considerada de uma forma distinta, pois ela , em sentido

    estrito, a fragilidade mesma desta situao descrita.

    De outra forma, este carter contingente da situao estratgica revela

    que a eventualidade da transgresso no possui nenhum contedo utpico.

    Pelo contrrio, se evidencia como uma possibilidade prxima e emprica,

    que passa por ns e por nossa configurao como sujeitos ticos. Isto

    determina, sem dvida, a necessidade de repensar nossas categorias polticas

    tradicionais. Se o indivduo o ponto de mxima tenso ttica entre

    relaes de poder e formas de resistncia, as operaes que realiza sobre

    si mesmo para se transformar excedem o campo do estritamente pessoal e

    afetam a toda uma rede de relaes que atravessa o sujeito. Deste modo,

    a poltica, tanto quanto a tica e a filosofia, adquire um contedo asctico.

    A relao consigo mesmo, o exerccio da prpria liberdade na construo

    de um modo de ser artstico se converte em uma arma de luta diante de

    um sistema que aposta na produo de subjetividade.

    Desta forma, se v como prprio enfoque do alcance microfsico do

    poder, a ideia de sua paulatina complexificao at envolver o nvel do

    vivido, conduz Foucault a situar o problema poltico em um horizonte

    tico. Se a sociedade normalizadora consiste em um jogo macabro da

    vida e da morte que se desenvolve em uma biopoltica dos corpos que

    tenta, em ltima instncia, produzir um tipo de sujeito, a alternativa

    poltica uma tica agonstica, em que a relao consigo mesmo e

    com os outros seja uma permanente interveno na cristalizao das

    situaes de domnio. Neste sentido, talvez seja possvel afirmar que

    uma revoluo da alma deve preceder a uma sublevao mais global.

    De qualquer forma, para Foucault, a insurreio poltica nasce no ethos,

    enquanto que o cuidado de si se fundamenta na liberdade (Foucault,

    2010a: 267).

  • 56www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    Da utopia heterotopiaAs posies polticas de Foucault no podem ser resumidas, de forma

    alguma, na elaborao de um programa de ao preciso. Para ele, a

    prpria ideia de programa perigosa, pois conduz necessariamente lei,

    restringindo as possibilidades e os espaos de inveno (Foucault, 2010f:

    352-353). Por isso, o lugar do programa, que ordena e administra os

    objetivos de uma prtica deveria permanecer vazio. Em vez de estabelecer

    a necessidade de uma ao e o peremptrio de uma meta inteligvel,

    caberia mostrar como as coisas tm sido historicamente contingentes.

    Assim se evitaria a percepo de uma experincia esgotada, em que

    tudo j est dado, para descobrir as mltiplas opes de criao. Este

    o trabalho proposto ao trabalho crtico, como um questionamento do

    presente, que no oferece como alternativa um estado de coisas ideal.

    A questo central, ento, no consiste em dizer o que que deve ser

    feito, mas sim j no se sabe o que fazer.

    Esta eliminao dos critrios normativos da ao poltica permite

    localizar, no embarao do no saber o que fazer a infinita riqueza

    de uma experincia em que h muitas coisas que se pode fazer. Esta

    concepo do poltico tem, como vimos, sua expresso equivalente no

    plano da tica e da atitude filosfica. De fato, a tica da arte de viver

    tambm opera sob o princpio de um programa vazio, em que cada

    indivduo deve criar formas de vida sem que um modo de vida seja

    prescrito como o correto. Desta forma, o intelectual no tem como

    misso ditar solues nem condicionar as decises dos indivduos. Sua

    tarefa reside em tornar possvel a escolha dos outros e em abrir cada

    vez mais o campo das escolhas existentes.

    Nas esferas tica, filosfica e poltica da esttica da existncia assistimos

    a uma primazia da forma, que conserva o mbito da inveno de novos

    tipos de relaes, contra qualquer contedo normativo que limite esta

    dinmica. Como disse o prprio Foucault, (...) se jamais digo sobre o

  • 57www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    que deveria ser feito, no fao por temer no haver nada a ser feito,

    mas justamente pelo contrrio: fao porque acredito que h milhares de

    coisas que podem ser inventadas e produzidas por quem, reconhecendo

    as relaes de poder em que se est envolvido, decidir resistir ou

    escapar delas (Foucault apud Schimid, 2002: 265).

    No entanto, em que consiste a ameaa de propor um programa

    poltico? Em uma entrevista de 1982, Foucault explica que uma das

    experincias decisivas do sculo XX a compreenso de que as coisas

    jamais ocorrem como descrevem os programas polticos e que estes

    conduzem habitualmente ao abuso ou dominao (Foucault, 2004: 275).

    O programa interrompe as possibilidades de experimentao, atrapalha a

    reversibilidade das relaes de poder e apresenta a maneira para encerrar

    o jogo estratgico para dar lugar a uma situao de dominao. por

    isso que preciso se libertar dele, o que no significa que devamos atuar

    cegamente. A funo do pensamento segue sendo vital para identificar

    territrios em que se desenvolvem formas de resistncia, mesmo que

    isso no signifique unificar a dissidncia sob uma proposta universal

    de uma soluo de transformao. Pode ser algo til e criativo que as

    lutas caream de um programa, no entanto isto no pode significar a

    suspenso da reflexo. Esta seria a vantagem de uma ao poltica que

    procura se dissociar da virtualidade da dominao

    O programa poltico contm uma proposta universal de modificao

    global, completamente distante da concepo asctica da poltica defendida

    por Foucault. A prioridade desta ltima est no trabalho especfico que o

    indivduo realiza sobre si mesmo, diante do relato de um suposto homem

    novo que deveria surgir na histria (Schimid, 2002: 269). Isto implica, sem

    dvida, em uma mudana ostensiva na concepo de revoluo, que deixa

    de ter como base uma antropologia que concebe o homem como portador

    de uma liberdade originria e ao poder como uma estrutura que o priva

    da propriedade. A revoluo no pode ser entendida como a realizao de

  • 58www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    uma ideia em uma histria uniforme, mas como um levantamento ou uma

    sublevao dos indivduos que provm de seu descontentamento diante da

    ordem estabelecida (Higuiera, 1999: 208).

    Como assinala De La Higuiera, a sublevao no uma negao

    dialtica que prolonga a linha do tempo, mas uma elevao por sobre

    o que domina (Idem,: 209). Neste movimento, o presente rompe os

    laos que o dissolviam na continuidade da histria para entrar em uma

    disperso que no se pode recuperar na figura da lei. A sublevao,

    desta forma, ultrapassa toda a economia revolucionria do tempo,

    suas condies e promessas, incorporando uma revolta no nvel ttico

    do espao. Ao invs de deslocar a iluso da emancipao ltima de

    uma natureza contida, intensifica a ao de um levantamento sempre

    retomado.

    Se o fundo da pulso revolucionria subjaz promessa antropolgica,

    quem determina o gesto da revoluo? De incio, Foucault considera

    que tal movimento rumo revolta irredutvel porque o homem

    que se lana carece de explicaes (Foucault, 2010d: 77). preciso,

    verdadeiramente, soltar o fio da histria, to estranho quanto misterioso,

    para que um indivduo prefira o perigo de morrer segurana garantida

    pela obedincia. No entanto, o pensador francs tambm afirma que o

    sofrimento dos homens nunca deve ser um mudo resduo da poltica

    mas, ao contrrio, constitui o fundamento de um direito absoluto a se

    levantar e dirigir-se a aqueles que detm o poder (Foucault, 2010e:

    370). Isto significa dizer, em ltima instncia, que sob a ruptura que

    significa a sublevao, vem a dor dos indivduos. Estes no lutam por

    uma ideia abstrata sobre o bem, nem tampouco por uma noo terica

    do homem, mas por uma sensao direta de um sofrimento intolervel.

    Isto explica uma das singularidades da anlise foucaultiana: resgatar

    toda a complexa dimenso de nossa prpria dor. A violncia exercida

    sobre ns, segundo o filsofo, est cada vez mais sobreposta e encoberta.

  • 59www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    Esta uma das caractersticas centrais que se identifica em todos seus

    relatos genealgicos sobre a loucura, o crcere ou a sexualidade. O

    intolervel invisvel e ocorre como consequncia de determinada

    familiaridade, ou de certa conotao de necessidade que a ele atribudo.

    Deste modo, a questo do sofrimento estrategicamente elaborada at

    ser convertida em algo suspeitamente tolervel. Por isso Foucault se

    pergunta Como arrancar esta violncia da penumbra e da familiaridade

    que a fazem quase invisvel? Como faz-la surgir da neblina dos

    mecanismos gerais que lhe conferem o ar da inevitabilidade e, por fim,

    tolervel? (Foucault, 1994b: 139).

    A resposta a estas questes aponta, em primeiro lugar, ao exerccio

    crtico que envolve a atitude filosfica, da crtica permanente do que

    somos, como uma forma de fazer mais indcil nossa sensibilidade

    ante aos dispositivos de poder e como um meio para deslocar

    invisibilidade do visvel em benefcio de uma exacerbao das lutas.

    A opo poltica da resistncia, neste sentido, constitui uma ferramenta

    decisiva para intervir no espao desta secreta violncia.

    No entanto, o principal espao de luta contra o intolervel est no

    plano da tica, na construo de um modo de vida no fascista. Ns

    somos o ponto central de um jogo estratgico que se debate entre as

    prticas da liberdade e os feitos da dominao. Resolver este conflito

    nossa tarefa na dinmica de um cuidado de si. Em outras palavras,

    preciso violentar a esta violncia que nos atravessa sob a penumbra.

    Por outro lado, abandonar a ideia de um programa poltico implica,

    tambm, distanciar-se do relato utpico e seu salto qualitativo rumo um

    estado de perfeio futura da sociedade. As utopias, que desempenharam

    um papel determinante na cultura ocidental, so grandes narrativas

    que perseguem nosso consolo no presente, em funo de um porvir

    idealizado. Estes relatos so um excelente exemplo da crtica que

    formulvamos anteriormente sobre o conceito de programa. A histria

  • 60www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    demonstra frequentemente que a utopia, com seu efeito mobilizador e

    seu apetite revolucionrio, deriva na violncia explcita dos estados de

    dominao e em um incremento da violncia secreta dos dispositivos

    de poder. Frente a este af universalizador da utopia que conduz ao

    totalitarismo, Foucault prope uma poltica de conquistas parciais, locais,

    incertas, frgeis e provisrias (Eribon, 2008). Esta poltica deixaria a

    mitologia tpica do utopismo, do tudo ou nada, para se concentrar sobre

    a tarefa de deslocar os limites que nos so impostos, ampliando-se as

    possibilidades de liberdade.

    Em uma conferncia de 1967, Foucault compara a noo de utopia

    de heterotopia. Ambas descreveriam estruturas espaciais que se constituem

    como lugares diferentes que estabelecem relaes com todos os demais

    locais (Foucault, 2009: 415). A utopia seria um espao sem lugar real,

    um no-lugar vinculado analogicamente com o espao real da sociedade.

    Este nexo opera diretamente sobre aquelas utopias que apresentam um

    modelo aperfeioado da sociedade atual e, de maneira inversa, naquelas

    utopias que expe o reverso ideal da sociedade emprica. A utopia

    se ope experincia do mundo social, seja por uma exacerbao

    impossvel ou por uma crtica radical.

    Pelo contrrio, as heterotopias so lugares reais, absolutamente distintos

    de todos os locais por elas refletidos, ainda que representem, em certa

    medida, todos os desafios possveis de serem encontrados no interior de

    uma cultura (Idem: 415). As heterotopias so traos que se compem no

    espao social, lugares privilegiados ou abandonados que expressam uma

    diferena e, simultaneamente, uma relao significativa com qualquer

    ponto topogrfico. Foucault apresenta dois exemplos: as heterotopias

    de crise (espaos sagrados, valiosos ou proibidos) e as heterotopias de

    desvio (espaos em que indivduos esto situados, de acordo com seu

    comportamento desviado) (Idem: 416).

    De fato, de um modo ou de outro, so produzidos cortes na aparente

  • 61www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    uniformidade do espao social que introduzem territrios heterogneos.

    Ali esto as bibliotecas, museus, feiras, colnias, bordis ou os navios,

    como exemplos de espaos heterotpicos (Idem: 417 et seq.). Todos

    eles ilustram a existncia de uma cartografia instvel e irregular do

    espao social. Esta lgica dos relevos se ope violncia exercida pela

    utopia sobre o espao, ao apresent-lo como uma estrutura homognea,

    coerente e suave. Enquanto a utopia pretende redimir e tranquilizar o

    real, com este acasalamento das superfcies, a heterotopia inquieta com

    a multiplicidade, o mutante e o estriado de nossos lugares.

    Esta distino entre utopia e heterotopia resulta relevante quando

    relacionada com o carter espacial da situao estratgica em que se

    insere o poder e a resistncia. O espao do estado de dominao, ao

    que tende toda utopia, impe continuidades e anula qualquer fratura.

    De outro lado, a heterotopia se refere diversificao de lugares e

    a uma ruptura do espao social em seu interior. Este se assemelha

    prtica da esttica da existncia que pretende dinamizar o jogo de poder

    abrindo brechas, criando mundos, potencializando o descontnuo. A

    noo de heterotopia nos serve para pensar sobre o vazio de utopismo

    ou programas caracterstico da poltica de um mesmo.

    Neste sentido, Eribon tem razo quando distingue um duplo gesto

    na poltica foucaultiana: a resistncia no interior do campo estratgico

    e a indagao histrico-crtica que pretende inventar espaos diferentes

    (Eribon, 2008). Foucault cr na poltica de um mesmo como uma

    sublevao permanente que persegue a promoo da heterotopia, isto ,

    a abertura de realidades nas quais sejam possveis as articulaes de

    novas experincias. Isto o contrrio da utopia, ou do programa poltico,

    que buscam um ponto final da histria em que a experincia se encerre.

    Esta desqualificao da utopia no quer dizer que a preocupao com

    o futuro perde sentido na poltica da arte de viver. Foucault incorpora o

    futuro no cuidado da liberdade, no com o carter prescritivo do relato

    utpico, mas como uma criao que se prepara no presente. Como ele

  • 62www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    mesmo afirma, devemos comear por reinventar o futuro, mergulhando-o

    em um presente mais criativo (Foucault, 2006c).

    Traduo do espanhol por Gabriel Passetti

    %LEOLRJUDD

    DELEUZE, Gilles (1988). Foucault. Traduo de Claudia SantAnna Martins. So Paulo: Brasiliense. ERIBON, Didier (2008). Reflexes sobre a questo gay. Traduo de Procpio Abreu. Rio de Janeiro: Companhia de Freud. FOUCAULT, Michel (1977). Histria da sexualidade I: a vontade de saber. Traduo de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. So Paulo: Graal. FOUCAULT, Michel (1984). Histria da sexualidade II: o uso dos prazeres. Traduo de Maria Thereza da Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. So Paulo: Graal. FOUCAULT, Michel (1988). Sobre la genealoga de la tica. In Toms Abrahan (ed.) Foucault y la tica. Buenos Aires: Biblos.Foucault, Michel(1994b). Prface (Les juges Kaki), in: Dits et crits III: 1976-1979. Paris: Gallimard.FOUCAULT, Michel (1994c). Choix sexuel, acte sexuel. In: Dits et crits IV:1980-1988. Paris, Gallimard.FOUCAULT, Michel (1995). O Sujeito e o Poder. In: DREYFUS, Hubert e RABINOW, Paul. Michel Foucault, uma trajetria filosfica (para alm do estruturalismo e da hermenutica). Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 231-249. FOUCAULT, Michel (1996). Tecnologias del yo. Barcelona: Paids.FOUCAULT, Michel (2004). Michel Foucault, uma entrevista: sexo, poder e a poltica da identidade. Traduo de Wanderson Flor do Nascimento. In: Revista Verve, vol. 5, pp. 260-277. FOUCAULT, Michel Sexo, poder y poltica de identidad. Esttica, tica y hermenutica. Obras Esenciales, vol. III. Op. cit..FOUCAULT, Michel (2006a). Poderes e estratgia. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Estratgia, Poder-Saber / Ditos e Escritos IV. Traduo de Vera Lcia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 241-252.FOUCAULT, Michel (2006b). A hermenutica do sujeito. Traduo de Mrcio Alves da Fonseca e Salma Tannus Muchail. So Paulo: Martins Fontes.FOUCAULT, Michel (2006c). Conversao sem Complexos com um Filsofo que Analisa as Estruturas de poder. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Estratgia, Poder-saber / Ditos e Escritos IV. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa. FOUCAULT, Michel (2006d). Poderes e estratgias. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Estratgia, Poder-saber / Ditos e Escritos IV. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa, pp. 241-252. FOUCAULT, Michel (2009). Outros espaos. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Esttica: Literatura e Pintura, Msica e Cinema / Ditos e Escritos III. Traduo de Ins Dourado Barbosa. 2 edio. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 411-422.FOUCAULT, Michel (2010a). A tica do Cuidado de Si como Prtica da Liberdade In: MOTTA, Manoel Barros de (org). tica, Sexualidade, Poltica / Ditos e Escritos V. Traduo de Elisa Monteiro e Ins Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 264-287.

  • 63www.revistas.pucsp.br/ecopolitica

    FOUCAULT, Michel (2010b). Verdade, Poder e Si Mesmo. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). tica, Sexualidade, Poltica / Ditos e Escritos V. Traduo de Elisa Monteiro e Ins Dourado Barbosa. 2 edio. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 294-300.FOUCAULT, Michel (2010c). Prefcio (Anti-dipo). In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Repensar a Poltica / Ditos e Escritos VI. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 103-106.FOUCAULT, Michel (2010d). Intil Revoltar-se?. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). tica, Sexualidade, Poltica / Ditos e Escritos V. Traduo de Elisa Monteiro e Ins Dourado Barbosa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 77-81.FOUCAULT, Michel (2010e). Os Direitos dos Homens em face dos Governos. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Repensar a Poltica / Ditos e Escritos VI. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 369-370.FOUCAULT, Michel (2010f). Da Amizade como modo de vida.. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Repensar a Poltica / Ditos e Escritos VI. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa.1 edio. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 348-353.FOUCAULT, Michel (2010g). Importante Pensar?.. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Repensar a Poltica / Ditos e Escritos VI. Traduo de Ana Lcia Paranhos Pessoa. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp. 354-358.FOUCAULT, Michel (2011a). Radioscopia de Michel Foucault. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Arte, epistemologia, filosofia e histria da medicina / Ditos e Escritos VII. Traduo de Vera Lucia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp 323-342.FOUCAULT, Michel (2011b). Hospcios. Sexualidade. Prises. In: MOTTA, Manoel Barros de (org). Arte, epistemologia, filosofia e histria da medicina / Ditos e Escritos VII. Traduo de Vera Lucia Avellar Ribeiro. Rio de Janeiro: Forense Universitria, pp.310-322.HIGUERA, Javier de la (1999). Michel Foucault: la filosofa como crtica. Granada: Comares. LANCEROS, Patxi (1996). Avatares del hombre: el pensamiento de Michel Foucault. Bilbao: Universidad de Deusto.MOREY, Miguel. La Cuestin del Mtodo (1991). In: FOUCAULT, Michel. Tecnologas del Yo y Otros Textos Afines. Barcelona: Paids Ibrica, pp. 9-44.ORTEGA, Francisco (1999). Amizade e esttica da existncia em Foucault. Rio de Janeiro: Graal.PIZZORNO, Alessandro (1995). Foucault y la concepcin liberal del indivduo. In: BALIBAR, Etienne, DELEUZE, Gilles DREYFUSS Hubert (et.al.).DELEUZE, Gilles (et. al.). Michel Foucault, filsofo. Barcelona: Gedisa.RAJCHMAN, John (1987). La liberte de savoir. Paris: PUF.SCHIMID, Wilhelm (2002). En busca de un nuevo arte de vivir. La pregunta por el fundamento y la nueva fundamentacin de la tica en Foucault. Valencia: Pre-textos.