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Economia UNIDADE 07 156 Ambiente Inflacionário Ambiente Inflacionário Unidade 7 Wiliam Rangel

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156Ambiente Inflacionário

Ambiente InflacionárioUnidade 7

Wiliam Rangel

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Sumário

Introdução ........................................................................................................ 158

Objetivos .......................................................................................................... 159

Estrutura da Unidade ...................................................................................... 159

Unidade 7: Ambiente Inflacionário

Tópico 1: Conceito de Inflação ........................................................................ 160

Tópico 2: Tipos de Inflação .............................................................................. 161

Tópico 3: Principais Causas da Inflação .......................................................... 166

Tópico 4: Efeitos Provocados pela Inflação ..................................................... 170

Tópico 5: O Cálculo da Inflação ....................................................................... 173

Resumo ............................................................................................................ 177

Leitura Complementar .................................................................................... 178

Referências Bibliográficas ............................................................................. 179

Ambiente Inflacionário

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158Ambiente Inflacionário

Olá! Seja bem-vindo(a) à Sétima Unidade de Aprendizagem de Economia!

Na unidade anterior você viu os conceitos básicos da economia monetária e pôde perceber a importância da moeda para a economia de um país. Entretanto, se um dos objetivos da política macroeconômica não estiver sendo alcançado (a estabilidade dos preços), certamente a moeda do país estará perdendo a sua capacidade de compra. A essa perda chamamos de inflação.

Nosso objetivo é ajudar você a entender como nasce a inflação, em que ela pode afetar sua vida, e como você pode entender as decisões do governo nas tentativas de exercer o controle sobre as suas causas, visando atenuar os seus efeitos.

Nesta unidade, você verá que há meios para se detectar a existência de instabilidade nos preços e há instrumentos para domar a inflação. A história recente do país nos mostra a luta de um povo pelo valor de sua moeda, a luta contra a inflação, e que não devemos permitir que esse “dragão” volte a causar estragos em nossa economia.

Bons estudos!

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Estrutura da Unidade

Objetivos

Ambiente Inflacionário

Ao final desta unidade, esperamos que você seja capaz de:

1. Conceituar a inflação e os demais termos derivados de crises inflacionárias;

2. Conhecer as causas, os tipos e os efeitos perversos da inflação na economia do país;

3. Entender como funciona o regime de metas de inflação;

4. Identificar como a inflação é calculada e conhecer os quatro principais índices econômicos do Brasil.

As noções básicas sobre o ambiente inflacionário, os efeitos perversos da inflação e como ela interfere em nosso cotidiano são temas que apresentaremos nesta unidade, através do seguinte conteúdo:

1. Conceitos e definições do ambiente inflacionário

2. Causas da inflação e formas de enfrentamento

3. Os efeitos da inflação para a economia do país

4. O regime de metas de inflação em vigor no Brasil

5. Os principais índices de preços ao consumidor, calculados pela FGV e pelo IBGE

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1. Conceito de Inflação

Vimos que no modelo simplificado do fluxo circular da renda e da moeda as famílias vão ao mercado de bens e serviços para adquirir os produtos e serviços necessários à satisfação de suas necessidades, usando como meio de pagamento a renda oriunda dos salários, que foram pagos pelas empresas. Se esse sistema estiver funcionando sem sobressaltos, tudo bem, mas você sabe que não é assim que acontece.

Imagine que você vá à padaria do bairro pela manhã e percebe, contrariado, que os preços do pão, do leite, do queijo e do presunto aumentaram. A pergunta que se faz nesse momento é:

Se o meu salário não aumentou, por que os preços aumentaram na padaria?

Os economistas poderiam responder de forma bastante simplificada que:

“Se os preços aumentaram, é porque está acontecendo o fenômeno da inflação, e você só conseguirá comprar a mesma quantidade de bens que adquiriu antes se você desembolsar uma quantia maior de dinheiro. Em outras palavras, a inflação diminui o poder de compra da moeda”.40

40Leia o excelente artigo elaborado pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, intitulado “Guerra à hiperinflação: a estabilização da moeda foi o maior desafio”, que está disponível em <http://www.hojeemdia.com.br/noticias/guerra-a-hiperinflac-o-a-estabilizac-o-da-moeda-foi-o-maior-desafio-1.93254>. O artigo resume o perigoso histórico brasileiro de sucessivos planos econômicos malsucedidos, e a adoção do Plano Real, em 1994, que promoveu a estabilização de nossa nova moeda, o Real, e trouxe as taxas de inflação para patamares civilizados, compatíveis com as nações mais desenvolvidas.

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2. Tipos de Inflação Partindo dessa definição inicial para a inflação, vamos ver, a seguir, os desdobramentos das oscilações de preços e seus impactos na sociedade através da consolidação de sete importantes conceitos do ambiente inflacionário.

Inflação: é o aumento contínuo e generalizado dos preços em todos os mercados, ou seja, não se trata apenas de um aumento pontual nos preços do tomate, por exemplo, devido a uma quebra na safra. São aumentos de preço que percorrem quase toda a cadeia produtiva. Os institutos que pesquisam os aumentos de preço, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE ou Fundação Getúlio Vargas — FGV medem essa dispersão dos aumentos e a chamam de “difusão dos aumentos de preço”.

O nível de preço dos bens e serviços compõem cestas de consumo das famílias e é pesquisado pelo IBGE e pela FGV, por exemplo, que lhes dá ampla divulgação através dos Índices de Preços, como o IPC, o IGP, o INPC, o IGPM e o IPCA, dentre outros.

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Deflação: em sentido oposto ao conceito de inflação, a deflação é a redução generalizada dos preços dos bens e serviços. Essa redução geralmente está associada a graves recessões econômicas e a restrições da demanda e da oferta, ou do nível de produção e do emprego. Numa situação de deflação, o consumo não tem tendência a aumentar porque os consumidores ficam na expectativa de que os preços continuarão caindo e, por isso, eles adiam as suas compras, levando a uma quebra do consumo e, consequentemente, das receitas das empresas. A longo prazo, essa situação poderá originar uma espiral de recessão, com graves consequências para a economia.

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41Leia o artigo publicado no portal da Revista Exame, intitulado “Brasil vive estagflação, dizem especialistas”, disponível em <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/brasil-viver-estagflacao-dizem-especialistas>.

Desinflação: é um caso especial da inflação, um conceito econômico que corresponde ao abrandamento da inflação. Nesse caso, os preços dos bens continuam aumentando, mas a taxas são menores que as verificadas no período anterior.

Veja este exemplo:

Uma garrafa de vinho custa $ 40 no mês 1. No mês 2 o preço aumentou para $ 48. A taxa de inflação, nesse caso, foi de 20%:

Imagine que, no terceiro mês, o preço aumenta novamente, passando de $ 48 para $ 52,80. A inflação continuou existindo, e foi de 10% (52,80-48)/48 = 0,10. Porém, a taxa caiu de 20% ao mês para 10% ao mês.

Isso é: Houve desinflação!

Estagflação: é uma situação típica de recessão econômica, na qual ocorre uma diminuição das atividades econômicas, ou seja, o país apresenta baixo crescimento do PIB, porém, com inflação ainda persistente e generalizada durante certo período de tempo41.

Hiperinflação: é uma inflação muito acima dos níveis considerados adequados às ações de política macroeconômica e toleráveis pela sociedade. Não há consenso, mas alguns economistas consideram que existe hiperinflação quando os índices de preços apontam para aumentos acima de 50% ao mês. Um país que passa por um processo hiperinflacionário sofre com a alta elevada dos preços dos produtos e forte desvalorização da moeda, e pode entrar em recessão econômica (ver item seguinte).

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Como exemplo de hiperinflação no Brasil, podemos citar o mês de março de 1989, quando a inflação chegou a 81%. Os países da América Latina sofreram por décadas com a hiperinflação.

Inflação anual 1978 - 1987

Brasil

Argentina

Bolívia

Peru

México

166%

257%

602%

2.776%

3.720%

Recessão econômica: em economia, recessão é uma fase de contração do ciclo econômico, isso é, de retração geral na atividade econômica por certo período de tempo, com os seguintes sintomas genéricos:

Queda no nível da produção (queda do PIB)

Aumento do desemprego

Queda na renda familiar

Redução do lucro das empresas

Aumento do número de falências e concordatas

Aumento da capacidade ociosa

Queda do nível de investimento

Em termos técnicos, considera-se que um país está em recessão quando passa por dois trimestres consecutivos com o PIB em queda, em retração, ou seja, dois trimestres consecutivos com crescimento negativo do PIB.

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Depressão econômica: uma depressão econômica é caracterizada por um estado agravado de recessão, ou seja, um longo período de desemprego em massa, falência de empresas, baixos níveis de produção e investimentos, quebra do mercado financeiro e de ações, sempre gerando consequências negativas para a economia mundial. Segundo especialistas, as maiores depressões econômicas da história foram as de 1815, 1873 e 1929.

Entre elas, a mais grave, sem dúvida, foi a de 1929. Ao longo da história do capitalismo, podemos perceber momentos bons e de crise, ou seja, ciclos econômicos. Após o sistema capitalista ter se firmado, esses ciclos passaram a ser algo constante.

Como você pode ver, os desequilíbrios de preços podem arrastar os países para situações econômicas muito complicadas de serem resolvidas, mesmo que a longo prazo. O ideal, portanto, é que todas as partes interessadas estejam atentas à condução da política macroeconômica de forma a se alcançar os objetivos que possam se traduzir em bem-estar para a sociedade e sustentabilidade da economia.

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3. Principais Causas da Inflação São muitos os fatores que podem causar inflação. Listamos, a seguir, cinco fatores ou motivos principais. Vamos a eles:

Capacidade de produção no limite: um dos mais importantes fatores para o surgimento da inflação é a aproximação entre a oferta agregada e a demanda agregada da economia de um país.

Em outras palavras, quando o consumo interno de um país fica muito perto de sua capacidade produtiva, os empresários podem ver incentivos para aumentar os preços.

Choque de contração da oferta: outro fator muito comum é o choque de oferta, que se dá quando algum imprevisto causa queda brusca no volume de produção de determinado bem. Trata-se de ocorrência relativamente comum no setor agrícola, pois, não raro, lavouras são afetadas por problemas climáticos. Contudo, tais declínios acentuados de produção tendem a ter efeito limitado sobre os índices gerais de preços, haja vista que o cálculo de sua variação se dá sobre uma cesta muito grande de produtos.

Variação cambial: uma eventual elevação súbita da cotação do Dólar ante o Real, como a que se viu em 1999, tem como efeito automático o encarecimento dos chamados produtos comercializáveis, tanto interna quanto externamente.

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Exportação de inflação: um fenômeno inflacionário que atinja diversos países tende a contaminar os preços domésticos. Foi o que se viu antes da crise financeira americana de 2008, quando as cotações das commodities agrícolas, minerais e energéticas subiam com vigor na esteira da pujante demanda internacional patrocinada, principalmente, pela economia da China.

Memória inflacionária: a inflação passada também pode alimentar reajustes de preços no presente. Esse processo, que atualmente se dá em nível muito menor que o verificado no período de hiperinflação, é chamado de indexação da economia.

Hoje, no Brasil, isso ocorre apenas com os chamados preços administrados, que são aqueles regulados por contratos que determinam a recomposição da inflação passada por meio de um índice de preço. É o caso de muitos serviços públicos, como:

• Água e energia elétrica;• Passagens de trens e ônibus;• Planos de saúde;• Cadernetas de poupança;• Aluguéis.

Esses cinco motivos principais permitem separar e classificar as causas da inflação sobre três grandes pilares:

A inflação da demanda

A inflação de oferta

(ou de curto)

A inflação inercial

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Inflação de demanda

A inflação de demanda é a forma mais comum de elevação de preços e ocorre quando há excesso da demanda agregada em relação à produção de bens ou serviços, ou seja, quando a economia já está produzindo no pleno emprego dos fatores de produção e a demanda ainda supera a oferta. Nesse caso, os preços aumentaram pela escassez do produto. Normalmente, a inflação de demanda tem a sua origem em três fatores:

Aumento da renda disponível, em decorrência de reajustes salariais ou de redução da carga tributária, devido ao aumento do poder aquisitivo;

Expansão do crédito ao consumidor, que, mesmo com limitações na sua renda disponível, passa a dispor de um mecanismo de compra;

Diminuição das taxas de juros, que, quando altas, limitam o poder de compra do consumidor.

O combate à inflação de demanda deve se dar baseado numa política que desestimule o consumo, até que a demanda e a oferta voltem a se equilibrar. O governo pode usar instrumentos da política fiscal (elevação dos tributos) ou da política monetária, principalmente a elevação da taxa básica de juros, a Selic, como você viu na Unidade 5.

Inflação de custos ou inflação de oferta

Imagine que você seja o dono de uma empresa de transportes rodoviários de carga, e que os preços dos combustíveis sofram um aumento significativo. Com certeza, para preservar o fluxo de receitas e de lucros de sua empresa, você repassaria esse aumento dos combustíveis aos preços do seu frete.

Afinal, segundo Mankiw, os agentes econômicos reagem a incentivos (Unidade 1, lembra?).

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As principais causas da inflação de custos estão nos seguintes fatores:

Aumento do custo da mão de obra;

Aumento do custo das matérias-primas e materiais secundários;

Aumento da taxa de juros (isso ocorre quando as empresas utilizam capital de terceiros, sobre o qual pagam remuneração);

Aumento da carga tributária.

A inflação de custos está associada a uma diminuição da oferta, provocada pelo aumento dos custos de produção. Havendo diminuição da produção e a demanda permanecendo inalterada, há aumento dos preços.

A inflação de custos ou de oferta também pode ser provocada pela estrutura de determinados mercados devido ao poder de monopólio ou oligopólio de alguns setores que controlam preços e volumes produzidos.

Inflação Inercial

Se você tem um plano de saúde, uma vez por ano você recebe uma carta da operadora informando sobre o reajuste da sua mensalidade, com base na fórmula de reajuste do contrato registrado na agência reguladora, a Agência Nacional de serviços são controlados pela Agência Nacional de Energia Elétrica — ANEEL.

Esses são exemplos de que a inflação inercial é um processo automático que independe das forças de oferta e demanda, e que se perpetua pela inércia ou memória inflacionária dos contratos. Assim, a inflação presente é “herdada” da inflação passada. Existem mecanismos de indexação nos acordos salariais, nos índices de correção de aluguéis e contratos comerciais que fazem com que os preços passados sejam automaticamente revisados e, normalmente, para um valor acima do valor anterior, o que gera inflação.

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4. Efeitos Provocados pela Inflação Os efeitos perversos do processo inflacionário se manifestam em praticamente todos os setores da economia. A lista abaixo faz algumas indicações desses efeitos.

Desestímulo à formação de

poupança

Dificuldade de planejamento empresarial

Tensões sociais

Baixa produtividade

econômica

Deterioração no saldo

da balança comercial

• Baixa produtividade econômica: o processo inflacionário tende a prejudicar os investimentos, principalmente nos setores de base (infraestrutura), já que estes necessitam de um longo período de maturação. Além disso, prejudicam na formação de expectativas, pois diante da imprevisibilidade da economia, o empresariado tende a reduzir seus investimentos;

• Dificuldade de planejamento empresarial: em meio a uma espiral inflacionária, torna-se mais difícil acompanhar os orçamentos das empresas, o que impede que os empresários façam previsões mais razoáveis;

• Desestímulo à formação de poupança: com a elevação generalizada dos preços, a renda das famílias passa a ser direcionada quase que totalmente para o consumo, a fim de que se anule a perda do poder de compra da moeda;

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• Tensões sociais: a desvalorização da moeda pode provocar reação na sociedade, além de trazer prejuízos, principalmente para os assalariados e trabalhadores em geral que não têm a mesma capacidade de repassar os aumentos de seus custos, como fazem os empresários e os governos, ficando seus orçamentos cada vez mais reduzidos até a chegada do próximo reajuste salarial;

• Deterioração no saldo da balança comercial: a inflação interna maior que a externa causa encarecimento do produto nacional com relação ao importado, o que leva a sociedade a aumentar a procura por produtos importados e, por outro lado, reduz as exportações.

Regime de metas de inflação

Com a adoção do Plano Real no Brasil, em março de 1994, a taxa de câmbio passou a ser usada como âncora nominal, ou seja, base para a referência de preços da política econômica vigente. Isso durou até 1999, quando houve a mudança do regime cambial42.

Porém, a estabilidade de preços, um dos objetivos da política macroeconômica (vide Unidade 1), é a condição necessária para se atingir o crescimento sustentado e, assim, era importante que o governo reafirmasse seu compromisso com a manutenção dessa estabilidade. Você sabe que a condução da política macroeconômica é atribuição do governo, que deve fazê-lo de forma crível e transparente para a sociedade.

A decisão dos formuladores da política econômica foi pela escolha do regime de metas para a inflação, adotado com sucesso em vários países do mundo, como Nova Zelândia, Canadá, Inglaterra, Suécia, Finlândia, Austrália e Espanha, entre outros. Esse regime significa um comprometimento do Banco Central com a estabilidade da moeda e dos preços, utilizando os prognósticos da inflação como principal variável indicativa da condução da política monetária: aperto de liquidez (elevação da taxa de juros Selic) se a inflação projetada ultrapassar a meta, e aumento de liquidez (redução da taxa de juros) se a inflação projetada ficar abaixo da meta.

42São três os regimes de câmbio. No câmbio fixo, a autoridade monetária estipula o valor da cotação para conversão das moedas para um dado período. No câmbio flutuante puro, as cotações variam livremente no mercado cambial, de acordo com a demanda e a oferta de moeda estrangeira no país. No câmbio flutuante sujo (em inglês, dirty float), o câmbio flutua de acordo com o mercado, mas fica sujeito a intervenções pontuais do Banco Central quando essas cotações superam o limite superior da banda ou quando ficam abaixo do limite inferior da banda. Esses limites são definidos pelo Banco Central. Esse é o caso do Brasil.

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Dessa forma, compete ao Banco Central, por lei, utilizar os instrumentos de política monetária necessários para o cumprimento das metas fixadas. As metas e os respectivos intervalos de tolerância são fixados pelo Conselho Monetário Nacional até 30 de junho de cada segundo ano imediatamente anterior. Atualmente, a meta de inflação anual é de 4,5%, com dois pontos percentuais de tolerância para mais ou para menos.

Considera-se que a meta de inflação foi cumprida quando a variação acumulada relativa ao período de janeiro a dezembro de cada ano-calendário, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Ampliado — IPCA está na faixa do seu respectivo intervalo de tolerância. No caso brasileiro, você já sabe: a meta é de 4,5% com tolerância entre 2,5% e 6,5%.

Caso a meta não seja cumprida, o presidente do Banco Central do Brasil divulga publicamente, por meio de carta aberta ao Ministério de Estado da Fazenda, as razões para o descumprimento. Essa carta deve indicar:

• Uma descrição detalhada das causas do descumprimento;• Quais as providências serão tomadas para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos;

• O prazo no qual se espera que as providências produzam efeito.

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5. O Cálculo da Inflação Um índice de inflação é um indicador que mede a evolução dos preços de um agregado de bens e serviços (uma cesta de bens, que atende a um grupo de famílias, com características econômicas especificadas a priori pelos institutos de pesquisa) num determinado período de tempo. Existe uma enorme quantidade de índices de inflação no Brasil como herança da época da hiperinflação, quando o ritmo frenético de reajustes demandava acompanhamento diário ou semanal.

Mas, você sabe o que diferencia um indicador do outro?

• O nível de renda e o perfil social das famílias pesquisadas;

• A abrangência;

• A cesta de produtos que serve de base para o levantamento de preços;

• O período de coleta.

Cada índice tem o seu valor, dependendo do que se quer avaliar.

Da mesma maneira que o PIB transforma as quantidades de muitos bens e serviços em uma única medida do valor de produção, um índice de preços transforma os preços de muitos bens e serviços em um único índice, que mede o nível geral dos preços.

Vejamos, então, um resumo sobre os índices de preços mais utilizados no Brasil, calculados pela FGV e pelo IBGE.

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Índices de Preços calculados pela Fundação Getúlio Vargas - FGV:

É o Índice de Preços no Atacado e mede a variação de preços no mercado ataca-dista. O IPA pondera em 60% o IGP-DI.

É o Índice de Preços ao Consumidor e mede a variação de preços entre as fa-mílias que recebem renda de 1 a 33 sa-lários mínimos nas cidades de São Pau-lo e Rio de Janeiro. O IPC pondera em 30% o IGP-DI.

É o Índice Nacional da Construção Civil e mede a variação de preços no setor da construção civil, considerando tanto materiais como tam-bém a mão de obra empregada no setor. O INCC pondera em 10% o IGP-DI.

43DI ou Disponibilidade Interna: é a consideração das variações de preços que afetam diretamente as atividades econômicas localizadas no território brasileiro. Não se considera as variações de preços dos produtos exportados, o que é considerado somente no caso da variação da Oferta Global.

IGP-DI43: O Índice Geral de Preços IGP-DI/FGV é calculado mensalmente pela FGV. O IGP-DI foi instituído em 1944 com a finalidade de medir o comportamento de preços em geral da economia brasileira. É uma média aritmética ponderada dos seguintes índices:

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IGP-M: O IGP-M/FGV é calculado mensalmente pela FGV e é divulgado no final de cada mês de referência. Quando foi concebido, o IGP-M/FGV teve como princípio ser um indicador para balizar as correções de alguns títulos emitidos pelo Tesouro Nacional e Depósitos Bancários com renda pós-fixadas acima de um ano. Posteriormente, passou a ser o índice utilizado para a correção de contratos de aluguel e como indexador de algumas tarifas, como energia elétrica. O IGP-M analisa as mesmas variações de preços consideradas no IGP-DI, e o que o diferencia do IGP-DI é que as variações de preços consideradas pelo IGP-M se referem ao período do dia vinte e um do mês anterior ao dia vinte do mês de referência e o IGP-DI refere-se a período do dia um ao dia trinta do mês em referência. Atualmente, o IGP-M é o índice utilizado para balizar os aumentos da energia elétrica e dos contratos de aluguéis. A divulgação ocorre sempre na segunda quinzena do mês seguinte. O IGP-M tem caráter mais amplo porque considera não só preços de produtos finais (de consumo), mas também os de atacado e da construção civil. Cabe destacar, ainda, que o IGP-M é uma média ponderada, em que os preços do atacado têm peso bastante significativo e, por isso, é bastante sensível a choques cambiais e variações bruscas nos preços de bens comercializáveis.

Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

IPCA: Índice de Preços ao Consumidor Ampliado - IPCA é o índice oficial do governo federal para medição das metas inflacionárias, contratadas com o FMI, a partir de julho/99. O IPCA foi instituído, inicialmente, com a finalidade de corrigir as demonstrações financeiras das companhias abertas. As unidades de coleta de dados são os estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, concessionárias de serviços públicos e domicílios (para levantamento de aluguel e condomínio). A população-alvo do IPCA são as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 40 salários-mínimos, qualquer que seja a fonte de rendimentos, e residentes nas áreas urbanas.

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INPC: Índice Nacional de Preços ao Consumidor - INPC/IBGE foi criado, inicialmente, com o objetivo de orientar os reajustes de salários dos trabalhadores. A população-alvo do INPC abrange as famílias com rendimentos mensais compreendidos entre 1 e 6 salários-mínimos, cujo chefe é assalariado em sua ocupação principal e residente nas áreas urbanas das regiões, qualquer que seja a fonte de rendimentos. Calculado pelo IBGE entre os dias 1º e 30 de cada mês, compõe-se do cruzamento de dois parâmetros: a pesquisa de preços nas onze regiões de maior produção econômica com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), que abrange famílias com renda de 1 a 8 salários-mínimos.

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Nesta unidade, você estudou as noções básicas sobre o ambiente inflacionário e viu que a inflação é uma perigosa armadilha para a estabilidade de preços e para o poder de compra da moeda. Uma simples oscilação no sistema de preços pode descambar para situações graves para as famílias e para as empresas, como a estagflação, a hiperinflação, a recessão econômica, e até para uma crise de proporções mundiais, como a depressão econômica.

Você conheceu as diferentes causas da inflação e as diferentes formas de combatê-la através de exemplos simples do seu cotidiano. Aprendeu que as autoridades brasileiras estão comprometidas com a estabilidade dos preços por meio do regime de metas de inflação, que usa o IPCA/IBGE como referencial de comparação. Também viu que, atualmente, o Brasil voltou a ter dificuldades no enfrentamento dos efeitos perversos da inflação e se mantém ostensivamente acima da meta acordada pelo Banco Central e muito próximo do limite de tolerância.

Por fim, apresentamos as características particulares dos quatro índices de preços mais importantes do Brasil, sendo dois deles calculados pelo IBGE e outros dois pela FGV, duas escolas de excelência na área e respeitadas em todo o mundo.

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Leia o excelente artigo elaborado pelo jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte, intitula-do “Guerra à hiperinflação: a estabilização da moeda foi o maior desafio”, que está dispo-nível em <http://www.hojeemdia.com.br/noticias/guerra-a-hiperinflac-o-a-estabilizac-o-da-moeda-foi-o-maior-desafio-1.93254>. O artigo resume o perigoso histórico brasileiro de sucessivos planos econômicos malsucedidos, e a adoção do Plano Real, em 1994, que promoveu a estabilização de nossa nova moeda, o Real, e trouxe as taxas de inflação para patamares civilizados, compatíveis com as nações mais desenvolvidas.

Leia o artigo publicado no portal da Revista Exame, intitulado “Brasil vive estagflação, dizem especialistas”, disponível em <http://exame.abril.com.br/economia/noticias/brasil-viver-estagflacao-dizem-especialistas>.

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MANKIW, N. Gregory. Introdução à Economia. Tradução da 5ª Edição norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2009.

PINHO, Diva Benevides; VASCONCELLOS. Marco A. S. de (org.) Manual de Economia. Equipe de professores da USP. 5ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2004.

GARCIA, Manuel E.; VASCONCELLOS, Marco A. S. de. Fundamentos de Economia. 3ª Edição. São Paulo: Saraiva, 2008.

NOGAMI, Otto; PASSOS, Carlos Roberto Martins. Princípios de Economia. 5ª Edição. São Paulo: Cengage Learning, 2008.

ROSSETI, José Paschoal. Introdução à Economia. 20ª Edição. São Paulo: Atlas, 2010.

VASCONCELLOS, Marco A. S. de. Economia: micro e macro. 4ª Edição. São Paulo: Atlas, 2009.