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ISSN: 2318-6003 | v.6, 2018 UFRGSMUNDI • 1 • GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2018 • ORGANIZADORES Giovanna Cunha Padilha João Estevam dos Santos Filho Mariana Pires Theodoro Sofia Oliveira Perusso Tarsila Klein Schorr PORTO ALEGRE, V.6, AGO. 2018 UFRGSMUNDI Porto Alegre v.6 p.1-197 2018 GUIA DE ESTUDOS 2018 UFRGS MUNDI

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ISSN: 2318-6003 | v.6, 2018 UFRGSMUNDI • 1

• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2018 •

ORGANIZADORES

Giovanna Cunha Padilha

João Estevam dos Santos Filho

Mariana Pires Theodoro

Sofia Oliveira Perusso

Tarsila Klein Schorr

PORTO ALEGRE, V.6, AGO. 2018

UFRGSMUNDI Porto Alegre v.6 p.1-197 2018

GUIA DE ESTUDOS 2018

UFRGSMUNDI

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UFRGSMUNDI • 2 ISSN: 2318-6003 | v.6, 2018

• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2018 •

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

REITORProf. Rui Vicente Oppermann

FACULDADE DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

DIRETORProf. Carlos Henrique Horn

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

COORDENADORProf. Érico Esteves Duarte

EDITORA-CHEFEProf.ª Sônia Ranincheski

CONSELHO CONSULTIVOProf.ª Analúcia Danilevicz Pereira (UFRGS); Prof. André da Silva Reis (UFRGS); Prof. Érico Esteves Duarte (UFRGS); Prof. Henrique de Castro (UFRGS); Prof.ª Jacqueline Haffner (UFRGS); Prof. José Miguel Quedi Martins (UFRGS); Prof. Luiz Augusto Faria (UFRGS); Prof. Marco Aurélio Cepik (UFRGS); Prof. Paulo Visentini (UFRGS); Prof.ª Sonia Maria Ranincheski (UFRGS); Prof.ª Silvia Ferabolli (UFRGS); Prof.ª Verônica Kerber Gonçalves (UFRGS)

CONSELHO EDITORIALAna Carolina Melos de Sousa (UnB, Brasil); Anselmo Otavio (UFRGS, Brasil); Bruna Coelho Jaeger (UFRJ, Brasil); Jamille Almeida da Silva (UFRGS, Brasil); Larlecianne Piccolli (UFRGS, Brasil); Leonardo Marmontel Braga (UFRGS, Brasil); Luíza Gimenez Ceriolo (Universidade de Marburg, Alemanha); Maíra Pereira da Costa (UFRGS, Brasil); Natália Regina Colvero Maraschin (Universidade de Denver, Estados Unidos da América); Rafaela Pinto Serpa (UFRGS, Brasil); Roberta Preussler dos Santos (UFRGS, Brasil)

CONSELHO EXECUTIVOGiovanna Cunha Padilha, João Estevam dos Santos Filho, Mari-ana Pires Theodoro, Sofia Oliveira Perusso, Tarsila Klein Schorr

EDITORAÇÃOTarsila Klein Schorr

CAPA E PROJETO GRÁFICOSofia Oliveira Perusso

ILUSTRAÇÕESVictória Cristina Franza Carvalho

APOIOPró-Reitoria de Extensão; Faculdade de Ciências Econômicas; Centro Estudantil de Relações Internacionais; UFRGSMUN; Relações Internacionais para Educadores (RIPE); UFRGSMUN Back In School (BIS)

PARCERIA FINANCEIRA

Faculdade de Ciências Econômicas (FCE)

Os materiais publicados no guia de estudos UFRGSMUNDI são de exclusiva responsabilidade dos autores. É permitida a repro-dução parcial e total dos trabalhos, desde que citada a fonte. Os artigos assinalados refletem o ponto de vista de seus autores e não necessariamente a opinião dos editores desse periódico.

UFRGSMUNDI

Faculdade de Ciências Econômicas (FCE/UFRGS)

Av. João Pessoa, 52, Campus Centro, CEP 90040-000, Porto Alegre, RS - Brasil.

Email: [email protected]://www.ufrgs.br/ufrgsmundi

Dados Internacionais de Catalagoção na Publicação (CIP)

UFRGSMUNDIUniversidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Curso de Relações Interna-

cionais, Centro Estudantil de Relações Internacionais - Ano 6, n. 6 (2018). – Porto Alegre: UFRGS/FCE, 2013

Anual.ISSN 2318-6003.

1. Ciência Política. 2. Relações internacionais. 3. Política internacional. 4. Diplomacia.CDU 327

Responsável: Biblioteca Gládis Wiebbelling do Amaral, Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO

EDITORIAL

GUIA DE REGRAS

AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃOA Prática do Jornalismo e as Relações InternacionaisAnderson Dorneles Gonçalves, Daniel Mutzemberg Giussani, Eduardo Julian Almeida Rius e Guilherme Geremias da Conceição

ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Movimentos Nacionalistas e Separatistas na Europa OcidentalAndré Lucas Silva Pereira, Dionéia Gabrieli Valk, Leonardo Beheregaray Seben, Maitê Roman Goulart e Matheus Ibelli Bianco

ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (1954)O Apartheid Sul-Africano Artur Holzschuh Frantz, Eduarda Fontana Rsmos, Lucca Pires Silva Lima, Marcus Vinícius Hypólito Alves e Paolla Grazielly Codignolle Souza

ASSEMBLEIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTEOs Desafios para a Implementação do Acordo de ParisCamilla Martins Pereira, Evelucia Nunes Cutrim, Rafaela Raphaelli Matos Dal Ben e Vinícius Altair Olaves Marques

MESA DE GOVERNANTES DO BANCO MUNDIALInvestimentos em Infraestrutura Energética na região da Ásia Central e do CáucasoAmanda Petry, Eduardo Tomankievicz Secchi, Felipe Jaeger Andreis, Maísa de Moura e Maria Eduarda Variani

CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDASA Intolerância Religiosa no Século XXIJulia Maria Taboada Correia, Luana Alonso Xavier de Miranda, Natália Alves Dorneles, Natália Hedlund Jardim, Natascha Ramos Klein e Pedro Bandeira dos Santos

CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS DE 1956Crise de Suez: a segunda guerra árabe-israelense. Aline de Souza Correia Santos, Joana Soares Cordeiro Lopes, Júlio César Giacomin Spido e Rodrigo dos Santos Cassel

ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOSO Impacto das Migrações para o Continente AmericanoAna Paula Fraga, Beatriz Vieira Rauber, Francielle Mazocco e Magnus Kenji Hernandes Hübler Hiraiwa

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕESExpansão dos Direitos dos Deslocados InternosLarissa Maria Zimnoch, Pedro Vellinho Corso Duval, Rodrigo Führ e Vitória Volpato

SENADO FEDERALImpeachment da Presidente Dilma Rousseff (2016)Bruna Leão Lopes Contieri , Felipe Gobatto Scheibler, Helena dos Anjos Xavier, Lucas Colombo Keil e Luiz Marcelo Michelon Zardo

ASSEMBLEIA GERAL DA UNIÃO AFRICANATerrorismo no Continente AfricanoAmabilly Bonacina, Gabriela Ribeiro Santos, Georgia Bernardina de Menezes Gomes, Rafaela Elmir Fioreze e Victor Hugo Dresch da Silva

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• GUIA DE ESTUDOS: UFRGSMUNDI 2018 •

APRESENTAÇÃOA Faculdade de Ciências Econômicas e o projeto UFRGSMUNDI 2018

Carlos Henrique Vasconcellos Horn Diretor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFRGS

Apresentamos o Guia de Estudos do UFRGSMUNDI de 2018, que foi elaborado pelos estudantes da nossa Faculdade de Ciências Econômicas (FCE) para a sétima edição deste evento que se propõe a reunir alunos de ensino médio e realizar atividades de simulação de discussões sobre diferentes temas no âmbito das Nações Unidas. Este Guia de Estudos tem como objetivo orientar os participantes nas simulações temáticas, mas também pode ser uma excelente fonte de consulta para outros interessados nos assuntos aqui apresentados. Trata-se, portanto, da Universidade cumprindo o seu papel de contribuir com o avanço da nossa sociedade e destes alunos atingindo o ideário da nossa Faculdade: formar e qualificar pessoas comprometidas com a excelência e a ética, desenvolver novos conhecimentos e colaborar para o desenvolvimento da sociedade. Estes têm sido, aliás, o papel da FCE, ao longo de sua história:contribuir com o aprimoramento do Estado gaúcho e do Brasil.

A FCE é uma instituição centenária e uma das Unidades mais antigas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Neste ano, graduou 119 formandos dos cursos de Ciências Atuariais, Ciências Contábeis, Economia e Relações Internacionais. Novos profissionais colaram grau acadêmico e agora estão aptos ao ingresso no mercado de trabalho.

A FCE tem uma tradição que remonta à antiga Escola de Comércio, de 1909, integrante da Faculdade Livre de Direito. Em 1945, transformou-se em Faculdade de Economia e Administração, separando-se do Direito, e passou a oferecer os seguintes cursos superiores: Ciências Econômicas, Ciências Administrativas, Ciências Contábeis e Atuariais. Em 1950, com a federalização da então Universidade do Rio Grande do Sul, a Faculdade de Economia e Administração passou a denominar-se Faculdade de Ciências Econômicas – FCE, o que permanece até os dias de hoje. Em 1996, com a criação da Escola de Administração, o Curso de Ciências Administrativas passou a ser oferecido pela nova Escola. Em 2004, a FCE criou um novo curso de graduação em Relações Internacionais e, em 2007, mais um novo curso de graduação tecnológica sobre Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural, na modalidade de educação à distância.

Neste breve histórico realçamos o compromisso que temos em formar e qualificar pessoas comprometidas com a excelência e a ética, desenvolver novos conhecimentos e contribuir para o desenvolvimento da sociedade. O GUIA UFRGSMUNDI 2018 é mais uma prova deste compromisso, pois venceu as dificuldades inerentes a um projeto de extensão e se afirmou como um projeto regular da Faculdade, sendo realizado anualmente. Assim, no próximo ano, nossos alunos novamente oferecerão o MUNDI e mais uma vez a comunidade gaúcha poderá usufruir dos conhecimentos aqui gerados.

Nossa integração com a comunidade gaúcha se realiza de muitas maneiras e uma delas tem sido a realização do UFRGS MUNDI com a participação de jovens secundaristas que, nos três dias de realização do evento, descobrem uma Faculdade vibrante, que funciona no já histórico prédio da avenida João Pessoa, 52, em Porto Alegre. Faculdade esta que busca constantemente renovar os valores de integração da comunidade acadêmica, desenvolvimento humano e colaboração e liberdade de criação, valorização da pluralidade, sustentabilidade,

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responsabilidade e transparência, cooperação institucional, e democratização do ensino, pesquisa e extensão. Convidamos todos a ler o GUIA MUNDI 2018. Convidamos também a conhecer a nossa FCE, não só pelas redes sociais e pela nossa página, mas também nos visitando para o uso da biblioteca, para assistir palestras, debates ou atividades culturais, e para se informar sobre como estudar na FCE/UFRGS.

Sejam bem-vindos ao MUNDI 2018.

E até o próximo MUNDI em 2019.

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EDITORIALIntegrando experiências, impulsionando mudanças

O UFRGSMUNDI é um projeto de extensão do curso de Relações Internacionais da Faculdade de Economia e Relações Internacionais que tem como objetivo principal incentivar o debate de temas em voga no cenário internacional atual e que não são comumente abordadosno currículo de Ensino Médio, desenvolvendo a oratória, o trabalho em equipe e o aprendizadode relações internacionais. Trata-se de um modelo de simulações de organismos internacionais, integrantes ou não do “Sistema ONU”, voltado para secundaristas, das redes pública e privadado Rio Grande do Sul.

A cada ano, um lema é escolhido para representar a ideia a ser desenvolvida e o do UFRGSMUNDI 2018, “Integrando experiências, impulsionando mudanças”, está inserido no desejo dos estudantes de ampliar o conhecimento que eles adquirem na Universidade. Mas, mais do que ampliar, o UFRGSMUNDI 2018 quer contribuir para a construção de um pensamento crítico entre os estudantes secundaristas.

Os estudantes secundaristas podem ou tem condições de discutir e refletir sobre o mundo? Certamente que sim. Com este espírito que foram montados os grupos de debate para simulação. A agenda de debates contém as seguintes agências e temas: Agência de Comunicação (AC); Assembleia Geral da ONU (AG): Movimentos nacionalistas e separatistas na Europa Ocidental; Assembleia Geral da ONU 1954 (AG54): O apartheid sul-africano; Assembleia Geral da ONU para o Meio Ambiente (ANUMA): Os desafios do Acordo de Paris; Banco Mundial (BM): Infraestrutura energética no Cáucaso e na Ásia Central; Conselho de Direitos Humanos da ONU (CDH): Intolerância Religiosa no século XXI; Conselho de Segurança da ONU 1956 (CS56): A Crise do Canal de Suez: A segunda guerra árabe-israelense; Organização dos Estados Americanos (OEA): Migrações no continente americano; Organização Internacional para as Migrações (OIM): Expansão dos direitos dos deslocados internos; União Africana (UA): Terrorismo no continente africano. A novidade na agenda das discussões está na vontade dos estudantes de debaterem a situação política do Brasil. Para tanto, o MUNDI desse ano terá Senado Federal 2016 (SF16): O impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Essa novidade, inserir um tema nacional, revela que nossos estudantes estão conectados com o mundo e com o Brasil, entendendo que em relações internacionais o contexto nacional muitas vezes é relevante e ajuda na compreensão do cenário internacional. A compreensão de que o mundo está interconectado numa globalização entre mercados que, paradoxalmente, fazem o contexto nacional perder relevância em detrimento de interesses econômicos e das grandes corporações.

Assim, o cenário atual nas relações internacionais está exigindo dos especialistas análises profundas e que expliquem como é possível a humanidade se deixar conduzir por lideranças aventureiras que, possuindo poder de Estado, ameaça a paz mundial. Necessitamos de estudiosos que possuam discernimento entre o que são interesses das grandes corporações, interesses dos Estados nacionais e do bem estar da população. Estudiosos que vejam as relações entres os Estados Nacionais para além de um tabuleiro onde as peças parecem não ter vidas humanas. Não podemos aceitar que nossa área de estudo se fixe apenas nas análises das capacidades estatais. Para termos um mundo melhor, é necessário discutirmos em que medida é possível mantermos um cenário internacional no qual países ricos mantém dominação sobre países pobres. É necessário sair da aparência e discutir a globalização como um processo que vai além da interação do mercado. Trata-se de uma mundialização da lógica e do domínio do capital e que precisamos compreender o processo.

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Nestes termos o UFRGSMUNDI 2018 espera contribuir com o avanço do conhecimento em todos os níveis. Nesse ano tivemos 40 escolas inscritas, mesmo número de 2015 e 2016. Escolas da rede pública e privada do Estado do Rio Grande do Sul. Esse é o primeiro MUNDI em que o número de escolas públicas é igual ao de escolas particulares, indicando que estamos atingindo um público importante e que não possui os mesmos meios que uma escola privada em geral possui. A Universidade Federal, que é pública, cumpre assim uma função decisiva para o crescimento cultural do nosso Estado: elevar o nível da qualidade de conhecimento dos jovens gaúchos.

A maior parte destas escolas são da capital Porto Alegre e da região metropolitana. Mas temos escolas de Pelotas, Capão da Canoa, Lajeado, Soledade, Sapucaia do Sul, Sapiranga, Jaguarão, Osório e Santa Maria. O interesse se reflete no excelente número de alunos inscritos, 537, para 380 vagas.

A dinâmica do MUNDI desse ano também mudou. Decidiu-se fazer o MUNDI em três dias, diferente das outras edições que se realizavam em dois dias. A cada ano do MUNDI acumulamos experiência e conhecimentos sobre a lógica dos jovens quando abraçam a ideia de participar das simulações temáticas da ONU. Notamos que era necessário dar mais tempo para os debates e para as atividades de abertura e encerramento. Assim, decidiu-se em realizar o evento em três dias.

UFRGSMUNDI, na medida em que se propõe a reunir, dentro de um mesmo ambiente, alunos de realidade socioeconômicas diferentes, revela-se um grande projeto, de retorno social elevado, levando para além dos muros da universidade o conhecimento acadêmico aqui elaborado, democratizando o ensino das Relações Internacionais e dando o retorno de investimento público que é feito nos alunos de graduação desta instituição. O UFRGSMUNDI é, portanto, uma forma de transpor a barreira que separa a Academia da Sociedade. Desejamos uma boa leitura e bom debate.

Profª. Dra. Sonia Ranincheski

Coordenadora Docente do VII UFRGSMUNDI

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GUIA DE REGRAS

REGRAS DE DEBATESempre que houver algum procedimento de votação, uma maioria dos votos será

necessária para aprovação. Essa maioria é uma “maioria simples”, calculada como sendo a metade do total de votos mais um, arredondando o resultado final para baixo, se necessário. Por exemplo, a maioria simples de 5 votos é 3.

Documento de TrabalhoDocumentos de Trabalho são documentos informais que servem para auxiliar o comitê

na discussão do tópico, constituindo-se de cláusulas e pontos importantes, por exemplo. Os delegados(as) podem propor Documentos de Trabalho para consideração do comitê durante qualquer momento da Sessão. Os documentos devem ser aprovados pela Mesa. Uma vez aprovados, serão projetados para que todos possam ver e serão impressas uma ou duas cópias que ficarão disponíveis para consulta.

DebateNo início da primeira sessão acontece a rodada inicial de discursos, quando cada

delegado(a) deverá fazer um pequeno discurso apresentando o seu país e explicando brevemente aquilo que considera mais importante para discussão.

Fluxo Normal de Debate

O Fluxo Normal de Debate é a forma pela qual será conduzido o debate ao longo das sessões e corresponde a um Debate Moderado pela Mesa. Delegados(as) que desejem se pronunciar durante o Debate Moderado devem levantar as suas placas e serão reconhecidos a critério da Mesa.

Moção para Debate Não Moderado

As Moções são a ferramenta pela qual os(as) delegados(as) podem sugerir a alteração do fluxo de debate. Em Debate Não Moderado, a Mesa suspende o debate formal, por tempo previamente determinado, para que os delegados(as) possam discutir sem interferência. Em cada sessão, há um limite de 45 minutos para Debate Não-Moderado.

ELABORAÇÃO, INTRODUÇÃO E VOTAÇÃO DE RESOLUÇÕES

Rascunho de ResoluçãoO rascunho de resolução é uma versão da resolução elabora e apresenta ao comitê pelos delegados(as) antes da votação final. Ele deve conter todos os aspectos presentes em uma resolução final, mas pode ser alterado antes da votação, ou dividido, caso os delegados(as) desejem votar partes separadamente (explicado na tabela a seguir). Os delegados(as) podem elaborar quantos Rascunhos de Resolução forem necessários, até que algum seja aprovado - mas uma vez introduzido, cada Rascunho é discutido, alterado e votado individualmente. Para a aprovação de uma Resolução, é necessário uma Maioria Simples.

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REGRA Nº DE VOTOS COMENTÁRIOS

Ponto de ordem Não se aplica

Pode ser pedido a qualquer momento, para tirar dúvi-

das com relação às regras ou para informar desconforto ou dificuldade enfrentados por

algum delegado(a).

Moção para Adiamento da Sessão Maioria simples

Usada para adiar a reunião até a próxima sessão do co-

mitê.

Moção para Debate não-mo-derado Maioria simples

Tem como objetivo facilitar o debate. O tempo limite é

proposto pelo(a) delegado(a) e aceito pela Mesa, não poden-

do ultrapassar 45 minutos por sessão.

Moção para Introdução de Emenda

Aprovada pela Mesa, não precisa ser votada

Uma vez aprovada pela Mesa, transforma o debate em não-

-moderado.

Votação de emenda Maioria simples

Emendas passam por con-senso se aceitas por todos os delegados(as) durante o

debate não-moderado; caso contrário, a Mesa conduz

uma votação. Nesse caso, é necessária maioria simples

para aprovação.

Moção para Divisão da Ques-tão Maioria simples

Moção que pede para que a resolução seja votada em ar-tigos individuais ao invés de como um documento único.

Se aceita, transforma o deba-te em não-moderado.

Moção para Votação por Chamada Aprovada pela Mesa.

Realizada por chamada em ordem alfabética. Delega-

dos(as) podem votar a favor, a favor com reservas, contra ou se abster, e podem pas-sar sua vez. No caso de o(a) delegado(a) passar sua vez, ele(a) será chamado(a) ao

final da votação e não poderá se abster.

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AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

A Prática do Jornalismo e as Relações Internacionais

Anderson Dorneles Gonçalves, Daniel Mutzemberg Giussani, Eduardo Julian Almeida Rius e Guilherme Geremias da Conceição1

1 Graduandos em Comunicação e Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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APRESENTAÇÃOVocê já imaginou como seria legal agir, por um dia, como se você fosse um jornalista que

apresenta um telejornal de grande audiência? Ou, ainda conhecer as redações para saber como são feitos os jornais que lemos diariamente, ou como funciona a cobertura de um grande acontecimento em tempo real?

A comunicação mundial como conhecemos hoje foi desenvolvida recentemente. A rapidez a que estamos acostumados e a formação de verdadeiras redes de informações, em que (quase) tudo é instantâneo, online e prático, é um fenômeno que começou a se consolidar, principalmente, a partir da segunda metade do século XX. Com muito mais força, entramos no século XXI sendo filhos dessa revolução informacional.

As informações, no entanto, não são apenas elas por si só: elas dependem de um processo comunicacional que também é objeto de estudos, de desenvolvimento de técnicas e de aperfeiçoamento. E, nisso, o jornalista desempenha um papel central: ele é o responsável por facilitar o acesso às informações para o grande público.

Este guia tem como objetivo ajudar você que está ingressando na Agência de Comunicação do UFRGSMUNDI. Nela, você vai descobrir que a informação é muito além do que apenas se apresenta: depende do ponto de vista de quem escreve e de quem a recebe, de quem produz o conteúdo e em como tudo isso pode interferir nas percepções da realidade em que vivemos.

1 O QUE É JORNALISMO?O Jornalismo é um campo de estudos e uma área de atuação profissional que se preocupa,

principalmente, em informar as pessoas sobre acontecimentos que são inerentes a elas. Em outras palavras, divulgar fatos que fazem parte do cotidiano e da vida das pessoas. Os jornalistas são profissionais que atuam como “lentes da sociedade”, ou seja, o trabalho destes profissionais se fundamenta em comunicar acontecimentos e informações de maneira clara, objetiva e precisa.

Nesse sentido, o pesquisador Orlando Tambosi salienta acerca de como os jornalistas devem formular seus discursos:

Os relatos jornalísticos devem seguir o fato tal como sucedeu, e para isso, o narrador se faz servir uma linguagem por um lado pura, mas por outro, clara e concisa, evitando as palavras obscuras e a confusão na ordem sintática (2004, p. 57).

Devemos ter em mente que nem tudo é noticiável e nem tudo é considerado jornalismo. O jornalismo tem um dever com a sociedade. Diante desse compromisso social que a profissão estabelece, os jornalistas podem ser vistos como protetores dos cidadãos. Isso se reflete, por exemplo, quando os profissionais da comunicação abordam, descobrem e esclarecem atos tirânicos de quem está no poder, como corrupção. Por outro lado, o jornalismo também pode beneficiar atos de pessoas corruptas, seja amenizando seus atos, agravando a crítica com relação a outros ou, inclusive, não trazendo a público determinadas informações. Porém, esta é uma maneira antiética e errônea de se fazer jornalismo. Portanto, os jornalistas devem sempre fazer uma investigação aprofundada sobre a sua matéria, garantindo assim, uma produção de confiança e com alta credibilidade. Souza (2005, p.29) afirma que “um bom jornalista deve ser curioso, persistente, imaginativo e ousado. Deve estar disposto a desafiar estereótipos, expor mitos e mentiras”.

A teoria democrática apontava para que o jornalismo cumprisse um duplo papel: 1) com a liberdade “negativa”, vigiar o poder político e proteger os cidadãos dos eventuais abusos dos governantes; 2) com a liberdade “positiva”, fornecer aos cidadãos as informações necessárias para o desempenho das suas responsabilidades cívicas, tornando central o conceito de serviço público como parte da identidade jornalística (TRAQUINA. 2004, p. 50)

É importante que, durante as coberturas de acontecimentos e levantamentos de informações, os jornalistas estejam atentos ao que seu discurso está evidenciando. Afinal, serão eles os responsáveis por transformar as informações e acontecimentos problemáticos que foram captados em um conteúdo de fácil leitura e que se aproxime tanto da objetividade quanto da veracidade dos fatos. Hall aponta que:

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As coisas são noticiáveis porque elas representam a volubilidade, a imprevisibilidade e a natureza conflituosa do mundo. Mas não se deve permitir que tais acontecimentos permaneçam no limbo da desordem - devem ser trazidos aos horizontes do significativo (HALL apud TRAQUINA, 2004, p. 226).

Primordialmente, o trabalho do jornalismo serve à sociedade, com princípios de clareza, objetividade, verdade, interesse público e democracia, na medida do possível. O jornalismo trabalha com a construção dos fatos de uma sociedade, e são os jornalistas que, por meio das suas produções, proporcionam às pessoas a capacidade de criarem suas próprias concepções de mundo a partir de uma realidade que lhes é apresentada.

2 A NOTÍCIAQuando se ouve a palavra “jornalismo”, há diversas palavras das quais nos lembramos e com as

quais associamos a profissão. Você saberia dizer qual é a primeira coisa da qual você se lembra quando vê essa palavra? Provavelmente, umas das mais comuns e recorrentes deve ser a ideia de “notícia”.

Pode-se fazer uma distinção básica do jornalismo em duas vertentes: a da informação e a da opinião. Como o próprio nome aponta, o jornalismo opinativo preza pela opinião do jornalista sobre um fato ou acontecimento. Dessa forma, não se estabelecem determinados compromissos que necessariamente existem no jornalismo de caráter informativo. O jornalismo opinativo tem como virtudes principais a interpretação, argumentação, sendo encontrado nos editoriais, artigos, crônicas e críticas. Já o informativo prioriza a descrição e a narração de fatos novos e atuais, sendo representado por notas, entrevistas, reportagens e, principalmente, pela notícia.

A notícia tem um compromisso fundamental com a verdade, a objetividade e o interesse público, e é diretamente ligada ao caráter democrático. Isto é, não apenas em seu sentido político, mas também em um espectro social. Para Charaudeau (2007), a notícia é um conjunto de informações que se relaciona dentro de um mesmo espaço temático e social, tendo sempre um caráter de novidade proveniente de uma determinada fonte. O autor Nelson Traquina (1993) também define a notícia como o produto do processo de análise de um acontecimento.

Porém, nem todo fato do cotidiano pode ser tratado como um acontecimento noticioso. É papel do jornalista saber distinguir quando um fato deve ser noticiado. Por isso, os teóricos de comunicação realizaram uma seleção de fatores que podem facilitar o processo de definição sobre se algo é publicável. Sendo assim, surgiram os critérios de noticiabilidade, e por meio deles, é possível selecionar o que é ou não notícia. Alguns desses critérios de noticiabilidade são os valores-notícia.

2.1 VALORES-NOTÍCIA Algo pode ser relevante para uma pessoa, enquanto pode não o ser para outra. Traquina (1993)

definiu, então, alguns critérios de noticiabilidade como valores-notícia. Eles apontam itens e requisitos que podem determinar se um fato é relevante ou não para a sociedade. Se o fato for relevante, ele pode se tornar uma notícia.

Sendo assim, um fato pode ser considerado notícia quando envolve pelo menos um desses critérios, que, segundo o autor, são: a. Morte: O primeiro dos valores-notícia trabalha com a ideia de que algo pode ser notícia quandoenvolve falecimentos, seja por assassinato, mortes em massa, genocídios ou a morte em si;b. Notoriedade do personagem principal: fatos que acontecem com pessoas extremamente conhecidas.Podem ser políticos, celebridades, líderes locais. Percebe-se também que, quanto maior a notoriedadeda pessoa, maior é a quantidade de notícias não tão relevantes sobre ela;c. Proximidade geográfica e cultural: notícias que acontecem mais próximas do leitor chamam mais aatenção;d. Relevância: acontecimentos de ordem social, política, econômica. Assuntos que interferemdiretamente no cotidiano e imaginário do público. Por exemplo, notícias sobre o tempo e o trânsito;e. Novidade: por exemplo, se é a primeira ou última vez que algo acontece, ou, ainda, coisa raras deacontecer. Descobertas científicas, lançamentos de álbuns musicais novos;f. Tempo: alguns assuntos atuais podem introduzir assuntos dos quais já se falaram;

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g. Notabilidade: quando os acontecimentos são muito notáveis, seja pela quantidade de pessoas envolvidas ou pelas dimensões do ocorrido. Exemplo: acidentes de trânsito, acidentes ecológicos;h. Inesperado: quando o acontecimento é algo incomum e ao qual a sociedade não está acostumada. É repentino e com dimensões surpreendentes;i. Conflito: situações de confronto e de violência que rompem a normalidade e a ordem social;j. Infração: ocorre quando o fato transgride regras e leis, é o escândalo.

Em cima do pensamento de Traquina (1993) e de outros autores, a pesquisadora Fabiana Moreira (2006) apontou dez valores-notícias que julga serem fundamentais para a construção da informação. São eles: (1) o interesse público; (2) atualidade e imediatismo; (3) importância - englobando a notoriedade, a consequência, o impacto; (4) emoção e dramaticidade - casos que atiçam a emoção do leitor; (5) entretenimento; (6) suspense; (7) excepcionalidade - o extraordinário e o incomum; (8) conflito e controvérsia - duas opiniões opostas debatendo, por exemplo; (9) negatividade - casos de infrações, falha; (10) proximidade em relação ao leitor.

2.2 CONSTRUINDO UMA NOTÍCIA Destacamos que a notícia tem por finalidade orientar os indivíduos em relação  aos fatos do cotidiano e, assim, reduzir as incertezas sobre as questões diárias. Dessa forma, a notícia é construída através de uma ordem de hierarquização das informações para relatar um acontecimento. Para entender melhor: depois de coletar as informações, é necessário citar primeiro os fatos mais importantes, seguidos dos fatos que complementam o acontecimento principal. Para facilitar o estudo da notícia, o teórico Carl Tiuí Hummenigge (1861) desenvolveu uma técnica conhecida como Pirâmide Invertida. Essa técnica visa destacar e pôr em evidência os dados mais importantes, para depois colocar os dados secundários e complementares.

FONTE: GAMA, Jess. O que é pirâmide invertida? Disponível em: <https://pt.slideshare.net/jessygama/o-que-pirmide-invertida> Acesso em: 6 mar. 2018

O primeiro parágrafo de uma notícia chama-se lide– ou, em inglês, também conhecido como lead. Ele é o principal e funciona como um “resumo” da notícia. É escrito de forma que, sem ler o restante do texto, a pessoa já entenda com clareza o que aconteceu e qual é o fato principal ao qual a notícia se refere. O lide busca responder com objetividade às seguintes questões: o que aconteceu, quem está envolvido no fato, quando e onde. As perguntas como o fato aconteceu e por quê costumam ficar para o restante do texto. Em suma, o lide situa o leitor de uma maneira geral sobre o assunto da notícia. As informações essenciais para o leitor devem aparecer aqui (TRINDADE et al, 2016). Para construir uma boa notícia, devem-se seguir alguns passos, listados a seguir:1.Encontrar um fato que possa se tornar notícia. Para isso, devem ser utilizados os valores-notícia;2. Coletar informações sobre o fato para conseguir escrever o texto. Colete sempre o máximo de informações que conseguir, seja conversando com fontes (pessoas que estavam presentes no local do fato, pessoas envolvidas com o acontecimento), observando a sequência dos fatos que acontecem, etc. Quanto mais informações você conseguir, maior compromisso com a verdade terá sua notícia. Se

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ocorrer uma crise, é fundamental ouvir os dois lados e os mais diversos posicionamentos;3. Hierarquizar as informações e elaborar o lide respondendo às perguntas citadas acima. É muitoimportante observar a objetividade da escrita;4. Após a escrita do lide, deve-se concluir a notícia com as informações adicionais. Ou seja, tudo o quenão é relevante para o lide deve ser colocado no restante do corpo do texto;5. É importante que o jornalista se coloque no lugar do seu leitor imaginado e tente perceber se ficariasatisfeito com as informações apresentadas na notícia. Por isso, é essencial reler o que se escreve!

Em termos técnicos de redação, algumas dicas também são importantes:a. O título sempre deve ter um verbo e esse verbo deve estar no presente, mesmo que o fato já tenhaacontecido. O título deve ser escrito com informações saídas do lide, uma vez que o lide é a parte maisimportante do acontecimento. Repare também que o título nunca leva pontuação no final, embora hajadeterminados veículos de comunicação que o utilizem de forma errônea. Os jornalistas profissionaistambém costumam evitar que o título tenha mais do que 60 caracteres, o que exige pensar uma fraseobjetiva, mas sem deixar de ser clara e de fornecer a informação necessária ao leitor;b. A notícia não deve ser escrita com a mesma linguagem, por exemplo, de um artigo científico ou deum conto. O trabalho do jornalista busca atingir o maior número de pessoas possível. Por isso, escrevade maneira simples, clara e objetiva, de maneira a ser compreendida por todos;c. Tenha cuidado ao escrever siglas. Algumas, de fato, são de conhecimento geral. Outras, porém,precisam ter seu significado escrito por extenso na primeira vez que utilizadas, a fim de esclarecer oleitor. É o que se chama de “abrir” a sigla. Por exemplo: Supremo Tribunal Federal (STF);d. Faça parágrafos e frases curtas. Quanto maior a frase, maior é a chance de ela ficar confusa ouenfadonha, com informações demais. Frases curtas concluem o raciocínio de maneira eficaz;e. Evite adjetivos de valor, como bonito, feio, grande, pequeno, porque suas percepções podem serdiferentes das do leitor. Assim, você não pode garantir que o que é bonito para você será bonito para opúblico também. Além disso, afirmar que algo é muito grande não dá certeza alguma para quem estálendo a notícia. É preferível que você diga o tamanho exato. A linguagem jornalística, como já citamos,busca atingir o maior número de pessoas. Portanto, ela deve ser universal, sem adjetivar ou julgar.Adjetivar o texto, além disso, compromete a credibilidade da informação;f. Evite eufemismos. Você precisa dar clareza para seu leitor. As pessoas morrem, não perdem a vida.Notícia é um texto objetivo em que não cabem subjetividades.

3 OUTROS MEIOS JORNALÍSTICOSAté agora, falamos, principalmente, da notícia, que é o gênero jornalístico mais recorrente no

cotidiano e também é o que utilizaremos com maior frequência no UFRGSMUNDI. Mas não apenas a notícia é importante, como também, existem outras formas de fazer jornalismo igualmente singulares e com suas particularidades. Algumas delas são:

3.1 REPORTAGEMA reportagem é um conteúdo que deve ser muito bem analisado, estudado e aprofundado por

quem a faz. Trata-se de um texto construído através de falas (obtidas preferencialmente em entrevistas) de especialistas sobre o assunto abordado. Neste tipo de textos, pode-se utilizar falas de especialistas, bibliografias, pesquisas, imagens, contextualização histórica e quaisquer outras ferramentas que possam ajudar o leitor a entender o conteúdo em profundidade. Logo, é um texto mais complexo e mais aprofundado do que a notícia, não precisa estar relacionada com o factual.

3.2 ARTIGO O artigo é uma produção textual que contém conteúdo informativo e opinativo. Quando os

jornais utilizam este tipo de texto, o seu intuito é tentar convencer as pessoas de uma ideia, ou seja, que aqueles pensamentos presentes ali na matéria jornalística são os melhores ou os corretos. Este tipo de texto geralmente é desenvolvido em volta de um tema central rodeado de argumentações sobre o porquê do ponto de vista presente ali ser o melhor, possibilitando assim, que aquela opinião consiga surtir um poder de persuasão no leitor.

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3.3 EDITORIALO editorial segue a mesma linha do artigo, é um texto que contém conteúdo informativo e

opinativo. Porém, é importante ressaltar que o artigo leva a opinião pessoal do jornalista, enquanto o editorial leva a opinião do veículo de comunicação - empresa jornalística - sobre o tema pautado.Muitas vezes nascem discussões sobre o editorial ser um tipo de texto doutrinário, pois leva a opiniãodaqueles que possuem grandes privilégios perante a sociedade, ou seja, os empresários das grandesmídias.

3.4 NOTAA nota é um texto informativo escrito de maneira muito curta, apenas com as informações

mais essenciais. Geralmente é composta apenas pelo lide, ou seja, contendo informações das perguntas básicas da notícia: “quem?”, “o quê?”, “quando?”, “onde?” e por quê?”. Logo, é um texto caracterizado pela brevidade e objetividade. Nos jornais, predominantemente aparece abordando notícias que já foram noticiadas ou assuntos que não são muito relevantes para a sociedade. Quando aparecem em colunas podem estar acompanhadas de alguns comentários opinativos.

4 A NOTÍCIA NOS DIFERENTES VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃOOs veículos de comunicação são os meios que divulgam as notícias. Eles estão espalhados por

diversas plataformas como os jornais impressos e revistas, o rádio, a televisão e a internet.

4.1 JORNAL IMPRESSOCom sua origem datada em 59 A.C., na Roma de Júlio César, o jornal é um dos mais antigos

veículos de comunicação, e foi durante muito tempo a principal forma de se realizar o jornalismo propriamente dito. O jornal impresso, a partir da criação da prensa de Gutemberg, em 1447, possibilitou o livre intercâmbio de ideias e culturas, disseminando o conhecimento em todo o mundo por meiodas primeiras publicações periódicas durante o século XVII (SOUSA, 2004). No Brasil, a imprensachegou em 1808, junto com a família real. Foram criados os dois primeiros jornais brasileiros: o CorreioBraziliense e a Gazeta do Rio de Janeiro (MELO, 2012).

Atualmente, com a Internet, as publicações impressas têm apresentado uma queda em virtude do surgimento das plataformas online de comunicação, o que possibilitou um maior e mais rápido acesso as notícias. Entretanto, o jornal impresso ainda representa um poderoso veículo popular no relato de acontecimentos.

Na forma impressa, a notícia é composta, principalmente, por título, lide e texto. Há também a publicação de uma linha de apoio, que serve para contextualizar o fato e uma cartola, palavra única que fica no início da página e identifica o assunto da matéria (exemplo “política”, “policial” ou “trânsito”).

4.2 RÁDIOO rádio surgiu no início do século XX, com contribuições estrangeiras, a exemplo do inventor

Tesla e do físico Marconi, e brasileiras, a exemplo do padre Roberto Landell de Moura que, em 1893, fez as primeiras transmissões no mundo, em Porto Alegre (FERRARETTO, 2001). Inicialmente apenas os militares podiam ter acesso aos aparelhos de rádio no Brasil, que teve a primeira transmissão civil realizada em abril de 1919 (SAMPAIO, 1984).

Ainda hoje, o rádio segue sendo um dos suportes mais populares entre os diferentes veículos de comunicação do mundo. A cobertura radiofônica exige frases curtas e organizadas, além do diálogo constante com o ouvinte e de informações noticiadas de maneira decrescente (da informação mais importante a menos importante). Um áudio simples, geralmente dura de 30 segundos a 1 minuto e 30 segundos.

4.3 TELEVISÃO A televisão, patenteada por Paul Nipkow, surgiu na segunda metade do século XX, utilizando

do recurso da imagem. Entretanto a TV apenas tomaria impulso no pós 2ª Guerra Mundial, surgindo no Brasil no fim da década de 1940 por meio do empresário Francisco Assis Chateaubriand Bandeira

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(SAMPAIO, 1984). Assim como no rádio, a TV traz frases curtas e em ordem direta nos telejornais. A reportagem televisiva contém offscreens (trechos em que o repórter fala por trás das imagens, narrando os acontecimentos), entrevistas e passagens (momento em que o repórter aparece em frente à câmera trazendo o que há de mais relevante). Normalmente as reportagens em um telejornal têm entre 1 minuto e 30 segundos até 4 minutos, podendo chegar a até 10 minutos quando especiais.       

4.4 INTERNET Inventada por Robert Kahn e VintCerf, a Internet teve seu primeiro sistema civil compartilhado em 1962, mas apenas se tornou comercial para o Brasil e restante do mundo na década de 1990 (STRAUBAHAAR & LA ROSE, 2004). Desde então, o jornalismo tem migrado aos poucos para este veículo, em diversas plataformas online (a exemplo dos sites de notícias ou então das redes sociais) de forma a atrair leitores e produzir conteúdo em diversas línguas. Os principais jornais brasileiros já disponibilizam suas versões impressas de forma digital, como também apresentam conteúdos e versões personalizadas para versão online. Também há os veículos de outros países que disponibilizam seus conteúdos em português, como BBC Brasil e El País. Também estão surgindo os ditos veículos nativos digitais, que são projetos jornalísticos que não apresentam versão impressa, seus conteúdos não se limitam ao factual, como a Agência Pública, o Repórter Brasil e a Nexo. Hoje, muito pouco do que está online é de fato jornalismo, abrindo espaço também para a expressão de opiniões e narrativas ficcionais, de modo que as informações precisam ser checadas antes de serem publicadas, sejam de onde forem. Por isso, no Brasil surgiu a agência Lupa e Aos Fatos, que se propõem a checar e apurar dados e informações que circulam em todas as mídias. Com a publicação online, surgiram também ferramentas como blogs, sites e redes sociais e o manuseio de atrativos multimídia para as reportagens: a utilização de vídeo e de fotografia para pautas com imagens mais ricas, ou o áudio ou o vídeo para a voz de uma fonte oficial.

5 O JORNALISMO E A POLÍTICA Na sociedade atual, o jornalismo é uma das principais atividades responsáveis por informar e, muitas vezes, moldar a opinião pública. No entanto, ao contrário do que se pensa, o jornalismo não informa com completa isenção e neutralidade. Assim, os meios de comunicação possuem seus próprios critérios de abordagem de temas e se utilizam de certos mecanismos para elaborar suas mensagens, como o enquadramento de notícias (CASTILHO, 2012). O enquadramento noticioso é uma teoria de Comunicação formulada, em princípio, por Gregory Bateson e depois por Erving Goffmam. De acordo com tal teoria, a mídia se utiliza de palavras, ideias, expressões e adjetivos bastante específicos, promovendo uma abordagem manipulativa em relação aos acontecimentos, destacando alguns aspectos e ocultando outros (GOFFMAN apud RUBIM, 2004). Segundo Adelmo Genro Filho (1987), o jornalismo é uma importante estratégia da sociedade moderna, cujo conhecimento ajuda a entender os fatos e a sociedade. A cobertura jornalística seria então capaz de revelar as contradições sociais, jogos de poder, diversidade das visões de mundo e interesses em disputa (CARVALHO, 2009). Para a socióloga Gaye Tuchman (apud RUBIM, 2004), “o enquadramento surge como uma forma de poder, uma vez que as decisões políticas podem ser reforçadas ou enfraquecidas pela forma através da qual um fato é enquadrado”. Em outras palavras, a maneira como um fato é contado pode induzir o posicionamento da audiência e, com isso, formar opinião que condene um determinado lado em detrimento de outro. O processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, em 2016, pode ser considerado um exemplo onde a imprensa, através da publicação de denúncias e delações, interferiu decisivamente no rumo de resoluções e processos políticos. Pode-se investigar a existência de enquadramento em uma notícia, buscando fontes de informação em veículos de comunicação diferentes, por exemplo, de reportagens locais, nacionais, ou até mesmo, internacionais. Outra forma seria atentar aos termos utilizados na construção de uma determinada matéria, como casos de manifestações de rua, onde a mídia costuma se referir aos participantes desde “ativistas”, “manifestantes” até mesmo “baderneiros” e “vândalos” (MOREIRA, 2015). Como uma profissão onde é praticamente impossível apurar os fatos sem passá-los pelas nossas “lentes” (PEDROSO, 2005), é preciso aceitar que o enquadramento no jornalismo existe e não podemos

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fugir dele, sendo o conceito de “neutralidade” refutado. O que podemos, entretanto, é perceber nossas subjetividades e as subjetividades de outros veículos de comunicação, para assim aprimorar uma analise mais efetiva acerca dos fatos.

5.1. O JORNALISMO E A POLÍTICA INTERNACIONALEm um contexto internacional, onde os indivíduos conectam-se em uma rede globalizada, cabe

ao jornalismo internacional abordar e acomodar notícias de diversos âmbitos: políticos, sociais, eco-nômicos, culturais etc. Como resultante disso, muitas vezes, assuntos são abordados sem o devido aprofundamento, isso quando não são “deixados de lado” sem serem citados - na maior parte das vezes, fruto de motivos políticos através do enquadramento midiático.  Essa questão, que ainda pode ser per-cebida no jornalismo impresso, tem mudado com as possibilidades do jornalismo digital, o qual não apresenta limitação de espaço, além de pode ser atualizado quando necessário.

O pesquisador Nelson Traquina (2012) atestou que as questões internacionais, estas mais “dis-tantes” da realidade interna e das preocupações diárias da população de um determinado país, são mais suscetíveis aos enquadramentos, atribuindo ao jornalismo um caráter pedagógico como um introdutor de assuntos (antes desconhecidos para as pessoas). O tratamento do objeto-notícia “é ainda mais deli-cado quando se trata de fatos internacionais, pois o enquadramento dado a estes pela imprensa será, em última análise, determinante para formar a visão de mundo – no sentido mais literal possível – do leitor” (AGUIAR, 2008).

Reforçando, o sociólogo jamaicano Stuart Hall (1993) explica que “a mídia, desta forma, apre-senta a primeira, e muitas vezes única fonte de informação acerca de muitos acontecimentos e questões importantes”. Por meio de enquadramentos, o jornalismo internacional busca converter em conheci-mento acessível acontecimentos que se fazem distantes da compreensão do público, surgindo então o papel social do Jornalismo que dá visibilidade aos fatos que influenciam nas relações políticas (GO-MES, 2009). Um exemplo são os casos de atentados terroristas causando repercussão mundial, através da coleta de informações e interações entre os diferentes canais de mídia, orientando, e por vezes mol-dando, a opinião da sociedade.

Salienta-se, assim, que o jornalismo atua como “fiscalizador” da sociedade, sendo intitulado como o quarto poder. Da mesma forma, isso funciona para os agentes internacionais, ao se encontra-rem em posição de observados perante uma sociedade que se torna crítica com os meios de comunica-ção. O jornalismo, assim, cumpre sua função social de informar as demandas da comunidade – seja ela local ou internacional – aos poderes políticos e de colocar em pauta problemáticas que necessitam de solução (TRAQUINA, 2005).

6 A COBERTURA JORNALÍSTICA NO UFRGSMUNDIAté agora, já falamos bastante sobre o jornalismo e suas relações com o mundo. Também citamos

a notícia e outras formas de fazer jornalismo. Porém, afinal, como será feita a cobertura jornalística do UFRGSMUNDI?

Em primeiro lugar, é necessário entender o que é o UFRGSMUNDI. Este projeto é um modelo de simulação de organizações internacionais para estudantes do Ensino Médio. Ou seja, em diversas salas, estarão acontecendo reuniões de diferentes comitês internacionais, como o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e a União Africana. O seu papel, jornalista da Agência de Comunicação (AC), é deslocar-se até esses comitês para coletar informações sobre o debate, realizar a cobertura jornalística e publicar em nossos próprios meios – seguindo as premissas de como realizar uma notícia. Junto a isso, também realizaremos entrevistas coletivas com alguns dos membros dos comitês.

Por isso, afirmamos que a AC é o único comitê que está em todos os outros: por meio da imprensa, a mídia leva a informação para os demais comitês e para o público em geral. Os jornais selecionados para o UFRGSMUNDI buscam facilitar a vivência como profissional da comunicação:

6.1 ASSEMBLEIA GERAL HISTÓRICA DAS NAÇÕES UNIDAS (AGH)A Assembleia Geral das Nações Unidas é um órgão da ONU que conta com todos seus 193

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membros. As reuniões da AG acontecem todos os anos e nelas se discutem problemas inerentes a todo o globo, possibilitando assim, que através de votações e discussões os países consigam chegar a soluções para esses problemas.

No UFRGSMUNDI 2018 a Assembleia Geral Histórica discutirá sobre a implementação do Apartheid na África do Sul que ocorreu oficialmente em 1948. No entanto, em 1954 todos os membros da ONU se reuniram para debater sobre o atual regime instalado no sul da África, fazendo reflexões e questionamentos sobre os atos de discriminação e segregação com relação à população negra.

O jornal escolhido para cobrir a Assembleia Geral Histórica de 1954 é o sul-africano Pretoria News, fundado em 1898 na cidade de Pretoria. O periódico possui edições de segunda a sexta e uma edição de fim de semana.

6.2 ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (AG) A Assembléia Geral é o maior órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), sendo o

único em que todos os países membros possuem igualitariedade de votos. As decisões tomadas na Assembléia Geral não possuem caráter obrigatório. Neste ano, o comitê discutirá o tópico “Movimentos nacionalistas e separatistas na Europa Ocidental”. Os delegados serão motivados a debater questões como a soberania das nações, a autodeterminação dos povos, a territorialidade dos Estados e a legitimidade dos movimentos separatistas.

O veículo de comunicação escolhido para cobrir a Assembléia Geral das Nações Unidas é o Bild Zeitung da Alemanha, uma vez que os debates estarão ligados a assuntos altamente discutidos no país. O Bild foi fundado em 1952 e rapidamente se tornou o periódico de maior vendagem na Alemanha e um dos maiores da Europa. Sua posição conservadora fez, porém, que ele perdesse muitos leitores nos últimos anos. Tendo uma visão otimista do Brexit, o jornal concorda que Trump possa ser rude e insultuoso, mas acredita que essas atitudes possam ajudar a quebrar conflitos abertos e cristalizados.

6.3 ASSEMBLEIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE (ANUMA) A Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente é o órgão da ONU responsável por

tratar das questões ambientais em âmbito mundial. A ANUMA conta com todos os 193 membros das Nações Unidas para que, por meio de resoluções, seja alcançado um futuro ecologicamente sustentável.

Nesta edição do UFRGSMUNDI, o comitê debaterá sobre o Acordo de Paris, que reflete sobre as mudanças climáticas no Planeta Terra ocasionadas pela crescente atividade humana em desacordo com o desenvolvimento sustentável. Recentemente, o Acordo de Paris passou a não contar mais com os Estados Unidos em suas negociações devido à retirada do país do Acordo logo após a eleição de Donald Trump para a presidência da nação norte-americana. O veículo de comunicação escolhido para a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente é o Greenpeace Magazine, revista fundada em 1996 e sediada em Hamburgo, na Alemanha. Aborda temas como meio ambiente, economia e política.

6.4 MESA DE GOVERNANTES DO BANCO MUNDIALO Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento é uma das instituições que

compõem o Banco Mundial. O trabalho do BIRD compreende, principalmente, o auxílio a países em desenvolvimento, concedendo empréstimos, gerenciando estratégias e oferecendo assistência aos países membros. Os diretores do Banco são responsáveis por avaliar os negócios da instituição.

Neste UFRGSMUNDI, o BIRD discutirá o desenvolvimento na região do Cáucaso e da Ásia Central. Por ser uma região dependente de recursos energéticos não-renováveis – especialmente, o petróleo - , os diretores executivos do Banco entrarão em pautas acerca de desenvolvimentosustentável, que alia o desenvolvimento social ao econômico e à preservação ao meio-ambiente. Alémdisso, debaterão acerca da distribuição energética nesses países – que tem sido cara e ineficiente - ,de maneira que o Cáucaso e a Ásia Central possam desfrutar de uma transição energética eficiente ecompetentemente estruturada.

O jornal que cobrirá o BIRD será o Financial Times, publicação inglesa fundada em 1888. Um dos maiores jornais do mundo com foco na economia e nos negócios, possui três edições diárias: uma para o Reino Unido, outra para os Estados Unidos e uma terceira para a Ásia. Seu principal concorrente no segmento de jornalismo econômico é o norte-americano The Wall Street Journal.

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6.5 CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS (CDH) O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas é guiado pela responsabilidade social

de respeitar e valorizar o ser humano de maneira universal. Conta com 47 países-membros, eleitos rotativamente para um mandato de 3 anos. No UFRGSMUNDI, o CDH discutirá “A Intolerância Religiosa no Século XXI”, colocando em voga violações à liberdade religiosa, um dos direitos presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Sendo assim, o comitê focará em estudar as razões por trás dos diversos conflitos existentes e propor soluções a fim de eliminar os discursos de intolerância e de discriminação religiosa.

O veículo de comunicação escolhido para cobrir o Conselho de Direitos Humanos será o Nexo Jornal. O Nexo publica textos jornalísticos sobre política, economia, acontecimentos internacionais, cultura, ciência e saúde, tecnologia, arte e outros temas usando como didática o jornalismo de contexto, a fim de fazer com que o leitor consiga entender melhor o que está acontecendo. Além disso, faz cobertura factual e possui forte interatividade com dados e recursos multimídias e colunas opinativas.

6.6 CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS (CS) O Conselho de Segurança é um dos seis primeiros órgãos a compor as Nações Unidas,

estabelecido sob a Carta da ONU de 1945, sendo a única instância cujas decisões são obrigatórias para todos os países-membros da ONU, membros do Conselho ou não. O CS possui prerrogativa de autorizar o uso da força através de operações de manutenção da paz, coalizões militares e sanções econômicas.Atualmente, o Conselho é constituído de quinze membros, dos quais cinco são permanentes e dez sãoescolhidos pela Assembleia Geral para um mandato de dois anos. Os membros permanentes são China,França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, e possuem o que é conhecido como “poder de veto”, emque, quando um desses membros se opõe a uma resolução, essa automaticamente será rejeitada.

Nesta edição do UFRGSMUNDI, será posta em pauta a Crise de Suez de 1956, ocorrida após a ordem do presidente egípcio da época, Gamal Abdel Nasser, nacionalizar o canal de Suez. Israel, apoiado pela França e pelo Reino Unido, declarou guerra ao Egito. Para a cobertura desse comitê, foi selecionado o jornal The New York Times (NYT). Fundado em 1851 e com sede na cidade de Nova York, é um dos jornais mais conhecidos e respeitados do mundo devido à credibilidade com que realiza suas publicações. O alto conceito de suas críticas também coloca o NYT como um dos veículos mais prestigiados de todos os tempos. Recentemente, o jornal tem sofrido com uma crise financeira, especialmente após a crise econômica global de 2008, o que tem ocasionado queda de faturamento da empresa.

6.7 ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS (OEA)A Organização dos Estados Americanos (OEA) visa garantir a paz e justiça entre os países do

continente americano. Com 35 países-membros, a Organização busca a promoção da solidariedade, a intensificação da colaboração e a defesa da soberania, integridade territorial e independência do continente americano. No UFRGSMUNDI, a Assembleia Geral da OEA debaterá sobre impacto das migrações intra-regionais no continente americano, uma vez que o fenômeno migratório torna-se cada vez mais acentuado entre os países latino-americanos, enquanto outros países do continente fecham suas fronteiras.

O jornal escolhido para cobrir a Organização dos Estados Americanos será o Página 12. Fundado em 1987, é o terceiro maior jornal da Argentina. Possui uma orientação política declaradamente de esquerda e é conhecido por abrigar grande quantidade de textos analíticos. Possui, inclusive, um suplemento voltado à comunidade LGBT, o Soy.

6.8 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA MIGRAÇÃO (OIM)A Organização Internacional para Migração existe desde 1951 e é a maior organização

internacional no que diz respeito à migração e ao deslocamento forçado. No UFRGSMUNDI, a discussão da OIM ocorrerá em torno dos direitos dos deslocados internos, que são pessoas as quais, pelas mais diversas problemáticas, tiveram de sair de suas casas por condições melhores de vida. Porém, diferentemente dos refugiados, essas pessoas não cruzaram a fronteira do seu país.

O jornal escolhido para cobrir a OIM será a BBC de Londres. A rede foi fundada em 1922 na

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capital inglesa e é um dos principais veículos de comunicação mundial. Conhecida pela credibilidade de suas informações, a BBC atua como uma cadeia, estendendo-se a diversos meios de comunicação, desde o rádio até a televisão, e por ser uma rede estatal de comunicação, acaba abordando certos assuntoscom uma visão predominantemente inglesa. Como exemplo, pode-se citar um posicionamento pró-Brexit – a saída do Reino Unido da União Europeia - . Ou seja, geralmente, apresenta uma perspectivainglesa, e não, necessariamente, europeia.

6.9 SENADO FEDERAL (SF)Com 81 membros, o Senado Federal é a câmara alta do Congresso Nacional do Brasil e, ao lado

da Câmara dos Deputados, faz parte do poder legislativo da União. Dentre as principais atribuições do Senado, estão desde aquelas mais amplas – como a de legislar sobre temas de interesse nacional – até aquelas de sua exclusiva competência, como, por exemplo, a de processar e julgar, nos crimes de responsabilidade, o Presidente da República (art. 52, Constituição Federal).

No UFRGSMUNDI, no âmbito do Senado, composto pelos mais diversos partidos e ideologias políticas, será discutido o processo de impeachment instaurado contra a presidente Dilma Vana Rousseff em 2016. Para a cobertura deste comitê, foi selecionado o jornal Folha de São Paulo. Criado em 1960, a partir da fusão entre as antigas Folhas da Manhã, da Tarde e da Noite, A Folha de São Paulo foi o primeiro jornal a ser impresso em cores no Brasil, em 1967, e o pioneiro a ter computadores em sua redação, em 1983. O jornal prega discurso de “imparcialidade, apartidarismo, pluralismo e de jornalismo crítico” (TRINDADE et al, 2016), além de ser, segundo a Associação Nacional de Jornais (2016), um dos maiores jornais do Brasil em circulação, sendo conhecido também pela alta credibilidade de seu conteúdo. No entanto, isso não isenta a Folha de receber duras críticas da sociedade, especialmente diante desse posicionamento. Exemplo disso foi quando utilizou o termo “ditabranda” para se referir à ditadura militar brasileira.

6.10 UNIÃO AFRICANA (UA)Sucessora da Organização da Unidade Africana, existente desde 1963 e composta por 32 países,

a União Africana foi constituída em 11 de julho de 2000 (ORGANIZAÇÃO DA UNIÃO AFRICANA, 2000). Entretanto, foi apenas em 2002, na África do Sul, que ocorreu a sessão inaugural do comitê. Tendo como objetivos a união, a solidariedade e a integração econômica do continente, atualmente o órgão contém 55 membros, cobrindo toda extensão do território africano.

No UFRGSMUNDI, a União Africana discutirá a questão do terrorismo no continente, com a atividade de grupos que atuam nele, como o Boko Haram, o Al-Shabab e a Al Qaeda no Magreb Islâmico. Tais grupos têm sido responsáveis por promover a instabilidade em muitas regiões, representando uma ameaça à segurança na África e um desafio a ser superado.

O jornal escolhido para cobrir a UA é o Cape Times da Cidade do Cabo. Tem como principal público-alvo a classe trabalhadora e é conhecido por expor a corrupção do governo. Considerado o primeiro jornal do sul da África, sua primeira publicação é datada de 1876, e hoje, se consolida como um dos principais jornais do África do Sul (SHAW, 1999).

6.11 COMITÊ DOS PROFESSORES (CP)O Comitê dos Professores do UFRGSMUNDI discutirá a respeito do projeto de lei de número

193, de 2016, popularmente conhecido como “Escola Sem Partido”. Essa proposta tem sido objeto de polêmica na sociedade brasileira devido ao seu conteúdo restringir a capacidade de debate dentro da sala de aula. Segundo o projeto, o professor fica proibido de incitar manifestação política dentro de sala de aula, bem como de incentivar a participação em atos públicos, protestos e de fazer propaganda político-partidária. Não apenas isso, mas é vedado o debate a respeito de questões de gênero e de livre orientação sexual.

Para a cobertura deste comitê, foi escolhido o coletivo Jornalistas Livres. Diferentemente da maioria dos veículos de comunicação dos demais comitês, o Jornalistas Livres é uma associação de profissionais da comunicação que se constitui como mídia alternativa. De maneira voluntária, os comunicadores redigem matérias e tiram fotos para o portal de notícias próprio do coletivo, que se apresenta como uma alternativa à visão dos grandes veículos tradicionais. Possui posicionamento declaradamente de esquerda e com forte cunho político em suas reportagens.

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7 CONDUTA JORNALÍSTICA E REGRAS GERAISJá frisamos aqui que o jornalismo é uma prática social. Ou seja, as ações do jornalismo geram

impactos sobre a sociedade e sobre a opinião pública. Dessa maneira, os profissionais do jornalismo também devem estar alinhados a condutas que os coloquem em equilíbrio com essa postura.

7.1 CONDUTA DE UM PROFISSIONAL DE JORNALISMO DA AGÊNCIA DE COMUNICAÇÃO

Um jornalista da Agência de Comunicação (AC) busca, acima de tudo, levar a informação para o público. Como o jornalismo possui um caráter universal, isso significa que o trabalho do jornalistada AC é divulgar informações tanto para o público interno do UFRGSMUNDI quanto para o públicoexterno. Logo, é fundamental que seja observado o compromisso com a verdade do que é publicado,qualquer que seja a natureza da notícia que se irá produzir. É nosso dever lembrar que o foco da notícianão deve ser a opinião pessoal do jornalista, mas a informação a ser levada para os diferentes tipos depúblico.

Deve ser observado o silêncio quando o jornalista estiver presente na sessão de um comitê, coletando informações sem interferir no fluxo do debate. Lembre-se de que você está representando um veículo de comunicação – logo, você possui uma responsabilidade e uma credibilidade a ser zelada. Igualmente importante é você ter um conhecimento mínimo sobre o teor do debate, sobre o assunto, sobre o que os delegados vão discutir. Por isso, recomendamos a leitura do guia de estudos que se refere ao comitê em que você vai realizar a cobertura jornalística.

Os jornalistas também deverão ter em mente que, para um jornalismo ser feito com qualidade, deve-se trabalhar em equipe. Cada jornalista é tão importante quanto o outro, não sendo permitidos abusos de autoridade ou desvalorização de colegas. Qualquer caso do tipo deverá ser imediatamente comunicado à Editoria-Chefe, que tomará as medidas cabíveis.

7.2 RESPEITO AOS DIREITOS HUMANOSO UFRGSMUNDI é um projeto que, acima de tudo, respeita os direitos humanos e acolhe todas

as pessoas, sem importar seu gênero, cor ou orientação sexual. É dever do jornalista da AC valorizar os direitos humanos, sem utilizar formas discriminatórias de comunicar-se. Tanto em textos escritos quanto em fotografias que os jornalistas poderão efetuar durante o evento, não serão permitidas quaisquer formas de desrespeito ou de inconveniência com os demais delegados. O jornalista que apresentar qualquer comportamento de cunho discriminatório, racista, machista, misógino ou LGBTfóbico, está sujeito ao desligamento imediato do projeto.

7.3 PONTUALIDADEO jornalismo é uma ciência que trabalha com prazos curtos e horários rigorosos. É dever do

jornalista da AC, tal qual um jornalista profissional, observar a pontualidade, tanto para o horário de entrar novamente na sala de seu comitê, quanto para comparecer à Central de Notícias quando solicitado pela Editoria-Chefe. Informação atrasada significa informação desatualizada.

7.4 COBERTURAA Agência de Comunicação, tal qual os demais comitês, também possui uma sala para ser

sua sede. A ela, chamamos de Central de Notícias, e ela será a base de posicionamento para todos os jornalistas e para a Editoria-Chefe, que estará disponível durante todo o tempo das sessões para auxiliar o jornalista a produzir suas matérias. Quando solicitado pela Editoria-Chefe, o jornalista deverá comparecer na Central de Notícias para o recebimento de novas orientações.

Os jornalistas realizarão em duplas a cobertura dos comitês. Cada jornalista será designado para um comitê específico, para o qual deverá se deslocar com sua respectiva dupla a fim de colher informações. Uma vez que considerar que já está com informações suficientes, o jornalista deverá retornar à Central de Notícias para redigir uma notícia a ser publicada no blog da AC. Também poderão ser confeccionados tweets com observações mais rápidas sobre fatos que ocorrem no comitê.

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Da mesma forma, o jornalista deverá retornar à Central de Notícias para que o tweet seja publicado pela Editoria-Chefe. Recomendamos o revezamento entre a dupla que estará cobrindo um determinado comitê, a fim de garantir que haja pelo menos um jornalista na sala durante todo o tempo do debate. É interessante também que os jornalistas acompanhem os veículos que irão representar para que vejam como é produzida a informação.

Tal qual o jornalismo tradicional, a linguagem que deverá ser utilizada pelos jornalistas é a formal, tanto na elaboração de notícias quanto em entrevistas. O caso do Twitter, que será uma das principais plataformas para a publicação de observações a respeito dos comitês, é a única exceção. Na AC, é permitida a utilização de linguagem formal e informal ao efetuar tweets, assim como “memes”, dadas as características dessa rede social. No entanto, não poderão ser efetuados apenas tweets em linguagem informal. Afinal, ainda estamos falando de jornalismo e de seu compromisso com a seriedade. A Agência de Comunicação utiliza hashtags para seus veículos de comunicação. Sendo assim, no final de cada tweet, deverão constar duas hashtag: uma com a sigla do comitê ao qual ele se refere e outra com o nome do jornal que está publicando o tweet. Por exemplo: tweets realizados pela Folha de São Paulo no Senado Federal deverão encerrar o texto com #Folha e #SF.

Os jornalistas também poderão tirar fotografias dos debates e, eventualmente, postá-las nos meios online da AC. Deve-se observar sempre o respeito às pessoas fotografas, sendo proibida a publicação de eventuais fotografias em que as pessoas estejam em postura vexatória ou que incite julgamentos de valor sobre elas. Poderão ser confeccionadas pequenas reportagens em vídeo ou telejornais, desde que o jornalista manifeste sua intenção para a Editoria-Chefe.

7.5. COLETIVAS DE IMPRENSANo UFRGSMUNDI, também serão realizadas coletivas de imprensa. Elas consistem em

convocar de 2 a 6 delegados de um comitê para dar depoimentos à imprensa. Elas poderão ser solicitadas a qualquer tempo pelos jornalistas responsáveis por um determinado comitê ou pela Editoria-Chefe. No primeiro caso, a Editoria-Chefe da AC deve ser comunicada pelos jornalistas, para então ser dado prosseguimento à ação. Poderão ser convocados mais jornais além do específico de cada comitê.

A escolha dos delegados a serem entrevistados é de responsabilidade dos jornalistas. Após a escolha, deve-se dar início à coletiva de imprensa. Para isso, os jornalistas anunciam para o comitê a intenção da imprensa e os objetivos da coletiva, e convocam os delegados escolhidos para irem até a frente, no interior da sala de reuniões. Os demais delegados permanecem sentados em seus lugares. Sugere-se que os jornalistas já tenham prontas uma ou duas perguntas a serem feitas para cada delegado escolhido, assim como já tenham e mãos câmeras fotográficas.

Caso haja dificuldades para a elaboração das questões, pode-se pedir o auxílio da Editoria-Chefe ou da Mesa Diretora do Próprio comitê. No entanto, ressaltamos que é papel e protagonismo do próprio jornalista elaborá-las, sem permitir que a Mesa Diretora ou a Editoria-Chefe formulem absolutamente todas as perguntas a serem feitas.

Os jornalistas devem anunciar o início formal da coletiva de imprensa e realizar suas perguntas a cada um dos selecionados. Os delegados possuem direito de resposta, que consideraremos como uma sendo a réplica, e a última, a tréplica. Recomendamos que a entrevista dure, no máximo, 15 minutos. No final, a imprensa deve fazer um agradecimento e anunciar o fim da coletiva de imprensa. É importante que todo o período de entrevistas seja registrado em fotos e, se possível, em áudios e vídeos. O conteúdo de uma coletiva de imprensa não deve ficar restrito às redações de jornais, sendo fundamental que, ao final, seja confeccionada uma matéria a respeito dos acontecimentos e declarações para ser publicada nos meios online da AC.

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ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS Movimentos Nacionalistas e Separatistas na Europa

Ocidental

André Lucas Silva Pereira, Dionéia Gabrieli Valk, Leonardo Beheregaray Seben, Maitê Roman Goulart e Matheus Ibelli Bianco1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) Os movimentos separatistas na Europa devem ser considerados legítimos?

(2) O reconhecimento da independência dos territórios com movimentos separatistas é consideradauma solução para o problema?

APRESENTAÇÃOA Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) deve debater os movimentos nacionalistas

e separatistas que vêm ocorrendo na Europa, os quais ganharam projeção por todo o continente. Os delegados serão motivados a refletir sobre questões importantes como a soberania das nações, a autodeterminação dos povos, a territorialidade dos Estados e a legitimidade dos movimentos separatistas. Ao longo das sessões, espera-se que os delegados efetuem uma resolução escrita, que será votada na última sessão e representará a posição oficial do comitê sobre o assunto abordado. Vale lembrar que a Assembleia Geral é o maior órgão da Organização das Nações Unidas, sendo o único em que todos os membros da organização são representados igualitariamente e podem votar – cada país, um voto. As decisões do comitê não possuem caráter vinculante, isto é, não são de cumprimento obrigatório.

1 ORIGENS DO ESTADO NACIONALA discussão a respeito do Estado moderno é ampla e diversificada, havendo na bibliografia

disponível inúmeras interpretações e abordagens sobre o tema. Atualmente, debate-se muito sobre quando, como e porquê tal organização política surgiu. Para tratar sobre o tema do separatismo na Europa, assunto que será discutido neste guia, é necessário ter em mente alguns dos processos que levaram a formação dos Estados Nacionais modernos, como os conhecemos hoje. Isso porque a grande maioria dos movimentos separatistas possuem como objetivo a separação de um território particular para a constituição de um Estado independente. Desse modo, torna-se impossível compreender a questão sem antes conhecer a própria história de formação do Estado-nação, processo que pode ser melhor estudado quando se analisa a história política da Europa (TILLY, 1975).

Para Hobsbawm (1991), o Estado Nação moderno é algo muito recente, formado e consolidado apenas há algumas centenas de anos, mais especificamente entre os séculos XVIII e XIX. Antes desse período, o autor afirma que não existiam nações: o que prevaleciam eram cidades, impérios ou reinos; sendo que tais organizações não mantinham contatos intensos uns com os outros, ficando mais restritos a sua própria organização local. Por exemplo, Hobsbawm afirma que um rei, antigamente, não compartilhava a mesma cultura, língua ou história comum em relação aos seus súditos. Tais súditos, por outro lado, não possuíam fortes relações com o seu rei, mas sim com os indivíduos que exerciam poder direto sobre eles, geralmente seus senhores feudais (HOBSBAWM, 1991).

Como então, diante desse cenário de fragmentação entre cidades, impérios e reinos, se chegaria à formação de um Estado-nação moderno e centralizador, igual ao que conhecemos hoje? Charles Tilly (1975) apresenta três elementos comuns ao espaço Europeu, presentes entre os anos 1500 até aproximadamente 1800, que serão fundamentais para analisar o processo de formação dos Estados Modernos na Europa Ocidental. São eles: a homogeneidade cultural, a base camponesa rural e as estruturas políticas descentralizadas.

Sobre a homogeneidade cultural, Tilly (1975) afirma que este foi um elemento presente no espaço europeu, herdado de épocas passadas, graças ao domínio do Império Romano na região europeia. Tal domínio, segundo o autor, deixava como legado “uma convergência nos idiomas, no direito, na religião, na prática administrativa, na agricultura e na posse da terra”1 (TILLY, 1975, p. 18). A população europeia, apesar de fragmentada, estava em contato direto através do comércio, fluxo de pessoas e mercadorias. Além disso, uma Igreja relativamente centralizada dominava a vida religiosa da população, conferindo ainda mais características comuns a eles. Tal condição facilitaria a formação dos Estados Nacionais, 1 Tradução nossa

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uma vez que tornaria propícia a propagação de uma organização política comum e aceita entre a maioria (TILLY, 1975). Um outro elemento comum na Europa foi a presença de uma grande população situada no campo, a qual era dominada e governada por uma pequena classe de elites agrárias e donas das terras. O campesinato devia a estas elites taxas de sua produção local, e muitas vezes eram seus servos, trabalhando em troca de subsistência. E qual foi exatamente a importância deste elemento para a formação do Estado Moderno? Seria por causa desse sistema de produção (que por si só já revelava uma certa organização produtiva) e a consequente acumulação de riquezas nas mãos de uma minoria dona das terras, que permitiria, anos mais tarde, a centralização dessa renda nas mãos de um soberano (TILLY, 1975). Por fim, o terceiro elemento fundamental para a constituição dos Estados Nacionais na Europa foi a condição de descentralização e fragmentação do poder ao longo do período da Idade Média, somada à presença de uma relativa uniformidade política. Essa situação daria origem a uma competição entre os diversos atores presentes no cenário europeu, que passariam a disputar poder entre si. Tais atores, denominados “criadores de Estados” por Tilly, procurarão subjugar uns aos outros, incorporando para si novos territórios para a consolidação de um poder cada vez maior. Desse modo, percebe-se que, quanto mais domínios um soberano possuísse, mais impostos conseguiria arrecadar, podendo, desse modo, constituir um melhor exército e se expandir ainda mais, bem como proteger o já dominado território. Visualiza-se ao mesmo tempo que, quanto maior este “Estado Embrionário” fosse, maior era sua necessidade de organização, seja para manter um maior exército, seja para desenvolver controles sobre a população, visando, sobretudo, a arrecadação de impostos (TILLY, 1975). A essa altura, a expansão deste poder centralizador na Europa, a partir do século XVI, começou a ocorrer ao mesmo tempo que a expansão do capitalismo na região, elementos os quais não apenas passaram a ocorrer juntos, mas sim tornaram-se dependentes e complementares entre si (TILLY, 1975). É neste contexto de crise do feudalismo que vai se erguer o Estado Moderno, o qual passará a adquirir características semelhantes as quais conhecemos hoje nas nações mundiais. Seria a partir desta evolução que haveria uma centralização de poder nas mãos dos monarcas absolutistas e décadas mais tarde, uma contestação desta centralização. É por isso que se torna necessário entender um evento-chave no mundo, sem o qual não podemos continuar falando de Estado-nação e nacionalismos: a Revolução Francesa. A Revolução Francesa, para Hobsbawm (1991), representou a ascensão da burguesia na região europeia, a qual consolidou a formação de um Estado-nação moderno, o qual não mais se basearia nos direitos divinos de um rei. Nesse sentido, a França à época revolucionária era um país que já havia conseguido centralizar grande parte dos poderes fragmentados em seu território, concentrado agora nas mãos de um rei absolutista. Tal rei controlava todos os aspectos da vida francesa, desde a política e economia até a religião e justiça. Nesse contexto, percebe-se que a sociedade da França, seguindo a tendência das organizações sociais do período, era completamente estratificada, havendo classes sociais que não possuíam possibilidades de ascender a uma condição melhor. Havia no topo desta pirâmide social o clero, o rei e a nobreza, os quais não pagavam impostos; sendo a base da sociedade formada por camponeses, trabalhadores urbanos e a burguesia, classes estas pagadoras de impostos. Era esta última classe, a burguesia, a mais organizada política e socialmente em relação às outras. (HOBSBAWM, 1991). Uma das principais características de tal burguesia era seu intenso relacionamento com o comércio, sendo os impostos cobrados sobre seus negócios a causa de seu principal descontentamento. Desse modo, possuindo alta influência sobre os trabalhadores e camponeses e contando com o apoio destas massas para reivindicar seus interesses, passaram a exigir do rei maior representação política, igualdade e liberdade econômica, em um movimento contra os abusivos impostos cobrados sobre suas atividades comerciais. Sem serem atendidos pelo rei, a burguesia - que liderava os trabalhadores e camponeses - propõe uma nova constituição, iniciando também um levante popular na França contra a situação vigente. Estava instaurada a Revolução Francesa, uma revolução tipicamente burguesa (HOBSBAWM, 1991). Tal revolução traria um novo conceito para a história da humanidade: a soberania popular, que passaria a substituir as vontades autoritárias dos monarcas. As decisões do que deveria ser feito, agora se baseariam em uma constituição e no voto popular, instrumentos que se consolidariam no ideário de nação, ou seja, uma entidade coletiva determinada pelas preferências do indivíduo, do povo, e não de um monarca. É a partir de então que vai surgir a origem do conceito que hoje se conhece por nacionalismo, e que será importante para entendermos a questão do separatismo na Europa Ocidental (HOBSBAWM,

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1996). Tal nacionalismo se intensificou com o discurso burguês na revolução francesa, ao defender que o poder político não mais deveria servir a um poder divino, mas sim emanar do povo e servir aos interesses da pátria, ideias estas que irão se espalhar no século XIX.

2 HISTÓRICO: NACIONALISMOS E MOVIMENTOS SEPARATISTASApós o encerramento da Guerra dos Trinta anos, em 1648, instaurou-se na Europa os acordos e

tratados que ficaram conhecidos como Paz de Vestfália. Nesses tratados, decidiu-se até onde os governos possuiriam soberania, ou seja, domínio e poder sobre si mesmos. Tal soberania daria-se tanto no âmbito interno – através de um gerenciamento pacífico ou do uso da força, se essa fosse justificada pelo bem maior –, quanto no âmbito externo, no qual o território teria autonomia na execução de suas relações exteriores. Foi também a partir da Paz de Vestfália que se consolidou as ideias de fronteiras definidas, que marcam o espaço soberano dos Estados e até onde elas se estendem, tornando-se um pilar primordial para o funcionamento da nova ordem que se instalava (WATSON, 2004). Desse modo, consolidou-se a união,em um mesmo território, de diferentes povos com diferentes culturas, fato que, no entanto, irá consistirem uma das bases dos problemas atuais relacionados aos movimentos separatistas na Europa Ocidental(HOBSBAWM, 1991).

Como mencionado anteriormente, alguns autores declaram que a história do nacionalismo europeu iniciou-se na Revolução Francesa, liderada pela burguesia, a qual, a fim de atingir seu objetivo de derrubada da monarquia absolutista, fez emergir um sentimento nacionalista entre a população que habitava o território francês, usando figuras como Joana D’arc2 para criar legitimidade a esse sentimento (MOTYL, 2001). No entanto, diferentemente do sentido de nação posteriormente desenvolvido, a Revolução Francesa evocou um princípio nacionalista, o qual não levava em conta as diferenças culturais, étnicas e linguísticas entre sua população. Pelo contrário, criava um sentimento de pertencimento entre o povo baseado na ideia de bem comum, contra os interesses privados da nobreza, tendo os governos franceses, diversas vezes, aumentado seu território e aglutinado povos diferentes. Isso acarretaria futuramente no nascimento de movimentos separatistas na Europa Ocidental, gerando disputas internas entre diferentes grupos com diferentes interesses (HOBSBAWM, 1991).

No decorrer do século XIX, o conceito de nação, advindo da Revolução Francesa, passou por um processo de grande transformação, ocorrendo, aos poucos, a tentativa de unificação cultural e linguística dos povos dentro dos Estados, fato que não foi totalmente bem-sucedido, gerando consequências até atualemente. Além disso, o controle dos Estados Europeus Ocidentais sobre seus territórios e seus indivíduos aumentaria consideravelmente por meio do melhoramento da já existente burocracia estatal - aparato do Estado usado para se manter e ter contato com a população -, a qual passou a contar comum grande número de funcionários, que atuavam nos mais diversos campos da vida diária. Isso decorreuprincipalmente pelo aumento do contato entre representantes do Estado com os indivíduos, tais comopoliciais, carteiros, professores, etc, promovendo a necessidade de uma maior organização estatal. Deigual importância, esse processo foi aprofundado devido à revolução nos setores de transportes e decomunicações, estreitando ainda mais as relações entre o Estado e os indivíduos (HOBSBAWM, 1991).

O nacionalismo e suas expressões, durante o final do século XIX, começam a tomar rumos diferenciados dos movimentos nacionais anteriores. Inicialmente, o idioma falado por uma população e a etnicidade dos mesmos começaram a ser pontos centrais dos novos Estados que estavam se formando. Esse fato, consequentemente, gerou populações insatisfeitas dentro de diversos Estados, devido ao fato de não terem autonomia e de terem que se submeter a um poder central não reconhecido. Além disso, esse período é marcado pelo surgimento de diversos Estados, os quais seguiram o princípio de que grupos de pessoas que se considerassem uma nação, poderiam demandar a sua autodeterminação (HOBSBAWM, 1991).

Visualiza-se, deste modo, que a maioria das mudanças políticas e sociais que ocorreram na Europa durante 1870 e 1914 foram em função da questão nacional, através principalmente da influência da opinião pública. Nesse período a educação das novas gerações foi fundamental para a concretização da identidade nacional e de tradições seculares que afirmavam esse sentimento nacional, já que, segundo Hobsbawn (1990), o termo nacionalismo tem ligação ao termo patriotismo, para identificar o sentimento 2 “Uma garota camponesa e adolescente, que se tornou uma comandante de guerra, Joana D’arc fez seu máximo para derrotar as forças inglesas, que invadiram a França. Ela aconselhava o herdeiro do trono francês e ainda liderou forças para a guerra de 1429 até 1431, quando ela foi capturada. A jovem heroína foi, então, queimada numa estaca como uma herege e uma feiticeira pelos ingleses” (BBC News, 2016)

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de lealdade e identificação do cidadão à nação.Esse “princípio de nacionalidade” do século XIX triunfou durante a Primeira Guerra Mundial,

devendo-se a alguns fatores específicos, como por exemplo o colapso dos grandes impérios multinacionais3 da Europa. Se antes esses movimentos nacionais anti-imperialistas iam contra os Estados multinacionais, agora eles eram dirigidos contra os Estados nacionais, sendo então majoritariamente separatistas, o que pode ser visto, por exemplo, no caso do partido nacional escocês que ascenderam durante o entre guerras (1918-1939). (HOBSBAWN, 1991).

Durante o período do Entreguerras (1918-1938), o nacionalismo predominante na Europa se consolidava ao mesmo tempo que os Estados-nações se estabeleciam, tendo de exemplo países como a Polônia, a Turquia, a Tchecoslováquia, etc. Com o crescimento dos pensamentos acerca da questão nacional e da resistência ao comunismo soviético, junto a problemas políticos e econômicos ocasionados pela Primeira Guerra e a Grande Depressão de 1929, abriu-se espaço para a ascensão de grupos fascistas ao poder, como a ascensão do nazismo na Alemanha e o crescimento do fascismo na Itália. Esses governos fomentaram ainda mais ações que reforçaram o sentimento nacionalista, o que, além de reprimir duramente minorias que não se sentiam representadas, aumentavam o pensamento xenófobo e antissemita4 (HOBSBAWN, 1991).

Nas décadas que sucederam o fim da Segunda Guerra Mundial, a questão da descolonização e independência de diversos territórios na África e na Ásia esteve mais em pauta do que na Europa Ocidental, porém, deve ser lembrado que nesse período já existiam movimentos nacionalistas separatistas, como o Exército Republicano Irlandês (IRA) e o Movimento de Libertação Nacional Basco (MLNB), que ganharam força nessa época.

3 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMAComo visto anteriormente, o separatismo na Europa pode ser explicado pelas motivações

históricas, culturais e políticas que arquitetaram o palco para o florescimento de tais movimentos. O sentimento de pertencimento a determinada região, e não ao país como um todo, foi frequentemente pautado nas diferenças culturais, políticas e sociais existentes entre o território que buscava autonomia e o Estado central. Este sentimento foi, muitas vezes, ampliado devido às repressões por parte do governoa essa população parte de uma identidade diferente, atuando, portanto, como base dos movimentosautonomistas e separatistas existentes no território europeu (PANTOVIC, 2014).

No entanto, o novo despertar desses movimentos na Europa recentemente estão intimamente ligados aos problemas econômicos que o continente vem enfrentando desde a crise de 2008. Tendo isso em mente, a presente seção tem por objetivo elucidar as causas econômicas que motivaram os atuais movimentose seus reflexos nos países europeus. Além disso, a seção também pretende analisar brevemente três casos: Catalunha, Escócia e Flandres.

3.1 IMPACTOS DA CRISE ECONÔMICA DE 2008A crise que atingiu a Europa, no ano de 2008, caracteriza-se como um dos episódios mais

desastrosos da economia mundial e da própria história do capitalismo. Iniciado nos Estados Unidos, o episódio marcou a falência de inúmeros bancos e instituições financeiras – organizações essenciais para o investimento no comércio e nas indústrias dos países -, causando um grande impacto nas economiasnacionais. A característica essencial dos mercados financeiros é que esses são estreitamente conectados,ou seja, o mercado financeiro de um determinado Estado influencia diretamente no mercado financeirode outro. É por tal razão que a depressão de 2008 atingiu proporções internacionais – influenciandoprofundamente as economias, instituições e sociedades das regiões ao redor do mundo (BLIKSTAD;OLIVEIRA, 2015).

No que diz respeito aos seus impactos nos países europeus, a crise configurou-se como um elemento-chave para intensificar os movimentos autonomistas e separatistas do continente. Para entender tal afirmação, devemos voltar ao ano de 1994, logo após a criação da União Europeia, período que marcou o início de um expressivo crescimento econômico na maioria dos países da Europa. Tal

3 Impérios constituídos por diversas nações, como por exemplo o Império Otomano (que abrangia nações como a egípcia, a síria e a persa) ou o Império Habsburgo (Espanha, Áustria, Reino de Nápoles, entre outros).4 Xenófobo é aquele que manifesta aversão a estrangeiros ou a cultura estrangeira; Antissemita é aquele que se opõe aos semitas, no caso, oposição ao povo judeu.

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crescimento desencadeou um grande aumento dos gastos públicos em investimentos nos setores de educação, cultura e saúde nas várias regiões dos Estados. No entanto, a instabilidade gerada pela crise de 2008 não só impediu a continuidade de tais gastos, como provocou uma das maiores recessões econômicas que a Europa já vivenciou, assim como uma grave situação de desemprego e descontentamento da população com o corte de gastos nas suas regiões (HIGUERUELA et al., 2014). Tendo isso em vista, é importante notar que os territórios que possuem maior riqueza e recursos perante o restante do país tendem a desenvolver – ou acirrar - sentimentos autonomistas e independentistas durante períodos de intensa crise e instabilidade (PANTOVIC, 2014). Isso acontece porque, diante de tal conjuntura, a população dessas localidades acredita estar pagando pelo fardo do restante do país, visto que o governo utilizaria os recursos desta para estabilizar as demais regiões (DAYTON, 2015). No que diz respeito às províncias espanholas, o País Basco e a Catalunha – há décadas marcados por movimentos separatistas – estão entre as regiões mais ricas do país. Já na Itália, os lugares que apresentam tais movimentos também estão no grupo de áreas mais ricas, como Lombardia e Tirol do Sul (BOETTCHER; KOERNER, 2017). Além do que foi mencionado, regiões mais ricas estão frequentemente insatisfeitas com a sua representação no governo central - alegando que este não confere devida atenção às suas demandas. Ademais, o pouco poder que possuem sobre seus próprios recursos é outro motivador de tal insatisfação. Uma das consequências desse fato, além do descontentamento da população, é o florescimento de partidos políticos separatistas em tais territórios e o aumento da popularidade do sentimento autonomista entre a população (HIGUERUELA et al., 2014). Portanto, a conjuntura de instabilidade e crise - desencadeada pelo episódio de 2008 - é essencial para entendermos o acirramento dos movimentos separatistas dentro das regiões europeias.

3.2 ANÁLISE DE CASOS A fim de ilustrar melhor os movimentos separatistas e nacionalistas na Europa Ocidental, a seguir serão apresentados três estudos de caso referentes ao tema. A partir deles, demonstra-se algumas questões importantes, principalmente referentes às formas que os movimentos surgiram nas regiões, se houve mudanças no decorrer do tempo, as principais reivindicações e como os movimentos se mostram na atualidade.

3.2.1 O CASO DA CATALUNHA Atualmente, um dos movimentos separatistas mais ativos do território europeu é o da região da Catalunha, localizada na Espanha. No entanto, ele não é um movimento que nasceu agora, mas sim, de caráter histórico. A Catalunha foi constituída dentro do Reino de Aragão, no século XI. Em um processo gradual, houve a junção da Coroa de Aragão com a Coroa de Castela, as quais foram realizando uma série de conquistas e anexações territoriais que, evidentemente, não respeitaram as diferentes culturas características de cada região. Naquela época, foi decidido estabelecer Castela como a sede do reino - por possuir condições mais propícias - e conceder a algumas províncias o direito de possuírem organismos políticos próprios. Entre elas estava a Catalunha, já que era o centro de um império mercantil - Barcelona possuía uma classe comercial muito rica (ANDERSON, 1985). Posteriormente a tais acontecimentos, Castela fundou sua própria capital, denominada Madri, acarretando na criação de um governo central (CARVALHO, 2016). A partir disso, o nacionalismo catalão começou a surgir, mais precisamente, em pleno século XIX. Nota-se que a Catalunha fazia frente a Castela, que era naquele período, considerada a mais importante região espanhola e vista, pela Catalunha, como um empecilho ao seu crescimento (CHAGAS, 2014). Ademais, em fins do século XIX, a Catalunha pretendeu elevar sua identidade regional para nível nacional, defendendo-a como uma nação por conta de sua singularidade. A população catalã reivindicava maior autonomia política e proteção a sua indústria, já que estavam longe de promover a separação do território espanhol. Vale constar que tal nacionalismo levou a reações contraditórias pelo resto do território espanhol, pois de um lado estavam os que não viam com tanta ênfase o particularismo catalão e do outro lado os nacionalistas, que adquiriram maior fortalecimento em virtude das boas condições econômicas e sociais da Catalunha (CARVALHO, 2016). Ainda, o desejo de independência ganhou força com a crise que se desenvolveu na Espanha. Nesse contexto, o movimento catalão ganhou outra característica no início do século XXI, pois alegava-se que a região estava submetida a exploração econômica pelo governo espanhol, na medida em que recebiam um volume menor do que aquele

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contribuído em forma de impostos (CHAGAS, 2014). Portanto, de forma geral, o nacionalismo catalão é fundamentado sobre alguns aspectos, como sua língua, sua tradição separatista, sua história medieval e também questões de cunho econômico devido à prosperidade da região e a crise que atingiu a Espanha (VILAR, 1989). A Catalunha, hoje, é uma das comunidades autônomas da Espanha5, a qual, a fim de fortificar a sua cultura e conseguir a sua independência, vale-se do princípio de autodeterminação e, devido a sua Constituição nacional, o governo central não reconhece a legitimidade desse princípio (GUIMARÃES, 2015). Por fim, vale mencionar ainda que, em 2014, foi realizado um plebiscito, no qual mais de 80% dos participantes foram favoráveis à separação da região; tal fato, acabou por fortalecer o movimento de independência (GUIMARÃES, 2015). Outro referendo de autodeterminação foi realizado em primeiro de outubro de 2017, desejando a independência da região. O resultado foi uma maioria de 90,09% de votos favoráveis à independência, embora somente metade dos eleitores tenham comparecido à votação. Ambos os referendos foram considerados como inconstitucionais pelo governo espanhol e não obtiveram o reconhecimento do mesmo (BBC News, 2017).

3.2.2 O CASO DA ESCÓCIA A Escócia é uma das nações que integra o Reino Unido, junto da Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. O país até 1603, ano em que Jaime I ascendeu ao trono, permaneceu separado, conservando seu parlamento e suas leis por pelo menos dez anos, mais precisamente, até 1707, quando ele perde boa parte da sua autonomia absoluta, em virtude da fusão dos parlamentos escocês e inglês (LIMA, 1898). O movimento separatista no país se desenvolveu por alguns fatores. Inicialmente, deu-se sobretudo a partir do declínio do Reino Unido, no século XX, o qual, devido a instabilidades econômicas, guerras e processos independentistas, passou a perder seus domínios e áreas de influência no mundo (MCCLYMON, 2014). Somado a isso, o movimento avançou com a fortalecimento do Partido Nacional Escocês (PNE), principal força política nacionalista na Escócia (MCCRONE, 2002). Além disso, o nacionalismo da região, como um todo, é alimentado pela história e costumes próprios do povo escocês, que na maioria das vezes, não se identificam com os costumes ingleses. A Escócia não havia realizado muitas demonstrações de revolta contra o Reino Unido desde o tratado de 1707, fato que pode ser explicado pela identificação cultural entre as partes, visto que eles compartilham da mesma língua, o que caracteriza um elo entre eles. Ademais, questões econômicas também influenciaram nas relações amistosas entre Escócia e Reino Unido até então, já que ambas se beneficiam com a facilidade de exportação e mercado consumidor para seus produtos (SOUZA, 2014). No entanto, ao longo do tempo, os habitantes da região escocesa passaram a desejar maior autonomia, já que a parte da Escócia que deseja a independência, acredita que o governo inglês não se preocupa tanto com suas reivindicações políticas e econômicas. A independência significaria, assim, mais poder de ação para o país: os impostos arrecadados na Escócia poderiam ser utilizados para seu próprio benefício e a própria riqueza do petróleo (destacando que a Escócia é o maior extrator de petróleo da União Europeia) ficaria com os escoceses, não tendo de repassar parte de seus lucros para o Reino Unido, podendo, assim, melhorar seu sistema de bem-estar social e gerar mais empregos para os cidadãos (GAZETA DO POVO, 2014). Vale destacar, que a dominação inglesa dentro do Reino Unido é algo que preocupa os escoceses. Em 1997, houve a restituição do parlamento escocês após muitas tentativas fracassadas. Entretanto, o parlamento escocês continua sendo submetido ao parlamento britânico, o qual controla programas de bem-estar social dos escoceses, determina sua política externa e de defesa e detém o controle da maior parte da arrecadação - inclusive impostos do setor petrolífero da costa escocesa voltada para o Mar do Norte. Assim, mesmo que a Escócia possua determinado nível de autonomia, ainda detém de um governo limitado, sendo subordinado à autoridade da monarquia britânica (NEXO JORNAL, 2016). Em 2011, nas eleições escocesas, o Partido Nacional Escocês (PNE) ganhou a maioria das cadeiras parlamentares, proporcionando aos nacionalistas o controle do parlamento do país e fazendo com que o primeiro ministro escocês aplicasse um referendo de independência da nação (THE GUARDIAN, 2013). Em 18 de setembro de 2014, o povo escocês foi consultado sobre a questão: “A Escócia deve se tornar um Estado independente?”. O número de eleitores chegou a 80% da população 5 Foi “em setembro de 1932, que as Cortes espanholas aprovaram o Estatuto de Autonomia da Catalunha”. Portanto, ela é uma “região autônoma” e não um “Estado autônomo” (CARVALHO, 2015). Entretanto, a Espanha conta com dezesseis comunidades autonômas, além da Catalunha, fazendo com que o país seja descentralizado, porém, isso não o torna uma federação (AICEP, 2014).

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escocesa e a diferença no resultado final foi pequena: o “não” venceu com 55% dos votos (SCOTISH INDEPENDENCE REFERENDUM, 2014). O movimento voltou a ser destaque com a saída do Reino Unido da União Europeia6, visto que os escoceses votaram pela permanência no bloco e, diante disso, retornaram as pressões para realizar outra votação visando a independência da região (NEW YORK TIMES, 2017).

3.2.3 O CASO DE FLANDRES O movimento separatista de Flandres - região norte da Bélgica - possui suas raízes históricas na separação do recém-independente Estado Belga do Reino Unido, em 1830. Diante de tal conjuntura, esse Estado procurou criar uma identidade nacional, a qual tinha por objetivo tornar o francês o idioma oficial do país. No entanto, o país possuía, especialmente no Norte, uma maioria falante do idioma holandês, gerando os primeiros embates entre os Flamengos - população da região norte de Flandres - e os Valões - população da região sul (POPELIER, 2015). Devido ao crescimento do idioma francês no país e da inferiorização do holandês, a região de Flandres começou um processo de ganho de poder político a fim de introduzir a língua holandesa como a oficial da Bélgica, nascendo, dessa forma, o movimento político nacionalista de Flandres. Além disso, o movimento possui um caráter de disputa econômica, haja vista o diferente grau de desenvolvimento da região norte e sul, fato propulsor das contradições dentro do país (POPELIER, 2015). Com a inversão da situação, ocorrendo o alto grau de desenvolvimento econômico de Flandres e a aceitação do holandês como idioma oficial belga, surge um movimento radical dentro da região, buscando a separação da mesma e devido principalmente aos preconceitos sofridos por parte dos Valões, aumentando consideravelmente as tensões dentro da Bélgica (POPELIER, 2015). Além disso, a capital Bruxelas também é um ponto de questão. Apesar de se encontrar na parte flamenga da Bélgica, na cidade, e em sua região metropolitana, existem diversos Valões ou até mesmo Flamengos falantes do Francês (POPELIER, 2015). Por ser uma cidade tão pluricultural - a maioria dos judeus belgas vivem em Bruxelas -, e por ter tanta influência no continente europeu (é onde fica a sede da União Europeia por exemplo), é incerto o que aconteceria com a cidade numa situação de separação Flamenga. A cada dez anos o governo belga conta quantas pessoas falam holandês ou francês no país, e sempre os francófonos eram maior número. Em 1962, foi desenhada uma fronteira linguística entre as regiões, com a capital Bruxelas sendo uma região autônoma e bilíngue. Os francófonos exigiram que em certas regiões onde havia uma minoria de falantes de ambas as línguas, essas minorias poderiam se comunicar com o governo em sua língua de nascimento. Isso acarretou uma crescente no número de falantes do francês na região monolíngue de Flandres (principalmente em volta de Bruxelas), o que foi mais um motivo para o crescimento do Movimento Flamengo e da vontade de separação (JEUGHT, 2016)

4 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIAS Antes de começar a debater a recente ascensão de movimentos nacionalistas e separatistas na Europa Ocidental, deve-se ter em mente as ações previamente realizadas que se relacionam ao tópico. Aqui, ressalta-se, especialmente, as medidas da União Europeia e a Carta da ONU.

4.1 UNIÃO EUROPEIA (UE) Para entendermos melhor a atuação da União Europeia no que diz respeito aos movimentos separatistas da Europa, deve-se analisar o maior papel que a integração vem desempenhando nos últimos tempos. A ascensão de movimentos separatistas dentro dos países membros da União Europeia coloca em evidência debates como o funcionamento da própria organização e também, a possibilidade de existência de maior autonomia para as regiões, nesse espaço de cooperação. Dessa forma, relacionadas à União Europeia, pelo menos duas questões são relevantes: o aumento da participação civil e a criação

6 A saída do Reino Unido da União Europeia é denominada “Brexit”. Em 2016, realizou-se um referendo onde a população votou para decidir se permaneceria ou não no bloco, obteve-se 51,9% de votos favoráveis à saída. Com a diferença pequena, a votação demonstrou uma divisão muito grande dentro do Reino Unido, grosso modo, os votos favoráveis vieram, predominantemente, das grandes cidades e dos jovens e os votos contrários dos idosos e habitantes das regiões rurais. Além disso, há também grande divisão no interior do Partido Trabalhista do Reino Unido (MCKELVEY, 2016).

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de políticas mais federalistas, ambas as questões ocorrendo dentro da UE (BEIRI, 2014). Em 1990, a União Europeia realizou a tentativa de inclusão das microrregiões nos debates políticos

(CONNOLLY, 2013). Em 1992, a partir do Tratado da União Europeia, estabeleceu-se o Comitê das Regiões (CR), constituindo-se como um órgão consultivo e tendo como participantes os representantes regionais e locais de todos os membros da UE, ou seja, permite o uso da paradiplomacia7 (UNIÃO EUROPEIA, 2015). Isso significa que a União Europeia vem desenvolvendo políticas mais federalistas, tornando o órgão um espaço de maior abertura e, principalmente, aumentando a participação civil. Consequentemente, tal questão acaba levando a população dos países a sentirem-se mais representadas (NASCIMENTO; BATISTA; ALBUQUERQUE, 2016).

Conforme aponta Soderbaum (2016), as microrregiões vêm ganhando maior relevância, principalmente, nos últimos vinte anos. Na UE, junto do Comitê das Regiões, elas obtiveram maior participação institucional. Somado a isso, tem-se o ponto da identidade europeia. Isso pode ser melhor visto, por exemplo, nas manifestações catalãs desejando a independência, quando os indivíduos não somente carregavam bandeiras da Catalunha, mas também da União Europeia (TAVARES, 2017). Isso pode ser explicado pelo sentimento de pertencimento à identidade europeia pelos cidadãos dos países membros do bloco. Assim, a utilização de símbolos coletivos (por exemplo, as bandeiras citadas anteriormente) fomenta ainda mais essa identidade comum entre os indivíduos (NASCIMENTO; BATISTA; ALBUQUERQUE, 2016).

Ao passo que os movimentos buscam pela independência, estes também buscam a autonomia no panorama europeu, pois muitos dos movimentos em voga, como o catalão e o escocês, por exemplo, se consideram “movimentos europeus” (BIERI, 2014). Uma última questão se daria no âmbito econômico e militar, pois os movimentos separatistas poderiam ver o bloco de integração como um auxiliador nessas questões de cunho econômico e militar, fazendo com que se dispensasse a necessidade de incorporação, desses movimentos, a um Estado maior - já que teriam a opção do bloco europeu. Isso se daria, na medida em que a organização poderia prover segurança, com a OTAN8 e poderia facilitar o comércio, com o mercado comum europeu (TAVARES, 2017).

4.2 CARTA DA ONUAssinada no dia 26 de junho de 1945, em São Francisco, nos Estados Unidos, a Carta da ONU

é o documento fundador das Nações Unidas. Dentre seus propósitos está a busca pela estabilidade internacional por meio do respeito, da igualdade de direito e da autodeterminação dos povos. Para tanto, seus Estados-membros devem respeitar alguns princípios determinados no documento, dentre os quais estão a não intervenção em assuntos internos de outro Estado, o respeito à integridade territorial, a soberania igualitária entre os membros e a independência política dos países (NAÇÕES UNIDAS, 1945). Após as duas Guerras Mundiais terem trazido grande instabilidade ao Sistema Internacional, a Carta colocou-se como base para a atuação internacional dos Estados-membros, com o fim de promover a manutenção da paz pelo globo.

No seu capítulo I, em que a Carta discorre sobre “Objetivos e Princípios”, é importante ressaltar o parágrafo 2 do artigo 1, que coloca entre os objetivos da ONU o de “desenvolver relações de amizadeentre as nações baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dospovos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal” (NAÇÕES UNIDAS,1945, p.2). Assim, a Carta da ONU não demarca o conteúdo e o alcance do princípio de autodeterminação dos povos; mas sabe-se que o assunto foi influenciado pelo contexto do pós-Guerra Fria, quando, após acriação das Nações Unidas, houve o surgimento de novos Estados (WAISBERG, 2011). Para atingir essee seus demais objetivos, a ONU age de acordo com o princípio da igualdade soberana, conforme constano capítulo 1, parágrafo 1 do artigo 2: “a Organização é baseada no princípio da igualdade soberana detodos os seus membros” (NAÇÕES UNIDAS, 1945, p.2).

Portanto, a instituição reafirma, em um documento legal, contando com a assinatura dos Estados-membros, princípios de igualdade entre os países e a soberania sobre sua população e território. No capítulo XI da Carta, as Nações Unidas também destacam os direitos e deveres dos territórios não autônomos, os quais só abarcam as colônias, descartando, assim, os movimentos separatistas. No direito internacional público, a aplicação do conceito de autodeterminação é complicada, pois abrange diversos 7 Paradiplomacia, aqui, se refere ao envolvimento de unidades subnacionais nas negociações, por exemplo, cidades, Estados e províncias (CONNOLLY,2013).8 A União Europeia está inserida dentro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), que é um tratado de segurança coletiva (CRUZ, 2016).

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sujeitos, dentre eles a população em questão, o Estado Nacional e as normas internacionais. Quanto ao Estado Nacional, ele visa impor sua soberania perante seu território; já as normas internacionais, muitas vezes não são claras quanto a esse tema. Trata-se, portanto, de uma situação complexa, o que causa dificuldades para aplicação de medidas efetivas (ARON, 2002).

5 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESSendo um país considerado neutro em relação aos assuntos mundiais, a África do Sul, muitas vezes, segue a posição de seus maiores aliados. Por tal razão, referente aos separatismos, esse país segue a mesma lógica, posicionando-se similarmente a um de seus maiores parceiros nas relações internacionais, os Estados Unidos (CENTRAL INTELLIGENCE AGENCY, 2018).

A Alemanha baseia-se na Carta Magna, defendendo que dentro dos Estados individuais não há espaço para movimentos separatistas. Dessa forma, qualquer processo nesse sentido viola a ordem constitucional. Uma região do país, a Baviera, conta com desejos independentistas desde o passado - ela constituía-se como um reino independente até o ano de 1972, quando foi incorporada a Alemanha Unificada - porém, hoje, essa reivindicação nacionalista não se apresenta mais com tanta força (EL MUNDO, 2017).

Angola, como diversos outros Estados, possui, em sua constituição, a defesa da unidade e indivisibilidade do país, tendo sua política externa orientada para tal princípio da Integridade Territorial dos Estados. (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES, 2010). O país africano conta com dois movimentos separatistas em seu território, um nas regiões diamantíferas das Lundas e outro na região petrolífera de Cabinda. A Frente de Libertação do Estado de Cabinda (FLEC) chegou a anunciar a retomada da atividade militar diante da falta de diálogo por parte do governo angolano (DEUTSCHE WELLE, 2016).

A Arábia Saudita defende, como preceito de sua política externa, a preservação da soberania e integridade territorial das nações (KINGDOM OF SAUDI ARABIA MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS, 2016), além da manutenção do status quo de alguns Estados, como é evidenciado no auxílio saudita ao governo do Yemen, que sofre tanto com a oposição houthi, quanto com o grupo separatista que reside na parte sul do país (THE GUARDIAN, 2018).

A Argentina defende a integridade territorial dos países e apoia a soberania das nações. O país até hoje reivindica a soberania pelas Ilhas Malvinas, alegando um domínio histórico desta região, que atualmente é considerada território britânico de além-mar (MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES Y CULTO DE REPUBLICA DE ARGENTINA, 2017). Porém, os habitantes da ilha se autodeterminam britânicos; a Argentina, por sua vez, declara que o princípio de autodeterminação não se aplica às Malvinas, pois não o considera legítimo, já que os britânicos teriam ocupado as ilhas utilizando da força e expulsado os indivíduos que ali habitavam. A justificativa argentina, portanto, é de que não há, neste caso, uma relação legítima entre população e território (BBC, 2012).

A Armênia defende a autodeterminação dos povos por meios pacíficos, principalmente por conta da região de Nagorno-Karabakh, que outrora esteve sob domínio da Armênia - e tem a maior parte de sua população pertencente ao grupo étnico armênio-, porém atualmente faz parte do Azerbaijão, e já ocasionou uma guerra entre os países, em 1988 (MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE REPUBLIC OF ARMENIA, 2009). O conflito só teve seu cessar-fogo em 1994, graças a um acordo feito por ambas as partes e mediado pela Rússia e pela Organização para a Segurança e cooperação na Europa. Quando se trata da questão interna, não se tem existência de grupos separatistas no país.

Nos dias atuais o Brasil não apresenta, se comparado a outros países, nenhum grupo separatista de relevância dentro de seu território. Quando se trata de questões a âmbito mundial, ele costuma apoiar os interesses de seus maiores aliados. Sobre a questão catalã, por exemplo, o Brasil rejeitou a declaração unilateral de independência da região e reiterou seu pedido de que unidade Espanhola seja mantida e que a situação se resolva na base do diálogo (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL, 2017).

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A Catalunha defende o direito à autodeterminação dos povos. Através de seu próprio movimento separatista, a região busca por maior autonomia, alegando sua identidade cultural e histórica. O movimento na região passaria a ser influenciador para demais regiões da Europa e do mundo que buscam por sua independência. Assim, o caminho a ser trilhado seguiria sendo negociações e reformas constitucionais, tendo como base o respeito à identidade regional e à capacidade de um povo para autodeterminação (GAZETA DO POVO, 2017). Vale destacar, por fim, que o país nesta reunião da Assembleia Geral é um membro observador.

O Cazaquistão possui como um de seus princípios, a inviolabilidade da soberania política de um país (MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS REPUBLIC OF KAZAKHSTAN, 2017), preocupando-se com a soberania e a integridade territorial das nações. A paz e a estabilidade - tanto a nível mundial quanto regional - devem ser fortalecidas e a segurança internacional deve ser mantida. O país, atualmente, volta sua atenção principalmente para o continente asiático (VOLOSHIN, 2014).

O Chile é um país defensor da Integridade Territorial dos Estados, apoiando a soberania das nações em primeiro plano (MINISTERIO DE RELACIONES EXTERIORES DE CHILE, 2014). A nação chilena possui um caso próprio de separatismo, que diz respeito à Ilha de Páscoa, localizada no Oceano Pacífico. Os rapanui, habitantes nativos da ilha, possuem idioma e cultura distinta do restante do país. Recentemente, o maior desejo de autonomia da Ilha de Páscoa vem incomodando o governo central chileno (O GLOBO, 2017).

A China é um dos principais países defensores do princípio da soberania dos Estados, da não-interferência estrangeira nos assuntos internos do governo e da integridade territorial. Devido à existência de uma ampla diversidade regional e cultural dentro de suas fronteiras, o país tornou-se palco de diversas tensões e conflitos étnicos e separatistas - desde as conhecidas campanhas pela emancipação do Tibet, até os protestos recentes e extremamente violentos na Região Autônoma de Xinjiang (PORTUGAL, 2016). Ademais, a posição da China em relação à Catalunha reforça seu posicionamento contrário aos movimentos de emancipação, visto que o país posicionou-se extremamente a favor do governo espanhol e da sua luta por manter a unidade nacional (THE DIPLOMAT, 2017).

O Egito, país que projeta liderança no cenário internacional no que diz respeito aos Estados árabes, preza pelo direito da autodeterminação do povos e, ao mesmo tempo, pela soberania dos países. Devido a sua recente aproximação e alinhamento com a Europa, o país afirma que os movimentos separatistas atuais devem ser tratados a partir das leis, constituição e soberania dos Estados que estão sofrendo com tal situação. Portanto, posiciona-se ao lado dos governos europeus, mas preza por uma solução pacífica e que atenda da melhor foram as partes da situação (AHRAM, 2017).

A Escócia, por seu passado recente de debates de secessão em relação ao Reino Unido, irá defender a autodeterminação dos povos. Tal desejo por separação ampliou-se sobretudo a partir do declínio econômico do Reino Unido no século XX, tendo como maior consolidação o referendo de independência em 2014 (THE GUARDIAN, 2013). Já com o movimento de separação do Reino Unido da União Europeia (BREXIT), em 2017, e o não desejo da Escócia de se separar do bloco econômico, tais reinvindicações se ampliaram, gerando grandes tensões entre Escócia e Reino Unido.

A Espanha, país que atualmente enfrenta uma expressiva crise econômica, possui uma grande diversidade étnica dentro de suas fronteiras, assim como uma configuração político-geográfica que confere certa autonomia a determinados territórios. No entanto, tais diferenças regionais acabaram desencadeando alguns dos movimentos autonomistas e separatistas mais expressivos da Europa Ocidental, como é o caso da Catalunha e do País Basco (NEW YORK TIMES, 2017). Essas duas reivindicações expressam diferentes níveis de acirramento político, visto que o último reivindica apenas maior participação nos assuntos do Estado, mas não visa uma separação do território espanhol. Já a Catalunha mostra-se como o grande foco atual dos movimentos separatistas europeus, visto que a região declarou sua vontade de independência da Espanha em outubro de 2017, através de um referendo. Este, entretanto, é considerado ilegal pelo governo espanhol (FOREIGN AFFAIRS, 2017).

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Devido a sua influência no cenário mundial como grande potência, os Estados Unidos possuem forte influência, quando se trata de reconhecer e legitimar movimentos separatistas, influenciando o posicionamento de diversos países. Por essa razão, esse país tem se mostrado volátil quanto ao seuposicionamento frente aos esses movimentos, levando em conta os seus interesses e de seus aliados(REUTERS, 2017).

A Estônia, por fazer parte da União Europeia, preza, seguindo também os interesses do bloco, pela integridade territorial e soberania dos Estados. O país também anseia que a situação na Catalunha seja resolvida eficaz e pacificamente, sob regimento das leis espanholas (REPUBLIC OF ESTONIA MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS, 2017).

A região de Flandres, sendo uma região belga que deseja se separar, defende que todos os povos que queiram declarar sua auto-determinação devem possuir tal direito. Nesse sentido, os representantes dessa região posicionam-se fortemente contra qualquer tipo de violência a fim de conter os movimentos separatistas, declarando apoio ao movimento separatista catalão (BBC News, 2017). Além disso, o desejo de separação da região é intensificado devido ao alto grande de desenvolvimento econômico da região, o qual, caso comparado com a região contrária, mostra-se superior (POPELIER, 2015).

A França, um dos países constituintes da Europa Ocidental, não escapou dos clamores autonomistas e separatistas da região em questão. O país enfrenta até hoje reivindicações autonomistas provenientes da região da Córsega e, desde os anos de 1970, ocorrem surtos de violência organizados por grupos que apoiam o movimento de independência. O Estado francês sempre se opôs a tal independência, prezando por sua unidade territorial, mas, nas últimas décadas, concedeu uma autonomia expressiva à região. Ademais, o governo francês afirmou não reconhecer a declaração de independência da Catalunha, posicionando-se ao lado da Espanha e dos demais países da União Europeia (NEW YORK TIMES, 2017).

A Índia tem como um de seus princípios fundamentais a integridade territorial dos Estados. A nação indiana lida, atualmente, com vários movimentos separatistas em seu território, dentre os quais destacam-se o separatismo da região da Caxemira - que já provocou guerras com o Paquistão - e o separatismo da região de Punjab, habitado em sua maioria por indivíduos da religião Sikh (FOLHA DE SÃO DE PAULO, 2005). Conter tais movimentos e inibir ataques terroristas provenientes dessas regiões são uma prioridade para o governo indiano (THE WIRE, 2017).

O Irã, devido ao seu conflito interno com os curdos separatistas, possui uma posição concisa em relação ao assunto, sendo contrário a esses movimentos. Além disso, o Irã vem buscando se aliar com países vizinhos, como o Iraque, a fim de conter o avanço desses movimentos. No entanto, suas posições variam de acordo com as jogadas políticas envolvidas em cada questão (FOLHA DE SÃO PAULO, 2017).

O Iraque, país que enfrenta o movimento de emancipação dos curdos na região do Curdistão Iraquiano, defende e luta pela integridade territorial do seu território. Em 2017, a região realizou um referendo de independência, considerado anticonstitucional pelo governo iraquiano. Em contrapartida, a autodeterminação configura-se como um princípio extremamente importante para o país que, devido a diversas intervenções estrangeiras, busca construir uma unidade nacional (THE GUARDIAN, 2017).

O governo do Japão busca agir a favor de garantir seus interesses e de apoiar seus aliados, mas acredita que a soberania, a integridade territorial e a unidade nacional dos Estados devem ser mantidas, e que essas situações devem ser resolvidas com diálogo (MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF JAPAN, 2017). O país tenta há muito tempo contornar a situação do grupo separatista em Okinawa, que fica no arquipélago Ryukyu. Lá também estão diversas tropas norteamericanas, o que coloca os EUA no meio desse debate (THE GUARDIAN, 2014).

A Itália, que possui atualmente crescentes movimentos separatistas e de autonomia, mostra-se desfavorável a qualquer um desses movimentos que tente, de forma unilateral, declarar independência. Além disso, conforme o Ministro das Relações Exteriores, Angelino Alfano, a Itália considera gravíssimas e foras da lei tais declarações unilaterais (LA NUOVA VENEZIA, 2017).

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O Kosovo é um país de reconhecimento limitado dentro do Sistema Internacional e que defende a autodeterminação dos povos. A própria nação declarou sua independência em 2008 e, ainda hoje, busca o reconhecimento internacional de seu governo (REPUBLIC OF KOSOVO MINISTRY OF FOREIGNAFFAIRS, 2015). O processo independentista do Kosovo foi um grande influenciador e motivador paraos atuais movimentos separatistas no mundo, inclusive o da Catalunha.

Montenegro, país que conquistou sua independência por meio de uma votação popular, mostra-se neutro quando se trata de separatismos. Apesar de aceitar e apoiar a autodeterminação dos povos, tal país considera necessária, como ocorrido em sua própria independência, uma grande negociação entre as partes e o envolvimento de observadores internacionais a fim de tornar as negociações mais transparentes (THE GUARDIAN, 2006).

A Nigéria tende a equilibrar sua visão, comprometendo-se com o princípio de autodeterminação, mas também defendendo a integridade territorial das nações. O país defende o princípio de autodeterminação dos povos, em grande parte devido ao seu passado colonial, pois durante o século XX, o país foi colônia britânica. Além disso, a Nigéria preza pela integridade territorial, pois conta com alguns movimentos separatistas em seu território, os quais não considera legítimos. Vale destacar que o país constitui-se, ainda, como um dos principais atores da União Africana9, sendo que os princípios que orientam sua política externa estão em conformidade com aqueles inseridos na Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos - como o compromisso de autodeterminação e independência de outros Estados (OWA, 2017).

O Paquistão é um Estado que já viveu uma guerra civil que culminou na independência do Paquistão do Leste, que se tornou o atual Estado de Bangladesh. Além disso, hoje em dia existem grupos separatistas como os Exércitos de Libertação Baluchistão e Sindhudes, os quais o Estado trata de maneira passiva, chegando a até considerar o exército Baluchistão como grupo terrorista (THE EXPRESS TRIBUNE, 2012).

O Reino Unido enfrentou e ainda enfrenta, porém com menor intensidade, grupos separatistas em seu território, como por exemplo o IRA, grupo que visava a retirada da Irlanda do Norte do Reino Unido e a anexação à Irlanda, e se utilizava de atos terroristas para reivindicar seus ideais, mas que com o tempo foi perdendo força e espaço (THE GUARDIAN, 2005). O Estado busca preservar a soberania e integridade territorial das nações, o que pode ser notado quando não foi reconhecida a declaração de independência da Catalunha (INDEPENDENT, 2017).

A Rússia defende fortemente a soberania e a integridade territorial dos Estados. (THE MINISTRY OF FOREIGN AFFAIRS OF THE RUSSIAN FEDERATION, 2016). O país foi contra o processo de independência do Kosovo e até hoje não reconhece a legitimidade da nação. Por abranger uma multiplicidade de etnias em seu território, a Rússia possui vários movimentos separatistas, os quais reprime na maioria das vezes. Foi o que aconteceu com os Chechenos, região russa de maioria muçulmana, que após as declarações de independência, em 1991 e 1994, foi violentamente atacada pelo governo russo (CORREIA, 2008).

A Síria, apesar de defender a integridade dos territórios, tende a equilibrar sua visão com a autodeterminação dos povos, considerando as negociações diplomáticas como uma boa forma de resolver questões de separatismo. O país sírio lida internamente com o movimento separatista dos Curdos, os quais reivindicam uma maior autonomia na região de rojava, ao norte do país (SARY, 2016). Dada a situação instável da Síria e a ajuda dos Curdos ao Governo com vistas ao combate ao Estado Islâmico, a posição do governo sírio aponta para uma possível negociação da autonomia à região de rojava (REUTERS, 2016).

A Suíça, país que construiu uma reputação de mediadora quando se diz respeito aos conflitos internacionais, possui uma configuração político-geográfica a qual confere expressiva autonomia 9 A União Africana é uma organização internacional que busca a cooperação, a paz e o desenvolvimento entre os países do con-tinente africano (AFRICAN UNION, 2018).

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administrativa para as suas regiões. O país é considerado exemplo na prevenção de movimentos separatistas na região, especialmente pelo seu modelo de organização. No que diz respeito ao movimento da Catalunha, o país mostra-se como importante mediador entre as partes – sempre trabalhando em prol da democracia e da estabilidade internacional (BIERI, 2014).

A Suécia defende o direito das nações à autodeterminação. Para o país, a autodeterminação está ligada à defesa dos direitos humanos, o qual sempre esteve presente na história sueca (DIAB, 2017). Apoiou, por exemplo, o povo Saharaui à autodeterminação e edificação de um Estado independente no Saara Ocidental (SPS, 2017). Contudo, o país tem uma questão interna em que não reconhece a autodeterminação da comunidade indígena Sami (FUCHS, 2014).

A Turquia defende a integridade e a soberania dos territórios. O país, atualmente, lida com o povo curdo, o qual está espalhado dentro de seu território e desejando alcançar a independência para criar seu próprio Estado, ocupando uma parte do espaço turco. A Turquia, por sua vez, não legitima esse movimento (NAEGELE, 1998). Assim, como seu próprio exemplo ilustra, sua política externa a respeito dos movimentos separatistas apoia-se sobre os princípios de integridade territorial e soberania nacional dos países (UNAY, 2017).

A Ucrânia compromete-se com a defesa da integridade territorial dos Estados, posição a qual muito se deve pela última década de história do país. Recentemente ocorreram diversos conflitos separatistas no território ucraniano, o qual perdeu a região da Crimeia em 2014, anexada pelos Russos após a realização de um plebiscito de separação. A Ucrânia sofre ainda com movimentos separatistas no Leste de sua nação, de maioria russa. O governo ucraniano, porém, não reconhece nenhum dos dois separatismos, alegando que retornará para si a soberania da Crimeia e do leste ucraniano (AGÊNCIA BRASIL, 2017).

A Venezuela, país marcado por instabilidades políticas e que, atualmente, enfrenta uma profunda crise, foi um grande expoente da defesa da autodeterminação dos povos e da soberania de seu próprio país na época da descolonização. No que diz respeito à questão da Catalunha, seu presidente, Nicolás Maduro, portou-se extremamente desfavorável à posição contrária da Espanha frente ao referendo de independência da região (REUTERS, 2017).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) As soluções para a questão dos movimentos separatistas devem levar em conta a opinião das regiõesou apenas do governo central?

(2) Os fatores que desencadeiam os movimentos autonomistas e separatistas podem ser solucionados?

(3) De que forma os países da Assembleia Geral podem solucionar o conflito entre as regiões separatistase os governos centrais?

(4) Pode-se conceder maior autonomia sem necessariamente ceder a independência para a região?

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ASSEMBLEIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS (1954)

O Apartheid Sul-Africano

Artur Holzschuh Frantz, Eduarda Fontana Ramos, Lucca Pires Santos Lima, Marcus Vinícius H. Alves e Paolla Grazielly Codignolle Souza1

1 Graduandos e Graduandas de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) Como e quando surgiu o regime segregacionista na África do Sul?

(2) Qual o papel da Comunidade Internacional em lutar contra a desigualdade e segregação no mundo?

APRESENTAÇÃOA Assembleia Geral das Nações Unidas (AG) é um dos seis órgãos fundamentais da ONU,

segundo sua Carta de fundação1. Uma de suas principais características é contar com a totalidade de seus 193 membros, que discutem ali assuntos variados concernentes a toda a população mundial. Na Assembleia, cada Estado conta com o direito a um voto, em favor da igualdade entre os Estados. Suas resoluções, entretanto, mesmo que aprovadas por maioria, têm finalidade apenas recomendativa, o que reforça a necessidade de busca por consenso.

As reuniões da AG são anuais, exceto quando há sessões especiais para a discussão de assuntos específicos. Neste sentido, no VII UFRGSMUNDI, este comitê se propõe a tratar da simulação de uma Assembleia Geral das Nações Unidas de cunho histórico. A sessão discutirá o ano de 1954, tratando sobre a implementação do regime do Apartheid na África do Sul, ocorrida oficialmente em 1948. Assim, o objetivo é que os delegados debatam as implicações da segregação e práticas discriminatórias, prestando atenção para não utilizar dados que ultrapassem a data da reunião. É esperado que a partir disso possa ser elaborada uma resolução, que poderá ser votada ao final da última sessão. Este guia foi escrito com o propósito de criar uma base de conhecimento comum para que todos os delegados possam fazer parte da discussão.

1 PANORAMA HISTÓRICOA história é imprescindível para se entender qualquer tema que se queira estudar. Nada é

completo sem seu contexto. Nesse sentido, a história sul-africana começa a ser escrita somente com a chegada de povos letrados à região, europeus que por ali passaram e posteriormente vieram a colonizá-la. Os povos nativos do continente só começaram a colocar no papel os acontecimentos de sua terra em meados do século XX. Contudo, não é de papel único da historiografia prover o contexto necessário. Outros campos de estudos também podem ajudar, como é o caso da geografia, tratado a seguir.

É possível fazer três subdivisões da área territorial conhecida hoje como África do Sul a depender do regime de chuvas, que possibilitaria a agricultura dos povos que viriam a se assentar nas localidades. A primeira subdivisão é a da área desértica a oeste, com um média anual de chuvas baixa, o que dificulta o estabelecimento de sociedades na região. A segunda se trata da parte leste do país, que possui umamédia alta de chuvas anuais, possibilitando vasta vegetação subtropical e condições favoráveis parao desenvolvimento de grupos humanos em seu território. Por último, a parte central do país trata-se de uma zona de transição com média anual de chuvas intermediária entre as duas sub-divisõesanteriores, possibilitando fixação antiga de povos, porém com certas dificuldades (THOMPSON, 2014).Essas divisões marcariam a história do país, que apresentamos a seguir, começando pelo período pré-colonial.

1.1 DA PRÉ-COLÔNIAA espécie do homem moderno nasceu no continente africano, referido também como

Continente-Mãe, na parte leste e sul da massa territorial, muito provavelmente nas regiões onde hoje encontramos desde a Somália até Moçambique2. Destas localizações, grupos de hominídeos começaram a se deslocar através das planícies para povoar o continente africano, alcançando quase toda sua extensão. Com a desertificação do Saara, contudo, que antes se caracterizava por uma vasta área de florestas e regiões habitáveis, a fixação dos povos tornou-se uma tarefa árdua e estes partiram

1 O capítulo três da Carta das Nações Unidas estabelece como seus órgãos principais seis entidades: (1) a Assembleia Geral, (2) o Conselho de Segurança, (3) o Conselho Econômico e Social, (4) o Conselho de Tutela, (5) a Corte Internacional de Justiça e (6)o Secretariado (ONU, 2017).2 O mapa político africano na próxima página pode ajudar na localização de algumas regiões.

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para o nomadismo. Desta maneira, as populações negras que habitavam o continente tomaram rumo ao sul, sendo a maior migração para a região da África do Sul composta pelo galho étnico dos bantus, que adentraram terrenos antes pertencentes aos bushmen e hottentots, também conhecidos como povos khoisans (caçadores-coletores e pastoreios que habitavam vastas regiões do sul da África). Embora não haja grandes conhecimentos sobre a interação entre esses povos, pode-se afirmar que as sociedades eram entrelaçadas das mais diversas maneiras. Fosse comércio, pilhagem, copulação, cooperação ou combate, esses povos relacionavam-se entre si sem separações estritas (PEREIRA, 2007).

Imagem 1 - mapa político da África

Fonte: Guia Geográfico, 2018

Avançando no tempo para o século XV, expedições marítimas portuguesas navegaram pela costa da África em tentativas de contornar o continente e chegar às Índias sem necessidade de passar pelo Mar Mediterrâneo (controlado pelas Cidades-Estado italianas). Em 1487, Bartholomeu Dias logrou passar pela península do Cabo da Boa Esperança, sendo o primeiro europeu documentado a fazê-lo e dando início às inúmeras expedições portuguesas, mas sem ocupar nenhuma terra ao sul de Luanda, capital da atual Angola. Com o tempo, outras nações européias passaram pelo Cabo, mas só parando na região para reabastecimento e trocas ocasionais com o povo pastoril que lá vivia. Não foi até 1652 que estabeleceu-se na região sul-africana um posto regular, construído pelos holandeses. Ao longo dos séculos XVII e XVIII, a ocupação começou a invadir o interior do território, com estes antigos cidadãos da Holanda começando a se denominar africanos e a explorar o trabalho dos povos nativos ao local. A esses colonos holandeses, que se autodenominavam bôer, (camponês em holandês), posteriormente africâneres, se juntaram outros, como os calvinistas franceses Huguenotes3. Com isso, no decorrer de quase dois séculos, a região foi se tornando uma espécie de colônia de povoamento, o entreposto do cabo. Enquanto isso, povos que lá habitavam há séculos foram exterminados, escravizados ou expulsos para os desertos do norte. Com este processo, se deu início à segregação racial que se tornaria um sistema legalizado, tendo já nesta época casamentos mistos proibidos. A raça se tornava, então, indicador de posição social (VIZENTINI, 2007).

1.2 COLÔNIAO processo colonial no país resultou em três pontos especialmente relevantes: primeiro, criou

estruturas políticas e econômicas que possibilitaram uma postura superior por parte dos colonizadores sobre as populações nativas; depois, restringiu o acesso da população nativa à terra, água e gado, sendo prioridade dos colonizadores; e por último, fez com que diversos grupos nativos, e logo depois os estrangeiros também, se adequassem às novas formas de trabalho. Tais fatores conduziram o colonialismo na África do Sul durante séculos, e dessa forma o poder político, econômico e militar

3 Minoria religiosa francesa de origem protestante.

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da minoria branca acabou sendo determinante e tendo forte influência nos rumos da sociedade sul-africana, que passou a ter uma economia sustentada pela escravidão e servidão, e uma população marcada pela discriminação e exploração (PEREIRA, 2010). Desde o século XVII os colonizadores holandeses conseguiram estabelecer um sistema mercantil no país, e os britânicos um capitalista no século XIX. O sistema criado pelos colonizadores britânicos desestabilizou a estrutura mercantil e os padrões introduzidos pelos holandeses, e assim, o colonialismo britânico passou ser mais agressivo, sendo sua dominação sucedida por um “colonialismo interno” onde era possível ter o controle político das populações nativas, e possibilitar a existência de um sistema de opressão “legalizada” contra a maioria negra e outros grupos étnicos (PEREIRA, 2010). Além disso, a rivalidade entre britânicos e holandeses se intensificou com a descoberta de ouro e diamantes na região. Isso fez com que tivessem início às Guerras Bôers (1899 a 1902)4, que fortaleceram o nacionalismo bôer/africâner5 frente às investidas britânicas. O conflito se encerrou com a conquista de novas colônias para os britânicos e com a derrota dos bôers, forçados a assinar um tratado de paz com os britânicos, especificando que os mesmos eram soberanos naquele território. Em 1910 o governo britânico concedeu autonomia ao território, que passou a formar a União Sul-Africana6. Mesmo após se tornar independente da coroa, seu governo implementou várias leis segregacionistas (PEREIRA, 2010). É importante salientar que o colonialismo era visto como uma forma de hegemonia dentro do país, onde esse processo não ficava restrito apenas às formas de poder mantidas pelos colonizadores, mas também se reforçava através da consciência dos subordinados. Dessa forma, o colonialismo atuou de maneira mais generalizada e indireta na África do Sul, pois se desenvolveu para além do domínio político e acabou sendo reconhecido inclusive pelos nativos (TRAJANO FILHO; DIAS, 2014). A própria segregação, descrita mais profundamente na próxima subseção, pode ser considerada resultado dessa forma de dominação.

1.3 SEGREGAÇÃO A África do Sul tornou-se um país onde a cor da pele era determinante para classificar os indivíduos quanto a posição ou condição social e o espaço que ocupavam na sociedade. A partir de 1911, a parte da população que era composta por bôeres e descendentes de britânicos criou uma série de leis que acabaram consolidando o poder deles sobre os negros, estruturando a política de separação racial. Mesmo entre 1910 e 1934, ingleses ainda possuíam os direitos políticos do país. Foi então que se iniciou a elaboração de uma organização legislativa, com o objetivo de tornar legítimo o fato de um grupo racial determinar os direitos civilizatórios de outros, formando assim as bases para o Apartheid (LIMA, 2013). A segregação racial na África existia desde a chegada dos holandeses, que separaram a minoria branca das comunidades nativas. Assim, a minoria branca constituía a única parcela da população com direito de voto e com poder político e econômico no país, enquanto a população nativa era obrigada a obedecer rigorosamente às leis separatistas. Em grande parte do país os negros tinham que viver em áreas separadas; casamentos e relações entre pessoas de diferentes grupos étnicos também eram proibidos. Tal separação de raças serviu como forma de desenvolver a sociedade separadamente, buscando desligar os negros do desenvolvimento da sociedade branca (LIMA, 2013). O princípio da superioridade branca e da discriminação racial era determinado pelo sistema de exploração agrária a que se dedicavam os africâneres, que era atrasada e pouco lucrativa. Para os britânicos a escravidão era considerada como um obstáculo à formação de um mercado consumidor, mas também, trazia vantagens aos colonos, pois estabelecia barreiras para a ascensão social e econômica da população negra (PEREIRA, 2010). Essas eram algumas das características da política oficial do governo sul-africano no período que antecedeu o Apartheid propriamente dito. A política de segregação racial oficialmente criada em 1948, ou seja, o Apartheid, não pode ser vista apenas como racismo ou discriminação racial, pois constituiu um sistema social, político, econômico e constitucional baseado em uma legislação. Além do preconceito racial muito presente, existia também a opressão por fins econômicos, sociais e políticos baseados principalmente nessas leis (LIMA, 2013). Esta organização será melhor descrita ao longo da seção 2, apresentada a seguir.

4 Guerra entre britânicos e colonos de origem holandesa (chamados de bôeres ou afrikaners) na África do Sul.5 Descendentes dos colonos dos Países Baixos e também da Alemanha e da Dinamarca, que se estabeleceram nos séculos XVII e XVIII na África do Sul e cuja colonização disputaram com os britânicos.6 Federação das províncias do Cabo, Natal, Orange e Transvaal

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2 A INSTAURAÇÃO DO APARTHEID (1948)Nesta seção apresentaremos como se deu a implementação do Apartheid na África do Sul a

partir de 1948 e como foram os primeiros seis anos do regime, de forma a fornecer um panorama geral da situação que possa guiar a discussão. Esse período foi marcado pela aprovação de legislação cada vez mais segregacionista, e para melhor compreensão será dividido em três tópicos. A primeira seção mostrará o início do regime, suas novas leis a partir de 1948 e como estas afetaram a população sul-africana. A segunda tratará da resistência empreendida, especialmente pelos nativos. Por fim, a última seção salientará o Ato de Reassentamento de 1954, ano que ocorrerá esta sessão da Assembleia Geral Histórica.

2.1 APARTHEID: IMPLEMENTAÇÃO LEGAL E PRÁTICAUma aliança entre os grupos africâneres permitiu a ascensão do Partido Nacional7 ao poder

em 1948. A eleição do partido não representava uma guinada no pensamento político dominante do país, entretanto, considerando-se o já existente estado de segregação entre descendentes de europeus e negros no país. É interessante notar, porém, que a base do Partido Nacional nos anos 1940 e 1950 era quase completamente africâner, já que seu projeto não atraía outros grupos. A eleição estava ligada especialmente ao sentimento de temor racista dos africâneres, alarmados com a migração em massa de outras etnias para as cidades durante a Segunda Guerra Mundial, quando boa parte dos brancos havia saído do país para integrar o exército de nações europeias (POSEL, 2011).

Complementando as medidas do período anterior de segregação, o Apartheid tinha bases legais estritamente definidas pela elite africâner, que se sentia ameaçada tanto pelos capitalistas britânicos como pelos trabalhadores negros, e desejava criar sua própria identidade. Ainda que o movimento apresentasse divergências internas e sofresse pressões externas desde o começo, o projeto de segregação adotado pelo governo primava por um “desenvolvimento” baseado na hierarquia racial e no nacionalismo – que em sua visão, devia beneficiar apenas os africâneres (POSEL, 2011). Essas medidas de separaçãofísica e hierarquia de poder explicitadas nas leis, todavia, iam na contramão das incipientes iniciativasinternacionais para a libertação dos povos colonizados, que começavam na Ásia em meados dos anos1940 (CLARK; WORGER, 2013).

A instituição do Apartheid, em 1948, tinha como objetivo tornar a sociedade sul-africana ainda mais segregada, como as teorias racistas afirmavam que deveriam ser (CLARK; WORGER, 2013). Assim, era construído um rígido panorama de planejamento econômico e social, com papéis limitados para os nativos. O sistema era, portanto, de submissão e exclusão, não extermínio (o que não eliminava o uso de formas violentas). Direitos e espaços específicos passaram a ser designados a cada parcela da população, obrigada a se registrar8 em uma de quatro categorias, segundo a Lei de Registro da População de 1950: brancos, “de cor”, indianos e nativos (os últimos correspondentes aos negros sul-africanos) (DUBOW, 2011). Mesmo assim, em seus anos iniciais, o governo sul-africano tentava mascarar as ações do regime ao dizer apenas experimentar novas políticas de administração, de forma a acalmar possíveis críticas internacionais, ainda que seu sistema se tornasse cada vez mais violento e discriminatório (POSEL, 2011).

Marcos legais iniciais, como o Ato da Imoralidade (1949) e a Lei de Casamentos Mistos (1950), se preocupavam com impedir relações sexuais e casamento entre negros e brancos. Segundo Deborah Posel (2011), uma imagem bastante difundida, para alimentar a sensação de “ameaça negra” aos africâneres, era a do homem negro como potencial estuprador. Ainda em 1950, foram aprovadas as leis de Áreas de Grupo e Prevenção de Assentamentos Ilegais, que começavam a determinar áreas específicas para a moradia e convivência com base na classificação racial, estabelecendo punições para aqueles que não respeitassem os espaços designados (POSEL, 2011). Essas medidas seriam aprofundadas com o Ato de Reassentamento de 1954, tratado em mais profundidade na seção 2.3.

Preocupações do governo do Partido Nacional também incluíam aspectos da vida privada dos cidadãos, que era analisada por meio de instituições como a Igreja Reformada Holandesa e think tanks como o Escritório Sul-Africano para Assuntos Raciais. Dava-se atenção especial a questões como a redução da taxa de fertilidade entre africâneres e o crescimento da mesma entre nativos, e a introdução 7 É interessante notar que à época da ascensão do Partido Nacional a África do Sul ainda era um domínio britânico. Um dos objetivos do PN foi redefinir essa relação, e a cidadania britânica na África do Sul foi abolida em 1951 (POSEL, 2011).8 O registro ocorria de acordo com a categoria na qual determinada pessoa geralmente era encaixada. Assim, além da aparência, um indivíduo deveria ser aceito na sociedade como um membro daquela etnia (POSEL, 2011).

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de novos hábitos “imorais” pela juventude - como o rock, a liberdade sexual e o uso de cabelos longos (POSEL, 2011). A segregação tinha a finalidade de proteger os interesses políticos e econômicos da elite branca enquanto ocorria a inserção e consolidação dos africanos como força de trabalho principal, especialmente nas indústrias. Uma das principais linhas de ação nos primeiros anos do Apartheid foi a crença de que os negros só poderiam estar nas cidades enquanto estivessem prestando serviços aos brancos9. Acreditando estarem diante da inevitável ascensão social dos nativos, os africâneres temiam perder sua vantagem na pirâmide social sul-africana, com motivação reforçada a partir da crença da superioridade da civilização branca (POSEL, 2011). As leis aprovadas a partir de 1948 representavam, então, uma tentativa de controlar essa população e ao mesmo tempo garantir privilégios à população de origem europeia. A aplicação de restrições em possibilidades de emprego, por exemplo, existia de forma a submeter os africanos, que constituíam a grande maioria da população, às áreas econômicas que pudessem melhor beneficiar os africâneres. O preço da mão de obra negra também era mantido baixo por meio de leis que determinavam valores de salários de acordo com a etnia (CLARK; WORGER, 2013). A Lei de Educação Bantu de 1953 representou mais uma limitação à população nativa, uma vez que determinava que todas as instituições de educação fossem segregadas. Assim, todas as instituições de qualidade superior ficavam destinadas aos brancos. Além disso, o ato de 1953 determinava que a educação básica dos nativos, quase restringida à alfabetização, fosse feita em sua língua nativa, não em afrikaans10 ou inglês, o que os afastava ainda mais de uma educação superior. A partir de então, os centros de estudos destinados a “não europeus” se tornaram focos da resistência contra o Apartheid. 1953 também foi marcado pelo Ato de Amenidades Separadas, que determinava a separação racial em todos os serviços públicos, incluindo meios de transporte (POSEL, 2011). Muitas medidas de separação e retirada de direitos dos africanos já haviam sido instauradas durante o período anterior de segregação, e iam se tornando cada vez mais aprofundados com a evolução do novo regime. Ainda no período colonial inglês, direitos de propriedade eram preferenciais aos europeus e não aos os nativos, além de existir um controle muito maior sobre a mão de obra nativa, que era responsável pela atividade extrativa nas minas, de grande importância econômica para os britânicos (MARKS, 2011). A grande diferença entre o Apartheid e o regime anterior a 1948 era que o novo governo representava a execução do maior projeto de burocratização e normalização da segregação racial já empreendidos (POSEL, 2011). Tamanha desigualdade de tratamento não seria aceita de forma passiva pelos sul-africanos negros, que mesmo desde antes da implantação do Apartheid já lutavam contra a discriminação comandada pelos africâneres. Um panorama mais amplo sobre os movimentos de resistência será detalhado na seção a seguir.

2.2 OS MOVIMENTOS ANTIAPARTHEID Como já constatado, a segregação racial se deu de maneira social desde a chegada dos primeiros colonizadores europeus, quando os nativos foram oprimidos, alguns povos escravizados e outros foram atacados em massa, como os khoisan que em 1778 haviam sido praticamente exterminados como grupo independente. Entretanto, os povos africanos da região tida como África do Sul não aceitaram com resiliência a situação, havendo resistência desde o início (PINTO, 2007). É importante ressaltar que mesmo entre brancos racistas, não se era unânime a aceitação do tratamento cruel e indiscriminado dado aos negros; para aumentar a aceitação, à época, era usado como base teórica para justificar tal tratamento a chamada “teoria do darwinismo social”, que afirmava haver raças, assim como afirmava que a raça branca seria a superior, civilizada. Sendo assim, o homem branco tinha a “missão” - uma visão completamente deturpada de dever - de levar a civilização aos “povos selvagens” (FREDRICKSON, 2002). Mesmo com o racismo estando presente desde a chegada dos povos brancos, a segregação ainda não se fazia rígida durante todo esse tempo. Entretanto, muitas das atividades de cada grupo já se faziam restritas às suas próprias comunidades (BEINART, 2001). A briga “embrionária” entre bôeres e ingleses na África do Sul se mantinha, mesmo após o tratado de paz de 1902, e os bôeres ganhavam

9 Medidas “atenuantes” como essa, mesmo assim, apenas se aplicavam aos homens nativos, que eram minimamente valorizados por sua mão de obra. A situação das mulheres negras era ainda pior, já que eram vistas como “apêndices supérfluos” de seus pais e maridos (BERGER, 2009).10 O afrikaans é a língua falada pelos africâneres sul-africanos, sendo constituída por uma mistura de holandês, inglês, português, malaio, línguas khoisan (do sudoeste africano) e línguas bantus (que compreendem quase a totalidade da metade sul da África).

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força. Os bôeres (também chamados de africâneres) eram em sua maioria declaradamente racistas e contra qualquer miscigenação - queriam se manter o mais “puros” possível. Entretanto, eles já eram miscigenados, pois não descendiam apenas de holandeses, mas também de outros europeus, como alemães. Ficava claro que referiam-se a não misturar-se a negros e asiáticos11 ao falar da necessidade de pureza (PEREIRA, 2012). Foi em 1910, com a aprovação da primeira Constituição da União Sul-Africana (em que a União Sul-Africana passou a ser um domínio12 do Império Britânico e passou a ter autonomia) que a segregação se legalizou no território e os rumos da política dos brancos se tornou mais clara. A dominação dos africâneres construiu um Estado em que a discriminação racial era oficialmente reconhecida (BEINART, 2001). Já em 1911, a assinatura da Lei de Terras dos Nativos - tentativa incipiente de criar regiões racialmente mais homogêneas - encadeou a formação de resistência à segregação. Apenas um ano depois, em 1912, várias organizações africanas regionais encontraram-se para formar o Congresso Nacional dos Nativos Sul-Africanos (South African Native National Congress ou SANNC), posteriormente Congresso Nacional Africano (CNA). Apesar de haver diferenças entre os povos discriminados da região, estas não mais poderiam ser obstáculos para a luta contra a segregação racial e, portanto, uma união tornou-se necessária. A SANNC foi liderada e formada majoritariamente pela recente elite intelectual de nativos que tiveram acesso à educação; em grande maioria provenientes das escolas missionárias (DAVENPORT; SAUNDERS, 2000). Em 1913 passou a vigorar a Lei de Terras dos Nativos, a partir do qual os negros, sendo 75% da população, deveriam viver em apenas 7% do território nacional e os outros 93% do território, onde estavam as melhores terras, foram destinados aos brancos, que representavam 10% da população (PEREIRA, 2012). O CNA organizou-se e reagiu com rapidez à nova lei: formaram uma grande reunião e recolheram relatos de impactos imediatos na vida dos discriminados; agiram através de meios constitucionais e pacíficos que pretendiam sempre utilizar, arrecadando fundos para levar esses relatos de sofrimento e poder apresentar o problema sobre a questão ao poder britânico. Infelizmente não receberam o apoio que esperavam quando lá chegaram (GOMES, 2013). O CNA permaneceu tentando dialogar até 1920, quando houve uma grande greve de 40 mil mineiros negros (PEREIRA, 2012). Em 1923 surge o Native Urban Act, que limitou drasticamente o acesso de negros à possibilidade de instalação em cidades que eram espaços de brancos. Negros passaram a ser considerados assalariados; os municípios passaram a ter maior poder de segregação habitacional e os negros começaram a carregar algo que se assemelha a um livro, os chamados “passes”, os quais continham informações de habitação, local de trabalho, atividades, entre outros (BEINART, 2001). A resistência não era só interna, tinha apoio internacional, principalmente proveniente da Índia. O auxílio da Índia veio desde cedo, principalmente por ter sido, assim como a África do Sul, colonizada pela Grã-Bretanha, o que de certa forma facilitou o trânsito de indianos para a África do Sul. Tendo parte de seu povo lá sofrendo opressão, o movimento de luta de Gandhi não tardou a ganhar força na África do Sul e a inspirar resistência lá; Jawaharlal Nehru, de certa forma sucessor de Gandhi, primeiro ministro da Índia de 1947 a 1964, se utilizava do “idealismo prático”, como ele chamava, o que era uma vertente não-radical do socialismo; discursava a favor da paz mundial e da ampliação da liberdade humana, logo, combatia o colonialismo e o imperialismo, se mostrando muito ativo no combate internacional ao Apartheid (GUIMARÃES, 2008). No final da década de 1920, uma nova crise foi anunciada na África do Sul devido à queda do preço do ouro no mercado internacional, o que afetou o governo da direita nacionalista africâner que antes apoiava o Partido dos Trabalhadores (representantes da burguesia nacional urbana), mas passou a adotar medidas mais liberais, por exemplo, buscando apoiar-se no capital estrangeiro; a direita nacionalista cortou relações com o Partido dos Trabalhadores e reaproximou-se da elite pró-britânica. Entretanto, toda a situação aumentou a quantidade de empregados negros na área urbana, o que reabriu o debate entre nacionalistas e pró-britânicos. O discurso nacionalista africâner com elementos fascistas, diante do medo de “inundação negra”, enfatizavam a necessidade de evitar a miscigenação. Foi nessa direção que se cristalizou o Apartheid (PEREIRA, 2012). Nessa época, o CNA fazia uso de seus métodos iniciais, que incluíam a assinatura de petições, em grande parte ineficientes em relação às políticas segregacionistas. O deslocamento de nativos

11 Os asiáticos que residiam na África do Sul eram principalmente da Índia, mas também vinham da China, em busca de tra-balho.12 Um domínio, à época de expansão das potências imperialistas do século XIX e XX, apesar de ter uma maior autonomia com relação às colônias formais, essas unidades administrativas continuavam subordinadas ao Império colonial.

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para as cidades e sua integração à força de trabalho industrial amadureceram o movimento, que podia contar a partir de então com demonstrações e greves. O movimento cresceu nos anos 1920, com o aprofundamento da discriminação urbana, o que aumentou a força de ações trabalhistas e ligadas ao Partido Comunista Sul-Africano, também engajado na resistência (CLARK; WORGER, 2013). Durante a Segunda Guerra ocorreram mais de 300 greves envolvendo não só milhares de trabalhadores negros, como também milhares de brancos. Nesta época, o CNA era predominantemente moderado, já que valorizava a educação e sistema legal ingleses enquanto advogava pela igualdade indiscriminada, independente da cor de pele (CLARK; WORGER, 2013). Entretanto, após 1948 e a verdadeira instituição do regime do Apartheid, grupos de jovens do CNA passam a utilizar métodos mais violentos contra a repressão, liderados por Nelson Mandela e Oliver Tambo. Cada lei discriminatória era encontrada com mais resistência dos grupos prejudicados (BERGER, 2009). Mesmo após o início do Apartheid, entretanto, grande parte do CNA permanece com seu método de resistência não-agressiva inspirado em Mahatma Gandhi na Índia, agora com uma nova faceta que é a Campanha de Desafio Contra Leis Injustas, iniciada em 1951, em que se desrespeitam as leis propositalmente. Culturalmente, a música representou uma construção da nova vida que se levava. Estilos de música como o isicathamiya, provinda do estilo zulu, ou o próprio jazz, foram uma maneira de resistir (PEREIRA, 2012). No ano de 1954, mais um grupo de resistência era criado, a Federação de Mulheres Sul-Africanas. Este era um grupo multiracial que começou a fazer manifestações violentas e pacíficas contra a implementação de passes para a cidade (as mulheres da área rural só podiam ir às cidades com passes de visitante) e medidas do Apartheid em geral. Esses movimentos conseguiram criar algum desgaste no governo, a ponto de que o Ato de Supressão do Comunismo, aprovado em 1950, trazia uma definição tão ampla de comunismo que poderia incluir qualquer tipo de oposição ao Partido Nacional (BERGER, 2009). No âmbito internacional, diversas ONGs, movimentos civis e até mesmo Estados apoiam a luta contra o Apartheid, ou constroem a luta conjuntamente. A Índia comandou o movimento antiapartheid desde o princípio, e em sua primeira oportunidade, levou a questão à Assembleia Geral da ONU, introduzindo a primeira resolução que condenou o Apartheid, em 1946, devido ao tratamento concedido aos indianos do território sul-africano. O CNA também buscou apoio soviético em 1927 através de uma visita de Josiah Gumede à URSS. Dos movimentos civis mais fortes, temos o norte-americano, que até 1954 permaneceu crescendo, criando organizações como o CAA (Conselho de Assuntos Africanos) em 1941. Ações de conscientização, assim como de luta por sanções ou qualquer tipo de enfrentamento ao regime foram aumentando no âmbito internacional conforme o tempo passava (BEINART, 2001). As medidas do regime Apartheid, contudo, continuavam a se tornar cada vez mais restritivas em relação aos não brancos. Enquanto o Partido Nacional tivesse o apoio da maioria da elite africâner, com mais acesso aos recursos sul-africanos, dificilmente os movimentos de resistência obteriam vitórias suficientes para melhorar a vida da maioria da população de maneira significativa. Como forma de acompanhar o desenvolvimento das políticas do país, a próxima subseção trata do Ato de Reassentamento de 1954, acontecimento mais recente em relação à data estipulada para a reunião da Assembleia Geral Histórica de 1954.

2.3 O ATO DE REASSENTAMENTO DE 1954 O ato número 19, de 1954, conhecido como “Ato de Reassentamento dos Nativos” tornou legal na África do Sul a efetiva redistribuição de povos, em especial na região de Joanesburgo. Esta medida criou uma comissão, cujos membros eram indicados pelo governo, que tinham o poder de redistribuir a população negra e enviá-la para guetos nos arredores da cidade. Além disso, havia outros atos que previam o reassentamento de povos negros em áreas delimitadas no interior, chamadas pelo governo de “suas terras nativas”, mas que eram, na realidade, regiões proporcionalmente muito pequenas para um grupo que representava mais de metade da população sul-africana. Indianos e outras pessoas de cor também foram movidos para “áreas de grupo” (SOUTH AFRICA HISTORY ONLINE, 2016). Tal ação é simbólica do período do primeiro ministro Daniel François Malan, que governou a União Sul-Africana entre 1948 e 1954. Malan, um político africâner radical, defendia ideais fortemente nacionalistas, visando a fazer com que a África do Sul se tornasse uma “Terra de Homens Brancos”, conforme Branco (2003), objetivo que se mostra de forma bastante evidente no conteúdo da decisão. O propósito inicial do ato era mover a população negra, em Joanesburgo, da localidade de Sophiatown para a região de Meadowlands, a fim de afastar os negros do centro da cidade, e, assim, transformar os bairros

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que habitavam em locais de maioria branca. Tais medidas foram postas em prática, de forma tardia, nos meses e anos que se seguiram, uma vez que o Ato 19 foi aprovado pelo Parlamento Sul-Africano e recebeu o Consentimento Real ainda no ano de 1954. Naquele ano, este foi o principal movimento do governo da África do Sul, sobretudo por se tratar do primeiro ministro Malan, uma figura política especialmente inclinada neste sentido, em direção a um regime cada vez mais segregacionista (SOUTH AFRICA HISTORY ONLINE, 2011).

O deslocamento de grandes grupos populacionais, baseando-se na sua raça ou etnia13, constitui uma clara demonstração da espacialização da política de Apartheid, posta em prática pelo Partido Nacional. Ou seja, a política de divisão que, cada vez mais, institucionaliza-se, agora mostra-se de forma ainda mais evidente na separação do território do país entre áreas destinadas a brancos e a não-brancos, processo que já havia iniciado anos antes com o Natives Land Act (Lei de Terras Nativas) de 1913. O famoso geógrafo alemão Friedrich Ratzel, conforme Gallois (1990, p. 212, apud FONT; RUFÍ, 2006, p. 59), acreditava que os elementos que tornavam uma sociedade coesa eram o seu passado e o seu território comuns. A sociedade sul-africana passou, ao longo de sua história, por diversos momentos de disputa interna, tanto por motivos étnicos, quanto por disputas territoriais e políticas, prejudicando a coesão defendida por Ratzel. Logo, percebe-se que as medidas tomadas na África do Sul, com destaque para o ato 19, agem no sentido de separar e dividir ainda mais uma nação que já tem um longo e conturbado passado de desigualdades (PEREIRA, 2011)

A situação na África do Sul era diversa da vivida na maior parte do mundo, pois, ao passo que outras nações modernizavam suas legislações, afastando-se de distinções étnicas, o governo sul-africano tomava o caminho contrário (SOUTH AFRICA HISTORY ONLINE, 2016). Há a preocupação, no âmbito internacional, de que as novas leis do país estivessem contrariando princípios estabelecidos na carta fundadora da ONU (ONU, 2017). Tal documento reafirma, tanto nos seus princípios gerais quanto nos específicos, o compromisso da organização para com a promoção do bem comum no mundo, sem discriminação de raça, gênero ou religião. Consta, na Carta da ONU, no Capítulo I, artigo 1º, quanto aos propósitos da organização, a seguinte frase:

Conseguir uma cooperação internacional para resolver os problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário, e para promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião (ONU, 2017, p. 5-6)

É notável a preocupação das outras nações-membro da organização, pois a persistente violação da Carta pode gerar a suspensão ou mesmo a expulsão de um Estado pela Assembleia Geral, mediante recomendação do Conselho de Segurança. Embora tais medidas nunca tenham sido, de fato, aplicadas, é possível que graves e duradouros desrespeitos a tal documento exijam ações mais drásticas por parte da ONU (ZANETTE, 2016).

Após o estabelecimento de um governo próprio, a minoria branca obteve maior liberdade para oficializar a discriminação e posterior segregação racial no país (BEINART, 2001). As legislações utilizadas para organizar e impor esse sistema abrangiam temáticas tanto raciais, quanto estritamente políticas, como o Ato de Supressão ao Comunismo, de 1950, além de leis específicas sobre quais regiões cada grupo deveria habitar (SOUTH AFRICA HISTORY ONLINE, 2011). Tudo isso chamou a atenção da comunidade internacional, a qual tem, de acordo com as regras estabelecidas pela ONU, a capacidade e/ou o dever de punir as medidas racistas do governo da África do Sul (ZANETTE, 2016).

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIASAté 1954, poucas ações haviam sido tomadas pela comunidade internacional em relação às

violações de direitos humanos decorrentes das medidas do governo sul-africano desde 1948. A África do Sul possuía relevantes aliados no hemisfério Ocidental e, como resultado, não era criticada com frequência pelos Estados Unidos ou pelas potências europeias. O fato de que o governo do país estava

13 Raça e etnia são termos muitas vezes confundidos, porém essencialmente diferentes. “Raça” é uma noção presumidamente biológica, que diferencia membros da espécie Homo sapiens de acordo com suas características genéticas, mas que não se aplica aos seres-humanos, visto que todos pertencemos à mesma raça, sendo a ideia de diferentes raças de pessoas muito criticada no meio científico. “Etnia”, por outro lado, “É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência física.” (SANTOS, 2010, p. 122).

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ligado ao movimento internacional de supressão ao comunismo também o isentava de críticas por parte desses países, uma vez que a conjuntura era de início da Guerra Fria (BERGER, 2009). Entre 1948 e 1954, o tema foi citado apenas algumas vezes na Assembleia Geral das Nações Unidas, discussões sobre a África do Sul tomaram lugar em 1949, 1950, 1952 e 1953, gerando um total de sete resoluções. A primeira delas, Resolução 265, de 1949, trata especificamente sobre o tratamento de cidadãos indianos na África do Sul, mas simplesmente sugere a criação de um debate entre os governos sul-africano, indiano e paquistanês para resolver o assunto (UN, 1949). O tema foi retomado em resoluções dos anos de 1950 (Resolução 395), 1952 (Resolução 511) e 1953 (Resolução 615), nas quais o regime sul-africano é definido como discriminatório e de segregação racial (UN, 1950).

A partir dessa constatação, a Assembleia Geral relembra a Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948, que tem como um de seus princípios a igualdade de tratamento e tolerância em relação a todas as raças (AGNU, 1948). Assim, estimula a criação de mesas de diálogo entre os governos e adiciona o tema como um item da agenda dos próximos anos (UN, 1950). Em 1952, a Assembleia Geral apela para o governo sul-africano pelo fim da lei de “Áreas de Grupo”, que iniciava medidas de segregação nas questões de moradia (UN, 1952a). É notável que o governo do Partido Nacional parece não responder a esses apelos, já que a Assembleia Geral continua, nos próximos anos, a ressaltar a gravidade da situação (UN, 1952a; 1953a).

Na Resolução 616, de 1952, pela primeira vez a Assembleia Geral elaborou um documento mais geral sobre a discriminação no regime Apartheid, a pedido de um grupo de países do terceiro mundo, composto por Afeganistão, Arábia Saudita, Birmânia, Egito, Filipinas, Iêmen, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Líbano, Paquistão e Síria. A resolução clamava pelo fim da perseguição racial e estabelece uma comissão para a investigação da situação na África do Sul (UN, 1952b). O desapontamento pela falta de cooperação do governo sul-africano para acabar com o regime de segregação está expresso na Resolução 720, de 1953, que considera as ações do Apartheid ilegais em relação à Carta das Nações Unidas (UN, 1953a). Por fim, a Resolução 721, também de 1953, condenava a continuidade das políticas segregatórias na região, criticava as barreiras postas pelo governo sul-africano para impedir o trabalho de investigação da comissão, e requer que a comissão continue a avaliar o desenvolvimento dos fatos relacionados ao Apartheid.

Em relação a grupos que não incluem a ONU, desde o princípio do Apartheid houve resistência vinda da opinião pública internacional, o que causou certo isolamento do país. Ainda assim, havia receio por parte dos países ocidentais em condenar abertamente o regime do Apartheid, uma vez que a África do Sul possuía importância estratégica na luta contra o comunismo e a Guerra Fria estava em uma fase ainda crítica. Além disso, o país possuía importância econômica como rota para o Oriente, sendo difícil estabelecer sanções reais. A África do Sul apresentava em seu discurso as vantagens econômicas que poderia fornecer ao estabelecer-se relações com ele. Muitos países, como os EUA e o Reino Unido interagiram com o país segregacionista e o defenderam de sanções, mesmo discursando internacionalmente ser contra as práticas internas da África do Sul com sua população (PEREIRA, 2012). Os posicionamentos destes e de outros países que estarão presentes na discussão podem ser conferidos a seguir, com o objetivo de proporcionar mais informações para o debate.

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESCom a recente troca de governo e a ascensão ao poder de Mohammed Daoud Khan, o Afeganistão passa a ter sua política externa cada vez mais voltada à União Soviética. Assim, espera-se que a nação tome posições crescentemente contrárias à política do Apartheid sul-africano (BLOOD, 2001).

A África do Sul acreditava ser importante que se respeitasse a soberania de seu país e era contra interferência externa aos seus assuntos internos. O governo sul africano pretendia manter o Apartheid e é contra qualquer tipo de resolução por parte da ONU (BRAGA, 2011).

Sob o governo de Juan Domingo Perón, a Argentina busca manter uma posição independente na sua política exterior, afastando-se da dualidade EUA-URSS. O país sul-americano tem uma política independente e, sobretudo, pragmática quanto às temáticas internacionais, mesmo as mais polêmicas, como o Apartheid na África do Sul (FILADORO, 2004).

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A política externa do Reino da Arábia Saudita baseia-se em princípios e fatos políticos geográficos, históricos, religiosos, econômicos e de segurança. Tal política foi moldada dentro de quadros principais, dentre os mais importantes a política da boa vizinhança, não interferência nos assuntos internos de outros países, fortalecimento das relações com os Estados do Golfo e os países da Península Arábica em benefício dos interesses comuns desses países (SAUDI ARABIA, 2018).

A África do Sul e a Austrália compartilham um passado em comum, uma vez que eram ex-colônias britânicas. Apesar de setores da sociedade australiana manifestarem seu repúdio pelo Apartheid sul-africano, o governo não tomou, até o momento, atitudes mais diretas contra tal política, uma vez que os dois países têm fortes laços econômicos e comerciais. Contudo, espera-se que a Austrália intensifique as retaliações (LIMB, 2008).

Passando por um processo eleitoral, em 1954, a Bélgica está mais focada nos seus assuntos políticos internos e na integração com seus países vizinhos. A recém-criada Comunidade Europeia do Carvão e do Aço é o principal foco da política externa belga, portanto é o interesse do país não deixar que assuntos polêmicos dividam as nações que compõem tal comunidade (DELCORPS, 2014).

A Bolívia passava, durante a maioria dos anos 1950, pelas transformações da chamada “Revolução Boliviana”, a qual mudou drasticamente os rumos do país. A partir de 1952, a Bolívia passou a alinhar-se mais com potências não-tradicionais e com a própria União Soviética, com um discurso muitas vezes pautado pelo anti-imperialismo (DUNKERLEY, 1984).

O Brasil, que passa por um período politicamente conturbado internamente, mantém relações pragmáticas com a África do Sul, visando, na maioria das vezes, às vantagens econômicas. A política do Apartheid era totalmente contrária ao discurso oficial de “democracia racial”, sustentado pelo governo brasileiro, assim as relações entre os dois países permanecem neutras, uma vez que há discordâncias políticas, mas também vantagens comerciais envolvidas (PENNA FILHO, 2001). O Canadá, assim como muitos outros países ocidentais, defendeu, inicialmente, que o Apartheid era uma questão de política interna da África do Sul, baseando-se no princípio de não-intervenção. Além disso, o Canadá tem uma longa história de parceria com outros países de língua inglesa, com destaque para os membros da Commonwealth e com os EUA (HISTORICA CANADA, sem ano; SOUTH AFRICA HISTORY ONLINE, 2011)

A República da China14, representante chinesa na ONU, é reconhecida pelo governo sul-africano como legítima, status não concedido ao governo da República Popular da China. Ambos com retórica anticomunista, os países mantinham relações crescentemente boas, de especial relevância pelo grande fluxo de imigrantes chineses como mão de obra complementar para a África do Sul (THE WALL STREET JOURNAL, 2008). A Colômbia passa por um período instável na sua política interna, na luta contra as guerrilhas comunistas. Dessa forma, considera o regime do Apartheid como uma decisão interna sul-africana, desejando se manter à parte de tal conflito (LATIN AMERICAN STUDIES, sem ano).

Engajada na luta contra o comunismo, especialmente por ameaças de revolução dentro de seu próprio território, Cuba tem como principal aliado no cenário internacional os Estados Unidos. A situação no próprio país era marcada por violações de direitos humanos e instabilidade, o que acaba por afastar um pouco o país da discussão sobre o Apartheid (CABRERA, 2016).

Ainda que a Dinamarca crescentemente se preocupe com a situação dos direitos humanos na África do Sul, em 1954 esta ainda não é uma das preocupações principais do país, apesar de apresentar um governo progressista e ter parte da opinião pública contrária às práticas do Apartheid. (MORGENSTIERNE, 2003).

14 A República da China é atualmente mais conhecida como Taiwan, apesar de manter seu nome oficial. Era a representante chinesa na ONU até 1971, quando foi substituída pela República Popular da China, que permanece no órgão até os dias atuais.

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Como uma recém-fundada república sob o comando de Gamal Abdel Nasser, o Egito apoia movimentos de libertação africanos e se posiciona como contrário a quaisquer medidas de discriminação, como pode ser considerado o regime do Apartheid. Por esse motivo, as relações entre os dois países são conturbadas, e o governo de Nasser se mostra favorável à aplicação de medidas mais coercitivas em retaliação à África do Sul (BISHKU, 2010).

Os Estados Unidos da América adotavam uma posição controversa. No momento da guerra fria, lutando contra o comunismo e querendo se aliar à África do Sul por questões estratégicas devido à sua geografia e economia, também se preocupava com a questão do Apartheid, que ia contra seus princípios de liberdade. EUA discursava condenando o Apartheid, sem deixar de defender a África do Sul contra sanções (THOMSON, 2008).

Como um país se organizando após um conflito, a Etiópia ganhava voz em meados dos anos 1950. Como um dos poucos países africanos independentes à época, defendia a liberdade dos povos africanos e tentava conseguir maior projeção na região (PANKHURST, sem ano).

As Filipinas tinham foco no desenvolvimento de suas relações políticas e culturais com os demais países, com ênfase especial nas relações com os vizinhos asiáticos através da adesão nas Nações Unidas e pela participação em conferências regionais (MAGSAYSAY, 2018).

A França, como país ainda com colônias africanas, não tem como interesse a libertação e desenvolvimento africanos, especialmente a partir da eclosão de revoltas em seus domínios. Dessa forma, mantém relações, especialmente econômicas, com os africâneres, com quem formaria laços próximos. Parte da população branca da África do Sul era de origem francesa, e se juntou aos africâneres por ter hábitos religiosos e culturais similares (MAZRUI, 2010).

A Grécia passou por uma Guerra Civil que durou de 1946 a 1949 e ocasionou grande diáspora grega para terras além mar. Uma destas foi a contemporânea União Sul Africana, o que causou certa aproximação dos dois países (MANTARIS, 1999).

A Índia discursava a favor da paz mundial, combatia o colonialismo e o imperialismo. Sempre se mostrou muito ativa no combate internacional ao Apartheid, tanto em seus discursos, quanto em suas atitudes (GUIMARÃES, 2008).

A Indonésia à época terminava de passar por grandes modificações de seus sistemas políticos internos após sua independência em 1945, marco de quando começou a procurar melhorar suas relações diplomáticas com os países e ganhar reconhecimento internacional como um país independente (WIBISONO, 2015).

O Estado monárquico do Iraque, temendo forças revolucionárias internas mantinha-se aliado a forças inglesas à época, a partir de uma aliança firmada via tratado em 1948. O país mantinha-se, contudo, contrário às alegações sul-africanas de que matérias do Apartheid deveriam ser mantidas internas (GRÃ BRETANHA, 1948).

O Líbano mantém seu sistema interno e internacional através do balanceamento de forças religiosas na governança do país, garantindo assim uma diplomacia neutra tanto no oriente quanto no ocidente. Com isso, na medida das intersecções, o país presa pelo balanceamento de forças (WILKINS, 2013).

A Libéria sob governo do seu presidente William Tubman desde 1944 tem atraído grandes investimentos externos para a modernização de seu país e tem tomado políticas de unificação da população nacional, para que não houvesse distinções e preconceitos entre os povos nativos e não-nativos (NELSON, 1972)

O Estado de Luxemburgo teve relações diretas com o processo de formação e sustentação do apartheid na África do Sul através do sistema financeiro. Era através de instituições nacionais a Luxemburgo que o sistema se mantinha durante embargos da ONU, via um esquema de lavagem de dinheiro (VUUREN,2017).

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O governo do México seguia na linha nacionalista e procurou aliar-se com os países latino-americanos para se proteger contra as potências dominantes da época, sempre buscando defender a liberdade e a justiça, além de grande interesse do governo em tentar resolver problemas sociais (FERNÁNDEZ DE MENDOZA, 2007).

A Nova Zelândia sustentava que a forma como os sul-africanos dirigiam o seu país não era um assunto do interesse do país e criticou os movimentos anti-apartheid. Suas políticas eram voltadas basicamente em alianças comerciais (NEW ZEALAND HISTORY, 2018).

A principal preocupação do Paquistão é a busca por segurança, e por isso aproximou-se de outros Estados islâmicos e aliou-se a outros mais fortes para contrabalançar a Índia. Mesmo assim, sempre se mostrou presente em discussões sobre temas de interesse global (HARRISON; KREISBERG; KUX, 1998).

O Peru buscou estabelecer compromissos a serviço da paz, da democracia e do desenvolvimento. Em princípio, sua posição concordaria com a da maioria dos países latino-americanos, mas, se não fosse esse o caso, a política do governo era apoiar os países afro-asiáticos (CARDOZA; SOMMER, 2014).

O Reino Unido manteve seu posicionamento contrário à política anti-apartheid e, assim como os EUA, defendia a África do Sul contra as sanções em pauta na ONU. O Reino Unido, além dos laços históricos, tinha grande interesse econômico na África do Sul (BRAGA, 2011).

O governo sírio buscou manter boas relações com os países participantes, principalmente os ocidentais. Porém, manteve a posição intransigente da Síria em relação a Israel (PHILIPP, 1992).

No pós-Segunda Guerra Mundial, a Tailândia estava determinada em conservar sua independência, garantir sua segurança nacional, ampliar e preservar seu comércio, assim como se proteger contra o comunismo. Para tal, não podendo escolher uma postura isolacionista devido a sua posição geográfica, se aliava aos países capitalistas de sua região (YATHIP, 2015).

A Turquia nos anos 50 se mostrou extremamente focada com suas relações internacionais na defesa e militarização do seu território para manter-se firme ante as tendências expansionistas do governo stalinista da URSS. Logo, o país tinha o costume de manter-se neutro ou de buscar boas relações com o maior número de aliados (INSTITUTO DE POLÍTICA EXTERNA, 2016).

A União Soviética instalou um consulado na África do Sul em 1944, porém nunca teve relações muito amistosas com o país sul africano. Na ONU, desde o princípio, apoiava com consistência o movimento anti-apartheid internacional; também apoiava declaradamente o movimento anti-apartheid interno sul-africano, o que fez a relação oficial se encerrar por final (CAMPBELL, 1986).

O Uruguai historicamente se posicionou âmbito internacional de maneira tal a se guiar pelos princípios da não-intervenção, do respeito pela soberania nacional e da dependência do Estado de direito para resolver as disputas. Tradicionalmente, tal como os EUA, o Uruguai seguia os princípios de democracia; durante a II Guerra Mundial e após ela, o Uruguai se aliou aos EUA (HUDSON; MEDITZ, 1990).

Governada pelo ditador Marcos Pérez Jiménez, de 1952 a 1958, a Venezuela teve um governo com grandes avanços sociais, mas ainda assim um dos mais repressivos da América Latina. No pós-Segunda Guerra, a Venezuela era parte importante da zona de influência norte-americana, sendo anticomunista. Era um país muito voltado para sua política doméstica (GALLEGO, 2017).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Quais foram os princípios por trás do regime segregacionista? Quais são os argumentos a favor equais são os argumentos contrários?

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(2) Que papel deve ter um governo em relação à sua população como um todo?

(3) O que podem ser consideradas questões internas de cada país e, portanto, fora do alcance da ONU?

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ASSEMBLEIA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O MEIO AMBIENTE

Os Desafios para a Implementação do Acordo de Paris

Camilla Martins Pereira, Evelucia Nunes Cutrim, Rafaela Raphaelli Matos Dal Ben e Vinícius Altair Olaves Marques1

1 Graduandos e Graduandas em Ciências Sociais, Direito e Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO(1) Reflita sobre os graves desastres ambientais que você viu na mídia ou vivenciou nos últimos anos.

Qual a causa desses incidentes? Como evitá-los?

(2) Como chegar a um consenso entre países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre a forma maisviável de diminuir a poluição e a degradação ambiental?

APRESENTAÇÃOCriada em 2012, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável

(RIO+20), a Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (ANUMA) é o órgão gerenciador de políticas ambientais no escopo da ONU. Atualmente o comitê é composto pelos 193 membros das Nações Unidas e conta com a participação de organizações não-governamentais e agentes do setor privado e da sociedade civil. Dentre seus principais objetivos estão a construção de um futuro sustentável, a proteção do meio ambiente e a salvaguarda da saúde humana.

Durante essa reunião da Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente será discutido “os desafios para a implementação do Acordo de Paris1”. Tendo em vista o histórico das mudanças climáticas apresentado na primeira seção, a segunda parte aborda mais meticulosamente os problemas contemporâneos que ameaçam a efetividade dos termos do acordo. Por fim, a penúltima e a última seções discorrem, respectivamente, acerca das ações internacionais tomadas previamente e dos posicionamentos dos países.

1 HISTÓRICOA partir do Século XVIII a humanidade passou por um intenso processo de industrialização

que alterou profundamente os processos produtivos até então existentes, passando de uma economia majoritariamente manufaturada para uma economia de produção em massa. Ademais, a população deslocou-se do campo para cidades industrializadas, promovendo o aumento acelerado da população urbana (LOPES, 2008).

Tal evento preparou o terreno para o surgimento de uma indústria, que com a finalidade de suprir as demandas do mercado, explorou os recursos naturais em uma escala jamais vista antes, culminando, futuramente, em sua escassez generalizada. Consequentemente, problemas ambientais surgiram e os desastres naturais se tornaram mais frequentes. Vendo esses desastres, a sociedade civil, a comunidade científica e os agentes públicos gradualmente uniram esforços com o objetivo de prevenir novos eventos, bem como formas mais eficazes de remediação (POTT; ESTRELA, 2017).

1.1 CONCEITOS-CHAVE SOBRE MEIO AMBIENTEPara compreender os desafios e impactos do Acordo de Paris, bem como o contexto histórico

responsável pela sua criação, é preciso, primeiramente, definir alguns conceitos importantes. Desastres ambientais, por exemplo, são descritos como eventos que transformam radicalmente ecossistemas locais e impactam diretamente na sociedade, isto é, um impacto ambiental só pode ser classificado como desastre se causar danos à sociedade. Dessa forma, um evento que ocorre em uma área não ocupada por humanos é chamado simplesmente de um fenômeno natural (INEAM, 2015).

Dentre os desastres ambientais existem ainda duas classificações: os desastres naturais e os humanos. A primeira diz respeito aos fenômenos e desequilíbrios da natureza que ocorrem sem a necessidade da ação humana, ou são apenas agravados por ela. A segunda classificação, por outro lado, concerne fenômenos derivados da ação (ou falta de ação) humana, e estão relacionados diretamente com atividades feitas pelo ser humano. Chuvas intensas causando inundações são um exemplo do primeiro caso, ao passo que a contaminação de rios exemplifica o segundo (TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

1 O Acordo de Paris, o qual será mais apresentado mais detalhadamente ao longo do guia de estudos, é o mais recente compro-misso internacional discutido entre 195 países com o objetivo de minimizar as consequências do aquecimento global.

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O efeito estufa2 é um fenômeno natural que possibilita a vida humana na Terra, entretanto, a constante poluição causada pelo homem agrava e acelera o aquecimento global de modo prejudicial à vida no planeta (MMA, 2018a). O aquecimento global é o aumento da temperatura média global do ar e dos oceanos, visualizado no derretimento generalizado da neve e do gelo, e na elevação do nível do mar. As mudanças climáticas podem aumentar a incidência de desastres naturais, como temporais, chuvas intensas e estiagens severas.

1.2 DESASTRES AMBIENTAIS COMO UM PROBLEMA GLOBAL A industrialização, iniciada na Inglaterra no século XVIII, se espalhou para outras regiões do globo rapidamente. Infelizmente, as ações que zelavam pela manutenção da qualidade do meio ambiente não cresceram na mesma medida (POTT; ESTRELA, 2017). O resultado de tamanha emissão de poluentes ao meio ambiente não podia ser diferente: os desastres naturais foram se tornando cada vez mais frequentes e preocupantes. O fenômeno conhecido como “Névoa Matadora”, consequência da alta carga de poluentes lançados na atmosfera, em Londres (1952), foi responsável pela morte de milhares de londrinos, lançando o alerta quanto à qualidade do ar (HOGAN, 2007). Episódios como este seguiram acontecendo ao longo do século XX a exemplo do acidente nuclear na usina de Chernobyl3, localizada na atual Ucrânia. Esse acidente foi responsável pela liberação de uma grande quantidade de radiação na atmosfera e pela morte de aproximadamente quatro mil pessoas, - número que aumentou com o passar dos anos (IAEA, 2005). Os eventos mencionados acima são, em grande medida, potencializados pela alta vulnerabilidade das comunidades locais, que possuem baixo grau de resistência perante perigos naturais. Essa fragilidade é causada pela falta de infraestrutura e organização direcionadas à prevenção e remediação dos impactos de ameaças naturais, muitas vezes ligadas à pobreza do país (SILVA, 2012). É importante enfatizar que não só as nações mais pobres são vulneráveis, mas também as camadas mais pobres de países ricos, ainda que estes possuam o aparato institucional capaz de prever e responder aos mais diversos perigos naturais (HOGAN; MARANDOLA JUNIOR, 2007). Tais eventos, com o advento das novas tecnologias de comunicação, foram abertamente transmitidos pelo mundo o que facilitou a conscientização ante os perigos da falta de ação diante das mudanças climáticas. Simultaneamente, ao longo do século XX, livros foram publicados, produtos químicos foram proibidos, esforços internacionais começaram a tomar forma e leis de caráter protetivo foram aprovadas. No Brasil, por exemplo, o código florestal foi alterado, a Secretaria Especial do Meio Ambiente foi criada e o Programa Nacional do Meio Ambiente instituído; além disso, áreas de Proteção Ambiental e Estações Ecológicas foram formadas e, por fim, a Constituição de 1988 passou a proteger o meio ambiente como um bem-comum e não como a propriedade de alguns (BRASIL, 1973, 1981a, 1981b, 1988, 2012; POTT; ESTRELA, 2017). No mundo, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura), em 1968, promoveu uma conferência internacional que deu origem ao programa O Homem e a Biosfera cujo objetivo era a utilização racional dos recursos presentes no globo. Além disso, os EUA, em 1969, criaram a Lei da Política Ambiental e a Inglaterra, em 1956, implantou a Lei do Ar Puro. Essas foram algumas das iniciativas propagadas pelo mundo após incontáveis vidas humanas serem perdidas em desastres naturais (POTT; ESTRELA, 2017). Apesar de diversas iniciativas promovidas pelos Estados nacionais, poucos foram os projetos encaminhados por diversas nações em conjunto, tal qual o bem sucedido Protocolo de Montreal, cujo objetivo era a redução gradativa da fabricação e consumo de produtos nocivos à camada de Ozônio. Esse documento é um exemplo para a geração atual e às futuras do que é possível atingir com a cooperação entre os agentes públicos, a comunidade científica e a sociedade civil para a prevenção de novos desastres, evitando perdas de vidas e de cunho material (POTT; ESTRELA, 2017). Diante deste cenário problemático, a sociedade vem se unindo com o objetivo de preservar o meio ambiente e, consequentemente, a sua qualidade de vida, ainda que lentamente. Contudo, como proferem Pott e Estrela em sua pessimista observação:

2 O efeito estufa é um processo físico natural que ocorre quando uma parte da radiação infravermelha (percebida como calor) é emitida pela superfície terrestre e absorvida por determinados gases presentes na atmosfera, aumentando a temperatura do ar. A poluição causada pelo homem aumenta a quantidade destes gases além do nível normal, fazendo com que a temperatura aumente mais do que deveria.3 O acidente ocorreu durante um teste realizado na usina nuclear de Chernobyl, momento em que o reator descontrolou-se, resultando em uma explosão que oportunizou a liberação de grandes quantidades de radiação na atmosfera.

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O ser humano ainda atualmente vem se colocando à parte do meio ambiente, percebendo-o como recurso, unicamente como um intermédio para atingir seu crescimento; para que a verdadeira mudança ocorra deve-se no mínimo reconhecer que a vida na terra é insustentável se o ambiente estiver degradado, e para isso todos devem conservá-lo (POTT; ESTRELA, 2017, p. 279).

1.3 UMA BREVE REVISÃO DAS CONFERÊNCIAS ANTERIORESA primeira grande conferência das Nações Unidas visando refletir sobre questões ambientais

internacionais foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano ou Conferência de Estocolmo, em junho de 1972 na Suécia. A conferência, que marcou um momento decisivo em direção ao desenvolvimento de políticas ambientais, publicou um manifesto categórico sobre a natureza finita dos recursos da Terra e a necessidade da humanidade de protegê-los (BOUDES, 2018).

Vinte anos após a Conferência de Estocolmo, em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), também conhecida como Cúpula da Terra, Rio-92 ou Eco-92, no Rio de Janeiro. Essa conferência global reuniu políticos, diplomatas, cientistas, representantes de organizações não governamentais (ONGs) e da mídia de 179 países em um esforço massivo para conciliar o impacto das atividades socioeconômicas sobre a biosfera (UN, 2018a). Uma grande conquista da Eco-92 foi a Agenda 21, documento resultante do compromisso político das nações para desenvolver suas economias sem prejudicar o meio ambiente, com mais de 2500 recomendações práticas para executar tal esforço. Esse programa abrangente de ações a serem tomadas a nível global, nacional e local marcou o início de uma nova parceria para alcançar o desenvolvimento sustentável global no século XXI (UN, 1992).

Em 1997, os organismos internacionais tomaram uma nova posição quanto às questões ambientais com a realização da Terceira Sessão da Conferência das Partes (COP3) em Kyoto, no Japão. Nessa conferência foi criado o denominado Protocolo de Kyoto, um tratado internacional que visava a redução da emissão de gases que contribuem para o aquecimento global. Aprovado por unanimidade em 1997 e em vigor desde 2005, o protocolo estabeleceu metas obrigatórias sobre as emissões de gases de efeito estufa (GEE) a fim de reduzir as emissões globais em pelo menos 5% abaixo dos níveis de 1990 durante o período entre 2008-2012 (UNFCCC, 2017). Embora o Protocolo de Kyoto representasse uma conquista diplomática histórica, relatórios emitidos após sua entrada em vigor indicaram que as metas não seriam cumpridas e, mesmo que fossem, o benefício final não seria significativo, já que a China e os Estados Unidos, os dois principais emissores mundiais de GEE, não estavam vinculados ao tratado: o primeiro país por conta da imunidade do seu status de país em desenvolvimento, enquanto o segundoem virtude de não ter ratificado o protocolo. Outras críticas afirmaram que as reduções exigidas erammuito modestas para fazer uma diferença detectável nas temperaturas globais futuras, no entanto,alguns países em desenvolvimento argumentaram que a melhora na adaptação das estruturas locaisàs mudanças climáticas era tão importante quanto a redução das emissões de gases de efeito estufa(DINIZ, 2007).

Anos mais tarde, em 2002, líderes globais se reuniram na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (CMDS), também conhecida como Rio+10, em Joanesburgo, África do Sul, para analisar os progressos alcançados na Eco-92 e recomendar medidas para fortalecer a implementação da Agenda 21. A Rio+10 conseguiu colocar o desenvolvimento sustentável de volta na agenda política, dando umnovo impulso, em particular às necessidades de desenvolvimento da África, direcionando o debate paraquestões locais como energia doméstica, água e saneamento, também sob a influência dos Objetivos deDesenvolvimento do Milênio4. Ainda que relativamente modesta em suas realizações e com dificuldadespara alcançar consenso em áreas-chave como energia renovável, comércio e finanças, a CMDS conseguiuaumentar o reconhecimento da saúde como um recurso indicador do desenvolvimento sustentável dadaa ênfase especial nos índices de pobreza (VON SCHIRNDING, 2005).

Vinte anos após a Eco-92 e dez após a Rio+10, realizou-se uma das maiores reuniões internacionais promovidas pela ONU, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável ou Rio+20, em 2012, no Rio de Janeiro. A conferência apresentou uma oportunidade de re-direcionar e re-energizar o compromisso político para as três dimensões do desenvolvimento sustentável: crescimento econômico, melhoria social e proteção ambiental. No Rio, foi lançado um processo para desenvolver

4 Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio foram oito objetivos com metas mensuráveis e prazos definidos para melhorar a vida das pessoas mais pobres do mundo. Para atingir esses objetivos e erradicar a pobreza, líderes de 189 países assinaram a declaração histórica na Cúpula do Milênio das Nações Unidas em 2000.

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o conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável5 (SDGs), também foram adotadas diretrizesinovadoras sobre políticas de economia verde6, um quadro de 10 anos de programas sobre padrõessustentáveis de consumo e produção, além da tomada de decisões prospectivas sobre uma série deáreas temáticas, incluindo energia, segurança alimentar, oceanos e cidades (UN, 2018b). Os resultadosnegociados durante a Rio+20 representaram, em sua maioria, um ponto de partida para novos processose implementações, tendo ainda muito a se fazer para garantir que esses compromissos realmentefizessem a diferença para o meio ambiente (CUTTER et al., 2013). No entanto, ainda era necessário criarum novo acordo capaz de abarcar todos os países do mundo e levar em consideração as particularidadesde cada um.

Em 2013, foi estabelecida a Plataforma de Durban, acordo produzido na COP17, realizada em Durban, na África do Sul. O acordo determina a segunda fase do Protocolo de Kyoto - expirado em 2012 - e conta com um novo roteiro: Durban, ao contrário de Kyoto, prevê metas de redução das emissõespara todos os Estados, com a inclusão dos países em desenvolvimento. Outra contribuição relevantede Durban foi o estabelecimento de mecanismos de funcionamento do Fundo Verde para o Clima, umcaixa financeiro mantido pelos países mais ricos para auxiliar as economias em desenvolvimento amelhor lidarem com as consequências das alterações climáticas (MARQUES, 2012).

A COP20 foi realizada no ano de 2014 em Lima, no Peru, e teve um grande papel quanto à definição das diretrizes da COP seguinte e do Acordo de Paris. Após duas semanas de negociações, o Chamamento de Lima para a Ação Sobre o Clima - documento também chamado de “rascunho zero” - foi aprovado pelas delegações dos países participantes. O texto determinou focos de negociação aserem adotados na COP21, tal como o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas,por meio do qual caberia, a cada país, elaborar suas Contribuições Nacionalmente DeterminadasPretendidas com base em suas respectivas capacidades. Desse modo, foram traçados objetivos reaispara a principal meta de Paris: a contenção do aumento da temperatura do planeta (UNFCCC, 2014).

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA

Tendo em vista o cenário apresentado na seção anterior, a Organização das Nações Unidas (ONU) constituiu, há 24 anos, o chamado regime internacional das mudanças climáticas. Criado para facilitar o entendimento e promover a cooperação entre os 195 países signatários - 196 no momento da criação -, esse regime tem por objetivo estabilizar o sistema climático global, por meio de estratégias de contenção das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como o dióxido de carbono proveniente da queima de combustíveis fósseis, e da degradação florestal decorrente do uso da terra para atividades agropecuárias e ocupação urbana. Nesse contexto, foi criada em 1992 a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês), uma reunião anual realizada com a participação de todos esses países para tratar do assunto (REI; GONÇALVES; SOUZA, 2017; STAVINS; STOWE, 2016).

Até a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2015 (COP-21) muitas dúvidas pairavam acerca da efetividade do regime climático devido ao conservadorismo e apreço ao princípio da soberania7 por parte dos Estados. Além disso, os constantes impasses levantavam dúvidas sobre a capacidade de serem conduzidas as ações necessárias, especialmente à redução das emissões de gases-estufa, a tempo de evitar uma catástrofe climática mundial (REI; GONÇALVES; SOUZA, 2017). É necessário entender como o tema se desdobrou a partir de 2015, sendo assim, a presente seção abordará as inovações e contradições apresentadas pelo Acordo de Paris no tocante aos Estados Nacionais e a manutenção da vida como um todo.

2.1 A 21ª CONFERÊNCIA DAS PARTES DA UNFCCC (COP21)Entre os dias 30 de novembro de 2015 e 12 de dezembro do mesmo ano, foi realizada em Paris a

21ª Conferência das Partes da UNFCCC (COP21), a fim de debater estratégias para redução dos gases

5 17 objetivos baseados nos sucessos dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que, ao mesmo tempo, incluem novas áreas como mudanças climáticas, desigualdade econômica, inovação, sustentabilidade, paz e justiça, entre outras prioridades.6 Políticas na qual a economia está voltada para melhorar o bem-estar humano e a equidade social, reduzindo significativamente os riscos ambientais e a escassez ecológica.7 Soberania de um Estado significa que as normas e decisões feitas por ele prevalecem sobre as normas e decisões feitas por outros grupos. Isso se refere tanto a grupos internos, como a família, a escola, as empresas e a religião; quanto a grupos externos, como outros países. Desta forma, cria-se a ideia de igualdade entre todos os Estados na comunidade internacional, associada à independência nacional.

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do efeito estufa. Na ocasião, os 195 Estados-parte assinaram o chamado Acordo de Paris, pelo qual foram acordados os esforços a serem adotados para que até o ano de 2100 a temperatura média do planeta tenha um aumento inferior a 2ºC em relação aos níveis da era pré-industrial e ocorra um acréscimo máximo de 1,5°C em relação aos níveis atuais (MMA, 2017). O acordo apresentou uma abordagem diferente das tentativas anteriores, uma vez que é baseado na ideia de contribuições voluntárias e auto-imposições, isto é, os Estados determinariam, cada qual, quanto estariam dispostos a reduzir de acordo com suas capacidades (DOELLE, 2016). Ancorado no princípio da equidade, o Acordo de Paris, portanto, reflete a necessidade de combater as mudanças climáticas de forma condizente com os interesses estratégicos de cada país (JI, 2016). O acordo entrou em vigor no dia 4 de novembro de 2016 após atingir o mínimo de 55 ratificações8 e a previsão é de que as ações nele previstas comecem a ser colocadas em prática a partir de 2020.

Dentre as cláusulas do acordo está o compromisso dos Estados em, primeiramente, atingir um valor limite de emissões de gases-estufa o mais rápido possível para, em seguida, reduzir rapidamente esse volume e chegar a um nível sustentável de emissões. Uma das abordagens inovadoras da convenção foi a criação de um mecanismo de revisão dos compromissos voluntários dos países, de cinco em cinco anos, a fim de demonstrar o progresso de cada um9. Ademais, foi definido que um Painel Intergovernamental de Peritos do Clima (GIEC, em inglês) elaboraria, em 2018, um relatório especial acerca dos meios viáveis para atingir as metas, bem como uma primeira análise da ação coletiva efetuada até então. Para 2020 prevê-se que os Estados sejam convidados a rever suas contribuições à vista do que for testado e apresentado de dados até o momento (UNFCCC, 2015a).

A fim de acompanhar o andamento do processo, todos os países devem registrar e divulgar as atividades vinculadas à proteção do clima e emissão de GEE, desde que esse ponto seja flexibilizado para as nações em desenvolvimento. Outro ponto polêmico é que o Acordo de Paris tem efeito vinculativo, ou seja, os Estados signatários têm a obrigação de cumprir suas cláusulas, contudo, não é previsto nenhum tipo de sanção aos países que não cumpram suas obrigações, ameaçando sua efetividade (GRAND, 2016; UNFCCC, 2015a).

Embora o Acordo tenha sido construído na COP21, foram necessários outros encontros a fim de delimitar suas estruturas fundamentais. Dessa forma, o maior objetivo da 22ª Conferência das Partes da UNFCCC (COP22), realizada no Marrocos, em 2016, foi reiterar os compromissos assumidos pelos países no que tange às estratégias de financiamento e contribuições nacionalmente determinadas (NDC, em inglês), das quais falaremos melhor na seção seguinte deste guia. No ano seguinte, na Alemanha, foi realizada a 23ª Conferência (COP23), na qual se tratou de temas ligados à migração causada por mudanças climáticas (UNFCCC, 2018). Apesar dos avanços das últimas negociações, há muitos debates e divergências apresentando-se como desafios para a implementação do Acordo de Paris, os quais serão estudados nas subseções seguintes.

2.2 METAS DE CUMPRIMENTO OBRIGATÓRIOO objetivo principal do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura média global abaixo

dos 2ºC em relação aos níveis pré-industriais e em continuar os esforços para limitar esse aumento a 1,5ºC (UNFCCC, 2015a). Opondo-se ao tratado antecessor - o Protocolo de Kyoto -, o Acordo de Paris determina que todos os Estados signatários apresentem contribuições para alcançar este objetivo. Como consequência disso, todos os países devem apresentar metas de redução de GEE, independentemente de serem países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Tal aspecto traz maior confiança acerca da conquista das metas previamente determinadas, à medida em que a obrigação é estabelecida para toda comunidade internacional e não apenas para os países desenvolvidos (FREITAS; FAGUNDES; MIURA, 2017).

Para tanto, o Acordo de Paris prevê, em seu artigo quarto, que cada país signatário deve apresentar suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC): um documento que consta todas as metas domésticas que o país pretende alcançar até, pelo menos, o ano de 2025 (UNFCCC, 2015a). Todavia, as metas apresentadas pelos países não são suficientes para o objetivo final do Acordo. O Emissions Gap Report de 2016 - avaliação anual elaborada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que expõe as inadequações das políticas ambientais frente aos objetivos traçados - concluiu 8 Ratificação é o processo, posterior a assinatura de um Tratado ou acordo internacional, no qual o Estado demonstra a conclu-são do processo interno de aprovação do texto, oficializando sua participação. No caso brasileiro, isso implica a aprovação do acordo pelo Congresso Nacional.9 A previsão é de que a primeira revisão obrigatória ocorra em 2025.

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que, mesmo se todos os países signatários cumprissem suas NDCs, o aquecimento global neste século ainda atingiria variações de temperatura entre 2,9ºC e 3,4ºC - muito acima dos 2ºC delimitados pelo Acordo (UNEP, 2016).

As emissões globais de gás carbônico, provenientes principalmente da combustão de combustíveis fósseis e dos processos industriais, correspondem a 70% da emissão total de gases-estufa na atmosfera. Tendo isso em vista, a redução da emissão de gás carbônico e a captura de gases-estufa configuram-se como os principais pontos abordados pelas NDCs de cada país. Estudos independentes expostos no Emissions Gap Report de 2017, contudo, apontam que muitos dos países signatários do Acordo - como a África do Sul, o Canadá, o México e a Coreia do Sul - não traçaram planos de ação correspondentes aos índices de redução de emissão prometidos em seus NDCs. A exemplo, a União Europeia, o Brasil e a Índia, em contrapartida, têm apresentado sucesso em suas políticas para o alcance dos percentuais de emissão estabelecidos (UNEP, 2017).

2.3 OS DIFERENTES EFEITOS E RESPONSABILIDADES DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Os alertas a respeito das mudanças climáticas datam do começo da segunda metade do século XX, como exposto anteriormente. Entretanto, foi apenas no começo do século XXI que o assunto tomou força nas mídias, sobretudo com os episódios do furacão Katrina que atingiu a cidade de Nova Orleans (EUA), a onda de calor na Europa em 2003, bem como o ciclone tropical Catarina que atingiu o Brasil em 2004 e a seca no oeste da Amazônia em 2005. Tanto o primeiro, quanto o segundo evento evidenciam que as mudanças climáticas não afetam apenas países em desenvolvimento na periferia global, contudo, diversas questões técnicas, tecnológicas, políticas e sociais permeiam a problemática (BARCELLOS et al., 2009).

De acordo com o relatório do IPCC10 (2007), os efeitos do aquecimento global não serão homogêneos sendo mais sentidos nos continentes do que nos oceanos e no hemisfério norte do que no hemisfério sul. Estima-se, todavia, que o aquecimento resultará no agravamento de epidemias, como a de malária, principalmente em lugares como Paquistão, Sri Lanka e Vietnã, além de em diversos países da África e da América Latina (BARCELLOS et al., 2009). O estado de saúde de milhões de pessoas deverá ser afetado pelo aumento da desnutrição, doenças e lesões devido a catástrofes climáticas extremas (UN, 2008).

Além disso, as perdas de geleiras e as reduções da cobertura de neve são projetadas para acelerar ao longo deste século, reduzindo a disponibilidade de água e o potencial hidrelétrico. As previsões são de que até 2020 haja entre 75 milhões e 250 milhões de pessoas na África expostas ao aumento do estresse hídrico devido às mudanças climáticas. Enquanto alguns estudos apontam para desertificação de algumas áreas, outros analisam os riscos de inundação, sobretudo no continente asiático (UN, 2008).

Segundo o Global Climate Risk Index11 2017, Honduras, Myanmar e Haiti foram os países mais afetados pelo calor extremo no período entre 1996 e 2015. O relatório de 2015 aponta que o continente africano apresenta quatro países liderando o ranking dos países mais afetados pelas mudanças climáticas: Moçambique (1º), Malawi (3º), Gana e Madagascar, dividindo o 8º lugar (MELCHIOR; ECKSTEIN; KREFT, 2017). A tabela abaixo indica os dez países mais atingidos (1996 - 2015), dentre os quais, nove em desenvolvimento, com baixos índices de desenvolvimento humano e baixa renda per capita, enquanto apenas um é descrito como país de renda média-alta (Chile).

Tabela 1: Países mais afetados pelas mudanças climáticas

Ranking 2015 (2014) País

1 (23) Moçambique

2 (138) Dominica

3 (60) Malawi

10 O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) é uma organização político-científica criada, em 1988, pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente com o objetivo de reunir estudos acerca de questões ambientais a fim de sintetizar e divulgar os estudos mais avançados nessa área.11 Índice Global de Risco Climático.

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4 (10) Índia

5 (29) Vanuatu

6 (94) Mianmar

7 (138) Bahamas

8 (118) Gana

9 (34) Madagascar

10 (62) Chile

Fonte: MELCHIOR; ECKSTEIN; KREFT, 2017.

Os países mais afetados, contudo, não são os maiores emissores de GEE, que correspondem aos maiores responsáveis pela crise climática contemporânea. Atualmente os dois maiores poluidores são a China e os Estados Unidos, respectivamente (CLARK, 2011). Entretanto, uma vez que os agentes poluidores podem permanecer na atmosfera por décadas, a análise das emissões históricas torna-se igualmente importante. Historicamente, o maior emissor foi os Estados Unidos, seguido pela China, além disso, seis países europeus constam no ranking, bem como o Japão e a Índia. A tabela a seguir discrimina os países e suas respectivas participações (%) na emissão total no período de 1850 a 2007:

Tabela 2: Emissões cumulativas de 1850 - 2007

Posição País Participação

1 Estados Unidos 28,80%

2 China 9,00%

3 Rússia 8,00%

4 Alemanha 6,90%

5 Reino Unido 5,80%

6 Japão 3,87%

7 França 2,77%

8 Índia 2,44%

9 Canadá 2,20%

10 Ucrânia 2,20%

Fonte: elaborado pelos autores baseado em World Resources Institute (2018)

Os países mais industrializados, comumente chamados de países desenvolvidos, são também os que mais emitem gases-estufa. Com notáveis exceções, nomeadamente China, Rússia e Índia, que são países em desenvolvimento e industrializados, a imensa maioria dos países não desenvolvidos com baixa industrialização são os menores emissores desses gases, por outro lado, são esses os mais atingidos pelos efeitos das mudanças climáticas (SANTOS, 2017). Ao contrário dos países desenvolvidos, esses Estados não contam com recursos materiais, financeiros e tecnológicos para prevenir ou coibir os malefícios das mudanças. Ainda que alguns desastres estejam totalmente fora do controle humano, outros, vinculados à segurança alimentar e energética, por exemplo, são passíveis de serem revertidos com a tecnologia adequada.

Além disso, muitos dos países não desenvolvidos são assim justamente devido à baixa industrialização; privá-los do desenvolvimento industrial seria, portanto, condená-los a mais décadas de

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subdesenvolvimento. Prevendo esse cenário, o Acordo de Paris estipulou as já descritas contribuições nacionalmente determinadas, por meio das quais os países desenvolvidos devem “continuar a assumir a dianteira, adotando metas de redução de emissões absolutas para o conjunto da economia” (UNFCCC, 2015a, p. 2, tradução nossa). Os países em desenvolvimento, por outro lado, devem “continuar a fortalecer seus esforços de mitigação e são encorajadas a, progressivamente, transitar para metas de redução ou de limitação de emissões para o conjunto da economia, à luz das diferentes circunstâncias nacionais” (UNFCCC, 2015a, p. 2, tradução nossa).

2.4 A SAÍDA DOS EUA E OS MECANISMOS PARA APLICAÇÃO DO ACORDOApós inúmeros debates, negociações e mesmo a assinatura, o Acordo de Paris precisa ser

ratificado pelos países signatários, isto é, ser aprovado internamente pelos órgãos competentes dependendo do regime político de cada país. O mais difícil, porém, é a aplicação prática dos termos do acordo que envolve normalmente muitas instâncias da sociedade, desde os órgãos governamentais até as grandes empresas e demais setores que influenciam na poluição de cada país. Essa é a fase mais complicada e a que demanda mais esforço e gastos aos governos. Além disso, os acordos muitas vezes estão sujeitos às políticas de governos, as quais podem mudar a cada eleição dependendo do candidato vitorioso.

Em 2015, o então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, assinou o Acordo durante a 21ª Conferência das Partes. Entretanto, o resultado das eleições presidenciais de 2016 provocou uma reviravolta na política climática internacional. Opondo-se às políticas de seu antecessor, o presidente Donald Trump condenou o acordo como “injusto” para os Estados Unidos. Assim, em 1º de junho de 2017, cumprindo sua promessa de campanha, Trump anunciou a saída oficial do país do Acordo, juntando-se a Síria no rol de países não-signatários. Ainda, o presidente também anunciou que iria parar com todas as contribuições norte-americanas ao Fundo Verde das Nações Unidas. Ao mesmo tempo, líderes de todo mundo, incluindo europeus, condenaram a atitude e reforçaram o compromisso de seus Estados com o acordo. Sendo o segundo maior emissor de gases do efeito estufa e a maior economia do mundo, a saída estadunidense representou um duro golpe ao acordo, mas não o seu fim (BÖHRINGER; RUTHERFORD, 2017).

Existem instrumentos para auxiliar os Estados no financiamento de programas destinados ao cumprimento das metas estabelecidas. Dentro do escopo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), há o Fundo Verde das Nações Unidas (Green Climate Fund – GCF), o qual foi estabelecido com o objetivo de limitar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos países em desenvolvimento, bem como ajudar a adaptar as sociedades vulneráveis aos impactos das mudanças climáticas. Investindo em desenvolvimento de baixo carbono, o GCF visa alocar montantes iguais de financiamento cujo valor total é estimado em cerca de R$30 bilhões - proveniente das contribuições de 43 países (BRASIL, 2018).

O Fundo desempenha um papel fundamental na canalização de recursos financeiros para os países em desenvolvimento para projetos tanto de redução de emissões (mitigação) quanto de aumento da resiliência aos efeitos das mudanças do clima (adaptação), a fim de atingir as metas nacionais (contribuições) previamente determinadas de cada país. Dentro do primeiro incluiriam atividades de geração e acesso à energia, transporte, trato de florestas e uso da terra; enquanto no segundo estariam programas voltados à segurança hídrica, alimentar e de saúde, bem como a subsistência das comunidades (BRASIL, 2018).

3. POSICIONAMENTO DOS PAÍSES

A África do Sul - país membro dos BRICS e frequentemente comprometido às causas ambientais - ratificou o Acordo de Paris em novembro de 2016. Entre suas Contribuições NacionalmenteDeterminadas, destacam-se a expansão do setor de energia sustentável e o desenvolvimento detecnologias que ajudem na redução das emissões dos gases de efeito estufa. Para isso, o país pretendecontar com a importante parceria entre o governo nacional e o setor privado (UNFCCC, 2015b). A Áfricado Sul ainda defende a importância da permanência dos países desenvolvidos no Acordo (OSWALD,2017).

A Alemanha está longe de ser invulnerável aos impactos do aquecimento global. O país tem visto o

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seu número de dias extremamente quentes aumentar ao longo das últimas décadas, assim como os volumes de precipitação. Tudo isso pode ter impactos diversos e profundos nos setores da agricultura, silvicultura, saúde e indústria (CLIMATE REALITY, 2018). A Alemanha pretende cortar as emissões de gases-estufa em 40% até 2020 e em 95% até 2050, em comparação com os níveis de 1990 (CLEW, 2018).

Tendo em vista que grande parte de seu território se encontra no Deserto da Arábia, a Arábia Saudita enfrenta um grande desafio. Tempestades de areia e escassez de recursos hídricos já são conhecidas ao país, contudo, podem se tornar mais frequentes, causando grandes prejuízos à economia e à qualidade de vida da população. Agravando a situação, o país depende da exploração do petróleo, produto responsável pela liberação de gases-estufa (UNFCCC, 2015c).

Devido à sua posição geográfica, a Argentina é um terreno suscetível a mudanças climáticas, sobretudo enchentes em algumas regiões, mas também secas em regiões semiáridas do país. Tendo em vista que o país tem um importante papel na produção global de alimentos, tanto a economia argentina quantoos consumidores internacionais têm razões para se preocuparem. Buenos Aires comprometeu-se areduzir em 15% as emissões de gases-estufa até 2030; 30% caso sejam fornecidos recursos financeiros etecnológicos para tal (UNFCCC, 2015d).

Localizado no delta do Rio Ganges, Bangladesh encontra-se em território de baixa altitude, densamente povoado por uma população extremamente pobre. Tais elementos se agravam pelo fato de que a agricultura do país é extremamente vulnerável às mudanças climáticas (BARBOSA, 2014). Diante desta realidade preocupante, o país comprometeu-se a reduzir a emissão de gases-estufa em 5% ou em 15%, caso ocorra o devido financiamento (UNFCCC, 2015e).

O Brasil, um dos dez maiores emissores de gases nocivos à atmosfera, ratificou o Acordo de Paris em setembro de 2016. O país apresentou como meta a redução de 37% das emissões até o ano de 2025 - em relação às emissões de 2005 - e a possível redução de 43% até o ano de 2030. A fim de obter sucesso quanto às metas, a Contribuição Nacional Determinada do Brasil indica objetivos como o reflorestamento de 12 milhões de hectares de florestas, a obtenção do desmatamento zero na Amazônia e o alcance da participação de 45% de energias renováveis na matriz energética brasileira (BRASIL, 2015).

O Canadá ratificou o Acordo em outubro de 2016 e traçou, como meta principal, a redução em 30% das emissões - relativo aos números de 2005 - até 2030. A fim de atingir esse objetivo, as ações canadenses estão centradas em reduzir as emissões de metano do setor petroleiro e aumentar as fontes canadenses de energia renovável. Para tanto, o país irá priorizar o compromisso das províncias, em que cada uma adota medidas diferentes a fim de diminuir a emissão, sobretudo, de dióxido de carbono (NRDC, 2017).

A China foi um ator crucial para a criação do Acordo de Paris. Atualmente, com a saída dos EUA, cresce o potencial protagonismo internacional chinês para a causa climática. Embora seja o maior emissor de gases do efeito estufa, a China é o país que mais investe em energias renováveis. Pequim se comprometeu a reduzir sua dependência em relação ao petróleo e carvão para diminuir a contaminação que asfixia a sua metrópole durante grande parte do ano - as concentrações de poluentes transmitidos pelo ar em uma grande cidade na China ultrapassam em 100 vezes o recomendado (QIU; WOO, 2016).

Durante a administração Obama, os Estados Unidos foi um ator crucial para a consolidação do Acordo de Paris, entretanto, como resposta eleitoral ao setor de produtores de carvão que o elegeu, o atual presidente Donald Trump anunciou, em 2017, a saída do país do acordo climático. Sendo o segundo maior emissor de gases do efeito estufa, contribuindo com cerca de 15% das emissões globais de carbono, a saída estadunidense representou um duro golpe às metas do acordo (BBC, 2017). Contudo, os efeitos do aquecimento global no país já são visíveis, como no caso do Furacão Katrina e as secas que prejudicam as plantações de cereais (BARCELLOS et al., 2009).

Com um histórico significativo de desastres naturais, as Filipinas se encontram entre uma das nações mais vulneráveis frente às mudanças climáticas. Após declarar que não honraria o Acordo de Paris, o presidente filipino Rodrigo Duterte cedeu às pressões e assinou o documento em março de 2017. As Filipinas, então, se comprometeram a reduzir em 70% suas emissões de gases do efeito estufa até o ano

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de 2030 (HIRJI, 2017).

Junto com os membros da União Europeia, o Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte submeteu as suas contribuições em um único documento, simbolizando assim o comprometimento do coletivo europeu com a causa ambiental. Contudo, o início do processo de desligamento do Reino Unido do resto da União Europeia pode demonstrar um grande desafio ao cumprimento dos compromissos apresentados (G1, 2017).

Uma das economias que mais cresce na África, Gana é também afetada pelas mudanças climáticas. O aumento do nível do mar, a seca, temperaturas elevadas e chuvas erráticas impactam negativamente a infraestrutura, a produção hidrelétrica, a segurança alimentar e os meios de subsistência costeira e agrícola prejudicando qualidade de vida da população. Em vista disso, é primordial que o acordo seja cumprido para garantir o desenvolvimento do país (UNFCCC, 2015f).

O Greenpeace, organização não-governamental ambiental fundada no Canadá em 1971, teceu duras críticas a respeito do Acordo de Paris. Kumi Naidoo, diretor executivo do Greenpeace Internacional, afirma que o objetivo de limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5 ºC não condiz com as metas de emissões anunciadas por cada país durante a COP 21; segundo o diretor, tais metas levarão ao aumento da temperatura em 3ºC. Para tanto, o Greenpeace defende que os países cessem os financiamentos de combustíveis fósseis, comprometam-se a acabar com o desmatamento até 2020 e, principalmente, aprimorem suas metas de redução de emissões (GREENPEACE, 2015).

País anfitrião da COP21, a França apoiou ativamente o Acordo de Paris e tem buscado aplicar políticas domésticas relacionadas à sustentabilidade. O país possui um histórico de participação em diversos acordos e iniciativas ambientais, embora suas emissões globais de gases efeito estufa sejam relativamente baixas (por volta de 1%) muito devido à utilização da energia nuclear para produção de eletricidade (HUFFINGTON POST, 2016). O país se comprometeu em reduzir em 20% as emissões de gases-estufa até 2020 em relação aos níveis de 1990 (WRI, 2018).

Mundialmente conhecido pelo terremoto de 2010 e pela guerra civil que tomou conta do país na última década, o Haiti é também um dos países da América Central mais vulneráveis ao calor extremo decorrente das mudanças climáticas. Embora seja um dos países que menos emite gases do efeito estufa, o Haiti já ratificou o Acordo de Paris, pelo qual se comprometeu a reduzir suas emissões em 31% (UNFCCC, 2015g).

Um dos países mais pobres do hemisfério ocidental, Honduras é vulnerável às mudanças climáticas pela alta exposição a riscos relacionados ao clima, como furacões, tempestades, inundações, secas e deslizamentos de terra. A insegurança alimentar tornou-se uma questão recorrente pelo impacto no setor agrícola, principal meio de subsistência da população rural do país. Na sequência do Acordo de Paris, o país se encarregou a intensificar esforços para adaptação às mudanças climáticas (UNFCCC, 2015h).

A Itália ratificou o Acordo de Paris em novembro de 2016 e suas Contribuições Nacionalmente Determinadas encontram-se em um único documento elaborado pela União Europeia, o qual descreve as ações conjuntas de todos os seus Estados membros. O principal objetivo destacado pelo documento diz respeito à redução das emissões em 40% até 2030 tendo, como base, o ano de 1990 (UNFCCC, 2015i). A Itália, além disso, se comprometeu a realizar uma contribuição de 50 milhões de euros por ano ao Fundo Verde para o Clima (ANSA, 2017). Assim como a Alemanha e a Inglaterra, o país criticou duramente a saída dos Estados Unidos do Acordo e desaprovou a renegociação proposta pelo presidente Donald Trump (REUTERS, 2017).

A Índia, segundo país mais populoso do mundo, é um dos mais sensíveis às mudanças climáticas devido ao alto crescimento demográfico das últimas décadas, pobreza e sistema de saúde precário (BARBOSA, 2014). Tendo em vista a situação socioeconômica em que se encontra, a Índia tem focado em seu programa de geração de energia renovável, sendo um dos países signatários do acordo de Paris (UNFCCC, 2015j).

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A Indonésia é um dos maiores emissor de gases de efeito estufa do mundo, principalmente devido a suas emissões florestais, que possuem consequências sociais e ecológicas, por prejudicar a subsistência de milhões de indonésios que dependem do uso da terra e pela destruição de milhares de espécies vegetais e animais. O país comprometeu-se a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 29% até 2030 (CHRYSOLITE et al., 2017).

O Japão situa-se no círculo de fogo do Pacífico, uma das regiões mais devastadas por desastres naturais no mundo, e recentemente sofreu com o acidente na Usina Nuclear de Fukushima. Tendo em vista esta situação, o Japão decidiu repensar a sua matriz energética, visando à redução da utilização de combustíveis poluentes e a maior eficiência do setor industrial. Além disso, o país se comprometeu a reduzir suas emissões em 26% até 2030 (UNFCCC, 2015k).

Madagascar é a quarta maior ilha do mundo e abriga uma diversidade única de espécies e ecossistemas, muitos deles vulneráveis aos padrões climáticos atuais e futuros. O país tem o maior risco de ciclones da África e, nos últimos 20 anos, foi atingido por mais de 45 catástrofes naturais afetando a segurança alimentar, abastecimento de água potável e irrigação, sistemas de saúde pública, gestão ambiental e qualidade de vida. Dada a situação calamitosa, é essencial para o país que as metas do acordo sejam alcançadas (UNFCCC, 2015l).

O México é um país em desenvolvimento e altamente vulnerável às mudanças climáticas devido a sua localização entre dois oceanos, o que favorece a ocorrência de inundações e ciclones. Tendo em vista este cenário, o México, desde o início do século XXI, começou a implementar políticas públicas com a finalidade de reduzir a emissão dos gases do efeito estufa e aprimorar a resiliência do país perante desastres climáticos, sendo hoje um dos países-parte do acordo de Paris (UNFCCC, 2015m).

Sendo o país mais afetado no mundo pelas mudanças climáticas, Moçambique, um país em desenvolvimento, é extremamente vulnerável a eventos como inundações, secas e ciclones tropicais. O país também enfrenta desafios no acesso à energia limpa e segura, tecnologias ambientalmente limpas, água potável e serviços básicos de saneamento. O comprimento das metas do acordo, portanto, é vital para a segurança e o desenvolvimento do país. Por esses motivos, Moçambique assinou e já ratificou o Acordo de Paris (UNDP, 2016).

Altamente vulnerável às mudanças climáticas, o Myanmar foi colocado em segundo lugar globalmente em termos de vulnerabilidade a eventos climáticos extremos no período 1991-2010. Enfrentando os impactos severos das mudanças climáticas, o país, que é um dos menos desenvolvidos do mundo, precisa contar com a efetivação do Acordo de Paris para que o seu desenvolvimento econômico não seja prejudicado e seu ecossistema não seja devastado (UNFCCC, 2015n).

Nicarágua é um dos países mais pobres do mundo e é profundamente atingido pelas mudanças climáticas, conforme o Índice de Risco Climático Global 2017. Apesar de ter ingressado no Acordo de Paris apenas em 2017, 52% da energia do país, em 2015, adveio de fontes renováveis, demonstrando o comprometimento do país com a causa ambiental (VAN DEURSEN, 2017).

A Nigéria, devido a sua geografia, é significativamente vulnerável aos impactos das mudanças climáticas, sendo o norte do país especialmente suscetível a secas, e o sul a enchentes, prejudicando a atividade agrícola. Diante deste cenário, o país comprometeu-se a reduzir a emissão de gases-estufa em 20%, entretanto, com o devido financiamento internacional acredita-se que possa ser capaz de diminuir em até 45% (UNFCCC, 2015o).

A Nova Zelândia tem experimentado com maior frequência e intensidade eventos extremos, como inundações, secas e incêndios florestais, aumento do nível do mar e elevação da temperatura e acidez dos oceanos. Esses eventos ameaçam as comunidades costeiras, as cidades, biodiversidade e a economia como um todo. Ao ratificar o Acordo de Paris, o país confirmou que irá planejar e tomar medidas para se adaptar aos impactos da mudança climática (MINISTRY FOR THE ENVIRONMENT OF NEW ZEALAND, 2017).

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Localizado em uma área geográfica propensa a inundações, sismos, secas e deslizamentos de terra em larga escala, o Paquistão sofreu os impactos devastadores de catástrofes naturais e mudanças climáticas nos últimos anos, testemunhando um terremoto em 2005 e fortes inundações em 2010. O compromisso com os objetivos estabelecidos pelo acordo, logo, são fundamentais para diminuir os impactos causados pelos desastres naturais e contribuir para o desenvolvimento do país (UNFCCC, 2016).

Embora o considere impraticável sem os EUA e não o tenha ratificado ainda, a Rússia é signatária do Acordo de Paris. O país comprometeu-se a reduzir as emissões de gases-estufa entre 25% e 30%, em relação aos níveis de 1990. Considerando que o país é um dos maiores poluidores do mundo, a proposta russa é considerada, por muitos críticos, uma das menos impactantes para o objetivo global do acordo (MIT, 2018).

A Venezuela comprometeu-se publicamente com os valores ambientalistas e com o acordo de Paris, tendo, inclusive, lamentando a saída dos EUA do Acordo (AGÊNCIA BRASIL, 2017). Essencial para a sua economia, as atividades de sua empresa estatal petrolífera seriam compensadas por diversas medidas com a finalidade de mitigar o impacto ao meio ambiente (UNFCCC, 2015p).

4. QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Como lidar com as saídas de países signatários do Acordo de Paris por conta de mudanças degoverno? Como vencer os desafios para implantação dos termos do Acordo de modo a garantir a suaviabilidade e efetivação?

(2) Deveria ser estabelecido um mínimo para cada país realizar, de modo a não causar desigualdadesentre os compromissos? Ou a contribuição deveria ser feita somente pelos países desenvolvidos,proporcional ao PIB de cada país ou, ainda, de acordo com a emissão de gases poluentes?

(3) Como promover a resiliência aos impactos do aquecimento global em países vulneráveis aos seusefeitos, os quais, muitas vezes, estão em processo de desenvolvimento socioeconômico ainda?

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MESA DE GOVERNANTES DO BANCO MUNDIAL

Investimentos em Infraestrutura Energética na região da Ásia Central e do Cáucaso

Amanda Petry, Eduardo Tomankievicz Secchi, Felipe Jaeger Andreis, Maísa de Moura e Maria Eduarda Variani1

1 Graduandos e Graduandas em Economia e Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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APRESENTAÇÃOO grupo Banco Mundial foi criado em 1944 como ferramenta para auxiliar na reconstrução

dos países devastados pela Segunda Guerra Mundial. A libertação das diversas colônias europeias na África e na Ásia modificaram o papel do banco a partir dos anos 1950, para uma instituição focada no desenvolvimento econômico de países que carecem de recursos e de assistência técnica. O Banco Mundial atualmente possui 189 países membros e mais de 12 mil projetos em andamento com foco na redução da pobreza global, distribuição de renda e na construção de infraestrutura que permita desenvolvimento econômico (BANCO MUNDIAL, 2018).

A transição energética1 e a necessidade de manutenção da infraestrutura atualizada na região da Ásia Central e do Cáucaso são de importância para o crescimento econômico continuado não apenas dos países da região, como também para uma série de nações vizinhas e parceiros que utilizam a energia e os recursos produzidos na região para seu próprio desenvolvimento. A transição garantirá a desenvolvimento no longo prazo, ao paço que a manutenção sustenta a produção atual. A maior parte da energia utilizada no planeta provém de fontes fósseis não renováveis, como o petróleo e o gás, o que inclui os países da região da Ásia Central e do Cáucaso, região rica neste tipo de recurso e cujas exportações são dependentes dos mesmos.

As particularidades individuais dos países devem ser entendidas no âmbito dos processos históricos de construção destes Estados e de sua posição no mundo. Considere ao longo desse guia o papel que a infraestrutura energética desempenha no desenvolvimento econômico e as necessidades de investimentos no setor energético dos países abordados. Tal infraestrutura engloba os poços de produção de hidrocarbonetos, isto é, gás natural e petróleo, plantas nucleares, usinas hidrelétricas, gasodutos, oleodutos, linhas de transmissão e plantas de produção de outros tipos de matriz, como eólica e solar.

1 HISTÓRICOA geografia da região da Ásia Central e do Cáucaso (ACC), compreendendo paisagens que vão

das estepes do Cazaquistão, até os desertos do Tadjiquistão e às montanhas do norte do Afeganistão, em conjunto com a falta de acesso ao mar, tornam as conexões à região bastante difíceis. O estabelecimento de comunidades povoadas na região se concretizou ainda na Idade da Pedra, por volta de 4000 anos antes de cristo, sendo o pastoreio a principal atividade na região rica em planícies (BRITTANICA, 2018).

O estabelecimento de rotas comerciais do Oriente com o Ocidente se deu a partir da consolidação do Império Romano como comprador de produtos vindos do Oriente. A chamada Rota da Seda foi um conjunto destas rotas que ligavam o Império Chinês, o sul da Ásia e a Ásia Central até a Europa, passando pelo Oriente Médio. Pouco mencionado na literatura ocidental, o Império Chinês foi o centro político mais importante no Oriente e no mundo tanto em população como em atividade econômica2 (UNESCO, 2018; LIBRARY OF CONGRESS, 1990).

As principais rotas eram controladas por comerciantes chineses ou mongóis3. Tais trocas

1 Transição energética é o processo pelo qual o uso de energia proveniente de combustíveis fósseis é substituído pelo uso de energia proveniente de recursos renováveis/limpos.2 A Europa só se tornou o maior polo econômico do planeta a partir da metade do século 19, quase um século após a revolução industrial e após a invasão, saque e ocupação da China pelas potências europeias (UNESCO, 2018).3 Estes se consolidam como comerciantes importantes após as diversas campanhas militares de Genghis Khan fundarem o Império Mongol entre o final do século 12 e início do 13, maior império em território contíguo na história (LIBRARY OF CON-GRESS, 1990).

QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) Como o Banco Mundial pode fomentar o desenvolvimento sustentável na região?

(2) Como países pequenos podem atrair investimentos dos grandes por meio do BancoMundial?

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comerciais se estendiam da costa chinesa até a Europa, passando pela Ásia Central, Oriente Médio, partes da Rússia e da África (THORSTEN, 2005). A maior parte do comércio era feita por navios, não passando pelo interior continental onde se encontra a ACC, mas uma parcela do comércio terrestre conseguiu desenvolver cidades importantes como Ashgabat no Turcomenistão, atual capital do país (UNESCO, 2018).

As Grandes Navegações do século 16 conferiram uma preponderância do transporte marítimo europeu em relação às tradicionais caravanas terrestres. A Revolução Industrial4, ocorrendo de maneira aprofundada na Europa, deslocou o centro da produção econômica mundial do Oriente para o continente europeu, enfraquecendo a influência chinesa. A invasão da China pelas potências europeias no século 19 marca a derrocada do império chinês, iniciando o chamado Século Perdido Chinês, jogando as antigas rotas comerciais para as sombras. Neste sentido, a região da Ásia Central perdeu importância estratégica durante o processo de industrialização, fenômeno que viria a se reverter somente com a descoberta de recursos estratégicos como petróleo, gás e metais raros na região no início do século 20 (LIBRARY OF CONGRESS, 1996 e 1988).

A baixa estabilidade política dos países da região, permitiu a anexação de vastos territórios pelos impérios vizinhos, sendo o Império Russo o principal caso. A expansão do Império Russo5 para a região no início do século 19 criou um sistema econômico-social hierarquizado. Nobres russos foram enviados para as regiões conforme essas eram anexadas e lhes eram garantidas as melhores terras, bem como servos para o cultivo das mesmas. A dominação russa sujeitou a Ásia Central às decisões russas, aplicadas por funcionários moscovitas e beneficiando os russos latifundiários locais. A língua russa foi imposta a todas as populações, haviam impostos maiores para os não-russos e essas localidades se transformaram em um apêndice econômico e populacional do império, fornecendo impostos, mão-de-obra barata e produtos para o centro socio-político do Império, isto é, a região ocidental (LIBRARY OF CONGRESS, 1996 e 1998).

O final do século 19 demonstra um ressurgimento da posição estratégica da região, tendo sido descoberto o primeiro poço de petróleo moderno, no atual Azerbaijão, perfurado em 1848. A região possui enormes reservas de petróleo, cerca de 200 bilhões de barris, e mais de 7,6 trilhões de metros cúbicos de gás natural. O acesso destes recursos ao mercado internacional e a ausência de tecnologia local para sua exploração são desafios a serem enfrentados para seu uso comercial. Investimentos na área se fazem, portanto, necessários para que haja o aproveitamento destes recursos pelos países da região, com a sua inserção competitiva no mercado internacional (SJVGEOLOGY, 2018; FORSYTHE, 1996).

1.1 O PERÍODO SOVIÉTICO6

Ambas as regiões do Cáucaso e da Ásia Central apresentaram um aumento no desenvolvimento de sua infraestrutura7 - energética, principalmente - após a Revolução de 19178. A nova forma de planejamento posta em prática pelo regime socialista na então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), levando em conta seu vasto território e, portanto, a presença de uma grande quantidade de recursos no interior de suas fronteiras, promove a especialização produtiva de suas Repúblicas. Cada uma passa a ser responsável por desenvolver, quase que exclusivamente, o setor onde seus produtos são mais abundantes, fossem eles industriais como máquinas (sendo aqui considerado o desenvolvimento tecnológico prévio), fossem naturais como grãos e petróleo (GOLDEN, 2011).

Posteriormente a sua efetiva integração a URSS, consolidada alguns anos após 1917, as duas regiões passaram por significativos processos de industrialização dada sua extrema importância na provisão de recursos energéticos (carvão mineral, petróleo e gás natural) e, especialmente na Ásia Central, de algodão, além de um incentivo ainda maior gerado pela descoberta de depósitos de metais como ouro e urânio. Esse avanço, por sua vez, converteu-se também em ganhos na qualidade de vida da 4 Fenômeno, iniciado na metade do século 18, marcado pela grande expansão da população, do consumo de bens e da produção econômica na Europa.5 Tal expansão foi fruto de um conjunto de fatores, sendo os principais o enclausuramento territorial, a busca de acesso ao mar e novas terras agricultáveis.6 O período soviético é considerado o espaço de tempo entre 1917 e 1991, no qual os países que compõem a Ásia Central e o Cáucaso constituíam parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que atuava sob o regime econômico do socia-lismo, com sede do governo em Moscou, na atual Rússia.7 Conjunto de serviços de base indispensáveis em uma sociedade, tais como o abastecimento e a distribuição de água, gás e energia elétrica, serviços básicos de saneamento, transporte etc. (MICHAELIS, 2018).8 A Revolução Russa de 1917 foi uma revolução camponesa e operária responsável por depor o regime autocrático comandado pelo czar, até então vigente, levando ao poder o partido Bolchevique, liderado por Vladimir Lênin.

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população e em incentivos às economias locais, embora também tenham tornado essas regiões bastante dependentes umas das outras: a grande especialização das Repúblicas da URSS funcionavam sob uma lógica de centralização, na qual a existência de infraestrutura vertical conectava as diferentes regiões à Rússia e escoava grande parcela da produção para lá, de onde então os diversos recursos poderiam ser enviados novamente às Repúblicas, de acordo com suas necessidades (LIBRARY OF CONGRESS, 1994).

Essa referida dependência se configurou como um grande obstáculo à continuidade do desenvolvimento das regiões mais periféricas da URSS após seu desmantelamento. Os novos candidatos a Estados-nacionais9 - especialmente aqueles da região do Cáucaso e da Ásia Central -, que além de não apresentarem estruturas políticas bem definidas devido à sua histórica falta de autonomia, tiveram ainda que lidar com crises relacionadas à falta de produtos os quais não produziam e que eram anteriormente fornecidos pelo planejamento central soviético (LIBRARY OF CONGRESS, 1994).

A década de 2000, por sua vez, marcou o início de uma fase de transição do direcionamento de ambas as regiões. Mesmo buscando manter sua influência local, a Rússia mostrou-se incapaz de fornecer auxílio compatível com as demandas locais, como se pôde observar através de novas e contundentes crises energéticas - causadas pela simultaneidade entre uma infraestrutura defasada e a utilização da exploração energética nas regiões (principalmente por países europeus) como alternativa ao fornecimento russo, escoando grande parte da produção para outras áreas (KING, 2008). Aliado a isso, tem-se ainda casos de má utilização dos recursos hídricos para a geração de energia e a constante dependência dos combustíveis fósseis, muito devido ao seu baixo custo. A partir disso, os países do Cáucaso e da Ásia Central vêm buscando, cada vez mais, soluções que possam atender às suas demandas específicas para o setor energético, sendo elas referentes à maior utilização das capacidades de recursos próprios através da exploração, à diversificação das matrizes energéticas com a introdução de fontes de energia renováveis ou à unificação de vias de transporte que facilitem a transmissão de recursos para países onde são escassos. Vale, portanto, destacar a importância do investimento estrangeiro nesse processo (LIBERT, OROLBAEV e STEKLOV, 2008).

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMAA matriz energética de um país está intimamente ligada ao seu desenvolvimento econômico,

uma vez que é a base para a produção econômica do mesmo, a exemplo da realização de obras de infraestrutura, construção civil, dentre outras. Daí a afirmação de Theis (1990), de que “um dos melhores indícios da riqueza de uma população é a quantidade de energia que ela consome por pessoa”.

Tendo isso em consideração, a presente seção se aterá, primeiramente, na análise das principais fontes que constituem a matriz energética do planeta e, em seguida, os impactos das mesmas no meio ambiente. Após, será abordada a região da Ásia Central e do Cáucaso, inicialmente através de uma análise da matriz energética daquela região e, então, da relação desta matriz, bem como dos legados do período de dominação soviética, com a constituição da atual infraestrutura e transmissão na região.

2.1 MATRIZ ENERGÉTICAAs fontes de energia mundiais podem ser classificadas em primárias ou secundárias. As fontes

de energias primárias são provenientes diretamente da natureza, tais como combustíveis fósseis10, vento, água e sol. Já as fontes de energia secundárias são resultado da transformação das fontes primárias, sendo eletricidade e gasolina os exemplos mais comuns deste grupo (PORTAL ENERGIA, 2015). Visto que a região da Ásia Central e Cáucaso é abundante em fontes primárias de energia, especialmente petróleo, o presente guia se aterá em tal fonte.

As fontes de energia primárias podem ser renováveis ou não renováveis. As primeiras são aquelas em que a sua utilização e uso é renovável e pode-se manter e ser aproveitado ao longo do tempo sem possibilidade de esgotamento dessa mesma fonte, a exemplo da energia eólica, solar e hidrelétrica. Já as fontes de energias não renováveis têm recursos teoricamente limitados, sendo que esse limite depende dos recursos existentes no nosso planeta, como é o caso da energia nuclear e dos combustíveis fósseis -

9 Entidades políticas com território definido e governo apto a aplicar a lei dentro de suas fronteiras; possuem também uma identidade nacional compartilhada pela população, formada a partir de princípios éticos e aspectos culturais compartilhados.10 Substâncias de origem mineral, originadas pela decomposição de resíduos orgânicos, o que leva milhões de anos e, portanto, são considerados recursos naturais não renováveis. Entre os combustíveis fósseis mais utilizados no planeta estão o petróleo, o carvão mineral e o gás natural.

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petróleo, carvão e gás natural (PORTAL ENERGIA, 2015).Questões tais como a preocupação com o meio ambiente, o encarecimento das fontes de energia

tradicionais e o desenvolvimento dos países, em especial os emergentes, têm acarretado o aumento da demanda por energia e, consequentemente, a busca por novas fontes energéticas (UFRGSMUN, 2015). Neste sentido, a região da Ásia Central e do Cáucaso colocam-se em destaque no cenário global, visto que, como analisaremos em seguida, a região é rica em recursos energéticos não renováveis - especialmente fósseis - e, consequentemente, apresenta uma alta dependência pelos mesmos.

2.1.1 MATRIZ ENERGÉTICA GLOBALApesar da preocupação com o meio ambiente e da busca por fontes de energia alternativas,

prevalecem, na matriz energética global11, os combustíveis fósseis como principal fonte de energia. De acordo com a Enerdata, cerca de 32% da energia mundial ainda é provida pelo petróleo e 27%, da queima de carvão, como ilustrado na imagem 1. Além disso, a Agência Norte Americana de Energia (U.S. Energy Information Administration), prevê um crescimento de 28% na demanda mundial por energia até 2040. Outra mudança que tem sido observada desde o início do século XXI é o perfil dos países que demandam estas energias. Enquanto até os anos 2000 os países desenvolvidos eram os maiores consumidores de energia, na última década os países em desenvolvimento, sobretudo os asiáticos, têm se consolidado como os maiores demandantes mundiais. Merecem destaque a China, maior consumidora de energia no mundo desde 2009, e a Índia, cujo crescimento do consumo energético representa 25% de todo o crescimento mundial (ENERDATA, 2016).

FIGURA 1: Consumo mundial de energia por fonte (2016)

Fonte: Global Energy Statistical Yearbook, 2016

A queima de combustíveis fósseis emite dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases que causam o efeito estufa. Cerca de 90% da emissão de CO2 na atmosfera é resultado da queima destes combustíveis (IEA, 2015). Consequentemente, há preocupação na redução do uso destes combustíveis e adesão a fontes de energias menos poluentes, tais como a solar e a eólica. Contudo, muitos países e empresas resistem à ideia, uma vez que, para a maioria dos países, o desenvolvimento econômico de-pende da queima de combustíveis fósseis e, consequentemente, estes continuam a configurar-se como a principal fonte de energia do mundo (BBC BRASIL, 2009).

A região da Ásia Central e do Cáucaso se encaixa neste grupo de países. Devido à sua matriz energética abundante em combustíveis fósseis, os países da região utilizam largamente esta fonte de energia para dar continuidade ao seu desenvolvimento econômico. Consequentemente, a transição para uma matriz energética menos poluente torna-se custosa, fazendo com que prevaleça a opção por combustíveis fósseis, de obtenção mais fácil e menos custosa. Vale citar a realidade do Cazaquistão e do Azerbaijão, os quais possuem, respectivamente, cerca de 81% e 92% de sua matriz energética gerada por combustíveis fósseis (UFRGSMUN, 2016).

2.1.2 MATRIZ ENERGÉTICA NA REGIÃO DA ÁSIA CENTRAL E CÁUCASOComo mencionado anteriormente, a região da Ásia Central e do Cáucaso é altamente dependente

dos combustíveis fósseis. Gigantescas reservas de petróleo e gás nos entornos do Azerbaijão, do 11 Toda energia disponibilizada para ser transformada, distribuída e consumida no planeta.

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Cazaquistão, do Turquemenistão e do Uzbequistão colocam a região do Cáspio entre as mais ricas do mundo em hidrocarbonetos (UFRGSMUN, 2015).

Além destas fontes de energia, há, no Cazaquistão, grandes depósitos de carvão. O Tajiquistão e o Quirguistão, por sua vez, possuem amplos recursos hídricos, correspondendo à maior parte da capacidade hídrica da região (UNDP, 2010).

Devido a esta distribuição desigual de recursos, observa-se a emergência de “conflitos energéticos” entre os países da região. Estes conflitos ocorrem, principalmente, devido ao fato de que os países abundantes em energia hidrelétrica são altamente dependentes das importações de combustíveis fósseis do restante da Ásia Central. Assim, o chamado “Conflito Água-Energia” ocorre devido ao fato de que tanto os países abundantes em água como os abundantes em combustíveis fósseis devem sujeitar-se a regulamentos mútuos (UFRGSMUN, 2015).

2.1.3 TRANSMISSÃO E INFRAESTRUTURAUm dos maiores problemas enfrentados pelas nações do Cáucaso e da Ásia Central, atualmente

diz respeito à sua infraestrutura, majoritariamente herdada da época de dominação soviética. Esta estrutura caracteriza-se pela predominância de equipamentos deteriorados, tecnologia obsoleta e predominância da queima de combustível para geração de energia, características que acarretam altos índices de desperdício energético (UFRGSMUN, 2016).

Outra questão diz respeito aos oleodutos12 da região. O Mar Cáspio, por exemplo, é uma fonte de recursos energéticos, suprindo a crescente demanda interna do Cáucaso e da Ásia Central, e transportando energia para o leste europeu e para o norte do Paquistão e noroeste da China (MELLO, 2016). Isto torna a região um constante alvo de instalações físicas fixas para transporte de líquidos, tanto de petróleo - oleodutos - como de gás natural - gasodutos (instalações comumente conhecidas como pipelines), a fim de redirecionar os recursos daquele mar. São exemplos de pipelines na região a Blue Stream, South Caucasus gasoduto, Turkmenistan-China, Turkmenistan-Iran, Baku-Supsa, Caspian Pipeline Consortium, Baku-Tblisi-Ceyhan e Kazakhstan-China (MELLO, 2016).

2.2 PERSPECTIVAS DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NA ÁSIA CENTRALA abundância de recursos naturais, como combustíveis fósseis, na região do Cáucaso e da

Ásia Central é um dos motivos pelos quais o debate sobre energias limpas e renováveis ainda é pouco estimulado. Não só na região aqui trabalhada, como no resto do mundo, tem-se problemas como decrescente reserva de combustíveis fósseis, distribuição desigual de energia, rápido crescimento do uso de energia nos países em desenvolvimento e degradação do meio ambiente por poluição por queima de combustíveis fósseis (NREL, 1998).

Todos os países dessa região possuem potencial para a geração de energia renovável, como energia eólica, solar e hidráulica. Como dito anteriormente, durante o período soviético, o sistema energético da região era centralizado e os países possuíam uma relação de complementaridade de suas matrizes elétricas. Após a independência dos países da Ásia Central, muitas das estruturas de transmissão e distribuição de energia permaneceram as mesmas, mantendo os países menores e mais pobres dependentes especialmente da Rússia.

Atualmente, a situação é favorável para expansão de recursos renováveis de energia a fim de resolver problemas técnicos, econômicos, políticos e ecológicos. Nessa seção, apontaremos brevemente as oportunidades que os países da Ásia Central possuem em relação à energia renovável e como o assunto é deliberado por cada uma das cinco países da região (Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Turcomenistão). Além disso, será apresentado um projeto aprovado pelo Banco Mundial, atualmente em andamento no Uzbequistão.

2.2.1 CAZAQUISTÃOA República do Cazaquistão é a maior nação em termos territoriais da Ásia Central. O país

possui abundantes recursos minerais, como gás natural, petróleo, carvão e urânio, que compõem aproximadamente um quarto do PIB, além de representar mais de dois terços do total das exportações (BANCO MUNDIAL, 2013). O país adota metas a fim de se tornar uma economia com baixa emissão de carbono e, consequentemente, aumentar a matriz energética renovável. Para 2050, o objetivo é que 50%

12 Canalização especial para transportar petróleo e seus derivados.

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de toda a energia produzida seja sustentável (BANCO MUNDIAL, 2013). O extenso e pouco povoado território permite que o Cazaquistão tenha grande potencial para a instalação de usinas eólicas e solares. Além disso, esse tipo de energia é mais barato e eficiente em localidades com grandes distâncias entre seus povoados, como é o caso do Cazaquistão. Essa prática não só fomenta o desenvolvimento de regiões mais afastadas do centro, como também aumenta a geração de energia limpa – mitigando os altos custos financeiros e para o meio ambiente que a construção de oleodutos e a transmissão de energia fóssil gerariam (NABIYEVA, 2015).

2.2.2 UZBEQUISTÃOO Uzbequistão é estrategicamente localizado no centro da Ásia Central. É o único país da

região que faz fronteira com todos os outros (Cazaquistão, Quirguistão, Tadjiquistão e Turcomenistão). Entre 2001 e 2014, o PIB13 do país cresceu a uma média de 7,3% ao ano, sendo considerado uma das oito economias de mais rápido crescimento na última década (BANCO MUNDIAL, 2016). A matriz elétrica14 uzbeque é composta de 75% gás natural e 21% hidráulica. Em 2013, o país foi responsável pela emissão de 111 toneladas de CO2 (MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA, 2014). Devido a grande dependência de combustíveis fósseis, o governo do país estabeleceu estratégias para diversificar a matriz energética, aumentando o percentual de energia renovável. O maior objetivo do país, entretanto, é reduzir o consumo interno de gás natural para assim aumentar a exportação desse produto (BANCO MUNDIAL, 2016).

Em novembro de 2016, o Banco Mundial aprovou um financiamento15 no valor de US$150 milhões para a modernização técnica e melhora da eficiência de redes de transmissão energética no Uzbequistão. O projeto total foi avaliado em US$196 milhões – sendo US$5 milhões destinados para assistência técnica e US$191 milhões para investimentos no sistema de transmissão de energia (BANCO MUNDIAL, 2016).

A infraestrutura uzbeque de estradas, de dutos de óleo, de gás e de energia elétrica data do período soviético, sendo considerada antiga e obsoleta. O envelhecimento dessa infraestrutura leva a perdas consideráveis de energia durante o processo de distribuição e transmissão (estima-se que 20% da energia produzida é desperdiçada devido a estruturas antigas e de baixa tecnologia) (BANCO MUNDIAL, 2016). Isso representa um dos gargalos de crescimento a longo prazo do país. 41,4% da energia consumida no país é utilizada na indústria, 24,5% é utilizada em residências e 20% utilizado na agricultura (BANCO MUNDIAL, 2016). Faz-se necessário, então, uma reforma que melhore a eficiência e a qualidade tecnológica dos sistemas energéticos a fim de promover o desenvolvimento econômico do país. O projeto do Banco Mundial está previsto para ser concluído em dezembro de 2022, sendo administrado pela empresa nacional Uzbekenergo, que fornece energia térmica e hidráulica para todo o Uzbequistão (BANCO MUNDIAL, 2016).

2.2.3 QUIRGUISTÃO, TADJIQUISTÃO E TURCOMENISTÃOO Quirguistão possui mais de 80% da sua energia proveniente de hidroelétricas. Entretanto,

quase a totalidade desse tipo de energia é proveniente de grandes usinas, o que não é considerado uma energia sustentável – devido ao grande impacto ambiental causado durante a construção da infraestrutura. O país perde entre 40% e 50% de toda a energia produzida durante a sua transmissão, sendo necessários diversos investimentos para aumentar a eficiência energética. O país, porém, possui grande potencial para a construção de pequenas e descentralizadas hidroelétricas ao longo de seu território, já que 60% da população vive fora do centro em áreas montanhosas (NABIYEVA, 2015). No Tadjiquistão, a população rural sofre constantemente com a falta de energia, utilizando materiais fósseis como madeira e carvão para iluminação e aquecimento. O país é considerado um dos melhores no mundo em potencial hidroelétrico, contudo, sua matriz elétrica é extremamente dependente de seus países vizinhos - adquirindo petróleo e gás do Uzbequistão, do Turcomenistão, da Rússia e do Cazaquistão (NABIYEVA, 2015).

O Turcomenistão é o único país da Ásia Central que não possui nenhuma meta, nem legislação, 13 Produto Interno Bruto representa a soma, em valores monetários, de todos os bens e serviços finais produzidos numa deter-minada região, durante um determinado período. É um indicador utilizado na economia para medir o crescimento de um país.14 Matriz elétrica é a denominação dada ao fornecimento total de energia elétrica de um país ou região, quando segmentado por fonte (óleo, carvão, gás, hidráulica, etc.).15 Financiamento é o ato de emprestar uma determinada quantidade de dinheiro em troca do recebimento futuro do mesmo valor emprestado, acrescido de juros. (INVESTOPEDIA, 2018a)

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sobre energia renovável. Detentor das maiores reservas de gás natural da região, o país não possui fontes de energia sustentável incorporadas à sua matriz energética. Felizmente, há grande potencial para a instalação de usinas solares e eólicas, pois o deserto de Karakum cobre 80% do território do país (NABIYEVA, 2015).

2.3 PERSPECTIVAS DE TRANSIÇÃO ENERGÉTICA NO CÁUCASOPara pensarmos nas perspectivas de transição energética para a região do Cáucaso devemos

levar em consideração a história, a geografia, e mais especificamente, a disponibilidade de recursos dos países que compõem a região. Entre as três principais dificuldades estão: a falta de investimento (relacionadas, principalmente, aos altos custos); a estrutura atual, proveniente de investimentos feitos pela URSS, que carece de necessária modernização; e a disputa por recursos transportados pelos dutos. A venda desses recursos hidrocarbonetos é vantajosa perto do alto investimento em opções renováveis.

2.3.1 ARMÊNIAA Armênia é um país sem saída para o mar, que não possui reservas de petróleo ou de outros

hidrocarbonetos, sendo, portanto, extremamente dependente da importação desses bens. O maior desenvolvimento de energia renovável seria importante para o território, pois diminuiria a dependência em relação aos países vizinhos, garantindo autonomia e assegurando um impacto positivo na balança comercial. A balança registra as importações e as exportações de bens e serviços entre os países, logo, diminuindo a quantidade de combustíveis fósseis importados, aumentaria o crédito gasto com essas compras. As leis sobre matéria energética são de responsabilidade da Comissão Reguladora de Serviços Públicos (PSRC, sigla em inglês). A comissão determina as tarifas, a cada ano, para novos e já existentes geradores, assim como tarifas específicas para investimentos em energia eólica, solar e biomassa - valor reduzido como forma de incentivo a essas novas alternativas. É garantida a compra da energia produzida por um período de 15 anos (UNDP, 2012a).

O programa de desenvolvimento estratégico do país estipula que, em 2025, 30% da demanda por energia será suprida por opções renováveis (MINISTÉRIO DE ENERGIA E RECURSOS NATURAIS DA REPÚBLICA DA ARMÊNIA, 2013). Atualmente, 5.4% da energia provém de fontes renováveis, área de investimento promissora. O desenvolvimento da energia hídrica está relacionado a construção e funcionamento de pequenas e médias fábricas (UNDP, 2012a). A hidrelétrica de Sevan-Hrazdan, aberta em 1962, foi um dos grandes projetos que, utilizando energia sustentável, beneficiaram a agricultura e tornaram possível a construção de diversas indústrias (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018). A Armênia tem uma posição privilegiada quando falamos de energia solar, a maioria de suas províncias tem condições climáticas favoráveis para seu uso. A energia eólica está em fase inicial de desenvolvimento, mas há potencial e interesse por parte de companhias internacionais (UNDP, 2012a). Na parte financeira, garantindo empréstimos, estão presentes, entre outros, o banco estatal alemão KfW e o Banco Asiático de desenvolvimento (UNDP, 2012a).

O Banco Mundial está, desde 2016, promovendo um projeto de exploração geotérmico na Armênia. Objetivo proposto é confirmar se o recurso geotérmico no país é adequado para geração de energia e, se confirmado, envolver o setor privado no desenvolvimento de uma usina de energia geotérmica (BANCO MUNDIAL, 2015). Para isso, o Banco Mundial aprovou em maio de 2015, um fundo de concessão16 do valor de US$8,55 milhões. O custo total do projeto é de US$ 10,68 milhões, e o prazo para conclusão é abril de 2019.

A primeira fase do projeto consistiu em realizar estudos no campo de Karkar na província de Syunik, no extremo sul da Armênia. Em 2016, tais estudos, compilados em um relatório do Banco Mundial apontaram o potencial de construção de uma usina geotérmica na região, com capacidade de geração anual de 250 milhões de kW. A partir de então, a segunda fase do projeto consiste na construção da Usina Geotérmica de Karkar, com custo estimado entre US$90 e US$110 milhões, que será financiada através de capital público e privado, de acordo com um planejamento realizado pelo governo armênio (FUNDO DE INVESTIMENTO DA ARMÊNIA, 2016). A Armênia possui um adequado pacote de políticas regulatórias para o desenvolvimento de energia renovável. O governo está empenhado em desenvolver os recursos geotérmicos do país como uma alternativa acessível de fonte energética gerada a partir de recursos nacionais, contribuindo assim para a segurança energética do

16 Concessão é uma espécie de doação, normalmente realizada por um governo ou uma organização, para empresas/instituições executarem projetos (INVESTOPEDIA, 2018b).

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país (BANCO MUNDIAL, 2015).

2.3.2 AZERBAIJÃOA energia renovável utilizada no Azerbaijão corresponde apenas 0.07% do total de energia produzida,

o que reflete o baixo investimento nessas opções. Dessa porcentagem, a maior parte é de pequenas estruturashidráulicas, mesmo o potencial hídrico para geração de energia sendo bem menor que os potenciais solarese eólicos. A falta de interesse em investir está relacionada às tarifas rígidas desfavoráveis e ao mercado deeletricidade, controlado pela empresa estatal Azerenerji, que retém grande parte do poder de transmissão deenergia (UNDP, 2012a).

A Agência Estatal para Energias Renováveis ou Alternativas desenvolveu uma estratégia nacional para tratar o assunto no período de 2012-2020, que já passou pelo processo de revisão feito pelo Primeiro Ministro e agora está para ser aprovada por acionistas17. As metas são a redução de 20% de emissão de gases que causam o efeito estufa (comparando com dados dos anos 90), além do aumento do consumo e da eficiência de energiasrenováveis em 20% até 2020. De acordo com o Ministro da Energia, serão necessários 8.9 bilhões de dólares paraatingir esse objetivo (REPUBLIC OF AZERBAIJAN, 2013). A agência Nacional foi reconhecida como entidadeindependente do Ministério da Indústria e Energia e ganhou um subsídio no valor de 31 milhões de dólares em2013 (UNDP, 2012a).

De acordo com o índice, de 2017, do Banco Mundial sobre a facilidade de se fazer negócios nos países, a Armênia obteve a 10ª posição. A partir desses incentivos legais, e da vontade do governo de explorar o potencial do Azerbaijão para energias renováveis, as perspectivas para investimentos futuros no setor são favoráveis (UNDP, 2012a).

2.3.4 GEÓRGIAA Geórgia possui um imenso potencial para a utilização de energia renovável, nos setores hídrico,

eólico, solar e de biomassa. Atualmente, 1.1% da energia do país provém dessas alternativas. Ademais deste potencial, é considerado pelo governo georgiano apenas a energia hidráulica enquanto energia renovável. Neste sentido, a produção de energia renovável, a partir de estruturas hídricas, representa grande parte do 1,1% desse consumo energético do país. O programa estatal sobre energia renovável, adotado em 2008, determina as regras para a instalação de fábricas, principalmente no ramo hidráulico. Para projetos nessa área, tarifas especiais são negociadas diretamente entre o investidor e a Comissão Nacional Reguladora de Energia do país. Além disso, para produções de energia até determinado número, existem obrigações de compra por parte do governo dessa energia gerada. Investimentos para a construção de pequenas e médias estruturas hídricas estãos sendo feitos por empresas da Noruega (Clean Energy Invest), Índia (Tata Power) e da própria Geórgia, com apoio do Banco Europeu para Reconstrução e Desenvolvimento. Esses atrativos não se estendem para os outras opções de geração de energia de forma mais sustentável, que carecem do suporte das leis para facilidades de investimento (UNDP, 2012a).

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIASEsta seção aborda uma série de iniciativas que estão parcialmente concluídas ou já foram

implementadas para a modernização e diversificação da infraestrutura energética na região da Ásia Central e Cáucaso.

3.1 BANCO ASIÁTICO DE INVESTIMENTO EM INFRAESTRUTURA (BAII)O BAII foi criado pela República Popular da China para levar a cabo seu projeto de recriação

da rota da seda. A Nova Rota da Seda passará diretamente pela região da Ásia Central buscando modalidades de transporte baratas e eficientes, tais como trens, para integrar a economia chinesa ao resto do continente asiático e à Europa por vias terrestres. Outro motivo influente na elaboração do projeto foi o acesso chinês aos recursos naturais abundantes na Ásia Central, em especial o petróleo e o gás (ZHU, 2015).

O Banco conta com 100 bilhões de dólares em reservas para investimentos. Grande parte dos projetos que vem sendo iniciados são da área de transportes e energia, garantindo desenvolvimento local e atendendo as necessidades chinesas por recursos naturais e energia (AIIB, 2018).

A expansão das refinarias de hidrocarbonetos na região e dos poços de petróleo e gás permitirão

17 Uma pessoa ou um grupo de pessoas que possuem ou compartilham um negócio; um empregado, um consumidor ou um ci-dadão envolvido com alguma organização, sociedade, etc, e que, por isso, tem responsabilidades em relação aos seus interesses e seu sucesso. (CAMBRIDGE DICTIONARY, 2018).

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um aumento expressivo da produção destes recursos pelos países da região, permitindo um incremento da economia local. Outros projetos levados a cabo pelo Banco envolvem a capacidade de transporte destes recursos, muito difícil na região com variações térmicas grandes devido aos desertos quentes e às montanhas com neve. A construção de rodovias e ferrovias integrando o Oeste Chinês à região da Ásia Central intensificou o comércio entre os países na região, saindo de 1 bilhão de dólares em 2000 para 30 bilhões em 2010 e 50 bilhões em 2013 (FLORICK, 2017).

Outro meio de transporte muito utilizado na região, principalmente devido à grande demanda chinesa por recursos energéticos, são os gasodutos e oleodutos. A construção de tubulações para o transporte destes materiais tem um investimento inicial relativamente elevado, mas o custo demanutenção das instalações e o transporte em si dos hidrocarbonetos é mais confiável, eficiente ebarato do que o feito por caminhões e trens. A construção do Gasoduto Central Asia-China em 2003 esua expansão em 2010 melhoraram o transporte de gás para as termelétricas chinesas (ZHU, 2015).

Imagem 2: Gasodutos, Oleodutos e ferrovias na Ásia Central ligadas à Nova Rota da Seda

Fonte: FARCHY, 2016.

3.2 BANCO MUNDIAL A presença do BM na região do Cáucaso acarretou em significativos índices de redução

da pobreza através de diversas iniciativas, mencionadas ao longo dessa seção. Entre 2005 e 2015, aproximadamente 20% da população se encontrava em situação de pobreza na Armênia e na Geórgia; no Azerbaijão, esse grupo era inferior a 10% da população para o mesmo período. No entanto, há ainda uma constante vulnerabilidade da população em relação à pobreza: se analisarmos o caso da Armênia como exemplo, veremos que 50% dos indivíduos que deixaram a pobreza entre 2010 e 2015 voltaram à situação inicial devido à falta da sustentabilidade dos programas governamentais do país. Sendo assim, os objetivos dos projetos já realizados pelo BM na região voltam-se ao desenvolvimento de comunidades locais, sempre enfatizando a qualidade do trabalho como principal agente de transformação social, e à construção/reestruturação de rodovias, facilitando o acesso da população a recursos e serviços (THE WORLD BANK GROUP, 2017b).

No caso da Ásia Central, o BM entende que existe a necessidade de uma abordagem que leve em consideração a importância do diálogo e da colaboração entre os países na busca por soluções em âmbito regional. Portanto, os projetos encabeçados pelo BM na região englobam questões que perpassam por migração, saúde, incentivo ao comércio, desenvolvimento de rodovias (a exemplo do Projeto do Corredor de Trânsito Internacional - PCTI -, que pretende estabelecer uma rota ligando o oeste da Europa ao oeste chinês) e, no que tange a energia, o Programa de Desenvolvimento Energia-Água da Ásia Central (PDEAAC) (THE WORLD BANK GROUP, 2018c).

Esse último tem como principal objetivo promover a segurança da água e da energia através da cooperação entre os países da região com a finalidade de estender o acesso de ambos os recursos ao

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maior número de pessoas possível. Mesmo sendo uma região abundante em recursos hídricos (podendo ser utilizados tanto para consumo quanto para geração de energia hidráulica), apresenta má distribuição geográfica e desvios ao longo do leito dos rios destinados à irrigação. Os dois fatores colaboram para que algumas regiões não consigam suprir a própria demanda energética em determinados períodos do ano ou então não tenham um fornecimento de água suficiente a toda a população. Assim, o PDEAAC busca também fortalecer as instituições já existentes e fornecer conhecimentos técnicos, análises e diagnósticos para que se possam tomar as melhores decisões a respeito, tendo em vista que esta é a área cujos países apresentam maior vulnerabilidade a mudanças climáticas na ACC (THE WORLD BANK GROUP, 2018a).

Imagem 3: Bacia hidrográfica do Mar de Aral, Ásia Central

Fonte: The World Bank Group, 2018a.

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESA situação energética do Agefanistão é bastante sensível. Entre 10% e 15% da população, apenas, possui acesso à energia elétrica em suas residências - o que representa uma das taxas mais baixas do mundo. Há poucas usinas ao longo do território, sendo pequenas hidrelétricas e usinas a diesel as principais fontes. Devido à escassez de energia elétrica, a maior fonte de energia utilizada é a biomassa, através da queima de madeira para, principalmente, aquecimento (RAHMAN, 2009). O país, entretanto, possui grande potencial solar, eólico e hidroelétrico para a geração de energia sustentável.

Diferentemente do período em que fez parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a Armênia hoje defende políticas que incentivam o desenvolvimento de um livre-mercado no setor energético. Isso muito se deve ao fato de que o país conta com recursos energéticos bastante limitados, sendo a produção interna de energia proveniente de hidroelétricas e de uma usina nuclear; todos esses fatores levam a uma dependência quase total da importação de energia. Interesses armenos também perpassam o investimento em infraestrutura, mais especificamente na construção de dutos de gás e de petróleo que facilitem e reduzam o custo do transporte desses recursos, feito atualmente por meio de rodovias (LYNCH, 2002).

A matriz energética do Azerbaijão é dependente de recursos fósseis, sendo estes responsáveis por mais de 80% da produção de energia do país, sendo o restante proveniente majoritariamente de hidrelétricas. As regiões próximas à costa do Mar Cáspio possuem potencial para instalação de plantas de energia eólica, mas enfrentam resistência frente ao crescente turismo na região (CIA, 2018). A cooperação regional por meio de instituições como a Comunidade dos Estados Independentes (CEI) e a GUAM - Organização para a Democracia e o Desenvolvimento Econômico, são fundamentais para a autonomia do país, garantindo parcerias tanto com a Federação Russa quanto com o Ocidente (VAN GILS, 2017).

O Brasil se configura como um dos maiores consumidores de energia do mundo - no último ranking,

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em 2014, figurava na oitava posição. O país tem se destacado em âmbito mundial no que concerne às energias renováveis: de acordo com o boletim anual de Energia no bloco dos BRICS, a matriz de geração elétrica brasileira registrou, em 2016, 80,4% de fontes renováveis, ante 25,3% do conjunto do grupo e 23,6% da média mundial. Ainda, os investimentos em energias renováveis devem chegar a US$ 237 bilhões até 2040, sendo que apenas em 2017 já foram investidos US$ 6,2 bilhões nesta fonte de energia. (EPE, 2018). Desta forma, o país tem muito a contribuir com os países da região da ACC, uma vez que, apesar da distância, alguns laços já foram estreitados e especialmente em termos de cooperação técnica, a exemplo das relações com o Cazaquistão.

A República do Cazaquistão é o país da região da ACC que mais fomenta o uso de fontes de energia renováveis, possuindo uma legislação bastante completa sobre o assunto. O país é abundante em reservas de recursos naturais - o que o torna atraente para os interesses de algumas nações (IDRISSOV 2016). Entretanto, o país sofre com escassez de água, enquanto que os países que fazem fronteira com o Cazaquistão, possuem recursos hídricos e território propício para a construção de usinas hidroelétricas, o que pode causar tensões entre os países.

Uma proposta de mudança de energia por parte do novo governo da Coréia do Sul colocará o meio ambiente no centro da política energética, mudando um dos mais firmes apoiadores do carvão e da energia nuclear para o gás natural e matrizes energéticas renováveis. Atualmente, o país tem 70% de sua energia elétrica fornecida por reatores nucleares e termoelétricos. O governo fornece subsídios a ambos os setores para assegurar oferta energética abundante a preços acessíveis (CHUNG, 2017).

Os Emirados Árabes Unidos são o quinto maior produtor de petróleo da OPEP18. Entretanto, o abastecimento de energia do país ocorre quase que totalmente por gás natural (90% da energia consumida) (UAE MINISTRY OF ENERGY, 2015). O governo possui planos para transformar a energia nuclear na maior fonte de eletricidade não proveniente de hidrocarbonetos. Desde 2008, o país possui políticas que prezam pelo uso pacífico de tecnologia nuclear, estabelecendo padrões de segurança e de transparência que tornaram o país um modelo a ser seguido. (UAE GOVERNMENT, 2018).

Em 2017, 18% de toda a eletricidade produzida nos Estados Unidos foi proveniente de energias renováveis, como solar, eólica e hidráulica. Além disso, a utilização de carvão como matéria-prima energética reduziu de 48%, em 2008, para 30%, em 2017 (MORRIS, 2018). O governo do presidente Trump tem sinalizado desejo de cortar os fundos americanos para fomento de energia renovável, o que pode gerar tensões internas e entre países que defendem o uso de fontes renováveis, entretanto, a tendência do uso de energia limpa é crescente, com aumento da penetração na matriz energética.

A consolidação da Federação Russa como potência energética na metade da primeira década do século XXI, herdando vastas reservas de recursos naturais e infraestrutura da União Soviética, tornou o país ao mesmo tempo dependente economicamente, mas líder no mercado internacional (ou exportação?) do setor de energia e líder no mercado internacional. O país busca a manutenção da lógica atual no setor energético, isto é, da manutenção dos hidrocarbonetos como chave para o setor energético, sendo o principal parceiro dos países na região e o processador dos recursos extraídos nesta região (PUTZ,2016).

A energia nuclear representa cerca de 75% da produção de eletricidade na França. Embora essa energia seja considerada renovável, a alta concentração representa um risco, especialmente ambiental, para o país. O uso de energia nuclear leva a França a ser uma das nações que menos emite carbono no mundo. O governo possui pacotes de metas que pretendem ser alçadas até 2020. Dentre elas, está a presença de 23% de energia para consumo proveniente de fontes renováveis. (DELOITTE, 2015).

Dentre os países do Cáucaso, a Geórgia possui a menor proporção de fontes não-renováveis em sua matriz energética. O país possui grande potencial para instalação de energia hidrelétrica devido a seu território montanhoso e a seus diversos rios. Buscando atrair investimentos, a Geórgia liberalizou e desregulou o mercado de energia. Os projetos renováveis são baseados no princípio Construir-18 Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) é uma instituição que visa coordenar de maneira centralizada a política petrolífera de seus países membros.

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Possuir-Operar, no qual a mesma empresa fica responsável por todas as etapas do projeto, tornando-se isenta de taxas e auferindo lucro da produção e comercialização de energia (GEORGIAN NATIONAL INVESTMENT AGENCY, 2018).

Na Grécia, 56% da energia provém de combustíveis fósseis, 14% de hidrelétricas e 26% de outras fontes renováveis (THE WORLD FACTBOOK, 2018). O país possui poucos recursos naturais. Importa-se 100% do gás natural e 98% do petróleo (ENERGIEWENDE, 2016). A partir dos anos 90, o país começou a desenvolver o setor de energia eólica. (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018). Entretanto, grandes investimentos no setor de energia renovável ainda são caros no país, principalmente pelos efeitos da crise de 2008. Em contraste com outros países da União Europeia, a Grécia continua promovendo o uso de combustíveis fósseis como fonte essencial para geração de energia (ENERGIEWENDE, 2016).

A Índia tem sido responsável por cerca de 10% do crescimento mundial do consumo de energia desde 2000, sendo sua matriz energética altamente dependente dos combustíveis fósseis: 44% da energia do país é suprida por carvão e 19%, por petróleo (WORLD ECONOMIC OUTLOOK, 2015). Apesar disso, o país tem se destacado mundialmente no referente às energias renováveis: cerca de 4,13% do total deenergias renováveis gerado no mundo provém da Índia (IRENA, 2018), além do maior parque solar domundo localizar-se no país. (RENEWAABLE ENERGY INDIA EXPO, 2018). Estes fatores, somadosao rápido crescimento econômico e internacionalização da Índia, tornam o país uma alternativa àdominância russa e à ingerência chinesa na região da ACC, podendo vir a ser um potencial parceirocomercial, tecnológico e até financeiro para os países daquela região.

Após o acidente ocorrido na Usina Nuclear de Fukushima, em 2011, o debate sobre a produção de energia sustentável se intensificou no Japão. Considerada uma nação com escassos recursos naturais, o país é fortemente dependente da importação de fontes energéticas. O país já auxilia projetos de energia no Uzbequistão através de financiamentos e assistência técnica (ENERGY CHARTER SECRETARIAT, 2015).

O Quirguistão, fazendo fronteira com China, faz parte da linha direta que conectará a China à Europa na iniciativa da Nova Rota da Seda. Projetos como a Ferrovia Uzbeque-Sino-Quirguistão e o anel rodoviário Issyk-Kul, ambos em parceria com a China, irão melhorar a infraestrutura de transportes do país. No entanto, devido a um histórico de tensões com seu vizinho Uzbequistão, o país teme um aumento da influência do mesmo na região da Ásia Central. A cooperação com países de fora da região é de suma importância para a melhoria da infraestrutura local (MAITRA, 2017; TALDYBAYEVA, 2017).

Em 2017, o Banco Mundial declarou o Reino da Dinamarca líder mundial em energia verde, com 43% de toda a necessidade energética do país fornecida por energia eólica. Mais importante do que isso é o fato de que, em 2015, a exportação de tecnologia energética representou 11% do total de bens de exportação do país, tornando-o líder da União Europeia em termos de exportações de tecnologia de energia, o que pode trazer grandes benefícios aos países da ACC.

O Reino Unido é responsável pela terceira maior produção de energia elétrica da União Europeia, ficando atrás apenas de Alemanha e França. É também uma das grandes economias europeias a investir na transição da produção de energia dependente de combustíveis fósseis para fontes renováveis, demonstrando grandes avanços na redução da emissão de carbono através de dois elementos principais: a privatização das companhias de produção de energia e a intervenção, a partir de então, por meio de sua legislação. Metas ousadas como a redução dos níveis de emissão de gás carbônico aos mesmos níveis encontrados no período de 1990 até 2005 fizeram e ainda fazem parte da realidade do setor no país (FABRA, 2015).

A República Árabe do Egito é um importante produtor de gás natural, petróleo bruto e produtos refinados do petróleo. 90% da geração de eletricidade provém de combustíveis fósseis. Entre as alternativas renováveis, a energia hidráulica vem ganhando espaço (CIA World Factbook, 2018). O país oferece condições ideais para investimentos em energia eólica (a partir dos ventos vindos da região do Golfo de Suez) e solar. Até 2022, há um projeto que pretende suprir 20% da demanda por energia através de fontes renováveis, principalmente através de investimentos privados. Na área de energia promovida

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pelo vento há projetos a serem realizados em cooperação com países como a Alemanha, a Dinamarca, a Espanha e o Japão (U.S. Commercial Service, 2017).

A República da África do Sul possui um dos maiores potenciais para geração de energia renovável do mundo, tanto eólica quanto solar. Contudo, essa fonte de energia representa uma parcela ínfima no total gerado pelo país devido a problemas como a forte indústria nuclear, cujos empresários possuem fortes laços com o governo, e a infraestrutura em grande parte despreparada para transmitir energia a longas distâncias (KOHL, 2015).

A pequena República do Tadjiquistão possui papel estratégico para a República Popular da China na região. Fazendo divisa com a província chinesa de Xinjiang, o país é uma das mais importantes vias de acesso de produtos vindos da Asia Central por trem, caminhões ou gasodutos e oleodutos. A maior parte da energia do país provém de fontes hidrelétricas, sendo que estas são pouco aproveitadas, utilizando-se apenas de 5% do potencial hidrelétrico do país. A república possui um déficit energético, tendo de importar eletricidade e insumos como petróleo para seu abastecimento. A melhoria de estradas e linhas de transmissão, e construção de hidrelétricas é de suma importância para o desenvolvimento econômico do Tadjiquistão, bem como para a melhoria do aproveitamento da sua localização estratégica (LONG, 2017).

A República Federativa da Alemanha figura entre os líderes mundiais no quesito energias renováveis, sendo pioneira na transição energética. O país realiza massivos investimentos no segmento, além de tentar difundi-los internacionalmente. Isto é feito através de Investimento Estrangeiro Direto (IED), parcerias empresariais e transferência de conhecimento (ENERGY TRANSITION, 2018).

A República Islâmica do Irã é uma nação isolada em respeito às relações comerciais e políticas, principalmente devido às diversas sanções econômicas impostas por diversos países que não concordam com o seu regime islâmico (especialmente os Estados Unidos e países da União Europeia). O isolamento restringe possibilidades de desenvolvimento e investimentos no país. A atividade mais importante e lucrativa é a extração e o refino de petróleo. Há também uma vasta reserva de gás natural e de carvão (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018). A eletricidade provém 83% desses combustíveis fósseis. As hidrelétricas produzem a única energia significativa gerada a partir de fontes renováveis, 13.9% (CIA World Factbook, 2018). Há também geração de energia nuclear, que apesar de oficialmente servir a propósitos pacíficos, causa transtornos no cenário internacional. Parceiros comerciais incluem o Iraque, a China, a Turquia e a Alemanha (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018).

A República Islâmica do Paquistão possui quantidades moderadas de recursos naturais, incluindo carvão e petróleo. A mineração de carvão é um das indústrias mais antigas do país. Grande parte da energia provém da queima de combustíveis fósseis. Grandes progressos, no entanto, têm sido alcançados na área de energia hidráulica (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018). Para impulsionar o desenvolvimento dessas opções energéticas, existe um projeto em andamento com a China parainvestimentos em energia e outros projetos de infraestrutura no valor de 60 bilhões de dólares (CIAWORLD FACTBOOK, 2018).

A República Italiana é um país com poucos recursos naturais. Pequenas quantidades de ferro, carvão, petróleo e gás natural são encontradas no território. Devido a essa limitação, a nação recorreu ao desenvolvimento de outras energias. Desde o século XIX, uma das alternativas foi a energia hidráulica, que hoje não consegue mais suprir totalmente as necessidades da população. Outra área na qual o investimento vem crescendo, a fim de suprir essa demanda, é a de energia geotérmica (ENCYCLOPEDIA BRITANNICA, 2018). A Estratégia Nacional da Itália para Energia, pretende, até 2030, reduzir as emissões de gases nocivos liberados por combustíveis fósseis em 80%, comparando com dados de 1990. Para alcançar esse objetivo, o país pretende, entre outras medidas, dobrar os investimentos em pesquisa sobre energia limpa, bem como diminuir o custo dessas opções renováveis (MINISTERO DELLO SVILUPPO ECONOMICO, 2017).

A República Popular da China tem sustentado taxas de crescimento econômico elevado nas últimas três décadas, alcançando a 2ª posição mundial em 2011, atrás apenas dos Estados Unidos (TREVISAN,

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2011). Tal crescimento levou a um aumento da demanda por recursos naturais e energéticos. A expansão da infraestrutura em zonas ricas em petróleo e gás, como a Ásia Central e a Rússia, são de vital importância para a sustentação do crescimento chinês nos próximos anos (PORTUGUESE PEOPLE, 2017).

O Uzbequistão se configura enquanto o país responsável pelo maior consumo de energia da região da Ásia Central. Em virtude da substancial presença de gás natural e petróleo em seu território, grande parte da energia utilizada pelo país ainda depende muito de combustíveis fósseis. Mesmo o governo incentivando a produção de energia via fontes não-renováveis, subsidiando 61% do valor total gasto com a produção energética. Contudo, o Uzbequistão apresenta grande potencial no que diz respeito à utilização da energia solar, o que vem chamando a atenção do país nos últimos tempos. Medidas como isenção de uma série de impostos para produtores desse tipo de energia e a própria construção de estações de produção de energia solar já fazem parte da realidade uzbeque (NABIYEVA, 2015).

Posicionando-se de maneira contrária ao restante da região, o Turcomenistão é o país mais relutante em aderir fontes renováveis em sua matriz energética. O país possui uma das maiores reservas de gás natural do mundo e tem como objetivo desenvolver esse setor tradicional de energia, através de investimentos estrangeiros diretos19 e exportação da matéria-prima - que tem como principal consumidor dessas exportações a Rússia (NABIYEVA, 2015).

A República da Turquia também se enquadra na lógica de baixos investimentos no setor de energia renovável. O país apresenta apenas 5% de sua energia elétrica gerada por meio de fontes renováveis. Para transformar essa realidade, o ano de 2005 marcou a criação da Lei da Energia Renovável, a qual estabelece metas para intensificar a utilização de combustíveis renováveis na geração de energia elétrica; dentre essas metas, pode-se destacar a produção de 30% da energia elétrica produzida no país gerada por meio de fontes renováveis e o uso de todo o potencial hidráulico destinado também à produção de eletricidade, ambas com prazo final para 2023 (YAZAR, 2013).

O Reino da Arábia Saudita é muito conhecido por sua economia bastante dependente da indústria petrolífera. O fato de se constituir enquanto possuidor da segunda maior reserva de petróleo do mundo, além de ter apresentado uma representação desse produto de mais de 80% de suas exportações em 2016 comprovam a importância do recurso tanto para a obtenção de renda como para a própria produção de energia (HARVARD UNIVERSITY, 2018). Contudo, a Arábia Saudita pretende ter de 20% a 30% de sua produção total de energia provinda de fontes renováveis - especialmente energia solar - até 2023 (IEA, 2018).

A Ucrânia possui diversas tensões políticas com a Rússia, que afetam diretamente o fornecimento de gás para toda a União Europeia. O país está localizado entre a Rússia e o restante da Europa, e é travessia para os principais gasodutos e oleodutos que abastecem os europeus (IEA, 2018). Além disso, a Ucrânia possui matriz energética predominante de carvão, gás natural e energia nuclear, importando grande parte dessa energia dos russos.

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Como conciliar transição energética com desenvolvimento econômico?

(2) Quais devem ser as prioridades de investimento do Banco?

(3)O Banco deve focar os investimentos no setor de produção de energia, no setor de distribuição outratar ambas com igualdade de prioridades?

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAIIB. About AIIB - Who We Are. 2018. https://www.aiib.org/en/about-aiib/index.html Accessed in May 03, 2017.

19 Investimento estrangeiro direto é uma forma de investimento na qual empresas ou indivíduos no exterior criam ou adquirem negócios em outro país. (APEX, 2018).

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CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS DAS NAÇÕES UNIDAS

A Intolerância Religiosa no Século XXI

Julia Maria Taboada Correia, Luana Alonso Xavier de Miranda, Natália Alves Dorneles, Natália Hedlund Jardim, Natascha Ramos Klein e Pedro Bandeira dos

Santos1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) Que medidas este comitê pode tomar para lidar com os casos de intolerância e perseguiçãoreligiosa que efetam diversos indivíduos e grupos atualmente?

(2) Como os países deste comitê podem agir interna e externamente para garantir que o direitoà liberdade religiosa seja respeitado?

APRESENTAÇÃODireitos humanos são universais (aplicáveis sem distinção e discriminação) e inalienáveis (não

podem ser cedidos ou abdicados). Eles incluem o direito à vida, à liberdade de opinião e de expressão, o direito ao trabalho e à educação, entre muitos outros. Nas Nações Unidas, o Conselho de DireitosHumanos é o principal aparato das Nações Unidas responsável pela tomada de decisões relativas àviolação de direitos humanos ao redor do globo, trabalhando para divulgar e proteger esses direitos noâmbito internacional. Criado pela Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) em 2006, o Conselhoé composto por 47 Estados-membros eleitos pela AGNU. Em seus encontros – que acontecem emGenebra, Suíça – o Conselho responde às emergências que concernem aos direitos humanos e fazrecomendações visando solucionar os possíveis problemas e aprimorar a implementação destes direitosno contexto de cada Estado1.

Este comitê irá debater a questão da tolerância religiosa no século XXI. Apesar do forte empenho das organizações internacionais, especialmente do Conselho de Direitos Humanos da ONU, em promover a tolerância e o respeito às diversidades, os casos de perseguição religiosa são problemas que persistem no âmbito global. Leis e normas internacionais não caracterizam perseguição religiosa como um crime contra a humanidade, impossibilitando medidas e julgamentos de maior vigor contra essas ações; nesse contexto, torna-se fundamental discutir como os governos, milícias e grupos não-estatais atuam na violação da liberdade religiosa e como tais conflitos podem ser solucionados.

1 HISTÓRICO

1.1 AS PRINCIPAIS RELIGIÕES DO MUNDOA história das religiões é a história da vida humana. De acordo com o sociólogo Émile

Durkheim (1996) é impossível afirmar que uma sociedade ou população tenha deixado de criar um sistema religioso, mesmo que de forma pouco complexa. Religiões são formadas por crenças e práticas que unem uma comunidade, e nenhuma delas iria perdurar se não contasse com o apoio da população, de seus seguidores – em outras palavras, a religião é um fenômeno social e individual. Atualmente, existem milhões de religiões espalhadas pelo mundo (vide mapa abaixo) (STELLA, 1965).

Figura 1: As Religiões do Mundo

Fonte: Kids Maps, 2017. Disponível em: <www.kidsmaps.com/religions-of-the-world/>. Acesso em: 2 mar. 2018.

1 ONU. A ONU e os Direitos Humanos. Disponível em: https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/sistemaonu/

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O Judaísmo foi a primeira religião monoteísta que se estabeleceu no Oriente. A Sinagoga é o templo onde fiéis se reúnem para a prática de leitura e rezas do Torá, o conjunto de livros sagrados (ARMSTRONG, 2009). O Holocausto, ato que matou milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial, e acirrou maiores batalhas acerca da expulsão dos povos na Palestina, deixou sua marca na história judaica, onde ainda é possível verificar as consequências em conflitos religiosos no Oriente Médio (ARMSTRONG, 2009). O Cristianismo, a maior religião do mundo, surgiu na época do Império Romano (Séc I e II), e propagou-se mundo afora por meio das Cruzadas2 e da conquista e catequização de povos indígenas pelos colonizadores europeus (ARMSTRONG, 2009). Baseada numa crença monoteísta organizada pela Igreja, esta religião tem como figura central Jesus de Nazaré, o cristo ou messias, e seu principal instrumento sagrado é a Bíblia cristã. As três correntes do Cristianismo, ortodoxa, católica e protestante, possuem cada uma sua própria Igreja, e contam com práticas e interpretações variadas do texto bíblico. Hoje, o Cristianismo conta com mais de 2 bilhões de adeptos, a maior parte dos quais estão na Europa, na África e na América.

A segunda maior religião mundial, o Islamismo ou Islã é uma crença monoteísta, baseada nos ensinamentos do profeta Maomé e em suas recitações da palavra de Deus, que formam o livro sagrado Alcorão. Os seguidores do Islã denominam-se islâmicos ou muçulmanos, e a maior parte dos adeptos vive no norte da África, no Oriente Médio e na Ásia Central. Com origem na Arábia Saudita em nos anos 600s, a religião é muitas vezes tida como sinônimo da etnia árabe; contudo, nem todos os árabes seguem o Islamismo, e nem todos os muçulmanos são árabes (talvez o principal exemplo seja a Indonésia3) (ARMSTRONG, 2009).

Além do Islamismo, o Hinduísmo e o Budismo possuem grande influência no mundo todo. O Hinduísmo originou-se na Índia, onde hoje está localizada a maior população adepta, por volta de 3000 A.C. Nesta religião é possível verificar que a crença é uma união de diferentes manifestações culturais e religiosas. No Hinduísmo não há um instrumento principal ou somente um Deus, seus fiéis acreditam em vários deuses da mitologia como Ganesha e Shiva (SILVEIRA, 2005). Já o Budismo, religião fundada por Buda, foi criada em meados do século VI. Seus seguidores são guiados por seus ensinamentos e acreditam na libertação do corpo e da alma, atraindo apenas o necessário e livrando-se de tudo que é material. No Budismo não há um Deus, pois Buda acreditava que nenhuma divindade devesse ser adorada e sim apenas um guia espiritual nas suas crenças e práticas.

Com mais de 100 milhões de adeptos espalhados pelo continente africano, as religiões tradicionais africanas, preservam manifestações culturais, religiosas e espirituais originárias do território. Transmitidas oralmente, na maior parte da sua existência, as religiões africanas foram levadas para as Américas pelos escravos africanos onde se difundiram em inúmeras mitologias como conhecemos atualmente, sendo um exemplo a dos orixás, a mitologia congo e a mitologia fon (PEW RESEARCH CENTER, 2010).

1.2 A INTOLERÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIAAs primeiras manifestações de intolerância e dominação religiosas que ganharam fama histórica

foram as Cruzadas. Um movimento militar patrocinado por reis, por nobres e pela Igreja Católica visando a retomada e ocupação da Terra Santa4, as Cruzadas traziam consigo a promessa de que, se os cristãos lutassem e exterminassem todos os infiéis, seriam recompensados com o paraíso e receberiam o perdão de todos os seus pecados (WILLIAMS, 2007). A cidade de Jerusalém, localizada em Israel, éo principal lugar sagrado para as três religiões abraâmicas (cristianismo, judaísmo e islamismo) e aocupação da cidade pelos Cruzados foi o estopim de intensos conflitos5 entre essas religiões na IdadeMédia. Além de causar milhares de mortes, as Cruzadas foram um fracasso no que diz respeito àconquista da Terra Santa para os cristãos (FERREIRA, 2010).

Outros importantes exemplos de manifestações de intolerância ocorreram após a Reforma 2 As Cruzadas foram movimentos militares de cunho cristão que partiram da Europa com o objetivo de colocar a Terra Santa (referencia a Palestina) e Jerusalém sob domínio do Cristianismo. Estes movimentos desencadearam-se entre os séculos XI e XIII, época em que a região estava sob influência dos muçulmanos. 3 O Islamismo se originou dos povos árabes, porém ao tratarmos da religião é importante notar que ser árabe não torna os indivíduos muçulmanos. Este fato pode ser exemplificado pelo caso da população da Indonésia, que possui uma das maiores civilizações muçulmanas, porém em sua maioria não pertencem à etnia árabe. 4 Dividida entre Israel, Cisjordânia e Jordânia, é uma área com grande valor histórico e espiritual para as três grandes religiões monoteístas.5 A disputa pela dominação de Jerusalém ainda é considerada um dos motivos de instabilidade no Oriente Médio.

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Protestante6, em 1517. Nos primeiros períodos pós-Reforma, os cristãos anabatistas7 usaram de violência contra os católicos, destruindo igrejas e imagens santas, o que resultou em sua perseguição não apenas pelos católicos como também por outros protestantes. Ainda no século XVI, protestantes foram arduamente perseguidos e executados pela Rainha Mary I da Inglaterra: católica, ela reverteu todas as leis anti-catolicismo de seu pai Henry VIII e de seu irmão Edward VI, passando a repreender todos os indivíduos praticantes de um credo diferente.

Por fim, talvez o mais conhecido exemplo de preconceito religioso seja a perseguição contra os judeus na Europa. No século I D.C., durante a dominação de parte do Oriente Médio pelo Império Romano, o povo judeu foi expulso de suas terras devido às suas lutas por independência. Seis séculos depois, o Islã dominou a Palestina, que então foi ocupada pela população árabe, enquanto os judeus tornaram-se um “povo sem país.” Esse povo fugiu em massa da Palestina, espalhando-se ao redor do mundo na chamada diáspora. Muitos estabeleceram-se no continente europeu durante a Idade Média, período no qual a Igreja Católica teve grande controle sobre a vida da população, ditando normas e princípios a serem seguidos. Autoridades católicas, comandando a Inquisição, perseguiam infiéis, muitas vezes judeus, e os puniam com tortura ou morte. Desde lá, o sentimento discriminatório não cessou; foi somente após o horror do Holocausto da Segunda Guerra Mundial que o mundo simpatizou com o movimento sionista judeu de busca por um Estado próprio. Hitler, líder da Alemanha Nazista, comandou o envio de judeus a campos de concentração e de extermínio, por acreditar que esse povo era uma raça “impura” que ameaçava a raça ariana. Em 1948, a ONU, respondendo às reivindicações judaicas, criou o Estado de Israel na região da Palestina, com a qual judeus acreditavam ter uma conexão histórica (BBC, 2017).

1.3. O FUNDAMENTALISMO, O QUE É E COMO SURGIUAo deliberar sobre intolerância religiosa, torna-se imprescindível discutir o que é e como se

constrói o fundamentalismo religioso. Segundo Panasiewicz (2008), o fundamentalismo usa o retorno ao passado religioso e à interpretações estritamente religiosas da realidade para formular uma crítica à modernidade, à razão, à ciência e à inovação. É, portanto, “um movimento crítico às inovações trazidas pela modernidade a partir de uma narrativa sagrada e de um monopólio de interpretação balizado pela religião” (PANASIEWICZ, 2008, p. 2). A conjuntura na qual o fundamentalismo se insere é vastíssima, portanto, ele não deve estar atrelado a uma única religião, pois está presente em todas. A maioria dos grupos fundamentalistas faz uso do terrorismo como ferramenta política; entretanto, ambos os conceitos não podem ser usados como sinônimos, pois nem todos os fundamentalistas utilizam o terrorismo e nem todos os terroristas são fundamentalistas (BOTTA, 2007).

No fundamentalismo islâmico, os traços comumente encontrados são o recurso ao Islã como elemento definidor da identidade e pertencimento a um grupo, a crítica absoluta à modernidade ocidental em todos os seus âmbitos, e o retorno a um Islã “puro e ideal”. Muitos jovens e populações na periferia do estado são atraídos por essas ideias, estimulados pela busca por empoderamento e inclusão; a radicalização desses movimentos é o principal combustível para o nascimento de grupos terroristas no Oriente Médio.

No que diz respeito ao fundamentalismo cristão, a noção principal é de que a verdade absoluta e incontestável encontra-se na Bíblia; qualquer interpretação humana e que fuja do entendimento bíblico seria ofensiva a Deus, o que dá à Bíblia um caráter milenar, imutável e praticamente inalcançável pelo ser humano. Segundo Panasiewicz (2008), o fundamentalismo cristão se apresenta através de quatro pilares: o princípio da inerrância (não há erros na palavra de Deus), a falta de importância da Razão nos saberes bíblicos, o princípio da superioridade da lei divina sobre a lei terrena e o mito da fundação da identidade do grupo (ou seja, os escolhidos por Deus). Dessa forma, os grupos fundamentalistas cristãos buscam trazer de volta o cristianismo tradicional para o seio das famílias, defendendo o fim do ensino científico nas escolas e a inserção da oração nas instituições de ensino públicas. A discriminação de outros credos baseada no sentimento de superioridade divina também é recorrente, resultando em situações por vezes degradantes e ofensivas à fé e ao modo de vida de outros indivíduos (PANASIEWICZ, 2008). O fundamentalismo judaico, por sua vez, insere-se muito mais nas questões culturais políticas, militares e manutenção do poder estatal do que na religião propriamente dita. A terra prometida

6 Movimento encabeçado por Martinho Lutero com a publicação das 95 teses, e que visava reformar o cristianismo, antes lide-rado pela Igreja Católica.7 Seguimento mais radical da Reforma.

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do Antigo Testamento, os exílios impostos, a perseguição aos judeus e o holocausto são momentos sempre lembrados, e buscam legitimar a visão de Israel em relação a Palestina. Além disso, há o apoio incondicional dos EUA ao Estado de Israel, promovendo, juntamente com a mídia internacional, uma visão quase romantizada da história dos judeus, principalmente em relação ao holocausto. Segundo Santos, “diversos intelectuais, inclusive israelenses, consideram tal visão promovida pela indústria cultural como excessiva ou até fantasiosa, manifestando que o que está por detrás da demonização árabe e angelização judaica é uma questão política com raízes no fundamentalismo” (2015, p. 75).

1.4. A CONSTRUÇÃO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS Em 10 de dezembro de 1948, a Assembleia Geral das Nações Unidas promulgou a Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) (UNICEF, 2018). Motivada, entre outros fatores, pela necessidade de uma convivência pacífica entre crenças, a DUDH prevê o diálogo inter-religioso, com o objetivo de que diferentes grupos religiosos trabalhem em prol de um fim e esforço comuns: o bem-estar a longo prazo da humanidade. Para isso, o documento reconhece o direito à dignidade, à justiça e à liberdade a todos da civilização humana (ONUBR, 2016). A criação da Declaração Universal de Direitos Humanos deu-se após tempos sombrios, quando duas guerras mundiais ameaçaram não só a sobrevivência humana, mas também do planeta em si. Viu-se, então, a necessidade de garantir uma futura “paz mundial” que somente foi “atingida” na Conferência de Yalta em 1945, quando foi estabelecida a criação de uma organização que pudesse promover e fortalecer a paz e os Direitos Humanos, a ONU (ONUBR, 2016). Com o intuito de garantir a neutralidade de um documento que promovesse direitos iguais perante todos os seres humanos, uma das primeiras ações internas da ONU foi a criação da Comissão sobre o Status da Mulher, principal órgão de decisão política dedicado à igualdade de gênero, avanço das mulheres e garantia da efetivação do projeto da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONUBR, 2016). Embora os Estados signatários não sejam legalmente obrigados a seguir as determinações da DUDH, a Declaração serviu como base para outros tratados da ONU de força legal, como o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos8. É importante notar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um dos documentos mais traduzidos do mundo, estando disponível em mais de 500 línguas (UNITED NATIONS, 2016). Dentre seus 30 artigos, destacam-se dois que dão base ao debate sobre intolerância religiosa no século XXI. O Artigo II afirma: “Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição” (UNICEF, 2018, grifo nosso). O artigo XVIII, por sua vez, argumenta que “todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião”, incluindo a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestá-las pelo ensino, pela prática e pelo culto em público ou em particular (UNICEF, 2018). Ambos os artigos ressaltam o direito à liberdade de qualquer espécie e garantem o direito de exercê-la. Este é o objetivo no presente Comitê de Direitos Humanos: a defesa dos direitos das civilizações sem distinguir credo, raça ou etnia.

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Comunidades religiosas viveram momentos de conflito e de convivência pacífica durante a história da humanidade. A associação de indivíduos em grupos e sua expansão ao longo da história resultaram na formação de civilizações, nas quais seus membros compartilham da mesma cultura, valores, costumes, crenças e instituições. Nesse contexto, a religião representa um elemento muito importante para a cultura de um povo, pois ela determina os valores morais que regem seus seguidores. Entre os exemplos de civilizações estão a Islâmica, Chinesa e Cristã. Suas diferenças são muito substanciais, pois elas são resultado de anos de desenvolvimento de uma cultura e tradição comuns, superando a rivalidade ideológica que caracterizou o período da Guerra Fria9 (1945-1991). Samuel Huntington, cientista político estadunidense, argumentou em sua teoria sobre o mundo pós Guerra Fria que os 8 Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos é um dos três instrumentos que constitui a Carta Internacional dos Direi-tos Humanos para estabelecer as 3 prioridades mundiais: a paz, o desenvolvimento e a democracia.9 A Guerra Fria foi um conflito majoritariamente político e ideológico entre duas Superpotências: Estados Unidos, que coman-davam o bloco Capitalista, e União Soviética (hoje Rússia), que era líder do bloco Socialista (EDITORS, 2018).

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conflitos que marcariam o século XXI seriam causados pelo choque entre civilizações; ou seja, entre diferentes visões de mundo representadas e propagadas pelas religiões e culturas (KAPLAN, 2001).

Hoje em dia, as civilizações não são divididas territorialmente. Indivíduos que se identificam com diferentes religiões convivem na mesma sociedade, podendo um muçulmano ser vizinho de um cristão, ou um judeu ser colega de aula de um muçulmano. No mundo globalizado atual, notícias são divulgadas e espalhadas para todas as partes do globo em questão de segundos. As reações a ataques terroristas, por exemplo, tomam forma de discursos preconceituosos e intolerantes, propagados pela sociedade e até por governos, temas que serão expostos mais adiante nesta seção. Além disso, abordaremos alguns dos conflitos religiosos do século XXI e falaremos sobre as dificuldades enfrentadas em reuniões da ONU ao tentar conciliar as diferenças culturais e religiosas entre os países.

2.1. CONFLITOS RELIGIOSOS DO SÉCULO XXIA razão por trás de uma grande parte dos conflitos armados existentes é relacionada à intolerância

religiosa. Samuel Huntington (apud KAPLAN, 2001) defende que a religião é a força mais ameaçadora no cenário internaciona, o que pode ser evidenciado no conceito de terrorismo, tópico que vem ganhando muita atenção na comunidade internacional desde o atentado de Onze de Setembro de 2001, quando dois aviões, ao colidirem com as Torres Gêmeas de Nova Iorque, destruíram os edifícios e provocaram a morte de aproximadamente três mil pessoas (SOUSA, 2013). A partir desse evento, discussões sobre ataques terroristas, além de atos e discursos de intolerância por parte dos atores envolvidos, tornaram-se recorrentes na mídia, em discursos políticos e em instituições de ensino. É justamente com base na intolerância que os terroristas agem, ameaçando a vida de indivíduos que não compartilham da mesma visão que eles. Mais especificamente, um ato terrorista é um ato criminoso, motivado por razões políticas, com intenção de provocar medo e terror ao público geral ou a um grupo de pessoas, sendo todos esses atos injustificáveis em qualquer circunstância (ONU, 1995).

A chamada Guerra ao Terror coloca Cristãos contra Muçulmanos em uma luta por afirmação de crenças e visão de mundo. Todavia, os interesses dos atores envolvidos vão além dos religiosos. Os Estados Unidos e a Europa são identificados como representantes do Ocidente e dos valores ocidentais por parte de grupos jihadistas, como Al-Qaeda, Talibã, Estado Islâmico (ISIS) e Boko Haram. Esses grupos são conhecidos por propagar o conceito de “jihad,” uma guerra santa contra a dominação ocidental e infiéis, uma luta pelo retorno do Islã original, e uma defesa dos islâmicos contra ataques ocidentais. A Al-Qaeda, o Talibã e o Estado Islâmico concentram suas ações no Oriente Médio e Ásia, enquanto o Boko Haram atua na África. Esse grupo jurou lealdade ao Estado Islâmico e compartilha do seu objetivo, a criação de um Califado10 (ESTADÃO, 2017). É importante ressaltar que o ISIS pertence ao ramo Sunita da religião, e que atenta contra a vida daqueles que considera infiéis: tanto o povo cristão quanto os Xiitas, outro ramo do islamismo11. Portanto, a intolerância religiosa não se dá somente entre diferentes religiões, mas também entre grupos discordantes dentro de uma mesma religião.

Um dos conflitos mais complexos do século XXI, entre Israel e Palestina, é resultado de milhares de anos. O plano de partilha da Palestina, promovido pela ONU em 1947, incluía a partilha da região entre judeus e árabes, cada um possuindo parte do território. Jerusalém, cidade sagrada para ambas as religiões, foi dividida em 1948, mas, desde 1967, o governo de Israel tem controlado-na por inteiro. Devido às expansões territoriais israelenses, os palestinos perderam posse de diversas áreas que lhes foram designadas no Plano de Partilha da ONU, como Jerusalém Oriental, Cisjordânia (a leste) e Faixa de Gaza (a oeste, na costa do país). O processo de expansão judaico gerou insatisfação de países árabes vizinhos à medida em que mais e mais palestinos vinham buscando refúgio em outras nações islâmicas. Diversas guerras entre judeus e palestinos ocorreram, e a situação atual é preocupante e se encontra longe de um acordo de paz. Os palestinos reivindicam a criação de um Estado próprio que respeite as fronteiras previstas pelo plano de 1948, mas Israel não está disposto a aceitar. Na Cisjordânia, os judeus promoveram um processo de assentamento, ato ilegal sob a lei internacional de expansão de sua

10 A estrutura histórica e legendária propagada pelo ISIS (Estado Islâmico do Iraque e Síria, em inglês) de instituir um califado consiste em retomar o grande império Muçulmano criado após a morte do profeta Maomé, em 622, quando o Islã dominou partes da Europa, África, Oriente Médio e Ásia. Nesse califado, o governo seria baseado em uma interpretação radical da lei islâmica, a qual prega que os infiéis devem ser punidos e exterminados. (ESTADÃO, 2017).11 Após a morte de Maomé, o povo muçulmano se dividiu entre os que achavam que o novo líder deveria ser escolhido pelo povo (Sunitas) e os que acreditavam que o sucessor deveria ser da família do Profeta (Xiitas). Enquanto 90% dos muçulmanos são Sunitas, ramo ortodoxo e tradicionalista do Islã, os outros 10% são Xiitas. Os subgrupos diferem na interpretação do Corão e em algumas práticas religiosas (DIFERENÇA, 2018).

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dominação territorial por meio de povoamento humano sem o consentimento dos moradores originais. que diminuiu substancialmente a Cisjordânia. Além disso, Israel mantém um bloqueio por ar, mar e terra que restringe o acesso de produtos e pessoas à Faixa de Gaza, no lado oeste do país. As ações judaicas atentam contra a segurança e bem-estar do povo palestino, o qual é proibido de circular em diversas áreas do país e possui acesso limitado à eletricidade, água e comida. Ou seja, não é só o direito à liberdade de religião que é infligido, mas também o direito de ir e vir do povo palestino e o direito a uma vida digna, com condições básicas para sobreviver (BBC, 2017).

Figura 2: Expansão do domínio Israelense ao longo dos anos

Fonte: MAZZIOTTI (2014)

2.2 GOVERNOS E INTOLERÂNCIA RELIGIOSAMuitas vezes acredita-se que a separação entre Estado e religião garante a não discriminação

religiosa e que, necessariamente, o estabelecimento de uma religião pelo Estado leva à discriminação de outras religiões. Entretanto, a realidade não é tão simples assim. Durante séculos, havia uma relação próxima em quase todos os países entre o Estado e a religião predominante. Esta religião gozava de um status especial e, não raramente, o reconhecimento da religião predominante levava à exclusão total de todas as outras religiões, ou pelo menos à sua redução para uma posição subordinada (KRISHNASWAMI, 1960). Hoje, muitos Estados declaram-se laicos, ou seja, não mais possuem uma religião oficial. Entretanto, muitos destes Estados que se dizem laicos criam leis e realizam ações que acabam por promover a intolerância religiosa.

Como exemplo, devido a ataques e ações terroristas, muitos Estados acreditam que certas práticas e vestimentas religiosas podem conflitar com os requerimentos de ordem pública e segurança nacional. Por isso, estabelecem medidas que limitam a prática de certas religiões. Do mesmo modo, as autoridades públicas muitas vezes utilizam seus poderes financeiros, ou seja, o poder de cobrar impostos e aplicar multas, como uma arma de discriminação. Do ponto de vista do indivíduo, certas medidas fiscais podem ser discriminatórias porque o obrigam a apoiar uma religião à qual não pertence, como acontece em alguns países europeus, que transferem certa porcentagem dos impostos para as religiões apoiadas pelo Estado (KRISHNASWAMI, 1960).

De acordo com o Artigo XVIII da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, o qual inclui a liberdade de mudar e manifestar essa religião ou crença, através do ensino, prática, culto e observância, em público ou em particular. Desse modo, as autoridades públicas devem garantir a liberdade de todos para manter, mudar ou manifestar sua religião ou crença, seja individualmente ou em comunidade (ONU, 1948).

Entretanto, muitas vezes medidas governamentais acabam por limitar a liberdade religiosa de seus residentes. Como exemplo, em 11 de outubro de 2010, foi promulgada na França uma lei cujo primeiro artigo proíbe que qualquer vestimenta destinada a cobrir o rosto seja usada em espaços públicos ou locais abertos ao público. Com base nisso, um comitê estatal criado para estudar a aplicação do princípio da laicidade emitiu um parecer em relação ao véu islâmico com base nesta lei. Segundo o comitê, o uso do véu islâmico traduz a busca da teocracia e a submissão da mulher perante o homem, indo contra os valores democráticos ocidentais, mais especificamente contra a igualdade como valor constitucional da república francesa. Além do mais, o comitê apontou também a correlação entre o

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aumento do uso do véu e o radicalismo político islâmico, validando a proibição (GUÉRIOS; KAMEL, 2014).

Deve-se esclarecer que nem todas as espécies de véu islâmico foram proibidas, somente aquelas que cobrem o rosto, a burca e o niqab. Ademais, somente a polícia francesa tem o direito de abordar mulheres usando o véu, e nenhuma mulher pode ter seu véu retirado à força. Os casos de desobediência devem ser reportados ao juiz local, que então pode aplicar uma multa (GUÉRIOS; KAMEL, 2014).

Figura 3: Países com Violações Significativas da Liberdade Religiosa

Fonte: ACN (2016)

2.3 DISCURSOS DE INTOLERÂNCIAHá alguns anos a ascensão política e eleitoral de discursos racistas, xenófobos, fascistas e de

extrema-direita pelo mundo tornou-se evidente. Os Estados Unidos e países da Europa e América Latina vivenciaram a tomada de poder de presidentes e primeiros-ministros adeptos a uma linha política mais rígida e conservadora, focada em “nacionalismo” - na Europa, por exemplo, é a primeira vez desde os anos 1930 que a extrema-direita alcança tal influência na política (LÖWY, 2015).São diversas as possíveis explicações para tal avanço, algumas focando nas crises econômicas que afetaram diversos países, outras na conjuntura internacional e no crescente número de ataques terroristas, que desencadearam uma mudança de opinião e pensamento por parte da população. O que os sentimentos nacionalistas nesses países têm em comum é sua aversão aos imigrantes e refugiados, em grande parte causada pelo medo do terrorismo e pela insegurança financeira e sentimento de impotência existente entre certos grupos. Desse modo, discursos conservadores são favoráveis a medidas autoritárias contra a “insegurança” (usualmente associada a imigrantes) por meio do aumento da repressão policial e outras medidas restritivas (LÖWY, 2015).

Como exemplo, podemos citar a ordem executiva expedida pelo atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ainda durante sua campanha, Trump pediu um bloqueio da imigração muçulmana, afirmando que os muçulmanos eram um problema. Uma semana após sua posse, Trump emitiu uma ordem executiva que proibiu a entrada de pessoas de sete nações majoritariamente muçulmanas (Iraque, Irã, Somália, Sudão, Iêmen, Síria e Líbia) nos EUA; o presidente também ordenou a suspensão do programa de refugiados dos Estados Unidos e o bloqueio da entrada de refugiados vindos da Síria (ACLU, 2017).

Apesar de a Constituição estadunidense proibir o governo de condenar qualquer religião em particular, argumentando que escolher um lado entre as religiões acaba por isolar e excluir outros grupos, levando a perigosas divisões sociais, o banimento da entrada de cidadãos dos 7 países mencionados entrou em vigor. Com isso, uma enorme quantidade de pessoas teve o acesso aos Estados Unidos barrado e famílias foram separadas (LÖWY, 2015).

2.4 DESAFIOS JUNTO À ONUSão diversos os desafios à luta por uma sociedade mais igualitária, livre de intolerância e

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preconceito, em especial no que se trata de conflitos religiosos, que mobilizam não só Estados, mas também indivíduos. Em sua raíz, o Estado é formado por indivíduos, e o seu dever é protegê-los; para atingir esse objetivo, governos não devem limitar, mas sim garantir as liberdades individuais delineadas pela Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH) de 1948. Entretanto, os artigos presentes nesse documento refletem valores que foram cultivados por anos na parte Ocidental do mundo, onde o conceito de individualismo e de garantia de liberdades individuais está muito enraizado. Enquanto isso, pensamentos distintos foram cultivados em outras partes do mundo, como resultado de seus hábitos e crenças, de suas culturas. Tentando abranger e dialogar com diferentes grupos religiosos, o processo de escrita da DUDH contou com a participação de pensadores de diversas partes do mundo, porém, hoje ainda há divergências quanto à interpretação do documento por parte de governos e de suas populações (PFAFF, 2006).

Não é à toa que acordos econômicos, políticos e alianças militares sejam mais prováveis de acontecer entre países culturalmente parecidos, pois é mais fácil chegar a um acordo. Quando o assunto é a garantia de direitos humanos universais, o próprio nome já diz a quem eles se aplicam: a todo e qualquer indivíduo, independentemente de raça, cor, sexo, língua, opinião política, nacionalidade, fortuna, ou religião. Todavia, devido às divergências entre sociedades, há países onde direitos humanos têm sido violados ou limitados, cabendo à ONU e ao Conselho de Direitos Humanos discutir e propor soluções para essas situações. Desse modo, a melhor maneira de conduzir esse processo não é por meio da imposição de valores e crenças, mas sim por meio do respeito e tolerância a outras sociedades e a suas culturas e visões de mundo. É essencial que os membros do Conselho levem sempre em consideração que as divergências religiosas não são irreconciliáveis, e que o diálogo é a melhor ferramenta para promover cooperação entre a comunidade internacional. (DECLARAÇÃO, 1948).

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIASNo dia 25 de novembro de 1981, a Assembleia Geral da ONU - o principal órgão decisório das

Nações Unidas - proclamou a Declaração sobre a Eliminação de Todas as Formas de Intolerância e Discriminação Baseadas na Religião ou nas Crenças. O documento, além de garantir a qualquer cidadão o direito de escolher sua religião, caracterizou a intolerância e discriminação religiosa como sendo “todaa distinção, exclusão, restrição ou preferência fundada na religião ou nas convicções e cujo fim ou efeitoseja a abolição ou o fim do reconhecimento, o gozo e o exercício em igualdade dos direitos humanos e dasliberdades fundamentais” (UN, 1981). Além disso, em 2011, o Conselho de Direitos Humanos da ONUaprovou a Resolução 16/18, que reafirma sua forte preocupação com os estereótipos e as perseguiçõesreligiosas, principalmente quando toleradas pelo governo (UN, 2011).

Em 2012, foram estabelecidas as principais responsabilidades de líderes religiosos em contrariar a incitação ao ódio, com base no Plano de Ação de Rabat. O Plano, estabelecido no documento de resolução da reunião da Assembleia Geral da ONU, em janeiro de 2013, proíbe o incitamento ao ódio por questões nacionais, raciais ou religiosas (ONU, 2013). O documento também reforça o apelo aos seguidores de todas as religiões para se unirem na defesa dos direitos fundamentais contra a discriminação e a violência.

Um dos principais esforços atuais, em âmbito mundial, no combate à intolerância religiosa, toma forma na Declaração de Beirute, criada em 2017 após uma reunião organizada pelo Escritório dos Direitos Humanos das Nações Unidas em Beirute, capital do Líbano. Seu propósito principal foi unir comunidades religiosas de várias religiões em prol do combate à intolerância e à discriminação. “Nosso objetivo é fomentar o desenvolvimento de sociedades pacíficas, onde a diversidade não é apenas tolerada, mas totalmente respeitada e celebrada”, disse o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein (AGENCY, 2017). Segundo ele, líderes religiosos, devido à sua grande influência nos corações e mentes de milhões de pessoas, são, potencialmente, atores de direitos humanos muito importantes. Entretanto, a soberania12 dos países dentro de seus territórios, somada à precária atuação de organismos internacionais na punição de casos de perseguição religiosa - especialmente porque tais organismos, como a ONU, não podem adentrar no território sem a permissão do governo -, impossibilita um avanço significativo na liberdade individual ao redor do mundo. Questões políticas e sociais se somam a aspectos religiosos, e a ascensão de governos autoritários e ditatoriais promove um aumento no desrespeito para com outras crenças e religiões; ainda, há diversos questionamentos acerca de países que

12 Soberania assinala a supremacia do Estado com relação à ordem interna e externa, ou seja, refere-se ao poder absoluto e perpétuo do Estado.

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afirmam, em suas constituições, que são um Estado Laico, não colocam em prática a definição do termo, que se refere a um Estado não confessional, ou seja, que não adota nenhuma religião ou crença específica como sendo própria e que distingue política e religião no âmbito público, garantindo a liberdade de cada um escolher sua religião ou crença, ou de não escolher nenhuma (FISCHMANN, 2012).

Os Estados Unidos possuem um órgão federal do governo, a Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos EUA (USCIRF), criada em 1998, que divulga anualmente um relatório sobre o quadro de perseguições e violações religiosas ocorridas no mundo todo. O relatório de 2017 pontuou em seu primeiro parágrafo:

A atual situação da liberdade religiosa internacional está piorando em todas as proporções devido às violações. Os flagrantes têm se tornando tão assustadores – tentativas de genocídios, morte de inocentes e ataques destrutivos a lugares de adoração – que abusos menos atrozes passam despercebidos. Muitos observadores têm ficado entorpecidos com as violações do direito à liberdade de pensamento, consciência e religião. (CORREIA, 2018, p.15, tradução nossa)

Nesta mesma edição, foram listados 16 Países de Preocupação Especial (Arábia Saudita, China, Coreia do Norte, Egito, Eritreia, Irã, Iraque, Myanmar, Nigéria, Paquistão, República Centro Africana, Síria, Sudão, Turcomenistão, Uzbequistão, Vietnã) , um a menos que no relatório de 2016. Vale ressaltar que a Rússia aparece pela primeira vez no relatório, pois, segundo a USCIRF, o governo russo utilizou sua lei “anti-extremismo” como meio de restringir a liberdade religiosa, sendo um dos grupos mais prejudicados as Testemunhas de Jeová. O relatório de 2018 adicionou 12 países (Afeganistão, Azerbaijão, Bahrein, Cuba, Egito, Índia, Indonésia, Iraque, Cazaquistão, Laos, Malásia e Turquia) que encontram-se no Segundo Nível de violações de liberdades religiosas menos graves, segundo a classificação feita pela Comissão.

Além disso, outros órgãos, como a ONG Liberdade Religiosa e a Associação Internacional para Defesa da Liberdade Religiosa, também atuam em busca da promoção da paz entre as religiões. O primeiro de forma mais direta, a partir de recomendações específicas àqueles que pedem auxílio, e o segundo de maneira mais branda, operando a partir da difusão dos ideais de tolerância e dos direitos à liberdade de pensamento, consciência e religião.

O Conselho de Segurança da ONU, no fim de 2015, pediu que seja evitada a associação do terrorismo a uma determinada religião e delegou ao Comitê contra Terrorismo o combate à propaganda feita por esses grupos. Para o representante da Aliança de Civilizações da ONU (UNAOC, em inglês), Nassir Abdulaziz Al-Nasser, “o engajamento de líderes religiosos é essencial para neutralizar as mensagens dos líderes de grupos terroristas que distorcem o núcleo das crenças religiosas para propósitos em benefício próprio” (UNAOC, 2015).

Apesar do preconceito contra determinadas regiões (e religiões) do mundo - em grande parte causado por discursos proferidos por presidentes e representantes políticos, além das ideias e imagens propagadas pela mídia - não há relação entre posição geográfica e questões religiosas: tanto o país mais religioso do mundo, a Tailândia, quanto o menos religioso, a China, encontram-se no mesmo continente (BBC, 2015). Discursos como o do presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, que considera Jerusalém a capital de Israel13, e a posição da República Islâmica do Paquistão - único país do mundo que possui uma lei de blasfêmia, que estabelece a pena de morte para cidadãos que insultarem o Islã, o Alcorão (livro sagrado da religião) ou Maomé, profeta da religião islâmica - reforçam conflitosreligiosos e complicam o estabelecimento de solução pacífica para eles (FOLHA, 2017).

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESA política externa dos Estados Unidos da América sofreu modificações após a eleição de Donald Trump como presidente, em 2016. Trump propôs restrições às leis de imigração do país, em especial proibindo a entrada de refugiados sírios, afirmando que sírios ameaçam a segurança da população americana por propagarem a cultura fundamentalista islâmica. Os EUA foram a primeira nação a incluir o direito à liberdade de crença e religião na Constituição por meio do Declaração de Direitos; todavia, o que se vê hoje é um aumento dos discursos conservadores e intolerantes propagados pela

13 No dia 06 de dezembro de 2017, Donald Trump reconheceu Jerusalém como a capital de Israel. A decisão promoveu debates e protestos ao redor do mundo, pois a cidade - sagrada para as três religiões monoteístas (Cristianismo, Islamismo e Judaísmo) - é reivindicada tanto por Palestinos quanto por Israel, e é considerada território internacional por várias nações.

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maioria cristã do país. Um dos discursos mais polêmicos de Trump do início de 2017 foi relativo ao reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel, provocando um novo aumento de tensões entre esse país e a Palestina (DEPARTAMENTO, 2016).

Israel é um Estado judeu, ou seja, que adota a religião judaica como oficial e limita os direitos de manifestação de outras religiões no território. O país possui um exército altamente militarizado, que faz valer as leis discriminatórias que limitam o direito de ir e vir do povo palestino. O governo israelense violou os direitos humanos ao construir o Muro da Cisjordânia, que separou judeus de palestinos e ao restringir a entrada de Palestinos em território israelense. Por meio do status de Estado observador não-membro da ONU (ou seja, participante das discussões sem o poder de voto), a Palestina vem tentando chamar atenção da comunidade internacional para o conflito religioso que ocorre em seu território. Como uma forma de luta pelos seus direitos, os palestinos já adotaram métodos violentos, atentando, algumas vezes, contra a vida de inocentes. Por outro lado, a Organização pela Libertação da Palestina (OLP) vem buscando novas formas de luta, representando seu povo na busca por diálogo e por uma solução pacífica para o conflito que perdura por 70 anos (FREEDOM, 2017).

O Islamismo é a religião oficial do Irã, Arábia Saudita e Iraque. Nesses dois primeiros países, a liberdade de religião de seus cidadãos é fortemente restringida: às autoridades do Irã regularmente assediam e prendem jornalistas e ativistas de direitos humanos que criticam o governo ou a Revolução Islâmica. No Irã e na Arábia Saudita, a lei é ditada pelo Alcorão, livro sagrado do Islã. Enquanto no Iraque há constantes conflitos entre Xiitas e Sunitas – os últimos reportando queixas de discriminação e perseguição religiosa –, a maioria da população do Irã é Xiita e na Arábia Saudita o ramo islâmico dominante é o Sunita (DEPARTAMENTO, 2016). Já no Iraque é possível observar um dos maiores conflitos entre a população muçulmana, as divergências entre Sunitas e Xiitas. A oposição entre eles acabou por trazer ao país fortes represálias da mídia onde a população considerada Sunita apresenta queixas perante o governo atual onde se diz sofrer por discriminação e perseguição religiosa.

No Egito, comunidades islâmicas são maioria, seguidas de cristãs ortodoxas. A sua constituição prever uma liberdade religiosa “absoluta”, porém apenas três religiões professam sua crença de forma livre e possuem locais de culto: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. O governo tem encontrado dificuldades em controlar atentados terroristas islâmicos de caráter intolerante, como o ocorrido em abril de 2017 contra duas igrejas cristãs no país. Atividades extremistas também ocorrem no Líbano, onde, por mais que o governo preze pelo respeito e pela tolerância religiosa, são comuns atentados e perseguições promovidas pelo grupo rebelde Hezbollah (DEPARTAMENTO, 2016).

Na Turquia, 99% da população é muçulmana e a crença da maior parte da população é baseada no Alcorão que defende a escolha de religião e da relação pessoal do criador e da criatura. Por isto, a Turquia estabeleceu em sua constituição inúmeras leis que prezam a liberdade de religião e crença, pois ao seus olhos o livro sagrado indica que não cabe a ninguém impor a um indivíduo uma religião. Tal fato pode ser evidenciado na construção de símbolos representativos das principais religiões monoteístas, que convivem pacificamente no local, como Igrejas e Sinagogas (TURQUIE CC).

Assim como a Turquia, a Síria possui população majoritariamente muçulmana. A Constituição síria assegura a liberdade e o respeito a qualquer manifestação religiosa, apesar de definir o Islamismo como religião oficial do Estado. Desde 2011, entretanto, a capacidade governamental de assegurar a liberdade religiosa tem declinado drasticamente devido às ações de atores não-estatais. O Estado Islâmico é responsável por assassinatos, sequestros e maus tratos a grupos religiosos, como os xiitas e outras minorias religiosas, que se opõem a sua ideologia, comprometendo a segurança e a autonomia da população. Além disso, em meio à Guerra Civil14, o governo central de Bashar Al-Asad viola direitos de minorias religiosas, como mostrado pelo ataque a rebeldes da região da Gruta Oriental em fevereiro de 2018 (DEPARTAMENTO, 2016).

África do Sul e Angola são dois países africanos nos quais a religião predominante é o Cristianismo. Suas constituições preveem a liberdade religiosa; todavia, o governo angolano não reconhece o 14 A Guerra Civil Síria é um conflito armado que começou em 2011 e continua em ação onde se originou sob consequências de questões internas.

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islamismo como religião, isto porque, de acordo com a sua política, todos os grupos religiosos devem se submeter ao controle da instituição INAR e apresentar no mínimo 100 mil membros adeptos, o que leva a críticas e protestos por parte de fiéis muçulmanos que se consideram descriminalizados perante a falta de cooperação no registro da religião (REDE ANGOLA, 2015). Já na África do Sul, embora a constituição sul-africana preveja a liberdade religiosa e proíbe discriminações de qualquer tipo, foram registradas 38 ataques anti-semitas em 2016 e 55 ataques em 2015, além de vários episódios de ataques anti-islâmicos, que resultaram na prisão dos perpetradores.

A República do Chade é um Estado constitucionalmente Laico, e seu governo defende a liberdade religiosa. Todavia, o Salafismo, vertente ultraconservadora do Islã, é banido no país, algo que preocupa líderes religiosos, os quais alertam sobre os riscos de ataques terroristas do Boko Haram, grupo que tem ameaçado a vida de civis no continente africano. Na Nigéria e na República de Camarões, os elevados números de refugiados e de deslocados internos, além do trauma do conflito entre a população, estão deixando um legado de desconfiança e de divisão entre comunidades religiosas que pode se perpetuar por gerações. Comunidades cristãs e islâmicas nigerianas reportam a falta de proteção pelas autoridades governamentais, que falham em prevenir ou responder à violência religiosa no nordeste e centro do país. O governo nigeriano é signatário de acordos relevantes à proteção dos direitos humanos; entretanto, membros de minorias regionais argumentam que leis locais e nacionais limitam seus direitos à liberdade de expressão e de protesto, e restringem sua possibilidade de trabalhar em cargos públicos (DEPARTAMENTO, 2016).

A Líbia, país da região norte do continente africano, tem o islamismo como sua religião oficial, e adota a Sharia - código de leis islâmicas - como documento principal da legislação. O governo líbio defende a liberdade e a tolerância religiosa de todos os seus cidadãos, e tem investido no combate ao Estado Islâmico, que atualmente controla algumas regiões do país, matando civis e forçando a população local a se converter ao islamismo. Ataques terroristas também preocupam autoridades nas Filipinas, onde as maiores religiões sempre foram o cristianismo e o islamismo. Atualmente, o islamismo fica atrás do cristianismo, pois, durante a dominação dos Estados Unidos no país, professores estadunidenses pregaram o cristianismo em suas aulas. Essa intolerância em escolas levou a emergência de protestos atos violentos por parte de islâmicos, que viram suas crenças discriminadas pela maioria cristã (DEPARTAMENTO, 2016).

Mesmo assegurando a liberdade religiosa em sua constituição, a República Popular da China impõe excessivas limitações aos Direitos Humanos. Sob o discurso de promoção da segurança e da tolerância, a China lista as religiões oficialmente reconhecidas pelo Estado, configurando uma violação à autonomia individual dos cidadãos. O governo da Rússia atua de forma similar, vendo na atividade religiosa independente uma ameaça para a estabilidade social e política do país por esta promover diferenças culturais entre sua população. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas tem monitorado as autoridades russas, pois a lei anti-extremismo do país, que busca limitar manifestações contra o governo, não define claramente o termo e não considera necessário o uso da violência para que a atividade seja classificada como extremista. Dessa forma, o CDH solicitou uma reforma dessa lei (DEPARTAMENTO, 2016).

Na Índia, o governo mais recente vem tentando impor o hinduísmo como religião oficial, no qual as leis serão baseadas em valores do hinduísmo, religião majoritária no território. Aqueles que simpatizam dessa ideia, buscando fazer os não-hindus sentirem-se indesejados e amedrontados, praticam intolerância por meio do uso da violência. Já no Paquistão, onde a religião oficial é o islamismo, existem grupos sectários armados ligados a organizações consideradas extremistas pelo governo que ameaçam a vida de civis através de ataques contra três vertentes muçulmanas (ahmadi, sufis e xiitas) e cristãos (DEPARTAMENTO, 2016).

Em outro país asiático, Mianmar, o Budismo é a religião predominante, mas, nos últimos anos, viu-se um aumento no número de católicos no país, o que aumentou os casos de intolerância religiosa. Entretanto, o principal problema do país é outro: a constituição de Mianmar não reconhece o grupo étnico Rohingya, que adota o islamismo como religião, como cidadãos, fomentando uma perseguição religiosa e limpeza étnica que se caracteriza como uma das maiores crises de refugiados da história

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(DEPARTAMENTO, 2016).

Na Coreia do Sul e no Japão, o Budismo teve importante influência histórica. Contudo, atualmente a maioria de ambas as populações declaram-se sem religião ou ateias. É importante destacar que, na Coreia do Sul, o ensino religioso em escolas públicas é proibido por lei, e que o Japão possui um dos melhores sistemas tribunais para julgar casos de intolerância religiosa, herança do fim da Segunda Guerra Mundial e do fim de seu regime totálitário (DEPARTAMENTO, 2016).

Em países europeus como Itália, Alemanha, Espanha, França e Reino Unido, o respeito e a tolerância religiosa são fundamentos difundidos por meio de instituições de ensino, então espera-se que as sociedades os aceitem e os promovam. Entretanto, o sentimento xenófobo (preconceito contra imigrantes) e o aumento da intolerância social contra religiões majoritárias e minoritárias têm se tornado cada vez mais evidentes nesses países, em resposta ao terrorismo global e à crise de refugiados que afetou significativamente a Europa. O desafio encontrado pelas autoridades é a integração de imigrantes à sociedade, bem como a prevenção de atentados terroristas que ameaçam a segurança dos europeus (DEPARTAMENTO, 2016).

A tolerância religiosa e imigração são assuntos bastante discutidos no Canadá e na Austrália, nações que recebem imigrantes de diversas religiões de todas as partes do mundo. Suas sociedades são agregadoras e multiculturais, sendo o Canadá um país referência na construção de uma multiculturalismo visível, proporcionando e defendendo direitos e liberdades a todas as minorias. A Austrália, no entanto, não escapa da onda de xenofobia que vem marcando diversos países desenvolvidos nos últimos anos, tendo o governo inclusive barrado a entrada de embarcações de imigrantes no país (DEPARTAMENTO, 2016).

Em países da América Latina, como Brasil, Argentina, Equador e México, a religião principal é o Catolicismo, resultado da colonização portuguesa e espanhola que levou os dogmas da religião à população nativa. Esses Estados são laicos e promovem e garantem a liberdade religiosa em suas constituições. Porém, governos regionais mexicanos têm perseguido minorias religiosas e populações indígenas, forçando as mesmas a se converterem ao catolicismo ou à tradição e crença dominante local. O Estado mexicano reconhece que a impunidade a perseguições religiosas é um sério problema no país e vêm trabalhando para fiscalizar melhor essas ações. Enquanto isso, o Brasil, país mundialmente conhecido por sua enorme diversidade cultural, defende que, com diálogo e cooperação, a tolerância religiosa será propagada pela comunidade internacional. Domesticamente, todavia, o país é palco de muitos conflitos relacionados à intolerância religiosa, propagados, principalmente, por cristãos que adotam o conservadorismo em suas ações e discursos.. As ações para o combate dessa situação têm focado em cinco áreas principais: mobilização social, educação, comunicação, setor institucional, e setor jurídico, sendo que a ideia é aumentar ainda mais o diálogo entre a sociedade (ARANTES, 2016).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Que medidas a comunidade internacional pode adotar para promover o respeito e desconstruirestereótipos atrelados à religiosidade?

(2) Como garantir maior segurança à população no que se refere à intolerância religiosa e aos ataquesterroristas de cunho extremista?

(3) De que forma se pode promover o diálogo entre religiões que possuem um longo histórico deconflitos e divergências?

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASACN. Relatório 2016. Disponível em <www.acn.org.br/images/stories/RLRM2016/pDFs/SumarioExecutivo.pdf>. Acesso em: 25 fev. 2018. ACN. Relatório sobre liberdade religiosa no mundo. 2016. Disponível em: <www.acn.org.br/RelatorioLiberdadeReligiosa>. Acesso em: 3 mar. 2018.

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CONSELHO DE SEGURANÇA DAS NAÇÕES UNIDAS

Crise de Suez: a Segunda Guerra Árabe-Israelense (1956)Aline de Souza Correia Santos, Joana Soares Cordeiro Lopes,

Júlio César Giacomin Spido e Rodrigo dos Santos Cassel1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES A PONDERAR

(1) Como os países do Conselho de Segurança das Nações Unidas podem resolver a Crise de Suezbuscando uma solução diplomática em meio a um grande impasse?

(2) Quais as principais questões que impedem que a França, Reino Unido e Israel tenham uma relaçãopacífica com o Egito?

APRESENTAÇÃOO Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) é um dos mais importantes órgãos da

ONU, tendo surgido com a própria organização em 1945. Este comitê tem como atribuição central a manutenção da paz e da segurança global, sendo onde os assuntos internacionais relacionados a conflitos, intervenções, missões de paz, sanções e ameaças à paz internacional são debatidos. O qualitativo diferencial do Conselho de Segurança é seu poder vinculante, exclusivo frente a outros órgãos das Nações Unidas, ou seja, resoluções ali adotadas devem ser obrigatoriamente seguidas por todos os membros da organização.

Atualmente o Conselho de Segurança é composto por 15 membros, sendo 5 deles – Rússia, China, Reino Unido, França e Estados Unidos – permanentes e com poder de veto – ou seja, as resoluções às quais um desses membros se opõe não podem ser aprovadas. Os outros 10 são chamados de membros rotativos e cumprem mandatos alternados de 2 anos cada, representando proporcionalmente as diferentes regiões do mundo.

A Crise de Suez (1956) foi um dos episódios mais marcantes durante a Guerra Fria1 no Oriente Médio, quando forças israelenses, britânicas e francesas atacaram o Egito na região da Península do Sinai e do Canal de Suez. Essa questão mobilizou a comunidade internacional, que tentou resolver a situação em uma reunião emergencial do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Dessa maneira, o presente guia tem o objetivo de orientar a simulação dessa reunião no dia 31 de outubro de 1956, naqual os delegados não poderão tratar de nenhum acontecimento posterior a essa data. Este guia, porém,ultrapassa esse marco temporal em alguns momentos a fim de que os delegados melhor entendam ocontexto da época.

1 HISTÓRICOO Canal de Suez, no Egito, é uma importante ligação artificial entre o mar Mediterrâneo e o mar

Vermelho, muito utilizada para o comércio entre os continentes europeu e asiático. A sua construção foi organizada por Ferdinand de Lesseps (conde, diplomata e empresário francês, conhecido também pela construção do Canal do Panamá) entre 1859 e 1869. O Canal reduz pela metade a distância entre a Ásia e a Europa ocidental. Em seu primeiro ano de funcionamento, cerca de 500 embarcações utilizaram o canal. Já na década de 1950, com o aumento da importância do petróleo advindo do Golfo Pérsico, otráfego anual já era superior a 12 mil embarcações (PANAMA CANAL COMPANY, 1971).

Figura 1: Canal de Suez e mares Mediterrâneo e Vermelho.

1 A Guerra Fria foi o conflito bipolar no qual colidiram as duas superpotências, a União Soviética e os Estados Unidos, cada uma defendendo seus sistemas político-econômicos – respectivamente, o socialismo e o capitalismo – e competindo por áreas de influência (VISENTINI, 2007).

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Fonte: BBC NEWS, 2006 (tradução nossa)

A Crise de Suez envolve questões relativas à herança colonial do Oriente Médio e a ambições imperialistas, aos processos políticos de formação dos Estados da região e à rivalidade árabe-israelense. Para entender tal episódio, será apresentada uma breve contextualização histórica sobre: (i) a formação do Egito, onde o canal se encontra; (ii) o processo de construção do canal de Suez; (iii) a contínua presença das potências europeias no Oriente Médio; e (iv) a criação do Estado de Israel. O mapa acima ilustra a região em questão.

1.1 PERÍODO PRÉ-COLONIAL NO EGITOA origem da humanidade é a África, sendo o berço dos primeiros hominídeos e, dois milênios

depois, uma das primeiras civilizações das quais se tem registro: a egípcia, decorrente da unificação dos povos que ocupavam as margens do Nilo em 3100 a.C. (VISENTINI, 2012). Importantes características das sociedades atuais foram originadas nesse período, como a residência fixa (sociedades sedentárias) e a domesticação de plantas e animais (UNESCO, 2010a). A localização privilegiada do Egito, como destaca Pereira (2012), entre o continente asiático, mar Mediterrâneo e um importante acesso à África subsaariana, além de fazer parte do crescente fértil (região de fácil cultivo no Oriente Médio), condenou o território a inúmeras invasões.

As principais invasões antes da Era Cristã, isto é, antes do nascimento de Jesus Cristo e a difusão do Cristianismo, foram a Persa, fruto da expansão do império formado pela população do atual Irã, entre 525 e 332 a.C. e a Macedônica, liderada pelo imperador Alexandre, o Grande a partir de 332 a.C., que fundou a cidade de Alexandria, às margens do Mediterrâneo. Após a morte do imperador da Macedônia, a dinastia Ptolomaica foi instituída pelo general Ptolomeu, do exército de Alexandre. Cleópatra, a última rainha do Egito, defendeu até sua morte a independência de seu reino, sob ameaça de invasão do Império Romano (UNESCO, 2010b).

Surgido em 622, o Islã, assim como o cristianismo e o judaísmo, é expansionista, tendo como objetivo a criação de um Estado próprio (denominado Califado e liderado pelo Califa). As migrações e conquistas árabes, anteriores à religião, facilitaram a expansão e consolidação do Império Islâmico, menos de cem anos após o surgimento do Islã. O processo colocou um fim na hegemonia comercial europeia no Mediterrâneo (PEREIRA, 2013).

O surgimento de diversos califados foi o resultado do desmantelamento da Dar al-Islam (área de aceitação e paz, reservado aos que creem em Alá, como era chamado o império), que adotaram uma organização feudal-militar, empobrecendo toda a Península Arábica e as regiões islamizadas do norte da África (VIZENTINI, 2002). A reunificação dos povos islâmicos pelos Otomanos (povos da atual Turquia, que viam-se como os herdeiros do Islã) foi a gênese do Império Turco-Otomano (1299-1923). Com a derrota do Império Bizantino (ou Império Romano Oriental), os turcos passaram a dominar grande parte dos arredores do Mediterrâneo, tornando-se o núcleo das interações entre o oriente e o ocidente (WATSON, 2004).

É necessário ressaltar a situação de subserviência em que se encontrava a sociedade egípcia em relação ao Império Otomano. Mesmo tendo grandes e importantes líderes durante os cinco séculos em

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que perdurou a dominação turca, o Egito ainda devia submeter seus interesses ao sultão otomano, o que inviabilizou sua expansão (YAPP; SHAW, 1999). Todavia, o domínio turco-otomano também instituiu a ideia de uma unidade que abrangesse toda a região islamizada do Oriente Médio. A influência europeia na região acabou com a possibilidade dessa unidade existir sendo liderada pelos turcos (VIZENTINI, 2002).

1.2 INFLUÊNCIA EUROPEIA, COLONIALISMO E A CONSTRUÇÃO DO CANALNo final do século XVIII, o Egito se encontrava dividido entre diversas facções de mamelucos

(ex-escravos da administração turca, convertidos em uma classe militar), deixando-o sem uma liderança política unificada. Enquanto isso, duas grandes potências europeias, Inglaterra e França, estavam há tempos em conflito. Em 1798, na França, Napoleão Bonaparte foi escolhido para invadir o Egito com o objetivo de enfraquecer as colônias inglesas. Ainda que os ingleses não tivessem uma presença forteno Egito, esse último servia de portal para a conquista do Oriente Médio e consequentemente da Índia,principal possessão colonial inglesa (GOLDSCHMIDT JR, 2005). A ocupação francesa durou de 1798 a1801, quando foi derrotada por ingleses e otomanos, sendo que os últimos ficaram com o controle daregião, porém cedendo a administração a um Vice-Rei2 que prestava lealdade ao sultão otomano.

Em 1805, um oficial do exército otomano de origem albanesa, Mohammad Ali, conseguiu influ-ência política na região e persuadiu o sultão otomano a conceder-lhe o vice-reinado do Egito, iniciando assim a dinastia que ficaria no trono até 1952, ainda que às vezes sem a liderança política. No desenro-lar do seu vice-reinado, Mohammad Ali era legalmente subordinado à autoridade do Império Otomano (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

Com a estabilização política e reformas, o Egito ganhou nova importância no comércio entre Europa e Oriente. Em 1854, o Vice-Rei Said Pasha tinha recém assumido o trono quando Ferdinand de Lesseps, um diplomata francês aposentado que conheceu o monarca quando servia de representante de seu país no Egito, entrou em contato com o interesse de persuadir o Vice-Rei a empreender a cons-trução de um canal de ligação entre os Mares Mediterrâneo e Vermelho por meio do estreito de Suez. Lesseps teve sucesso em seu plano, conseguindo firmar um acordo com o governo egípcio e se tornando o primeiro diretor de uma concessionária3 multinacional que deveria construir e administrar o canal. Aconstrução do canal começou em 1859 e terminou apenas dez anos depois, em 1869, sendo consideradauma das maiores obras de engenharia do seu tempo (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

Algumas partes importantes do acordo foram: (i) a concessão teria o prazo de 99 anos; (ii) todo o território necessário para a construção do canal deveria ser concedido gratuitamente pelo governoegípcio à Companhia; (iii) os lucros seriam divididos entre governo egípcio (15%), acionistas (75%) emembros fundadores (10%), entre eles o próprio Vice-Rei e Lesseps; (iv) a terra a ser alagada e ocupadaseria de propriedade da companhia que, por sua vez, estaria isenta de pagar impostos por 10 anos eapós esse período deveria pagar as taxas normais para o governo; (v) o sucessor de Lesseps deveria serescolhido pelo governo egípcio entre os acionistas majoritários, ou seja, pessoas com o maior númerode ações. Com certeza tais termos foram muito vantajosos para a companhia, principalmente parainvestidores da Inglaterra e França, países com maior número de ações em poder de seus cidadãos(FITZGERALD, 1876).

Ao longo do século XIX, o Egito passou por uma fase de modernização econômica, administra-tiva e cultural, baseando-se em padrões europeus. Ainda assim, a esmagadora maior parte dessa face moderna ficou concentrada nas cidades e em determinadas classes sociais dentro dessas. Por outro lado, a onda de modernização foi feita através de empréstimos tomados de bancos europeus, o que le-vou a uma dívida externa crescente (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

O Egito tinha se tornado um grande exportador de algodão e, durante a Guerra Civil nos Esta-dos Unidos4 (1861-1865), conseguiu tirar vantagem da falta de concorrentes internacionais, mas as cus-tas de altíssimos empréstimos internacionais. Num clima de prosperidade econômica a dívida pública

2 Vice-reinado é uma região cuja administração compete à um Vice-Rei, indicado pelo rei da nação à cuja região pertence.3 “concessão - outorga que faz o poder público a um particular ou a uma empresa privada, do direito de executar, em seu nome, e mediante certos cargos e obrigações, uma obra, ou a exploração de serviço público ou de certos bens [...]” (HOUAISS, VILLAR; 2001)4 A Guerra Civil Estadunidense, travada entre o norte industrial e o sul agroexportador, interrompeu grande parte do fluxo de exportação do algodão americano. Visto que parte dos campos de cultivo tornaram-se então campos de batalhas e a navegação comercial também foi dificultada, o Egito aproveitou o espaço aberto no mercado de algodão para financiar sua modernização (GOLDSCHMIDT JR, 2005; GRANT, 2014).

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era aceitável mas com o fim da guerra nos EUA e a retomada de seu comércio, a situação econômica do Egito se transformou em uma crise financeira. A crise da dívida5 pública fez o governo egípcio tomar medidas drásticas. Assim, em 1872, o governo egípcio vendeu a maior parte de suas ações6 do Canal do Suez para investidores ingleses, deixando a Inglaterra como país com maior número de acionistas e, portanto, em posição de controle sobre o canal (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

Mais tarde, a continuidade da crise levou o vice-reinado a cortar gastos dos salários de milita-res, o que, por sua vez, alimentou uma série de revoltas que reuniram diversas classes sociais contra o vice-reinado egípcio e a interferência europeia nos assuntos nacionais. A chamada Revolta Urabidurou de 1879 a 1882. Neste último ano, a Inglaterra, para dar fim à revolta, bombardeou a cidade deAlexandria e invadiu o Egito. O Vice-Rei, para manter seu trono, ficou do lado dos invasores, mas opoder de fato ficou sob controle inglês (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

O Império Otomano nada fez nem para parar a revolta nem para impedir a dominação inglesa, isso porque se encontrava debilitado da guerra contra os russos de 1877-1878. Assim, no final do século XIX, os otomanos, com diversos problemas internos e pouca capacidade de projetar-se externamente, perdiam cada vez mais sua influência em todo Oriente Médio. Tanto que, no começo do século XX a disputa internacional por controle territorial levou à Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na qual o Império Turco-Otomano envolveu-se, ao lado da Alemanha e Áustria, contra a Tríplice Entente (Ingla-terra, França e Rússia). Durante a guerra, a Inglaterra atacou os otomanos pelo sul a partir do Egito e também aliou-se militarmente com os árabes dos desertos nunca completamente conquistados pelos turcos (na Península Arábica – atual Arábia Saudita e países do Golfo), enquanto estes lutavam contra os russos na sua fronteira norte (HALLIDAY, 2005; VISENTINI, 2014).

A Primeira Guerra Mundial terminou com a vitória da Entente e, assim, o Império Otomano ruiu. O território central do Império deu origem à Turquia e o resto do seu território no Oriente Médio foram divididos entre França e Inglaterra no tratado de Sykes-Picot de 1916. Nele a Síria e o Líbano viraram territórios franceses enquanto Iraque, Jordânia e Palestina ficaram sob controle inglês. A Pe-nínsula Arábica foi cedida aos árabes aliados dos ingleses, porém frustrando os planos daqueles que queriam uma grande nação árabe (VISENTINI, 2014).

A ideia inglesa era dividir a região usando e incentivando nacionalismos, criar conflitos entre eles e assim exercer seu controle na região mais facilmente. Em resumo, o colonialismo no Oriente Mé-dio, apesar de não ter sido tão longo quanto em outras partes do mundo, deixou marcas profundas nos países colonizados. Por um lado, houve uma modernização das instituições seguindo modelos ociden-tais (burocracia, exército e instituições políticas), mas, por outro lado, também resultou no surgimento de sentimentos nacionalistas que se fortaleceram exatamente contra o colonialismo (HALLIDAY, 2005; VISENTINI, 2014).

No Egito, particularmente, esse sentimento nacionalista existia desde a ocupação inglesa, a partir de 1882, com a criação de importantes partidos e organizações políticas que pregavam a inde-pendência de um Egito modernizado (GOLDSCHMIDT JR, 2005). Durante a Primeira Guerra Mun-dial, para melhor controlar a frente de batalha e evitar a influência otomana no Egito, a Inglaterra suspendeu os direitos políticos dos egípcios, tornando mais rígida a administração e mais repressiva a resposta às manifestações populares. Logo após o término da guerra ocorreu uma das maiores revoltas da história do país em 1919, o que levou a uma semi-independência concedida pelos ingleses em 1922. Nessa fase, os ingleses continuaram ocupando o Egito, mas diminuindo sua interferência em assuntos internos, focando apenas em seus próprios interesses nacionais, de garantir passagem naval para a Ín-dia (GOLDSCHMIDT JR, 2005).

Se a Primeira Guerra Mundial estabeleceu as bases para o colonialismo europeu e, consequen-temente, o nacionalismo árabe, a Segunda Guerra Mundial, apesar de ter no Oriente Médio um palco de batalha menos expressivo que na Primeira Guerra7, também mudou a região em relação à situação

5 A dívida pública é o total de empréstimos contraídos por um governo. Quando torna-se alta demais pode tornar-se impagável pela quantidade crescente de juros (o “preço” do tempo de empréstimo). Num cenário de crise da dívida, há uma queda no em-prego e na renda de uma economia e uma diminuição da capacidade de gastos do Estado. 6 Ação é um contrato de participação numa sociedade empresarial que tem por objetivo, quando posta à venda pela primeira vez, de arrecadar recursos para financiar tal empresa. No caso do Egito, as ações (partes da propriedade da “Companhia do Canal de Suez” egípcias) foram vendidas a investidores ingleses para arrecadar recursos para combater a crise da dívida (GOLDSCHMI-DT JR, 2005).7 A 2ª Guerra Mundial não teve um grande palco de confronto no Oriente Médio. Apenas no Norte da África houveram dispu-tas entre 1939 e 1943, mas mesmo assim com pouco envolvimento de forças locais, sendo um conflito majoritariamente entre europeus (HALLIDAY, 2005).

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interna dos países, às relações entre os países da região e às relações entre a região e as potências ex-ternas (HALLIDAY, 2005; HINNEBUSCH, 2003).

É importante destacar que a Inglaterra, assim como a França, saiu enfraquecida da Segun-da Guerra Mundial, precisando reduzir seu engajamento em território extra-europeu. Dessa forma, a guerra acelerou a decadência do colonialismo europeu. No plano interno dos países do Oriente Médio, pode-se observar o fortalecimento de vários movimentos nacionalistas, comunistas e islamistas8. O que se viu foi uma convulsão política que levou a independências e mudanças de regime na região. No plano das relações internacionais propriamente ditas houve mudanças tanto no que tange às relações com as potências externas quanto às relações entre os países da região, principalmente no norte africano (HALLIDAY, 2005).

As independências eram ao mesmo tempo sintomas e causas da decadência dos impérios euro-peus, principalmente do inglês e do francês, e refletiriam a transferência de poderio global da Europa para o conflito Leste-Oeste. Nesse sentido, ao final da Segunda Guerra Mundial, a influência inglesa e francesa deu espaço à influência estadunidense e soviética. O primeiro com interesse na crescente produção de petróleo da região bem como na formação de zonas de influência estratégicas para a con-tenção da URSS. O segundo tinha interesses mais securitários na região que era sua vizinha. Enquanto os EUA estabeleciam relações com os governos aliados dos europeus, a influência da URSS na região se valia do apoio aos regimes nacionalistas árabes. Tais regimes, no plano de disputa regional, vão se tornar adversários de um outro tipo de nacionalismo, o sionismo, dando origem à um conflito, ainda recente, em torno do controle da Palestina (HALLIDAY, 2005; HINNEBUSCH, 2003).

1.3 A CRIAÇÃO DE ISRAEL E O CONFLITO ÁRABE-ISRAELENSEComo visto anteriormente, as independências dos países do Oriente Médio começaram já no

Entreguerras. A Segunda Guerra Mundial intensificou e expandiu esse processo de descolonização, sendo que países do Levante obtiveram suas independências, primeiro o Líbano em 1943, depois a Síria e a Jordânia em 1946. Nesse mesmo período ocorre no Levante a criação do Estado de Israel e a não criação do Estado da Palestina, marcando profundamente a geopolítica regional.

O povo judeu é um grupo étnico-religioso que sofreu em diversos momentos da história perseguições e êxodo forçado, pertencendo, assim, a minorias de diversos países, mas sem seu país próprio. Na narrativa religiosa judaica, acredita-se que o território da Palestina é terra sagrada e local para a consolidação do Estado-nação judaico. Desde o final do século XIX, registrou-se aumento na imigração judaica para o território da Palestina, em resposta principalmente ao antissemitismo9 europeu e ao cenário pré Primeira Guerra Mundial. Uma parte destes judeus fazia parte de um movimento chamado Sionismo, que defendia a autodeterminação judaica e a criação de um Estado estrita e propriamente judeu. Os entusiastas deste movimento chegaram a cogitar lugares como Uganda, na África, e a região do Rio da Prata, na América do Sul, porém acabaram por decidindo se estabelecer na Palestina em função da simbologia religiosa (VISENTINI, 2014).

Após a Primeira Guerra Mundial, essa emigração aumentou: em 1882 a população judaica na Palestina era quase inexistente, enquanto que em 1914 já estava entre 60 e 80 mil habitantes. Igualmente se expandiu a noção sionista de constituir um Estado somente para judeus. Para isso, os recém-chegados empreenderam diversas ações para conquistar cada vez mais terras para o movimento – compra de terras, proibição de trabalho aos palestinos, expulsão forçada e massacres em diversas vilas palestinas – em uma expulsão palestina de seu território de origem (CLEMESHA, 2008).

Na região em questão, os movimentos nacionalistas eram outros. Até então o nacionalismo árabe era focado em se separar do Império Otomano e com o objetivo de formar seus próprios Estados. Como a identificação árabe era comum, muitos achavam que o movimento por independência poderia ser conjunto, mas não necessariamente para se constituir uma única nação árabe. Essa ideia começa a mudar com a pressão do sionismo e da ocupação europeia, emergindo a noção de mundo pan-árabe. A própria causa palestina vai se mostrar um elemento importante na retórica de unificação dos povos árabes (HILAL, 2013).

8 Enquanto as modernizações do Estado ocorriam no oriente médio, não só o nacionalismo anticolonial ganhava força mas tam-bém outras correntes políticas modernas, como o comunismo, e reações contrárias à secularização (diminuição da influência da religião nas instituições políticas), como os fundamentalistas islâmicos, ou islamistas, ganhavam proeminência. No Egito, esses últimos foram emblemáticos ao fundar a Irmandade Muçulmana em 1928 (HALLIDAY, 2005).9 Antissemitismo é a ação discriminatória contra judeus.

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A Segunda Guerra Mundial expôs os horrores do Holocausto10 ao mundo e, os judeus que conseguiram, fugiram da Europa e foram para o território da Palestina a fim de evitar seu genocídio. Essa imigração em massa continuou após o fim da guerra, e a Inglaterra, que se preparava para se retirar da Palestina em 1948, convocou uma sessão especial na recém formada Assembleia Geral das Nações Unidas. O objetivo era clamar auxílio da comunidade internacional para a resolução da questão da Palestina, que já dava sinais de conflito. A emigrada população sionista entrava em choque com os nacionalistas palestinos que lá estavam ainda antes do controle inglês e que queriam a criação de um Estado palestino (HILAL, 2013).

A Assembleia Geral da ONU aprovou em 1947 a resolução 181 que determinava a criação de um Estado árabe-palestino em 45% do território e outro judeu compreendendo os 55% restantes. A cidade de Jerusalém adquiriria status internacional, sendo administrada pelas Nações Unidas. A maioria dos países árabes, como Arábia Saudita, Egito, Iêmen, Líbano, Iraque e Síria, votou contra tal resolução, além de Afeganistão, Cuba, Grécia, Índia, Irã, Paquistão e Turquia. A China, a Argentina e o Reino Unido se abstiveram (UNITED NATIONAL GENERAL ASSEMBLY, 1947). Nesta configuração, os 1,3 milhão de palestinos que viviam na região em 1947 seriam atribuídos 45% do território, enquanto os 650 mil judeus lá registrados ficariam com mais da metade da área total. Após este momento intensificam-se os ataques dos grupos armados judaicos para expulsar palestinos e uma guerra civil entre esses grupos e os combatentes palestinos e voluntários árabes se instaurou (CLEMESHA, 2008).

No dia 14 de maio de 1948, foi proclamado o Estado de Israel e os Britânicos se retiraram do território, deixando um vazio de poder. Um dia depois, em 15 de maio, tropas de uma coalizão de países árabes11 entraram no conflito em defesa dos palestinos no que ficou conhecido como a Primeira Guerra Árabe Israelense, que durou até 1949, com a derrota árabe. A vitória israelense se deu principalmente em função da sua superioridade militar. Ao final da guerra, Israel passou a controlar 72% do território, já os palestinos ficaram restritos aos territórios da Cisjordânia e de Gaza, que passaram a ser controlados respectivamente pela Jordânia e pelo Egito. É interessante notar as diferenças de narrativas identitárias para cada população: a data de 15 de maio de 1948 é, por um lado, comemorada pelos israelenses como o dia da criação do seu Estado, e, por outro, é lembrada pelos palestinos como a Nakba, que significa‘catástrofe’ em árabe indicando o dia que foram expulsos de seu próprio território (CLEMESHA, 2008).

São diversos os fatores que propiciaram a criação do Estado de Israel. Pode-se citar a riqueza dos judeus e sua capacidade de influenciar a política dos EUA. O apelo para criação de um estado judaico ficou inegável após os horrores do Holocausto e a comunidade internacional deveria responder a esse genocídio. A ONU foi criada para buscar a paz e, naquele momento, a questão judaica deveria ser tratada. A solução buscada foi a criação de um Estado judeu onde havia uma grande quantidade de judeus habitando. Ambas as superpotências apoiaram a criação de Israel. Os soviéticos viam uma possibilidade de o país adotar a ideologia socialista, em função dos kibutz judaicos12 e a afinidade de alguns líderes com tal movimento. Os Estados Unidos viam o futuro Estado de Israel como um possível aliado em meio ao Oriente Médio, havia também a ideia de criar um Estado antagônico na região, que atraísse a atenção dos países árabes e que impedisse a realização de uma grande nação árabe como era desejada pelos árabes (VISENTINI, 2014).

Israel já nasceu bem equipado militarmente e aceito pela comunidade internacional – em maio de 1949 foi admitido na ONU como Estado soberano (SOARES, 2017). Constituído em oposição aos anseios dos Estados árabes de formar sua grande nação que incluísse a Palestina e, na ausência deste, que o Estado Palestino fosse estabelecido, o Estado de Israel se tornou um entrave para os países árabes que foram contra sua criação e detiveram ressentimentos em relação à expulsão de seus vizinhos árabes palestinos. Neste contexto, instaurou-se o clima de rivalidade entre os países árabes, incluindo especialmente o Egito, e Israel, o que se refletirá nos desenvolvimentos tratados nas próximas seções.

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMAA partir da contextualização histórica, percebe-se que o passado colonial foi muito marcante para

10 O Holocausto foi o genocídio de quase 6 milhões de judeus durante a 2ª Guerra Mundial cometido principalmente pelas forças nazistas da Alemanha.11 Envolveram-se os seguintes países Egito, Síria, Jordânia, Iraque, Líbano e Arábia Saudita (esses dois últimos em menor es-cala).12 Os kibutz eram comunidades de judeus com base na propriedade coletiva dos meios de produção e administração comparti-lhada entre todos os integrantes. Geralmente com produção agrícola ou agroindustrial.

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o Egito e que o surgimento do Estado de Israel criou um novo foco de tensão no Oriente Médio. Alémdisso, o elemento que estrutura a Crise de Suez é a Guerra Fria, que estava em curso durante o episódio.Nesta seção será apresentada como a Guerra Fria e movimentos decorrentes dela afetaram o OrienteMédio, em especial o Egito, e como começou a Crise de Suez.

2.1 A POLÍTICA EXTERNA EGÍPCIA SOB NASSER E A NACIONALIZAÇÃO DO CANAL DE SUEZ

Previamente à apresentação dos acontecimentos que marcaram a Guerra de Suez, é necessário compreender o contexto político externo e interno que motivou a deflagração do conflito. Como visto na seção anterior, na década de 1950, o Oriente Médio perpassava um momento instável, com o cenário internacional sendo influenciado por três situações principais: (i) a Guerra Fria, que promovia a subdivisão do globo sob esferas de influência estadunidenses e soviéticas; (ii) as lutas anticoloniais no mundo árabe, as quais reivindicavam autonomia nacional e o rompimento com os antigos impérios na região, França e Reino Unido; e (iii) o acirramento da rivalidade árabe-israelense e a posição egípcia de principal opositor ao Estado de Israel.

Nesse contexto, é importante destacar os atos do líder político do Egito Gamal Abdel Nasser, que ocupou a Presidência de 1954 a 1970. Conhecido mundialmente como a principal figura do nacionalismo egípcio, tendo assumido a liderança do movimento pan-arabista, Nasser logrou reorganizar a política externa egípcia (HOLSTI, 1982). Com enorme carisma e crescente popularidade, ele transformou o Egito domesticamente e, junto a Muhammad Neguib, foi capaz de desbancar a monarquia, consolidar a primeira república do Egito e organizar diversas reformas socioeconômicas, como as famosas reformas agrárias dos anos 1950 (HINNEBUSCH, 2002).

Seu apelo popular, contudo, excedia as fronteiras do país, e ele logo conseguiu alçar a nação a uma posição de liderança no mundo árabe, solidificando arranjos como o Pan-arabismo, defendendo a independência e a autonomia da região, e participando da organização do Movimento dos Não-Alinhados (MNA). Conforme destacado na parte inicial deste texto, o Egito possui uma posição geográfica estratégica no Oriente Médio, e Nasser objetivou fazer bom uso desse trunfo ao estabelecer o país como ponto em comum entre três comunidades distintas, porém complementares: os árabes, os muçulmanos e os africanos (HINNEBUSCH, 2002). É interessante destacar que essas comunidades tinham um ponto em comum muito repetido pela narrativa nasseriana: a luta anticolonial e as mazelas das intervenções estrangeiras.

Bastante contrário ao regime monárquico subalterno às potências europeias que derrubou, Nasser baseou sua política externa sob os princípios de autonomia e não-alinhamento. Nasser popularizou a ideia do pan-arabismo, buscando congregar o Mundo Árabe, fomentar a autodeterminação dos povos e desatar a região das amarras coloniais que a assolavam (VISENTINI, 2014). Nessa lógica, o povo árabe era aquele que compartilhava a mesma língua e tinham costumes similares, não devendo ser constrangido pelas fronteiras dos Estados criados pelos processos de colonização, mas sim unificados em uma única utópica nação. Concebendo o Egito como centro da unidade pan-arabista, Nasser foi, rapidamente, construindo o movimento Pan-arabista atrelado à sua figura. Não à toa, Ferabolli (2005, p. 34) postula que “as palavrasnacionalismo, independência e nasserismo começaram a ser usadas como sinônimos em todo o MundoÁrabe”.

Somado a isso, Nasser também se estabeleceu como um dos principais líderes do Movimento dos Não-Alinhados, grupo político formado por países do chamado Terceiro Mundo que, propositalmente, colocava-se à margem da polarização Leste-Oeste no contexto bipolar da Guerra Fria. O MNA originou-se na Conferência de Bandung de 1955, quando 29 chefes de Estado se reuniram na Indonésia para estabelecer cooperação mútua, visando ao desenvolvimento não vinculado a uma ou outra superpotência. Apesar da heterogeneidade entre as nações presentes, a maioria apresentava um passado permeado pelas estruturas coloniais, as quais, por séculos, drenaram as riquezas locais – humanas e materiais – em direção a uma metrópole europeia (VISENTINI, 2007). Os sentimentos nacionalistas e anticoloniais permearam essa famosa convenção, que clamava por um desenvolvimento global mais independente e menos desigual. Nasser, Jawaharlal Nehru da Índia e Muhammad Ali do Paquistão saíram como as principais vozes desse movimento internacional.

Vê-se, portanto, que o Egito nasserista almejava desempenhar uma política externa autônoma e não-alinhada. Apesar disso, entre as duas superpotências à época, é possível afirmar que o país obteve uma aproximação com a União Soviética, principalmente devido à deliberada tentativa de isolamento por parte das potências ocidentais em relação à nação do norte africano. Dentre as tentativas de isolar o

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Egito regional e internacionalmente, ressalta-se o Pacto de Bagdá, assinado em 1955, que visava à defesa dos interesses ocidentais e à contenção da URSS no Oriente Médio, contando com Reino Unido, Turquia, Iraque, Irã e Paquistão como membros (JALAL, 1989). Além disso, dois pontos que impeliam os egípcios a uma maior interação com os soviéticos: primeiro, o embargo de venda de armas para o Egito orquestrado pelo Ocidente, bem como embates diretos do país com Reino Unido, EUA e França, estes resultantes do apoio material e político por parte do referido Estado africano a movimentos de libertação nacional em outras nações do Mundo Árabe (DESSOUKI, 2008 apud SILVA, 2013).

Para além dessa posição autonomista, domesticamente o Egito de Nasser também vivenciou um forte movimento de nacionalização das capacidades produtivas do país, bem como uma reorientação na política econômica, agora voltada ao desenvolvimento desassociado das antigas potências coloniais - em especial, Reino Unido e França. Nesse sentido, Silva (2013, p. 13) argumenta que houve um acelerado processo de modernização no Egito de Nasser: “realizou-se a reforma agrária, desenvolveu-se um robusto setor público por meio de empresas estatais, de nacionalizações e da criação de empregos, e promoveu-se a industrialização do país”.

Neste contexto de modernizações, um dos principais projetos de Nasser para a área de infraestrutura era a construção da Represa de Assuã, uma barragem no Rio Nilo que funcionaria, dentre outros fatores, para a geração de energia hidrelétrica e armazenagem de água destinada à irrigação. A iniciativa, contudo, devido à sua complexidade e grandiosidade, necessitava de alto financiamento, com o qual Nasser não estava disposto a arcar individualmente, havendo planos, portanto, de angariar investimento externo para a construção da represa (DOUGHERTY, 1959).

Aqui, é necessário explorar com maior profundidade a questão do não-alinhamento na política externa egípcia à época. Embora, como visto anteriormente, o Egito possuísse maior aproximação com a União Soviética, a sua política de não-alinhamento legitimava tentativas de cooperação com qualquer país em prol dos interesses nacionais egípcios, independente se do bloco do Leste ou do Oeste. Assim, havia um tom bastante pragmático em termos de cooperação internacional, sendo que os Estados Unidos não estavam fora do leque de opções de Nasser. Desta maneira, em 1955, o líder egípcio voltou-se aos estadunidenses e aos britânicos para a construção da barragem de Assuã, os quais, via Banco Mundial, propuseram-se a financiar partes do projeto (DOUGHERTY, 1959). Após sete meses, no entanto, a proposta foi retirada da mesa de negociações por parte dos EUA e do Reino Unido. O Presidente estadunidense Dwight Eisenhower (1953-1961) alegou que, dentre as causas para o ocorrido, estaria a incapacidade de ambas as partes de alcançarem um comum-acordo (MCDERMOTT, 1998). Cook (2012), por outro lado, argumenta que a retirada do financiamento ocidental foi resultado, sobretudo, da intenção de retaliar o Egito frente ao reconhecimento, por parte da nação africana, da República Popular da China.

Colocando a questão de motivações à parte, o fato é que tanto Reino Unido quanto Estados Unidos retiraram o financiamento à iniciativa egípcia. Em junho de 1956, assim, quem viria a oferecer auxílio financeiro seria a URSS. A mais significativa reação à retirada do financiamento, contudo, seria domesticamente: Nasser, legitimado pela aclamação popular e sentindo-se traído pelos americanos e britânicos, determinou a nacionalização do Canal de Suez. O líder egípcio afirmava que, por meio da nacionalização, o Egito obteria mais receita para ser destinada ao projeto de infraestrutura da Represa de Assuã. O movimento repercutiu de maneira muito negativa no Reino Unido e na França, os quais previram ter somente petróleo para sustentar suas economias por apenas seis semanas caso tal operação de fato acontecesse e o fluxo desse recurso energético fosse estancado. Com efeito, pressão econômica contra o Egito nasserista não era a única pauta nos bastidores do bloco ocidental; a ameaça de incursão militar era iminente (MCDERMOTT, 1998).

2.2 A GUERRA DE SUEZ E A REUNIÃO DE EMERGÊNCIA DO CSNU A nacionalização do Canal de Suez realizada por Nasser perturbou profundamente a França e

o Reino Unido, como visto acima, os quais buscaram resolver a questão para além da via diplomática.Israel também se viu afetado, uma vez que a ação egípcia bloqueou parte de sua navegação no Canalde Suez e no Estreito de Tiran13. Finalmente, esse movimento também contribuiu para aumentar arivalidade já instaurada entre Israel e lideranças árabes. Vide seus interesses alinhados em coibir talnacionalização, Reino Unido, França e Israel firmaram um acordo secreto, o Tratado de Sevres, em22 e 24 de outubro de 1956. As duas potências europeias precisavam de um motivo para reconquistaro Canal de Suez, o que seria feito por uma invasão israelense ao Egito de Nasser. A França e o Reino

13 Ver mapa na primeira seção.

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Unido proveriam armamentos às forças israelenses e viriam ao seu auxílio alguns dias depois. Vale ressaltar que a existência desse tratado foi só descoberta anos depois, o que quer dizer que, durante a crise, apenas os oficiais destes três países sabiam do arranjo firmado (THE... 2004). Israel, justificando suas ações através da já consolidada rivalidade entre os dois países e o já citado recente aumento de armas soviéticas providas ao Egito, atacou a península do Sinai em 29 de outubro de 1956. O lançamento de paraquedistas israelenses armados, a cerca de 40 km do Canal de Suez, serviu como pretexto para as potências europeias declararem um ultimato: se ambas as partes não aderissem a um cessar fogo haveria uma intervenção a fim de assegurar que o Canal de Suez permanecesse navegável e seguro (THE... 2004). Já em 31 de outubro de 1956, os aviões franceses e britânicos chegaram ao Egito com o intuito de supostamente proteger o Canal de Suez e buscar uma solução ao conflito entre Egito e Israel. As tropas europeias tomaram Port Said, cidade portuária às margens do Canal de Suez, e lá começou outro foco do conflito contra as forças egípcias, compostas também pelas milícias civis14 (SOARES, 2017). Como se pode ver, o principal objetivo da França e do Reino Unido era ter um pretexto para retomar o Canal de Suez, o que foi feito por meio da orquestração com Israel. Eles também visavam o enfraquecimento de Nasser e de seu apelo popular, que no contexto da Guerra Fria com sua aproximação da União Soviética, assustava o Ocidente. Tal meta não foi nem de longe atingida, uma vez que a ameaça externa gerou mais coesão entre a população egípcia, que via as ações de seu líder como legítimas (SOARES, 2017). A guerra mobilizou a comunidade internacional. Ainda no mesmo dia, 31 de outubro de 1956, foi convocada uma reunião de emergência no Conselho de Segurança das Nações Unidas visando uma solução imediata para a crise. Partiu do Egito a convocação, fundamentada no estabelecimento de três poderes estrangeiros em seu território e na situação de guerra gerada por eles. Durante tal reunião, coube aos países presentes – Estados Unidos, União Soviética, China, França, Reino Unido, Austrália, Bélgica, Cuba, Irã, Peru, Iugoslávia, Brasil, Jordânia, Israel e Egito – lidarem com as questões que envolviam a Guerra de Suez a fim de buscar uma resolução diplomática da crise.

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIAS

O uso internacional do canal já tinha sido regulado pela Convenção de Constantinopla de 1888, que o declarou uma zona neutra sob a administração britânica do Egito. Esse acordo foi assinado pelo Reino Unido, França, Império Russo, Império Otomano, Holanda, Itália, Espanha, Áustria-Hungria e Alemanha, e determinava que o canal deveria ficar aberto à embarcações de todas as nações, tanto em tempos de guerra quanto de paz. Em 1949, com o Egito já independente, logo depois de sua derrota na 1ª Guerra Árabe-Israelense, o CSNU aprovou a resolução 73, que reconhecia e reafirmava o armistício que encerrou a guerra (ONU, 1949). Mesmo assim algumas disputas assinalavam que o conflito não tinha sido solucionado confortavelmente. Um desses episódios foi o fechamento, pelo Egito, do Canal de Suez para o comércio destinado à Israel entre 1949 e 1951 (ONU, 1951). Assim, o CSNU, em 1951, aprovou a resolução 95, restabelecendo a neutralidade do canal com o intuito de salvaguardar o armistício entre os dois países (ONU, 1951). Também em relação à questão do conflito árabe-israelense, desde o final da guerra de 1949, alguns conflitos de fronteira e de menor escala deram motivos para a formulação de algumas resoluções do Conselho de Segurança. As resoluções 107, 108, 111, 113 e 114 reiteraram o interesse do Conselho em manter a paz na região, firmada pelo armistício de 1949 (ONU, 1956a). A manobra de nacionalização de Nasser em 1956, reacendeu o conflito em relação à neutralidade do canal, tanto em relação aos europeus quanto à Israel. Quase 80 dias depois da nacionalização do Canal de Suez por Nasser, o Conselho de Segurança passou, por decisão unânime, a resolução 118 do CSNU. Nesta, os países acordaram que: (i) deveria haver trânsito livre no canal, sem discriminação para qualquer país; (ii) a soberania egípcia deveria ser respeitada; (iii) A operacionalidade do canal deveria estar isolada da política de qualquer país; (iv) O estabelecimento de taxas e pedágios deveria ser negociado com o governo egípcio; (v) Uma parte dos fundos angariados deveria ser destinado ao desenvolvimento; (vi) Em caso de disputas mal resolvidas entre o governo egípcio e a Companhia do Canal do Suez deveriam ser resolvidas de forma razoável por arbitragem (ONU, 1956b).

14 A população civil do Egito que tomou armas para proteger o país da ameaça estrangeira (SOARES, 2017).

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Inserindo-se no contexto da simulação, espera-se que o leitor se posicione dentro desta conflituosa situação, em 31 de outubro de 1956. Espera-se nessa reunião de emergência do CSNU que, depois do fracasso das últimas resoluções para a manutenção da paz na região, obtenha-se mais sucesso na resolução dos conflitos na região, com a produção de mecanismos legais para sua sustentação.

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESA Austrália, país membro da Comunidade das Nações, possui fortes laços políticos e econômicos com o Reino Unido. Seu posicionamento frente à Crise de Suez, portanto, segue as diretrizes britânicas,contrárias à nacionalização do canal por parte dos egípcios. A política externa australiana, por outrolado, costuma assumir um caráter mais discreto e conciliatório, evitando envolver-se em conflitosarmados (BALL, 1956).

O Brasil, sob o governo de Juscelino Kubitschek, se coloca a favor do diálogo entre todas as partes, prezando por decisões práticas para as divergências (BUENO, 2000). Estando sob a zona de influência dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, o Brasil tende a tomar posições favoráveis às determinações deste país, prezando sempre, por soluções práticas e ágeis (BUENO, 2000).

Sendo a Bélgica uma potência colonial, tal como França e Reino Unido, seus interesses no continente africano são similares. A nacionalização do Canal de Suez e o nacionalismo de Nasser abrem precedentes para que as revoltas nas colônias belgas sejam toleradas pela ONU, um dos principais motivos para o posicionamento belga contra as ações do nacionalismo egípcio. Não cedendo à pressão das NaçõesUnidas, que invoca o conceito de autodeterminação, a Bélgica mantém suas colônias e se alinha comoutras nações a fim de manter esta ordem, apoiando a ocupação europeia na região (BRITANNICA, 1998).

A China preza pela diplomacia e pela solução pacífica do conflito. O governo do presidente Chiang Kai-shek, do Kuomintang – partido nacionalista conservador – apoiado pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha, tende a consentir com as decisões tomadas por esses países. Independentemente, o governo chinês espera que as negociações sejam frutíferas e as decisões respeitadas (WINKLER, 2012).

Cuba espera que a reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas seja efetiva para colocar as partes conflitivas em diálogo para tratarem de suas divergências. O governo cubano, liderado por Fulgêncio Batista, no contexto da Guerra Fria, está alinhado aos Estados Unidos e costuma adotar posições similares às deste país nas Nações Unidas. Cuba, membro fundador da organização, defende o diálogo e a resolução pacífica de controvérsias (WARNER, 1991).

A República Árabe do Egito exige que as forças francesas, britânicas e israelenses retirem-se de seu território imediatamente. Tal agressão viola os princípios aos quais esses países se comprometeram ao entrar nas Nações Unidas tal qual o respeito pela autodeterminação dos povos e o incentivo à descolonização. O desencadeamento da guerra para o Egito é uma justificativa das potências e de Israel para atingirem seus objetivos imperialistas e colonialistas. A nacionalização do Canal de Suez é considerada legítima pelo Egito e pelo seu povo e não se voltará atrás sobre essa decisão. O Egito de Nasser, mesmo em meio a essa agressão, continua com os ideais de Pan-arabismo e defesa da descolonização do mundo Árabe e da África e não cederá às pressões imperialistas ocidentais (VISENTINI, 2014).

Os Estados Unidos da América, superpotência que lidera o bloco ocidental no contexto de Guerra Fria, demanda que se cessem quaisquer atividades militares, bem como que uma negociação pacífica seja estabelecida entre as partes beligerantes. Ao mesmo tempo que a delegação estadunidense deseja evitar indisposições com Reino Unido e França, seus aliados tradicionais, também busca angariar apoio de nações recém-independentes, trazendo-as para a esfera de influência ocidental (WARNER, 1991).

A República Francesa, grande apoiadora da construção do canal, condena a nacionalização do mesmo de forma unilateral, o que fere o direito de livre uso estabelecido anteriormente. Juntamente com o Reino Unido e Israel, a França está preocupada com a reversão da iniciativa de nacionalização do canal

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do Suez, seja de forma pacífica ou através do uso da força (WARNER, 1991).

A República Federativa Popular da Iugoslávia, nação que se declara não alinhada com nenhum bloco, ainda que aliada à URSS, preza pela autodeterminação e soberania egípcia. Os iugoslavos de Tito, simpáticos às teses de autodeterminação dos povos e descolonização terceiro mundistas, condenam toda e qualquer interferência militar externa no Egito, procurando atingir uma resolução pacífica para o conflito sem ferir a soberania do país árabe (HOBSBAWM, 1995).

O Irã seguirá, predominantemente, as diretrizes americanas e britânicas, que apoiaram a substituição do primeiro ministro radical Mohammad Mosaddegh pelo general Fazlollah Zahedi em 1953, visando a perpetuação da democracia iraniana e se opondo aos extremismos unilaterais, que apenas enfraquecem a nação internacionalmente. Mesmo tendo o Reino Unido como importante aliado, o Irã preza pelo diálogo e se posicionará contra a ocupação militar europeia na região (DEHGHAN; NORTON-TAYLOR, 2013).

Diretamente afetado pela nacionalização do canal, o Estado de Israel atuará por quaisquer meios – inclusive pelo uso da força – para retomar o seu direito de livre navegação pelo Canal de Suez e pelo Estreito de Tiran. No âmbito do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a delegação israelense, nesta questão, trabalha próxima aos representantes britânicos e franceses, também contrários à ação egípcia (GOLANI, 2010).

O Reino Hachemita da Jordânia, apesar de seus laços com o Reino Unido, defende a retirada imediata das potências europeias e de Israel do território egípcio. Tal agressão é vista pela Jordânia como anseios imperialistas e coloniais por parte dos dois países ocidentais, que não aceitaram a sua retirada dos países do Oriente Médio e buscam continuar presentes na região. A Jordânia condena totalmente a ação israelense, cujas agressões não apenas no Egito, mas na Palestina, geraram enormes problemas para este país, que agora lida com milhões de refugiados palestinos em suas fronteiras (SOARES, 2017). A República do Peru, como membro das nações unidas e representante americano no conselho, preza pela não interferência externa em assuntos nacionais e assim como seus vizinhos americanos, entre eles os EUA, Brasil e Cuba, espera uma resolução pacífica dos contenciosos na questão do canal (AYLLON, 1978).

O Reino Unido, que detinha a posse do canal previamente, acredita que é o maior prejudicado pela nacionalização levada a cabo por Nasser. Ademais, é importante ressaltar que o ato do líder árabe não significa apenas perdas econômicas para os britânicos, mas também a total falta de prestígio pelo reino na região onde se encontram suas antigas possessões coloniais. Dessa forma, a delegação britânica possui o objetivo de reverter a nacionalização do Canal de Suez, fazendo-o seja por vias pacíficas, seja por meios militares, e apoiando-se em outras nações também afetadas pela situação, tais como França e Israel (WARNER, 1991).

A União das Repúblicas Socialistas Soviéticas condena veementemente a intervenção das potências europeias no Egito. Devido ao seu alinhamento com Nasser, a URSS não deseja ver um regime aliado ser desestabilizado por pressões do ocidente capitalista. É de extrema importância para a URSS que o Egito saia vitorioso desse conflito e que Nasser continue no poder. A URSS também tem grandespreocupações de que a Crise de Suez seja o início de uma presença mais forte do ocidente no OrienteMédio, área que preocupa o regime de Khrushchev. Reiterando sua defesa da autodeterminação dospovos e luta contra potências coloniais, a URSS está disposta a se mobilizar pela defesa do Egitonasserista se necessário (VISENTINI, 2007).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Como o passado colonial dos países do Oriente Médio e a Guerra Fria influenciam aCrise de Suez?

(2) De que maneira a dinâmica regional da questão Palestina contribui para a rivalidade

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entre Egito e Israel?

(3) Qual a importância do Pan-arabismo e como os países do Conselho de Segurançadevem considerá-lo enquanto buscam uma solução pacífica para a situação?

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASAYLLON, Carlos Vázquez. Política Exterior del Perú. Revista de Política Internacional, [s.l.] n. 158, p.23-39, Jul./Ago. 1978. Disponível em: <file:///home/chronos/u-48c7023cbbe1d8b5cdd0223ac2dcc70873174523/Downloads/RPI_158_023.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2018.BALL, W. Macmahon. The Australian Reaction to the Suez Crisis. The Australian Journal Of Politics And History, Canberra, v. 1, n. 1, p.129-150, dez. 1956.BBC NEWS. Suez Crisis: Key maps. 2006. Disponível em: <http://news.bbc.co.uk/2/hi/middle_east/5195068.stm>. Acesso em: 20 fev. 2018.BRITANNICA. Belgian Congo. 1998. Disponível em: <https://www.britannica.com/place/Belgian-Congo>. Acesso em: 02 mar. 2018.BRITANNICA. Egypt. 1999. Disponível em: <https://www.britannica.com/place/Egypt>. Acesso em: 25 mar. 2018BUENO, C. Relações Brasil-Estados Unidos (1945-1964). In: ALBUQUERQUE, J. A. G. (Org.). Sessenta anos de política externa brasileira (1930-1990): O desafio geoestratégico. Editora Annablume; Nupri; USP; 2000.CLEMESHA, Arlene E.. Palestina, 1948-2008. 60 anos de desenraizamento e desapropriação. Tiraz, [s.l.], v. 5, p.167-185, 10 dez. 2008. Universidade de Sao Paulo Sistema Integrado de Bibliotecas - SIBiUSP. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2594-5955.tiraz.2008.135362.COOK, Steven A. The Struggle for Egypt: from Nasser to Tahrir Square. New York: Oxford University Press, 2012.DEHGHAN, Saeed Kamali; NORTON-TAYLOR, Richard. CIA admits role in 1953 Iranian coup. 2013. Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2013/aug/19/cia-admits-role-1953-iranian-coup>. Acesso em: 02 mar. 2018.DESSOUKI, Ali E. Hillal. Regional Leadership: Balancing off Costs and Dividends in the Foreign Policy of Egypt. In: KORANY, Baghat; DESSOUKI, Ali E. Hillal. The Foreign Policies of Arab States: the challenge of globalization. Cairo: American University of Cairo Press, 2008. p. 167-194.DOUGHERTY, James E. The Aswan Decision in Perspective. 1959. Political Science Quarterly 74 (1): 21–45.FERABOLLI, Silvia. A (Des) Construção da Grande Nação Árabe: condicionantes sistêmicos, regionais e estatais para a ausência de integração política no Mundo Árabe. 2005. 225 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Relações Internacionais, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/7126/000539529.pdf?seq>. Acesso em: 30 mar. 2018.FITZGERALD, Percy. The Great Canal at Suez: it’s Political, Engineering & Financial History. Londres: Saville, Edwards and co., 1876. Disponível em: <https://books.google.com.br/books/about/The_Great_Canal_at_Suez.html?id=YroJAAAAMAAJ&redir_esc=y>. Acesso em: 20 fev. 2018.GOLANI, Motti. The Sinai War and Suez Crisis, 1956-7. Tel Aviv: Jewish Virtual Library, 2010.GOLDSCHMIDT JR, Arthur. A Brief History of Egypt. Nova Iorque: Facts on File, 2008.GRANT, Susan-Mary. Uma História Concisa dos Estados Unidos. São Paulo: Edipro, 2014.HALLIDAY, Fred. The Middle East in International Relations: Power, Politics and Ideology. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.HILAL, Jamil. Where Now for Palestine?: The Demise of the Two-State Solution. Zed Books, 2013. 272 p.HINNEBUSCH, Raymond. The Foreign Policy of Egypt. In: HINNEBUSCH, Raymond; EHTESHAMI, Anoushiravan. The Foreign Policy of Middle East States. Boulder: Lynne Rienner Publishers, 2002. p. 91-114.HINNEBUSCH, Raymond. The international politics of the Middle East. Manchester: Manchester University Press, 2003.HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX: 1914-1991 São Paulo: Companhia das Letras, 1995.HOLSTI, K. J. Why Nations Realign: Foreign Policy Restructuring in the Postwar World. London: Allen and Unwin, 1982.HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.JALAL, Ayesha. Towards the Baghdad Pact: South Asia and Middle East Defence in the Cold War, 1947-

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ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS

O Impacto das Migrações para o Continente Americano

Ana Paula Fraga, Beatriz Vieira Rauber, Francielle Mazocco e Magnus Kenji Hernandes Hübler Hiraiwa1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) De que maneira a Organização dos Estados Americanos pode amenizar os impactos sociaisdas migrações?

(2) É possível se alcançar políticas padronizadas para as migrações intrarregionais?

(3) Como podem cooperar para a melhor inserção dos migrantes na sociedade?

APRESENTAÇÃOA Organização dos Estados Americanos (OEA) congrega 35 países e é um dos organismos

internacionais mais antigos do mundo. Tendo como objetivo principal a manutenção de uma ordem de paz e justiça entre seus membros, a organização busca promover a intensificação da colaboração e a defesa da soberania, integridade territorial e independência do continente americano. O organismo constitui o principal fórum governamental, político, jurídico e social do continente.

Durante o VII UFRGSMUNDI, será simulada a reunião da Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, que se reúne anualmente e, neste ano, discutirá a questão do impacto das migrações intra-regionais no continente americano. Enquanto o fenômeno migratório torna-se cada vez mais acentuado entre os países latino-americanos, muitos países do continente fecham suas fronteiras.

1 HISTÓRICOA presente sessão analisará a evolução histórica de duas temáticas. Primeiramente, serão

retomados os conceitos de migração e migrantes e a sua evolução no último século, a fim de compreender seu uso e suas implicações para os movimentos migratórios contemporâneos das Américas. Por fim, será analisado o desenvolvimento da OEA, para se compreender os princípios do organismo a ser simulado.

1.1 MIGRAÇÃO: DISCUSSÃO CONCEITUAL E HISTÓRICAO ato de migrar é um processo recorrente na história da humanidade, motivado ou forçado por

questões diversas que conduzem indivíduos, grupos e povos a se deslocarem de um território a outro. As migrações, portanto, não se tratam de um fenômeno recente; além disso, acontecem em diferentes circunstâncias e são delineadas por diferentes contextos de normas e regras sociais.

Segundo a definição da Organização Internacional para Migrações (OIM), quando ocorre em âmbito internacional, migração designa

Movimentos de pessoas que deixam os seus países de origem ou de residência habitual para se fixarem, permanente ou temporariamente, noutro país. Consequentemente, implica a transposição de fronteiras internacionais (OIM, p. 41, 2009).

Migrações internacionais referem-se ao atravessamento de fronteiras que separam dois ou mais Estados soberanos1. Ou seja, passar de um território para outro, cada qual com uma organização política de poder soberano. Em vista disso, é justamente o status soberano dos Estados que os permitem regulamentar independentemente de outros Estados a entrada e saída de pessoas do território nacional.

Para os indivíduos que migram, ingressar em um Estado diferente daquele de origem ou de residência habitual significa encontrar-se não só sob outra jurisdição, mas também em outra sociedade. Ainda, vale lembrar que, muitas vezes, o sistema de normas e valores pelo qual a sociedade de destino se submete e opera é desconhecido para o imigrante. Tais discrepâncias políticas e jurídicas entre os países dificultam o processo de regulamentação e integração do estrangeiro na sociedade receptora,

1 Soberania: “poder de mando de última instância”, segundo a definição de oferecida por Norberto Bobbio em seu Dicionário de Política (2010).

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uma vez que os Estados detêm certas prerrogativas para atos discricionários32 que regimentam o controle dos fluxos migratórios em seu território.

Deve-se atentar que as definições de migração e de migrante não abarcam os motivos pelos quais as pessoas se deslocam entre países. Contudo, é necessário enfatizar que o termo migrante “compreende, geralmente, todos os casos em que a decisão de migrar é livremente tomada pelo indivíduo em questão, por razões de ‘conveniência pessoal’ e sem a intervenção de fatores externos que o forcem a tal” (OIM, p. 42, 2009). Para os casos que envolvem elementos de coação, principalmente ameaça à vida, como causa do movimento migratório, tendo sido provocado tanto por questões naturais quanto humanas, usa-se o termo migração forçada. Inclusive, os refugiados se enquadram nessa categoria, pois são pessoas que se encontram fora do país de origem ou de residência habitual e não podem, ou não desejam retornar por fundados temores de perseguição em razão de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opinião política (ONU, 1951).

Além de definir o termo refugiados e regulamentar sobre o status legal dos mesmos, a Convenção de 1951 relativa ao Estatuto dos Refugiados estabeleceu o princípio de “não-devolução”, “o qual define que nenhum país deve expulsar ou ‘devolver’ um refugiado, contra a vontade do mesmo, em quaisquer ocasiões, para um território onde ele ou ela sofra perseguição” (ACNUR, 1951). Portanto, cabe notar que o amparo legal para regulamentar as migrações evoluiu no sentido de contemplar uma perspectiva mais próxima aos direitos humanos, apesar de restarem muitas questões em aberto e que dependem de atos discricionários aos Estados, em respeito ao princípio da soberania estatal.

Um tipo de deslocamento que marca a trajetória de muitos dos fluxos migratórios, mas que ainda provoca controvérsias em termos de enquadramento jurídico e de direitos, é a chamada migração laboral ou migração econômica. Muitos indivíduos migram do país de origem em busca de melhores condições de vida e de emprego, haja vista a situação de fragilidade de certas economias nacionais. Entretanto, nem sempre esses migrantes encontram amparo adequado na legislação dos países de destino, até mesmo pelo fato de que migrações por razões econômicas são consideradas, em muitos casos, um deslocamento voluntário. Em dezembro de 1990, a Assembleia Geral da ONU adotou a Convenção Internacional sobre a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros de suas famílias, que visa garantir os direitos aos trabalhadores migrantes independentemente de seu estatuto jurídico (ONU, 1992).

Em vista disso, é preciso ressaltar que a questão do trabalho configura ponto central na história das migrações internacionais e, inclusive, permite entender muitos dos fluxos migratórios que contribuíram para formação do continente americano. A primeira divisão internacional do trabalho data do fim do século XV com o avanço do projeto colonizador europeu, que separou a economia mundial em uma região central (Europa) e outra periférica (América, Ásia e África) a partir da exploração econômica. A colonização da América, primeiro por portugueses e espanhóis, implicou a progressiva especialização das economias coloniais na extração e produção de bens voltados para atender a demanda dos mercados consumidores centrais, localizados na Europa. A montagem desse sistema centro-periferia envolveu o deslocamento não só dos próprios colonizadores europeus, mas também de uma grande quantidade de escravos africanos para servir de mão de obra nas atividades econômicas desenvolvidas nas colônias3 (FURTADO, 2007; GUERRA, 2006). O funcionamento desse sistema resume-se basicamente pela utilização de recursos da periferia a favor do desenvolvimento do centro, o que também significa dizer que a industrialização dos países centrais deve-se muito ao progressivo empobrecimento da periferia.

A chegada de europeus e africanos no continente americano representou a internacionalização da região, bem como impactou na formação de identidades políticas e culturais (GUERRA, 2003). É preciso distinguir, entretanto, a formação política, econômica, institucional, cultural e social dos Estados Unidos e Canadá em relação aos demais países da América Latina e Caribe. Essa diferença histórica está relacionada ao colonialismo de povoamento anglo-saxônico na região mais ao norte do continente, cujos processos impactaram na trajetória de desenvolvimento desses países. Diferentemente do colonialismo exploratório implementado na América Latina, o primeiro caracteriza-se pelos fluxos

2 Discricionariedade: no direito, significa qualidade de agir ou decidir individualmente, conforme conveniência, mas com limi-tações impostas pelas previsões da Lei.3 Os conceitos divisão internacional do trabalho e centro-periferia referem-se a um sistema econômico em que a distribuição dos ganhos de produtividade entre os países é desigual, pois existe uma progressiva especialização das economias nacionais fazendo com que o centro seja o artífice e beneficiário dos processos produtivos, enquanto a periferia do sistema tem seus fato-res produtivos, principalmente a força de trabalho, explorados em benefício do desenvolvimento do centro (DI FILLIPO, 1998).

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de cidadãos europeus em direção ao norte do continente com o fim de ali estabelecer residência, devido aos processos de industrialização na Europa54 , o que contribuiu para a formação de uma economia e uma consciência voltadas ao desenvolvimento local, muitas vezes em oposição aos benefícios da metrópole. Cabe notar, inclusive, que a relação dos Estados Unidos com os demais Estados da região após a independência das colônias latino-americanas até os dias de hoje é marcada por fortes assimetrias.

A partir dessa revisão histórica e conceitual, pode-se observar que a América nasceu enquanto um continente receptor de migrantes e de escravos de diversas origens. Já nas décadas de 1920 e 1930, por exemplo, os países da América do Sul receberam muitos imigrantes europeus e japoneses devido a guerras, crises econômicas, políticas e ambientais que se passavam em outros continentes, os quais motivaram a vinda de muitos indivíduos para países como Brasil, Argentina e Chile, onde se formaram comunidades específicas de diversas nacionalidades. No mais, diversos países latino-americanos incentivaram a imigração em seu território para determinadas comunidades no exterior (REIS, 2011). No Brasil, foi praticada uma política de embranquecimento que visava à superação da miscigenação herdada dos tempos escravocratas como uma estratégia de desenvolvimento. Percebe-se, portanto, que a diversidade não necessariamente cedeu lugar à tolerância e o racismo para com imigrantes de determinadas regiões é uma realidade que persiste, inclusive nas relações entre os países da América.

Já nas últimas décadas do século XX, os fluxos migratórios do continente, no geral, refletiram as assimetrias econômicas que se perpetuam no Sistema Internacional e que reproduzem a divisão internacional do trabalho. Ou seja, o subdesenvolvimento latino-americano tornou-se causa da inversão dos fluxos históricos: nas últimas décadas aumentou a emigração de seus nacionais, que se direcionam para países desenvolvidos tipicamente da Europa ou da América anglo-saxônica em busca de melhores condições de vida e de emprego, trazendo à tona novamente a questão do trabalho e da migração econômica. Portanto, foram os fluxos migratórios internacionais extrarregionais, ou seja aquelas entre continentes, que contabilizaram a maior parte dos deslocamentos realizados envolvendo o continente americano mais recentemente (MARINUCCI,s.d.).

No entanto, é possível apontar também outras mudanças paralelas envolvendo os fluxos migratórios recentes. Novos contornos para as migrações na América podem ser identificados diante da intensificação das migrações intrarregionais na região da América Latina e Caribe, bem como a entrada em massa de africanos na América do Sul. O aumento dos deslocamentos nessas duas partes do continente deve-se ao cenário mais restritivo na Europa e nos Estados Unidos, além da crescente xenofobia5 nos países desenvolvidos e da crise econômica, o que eleva a responsabilidade dos Estados latino-americanos de continuarem atualizando suas políticas migratórias com foco em uma perspectiva de direitos humanos.

Atente-se, sobretudo, ao fato da centralidade do trabalho como elemento que impulsiona fluxos migratórios tanto de saída quanto de entrada no continente, e tanto no passado quanto no período mais recente. Certamente a questão econômica não se trata de uma explicação única, mas apresenta no continente americano uma continuidade expressiva enquanto fator propulsor de movimentos migratórios. Em relação a essa realidade, basta lembrar que, apesar de os países da América apresentarem trajetórias históricas próximas, existem fortes assimetrias entre os subcontinentes.

1.2 A ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS NA HISTÓRIAPara entender o papel da OEA no que tange às políticas migratórias é necessário que se tenha

em mente o contexto de criação dessa organização e, portanto, sob qual perspectiva a OEA tem se desenvolvido. Sendo assim, faz-se importante lembrar que a instituição da OEA como um organismo constituinte do sistema ONU data do ano de 1948, ou seja, seu contexto de criação é o imediato pós-guerra e o início da Guerra Fria. Trata-se de um período de grande rivalidade entre dois sistemas econômicos antagônicos - capitalismo e socialismo -, em que a dimensão ideológica é acrescentada às questões econômicas, políticas e militares. Nesse contexto, a Política Internacional foi marcada, então, pela liderança dos Estados Unidos e da União Soviética, que disputavam a formação de suas respectivas áreas de influências (AYERBE, 2002).

A América Latina foi profundamente impactada pelos eventos produzidos no centro da Política

4 A industrialização europeia produziu grandes concentrações populacionais nas recém instauradas áreas urbanas, o que se co-nhece por êxodo rural e urbanização. A migração foi uma forma de resolver o problema do excedente populacional que satisfazia os desejos das metrópoles de ocupar os territórios ao norte do continente americano.5 Xenofobia é a percepção de ameaça ou medo, bem como a aversão, antipatia profunda e, até mesmo, a hostilidade em relação a estrangeiros.

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Internacional, tendo sido progressivamente incluída no bloco capitalista, sob a liderança dos Estados Unidos. Nesse sentido, uma das dimensões do plano estratégico norte-americano consistia em liderar o delineamento de um novo conjunto de regras, princípios e práticas internacionais através da criação de instituições multilaterais e da presença militar com o propósito de combater o comunismo no continente. Portanto, sob uma perspectiva securitária, os Estados Unidos resgataram o ideal pan-americanista - que representava historicamente as tentativas de cooperação entre os Estados do continente americano, para liderar a assinatura do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR)6 e a criação da Organização dos Estados Americanos, ambos operando pelos princípios de não-intervenção7, igualdade jurídica entre os Estados8 , resolução pacífica de controvérsias9 e defesa coletiva10 (BETHELL e ROXBOROUGH, 1996). Entretanto, cabe notar também que a OEA se constituiu enquanto um organismo para a defesa e promoção da democracia representativa e do desenvolvimento integral dos Estados-membros apenas na teoria. Isto é, existiram contradições entre o discurso oficial e a prática: a construção da OEA estava ideologicamente fundamentada na contenção do comunismo, o que justificou a interrupção de processos democráticos na América Latina a partir de golpes de Estado preventivos. Ainda, o tema de desenvolvimento estava especialmente relacionado à visão de que pobreza poderia dar margem a movimentos comunistas. Tratava-se, portanto, de um campo para a política norte-americana que se reorientou a apoiar, inclusive financeiramente, os regimes militares em detrimento da defesa democrática e que pouco atuou para a superação do subdesenvolvimento. (DABÈNE, 2003, p. 177-178). Essas considerações evidenciam que os propósitos democráticos, se articulados ao princípio de defesa hemisférica, podem ser mais uma roupagem que uma prática efetiva da organização, nem sempre alinhada com o princípio de não-intervenção e igualdade entre os Estados. Dessa forma, para entender como o tema de migrações é tratado na organização, deve-se atentar o modo como os países politizam, militarizam ou ideologizam o assunto dentro das iniciativas em voga na OEA.

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Sabe-se que as Américas têm nas suas raízes históricas diversos processos de imigração e migrações. Todavia, desde as primeiras décadas do XXI se observa uma mudança no perfil deste processo. Até então os fluxos de deslocamento dos países da América (especialmente a América Latina) eram direcionados para os países centrais11, como a Europa e os Estados Unidos da América (EUA). Com o advento do novo século e a crise dos países capitalistas, a migração intra-regional se intensificou nas Américas, tendo em vista não apenas a redução das vagas no mercado de trabalho, como também a intensificação de medidas restritivas e o crescimento da xenofobia (ONUBR, 2016). A presente seção explora os três subcontinentes da América, buscando analisar em cada região quais são os maiores entraves e impactos das questões migratórias. Ao final desta, será possível compreender mais sobre a situação do continente no que se refere a tais questões para conseguir discuti-la argumentativamente.

2.1 AMÉRICA DO NORTE A América do Norte - composta por Estados Unidos, México e Canadá - apresenta duas fronteiras terrestres cujo intercâmbio cultural e populacional são de grande importância: a fronteira EUA-Canadá e a fronteira EUA-México. A primeira é caracterizada pela extensão e pelo índice relativamente baixo de

6 Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, também conhecido como Tratado do Rio, foi um acordo celebrado em 1947 por vários países do continente americano baseado na doutrina de defesa hemisférica, segundo a qual um ataque contra qualquer país-membro é considerado uma ameaça a todos os demais (FGV, 2009).7 Não-intervenção: determina o respeito ao princípio de autodeterminação, de modo a instituir que um Estado não deve intervir, direta ou indiretamente, nos assuntos internos de outro Estado com o propósito de afetar ou subordinar sua vontade.8 Igualdade Jurídica entre os Estados: em direito internacional público, considera-se que os Estados são iguais perante a ordem jurídica internacional.9 Solução pacífica de controvérsias: refere-se o resgate a instrumentos pacíficos para evitar o recurso à força nas relações inter-nacionais.10 Defesa Coletiva: cooperação para a segurança dos Estados baseado em uma ideia de ameaça compartilhada, em que a ameaça latente ou real a um Estado é considerada um problema de segurança de todos os demais.11 O termo centro remonta a Teoria do Sistema Mundo do pensador Immanuel Wallerstein, entende-se como centro aqueles países que ofertam os bens de consumo final, com alto valor agregado, e que concentram em si maior parte do lucro advindo do comércio. Caracterizam-se como países do centro os países europeus, os Estados Unidos e outros países tradicionalmente chamados de “desenvolvidos” (WALLERSTEIN, 2003).

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controle, contrastando com a segunda, considerada uma das fronteiras mais sensíveis e movimentadas do mundo (NIEVES, 2017). Em números absolutos, os Estados Unidos têm mais imigrantes do que qualquer outro país, com uma quantidade estimada de 43,7 milhões de pessoas em 2017, correspondendo a 13,5% da população americana (ZONG, 2018). A maior parte dos imigrantes vem do México (11,5 milhões), seguido pela Índia e pela China, com quase cinco vezes menos imigrantes em território americano (US CENSUS BUREAU, 2016; US DHS 2017). Estima-se que desses 43,7 milhões de imigrantes, de 11 a 12 milhões sejam considerados ilegais, praticamente metade deles vindos do México (KROGSTAD, 2017; SHERMAN, 2015). A principal motivação por trás da migração de mexicanos para os Estados Unidos é a busca por trabalho. É comum muitos dos imigrantes mexicanos tomarem postos de trabalho indesejados ou que não exijam uma formação técnica ou profissional expressiva, preenchendo vagas que não costumam ser preenchidas por americanos nativos. Estima-se que esses imigrantes mexicanos contribuam anualmente em 395 bilhões de dólares para a economia estadunidense, um valor próximo ao Produto Interno Bruto (PIB) norueguês (YOUNG, 2013). Estimativas apontam que a força de trabalho civil dos EUA em 2017 inclua 8 milhões de imigrantes considerados ilegais, representando 5% da força de trabalho norte-americana (KROGSTAD, 2017). Um argumento normalmente utilizado contra imigrantes ilegais nos Estados Unidos é que eles se aproveitam dos programas sociais oferecidos pelo governo estadunidense sem pagar impostos em contrapartida. Esta forma de pensar ignora o fato de que não há somente impostos diretos, mas também indiretos, cuja contribuição não é possível se abster, que estão presentes em bens e serviços básicos de alimentação, transporte e moradia. Além disso, muitos desses trabalhadores ilegais pagam programas governamentais aos quais nunca terão acesso, criando um retorno positivo para o governo. Por exemplo, de acordo com a Social Security Administration, ao longo dos anos, tais trabalhadores contribuíram com US$ 300 bilhões, ou quase 10%, do Social Security Trust Fund (Fundo Fiduciário da Segurança Social), de US$ 2,7 trilhões. Desse valor, apenas um bilhão foi repassado aos mesmos (YOUNG, 2013). É comum também a atribuição do caráter de “violentos” e outros adjetivos depreciativos para tais imigrantes, vinculando-os a uma natureza agressiva e criminosa. Contudo, não há evidências empíricas demonstrando que imigrantes são mais propensos a cometerem crimes - de fato, a taxa de encarceramento de imigrantes é consistentemente menor do que a dos nativos. Em 2010, por exemplo, 1,9 por cento dos homens imigrantes de 18 a 40 anos estavam presos, em comparação com 3,2 por cento dos homens nativos norte-americanos da mesma idade (DOLEAC, 2017). O discurso contra a imigração foi uma característica marcante da campanha eleitoral de 2016 do então candidato a presidente Donald Trump. O agora presidente advogou a favor construção de um muro muito maior e fortificado na fronteira com o México, afirmando que o país vizinho teria que pagar por sua construção, estimada em US$ 8 a US$ 12 bilhões - outros afirmam que há incertezas suficientes para aumentar o custo para entre US$ 15 e US$ 25 bilhões (BBC, 2017b). No início da administração Trump, o presidente americano lançou duas ordens executivas anti-imigratórias, uma delas visando a expansão das barreiras na fronteira com o México e a atribuição de parte dos custos ao governo mexicano, provocando tensões e uma breve crise diplomática com o governo de Enrique Peña Nieto, que se manifestou de maneira fortemente contrária às proposições do presidente norte-americano (AHMED, 2017; BBC, 2017a). A fronteira entre Estados Unidos e México é uma fronteira fortemente securitizada e protegida por mais de 900 quilômetros de barreiras. A fronteira é guardada pela United States Border Patrol (USBP), a patrulha fronteiriça estadunidense, composta por cerca de 21 mil agentes cujo objetivo principal é impedir a travessia de imigrantes ilegais para dentro dos Estados Unidos (US CBP, 2011; WEISS, 2017). Além da patrulha, outros agentes do Estado americano também atuam na fronteira, focando especialmente no tráfico de drogas comandado pelos cartéis mexicanos, que há anos atravessam a fronteira transportando drogas para dentro dos Estados Unidos (ARCHIBOLD, 2009). Estima-se que entre 1998 e 2017 em torno de 7200 pessoas tenham morrido tentando atravessá-la para entrar no país (US CBP, 2017). O presidente Donald Trump também deu fim à política do Deferred Action for Childhood Arrivals (Ação Diferida para Chegadas Infantis, o DACA), programa implementado em 2012 pelo então presidente Barack Obama para impedir que pessoas trazidas ilegalmente para Estados Unidos quando crianças sejam deportadas depois de adultas. A maior parte dos recipientes do DACA - chamados de Dreamers (Sonhadores) - vem do México, embora muitos outros venham da América Central, América

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do Sul, Sul da Ásia e Caribe. Com a extinção da DACA, a estratégia de Trump tem sido barganhar para conseguir o apoio do congresso em prol de alguns projetos impopulares, especialmente entre os Democratas, tais como a ampliação do muro. No início de 2018 o presidente propôs uma legislação oferecendo a cidadania americana a aproximadamente 1,8 milhão de jovens ilegais que vivem nos Estados Unidos - os já referidos Dreamers - em troca de um investimento significativo no muro fronteiriço, uma maior repressão aos imigrantes ilegais e mudanças radicais nas políticas de migração de familiares (SIDDIQUI E GAMBINO, 2018).

Enquanto no sul dos Estados Unidos a polêmica atinge proporções nunca antes vistas, no norte a chamada Fronteira Internacional - a maior fronteira do mundo entre dois países - é considerada uma das menos fortificadas e securitizadas do mundo. Estima-se que existam hoje nos Estados Unidos aproximadamente 800 mil imigrantes canadenses, em média com escolaridade mais alta do que dos nativo americanos. No Canadá, os imigrantes norte-americanos compõem apenas uma pequena parcela do total de imigrantes (CANADA, 2014).

2.2 AMÉRICA CENTRALA América Central é um subcontinente da América que possui vinte países independentes:

Guatemala, Belize, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá, Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Cuba, Dominica, Granada, Haiti, Jamaica, República Dominicana, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas e Trinidad e Tobago; e onze territórios ultramarinos: Anguila, Antilhas Holandesas, Aruba, Guadalupe, Ilhas Caimã, Ilhas Turks e Caicos, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Martinica, Monte Serra e Porto Rico. Essa região da América é a que tem alguns dos movimentos migratórios mais críticos do continente, possuindo alguns dos Estados com mais emigrantes, como Honduras, Guatemala e El Salvador, que figuram entre os mais violentos do mundo (OIM, 2017). Em geral, as migrações entre as nações latino-americanas são de cunho limítrofe, ou seja, os migrantes se deslocam para territórios que fazem fronteira com o seu de origem. Fluxos antigos para países fronteiriços continuam existindo, como é o caso da caso da migração da Nicarágua para Costa Rica, do Haiti para a República Dominicana e da Guatemala para o México (MARINUCCI, s.d.). Os emigrantes oriundos de países da América Central tem como principal destino final os Estados Unidos, entretanto, também há outros fluxos, que vem crescendo ao longo dos últimos anos. O México é um dos principais destinos de centro-americanos, principalmente de guatemaltecos e salvadorenhos para o Sul do país, e também muito usado como corredor para os Estados Unidos. O movimento de migrantes, principalmente nicaraguanos e panamenhos, em direção à Costa Rica por trabalho é um dos mais relevantes fluxos intrarregionais. Outro fluxo importante é o de migrantes oriundos principalmente de Guatemala, Honduras e El Salvador com destino a Belize, em busca de emprego e para fugir da violência, uma vez que os três países citados formam uma região que está entre as mais violentas do mundo, o Triângulo Norte (MARINUCCI, s.d.; WORLD MIGRATION REPORT, 2017). Uma das rotas de migração mais notáveis entre os países centro-americanos é o de haitianos para a República Dominicana, que remonta do século passado e foi gradativamente aumentando, impulsionado pelos desastres naturais e pela crise política que vive o Haiti, tornando esse o fluxo mais intenso da região (MARINUCCI, s.d. e OIM, 2017d). Os haitianos vão para a República Dominicana em busca de emprego, onde acabam se submetendo a situações de trabalho degradantes. Há diversas denúncias de violações dos direitos humanos de trabalhadores imigrantes haitianos na República Dominicana (FERGUSON, 2003). Entretanto, a República Dominicana não é apenas um receptor de imigrantes. Quase um milhão e trezentos mil dominicanos deixam seu país, representando cerca de 10% da população. O principal destino dos migrantes dominicanos é o território estadunidense na América Central, Porto Rico (FHB, 2017). A Costa Rica é o país centro-americano que mais recebe imigrantes, especialmente nicaraguenses, que saem de seu país devido à recessão econômica e à ocorrência de desastres naturais como furacões (GONZÁLEZ, 2005). Com a instalação da fábrica da Intel (indústria de informática) e o turismo, a Costa Rica alcançou um sucesso econômico não visto nos seus países vizinhos, o que torna o país muito atrativo para a imigração (BBC, 2002). A situação dos migrantes durante o trajeto também é motivo de preocupação. O caminho até o país de destino é muitas vezes feito de forma ilegal e perigosa, onde correm risco de assaltos, estupros e sequestros por grupos criminosos do México e da América Central, como Los Zetas e outros cartéis,

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além do risco de fome e desidratação. Outro meio de transporte muito usado são os trens de carga conhecidos como La Bestia, que não raro são atacados por grupos criminosos, além do risco de acidentes e mutilações durante o trajeto. Entretanto, os delitos e violações de direitos humanos não são realizados somente por grupos criminosos, já que mais da metade dessas ações são realizadas por autoridades e indivíduos particulares (FHB, 2017). Apesar de os países da América Central possuírem um histórico de emigração da região, nos últimos anos as políticas de proibição de migrações têm se tornado cada vez mais comuns. A Costa Rica, por exemplo, fechou suas fronteiras para imigrantes cubanos em Dezembro de 2015, e posteriormente, em Agosto de 2016, para todos os imigrantes ilegais. A Nicarágua, que figura entre os países com muitos emigrantes, também fechou suas fronteiras para haitianos e cubanos em Novembro de 2015. Além disso, o México fechou sua fronteira ao Sul para os imigrantes centro-americanos (WORLD MIGRATION REPORT, 2017).

Figura 1: Rotas migratórias e números de imigrantes e emigrantes.

Fonte: FHB, 2017.

2.3 AMÉRICA DO SUL Apesar das recentes crises na América do Sul, o processo de migração intra-regional não se retraiu, cerca de 6 milhões de pessoas se deslocaram na região em 2017. Desde a primeira década do século XXI, as migrações intra-regionais da América Latina cresceram 50%, segundo os dados emitidos pelos relatórios do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU (ONU, 2017). Ademais, esse tipo de migração corresponde a cerca de 13% dos fluxos internacionais do continente, comparado aos 10% de 2005. Mediante a análise do Relatório Anual de Migrações Mundial, da OIM (OIM, 2018), identifica-se que a Colômbia é a principal origem de emigrantes da América do Sul, enquanto os principais destinos ainda são Argentina, Brasil e Chile. Além dos migrantes oriundos dos 12 países da região, recebem-se, ainda, muitos imigrantes da América Central, em especial de Cuba, Haiti e República Dominicana. A migração intra-regional é facilitada pelo desenvolvimento tecnológico que aprimorou os meios de comunicação e barateou os custos do transporte, além de, no caso da América do Sul e da América Latina num geral, ser fundamentalmente facilitada e amparada pelas políticas de Integração que regem a relação entre os Estados sul-americanos (OIM, 2018). No caso da região comentada, os principais organismos de integração reconhecidos são União das Nações Sul-Americanas (UNASUL)12, a Comunidade Andina13 e o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)14.

12 A UNASUL é a principal organização regional de cooperação política entre os países da América do Sul, dela fazem parte Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai, Venezuela13 A Comunidade Andina é um bloco econômico entre os países da região dos Andes, que trata predominantemente de temas comerciais. Seus membros são Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.14 O Mercosul é um bloco econômico que trata predominantemente de temas comerciais, mas explora outros como a livre circulação de pessoas e abertura de fronteiras. Seus membros são Argentina, Brasil, Paraguai, Uruguai e a Venezuela (que se encontra suspensa).

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Com o objetivo de esclarecer a situação da América do Sul no debate sobre os Impactos da Migração no continente, serão explorados alguns casos críticos para a dinâmica da região. Argentina e Venezuela têm a maior taxa de nacionais nascidos fora do país da região, ambas correspondendo a quase 5% da população, enquanto esse grupo no Brasil, Colômbia e Peru corresponde a apenas 0,3% da população total (OIM, 2017a). A maioria dos migrantes da região se deslocam por questões econômicas, no Brasil, por exemplo, o salário-mínimo chega a 10 vezes mais do que de alguns países da região como o Haiti (UEBEL; ABAIDE, 2017). Entretanto, após todo o processo de entrada no novo país, muitas dessas pessoas ainda passam grandes dificuldades de se adaptar e se submetem a condições precárias de trabalho para conseguir ingressar no mercado. Nos últimos anos se acentuou também a migração de caribenhos e outros nacionais da América Central para a região sul do continente. Esses migrantes, quando comparado aos sul-americanos, são mais vulneráveis dados os desafios de se conseguir o status legal de migrante, além de enfrentarem barreiras culturais mais acentuadas. A América do Sul é muitas vezes uma região de passagem tanto para estes migrantes americanos, quanto para pessoas que vem da África em busca de trabalho, tendo normalmente os Estados Unidos como seu destino final (OIM, 2017b). Isso se apresenta como mais um desafio a ser superado pelos Estados sul-americanos, no sentido de conciliar o processo de migração (e reconhecimento do estrangeiro no país) com a necessidade dos indivíduos de seguir se deslocando em direção a outro Estado. Por fim, o continente enfrenta atualmente o crescente número de migrantes venezuelanos que buscam uma qualidade de vida melhor do que a possibilitada em seu país no presente momento. Apesar do avanço das discussões no âmbito regional sul-americano dada a sua forte integração, ainda há uma grande defasagem no que tange à negociação com o restante da América (ONUBR, 2017). É importante ressaltar que após uma virada de governos em 2016, alguns países, como a Argentina e o Brasil se encontram em um período de retorno a medidas conservadoras que podem atravancar a discussão sobre regulação da entrada de migrantes. Tendo em vista a necessidade de regulamentação do processo de migração intra-regional, os países sul-americanos se reúnem anualmente na Conferência Sul-Americana sobre Migrações que tem esta discussão como pauta e se dedica à formulação de políticas públicas que atendam a questão das migrações (CSM, 2018). Nos últimos anos, os seus membros têm se empenhado para contribuir com a OIM na tentativa elaborar normativas globais sobre o tópico (ONUBR, 2017). Outros avanços no âmbito dos organismos de integração também foram feitos como o Acordo de Residência do Mercosul e os instrumentos de livre trânsito criados pela Comunidade Andina (ONUBR, 2017). Os debates deverão sempre levar em conta pontos importantes como os direitos humanos dos migrantes, resposta aos fatores que impulsionam a migração, trato de pessoas e tráfico de migrantes, assim como questões de mobilidade laboral e migração regular e irregular.

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIASNo escopo da OEA, as questões migratórias são abordadas e tratadas através de diversos órgãos e entidades que compõem a organização, haja vista a complexidade e a natureza transversal dos temas relacionados à migração. Existem diversas iniciativas ativas e inter-relacionadas que abrangem o assunto (OEA, 2015). O Programa Interamericano para a Proteção dos Direitos Humanos dos Migrantes foi aprovado pela Assembleia Geral da OEA em 2005 diante da intensificação das migrações nas Américas. O objetivo do programa é a promoção e proteção dos direitos humanos para os migrantes mediante o desenvolvimento de políticas públicas, da cooperação entre os países membros e da vinculação de melhores práticas, bem como de ações integradas entre os órgãos e entidades da organização (OEA, 2018). A Comissão de Assuntos Migratórios (CAM) foi instituída como fórum permanente da Comissão Interamericana para o Desenvolvimento Integral (CIDI) em 2012, estabelecendo-se como principal entidade encarregada da temática migratória no escopo da OEA. A CAM surgiu em substituição à Comissão Especial para Assuntos Migratórios, cujos trabalhos duraram quatro anos (2008-2012). Entre as funções da CAM, destacam-se a promoção do diálogo, da cooperação e da troca de experiências para o fomento de melhores práticas migratórias. Além disso, a CAM é responsável por revisar, implementar e seguir as recomendações de temática migratória estabelecidas pela CIDI, bem

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como impulsionar a cooperação com outros organismos internacionais e regionais sobre o tema (OEA, 2018).

Em apoio à CAM, o Programa de Migração e Desenvolvimento da OEA provê apoio técnico ao Presidente e Vice-Presidente da Comissão e aos representantes dos Estados-membros (OEA, 2018). O Programa também desenvolve e implementa em conjunto com a OCDE, o Sistema Contínuo de Relatórios sobre Migração Internacional nas Américas (SICREMI), que visa informar acerca de políticas migratórias a nível internacional nas Américas através da criação de estatísticas confiáveis (OEA, 2018). A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) monitora, ao longo dos anos, a situação das pessoas no contexto de mobilidade humana através da realização de visitas a países, de estudos temáticos e informes, de solicitação de informações, de audiências e reuniões de trabalho (OEA, 2015). Além de produzir a Relatoria sobre os Direitos dos Migrantes15, os trabalhos da CIDH visam garantir a igualdade de acesso à justiça de pessoas em situação de vulnerabilidade através do Sistema Interamericano de Direitos Humanos16 (OEA, 2018).

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESA política migratória da Argentina, uma vez considerada um exemplo de defesa aos direitos humanos, foi alterada em Janeiro de 2017. O decreto do presidente Macri foi duramente criticado pelas agências internacionais em defesa dos direitos humanos, que alegam que a nova política é regressista e não respeita os direitos humanos (CAGGIANO, 2017). As novas medidas indicam restrições migratórias e ampliação de possibilidade de expulsão do país, incentivando indiretamente a criminalização e segregação dos imigrantes e da população estrangeira (CAGGIANO, 2017).

A Bolívia, governada pelo presidente Evo Morales, preza pela ideia de “cidadania universal” - uma política, portanto, aberta aos imigrantes. Em 2017, apenas em torno de 1,18% da população residente na Bolívia era composta por imigrantes, a maioria trabalhadores. A maior parte dos imigrantes vem dos países vizinhos, tais como Argentina, Brasil e Peru. Os emigrantes bolivianos - mais numerosos - também costumam se direcionar a esses países (DIARIO PAGINA SIETE, 2017).

O Brasil desenvolve uma política migratória bastante focada na integração binacional, através de iniciativas voltadas para a criação de uma área de livre circulação na América do Sul, a fim de regulamentar a situação dos migrantes brasileiros e estrangeiros (REIS, 2011). Ainda, frente a antigas demandas e a entrada massiva de imigrantes de diferentes origens, o Estado brasileiro engendrou uma mudança legislativa com a aprovação de nova Lei de Migração em 2017, a qual permite vislumbrar políticas de acolhimento e integração ao imigrante com maior foco em direitos humanos (BRASIL, 2017a). Não obstante, o Decreto presidencial que regulamenta a aplicação da Lei apresenta contradições, permitindo espaços de insegurança jurídica aos imigrantes (BRASIL, 2017b).

O Canadá se caracteriza como um dos principais “receptores” globais de migrantes internacionais. Estando na 8ª posição com 7,9 milhões de migrantes em 2017. O país enfrenta uma forte escassez de mão de obra e investe na busca por migrantes que sejam especializados em alguma área mais técnica (UNITED NATIONS, 2017).

No Chile, as eleições presidenciais que ocorreram em 2017 deram a vitória a Sebastián Piñera, candidato que defendeu o endurecimento das leis para imigrantes, especialmente para aqueles que cometerem crimes no país, defendendo inclusive a deportação destes. O Chile é o país latino-americano em que o número de imigrantes mais subiu entre 2010 e 2015 e recebe muitos imigrantes vindos do Haiti e daVenezuela (COLOMBO, 2017).

15 A Comissão Interamericana de Direitos Humanos produzia desde 1996 a Relatoria sobre os Direitos dos Trabalhadores Migrantes e de Suas Famílias. Em 2012, essa relatoria foi transformada em Relatoria sobre os Direitos dos Migrantes a fim de abranger uma maior variedade de casos.16 Outras iniciativas merecem ser mencionadas, como o Mandato das Cúpulas das Américas para Migrações, que visa à imple-mentação de políticas públicas coordenadas e a cooperação para a promoção e defesa dos direitos humanos dos migrantes, assim como as iniciativas contra o tráfico de pessoas do Departamento de Segurança Pública e da Comissão de Segurança Hemisférica da OEA.

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A Colômbia vive hoje o maior fenômeno migratório em sua história em razão da crise venezuelana. De acordo com estatísticas do governo colombiano e da Organização Internacional para as Migrações, até 31 de dezembro de 2017, cerca de 600 mil pessoas do país vizinho migraram para a Colômbia, com a possibilidade do número ser ainda maior. O governo colombiano tem tentado acolher como pode esses imigrantes, oferecendo instrumentos legais e institucionais para ajudá-los (EL TIEMPO, 2018).

A Costa Rica é o país centro americano que mais recebe imigrantes, especialmente nicaraguenses, que saem de seu país devido à recessão econômica e à ocorrência de desastres naturais como furacões (GONZÁLEZ, 2005). A Costa Rica é um dos poucos países da América Latina com mais imigrantes do que emigrantes, correspondendo a aproximadamente 12% da população trabalhadora. O país necessita de grande parte desses imigrantes como força de trabalho - contudo, tem passado por problemas para regularizar a situação muitas dessas pessoas (BERMÚDEZ, 2016).

Cuba é o segundo país com mais emigrantes da América Central, sendo os Estados Unidos o principal destino (FHB, 2017). O embargo econômico estadunidense e a crise econômica aceleraram a emigração cubana desde os anos 90 até os dias de hoje. As principais razões da saída de cubanos de seu país são as condições financeiras e a reunificação com a família que já emigrou. A crise econômica intensificou o potencial migratório de Cuba, criando um excedente de mão de obra, além de acentuar as tensões sociais e políticas (DUANY, 2005). Quanto às políticas de migração, em 2013 entrou em vigor uma nova lei de migração, que tornava não mais obrigatória a autorização do governo para viajar para outro país, entre outras medidas, como a extensão do período que um cubano pode ficar em outro país (RAINSFORD, 2013).

El Salvador tipicamente apresenta fluxo mais intenso de emigração de seus nacionais para os Estados Unidos e México para fins de trabalho. O foco principal do governo é a promoção e proteção dos direitos humanos de seus nacionais que se encontram no exterior através de acordos bilaterais e multilaterais com outros Estados (Guatemala, Honduras, México e EUA), bem como o desenvolvimento de políticas de acolhimento aos cidadãos salvadorenhos que retornam ao país (SICREMI, 2015).

O Equador é considerado exemplo por sua posição em relação aos imigrantes, especialmente devido à Lei Orgânica de Mobilidade Humana. Essa lei estabelece direitos e deveres dos migrantes e garante a não ilegalidade de sua condição migratória (EXAME, 2017). O Equador é também um país de acesso à América do Sul, em que imigrantes caribenhos ficam à espera de vistos de trabalhos em outros países (CONSTANTE, 2015).

Os Estados Unidos apresenta uma população de imigrantes de aproximadamente 13% de sua população total, cuja origem é principalmente de outros países da América e da Ásia (SICREMI, 2015), conformando o maior receptor de imigrantes do mundo (ONU, 2017). As reformas na política migratória sofreram impedimentos de grupos favoráveis ao fechamento do país, de modo que os anos de administração Obama foram marcados por um aumento significativo do número de deportações (CUNHA, 2012). A partir de 2016, com a vitória eleitoral de Donald Trump à presidência houve relativo endurecimento da acolhida a imigrantes, haja vista a decisão do governo de vetar a entrada de nacionais de determinados países predominantemente muçulmanos, de reduzir o número de refugiados, restringir a reunião familiar e facilitar as deportações dentro da perspectiva de guerra ao terror (EL PAÍS, 2018).

A Guatemala sofre o impacto da migração de maneira oposta aos países receptores de migrantes. Segundo dados oficiais, em 2017 67,343 migrantes retornaram ao país vindos dos EUA e do México (OIMc, 2017). Apenas na primeira quinzena de Janeiro de 2018, as autoridades migratórias dos Estados Unidos e México deportaram quase 3 mil guatemaltecos (EFE, 2018). Os guatemaltecos enfrentam dificuldades desumanas para chegar nos países desenvolvidos, inclusive através do tráfico, e muitas vezes acabam sendo abandonados, deportados, ou forçados a retornar pelas péssimas condições de vida que encontram.

O Haiti enfrenta a diáspora de seus nacionais, intensificada desde o terremoto que abalou o país em 2010. O terremoto constituiu uma catástrofe natural de grande escala na história do país, com

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fortes impactos na economia do Haiti, conformando um evento propulsor de fluxos migratórios de haitianos para outros Estados da América. Desde então, os esforços internacionais têm se concentrado na arrecadação de ajuda humanitária e arrecadação de fundos para a reconstrução do país. Em geral, o governo entende que a emigração é positiva para a formação de uma comunidade internacional dehaitianos e dispõe de três Ministérios envolvidos nas questões migratórias: Ministérios das RelaçõesExteriores, Ministério do Planejamento e Cooperação Externa e Ministério de Haitianos Residentes noExterior (HAITI, 2018).

O México é um dos principais destinos de migrantes centro-americanos e possui a maior rota migratória do mundo (MSF, 2017). Desde 2014, o governo atua com medidas para tentar impedir a entrada de imigrantes ilegais vindos de países da América Central, a chamada Fronteira Sul (CALDERÓN, 2014). Entretanto, o México ainda figura entre os países com mais emigrantes. Em 2017, mais de 12 milhões de nacionais saíram do México, tendo como destino, principalmente, os Estados Unidos (FHB, 2017). As relações entre o governo mexicano e o estadunidense se complicaram ainda mais após a eleição de Donald Trump e a promessa de construção do muro na fronteira entre os dois países, causando uma das piores crises diplomáticas entre os dois países nas últimas décadas (MARS, 2018).

A Nicarágua, em 2017, estabeleceu novos pré-requisitos para a entrada de estrangeiros no país (a exceção de turistas). Essa medida foi repreendida por alguns países como El Salvador que vê essa medida como um ataque direto a sua população, cuja entrada no país tem sido contida pelas autoridade nicaraguenses (ROMERO, 2017). Apesar das novas exigências terem com justificativa uma maior organização e controle da entrada de imigrantes no país, ela indica um processo de fechamento do país para a presença de estrangeiros vizinhos.

Na República Dominicana existe uma grande quantidade de nacionais que migram para o exterior, sobretudo para os Estados Unidos, assim como ocorre uma entrada expressiva de haitianos no país. Em 2004, o governo dominicano aprovou a Lei Geral de Migrações nº 285-04 e, em 2011, o regulamento da lei supramencionada, ambos estabelecendo critérios de elegibilidade mais estritos para a regularização de imigrantes. A concessão da residência permanente está baseada em uma perspectiva de produtividade do imigrante sob o argumento de desenvolvimento nacional e, por isso, são previstos critérios básicos bastante exigentes que dificultam a regularização migratória. Ainda, com a política migratória restritiva nos EUA, a República Dominicana preocupa-se com a deportação em massa de nacionais, de modo que foi criada a Unidade de Reinserção de Repatriados em 2011 com fins de acolhimento da população que regressa ao território nacional (SICREMI, 2015).

O Uruguai possui uma população economicamente ativa nacional consideravelmente reduzida, sendo assim, o Estado uruguaio estimula e facilita a vinda de migrantes e sua regularização (RTM, 2008). Através de sua lei migratória, o país reconhece o direito de migrar como um direito inalienável da pessoa humana (URUGUAY, 2008).

A Venezuela tem passado por uma grave crise de emigração, com muitos dos seus nacionais migrando para países com a Colômbia e o Brasil. Essa crise é vinculada com a crise política e econômica pela qual o país passa, também associada a repreensão da comunidade internacional ao governo do presidenteNicolás Maduro. Estima-se que apenas em 2015 a quantidade de emigrados passou de 600 mil pessoas,um crescimento exponencial comparado aos números da década anterior (AMAYA, 2017).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) Como mitigar as mazelas do tráfico de migrantes?

(2) Como as fragilidades dos países originários dos migrantes afetam os fluxos migratórios e o que sepode fazer quanto a isso?

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES

Expansão dos Direitos dos Deslocados Internos

Larissa Maria Zimnoch, Pedro Vellinho Corso Duval, Rodrigo Führ e Vitória Volpato1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO(1) A questão dos deslocados interno deve ser tratada a nível local ou global?

(2) Quais as principais dificuldades envolvidas na garantia dos direitos desse grupo?

APRESENTAÇÃONa década em que vivemos, estamos possivelmente assistindo a um fluxo migratório tão imenso

que pode se caracterizado como a maior crise humanitária da atualidade. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU, 2016), são mais de 65,6 milhões de pessoas que foram obrigadas a deixar seus lares fugindo de guerras, conflitos internos, perseguições políticas e violações de direitos humanos.

Há vários motivos que levam pessoas a se deslocarem da sua região de origem, tais como a busca por refúgio, migração por motivação econômica, ou, ainda a busca pela proteção legal em outros países. A categoria que iremos nos analisar nesse artigo será a de refugiados internos, pessoas deslocadas dentro de seu próprio país pelos mesmos motivos de um refugiado, sem ter atravessado uma fronteira internacional para buscar proteção (OIM, 2018). A questão dos deslocados internos é debatida com menos atenção pelos governos dentro da gama de problemáticas que configuram a atual crise, mesmo sendo um número alarmante: são 40,3 milhões de pessoas deslocadas dentro dos seus próprios países ONU (2016). Por isso, dada a extensão desses fatos, é fundamental compreender a problemática dos deslocados internos como uma questão humanitária, jurídica e política que faz parte do contexto migratório forçado na atualidade. Nas seções seguintes apresentaremos o histórico sobre a temática dos deslocados internos e os conceitos-chaves para o seu entendimento, sob a perspectiva da esfera jurídica e política, bem como abordaremos a situação atual desse debate e algumas ações prévias que têm sido elaboradas para tanto.

1 HISTÓRICOA migração corresponde ao deslocamento populacional entre espaços geográficos diferentes.

Existem dois tipos principais de migrações: a migração interna caracterizada pela deslocamento forçado ou voluntário dentro de um mesmo país; e a migração internacional, caracterizada pela deslocamento forçado ou voluntário entre, pelo menos, dois países (aquele de origem do migrante e o de destino). Isto é, a diferença entre ambos os tipos está no cruzamento de fronteiras nacionais, que ocorre apenas no caso das migrações internacionais. As migrações podem ocorrer por diversos motivos, sendo que os principais envolvem questões econômicas, naturais, culturais, políticas; elas podem ser forçadas, quando ocorrem involuntariamente, ou voluntárias, quando, sem nenhum estímulo externo, as pessoas optam pela mudança de local (OIM, 2018).

As migrações, ainda que com diferentes configurações e motivações, sempre estiveram presentes na história da humanidade. Desde a pré-história, quando migrava-se para conseguir alimentos, até os dias de hoje, inúmeras pessoas saíam de seus países fugindo de conflitos, como os refugiados sírios, ou de problemas econômicos, como o recente caso de venezuelanos vindo para o Brasil. Nessa breve evolução histórica das migrações humanas, também merece destaque o período de expansão marítima-colonial da Europa em direção a outros continentes, a partir do século XV e o posterior movimento contrário do século XX, em que muitos indivíduos dos países “subdesenvolvidos”1, que outrora foram colônias, migraram para países considerados altamente desenvolvidos e, na maioria das vezes, suas ex-metrópoles (TEITELBAUM, 2017).

Um marco recente importante para essa temática foram as duas grandes guerras que assolaram o mundo no século XX, especialmente a Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945). Esses foram eventosimportantes não apenas porque foram responsáveis pelo deslocamento forçado de inúmeras vidas,mas também por suas consequências. As duas guerras causaram incontáveis destruições materiais,foram responsáveis por milhões de mortes e também tiveram um grande impacto social, que pode se

1 Refere-se aos países de menor grau de desenvolvimento econômico e social. Dessa forma, pode-se identificar esses países devido a sua baixa renda, a sua vulnerabilidade econômica e ao seus problemas sociais, como a desigualdade, o analfabetismo, o desemprego (WASSERMANN, 2017).

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evidenciado pela questão migratória. De acordo com Kulischer:

“Estimou-se que em maio de 1945 havia talvez 40,5 milhões de pessoas desenraizadas na Europa, excluindo-se trabalhadores forçados dos alemães e alemães que fugiam diante do avanço dos exércitos soviéticos” (KULISCHER, 1948, p. 253, apud HOBSBAWM, 1995, p. 58).

Além disso, esses conflitos são emblemáticos pois, no período que seguiu as Guerras Mundiais, observa-se uma tentativa das potências centrais da época de consolidar a paz. A alternativa encontrada para isso, naquele momento, foi a institucionalização (criação de novas instituições). Dessa forma, surgiram algumas organizações internacionais de caráter intergovernamental, que são decisivas, ainda hoje, na configuração das relações internacionais, em matéria de segurança, política, ou mesmo questões migratórias internacionais”. Entre elas, destacam-se a Organização das Nações Unidas (ONU), em 1945 e a Organização Internacional para Migrações (OIM), em 1951. Inicialmente, a OIM foi denominada Comitê Intergovernamental para as Migrações Europeias (CIME) e dedicava-se a ajudar as pessoas que estavam deslocadas após a Segunda Guerra. Desde sua fundação, essa organização sempre manteve seu caráter independente diante das outras instituições internacionais. Essa característica, contudo, alterou-se em 2016, quando a OIM foi incorporada à ONU como uma agência oficial. Contudo, essa alteração não teve muitos impactos práticos no que se refere às ações da organização. A OIM segue empenhada na observação e na promoção de migrações organizadas e humanizadas, oferecendo ajuda humanitária quando necessário. Além disso, a organização, em parceria com os Estados, tem como seu compromisso defender os direitos humanos, auxiliar em pesquisas e coletas de dados sobre migração, desenvolver programas que facilitem o retorno voluntário dos migrantes e constituir uma arena de debate e de proposições cooperativas entre os Estados, sendo que as deliberações da organização têm caráter recomendatório. Com isso, além de um auxílio direto, a OIM, a partir de debates, pode recomendar medidas aos Estados, mas caberá a eles adotarem-nas ou não (OIM, 2018). No mesmo ano da criação da Organização Internacional para Migrações, houve outro marco importante para a temática migratória: ocorreu uma importante convenção, no âmbito das Nações Unidas, para a definição dos Refugiados. Essa convenção ficou conhecida como Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados, válida até os dias de hoje. Nela, definiu-se refugiado como a pessoa que:

Temendo ser perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do país de sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude desse temor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qual tinha sua residência habitual em consequência de tais acontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, não quer voltar a ele (ACNUR, 1951).

Nesse sentido, pessoas que se enquadram na definição da convenção passaram a ser chamadas de refugiados, conquistando novos direitos reconhecidos internacionalmente. Contudo, percebe-se que certos grupos de migrantes forçados não se enquadram na definição de refugiado e, portanto, não possuem as mesmas garantias. Entre esses grupos, encontram-se os deslocados internos. Entende-se por deslocados internos aquelas pessoas ou grupos de pessoas que devido à ocorrência de guerras, desastres naturais, epidemias, perseguições políticas e religiosas, foram obrigadas a deixar sua residência e sua região, mas não ultrapassaram nenhuma fronteira internacional. Em outras palavras, são migrantes forçados que permanecem em seus países, tendo sido obrigados a mudar de região para assegurar sua sobrevivência e integridade física. As implicações desse grupo no mundo e nos países em que eles residem serão discutidas na seguinte seção; contudo, certamente os deslocados carecem de direitos e garantias, e, portanto, apresentam-se indiscutivelmente como um desafio tanto nas esferas nacionais como internacionais (OLIVEIRA, 2004). Segundo os recentes relatórios do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, havia em 2016 mais de 40 milhões de deslocados forçados ao redor do mundo, situados em mais de 50 países (ACNUR, 2017). Destes, mais de 6,9 milhões eram migrantes internos por motivos de violência, mazelas que afetam principalmente a África subsaariana, com destaque para a República Democrática do Congo, e o Oriente Médio, onde a situação se agrava pelas crises internas de países como Afeganistão, Iêmen, Iraque e Síria. Contudo, a maior parte dos deslocamentos internos, afetando mais de 24 milhões de pessoas, deve-se a desastres naturais que, em números absolutos, atingem principalmente a região asiática. Nesses casos, merecem destaque os problemas enfrentados pela China, pelas Filipinas e pela

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Índia; porém, não são menos relevantes os desafios enfrentados por Cuba e pelos Estados Unidos da América (IDMC, 2017a).

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA A questão dos deslocados internos está longe de ser problema temporário e interno de cada país. Suas consequências não são restritas a um único Estado e podem ter impactos de longa duração para toda a região onde ocorrem. É um processo degradante que cria desequilíbrio social, econômico e político e afeta não só aqueles obrigados a fugir, mas também as pessoas que permaneceram nas residências da região onde ocorre o esvaziamento, o que as torna ainda mais suscetíveis a crimes contra sua integridade física e mental, ou as que vivem nas regiões para as quais os deslocados se dirigem. O resultado é extremamente danoso: famílias, culturas, países e até regiões inteiras sofrem com nessas condições (OLIVEIRA, 2004). Suas consequências externas, principalmente para os países fronteiriços onde o fluxo de deslocados acontece, são igualmente delicadas para a estabilidade e para o desenvolvimento da região. Isso se dá pois uma expressiva fração de deslocados internos pode vir a se tornar um refugiados ao cruzar as fronteiras de seu país e solicitar refúgio em outra nação, coincidindo no desenvolvimento de uma nova crise humanitária. Em regiões menos desenvolvidas, a falta de alimento ou água somado aos conflitos armados obriga povos inteiros a abandonarem seus lares a se deslocarem para outras regiões do seu próprio país e, na maioria dos casos, constituírem campos de deslocados ou simplesmente um grande aglomerado populacional (OLIVEIRA, 2004). Órgãos essenciais para a proteção dos deslocados internos, como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (2009), argumentam que é extremamente importante para o estancamento do problema romper com o ciclo de deslocamento – conflitos, escassez de alimentos, crise humanitária – oferecendo soluções duradouras. Dessa forma, os desafios maiores são uma resposta humanitária eficaz e a construção da paz. Esses desafios estão extremamente interligados pois a situação de deslocamento interno não pode ser resolvidas de forma duradoura até que os dois temas sejam abordados, devendo-se quebrar o ciclo vicioso em que um problema alimenta-se de outro. Para exemplificar essa questão, podemos pensar a seguinte situação: quando um grande número de pessoas sai de uma região devido a um conflito e destinam-se a uma região próxima, que também não possui abrigo e serviços básicos suficientes para atender os deslocados, pode-se impulsionar o surgimento de aglomerados urbanos mais uma vez. Esse novo aglomerado pode fomentar a criação de campos de deslocados e até suscitar novos conflitos, fazendo com que um número cada vez maior destas pessoas busquem mais uma vez outro lugar para viver. Por isso é importante salientar que, sem um compromisso de longo prazo para combater as causas de um conflito, há um risco de repetir um ciclo de crises humanitárias. Deste modo, percebemos que enfrentar o problema dos deslocados internos em todas as suas dimensões exige um enorme esforço, tanto a nível estatal como internacional (CICV, 2009). A maior parte do deslocamento interno ocorre no continente africano e nos países do Oriente Médio, mas também são registrados números significativos de deslocados internos causados por conflitos em todas as regiões do mundo, conforme a figura abaixo.

Figura 1: Pessoas internamente deslocadas por conflitos e violência em 2016

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Fonte: Internal Displacement Monitoring Centre (2016).

2.1 A QUESTÃO JURÍDICAÉ importante mencionar que as causas que geram deslocados internos são específicas a cada

Estado, ainda que haja semelhanças gerais, principalmente envolvendo a falta de segurança e violações de direitos humanos. A conceitualização de deslocados internos, mesmo tendo evoluído nas últimas décadas, ainda é muito vaga e abrangente, de forma que não possibilita uma resposta assertiva as diferentes situação. Como desenvolvido por Oliveira (2009, p. 75):

Uma das questões mais debatidas nas negociações a respeito da proteção dos deslocados internos é a viabilidade de uma definição que englobe todas as situações de deslocação interna e forneça critérios objetivos para a identificação de pessoas nessa situação. A miríade de causas e padrões de deslocação dificulta a formulação de definição capaz de diferenciar entre as várias formas de movimentos humanos dentro de países. Entretanto, sem um conceito preciso, a própria proteção jurídica dos deslocados fica prejudicada, e os dados estatísticos e estudos analíticos a seu respeito têm sua validade limitada.

Cabe ainda destacar que duas características são fundamentais para a determinar a condição de deslocamento interno. A primeira delas é o (i) o elemento involuntário do movimento de pessoas e (ii) a permanência destas dentro das fronteiras de seu país de origem. As pessoas que se deslocam voluntariamente de um lugar para outro por razões econômicas, sociais ou culturais não integram esta definição de deslocados internos. Para estar em situação de deslocamento interno uma pessoa ou grupo de pessoas deve ser compelido a fugir de seu local de residência em razão de conflito armado, de algum tipo de tensão interna, de violações de direitos humanos ou por força de alguma catástrofe provocada pelo homem ou por causas naturais (OLIVEIRA, 2004).

A definição presente não tem a intenção de estabelecer um estatuto jurídico especial para os deslocados internos, diferentemente do que ocorre com o conceito de refugiado. Isso torna essas pessoas ainda mais vulneráveis, pois na maioria das vezes não recebem a proteção do seu Estado e não possuem aparato no Direito Internacional para a sua proteção por parte de outros Estado ou mesmo do próprio ACNUR, pois esse órgão encontra-se limitado pelo Estatuto do Refugiado de 1951 e sua atuação não pode se sobrepor a ele. Os deslocados são parte da população civil e só se diferenciam dos outros cidadãos por estarem em uma situação de maior vulnerabilidade e possuírem necessidades especiais. A responsabilidade primária e principal pelos deslocados internos recai sobre o governo do Estado onde se encontram assim como o encargo de suprir suas diferentes necessidades e garantir os seus direitos como cidadãos de seu país. Entretanto, devido ao fato de que frequentemente governos nacionais não auxiliam (ou até mesmo causam o deslocamento forçado) ou não são capazes – por serem Estados que vivenciam conflitos ou terem pouca ou nenhuma estrutura para atender as demandas mais primárias da sua população –, é importante que existam normas internacionais que estabeleçam um sistema adequado de proteção (OLIVEIRA, 2004).

A grande parcela de deslocados internos se concentra em regiões menos conflituosas dentro do seu país e por saírem às pressas de suas residências, abandonarem seus lares, meios de trabalho e sustento, acabam se concentrando em campos similares aos de refugiados – que podem ser construídos pelo ACNUR, da mesma forma que os campos de refugiados tradicionais, mas dentro do seu território –, em aglomerados populacionais ou ainda se espalham por regiões mais seguras. As consequências desse deslocamento são gigantescas, pois causam um descolamento brusco da realidade vivida anteriormente, assim como apresentam para o deslocado a falta de perspectivas quanto ao futuro (TURNER, 2015).

O fechamento das fronteiras internacionais que cresce junto com a onda conservadora em todo o mundo e a intensificação do número de vítimas de conflitos que geram o deslocamento interno revelam o problema que a falta de proteção internacional gera a essas pessoas. A ajuda internacional ocorreapenas para que a crise de deslocados não se intensifique a ponto de atingir outros Estados e regiões;e, ainda mais, por não contarem com o estatuto de refugiado, estes estão impedidos de solicitar juntoao ACNUR asilo ou a possibilidade de reintegração voluntária em um outro país receptor (OLIVEIRA,2004).

2.2 VIOLAÇÕES DE DIREITOS HUMANOSConforme já tratado nas seções anteriores, os migrantes internos estão entre as “pessoas

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mais vulneráveis do planeta” (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA MIGRAÇÕES, 2017, p. 4). Segundo os dados da própria organização, mais de quarenta milhões de pessoas atualmente estão deslocadas de seu território natal por conflitos, e mais de vinte e cinco milhões de pessoas se deslocam anualmente por desastres ambientais, sejam eles naturais ou ocasionados por humanos. Também como já visto anteriormente, pelo motivo do deslocamento interno acontecer majoritariamente em áreas frágeis e conflituosas, as populações migrantes encontram dificuldades em se integrar ao seu destino, muitas vezes vivendo em situações insalubres. Ainda mais, muitos desses deslocados necessitam não só lidar com a dificuldade de viver em seu Estado, como muitas vezes encontram as fronteiras dos países vizinhos fechadas para que sua migração ocorra (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA MIGRAÇÕES, 2017). O problema enfrentado por esses migrantes internos em muito se assemelha aos problemas comumente presenciados com todos os deslocados forçados, seja interna ou externamente. Embora os deslocados internos ainda estejam sob a responsabilidade do seu Estado, já que não cruzaram nenhuma fronteira, as condições de vida que encontram quando se deslocam são parecidas com as dos campos de refugiados2: há uma ausência de infraestrutura, sofrem violência diária, vivenciam uma carência de recursos e o controle destes por milícias armadas, além de enfrentarem uma superlotação do espaço, a falta de prospecção para o futuro e a degradação física e psicológica (PEREIRA et al., 2017). Nem sempre, entretanto, a situação se desenvolve nessa forma. Por mais que a existência de campos de deslocados internos seja comum em caso de movimento em massa, especialmente em casos de conflitos e guerras pelo controle do poder entre diferentes grupos geralmente essas pessoas se instalam na periferia das cidades. Muito dificilmente a perspectiva de quem foge da sua terra natal é ir para longe da sua casa; mesmo em caso de desastres ambientais, quando a região pode vir a ser fortemente abalada por problemas como a estiagem seca, terremotos ou, como no caso de Mariana, no Brasil, o rompimento de uma barragem, a tendência é de que a população se instale em cidades vizinhas. Permanecer dentro do seu próprio país significa ter acesso ao mesmo tipo de cultura, de conseguir se comunicar com a sua língua materna e de poder resgatar seu antigo estilo de vida (ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA MIGRAÇÕES, 2017). O problema reside, nesse caso, na situação de extrema marginalização que essa população encontra nas cidades próximas. Em Estados em situação de conflito ou sem capacidade de fornecer auxílio, pouca ou nenhuma proteção é garantida pelo governo, fazendo com que os deslocados fiquem à mercê da sociedade. Vivendo em periferias, os migrantes internos acabam se encontrando numa situação na qual não tem acesso à água potável, a uma alimentação minimamente saudável, à saúde básica, ao saneamento e outros itens fundamentais considerados direitos humanos assegurados internacionalmente. Não bastando isso, o superpovoamento dessas periferias aumenta a chance de disseminação de doenças, aumento da criminalidade e ainda outras violações de direitos humanos (PHOUNG, 2004). Portanto, são poucas as alternativas viáveis concedidas ao deslocados internos: quando não há mais possibilidade de permanecer em seu lar, a migração para campos de refugiados significará viver em um estado de conflito constante, enquanto que a migração para a periferia de cidades próximas iniciará um processo de marginalização sem fim. Sem a resolução das causas do deslocamento, existe ainda a possibilidade de causar um novo fluxo migratório na cidade de destino desses migrantes, seja pelo mesmo motivo que ocasionou o deslocamento em primeiro lugar, ou pela falta de infraestrutura local para receber essa população. Assim, em Estados onde não há estrutura para lidar com o deslocamento forçado interno, a única solução possível passa a ser a resolução gradual das causas da migração (PHOUNG, 2004; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA MIGRAÇÕES, 2017).

2.3 FORMAS DE RESOLUÇÃO A responsabilidade internacional por trás dos migrantes internos é um tema amplamente discutido pelos governos nos organismos multilaterais. A primeira disputa ocorre pela soberania nacional de cada país: como o deslocamento só ocorre dentro das fronteiras nacionais, em tese nenhuma outra nação pode intervir na questão. Essa problemática está presente em todas as discussões sobre violação de Direitos Humanos. Logo, em que momento se pode admitir a interferência de um país em questões internas de algum outro Estado?

2 Para entender a situação no Campo de Refugiados, recomendamos a leitura do Guia de Estudos do UFRGSMUNDI de 2017 sobre esse tópico, presente na seção sobre o ACNUR, escrito por PEREIRA, et al, 2017.

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Muito embora a questão seja controversa e muito polêmica, em 2005, os Estados presentes na Cúpula Mundial endossaram o conceito conhecido como Responsabilidade de Proteger. Segundo essa ideia, a soberania dos países só existiria enquanto eles fossem capazes de fornecer proteção aos seus cidadãos. Quando esta não ocorre, como no caso do deslocamento forçado, há a obrigação (ou a responsabilidade) de outros Estados de se envolverem e resolverem a situação, seja fornecendo proteção, seja dando fim ao conflito (EVANS, 2013).

O problema na utilização desse princípio encontra-se em duas diferentes vias. A primeira delas é a interpretação que se tem sobre o envolvimento de nações externas: em que momento deve-se intervir? Quando que o Estado deixa de garantir proteção aos seus nacionais? Essas questões mostram-se passíveis de interpretações pelos decisores de política internacional e, ao longo da história, foram usadas de formas diferentes por inúmeros países (KRASNER, 1996). A segunda via, mais problemática, diz respeito às causas do deslocamento interno. Enquanto que a intervenção pode se mostrar como solução, muito dos fluxos migratórios hoje existentes são decorrentes do envolvimento de potências externas em questões internas aos Estados envolvidos. Seja como resquício da época da Colonização Europeia, pela influência obtida pelo Estados Unidos e pela União Soviética durante a Guerra Fria ou mesmo pela intervenção mais recente feita por alguns países, como no caso atual da Líbia e ainda mais recentemente da Síria (EVANS, 2013), é inquestionável que intervenções não significam estabilidade para o Estado em conflito. Assim, uma outra questão que se põe é: a intervenção externa é benéfica para a resolução do deslocamento forçado?

Existem outras opções para a resolução dessa disputa. Uma possibilidade existente é a de não se envolver diretamente nenhum Estado no conflito em na questão, mas sim deixar a responsabilidade a cargo de organismos internacionais (PHOUNG, 2004), tais como o ACNUR ou a própria OIM. A OIM atualmente está presente nas fases de reintegração da população a sua terra natal e, em conjunto com o ACNUR, tem possui políticas para fornecer o retorno de deslocados internos quando esses quiserem voltar à a sua região de origem. Contudo, o ACNUR tende a não se envolver na questão de deslocamento interno, julgando que, por esses não estarem contidos na definição de refugiado, não podem ser protegidos pela agência. Além disso, o seu orçamento anual limitado dificulta qualquer medida tomada em prol desses migrantes (PHOUNG, 2004; ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES, 2017).

Além da OIM, atualmente, outras organizações internacionais exercem um papel na mitigação e na resolução dessa questão, mostrando-se como possíveis mediadores na solução dos conflitos. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha, instituição secular que busca proteger vítimas de guerras e pessoas em situação de conflito, está presente praticamente em todas as situações de deslocamento forçado. Sua atuação ocorre especialmente quando comprovada a violação de Direitos Humanos. A Cruz Vermelha detém um caráter neutro e independente, o que significa que não atua diretamente na resolução dos problemas, mas sim auxiliando aqueles que são afetados. Em muitos casos, a Cruz Vermelha contém um pessoal melhor preparado para lidar com a situação do que a própria Organização das Nações Unidas (PHOUNG, 2004).

Atuando em setores mais específicos, podemos ainda citar o Programa Mundial de Alimentos, o Fundo para a Criança da ONU, a Organização Mundial de Saúde, dentre outras organizaçõesinternacionais. Estas são importantes para o alívio das situações, sendo consideradas como atoresimportantes no processo de resolução dos fluxos. Contudo, nenhuma delas apresentou-se até agoracomo uma potencial mediadora para todas as problemáticas de deslocamento forçado. O fornecimentode auxílio em caso de violação de direitos humanos é necessário, mas, mais do que isso, é necessárioque se previna o fluxo migratório, promovendo-se medidas de desenvolvimento em Estados vulneráveisno sistema internacional (PHOUNG, 2004; OLIVEIRA; 2004).

Portanto, não há apenas uma forma de resolução desse fenômeno. Como são inúmeros os motivos que causam o deslocamento, também são várias as soluções e diversos os atores capazes de tratar as causas dos fluxos. Também são muitos os atores que podem e devem atuar com os deslocados ainda no início da fase de deslocamento, fornecendo auxílio para amenizar a situação de marginalidade que essa população encontrará. Sem um entendimento comum de todos esses atores e Estados e sem um programa de desenvolvimento que garanta estabilidade ao sistema internacional, a incidência do deslocamento forçado só tenderá a aumentar, seja interna ou externamente às fronteiras nacionais.

3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIAS

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O início do debate internacional sobre a situação dos refugiados pode ser localizado na Liga das Nações3. Todavia, apenas com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e com os efeitos por ela produzidos, houve o reconhecimento da necessidade de coordenação global para lidar com o refúgio e, a partir daí, surgiram avanços na proteção dos refugiados (FONTANA; LORENTZ; ZIMNOCH, 2017). Tal reconhecimento se materializou na Convenção das Nações Unidas sobre o Estatuto dos Refugiados de 1951, considerada o eixo fundador do Direito Internacional dos Refugiados, já que padroniza os tratamentos para todos aqueles que estão protegidos por essa definição (ARAÚJO; BARICHELLO, 2015). Esta Convenção, além de definir o termo “refugiado”, inclui também o princípio da “não-devolução”, o qual define que nenhum país deve expulsar ou “devolver” um refugiado contra a vontade do mesmo para um território onde ele sofra perseguição. A Convenção de 1951, portanto, pode ser considerada o documento mais compreensivo dos direitos dos refugiados a nível internacional e estabelece padrões básicos para o tratamento de refugiados por parte dos Estados (ACNUR, 2018). Entretanto, a Convenção de 1951, por ser restrita temporal e geograficamente, uma vez que considerava refugiados apenas os refugiados europeus da Segunda Guerra Mundial, revelou-se um instrumento imperfeito. Com o surgimento de novas situações geradoras de conflitos e perseguições, houve uma crescente necessidade de providências que colocassem os novos fluxos de refugiados sob a proteção da Convenção (ACNUR, 2018). Desta forma, o Protocolo relativo ao Estatuto dos Refugiados foi assinado em 1967. Ele estabelece que os países signatários do documento proporcionem aos refugiados em seu território direitos que não eram até então assegurados. Outras convenções regionais foram elaboradas levando-se em conta os contextos e as especificidades de cada região, como a Convenção Africana Sobre Refugiados (1969) e a Declaração de Cartagena (1987) (FONTANA; LORENTZ; ZIMNOCH, 2017). Já os deslocados internos não possuem uma história de proteção tão linear quanto a dos refugiados, apesar de disporem de um marco normativo próprio. Sem sombra de dúvidas, os Princípios Orientadores para os Deslocados Internos de 1998 são o mais importante instrumento declaratório, assumido pelos principais organismos globais e regionais. Nogueira (2014) apresenta um resumo da evolução da definição de deslocados internos. Segundo a autora, a definição de deslocado interno evoluiu de um completo vazio conceitual nos anos 1970 para uma categoria sólida nos anos 1990, definida com base em direitos humanos e responsabilidades nacionais e internacionais. Podem ser identificadas quatro fases na evolução da proteção desse grupo, comentadas a seguir (NOGUEIRA, 2014). A primeira fase corresponde aos anos de 1972 a 1988, quando a menção às pessoas deslocadas internamente se restringia a potenciais fluxos de refugiados. Encontramos as primeiras utilizações do termo “pessoas deslocadas” na própria estrutura do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no início dos anos 1970. Nessa época, tais pessoas não se diferenciavam dos refugiados, sendo até mesmo consideradas potenciais refugiados que deveriam ser levados em conta no planejamento de ações de prevenção de fluxos migratórios nas fronteiras (NOGUEIRA, 2014). A segunda fase compreende os anos de 1988 e 1992, durante os quais agências humanitárias e ONGs internacionais passaram a fomentar o debate sobre as diferenças entre as “pessoas deslocadas”, que passariam a ser chamadas como “deslocados internos”, e os refugiados em geral. Dois marcos importantes são a Conferência Internacional sobre Refugiados, Retornados e Pessoas Deslocadas no Sul da África (SARRED), promovida pela Organização da Unidade Africana (atual União Africana) e a Conferência Internacional sobre os Refugiados da América Central (CIREFCA). Essas conferências contribuíram “para destacar a necessidade de proteção internacional para deslocados internos” (NOGUEIRA, 2014, p. 75) e estimular iniciativas de cooperação internacional, assistência humanitária e desenvolvimento neste sentido. A terceira fase ocorreu no período de 1992 a 1998, que

[...] foi o mais importante no que tange à afirmação dos deslocados internos como categoria internacional própria e delimitada [...]. A definição de deslocados internos, assim como seus direitos e as responsabilidades internacionais a eles associadas, passaram a ser entendidos como função do reconhecimento das vulnerabilidades específicas e das necessidades especiais de proteção do grupo (NOGUEIRA, 2014, p. 78).

Em 1998 foram elaborados os Princípios Orientadores para os Deslocados Internos,

3 Organização internacional criada pelos vencedores da Primeira Guerra Mundial logo após o final do conflito (1919).

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apresentados à ONU como um novo marco normativo para os deslocados internos, representando o maior avanço no âmbito da discussão acerca desse grupo. Tinham o objetivo de promover os direitos dos deslocados internos e de definir as responsabilidades dos Estados e do sistema internacional como um todo para sua proteção e assistência. Os Princípios Orientadores são divididos em cinco seções: princípios gerais, proteção do deslocamento, proteção durante o deslocamento, assistência humanitária e regresso, reinstalação e reintegração (ACNUR, 1998).

Na primeira seção, o documento reforça o dever e a responsabilidade das autoridades nacionais de “garantir a protecção e a assistência humanitária aos deslocados internos que se encontrem na sua área de jurisdição”, assim como o direito desse grupo de “solicitar e receber protecção e assistência humanitária destas autoridades” (Princípio 3) (ACNUR, 1998, p. 1-2). A segunda seção sublinha que antes de qualquer decisão de deslocar pessoas, é necessário que todas as alternativas tenham sido esgotadas. E “quando não houver alternativas, todas as medidas devem ser tomadas para minimizar a deslocação e os seus efeitos adversos” (Princípio 7) (ACNUR, 1998, p. 2). Na terceira seção são recordados os direitos humanos básicos e a necessidade de que haja esforços para protegê-los durante o deslocamento de pessoas. A quarta seção defende que a assistência humanitária deve ser prestadasem imparcialidade e sem discriminação. Ademais, “organizações humanitárias internacionais e osoutros actores apropriados têm o direito de oferecer os seus serviços em apoio aos deslocados internos”(Princípio 25) (ACNUR, 1998, p. 7). Por fim, a quinta seção reforça que as autoridades têm o dever decriar condições, bem como de fornecer meios, que permitam o regresso voluntário dos deslocadosinternos às suas casas. Essas pessoas devem, ainda, ser reintegradas e reinstaladas (ACNUR, 1998).

A quarta fase da evolução da proteção aos deslocados internos, de 1998 até os dias atuais, consiste no processo de consolidação da definição jurídica dos deslocados internos e de sua proteção. Além da ampla aceitação dos Princípios Orientadores por parte de diversas organizações regionais, agências especializadas, cortes internacionais e mecanismos de monitoramento de direitos humanos, dois tratados internacionais de caráter vinculante4 foram propostos e ratificados por países africanos. São eles o Protocolo para a Proteção de Deslocados Internos da Região dos Grandes Lagos (2008) e a Convenção da União Africana para Proteção e Assistência aos Deslocados Internos (2009). Tais tratados reforçam a responsabilidade das autoridades nacionais perante os deslocados internos, assim como inovam ao afirmar que há uma obrigação internacional de proteção e assistência humanitária aos deslocados internos (NOGUEIRA, 2014).

A título de conclusão, Nogueira (2014) recorda que os deslocados internos são uma categoria específica do Sistema Internacional por se diferenciarem essencialmente dos refugiados. Enquanto o próprio do refugiado é a transposição de fronteiras e uma quebra da relação Estado-indivíduo, osdeslocados internos permanecem em seus Estados de origem e, como reflexo, não há uma quebra darelação entre cidadania e territorialidade (NOGUEIRA, 2014).

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSES

4.1 PAÍSES AFRICANOSA República Democrática do Congo é um país de enormes riquezas naturais e, portanto, com grande potencial econômico, mas que ainda sofre com a pobreza e enfrenta o problema de deslocados internos há mais de 20 anos. Desde o período colonial, houve conflitos que deixaram cicatrizes e influenciaram acontecimentos recentes no país, como o genocídio promovido pelos Belgas. No final do século XX, a instabilidade política, característica do país, aliado ao genocídio Ruandês de 1994, levou o país a uma Guerra Civil, que nos anos 2000 havia provocado mais de um milhão de deslocados. Em 2003, a situação ficou mais controlada, permitindo o regresso de alguns deslocados – principalmente aqueles originados de zonas fora da presença de grupos armados, que continuaram existindo no país. Contudo, o problema está longe de ser resolvido: em 2016, o país estava no topo da lista de países com maiornúmero de deslocados relacionados ao conflito (922 mil) (IDMC, 2017b).

Localizada na porção oriental do continente, o Malawi é um pequeno país formado por muitos rios. Essa característica fluvial merece ser destacada, já que, em 2015, um período de intensas enchentes e inundações, provocou o deslocamento de muitas pessoas, facilitando a disseminação de doenças entre

4 Ou seja, que obrigam os países signatários.

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a população malawiana e o agravamento de sua vulnerabilidade (IOM, 2015).

O Níger é um país que sofre pela pobreza, pela carência de políticas governamentais de melhoria de infraestrutura e por problemas naturais, como muitos desertos e degradação do meio ambiente. Se essas características já são suficientes para a existência de deslocados internos, mais recentemente, problemas como o terrorismo agravaram essa situação. Nos últimos 3 anos, o grupo Boko Haram5 intensificou sua atuação na região, provocando mais deslocados. Estima-se que até 2016 cento e trinta e seis mil pessoas tenham sido deslocadas por situações conflituosas, geralmente envolvendo o grupo terrorista (IDMC, 2017c).

Politicamente, a história recente da Nigéria é bastante conturbada. Localizada na África ocidental, o país conquistou a sua independência em 1960, que foi seguida por uma Guerra Civil. Na décadade setenta, findada essa guerra, a instabilidade política no país era grande, resultando em sucessivosgolpes militares e eleições contestadas. Esse contexto de instabilidade política, aliado a problemaseconômicos e sociais, produziu um terreno fértil para a aparição de grupos terroristas, os quais têmimplicações no fluxo de deslocados internos. Como no Níger, também há uma atuação do Boko Haram,que vem provocando deslocamentos, especialmente, no nordeste do país – região de maior atuação dogrupo. Em 2016, estimava-se que havia quase dois milhões de deslocados na Nigéria, dos quais mais deum milhão e setecentas mil pessoas eram originárias da região nordeste (IDMC, 2017d).

Situada na região conhecida como “Chifre da África”, no extremo oriente do continente, a Somália é um país cuja história recente é conturbada, composta por guerras civis e problemas humanitários, governamentais e naturais, que resultam em um do mais altos índices de pobreza do mundo (51,6% da população vive na linha da pobreza6) e em grande fluxo de deslocados internos. Geralmente, as populações locais migram em função da fome, buscando novas oportunidades e terras, ou devido à ocorrência de enchentes e de conflitos civis. Estes estão intimamente ligados ao período posterior à independência, quando houve um golpe militar; o governo militar ficou no poder durante 22 anos, quando deposto. Sua deposição não reestabeleceu a paz no país, pois isso permitiu a eclosão de conflitos independentistas no Norte do país, na região autodenominada Somalilândia. Corroborando ainda mais para o agravamento dessa situação, houve uma invasão da Etiópia, motivada por questões religiosas, que permaneceu até 2009. A ONU, em diversos momentos, conduziu tentativas frustradas de solução. Estima-se que, até 2016, havia 1.107.000 deslocados pelo conflito (IDMC, 2017e).

O Sudão possui uma história repleta de conflitos majoritariamente étnicos. Essa tensão étnica e religiosa se somou aos problemas da estiagem e da fome endêmica, gerando uma combinação explosiva, que, consequentemente, culminou em novas guerras civis, péssimas condições de vida, crises humanitárias e deslocamento interno. Seguem havendo conflitos no sul e no oeste do país, onde se situa o mais conhecido e dramático conflito: em Darfur. Até 2016, esse país possuía mais de 3 milhões de deslocados internos, e, somente naquele ano, mais de 100.000 sudaneses tinham se deslocado, forçosamente (IDMC, 2017f).

4.2 PAÍSES AMERICANOSA questão sobre deslocados internos ressurgiu no Brasil7, após o rompimento da barragem de Mariana, em Minas Gerais. Contudo, a migração interna não é novidade no país latino americano. Desde 2000, mais de 7 milhões de brasileiros já se deslocaram forçadamente dentro do território nacional. Embora a movimentação geralmente ocorra por uma motivação ambiental, tais como enchentes, secas, queimadas ou afins, como é típico de um país continental em zona tropical e equatorial, percebe-se, também, uma migração por violência e conflito urbano e pela atuação do setor da pecuária no Centro-Oeste e Norte do Brasil, e, ainda, pela construção de barragens e hidrelétricas (INSTITUTO IGARAPÉ, 2018).

5 Grupo extremista islâmico fundado em 2002 na Nigéria. Com práticas terroristas, o grupo objetiva impor o fundamentalismo islâmico e ampliar o território sobre seu controle.6 Forma de mensuração da pobreza extrema. Há variações com relação à definição da linha, mas o padrão geralmente usado é quem vive com US$1,90 por dia, ajustado às moedas locais (ONU, 2017).7 Recomendamos uma visita ao site do Observatório de Migrações Forçadas para compreender a realidade da migração forçada no Brasil. Este site permite ao usuário explorar um mapa com as principais regiões onde essa migração ocorre. Acesse <https://igarape.org.br/observatorio-de-migracoes-forcadas/>.

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A discussão sobre deslocados internos no Canadá tem aumentado suas proporções nos últimos anos. Parte da sua população aborígene, como os Inuítes e os Aleutas (povos popularmente conhecidos como esquimós), tem sido obrigada a se deslocar na fuga da mudança climática e da instalação de novas indústrias. Juntamente com essa migração forçada, a população aborígene canadense acaba se afastando dos seus laços com o solo, perdendo seu patrimônio histórico devido ao aquecimento global. Já quanto a sua política externa, o Canadá é um dos países mais acolhedores à migração, dando inclusive suporte aos migrantes internos ao redor do mundo, como no Iraque (ACNUR CANADÁ, 2018; ALEUT INTERNATIONAL ASSOCIATION, 2018).

A Colômbia detém números impressionantes de deslocamento interno. Mais de 7 milhões de pessoas já deixaram sua terra natal desde o início do conflito pelo controle do Estado colombiano, fugindo especialmente dos confrontos entre o governo e as grupos paramilitares colombianos. Nos últimos dados divulgados pelo IDMC, somente em 2016, mais de 200 mil pessoas deslocaram-se forçosamente na Colômbia, tornando o país o maior em número de migrantes forçados dentro das fronteiras nacionais na América Latina (CARRANCA, 2014).

Em Cuba, um percentual muito relevante de cubanos é composto por deslocados internos, especialmente deslocados sazonais (que migram somente em uma estação do ano). Por ter uma incidência muito grande de desastres naturais, mais de 1 milhão de cubanos já foram forçados a migrarem internamente desde 2000 (IDMC, 2018a). O caráter dessa migração, entretanto, tende a ser por temporada, já que uma vez que o perigo deixa de estar presente a população retorna para a sua região de origem. Esse fato garante que os deslocados internos cubanos não necessitem de auxílio por um período extenso de tempo.

Nos Estados Unidos da América, a migração forçada dentro do território nacional ocorre também por motivos de desastres naturais, especialmente aqueles causados por furacões e ciclones como o Katrina, em 2005. Esse fato demonstra que existem migrantes forçados necessitando expansão de direitos em todos os Estados do mundo, seja os em desenvolvimento, seja nos países desenvolvidos. A maior diferença é que essa população estadunidense encontrou abrigo nos estados próximos, recebendo apoio e auxílio desses governos, um destino que não é compartilhado pelas nações menos desenvolvidas ao redor do globo. Discute-se que cabe a países como os Estados Unidos, devido ao seu papel no sistema internacional, o financiamento de campanhas de alívio para a situação de deslocados internos ao redor do mundo (IDMC, 2013).

Com um padrão de migração diferente dos outros Estados da América, na Guatemala existem migrantes forçados não só por motivos ambientais, mas também pelo conflito sofrido pelo país nas últimas décadas. São duas as principais causas desse fluxo: a primeira sendo a política de repressão do governo guatemalteco para as populações indígenas, vigente até o ano de 1996, e a segunda a atuação de cartéis de drogas e milícias armadas que atuam expulsando a população de sua região natal (IDMC, 2011; idem, 2018c). Mais de 200 mil indígenas continuam deslocados de sua terra natal devido a esses conflitos, o que é ainda mais preocupante, considerando-se a forte relação religiosa que os mesmos mantêm com a terra onde nascem.

Os Estados Unidos Mexicanos também enfrentam tanto situações adversas ambientais quanto conflitos causados pelo narcotráfico (ALBUJA, 2014). Mais de 310 mil pessoas estão deslocadas internamente no território mexicano, das quais, pelo menos, 300 mil são causadas pelos conflitos com o narcotráfico e com a violência resultante disso (IDMC, 2014). A população indígena mexicana também sofre com esse conflito, existindo mais de 30 mil indígenas deslocados de sua terra natal, seja por serem forçados pelo narcotráfico, seja pela política de repressão do governo.

O Peru vive uma situação semelhante. Entretanto, o deslocamento da população peruana acontece mais pela incidência de desastres naturais do que pelo desenvolvimento de seus conflitos históricos (IDMC, 2013b). No segundo semestre de 2017, quase 300 mil peruanos foram obrigados a se deslocar internamente para fugir das situações adversas das fortes tempestades que o país enfrentou. Soma-se a esse valor as populações forçadas a migrarem para trabalharem em plantações de coca ou que são vítimas do combate entre as Forças Armadas do governo e as guerrilhas do narcotráfico.

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Atualmente, a situação da Venezuela é uma das mais polêmicas e frágeis na América Latina. Devido ao desenvolvimento de uma grande tensão entre as forças do governo e as forças de oposição no país, milhares de venezuelanos são obrigados a se deslocarem dos grandes centros urbanos. Embora ainda exista uma grande tendência do deslocamento forçado em direção a países limítrofes ao território venezuelano, como o Brasil, uma parcela considerável da população migrante permanece na Venezuela. A falta de acesso a alimentos e a recursos básicos para a sobrevivência também têm aumentado esse fluxo migratório em busca de melhores condições de vida e a preservação de sua segurança (IDMC, 2018e).

4.3 PAÍSES EUROPEUSA República Federal da Alemanha é um doador ativo da OIM, sendo uma apoiadora de diversos projetos promovidos pela organização. Desde 1979, o Programa de Retorno para Requerentes de Asilo na Alemanha e o Programa de Repatriação Assistido pelo Governo8, implementados pela OIM, oferecem assistência a imigrantes que desejam voluntariamente retornar a seus países de origem. O país também contribui para projetos que estabelecem estratégias no ajustamento dos imigrantes nos países que os recebem, de forma a maximizar os efeitos positivos da migração tanto na comunidade de origem quanto na de destino (IOM, 2018a). A Alemanha foi o país europeu que mais recebeu requerentes de asilo nos últimos anos frente à intensificação do fluxo de refugiados para a Europa (MIGRATION POLICY INSTITUTE, 2018). Entretanto, a política de portas abertas defendida pela Primeira-Ministra do país, Angela Merkel, encontrou resistências dentro da Alemanha à medida que se intensificaram os discursos xenofóbicos de alguns partidos políticos e o sentimento anti-imigração da população em geral.

A República Francesa foi um membro fundador do Comitê Intergovernamental para as Migrações Europeias, porém, esteve fora da organização durante 1966 e 1992. Em 1992 ela foi reincorporada à OIM (IOM, 2018b). Nos últimos anos, a França acomodou, junto a outros quatro países europeus, 75% dos requerentes de asilo no continente. O governo francês alegou ser favorável a um mecanismo solidário de alocação dos requerentes de asilo (RÉPUBLIQUE FRANÇAISE, 2018), o que revela um descontentamento com os custos de absorção dos requerentes de asilo e vontade política de que haja uma distribuição mais justa entre os países do bloco. A França conta, hoje, com 21.000 deslocados internos em seu território, sendo que a maior parte dos deslocamentos forçados foi causada por desastres naturais. Tal número aumentou significativamente em relação aos anos anteriores (IDMC, 2018b).

O Reino Unido é um importante parceiro da OIM em diversas áreas, tais como as de retorno voluntário, medidas contra o tráfico de pessoas, pesquisas sobre migração, reassentamento de refugiados e migração e desenvolvimento (IOM, 2018c). Nos últimos anos, porém, tem crescido o sentimento anti-imigração da população, frequentemente traduzido em atitudes xenofóbicas. Alguns autores têm apontado tal percepção negativa aos imigrantes e refugiados como uma das principais explicações para a decisão pela saída do Reino Unido da União Europeia em 2016, episódio conhecido como Brexit (TILFORD, 2016). Desde então, o país recebeu menos pedidos de asilo; em 2017 foram apenas 26.350 pedidos, cifra consideravelmente menor que o de outros países europeus (UNHCR, 2018a).

A Suécia é um dos maiores doadores e um dos mais importantes parceiros do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). Em 2016, o país foi o terceiro maior doador per capita9, contribuindo com 136,8 milhões de dólares. Seu foco de operações está na África, mas as doações do país são dirigidas a diversos tipos de emergências humanitárias, envolvendo tanto refugiados quanto deslocados internos. Além das generosas contribuições ao ACNUR, a Suécia possui foco estratégico nas relações de gênero, de maneira a combater e prevenir quaisquer manifestações de violência baseadas em sexo ou gênero (UNHCR, 2018b).

Estima-se que na Turquia10, atualmente, existam mais de 1,1 milhão de deslocados internos. A maior parte dos deslocados internos em território turco fugiu de suas casas em razão do conflito entre o 8 Return Programme for Asylum-Seekers in Germany e Government Assisted Repatriation Program.9 Per capita é uma expressão do latim que significa “por cabeça”. É utilizada para indicar uma média por uma determinada uni-dade; neste caso, uma média por país.10 A Turquia está localizada na região limítrofe entre a Europa e a Ásia. Desta forma, não há consenso sobre o status da Turquia como um país europeu.

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governo do país e o povo curdo (em especial o Partido dos Trabalhadores do Curdistão). A maior parte desses deslocamentos ocorreu na zona rural do país, em direção às áreas urbanas no sudeste do país (IMDC, 2018d). O conflito entre a Turquia e o Curdistão deve ser remetido ao final da Primeira Guerra Mundial e à queda do Império Otomano. O Tratado de Lausanne (1923) criou a Turquia, negligenciando a formação do Curdistão. Desde então, os curdos são um povo sem um Estado próprio e a Turquia, por sua vez, busca suprimir a identidade curda a partir de práticas discriminatórias, de assimilação forçada e até mesmo de violência (US LIBRARY OF THE CONGRESS, 1995).

Na Ucrânia há aproximadamente 1,6 milhão de deslocados internos. Tal cifra está relacionada ao conflito armado, iniciado em 2014, pela anexação da Crimeia à Rússia. Outro foco de instabilidade para o país foi a proclamação da independência das cidades de Donetsk e Lugansk, no leste ucraniano. Ainda hoje a Ucrânia enfrenta separatistas pró-russos. As causas dos deslocamento são variadas: ambiente político complexo; corrupção governamental; pobreza e desigualdade; divergências, por parte da população, sobre alinhamentos com a Rússia ou com os países ocidentais. A Rússia contribuiu para o aumento do número de deslocados internos à medida que exerceu pressões políticas e econômicas sobre a Ucrânia. Como não há ainda uma solução definitiva à vista para tal conflito, nem um planejamento de longo prazo, o número de deslocados internos pode aumentar ainda mais (IDMC, 2017g).

4.4 PAÍSES ASIÁTICOS A República do Iraque é um país do Oriente Médio que, desde 2003, sofre com as consequências causadas pela guerra no seu território, intensificadas nos últimos anos, e com as ofensivas do Estado Islâmico11. Estima-se que os recentes conflitos já tenham provocado a fuga de mais de 1,2 milhões de pessoas. O ACNUR tem prestado assistência para as famílias iraquianas e também pretende estabelecer mais seis campos de refugiados no norte do país. Essa condição também gerou um grande contingente populacional migrando das zonas mais perigosas para outras dentro do país: ao todo, mais de 3,6 milhões de iraquianos tornaram-se deslocados internos, até 2016, devido ao conflito interno. Destes, mais de um milhão de deslocados não possuem uma renda regular e muitos outros tentam sobreviver com o fornecimento mínimo de comida, saúde e educação (ONU, 2018).

Desde 2011, a Líbia, país localizado no norte da África, ano em que ocorre o assassinato do presidente Kadhafi, convive com uma degradante guerra civil. Logo após a derrubada do governo oficial, as lutas entre facções, entre o leste e o oeste do país, criaram um vazio de poder, permitindo a atuação do Estado Islâmico nesse território. Hoje o Estado líbio está em uma situação muito delicada, com escassez de produtos e serviços básicos, dificultando a vida de toda população. Nos últimos anos, os conflitos nesse país causaram cerca de 630.000 (ACNUR, 2016).

A Síria está no centro da atual crise de refugiados e possui a segunda maior população de deslocados internos no mundo, com 6,3 milhões de pessoas (ONU, 2017). A guerra civil, que já dura sete anos, causou a morte de centenas de milhares de pessoas e forçou a fuga de 5,5 milhões para outras nações. Aproximadamente 13,5 milhões de sírios precisam de ajuda humanitária, incluindo 4,5 milhões que estão em áreas de difícil acesso ou sitiadas e esse número não pára de crescer devido à continuidade do conflito. A maior parte dos refugiados sírios se dirigem aos campos de refugiados em países próximos como Turquia, Líbano e a Jordânia. Enquanto a Guerra Civil continuar, o número de deslocados não deve parar de crescer (SYRIAN REFUGEES, 2016).

O Iêmen também foi influenciado pelos efeitos da Primavera Árabe12, que resultou em um golpe de Estado e a intervenção militar pela Arábia Saudita, colaborando para a eclosão de um novo conflito civil. A pobreza nesse território, muito elevada antes mesmo dos conflito, se transformou em miséria. Desde 2015 o Iêmen vive uma situação catastrófica marcada por bombardeios diários, mortes de

11 Estado Islâmico (EI) é um grupo terrorista formado por jihadistas muçulmanos ultraconservadores, que são conhecidos por defenderem fundamentos radicais do islamismo. O EI se utiliza de táticas brutais contra todas as pessoas que não seguem a sua interpretação sobre a lei religiosa islâmica.12 Primavera Árabe é o nome dado à onda de protestos, revoltas e revoluções populares contra governos do mundo árabe que eclodiu em 2011. A raiz dos protestos é o agravamento da situação dos países, provocado pela crise econômica e a negligência dos governantes perante sua população. O resultado foi a derrubada de alguns governos ditatoriais e o surgimento de guerras civis em alguns países do norte da África e do Oriente Médio, que duram até hoje.

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civis e crise de fome e desnutrição. Segundo a ONU, já são mais de 6,6 mil mortos desde o início do conflito – 3,8 mil deles eram civis, e 6,7 mil ficaram feridos. Ao menos 620 crianças morreram e 758 foram mutiladas desde meados de 2015 (G1, 2016). Além disso, mais de 3 milhões de iemenitas são considerados deslocados internos (ONU, 2017).

O Afeganistão sofre, desde 2001, com as investidas norte-americanas com o objetivo de capturar terroristas no seu território. Em junho de 2011, o Presidente americano Barack Obama anunciou que os Estados Unidos dariam início a uma retirada sistemática de soldados e equipamentos do país ainda naquele ano e em dezembro foi a vez da OTAN encerrar suas missões de combate no Afeganistão, assumindo uma postura de apoio ao governo afegão para combater os rebeldes islamitas. Ainda assim, o país segue instável internamente, com frequentes atentados a bomba e insurgência frequente porparte dos talibãs13. Desde a invasão americana, quase 600 mil pessoas foram forçadas a deixar suascasas em meio ao conflito, configurando-se como deslocados internos (ONU, 2016).

Hoje uma das maiores economias do mundo, a China tem potencial para cooperar mais com o trabalho do ACNUR na assistência aos deslocados forçados no mundo. Este país possui uma grande concentração de recursos financeiros que podem ser investidos diretamente em países que abrigam um grande número de refugiados e deslocados internos. A atual contribuição do governo chinês para os programas internacionais de refugiados aumentou, significativamente, alcançando mais de 12,5 milhões de dólares até agora, mas pode auxiliar ainda mais as autoridades migratórias transnacionais (ACNUR, 2017). Nos últimos anos, o país tem convivido constantemente com a ocorrência de desastres ambientais, que já produziram 7 milhões de deslocados internos (IDMC, 2016).

As Filipinas são um arquipélago no sudeste asiático. Com uma população de mais de 100 milhões de habitantes, o país é o sétimo mais populoso da Ásia. Cabe destacar, igualmente, que existem 12 milhões de filipinos que vivem no exterior, e isso representa uma das maiores diásporas do mundo. Além dos desastres naturais que o país já enfrentou, a recente entrada do Estado Islâmico no território, entre outros fatores, colaborou para produzir um número crescente de deslocados internos. Em 2017, as Filipinas foram o quarto país com a situação mais grave de deslocados, com 466 mil casos devido a conflitos (EBC, 2017) e quase 6 milhões devido a desastres ambientais (IDMC, 2016).

A Índia, localizada no sul da Ásia, possui a segunda maior população do mundo e uma economia crescente, entretanto ainda tem índices de pobreza muito elevados. A falta de infraestrutura deixa o país mais suscetível aos danos causados por desastres naturais, principalmente, aqueles ocasionados por cheias e inundações, que resultaram em aproximadamente mais de 2,4 milhões de pessoas deslocadas internamente (IDMC, 2016).

A Rússia é o país com maior extensão territorial do mundo e também é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, possuindo uma boa possibilidade de articulação. Atualmente, não conta com números significativos de deslocados internos ou de refugiados. O país assinou o Estatuto do Refugiado assim como seus protocolos adicionais e durante a crise na Ucrânia, em 2014, aprovou quase 100% dos pedidos de asilo de ucranianos. Entretanto, em relação a outros refugiados, tais como os sírios, a sua posição é bastante negligente, quando não negativa, havendo inclusive o fechamento das suas fronteiras durante um período (DW, 2016).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO(1) O conceito de deslocado interno é suficiente para atender todas as pessoas que sofrem com isso?

(2) Quais as principais dificuldades envolvidas na garantia dos direitos desse grupo e de que maneiraelas podem ser superadas?

(3) Recomendações de Organizações Internacionais afetam a soberania dos países?

13 Talibã é um grupo nacionalista revolucionário afegão, que ficou conhecido por seu posicionamento extremista e radical em favor das leis religiosas do islamismo.

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SENADO FEDERAL

Impeachment da Presidente Dilma Rousseff (2016)Bruna Leão Lopes Contieri , Felipe Gobatto Scheibler,

Helena dos Anjos Xavier, Lucas Colombo Keil e Luiz Marcelo Michelon Zardo1

1 Graduandos e Graduandas de Direito e Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO

(1) Você acredita que o impedimento de Dilma Rousseff se concretizaria pelo objetivo de fazervaler o que prevê a Constituição ou por um processo determinado por interesses políticos?

(2) Quais seriam as consequências para o cenário político brasileiro do afastamento definitivode Dilma Rousseff?

1 INTRODUÇÃOA República Federativa do Brasil adota o regime presidencialista como forma de governo, o

que quer dizer que a chefia do Poder Executivo é feita pela Presidência da República, com auxílio dos Ministros de Estados por ela indicados1 (BRASIL, 1988). Porém, essa configuração que nos parece natural não é a única possibilidade, pois existem outros regimes, como, por exemplo, o semi-presidencialista e o parlamentarista. Neste último - que, ao lado do presidencialismo, é o mais conhecido2, o maior poderé dado ao Parlamento e esse elege, dentre seus membros, uma pessoa para liderar o Poder Executivo -chamada de Primeiro Ministro.

Em ambos os regimes, o chefe de governo pode ser destituído de seu cargo antes de o mandato acabar3, caso ele seja por prazo determinado. No Brasil, a perda do mandato pode se dar por quatro formas, conforme ensina José Afonso da Silva (2012): (i) cassação; (ii) extinção; (iii) não comparecimento para a posse; e (iv) aplicação de pena criminal, que implique a perda do cargo.

Com isto, tem-se importância do instituto do impeachment, porque, no Brasil, este é o meio mais dramático pelo qual uma pessoa eleita pelo voto majoritário para ser Presidente da República pode ser destituída de suas funções. Para bem compreendê-lo, é necessária uma análise adequada dele, na medida em que, desde já, salienta-se: ele possui elementos tanto políticos, quanto jurídicos.

O presente guia de estudos se ocupa de abordar aspectos técnicos do procedimento, bem como temporais - mais relacionados ao momento em que a então presidente Dilma Vana Rousseff foi submetida a ele. Inicialmente, procura-se esmiuçar do que se trata o processo de impedimento (impeachment) e seu procedimento técnico nas casas legislativas. Também procuram-se estabelecer alguns aspectos relacionados ao momento político e econômico nacional, de modo que esses possam ser condicionantes importantes para a instauração do processo de impedimento. Ainda, será apresentada a denúncia e as principais fases do rito que se deram até o momento. Por fim, serão exploradas as controvérsias as quais cercam o caráter jurídico e político do processo, bem como as possíveis fontes de nulidade4.

É importante lembrar que o atual comitê simulará a fase final do impedimento da Presidente Dilma Rousseff. Portanto o debate se dará a partir da votação do relatório final no plenário do Senado Federal, que ocorreu em agosto do ano de 2016.

2 HISTÓRICO

O procedimento de cassação do mandato de presidente da república talvez tenha sido o assunto mais debatido recentemente, já que, no Brasil, a última presidente foi alvo de um. E esta não foi a primeira vez que o país passou por por um momento assim, ainda que tenha sido, de fato, a primeira vez que um presidente tenha sido efetivamente retirado do poder com um processo dessa natureza5.

1 Art. 76. O poder Executivo é exercido pelo Presidente da República, auxiliado pelos Ministros de Estado (BRASIL, 1988).2 Ainda que o alvo de um processo de impeachment não seja, necessariamente, o chefe do executivo, como aqui será tratado e impeachment presidencial, essa ressalva cabe ser feita.3 É bastante comum que os mandatos sejam por prazo determinado, ainda que isto possa variar de país para país.4 Nulidades é um termo jurídico utilizado para expressar que o fato jurídico é inválido. Fonte de nulidade, por sua vez, são as ações que podem deixar nulo um procedimento ou parte dele. Ou seja: uma invalidade/ nulidade por ser capaz de desfazer uma medida tomada anteriormente. Um exemplo pode ser um prazo mais curto concedido a um réu em um processo penal ou a não oportunização à defesa de se manifestar.5 Como será debatido ao longo das próximas páginas, Fernando Collor de Mello renunciou no dia anterior à sua condenação. As consequências dessa manobra serão oportunamente comentadas

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Serão abordados abaixo o procedimento de impeachment em abstrato6 e, depois, as características que orbitaram em torno da cassação do mandato de Dilma Rousseff, em especial o momento político e econômico do país.

2.1 INSTITUTO DO IMPEACHMENT O processo de impedimento, mais comumente conhecido pelo termo estrangeiro impeachment, é uma das maneiras pelas quais um presidente da república pode ter o seu mandato interrompido antes do tempo previsto, que, no Brasil, é de quatro anos. Conforme já colocado, José Afonso da Silva (2012) ensina que outros motivos que podem causar tal consequência são a morte do candidato eleito e o injustificado não comparecimento à posse por período maior a 10 dias. Tecnicamente, faz-se a distinção entre extinção do mandato e cassação do mandato, sendo a morte uma das causas de extinção e a condenação por crime comum ou de responsabilidade, de cassação. O impeachment está previsto no ordenamento brasileiro como resultado da condenação em um processo e julgamento da instituição do chamado crime de responsabilidade. Como este se trata de um dos cernes da questão, cabe explicar mais a fundo o que é e como tal infração é normatizada. Antes, vale colocar que um presidente pode ser processado por crimes comuns, no exercício do seu mandato, desde que eles estejam relacionados às suas atividades funcionais7. Uma eventual condenação por um crime comum - por exemplo, matar alguém8 - não teria como pena principal a perda do mandato, mas, sim, a pena de prisão. Contudo, a perda do mandato ocorreria, por cassação, por força de disposição da constituição que impede o exercício de função pública por pessoas com condenação criminal superior a quatro anos de reclusão9. A saída do poder seria, então, o que se chama de pena acessória, secundária (SILVA, 2012). Implantado na Constituição de 1891, mantido nas seguintes dos anos de 1934, 1937, 1946 e 1967, até chegar na atual de 1988, o crime de responsabilidade é uma infração político-administrativa que tem como consequência a perda do cargo e a inabilitação para a função pública pelo prazo de oito anos (MENDES; BRANCO, 2014). Seu procedimento é dividido em duas partes: o juízo de admissibilidade; e o processo/julgamento. O primeiro se dá perante à Câmara dos Deputados e o segundo, perante o Senado Federal. As fases, bem como suas peculiaridades, serão tratadas a seguir. Também é importante apontar onde o regramento dessa infração se encontra na Constituição. Nela, o crime de responsabilidade está localizado no Título IV - Da Organização dos Poderes, Capítulo II - Poder Executivo, Seção III - Da Responsabilidade do Presidente da República. Na atual legislação,

6 Utiliza-se a expressam em abstrato quando se quer dizer respeito às normas sem uma aplicação direta a um caso em específico. Ou seja, em abstrato - que é o contrário de em concreto -, é a abordagem do assunto fora de um exemplo. Nesse caso, trata-se de explicar as regras do processo de cassação em geral e não do processo de cassação da Dilma.7 A algum ato que foi exercido pelo presidente enquanto presidente. No desempenho do seu papel de presidente e não nas suas horas livres, em atividade desconexa com o seu trabalho.8 Art. 121. Matar alguém:Pena - reclusão, de seis a vinte anos (BRASIL, 1940). 9 Art. 92 - São também efeitos da condenação:I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo: a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos (BRASIL, 1940).

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os dispositivos legais que se ocupam de regê-lo são os artigos 8510 e 8611 da Constituição Federal de 1988, além da Lei 1.079 de 1950, que é a “legislação especial” referida no art. 85, §.

2.2 O PROCESSO DE IMPEDIMENTO NAS CASAS LEGISLATIVAS Primeiramente, deve-se ressaltar que o processo de impeachment na legislação brasileira

é caracterizado através de um sistema bifásico, no qual a denúncia e o julgamento são avaliados, respectivamente, em duas instâncias: na Câmara dos Deputados e no Senado Federal12 (LIMA; NOGUEIRA, 2016). Desse modo, para que se compreenda a totalidade do processo de cassação do mandato de um presidente, é importante analisar com cuidado tanto os ritos determinados para cada uma das casas legislativas, bem como os aspectos os quais giram em torno da denúncia - a qual, para muitos, é a fase inicial do procedimento.

2.2.1 PROCEDIMENTOS NA CÂMARA DOS DEPUTADOSDe acordo com a Lei 1079 de 1950, em seu art. 14, é estabelecido que “É permitido a qualquer

cidadão denunciar o Presidente da República ou Ministro de Estado, por crime de responsabilidade, perante a Câmara dos Deputados” (BRASIL, 1950). Nesse sentido, complementando com o art. 51, I, da Constituição Federal de 1988, determina-se que cabe à Câmara dos Deputados a análise dessa denúncia e, por consequência, sua aceitação para dar continuidade ao processo.

Segundo o regulamento do procedimento, deverá ser eleita uma Comissão Especial13 que terá um prazo de dez dias para emitir um parecer indicando se a denúncia deverá ou não ser objeto de julgamento (BRASIL, 1950). Esse relatório deverá ser votado pelos membros da comissão e aprovado por maioria absoluta14 (VIECHINESKI; COELHO, 2016); haverá, posteriormente, discussão na Câmara dos Deputados sobre os resultados do parecer, seguida por votação de procedência da denúncia, ou seja, se foram encontrados motivos para que se investigue o caso mais profundamente (BRASIL, 1950). Conforme os autores, para a continuidade do processo de impeachment para a próxima casa, o Senado, a votação por procedência da denúncia deve ser aceita por dois terços dos membros no Congresso Nacional, ou seja, pelo menos 342 dos 513 deputados federais.

Os parágrafos 1º e 5º do artigo 23 da Lei 1079/50 determinam que caso haja aprovação em relação à procedência da denúncia, a acusação será sentenciada pela Câmara dos Deputados e terá efeitos

10 Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente, contra:I - a existência da União;II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação;III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;IV - a segurança interna do País;V - a probidade na administração;VI - a lei orçamentária;VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e julgamento (BRASIL, 1988). 11 Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.§ 1º O Presidente ficará suspenso de suas funções:I - nas infrações penais comuns, se recebida a denúncia ou queixa-crime pelo Supremo Tribunal Federal;II - nos crimes de responsabilidade, após a instauração do processo pelo Senado Federal.§ 2º Se, decorrido o prazo de cento e oitenta dias, o julgamento não estiver concluído, cessará o afastamento do Presidente,sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.§ 3º Enquanto não sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República não estará sujeito a prisão.§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício desuas funções (BRASIL, 1988).12 A organização legislativa do Brasil adota um sistema bicameral, nesse sentido, as votações que devem acontecer no âmbito dopoder legislativo são estabelecidas em instâncias entre as duas casas legislativas: a Câmara dos Deputados e o Senado Federal.13 A atuação legislativa no Brasil, ou seja, da Câmara dos Deputados e do Senado Federal é pautada pelo desempenho de Co-missões Técnicas, as quais são compostas e eleitas pelos membros do parlamento. Essas são responsáveis por avaliar e fiscalizarprojetos de leis e outras atividades referentes ao legislativo brasileiro, como o processo de impeachment.14 Maioria absoluta se refere à metade mais um do total de votantes, estando ou não presentes no momento da votação. Ela ésemelhante a maioria simples, no entanto, essa é relativa à metade mais um do total de votantes presentes durante o momentoda votação. Já a maioria qualificada é relativa a necessidade de 2/3 de votos positivos do total de votantes.

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imediatos em relação ao Presidente da República ou Ministros, os quais serão suspensos do exercício de suas funções. Já o parágrafo 6º do mesmo artigo estabelece o envio do processo ao Senado Federal, caso seja relativo a crime de responsabilidade15, assim, a casa tem responsabilidade pelo julgamento da denúncia. Nesse sentido, é possível perceber que o papel da Câmara dos Deputados se refere ao juízo de admissibilidade – ou seja, uma etapa anterior que é responsável por definir se a denúncia deve ou não ser julgada -, enquanto cabe ao Senado Federal, nos casos de crimes de responsabilidade, determinar se o acusado é ou não culpado pela violação.

2.2.2 PROCEDIMENTOS NO SENADO FEDERAL A responsabilidade do Senado Federal em processar e julgar o Presidente e Vice-Presidente da República, em relação aos crimes de responsabilidade, está prevista no artigo 52, I16, da Constituição Federal de 1988. Já os procedimentos que devem ser seguidos pelos membros dessa casa, em julgamento de crime de responsabilidade contra Presidente da República, estão estabelecidos nos artigos 24º ao 38º da Lei 1079 de 1950. Conforme Viechinesk e Coelho (2016), no Senado Federal uma nova fase de admissibilidade será necessária. Nessa, segundo os autores, haverá a formação de uma nova comissão especial, dessa vez composta por senadores os quais terão dez dias úteis para refletir e produzir um novo parecer sobre a aprovação da admissibilidade do processo pela casa legislativa. Como na Câmara dos Deputados, o parecer será apresentado aos demais membros do plenário e votado com necessidade de maioria simples para a admissão do processo (VIECHINESKI; COELHO, 2016). Com a instituição formal do processo, mediante aprovação do parecer produzido pela comissão especial, é atribuída a função de condução do processo ao Presidente do Supremo Tribunal Federal. Será aberto, então, um prazo de vinte dias para a apresentação de provas e depoimentos. Ao fim desse período, primeiramente a acusação terá prazo de quinze dias para apresentar suas alegações finais, bem como, posteriormente, a defesa também terá mesmo prazo para concluir seus argumentos (AGÊNCIA BRASIL, 2016; VIECHINESKI; COELHO, 2016). Conforme a literatura, a partir desse ponto, um novo parecer deverá ser elaborado com os novos dados apresentados e votado pelos senadores. A maioria simples decide novamente pela procedência da acusação em luz das novas provas apresentadas. Finalmente, se houver aprovação do segundo relatório, o julgamento final será marcado no qual vota-se sobre a condenação do réu e, consequentemente, a efetivação do impeachment. Para tanto é necessário maioria qualificada - 54 dos 81 senadores eleitos - dentre os votantes afirmando que houve crime de responsabilidade (AGÊNCIA BRASIL, 2016; VIECHINESKI; COELHO, 2016). Conforme os dispositivos legais, a consequência da condenação é a perda do cargo político e inabilitação para o exercício de funções públicas (BRASIL, 1950).

2.3 ASPECTOS POLÍTICOS E CONJUNTURAIS DO IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF Como ressaltado anteriormente, a dinâmica a qual envolve o processo de impeachment do Presidente da República no Brasil é marcada por diversos procedimentos, envolvendo diferentes esferas e manifestações do poder público e da organização da federação. Portanto, não se devem esquecer as particularidades contextuais as quais envolvem a instituição do impeachment. No caso do processo que gira em torno da Presidente Dilma Rousseff, alguns autores destacam a importância do contexto político e econômico anterior à denúncia de crime de responsabilidade pela ex-Presidente, de modo que o entendimento desta situação seja necessário para compreender a totalidade dessa manifestação e alguns de seus condicionantes. Conforme da Silva e Svartman (2016), a eleição e governabilidade do Partido dos Trabalhadores (PT), durante seus treze anos de mandato, esteve sustentada sobre três pilares fundamentais: (i) suas alianças com as alas mais tradicionais e conservadoras da política brasileira; (ii) implementação de projetos políticos de cunho mais progressistas e, por fim, (iii) pela participação de recursos ilegais para o financiamento das campanhas eleitorais. Embora os autores reconheçam que a última não se caracteriza por uma novidade no jogo

15 O mesmo parágrafo determina que, em casos de crime comum, o julgamento deve ser avaliado pelo Supremo16 “Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles” (BRASIL, 1988).

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político brasileiro, a descoberta do caso abalou as estruturas políticas e a governabilidade da então presidente reeleita Dilma Rousseff. É destacado por eles que a subsequente investigação denominada “Operação Lava Jato” custou à governante no poder e seu partido a credibilidade com diversos setores da sociedade e crescente insatisfação da população brasileira. Para agravar essa situação, o esgotamento das políticas econômicas que vinham moderando os efeitos da crise econômica mundial de 2008 acentuou o declínio da produção nacional, levando à crise econômica e aumento da inflação e do desemprego, por exemplo. Isso resultou tanto na perda de apoio dos setores do empresariado ao governo Dilma Rousseff, quanto na adoção de cortes de verbas para os mais variados setores, os quais se revelaram extremamente impopulares (SILVA; SVARTMAN, 2016). Conforme os autores, a consequência desse contexto de crise política e econômica no país levou a uma crescente instabilidade e isolamento da Presidente Dilma Rousseff e do PT tanto de sua base aliada quanto de setores importantes da sociedade brasileira. Críticas severas ao governo da Presidente da República se tornaram cada vez mais constantes nos meios midiáticos do país, assim como a articulação política da oposição que passou a defender e a encabeçar o processo de impedimento político da governante.

3 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA Conforme determinado anteriormente, os dispositivos legais os quais se referem aos crimes de responsabilidade e abertura do processo de impedimento, como consequência, podem ser localizados nos artigos 85 e 86 da Constituição Federal de 1988 e na Lei 1079 de 1950. Nesses, é possível encontrar os devidos procedimentos legais que devem ser seguidos a fim de se concretizar o julgamento do crime de responsabilidade. Nesse sentido, essa seção se dedica à exploração das dinâmicas e particularidades do processo de impeachment da Presidente Dilma Rousseff, bem como à reflexão acerca do caráter jurídico e político do procedimento e suas controvérsias.

3.1. DENÚNCIA No dia primeiro de setembro de 2015, os juristas Hélio Bicudo, fundador do PT e ex-vice-prefeito de São Paulo, e Janaína Paschoal, professora de Direito Constitucional na Universidade de São Paulo (USP), com posterior adesão de Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça, levaram à Câmara dos Deputados um pedido de impeachment contra a então presidente Dilma Rousseff (CARTA CAPITAL, 2015). As denúncias a acusavam de cometimento de crime de responsabilidade por meio da abertura de créditos suplementares17 sem autorização parlamentar e de manobras conhecidas como “pedaladas fiscais” (EL PAÍS, 2016). Quanto aos créditos suplementares, a denúncia de Reale, Bicudo e Paschoal diz respeito a seis decretos de Dilma entre julho e agosto de 2015, que aumentaram o orçamento do governo de forma a violar a Lei Orçamentária18 do mesmo ano (EL PAÍS, 2016). Em seu artigo 7, ela estabelecia que créditos suplementares apenas poderiam ser abertos pelo Executivo se eles fossem compatíveis com a meta fiscal19 do ano. Tendo em vista a situação crítica das finanças públicas em 2015, os decretos da chefe de Estado do país teriam sido incompatíveis com a meta fiscal e, portanto, ilegais. Os juristas argumentam que, naquela situação, era indispensável a aprovação parlamentar para a abertura desses créditos, que aumentavam a quantidade disponível para as despesas anuais do governo. A prática de Dilma, na visão dos denunciantes, claramente se enquadraria na categoria de crime de responsabilidade. Conforme discutido na seção anterior, tem-se que o artigo 85 da Constituição Federal aponta atos do Presidente da República contra a Lei Orçamentária como crime de responsabilidade. Da mesma forma, a Lei 1.079, de 1950, modificada em 2010, em seu décimo artigo estabelece que violar a Lei Orçamentária constitui crime de responsabilidade. Como a seção 3 da Constituição Federal exige como componente jurídico para o impeachment de um presidente o cometimento de crime de responsabilidade, Reale, Bicudo e Paschoal empregam os decretos suplementares como uma das justificativas para o processo.17 Créditos suplementares são uma espécie de aumento do orçamento anual, isto é, se trata de liberar mais recursos para o governo no referido período de tempo.18 Lei Orçamentária é uma iniciativa legislativa do Poder Executivo detalhando o orçamento de determinado ano, detalhando receitas e despesas esperadas.19 A meta fiscal de um ano corresponde ao resultado esperado das contas do governo e previsto na Lei Orçamentária. Corres-ponde, assim, à diferença entre gastos e despesas considerada aceitável para o referido período.

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A segunda acusação consiste nas “pedaladas fiscais”, isto é, nos atrasos de pagamentos do governo a bancos públicos. À medida que os juristas afirmam que a presidente cometeu esses atrasos de forma sistemática em seu mandato (ISTO É, 2016), de valores muito altos e de forma repetida mês a mês, eles seriam equivalentes um empréstimo do governo para os bancos (operação de crédito), o que é vedado por lei. Também é previsto pela Lei 1.079/50, como crime de responsabilidade, “contrair empréstimo, emitir moeda corrente ou apólices, ou efetuar operação de crédito sem autorização legal”. Assim sendo, as “pedaladas” são o segundo argumento jurídico do processo de impeachment.

Entretanto, há também juristas, como Dalmo Dallari (ÉPOCA NEGÓCIOS, 2016), que contestam o processo de Reale, Bicudo e Paschoal, apontando que as acusações são frágeis e não suficientes paraenquadrar Dilma como praticante de crime de responsabilidade e que todo o processo representariauma fraude por trás de um “golpe parlamentar”.

Enquanto alguns defenderam a absolvição da presidente, outros acreditam que ela deveria ser processada por improbidade administrativa20 e, assim, ser julgada segundo os procedimentos jurídicos tradicionais e não pelo impeachment. Para esse segundo grupo, as omissões de Dilma diante dos escândalos de corrupção na Petrobras sustentariam uma acusação de improbidade , já que ela já ocupou a chefia do conselho da estatal petrolífera. Da mesma forma, também se cogitou improbidade administrativa no já referido episódio das “pedaladas fiscais”, o que resultou em um inquérito aberto pelo Ministério Público contra a petista. A análise de se as “pedaladas” correspondem a crime de improbidade administrativa depende de um estudo da Lei de Improbidade Administrativa, de 1992.

A Lei de Improbidade Administrativa, nº 8.429/92, define as sanções aplicáveis aos agentes públicos em casos de a) enriquecimento ilícito em exercício do mandato; b) dano ao erário (tesouro do Estado) ou c) prejuízos aos princípios da administração pública. Há uma intensa discussão no campo jurídico acerca da possibilidade de um agente político estar ou não sujeito a esta lei, uma vez que os atos ilícitos apontados pelos denunciantes poderiam enquadrar-se tanto na lei em questão, quando na Lei 8.429/50, que aborda os crimes de responsabilidade. Alguns juristas, contrários à classificação dos atos de Dilma Rousseff como violação da lei da improbidade administrativa, utilizam o princípio do ne bis in idem21, que garante que indivíduos não sejam julgados duas vezes pelo mesmo ato delituoso. Segundo essa análise, caberia aos políticos o julgamento sob regime jurídico especial a que tem direito, respondendo a uma infração exclusivamente administrativa.

3.2. PROCESSO NA CÂMARA DOS DEPUTADOS Entre os dias 13 e 17 de março de 2016 foi eleita e instalada a Comissão Especial da Câmara

dos Deputados, contando com sessenta e cinco deputados federais, cujo relatório final aconselharia o prosseguimento do processo de julgamento da Presidente para verificação mais apurada da acusação levada ao plenário (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016c; LIMA; NOGUEIRA, 2016). O parecer foi apresentado no dia 6 de abril pelo relator Jovair Arantes e aprovado pelo restante da Comissão Especial. Nesse, o deputado reconhece o papel do plenário e, em especial, da Comissão Especial formada, para analisar a justa causa da denúncia recebida e as provas que indicam a autoria de práticas ilegais pela Presidente da República (ARANTES, 2016).

Para tanto, examina a defesa apresentada pelo Advogado Geral da União, José Eduardo Cardoso, na qual se destaca (i) o desvio da finalidade do processo impeachment pelo Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o qual estaria sendo movido por “vingança pessoal e não com finalidade de interesse público” (ARANTES, 2016, p. 17) e (ii) a alteração da meta fiscal sendo condizente com as mudanças das realidades econômicas vividas pelo país, assim como outras alterações de metas já realizadas frente a situações semelhantes, citando-se os anos de 2014, 2013, 2010, 2009 e 2001 (ARANTES, 2016).

O relatório final é concluído com as considerações do deputado sobre a gravidade da situação e o perigo que impõe à separação dos poderes, à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, uma vez que os possíveis crimes cometidos ameaçam o papel do parlamento em relação à aprovação das finanças públicas e a responsabilidade do mesmo para com o equilíbrio fiscal e o planejamento das contas do governo (ARANTES, 2016). Determina, por fim, a existência de indícios mínimos contra a Presidente da República em relação aos crimes de responsabilidade de (i) abertura de

20 Ato ilegal ou que contraria princípios básicos da administração pública, cometido por agente público durante o exercício do cargo ou função.21 Do latim, “não repetir o mesmo fato”. Segundo esse princípio, não se deve apenar um acusado mais de uma vez pelo mesmo fato delituoso.

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créditos suplementares por decreto presidencial, sem autorização do congresso22 e (ii) contração ilegal de operações de crédito23, de modo que indique autorização para instauração do processo pelo Senado Federal, para averiguação completa desses fatos (ARANTES, 2016).

Tal documento foi lido e aprovado pelos membros da Comissão Especial, por 38 votos a 27, passando-se assim para a votação no Plenário da Câmara dos Deputados, no qual também se votou favoravelmente ao prosseguimento do processo com 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e 2 ausências do total dos 513 deputados federais (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016a; CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016b).

3.3 PROCESSO NO SENADO FEDERALDe acordo com regulamento referente às etapas do processo de impeachment estabelecido

anteriormente, a partir do recebimento do parecer aprovado na Câmara dos Deputados, cabe ao Senado Federal uma avaliação dupla de nova Comissão Especial formada por Senadores Federais. A primeira é relativa à admissibilidade do processo no Senado Federal e abertura formal do processo após a apresentação de novas provas e argumentos. Um segundo parecer é elaborado pela mesma Comissão a fim de sugerir a continuidade do processo para o julgamento final ou o arquivamento do caso (BRASIL, 1950).

No caso do procedimento relativo ao impeachment da então Presidente Dilma Rousseff, o primeiro parecer do Senado Federal, elaborado pelo relator Antonio Anastasia, estabeleceu o exame das condições legais necessárias para a admissibilidade da denúncia e decidiu que existiam indícios suficientes e requisitos formais para posterior julgamento na casa parlamentar nos mesmos artigos estabelecidos pela Câmara dos Deputados (ANASTASIA, 2016). Dentro da Comissão Especial, o voto foi favorável ao parecer apresentado, bem como no plenário do Senado Federal (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2016d). Dessa maneira, de acordo com o Portal da Câmara dos Deputados, o processo foi instaurado no dia 11 de maio de 2016.

Para composição do relatório final pela Comissão Especial foram recebidas as alegações finais tanto da acusação quanto da defesa. Enquanto os primeiros reafirmam os argumentos anteriores acerca da rejeição das contas referentes a 2015 pelo TCU e às pedaladas fiscais, por exemplo, os últimos reforçam as divergências internas em relação ao TCU e à absolvição da Presidente (ANASTASIA, 2016b).

Ao concluir seu parecer, o senador Antonio Anastasia (2016) relaciona a crise econômica vivida pelo Brasil com a expansão “insustentável” dos gastos públicos24 e reitera que o processo vigente está mais relacionado à organização e responsabilidade fiscal as quais deveriam ser divididas entre o Legislativo e o Executivo, e à proteção da separação dos poderes, do que aos índices de popularidade do governo. Nesse sentido, sugere, através do relatório, a procedência da acusação e o prosseguimento do processo para julgamento.

O relatório foi aprovado na Comissão Especial com 14 votos favoráveis e 5 contrários à continuidade do processo. Assim, segue para a votação no plenário do Senado Federal.

3.4 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CARÁTER JURÍDICO-POLÍTICO DO IMPEACHMENT

Ao tratar desse assunto, é comum que as partes favoráveis e contrárias ao impeachment façam uso do termo “processo político” para anular ou reforçar a validade do julgamento. Com isso em vista, cabe atentar para algumas considerações que esclarecem essas diferentes perspectivas (VILLAS-BÔAS, 2015).

Diversas partes favoráveis ao impeachment defendem que este é, por natureza, um processo político, uma vez que tramita em órgãos políticos como a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, e que suas causas e consequências se refletem no cenário da política nacional. Contrários aos primeiros, os opositores do impedimento da presidente Dilma Rousseff rechaçam que interesses e valores políticos sejam priorizados em relação aos elementos jurídicos do processo. Ambos podem (e irão) utilizar esses

22 Constituição Federal, art. 85, VI, e art. 167, V; e Lei nº 1.079, de 1950, art. 10, item 4 e art. 11, item 223 Lei nº 1.079, de 1950, art. 11, item 324 Citando-se, como exemplos, as medidas tomadas pela então Presidente em julgamento como condicionantes de perda de confiança em agentes econômicos, investidores, e prejudicial aos dados fiscais do país (ANASTASIA, 2016b)

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pontos de vista ao defender suas opiniões quando se pronunciarem sobre o tema e quando anunciarem seu voto (BIANCHINI; GOMES, 2013).

Uma vez que o processo de impeachment é iniciado, investigado e julgado pelo Poder Legislativo, e não pelo Judiciário, como em crimes comuns, a participação do Congresso é direta e seus membros assumem papel de acusador, júri e juiz, com o presidente do STF presidindo a sessão. Com isso em mente, tratar o impeachment como fato independente de fatores políticos poderia ser equivocado, já que todos seus sujeitos - julgados e julgadores - são políticos.

Quanto ao caráter jurídico, a Lei 1.079/50 define que o impeachment deve ser concretizado quando, e somente se, houver crime comum ou de responsabilidade. Apontar perda de base política, incompetência na administração do Estado ou falhas técnicas no conduzir da economia do país como razões que justificariam um impeachment não tem sustentação legal e fogem do que prevê a Constituição Brasileira (BIANCHINI; GOMES, 2013).

Conclui-se, portanto, que o pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff só deve ser acatado pelo congressista caso haja clara e indiscutível prova de crime. Entretanto, como dito anteriormente, os sujeitos responsáveis pelo julgamento e pela condenação são indivíduos que defendem determinados interesses e que fazem parte de partidos políticos com ideologias e ideais dos mais diversos, sendo o principal desafio garantir que sua posição priorize a democracia e valores democráticos em detrimento de seus interesses ou vontades políticas. (VILLAS-BÔAS, 2016)

3.5 NULIDADESO processo de impeachment, segundo alguns juristas, apresenta fatores que contrariam o que

é previsto constitucionalmente. Esses apontamentos levariam à anulação dos procedimentos caso haja apelo ao STF, que deve averiguar a forma e o decorrer do processo de maneira a garantir que se respeite a Constituição Federal. Assim como foi exposto e repercutido pelos próprios parlamentares, o processo só foi aceito pelo então presidente da Câmara de Deputados Eduardo Cunha após a decisão da base governista de não apoiá-lo na Comissão de Ética. A motivação de “vingança política” configura um vício de iniciativa - quando o motivo para abertura do processo foge à intenção de corrigir a irregularidade apontada, nesse caso buscaria somente vingança -, o que invalidaria o processo (CONJUR, 2015).

Quando em votação na Câmara, as justificativas apresentadas pelos congressistas levaram em consideração, por diversas vezes, apenas quesitos partidários, ideológicos ou mesmo familiares enquanto se posicionavam a favor da condenação. Isso representa uma quebra na relação entre motivo da decisão e motivo da denúncia, o que viola o direito à ampla defesa. A falta de ligação entre acusação e justificativa de voto torna o processo passível de ser invalidado (CARTA CAPITAL, 2015).

O fatiamento da denúncia é o ponto mais significativo ao abordarmos as nulidades verificadas no processo. Durante o julgamento no Senado, separou-se a votação da condenação por crime de responsabilidade (impeachment) e da cassação dos direitos políticos de Dilma Rousseff por oito anos. Os dois terços necessários em favor do impeachment foram atingidos (61 a 23), enquanto os direitos políticos foram mantidos ao não se obter a quantidade de votos necessária (42 a 36) (EL PAÍS, 2016). Entretanto, a Lei 1.079/50 prevê que, em caso de condenação por crime de responsabilidade, a pena de retirada dos direitos políticos é automática, sendo consequência direta de um impeachment pelos motivos expostos na denúncia. Assim sendo, a confusão protagonizada pelo Senado geraria a nulidade absoluta da votação que impediu o mandato de Dilma Rousseff, uma vez que a suspensão de suas capacidades políticas é obrigatório segundo a Constituição, havendo descumprimento da Lei Federal ao mantê-las quando considerada culpada pelos crimes de responsabilidade (BRASIL, 1988).

4 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIASAlém de estar em nossa constituição desde 1891, o impeachment é mais do que uma previsão do

ordenamento jurídico brasileiro25. Ele já foi tirado da inércia com denúncias realizadas e interrompidas e já foi conduzido até o final. O mesmo acontece, também, ao redor do mundo. Essa seção se ocupará de tratar de procedimentos dessa natureza no Brasil e no exterior, abordando, mais especificamente, o exemplo nacional de Fernando Collor de Mello e o externo dos Estados Unidos da América.

4.1 IMPEACHMENT DO PRESIDENTE FERNANDO COLLOR DE MELLO25 Essa expressão diz respeito ao conjunto de normas jurídicas, ou seja, a todo o Direito do país.

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Como já comentado, em 1992, logo após o processo de redemocratização, o país passou por uma crise política que levou à saída do primeiro presidente eleito por voto popular depois do fim do regime militar. A primeira experiência da escolha direta de um chefe do executivo federal teve o empecilho do crime de responsabilidade e culminou com uma cassação de mandato.

Patrocinado pelo então presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Marcelo Lavenère, o processo de responsabilização do presidente foi o resultado de uma insatisfação generalizada, envolvendo acusações de condutas corruptas a partir do chamado esquema PC Farias (MOTTA, 2006). Dentre vários aspectos desse julgamento, importa salientar, basicamente, dois pontos: (i) o fato de Fernando Collor ter renunciado algumas horas antes do julgamento; e (ii) ainda assim, eleter tido declarada a sua inelegibilidade.

A maneira como o Congresso Nacional agiu foi no sentido de entender que a saída do cargo não se deu de maneira puramente espontânea, mas foi uma manobra para evitar a pena acessória26 (inelegibilidade), por saber que a cassação do mandato era certa. Ainda que com discussões, foi firmado o entendimento de que a renúncia não implicou na perda do objeto do processo de impedimento e, comisto, esse prosseguiu até o seu final. Collor foi, então, condenado - mesmo que já não estivesse no poderpor algumas horas - e foi reconhecida a sua inelegibilidade por 8 anos, como consequência do previstono art. 85 da Constituição Federal.

Outra questão interessante que foi levantada em 1992 e retomada em 2017 foi a questão do voto secreto. Por questões de segurança jurídica (ou seja, de ser possível de prever a partir do que já foi feito no passado), foi mantido o voto aberto por parte dos parlamentares para o processo da Dilma, assim como foi feito com o processo do Collor.

4.2. O IMPEACHMENT EM OUTROS PAÍSESO mecanismo de impeachment foi usado pela primeira vez no Reino da Inglaterra em 1376

(CAIRD, 2016), porém foi nos Estados Unidos da América que ele se popularizou na forma que se constituiu como a maior inspiração para o procedimento como o conhecemos no Brasil. Ele foi instituído na Constituição dos EUA por sugestão de Benjamin Franklin, para que houvesse algum meio pacífico de retirada de detentores de cargos públicos do poder (CHAFETZ, 2010).

Tal como no Brasil, o número de atos que podem motivar o processo de impeachment é objeto de grande debate nos Estados Unidos. Inicialmente, quando a Constituição estava em processo de redação, ele seria muito limitado, listando apenas traição, suborno e corrupção. Em seguida, houve um movimento para que se adicionasse “má administração”, genericamente, à lista, algo ao que muitos se opuseram por acharem que assim o Congresso poderia pressionar o Presidente a governar de acordo com os seus interesses (HOUSE JUDICIARY COMMITTEE, 1974).

Por fim, decidiu-se pela listagem “Treason, Bribery, or other high Crimes and Misdemeanors”, que, em tradução livre, significam “traição, suborno e outros altos crimes e contravenções”. Deu-se, então, espaço a um número de interpretações muito variadas, visto que os termos no último trecho eram muito vagos (LOWRY, 2018).

O primeiro processo contra um presidente foi contra Andrew Johnson, que ocorreu em grande parte por razões políticas. A acusação contra ele foi de violar o Ato de Posse de Cargo de 1867, que proibia o presidente de tirar certos oficiais de seu cargo sem a aprovação do Senado, ao remover Edwin Stanton do posto de Secretário de Guerra, pois ele era parte de uma corrente política rival e frequentemente causava atritos ao seguir ela ao invés da política oficial de Johnson durante o exercício de suas funções. Havia alguma crença de que o Ato foi criado unicamente para proteger Stanton, no entanto, e Johnson afirmou que ele era inconstitucional (TREFOUSSE, 1989). Johnson foi absolvido pelo Senado faltando apenas um voto para condená-lo, pois alguns senadores desconfiaram de que o processo tinha sido conduzido de forma desequilibrada para dar mais peso à evidência da acusação (STEWART, 2009).

Já Bill Clinton foi acusado de perjúrio ao mentir sobre não se envolver com uma funcionária diante de um juramento para dizer apenas a verdade perante um tribunal e de ter buscado influenciar testemunhas, mas apesar da Câmara de Representantes ter admitido a denúncia, muitos senadores consideraram que os fatos ocorridos eram moralmente repreensíveis, mas não eram de gravidade tamanha que devesse resultar na remoção de Clinton de seu cargo. Pouco menos da metade do Senado

26 Pena acessória é aquela que exerce um papel secundário, sendo aplicada apenas se existir um apena principal- que é a mais importante.

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votou pela condenação por perjúria e exatamente a metade por obstrução da justiça, não se alcançando dois terços dos votos em nenhuma das duas acusações. Assim, apesar de Clinton ter sofrido outros tipos de sanções, ele foi absolvido em seu processo de impeachment (THE HISTORY PLACE, 2000).

O único outro presidente contra o qual um procedimento de impeachment foi iniciado na Câmara dos Representantes foi Richard Nixon, devido ao escândalo de Watergate, no qual descobriu-se seu envolvimento em um esquema de espionagem ao Partido Democrata e tentativa de obstruir a justiça em favorecimento de outros envolvidos (WHITE, 1975). Entretanto, diante da certeza de que perderia o caso na Câmara dos Representantes e no Senado, Nixon renunciou ao seu cargo antes que a Câmara dos Representantes pudesse deliberar sobre seu impeachment (SCHMIDT, 2013). Sendo assim, nenhum presidente nos Estados Unidos da América foi efetivamente condenado em um processo de impeachment até hoje.

Mais próximo do caso brasileiro, tanto geográfica quanto cronologicamente, é o impeachment de Fernando Lugo, presidente do Paraguai, em 2012. Acusado de não agir adequadamente para conter um conflito de terras que resultou em diversas mortes, Lugo foi removido de seu cargo em questão de dias. Lugo, seus aliados e outros países consideraram a rapidez do processo uma violação do direito de defesa do presidente, e os outros países do Mercosul retiraram seus embaixadores do Paraguai em protesto (MOFFETT; ROMIG, 2012).

5 POSICIONAMENTO DOS PARTIDOS POLÍTICOSOs padrões de voto dos deputados e senadores no processo de impeachment contra Dilma

revelam muito da política de interesses e formação de alianças entre partidos, mas também evidenciam o quão polêmico foi o processo, afinal, embora a maioria dos senadores tenha seguido a orientação deseus partidos, houveram várias situações em que eles votaram de forma contrária, de acordo com asua consciência. Fica evidente, também, a complexidade da situação, pois os dezessete partidos comrepresentação no Senado Federal tiveram posições bastante divergentes quanto ao impeachment deDilma ao todo, nem sempre votando junto com partidos de orientação política semelhante.

Os Democratas (DEM), um dos partidos a se opor aos governos petistas desde 2003 de forma mais contundente, foi integralmente favorável ao impeachment (EBC, 2016). Como recompensa ao apoio, após a posse de Michel Temer recebeu funções de governo importantes, como o Ministério da Educação, sob o nome de Mendonça Filho (O GLOBO, 2016).

No outro extremo, considerado o partido mais leal da base aliada de Dilma, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) defendeu a ex-presidente até seu afastamento definitivo, votando contra sua remoção (EBC, 2016). A senadora amazonense Vanessa Grazziotin, por exemplo, foi uma das vozes mais ativas no Senado contra grupos pró-impeachment e obteve grande repercussão midiática ao longo do processo (G1, 2016).

O Partido Democrático Trabalhista (PDT), também da base aliada petista, posicionou-se contra o impeachment (EBC, 2016). No entanto, várias alas do partido contestaram a decisão da ExecutivaNacional, que ameaçou punir dissidentes e efetivamente expulsou quatro deputados federais quevotaram contra Rousseff. Apesar do clima de medo e de a maioria do PDT no Senado seguir comDilma, houve também resistência por parte do senador Telmário Mota (G1, 2016), expulso da sigla emjaneiro de 2017 (ESTADÃO, 2017). É interessante destacar que o PDT foi o primeiro partido político deDilma, que migrou para o PT em 2000, após discordâncias com o grupo de Alceu Collares nas eleiçõesmunicipais em Porto Alegre (FOLHA DE SÃO PAULO, 2000).

Apesar de ser uma das forças mais conhecidas na oposição a Dilma, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) não seguiu uma só direção em seu voto. Tal como na Câmara dos Deputados, a esmagadora maioria votou a favor do impeachment, mas dois senadores divergiram em seu voto (EBC, 2016). A sigla assumiu a maior parte dos cargos de importância no início do governo Temer, tal como o Ministério do Planejamento (Romero Jucá), Casa Civil (Eliseu Padilha), Secretaria de Governo (Geddel Lima) e Ministério Social (Osmar Terra) (O GLOBO, 2016).

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O Partido Progressista (PP), mesmo tendo sido parte da base aliada de Dilma durante praticamente todo o seu mandato (até 13 de abril de 2016) e ocupado ministérios importantes, como a Saúde, defendeu o impeachment da ex-presidente (EBC, 2016). Em troca, também recebeu pastas27 essenciais do novo governo de Michel Temer, enquanto era presidente interino28, como a Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Blairo Maggi) (O GLOBO, 2016). Contudo, é importante levar em conta que apesar da grande maioria do PP, inclusive dos senadores, ter defendido a remoção da petista, houveram nomes contrários ao processo, como o senador baiano Roberto Muniz.

O Partido Popular Socialista (PPS) é representado no Senado por apenas um senador, e seu voto foi de acordo com a atuação do partido na Câmara dos Deputados, a favor do impeachment (EBC, 2016). Teve dois integrantes nomeados como ministros: Raul Jungmann, primeiramente como Ministro da Defesa e mais tarde como Ministro da Segurança Pública; e Roberto Freire, que por algum tempo foi Ministro da Cultura (G1, 2016).

Seguindo a tendência uniforme do partido na Câmara dos Deputados, o único representante do Partido Republicano Brasileiro (PRB) no Senado votou a favor do impeachment (EBC, 2016). Deteve o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio sob o nome de Marcos Pereira, e então deMarcos Jorge (G1, 2016).

O Partido Socialista Brasileiro (PSB), que mantinha uma postura de independência em relação ao governo Dilma antes de migrar para a oposição no auge da crise da gestão petista, apoiou o impeachment, apesar de significativas divergências internas que, de forma geral, foram bem aceitas pela Executiva Nacional. Apesar da maioria do partido ser a favor do afastamento da ex-presidente, alguns nomes importantes, como os senadores João Capiberibe e Lídice da Mata, fizeram forte oposição. Logo que Temer assumiu, o partido passou a integrar a base do governo, mas retirou-se em maio de 2017.

O Partido Social Cristão (PSC) já se mostrava favorável ao impeachment há um bom tempo, e no Senado manteve sua posição, votando unanimemente pela condenação de Dilma. Apesar de ter se alinhado à oposição ao governo da petista, não foi chamado a ocupar nenhum ministério (EBC, 2016).

O Partido Social Democrático (PSD), apesar de ter sido membro da base aliada do governo de Dilma até 13 de abril de 2016, rompeu com a petista e defendeu o impeachment. Inclusive, o fundador do partido, o ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, era ministro de Dilma até o rompimento (G1, 2015) e voltou a ser logo que Michel Temer foi empossado. Além disso, o ministro da Fazenda do novo governo Temer, Henrique Meirelles, um dos principais nomes do Gabinete do presidente, era filiado ao PSD (O GLOBO, 2016). Mesmo com apoio majoritário ao impeachment, também houve resistência por parte de alguns grupos do partido, caso do senador baiano Otto Alencar (EBC, 2016).

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), assim como na Câmara, fechou posição a favor do impeachment no Senado. O principal partido da oposição aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT), como seria de se esperar, apoiou em peso a destituição de Dilma Rousseff (EBC, 2016). Como consequência desse posicionamento, após a abertura do processo de impedimento e a saída provisória de Dilma, o partido recebeu do então presidente interino Michel Temer importantes ministérios, incluindo a pasta da Justiça (Alexandre de Moraes) e a das Relações Exteriores (José Serra) (O GLOBO, 2016).

O Partido dos Trabalhadores (PT) manteve sua lealdade a Dilma de forma integral. Detinha a maioria dos ministérios durante o seu governo, fazendo jus à afiliação partidária da própria presidente. Opôs-se em sua totalidade ao impeachment e continuou a condenar o ato como um golpe de Estado, sendo excluído do governo após Temer assumir (EBC, 2016).

O Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), apesar de apoiar Aécio Neves nas eleições em 2014 e depois passar para a base de apoio a Dilma, adotou posição oficial pró-impeachment. No Senado, contudo, a

27 O comando de um ministério.28 Substituto, mas não necessariamente definitivo. No caso, durante o período em que a presidente Dilma estava afastada mas não havia sido definitivamente removida do cargo.

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maioria dos membros do partido se posicionou de forma contrária à destituição, com exceção apenas do mineiro Zezé Perrella (EBC, 2016). Logo que Temer assumiu, os petebistas receberam o Ministério do Trabalho (Ronaldo Nogueira) (G1, 2016).

O único dos membros do Partido Trabalhista Cristão (PTC) a integrar o Senado votou a favor da condenação de Dilma no processo de impeachment (EBC, 2016). Com pouca representação também na Câmara dos Deputados e em outras instâncias executivas, não foi chamado a ocupar nenhum posto alto no governo Temer.

O Partido da República (PR) integrou o governo Dilma até sua destituição, mas o apoio à petista não foi a posição majoritária de deputados e senadores; a bancada no Senado foi integralmente pró-impeachment (EBC, 2016). Com a posse de Temer, a sigla ingressou no governo a assumiu um papel importante, ocupando, entre outros cargos de peso, o Ministério dos Transportes (Maurício Quintella Lessa) (G1, 2016).

O Partido Verde (PV), que já tinha uma postura anti-petista na Câmara e no Senado, declarou-se a favor do impeachment de Dilma, posição seguida no Senado (EBC, 2016). Porém, após o afastamento o PV não passou para a base de apoio de Temer, mantendo uma posição independente, mesmo tendo um filiado seu, Sarney Filho, como novo ministro do Meio Ambiente. É importante notar que se tratou de uma escolha pessoal do presidente Temer, e não de uma indicação da Executiva Nacional do PV (O GLOBO, 2016).

O Rede Sustentabilidade (REDE), que na Câmara teve seus deputados liberados para votarem como quisessem e ficou dividido, teve seu único senador votando de forma contrária ao impeachment (EBC, 2016). Durante o governo Temer seus integrantes não foram chamados a chefiar nenhum ministério.

6 QUESTÕES PARA DEBATE

(1) A recomendação partidária predomina na decisão dos deputados e senadores ou são as ponderações e considerações individuais que determinam o voto?

(2) Os fatores considerados para o impeachment de Rousseff são os mesmos dos levados em conta nos outros casos analisados nesse guia? O que podemos destacar como diferenciais no caso de Dilma?

(3) Quais foram os motivos que levaram ao impeachment? Eles são previstos pela constituição?

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ASSEMBLEIA GERAL DA UNIÃO AFRICANA

Terrorismo no Continente AfricanoAmabilly Bonacina, Gabriela Ribeiro Santos, Geórgia Bernardina de Menezes

Gomes, Rafaela Elmir Fioreze e Victor Hugo Dresch da Silva 1

1 Graduandos e Graduandas em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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QUESTÕES PARA ORIENTAÇÃO(1) Qual a importância, para a segurança dos Estados africanos, de debater terrorismo?

(2) Qual o papel da União Africana para o combate ao terrorismo no continente africano?

APRESENTAÇÃO1

A União Africana, criada em 2002, possui 14 órgãos que sistematizam sua ação nas mais diversas áreas. Com o objetivo de promover o desenvolvimento e prevenir conflitos no continente, sua agenda é voltada à defesa dos direitos humanos, à cooperação e à integração entre os países africanos. O principal órgão de atuação é a Assembleia Geral, espaço de debate e de tomada de decisões sobre os diferentes problemas que afetam o continente. Suas reuniões acontecem uma vez ao ano, na qual todos os 55 países membros da UA, que são representados por seus chefes(as) de Estado e de Governo, têm o mesmo poder de voto e tomam as decisões por consenso. Caso este não seja atingido, há uma votação na qual a aprovação de resolução do documento demanda o voto positivo de pelo menos dois terços dos presentes.

Em 2018, o UFRGSMUNDI propõe-se a discutir o terrorismo no continente africano, buscando analisar de que formas esse fato impacta os países membros da UA e emperra o seu desenvolvimento. A independência das ex-colônias africanas e a formação de novos Estados, a partir do final da década de 1950, culminou na falta de poder dos governantes, bem como em uma dificuldade de desenvolvimento econômico e social. Dentro de um contexto de pós-independência, então, grande parte dos países africanos tenderam a mergulhar em disputas de grupos de poder interno, levando em alguns casos a guerras civis (RIBEIRO, 2013).

A ascensão do terrorismo no continente será, portanto, sustentada por um cenário de instabilidade e crise humanitária. Grupos armados atuam no continente desde meados dos anos 1980. No entanto, sua projeção ao longo do século XXI tem tomado uma maior dimensão e preocupado os dirigentes dos países. As principais dificuldades dos Estados africanos em adotarem medidas de antiterrorismo são diversas: crise econômica, corrupção, desigualdade e multiplicidade de etnias dentro das fronteiras, além de constrangimentos estruturais como, por exemplo, recursos limitados e baixas capacidades militares. Esses problemas tornam difícil a formação de uma identidade nacional e, portanto, impedem que o Estado aja de uma forma homogênea perante as regiões do país (NKWI, 2015; GONZÁLEZ, 2016).

Medidas que visam a união dos países africanos contra os principais agentes terroristas têm sido tomadas, como o Modelo de Lei Africano sobre o Terrorismo, um manual de recomendações para as ações internas contra o terrorismo (UNOAU, 2018). Inegavelmente, um dos maiores desafios contemporâneos da União Africana se encontra nas medidas de combate ao terrorismo no continente, buscando o afastamento dos países ocidentais de suas questões internas e certa homogeneidade nas ações contra os grupos terroristas. É preciso incentivar, contudo, a cooperação e a integração, bem como a diminuição de desigualdades, para um efetivo combate ao terrorismo.

Imagem 1: mapa político da África

1 Gostaríamos de agradecer também o auxílio de Nilton Cardoso.

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Fonte: Guia Geográfico (2018)

1 HISTÓRICOO surgimento de novos desafios tem marcado o continente africano desde a formação de seus

Estados independentes e, dentre eles, o terrorismo cresceu como uma nova ameaça a ser combatida pelos governos e populações africanas. Nesse contexto, abordaremos alguns dos fundamentos históricos que proporcionaram um espaço para a ascensão do terrorismo na África.

1.1 DESCOLONIZAÇÃO E GUERRA FRIAAo final do século XIX, na Conferência de Berlim, os países europeus efetuaram a partilha da

África de acordo com seus interesses, sem considerar as diferenças étnicas e constituições políticas existentes na região. Essa técnica era chamada de “dividir para conquistar”, e buscava separar os africanos para reduzir as suas possibilidades de defesa (BONACINA, 2017). O continente foi principalmente dividido entre quatro potências europeias: França, Grã-Bretanha, Bélgica e Portugal. Mesmo que houvesse um interesse comum em explorar os recursos da região, cada Estado adotou diferentes modelos de dominação para alcançar seus objetivos, como a administração indireta dos britânicos e a direta dos portugueses2 (VISENTINI, 2008).

Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os países europeus haviam perdido poder e influência, além de esgotarem grande parte de suas riquezas no conflito. A realidade também foi transformada pela ascensão de duas potências anticoloniais: Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), que buscavam expandir suas zonas de influência durante a Guerra Fria3 (RIBEIRO, 2013). A criação da Organização das Nações Unidas (1945), que estabeleceu princípios de igualdade entre as nações e de autodeterminação dos povos, bem como o surgimento dos primeiros movimentos de libertação colonial organizados, foram essenciais ao processo de descolonização. Esse conjunto de fatores, em um contexto de fragilidade das estruturas de domínio colonial, levou as potências coloniais a buscarem manter sua dominação, contrariando as suas próprias fraquezas e a luta africana por emancipação. Algumas potências coloniais, como França, Portugal e Espanha, recusavam-se a abdicar do poder político e econômico, optando por uma independência lenta e gradual das colônias, ou até mesmo negando a sua libertação, o que levaria a uma série de conflitos. Enquanto isso, a Inglaterra 2 A administração colonial direta era feita por funcionários dos países colonizadores que se mudavam para a África, enquanto a indireta correspondia a um governo de autoridades locais que, contudo, são escolhidas pela metrópole (RIBEIRO, 2013).3 A Guerra Fria foi um conflito entre as duas principais potências mundiais, EUA e União Soviética (URSS), as quais possuíam estruturas socioeconômicas e ideológicas opostas. A primeira defendia o capitalismo, enquanto, a segunda, o socialismo (VI-SENTINI, 2016). Tais países buscavam estabelecer zonas de influência, tendo controle majoritário sobre o que ocorre nas esferas política e econômica na região (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2018).

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tinha uma postura mais flexível, autorizando as independências, desde que o poder econômico sobre as colônias fosse mantido (VISENTINI, 2008).

Do final da década de 1950 até meados de 1960, ocorreu a chamada “década africana”, que foi marcada pela descolonização da maioria dos países africanos, influenciados pelo pan-africanismo4 e pela Conferência de Bandung5. Nesse sentido, em 1957, Gana foi o primeiro país da África negra a se libertar. Seu líder, o pan-africanista Kwame Nkrumah, implementou um governo em favor de garantias sociais e partidário da neutralidade na Guerra Fria, defendendo, portanto, uma postura de não alinhamento frente aos EUA e à URSS. Além disso, as independências ocorreram a partir das fronteiras coloniais estabelecidas pelos europeus, as quais não consideravam as diversas etnias e organizações políticas da África no período anterior à colonização (RIBEIRO, 2013).

Grande parte dos processos de independência, contudo, foi coordenada pelos europeus com o objetivo de manter sua influência nas ex-colônias. Essa prática é chamada de neocolonialismo, na qual a dominação política – direta ou indireta – ocorre pelas forças econômicas e financeiras da metrópole (LOPES, 2011). De forma geral, Grã-Bretanha e França preocuparam-se em estabelecer elites locais nos territórios dominados, assim garantindo seus interesses pós-descolonização. Nisso, parcelas da sociedade africana beneficiaram-se, fato que acabou por aprofundar a desigualdade nos países. A França usou seus recursos e sua influência para perpetuar a dominação, como no estabelecimento da moeda franco CFA6 em suas ex-colônias.

Portugal, em oposição, não teve a preocupação de desenvolver qualquer infraestrutura nos países nem de formar elites governantes, numa ótica que considerava os africanos incapazes e inferiores (RIBEIRO, 2013). Buscou manter suas colônias por não ter uma economia desenvolvida e próspera internamente, lutou contra a emancipação de seus territórios em sangrentas guerras por mais de uma década, como na Angola. Enquanto isso, a Bélgica se retirou às pressas dos seus antigos domínios, após efetuar a colonização mais brutal do continente7. No sul da África, Angola e Moçambique só se tornaram independentes após prolongados anos de luta armada e a retirada de Portugal por causa da Revolução dos Cravos8 no país, na década de 1970. Instauraram governos socialistas, com o apoio da União Soviética e de Cuba, adentrando para isso em prolongadas guerras civis (VISENTINI, 2016).

No mesmo período, a África do Sul tinha um governo dominado pela minoria branca, que praticava a segregação racial por meio do regime de Apartheid9. Além disso, os governantes sul-africanos atuavam na sua região na defesa dos interesses ocidentais, buscando conter os movimentos anticoloniais e revolucionários, como a guerra pela independência em Angola (VISENTINI, 2016). Na Rodésia, atual Zimbábue, entre 1965 e 1979, esteve no poder Ian Smith. Seu governo defendia os ideais dos brancos sul-africanos e dos britânicos, também adotando um regime de Apartheid no país (DUIGNAN; JACKSON, 1986). Apesar da independência política, a libertação colonial não conseguiu produzir a transformação da sociedade africana e um desenvolvimento que diminuísse a pobreza e as desigualdades (VISENTINI, 2008).

Por fim, nas próximas subseções, adentrarmos de forma mais profunda nas independências desses três casos específicos - Mali, Nigéria e Somália -, os quais são de extrema importância para o entendimento do terrorismo no continente. As independências desses três países ocorreram no

4 O pan-africanismo foi um movimento criado por descendentes de escravos africanos das colônias inglesas na América do Nor-te e Central, que se tornou extremamente influente e desenvolvido na África. Tinha bases na defesa da emancipação dos povos africanos e do desenvolvimento político e social do continente (RIBEIRO, 2013).5 A Conferência de Bandung, em 1955, na Indonésia, foi uma reunião entre líderes africanos e asiáticos. Prezou pela cooperação econômica e cultural entre os continentes, condenando qualquer forma de colonialismo.6 O franco CFA (sigla que significa Comunidade Financeira Africana) é a moeda que desde 1945 é válida na maior parte dos pa-íses de colonização francesa no norte e oeste da África. Mesmo após suas independências, ela foi mantida, perpetuando assim a limitação econômica dos países, que são obrigados a mandar 50% das moedas estrangeiras obtidas para o Tesouro francês, como uma espécie de pagamento (CANTENER; POZYCKI; MILLECAMPS, 2017).7 A Bélgica, na área na qual hoje existe a República Democrática do Congo, estabeleceu uma propriedade particular de seu rei, Leopoldo II, incentivando o massacre do povo da região e práticas como tortura, mutilação e escravidão. Também teve como colônias Ruanda e Burundi, que antes eram controlados pelos alemães, e incentivaram a segregação e o preconceito entre seus habitantes. Esse foi um dos fatores que levou ao massacre étnico em Ruanda nos anos 1990 (RIBEIRO, 2013).8 A Revolução dos Cravos, em 25 de abril de 1974, foi o evento que proporcionou a derrubada do regime fascista e autoritário de Portugal, liderado por António Salazar e no poder por 41 anos. O posterior governo português se posicionou de maneira favorável à descolonização. 9 O Apartheid consistiu em uma política do governo sul-africano instituído oficialmente em 1948 pelo Partido Nacional (PN), cuja característica principal foi o segregacionismo entre uma minoria branca e uma maioria negra. A implementação desta polí-tica foi responsável por promover crescentes níveis de discriminação em relação à população negra, que, em situações não raras, era privada até mesmo de poder utilizar os mesmos espaços que a população branca (BRITANNICA, 2018).

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período conhecido como Década Africana. O comum a elas, além de terem ocorrido no mesmo ano (1960), é que são parte de um processo de aceleração da descolonização influenciado pela Organização das Nações Unidas em 1960, a qual frisava a importância dos países colonizados se tornarem livres e soberanos. Esse novo cenário de independências, no entanto, manteve a condição de dependência dessas ex-colônias (HERBST, 2000). Além disso, os casos apresentados partilham entre si um período de ascensão do socialismo e do panafricanismo no continente. Portanto, o socialismo africano derivou, de certa forma, do ideal e da influência que a União Soviética foi capaz de estabelecer a partir de um discurso de combate ao subdesenvolvimento, junto com o auxílio econômico e militar concedido aos jovens países (SCHMIDT, 2013).

1.1.1 MALIA fim de evitar o colapso de seu império na África, a França, desde 1944, implementou uma série

de medidas que buscavam incluir suas colônias na dinâmica da metrópole. Essas ações tinham como objetivo evitar quaisquer movimentos nacionalistas, a exemplo da dissolução das grandes federações da África Francesa Equatorial, composta por Chade, República Centro Africana, Camarões, República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão, e da África Francesa Ocidental, composta por Mauritânia, Senegal, Guiné, Costa do Marfim, Burkina Faso, Benin e Níger, que visavam levar o desenvolvimento aos países (SCHMIDT, 2013). A independência do Sudão Francês, posteriormente conhecido como Mali e Senegal, foi realizada por meio de acordos, uma vez que os movimentos em direção à independência espalhavam-se pela África e as metrópoles reduziram seu controle sobre esses territórios após a Segunda Guerra Mundial (SCHMIDT, 2013). As duas independências englobaram diferentes etnias dentro de suas fronteiras, além de permanecerem sob a influência política e econômica francesa.

O Mali, assim como outros países africanos, é marcado por uma grande instabilidade interna. A organização do governo ocorreu de forma parecida a outros Estados Africanos: pressionado por grupos políticos e elites para que seus interesses fossem atingidos, essas pressões sobre o governo eram caracterizadas por mudanças econômicas e sociais. Dessa forma, o Mali optou, em grande parte das vezes, por um governo centralizado e unipartidário a fim de reprimir uma fragmentação interna e unir os diferentes grupos de pressão (CHAZAN, 1999). Na década de 70, o Mali alinha-se ao socialismo e passa a receber auxílio financeiro e investimento do bloco liderado pela URSS ao mesmo tempo em que, ao seguir uma característica comum a grande parte dos países socialistas, inicia um processo de aumento de funcionários do Estados (CHAZAN, 1999; SCHIMIDT, 2013). É apenas em 1990 que haverá uma abertura efetiva do país, com eleições multipartidárias e, também, com a aproximação do Mali ao liberalismo ocidental. Além disso, nesse mesmo ano, a Comunidade Econômica dos Países do Oeste Africano (ECOWAS) começa a dar seus primeiros frutos em questão de desenvolvimento (CHAZAN, 1999).

Fragilizado com a independência e sob um regime ditatorial, uma forma de governo na qual os cidadãos têm pouca liberdade de expressão e o governo central, o presidente têm autonomia decisória. Além disso, o pós-independência foi marcado pela influência socialista soviética, nas quais algumas mudanças arbitrárias foram tomadas em direção a nacionalização de empresas e desapropriação de terras. Segundo Solomon (2015), os principais condicionantes para a ascensão do terrorismo das etnias minoritárias no Mali, além da falência de um governo sustentável, foram: (a) o déficit de consciência nacional, ou seja, a carência do sentimento de pertencimento à um país, um povo ou uma cultura; (b) o englobamento do povo Tuareg10 no norte do Mali, fruto da permanência das fronteiras divididas pelas metrópoles europeias, fragilizado dos setores econômicos, sociais e políticos do país; (c) e a ascensão do islamismo radicalizado por meio da migração de grupos armados para o norte do Mali, com o objetivo de conseguir o apoio da população local.

Esses três fatores são complementares: com a fragilidade do governo e com a sequência de revoluções Tuareg no norte do país, a região é hoje uma das mais pobres do continente, marcada pelo escasso acesso aos recursos naturais e por uma população condenada à fragilidade social. Como consequência, há a tendência da migração de grupos islâmicos fundamentalistas para o norte do país, os quais adotam como estratégia a promoção de investimentos para a população e ganhar seu apoio. Atualmente, o Mali é atingido principalmente pelo Movimento Nacional de Libertação do Azauade e

10 Povo islâmico anexado pelos franceses durante a colonização, e posteriormente pela formação do Mali, tem tendências sepa-ratistas e racistas quanto ao Estado do qual fazem parte. (SOLOMON, 2015).

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pela Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQIM), previamente chamada de Movimento Salafista de Pregação e Combate originário da Argélia, e ambos têm como objetivo a instituição de um Estado Islâmico na região (SOLOMON, 2015).

1.1.2 NIGÉRIAO nacionalismo, que se expandiu nas colônias africanas durante o século XX, provocou a adoção

de políticas, por parte das metrópoles, a fim de manter a dominação sobre seus territórios coloniais. Tais políticas foram adotadas principalmente pelo Império Britânico, tendo a Nigéria como um dos principais alvos. Elas eram caracterizadas pela garantia de maior autonomia à política interna das colônias; no caso da Nigéria, essa autonomia resultou posteriormente num regime federalista11, que dividia o Estado em três regiões (CHAZAN, 1999). No entanto, a formação de fronteiras artificiais, limites estabelecidos de acordo com o interesse das potências negociantes sem levar em consideração povos, etnias e o governo local resultantes da Conferência de Berlim, agrupou diferentes etnias e grupos rivais em alguns casos. Todas essas características culminaram, em 1967, na Guerra de Biafra12 (RIBEIRO, 2013).

A política no pós-independência foi marcada pelo domínio intercalado das elites nigerianas, conjugando o desenvolvimento aos interesses próprios dos grupos de pressão (CHAZAN, 1999). A Guerra Civil Nigeriana, ou Guerra de Biafra, foi um marco que explicitou a forma desigual com qual os recursos eram divididos entre as regiões. É a partir dela que a Nigéria, em 1970, tende a adotar medidas de caráter socialista, ainda que não fosse formalmente parte de nenhum dos blocos da Guerra Fria. Procurou-se então, nesta década, a divisão de recursos dentro país de forma mais igualitária possível (CHAZAN, 1999; SCHIMIDT, 2013).

A Nigéria passa, a partir da Guerra de Biafra, a se constituir em uma das potências regionais não só no Oeste Africano, como também no continente como um todo (SCHIMIDT, 2013). Um exemplo desse papel se dá pela participação ativa na ECOWAS e na Guerra Civil da Libéria (SCHIMIDT, 2013). Sendo a diversidade de grupos étnicos a base da sociedade nigeriana, o próprio governo, a fim de evitar insurgências como a Guerra de Biafra, procurou assegurar que estes grupos fossem representados no país por meio de organizações políticas regionais entre os anos de 1979 e 1992 (CHAZAN, 1999). No entanto, conflitos étnicos e econômicos permanecem como os principais desestabilizadores do país, no qual “o islã é um veículo protesto contra o governo” e as “igrejas se tornaram bases para revoltas violentas” (CHAZAN, 1999).

Não só a questão burocrática deve ser levada em consideração, no caso da Nigéria, como também a influência britânica em outros aspectos. Hoje em dia, a população se divide entre Islâmicos e Cristãos, sendo a última presente na região de forma expressiva apenas com a colonização europeia. O país sofreu desde a colonização mudanças estruturais, sua organização política, social e econômica antes da colonização europeia era diferente do cenário que foi apresentado após a independência. Logo, países ex-coloniais como a Nigéria têm uma estrutura semelhante aos países europeus. Essas mudanças sofridas pelos países africanos são, portanto, fenômenos chave para a insurgência de movimentos fundamentalistas anti-ocidentais, como o Boko Haram, o principal grupo terrorista na Nigéria, e que será mais detalhado ao longo do guia (HERBST, 2000).

1.1.3 SOMÁLIAO território da Somália sempre teve grande importância para as principais potências mundiais

por ter acesso ao Mar Vermelho e, por consequência, aos transportes de petróleo do Oriente Médio e de mercadorias da Ásia (SCHMIDT, 2013). Após a independência do país em 1960, a Somália carece na construção de um governo interno organizado e que contemplasse os desejos econômicos, sociais e políticos do país, dando maior margem à influência externa e se constituindo em um país extremamente fragmentado em grupos de poder e dependente do Ocidente. Dentro desse contexto, os primeiros anos de independência somali foram caóticos, estabilizando-se apenas em 1969 com o governo de Mohammed Sias Barre (CHAZAN, 1999).

De 1969 a 1991, o governo somali, sobre o comando de Barre, migra gradualmente para uma

11 Sistema de governo federativo, em que vários estados se reúnem para formar uma nação, cada um conservando sua autonomia (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2017).12 Confronto separatista entre o governo central da Nigéria e o estado federal de Biafra. Em 1970 Biafra foi reincorporada a República da Nigéria (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2015).

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ditadura. Ele teve de início um alinhamento com a União Soviética e adotou medidas socialistas no país, tendo até meados dos anos 70 um período de grande estabilidade. Houve melhorias na educação, no exército, na qualidade de vida, na política externa, de forma a se aproximar dos demais países africanos para o seu desenvolvimento, e muitas das principais empresas do país foram nacionalizadas, ao passo que o governo eliminava a constituição e tornava-se centralizado na figura de Barre (CHAZAN, 1999). A situação veio a se alterar quando a guerra entre Somália e Etiópia, por questões territoriais, foi deflagrada. Em virtude da União Soviética possuir maiores interesses na Etiópia, o país passa a apoiá-la, rompendo relações com a Somália. Esta, por sua vez, procura se alinhar ao governo norte-americano (ACOSTA, 2011). A partir dos anos 90, a Somália mergulha numa série de guerras civis e crises humanitárias, sem resolução até hoje, com a ascensão de grupos terroristas como o Al Shabaab, grupo fundamentalista islâmico que tem como objetivos a implantação da Lei Islâmica (Sharia) e a formação de um Estado Islâmico, que contribuem com a instabilidade do país (SOLOMON, 2015).

A instabilidade e a fragilidade do continente africano tanto nos aspectos políticos, como econômicos e sociais nutriram o surgimento de grupos terroristas. Essas organizações armadas, resumidamente, são formados por pequenas elites locais que por meio da instabilidade geral do país buscam tomar o governo, por meio do terrorismo, para atingirem seus próprios interesses. O combate ao terrorismo é dificultado por uma série de razões, abrangendo desde a falta de interesse dos Estados, dentro e fora do continente, ao próprio apoio da população na instalação desses grupos. Exemplo desse apoio é o norte do Mali, onde a instalação da AQIM e o Movimento Nacional de Libertação do Azauade trouxeram ajuda às populações periféricas (SOLOMON, 2015).

1.2 A TRANSIÇÃO DA OUA PARA UA Criada no ano de 1963, em um contexto de notável fervor dos movimentos de descolonização,

a Organização da Unidade Africana surgiu como um dos primeiros grandes marcos de cooperação no continente africano (WALLERSTEIN, 2005). Criada com base no ideal do pan-africanismo, a organização surgiu, dentre outros fatores, com o objetivo de livrar o continente dos traços do colonialismo europeu e de combater o apartheid sul-africano (AFRICAN UNION, 2018).

Além de promover a consolidação do princípio de não-interferência externa – o que se reflete na luta contra o neocolonialismo no continente e no apoio aos movimentos nacionalistas –, a OUA se apresentou como um fórum para tratar de questões socioeconômicas. Não se limitando a isto, contudo, é importante destacar que o organismo também teve o mérito de promover a aproximação e a união entre os diversos países africanos, fato este que se consolidou com a união de dois grupos com visões distintas acerca do futuro da África e do pan-africanismo: o Grupo Casablanca, que mantinha uma posição mais neutralista e estritamente anticolonialista, buscando uma unificação mais imediata do continente, e o Grupo Monrovia, cujo posicionamento era mais moderado e que defendia uma transição mais gradual para uma eventual união da África (WALLERSTEIN, 2005). Nesse sentido, a organização mostrou-se capaz de “aglutinar os jovens países na configuração de um sistema interafricano”, buscando a “inserção internacional e a gestão de crises” (VISENTINI, 2007, p. 106).

No entanto, embora a descolonização fosse um dos objetivos da OUA, a concretização de uma África independente trouxe à tona uma série de novos problemas com os quais a organização deveria lidar, como a ocorrência de conflitos internos, o subdesenvolvimento e a presença de heranças coloniais - dentre as quais pode-se citar a própria marginalização dos países do continente africano (RIBEIRO,2013). A partir do desenrolar destas problemáticas, começou-se a perceber um descontentamento dospaíses africanos com a organização, já que esta, apesar de muito importante na resolução de algumasquestões, não se mostrava muito eficiente para atender às demandas reais de seus países membros – osquais, durante muito tempo, se viram ainda dependentes de suas antigas metrópoles (OPPERMANNet al., 2016). A partir de então, passou-se a perceber a necessidade de uma organização mais assertiva,renovada e pronta para lidar com os novos desafios enfrentados pelo continente africano. Dessa forma,na virada do século XX para o século XXI, iniciaram-se os preparativos para a promoção de uma maiorintegração política e econômica na África (AFRICAN UNION, 2018).

Com o fim do apartheid sul-africano, em 1994 – representando de forma mais concreta a libertação dos povos africanos –, e após uma série de encontros entre os líderes africanos, em 2002, a OUA foi transformada em União Africana (UA) (VISENTINI, 2007). O nascimento de uma nova organização implicava a adoção de novos objetivos e de novas metas. Dessa forma, uma vez transformada em UA, o organismo passou a centrar-se no desenvolvimento, na integração e na segurança da África (AFRICAN

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UNION, 2018; CARDOSO, 2015).Assim sendo, desde então a UA vem se apresentando como o processo de integração mais

abrangente do continente africano, dentro do qual inúmeros tratados foram assinados e inúmeras medidas foram adotadas. Um dos exemplos mais latentes é a Nova Parceria Econômica para o Desenvolvimento Africano (NEPAD), que corresponde a um programa de desenvolvimento cuja finalidade é ajudar na implementação das políticas da UA e promover a integração regional na África (VISENTINI, 2007).

Por fim, sendo o t errorismo u m d os desafios qu e o co ntinente africano ve m enfrentando mais recentemente, a UA, desde 1999, apresenta uma estrutura regulamentar para lidar com este problema. Ainda assim, conforme será explorado subsequentemente neste guia, o terrorismo continua representando uma grande ameaça para o continente africano, uma vez que uma série de países ainda são afetados pelas atividades de grupos terroristas – buscando, portanto, um aprimoramento das medidas já existentes, ou até mesmo a criação de novas medidas, para lidar com esta questão de crescente preocupação (SOLOMON, 2015).

2 APRESENTAÇÃO DO PROBLEMANa presente seção, abordaremos o que a UA entende como terrorismo e as questões atuais sobre como

ele se apresenta nos países africanos; com ênfase em qual o papel dos governos, das potências extrarregionais e da sociedade na prevenção e no combate aos grupos terroristas. É interessante salientar que pelo mundo há diversas interpretações do que se considera um grupo terrorista e qual o melhor método para lidar com eles, seja ao prevenir ou combater. Também apresentaremos os principais grupos, onde eles atuam e quais os desafios da UA frente a essa questão.

2.1 O TERRORISMO NA ÁFRICAApós o ataque às Torres Gêmeas em 11 de setembro de 2001, o terrorismo voltou a ser

pauta dos estudos de segurança internacional13. É importante pensarmos o que é segurança para os Estados, antes de definir o que é terrorismo. Um dos conceitos mais usados é o de Barry Buzan (1998) no qual para ele e demais autores “segurança é sobrevivência” (BUZAN, 1998 apud RUDZIT, 2005 p. 307). Então, é preciso haver uma ameaça, podendo ela ser ao Estado, ao governo, ao território ou à sociedade e a sua defesa acaba por justificar o uso da força.

Nesse sentido, os Estados em desenvolvimento, principalmente no pós-Guerra Fria, vivenciaram a ascensão de novos desafios para sua sobrevivência, tais como doenças, conflitos intra-estatais, conflitos interestatais, fatores econômicos e terrorismo. Esse último sendo destacado como um dos maiores desafios encontrados atualmente. O conceito pode ser interpretado de diversas maneiras, dependendo da perspectiva em que se analisa; destacamos que o terrorismo não é apenas prática de grupos rebeldes ou paraestatais14, podendo também ser atos ilícitos praticados pelo Estado. González (2016) destaca que Estados que invadem outros Estados por qualquer razão também estão praticando terrorismo. Nesse sentido, é complexo classificar o que é terrorismo ou não. Marcela Andrea Castillo vai conceituar da seguinte forma “terrorista não tem rosto ou nacionalidade, muito menos religião. É um indivíduo que vai contra civis utilizando métodos ilegais, normalmente para fins políticos” (RUDZIT, 2005; GONZÁLEZ, 2016).

Neste guia, seguiremos a definição de terrorismo adotada pela UA, na Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo de 1999, que classifica como terrorismo:

atos que sejam uma violação das leis criminais do Estado que faz parte desta Convenção e que pode colocar em perigo a vida, a integridade física e a liberdade ou causar graves danos ou morte a uma pessoa ou grupo de pessoas, destruir a propriedade pública ou privada, os recursos naturais, o património cultural e ambiental, cometido deliberadamente ou com a intenção de:

13 Estudos de Segurança Internacional surgiram após a segunda Guerra Mundial, para entender o que poderia ameaçar os Esta-dos e como eles poderiam se defender.14 Atores paraestatais são grupos, empresas ou organizações que podem realizar atividades que são função do Estado, como prover educação e saúde, e por consequência se tornam influentes ou então que propositadamente querem assumir o papel do governo e tomar o poder (como os grupos terroristas).

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(i) intimidar, provocar uma situação de terror, forçar, exercer pressão ou levar qualquer governo,organismo, instituição e seus membros a realizar qualquer iniciativa ou a abster-se [...]; (ii)perturbar o funcionamento normal dos serviços públicos essenciais ou criar uma situação pública de emergência; ou (iii) criar uma situação de insurreição geral num Estado[...](OUA, 1999 p.2).

No que tange aos atos praticados por grupos terroristas, o aumento de ataques de larga escala, causando milhares de vítimas em diversos países, não só na América do Norte ou no Oriente Médio (OM), mas também no Sudeste Asiático e na África, levou a questão a ser foco nos estudos de segurança internacional. Um dos principais fatores que contribuiu com isso foi a política externa norte-americana de “Guerra Global ao Terror”15, voltada ao combate ao terrorismo, principalmente no OM (RUDZIT, 2005). A campanha desempenhada pelos EUA trouxe vários novos desafios, principalmente acerca de como os Estados entendem o que é terrorismo. Por trás das ações promovidas pela Guerra ao Terror, também estavam interesses políticos, principalmente dos EUA, em buscar vantagem (tanto de projetar seu poder militar quanto de buscar seus interesses econômicos) acima de tudo (VADELL e LASMAR, 2014).

Foi nesse contexto que o continente africano ganhou destaque. Entretanto, o que se destaca nos grupos africanos é que eles praticam ações normalmente voltadas ao próprio continente, não organizando ataques extra-continentais (NKWI, 2015). De maneira geral, os grupos, apesar de diversos, têm buscado um grande objetivo comum: afastar a civilização ocidental (norte-americanos e europeus, principalmente). Segundo Nkwi, essa afirmação se corrobora com os ataques a embaixadas ocidentais, turistas ocidentais, instalações ocidentais e por consequência, aqueles que estiverem no caminho (NKWI, 2015 p. 86).

Na África do Norte, por exemplo, os grupos terroristas, em geral fundamentalistas islâmicos, aproveitam-se do fato de ser a religião predominante na região, preenchendo o vácuo de poder deixado pelos governos em regiões menos centrais. Assim, diversos fatores acabam favorecendo a aparição de grupos terroristas nas áreas desérticas e semidesérticas, principalmente na África Ocidental. Nesse sentido, destacam-se problemas sociais, econômicos e políticos. Somam-se ainda os altos níveis de pobreza, a falta de oportunidades e a crise alimentar que atingem a população (NKWI, 2015; GONZÁLEZ, 2016).

O Chifre da África, região que engloba Somália, Eritréia, Djibuti e Etiópia, é uma região instável e de Estados fragilizados pela pobreza e pelo baixo desenvolvimento. Os ataques terroristas - de menor escala - na região começaram mais ou menos em 1980 e, alguns anos depois, ela foi incluída na agenda de segurança dos EUA. Mais tarde, o Chifre da África passa a integrar o centro da “Guerra Global ao Terror” patrocinada pelos EUA. A falta de uma autoridade central na Somália, a fragilidade dos Estados e áreas não atingidas pelas políticas dos governos levam a região a ser propícia ao desenvolvimento dos grupos terroristas (OLIVEIRA e CARDOSO, 2015).

Em suma, podemos ver que as questões que permeiam o terrorismo na África possuem raízes profundas, em geral consequência do que as populações africanas sofreram ao longo da história. Nesse sentido, buscamos aprofundar o conceito e o que leva esses grupos a atuarem nas regiões de estudo. Vale salientar que é importante entender a complexidade do assunto que se apresenta, buscando os pormenores da questão, para além dos julgamentos da mídia convencional.

2.2 GRUPOS TERRORISTAS DO NORTE AFRICANO, DO CHIFRE DA ÁFRICA E DA ÁFRICA OCIDENTAL

Em uma discussão sobre o terrorismo no continente africano, três regiões merecem destaque em função da atuação de diferentes grupos e da instabilidade gerada por eles. Na presente seção, portanto, discutiremos, dentre outras, as três principais organizações terroristas atuantes no Chifre da África, no norte africano e na África Ocidental.

Imagem 2: Atuação de grupos terroristas na África

15 A Guerra Global ao Terror foi uma política estadunidense, que começou após o ataque do 11 de setembro de 2001 às Torres Gêmeas, de combate a grupos terroristas transnacionais.

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Fonte: EL PAÍS (2015)

2.2.1 AL-SHABAAB NO CHIFRE DA ÁFRICA Além grupo Al-Shabaab, o terrorismo tem sido um problema recorrente na segurança regional

dessa porção do continente africano. Quando o presidente al Bashir ascendeu à presidência do Sudão em 1989, sua relação próxima com grupos como o Hamas, o Hezbollah e a Al Qaeda levou os EUA a incluírem o país na lista de Estados patrocinadores do terrorismo. Como já mencionado, uma relativa instabilidade marcou o Chifre da África ao longo da história; Estados frágeis e incapazes de exercer a autoridade caracterizaram alguns dos países que a compõem. No entanto, dentre eles, a situação na Somália merece destaque, a qual, desde o início da Guerra Civil na década de 1990, não possui um governo central capaz de exercer autoridade em seu território. São justamente essas características que formam na região um cenário propício para o surgimento de grupos terroristas, tal como o Al-Shabaab (HANSEN, 2014). Mesmo que o Al-Shabaab não possua um passado tão distante, outros grupos considerados terroristas já atuavam em território somali antes do seu surgimento, como, por exemplo, o Al-Itihaad Al-Islaami (AIAI). Nesse sentido, o surgimento do grupo conhecido como Al-Shabaab está diretamente ligado à atuação da União das Cortes Islâmicas (UCI), um grupo que, aproveitando-se do vácuo político deixado pelo desmoronamento do governo somali em 1991, emergiu e rapidamente tomou controle de extensas regiões no sul e no centro do país, inclusive da capital Mogadíscio. A UCI estabelecia redes de autoridade locais, adotando, a partir das leis da Sharia16, uma ordem de administração local e, na maioria das vezes, até mesmo mais eficiente que a do governo central. É nesse contexto que o Al-Shabaab, ainda pouco estruturado, começa a surgir (HANSEN, 2014).

A intervenção liderada pela Etiópia, apoiada pelos EUA e iniciada em 2006, marca, de forma simultânea, a queda da União das Cortes Islâmicas e a ascensão do Al-Shabaab como ativo grupo terrorista na região. Após a derrota militar da UCI em 2007, o grupo dividiu-se em dois braços distintos: de um lado a Aliança para a Relibertação da Somália (ARS), a qual foi incorporada ao governo de transição, e de outro o Al-Shabaab, que passou a empreender ataques terroristas na região. Mesmo com as constantes batalhas contra a atuação estrangeira e com o desmembramento da UCI, o grupo conseguiu manter-se organizado e atuante; grande parte do fortalecimento do Al-Shabaab derivou, inclusive, da forte oposição à intervenção da Etiópia entre a população somali (SOLOMON, 2015).

Além disso, a saída das tropas etíopes, em 2009, permitiu que o Al-Shabaab expandisse seus domínios ao longo da região sul da Somália, dando início ao período que Hansen (2013) denomina “anos dourados do Al-Shabaab” (2009-2010). A resposta internacional à emergência do grupo foi imediata, inclusive com a criação da AMISOM, a Missão da União Africana para a Somália17, operante

16 A Sharia é, de acordo com a tradição islâmica, a expressão das vontades e dos comandos de Alá para a sociedade muçulmana. É um sistema de leis e de obrigações que devem ser seguidos por aqueles que possuem a fé islâmica (ENCYCLOPÆDIA BRI-TANNICA, 2018).17 A Missão da União Africana para a Somália foi criada em 2007 com o objetivo de, entre outros, garantir a estabilidade do país ao apoiar o fortalecimento do governo central e combater o avanço do Al-Shabaab na região (AFRICAN UNION, 2018).

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até a atualidade. Mesmo com alguns êxitos iniciais, tanto por parte das forças somali quanto das internacionais, o Al-Shabaab transformou-se na principal e mais violenta ameaça à estabilidade do frágil governo nacional. Inclusive, após o início da AMISOM, o Al-Shabaab começou a expandir seus ataques em direção à países vizinhos, tais como Uganda e Quênia, como forma de retaliar a participação desses nos esforços antiterroristas da AMISOM (HANSEN, 2014).

2.2.2 O BOKO HARAM O grupo intitulado Boko Haram é uma das principais organizações terroristas ativas na África

Ocidental, atuando principalmente no norte da Nigéria e nos países vizinhos, tais como Níger, Chade e Camarões. Tendo sido eleito pelo Global Terrorism Index, em 2015, como grupo mais violento do mundo, o Boko Haram é a principal ameaça à estabilidade da região. Nesse sentido, sua violência pode ser exemplificada pela operação que, em 2012, capturou e manteve como prisioneiras 276 meninas estudantes do estado nigeriano de Borno, no norte do país, fato amplamente noticiado pelos meios de comunicação internacionais (IYEKEKPOLO, 2016).

Como afirma Loimeier (2012, p. 138, tradução nossa), o Boko Haram deve ser visto como o “[...] resultado de dinâmicas políticas, sociais e geracionais dentro do campo mais amplo do fundamentalismo islâmico no norte da Nigéria, representado principalmente pelo movimento Yan Izala”. Portanto, o Boko Haram não foi o primeiro grupo da região a reivindicar princípios fundamentalistas, tendosurgido principalmente a partir do mencionado Yan Izala, na década de 1970. Tal grupo, assim como oBoko Haram, constantemente condenava os princípios e valores ocidentais, os quais, em sua percepção,corromperam a sociedade tradicional islâmica a partir do “choque de modernidade” advindo dacolonização europeia e do cristianismo (LOIMEIER, 2012).

A partir de 2002, um grupo liderado por Muhammad Yusuf passa a ganhar notoriedade na Nigéria, marcando a formação da organização conhecida como Boko Haram. Desde então, os princípios de ódio à cultura ocidental e ao cristianismo deram base à atuação do grupo, que se tornou uma grande ameaça na região, inclusive jurando lealdade a outras organizações terroristas como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico. Ademais, com a morte de Yusuf em 2009, uma nova onda de radicalização surgiu dentro do grupo, produzindo uma atuação cada vez mais violenta e indiscriminada. Ao longo dos anos, as táticas empregadas pelo Boko Haram evoluíram de operações de guerrilhas nas florestas no norte da Nigéria para a dominação direta de territórios e ataques em outras partes do país, mesmo nas regiões próximas à capital federal, Abuja (IYEKEKPOLO, 2016).

2.2.3 AL-QAEDA NO MAGREB ISLÂMICO O surgimento do grupo conhecido como Al-Qaeda no Magreb18 Islâmico (AQMI) está diretamente

ligado ao caótico contexto de guerra civil que ocorreu na Argélia a partir da década de 1990; a disputa pelo poder no país levou ao surgimento de diversas organizações islâmicas, dentre eles o Grupo Islâmico Armado (GIA). Mesmo com o fim do conflito, em 2002, a presença de grupos armados no país não chegou ao fim, e o Grupo Salafista pela Pregação e Combate (GSPC) formou-se a partir de dissidentes do GIA e adotou, diante do fracasso na deposição do regime argelino, uma posição internacionalista, buscando estabelecer um Estado islâmico na região. O maior exemplo da internacionalização do grupo foi a sua adesão à rede Al-Qaeda em 2007, fato que levou à mudança de nome para Al-Qaeda no Magreb Islâmico (LARÉMONT, 2011).

A atuação da AQMI está ligada à três estratégias principais, elencadas por Larmont (2011): derrubar o governo da Argélia; integrar as populações Tuareg da região e incentivar a rebelião contra o Estado central; e organizar ataques contra potências ocidentais como Reino Unido e França. Diantedesses fatos, a atuação da Al-Qaeda no Magreb pode ser separada em dois locais distintos, no Norte daArgélia e em partes da Tunísia, próximo ao Mediterrâneo, e em uma região que compreende porções deterritório do Mali, da Líbia, da Mauritânia, do sul da Argélia e do Níger. Enquanto no primeiro cenárioa sua atuação é mais restrita, no segundo, em uma região mais remota, o grupo encontrou melhorescondições para se estabelecer e se expandir, apoiado em financiamentos advindos de atividades ilegaiscomo o contrabando (LARÉMONT, 2011).

18 A região conhecida como Magreb compreende partes do Norte da África próximas ao Mediterrâneo, abrangendo Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.

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3 AÇÕES INTERNACIONAIS PRÉVIAS NO COMBATE AO TERRORISMO

O continente africano, dentro do contexto de “Guerra ao Terror” decorrente dos ataques de 11 de setembro de 2001, ganhou destaque como região estratégica no combate global ao terrorismo. Como já mencionado ao longo do guia, uma combinação de pobreza, instituições frágeis, corrupção, fronteiras porosas e regiões sem a presença estatal fazem da África um porto seguro para o estabelecimento e a expansão de organizações terroristas. Nesse sentido, além de uma abordagem que permita o desenvolvimento sustentável do continente e a amenização dos problemas mencionados, táticas e planos de contraterrorismo são fundamentais no combate a esses grupos (DAVIS, 2017). Como afirma Solomon (2015), os paradigmas tradicionais de combate ao terrorismo envolvem segurança das fronteiras, troca de informação, controle do tráfico de armas, combate à fontes de financiamento e intervenções militares. O papel da União Africana é, além de buscar colocar em prática essas estratégias, também discutir a verdadeira efetividade desse paradigma, buscando sempre adaptá-lo às condições regionais (SOLOMON, 2015).

Como já discutido ao longo do guia, a estrutura legal adotada pela União Africana em relação à definição de terrorismo advém da sua predecessora OUA. No entanto, a plataforma adotada pela UA, ao mesmo tempo que garante a defesa da soberania e da não-intervenção, abre espaço para a ocorrência de missões regionais em situações de crise, substantivamente alterando o combate ao terror no continente. É essa nova estrutura que permite, por exemplo, a criação de missões como a AMISOM, um dos principais atores na luta contra o al-Shabaab na Somália, e a Missão da União Africana para o Mali e Sahel (MISAHEL). Além disso, em 2002, os países da União Africana criaram o Centro Africano para Estudo e Pesquisa sobre o Terrorismo e adotaram o Plano de Ação de Prevenção e Combate ao Terrorismo, o qual, somando-se à já mencionada Convenção da OUA sobre a Prevenção e Combate ao Terrorismo de 1999, propôs medidas de antiterrorismo que deveriam ser seguidas por todos os países do continente, principalmente em questões como policiamento e controle de fronteiras, trocas de informações e combate ao financiamento (SOLOMON, 2015).

Diante das ambições ocidentais - principalmente estadunidenses - de erradicar o terrorismo a nível global, muitas das iniciativas de combate ao terrorismo no continente são apoiadas e financiadas por potências estrangeiras, como os Estados Unidos, a França, o Reino Unido e até mesmo a União Europeia. Essas iniciativas, mesmo que importantes para o combate ao terrorismo, também têm tornado-se instrumentos na defesa dos interesses dessas mesmas potências. A partir de justificativas como a promoção da segurança regional e o apoio ao desenvolvimento africano, países ocidentais instalam-se em locais onde, não coincidentemente, há diversas reservas de recursos naturais estratégicos. Potências extrarregionais, principalmente os EUA, utilizam essas iniciativas para garantir sua presença militar no continente africano e, dessa forma, promover seus interesses estratégicos na região. Portanto, mesmo que o auxílio estrangeiro possa significar uma verdadeira ajuda no combate ao terrorismo, as suas reais motivações precisam ser questionadas durante a construção de uma abordagem africana para o problema (SOLOMON, 2015).

Nesse sentido, pode-se mencionar Estados Unidos e França como as principais forças atuantes no continente, a segunda principalmente na África Ocidental. É possível tomar como exemplo de presença francesa as intervenções no Mali, como a Operação Serval, conduzida em 2013 à pedidos do governo local. Quanto aos EUA, a Força Tarefa Conjunta no Chifre da África (CJTF-HOA) baseada na base estadunidense Campo Lemonnier, no Djibouti, é uma iniciativa do Comando dos Estados Unidos para a África (AFRICOM), a qual promove ações militares de combate ao terrorismo em parceria com outros Estados da região, como Djibouti e Quênia (SOLOMON, 2015). Além disso, é importante também ressaltar a atividade da Iniciativa de Contraterrorismo Transaariana (TSCTI), que formulou, com o apoio e com o financiamento dos Estados Unidos da América, uma cooperação militar institucionalizada entre nove países da região a partir de pontos como, por exemplo, treinamento e distribuição de equipamentos aos exércitos nacionais (DAVIS, 2007).

Na África Ocidental, muitos dos esforços de antiterrorismo são organizados pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO19), uma organização de integração regional formada pelas antigas colônias francesas e britânicas da região. A partir da Declaração Política e Posição

19 A CEDAEO é composta por quinze membros: Benin, Costa do Marfim, Gâmbia, Guiné, Guiné- Bissau, Burkina Faso, Libéria, Mali, Mauritânia, Níger, Nigéria, Senegal, Serra Leoa, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.

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Comum contra o Terrorismo, os países-membros formularam estratégias e planos de ação comuns para barrar o avanço de grupos fundamentalistas na região; uma abordagem regional de combate ao terrorismo começa a ser construída na África Ocidental (NKWI, 2015). Além disso, foi estabelecido com o apoio francês, em 2017, o G5 Sahel Force, iniciativa que reuniu Chade, Burkina Faso, Mali. Mauritânia e Níger e constituiu uma força tarefa conjunta no combate ao terrorismo e ao crime organizado na região (ESSA, 2017).

Em suma, não restam dúvidas que tanto a União Africana quanto outras organizações regionais dentro do continente têm constantemente buscado soluções contra a expansão de grupos fundamentalistas na região; muitos países africanos têm se empenhado em tornar suas estratégicas antiterroristas mais eficientes e capazes de controlar tal problema. Contudo, apesar de todos os esforços, muito ainda precisa ser efeito. A instabilidade política, a fragilidade econômica e a falta de conhecimento técnico são algumas das adversidades que barram a implementação de planos de ação efetivos na luta contra o terror. Os países africanos estão entre os principais atores na batalha global contra o terrorismo, e uma estratégica conjunta e planejada no âmbito regional é um importante passo nessa empreitada (DAVIS, 2007).

4 POSICIONAMENTO DOS PAÍSESA África do Sul é um dos países mais desenvolvidos do continente africano. Localizado bem ao sul, o país compõe os grupos SADC20, projetando-se no sistema internacional como uma potência emdesenvolvimento. No que tange a questões ligadas ao terrorismo, a África do Sul sofre indiretamentecom o problema; O país é apontado como rede logística do Estado Islâmico, destacando a importânciade se investir no combate e prevenção do terrorismo. Nesse sentido, o Governo vem promovendouma cooperação com os EUA desde 2013, que foi ampliada em 2016 que atua em diversas áreas,desde prevenção até o combate. No mesmo ano, também foi planejada a criação de medidas e leiscontraterrorismo, destacando a importância que o país tem para o debate dentro da UA (REFWORLD,2017).

A Angola é um dos países mais proeminentes do continente africano. É um grande produtor de petróleo, fazendo parte da OPEP. Em setembro de 2017 o país julgou seis jovens angolanos por jurarem fidelidade ao Estado Islâmico e recentemente o país aparece em dois relatórios de entidades privadas da Grã-Bretanha sobre riscos elevados de ataques terroristas no país, levando o governo a criar um Observatório Nacional contra o Terrorismo (FOLHA 8, 2017).

A Argélia desde 2016 vem desenvolvendo medidas de combate ao terrorismo. O país inclusive foi sede do encontro da União Africana para debater o tema em abril de 2018, mostrando seu engajamento na questão. O país mobilizou mais de 60 mil soldados, que atuam principalmente nas regiões de fronteira (Tunísia, Líbia, Níger, Mali, Mauritânia, Marrocos e Saara Ocidental). Além disso atualmente a Argélia debate se aceita participar de uma Cooperação Securitária Regional, a ser desenvolvida, em parceria com o Marrocos, para desenvolver medidas preventivas e de combate ao terrorismo, principalmente do grupo AQIM (EXAME, 2016; THE NORTH AFRICA POST, 2018).

O Benin é um dos países que faz fronteira com a Nigéria e tem sofrido as consequências da atuação do Boko Haram na região. Junto com Chade, Níger, Nigéria e Togo, após o sequestro das 200 crianças e mulheres, os países formaram uma aliança contra o terrorismo (EL PAÍS, 2014). O país recentemente enviou 800 militares para ajudar o exército nigeriano e mantém o monitoramento da fronteira com a Nigéria (ECOWAS CTS TRACKER, 2018).

Botsuana é um país sem saída para o mar que faz fronteira com a África do Sul, Namíbia e Zimbábue. Não há nenhum histórico recente de ataques terroristas na Botsuana. O Ministério das Relações Exteriores se mostrou engajado no combate ao terrorismo, principalmente no continente africano (ANGOP, 2016).

Burkina Faso atualmente tem tido novos desafios no que tange às questões sobre terrorismo. Em 2017, 18 pessoas foram mortas em um restaurante por militantes islamistas. Além disso, outros ataques de

20 Comunidade de Desenvolvimento da África Austral.

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autoria do AQIM foram identificados no país, que vem ajudando a operação francesa de combate aos extremistas jihadistas no Mali. Em março de 2018, pelo menos 35 pessoas morreram, além de um ataque à embaixada francesa na capital do país. O país tem se mostrado muito preocupado com a situação da região (THE GUARDIAN, 2017; INDEPENDENT, 2018; THE NEW YORK TIMES, 2018).

O Burundi não tem tido problemas diretamente ligados ao terrorismo. O país vivencia uma crise humanitária, que desde 2015 vem aumentando, após conflitos entre rebeldes e tropas do governo. A consequência desse conflito civil além de deixar o país politicamente instável, já matou mais de mil pessoas e deixou mais de 300 mil refugiadas ou deslocadas internamente (ONUBR, 2018; FRANCE 24, 2017).

Camarões, país fronteiriço da Nigéria, encontra-se engajado na luta contra o terrorismo no norte-africano. Atualmente seus esforços são voltados para a eliminação do grupo terrorista Boko Haram do norte do país e do grupo fundamentalista Ansaru, também chamado de Al Qaeda além do Sahel, é um grupo fundamentalista islâmico nigeriano, que age além de suas fronteiras, inclusive em Camarões (BBC, 2013). Este ameaçando publicamente o governo camaronês (GOV UK, s.d). Além disso, suas forças militares também estão voltadas para o controle de um movimento separatista anglófono no Noroeste e Sudoeste do país (ANADOLU AGENCY, 2018).

A Costa do Marfim foi considerada um exemplo de estabilidade africana durante o período após sua independência. Essa realidade começou a se alterar no início do século XX com as Guerras Civis de 2002, com a tentativa de um golpe de estado que dividiu informalmente o país em dois; e 2010, após a suspeita de fraude nas eleições (BBC, 2018). Nos anos seguintes sob a ameaça regional da AQIM, o país sofreu um ataque terrorista, conhecido como Ataque de Grand-Bassam, que matou 22 pessoas em um resort. O principal desafio da Costa do Marfim é, portanto, procurar estabilização interna ao mesmo tempo em que combate possíveis novos ataques terroristas (GOV UK, s.d).

O Chade se encontra numa região estratégica no combate ao terrorismo, dada a proximidade com regiões de domínio dos extremistas, notado pelo ativo combate na luta regional contra o Boko Haram. Entretanto, esse posicionamento torna o país um inimigo de fácil acesso para o grupo terrorista, devido a sua a fronteira com a Nigéria. Esta fronteira, segundo dados do Washington Post (2016), possui os maiores índices de ataques terroristas do Boko Haram. Em 2015, o país sofreu três ataques do grupo no distrito de N’Djamena (GOV UK, s.d). Junto a outros países do norte-africano, o Chade aposta que a revitalização do Lago Chade trará consequências positivas21, como a revitalização da economia da região, assolada por secas, e o combate à crise humanitária, apostando na diminuição alta incorporação que os grupos terroristas têm na região pelas populações fragilizadas (UNITED NATIONS, 2016).

Fronteiriço à Somália, o Djibouti sofre constantes ameaças do grupo terrorista somali Al Shabaab (THE GUARDIAN, 2014). Parte desse direcionamento de ataques pelo grupo somali se deve ao apoio militar do Djibouti na Missão na Somália da União Africana (AMISON em inglês) em 2011, com o envio de contingente militar (AFRICAN UNION, s.d). O país foi também um dos membros fundadores da Aliança Islâmica Militar para Combater o Terrorismo, de 2015, na qual se encontram 40 países do mundo árabe-muçulmano. Une-se também a iniciativa de países extrarregionais no combate ao terrorismo, principalmente no Chifre da África, fazendo presente em seu território bases de potências extrarregionais. Um dos seus principais focos é o combate ao terrorismo na Eritreia e na Somália em função da proximidade territorial com esses países (RADDINGTON REPORT, 2017).

Um dos principais problemas enfrentados pelo Egito, em relação ao terrorismo, é a luta contra os grupos afiliados ao Estado Islâmico no Sinai. A região do Sinai é uma das mais atingidas pelo grupo islâmico, tendo em 2016 realizado um ataque que acarretou cerca de 300 mortos (HAARETZ, 2017). O Egito também faz parte, do Centro de Comando dos Estados Unidos (CENTCOM), um órgão responsável por cuidar dos interesses securitários norte-americanos em diversas regiões do globo (ENCYCLOPÆDIA BRITANNICA, 2017). Um dos principais avanços do país, ao mesmo tempo, é a aprovação de uma série

21 Com a revitalização da Bacia do Chade é esperado que o crescimento envolva a região, retirando de uma situação de crise as populações marginalizadas. A seca na região e as condições humanitárias as quais as populações estão subjugadas é um dos fatores responsáveis, segundo a ONU, pela ascensão do Boko Haram (ONU, 2016).

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de medidas legislativas antiterrorismo em 2015 pelo então presidente Abdul Fattah al-Sisi (BBC, 2015).

A Eritreia é acusada de apoiar o grupo fundamentalista Al Shabaab, violando as resoluções da Organização das Nações Unidas, a fim de constranger as ações etíopes. A Eritreia e a Etiópia, entraram em guerra em 1998 até o meio de 2000, por questões territoriais na fronteira entre os dois países. Em 2012, o Grupo de Monitoramento das Nações Unidas para a Somália e Eritreia comprovou as ações do país ameaçando sanções caso o auxílio ao Al Shabaab não fosse cessado (AL JAZEERA, 2012). Tanto a Eritreia quando a Somália, continuam sob supervisão da ONU e da União Africana dentro do escopo de combate ao terrorismo das organizações.

A Etiópia, mesmo sendo um dos países africanos de maior desenvolvimento, está sob a ameaça constante das forças terroristas, principalmente devido a sua localização no Chifre da África. Atua em conjunto com a União Africana no combate ao terrorismo, especialmente em relação ao grupo Al-Shabaab. Devido à instabilidade do país vizinho, envia há mais de dez anos tropas militares à Somália (PKALYA, 2017). Em 2017, abrigava cerca de 245 mil refugiados somalis, também recebendo migrantes de países vizinhos como Eritreia e Sudão do Sul (ACNUR, 2017). Como Gana se situa no oeste da África, as maiores ameaças à sua segurança são os grupos jihadistas no norte do Mali e o Boko Haram na Nigéria. Tais grupos efetuaram diversos ataques a países vizinhos nos últimos anos, como Costa do Marfim e Burkina Faso. Tais fatores levaram à reunião do Conselho de Segurança de Gana para uma melhor defesa perante o terrorismo (REPUBLIC OF GHANA, 2016).

A Guiné Equatorial é um país da costa oeste africana com abundante produção de petróleo que, contudo, tem altos índices de pobreza extrema. O Estado é governado por Obiang Nguema, presidente do país desde 1979, constituindo o governo há mais tempo no poder do continente (BBC, 2017). Apesar de situar-se próxima a algumas zonas de tensão, não há registro de atentados no país (GOV UK, s.d.)

A Libéria, após passar por duas sangrentas guerras civis, recebeu uma Missão de Paz da ONU de 2003 até 23 de março de 2018 para reconstruir o país e suas estruturas de governo. Por isso, há pouco tempo as forças nacionais executam as operações de segurança do país - somente desde 2016, o que poderia torná-lo mais vulneráveis a ataques terroristas (RUNSEWE, 2018). O país tem expressado a sua preocupação quanto aos ataques terroristas na sua região, principalmente em Burkina Faso, Mali e Nigéria (TEH, 2017).

A Líbia sofre de marcada instabilidade: diversos grupos lutam pelo poder no país e um crescente número de habitantes é forçado a sair de lá anualmente. A derrubada do governo de Muammar Kadafi, em 2011, apoiada pelos europeus, é um dos fatores que levou à expansão do Estado Islâmico no Norte da África (JOHNSON, 2017). No país, inclusive, localizam-se diversas bases de treinamento do grupo terrorista. Em janeiro de 2018, um ataque ao aeroporto da capital Trípoli, com o objetivo de libertar terroristas do Estado Islâmico e da Al-Qaeda, causou a morte de pelo menos vinte pessoas (ELUMANI; LEWIS, 2018).

O Mali é um dos países africanos mais afetado pelo terrorismo, em vista da associação de locais com grupos terroristas. Desde 2012, quando explodiu o conflito separatista encabeçado pelo grupo étnico Tuareg, a instabilidade tornou propícia a atuação de grupos terroristas, como a Al-Qaeda do Maghreb Islâmico (INKS, 2017). Em 2013, o governo do Mali fez um pedido à França e às Nações Unidas para assistência militar contra as tropas terroristas no sul do país. As tropas francesas intervieram no país com a Operação Serval (2013-2014), tendo um sucesso inicial contra os rebeldes, mas se provando incapazes de realmente deter as ameaças. A França, contudo, pôde conseguir vantagens econômicas e políticas e certo controle sobre o país (BOEKE; SCHUURMAN, 2015).

Embora na República do Congo ataques terroristas não sejam um alarme, o país sofre com a quantidade de refugiados provindos de países em crise - grande parte deles provém da crise humanitária da República Centro Africana, onde cristãos e muçulmanos buscam o governo do país e das regiões rivais (UN HIGH COMMISSIONER FOR REFUGEES, 2017; AMNESTY INTERNATIONAL, 2018).

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O Quênia está localizado no Chifre da África, ao sul da Somália - região na qual está alojada a maior base do grupo Al-Shabaab. Desde 2005, sofreu cerca de 300 atentados terroristas do grupo, com mais de 600 mortos. Além de sofrer com a violência dos atentados, tem grande prejuízo no setor turístico, uma das principais atividades econômicas do país (PKALYA, 2017). O governo do país implementou medidas em nível interno e regional, como o Centro Nacional de Combate ao Terrorismo e a trabalho conjunto com as forças da ONU na Missão de Paz na Somália. Além disso, enfatiza a necessidade de maiores esforços no âmbito da UA para o combate ao terrorismo (GOVERNMENT OF KENYA, 2018).

Localizado no norte da África, na região do Magrebe, o Marrocos é um dos países que sofre com a presença da Al Qaeda no Magrebe Islâmico (SOLOMON, 2015). Apesar disso, o país não testemunha ataques terroristas desde de 2003, e tal fato está diretamente relacionado à sua política de combate ao terrorismo, que se baseia na implementação de medidas de prevenção (MEHAJI, 2017). Ademais, o Marrocos é parte da Parceria Contra-Terrorista Trans-Saara, junto com outros dez países africanos (GLOBAL SECURITY, 2016).

Por compartilhar fronteiras com o Mali, a Mauritânia é ameaçada pela presença não apenas da Al Qaeda no Magrebe Islâmico, mas também dos grupos terroristas malianos (SOLOMON, 2015). Ainda assim, sua posição na região é estratégica, de tal forma que o país desempenha um importante papel na luta contra o terrorismo. Além de fazer parte da Parceria Contra-Terrorista Trans-Saara, a Mauritânia dispõe de uma estrutura interna que permite o combate do terrorismo em consonância com o respeito pelos direitos humanos e pelos tratados internacionais (UN AFRICA RENEWAL, 2017).

O discurso de Moçambique contra o terrorismo é bastante forte, tendo seu presidente afirmado em 2015 que “o fenômeno do terrorismo vai se afirmando como uma das mais graves ameaças da atualidade” (PORTAL DO GOVERNO DE MOÇAMBIQUE, 2015). Embora o histórico do país no que diz respeito a grupos terroristas não seja muito extenso, recentemente, o país sofreu com um ataque terrorista na parte norte de seu território, em que sete pessoas foram mortas (XINHUA, 2018).

Atualmente, no território do Níger converge a presença de diferentes grupos terroristas, incluindo a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e o Boko Haram, sendo o país afetado diretamente pela ameaça terrorista (PHAM, 2017). Em razão disso, o país busca fortalecer suas políticas de combate ao terrorismo, que se tornam evidentes não apenas em sua participação na Parceria Contra-Terrorista Trans-Saara, mas também na cooperação com parceiros extrarregionais, como os Estados Unidos (U.S. DEPARTMENT OF STATE, 2016).

Sem dúvidas, a Nigéria é um dos países africanos que mais sofre com o terrorismo, tendo em vista a presença do grupo Boko Haram dentro de suas fronteiras. Estima-se que, entre dezembro de 2010 e julho de 2014, mais de 70 ataques terroristas foram perpetrados em território nigeriano pelo grupo em questão (SOLOMON, 2015). Além de promover medidas internas de combate ao terrorismo, o governo da Nigéria se engaja em iniciativas regionais em conjunto com outros países também afetados pelas atividades do Boko Haram, como é o caso da Força Tarefa Conjunta Multinacional (U.S. DEPARTMENT OF STATE, 2016).

Por ser, historicamente, um país de grandes instabilidades, a República Democrática do Congo se mostra como um terreno fértil para a proliferação de grupos terroristas. A falta de um governo que seja considerado legítimo pelo povo vêm abrindo espaço para que diversos grupos em disputa no país empreguem o “terror” como estratégia (NEETHLING, 2014).

Tradicionalmente, o governo de Ruanda promove fortes medidas internas de combate ao terrorismo, contando, inclusive, com órgãos específicos para isto. Além disso, o país, que em 2016 testemunhou um ataque terrorista em seu território, já participa de iniciativas regionais e internacionais de combate ao terrorismo (USA INTERNATIONAL BUSINESS PUBLICATIONS, 2008).

A República Árabe Saaraui Democrática - ou Saara Ocidental - foi proclamada em 1976 pelo movimento Frente Polisário. No entanto, enquanto os saarauis detêm o domínio sobre somente cerca de 20% do território, o Marrocos controla o restante. A União Africana é uma das poucas organizações

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internacionais que reconhecem a soberania da República Saaraui, fato que fez com que o Marrocos se negasse, até 2017, a participar da organização por não reconhecer a legitimidade do governo do Saara Ocidental. Não há registros de intensas atividades de organizações terroristas no país, contudo a instabilidade da ocupação marroquina pode fazer emergir um local possível para o surgimento dessas (LILJAS, 2014).

Serra Leoa é um país na costa da África Ocidental e faz parte da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), um dos expoentes na luta contra o terrorismo na região. O país ainda sente os efeitos da sangrenta guerra civil que o assolou entre 1991 e 2002 e, apesar da instabilidade presente na região, Serra Leoa não costuma registrar a ocorrência de ataques terroristas em seu território (CIA, 2018).s

Desde o colapso do governo central em 1991, a Somália embarcou em um período de guerra civil e de instabilidade, por muitos anos encabeçando as listas de Estados mais frágeis do continente africano. Esse cenário contribuiu para ascensão de grupos terroristas no país, como o Al-Shabaab, um dos grupos mais atuantes e violentos da África. Desde a formação do Governo Federal da Somália, em 2012, o país vem buscando estabelecer sua autoridade e combater o terrorismo, muitas vezes em conjunto com a União Africana, a partir da AMISOM, e de potências estrangeiras (HANSEN, 2014).

O Sudão do Sul é o Estado mais novo do continente africano. O país tornou-se independente em 2011, após anos de intensos conflitos com o Sudão, país do qual fazia parte. No entanto, após a sua separação, o Sudão do Sul embarcou em uma intensa guerra civil na luta pelo poder, perpetuando seu longo histórico de instabilidade. Essa situação levou o país a ser alvo de muitas organizações terroristas, que se aproveitam da instabilidade para se instalar no país. Além disso, o Exército Popular de Libertação do Sudão, muito presente na sua luta pela independência, é acusado de atividades terroristas pela comunidade internacional (BBC, 2018).

O Sudão ainda sente os impactos da guerra civil que culminou na criação do Sudão do Sul em 2011, principalmente na perda de grande parte de suas reservas de petróleo, as quais se encontram em seu novo vizinho. Desde 1993, o país é acusado pelos EUA de financiar grupos terroristas na região, o que levou à imposição de diversas sanções. No entanto, o Sudão, que também sofre com a radicalização de grupos terroristas, tem cooperado cada vez mais no combate ao Estado Islâmico e à Al-Qaeda na África (ZALAN, 2016).

Em anos recentes, a Tanzânia vem sofrendo com um certo aumento no número de ataques terroristas em seu território, principalmente contra alvos cristãos e de membros do Al-Shabaab. Além disso, o país apoia as intervenções regionais que procuram combater o terrorismo dentro do continente africano, inclusive oferecendo tropas para várias missões, como a AMISOM (U.S. DEPARTMENT OF STATE, 2017).

A Tunísia, país do norte africano, encontra-se em uma região marcada pelo terrorismo, próximo ao AQIM na Argélia e ao nascente Estado Islâmico na Líbia. Em 2015, um ataque do Estado Islâmico deixou cerca de 60 pessoas mortas, o mais violento da história do país. Apesar disso, o número de ataques tem diminuído e o país constantemente busca impedir a expansão de grupos para dentro de seu território (MONKS, 2017).

Desde novembro de 2017, o Zimbábue vem passando por um período de instabilidade política: após 30 anos no poder, o presidente Robert Mugabe foi retirado do cargo em um golpe de Estado organizado pelas forças armadas. Em relação ao terrorismo, o país não sofre com ataques fundamentalistas islâmicos e apoia fortemente os esforços regionais no combate a esses grupos (BURKE, 2017).

6 QUESTÕES PARA DISCUSSÃO (1) O que favorece o aparecimento de grupos terroristas na região?

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(2) Quais as maneiras mais eficientes de combater o terrorismo?(3) Qual o papel de potências extrarregionais no combate ou na perpetuação do terrorismo no continente africano?

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