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SARA COSTA CUSTÓDIO JUS POSTULANDI NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA

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SARA COSTA CUSTÓDIO

JUS POSTULANDI NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA

Palmas - TO 2019

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SARA COSTA CUSTÓDIO

JUS POSTULANDI NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA

Trabalho de Curso em Direito apresentado como requisito parcial da disciplina de Trabalho de Curso em Direito II (TCD II) do Curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Orientadora: M.a Fabiana Luiza Tavares da Silva

Palmas - TO 2019

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SARA COSTA CUSTÓDIO

JUS POSTULANDI NOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ESTADUAIS E A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ACESSO À JUSTIÇA

Trabalho de Curso em Direito apresentado como requisito parcial da disciplina de Trabalho de Curso em Direito II (TCD II) do Curso de Direito do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Orientadora: M.a Fabiana Luiza Tavares da Silva

Aprovado (a) em: ______/______/______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________Professa M.a Fabiana Luiza Tavares

Centro Universitário Luterano de Palmas

__________________________________________________Prof. (a). [nome e titulação do Professor (a)]

Centro Universitário Luterano de Palmas

__________________________________________________Prof. (a). [nome e titulação do Professor (a)]

Centro Universitário Luterano de Palmas

Palmas - TO2019

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Dedico este trabalho aos meus pais, pelo amor

incondicional e aos meus irmãos por todo

apoio.

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Hoje, nessa etapa vitoriosa de minha vida em que

a emoção protagoniza a sensação de missão

cumprida, posso dizer que pude contar com

pessoas que foram essências para que esse sonho

se tornasse alcançável.

Por essa razão, agradeço primeiramente a Deus

que permitiu que tudo isso fosse possível, por me

conceder toda força necessária para continuar e

por ter sido tão extraordinário em minha vida.

A todos os amigos e amigas que acompanharam

minha vida acadêmica, em especial as minhas

queridas amigas, Ana Clara, Larissa e Lorena, por

todo apoio, compreensão e por me

proporcionarem momentos mais leves.

Agradeço, por fim, a minha professora e

orientadora, Fabiana Luiza da Silva Tavares, que

me confiou o prestígio de seus ensinamentos.

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“O conhecimento exige uma presença curiosa

do sujeito em face do mundo. Requer uma

ação transformadora sobre a realidade.

Demanda uma busca constante. Implica em

invenção e em reinvenção”.

Paulo Freire

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RESUMO

Esta pesquisa objetiva fazer uma breve abordagem sobre o jus postulandi nos juizados especiais cíveis estaduais e a garantia constitucional do acesso à justiça, enfatizando o jus postulandi como instituto facilitador do acesso à justiça e que esse permite ao cidadão postular pessoalmente em juízo, no âmbito dos Juizados Especiais Cível estadual, sem a necessidade de constituir advogado, nas causas cujo valor não exceda a 20 (vinte) salários mínimos, bem como na Justiça do Trabalho até a interposição do recurso ordinário destacando os aspectos da doutrina e legislação aplicável ao assunto e os vários problemas afetos aos cidadãos que desprovidos de conhecimento técnico postulam em juízo sem a presença de advogado com destaque ao enfrentamento das desigualdades quanto ao direito de acesso à justiça, sobretudo quando o litigante for pessoa de baixo poder aquisitivo e conhecimento técnico.

Palavras-chaves: acesso à justiça, jus postulandi, Juizados Especiais, litigante, Poder Judiciário

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................9

1 DO ACESSO À JUSTIÇA...................................................................................................11

1.1 Conceito.........................................................................................................................11

1.2 Evolução histórica do acesso à justiça e as ondas renovatórias de Cappelletti e Garth.12

1.3 Forma de acesso à justiça...............................................................................................17

1.4 O exercício da Advocacia..............................................................................................19

1.4.1 Defensoria Pública Estadual ..................................................................................20

1.4.2 Defensoria Pública da União (DPU)......................................................................21

1.4.3 Da Advocacia Privada............................................................................................22

1.4.4 Núcleos de prática jurídica dos cursos de Direito..................................................22

2 JUS POSTULANDI..............................................................................................................24

2.1 Conceito.........................................................................................................................24

2.2 Possibilidade do Jus Postulandi na Justiça Brasileira....................................................29

2.3 Legitimidade Ordinária..................................................................................................30

2.4 Legitimidade Extraordinária..........................................................................................30

2.5 Justiça do Trabalho........................................................................................................31

2.5.1 Ação de alimentos..................................................................................................35

3 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS ESTADUAIS....................................37

3.1 Juizados especiais de pequenas causas: Lei Federal Nº 7.244, de 7 de novembro de

1984......................................................................................................................................37

3.2 Juizado Especial Cível - Lei Nº 9.099, DE 1995...........................................................40

3.3 Princípios dos Juizados Especiais..................................................................................45

3.3.1 Oralidade................................................................................................................45

3.3.2 Simplicidade...........................................................................................................46

3.3.3 Economia Processual..............................................................................................46

3.3.4 Celeridade...............................................................................................................47

3.3.5 Informalidade.........................................................................................................47

3.4 A possiblidade do Jus Postulandi nos Juizados Especiais Cíveis..................................48

CONCLUSÃO.........................................................................................................................53

REFERÊNCIAS......................................................................................................................56

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico a ser apresentado ao Centro Universitário Luterano

de Palmas - CEULP/ULBRA, como requisito parcial para a conclusão do curso de graduação

em Direito, tem por objetivo, discorrer acerca do Jus Postulandi nos juizados especiais cíveis

Estaduais e a garantia constitucional do acesso à justiça, enfatizando o acesso à justiça, sua

forma, evolução histórica, o exercício da advocacia pública nas suas diversas esferas, a

advocacia privada e os núcleos de práticas do curso de Direito.

O propósito deste trabalho é discorrer sobre o conceito de acesso à justiça abordando

a sua evolução histórica, bem como sobre o instituto Jus Postulandi, seu conceito e

possibilidade de aplicação na justiça brasileira, assim como sua utilização na Justiça do

Trabalho e nas ações propostas pelo credor de alimentos.

Nesse sentido, o presente trabalho que tem como temática o acesso à justiça busca

demonstrar que o Jus Postulandi, apesar de sua fácil aplicabilidade, pelo fato do litigante

poder postular em juízo sem a presença do advogado, tem como escopo esclarecer que o

acesso em si não implica na obtenção do direito, uma vez que a maioria das pessoas que

buscam o Judiciário desacompanhadas de um advogado não possuem conhecimento técnico

para se sobressair em determinadas situações no decorrer do processo.

Haverá ainda uma abordagem analítica para averiguar se os Juizados Especiais

Cíveis garantem apenas o acesso ao judiciário ou proporcionam a efetividade do direito ao

acesso à justiça, no âmbito dos Juizados Especiais.

Tratar ainda, da acessibilidade à justiça como um direito social fundamental, em

torno da qual estão todas as garantias destinadas a promover a efetiva tutela dos direitos.

Apontar que a constituição de 1988, em seu artigo 98, I, com o intuito de efetivar o acesso à

justiça, possibilitou a criação dos Juizados Especiais com intuito de tornar a justiça mais

célere, econômica e menos formal.

Enfatizar que os Juizados Especiais Estaduais são regulamentados pela Lei nº

9.099/1995 e possui como princípios: a oralidade, a informalidade, a celeridade, a conciliação,

a economia processual e por fim, a simplicidade como medida de concessão do amplo acesso

à justiça àqueles que não possuem condições financeiras de arcar com despesas de um

advogado.

Discorrer sobre o aceso à justiça e se este compreende apenas o direito de ingresso

ao judiciário ou se promove o efetivo acesso do litigante aos seus direitos, verificando ainda

se o pleno acesso à justiça exige mais do que previsão legal.

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E analisar se de fato, para viabilizar o verdadeiro acesso à justiça é necessário que

haja um profissional com conhecimentos técnicos que auxiliem a parte na busca dos seus

direitos.

Discorrer ainda, sobre os Juizados Especiais de Pequenas Causas criado pela Lei

Federal nº 7.244/1984, e as alterações advindas com a Lei nº 9.099/1995, que alterou o nome

para Juizado Especial Cível e Criminal, no qual o Jus Postulandi, embasado nos princípios da

celeridade, informalidade, oralidade, simplicidade e economia processual, possibilitou ao

litigante postular pessoalmente em juízo, as demandas cujo valor não ultrapassem a 20 (vinte)

salários mínimos.

O trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro trata do acesso à justiça, sua

forma, evolução histórica, as ondas renovatórias de Cappelletti e Garth, o exercício da

advocacia pública nas suas diversas esferas, bem como a advocacia privada e os núcleos de

práticas do curso de Direito.

O segundo capítulo discorre sobre o instituto do Jus Postulandi, seu conceito e

possibilidade de aplicação na justiça brasileira, a legitimidade ordinária e extraordinária do

referido instituto, bem como sua utilização na Justiça do Trabalho e nas ações propostas pelo

credor de alimentos.

O terceiro e último capítulo, trata especificamente dos Juizados Especiais de

Pequenas Causas apontando sua criação pela Lei Federal nº 7.244/1984, e as alterações

sofridas com o advento da Lei nº 9.099/1995, as alterações do nome inicial para Juizado

Especial Cível e Criminal, indicando que o Jus Postulandi, se embasa nos princípios da

celeridade, informalidade, oralidade, simplicidade e economia processual, os quais

possibilitaram ao litigante postular pessoalmente em juízo, as demandas cujo valor não

ultrapassem a 20 (vinte) salários mínimos.

Cabe salientar, contudo, que diante da relevância do tema proposto e do premente

anseio por uma sociedade igualitária, livre de injustiças e não isonomia o assunto por certo

não será esgotado, razão pela qual se acredita em novos debates sobre este tema.

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1 DO ACESSO À JUSTIÇA

1.1 Conceito

Antes de adentrar ao assunto que será abordado no presente trabalho é de grande

relevância trazer a conceituação de acesso à justiça, e apresentar uma visão crítica sobre esse

aspecto.

O acesso à justiça não se restringe à possibilidade de postular em juízo, mas de obter

a justa prestação jurisdicional. Trata-se de um direito básico do ser humano, que merece

especial atenção, daquele que possui o dever de garantir um processo justo, qual seja, o

Estado.

Como sabido, o ingresso aos direitos e à justiça, com o objetivo de evoluir no que diz

respeito à efetividade da justiça sofrem constantes alterações. Para Cappelletti e Garth (1988,

p.76), o conceito de “efetividade” da justiça, ainda é algo vago, que precisa de modificações,

ou seja, de nada adianta a aprovação de diversas leis para criar uma “falsa” ideia de fácil

acesso à justiça, quando na prática, as pessoas que procuram o Poder Judiciário, em tese, não

têm um processo justo, célere, com igualdade de armas.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, por exemplo, trouxe entre

outros, o direito à liberdade, à igualdade, econômicos e sociais. Ao fazer uma análise dos

direitos trazidos pela citada declaração é possível perceber, que há uma necessidade de

atuação do Estado para sua efetivação.

Posto isso, imperioso é o reconhecimento de que, o direito de acesso à justiça cuida

de um direito humano e trata da forma mais simples de acesso aos direitos humanos previstos

nos diversos tratados. Por essa razão, é tão importante que o Estado proporcione aos cidadãos,

um acesso justo e principalmente adote mecanismos que possam garantir a plenitude de tal

direito.

De igual modo, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, Pacto de San José

da Costa Rica, traz inúmeras garantias ao ser humano, inclusive a de se ter um processo com

duração razoável, conforme dispõe o artigo da 8º do Pacto de San José da Costa Rica, in

verbis:

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal

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formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

Dito isso, pode-se perceber que os países signatários dos tratados internacionais não

se preocuparam apenas em garantir um acesso à justiça, mas, também ressaltaram todas as

questões que tratam o processo, como por exemplo, a celeridade das demandas.

Dessa feita, é evidente que o acesso à justiça é um direito humano de abrangência

internacional e sua importância, não se restringe a uma simples previsão legal, posto que, até

mesmo os documentos internacionais se preocuparam em garantir um prazo para a duração

razoável do processo para uma satisfatória, efetividade dos direitos.

No mesmo sentido, esclarece Donizetti (2017), conforme segue:

A interpretação do princípio do acesso à justiça (art. 5º, XXXV, da CF/1988) não pode se limitar, portanto, à mera possibilidade de ingresso em juízo; ao contrário, esse princípio deve ser interpretado compreendendo a noção ampla do acesso a ordem jurídica justa, para a qual converge todo o conjunto de princípios e garantias constitucionais fundamentais do processo. E, para que se obtenha essa “garantia-síntese”, o constituinte positivou uma série de princípios e garantias, impondo várias exigências ao sistema processual por meio de um conjunto de disposições que convergem para esse fim (DONIZETTI, 2017, p. 70).

Mediante o que se pode anotar do texto acima, o conceito e interpretação do

princípio do acesso à justiça previstos na Constituição Federal de 1988, não se limitam

apenas, ao fato de ingressar ao Poder Judiciário, mas, sobretudo à garantia de uma justa

ordem jurídica.

Isso, por considerar que o constituinte positivou uma série de princípios e garantias,

que impõem inúmeras exigências ao sistema processual, as quais, convergem para esse fim,

cujo objetivo é garantir aos cidadãos uma efetividade dos seus direitos.

1.2 Evolução histórica do acesso à justiça e as ondas renovatórias de Cappelletti e Garth

O acesso à justiça é um tema que desperta interesse das mais diversas áreas, sendo

reconhecidamente de alta complexidade por suas interpretações e abordagens distintas. Além

disso, as mudanças sociais e culturais pelas quais passa a sociedade, exigem constantes

modificações na dinâmica processual junto a justiça.

O conceito acerca do acesso à justiça ganhou maior importância a partir de estudos

realizados por Mauro Cappelletti e Bryan Garth, no final da década de 70, que, por meio de

pesquisas realizadas em vários países do mundo, denominado “Projeto Florença” buscou

traçar um diagnóstico sobre as dificuldades vivenciadas nesse processo.

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Sabido que naquela época não existia a menor preocupação dos órgãos estatais em

garantir os direitos sociais dos indivíduos, e consequentemente o direito de acesso à justiça, os

menos favorecidos não possuíam esse direito, e, em regra, somente era possível acessar ao

judiciário aqueles que pudessem pagar pelos seus custos (BEZERRA; SANTOS, 2008, p.4).

Após conclusos os estudos da pesquisa acima mencionada na década de 80, foram

identificados pelos autores alguns obstáculos que devem ser superados para garantir a

efetividade do acesso à justiça, quais sejam: custas judiciais, possibilidades das partes e

problemas especiais de interesses difusos.

Em relação ao acesso judiciário, os citados pesquisadores asseguram que somente é

propiciado àqueles que possuem condições financeiras de arcar com os altos custos de um

processo, inclusos os honorários de advogados e peritos, além dos honorários sucumbências

que devem ser pagos à parte vencedora. Nessa trilha, Cappelletti e Garth (1988) esclarecem:

Causas que envolvem somas relativamente pequenas são mais prejudicas pela barreira dos custos. Se o litígio tiver de ser decidido por processos judiciais formais, os custos podem exceder o montante da controvérsia, ou, se isso não acontecer, podem consumir o conteúdo do pedido a ponto de tornar a demanda uma futilidade. Os dados reunidos pelo Projeto Florença mostram claramente que a relação entre os custos a serem enfrentados nas ações cresce na medida em que se reduz o valor da causa (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p.19).

Como se percebe, os pesquisadores no estudo em foco apontaram que o aceso à

justiça se torna uma oportunidade muitas das vezes inacessível às camadas mais pobres da

população, visto que, os processos possuem um custo muito elevado e o demandante não tem

a certeza da satisfação do seu direito, e, ainda, as causas que envolvam valores relativamente

baixos tendem a ser prejudicadas, pois, os custos dos processos podem ser superiores ao valor

da lide, o que torna a demanda inviável.

Nessa linha de raciocínio, os estudiosos em apreço entendem que o Estado deve

adotar meios para diminuir a distância da classe menos favorecida do judiciário, como por

exemplo, a isenção das custas, patrocínio das causas por Defensores custeados pelo Estado,

dentre outras medidas.

Outra questão apontada pelos autores é a possibilidade de vantagens das partes que

possuam maior recurso financeiro, pois, essas podem aguardar as longas demoras do litígio, e,

além do mais, apresentar uma melhor defesa. Os citados autores ainda mencionam que os

litigantes “habituais” detêm vantagens em relação aos litigantes “eventuais”, uma vez que

desenvolvem experiências e estratégias.

Ademais, os citados autores descrevem problemas relacionados aos interesses

difusos, como entrave no acesso à justiça. Tais interesses são fragmentados ou coletivos,

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como por exemplo, a proteção do consumidor. De acordo com os autores, poucos ou quase

ninguém possui legitimidade para buscar a tutela judicial desses direitos, e quando é possível,

a recompensa na busca é pequena, de modo que desestimulam ao cidadão comum.

A partir dos obstáculos apontados anteriormente, Cappelletti e Garth (1988)

trouxeram em sua obra “Acesso à Justiça” uma nova perspectiva na busca do ingresso à

Justiça, principalmente no que se refere àqueles enfrentados pelos hipossuficientes no efetivo

acesso aos seus direitos, para o qual, surgiram “ondas” de condições favoráveis à

acessibilidade ao judiciário, como se relata abaixo.

A primeira “onda” de meios de acesso igualitário à justiça compreende a

possibilidade de “assistência judiciária aos pobres” e se relaciona diretamente ao obstáculo

econômico, ou seja, à necessidade de prover assistência judiciaria àqueles, que, por motivos

sociais e econômicos estão impedidos de recorrer ao Poder Judiciário.

Referida onda tem como principal característica, a expansão da oferta de acesso à

justiça aos setores menos favorecidos da população, por considerar, que um dos principais

obstáculos na efetivação da justiça são os altos custos de uma demanda judicial.

Para Calmon de Passos (1985, p.83), a “deficiência de instrução” torna-se entrave na

efetivação da justiça, pois está inteiramente ligada a questões sociais e culturais. O que, na

maioria das vezes, leva os hipossuficientes tanto economicamente como de instrução, a

desacreditarem dos seus direitos.

Nessa senda, Cappelletti e Garth (1988, p.70), apontam algumas mudanças que

precisam ser adotadas para dar maior efetividade no que se refere ao acesso à justiça, dentre

elas pode-se destacar, reformas nos procedimentos judiciais e a criação de tribunais

especializados para a resolução de causas peculiares, e, principalmente, a assistência de forma

gratuita prestada pelo Estado.

A segunda “onda” trata da “representação dos interesses difusos”, visto que, o

Processo Civil tradicional não atendia direitos de interesse difusos e coletivos. Além disso, a

tutela era entregue, exclusivamente, ao próprio Estado, conforme o texto a seguir transcrito:

A concepção tradicional do Processo Civil não deixava espaço para a proteção dos direitos difusos. O Processo Civil era visto apenas como um assunto entre duas partes, que se destinava à solução de uma controvérsia entre essas mesmas partes a respeito de seus próprios interesses individuais. Direitos que pertencessem a um grupo, ao público em geral ou a um segmento do público não se enquadravam bem nesse esquema. As regras determinantes da legitimidade, as normas de procedimento e a atuação dos juízes não eram destinadas a facilitar as demandas por interesses difusos intentadas por particulares (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 49/50).

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Mediante o que se percebe no texto acima, o Processo Civil tradicional não permitia

proteção aos direitos difusos, entendia ser somente assunto de interesses entre duas pessoas,

cuja solução da controvérsia ocorreria entre as partes e nesse liame os interesses de grupos, do

público em geral ou de algum outro seguimento não se enquadrava, pois, as regras

procedimentais, assim como a atuação dos juízes não facilitavam demandas de interesses

difusos.

Dessa forma, uma vez que o Código de Processo Civil era visto somente como objeto

de solução de litígios entre duas partes e não se destinava à desenvoltura de controvérsias de

interesses coletivos, a segunda “onda” buscou meios para solução desses obstáculos.

Entretanto, ainda, surgiram conflitos que não eram enquadrados nem como públicos nem

como privados.

Contudo, os autores destacam a existência de exemplos nos Estados Unidos e no

Ombudsman do Consumidor na Suécia, na representação de direitos coletivos com

interferência do Estado com a figura do “Advogado Público”. Destarte, a fim de elucidar

sobre o tema, imperioso se faz colacionar as palavras dos próprios doutrinadores, onde

dispõem que:

[...] o Ombudsman do Consumidor, na Suécia, que atualmente tem análogos em outros países, é outro exemplo de instituição explicitamente criada para representar os interesses coletivos e fragmentados dos consumidores. Essa instituição, criada em 1970, pode iniciar processo “Tribunal do Mercado” para impedir praticas inadequadas de propaganda e publicidade. Além disso, o Ombudsman do consumidor também atua em nome dos consumidores, enquanto classes negociam cláusulas de contrato-padrão com a comunidade empresarial sueca. Os particulares não poderiam resolver tais tarefas com sucesso, pois não teriam nem as condições econômicas, nem o poder de barganha necessários. [...] embora haja sinais de que os procuradores gerais dos países de common law, ou pelo menos nos Estados Unidos, estejam assumindo papel mais importante na proteção dos direitos difusos, também eles têm sido incapazes de desempenhar a tarefa sozinhos; isso porque, mais ainda que o Ministério Público dos países de sistema continental, o attorney general (procurador-geral) é um funcionário político. Essa condição, se, de um lado, pode inspirá-lo, pode, também, inibi-lo de adotar a posição independente de um “advogado do povo” contra componentes poderosos do establishment ou contra o próprio Estado (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p.52 e 54).

Conforme exposto, verifica-se que os dois países acima mencionados encontraram

respaldo em ações individuais para solução de litígios de interesses coletivos, como é o

exemplo dos Estados Unidos, onde qualquer cidadão poderia intentar ações privadas para dar

efetividade a Lei anticorrupção.

Por fim, a terceira “onda” propõe um novo enfoque no que se refere ao acesso à

justiça e tem como finalidade tratar das causas na sua individualidade. Citada onda inclui a

advocacia judicial e extrajudicial, tanto privada quanto pública bem como, a criação de

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instituições especializadas. E assim, traz os meios necessários para eliminar as barreiras

existentes na busca de um efetivo acesso à justiça, como descrevem os autores:É necessário, em suma, verificar o papel e importância dos diversos fatores e barreiras envolvidos, de modo a desenvolver instituições efetivas para enfrenta-los. O enfoque de acesso à Justiça pretende levar em conta todos esses fatores. Há um crescente crescimento da utilidade e mesmo da necessidade de tal enfoque no mundo atual (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 73).

Portanto, pode-se perceber conforme o texto retro, que é de suma importância

verificar quais os fatores e barreiras que dificultam o acesso à justiça e criar mecanismos para

enfrentá-los efetivamente, e ainda, que o enfoque de acesso à justiça pretende valorizar e

combater todos os fatores de entraves na acessibilidade ao judiciário e encontra respaldo no

mundo atual.

Dessa maneira, a terceira “onda” não tem mais como finalidade manter

exclusivamente o Estado como meio apto para solução de controvérsias, e, ainda, considera as

outras “ondas” como complemento para aperfeiçoar o acesso à justiça.

Nessa linha, os autores ora mencionados enfatizam a importância de meios

alternativos para solução de conflitos, como por exemplo, a conciliação e arbitragem, além de

órgãos especializados, com o objetivo de tratar cada litigio com suas devidas particularidades.

Destarte, cumpre destacar que passadas mais de três décadas após a publicação da

referida obra, o estudo realizado pelos citados pensadores já foram objeto de discursão por

diversos doutrinadores do mundo.

Portanto, ao fazer uma análise entre as obras de Cappelletti e Garth (1988) e o que

dispõe o sistema jurídico brasileiro, nota-se, que existem vários artigos tanto no Processo

Civil quanto na Constituição Federal em perfeita consonância com o estudo realizado pelos

autores.

Ressalta-se que, o ordenamento anterior não possuía preocupação significativa em

garantir o efetivo acesso aos direitos, sabido, que o acesso à justiça no referido ordenamento

ganhou maior atenção, a partir da década de 80.

Nessa trilha é por bem frisar, que no âmbito de acesso à justiça, a Constituição do

Império de 1824, assim como, as de 1891, 1934 e de 1937, foram omissas ao tema e

praticamente não contemplaram nenhum meio de efetivo acesso à justiça. Porém, a

Constituição Federal de 1946, em seu artigo 141, garantia esse direito, bem como, a

Constituição da República de 1967 está, no entanto, de forma limitada.

Cabe destacar, como já mencionado, que apenas na década de 80, os legisladores

passaram a ter uma maior preocupação na busca da efetividade do acesso à justiça. Não

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obstante, já existissem leis no sistema brasileiro com a finalidade de efetivar esse direito de

ingresso ao Poder Judiciário, foi somente após a promulgação da Constituição da República

de 1988, que pôde-se perceber uma maior preocupação estatal na garantia e efetivação do

acesso à justiça, como garantia de direitos.

Anota-se, portanto, que a Constituição Federal de 1988, trouxe em seu bojo, os

direitos fundamentais, individuais e coletivos, além dos direitos sociais. Dessa forma, a atual

Constituição revela-se mais preocupada na assistência aos cidadãos para efetivação da justiça.

1.3 Forma de acesso à justiça

Conforme o previsto no artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal, que estabelece:

“a Lei não excluirá da apreciação do poder judiciário lesão ou ameaça de direito” entende-se

que, o direito de acesso ao Poder Judiciário é uma garantia constitucional, a qual assegura a

qualquer pessoa, o direito de ação. Entretanto, o acesso ao Judiciário difere do acesso ao

direito pretendido, isso porque, a propositura de uma ação não implica por si só, a consecução

plena ou parcial do objeto.

Não obstante existirem diversas formas de acesso à justiça, percebe-se que o Brasil

ainda carece da criação de mecanismos que garantam, de fato, um efetivo acesso à justiça,

visto a existência de inúmeros obstáculos, os quais dificultam esse acesso. Na visão de

Cappeletti e Garth (1988, p.74), a efetividade de acesso à justiça ainda é algo utópico,

segundo o autor existem muitas diferenças entre as partes.

Uma das principais diferenças entre as partes dentro de um processo é o fato de que,

as pessoas com menos recursos financeiros tendem a conhecer menos dos seus direitos e

consequentemente são tais pessoas, que, em regra procuram o judiciário desacompanhadas de

advogado.

Os empecilhos que a sociedade enfrenta rotineiramente não são apenas os

econômicos, mas, também social e cultural, visto que as pessoas necessitam de conhecimentos

técnicos para dirimir conflitos e nessa linha, a assistência proporcionada pelo Estado é

limitada. Dessa forma, como já mencionado, as causas que envolvem valores relativamente

baixos restam prejudicadas, uma vez que, à custa do processo às vezes, superam ao valor da

lide.

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Ocorre que, para uma pessoa de baixa renda, o valor do trabalho de um advogado é

muito dispendioso. Assim, quando por alguma razão essa não consegue a assistência

necessária por parte do Estado fica muitas vezes, impedida de requerer aos seus direitos.

Além disso, em regra, para que o indivíduo alcance aos seus objetivos tem que

esperar longos anos até a finalização do processo, o que de fato, não se pode dizer que é um

processo justo, pois, na maioria das vezes quando esse é finalizado, pelo decurso do tempo e a

depreciação do objeto pretendido, já não será possível afirmar que a justiça foi realmente

efetivada.

Para Theodoro (2015, p.20), é necessário que se tenha uma resposta justa do órgão

jurisdicional, porque nada adianta que o indivíduo tenha o direito de ser ouvido em juízo,

mas, não tenha uma decisão justa. Dessa maneira, para que haja efetividade de acesso à

justiça é de grande importância que os três poderes estejam envolvidos, quais sejam: o Poder

Executivo, Legislativo e Judiciário.

É notório, que nos dias atuais existe uma grande demanda processual, diante disso, as

pessoas economicamente menos favorecidas tendem a abandonar seus processos, ou, até

mesmo realizar acordos de valor abaixo do direito que buscam conceber, visto que, não

possuem condições de aguardar a finalização de um processo.

Dessa maneira, as partes com recursos financeiros consideráveis possuem vantagem

dentro de um processo, pois, essas podem pagar para litigar, e ainda aguardar a finalização do

processo, sem que haja necessidade de fazer acordos não vantajosos. Além disso, fazer uma

defesa com melhores argumentos, o que para muitas pessoas não é possível, principalmente

quando procuram o Judiciário sem a constituição de um profissional técnico.

Dentre os diversos fatores que contribuem para que os processos possuam uma morosidade elevada inclui-se muitas vezes, o fato de alguns advogados inescrupulosos possuírem interesses por sua demora, e ainda o elevado número de recursos (SADEK, 1995, p.20), o que de fato, acontece atualmente.

Existem no sistema jurídico inúmeros recursos que podem ser interpostos dentro de

um processo. Alguns litigantes que podem pagar, contratam advogados para arrastar o

processo por anos, na contramão das pessoas que estão à margem da sociedade, uma vez que

não existe igualdade de armas.

Assim, não obstante as inúmeras reformas pactuadas frequentemente, é notável que

não se considera a participação da sociedade, mas tão somente os profissionais da área

jurídica, o que Bochenek (2013, p.240), define como uma “maquiagem” ou um “retoque de

maquiagem” usada para disfarçar, o que não se pode sustentar somente com a criação de leis.

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Nesse raciocínio, o Estado precisa criar alternativas para se construir um acesso

efetivo aos direitos e à justiça. De nada adianta o indivíduo poder ajuizar ação a qualquer

momento, se não tem a satisfação real dos seus direitos. Se o processo não foi justo, finalizado

com um tempo razoável, não se pode dizer que houve a concessão do direito na sua plenitude.

O acesso à justiça é bem mais amplo do que, o acesso ao poder judiciário, o fato de

existir um elevado número de processos não quer dizer, que o Estado possa garantir o acesso à

justiça, pois, somente existem demandas quando algum direito foi violado e por alguma razão,

não foi possível a resolução desse conflito.

Nessa linha de raciocínio, nota-se que o Estado precisa estudar e apresentar meios

que possam garantir a qualquer pessoa, um processo justo, não apenas com a criação de leis,

mas, também se ocupe em fiscalizar a sua correta aplicação.

Portanto, verifica-se que o pleno acesso à justiça exige mais do que previsão legal,

muitas vezes inaplicáveis, mas, trazidas ao mundo jurídico com o fim único de superar a mera

apologia de retóricas e transformar as aspirações em realidade.

Nesse liame, não basta conceder ao indivíduo a capacidade de demandar em juízo,

necessário se faz, que haja um profissional com conhecimentos técnicos que possa auxiliar às

partes na busca dos seus direitos, o que viabiliza o verdadeiro acesso à justiça e não, o mero

acesso ao judiciário.

1.4 O exercício da Advocacia

Como sabido, no Brasil, o monopólio da jurisdição é prestado diretamente pelo

Estado. Assim, incumbe a este oferecer um advogado àqueles que não possuem condições

financeiras para arcar com os custos de um profissional habilitado.

Em regra, o advogado é indispensável para que se possa demandar em juízo,

conforme consta no artigo 133 da Constituição Federal de 1988, que assim dispõe: “O

advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e

manifestações no exercício da profissão, nos limites da lei”.

Portanto, quando houver dispensa da constituição de um advogado, esta será sempre

trazida de forma expressa na lei, a exemplo do que ocorre nas ações trabalhistas até a

interposição do recurso ordinário, conforme artigo 791 da Consolidação das Leis Trabalhistas

(CLT) e nos Juizados Especiais do Estado, estes, somente no primeiro grau de jurisdição e nas

causas cujo valor não ultrapasse 20 salários mínimos, e de 60 salários mínimos nas ações dos

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Juizados Federais e na Fazenda Pública. Trata-se do Jus Postulandi, instituto que será adiante

tratado.

Nesse liame, é de grande relevância que o Estado preste o serviço técnico jurídico,

visto que, a maioria das pessoas que procuram o judiciário sem a presença de um advogado

não possuem conhecimento suficiente para se defender dentro de um processo, sendo díspares

e de notório prejuízo, quando a outra parte estiver acompanhada de um profissional técnico.

Por outro lado, tem-se que a advocacia pública é essencial na prestação de serviços

àqueles que não possuam condições para manter um advogado, mesmo que haja a

possibilidade de demandar em juízo sem a presença desse.

1.4.1 Defensoria Pública Estadual

O direito de acesso à justiça recebeu mais ampliação e tornou-se democrático, com o

advento das defensorias públicas da União e dos estados, previstas no texto constitucional de

1988, e regulamentadas pelas Leis Complementares nº 80, de 12 de janeiro de 1994 e nº 98,

de 3 de dezembro de 1999.

Trata-se uma instituição criada com a função de prestar orientações e defesa dos

direitos das pessoas menos favorecidas econômico, social e culturalmente, conforme dispõe o

artigo 134, caput, da Constituição Federal, in verbis:

A defensoria pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma do inciso LXXIV do art. 5º da constituição federal (BRASIL, 1988).

Diante do disposto no texto acima, pode-se notar que a defensoria pública é essencial

para a defesa dos direitos e da busca pela concretização e efetivação do acesso à justiça e tem

como objetivo propiciar as condições de acesso aos direitos em todos os níveis. Assim, os

menos favorecidos podem requerer seus direitos por meio da Defensoria Pública, seja judicial

ou extrajudicialmente.

Dessa maneira, a Defensoria tenta acabar com a desigualdade de armas ao prestar

orientação gratuita aos menos favorecidos economicamente, sempre com vistas à construção

de uma sociedade democrática.

Citada instituição defensora é composta por um corpo de advogados públicos, que

são selecionados por intermédio de concurso público. No entanto, a tentativa de prestar uma

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assistência totalmente gratuita e a qualquer pessoa, encontra óbice na quantidade de

demandas, pelo número de pessoas que buscam o atendimento, situação em que o juiz poderá

nomear advogado voluntário ou pago pelo Estado, com o objetivo de não deixar a parte

desassistida e assim obter um apoio jurídico.

Contudo, visto que, apenas a existência de um órgão que permita a busca de direitos

pelas pessoas, não é suficiente para garantir um efetivo acesso à justiça, em face da grande

demanda, para evitar que muitos desistam antes mesmo de serem atendidos, necessário se faz

que o Estado procure criar mecanismos que garantam, de fato, essa acessibilidade.

É sabido que a Defensoria, em tese, não pode atuar como uma “falsa” ideia de

justiça, pois, resta imperioso assegurar sempre que os direitos dos cidadãos que procuram o

Estado estão sendo tratados com zelo.

Nessa linha, Bochenek (2013, p. 243), entende que o Poder Judiciário não deve

solicitar a participação de um advogado apenas, para cumprimento de uma exigência legal. É

necessário que esse advogado conheça do processo e faça a defesa do litigante

independentemente se recebe ou não a remuneração.

Pela assertiva supra, resta, que a nomeação do advogado, ainda que, ad hoc, exige

que este ofereça defesa à parte que lhe cabe defender, nos limites e qualidades necessárias.

Segundo Santos (2011, p.20), a Defensoria Pública é essencial na busca do acesso aos direitos

e à justiça, sendo primordial o papel do Defensor na instrução aos assistidos.

Assim, percebe-se que, o advento da advocacia pública permitiu maior acessibilidade

dos hipossuficientes ao judiciário, bem como uma melhor defesa dos direitos, durante a

instrução processual.

1.4.2 Defensoria Pública da União (DPU)

Citada defensoria foi criada por meio da Lei Complementar nº 80, de 12 de janeiro

de 1994 e possui como função jurisdicional, a representação dos hipossuficientes nos assuntos

que compete a União em todas as instâncias, (Justiça do Trabalho, Justiça Eleitoral, Justiça

Militar, Tribunais Superiores), bem como na Administração Pública Federal, seja direta ou

indiretamente.

Dentre as principais atividades da Defensoria Pública da União (DPU) estão as

relacionadas à saúde, educação, Previdência Social, ações coletivas da área penal, assim como

em outras matérias, por exemplo, a demarcação de terras indignas e questões ambientais.

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Nesse sentido, as Defensorias Públicas funcionam como um “pronto-socorro” na

assistência pertinente a defesa dos direitos previstos em lei, e, ainda, segundo Santiago (2007,

p.89), é função da DPU resolver questões extrajudicial ou judicialmente.

Sendo assim, pode-se perceber que a Defensoria Pública da União é de suma

importância no que se refere à garantia do direito constitucional do indivíduo, no acesso à

justiça.

1.4.3 Da Advocacia Privada

Conforme mencionado em linhas anteriores, a Constituição Federal de 1988, dispõe

em seu artigo 133, sobre a indispensabilidade do advogado, do mesmo modo a Lei nº

8.906/1994 que instituiu o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil,

estabelece que é atividade privativa da advocacia privada, a postulação em órgãos do Poder

Judiciário e nos Juizados Especiais.

Assim, para que a parte possa ingressar em juízo é necessário ter outorgado

procuração a um advogado, legalmente habilitado, o qual, poderá em nome do outorgante

praticar os atos processuais, salvo as situações que permitem a postulação por meio do Jus

Postulandi.

Dessa maneira, pode-se considerar que a advocacia é primordial, visto que exerce

função social e é defensora do estado democrático de direito, da cidadania, da moralidade

pública, da justiça e da paz.

Portanto, trata-se de um instituto essencial a realização da Justiça, haja vista que

possui, acima de tudo, uma função social com a finalidade de trazer maior efetivação no que

se refere ao acesso à justiça.

1.4.4 Núcleos de prática jurídica dos cursos de Direito

Os núcleos de práticas do curso de Direito desenvolvem um papel significativo na

garantia de acesso à justiça aos hipossuficientes. Suas funções podem ser equiparadas às da

própria Defensoria Pública, uma vez que prestam assistência gratuita aos que comprovem

vulnerabilidade econômica.

É sabido que as Defensorias Públicas não conseguem atender a todos que a

procuram, sendo assim, é primordial o auxílio prestado pelas faculdades de Direito, por meio

dos núcleos de prática. Nessa esteira, esclarecem Colombari e Cunha (2011), como segue:

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Tem-se que os núcleos de prática jurídica, por uns chamados de assistência judiciária ou assessoria jurídica popular, são instrumentos eficazes para o acesso à justiça. Pois, ocupam um vazio deixado pelo Estado. Assim, os referidos órgãos são para os alunos o elo de ligação entre a teoria e a prática, e para a população uma forma de verem realizada a justiça e respeitados seus direitos. Todavia, são muito mais que isto, representam uma forma de promover a emancipação social, a efetividade dos direitos humanos e de promover a cidadania (COLOMBARI; CUNHA, 2011, p.16)

Conforme o texto acima, os núcleos de práticas são instrumentos eficazes na

efetividade do acesso à justiça e possuem além de um requisito necessário para formação

acadêmica, uma função social, pois, contribuem para preencher a lacuna deixada pelo Estado.

Nesse contexto, além dos alunos cumprirem um requisito exigido pelas faculdades,

podem colocar em prática a teoria aplicada pelas instituições de ensino e assim, colaborar para

a garantia da efetividade de acesso aos direitos da população carente.

Diante de todo o exposto, tem-se que este primeiro capítulo discorre sobre o acesso à

justiça, sua forma, evolução histórica, as ondas renovatórias de Cappelletti e Garth , o

exercício da advocacia pública nas suas diversas esferas, bem como, a advocacia privada e os

núcleos de práticas do curso de Direito.

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2 JUS POSTULANDI

2.1 Conceito

Trata-se de um instituto que tem como objetivo garantir o direito de postular em juízo in

causa própria, ou seja, é a prerrogativa jurídica que tem o cidadão de postular uma ação

pessoalmente, sem a necessidade de constituir um advogado ou qualquer outro profissional

legitimado e habilitado por força de lei.

Segundo Martins (2010, p. 185), “o Jus Postulandi é uma locução latina que indica o

direito de falar, no processo, em nome das partes, que diz respeito ao advogado”.

Dessa forma, ao fazer uma análise da construção jurídica a respeito do Jus Postulandi,

nota-se que este originou-se no Direito Romano e Grego. Segundo consta, na antiga Grécia,

qualquer pessoa poderia ingressar com ações no poder judiciário, e tal prerrogativa era

desenvolvida pelos próprios interessados, exceto, quando se tratava de litigância temerária.

Cabe mencionar, que a litigância temerária ocorre quando o advogado em extrema

concordância do cliente, altera os fatos ocorridos para propor ação processual. Conforme o

artigo 3º, §3 do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (EOAB), o advogado será

solidariamente responsável com seu cliente, o que será apurado em ação própria.

A figura do advogado não existia, entretanto, caso a parte desejasse poderia fazer uso

do auxílio dos logógrafos ou dos Sinégoras. Neste sentido, Silva (2007), assim, esclarece:

O logógrafo era uma pessoa especializada em redigir defesas forenses, que podia ser utilizada pela parte que se julgasse incapaz de defender-se sozinha. Entretanto, sua atuação era restrita à redação, devendo o litigante decorar o texto e recitá-lo em juízo, já que somente as próprias partes eram admitidas para manifestar-se durante o julgamento. O sinégora era uma pessoa amiga da parte, dotada de maior eloquência, que podia, mediante autorização do tribunal, ajudar, ou substituir o litigante, sem conotação profissional ou remuneração (SILVA, 2007, p. 26).

Verifica-se, que de acordo com o inserte no texto acima, o logógrafo era uma pessoa,

normalmente utilizada pelo litigante que não se sentia apto a defender-se sozinho, sua atuação

era restrita à criação do texto que deveria ser lido pela parte em sua defesa, uma vez que não

era admitido terceiro fazer defesa em juízo.

Por outro lado, o Sinégora era uma pessoa geralmente amiga da parte com maior

poder de persuasão que, mediante autorização do tribunal poderia ajudar ou substituir a parte,

nota-se que, por não existir o advogado a própria pessoa se defendia em juízo, portanto, trata-

se do Jus Postulandi.

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Na legislação brasileira, o instituto do Jus Postulandi surgiu com a finalidade de

beneficiar a parte que não possui condições financeiras de arcar com honorários de advogado

e para ter seus direitos garantidos de forma mais célere, referido instituto encontra respaldo

em diversos dispositivos de lei.

É importante mencionar, que o Jus Postulandi dispensa não apenas a necessidade de

advogado, mas, também do defensor público ou qualquer outro profissional do direito

habilitado. Entretanto, Menegatti (2011, p.20) entende que o referido instituto não permite a

capacidade postulatória, mas, tão somente, a dispensa do profissional, pois, na sua visão,

postular em juízo é ato exclusivo do advogado.

Assim, como já referido, nos Juizados Especiais Cíveis estaduais e federais o Jus

Postulandi também é possível na justiça do trabalho e em outras situações.

Dessa maneira, citado Instituto, não se confunde com a capacidade postulatória, que

é a possibilidade de postular em nome próprio, um direito alheio, condição ímpar dos

profissionais habilitados.

Nesse sentido, Theodoro Júnior (2014, p.92) afirma que:

Não se confunde a capacidade processual, que é a aptidão para ser parte, com a capacidade de postulação, que vem a ser a aptidão para realizar os atos do processo de maneira eficaz. A capacidade de postulação em nosso sistema processual compete exclusivamente aos advogados, de modo que é obrigatória a representação da parte em juízo por advogado legalmente habilitado (art. 36). Trata-se de um pressuposto processual, cuja inobservância conduz à nulidade do processo (art. 1º e 3º, da Lei 8.906, de 04.07.1994.).

Mediante o que trata o texto acima, percebe-se que a capacidade postulatória

pertence apenas, aos profissionais legalmente habilitados e inscritos nos quadros da Ordem

dos Advogados do Brasil ou profissionais da Defensoria Pública e Ministério Público.

No mesmo prumo esclarece Soares (2004),

Cumpre salientar a diferença entre ius postulandi e capacidade postulatória. Conforme Leal (1999), ius postulandi constitui-se na capacidade da partepostular ou deduzir a sua pretensão em juízo. Já a capacidade postulatória constitui-se da capacidade constitucionalmente atribuída ao advogado, direito fundamental, de exercer o direito de postulação em juízo do direito da parte lesada ou ameaçada (SOARES, 2004, p.79).

Desse modo, nos limites da assertiva retromencionada, o jus postulandi

diferentemente da capacidade postulatória pode ser exercido por qualquer pessoa, de maneira

que é possível a postulação leiga, onde os litigantes podem requerer direito próprio sem

necessidade ou obrigação de ser representado por um profissional qualificado.

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Logo, esse instituto possui como finalidade dar maior acessibilidade à justiça, visto

que pode ser utilizado até mesmo por pessoas não alfabetizadas, como ocorre na justiça do

trabalho, onde a reclamação pode ser feita oralmente e depois levada a termo, nas Varas do

Trabalho.

Como já citado, o artigo 133 da Constituição Federal, assegura a indispensabilidade e

inviolabilidade dos atos e manifestações do advogado no exercício da profissão. No mesmo

sentido, é o artigo 2° da Lei n° 8.906/94 que dispõe sobre o Estatuto da Ordem dos

Advogados do Brasil e estabelece que são atividades privativas da advocacia, a postulação em

qualquer órgão do Poder Judiciário e nos juizados especiais.

Nesse liame, ao discorrer sobre a necessidade do advogado no sistema jurídico

brasileiro, as autoras Ferreira e Campos (2011) revelam:

Em que pese a importância do princípio da indispensabilidade do advogado, este não é absoluto, sendo que em determinadas ocasiões definidas em lei, confere-se à pessoa que não tem conhecimento técnico o direito de postular em juízo por conta própria, sem a participação de advogado, como ocorre na justiça voluntária, no “habeas corpus”, no direito do trabalho e nos juizados especiais cíveis e federais (FERREIRA; CAMPOS, 2011, p.20).

Nesse contexto, com base nos dispositivos que exigem a presença do advogado em

qualquer esfera, a constitucionalidade do Jus Postulandi passou a ser questionada. Diante da

controvérsia, em 1994, o Supremo Tribunal Federal (STF), foi provocado por via da Ação

Direta de Inconstitucionalidade (ADI) nº 1.127-8, proposta pela Associação dos magistrados

do Brasil, a qual, tinha como objetivo, a suspensão de alguns dispositivos do Estatuto da

Advocacia, Lei nº 8.906/94.

Colhe-se do trecho da decisão resolvida preliminarmente, o seguinte:

Resolvendo QUESTÃO DE ORDEM suscitada pelo relator, o tribunal reconheceu a prevenção da competência do Ministro Paulo Brossard, como Relator, vencido o Ministro Marco Aurélio, que negava a existência dessa prevenção. Por votação UNÂNIME, o Tribunal rejeitou a preliminar de ilegitimidade ativa da Associação dos Magistrados Brasileiros- AMB (autora), e também a preliminar de falta de legitimidade ativa por impertinência objetiva, vencido o Ministro Marco Aurélio, suscitante. Examinado o inciso 00I do art. 1º da Lei nº 8906, de 04.07.94, o Tribunal, por MAIORIA DE VOTOS, DEFERIU, EM PARTE, o pedido de medida liminar, para suspender a eficácia do dispositivo, no que não disser respeito aos Juizados Especiais, previstos no inciso 00I do art. 098, da Constituição Federal, excluindo, portanto, a aplicação do dispositivo, até a decisão final da ação, em relação aos Juizados de Pequenas Causas, a Justiça do Trabalho e a Justiça de Paz , vencidos, em parte, os Ministros Sepúlveda Pertence, Sydney Sanches e Moreira Alves, que interpretavam o dispositivo no sentido a execução apenas no tocante ao Juizados de Pequenas Causas, e o Ministro Marco Aurélio, que indeferia o pedido de medida liminar (BRASIL, 2006).

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Mediante a análise do referido texto, a decisão final de mérito no que diz respeito ao

inciso I do artigo 1º da Lei 8.906/94, foi procedente de forma parcial, isso porque, a alegação

de inconstitucionalidade da expressão “juizados especiais” foi julgada improcedente, mas, em

relação a expressão “qualquer” foi julgada procedente.

Diante do julgado, o inciso I do artigo 1º, da Lei 8.906/94, passou a ter a seguinte

redação: “São atividades privativas de advocacia: I – a postulação a órgão do Poder Judiciário

e aos juizados especiais”.

Dessa feita, resta que foi sábia a decisão do STF, quando, com o intuito de facilitar o

acesso ao Poder Judiciário optou pela manutenção do Jus Postulandi, uma vez que os custos

para a contratação de um profissional habilitado se tornam exorbitantes para as partes

hipossuficientes.

Cumpre ainda mencionar, o posicionamento do ex-Ministro Superior do Trabalho e

atual Ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Mendes de Farias Mello, posto a

sua experiência perante a Justiça Especializada, conforme segue:

Outra grande discussão entre aqueles que militam na Justiça do Trabalho surgiu da previsão contida no art. 133 da Constituição de 1988, no que revelou ser o “advogado indispensável à administração da Justiça”. Indagava-se sobre a revogação, ou não, do jus postulandi conferido às partes no processo do trabalho, assim estabelecido pelo art. 791 da Consolidação das Leis do Trabalho: “os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar suas reclamações até o final”. Posicionei-me no sentido da revogação. Em Plenário, no Supremo, por ocasião do julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.127-0/DF, ajuizada em face de dispositivos da Lei nº 8.906/94, o denominado Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, sustentei que o disposto no art. 133 da Constituição não inviabilizaria o acesso ao Judiciário, ao contrário, iria torná-lo mais seguro, porquanto o Direito é uma ciência e, enquanto tal, os institutos, as expressões, os vocábulos têm sentido próprio, devendo ser articulados por profissional especializado, o advogado. Tanto é assim que, no rol das garantias constitucionais, estabeleceu-se ser obrigação do Estado prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos – inciso LXXIV do art. 5º da Carta Política de 1988. Relatei minha experiência perante a Justiça do Trabalho, por quinze anos, na qual pude comprovar que, na prática, a capacidade postulatória não se revertia em prol do empregado. Ao reverso, terminava gerando massacre técnico. Sensíveis a essa situação, os Juízes de primeiro grau, notando o desequilíbrio quanto à atuação das partes, e numa visão prognóstica relativamente ao desenrolar do processo, optavam por suspender a audiência e determinar ao reclamante que se dirigisse ao sindicato que congregava a categoria profissional, a fim de resguardar o direito pleiteado. A tese por mim veiculada não prevaleceu. O Tribunal firmou o entendimento segundo o qual permaneceram em vigor os dispositivos legais que concedem capacidade postulatória à própria parte em ação judicial, assim conferida em caráter excepcional, em razão de especial condição de presumida inferioridade jurídico-econômica ou mesmo ante a inviabilidade ou dificuldade de acesso ao profissional da advocacia. No processo objetivo mencionado, o Supremo deferiu a liminar para suspender a eficácia do disposto no art. 1º, inciso I, da Lei nº 8.906/94, entendendo-o inaplicável aos Juizados de Pequenas Causas, à Justiça do Trabalho e à Justiça de Paz (MELLO, 2011, p.7)

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O texto ora mencionado, cuida da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) n°

1.127, já tratada em linhas anteriores, onde o Ministro Marco Aurélio se posicionou pela

revogação do Jus Postulandi, e relatou também a sua experiência durante 15 anos na Justiça

do Trabalho.

Conforme destacado pelo Ministro, a capacidade postulatória não se revestia a favor

do empregado, mas, gerava um massacre técnico, o que na maioria das vezes, o magistrado

diante do desequilíbrio entre as partes se via obrigado a suspender a audiência e determinar ao

empregado que procurasse o sindicato da categoria profissional.

Nessa senda, o Ministro se posicionou em desfavor da possibilidade do Jus

Postuladi, mas, sua tese não prevaleceu. Desse modo o citado instituto continua a vigorar.

Sendo assim, verifica-se que em certos atos jurisdicionais, o advogado pode ser

dispensado. Nesta esteira, é o posicionamento de Renato Saraiva, senão veja-se:

No entanto, o Supremo Tribunal Federal concedeu liminar em 06/10/1994, nos autos da ADIN número 1.127-8 proposta pela Associação dos Magistrados do Brasil – AMB, decidindo, que a capacidade postulatória do advogado não é obrigatória nos juizados de pequena Causas (atualmente juizados especiais), na justiça do trabalho e na chamada justiça de paz, podendo as partes nesses casos exercer diretamente o jus postulandi (SARAIVA, 2009, p.243).

Em análise do texto acima, resta anotado que o STF manteve em parte o Jus

Postulandi ao retirar a obrigatoriedade do advogado na postulação de demandas junto aos

juizados especiais, na Justiça do Trabalho e na chamada justiça de paz.

De outra sorte, alguns autores consideram o advogado como sendo fundamental à

administração da justiça, pois, entendem que para ter um acesso amplo à justiça é necessário

não apenas existir norma que possibilite a utilização do Jus Postulandi, mas, também

assistência e defesa técnica de qualidade, realizada por profissional legalmente habilitado.

Nesse prumo, Menegatti (2011, p.85) entende ser primordial a presença do advogado

para postular em juízo, pois, o ordenamento jurídico brasileiro é complexo, e possui vários

dispositivos legais tanto de direito material quanto processual, o que dificulta quem não tem

conhecimento técnico fazer sua defesa em juízo.

Entendimento este compartilhado por outros doutrinadores, como Calmon de Passos

(1985, p.67), quem anota que a falta de conhecimento e instruções técnicas dificultam a

obtenção de êxitos nas pretensões, quando o acesso ao judiciário ocorre desacompanhado de

um profissional habilitado.

Page 29: ulbra-to.br · Web viewEntretanto, logo após a criação da Justiça do Trabalho, foi criado em 1943, por intermédio do Decreto-Lei nº 5.452, a Consolidação das Leis trabalhistas,

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Além dessa defesa da postulação pelo advogado acima, outros doutrinadores

entendem ainda que a presença do advogado deveria ser obrigatória independente do interesse

profissional da categoria, dentre os quais tem-se o raciocínio de Borring (2002), como segue:

A presença de advogado deveria ser obrigatória não pelo interesse profissional da categoria, mas porque a maioria das pessoas não tem condições de promover adequadamente seus interesses em juízo, não apenas as mais humildes, pois mesmos aquelas que têm um nível cultural social elevado não sentem seguras para desempenhar uma função que é própria de um técnico capacitado (BORRING, 2002, p. 88).

Diante da assertiva, percebe-se que a força postulatória por advogado independente

de preterir ou não o interesse da classe, tem como âncora, tão somente, a necessidade de uma

defesa adequada tecnicamente para o caso em litígio, sendo o pensar do autor do texto ora em

destaque, que a falta de conhecimento técnico, qualidade que independe de condição

financeira ou do nível cultural do demandante, acarreta como regra, a perda de um direito.

Por outro lado, o professor Fonseca (1993, p.50) entende que o Jus Postulandi, não

pode ser negado àqueles que não possuem condições financeiras para arcar com os custos de

um advogado.

Por essa razão, considera tal instituto como essencial no acesso à justiça. Ocorre que,

o instituto do Jus Postulandi não pode promover apenas um mero acesso aos órgãos do Poder

Judiciário e sim uma garantia constitucional que o cidadão tem para de forma pessoal buscar

os seus direitos junto aos órgãos competentes.

2.2 Possibilidade do Jus Postulandi na Justiça Brasileira

A presença do advogado em qualquer ato do processo é fundamental para efetivação

do acesso à justiça, por tal razão, como já tratado em linhas anteriores, a Constituição Federal

de 1988, em seu artigo 133, preceitua a indispensabilidade do advogado para administração da

justiça.

Nessa linha de raciocínio, a postulação por advogado regularmente inscrito na

Ordem dos Advogados do Brasil, se dá em qualquer esfera do Direito, tendo em vista que o

advogado é essencial para que se tenha um acesso aos direitos de forma mais justa e

igualitária.

Entretanto, como já ressaltado, tal regra não é absoluta, posto que, o ordenamento

jurídico brasileiro permite a postulação em juízo pelo próprio litigante, ou seja, sem a

presença de defesa técnica.

Page 30: ulbra-to.br · Web viewEntretanto, logo após a criação da Justiça do Trabalho, foi criado em 1943, por intermédio do Decreto-Lei nº 5.452, a Consolidação das Leis trabalhistas,

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Desse modo, será examinado o instituto do Jus Postulandi em três situações

específicas, quais sejam: Justiça do Trabalho, Credor alimentício, bem como, nos Juizados

Especiais Cíveis Estaduais, o que será tratado apenas no último capítulo.

É válido ressaltar, que a postulação em juízo sem intermédio de advogado está

prevista no ordenamento jurídico brasileiro tanto nos exemplos acima citados, como também,

nas ações acidentárias, nas ações de Habeas Corpus, previsto no artigo 5º, inciso LXVIII, da

Constituição Federal de 1988, no artigo 654, caput do Código de Processo Penal e nas ações

perante os Juizados Especiais Federais no que se refere ao credor de alimentos.

Antes de adentrar no assunto relacionado à possibilidade do Jus Postulandi na justiça

brasileira, necessário se faz tecer uma breve explanação sobre a legitimidade ordinária e

extraordinária.

2.3 Legitimidade Ordinária

O ordenamento jurídico brasileiro confere ao cidadão titular do direito a

possibilidade de buscar amparo jurisdicional quando esse considerar que teve seu direito

lesado. Desse modo, poderá se defender ou ajuizar ação, com ou sem advogado.

Como regra, somente o titular do direito material é que pode pleiteá-lo em juízo,

pois, esse, em tese, é quem melhor sabe se convém ou não o reclamar. Entretanto, existem

algumas exceções, como por exemplo, quando o titular é menor, neste caso, os pais ou seus

representantes legais podem requerer em juízo, o direito que pertence ao filho ou ao seu

tutelado.

2.4 Legitimidade Extraordinária

Trata-se de alguém que autorizado por lei, pode ir a juízo postular, em nome próprio,

direito alheio. Ocorre, portanto, uma substituição processual, onde um terceiro impetra ação

judicial, da qual ele não é o titular do direito.

Todavia, tanto na legitimidade ordinária, quanto na extraordinária é necessário a

representação legal do titular do direito, independentemente se for realizado por ele próprio

ou por terceiro.

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2.5 Justiça do Trabalho

Trata-se de uma justiça especializada, caracterizada pela sua celeridade,

informalidade, ausência de burocracia e simplicidade, cuja finalidade é resolver as questões

trabalhistas.

Criada em 1941, contudo, a justiça do trabalho somente passou a integrar o Poder

Judiciário com o Decreto-Lei nº 9.777, de 1946, antes adotada apenas, como uma subdivisão

da esfera administrativa no Brasil.

A esse respeito, bem sintetizou Sussekind, Bonfim; Piraino (2009), conforme o

abaixo transcrito:

Quando da instalação da Justiça do Trabalho em 1941, ainda sob a esfera administrativa, deferiu-se às partes o direito de, pessoalmente, reclamar, defender-se e acompanhar a causa até o seu final. Essa prerrogativa justificava-se por se tratar então de uma Justiça administrativa, gratuita, regida por um processo oral, concentrado, e a ela serem submetidos, quase exclusivamente, casos triviais, tais como horas extras, anotações de carteira, salário, férias, indenização por despedida injusta. O órgão era constituído, no país, de oito regiões e, no Rio de Janeiro, apenas de seis Juntas de Conciliação (SUSSEKIND; BONFIM; PIRAINO, 2009, p. 52).

Conforme o inserte no texto retro, o jus portulandi na Justiça Trabalhista tinha como

objetivo dentre outros, a celeridade, bem como a informalidade, posto que, se tratava de um

instituto utilizado nas questões simples e em âmbito administrativo, portanto, dispensável a

intervenção técnica.

Entretanto, logo após a criação da Justiça do Trabalho, foi criado em 1943, por

intermédio do Decreto-Lei nº 5.452, a Consolidação das Leis trabalhistas, que passou a definir

as regras do Direito do Trabalho, tanto material quanto processual, sendo o Código de

Processo Civil, adotado de forma subsidiaria.

Verifica-se que desde então foi facultado às partes, a procurar a Justiça do Trabalho

desacompanhadas de advogado, uma vez que, as causas eram simplórias e de menor

complexidade, assim, não seria necessário que as partes comparecessem em juízo

acompanhadas de um profissional técnico, conforme dispõe o artigo 791 da Consolidação das

Leis Trabalhista, como segue:

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final. § 1º - Nos dissídios individuais os empregados e empregadores poderão fazer-se representar por intermédio do sindicato, advogado, solicitador, ou provisionado, inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil. § 2º - Nos dissídios coletivos é facultada aos interessados a assistência por advogado

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§ 3o - A constituição de procurador com poderes para o foro em geral poderá ser efetivada, mediante simples registro em ata de audiência, a requerimento verbal do advogado interessado, com anuência da parte representada. (Incluído pela Lei nº 12.437, de 2011).Art. 839 - A reclamação poderá ser apresentada:a) pelos empregados e empregadores, pessoalmente, ou por seus representantes, e pelos sindicatos de classe;b) por intermédio das Procuradorias Regionais da Justiça do Trabalho (BRASIL, 1943).

Ante o dispositivo legal ora apreciado, nota-se que pelo caráter protecionista da

Justiça laboral, as reclamações podem ocorrer por ambas as partes, pessoalmente, ou por seus

representantes e ainda, pelos sindicatos de classe e pelas Procuradorias Regionais do

Trabalho, portanto, sem maiores entraves.

É importante mencionar, que o Jus Postulandi na Justiça do Trabalho,

diferentemente dos Juizados Especiais não se limita ao valor da causa.

Entretanto, com o desenvolvimento social e econômico do país a Justiça do Trabalho

passou por diversas alterações e tornou-se mais complexa e técnica. Dado isso, surgiram

vários questionamentos em relação à possibilidade do Jus Postulandi na referida justiça,

sobretudo, após a promulgação da Constituição da República do Brasil de 1988, que

estabeleceu em seu artigo 133, que o advogado é indispensável à administração da justiça.

A Emenda à constituição nº 45, de 2004, também trouxe mudanças significativas

para a Justiça do Trabalho, ampliou a sua competência e ações que antes eram julgadas pela

Justiça Comum, passaram a ser tratadas diretamente na Justiça do Trabalho.

Além disso, como já frisado em linhas anteriores, o Estatuto da Advocacia Lei nº

8.906/94, artigo 1º, I elencou a “postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário” como uma

das atividades privativas da Advocacia, o que ocasionou diversos questionamentos, quanto ao

referido instituto, de forma que houve grandes debates por estudiosos acerca da possível

revogação do Jus Postulandi.

Nesse sentido, Pimenta (2005, p.128) se posicionou, nos termos seguintes:

É preciso observar, no entanto, que a possibilidade de atuar em juízo pessoalmente tem sido tradicionalmente considerada como uma das mais importantes medidas de ampliação do acesso à justiça para os jurisdicionados em geral e uma das notas características positivas da própria Justiça Laboral, sendo no mínimo paradoxal que as pequenas causas de valor até 20 (vinte) salários mínimos, que nos Juizados Especiais Cíveis também não contam com patrocínio obrigatório de advogados (art. 9º da Lei nº 9.099/95), passam a exigi-lo apenas porque passaram para a competência material da Justiça do Trabalho (PIMENTA, 2005, p. 128).

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Pode-se verificar, portanto, no texto em análise, que o autor considera a possibilidade

de atuar em juízo pessoalmente na Justiça Laboral e bem assim, nos Juizados Especiais, como

uma das mais importantes medidas de ampliação do acesso à justiça.

De igual modo, Moraes (2007), esclarece que:

O princípio constitucional da indispensabilidade da intervenção do advogado, previsto no artigo 133 da Carta Maior, não é absoluto. Assim, apesar de constituir fator importantíssimo a presença do advogado no processo, para a garantia de direitos e liberdades públicas previstos na Constituição Federal e em todo ordenamento jurídico, continua existindo a possibilidade excepcional da lei outorgar o ius postulandi a qualquer pessoa (MORAES, 2007, p. 613).

Conforme a assertiva em apreço, verifica-se que o princípio constitucional da

indisponibilidade da intervenção do advogado não é absoluto, embora importante na garantia

de direitos e liberdade, continua a excepcionalidade da lei em aplicar o Jus Postulandi à

qualquer pessoa e nessa seara, não importa a sua capacidade técnica.

Por outro lado, Nascimento (2009), entende que o instituto do Jus Postulandi não

deve permanecer, como se pode verificar no texto abaixo transcrito:

A presença do advogado torna a comunicação com o juiz mais fácil, uma vez que a capacidade técnica conduz o litigio em padrões jurídicos e promove a adequada composição da lide e, consequentemente a melhor solução segundo o ordenamento jurídico. A parte que diretamente defende os seus direitos não consegue como quase sempre ocorre dominar os aspectos emocionais que podem comprometer o exame da questão. Há questões jurídicas complexas cuja solução depende de formação jurídica, uma vez que envolvem conceitos técnicos que não são conhecidos pelo leigo, inclusive interpretação de matéria constitucional, bem como de problemas quase sempre delicado de natureza processual (NASCIMENTO, 2009, p. 446).

Dessa maneira, percebe-se que o autor considera que a presença do advogado torna

mais fácil a comunicação com o juiz, posto que, se trata de questões técnicas e quase sempre

de difícil entendimento pelo leigo.

Além disso, a parte que defende seus direitos pessoalmente não consegue na maioria

das vezes dominar aspectos emocionais, o que compromete o desenvolvimento do processo, e

ainda, há questões jurídicas complexas que necessitam de formação jurídica, tendo em vista,

que envolvem conceitos técnicos, inclusive de matéria constitucional e processual, que não

são de fácil entendimento, sobretudo pelo leigo.

Compartilha do mesmo modo de pensar, Giglio (2007), que acreditam ser inviável a

utilização do Jus Postulandi, conforme abaixo:

É fora de dúvida que a intervenção por meio de advogado é proveitosa para melhor ordenação e celeridade dos processos. A faculdade de requerer sem a intermediação de advogado outorgado as partes visou principalmente poupa-lhes os gastos com honorários, considerando, como regra, a insuficiência econômica do trabalhador.

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Seriam justificados, assim, os entraves do bom andamento do processual causado pela atuação pessoal das partes geralmente leigas em direito, sem auxílio de advogado (GIGLIO, 2007, p.121/122).

Na esteira da assertiva ora em destaque, os autores consideram que a intervenção por

meio do advogado é sem dúvida proveitosa para melhor ordenação e celeridade dos

processos, no entanto, na visão dos autores, a faculdade de requerer em juízo sem a

intermediação do advogado visou principalmente poupar as partes de pagamento de

honorários advocatícios e assim seriam justificados, os entraves do bom andamento

processual causado pela atuação das partes geralmente leigas.

De outro modo, a presença do advogado, facilita o andamento do processo, promove

a formação do contraditório, bem como coloca as partes de forma igualitária. Além do mais,

contribui para que os litigantes não percam direitos essenciais dentro do processo, em razão

de insuficiência de conhecimentos técnicos.

Dado isso, pode-se perceber que o entendimento em relação a possibilidade de

postulação sem advogado na Justiça do Trabalho possui inúmeros posicionamentos pró e

contra, onde alguns autores como mencionado, consideram que a prerrogativa de postulação

do citado instituto é um avanço no que se refere ao acesso à justiça, em contrapartida, outros

consideram que o Jus Postulandi dificulta a comunicação do juiz no processo.

Diante das controvérsias acerca do instituto do Jus Postulandi, o Tribunal Superior

do Trabalho (TST) editou a Súmula n° 425 com a finalidade de pacificar o entendimento em

relação ao referido instituto e delimitar sua aplicação, conforme abaixo:

O jus postulandi das partes, estabelecido no art. 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho ( TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO, 2010)

Assim, se um empregado pretende postular uma ação trabalhista em face do seu

empregador, poderá fazê-la sem constituir advogado e, caso a sentença lhe seja desfavorável,

no todo ou em parte, poderá interpor recurso ordinário para o TRT, ainda sem a necessidade

de estar representado por advogado.

Porém, se pretender recorrer do TRT para o TST, por meio do recurso de revista

deverá constituir patrono, haja vista, que o recurso citado é genuinamente técnico e por assim,

deve ser subscrito por quem esteja devidamente habilitado para tanto, assim, como qualquer

recurso que venha a tramitar no TST.

No entanto, é sabido que nem todas as Varas do Trabalho possuem estrutura

suficiente para atender todos os demandantes e fazer o devido processamento, por essa razão,

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alguns autores consideram que o instituto do Jus Postulandi na Justiça do Trabalho, muitas

vezes dificulta o efetivo acesso aos direitos.

Cumpre destacar que, mesmo com os vários obstáculos presentes no âmbito da

Justiça do Trabalho, ainda assim, o instituto do Jus Postulandi possui grande importância,

uma vez que o Estado não oferece auxílio aos mais necessitados nessa Justiça, cuja função

caberia a Defensoria Pública da União, mas, que na prática, não ocorre.

Deve-se registrar, que o direito de postular sem advogado na Justiça do Trabalho

possui total previsão legal, entretanto, é importante frisar, que o fato de existir norma que

permite tal instituto, não resolve por si só a lacuna deixada pelo Estado é necessário, portanto,

que as partes possuam orientações acerca dos seus direitos.

Com isso, mesmo que os litigantes façam uso do instituto do Jus Postulandi, é

importante que esses busquem auxilio no decorrer do processo, pois, alguns atos são

extremamente técnicos e a falta de orientação jurídica pode fazer com que o reclamante não

tenha a efetivação do seu direito.

2.5.1 Ação de alimentos

Referida ação está regulamentada pela Lei nº 5.478, de 1968, e a possibilidade de

postular sem advogado encontra respaldo no seu artigo 2º, onde tal possibilidade é trazida de

forma expressa, conforme segue:

O credor, pessoalmente, ou por intermédio de advogado, dirigir-se-á ao juiz competente, qualificando-se, e exporá suas necessidades, provando, apenas o parentesco ou a obrigação de alimentar do devedor, indicando seu nome e sobrenome, residência ou local de trabalho, profissão e naturalidade, quanto ganha aproximadamente ou os recursos de que dispõe (BRASIL, 1968)

Anota-se, portanto, que o credor de alimentos poderá ajuizar ação pessoalmente, ou

se quiser, constituir advogado. Entretanto, não é possível o uso do referido instituto na

execução de alimentos, seja para o requerimento de parcelas de longas datas (rito de penhora

de bens) ou requerimento das três últimas parcelas (rito da coerção corporal). Dessa forma,

fica claro que, quando se tratar de execução de alimentos, necessário se faz a constituição de

profissional habilitado, independentemente do valor da causa.

No mesmo sentido da execução de alimentos, a pretensão de alimentos gravídicos,

não pode ser exercida sem a constituição de advogado, uma vez que a Lei nº 11.804, de 2008,

não traz tal previsão. Sendo assim, a postulação sem advogado se restringe tão somente, para

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a ação de alimentos, onde esse direito pode ser exercido independentemente do valor da

causa, diferentemente do que ocorre nos Juizados Especiais Cíveis.

Como se sabe, a ação de alimentos possui rito especial, visto a urgência da matéria,

pois, a pessoa que busca alimentos não tem condições para esperar, por essa razão, se justifica

a possibilidade de ajuizar ação pessoalmente.

No entanto, a Lei nº 5.478, de 1968, no seu artigo 2º, parágrafo 3º não dispensa a

presença do advogado nos demais atos processuais. Assim, se o credor não indicar

profissional que deseja assisti-lo, o juiz designará desde logo, quem o deva fazer.

Dessa maneira, a dispensa do advogado é apenas em um primeiro momento, posto

que, o Estado deve proporcionar as partes hipossuficientes assistência técnica.

Como se percebe, embora haja prerrogativa do credor postular em juízo sem

constituir advogado, na prática, esse direito não é exercido, uma vez que os hipossuficientes

têm assistência jurídica prestada por Defensor Público, indicado pelo juiz.

Por todo exposto, resta que este capítulo tratou do Jus Postulandi, seu conceito e

possibilidade de aplicação na justiça brasileira, da legitimidade ordinária e extraordinária do

referido instituto, bem como sua utilização na Justiça do Trabalho e nas ações propostas pelo

credor de alimentos.

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3 JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS E CRIMINAIS ESTADUAIS

Trata-se de instâncias especiais cuja finalidade é o julgamento e a execução das

causas cíveis de menor complexidade, bem como para as infrações penais de menor potencial

ofensivo. Entretanto, o presente trabalho vai se ocupar apenas, dos Juizados Especiais Cíveis.

Referidos juizados foram criados pela Constituição Federal de 1988, que previu no

seu artigo 98, inciso I, sua instituição, nos termos abaixo transcrito:

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - Juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação (BRASIL, 1988).

Verifica-se que, na esteira da Constituição Federal, ao determinar a

institucionalização dos Juizados Especiais, o constituinte não o inseriu como órgão

especializado, mas sim, como um responsável pelo julgamento de causas de menor

complexidade, por meio de um rito diferente do previsto no Código de Processo Civil.

3.1 Juizados especiais de pequenas causas: Lei Federal Nº 7.244, de 7 de novembro de

1984

Trata-se de um ramo da justiça encarregado de apreciar e julgar as causas de menor

potencial ofensivo a direitos alheios e foram criados com a finalidade de desafogar as varas

comuns.

Nessa linha, é importante frisar, que antes da criação de tais juizados no âmbito da

Justiça estadual, as demandas de menor potencial ofensivo eram submetidas, aos juizados de

pequenas causas, regulados pela Lei nº 7. 244, de 7 de novembro de 1984.

Salienta-se que, a criação desses órgãos foi um marco na tentativa de ampliar o

acesso à justiça, haja visto, que na maioria das vezes, em face dos altos custos do processo, a

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morosidade e o excesso de formalismo as causas de menor complexidade não eram sequer,

levadas ao conhecimento do Poder Judiciário.

Cabe informar, que, a competência dos Juizados de Pequenas Causas envolviam as

demandas de pequeno valor, isto é, aquelas de até 20 (vinte) salários mínimos, porém, não

abrangiam causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública,

nem as relativas a acidentes do trabalho, as residuais e ao estado e capacidade das pessoas,

ainda, que de cunho patrimonial.

Ademais, eram norteados pelos critérios elencados no artigo 2º, da Lei

retromencionada, quais sejam: oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e

a celeridade, e buscavam sempre que possível, a conciliação das partes.

O referido diploma legal, Lei nº 7. 244/1984, como regra, previa a postulação em

juízo pessoalmente, portanto, a assistência por meio de advogado era tida como uma

possibilidade. Dessa forma, ficava a critério das partes o ingresso no judiciário por meio de

profissional técnico, como se pode anotar do dispositivo abaixo transcrito:

Art. 3º: Consideram-se causas de reduzido valor econômico as que versem sobre direitos patrimoniais e decorram de pedido que, à data do ajuizamento, não exceda a 20 (vinte) vezes o salário mínimo vigente no País e tenha por objeto: I – a condenação em dinheiro; II – a condenação à entrega de coisa certa móvel ou ao cumprimento de obrigação de fazer, a cargo de fabricante ou fornecedor de bens e serviços para consumo; III – a desconstituição e a declaração de nulidade de contrato relativo a coisas móveis e semoventes. § 1º Esta Lei não se aplica às causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, nem às relativas a acidentes do trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial; § 2º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação.Art. 2º O processo, perante o Juizado Especial de Pequenas Causas, orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando sempre que possível a conciliação das partes.Art. 9º As partes comparecerão sempre pessoalmente, podendo ser assistidas por advogado. § 1º Se uma das partes comparecer assistida por advogado, ou se o réu for pessoa jurídica ou firma individual, terá a outra parte, se quiser, assistência judiciária prestada por órgão instituído no Juizado Especial de Pequenas Causas, na forma da lei local; §2º Se a causa apresentar questões complexas, o juiz alertará as partes da conveniência do patrocínio por advogado; § 3º O mandato ao advogado poderá ser verbal, salvo quanto aos poderes especiais; §4º O réu, sendo pessoa jurídica ou titular de firma individual, poderá ser representado por preposto credenciado (BRASIL, 1984).

Ante o dispositivo exposto, observa-se que a Lei dos Juizados de Pequenas Causas

trouxe inúmeras inovações, como por exemplo, a postulação em juízo sem advogado, a

criação de instâncias recursais no seu âmbito, entretanto, não permitia demandas que tratem

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de estado da pessoa, alimentos, falência, fiscal e aquelas de interesse da Fazenda Pública,

além de preceituar que se o valor da causa for maior de 20 (vinte) salários mínimos e a parte

optar pelos Juizados, esta, automaticamente demonstra abdicar do valor excedente.

Desse modo, pode-se observar que a institucionalização do referido órgão representa

um avanço no que se refere ao acesso à justiça, todavia, verifica-se, que a simples positivação

dos direitos fundamentais no texto constitucional não é suficiente para o receptivo acesso ao

Poder Judiciário.

Anota-se, portanto, que os Juizados de Pequenas Causas tinham como público alvo,

os cidadãos que desejassem resolver questões mais simples, para as quais, não haveria a

necessidade de acionar a justiça comum.

Cumpre mencionar que a criação dos Juizados de Pequenas Causas teve como

inspiração o Small Claim Courts (juizados pequenos) de origem Americana, de Nova Yorque,

posto que, aquele seria apontado como o mais próximo da realidade brasileira.

A criação das Small Claim Courts possibilitou que a resolução dos pequenos

litígios e das causas de menor complexidade pudessem ser dirimidas sob o cuidado e a

segurança do Judiciário, no entanto, sem que fossem introduzidos em um sistema processual

complexo e moroso.

Com a institucionalização dos Juizados de Pequenas Causas, pode-se perceber uma

simplificação considerável nas regras que regulavam o processamento das ações, pois, a

instituição do referido órgão funcionou como um divisor entre o formalismo exacerbado e o

procedimento mais célere e menos formal. Nesse sentido esclarece Vidal (2017):

Nesse panorama, os Juizados de Pequenas Causas vieram com o mister de promover o acesso à Justiça para a resolução de conflitos individuais em demandas menos complexas; constatou-se que a combinação de um procedimento oral e mais célere impulsionaria a acessibilidade ao provimento jurisdicional para aqueles cidadãos que não chegariam a bater nas portas do Poder Judiciário pelas vias ordinárias, fenômeno conhecido como “litigiosidade contida”. Buscava-se, sobretudo, encurtar o tempo e os custos nas causas simples e de pouca expressividade econômica (VIDAL, 2017, p.225).

Conforme o texto acima, os Juizados de Pequenas Causas foram criados com o

objetivo de solucionar os conflitos individuais e com demandas menos complexas. Com isso,

como já frisado, os cidadãos que dificilmente buscariam o Poder Judiciário, em razão dos

altos custos, da demora excessiva e do baixo valor de suas causas, passaram a obter um acesso

ao Judiciário de forma mais simplificada.

Cabe destacar, que os Juizados ora em análise, possuíam sua importância,

principalmente no que se refere a intermediação do litígio entre as partes, pois, com a

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finalidade de atender ao critério da celeridade processual, os juízes atuavam como verdadeiros

administradores da justiça.

Entretanto, como já frisado, muitas foram as críticas doutrinárias quanto à criação de

tais juizados, por entenderem que os conflitos economicamente menos expressivos teriam

tratamento prejudicado, na medida em que a essas pequenas causas fossem atribuídas a

denominação de "justiça dos pobres”, assim, tal modalidade de justiça sofria discriminação,

por ser tratada como de segunda classe.

Nesse contexto, os litigantes, sobretudo os hipossuficientes precisam de uma

assistência técnica realizada por profissional sem prejuízos das etapas. Nesta linha, Filho

(2015, P.5) defende que deve existir uma prestação jurisdicional de maneira mais célere sem

atropelar etapas importantes, no entanto, a justiça não poderá ser preterida pela celeridade.

3.2 Juizado Especial Cível - Lei Nº 9.099, DE 1995

Cuida de uma Lei criada em vista da necessidade de aprimoramento dos juizados de

pequenas causas e das inúmeras críticas sobre sua aplicabilidade prática e inconsistências na

sua essência, que revogou expressamente a Lei nº 7.224/84, e passou a ser o único estatuto

processual a viger.

Dessa forma, como já mencionado, por meio da Lei nº 7.244/84, constituiu-se os

“juizados de pequenas causas”, as quais, pelo sucesso experimentado foram recepcionadas

pela Constituição Federal de 1988, que passou a denominá-los de Juizados Especiais e

declarou a obrigatoriedade de sua regulamentação.

É sabido, que os Juizados Especiais preconizaram certos princípios em detrimento de

outros, com vistas a alcançar a finalidade da institucionalização do citado órgão. Nesse

sentido, existem inúmeras críticas quanto à criação dos juizados, no que diz respeito à

mitigação dos direitos e garantias dos cidadãos, pois, segundo o pensamento de Amorim

(2016, p.25), via de regra, não é possível abrir mão de certos formalismos sem que estes

acarretem prejuízos aos litigantes.

Insta salientar, que a nova Lei dos Juizados Especiais Cíveis ampliou sua

competência para a área criminal e, na área cível estendeu essa, para as demandas de até

40(quarenta) salários mínimos, além de ter trazido de forma inovadora, objetiva e clara novas

atuações, como por exemplo, algumas insertes no seu artigo 7º, com destaque para a

participação da sociedade civil, com a presença dos conciliadores e juízes leigos na fase de

conciliação, como se pode verificar no dispositivo in verbis:

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Art. 7º Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência.Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções (BRASIL, 1995).

Extrai-se do dispositivo retro, que os juízes conciliadores serão preferencialmente os

bacharéis em Direito e por último, os advogados com mais de cinco anos de experiência. Com

isso, pode-se notar que os Juizados Especiais aproximam a sociedade da tutela jurisdicional,

uma vez que torna o procedimento menos formal pela participação de juízes leigos.

Outrossim, nos Juizados Especiais Cíveis predominam as matérias consumeristas

relacionadas a empresas que prestam serviços públicos, como por exemplo, bancos,

financeiras e concessionárias, nesse sentido, Mello e Meirelles (2010), se posicionam nos

seguintes termos:

[...] Se, num primeiro momento, o número alto desses tipos de ações pode parecer uma ampliação do acesso à justiça, garantindo uma tutela jurisdicional antes inimaginável, a depuração do fenômeno nos indica, porém, que a costumeira presença das mesmas empresas, prestadoras dos mesmos serviços, significa na realidade que as lesões aos direitos dos consumidores são rotineiras e que as decisões tomadas no âmbito dos Juizados Especiais não têm provocado os necessários efeitos dissuasórios da atuação lesiva de tais empresas. Ainda como efeito dessa distorção, a presença constante das mencionadas empresas acaba congestionando os cartórios, acarretando maiores custos operacionais (funcionários técnico-administrativos e adiamento de audiências) (MELLO; MEIRELLES, 2010 p.12).

Conforme o texto ora citado, verifica-se, que a quantidade de processos pode até

passar uma ideia de ampliação do acesso à justiça e assim garantir o direito aos

jurisdicionado, mas, a repetida presença das empresas, importa entender que as decisões ali

tomadas no âmbito dos Juizados, em si, não têm sido o bastante para impedir que tais

empresas se neguem a causar atos lesivos aos seus consumidores, cuja repetição resta por

sufocar os cartórios e assim, onerar aos serviços operacionais, bem como delongar o prazo das

audiências.

Como já frisado, nas causas que não excedam à 20 (vinte) salários mínimos, o

jurisdicionado pode fazer uso do instituto do Jus Postulandi e, desse modo, optar por litigar

sem o patrocínio de advogado, o que facilitou a vida de muitas pessoas desprovidas de

recursos para pleitear direitos junto ao Judiciário, mas, acima desse valor, a participação do

advogado é obrigatória.

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Verifica-se, ainda, conforme linhas anteriores, que apesar das inúmeras críticas

quanto à criação dos Juizados Especiais, ainda assim, este tem sua importância para a garantia

do acesso à justiça e um relevante valor social.

No entanto, se faz necessário pontuar que tal órgão, não contempla todas as garantias

essenciais para a efetividade do acesso aos direitos. Nesse sentido, Filho (2015), expõe seu

pensamento, senão veja-se:

O Poder Judiciário brasileiro sempre foi alvo de críticas por parte da população e dos operadores do direito, principalmente em virtude de sua morosidade na prestação jurisdicional. O acúmulo de demandas é um dos entraves para a rápida solução do litígio, e em consequência disso a credibilidade com o judiciário diminui cada vez mais. Um dos maiores objetivos de um Estado Democrático de Direito é oferecer aos cidadãos acesso facilitado ao judiciário. A busca por uma forma que elimine qualquer obstáculo a prestação jurisdicional deve ser constante, pois assim será possível que todos tenham o amplo exercício do direito garantido constitucionalmente. Uma grande inovação legislativa criada na tentativa de solucionar este problema foi o surgimento da Lei nº 9.099, de 1995, que teve como escopo, tornar a justiça mais célere, econômica e menos formal, concedendo amplo acesso ao judiciário a uma parte da população que antes não viam seus conflitos apreciados justamente por não possuírem condições financeiras para despender com custas e honorários advocatícios. Contudo, é colocado em debate se o indivíduo terá seu direito garantido com eficácia, já que, segundo a CRFB, de 1988, o advogado é essencial à administração da justiça, bem como reúne os requisitos necessários para e assegurar a tutela jurisdicional na composição dos conflitos de interesses (FILHO, 2015, p. 3).

Mediante o inserte no texto ora em destaque, verifica-se que o Poder Judiciário

sempre foi alvo de críticas, principalmente pela morosidade na prestação jurisdicional,

ocasionada, sobretudo pelo acúmulo de demandas, que contribui para a demora na solução do

litígio, o que em tese, diminui a credibilidade do Judiciário em proporcionar um amplo acesso

ao direito.

Na mesma senda, Souza (2011) elabora o seguinte questionamento:

Se a criação dos órgãos jurisdicionais de pequenas causas, com a simplicidade do seu procedimento levado ao máximo, fosse toda essa maravilha que se costuma apregoar sem maiores reflexões, porque não aplicamos essa grande descoberta a todos os casos? Por quê estamos a perder tempo com esse “tormentoso”, “enfadonho” e “ultrapassado” procedimento ordinário? (SOUZA, 2011, p.70).

Diante do texto retro, anota-se que o autor questiona a abrangência dos Juizados

Especiais, por entender que se tais órgãos são assim tão excelentes deveriam ser aplicados a

todos os tipos de demandas e desse modo extinguir-se-ia com o trabalhoso, lento e por assim,

superado procedimento ordinário.

Dessa maneira, a busca por uma forma que extinga qualquer obstáculo na prestação

jurisdicional deve ser constante, para que possa ser possível amplo exercício da busca do

direito garantido constitucionalmente.

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Percebe-se, portanto, que a criação dos Juizados Especiais, por meio da Lei nº

9.099/1995, representa um grande avanço na tentativa de proporcionar àqueles que, em regra,

não teriam seus direitos apreciados pelo Poder Judiciário, em decorrência da demora

excessiva e do formalismo exacerbado.

Como sabido, a institucionalização dos Juizados Especiais Cíveis não comporta a

amplitude do acesso à justiça em todas as esferas jurídicas. No entanto, a criação desse novo

órgão demonstra a preocupação do constituinte com a preservação real dos direitos, pois,

facilitou o acesso dos cidadãos ao Poder Judiciário.

Ademais, é válido questionar se o litigante terá, de fato, a efetividade dos seus

direitos, posto que, a Constituição Federal de 1988, dispõe ser o advogado essencial à

administração da justiça e ainda reúne requisitos necessários para assegurar a tutela

jurisdicional na composição dos conflitos.

Cabe destacar, que os Juizados Especiais representam uma opção da parte e não meio

obrigatório a ser percorrido. Dessa forma, cabe ao litigante eleger a Justiça Comum ou os

Juizados Especiais.

É importante frisar, que os extintos Juizados de Pequenas Causas, não mencionavam

o que seriam causas de “menor complexidade”, e isso levava várias matérias a serem julgadas

pela Justiça Comum.

Mas, como se pode observar, a nova Lei do Juizado Especial Cível tratou de resolver

tal questão ao inserir na redação do seu artigo 3º, o que venha a ser causas de “menor

complexidade”, conforme transcrito abaixo:

O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas: I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;III - a ação de despejo para uso próprio; IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste artigo.§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:I - dos seus julgados;II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo, observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.§ 2º Ficam excluídas da competência do Juizado Especial as causas de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial. § 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação (BRASIL, 1995).

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Diante do cravado nos dispositivos acima, pode-se anotar que os Juizados Especiais

têm competência para conciliar e julgar as causas que não excedam a 40 salários mínimos, e,

ainda, ações de despejo para uso próprio, as ações possessórias sobre bens imóveis, bem como

promover a execução dos seus julgados e dos títulos executivos extrajudiciais, no valor não

excedente a quarenta vezes o salário mínimo.

Além do mais, observa-se também que a competência dos Juizados Especiais Cíveis

Estaduais é delimitada pela complexidade da causa, pelo valor, pela matéria e pelo território.

Cumpre destacar, que os Juizados não poderão julgar as causas que possuam justiça

especial, como por exemplo, as relativas a acidentes de trabalho, de natureza alimentar,

falimentar, fiscal, de interesse da Fazenda Pública, entre outras.

É salutar mencionar também, que caso o litigante opte por propor ação nos Juizados

Especiais em causas que excedem 40 salários mínimos, importará na renúncia ao excedente, a

qual poderá ser de forma expressa ou tácita, esta, ocorre se o autor pratica atos que

demonstrem inequivocamente o seu desinteresse a ela, já a expressa se dá, quando o autor se

manifesta diretamente nos autos, conforme descrito no artigo 3º, § 3 da Lei 9.099/95:

Artigo 3º, (...)§ 3º A opção pelo procedimento previsto nesta Lei importará em renúncia ao crédito excedente ao limite estabelecido neste artigo, excetuada a hipótese de conciliação ( BRASIL, 1995)

Desse modo, fica claro que o litigante que optar por propor ação nos Juizados

Especiais em causas que ultrapassem 40 salários mínimos estará renunciando o valor

excedente, exceto quando se tratar de conciliação.

Entretanto, cumpre destacar ainda, que existe incompetência absoluta se tal valor não

for passível de renúncia, como por exemplo, se o litigante ajuizar uma ação de reintegração de

posse de uma casa cujo valor exceda 40 salários mínimos, tendo em vista que nesse caso não

é possível fazer o desmembramento. Por tal motivo, a ação não poderá ser julgada pelos

Juizados Especiais.

Merece ainda destacar o fato de que, quando se tratar de ações de despejo para uso

próprio, o litigante poderá ajuizar ação nos Juizados Especiais independentemente do valor da

causa, uma vez que a lei não limitou, como o fez nas possessórias sobre bens imóveis.

É cediço que, os processos, em regra, possuem uma morosidade excessiva, e isso está

relacionado, principalmente pelo cumprimento de formalidades processuais, o que causa

insatisfação daqueles que necessitam da prestação jurisdicional, por essa razão vários países

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do mundo começaram a se preocupar em proporcionar um acesso à justiça de forma mais

célere e com menos formalidades de modo a satisfazer a comunidade jurídica.

Nesse caminho, o Brasil também percebeu a necessidade de criação de um órgão que

pudesse julgar certos litígios com mais celeridade, por isso, os Juizados Especiais Cíveis

surgiram com o escopo de viabilizar o acesso à justiça, sobretudo pela quantidade de litígios

que não eram sequer levados a conhecimento do Poder Judiciário.

3.3 Princípios dos Juizados Especiais

Sabe-se que, os Juizados Especiais foram criados com a finalidade de julgar as

causas de menor complexidade, com vistas a facilitar ao cidadão, o acesso a jurisdição, na

obtenção rápida e eficaz da tutela jurisdicional.

Cumpre salientar também, que os princípios descritos na Lei nº 9.099/95, são

princípios gerais, informativos dos Juizados especiais Cíveis e são aplicados de forma

subsidiária nos Juizados Especiais Federais e da Fazenda Pública, que possuem como

principal objetivo, propiciar um amplo acesso à justiça.

Outrossim, fala-se, na criação de um novo procedimento, o qual, nos termos do

artigo 2º da Lei nº 9.099/95, é orientado pelos princípios norteadores da atividade

jurisdicional, quais sejam: a oralidade, simplicidade, economia processual, celeridade,

informalidade dos atos processuais, conforme segue:

3.3.1 Oralidade

Cabe salientar, que por este princípio tem-se no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis

que, a palavra oral deve predominar sobre a palavra escrita e sem dúvida, contribui não

apenas para acelerar o ritmo do processo, mas, também para obter uma resposta muito mais

fiel à realidade e ainda, cooperar para que o juiz conduza o processo de forma mais objetiva.

“A oralidade é um dos princípios mais importantes da Lei nº 9.099/1995, e do

sistema processual. O processo oral é aquele que proporciona meios eficientes para praticar

atos processuais, por meio da palavra falada” (BORRING, 2016, p.48).

Pode-se anotar, portanto, que os Juizados Especiais Cíveis seguem à risca, a palavra

falada sobre a escrita, uma vez que todos os atos processuais, tanto os postulatórios quanto os

instrutórios, podem ser praticados na forma oral.

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O contato direto com os litigantes, com a prova e com as nuances do caso permite ao

magistrado apreender de forma muito mais completa a realidade vivida, e assim, decidir de

maneira mais adequada e justa, principalmente quando as partes procuram o Juizados sem

constituir advogado, dada a ausência de conhecimentos técnicos especializados, uma vez que

as partes poderão ter dificuldades de se expressar na forma escrita.

É importante destacar, que o princípio da oralidade retira a necessidade de os atos

colhidos oralmente serem reduzidos a termo posteriormente, diante disso deve a sentença, por

sua vez referir no essencial, os informes trazidos pelos depoimentos.

Ademais, o referido princípio apresenta uma vantagem significativa na tramitação

dos processos junto aos Juizados Especiais Cíveis, uma vez que permite as partes, se

manifestar livremente e assim dar agilidade ao processo, o que facilita, principalmente a

conciliação.

Enfim, nota-se, a nítida orientação no sentido de que o processo se desenvolve de

forma absolutamente oral, minimiza a burocratização e como consequência, acelera a solução

da controvérsia.

Desse modo, é de suma importância a utilização de tal princípio nos Juizados

Especiais, posto que, a maioria dos litigantes que procuram o referido órgão em busca dos

seus direitos são pessoas de pouco ou nenhum conhecimento jurídico.

3.3.2 Simplicidade

É notório, que o cidadão comum não conhece e não entende o procedimento judicial.

Dessa forma, verifica-se a importância do princípio da simplicidade, onde os procedimentos

processuais não devem oferecer obstáculos às partes, tendo em vista, que o leigo ao precisar

do Poder Judiciário, por vezes sente-se intimidado frente a máquina judicial.

E nessa esteira, o objetivo do citado princípio é permitir que as partes tenham um

amplo acesso à justiça, pois, quando se tem um procedimento complexo, este, não raro, leva o

indivíduo ao constrangimento, e, consequentemente, a abdicar do seu direito de ação.

Dessa forma, é evidente que a composição dos atos processuais aproxima o cidadão

da tutela jurisdicional do Estado e nesta seara, o Juizado Especial busca facilitar essa

composição ao instituir um processo mais simplificado e de fácil entendimento pelas partes.

Ademais, nos Juizados Especiais Cíveis não se admite, por exemplo, a reconvenção,

bem como a ação declaratória incidental, posto que, são procedimentos excessivamente

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formais, de modo que cabe ao juiz orientar as partes a constituírem advogado quando se tratar

de procedimentos mais complexos.

3.3.3 Economia Processual

O referido princípio preceitua que, quando há duas alternativas deve-se optar pela

menos onerosa às partes e ao Estado. Para tanto, é necessário minimizar a quantidade de atos

praticados, e a repetição desnecessária, principalmente, quando dispensável para o

desenvolvimento do processo.

Outrossim, não se deve repetir os atos nos Juizados Especiais, ainda que nulo,

quando esse já atingiu sua finalidade. É preciso adotar esforços, para que todos os atos sejam

praticados em uma única audiência, desde a fase de conciliação, audiência de instrução e

julgamento e com isso oferecer uma resposta mais rápida às partes, e, ainda, um acesso à

justiça de uma forma mais barata.

3.3.4 Celeridade

Conforme preceitua o inciso LXXVII, do artigo 5º, da Constituição Federal de 1988,

o processo deve demorar o mínimo possível. Sendo assim, os processos submetidos aos

Juizados Especiais exigem solução célere, uma vez que o objetivo da institucionalização de

tal órgão foi exatamente trazer à sociedade um processo com prazo razoável, pelo qual, a

tutela jurisdicional deve ser efetiva e não meramente ilusória.

Além do mais, a demora na prestação jurisdicional pode acarretar inúmeros

problemas às partes, principalmente quando se refere aos litigantes hipossuficientes, posto

que, se o processo não tiver celeridade, pode até mesmo comprometer a subsistência das

partes com baixo poder econômico.

Nesse sentido, tem-se que os Juizados Especiais foram criados, em tese, para atender

a litigantes de classes com menor poder aquisitivo, por isso, o processo deve ser breve para

evitar a desistência das partes na obtenção do direito pretendido.

3.3.5 Informalidade

É importante considerar que, no âmbito dos Juizados Especiais, afim de tornar o

processo menos burocrático e mais rápido, o procedimento deve ser realizado de maneira

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mais simples e informal possível. Dessa maneira, todos os atos que tenham atingido a sua

finalidade devem ser considerados como válido.

Nessa linha, ao romper o formalismo exagerado, os Juizados Especiais aproximam o

cidadão comum da tutela prestada pelo Estado, por se tratar de uma versão mais simplificada

do processo comum, e sua finalidade é oferecer de forma mais eficaz a solução do litígio.

Além do mais, para que haja celeridade prevista na Lei, os atos processuais devem

ser praticados com o mínimo de formalismo possível, como por exemplo, a propositura da

ação de forma oral, e sem assistência de advogado nas causas cujo valor não exceda 20

salários mínimos.

Assim, verifica-se que os Juizados Especiais possuem como principal finalidade a

propositura de resultados efetivamente justos, deve o magistrado se atentar aos princípios

norteadores do processo e buscar sempre que possível, a conciliação ou a transação.

3.4 A possibIlidade do Jus Postulandi nos Juizados Especiais Cíveis

Como já tratado em linhas anteriores, o Jus Postuandi é a faculdade que a pessoa tem

de postular em juízo, sem a presença do advogado, causas de certos valores e espécies.

Assim como nas leis dos Juizados Especiais anteriores, a Lei nº 9.099/95, mantém a

utilização do instituto do Jus Postulandi nos Juizados Especiais e dessa maneira admite que a

parte apresente demanda pessoalmente, sem constituir profissional técnico nas causas cujo

valor não exceda a 20 (vinte) salários mínimos.

Trata-se, de uma alternativa elaborada pelo legislador com o fim de facilitar o amplo

acesso à justiça. Dessa forma, a parte pode provocar o Poder Judiciário, bem como

acompanhar o processo pessoalmente.

Nesse diapasão, pessoas que não detêm conhecimento técnico-jurídico podem ajuizar

uma ação no referido órgão, tal possibilidade, como já frisado, se chama Jus Postulandi e está

relacionada diretamente ao princípio da informalidade. Nessa linha, é o entendimento de

Rossato (2012), como segue:

Como forma de proporcionar um sistema de justiça mais informal e próximo da população, a lei dispensa a assistência de advogado nas demandas de até vinte salários mínimos, hipóteses em que o pedido poderá ser formulado diretamente na secretaria do juízo, oralmente e reduzido a escrito pelo servidor, ou ainda apresentada a petição subscrita pelo próprio demandante. É certo que tal medida proporcionada a celeridade no procedimento e autoriza o acesso à Justiça sem qualquer obstáculo (ROSSATO, 2012, p.46).

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Mediante o texto ora transcrito, pode-se perceber, que o legislador ao dispensar o

advogado, nas causas de até 20 salários mínimos, no âmbito dos Juizados Especiais teve como

objetivo proporcionar um acesso à justiça mais célere e sem qualquer obstáculo. Além disso,

o pedido poderá ser formulado oralmente e reduzido pelo servidor ou ser apresentado em

petição subscrita pelo próprio demandante.

Percebe-se desse modo, que a dispensa do advogado em determinados atos, perante

os Juizados Especiais não causa conflito com o princípio da indispensabilidade desse à

administração da Justiça e que, de acordo com Barros (2010, p.86), tal dispensa se relaciona

diretamente com a facilitação dos instrumentos processuais para efetivar o acesso à justiça.

Nesse sentido, é importante frisar, que a representação por meio de advogado é um

fator importantíssimo para garantir às partes um direito igualitário, no entanto, como se

percebe sua indispensabilidade não deve ser absoluta, pois há como já mencionado, situações

em que o advogado é dispensável

Em contrapartida, FILHO (2015, p.20), diserta que a possibilidade de as partes

ingressarem no Poder Judiciário desassistidas de advogado é absurda, conforme abaixo:

A facultatividade que a lei traz é absurda, pois o leigo, que é totalmente ignorante a respeito do ordenamento jurídico e da complexidade processual (mesmo que em sede dos juizados), não é capaz de discernir sobre a importância e necessidade de ter ao seu lado um profissional habilitado. Ignorante dessa importância, o mesmo com certeza vai preferir está desacompanhado a ter que pagar honorários advocatícios. [...] Uma das razões da existência do advogado é a possibilidade de atuar sem qualquer apego emocional à causa. Inclusive, mesmo o advogado podendo atuar em causa própria, é aconselhável que o mesmo constitua um representante, pois é muito comum alteração dos ânimos dos envolvidos no conflito, principalmente em audiências. E é claro, isso não é diferente quando o indivíduo deseja ajuizar a ação sem a colaboração de um advogado, que está completamente afastado emocionalmente. Esse desapego emocional faz com que o advogado exerça sua atividade adequadamente, utilizando-se de seu conhecimento jurídico sem qualquer interferência emocional, sendo eficiente no cumprimento do dever (FILHO, 2015, p. 20).

Diante do texto acima, verifica-se que na visão do autor, a faculdade de postulação

sem advogado nos Juizados Especiais Cíveis é absurda, posto que, o ordenamento jurídico é

muito complexo e de difícil entendimento. Além disso, quando a parte atua em causa própria

pode obter um certo apego emocional e isso pode atrapalhar o andamento do processo. O

texto apresenta, por exemplo, que, mesmo que exista a possibilidade de advogados postularem

em causa própria, é aconselhável que seja feito a defesa por terceiro para que não haja apego

emocional e assim, a defesa possa ser feita sem qualquer interferência.

No mesmo sentido, Câmara (2003) defende que:

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[...] é de se referir, porém, que me parece inconstitucional a regra que permite à parte comparecer em juízo sem advogado nos juizados especiais cíveis, quando o valor da causa não exceder de 20 salários mínimos. Tal inconstitucionalidade decorre do fato de tal regra contrariar o disposto no art. 133 da Constituição da República, em cujos, termos o advogado é essencial ao exercício da função jurisdicional, na forma da lei. Ao meu sentir, à lei caberá regulamentar o exercício da atividade do advogado, mas sem jamais chegar ao ponto de tornar a presença do advogado facultativa, pois assim estar-se-ia negando à sua atividade o caráter de função essencial. Isso porque, como sabido, essencial significa indispensável, necessário. Assim sendo, não se pode admitir que o advogado seja essencial, mas possa ser dispensado, sob pena de se incorrer em paradoxo gravíssimo (CÂMARA, 2003, p.232).

Conforme o texto acima, percebe-se que o autor considera ser inconstitucional a

prerrogativa que têm o cidadão de ingressar nos Juizados sem constituir patrono, haja visto,

que nos termos do artigo 133 da Constituição Federal de 1988, a função do advogado é

essencial, por isso, não pode ser dispensado mesmo nos Juizados, pois, para o autor essencial

significa, indispensável.

É cediço, ser indiscutível a complexidade do sistema jurídico brasileiro, tanto que, a

advocacia é dividida em áreas diversas, haja vista a dificuldade até mesmo do profissional

técnico em transitar em todas áreas de forma adequada. Posto isso, percebe-se que há uma

grande necessidade de especialização para que assim, o profissional possa cumprir a função

jurisdicional estatal (MENEGATTI, 2011, P.73).

Cabe ressaltar, que uma das principais dificuldades de as partes ingressarem no

judiciário desacompanhadas de advogado, decorre da falta de instrução, sobretudo pela falta

de conhecimento, com isso muitos cidadãos deixam de ingressar com ações no Judiciário.

Insta salientar, que são inúmeros os obstáculos enfrentados pelas partes na busca da

efetividade dos seus direitos, por exemplo, quando o indivíduo busca o Judiciário

desacompanhado de assistência técnica e na audiência percebe que a outra parte está

acompanhada por advogado, isso faz com que a parte se sinta em desvantagem em relação ao

outro litigante, e de fato, na maioria das vezes se tivesse acompanhado de advogado suas

chances seriam maiores. Assim é clara a desigualdade entre as partes.

É de total conhecimento que a petição da parte que está desacompanhada de

advogado poderá ser redigida por um servidor, entretanto, como se sabe o servidor não

precisa ser bacharel em Direito. Dessa forma, o servidor não saberá na maioria das vezes o

que é relevante para informar no termo, além das provas que devem ser utilizadas para que

seja resguardado o direito do litigante.

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Nessa linha, nota-se uma desvantagem do litigante que ingressa nos Juizados sem

assistência de um profissional habilitado, posto que, nesse caso, o conflito não será analisado

por alguém apto a elaborar teses favoráveis.

Destarte, pode-se verificar que a falta de conhecimento pode prejudicar o litigante na

efetividade dos seus direitos, visto que o Estado não auxilia as partes nos Juizados Especiais

de forma adequada, ou seja, através de profissionais legalmente habilitados para o exercício

de tal função.

Além do mais, o exercício do Jus Postulandi nos Juizados Especiais Cíveis Estaduais

não é absoluto, tendo em vista que de acordo com o artigo 41, §2 da Lei nº 9.99/95, é

obrigatório a postulação por meio de advogado, caso a parte recorra da decisão, conforme

abaixo:

Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado. § 1º O recurso será julgado por uma turma composta por três Juízes togados, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.§ 2º No recurso, as partes serão obrigatoriamente representadas por advogado. (BRASIL, 1995).

Nesse sentido, pode-se notar que o próprio Estado reconhece a importância do

advogado nos Juizados Especiais Cíveis estaduais, tanto, que conforme mencionado acima

nos casos em que a parte queira interpor recurso, deve obrigatoriamente ser representada por

advogado legalmente habilitado. Logo, ao mesmo tempo em que a lei dispensa o advogado a

mesma lei reconhece a importância do auxílio técnico para a efetividade da justiça.

Como se percebe, os Juizados Especiais Cíveis foram institucionalizados com a

finalidade de solucionar os problemas econômicos, bem como a duração do processo. Diante

disso, para ajuizar uma ação no âmbito desses juizados, conforme o disposto no artigo 54 da

Lei nº 9.099/95, não é necessário o pagamento de custas processuais, com isso, pode-se anotar

que esse fator aproxima o cidadão do Poder Judiciário.

Entretanto, conforme o que dispõe do artigo 54 da Lei dos Juizados:

Art. 54. O acesso ao Juizado Especial independerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou despesas.Parágrafo único. O preparo do recurso, na forma do § 1º do art. 42 desta Lei, compreenderá todas as despesas processuais, inclusive aquelas dispensadas em primeiro grau de jurisdição, ressalvada a hipótese de assistência judiciária gratuita (BRASIL, 1995)

Observa-se, portanto, que, caso o autor se sinta prejudicado com a decisão e almeje

recorrer, esse deverá arcar com as custas processuais dispensadas em primeira instancia e

também com as custas recursais.

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Dessa maneira, verifica-se que tal procedimento é via de regra, altamente

exorbitante, sobretudo quando se trata de litigantes que não possuem condições financeiras

para honrar com tais valores.

Ademais, não raro, todos esses fatores impedem ao litigante de exercer o duplo grau

de jurisdição, e consequentemente dificultam um amplo acesso aos direitos e à justiça.

Cabe ainda destacar, que a Lei menciona as ações cujo valor não exceda à 20 (vinte)

salários mínimos, como causas de menor complexidade, mas, como se sabe nem sempre os

litígios com menor valor serão os que representam menor complexidade, posto que, existem

demandas que possuem valores irrisórios, todavia, comportam um grau de complexidade

excessivo e de igual modo, uma causa que exceda à 20 (vinte) salários pode ser solucionada

de maneira bem simples, ou seja, a complexidade está relacionada ao objeto e não ao valor

econômico.

Nessa esteira, como já tratado, os litigantes, principalmente os hipossuficientes

podem encontrar diversas barreiras ao fazer uso do referido instituto, isso porque, na maioria

das vezes, as barreiras existentes são econômicas e cultural.

Assim, via de regra é a população mais pobre que encontra dificuldades em

decorrência da falta de conhecimentos necessários para propor ação desacompanhada de

profissional técnico.

Com isso é válido mencionar, que a maioria dos cidadãos não têm noção jurídica dos

seus direitos, por tal razão, podem encontrar entraves ao ingressar com ações no Judiciário

com uso do Jus Postulandi. Nessa trilha, Amorim (2016) se manifesta nos seguintes termos:

Assim, questiona-se até que ponto a previsão dessa faculdade - renúncia ao advogado - traz reais benefícios ao litigante hipossuficiente, ou, pelo contrário, carrega uma falsa sensação de ampliação ao aparato jurisdicional, sem a necessária contrapartida de aplicação da justiça de maneira isonômica (AMORIM, 2016, p.40).

Mediante o constante no texto acima, anota-se que referida autora questiona quanto

aos benefícios trazidos pela renúncia do advogado, para essa, ajuizar ação sem a presença do

técnico ao invés de beneficiar ao litigante pode dá impressão do alargamento do aparato

judicial, sem, contudo, oferecer a esse, a indispensável aplicação da justiça com a isonomia

adequada.

Todavia, não há como negar que a intenção do legislador ao inserir o Jus Postulandi

no texto legal quis esse demonstrar um grande avanço nos mecanismos de acesso à Justiça, no

entanto, segundo consta, deve-se reconhecer também, que o simples fato do Estado criar

institutos e leis para facilitar o ingresso do cidadão ao Poder Judiciário, por si só, não resolve

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os diversos problemas existentes, posto que, não se trata apenas de entraves econômicos, mas,

como já citado, refere-se, ainda, a problemas socioeconômicos e culturais.

Diante de todo exposto, resta este capítulo trata dos Juizados Especiais de Pequenas

Causas criado pela Lei Federal nº 7.244/84, a qual sofreu alterações com o advento da Lei nº

9.099/1995, que alterou o nome para Juizado Especial Cível e Criminal, que trouxe em seu

bojo o Jus Postulandi, embasado nos princípios da celeridade, informalidade, oralidade,

simplicidade e economia processual, possibilitou ao litigante postular pessoalmente em juízo,

as demandas cujo valor não ultrapassem a 20 (vinte) salários mínimos.

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CONCLUSÃO

A sociedade passa cada vez mais por grandes transformações sociais e isso exige

sempre novos modelos de comportamento da vida humana. De igual modo, o Direito também

acompanha a sociedade na medida de sua evolução, com o fim de garantir seus interesses

sociais e humanos.

O presente trabalho apurou que até o final dos anos 70, não existia a menor

preocupação dos órgãos estatais em garantir os direitos sociais dos indivíduos, e

consequentemente o direito de acesso à justiça, de modo que, os menos favorecidos não

possuíam acesso ao Poder Judiciário, sendo esse privilégio apenas daqueles que pudessem

pagar por seus custos.

Apurou-se nesta pesquisa que o crescimento rápido da sociedade deu causa ao

aumento de demandas jurídicas e como consequência disso ocorreu a superlotação das varas.

Nesse diapasão, o legislador entendeu por bem elaborar e aprovar leis criando primeiramente

os Juizados de Pequenas Causas embasados na Lei nº 7.244/84, que mais adiante, por força da

Lei nº 9.099/1995, foram transformados em Juizados Especiais Cíveis e Criminais, e nessa,

inserido o Jus Postulandi apenas como faculdade e não mais como regra, como rezava a lei

anterior.

Restou apurado ainda no âmbito dos Juizados que a nova lei dos Juizados 9.099/95

previu, que por meio do Jus Postulandi as causas que não ultrapassem o valor máximo de 20

(vinte) salários mínimos podem ser postulados sem a constituição de um advogado.

A pesquisa apontou que a criação e a introdução dos novos juizados, por força dos

seus princípios embasadores, quais sejam: celeridade, informalidade, simplicidade, economia

processual, facilitou o acesso à justiça, sobretudo para as pessoas de menor poder aquisitivo,

uma vez que estas podem postular in causa própria.

Apurou ainda, que o acesso à justiça por si não garante a consecução do direito

buscado, necessário se faz que o Poder Judiciário como órgão promovente da justiça

contribua dentro do prazo legal para realizar a satisfação do direito perseguido.

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O trabalho apurou também que quando o litigante optar pelos Juizados Especiais nas

causas que excedam a 40 (quarenta) salários mínimos já está de pronto abrindo mão do

excedente.

A pesquisa serviu para esclarecer sobre o tema estudado, todavia é claro que muitos

ainda continuam, uma vez que um trabalho científico responderia a todos os questionamentos

e nem deveria assim ser, posto que, nunca foi esse o real objetivo desse trabalho.

Por todos os argumentos aqui apresentados, restou cristalino que os Juizados

Especiais Cíveis, bem como o instituto do jus postulandi são órgãos e institutos bem aceito

pela sociedade, entretanto, é certo a compreensão de que a facilidade de acesso ao Poder

Judiciário por si só não garante ao jurisdicionado o direito por ele buscado.

O trabalho apurou ainda, que a Justiça brasileira está longe de proporcionar, de fato,

uma verdadeira prestação aos seus jurisdicionados, portanto, deve essa modificar o atual

sistema de maneira a permitir que mais pessoas possam ter um processo justo.

A pesquisa também permitiu apontar que é necessário aumentar a qualidade na

prestação jurisdicional e não somente aumentar e facilitar o ajuizamento de ações, por meio

da criação de leis, sem, contudo, pensar na sua correta aplicação e o cumprimento do seu

papel no âmbito social.

Por derradeiro, consigna-se que em face da complexidade da matéria o assunto não

foi esgotado por inteiro, motivo pelo qual aguarda-se que em face da importância do tema

possam apareçam novos trabalhos acadêmicos que tragam à análise o citado conteúdo.

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