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Um ano a errar, superar, aprender e recomeçar…
RELATÓRIO DE ESTÁGIO PROFISSIONAL
Orientadora: Professora Doutora Paula Maria Leite Queirós
Mariana Ribeiro da Silva
Porto, setembro 2015
Relatório de Estágio Profissional, apresentado com
vista à obtenção do 2º Ciclo de Estudos conducente ao
grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário (Decreto-lei nº 74/2006
de 24 de Março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de
Fevereiro)
Ficha de Catalogação
Silva, M. (2015) Um ano a errar, superar, aprender e recomeçar…. Relatório de
Estágio para obtenção do grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos
Ensino Básico e Secundário, apresentado à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
PALAVRAS-CHAVE: PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM; ESTÁGIO
PROFISSIONAL; EDUCAÇÃO FÍSICA; PROFESSORA; MOTIVAÇÃO;
AUTOPERCEÇÕES.
Dedicatória
Aos meus queridos Avós.
V
Agradecimentos
Aos meus pais, pelo apoio incondicional perante todas as escolhas da
minha vida, pelo esforço realizado para me proporcionarem esta experiência
única na Faculdade dos meus sonhos, pelo amor sem fronteiras que
demonstram todos os dias, pelos valores e exemplos que fazem de mim a
pessoa que sou hoje, por acreditarem em mim e serem a minha estabilidade, o
meu alento, uma das minhas razões de viver!
À minha irmã, minha “Big Baby”, minha amiga, minha confidente, menina
dos meus olhos e do meu coração, pelos momentos, gestos e sinais que nos
tornam inseparáveis e porque eu preciso de alguém para me sentir completa,
que me entenda como ninguém, que me dê um ponto de apoio quando mais
preciso, que me faça rir quando só apetece chorar e me faça chorar por
motivos estúpidos, que discuta quando estou errada, que me surpreenda
quando mais preciso e me faça sentir especial, alguém que tem um papel
fundamental na minha vida, em quem possa confiar e que me ensine o
verdadeiro significado do amor… Esse alguém és tu!
A toda a minha família, por me acompanhar em todos os momentos da
minha vida e ser um dos grandes pilares da minha existência, em especial à
minha Madrinha, ao primo Rui Pedro, à tia Pupu, à tia Idalina, ao tio Arnaldo, à
prima Raquel, à tia Chica, ao Engenheiro e ao tio Tozé!
Ao Delfim Vieira, meu apoio, minha inspiração, meu exemplo de garra,
determinação, persistência e coragem. Agradecer por me ter transformado
numa pessoa melhor e me fazer feliz em cada dia e em cada momento
partilhado, por acreditar, incondicionalmente, em mim e me lembrar
constantemente do meu valor. Obrigada do fundo do coração.
À minha melhor amiga, Sara Rocha, por estar sempre presente por mais
longe que esteja *
VI
À minha “Família Frango”, Cora Vieira, Emanuel França, André Ferreira,
Helena Silva, Bruno Ferreira, Raquel Sousa, Mariana Teixeira, Andreia
Fernandes, Joana Cardoso, por todos os convívios, aventuras e alegrias que
partilhamos. Que a nossa amizade dure, dure e dure …
À minha açoriana “lindona”, Raquel Furtado, por tudo o que fizeste e
fazes por mim … Tu sabes!
Às duas meninas, Tânia Vilas Boas e Rita Coutinho, por me terem dado
a oportunidade de as conhecer, depois de três anos na mesma Faculdade, e
hoje serem peças essenciais do puzzle das minhas amizades! Aos meus
amigos do Mestrado, Inês, André, Morais, Cláudio, David, Nuno e Samuel, por
me mostrarem que o pessoal que vem de outras Instituições de Ensino
Superior até são boas pessoas … Ah ah ah, estou a brincar! Que seria do meu
primeiro ano de mestrado sem vocês? Noites e dias de trabalho, aulas, Queima
das Fitas, vitórias e derrotas sempre ao vosso lado!
Às minhas companheiras de licenciatura, Joana Cruz, Leandra Gomes,
Sónia Pereira e Susete Vaz Pedro, por todas as aventuras que vivemos e todas
as lutas que travamos juntas!
Ao Daniel Santos por ser o meu Padrinho de Faculdade, está tudo dito!
Aos amigos, Lília Lopes, Rui Silva, Joana Silva, Catarina Araújo,
Cristiano Marques, Rafaela Marques, Daniel Sousa, por permanecerem na
minha vida, ano após ano e confirmarem que para ser um verdadeiro amigo
não é preciso um contacto constante!
Aos meus amigos Mané, Inês Isidro, Mónica Espírito Santo, Teresa
Ribeiro e Rui Sousa, pelas ajudas que me deram ao longo do meu percurso
académico, sendo, por isso e muito mais, pessoas muito importantes para mim.
VII
Aos meus alunos, pequeninos e grandes. Nenhuma palavra descreveria
o que vocês significam para mim. Os primeiros nunca se esquecem… Cresçam
e sejam felizes!
Ao meu Núcleo de Estágio, Rita Silva, Bruno Pinto e Diogo Rios, por
partilharem este ano maravilhoso comigo e se revelarem pessoas
extraordinárias.
Ao meu Professor Cooperante, Doutor Fernando Cardoso, por me fazer
reviver, ao longo deste ano, momentos marcantes vividos na escola que me
abriu portas, por partilhar comigo tanta da sua sabedoria, investir na minha
formação de uma maneira incansável e ser, para além de meu Professor, meu
amigo!
À minha Professora Orientadora, Doutora Paula Queirós, por lutar
comigo pelos meus objetivos, por ter sempre a palavra certa no momento certo
orientando-me de forma irrepreensível e por me proporcionar momentos
calmos, tão preciosos, neste ano tão turbulento.
A todos os Professores da Faculdade de Desporto da Universidade do
Porto, por me possibilitarem uma formação de excelência e a toda a restante
comunidade desta tão nobre “casa”, por me acolher e se relacionar comigo,
fazendo-me sentir especial no meio de tantos estudantes. Um agradecimento
especial à Professora Doutora Susana Soares, por não desistir de mim em
nenhuma aula de Natação, por me ter incutido o “bichinho” da água, pelas
oportunidades que me proporcionou, pela amizade que permitiu que se criasse
entre nós e por ser um grande exemplo para mim!
À Escola Secundária de Rio Tinto, personificada, de forma especial e
particular, nas Professoras Olga Costa e Olga Mendonça por serem pessoas
extremamente importantes, que ficarão para sempre na minha memória e a
quem estarei eternamente grata.
Índice Geral
Agradecimentos ................................................................................................. V
Índice de Figuras ............................................................................................... XI
Índice de Anexos ............................................................................................. XIII
Resumo ........................................................................................................... XV
Abstract ......................................................................................................... XVII
Lista de Abreviaturas ...................................................................................... XIX
Capítulo 1 - Introdução ....................................................................................... 1
1.1. O Estágio Profissional como parte fundamental da formação ............... 3
Capítulo 2 - Dimensão Pessoal .......................................................................... 7
2.1 Ser Professor ............................................................................................ 9
2.2 Vinte e tal anos de história ...................................................................... 12
2.3 Da expectativa à realidade .................................................................. 15
Capítulo 3 - Enquadramento da prática profissional ......................................... 21
3.1 Enquadramento Concetual .................................................................. 23
3.2 Contexto legal e institucional do estágio profissional .......................... 26
3.3 A Escola que marcou a minha vida: Escola Secundária de Rio Tinto ..... 30
3.4 Núcleo de estágio: a improvável amizade, o reconfortante
companheirismo ............................................................................................ 35
3.5 Turma: 28 pedaços de mim! ................................................................ 37
3.6 Grupo de Educação Física: a descoberta mais controversa ............... 40
3.7 Professor Cooperante: o grande pilar ................................................. 41
3.8 Professora Orientadora: A sabedoria eminente .................................. 44
3.9 A professora Estagiária: um turbilhão de emoções em constante
descoberta .................................................................................................... 45
Capítulo 4 - Enquadramento operacional ......................................................... 51
3.10 Área 1 - Organização e gestão do processo do ensino e da
aprendizagem ............................................................................................... 55
3.10.1 Conceção: Consciencialização do percurso ................................. 57
3.10.2 Planeamento: A rede de segurança ............................................. 68
3.10.3 Realização: A infinidade de descobertas ...................................... 88
3.10.4 Avaliação .................................................................................... 152
3.10.5 O abismo entre o segundo ciclo (5º ano) e o ensino secundário
(10º ano) .................................................................................................. 156
3.11 Área 2 – Participação e relação com a comunidade escolar ............. 159
3.11.3 Atividades organizadas pelo grupo de Educação Física ............ 160
3.11.4 Atividades organizadas pelo Núcleo de Estágio ......................... 162
3.11.5 Desporto escolar ......................................................................... 164
3.11.6 Direção de turma ........................................................................ 168
3.12 Área 3 – Desenvolvimento profissional ............................................. 170
3.12.3 Refletir o melhor e o pior de mim para evoluir ............................ 170
3.12.4 Estudo de Caso: Análise e intervenção na aula de Educação Física
junto de uma aluna desmotivada e com uma autoestima diminuída ........... 175
3.12.5.1 Resumo ................................................................................... 175
3.12.5.2 Abstract ................................................................................... 176
3.12.5.3 Introdução ............................................................................... 177
3.12.5.4 Metodologia ............................................................................. 181
3.12.5.5 Recolha e tratamento de dados .............................................. 186
3.12.5.6 Bibliografia ............................................................................... 212
Capítulo 5 - O fim de um sonho sem grandes perspetivas de repetição ........ 217
Referências bibliográficas .............................................................................. 223
Anexos ................................................................................................................ i
XI
Índice de Figuras
Figura 1 – Mapa das Freguesias do Concelho de Gondomar ________ Pág. 32
Figura 2 – Diagrama das fases de Organização e Gestão do Ensino e da
Aprendizagem ____________________________________________ Pág. 55
Figura 3 – Diagrama dos documentos analisados no âmbito da conceção do
ensino ___________________________________________________ Pág. 61
Figura 4 - A perspetiva de Kemmis (1988) sobre o processo de investigação-
ação ___________________________________________________ Pág. 185
XIII
Índice de Anexos
Anexo I – Questionário das características dos alunos __________________ iii
Anexo II – Roulement ____________________________________________ v
Anexo III – Planeamento Anual 2014/2015 ___________________________vii
Anexo IV – Planeamento dos Períodos ______________________________ ix
Anexo V – Exemplo de Unidade Didática ____________________________ xi
Anexo VI – Exemplo de Plano de Aula _____________________________ xiv
Anexo VII – Exemplo de Grelha da Avaliação Diagnóstica (Voleibol) _____ xvii
Anexo VIII – Exemplo de Grelha da Avaliação Sumativa (Atletismo) _____ xviii
Anexo IX - Contrato do Capitão (MED) ____________________________ xxi
Anexo X – Estrutura de Proposta de Exercício (MED) _________________ xxii
Anexo XI – Estruturação da Unidade Didática de Dança e Futebol (MED) _ xxiii
Anexo XII – Documento explicativo do MED ________________________ xxiv
Anexo XIII – Ficha de Avaliação (MED) ___________________________ xxx
Anexo XIV – Ficha de Avaliação da Instrução do exercício (MED) _______ xxxi
Anexo XV – Ficha de Estatística (MED) ___________________________ xxxii
Anexo XVI – Lista de Equipas e Capitães _________________________ xxxiii
Anexo XVII – Autorização para Estudo de Investigação-Ação _________ xxxiv
Anexo XVIII – Consentimento para Estudo de Investigação-Ação _______ xxxv
Anexo XIX – Guião da primeira entrevista _________________________ xxxvi
XIV
Anexo XX – Guião da segunda entrevista ________________________ xxxviii
Anexo XXI – Documento da Unidade Didática de Ginástica Acrobática __ xxxix
XV
Resumo
Depois de vários anos de aprendizagens e conquista de saberes específicos da
área profissional por mim escolhida, vivenciei o tão aguardado e desejado ano
de Estágio. Este momento surge como uma Unidade Curricular do plano de
estudos do Mestrado de Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e
Secundário, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto,
conjuntamente com o Relatório de Estágio, que agora se apresenta. Estas
duas vertentes do último ano da minha formação exigem a aplicação de uma
panóplia de conhecimentos adquiridos, sendo, por isso, as etapas mais
marcantes para mim, enquanto Estudante Universitária. O Relatório de Estágio
encontra-se dividido em cinco capítulos. O primeiro é relativo à introdução do
trabalho, onde se procede a uma contextualização não só do Estágio
Profissional mas de todo o processo que culmina com a realização do Relatório
de Estágio. No capítulo dois, denominado Dimensão Pessoal, pretende-se que
o Estudante Estagiário se dê a conhecer, identifique alguns dos pontos fulcrais
da sua vida e esclareça as suas expectativas quanto ao seu processo de
formação. O Enquadramento da prática profissional, capítulo três, situa os
leitores no contexto onde toda a prática pedagógica supervisionada decorreu e
identifica alguns dos mais importantes intervenientes deste momento formativo.
No capítulo quatro, Enquadramento Operacional, estão espelhadas as
exigências do Estágio, a necessidade constante de reflexão sobre a prática, o
motor de desenvolvimento designado por investigação na ação e todos os
acontecimentos mais marcantes, como as relações estabelecidas com a
comunidade educativa, nesta descoberta da profissão. Por fim, o capítulo
cinco, clarifica o pensamento do Estudante Estagiário sobre o seu futuro,
identificando possibilidades e oportunidades no âmbito da sua formação.
PALAVRAS-CHAVE: PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM; ESTÁGIO
PROFISSIONAL; EDUCAÇÃO FÍSICA; PROFESSORA; MOTIVAÇÃO;
AUTOPERCEÇÕES.
XVII
Abstract
After several years of learning and achievement of specific knowledge of the
professional field chosen by me, I finally experienced the highly anticipated and
desired internship. This moment comes as a curricular unit of the 2nd Cycle in
Teaching of Physical Education in Primary and Secondary Education, in the
University of Porto, together with the internship report that now is presented.
These two fields of my last year of learning require a wide range of knowledge,
and, therefore, they were the most important steps for me as an university
student. This document is divided into five chapters. The first is an introduction
to the work, where it proceeds to a contextualization not only of the Professional
Internship but of the whole process that ends with the fulfillment of this report.
In chapter two, named the Personal Dimension, the student lets to know
himself, identifies some of the key points of his life and clarifies his expectations
about his training process. The professional practice framework, chapter three,
puts the readers in context where all the supervised teaching practice took
place and identifies some of the most important participants of this formative
moment. In chapter four, Operational Framework, are reflected the important
requirements of the internship, the constant need for reflection on practice, the
driving force of development known as an action research, and all the most
important events, such as the relationship established with the educational
community, on this finding of the profession. Finally, chapter five, clarifies the
mind of the internship student about his future, identifying possibilities and
opportunities within his training.
KEY-WORDS: TEACHING-LEARNING PROCESS; PROFESSIONAL
INTERNSHIP; PHYSICAL EDUCATION; TEACHER; MOTIVATION; SELF-
PERCEPTIONS
XIX
Lista de Abreviaturas
DE – Desporto Escolar
DT – Direção de Turma
EP – Estágio Profissional
ESRT – Escola Secundária de Rio Tinto
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
ME – Ministério da Educação
MEC - Modelo de Estrutura do Conhecimento
MEEFEBS – Mestrado de Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e
Secundário
PC – Professor Cooperante
PCE – Projeto Curricular de Escola
PEE – Projeto Educativo de Escola
PES - Prática de ensino supervisionada
PFI – Projeto de Formação Individual
PO – Professora Orientadora
RE – Relatório de Estágio
RI – Regulamento Interno
UD – Unidade Didática
UP – Universidade do Porto
Capítulo 1 - Introdução
Capítulo 1 - Introdução
3
1.1. O Estágio Profissional como parte fundamental da
formação
No âmbito do Mestrado de Ensino de Educação Física nos Ensinos
Básicos e Secundário (MEEFEBS), da Faculdade de Desporto da Universidade
do Porto (FADEUP), e na perspetiva de possuir o grau de Mestre, ficando deste
modo apta para a lecionação de aulas de Educação Física (EF) em contexto
escolar, realizei, durante o ano letivo 2014/2015, um Estágio Profissional (EP),
na Escola Secundária de Rio Tinto (ESRT), situada na freguesia de Rio Tinto,
concelho de Gondomar, enquadrada no distrito do Porto, resultando deste
modo a realização deste documento designado Relatório de Estágio (RE), que
possui um caráter pessoal, descritivo e sobretudo reflexivo.
A escola supracitada contou com um núcleo de estágio de Educação
Física, do qual faço parte, juntamente com outros três aspirantes a tão nobre
Profissão. Este núcleo dispõe da presença constante de um Professor
Cooperante (PC), elemento que está intimamente ligado à escola e de uma
Professora Orientadora (PO), destacada pela Faculdade, cujo objetivo é
assegurar que as Normas Orientadoras do Estágio sejam cumpridas por todos
os intervenientes.
Através dos vários anos de Licenciatura e do primeiro ano de Mestrado,
juntamente com as minhas vivências enquanto aluna e relatos que durante
toda a minha vida fui escutando em contexto familiar, devido ao meu pai ser
também Professor, fui criando uma imagem mental do que seria integrar esta
Profissão e ser responsável por uma turma, imagem essa, que quando
confrontada com a realidade, se alterou um pouco, sentindo necessidade de
reformular algumas das ideias preconcebidas que fui adquirindo ao longo do
tempo. É neste seguimento que identifico as grandes mais-valias do Estágio
Profissional, nos moldes que a FADEUP apresenta aos seus Estudantes
Estagiários, concordando assim com Campos (1995), que afirma que “a
formação pedagógica na sua vertente prática, sobretudo quando inclui um
estágio com responsabilização pela docência nas escolas, é uma das
Capítulo 1 - Introdução
4
características mais distintivas dos cursos de formação de professores
relativamente aos restantes países da união europeia” (p. 37). Segundo o
mesmo autor “a prática pedagógica concretiza-se através de atividades
diferenciadas (desde a observação e análise até à responsabilização pela
docência, sempre com supervisão) ao longo do curso e em períodos de
duração crescente e responsabilização progressiva” (p. 14), sendo o EP o
culminar de toda a formação.
Para Ribeiro da Silva cit. por Silva (2014) “o Estágio Pedagógico (EP)
corresponde a um momento fundamental na formação profissional dos jovens
professores, sendo, frequentemente, a única experiência de ensino
acompanhado antes do fim da sua formação inicial, o que vem reforçar a
importância que os alunos estagiários lhe atribuem, considerando-a,
normalmente, como a mais significante de todo o processo formativo” (p. 129).
Este mesmo autor encara o EP “reconhecendo-lhe grande potencial na
promoção das aprendizagens daqueles, nos diversos âmbitos (cientifico-
pedagógico-didático, pessoal, ético profissional, reflexivo), embora a ritmos
diferentes” (Silva, 2014, p. 130).
Foi na prática e no contexto real dos acontecimentos e da vida escolar
que consegui descobrir as minhas reais facilidades e dificuldades, os meus
pontos fortes e fracos, as minhas angústias e tranquilidades. Foi nesta
experiência real que me consciencializei que planear é um ponto
importantíssimo do trabalho de um Professor, mas nenhum planeamento é
estanque e nunca devemos limitar-nos ao que planeamos, pois conforme
afirma Bento (2003) “no processo real do ensino existe o inesperado, sendo
frequentemente necessário uma rápida reação situativa” (p.16). Para além
disso, em contexto escolar o tempo é demasiado efémero e todos os dias as
contrapartidas são novidades para o Professor, sendo muito difícil acreditar que
aquilo que é verdade hoje sê-lo-á também amanhã.
É durante o estágio que percebemos a importância das pessoas e o
quanto elas nos podem ensinar ou proporcionar, tanto a nível do conhecimento
e da evolução profissional, como a nível social e pessoal. É durante este ano
de altos e baixos, de amores e desamores, de motivações e desmotivações
Capítulo 1 - Introdução
5
que nos conhecemos, que identificamos os nossos limites e as nossas
estratégias para sermos mais fortes e mais capazes de enfrentar a roda vida
que são os alunos, os restantes professores, os operacionais de ação
educativa, o nosso próprio estado de espírito, todo o ambiente escolar.
O EP é segundo Silva (2014) “o momento de aplicação das
competências profissionais desenvolvidas até então, com o objetivo de
transporem para a prática um conjunto de conhecimentos pouco vivenciados,
sendo esta prática em contexto real a sua mais-valia, oferecendo aos futuros
professores, segundo Batista e Queirós (2013) cit. por Silva, a oportunidade de
emergirem na cultura escolar nas suas diversas componentes, desde as suas
normas e valores aos seus hábitos, costumes e práticas, que comprometem o
sentir, o pensar e o agir dos estagiários” (p. 129).
Por tudo o descrito anteriormente, reforço o que Simões cit. por Silva
afirma: “poucos períodos se comparam a este em importância, (…) constitui um
período único e significativo na vida pessoal e profissional de qualquer
professor” (Silva, 2014, p. 129).
O relatório de Estágio encontra-se organizado em cinco capítulos, sendo
o primeiro designado de “Introdução”, onde estão espelhadas as ideias que
serão desenvolvidas ao longo de todo o documento de forma mais
pormenorizada, relativas a este ano tão rico e inovador e onde é possível
identificar a estrutura global do mesmo.
O segundo capítulo, “Dimensão Pessoal”, contempla algumas das
características que atribuo aos Professores, uma descrição do meu percurso
de vida, até aos dias de hoje, todos os meus sonhos e motivações, e o
confronto entre as minhas expectativas no início deste ano fantástico e a
realidade por mim vivenciada.
Em terceiro lugar, surge o capítulo, “Enquadramento da prática
profissional”, onde defino todo este processo no seu contexto legal e
institucional, descrevo e reflito sobre todo o envolvimento do estágio, desde a
Escola onde se desenvolveu, o Núcleo de Estágio, a Turma que lecionei de
forma permanente, o Grupo de Educação Física, o Professor Cooperante, a
Professora Orientadora e eu, a Professora Estagiária.
Capítulo 1 - Introdução
6
O quarto capítulo, “Enquadramento Operacional”, relata e reflete todo o
processo de conceção, planeamento, realização e avaliação do processo de
ensino-aprendizagem, onde destaco pontos fortes e fracos, momentos e
situações que mais me marcaram, facilidades e dificuldades que vivenciei. A
participação e relação com a comunidade escolar, sendo assim possível
adquirir algum conhecimento sobre as formas que escolhi para me relacionar
satisfatoriamente com alunos, professores e operacionais de ação educativa. O
desenvolvimento profissional, esclarecendo as minhas intenções e o que fiz ao
longo deste ano para me tornar uma melhor profissional.
E por fim, o último capítulo designado “O fim de um sonho sem grandes
perspetivas de repetição”, diz respeito ao balanço e prognóstico do meu futuro
enquanto Professora de Educação Física.
Capítulo 2 - Dimensão Pessoal
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
9
2.1 Ser Professor
“O Professor liga-se à eternidade; ele nunca sabe onde cessa a sua
influência.”
(Henry Adams cit. por Bento, 2008)
Passados tantos anos, ainda me recordo do meu primeiro dia na escola,
da minha Professora, de quem não guardo muito boas recordações por me
mandar muitos trabalhos de casa, das cadeiras e mesas pequeninas, da fila
para o baloiço na hora do intervalo, da comida quentinha na lancheira trazida
pela Mãe, dos meus amigos, mantendo ainda contacto com alguns deles nos
dias de hoje, da vergonha que tinha de ir ao quadro pela exposição perante
toda a turma, das minhas grandes dificuldades em pontuar textos, recordo-me
de tantas outras coisas que passaria horas a discorrer sobre elas.
Atualmente percebo a influência que todas as pequenas vivências em
contexto escolar tiveram na minha personalidade, na forma como vivo a minha
vida e nas escolhas que fiz até aos dias de hoje. Escolhi ser Professora por
reconhecer grande dignidade, responsabilidade e dificuldade a esta profissão,
por ter um exemplo maravilhoso em casa de como ser Professor, o meu Pai,
por ter a sorte de, ao longo da minha escolaridade, aprender maioritariamente
com grandes Professores e todos eles terem “regado” sistematicamente a
“semente” que já existia dentro de mim, possibilitando assim que esta
florescesse e comece agora a dar frutos.
Ser Professor é estimular a “promoção da emancipação, autonomia e
liberdade dos humanos e o estímulo e encorajamento para se subtraírem das
garras da irracionalidade e menoridade, da manipulação e alienação, da
instrumentalização e domesticação” (Bento, 2008, p. 25), isto é, o Professor
deve dotar os seus alunos de capacidades intelectuais, sociais e práticas que
lhes permitam pensar por si, tomando autonomamente as melhores decisões
para a sua vida. O Professor deve formar e não formatar, moldando os seus
alunos “para serem homens livres e superiores à baixeza dos instintos, à
manipulação e alienação e para exibirem e irradiarem elevado índice de
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
10
estética e nobreza de traços no modo de ser e estar, no saber, no carácter, na
convivência, na cidadania, na cumplicidade e solidariedade” (Bento, 2008, p.
28).
Embora a minha conceção de Professor esteja de acordo com o citado
anteriormente, tenho noção que, hoje em dia, “o professor tem sido visto como
orientador e facilitador de aprendizagem, tem sido recomendado a recorrer a
métodos interativos, a uma organização pedagógica descentrada (mais
horizontal), a aderir às novas tecnologias, a utilizar novos campos e
modalidades de intervenção” (Cunha, 2008, p. 48), tentando ir de encontro aos
interesses e motivações dos seus alunos, tornando, desta forma, a profissão
docente mutável e desenvolvida de acordo com o contexto espacial e temporal
e com toda a diversidade adjacente a cada geração. Não se fala apenas de
gostos e motivações dos alunos quando está em causa uma adaptação nas
metodologias de ensino, mas fala-se também, e principalmente, das
capacidades intelectuais e sociais dos discentes, desta forma, Ruivo cit. por
Cunha (2008, p. 53) afirma que “hoje o professor já não é apenas encarado
como um especialista nas matérias que ensina, mas também um técnico
altamente qualificado, em áreas do saber tão diversificadas quanto: (…) o
conhecimento dos modelos de aprendizagem dos seus alunos; o conhecimento
do desenvolvimento psicossociológico, condicionando as aprendizagens; o
conhecimento das relações sociais que se estabelecem entre o aluno e a
escola e entre esta e os diferentes agentes sociais que integram a comunidade;
o domínio de técnicas e de processos de gestão de conflitos”.
Esta é uma profissão muito ingrata e que aos olhos de grande parte dos
jovens, está incumbida da parte aborrecida da escola, os Professores não
acrescentam nada à sua vida, repreendem alguns comportamentos que para
os alunos são prazerosos e apenas debitam matéria que será alvo de um
momento avaliativo. Pois bem, “há muitos anos a sociedade confiava a
educação, no essencial, a duas instituições: família e escola. (…) Os pais viam-
se prolongados pelos professores; ambos eram pedagogos de peso, com a
diferença de que os últimos eram profissionais dotados da correspondente
autoridade e competência” (Bento, 2008, p. 26). Hoje em dia esta realidade já
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
11
não se verifica. O lado familiar deixou de representar a estrutura sólida que
sustentava as fragilidades e incongruências dos elementos mais novos, parou
em muitos casos de proporcionar estabilidade e harmonia sendo recorrente a
observação de famílias completamente desestruturadas, o que geralmente
acaba por ter consequências graves para aqueles que não têm qualquer culpa,
os filhos. Por este motivo, “muitos alunos não têm hábitos, rotinas, normas e
atitudes de conduta e disciplina exigíveis e imprescindíveis para agir
corretamente no reduto escolar” o que, frequentemente “ocasiona a diminuição
da possibilidade dos professores assumirem a função de ensinar; em vez de
transmitir conhecimentos têm de cuidar de comportamentos” (Bento, 2008, p.
27).
Perante este cenário que pouco ou nada me tranquiliza e me faz
levantar várias questões sobre o rumo que a sociedade está a tomar, eu
acredito no poder que o Professor tem para influenciar positivamente a vida
das crianças e jovens. Acredito vivamente também que os próprios alunos se
podem influenciar uns aos outros, dando estabilidade e partilhando
experiências enriquecedoras e produtivas. Defendo estas afirmações tendo
como base a minha ínfima experiência em contexto escolar, como Professora,
pois ao longo do ano letivo 2014/2015 tive a possibilidade de observar a
transformação, o crescimento e a aquisição de competências fundamentais em
vários alunos, uma evolução que terá um impacto significativamente positivo na
sua vida em sociedade. Dando um exemplo muito simples e claro, o espírito de
entreajuda, fomentado em todas as minhas aulas de Educação Física, é
fundamental nos dias de hoje e eu sinto-me uma felizarda por ter incutido este
valor em muitos dos meus alunos, pois estes não se encontravam
sensibilizados para as dificuldades, que pessoas próximas poderiam sentir,
num contexto que para si se verificava simples, e ter obtido resultados com
esta estratégia.
Pessoalmente não consigo medir o impacto que todos os meus
Professores, sejam eles bons ou menos bons, tiveram na minha vida, pois se
dos melhores guardo atitudes, posturas e formas de ser e estar que tento
reproduzir em contextos pedagógicos, sem descurar a minha identidade
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
12
profissional, dos restantes retenho comportamentos que, enquanto aluna, não
apreciei e por isso não quero reproduzir perante uma turma.
2.2 Vinte e tal anos de história
Ativa, será a palavra que melhor caracteriza a menina Mariana Ribeiro
da Silva, de vinte e quatro anos, natural da freguesia de Santo Ildefonso, do
concelho do Porto.
Desde sempre ouvi relatos de familiares e amigos onde as descrições
sobre mim diziam que, enquanto criança, nunca parava quieta, calada ou de
me portar mal. Isto diferenciava-me de todas as outras crianças da minha
idade, porque me aventurava, fazia traquinices com muita piada, segundo
dizem, e gostava das brincadeiras dos meninos como por exemplo, brincar com
carros e jogar à bola. Por outro lado, as bonecas e pinturas nunca me
fascinaram.
Tive a felicidade de passar grande parte da minha infância entre duas
aldeias, Melres, do concelho de Gondomar, e outra do concelho de Penafiel,
Rio Mau. Nelas tive a possibilidade de ser livre como seria impossível num
contexto urbano, nelas eram imprescindíveis os amigos, as brincadeiras na rua,
durante toda a tarde, os jantares rápidos para retomar a brincadeira. Nelas
ganhei o gosto pelo movimento, o jogo, as aprendizagens e o companheirismo.
É neste seguimento que a disciplina de Educação Física ocupa um lugar
de relevo ao longo de todos os meus anos de escolaridade, em paridade com a
disciplina de Educação Musical. Através do Desporto Escolar pratiquei várias
modalidades como a natação, a orientação e o atletismo, de onde retirei
grandes valores para a minha vida quotidiana, como o respeito, o espírito de
grupo, a entreajuda, a superação, a confiança e a autonomia. Respondi
positivamente a um convite de uma amiga para experimentar a modalidade de
remo, modalidade que me fascinou e pratiquei durante algum tempo e que
também me ajudou na minha formação enquanto pessoa.
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
13
Tudo isto, e algumas boas e más experiências com os meus professores
de Educação Física, como por exemplo, ter uma professora no sexto ano de
escolaridade que me retirou da avaliação de Voleibol porque eu não sabia
jogar, e no sétimo ano uma professora que me deu o reconhecimento que
outrora não tinha tido e com quem me identifico até aos dias de hoje,
facilitaram a minha decisão quanto ao meu futuro. Sabia que queria ser como o
meu Pai, um excelente Professor, mas encontrava-me dividida entre a Música
e a Educação Física. Então, tendo por base as minhas experiências, decidi que
queria ser Professora de Educação Física, principalmente porque o desporto
sempre foi uma grande paixão. Desta forma a música ocupou um papel muito
importante na minha vida, mas de modo secundário, tendo integrado a Banda
Musical de Rio Mau durante alguns anos, como clarinetista. Foram anos muito
enriquecedores e gratificantes, uma vez que senti que podia conjugar duas das
minhas grandes paixões, podia pertencer a um grupo e ser o orgulho de alguns
dos meus familiares.
No ano de 2006, vi-me obrigada a mudar de escola para poder
frequentar o Curso Tecnológico de Desporto. Foi então que a Escola
Secundária de Rio Tinto entrou na minha vida. Esta escola deu-me a
possibilidade de, no décimo segundo ano, realizar um estágio, integrado no
curso tecnológico que frequentava, junto de uma população muito especial, que
sofria de Paralisia Cerebral, abrindo-me algumas portas, conforme relato mais
à frente. É aqui que nasce o meu carinho e o meu interesse pelas pessoas
portadores de deficiência. Durante três anos estudei, treinei, dediquei-me e
esforcei-me para garantir a minha entrada na Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto, o que se verificou em 2009.
Foi neste ano que a minha vida mudou radicalmente. A realidade do
Ensino Superior, as pessoas que conheci, os amigos que fiz, as aprendizagens
que conquistei e o crescente interesse pelo Desporto fizeram de mim o que sou
hoje. Em 2010 iniciei a minha atividade profissional relacionada à minha área
de formação, tendo trabalhado no Clube Fluvial Portuense e nas Piscinas
Municipais de Gondomar como Professora de Natação e de Hidroginástica.
Também neste ano, fui convidada a integrar uma equipa de treinadores de
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
14
Desporto Adaptado, no Clube Estrela Vigorosa Sport, onde tive o prazer de
reviver a alegria que estas pessoas me proporcionam, trabalhar com uma
equipa fantástica e com atletas enternecedores, sendo esta a experiência mais
marcante e importante da minha vida. Os campos de férias desportivas
organizados pelo Clube Estrela Vigorosa Sport em parceria com o Colégio das
Escravas e o Projeto da Universidade Júnior têm contribuído para o aumento
da minha experiência profissional, sendo há quatro anos as atividades que me
ocupam ao longo dos meses de junho e julho. Por fim, relato a minha
experiência como vendedora na loja Decathlon, durante o verão de 2014,
experiência esta que me enriqueceu bastante ao nível das relações humanas e
do meu entendimento sobre o mundo do trabalho.
Atualmente, encontro-me no último ano do Mestrado de Ensino de
Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário, tendo desempenhado a
função de Professora Estagiária numa Escola onde outrora fui aluna, a Escola
Secundária de Rio Tinto. Desde sempre a vertente do ensino foi o meu objetivo
ao ingressar neste curso, desde sempre o desejo de voltar à minha Escola me
acompanhou, até ao momento em que comecei a perceber todas as
dificuldades sentidas no ensino público, até ao momento em que me fizeram
perceber que, com algum sacrífico e uma fuga do meu meio confortável,
poderia haver esperança para a minha profissão. Com isto, os Açores
passaram a ser o destino de eleição para a realização do estágio, conquistando
assim uma prioridade importantíssima no concurso de professores. Contudo, o
mundo está sempre a mudar e quando julguei ser garantida a minha mudança
do continente para a ilha, tudo foi impedido, guardando ainda alguma tristeza
por não ter conseguido ganhar esta batalha. No entanto, não baixo os braços e
continuo a lutar, a dedicar-me e a esforçar-me por conseguir alcançar o futuro
que tanto desejo, aproveitando cada oportunidade e desafio.
Neste caminho conto com aspetos positivos e negativos. Considero-me
uma pessoa bastante sensível, carinhosa, motivada, persistente, trabalhadora,
observadora, preocupada mas também nervosa, pouco confiante, desanimada,
aborrecida, inquieta, insatisfeita e teimosa. Todas estas características
espelharam-se junto da minha turma, tendo pontos positivos como a boa
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
15
relação que consegui criar com todos os meus alunos, o trabalho diário para
lhes proporcionar as melhores aulas e as melhores aprendizagens, mas
também pontos negativos como o nervosismo e insatisfação antes e depois de
cada aula onde não me sinto tão à vontade.
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para
a sua própria produção ou a sua construção.”
(Freire, 1996, p. 47)
2.3 Da expectativa à realidade
Sendo o Estágio Profissional a oportunidade dos futuros professores
imergirem na cultura escolar nas suas mais diversas componentes, desde as
suas normas e valores, aos seus hábitos, costumes e práticas, que
comprometem o sentir, o pensar e o agir daquela comunidade específica
(Batista e Queirós, 2013, p. 33), eram grandes as minhas expectativas no início
do mesmo, não só por todo o significado agregado a este momento marcante
da minha vida, por todas as novidades adjacentes, mas também por voltar “às
minhas origens”, a uma escola que tanto me marcou durante todo o ensino
secundário, pelos reencontros que tinha a certeza que iam acontecer, pelas
novas pessoas que teria a oportunidade de conhecer, pelo meu Núcleo de
Estágio, Professor Cooperante e Professora Orientadora, pela incerteza, pelo
medo e pelo entusiasmo de conhecer as minhas turmas, pelo fascinante novo
mundo que iria habitar durante todo o ano letivo, pela minha vontade de
aprender, conhecer, desenvolver e evoluir.
Foram várias as questões que surgiram na minha cabeça quando
finalmente me consciencializei que iria enfrentar um Estágio Profissional, que
iria ser Professora. Como serão os meus alunos? Bem-educados, ariscos,
indisciplinados, cumpridores e interessados? Será que estarei à altura de
responder a todas as suas questões? Conseguirei manter-me imparcial quando
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
16
confrontada com as minhas preferências em relação aos alunos e às próprias
modalidades? Serei capaz de defender a minha disciplina quando necessário,
fazendo valer toda a formação que fui adquirindo ao longo dos últimos anos no
ensino superior? E o núcleo de estágio, o professor cooperante e a professora
orientadora? Será que terei a autoridade necessária para não ser confundida
com uma aluna pelos meus alunos, colegas, pais e operacionais de ação
educativa? Todas estas perguntas sem resposta, numa fase inicial deste
processo, formavam, na minha cabeça, um ruído ensurdecedor que me
angustiou, afligiu e despertou para o grande desafio que se avizinhada.
Embora faça um balanço positivo deste ano de aprendizagens e
adaptações, reconheço que nem todas as expectativas se verificaram na
realidade, ou não se concretizaram de forma tão marcante como expectei.
Escrevi há uns meses, no âmbito do Projeto de Formação Individual (PFI):
“Este ano não será um ano só de trabalho, está a ser e será um ano de
reencontros, emoções, recordações e muitos momentos felizes, será um ano
onde espero encontrar a mesma sabedoria, eficácia, o mesmo
profissionalismo, carinho e aprendizagens que outrora senti e vivi”, e no final
desta jornada não alteraria nenhuma palavra do excerto citado, pois sem
dúvida foi um ano feliz, que me preencheu muito para além do trabalho que
desenvolvi, foi um ano onde reencontrei pessoas por quem nutro uma grande
consideração e carinho, foi um ano onde me emocionei e dei especial relevo às
sensações e emoções, ao que sentia em cada dia, em cada conversa, em cada
lugar, foi um ano em que percebi como é difícil manter todo o profissionalismo
que reconheço à Escola Secundária de Rio Tinto e às pessoas que lá lutam,
todos os dias, por um futuro melhor, por uma sociedade mais culta e
alfabetizada.
Ainda nas minhas expectativas iniciais afirmei: “(…) conheci professores
que admirei e dos quais retive modos de intervenção e de relacionamento com
os alunos que poderiam funcionar comigo quando chegasse o momento de ser
professora também”. Este é um aspeto que não consegui descortinar na
totalidade ao longo do estágio, uma vez que reconheço uma identidade
profissional muito própria na minha forma de ensinar e de me relacionar com os
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
17
alunos, que está intimamente relacionada com a minha personalidade modo de
ser e estar. No entanto, considero que todos os Professores com quem convivi
contribuíram de forma direta ou indireta para a clarificação da Professora que
eu queria ser, moldando a minha imagem mental do que é ser um bom
profissional e esclarecendo-me do que os alunos esperam e gostam de um
Professor.
Numa fase inicial do estágio ambicionava “relacionar-me da melhor
forma possível com toda a comunidade educativa, desenvolvendo relações de
respeito e simpatia com todos”. É certo que respeitei e fui simpática com todas
as pessoas com que me cruzei ao longo destes meses, no entanto, guardo o
sentimento de que a relação com alguns elementos da escola poderia ter sido
melhor, mais desenvolvida e explorada. O Grupo de Educação Física, por
exemplo, ficou aquém das minhas expectativas, pois não me senti integrada,
pouco falava com outros Professores de Educação Física em contextos
informais, esperava desenvolver uma relação onde a troca de experiências e
conhecimentos fosse privilegiada e o espírito de entreajuda estivesse presente,
que estes Professores, talvez por reverem nos Estagiários o seu passado, a
sua construção profissional, fossem mais preocupados e mais presentes no
meu percurso na escola, contava aprender através de observações das aulas
destes docentes, retirando ideias que considerasse boas para implementar na
minha turma, o que não se verificou na maior parte dos casos. As atividades
que seriam desenvolvidas pelo Grupo de Educação Física foram por diversas
vezes alteradas, canceladas, tendo neste momento a sensação que não
contribui satisfatoriamente para a realização das mesmas e que a escola
poderia ser mais dinamizada através da realização efetiva de todos os torneios
e tarefas que no início do ano letivo se previu.
Relativamente ao núcleo de estágio afirmo que foi uma boa e agradável
surpresa, sendo efetivamente “o meu grande pilar ao longo deste ano”. Com os
meus colegas de núcleo consegui alcançar um ano mais tranquilo, recheado de
trocas de impressões e opiniões, onde o enriquecimento pessoal e profissional
foi o mais importante e a grande prioridade. Reconheço que a minha evolução
e a minha aprendizagem teriam ficado um pouco diminuídas se não tivesse a
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
18
ajuda, as chamadas de atenção e as críticas construtivas que os meus
companheiros sempre me dirigiram, possibilitando que o companheirismo e
amizade crescessem ao longo de cada semana.
Outro grande pilar foi o meu Professor Cooperante tendo-o imaginado
como uma pessoa que me faria evoluir ao longo das minhas aulas, através de
todos os conselhos e correções que me fizesse, de toda a motivação e
disponibilidade que demonstrasse, pois reconheço nele um grande
profissionalismo e encaro-o não só como Professor mas também como um
amigo que me acompanhou desde o Ensino Secundário até aos dias de hoje,
demonstrando constantemente uma preocupação em me manter confiante e
motivada. Sem dúvida que os meus pensamentos e desejos se verificaram na
realidade, pois ao longo de todo o ano letivo o Professor Cooperante esteve
disponível e envolvido na minha formação e evolução, disponibilizando, de
forma direta ou indireta, todas as ferramentas necessárias para o meu sucesso.
A Professora Orientadora significa para mim toda a tranquilidade e
sabedoria indispensáveis para um ano tão atribulado e emotivo como é o ano
de todas as descobertas, de todos os embates com o bom e o mau de ser
Professor. Através das reuniões e contactos que fui estabelecendo com a
mesma, verifiquei que me incitou sempre a refletir sobre a minha ação, sugeriu
novos e melhores caminhos que me ajudaram a encontrar as respostas que
precisava em cada momento e situação. Tinha elevadas expectativas
relativamente à sua orientação do meu Relatório de Estágio, por já conhecer,
em parte, o trabalho que desenvolve neste âmbito, e por lhe reconhecer
grandes competências e conhecimentos, tendo desde cedo o desejo de poder
trabalhar com a Professora Paula Queirós neste importante ano da minha
formação.
Por fim, mas não menos importantes, surgem os meus alunos, aqueles
com quem vivi experiências incríveis, aqueles que me fizeram perder o medo
de ensinar e me animaram a cada dia. Trabalhei para proporcionar aulas
interessantes, motivantes e com conteúdo aos meus alunos, dotando-os de
ferramentas que os fizessem evoluir para um patamar onde os seus saberes e
as suas competências fossem mais satisfatórias. Fomentar conceitos básicos
Capítulo 2 – Dimensão Pessoal
19
indispensáveis na vida em comunidade, como o respeito, a entreajuda, a
igualdade, a responsabilidade e a boa educação sempre foi um dos pontos
fortes da minha atuação, pois considero que para além de ensinar as regras do
jogo de Andebol, as ajudas na Ginástica, as vozes de partida no Atletismo e a
cadência na Dança, devo intervir e atuar no sentido de formar cidadão
competentes e responsáveis, capazes de viver em sociedade e de respeitar as
diferenças existentes na mesma. Penso ter alcançado muito bons resultados
ao nível da assiduidade, participação e empenho dos meus alunos,
contribuindo para que gostassem mais de praticar exercício físico e se
interessassem pelas atividades relacionadas com o Desporto. Além disso,
considero que soube adaptar-me, lidando e relacionando-me da melhor forma
com cada aluno, tendo em conta as suas particulares, facilidades e
dificuldades.
Capítulo 3 - Enquadramento da prática profissional
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
23
3.1 Enquadramento Concetual
“O Estágio Profissional entende-se como um projeto de formação do estudante
com a integração do conhecimento proposicional e prático necessário ao
professor, numa interpretação atual da relação teoria prática e contextualizando
o conhecimento no espaço escolar. (…) Visa a integração no exercício da vida
profissional de forma progressiva e orientada, através da prática de ensino
supervisionada em contexto real, desenvolvendo as competências profissionais
que promovam nos futuros docentes um desempenho crítico e reflexivo, capaz
de responder aos desafios e exigências da profissão.”
(Matos, 2014a, p. 3)1
O estágio profissional pode ser encarado sob dois pontos de vista: o
primeiro diz respeito ao momento em que realmente me confronto com a
realidade escolar, com o ato de dar aulas, com todas as aprendizagens, com a
felicidade que todo este cenário me proporciona e com a perceção de que é
esta a profissão que quero exercer. “Trata-se de um período vivido com
emoção e entusiasmo” (Flores, 1999, p. 171). Por outro lado, o segundo ponto
de vista está associado ao final de um ciclo onde, de certa forma, estive
protegida, onde tinha um objetivo e sabia o que faltava fazer e o que me
esperaria no ano seguinte, está associado à consciencialização do ambiente
que se vive numa escola, às dificuldades e angústias sentidas pelos
professores e à remota esperança de dar aulas, a curto prazo, depois do
estágio profissional. Estas primeiras experiências têm influência direta sobre a
decisão de continuar ou não na profissão, estando este período marcado por
sentimentos contraditórios que desafiam quotidianamente o professor e a sua
prática docente. De certa forma, este estágio profissional demonstrou-me que
1 Matos, Z. (2014). Normas Orientadoras do Estágio Profissional do Ciclo de Estudos
conducente ao Grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básicos e
Secundário da FADEUP – 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
24
“mais do que uma profissão desprestigiada aos olhos dos outros, a profissão
docente tornou-se difícil de viver do interior” (Nóvoa, 1992, p. 23).
Focando-me apenas neste ano decisivo na minha formação enquanto
Professora de Educação Física, afirmo que não consigo olhar para ele como
algo dissociado de todos os anos que lhe antecedem. Conforme afirma
Tamagnini cit. por Nóvoa (1992), a formação de professores está associada à
“necessidade de equilíbrio entre as três dimensões (…): preparação
académica, preparação profissional e prática profissional”. A preparação
académica diz respeito à licenciatura e ao primeiro ano de mestrado, a
preparação profissional, relaciona-se com todas as didáticas vivenciadas ao
longo do primeiro ano de mestrado, e a prática profissional, é o momento que
vivo atualmente por ter uma turma a meu cargo, sendo responsável pelas aulas
de Educação Física da mesma. É devido a estes três fatores que ocorre o
“choque com a realidade” “resultante das diferenças encontradas entre a
formação inicial e o que de facto acontece na realidade” (Simões cit. por
Queirós, 2014, p. 68), uma vez que “é no contacto com os espaços reais que o
estudante estagiário conhece os contornos da profissão, tornando-se, pouco a
pouco, um membro dessa comunidade educativa” (Lave e Wengwe cit. por
Queirós, 2014, p. 68).
Depois de nove meses envolvida na escola onde estagiei, depois de
várias interações com os professores que nela exercem a profissão docente,
com os meus colegas de estágio que partilharam alguns dos meus sentimentos
e opiniões, com os alunos que nela estudam e com os funcionários que nela
desempenham o seu trabalho eficazmente, consigo perceber que o Estágio
Profissional é mais do que a prática de ensino supervisionada (PES), as
atividades de observação e colaboração em situações de educação e ensino,
as atividades letivas e não-letivas realizadas na escola, as atividades de
ensino-aprendizagem, as atividades incluídas nos ciclos de formação
realizados na FADEUP e o Relatório de Estágio, é “mais do que um lugar de
aquisição de técnicas e de conhecimentos, (…) é o momento-chave da
socialização e da configuração profissional” (Nóvoa, 1992). Fui percebendo, ao
longo deste tempo, que o estágio não se restringe ao meu Professor
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
25
Cooperante, à minha Professora Orientadora, ao meu núcleo de estágio, às
minhas turmas e aos espaços destinados às aulas de Educação Física. O
estágio é muito mais do que isto, e trouxe-me a perspetiva de que “a noção de
experiência mobiliza uma pedagogia interativa e dialógica” (Dominicé cit. por
Nóvoa, 1992), isto porque através de conversas informais, de várias
observações, percebi que se estiver disposta a aprender com todos os
intervenientes em contexto escolar, consigo evoluir e assimilar vários
comportamentos que me beneficiarão na minha própria prática.
Através do contacto com o meu Professor Cooperante apercebi-me que
“a troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de
formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar,
simultaneamente, o papel de formador e de formando” (Nóvoa, 1992, p. 26),
uma vez que eu, enquanto Professora Estagiária aprendi imenso com o meu
Professor, mas, por outro lado, fui alertada por ele para o facto de também eu
poder transmitir e partilhar conhecimentos, enriquecendo a sua própria
experiência profissional.
Mas não só desta vertente social e interativa vive o estágio profissional.
Este ano “implica um investimento pessoal, um trabalho livre e criativo sobre os
percursos e os projetos próprios, com vista à construção de uma identidade,
que é também uma identidade profissional” (Nóvoa, 1992, p. 25). Esta
Identidade trata-se de um processo aberto, contínuo, dinâmico e negociável,
possuí um caráter pessoal e um caráter social, baseia-se nos valores, nas
representações, saberes, angústias e medos de cada um e no modo como
cada um se vê no mundo e resulta das múltiplas socializações e da
interpretação e construção da nossa história (Dubar, 1997). Isto é, não pude
acreditar que tudo conseguiria apenas com os relatos de outros professores,
com as observações feitas ao longo deste ano, com as orientações do
Professor Cooperante e da Professora Orientadora, muito pelo contrário, tudo
isto é perspetivado por mim como uma base para o meu desenvolvimento
próprio e singular, uma vez que “a formação está indissociavelmente ligada à
«produção de sentidos» sobre as vivências e sobre as experiências de vida”
(Finger; Ball e Goodson cit. por Nóvoa, 1992, p. 26).
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
26
Por fim, concordo com o triplo movimento sugerido por Schön cit. por
Nóvoa (1992), que engloba o conhecimento na ação, a reflexão na ação e a
reflexão sobre a ação e sobre a reflexão na ação, isto porque a prática
profissional docente levanta problemas que não são meramente instrumentais,
comportando, todos eles, situações problemáticas que obrigam a decisões no
terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de
valores. Estas ocorrências, do meu ponto de vista, empregam pertinência ao
aspeto reflexivo que todo e qualquer professor deve ser capaz de aplicar na
sua prática pedagógica, uma vez que só através da reflexão conseguimos
pensar sobre os aspetos positivos e negativos da nossa atuação, e definir
estratégias de melhoria. Por este motivo, a reflexão, torna-se um aspeto crucial
ao longo de todo o Estágio Profissional, na busca incessante pela competência
profissional. Esta competência assenta no desenvolvimento de competências
pedagógicas, didáticas e científicas, associadas a um desempenho profissional
crítico e reflexivo que se apoia igualmente numa ética profissional em que se
destaca a capacidade para o trabalho em equipa, o sentido de
responsabilidade, a assiduidade, a pontualidade, a apresentação e a conduta
adequada na Escola.
3.2 Contexto legal e institucional do estágio profissional
O estágio profissional está assente em normas específicas da instituição
universitária, Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, e em legislação
singular conferindo assim ao Mestrado de Ensino de Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário a habilitação profissional para a docência em
contexto escolar. Estas normas e legislação fomentam a uniformização das
condições em que os Estágios Profissionais decorrem, uma vez que são várias
as Escolas, os contextos, os Professores Cooperantes, os Professores
Orientadores e os alunos envolvidos em todo este processo.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
27
A Portaria n.º 1097/2005 de 21 de Outubro esclarece que “a prática
pedagógica constitui uma componente fundamental da estrutura curricular dos
cursos de formação inicial ministrados pelos estabelecimentos de ensino
superior e conferentes de qualificação profissional para a docência” (Ministério
da Educação e da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, 2005, p. 6151), sendo
esta prática ”orientada pela instituição formadora com a colaboração de um
estabelecimento de educação dos ensinos básico e secundário, podendo, na
sua fase final, revestir o formato de um estágio”. Este estágio acontece através
da prática pedagógica supervisionada onde o estudante estagiário deve aplicar
grande parte da teoria que lhe foi ensinada ao longo dos anos precedentes do
curso através do desenvolvimento de uma prática letiva supervisionada,
participar, na qualidade de observador, em reuniões de órgãos da escola, na
planificação da atividade letiva e na preparação de instrumentos de avaliação e
de materiais didáticos. De todas estas tarefas resulta o Relatório de Estágio
que visa a reflexão acerca de todas as transformações, melhorias e
aprendizagens sentidas pelo Professor Estagiário.
O estágio é acompanhado e orientado por um professor da escola,
Professor Cooperante, e um professor do estabelecimento de ensino superior,
Professor Orientador, sendo da competência do Professor da escola, segundo
a mesma portaria supracita, o acompanhamento e a orientação do estudante
estagiário nas vertentes de formação e de ação pedagógicas realizadas na
escola, a participação nas ações de formação destinadas a orientadores das
escolas programadas pelo estabelecimento de ensino superior, a participação
nas reuniões de coordenação programadas pelo estabelecimento de ensino
superior, a participação, em conjunto com os orientadores do estabelecimento
de ensino superior, na avaliação dos estudantes estagiários, a elaboração e
envio à direção regional de educação respetiva o relatório referente à
concretização da prática pedagógica supervisionada nos termos fixados por
aquela.
Segundo o Ministério da Educação (2007, p. 1320), no Decreto-Lei n.º
43/2007 de 22 de Fevereiro, o título de habilitação profissional “constitui
condição indispensável para o desempenho docente, nos ensinos público,
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
28
particular e cooperativo e nas áreas curriculares ou disciplinas abrangidas por
esse domínio”, sendo um sinal claro de que a exigência perante os
profissionais de educação está a aumentar, permitindo um nível mais elevado
de formação e competência dos Professores. Este mesmo decreto torna
possível a mobilidade dos Professores entre diferentes níveis e ciclos de
ensino o que “permite o acompanhamento dos alunos pelos mesmos
professores por um período de tempo mais alargado, a flexibilização da gestão
de recursos humanos afetos ao sistema educativo e da respetiva trajetória
profissional”.
Com as alterações nas estruturas dos ciclos de estudos do ensino
superior, no âmbito do Processo de Bolonha, o nível de habilitação profissional
passa a ser o de mestrado o que vai de encontro ao supracitado: “esforço de
elevação do nível de qualificação do corpo docente com vista a reforçar a
qualidade da sua preparação e a valorização do respetivo estatuto
socioprofissional”. Neste sentido, “o novo sistema de atribuição de habilitação
para a docência valoriza, de modo especial, a dimensão do conhecimento
disciplinar, da fundamentação da prática de ensino na investigação e da
iniciação à prática profissional”, estando desta forma espelhados os
pressupostos vivenciados ao longo do MEEFEBS, da FADEUP.
Desta forma, a nível institucional, o EP “considera os princípios
decorrentes das orientações legais nomeadamente as constantes do Decreto-
lei nº 74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro e
têm em conta o Regulamento Geral dos segundos Ciclos da UP, o
Regulamento geral dos segundos ciclos da FADEUP e o Regulamento do
Curso de Mestrado em Ensino de Educação Física”, sendo encarado nesta
instituição do ensino superior como “uma unidade curricular do segundo ciclo
de estudos conducente ao grau de Mestre em Ensino de Educação Física da
FADEUP e decorre nos terceiro e quarto semestres do ciclo de estudos”
(Matos, 2014b, p.2)2.
2 Matos, Z. (2014). Regulamento da Unidade Curricular Estágio Profissional do Ciclo de
Estudos conducente ao Grau de Mestre em Ensino da Educação Física nos Ensinos Básicos e
Secundário da FADEUP – 2014-2015. Porto: Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
29
Esta forma progressiva de integração na vida profissional tem, na
minha opinião, uma importância extraordinária para os aspirantes a tão nobre
profissão, pois confrontam-se durante um ano letivo completo com uma
situação real da sua profissão, estando constantemente acompanhados e
auxiliados por pessoas repletas de experiência, situação que fomenta a
investigação, a descoberta, a vinculação da identidade profissional e a
apreciação de cada um dos momentos ricos de todo este processo. Para além
disso organiza-se em três áreas de desempenho: Organização e Gestão do
Ensino e da Aprendizagem; Participação na Escola e Relação com a
comunidade; Desenvolvimento Profissional. A primeira engloba a conceção, o
planeamento, a realização e a avaliação do ensino e tem como objetivo a
construção de uma estratégia de intervenção, orientada por objetivos
pedagógicos, que respeitem o conhecimento válido no ensino da Educação
Física e conduzam com eficácia pedagógica o processo de educação e
formação do aluno na aula de Educação Física. A segunda engloba todas as
atividades não letivas realizadas pelo estudante estagiário, tendo em vista a
sua integração na comunidade escolar e que, simultaneamente, contribuam
para um conhecimento do meio regional e local tendo em vista um melhor
conhecimento das condições locais da relação educativa e a exploração da
ligação entre a escola e o meio. E por fim, a terceira engloba atividades e
vivências importantes na construção da competência profissional, numa
perspetiva do seu desenvolvimento ao longo da vida profissional, promovendo
o sentido de pertença e identidade profissionais, a colaboração e a abertura à
inovação. Tem como objetivo perceber a necessidade do desenvolvimento
profissional partindo da reflexão acerca das condições e do exercício da
atividade, da experiência, da investigação e de outros recursos de
desenvolvimento profissional. Investigar a sua atividade em toda a sua
abrangência (criar hábitos de investigação/reflexão/ação) (Matos, 2014a).
Neste momento, sinto-me em condições de afirmar que cumpri com a
regulamentação do EP, tendo desenvolvido um trabalho significativo com as
turmas que ficaram ao meu cargo de forma permanente ou partilhada,
respeitando os quatro níveis de organização e gestão do processo de ensino e
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
30
aprendizagem (conceção, planeamento, realização e avaliação), participando
de forma ativa nas reuniões de conselho de turma, assistindo a diversas aulas
dos meus colegas de núcleo de estágio e do meu PC, concretizando o Projeto
de Formação Individual (PFI), acompanhando um grupo de Desporto Escolar
(DE) e todo o trabalho desenvolvido no âmbito da Direção de Turma (DT),
planeando e organizando atividades de núcleo de estágio que servissem a
comunidade escolar.
Todas as normas e legislações podem parecer maçadoras ou
descontextualizadas, mas no final deste ano tão trabalhoso, enriquecedor e
produtivo reconheço todo o fundamento de cada ponto nelas contido,
afirmando que apenas quem vive esta experiência é capaz de entender o seu
significado.
3.3 A Escola que marcou a minha vida: Escola Secundária de
Rio Tinto
O conceito de Escola sofreu grandes alterações ao longo das últimas
décadas, passando da “escola-instituição em que se procura formar um sujeito
autónomo, capaz de participar livremente na sociedade e de assim instituir os
seus deveres e direitos de cidadania, para uma escola-serviço, em que os
alunos e as famílias são vistos como consumidores de serviços que se
compram num mercado, (…) que fez da relação professor-aluno uma relação
cada vez mais próxima da existente em outros mercados de consumo”
(Gomes, 2014, p. 292).
Esta mudança na escola acarreta consequências devastadoras nos
professores e nos próprios alunos. Os professores perdem a motivação para
ensinar pois a sua profissão está descredibilizada, e os alunos começam a ser
tratados de igual forma, deixando de existir igualdade e a preocupação de
interpretar as dificuldades e facilidades de cada um, adaptando o processo de
ensino-aprendizagem.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
31
Existem algumas metodologias que podem inverter o rumo da escola e
da profissão docente, como afirma Martins cit. por Lopes (2014, p. 277) ao
dizer que “a escola deve agora desenvolver sete “competências de
sobrevivência” necessárias para que as crianças e os jovens possam enfrentar
os desafios futuros: “pensamento crítico e capacidade de resolução de
problemas, colaboração, agilidade e adaptabilidade, iniciativa e capacidade
empreendedora, boa comunicação oral e escrita, capacidade de aceder à
informação e analisá-la e, por fim, curiosidade e imaginação”. Contudo, “as
escolas não podem mudar sem o empenhamento dos professores, e estes não
podem mudar sem uma transformação das instituições em que trabalham. O
desenvolvimento profissional dos professores tem de estar articulado com as
escolas e os seus projetos” (Nóvoa, 1992, p. 28).
A escola é cada vez mais vista como uma “territorialidade própria onde a
autonomia dos professores se pode concretizar” (Nóvoa, 1992, p. 29). Esta
afirmação entristece-me um pouco, pois deixa no ar a ideia de que o professor
não é reconhecido fora do seu estabelecimento de ensino, fora da sala de aula,
e está seriamente condicionado a um local para exercer a sua função de
formador de cidadãos cultos e educados.
Mesmo com toda a negatividade que hoje em dia envolve a escola,
quero acreditar que “estamos a evoluir no sentido de uma profissão que
desenvolve os seus próprios sistemas e saberes, através de percursos de
renovação permanente que a definem como uma profissão reflexiva e
científica” (Nóvoa, 1992, p. 31). Desta forma, “para ser capaz de cumprir a sua
missão a Escola tem necessidade de (re) conhecer não apenas todos os
elementos que a compõem, como os que nela incidem (…) vai-se fazendo,
nunca está feita, nunca está concluída porque o que hoje serve é resposta ao
desafio deste tempo. Amanhã, por ser outro tempo, terá de se rever, de se auto
questionar em diálogo com o meio” (Projeto Educativo, 2013/2017, p. 4)3.
A Escola Secundária de Rio Tinto foi criada pela Portaria de 30 de Junho
da 1982 e iniciou as suas atividades num edifício arrendado ao IANT, junto à
3 Projeto Educativo 2013/2017 do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto n.º 3, consultado a 8
de Agosto de 2015, disponível em http://www.aert3.pt/index.php/documentos.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
32
estrada nacional 15, no lugar de Chão Verde, onde se manteve durante dez
anos. Atualmente encontra-se em funcionamento na Travessa da Cavada
Nova, na Cidade de Rio Tinto, Concelho de Gondomar, Distrito do Porto, sendo
a sede do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº3, que foi criado a 4 de
Julho de 2012. A área de abrangência é considerável, uma vez que acolhe
alunos das freguesias de Rio Tinto, Baguim do Monte e Fânzeres. Para lá
destas freguesias, a Escola Secundária de Rio Tinto recebe também alunos
oriundos de outras freguesias do concelho.
Rio Tinto tornou-se cidade a 30 de agosto de 1995, com uma população
de 47 mil habitantes e tem o seu nome ligado ao rio que a atravessa, pois junto
a ele travou-se uma sangrenta batalha, ficando na memória do seu povo o
sangue derramado que, de tão abundante, tingiu as cristalinas águas do rio,
passando desde então a chamar-se Rio Tinto. Ocupa uma área de 9,5 𝐾𝑚2 e
localiza-se a oriente da cidade do Porto, a poente de Pedrouços, a norte de
Águas Santas, a nascente/sul de Baguim do Monte e Fânzeres e a sul de
Campanhã (Site da Junta de Freguesia de Rio Junta de Freguesia de Rio Tinto,
S. d.).
Figura 1 – Mapa das Freguesias do Concelho de Gondomar
Conhecer a Escola Secundária de Rio Tinto, algum do pessoal docente,
dos operadores de ação educativa e algumas das rotinas implementadas nesta
instituição, ajudou-me muito numa primeira fase do ano de estágio, uma vez
que não senti necessidade de realizar um reconhecimento tão aprofundado do
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
33
meio onde o meu estágio se iria desenrolar. Contudo deparei-me com algumas
diferenças, principalmente arquitetónicas, comparativamente com a altura em
que pertencia a esta escola como aluna, uma vez que no ano letivo 2009/2010
a ESRT sofreu um processo de requalificação no âmbito do projeto Parque
Escolar, ano em que ingressei no Ensino Superior.
Com as alterações inerentes ao processo anteriormente citado, a escola
apresenta excelentes condições físicas, para suportar, servir e apoiar toda a
população escolar, contemplando uma secretaria, um PBX, uma biblioteca e
um centro de recursos, um bar, um refeitório, uma loja escolar, uma zona
polivalente, dois auditórios, vários pavilhões com salas preparadas para
ensinar os alunos em cada um dos seus cursos, uma zona destinada à Direção
da escola, uma sala de trabalho de Professores, uma sala de descanso dos
Professores, uma sala dos alunos, várias casas de banho espalhadas pelo
recinto escolar para população dita normal e portadores de deficiência, uma
entrada principal e um amplo espaço exterior que rodeia todos os edifícios
escolares.
Todos estes espaços permitiram, que ao longo de todo o ano letivo
convivesse com os restantes Professores, pois todos os espaços são tão
agradáveis que onde quer que estivesse encontrava sempre algum colega com
quem conversar e partilhar experiências, não existindo, como acontece em
muitas escolas, um espaço onde todos os Professores se reunissem nos
intervalos das suas aulas. Consegui também acompanhar a vida dos alunos
fora do contexto de aulas, nomeadamente no tempo destinado aos intervalos,
pois cruzava-me regularmente com os mesmos sempre que me deslocava de
um local para o outro, fomentando com breves conversas, ou uma simples
troca de palavras momentânea, a boa relação que atingi no final deste ano.
Estes encontros inesperados revelaram-se muito úteis no meu conhecimento
dos alunos. Ao encontrá-los durante o convívio com os seus amigos, num
ambiente de maior descontração e naturalidade identifiquei pormenores que
muitas vezes, em contexto de aula, passam despercebidos como é o caso das
relações entre pares, do quão introvertidos ou extrovertidos os alunos são,
quais as atividades que elegem para ocupar o seu tempo de descanso. “Tal
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
34
como o “espaço na aula”, o “espaço de escola” também parece constituir um
laboratório de experiências de vida, de certa forma transferíveis para outros
espaços sociais” (Cunha, 2008, p. 49).
Destinado à prática desportiva, a escola conta com sete espaços: dois
pavilhões cobertos (G1, G2, G3 e G4), um deles com bancada, uma sala com
espelhos (G5), um campo exterior multiusos (G6) e dois campos de ténis (G7).
Estes são, na minha opinião, espaços que possibilitam a realização de sete
aulas, de turmas distintas, em simultâneo, num dia em que as condições
climatéricas sejam favoráveis, ou seja não esteja muito frio, nem muito calor,
ou que não chova ou troveje. Caso as turmas distribuídas, no roulement (Anexo
II), pelos espaços exteriores não possuam as condições necessárias para a
concretização das suas aulas pode, eventualmente, verificar-se aquela que
será a única situação menos funcional, do meu ponto de vista, uma vez que o
terço central de um dos pavilhões, ou seja, o espaço G2, tem de ser dividido
por duas turmas, sendo quase impossível, nesta condições rentabilizar algum
tipo de trabalho.
Relativamente ao material disponível para as aulas, considero que a
Escola está bem equipada para a maioria das modalidades, quando as aulas
acontecem em espaços interiores e fechados, o que não se verifica nos
espaços exteriores, pois tive a oportunidade de vivenciar esta limitação em
modalidades como o Andebol, o Voleibol e o Futebol, onde podia utilizar um
número muito reduzido de bolas já muito desgastadas e deterioradas. Na
modalidade de Atletismo penso ser importante a utilização de blocos de partida
quando se ensinam as partidas de blocos, material que não tive acesso tendo
de adaptar através da utilização de um pequeno degrau onde os alunos
fincavam um dos pés, simulando a resistência que o bloco de partida ofereceria
no momento da impulsão para a frente e para cima. A utilização do material
oficial das várias modalidades é também um motivo de interesse e motivação
para os alunos aumentando, através do contacto com o mesmo o seu
conhecimento sobre o Desporto na sua vertente real. Ao ensinar Ginástica
Acrobática constatei que a escola deveria investir na compra de mais colchões,
pois em determinados momentos da Unidade Didática senti falta de uma maior
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
35
quantidade dos mesmos. Mas nem só a quantidade é insuficiente, a qualidade
de algum material não é a melhor também, tendo verificado uma situação que
pode ser o grande fator de deterioração dos colchões: em dias chuvosos, a
arrecadação do pavilhão antigo é brindada com água que cai do teto e incide
sobre os colchões, molhando-os, sendo esta situação desagradável para os
alunos que têm de estar preocupados para não trabalharem na zona húmida
dos colchões.
Tendo como referência alguns relatos de outros Professores Estagiários
afirmo que tive condições de trabalho muito boas, conseguindo ensinar tudo a
que me propus, incentivando a experiência formal, na maioria das
modalidades.
3.4 Núcleo de estágio: a improvável amizade, o reconfortante
companheirismo
“Ser professor (…) resultará da confluência de uma construção individual e
simultaneamente social do conhecimento.”
(Queirós, 2014, p. 79)
Ao longo de todo o primeiro ano do Mestrado idealizei o Estágio
Profissional e todas as suas vertentes. A constituição do meu Núcleo de
Estágio sempre foi uma preocupação para mim uma vez que, depois de ter
conhecimento de algumas experiências de pessoas conhecidas e de amigos,
percebi que a relação, a boa relação que se cria entre os estagiários de uma
mesma escola é fundamental para toda a motivação, evolução, aprendizagem
e sucesso no trabalho desenvolvido. Equacionei vários grupos onde me sentiria
confortável, imaginei vários cenários que despoletariam sentimentos de alegria
em mim, confrontando-me, na realidade, com uma situação bem diferente da
que seria ideal e desejada à partida.
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
36
O meu núcleo de estágio era constituído por mim, dois elementos que
não conhecia e dos quais não tinha qualquer referência e uma quarta pessoa
com quem não me identificava, nem nutria grande carinho. A confirmação da
real constituição do grupo com quem teria de trabalhar ao longo do estágio foi o
primeiro grande momento deste ano que seria recheado de aprendizagens.
Saber viver com pessoas que apresentam modos de pensar, agir e ser
diferentes do meu, mereceu uma longa reflexão da minha parte e uma
consciencialização pessoal de que teria de me adaptar e focar-me no meu
grande objetivo de concluir o mestrado, através das experiências mais
satisfatórias, enriquecedoras e vantajosas para mim. Cresci e modifiquei-me ao
longo deste ano, aprendi a interagir com os meus companheiros de estágio
tornando possível o relacionamento saudável com os mesmos, a criação de
laços de amizade, cooperação e companheirismo que, em muitos momentos,
funcionaram como verdadeiros pilares desta longa jornada. “A interação é uma
reação recíproca verbal ou não-verbal, temporária ou repetida segundo uma
certa frequência, pela qual o comportamento de um dos parceiros tem uma
influência sobre o comportamento do outro” (Postic, 1984, p. 139).
Foi com o meu núcleo de estágio que senti o conforto necessário para
ser transparente e expor todas as minhas emoções. Foi com o meu núcleo de
estágio que desabafei quando, ao longo do ano, enfrentava adversidades,
desmotivações, faltas de confiança, medos e sobretudo um grande desgaste
de que fui alvo. Foi do meu núcleo de estágio que senti saudade no momento
em que a convivência deixou de ser diária, devido à dispensa da observação
de todas as aulas dos colegas de núcleo e do Professor Cooperante. Foi nas
reuniões de núcleo que relatei as minhas dificuldades, os constrangimentos
que surgiam, algumas situações que vivia com a minha turma e que
provocavam em mim algum questionamento, reflexão e a necessidade de
recolher opiniões e sugestões de modo a moldar a minha postura, atitude e
melhorar a minha atuação enquanto Professora. Foram os momentos informais
e de descontração que fomentaram a união, a boa relação e as ajudas que
caracterizam o meu núcleo de estágio, pois era nesses momentos que
falávamos do bom e do mau, que nos dávamos a conhecer partilhando um
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
37
bocadinho da nossa vida pessoal, chegando mesmo a ficar com a sensação
que conhecia alguns dos familiares e amigos dos meus colegas de núcleo de
estágio, sem nunca ter estado com eles. Na minha opinião, são estas três
pessoas que viveram o mesmo que eu, no mesmo contexto, com as mesmas
influências e orientações que conhecem a verdadeira essência da Professora
Estagiária Mariana.
Por tudo o que está relatado anteriormente, afirmo que todas as trocas e
partilhas de conhecimentos, as ajudas que sempre estiveram disponíveis, as
emoções e vivências que marcaram o dia-a-dia na escola, valorizaram este que
foi o meu núcleo de estágio, valorizaram o meu ano de estágio, valorizaram-me
a mim enquanto Professora Estagiária e sobretudo, enquanto pessoa,
tornando-me mais dotada para viver em sociedade.
3.5 Turma: 28 pedaços de mim!
“- Tens muito que fazer?
- Não. Tenho muito que amar.
(Não entendo ser Professor de outra maneira. E não me venham dizer que isto
assim cansa e mata: morrer, sempre se morre; e à minha maneira tem-se a
consolação de não ser em vão que se morre de cansaço)”
(Bento, 2008, p. 44)
Não foram fáceis os dias que antecederam o primeiro encontro com os
meus alunos. A sensação de que deles poderia depender grande parte do
sucesso ou insucesso do meu estágio, que eles poderiam ser a principal causa
das minhas facilidades ou dificuldades e com eles poderia viver momentos
muito felizes e bons ou, pelo contrário, momentos muito tristes e maus,
consumiu-me e devorou todos os meus pensamentos e preocupações.
Chegado o tão aguardado dia, deparei-me com uma turma de décimo
ano de escolaridade, do Curso Científico-Humanístico de Ciências
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
38
Socioeconómicas, constituída por trinta adolescentes, quinze do sexo feminino
e quinze do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 14 e os 16
anos. De todos estes alunos, dois não estavam inscritos na disciplina de
Educação Física por frequentarem, pela segunda vez, este ano de
escolaridade devido à opção de mudar de curso. Contudo, ao longo de todo o
ano, estes alunos foram assistindo às aulas que lecionei e mantendo uma
relação de respeito e curiosidade em relação ao meu trabalho e às aulas que
lecionei, acabando por considerá-los parte integrante da turma que ficará na
minha memória.
A turma desde logo me pareceu muito simpática e bem comportada.
Observei grande curiosidade em todos os alunos na forma como olhavam para
mim, alguns na forma como, envergonhadamente, se riam captando a minha
atenção, outros pelos comentários (in)discretos que faziam, destacando
apenas uma aluna que, naquele momento, me pareceu provocadora e bastante
atrevida pela postura que adotara. Este momento realçou a aprendizagem que
já tinha feito relativa ao erro de avaliar e, de certa forma, rotular as pessoas
pelas primeiras impressões que se tem, pois esta aluna revelou-se muito
querida, bem comportada, preocupada em ajudar durante todas as aulas e
portadora de uma personalidade muito vincada e forte, o que na minha opinião
é a grande justificação para a primeira abordagem relatada a cima.
Em conjunto com o meu núcleo de estágio e PC, foi construído um
pequeno inquérito que, quando respondido, nos deu algumas informações
relevantes para aumentar o conhecimento sobre os alunos da nossa turma,
mas também para nos ajudar a prever aquelas modalidades onde poderíamos
encontrar maiores dificuldades. O caso da Unidade Didática de Dança foi ótimo
para entender como não me devo focar em demasia naquilo que está expresso
neste tipo de documentos, pois a grande maioria da turma afirmou não gostar
da modalidade, fazendo com que eu previsse um trabalho árduo, dificultado
pela falta de motivação que poderia surgir por não ser uma modalidade de
eleição. No entanto, esta modalidade foi aquela que mais gostei de ensinar,
conseguindo, através do meu trabalho, envolver os alunos e mante-los
motivados e participativos. Esta experiência fez-me acreditar que todas as
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
39
modalidades podem ser prazerosas e enriquecedoras para qualquer aluno,
basta que o contacto que têm e as suas vivências estejam de acordo com os
seus gostos, que todo o trabalho tenha em conta as diferenças entre os vários
discentes evitando o enviesamento para o lado mais feminino, no caso
específico da modalidade de Dança.
Com o passar do tempo, consegui perceber que o conhecimento que
adquiri através deste documento foi realmente importante mas bastante
superficial e reduzido comparativamente com aquilo que descobri e fiquei a
saber através de conversas com os meus alunos, através das suas atitudes e
posturas nas minhas aulas e sobretudo através das informações que ia
recebendo do meu PC, uma vez que a minha turma era a sua direção de
turma, sendo por isso uma grande privilegiada.
A nível motor a turma revelou-se bastante apta, tendo um aluno
excecional, com um desempenho motor muito acima do normal em todas as
modalidades ensinadas ao longo deste ano, e um caso que mereceu grande
parte da minha atenção durante todo o ano letivo, por se tratar de uma aluna
que em nada se identificava com a disciplina. Esta aluna apresentou-se com
grandes limitações corporais, não só pela sua fisionomia mas também por ter
vergonha de se expor perante os seus colegas de turma, pois encontrava-se
consciente das suas dificuldades. Foi esta a grande motivação para a minha
investigação contextualizada com a minha turma, ao longo deste ano letivo,
sendo acompanhada e alvo do meu questionamento constantemente, pois
mesmo com todas as dificuldades reais e notórias sempre acreditei que podia
desenvolver um trabalho que marcasse a aluna e a fizesse viver de uma forma
mais tranquila e proveitosa e me marcasse a mim também pelo simples facto
de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de alguém.
Em termos comportamentais não poderia desejar uma turma melhor.
Nunca me deparei com nenhum problema de indisciplina grave, tendo, ao logo
dos nove meses de trabalho, me deparado com uma única situação que
mereceu uma repreensão mais severa da minha parte, quando me senti
desrespeitada com as intervenções de um aluno perante uma explicação
minha, estando este problema resolvido mesmo antes do final da aula e não
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
40
sendo esta situação escandalosa ou incompreensiva tendo em conta a faixa
etária dos meus alunos e todas as revelias que acontecem durante a mesma.
Esta turma era bastante assídua e pontual, estando, quando algum aluno
faltava, a sua ausência devidamente justificada. As dispensas das aulas não
foram recorrentes, com a exceção das aulas da Unidade Didática de Ginástica
Acrobática, altura em que me deparei com vários alunos que pediam dispensa
da parte prática da aula regularmente, situação que me deixou desconfiada e
atenta e mereceu a minha intervenção direta junto dos alunos tendo, através de
uma conversa sincera, entendido o porquê desta atitude e conseguido inverter
estes comportamentos.
Sem dúvida que todos os momentos que passei com esta turma foram
de felicidade, sem dúvida que esta turma me ajudou durante esta minha
aprendizagem e me guiou no sentido de ser uma melhor profissional, por isso
posso afirmar que tive muito que fazer durante este ano de formação mas
amei, amo e amarei cada um dos meus alunos pois só entendo ser Professora
desta maneira!
3.6 Grupo de Educação Física: a descoberta mais
controversa
A descoberta mais controversa do meu ano de Estágio está relacionada
com os Professores de Educação Física, da escola onde tive a oportunidade de
ter a minha primeira experiência como Professora da disciplina referida.
Sempre idealizei e expectei que os diversos departamentos e grupos
disciplinares que constituem qualquer universo escolar seriam unidos e coesos,
em benefício dos seus objetivos e da sua área de intervenção. Contudo, ao
conhecer os meandros da profissão docente, ao entrar nas rotinas dos
Professores e ao frequentar os espaços físicos da escola destinados,
exclusivamente, aos Professores, percebi que nem sempre as relações entre
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
41
estes são tão lineares e as minhas expectativas poderiam não corresponder à
realidade. Sempre me senti respeitada por todos os Professores de Educação
Física e das demais disciplinas, no entanto, foram poucos os docentes com
quem consegui criar uma relação cooperativa, um relacionamento descontraído
e com quem consegui conversar no sentido de valorizar a minha vivência na
escola. Talvez ingenuamente, esperei que todos os Professores da minha área
se preocupassem comigo e com os meus colegas de núcleo de estágio, nos
ajudassem e apoiassem no que precisássemos, e se relacionassem connosco
pelo simples facto de se identificarem com aquilo que estávamos a descobrir,
sendo que na realidade são muito poucos os Professores em quem reconheço
esta postura que desejava e esperava. Foram então estes poucos Docentes
que enriqueceram esta experiência fascinante e me ensinaram e apoiaram
sempre que precisei confirmando, em certa parte, as expectativas que possuía
no início do ano letivo.
Concluindo, este ponto do meu relatório, poderia ser mais significativo e
revelador das vivências positivas deste ano, todavia a realidade dos
acontecimentos impede que aprofunde os aspetos da minha relação com os
restantes Professores de Educação Física, ficando com o sentimento de que
poderia ter aprendido muito mais neste contexto, não só pela simples relação
pessoal, mas também e sobretudo, na organização e dinamização das
atividades do Grupo de Educação Física.
3.7 Professor Cooperante: o grande pilar
“Floresce uma vida criadora sempre que renunciamos à nossa capacidade de
entravar”
Peter Sloterdijk
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
42
“O professor cooperante é, para além do aluno estagiário, um dos
protagonistas deste modelo formativo, sendo fundamental que ambos
convirjam na forma de o perceber ou, pelo menos, se mantenham esclarecidos
sobre a visão de cada um, sendo este mais um contributo para a
potencialização deste momento de formação” (Silva, 2014, p. 131). Sem dúvida
que revejo no meu Professor Cooperante o grande pilar que suportou a maioria
das minhas inseguranças, principalmente no início do ano letivo. Destaco o
início do ano letivo por ter sido a fase em que ainda não mantinha qualquer tipo
de relacionamento com os meus colegas de núcleo de estágio, ou com outro
membro da comunidade escolar, tendo sido fundamental a confiança e
dedicação já existentes, há alguns anos, entre mim e o Professor. O facto de já
conhecer o seu trabalho enquanto Professor de Educação Física e de me
identificar com o mesmo num largo número de aspetos, ajudou-me a definir
alguma da minha identidade profissional e algumas formas de ensinar as
diferentes modalidades. A boa relação que o PC consegue manter com a
grande maioria dos seus alunos foi outro aspeto que retive dos tempos em que
era sua aluna e que, neste ano, recordei como sendo algo que gostaria que
acontecesse entre mim e a minha turma.
“O professor cooperante tem a possibilidade de influenciar os alunos
estagiários no seu processo de formação, assim como de ser influenciado por
eles, sendo que, grande parte daquilo que pensam, do que acreditam e do que
fazem ao nível da sua intervenção como supervisores é potencialmente
influenciador do tipo de aprendizagem que os alunos estagiários adquirem”
(Silva, Batista e Graça cit. por Silva, 2014, p. 131). Em muitos momentos
escolhi uma modalidade, tracei objetivos, planeei as minhas aulas, delineei
estratégias de intervenção junto da minha turma, tendo percebido na prática,
através de algumas indicações do PC que alterando um aspeto ou outro da
minha intervenção conseguiria alcançar melhores resultados, poderia
conquistar tempo de aula, poderia cativar mais a atenção e elevar os níveis de
motivação dos meus alunos. Exemplo claro disso foi a Unidade Didática de
Salto em Altura, onde percebi as minhas grandes limitações e dificuldades,
onde entendi que não poderia aplicar literalmente tudo o que me foi ensinado
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
43
na Faculdade ao longo da licenciatura e do mestrado. Embora tivesse sentido
que algo não teria corrido tão bem, ou que tinha ficado alguma coisa por fazer
nesta disciplina do Atletismo, não teria conseguido perceber onde falhei e o
que deveria melhorar sem a ajuda do meu PC, sem as suas perguntas, sem as
suas pistas e afirmações.
Por outro lado, considero que consegui transmitir alguma da minha
experiência ao PC, dando-lhe uma visão mais clara do meu conceito de
Educação Física. Sempre foi um objetivo pessoal integrar modalidades
adaptadas nas minhas aulas e até mesmo nas atividades escolares, tendo
desde cedo partilhado essa minha vontade com os meus colegas de núcleo de
estágio e com o PC. Iludida ou não, não contava com a colocação de tantos
entraves à realização de uma ação de sensibilização relativa aos portadores de
deficiência, para as modalidades que estes praticam e para as suas
dificuldades, talvez por já ter participado numa atividade similar há uns anos
atrás, também no âmbito de uma atividade de núcleo de estágio, atividade que
teve muito sucesso. Tendo sido inviabilizada a possibilidade de realizar esta
atividade que tanto me agradava, e tendo as condições climatéricas a meu
favor numa aula que seria lecionada num espaço exterior, consegui introduzir a
modalidade de Boccia junto da minha turma.
Embora tenha sido um contacto breve e muito superficial da modalidade,
consegui demonstrar ao meu PC que os alunos gostam de tudo o que saia da
rotina já estabelecida das aulas de Educação Física, onde as modalidades
tradicionais são as que sistematicamente têm maior destaque, estando desta
forma, na minha opinião, a disciplina muito condicionada e limitada. Observei
alunos com um sorriso na cara, escutei alunos a questionar sobre a data da
próxima aula de Boccia, ouvi o meu PC afirmar que a aula tinha funcionado
muito bem e que os alunos se envolveram muito na mesma.
Sem dúvida que este momento me encheu de alegria e confiança, pois é
bom sentir que as nossas expectativas estão certas, foi bom ver o
contentamento na cara dos meus alunos e nas suas intervenções enquanto
praticavam uma modalidade que tem tanto significado para mim, foi indiscritível
o sentimento de dever cumprido quando consegui exteriorizar um bocadinho do
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
44
meu ser e quando percebi que tinha conseguido sensibilizar os meus alunos,
partilhar com eles as minhas vivências, deixá-los com a curiosidade de verificar
que os portadores de deficiência são pessoas mais normais do que se pensa
ou estereotipa.
Neste sentido, considero que a hipótese de ser influenciador e
influenciado enriqueceu-me a mim e ao PC, tendo como certo que a Profissão
docente não é estanque e é possível evoluir e mudar pensamentos e
mentalidades constantemente sendo, para mim, esta a magia de ser Professor.
3.8 Professora Orientadora: A sabedoria eminente
No âmbito do Estágio Profissional não se pretende ”que o orientador
ensine os seus formandos de acordo com o seu modelo, as suas expectativas
e conceções sobre o processo ensino-aprendizagem como se de um aluno
normal se tratasse, mas antes que o estimule a refletir e a encontrar, com a sua
indispensável ajuda enquanto professor mais experiente, as melhores soluções
e, consequentemente, a melhor formação” (Alarcão e Tavares cit. por Silva,
2014, p. 132).
Ao longo de todo o ano de Estágio consegui encontrar na minha
Professora Orientadora a tranquilidade que muitas vezes me ia faltando. Nas
aulas que observou, nas reuniões que conduziu e em todos os contactos mais
informais, permitiu que se criasse um bom ambiente, onde a descontração e a
partilha de vivências, opiniões e emoções fossem uma constante,
possibilitando o conhecimento mútuo e a criação de laços de respeito,
companheirismo e ajuda. No entanto, a presença deste interveniente do meu
processo de formação, provocou algumas alterações no normal funcionamento
das minhas aulas, não só na minha postura, por ser o alvo da observação, mas
também nos meus alunos.
“O processo de avaliação da minha prestação enquanto Professora de
Educação Física continua, tendo, nesta aula, a presença da minha Professora
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
45
Orientadora na minha aula. Esta situação despoletou algum nervosismo e
ansiedade, sentindo-se nos meus gestos, na minha voz e na minha postura na
parte inicial da aula. Contudo, todos estes sinais de desconforto foram-se
dissipando através do contacto com os alunos e da minha entrega à aula. A
presença desta nova observadora da aula teve também implicação no
comportamento dos alunos, pois demonstraram-se muito preocupados,
tentando perceber de quem se tratava e qual o objetivo da sua presença.”
(Reflexão 19 e 20 – Voleibol)
No que diz respeito à orientação do Relatório de Estágio, a Professora
Orientadora revelou-se imprescindível, conduzindo o trabalho, por mim
desenvolvido, de forma exemplar e demostrando constantemente os seus
conhecimentos e a sua vasta experiência. A sua tranquilidade e disponibilidade
foram cruciais para que, em momentos onde o desânimo e o nervosismo se
apoderaram da minha capacidade racional, mantivesse a confiança e a
motivação para continuar o árduo trabalho em prol do meu sucesso e da
conclusão do meu curso.
3.9 A professora Estagiária: um turbilhão de emoções em
constante descoberta
“Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida,
que sempre que um homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos de uma criança.”
(Gedeão, 1956)
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
46
Foi com um simples sonho de ser Professora, como o meu Pai, que se
iniciou toda a minha dedicação em contexto escolar, que se desenvolveu todo
o carinho e afinidade que sempre criei com os meus Professores, que sempre
respeitei todo o trabalho que desenvolviam comigo e no seio da minha turma.
Foi por desejar ser como eles que ingressei na Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto, objetivando o ingresso no Mestrado de Ensino de
Educação Física. É no âmbito desta fase da minha formação que me deparo
com a mais bela provação experienciada, por mim, até aos dias de hoje: o
Estágio Profissional.
No início, embora me sentisse orgulhosa, encarava com algum
desconforto o facto de chamarem a minha atenção utilizando a palavra
“Professora”, talvez por toda a responsabilidade e sabedoria que identifico
sempre que me remeto à escola e a esta profissão, juntamente com alguma
insegurança inicial relativamente à minha capacidade de ensinar, de transmitir
conhecimentos e de promover aprendizagens nos meus alunos. Com o tempo,
com o reconhecimento dos mesmos, com o respeito e harmonia que se criou
entre Professora e alunos, tudo se tornou mais natural, satisfatório e
confortante, desaparecendo toda a tensão que me assombrou durante todo o
primeiro período. Nesta fase, encontrava-me assustadoramente dependente do
meu Professor Cooperante, das suas indicações, sugestões e críticas,
percebendo mais tarde como isso me estava a consumir, como estaria a exigir
demasiado de mim, como me estaria a centrar e preocupar com coisas que
aconteceriam com o tempo e de forma natural.
“São evidentes, para mim, as mudanças que sofri nestes meses de
aprendizagem. As minhas prioridades mudaram, a forma como analiso, planeio
e aplico todo o meu trabalho mudou, o acompanhamento que tive, que se
apresentava de forma declarada no primeiro período, agora apresenta-se de
forma mais despercebida, a minha autonomia mudou, os meus alunos
mudaram e, com eles, eu também mudei.”
(Reflexão da aula n.º 71 e 72)
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
47
Foi com a perceção supracitada que entrei no novo ano civil e me
dediquei ao segundo período letivo. Optei por fazer um planeamento mais
aprofundado e global das minhas aulas, isto é, tendo em conta a dimensão das
diferentes Unidades Didáticas (UD) que ensinaria, de forma a obter uma
sequência e uma progressão correta e fundamentada dos conteúdos
escolhidos e ensinados. Foi então que vivenciei o tão relatado “Choque com a
Realidade”.
“Como deveria lidar com o facto de querer ensinar de forma coerente e
progressiva, todas as fases do salto? Como é possível consolidar conteúdos se
não existe tempo de exercitação? Deveria ter promovido uma competição
dentro da minha turma sem transmitir os conceitos básicos do Salto em Altura?
Num momento em que poucos eram os alunos que tinham alguma noção e
competência para transpor uma fasquia? Todas estas perguntas surgiram na
minha cabeça quando percebi que a expressão “progressão de ensino”, com o
significado por mim apreendido, raramente se pode associar ao contexto
escolar.”
(Reflexão da aula n.º 71 e 72)
Ao planear a modalidade de Atletismo tive a preocupação de reservar
algum tempo para o entendimento dos meus alunos sobre os conceitos mais
importantes da Corrida de Velocidade e do Salto em Altura, disciplinas do
Atletismo que ensinei. Consciente de que esta seria uma UD curta, que é uma
modalidade extremamente exigente do ponto de vista técnico, estando desde
logo inflacionado o risco de acidentes e consequentes lesões, e por não ter
qualquer referência do nível motor dos meus alunos na mesma, privilegiei a
instrução e a exercitação analítica das diferentes fases da corrida e do salto em
detrimento da ênfase e do tempo dedicado à competição descontextualizada
entre os alunos.
Esta minha opção foi alvo de reparos por parte do PC, que me elucidou
sobre a necessidade de ter a competição sempre presente em todas as aulas,
mantendo, desta forma, os alunos motivados e envolvidos nas mesmas. Esta
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
48
chamada de atenção fez com que vivenciasse o choque com a realidade ao
perceber a dissemelhança entre o que me foi transmitido ao longo de toda a
minha formação na FADEUP e o que, enquanto Professora, aplico na realidade
ao longo do processo de ensino-aprendizagem. Enquanto Professora
Estagiária consciencializei-me que o ensino em contexto escolar é bastante
superficial, existindo poucos momentos de consolidação dos conteúdos
ensinados, percebi também como é importante o acompanhamento a uma
turma ao longo dos anos por parte dos Professores, uma vez que nem sempre
os alunos têm a capacidade de reter o que lhes é ensinado, caindo na tentação
de dizer que nunca aprenderam determinada modalidade, regra, ou posição no
caso específico da disciplina de Educação Física, o que fomenta a repetição
contínua dos mesmos conteúdos, das mesmas formas de jogo e a estagnação
da evolução dos jovens.
Por outro lado, acredito que muitos alunos não possuam conhecimento
das formas oficiais de prática das diferentes modalidades, pelos atletas, em
contexto profissional, uma vez que nas aulas de Educação Física, raramente
se consegue atingir a forma de jogo formal e oficial nos jogos desportivos
coletivos, raramente se realizam provas de Atletismo nas dimensões e com o
material existente no ambiente de alta competição, sendo por este motivo
importantíssima a instrução, a partilha de informação e a incitação para o
acompanhamento televisivo, por exemplo, de desporto por parte dos nossos
jovens e alunos, podendo dai surgir uma curiosidade em experimentar
determinada modalidade.
Sem dúvida que o terceiro período foi o mais gratificante de todo o ano
letivo, onde consegui sentir a evolução que Professores e amigos descreviam e
que, para mim, sempre foi encarada como algo que fica bem dizer depois de
mais uma etapa de formação. Pura ingenuidade minha pensar que depois de
um ano como este nada mudaria e as diferenças não se fariam notar. Foi neste
período que tudo se tornou mais natural, mais genuíno e prazeroso,
conquistando uma relação estável com os meus alunos, colegas de núcleo de
estágio, Professor Cooperante, Professora Orientadora e Comunidade escolar.
Todas as reflexões feitas eram encaradas como um processo enriquecedor e
Capítulo 3 – Enquadramento da prática profissional
49
não como uma atividade trabalhosa sem qualquer significado, pois através
delas descobri vários meandros da Profissão que elegi.
“Sem qualquer conhecimento sobre as descobertas que ainda estão por
vir, realço este segundo período como o mais marcante até ao momento, foram
os meses onde verdadeiramente me comecei a descobrir enquanto Professora
de Educação Física, foram os meses em que percebi como é muito difícil ser
um bom Professor, um Professor justo e correto, pois as relações humanas que
se constroem, tendem a influenciar a imparcialidade e a objetividade que deve
estar sempre presente. Ah, como é difícil ser um bom Professor!”
(Reflexão da aula n.º 71 e 72)
Capítulo 4 - Enquadramento operacional
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
53
“A estrutura e funcionamento do Estágio Profissional consideram os
princípios decorrentes das orientações legais constantes do Decreto-lei nº
74/2006 de 24 de março e o Decreto-lei nº 43/2007 de 22 de fevereiro” (Matos,
2014a, p. 2), sendo que este “projeto de formação tem como objetivo a
formação do professor profissional, promotor de um ensino de qualidade. Um
professor reflexivo que analisa, reflete e sabe justificar o que faz em
consonância com os critérios do profissionalismo docente e o conjunto das
funções docentes entre as quais sobressaem funções letivas, de organização e
gestão, investigativas e de cooperação” (Matos, 2014a, p. 3).
Estas características do professor profissional fundamentam a existência
do presente capítulo, intitulado Enquadramento Operacional, onde estão
desenvolvidos, clarificados e refletidos alguns pontos das áreas de
desempenho 1, 2 e 3 previstas no Regulamento de Estágio Profissional.
A Área 1 designa-se por Organização e Gestão do Ensino e da
Aprendizagem, contempla a conceção, o planeamento, a realização e a
avaliação do ensino e tem como objetivo “construir uma estratégia de
intervenção, orientada por objetivos pedagógicos, que respeite o conhecimento
válido no ensino da Educação Física e conduza com eficácia pedagógica o
processo de educação e formação do aluno na aula de Educação Física”
(Matos, 2014a, p. 3).
Por sua vez, a Área 2 denomina-se por Participação na Escola e
Relações com a Comunidade, engloba “todas as atividades não letivas
realizadas pelo estudante estagiário, tendo em vista a sua integração na
comunidade escolar e que, simultaneamente, contribuam para um
conhecimento do meio regional e local tendo em vista um melhor conhecimento
das condições locais da relação educativa e a exploração da ligação entre a
escola e o meio” (Matos, 2014a, p. 6). Esta área tem como objetivo “contribuir
para a promoção do sucesso educativo, no reforço do papel do professor de
Educação Física na escola e na comunidade local, bem como da disciplina de
Educação Física, através de uma intervenção contextualizada, cooperativa,
responsável e inovadora” (Matos, 2014a, p. 6).
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
54
Por fim, a área 3 que diz respeito ao Desenvolvimento Profissional relata
“atividades e vivências importantes na construção da competência profissional,
numa perspetiva do seu desenvolvimento ao longo da vida profissional,
promovendo o sentido de pertença e identidade profissionais, a colaboração e
a abertura à inovação” (Matos, 2014a, p. 7). O seu objetivo centra-se na
perceção da “necessidade do desenvolvimento profissional partindo da reflexão
acerca das condições e do exercício da atividade, da experiência, da
investigação e de outros recursos de desenvolvimento profissional” (Matos,
2014a, p. 7).
Depois de breves esclarecimentos sobre este grande capítulo, estão
então reunidas todas as condições para entrar naquele que considero ser o
“grande pilar” de todo este Relatório de Estágio, pois é aqui que narro os
momentos mais marcantes deste ano letivo, que confronto as minhas
facilidades e dificuldades e reflito sobre todo o envolvimento escolar que tanto
me proporcionou durante estes meses de Estágio e todo o processo que fará
de mim a Professora que sempre ambicionei.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
55
3.10 Área 1 - Organização e gestão do processo do ensino e da
aprendizagem
“A natureza complexa, unitária e integral do processo de ensino e
aprendizagem, bem como as características gerais da atividade do professor
que decorre num contexto balizado pelas condições gerais do sistema
educativo, pelas condições locais das situações de educação e pelas
condições mais próximas da relação educativa, obrigam a uma tentativa de
integração e de interligação das várias áreas e domínios a percorrer no
processo de formação” (Matos, 2014a, p. 2). Na Área 1 classificamos o
processo de organização e gestão do ensino e da aprendizagem em quatro
fases: conceção, planeamento, realização e avaliação, pois conforme afirma
Bento (2003) o ensino da Educação Física tem de ser sentido e vivido pelos
alunos.
Figura 2: Diagrama das fases de Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem.
“A questão central do planeamento, da preparação, da realização e
avaliação do ensino pelo professor reside na concentração no essencial (…) se
pretendemos ensinar com eficácia, se queremos formar nos alunos
conhecimentos e capacidades sólidas, aproveitando o escasso tempo
disponível, então temos que definir o essencial do ensino e concentrar nisso a
nossa atividade e a dos alunos”. (26)
Conceção
Planeamento
Realização
Avaliação
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
56
Apesar da existência de uma variedade de processos parciais, o
processo de organização e gestão do ensino e da aprendizagem “não pode
nunca deixar de ser contemplado na sua totalidade, na sua conceção unitária”
(17), uma vez que cada processo só faz sentido quando articulado e concebido
de acordo com todos os restantes, e só desta forma se atinge um processo de
ensino coerente e coeso.
Não obstante a todo este procedimento, devemos estar conscientes de
que “o ensino é criado duas vezes: primeiro na conceção e depois na
realidade”. (15) É necessário que se saiba lidar com imprevistos, que se
perceba que aquilo que planeamos pode não se verificar integralmente na
realidade devido a diversos fatores que não são do controlo do Professor. Por
isso, este profissional deve ser dotado de bases sólidas de conhecimento da
matéria que ensina para conseguir ultrapassar as situações não planeadas,
sem nunca comprometer a aprendizagem dos seus alunos.
“Entre os deveres do professor de educação física conta-se o de
conduzir, durante toda a sua vida profissional, um combate permanente
consigo próprio, a fim de poder desempenhar a incumbência social de
educação da juventude com uma motivação elevada, concordante com o valor
que atribui à sua profissão” (11), isto é, o Professor deve reconstruir-se
constantemente uma vez que o seu ambiente de trabalho é diferente
diariamente, semanalmente, anualmente, quanto mais não seja por trabalhar
com pessoas que são seres inconstantes, e num dia podem estar bem mas no
dia seguinte, por algum motivo alheio ao professor ou à sua disciplina, podem
condenar uma aula ao fracasso. Por outro lado, o profissional de educação
nunca cessa as suas aprendizagens, devendo investir constantemente na sua
formação pois, no caso específico da disciplina de Educação Física, as regras
das diferentes modalidades não são estanques, as próprias modalidades estão
constantemente a diversificar-se e a renovar-se e as técnicas utilizadas em
determinado desporto vão evoluindo com o tempo.
Para desenvolver todo o trabalho inerente à Área 1 deste relatório,
tornou-se fundamental a existência de um conhecimento aprofundado sobre as
matérias que foram ensinadas, conhecimento que adquiri ao longo da minha
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
57
formação na FADEUP, as vivências que possuo dos tempos em que era aluna,
o meio onde decorreu todo o processo e os seus intervenientes, percebendo
assim que “a luta por melhores resultados no ensino requer diariamente do
professor o confronto com problemas teóricos e práticos” (12) e concordando
ainda com Bento “as decisões sobre os diferentes aspetos do processo
pedagógico (um processo evolutivo) devem ser situadas – no tempo, na
matéria de ensino e aprendizagem, no local e nos intervenientes no processo”.
(17)
Devo referir que ao longo de todo o ano letivo tive a pretensão de libertar
os meus alunos, proporcionando-lhes autonomia no processo de aprendizagem
de que eram alvo, tendo sempre “em conta o papel da atividade dos alunos no
seu próprio desenvolvimento – atividade “ativa”, consciente, progressivamente
autónoma e criativa – assim como a dialética de condução pedagógica
(professor-ensino) e de atividade autónoma (alunos-aprendizagem)” (Bento,
2003, p. 7).
3.10.1 Conceção: Consciencialização do percurso
“As conceções caracterizam-se como algo em constante atualização
através das situações vividas, pelas dúvidas que naturalmente se colocam e
pela busca constante de conhecimento”
Lima (2007)4
“Todo o projeto de planeamento deve encontrar o seu ponto de partida
na conceção e conteúdos dos programas ou normas programáticas de ensino”
4 Material fornecido nas aulas de Desenvolvimento Curricular no ano letivo 2013/2014 -
Influência das conceções de educação nas orientações curriculares em Educação Física –
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
58
(Bento, 2003, p. 7). Nesta fase, segundo (Matos, 2014a), deve proceder-se à
análise dos planos curriculares e dos programas de Educação Física, utilizar-se
os saberes próprios da Educação Física e os saberes transversais em
Educação e ter-se em conta os dados da investigação em educação e ensino e
o contexto cultural e social da escola e dos alunos.
“No caso específico do ensino, a conceção é considerada como sendo
um elemento importante de formação e profissionalização docente, tendo em
vista que contribui para ativar o sistema cognitivo do professor, consagrando-se
igualmente como mecanismo de apropriação de novos conhecimentos, como
meio de renovação e mudança no campo profissional” (Lima, 2007).
De acordo com o que já relatei num outro capítulo deste Relatório de
Estágio senti, no início do ano letivo, quando toda a aventura do Estágio
Profissional começou, que conhecia muito bem o contexto e alguns dos
intervenientes onde este iria decorrer. De certa forma, esta situação
tranquilizou-me e recordo o momento em que soube que tinha sido colocada na
minha escola do ensino secundário, como o primeiro grande momento de
felicidade deste ano. A perspetiva de conhecer aquele que outrora chamei de
Diretor de Turma e Professor de Educação Física na função de Professor
Cooperante, deixou-me muito entusiasmada, a possibilidade de reencontrar
aquela Professora de Português de quem nunca me esqueci e que, no meu
entender, tanto contribuiu para que eu conseguisse alcançar o meu sonho de
ser Professora, deixou-se simplesmente emocionada e ansiosa, a certeza de
que me identificaria com a instituição escolar e com muitas das suas políticas e
valores deu-me alento e confiança para “recomeçar”. No entanto, e embora
continue a reconhecer toda a felicidade que senti em voltar às minhas origens,
considero que a fase inicial deste processo poderia ter sido mais intensa e
natural se me confrontasse com um ambiente desconhecido, onde cada
momento seria de descoberta e não de familiarização.
Para mim, a escola caracteriza-se por adquirir “uma dimensão própria,
enquanto espaço organizacional onde também se tomam importantes decisões
educativas, curriculares e pedagógicas” (Bosker et al., 1992, p. 15). Para isso
tem “de adquirir uma grande mobilidade e flexibilidade, incompatível com a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
59
inércia burocrática e administrativa”, estando o poder de decisão “mais próximo
dos centros de intervenção, responsabilizando diretamente os atores
educativos” (Bosker et al., 1992, p. 17). Quando as escolas se regem por estes
princípios verificamos “que se distinguem por um desempenho pedagógico
verdadeiramente notável, seja pela capacidade de aproveitar as
potencialidades e oportunidades da envolvente socioeconómica para criar
novos paradigmas de desempenho, seja pela capacidade de, não obstante se
situem em contextos socioeducativos adversos e com escassez de recursos,
constituírem exemplo tanto de desempenho como de inclusão social” (Santos
et al., 2009, p. 7). Todas estas citações correspondem àquilo que encontrei na
Escola Secundária de Rio Tinto durante a minha escolaridade e agora no
âmbito do Estágio Profissional. Enquanto aluna, sempre senti que os
Professores iam de encontro às minhas necessidades educativas, adaptavam
as aulas em função das capacidades da minha turma e privilegiavam o
contacto com os alunos de forma a aumentar o seu conhecimento sobre os
mesmos e a poder proporcionar-lhes melhores condições de aprendizagem,
demonstrando uma grande capacidade humana e um poder relacional incrível.
Recentemente, do lado dos Professores, fui livre para adotar a postura que
mais me satisfizesse, para me relacionar com os alunos com grande
proximidade e lecionar as minhas aulas de acordo com os meus princípios e
ideologias.
O momento em que conheci as novas instalações da escola, revelou-se
muito nostálgico, pois reconheci muitos lugares e por isso recordei muitos
momentos, mas também me deparei com algumas mudanças drásticas, como
por exemplo, a localização do bar da escola e a construção de um novo
pavilhão para as aulas de Educação Física, que me fizeram perceber como
teria de me adaptar. Esta visita guiada pelos meandros da escola, conduzida
pelo Professor Cooperante, foi importante na medida em que me capacitei de
todos os espaços desportivos onde se desenrolaria o meu trabalho e todas as
condições que estavam ao meu dispor. Em paridade com a importância
atribuída à descoberta dos espaços físicos das minhas aulas, está o
reconhecimento que o núcleo de estágio fez, numa fase posterior, do material
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
60
disponível para cada modalidade, ficando assim consciente das limitações que
poderia enfrentar ao longo do ano letivo.
Uma outra vertente importante, senão a mais importante, na preparação
fundamentada do ensino são os alunos, a turma com quem se pretende
desenvolver o trabalho. Na minha opinião, os alunos são a peça fundamental
de todo o processo de planeamento, pois é consoante as suas características
que definimos objetivos e criamos perspetivas. Neste sentido, a escolha
aleatória das turmas, realizada pelo núcleo de estágio, definiu o grupo com que
iríamos trabalhar de forma permanente, sendo o primeiro momento de recolha
de informações, como por exemplo, o curso e o ano de escolaridade da turma.
No meu caso particular, não consegui saber mais nada sobre os meus alunos
até ao momento em que os conheci pessoalmente, no dia da sua apresentação
na escola, pois esta turma seria também nova para o meu Professor
Cooperante. Na apresentação referida fui uma observadora atenta das
posturas e intervenções que os meus alunos tiveram, tendo o objetivo de
identificar casos que merecessem uma atenção especial, mas também para
definir como me deveria comportar na apresentação da minha disciplina.
Talvez pela inexperiência ou simplesmente por não ter capacidade de
observação e identificação de personalidades, sinto que a maior parte das
minhas primeiras impressões falharam inteiramente, descobrindo alunos
completamente diferentes daquilo que estava à espera através de conversas e
contactos que fui estabelecendo ao longo de todo o ano letivo. Destaco o
questionário (Anexo I) construído pelo núcleo de estágio, com o intuito de
recolher informações sobre as turmas, e as conversas informais com outros
professores da minha turma como fundamentais e importantíssimos para a
preparação das unidades didáticas das diferentes modalidades e para o meu
relacionamento com os alunos, uma vez que através dos questionários
consegui perceber quais as modalidades que os alunos viam como mais ou
menos interessantes e através das conversas informais ia moldando a minha
postura ou antevendo possíveis incidentes.
Para que entendesse os limites da minha liberdade e me inteirasse, de
forma mais aprofundada e conhecedora, das políticas e objetivos da escola tive
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
61
de me consciencializar que “o professor, à luz de princípios pedagógicos,
psicológicos e didático- metodológicos, planifica as indicações contidas no
programa (respeitantes às categorias didáticas “objetivos”, “conteúdo” e
“método”), tendo em atenção as condições pessoais, sociais, materiais e locais,
a fim de guiar o processo de desenvolvimento dos diferentes domínios da
personalidade dos alunos” (Bento, 2003, p. 15). Para isso, analisei alguns
documentos realizando agora uma reflexão sobre esta análise.
3.10.1.1 Projeto Educativo de Escola, Projeto Curricular de Escola,
Regulamento Interno da Escola, Programas Nacionais de
Educação Física, Planificação Anual de Disciplina de Educação
Física
Na fase inicial do meu Estágio foi fundamental a análise e reflexão de
alguns documentos como o Projeto Educativo de Escola (PEE), o Projeto
Curricular de Escola (PCE), o Regulamento Interno (RI), os Programas
Nacionais de Educação Física e o Planificação Anual da disciplina de
Educação Física, compreendendo, de acordo com (Santos et al., 2009) que a
articulação entre todos estes instrumentos melhora a coordenação e
comunicação internas e estabelece a matriz pela qual toda a comunidade
escolar se deve reger.
Figura 3 – Diagrama dos documentos analisados no âmbito da conceção do ensino.
Projeto Educativo de
Escola
Programas Nacionais de
Educação Física
Regulamento Interno Planificação Anual da
disciplina de EF
Projeto Curricular de
Escola
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
62
“Uma Escola não pode cumprir-se sem um Projeto … Educativo, porque falar
de Escola é falar de formação e a formação implica sempre a escolha de
valores. (…) Uma Escola vai-se fazendo, nunca está feita, nunca está
concluída porque o que hoje serve e é resposta ao desafio deste tempo.
Amanhã, por ser outro tempo, terá de se rever, de se auto questionar em
diálogo com o meio.”
(Projeto Educativo 2013/2017, p. 4)
O PEE “é o instrumento de gestão que consagra a orientação educativa
da escola, sendo elaborado e aprovado pelos órgãos de administração e
gestão da escola. (…) Reflete a visão para aquela escola, explicitando os
princípios, os valores, as metas e as estratégias segundo se propõe cumprir a
sua função educativa, definidos a partir da realidade socioeconómica da
envolvente escolar” (Santos et al., 2009, p. 43).
Este documento revelou-se muito importante para o meu conhecimento
sobre a escola e as suas intenções educativas, pois identifica as dimensões
presentes na visão organizativa do agrupamento e os objetivos que a escola
pretende alcançar. Entre os inúmeros objetivos contemplados no Projeto
Educativo da escola em que decorreu o meu estágio, destaco os seguintes por
relacioná-los com alguns momentos marcantes deste ano:
Tornar cada escola num local de socialização que promove uma
cidadania ativa e estilos de vida saudáveis – foram inúmeras as
atividades realizadas na escola, ao longo de todo o ano, que
proporcionaram o encontro entre alunos de diferentes turmas, alunos,
operadores de ação educativa e Professores. Para além disso, o Núcleo
de Estágio e o Grupo de Educação Física fomentaram a adoção de
estilos de vida saudáveis, através da organização de diversas atividades
que terei oportunidade de desenvolver num capítulo posterior deste
Relatório de Estágio;
Proporcionar a diversidade de oferta na perspetiva de responder às
aspirações dos alunos, das famílias e das necessidades do mercado de
trabalho – tento em conta o conhecimento que possuo de outras
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
63
escolas, posso afirmar que a escola onde estagiei disponibiliza aos seus
alunos, uma vasta oferta curricular, possibilitando a formação específica
em áreas diversificadas;
Assegurar aos alunos atividades de enriquecimento do currículo, de
caráter facultativo e de natureza eminentemente cultural, incidindo,
nomeadamente, nos domínios desportivo, artístico, científico e
tecnológico, de ligação da escola com o meio, de solidariedade e
voluntariado – através do desporto escolar tive a oportunidade de
confirmar a relevância que este tipo de atividades tem na vida dos
discentes. Cada vitória, cada apuramento para a fase seguinte da
competição entusiasmava as crianças e jovens com quem trabalhei,
fomentava o espírito de grupo e desvendava os mais sinceros
sentimentos de apoio e cooperação;
Proporcionar aos alunos a orientação do seu trajeto pessoal, visando
uma eventual superação de dificuldades e / ou a reorientação do seu
percurso formativo – no seio da minha turma deparei-me com alunos
descontentes com o curso que frequentavam, alunos que descobriram
novas vocações ou novos interesses e, por isso, sentiram necessidade
de algum apoio e orientação, que lhes foi dado, efetivamente, por mim,
pelo meu PC e pelo psicólogo da escola, tomando assim a melhor
decisão para o seu presente e futuro;
Procurar desenvolver nos alunos atitudes de autoestima, respeito mútuo
e regras de convivência que contribuam para a sua educação como
cidadãos tolerantes, justos, autónomos e civicamente responsáveis –
nas aulas de Educação Física que lecionei e através das metodologias
de ensino que utilizei, fomentei o trabalho em equipa de forma a
aumentar a capacidade dos meus alunos para viver em sociedade com
base no respeito e na entreajuda;
Para além disto, foi através do PEE que recolhi informações sobre o
meio em que está inserida a ESRT, como por exemplo os meios de transporte,
a rede de equipamentos de utilidade pública, a educação e equipamentos
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
64
sociais e culturais que a população da freguesia de Rio Tinto tem ao seu
dispor. A análise deste documento fez-me perceber ainda que a minha escola é
a sede de todo o agrupamento de escolas, a dimensão da população escolar e
como a mesma se encontra distribuída pelos diferentes anos de escolaridade,
possuindo vários projetos e clubes direcionados exclusivamente para os seus
alunos.
O PCE “é elaborado na sequência do PEE, sendo um documento onde
constam as estratégias de articulação entre a execução do Currículo Nacional
e o contexto específico de cada escola. Este documento é produzido, aprovado
e avaliado pelos órgãos de gestão da escola e deve ser dado a conhecer aos
professores que têm a responsabilidade de elaborar os projetos curriculares de
turma” (Santos et al., 2009, p. 44). Este documento tem como objetivo
“responder a uma dimensão orientadora e organizacional” e “insere-se numa
perspetiva de curso prazo, que coincide com o ano letivo” (Projeto Curricular de
Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº3 – 2014/2015, p. 3). Foi importante
na minha formação no sentido que, através dele, me consciencializei dos
currículos de cada ano de escolaridade e, no caso específico do ensino
secundário, do currículo de cada curso, entendi como os alunos podem ser
apoiados através das modalidades e estratégias de apoio educativo e conheci
várias atividades e projetos que estão ao alcance dos alunos e que podem
elevar a fasquia da sua formação. Todas estas informações possibilitaram que
ao longo do ano fizesse opções no que diz respeito ao Desporto Escolar,
conforme terei oportunidade de explicar posteriormente, e ajudasse os meus
alunos dando-lhes a conhecer os vários desportos que poderiam praticar neste
âmbito. Ter conhecimento da oferta curricular disponível na escola também se
verificou uma mais-valia quando fui confrontada com dúvidas e insatisfação de
alguns dos meus alunos, relativamente ao curso que frequentavam,
conseguindo indicar-lhes algumas opções para resolver este problema, como
recorrer à ajuda do psicólogo da escola na tentativa de perceber se a mudança
de curso seria a melhor opção.
O RI do Agrupamento de Escolas de Rio Tinto Nº 3 “tem por objetivo
definir o regime de funcionamento do agrupamento, no seu universo humano,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
65
administrativo, estrutural e de gestão”. “Respeita as caraterísticas intrínsecas
da comunidade escolar e também os valores, os princípios e os objetivos
consagrados no seu projeto educativo”. As indicações contidas neste
documento revelam ainda “os direitos e os deveres dos membros da
comunidade escolar” (Santos et al., 2009, p. 50) e aplicam-se a toda a
população escolar, “nomeadamente alunos, professores, pessoal auxiliar e
administrativo, pais e encarregados de educação, visitantes e demais
utilizadores dos seus espaços” (Regulamento Interno do Agrupamento de
Escola de Rio Tinto Nº 3 – 2014/2015, p. 4). O impacto que a análise deste
documento teve na minha prática relaciona-se com a perceção de
comportamentos e condutas aceites no espaço escolar e principalmente nas
aulas de Educação Física e todos os processos que lhe estão associados,
como a ocupação dos balneários e a dispensas das aulas práticas, sendo este
conhecimento fundamental para o bom funcionamento da escola e das
respetivas aulas.
As Planificações Anuais da disciplina de Educação Física para o décimo
e para o quinto ano de escolaridade, elaboradas pelo Departamento de
Expressões da ESRT, foram, no meu entender, o grande pilar que efetivamente
orientaram a planificação das minhas aulas. Através destes documentos
consciencializei-me dos conhecimentos e capacidades, no âmbito da disciplina
de Educação Física, que os alunos deveriam adquirir no ano/ciclo de
escolaridade anterior. Este ponto de partida foi essencial para estabelecer uma
base que sustentasse a planificação do meu trabalho. No entanto, estive
sempre consciente que o que teoricamente deve acontecer não se verifica
efetivamente na realidade em muitos casos, podendo esta base, identificada na
planificação anual da disciplina, ser falsa e sujeita a alterações no sentido de
se adaptar o ensino ao nível motor dos alunos. As modalidades, os tempos
letivos e os períodos destinados ao ensino das mesmas, juntamente com os
objetivos que teria de atingir e os descritores de desempenho motor dos alunos
em cada modalidade, foram informações pertinentes uma vez que cada ano de
escolaridade se pauta por uma organização e planificação que tem em conta
as aprendizagens passadas e futuras dos discentes, existindo uma relação
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
66
constante entre os conteúdos de ensino. Por este motivo, o Professor de
Educação Física deve encarar estas planificações como guias que orientam a
sua intervenção, fomentando, desta forma, a introdução frequente de novos
conteúdos e a consequente evolução dos conhecimentos e experiências dos
alunos.
“Há que promover no âmbito da prática educativa, oportunidades ou
possibilidades que permitam que todos sejam tratados de maneira desigual de
acordo com as necessidades, motivações, aptidões...desiguais.
Defendemos...com justiça e equidade – uma igualdade diferenciada de
possibilidades educativas”
Colomer (1991)
Por fim, mas não menos importantes, os Programas Nacionais foram
encarados por mim como documentos orientadores cujas necessidades de
adaptações eram evidentes, concordando assim com o que está explícito no
Programa Nacional de Educação Física do décimo, décimo primeiro e décimo
segundo anos de escolaridade que afirma: “o programa constitui, portanto, um
guia para a ação do professor que, sendo motivado pelo desenvolvimento dos
seus alunos, encontra aqui os indicadores para orientar a sua prática, em
coordenação com os professores de Educação Física da Escola (e das
«escolas em curso») e também com os seus colegas das outras disciplinas”.
Este meu entendimento dos Programas Nacionais sustenta-se no
conhecimento que adquiri ao longo das aulas de Desenvolvimento Curricular,
disciplina que integra o plano de estudos do primeiro ano de Mestrado, onde
tive de analisar o Programa Nacional do terceiro ciclo. Esta análise alertou-me
para a exigência contida nestes documentos não só pelos conteúdos e formas
de jogo que estão identificadas, mas também pelas instalações e materiais
disponíveis para a realização das aulas de Educação Física na maioria das
escolas, as características de uma grande percentagem dos alunos,
relacionadas com o seu nível motor e as experiências no âmbito da disciplina
de Educação Física em anos anteriores, a extensão das diversas Unidades
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
67
Didáticas que na realidade é frequentemente diminuta comparativamente com
o que seria ideal ou desejado. Nesta perspetiva, discordo do exposto no
documento do Programa Nacional do décimo ano que refere que “as metas dos
programas devem constituir, também, objeto da motivação dos alunos,
inspirando as suas representações e empenho de aperfeiçoamento pessoal no
âmbito da Educação Física, na Escola e ao longo da vida”, por considerar que
o confronto dos alunos com habilidades difíceis e com tão pouco tempo de
exercitação e de apreensão da técnica, não motiva os alunos, muito pelo
contrário, a perceção constante de que não se consegue atingir o objetivo que
foi dado pode desanimar os alunos e provocar a não identificação dos mesmos
com a disciplina de Educação Física.
Uma modalidade onde consegui perceber claramente a exigência do
programa nacional comparativamente com as reais condições das minhas
aulas de Educação Física, foi o Atletismo. No programa nacional do décimo
ano de escolaridade estão contempladas as corridas de velocidade, as corridas
de estafetas, as corridas de barreiras, o salto em comprimento, o triplo salto, o
salto em altura, o lançamento do peso e do dardo. Efetivamente contei apenas
com oito tempos letivos para ensinar duas disciplinas da modalidade de
Atletismo, a corrida de velocidade e o salto em altura, sendo que cada
disciplina foi lecionada em metade desses tempos letivos (quatro). Devo
salientar que para além de não ter ao meu dispor blocos de partida,
necessários no ensino da partida de blocos, na corrida de velocidade, senti que
se respeitasse a minha metodologia de ensino, seguindo todas as fases tanto
da corrida de velocidade como do salto em altura, não restaria muito tempo
para os alunos exercitarem estas disciplinas na sua plenitude, o que provocou
em mim uma grande frustração.
Após refletir sobre as vantagens da análise de todos os documentos
referidos neste capítulo, considero que a preparação para a fase do
planeamento do ensino ocorre, em parte, de forma inconsciente pelo Professor
Estagiário, uma vez que apenas no final de todo o processo de estágio se é
capaz de entender o auxílio dado pelos mesmos documentos numa fase inicial
deste ano.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
68
3.10.2 Planeamento: A rede de segurança
“A planificação é o elo de ligação entre as pretensões, imanentes ao sistema
de ensino e aos programas das respetivas disciplinas, e a sua realização
prática”
(Bento, 2003, p. 15)
Confirmando assim a relevância de todo o processo designado por
conceção, Bento (2003, p. 8) declara que “o planeamento significa uma
reflexão pormenorizada acerca da direção e do controlo do processo de ensino
numa determinada disciplina, sendo pois evidente a relação estreita com a
metodologia ou didática específica desta, bem como com os respetivos
programas”. O seu objetivo, segundo o mesmo autor, “não reside
exclusivamente no desenvolvimento de meios para a racionalização do
processo de ensino, mas também, em medida crescente, na descoberta de
determinados contextos reguláveis deste processo” (p. 8).
Posto isto, e tendo em conta a visão de (Matos, 2014a), o planeamento
deve ocorrer tendo em conta os objetivos adequados às necessidades e
diversidade dos alunos e o contexto do processo de ensino-aprendizagem, os
recursos, o conteúdo, tarefas e estratégias adequadas ao mesmo processo, a
previsão de formas de o avaliar e a contemplação de decisões de ajustamento.
A minha perspetiva pessoal, relativamente ao planeamento do ensino,
compara este procedimento com uma “rede de segurança” utilizada em
campos de ação circenses, para proteção dos trapezistas que apresentam
performances bastante arriscadas ao seu público. Não considero, contudo, que
a arte de ensinar seja arriscada quando é executada por profissionais
competentes e responsáveis, no entanto, uma sala de aula não tem áreas
delimitadas e reservadas para o público e para os protagonistas, muito menos
quando se pensa na disciplina de Educação Física, pois num momento eu,
enquanto Professora, era protagonista, mas no momento seguinte já ocupava
uma posição de espectadora, sendo impossível prever ou calcular todos os
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
69
acontecimentos inesperados. Concordo então com Bento (2003, p. 10) quando
afirma que os processos de planificação e de tomada de decisão “aumentam a
competência didática e metodológica e geram segurança de ação. Não
somente porque o ensino, mediante planificação e análise, adquire os
contornos de uma atividade racional, humana, mas também porque, deste
modo, o professor se liberta de determinadas preocupações, ficando disponível
para a vivência de cada aula como um ato criativo”. Para além disso,
“constituem atividades mentais não-observáveis” (Arends, 2008, p. 50) visto
que “apenas uma porção muito pequena da planificação que ocorre na mente
do professor é que é representada” (p. 50), verificando-se assim a mutabilidade
de papéis, a imprevisibilidade do ensino que fundamenta a necessidade dos
profissionais se munirem de um planeamento que os deixará mais seguros e
protegidos.
Considero ainda que um plano estabelece objetivos e traça caminhos
para o alcance dos mesmos, proporcionando “um sentido de direção tanto a
alunos como a professores” (Arends, 2008, p. 46) e ajudando “os alunos a
tornar-se mais conscientes das metas implícitas nas tarefas de aprendizagem
que têm de cumprir” (p. 46). Esta “compreensão e aceitação partilhada de
metas claras e alcançáveis aumenta a produtividade de trabalhadores e
alunos” (Arends, 2008, p. 46), entrando no campo de realização pessoal que
segundo a mesma autora (p. 46) “parece ser a motivação dominante, (…) já
que a necessidade de realização é satisfeita pelos estudantes quando lutam
para alcançar metas desafiantes mas possíveis”.
Enquanto Professora e perante a necessidade de planear, deparei-me
com duas dificuldades que, na minha opinião, merecem algum destaque neste
ponto do meu Relatório de Estágio, uma por considerar ser um mecanismo
com vantagens e desvantagens para a ação do Professor (Roulement) e outra
por ter interferido diretamente com o meu desempenho (Conteúdos vs.
Tempo).
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
70
Roulement
A existência do Roulement (Anexo II) é fundamental para a gestão e
organização das aulas de Educação Física em função dos espaços físicos
disponíveis para a realização das mesmas, acautelando problemas de
sobreposição de Professores e turmas num mesmo espaço de aula. No
entanto, e embora reconheça as vantagens deste sistema de gestão, considero
que este pode condicionar um pouco a ação do Professor, pelo que relatarei
duas situações em que me senti penalizada pela rotação dos espaços.
Unidade Didática de Futebol - Durante a Unidade Didática de Futebol, numa
aula dada num espaço exterior, fui confrontada com a falta de material,
mais especificamente de bolas de Futebol, e com o estado degradado do
material que me foi fornecido para a realização da minha aula. Esta
situação não poderia ser prevista através do inventário do material
disponível para as aulas de Educação Física, uma vez que no momento em
que o núcleo de estágio realizou esta tarefa, não foi alertado para a
existência de material específico para as aulas concretizadas fora dos
pavilhões. Esta situação condicionou a minha aula no sentido em que o
início da mesma sofreu um atraso devido aos reajustamentos que tive de
fazer às equipas de trabalho, devido às más execuções que observei e me
foram relatadas pelos meus alunos, consequência do mau estado do
material que me foi fornecido para o exterior e, por fim, devido à motivação
dos meus alunos que foi diminuindo à medida que a aula ia avançando, por
não conseguirem exercitar nas melhores condições, não evoluírem, e
consecutivamente desanimarem.
Unidade Didática de Dança - Na modalidade de Dança, devido à música ser
uma presença constante em todas as aulas, elegi o G5 (sala com espelhos)
como o espaço ideal para lecionar as minhas aulas. Esta escolha está
relacionada com a necessidade de prevenir o incómodo, provocado pela
música, para as restantes turmas e, principalmente, para evitar que as
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
71
minhas aulas ficassem comprometidas pelas más condições acústicas de
outro pavilhão, pelo barulho que outras turmas fazem, naturalmente, na
disciplina de Educação Física e por ter conhecimento que o sistema de som
que estava disponível noutros espaços desportivos não seria suficiente para
que toda a turma escutasse a música na perfeição. De acordo com o
roulement, teria o G5 destinado para a minha turma apenas em duas
semanas do período, o que equivale a seis tempos letivos. Tendo uma
Unidade Didática de Dança planeada para treze tempos letivos vi-me
obrigada a realizar trocas de espaços com outros Professores, na tentativa
de reunir as melhores condições para as minhas aulas e para o processo de
ensino-aprendizagem da minha turma. Esta ocorrência teve implicações na
minha prática pedagógica, visto que tive uma preocupação acrescida ao
longo do terceiro período do ano letivo, por ter de realizar trocas constantes
com outros professores, por ter de avisar os meus alunos dessas mesmas
trocas e, por nem sempre a informação chegar a todos os meus alunos,
deparei-me com atrasos em várias aulas o que acabava por encurtar o
tempo de aproveitamento motor.
Felizmente foram poucos os casos em que me vi penalizada pela
rotação dos espaços, comparativamente com outros colegas que tive
oportunidade de assistir a maiores dificuldades do que as sentidas por mim.
Existiu alguma flexibilidade da minha parte no momento de preparação e
planeamento dos diferentes períodos, pois tinha de adaptar as modalidades
que iria ensinar, em determinado período, aos espaços desportivos que me
estavam destinados em cada semana, evitando assim mais constrangimentos
provocados pelo roulement.
Conteúdos vs. Tempo
“ (…) considero que o meu grande problema, a minha grande
preocupação e a minha grande dificuldade (…) está relacionado com a
adequação dos conteúdos ao tempo disponível para a lecionação das aulas de
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
72
uma dada modalidade e a utilização de demasiado tempo para a exercitação
de um determinado conteúdo. Sempre fui muito perfeccionista, sempre gostei
de fazer as coisas bem feitas (…), rotineira, metódica e organizada são
palavras que me descrevem na perfeição e, por tudo isto, sinto-me um pouco
perdida num mundo onde o ritmo é diferente do meu, onde as exigências, por
vezes, são diferentes das minhas, onde as mudanças são uma constante e os
imprevistos acontecem todos os dias.”
(Reflexão da aula n.º 51 e 52 – Andebol)
As dificuldades por mim sentidas em adequar os conteúdos de ensino ao
tempo que tinha disponível, durante as minhas aulas, para cada modalidade,
são, no meu entender, um assunto pertinente para ser refletido neste capítulo.
Considero que o processo de ensino-aprendizagem que se concretizou através
dos planeamentos que realizei, poderia ter sido melhor sucedido e orientado se
tivesse percebido, antecipadamente, que a exigência em contexto escolar não
pode ser comparada à exigência sentida em outros contextos, como por
exemplo, no Ensino Superior.
Acabo esta etapa da minha formação com o sentimento de que esta
dificuldade foi aquela que menos consegui combater e contornar, pois foram
várias as modalidades em que refleti sobre a complexidade que este processo
tinha para mim. Relaciono esta minha dificuldade com o facto de ser
extremamente perfeccionista e ambiciosa, tendo, no início do estágio,
dificultado a resolução deste problema através do meu desejo descontrolado
de querer que os meus alunos aprendessem e se empenhassem sempre mais
e mantivessem o mesmo ritmo de aprendizagem perante níveis, complexidades
e dificuldades distintas entre os diferentes conteúdos.
“O facto de começar a sentir uma motivação e segurança acrescida na
lecionação das aulas, faz-me desejar que a turma evolua e se empenhe da
mesma forma, conquistando novas aprendizagens e realizando corretamente o
que lhes é pedido. Tenho de me consciencializar que as aprendizagens mais
básicas foram facilmente compreendidas, mas com o aumento da
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
73
complexidade do jogo e dos exercícios, aumenta também o tempo de prática
necessário para o sucesso”
(Reflexão da aula n.º 10 e 11 - Voleibol)
Esta minha ambição resultou, por diversas vezes, no planeamento de
aulas demasiado sobrecarregadas de conteúdos e situações de exercitação
que acabavam por não ser concretizadas na sua totalidade, deixando-me,
numa fase inicial do estágio, desanimada e de certa forma confusa, pois agora
tenho noção que não me encontrava consciente do erro que cometia
sistematicamente e da exigência desmedida que empregava aos meus Planos
de Aula.
“(…) tenho a sensação que as aulas não rendem como eu gostaria,
sentindo que não consigo trabalhar tudo o que planeio para cada sessão (…)”
(Reflexão da aula n.º 15 – Ginástica Acrobática)
Conhecedora do grande erro cometido até então, o Atletismo, mais
propriamente a disciplina de Salto em Altura, foi reveladora desta minha
lacuna, sendo o verdadeiro momento do meu “choque com a realidade”, pois
sentia que tinha modificado a minha metodologia de planeamento, deixando de
planear aula a aula e passando a definir e estruturar toda a Unidade Didática
de uma certa modalidade, no sentido de adequar os conteúdos definidos para o
ensino com os tempos letivos disponíveis para a lecionação da mesma.
“Ao longo do primeiro período defini os conteúdos que queria ou poderia
ensinar em cada Unidade Didática, realizando um planeamento aula a aula,
constatando, ao longo do tempo, que o ensino poderia ser mais e melhor
estruturado caso tivesse explanado as minhas intenções para cada aula da
Unidade, de forma concreta e antecipada, podendo, mesmo assim, sofrer
alterações devido ao desempenho dos alunos”
(Reflexão da aula n.º 42 – Atletismo)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
74
No entanto, fui confrontada com o facto de selecionar exercícios e
conteúdos que os meus alunos já tinham apreendido em anos anteriores. Esta
falta de adaptação do ensino ao nível motor e cognitivo dos meus alunos
deveu-se, novamente, ao meu perfeccionismo e à minha vontade em querer
seguir todas as fases, tanto da Corrida de Velocidade como do Salto em Altura,
no caso específico do Atletismo existindo, nesta fase, ainda alguma
desorientação da minha parte quando as aulas não aconteciam de acordo com
o que tinha previamente planeado.
“Consigo perceber que isto é um erro e também tenho noção de que
esta situação acontece e se repete por querer ensinar tudo, não querer
queimar etapas e não querer deixar nada por explicar, acabando por incidir a
minha atenção e preocupação em coisas que os alunos já sabem, perdendo
mais tempo do que seria necessário”
(Reflexão da aula n.º 42 – Atletismo)
Para além disso, privilegiei as exercitações analíticas em detrimento das
situações reais das diferentes modalidades, em vários momentos iniciais do
ano letivo, sentindo, nestas circunstâncias, que os alunos não se apresentavam
tão motivados e que o dinamismo das minhas aulas era menor.
“Sinto que a minha grande dificuldade neste momento é conseguir
ajustar os conteúdos ao tempo que tenho disponível para ensinar cada
modalidade. Embora já me tivesse apercebido deste problema, foi nesta
Unidade Didática que ele ficou completamente claro, uma vez que dediquei
grande parte dos quatro tempos letivos, reservados para esta disciplina do
Atletismo, à exercitação e explicação das várias fases, em detrimento da
exercitação da técnica completa do Salto em Altura”
(Reflexão da aula n.º 48 e 49 – Atletismo)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
75
Através do reconhecimento deste obstáculo no processo de
planeamento e “embora sinta necessidade de expressar, refletir e partilhar
estas emoções, encaro todas estas adversidades e dificuldades como um
revolver, utilizado na escalada para abrir vias: através delas (adversidades e
dificuldades) conseguirei subir mais alto (melhorar), conquistar um amplo
campo de visão (mais conhecimento) e assim descobrir o melhor caminho,
abrindo a via para o meu sucesso”
(Reflexão da aula n.º 51 e 52 – Andebol).
Após refletir sobre as duas grandes dificuldades sentidas por mim na
fase do planeamento, vejo espelhados “cinco períodos de tempo que
caracterizam a planificação (…): planificação diária, planificação semanal,
planificação da unidade, planificação do período e planificação anual” (Yinger
cit. por Arends, 2008, p. 54). Na minha prática pedagógica supervisionada
reconheço cada um destes períodos de tempo através da elaboração dos
planos de aula, dos Modelos de Estrutura do Conhecimento (MEC) de cada
modalidade, onde estão contempladas as Unidades Didáticas, das
planificações dos vários períodos do ano letivo que estruturaram a disciplina de
Educação Física ao longo de todo o ano.
Planeamento dos Períodos
“No ensino trata-se de traçar e realizar um plano global, integral e
realista da intervenção educativa para um período lato de tempo; é a partir dele
que se definem e estipulam pontos e momentos nucleares, acentuações do
conteúdo” (Bento, 2003, pp. 65 - 66). Embora esta citação esteja relacionada
com a elaboração de um plano anual, remeto-a e identifico-a com a
planificação (Anexo IV), feita por mim, dos três períodos que constituíram o ano
letivo do meu Estágio. Esta foi a forma mais global de planeamento que utilizei,
justificando a não construção de um plano anual com a consideração de que
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
76
um Professor Estagiário, no início do ano letivo, não tem consciência de todo o
processo de ensino-aprendizagem, tornando-se esta tarefa irrealista,
imaginária e sem qualquer fundamento ou sustentação.
Não nego que a planificação do primeiro período tenha sido um pouco
complexa para mim, pois encontrava-me pouco consciente do que conseguiria
fazer numa aula de cinquenta ou cem minutos, sentia que todo o tempo era
muito para estar perante uma turma “sozinha”, não conhecia hábitos e rotinas
dos meus alunos não tendo qualquer tipo de consciência sobre o tempo de
empenhamento motor que, em média, conseguiria proporcionar numa aula, não
imaginava como estes se comportavam e, em certa parte, não me conhecia a
mim enquanto Professora real e permanente de uma turma. Neste sentido, o
trabalho desenvolvido na turma partilhada (quinto ano de escolaridade) foi mais
fácil, pois todo o Núcleo de Estágio trabalhou em harmonia com o Professor
Cooperante, durante grande parte do primeiro período, adquirindo informações
e rotinas essenciais para a estruturação das aulas. Posto isto, o planeamento
do primeiro período foi realizado com base naquilo que seriam as minhas
expectativas sobre a turma e as minhas aulas, sendo um processo que ao
longo do tempo se foi aperfeiçoando e ganhando consistência através das
informações reais que ia conquistando com o contacto com os discentes,
sentindo que o planeamento realizado por mim no segundo e terceiro período
foi muito mais consistente com a sua realização.
Esta fase da planificação centrou-se na distribuição das modalidades
que teria de lecionar em cada período, pelas diferentes semanas que
constituíam o mesmo, e pelos espaços definidos pelo roulement para a minha
turma. Esta tarefa ganhou algum significado depois de ter conhecido os
espaços desportivos da escola, identificando de imediato as modalidades que
poderiam ser ensinadas em cada um deles, no sentido de proporcionar aos
meus alunos as melhores condições de aprendizagem. Por outro lado, tive
sempre a grande preocupação de tornar o processo de ensino-aprendizagem o
mais ininterrupto possível, permitindo a lecionação de duas modalidades em
simultâneo, pois de outra forma seria impossível trabalhar em contexto escolar
devido a todos os constrangimentos com que um Professor tem de lidar. Esta
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
77
organização do ensino aconteceu de forma intercalada mas sem nunca deixar
de ensinar uma certa modalidade por um tempo superior a uma semana, pois
de outra forma seria notória a quebra no desempenho dos alunos, que se faz
sentir, sempre que a exercitação contínua e sistemática de uma dada
modalidade não acontece, sendo esta situação prejudicial para a evolução e
consolidação dos conhecimentos e, posteriormente, o próprio processo
avaliativo pode ficar comprometido. Este último fator, também foi equacionado
por mim no momento da planificação dos períodos, visto que as aulas que
precediam uma avaliação sumativa eram sempre destinadas à modalidade que
seria alvo de apreciação. Esta forma de planear, no meu entender, permite a
exercitação esforçada dos alunos e a luta pelo melhor desempenho em cada
gesto técnico ou em cada situação de jogo, não só no momento da avaliação
mas nas aulas anteriores a este, sendo um acontecimento que favoreceu muito
os dados recolhidos por mim no âmbito da avaliação formativa, tendo, em
certas modalidades, recolhido dados sobre todos os meus alunos, mesmo
antes do momento definido para a avaliação sumativa.
Embora nesta fase da planificação do ensino não se trabalhem os
pormenores, é possível perceber que “a conceção isolada das aulas não deixa
“somar” os seus efeitos, nem alcançar um resultado satisfatório global do
ensino. Este dificilmente será eficaz se não for concebido como um todo
harmonioso, se não forem consideradas as condições e articulações concretas
no seu decurso, durante todo o ano letivo” (Bento, 2003, p. 65).
MEC’s e Unidades Didáticas
Na minha prática pedagógica destaco a construção dos MEC’s como o
nível de planeamento intermédio, por serem documentos referentes a uma
modalidade específica. De acordo com as considerações de (Vickers, 1990),
estes documentos são encarados como bases para a ação do Professor e
encontram-se organizados em três fases (análise, tomada de decisão e
aplicação) e em oito módulos (Análise do Conhecimento, Caracterização do
Meio, Caracterização dos Alunos, Extensão e Sequência dos Conteúdos,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
78
Definição de Objetivos, Configuração da Avaliação, Progressões e Situações
de Aprendizagem, Aplicação ao Contexto Real).
Sobre este Modelo de Estrutura do Conhecimento foco a minha atenção
em dois módulos específicos: Extensão e Sequência dos Conteúdos e
Definição de Objetivos. No primeiro módulo estão contempladas as Unidades
Didáticas (Anexo V) que segundo (Bento, 2003, p. 75) “constituem unidades
fundamentais e integrais do processo pedagógico e apresentam aos
professores e alunos, etapas claras e bem distintas de ensino e
aprendizagem”. Foi nesta fase que senti, de forma mais severa, a minha
dificuldade em adaptar os conteúdos de ensino ao tempo que dispunha, pois
despendia muito tempo e energia com a explicação de uma matéria nova“.
Contudo, esta minha dificuldade foi-se desvanecendo com a ajuda das minhas
experiências e através da perceção de que não poderia exigir demasiado do
meu trabalho, nem dos meus alunos, pois corria o risco de não conseguir
usufruir de todas as potencialidades do mundo escolar.
A simplificação didática revelou-se uma das minhas principais
estratégias para melhorar a minha planificação e consequente atuação pois é
uma forma de selecionar os conteúdos essenciais e fundamentais para
estarem num ponto central do ensino (Bento, 2003). Segundo o mesmo autor,
estes pontos centrais podem reger toda a organização do ensino, possibilitando
que cada aula tenha um objetivo próprio, espelhado nos exercícios realizados
pelos alunos. Desta forma todo o processo de ensino-aprendizagem adapta-se
aos alunos, uma vez que os conteúdos ensinados são relevantes para eles,
atribuindo significado e vida às indicações programáticas sempre que estas se
relacionam com os interesses dos discentes.
Foi nesta fase também que me vi confrontada com a necessidade
veemente de optar por algumas modalidades, dotando os meus alunos de
capacidades e tempo para aprenderem e consolidarem os conteúdos das
modalidades que me propus ensinar.
No segundo período abdiquei da continuidade da lecionação da
modalidade de Ténis pois os alunos apresentaram-se bastante desmotivados
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
79
por não conseguirem realizar as ações técnicas, inerentes a esta modalidade,
com sucesso, uma vez que o seu nível motor era rudimentar.
“Relativamente ao desempenho dos meus alunos, confirmei o nível
bastante rudimentar que previa, tendo em conta os relatos dos mesmos da
ausência de vivências na modalidade. Esta situação agrava-se quando a
modalidade requer um domínio técnico bastante apurado, como é o caso do
Ténis, tendo verificado um aumento da desmotivação e das desistências ao
longo da aula. Contudo, julgo que a turma não gostou da modalidade,
equacionando a possibilidade de não lecionar mais aulas de Ténis,
conquistando assim tempos letivos para o ensino e aprendizagem da
modalidade de Andebol, devido à realização de avaliação sumativa no final do
período. Este ganho de aulas tornou-se necessário devido a alguns dias em
que não poderei dar aulas, como é o caso do carnaval e da última aula do
período devido a atividades organizadas pelo núcleo de estágio.”
(Reflexão da aula n.º 54 e 55 – Ténis)
Já no terceiro período foram vários os motivos que me levaram a optar
por duas das três modalidades que estavam planeadas (Badminton, Dança e
Futebol). O primeiro motivo está relacionado com o pouco tempo que
comportava este período, apenas dez semanas, considerando que não
conseguiria ensinar convenientemente nenhuma das modalidades. A minha
intenção de aplicar o Modelo de Educação Desportiva (MED) na minha turma
teve um peso substancial na minha decisão, pois por ser uma experiência nova
tanto para mim como para os meus alunos, necessitaria de mais tempo de
preparação e exercitação, para além de que o próprio modelo apresenta
características próprias que requerem um maior dispêndio de tempo, como é o
caso do Evento Culminante e da autonomia dada aos alunos. Por fim, o
terceiro período foi o último deste ano maravilhoso, desejando, por isso,
aproveitar, viver e sentir cada momento, guardando na minha memória o
máximo de vivências possível, considerando que poderia conseguir isto mais
facilmente se me focasse apenas em duas modalidades e não em três como
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
80
estava inicialmente previsto. Através da sugestão e do consentimento do meu
Professor Cooperante lecionei apenas Dança e Futebol, verificando-se uma
experiência muito enriquecedora.
“Fui confrontada com a necessidade de optar por duas de três
modalidades (Badminton, Dança e Futebol), tendo a minha escolha recaído
sobre a Dança e o Futebol, devido à primeira ser uma das modalidades
preferidas dos meus alunos do sexo feminino e a segunda ser,
inquestionavelmente, uma modalidade que teria de ensinar por ser a eleita dos
meus alunos do sexo masculino.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
Concluindo, “as unidades de matéria e de ensino são planificadas pelo
professor no processo global da organização do seu ensino, servindo de base
para a preparação das diferentes aulas” (Bento, 2003, p. 65).
Planos de Aula (Anexo VI)
“A aula constitui o verdadeiro ponto fulcral do pensamento e da ação do
professor”
(Bento, 2003, p. 67)
Ao longo de todo este ano de Estágio tive a perceção que as aulas eram
a grande preocupação no meu trabalho enquanto Professora, sendo a
definição da estrutura dos planos de aula uma das primeiras tarefas que o
Núcleo de Estágio teve de cumprir.
Numa fase inicial era muito o tempo dispensado para a construção dos
planos de aula uma vez que estes “esquematizam o conteúdo a ser ensinado,
as técnicas motivacionais a serem exploradas, os passos e atividades
específicas preconizadas para os alunos, os materiais necessários e os
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
81
processos de avaliação” (Arends, 2008, p. 59). Por estes motivos eram várias
as questões que se levantavam na minha cabeça - Quantos exercícios
conseguirão os alunos realizar numa aula de cinquenta ou cem minutos? Qual
a melhor progressão dos diferentes exercícios? Como realizar um momento
inicial da aula adequado e relacionado com a modalidade da aula? Serão as
situações de aprendizagem simples demais? Demasiado complexas?
Conseguirei retirar todas as dúvidas que surjam em determinado momento da
aula? Serei capaz de explicar e exemplificar tudo o que quero que os alunos
executem? Será que a aula será atraente para os alunos e motivante para
mim? – No entanto, ao longo do ano, todas estas perguntas foram encontrando
respostas e toda esta fase do planeamento se foi tornando natural e menos
descomplicada, resultado das interações com os alunos, das vivências em
cada aula, do apoio incondicional do meu Núcleo de Estágio e do meu
Professor Cooperante. Contudo, enfrentei, principalmente ao longo do segundo
período do ano letivo, várias dificuldades ao nível do planeamento das aulas
que tiveram repercussões na realização das mesmas, sendo estas situações
alvo da minha reflexão, pois reconheço que cada uma das experiências
vivenciadas me enriqueceu e me despertou para erros que cometia, algumas
vezes de forma inconsciente e repetida.
Indicações e alterações do Professor Cooperante
“O facto de ter recebido algumas indicações, por parte do meu Professor
Cooperante, para alterar o Plano de Aula, suscitou em mim o questionamento
sobre o planeamento e a organização que realizo para as minhas aulas.”
(Reflexão da aula n.º 51 e 52 – Andebol)
Comparo o meu Professor Cooperante, durante este meu processo de
formação, às soluções que alguns manuais escolares contemplam nas suas
páginas finais, pois à semelhança destas, o meu Professor sempre me indicou
o caminho para a resolução dos meus problemas. Todavia, as ajudas dadas
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
82
nem sempre foram claras e fáceis de interpretação tendo, em alguns
momentos, provocado em mim sentimentos de insegurança, desânimo e
desorientação.
“O facto de ver as aulas que planeio constantemente alteradas também
me tem deixado um pouco reticente e apreensiva, ocupando grande parte do
meu pensamento, pois quando utilizamos algum do nosso tempo a organizar e
pensar em exercícios que ofereçam aos alunos alguma coerência e
progressão, acabamos por dar significado ao que vamos ensinar, é como se
criássemos uma história na nossa mente com princípio, meio e fim. A partir do
momento em que surge uma personagem nova na história ou que o cenário se
altera, o narrador deixa de saber o que contar a seguir, tendo de reestruturar a
sua função, acabando por se preocupar com aspetos que não se preocuparia
caso a história fosse a inicialmente prevista, conhecida e entendida.”
(Reflexão da aula n.º 56 – Andebol)
Conforme referi anteriormente, ao longo do segundo período e
principalmente na Unidade Didática de Andebol, senti um grande retrocesso
nas minhas capacidades de planeamento. Esta sensação de recuo estava
relacionada com alterações e indicações dadas pelo meu Professor
Cooperante, que culminavam na realização de aulas completamente distintas
daquelas que tinha planeado e que para mim faziam tanto sentido. Esta ajuda e
orientação fez-me equacionar a falta de competência para a lecionação do
Andebol, talvez por guardar algumas experiências menos positivas no âmbito
desta modalidade, como terei oportunidade de desenvolver numa fase posterior
deste documento, e por não ter percebido convenientemente a forma como
estava a ser ajudada, pois o apoio dado pelo Professor no primeiro período era
muito mais claro e objetivo comparativamente com aquilo que vivenciei nos
restantes meses.
“São recorrentes as intervenções do Professor Cooperante nas minhas
aulas, acabando por guiar a sessão de uma forma distinta da que tinha
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
83
idealizado, sentindo necessidade de refletir sobre estas ocorrências, uma vez
que o núcleo de estágio foi alertado para o facto de que seríamos mais
autónomos a partir do segundo período, verificando-se interposições por parte
do Professor só em casos de necessidade.”
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
Prisão ao Plano de Aula e consequentes erros inerentes à
inexperiência
Não obstante ao conhecimento que adquiro de que um plano pode sofrer
alterações e ser ajustado às reais condições de aplicação, cometi, em alguns
momentos deste ano letivo, o erro de não refletir sobre as condições que me
eram apresentadas na hora da aula, sendo por várias vezes condições
diferenciadas daquelas que me tinham servido de base para o meu
planeamento.
“Numa aula que poderia ter sido mais rentabilizada, cometi o erro de me
prender excessivamente ao plano de aula, não sendo capaz de improvisar e
adaptar os exercícios ao espaço que tinha disponível para a mesma.”
(Reflexão da aula n.º 56 – Andebol)
Estas situações originaram aulas com um nível de produtividade e
empenho motor reduzido, analogamente ao que se poderia verificar se todos
os recursos materiais e espaciais fossem utilizados convenientemente,
considerando que condicionei, embora não de forma crítica, a aprendizagem
dos meus alunos. Por este motivo, estes eram os erros que me deixavam mais
triste e com algum sentimento de culpa, pois encaro a profissão docente como
uma profissão de elevado nível de responsabilidade e com repercussões na
vida dos alunos devendo por isso ser executada da melhor forma possível,
recorrendo a todos os recursos disponíveis.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
84
Dificuldade em cumprir o planeado
“Tenho verificado que não consigo cumprir integralmente os planos de
aula, sendo esta situação alvo da minha reflexão. Se em outros períodos do
ano letivo se verificava o mesmo problema e consegui perceber que a solução
passava por mim, pois planeava as minhas aulas de forma irreal,
contemplando, apenas o tempo que pretendia que fosse de exercitação,
ocultando o tempo de gestão e organização dos exercícios, acabando por não
ter tempo para exercitar tudo o que planeava, atualmente entendo que não é
pelos mesmos motivos que não realizo o que planeio.”
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
Este ponto relaciona-se, em parte, com a minha já relatada dificuldade
em gerir o tempo disponível com os conteúdos que tenho de ensinar. Foram
várias as aulas que planeei de forma irreal não só por contemplar demasiadas
formas de exercitação numa só sessão, mas também porque projetava uma
aula perfeita onde os alunos terminavam a exercitação de um exercício e
iniciavam logo a tarefa seguinte, sem dúvidas, deslocações ou momentos de
instrução. Não é verdade que esperava assistir a aulas onde não se utilizasse
tempo em tarefas de gestão e organização ou mesmo na resolução de
situações imprevistas, no entanto, encontra-se aqui bem presente uma
característica da inexperiência e da turbulência que é este ano de Estágio,
verificando-se falhas em elementos de que sempre tive consciência mas que
acabavam por ser descurados por existirem tantos outros aspetos merecedores
da minha atenção por possuir dúvidas ou dificuldades superiores.
Num outro momento do ano letivo, tinha a perceção de que o delineado
não era o realizado pois o Professor Cooperante revelou-se bastante
interventivo nas minhas aulas e requeria a minha atenção para me alertar de
determinadas situações que poderiam ocorrer de uma forma diferente ou para
me questionar sobre a razão da minha escolha por determinada conteúdo ou
planeamento. Não tenho dúvidas que as aulas que não correram de acordo
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
85
com o planeado, devido a estes diálogos com o Professor Cooperante, foram
cruciais para a melhoria sentida por mim no derradeiro período deste Estágio.
Focalização da atenção em determinado ponto da aula
“Talvez o meu perfeccionismo me esteja a atrapalhar nesta que é a
realidade da escola: muitos alunos dispostos a aprender conjugados com
pouco tempo de aula. Esta será, sem dúvida, a grande aprendizagem que retiro
do ano de estágio, a forma como saímos formatados da Faculdade sofre
grandes alterações quando vivemos a realidade escolar.”
(Reflexão da aula n.º 65 e 66 – Andebol)
Sem dúvida que nestes nove meses de Estágio olhei para o facto de ser
perfeccionista como um defeito e não uma virtude. Exigia demasiado de mim e
dos meus alunos e isso despoletava um sentimento de insatisfação e de uma
certa incompetência, naquela que é a profissão que me faz sonhar. Corrigia e
ajudava os meus alunos e nunca estava satisfeita, julgando sempre que
conseguiria e poderia fazer mais para que um determinado aluno evoluísse e
tivesse sucesso nas minhas aulas. Esta situação desencadeou alguns
problemas morais em algumas aulas, isto porque estou consciente de que me
focava demasiado nos alunos que apresentavam mais dificuldades, dando-lhes
todo o apoio que me era possível e observando o resultado que este apoio
dado teria ou não no desempenho dos mesmos. Consequentemente existia
uma outra parte da turma que permanecia, no meu entender, durante tempo
excessivo sem qualquer feedback ou simplesmente sem a minha observação,
o que certamente incentivou os meus alunos a alguma benevolência na forma
como exercitavam os diferentes exercícios, pois acredito que se tenham
apercebido desta minha característica e forma de atuar nas aulas.
“Outro aspeto que ainda tem de ser “limado”, embora já tenha melhorado
substancialmente, prende-se com o facto de me envolver demasiado num certo
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
86
ponto da aula, com determinados alunos, dando feedbacks e esperando para
ver qual a evolução, repetindo esta ação vezes sem conta, na tentativa de
melhorar cada vez mais o desempenho daqueles alunos, percebendo,
passados alguns longos minutos, que do outro lado do campo existem outra
parte da turma com quem ainda não consegui interagir.”
(Reflexão da aula n.º 65 e 66 – Andebol)
Esta minha postura está estritamente relacionada com a minha
identidade profissional, não querendo com isto dizer que estou certa na postura
que adoto, no entanto penso ser mais importante incutir algum tipo de
conhecimento nos alunos, verificando se o aluno entendeu aquilo que lhe foi
transmitido, do que estar constantemente preocupada com o tempo planeado
para cada exercício. Considero que mesmo não conseguindo acompanhar
todos os alunos, de igual forma, em todas as aulas, sempre consegui
compensar os discentes que ficavam menos amparados, em determinada aula,
através da observação e emissão de feedbacks mais regulares em aulas
posteriores, sendo prova disso a noção que sempre tive do valor motor de cada
elemento da turma, em cada modalidade que lecionei, não sendo esta noção
conquistada apenas no momento da avaliação sumativa mas sim durante todas
as Unidades Didáticas.
“Existem aulas em que consigo cumprir integralmente com os tempos de
exercitação que planeio, chegando ao final da aula com a sensação de que não
consegui intervir significativamente na aprendizagem de nenhum dos alunos da
minha turma, pois mudando de jogo de cinco em cinco minutos, por exemplo,
não consigo utilizar muito tempo numa só equipa ou num só jogo, tornando-se
intervenções um pouco superficiais e com poucos resultados.”
(Reflexão da aula n.º 65 e 66 – Andebol)
Nem só de dificuldades viveu o planeamento das minhas aulas, nem
verifiquei apenas consequências negativas aquando de planificações
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
87
desfasadas da realidade. Houve aulas em que fui agradavelmente
surpreendida com os resultados dos exercícios por mim escolhidos para
determinada aula, situação que me motivou pois revi nos alunos aquele
envolvimento e entusiasmo que sempre equacionei no momento em que
planeava cada aula.
“Quando o planeei não identifiquei tantas potencialidades como quando
observei a realização do mesmo pelos meus alunos (…)”
(Reflexão da aula n.º 65 e 66 – Andebol)
Por outro lado, foram várias as aulas, principalmente na Unidade de
Dança, em que realizei planos de aula com a perspetiva que não conseguiria
aplicar todos os conteúdos ou exercícios, sendo a modalidade onde me
surpreendi mais com a coincidência existente entre o estipulado e o real.
“(…) ter conseguido ensinar todos os passos do minuto e pouco que
coreografei foi surpreendente para mim, pois não estava nada à espera de
conseguir fazer isso num único tempo letivo (…)”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
Para um processo de ensino-aprendizagem eficaz é portanto
imprescindível que os Professores tenham “uma perspetiva bem clara acerca
daquilo que todos os seus alunos devem saber e poder na sua disciplina”
(Bento, 2003, p. 57) para que todas as decisões sejam tomadas, todas as
adaptações sejam realizadas e as aprendizagens sejam assimiladas.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
88
3.10.3 Realização: A infinidade de descobertas
“O ensino é um processo de tentativa de promoção de mudança nos alunos”
(Arends, 2008, p. 54)
O momento em que todas as conceções e planos são postos em prática
dá um significado especial ao trabalho desenvolvido. Foi neste momento que
tive a certeza que tinha enveredado pelo caminho certo, quando elegi a
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto para adquirir formação a
nível superior, que o ensino é a minha vocação e a escola, os alunos e o
Desporto são a minha grande paixão, que não é fácil ser Professora mas é um
orgulho puder sê-lo.
Nesta fase do Estágio, segundo Matos (2014a), pretende-se que o
Professor Estagiário seja capaz de conduzir com eficácia as aulas, recorrendo
a mecanismos de diferenciação pedagógica adequados à diversidade dos
alunos, promovendo aprendizagens significativas e desenvolvendo a noção de
competência nos alunos, utilizando terminologia específica da disciplina,
envolvendo os alunos de forma ativa no processo de aprendizagem, otimizando
o tempo potencial de aprendizagem, a instrução, o feedback pedagógico, a
orientação ativa dos alunos, o clima, gestão e disciplina nas aulas e recorrendo
a decisões de ajustamento.
A realização de tudo aquilo que expectei, concebi e planeei permitiu a
descoberta de uma nova escola, uma escola onde todos os alunos são o centro
da preocupação dos Professores, uma escola onde operadores de ação
educativa têm um papel fundamental na ordem e organização escolar, uma
escola onde os Professores se revelam pessoas que riem e choram, que se
animam e desanimam, que concordam e discordam, que gostam e desgostam.
Esta nova escola fez-me perceber o porquê de aprender conteúdos que não
gostava quando era aluna, o porquê de não poder fazer as aulas de Educação
Física sempre naquele que era o melhor espaço, o porquê dos meus pais me
dizerem para me portar bem na escola e com os meus Professores. Agora eu
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
89
percebo que os Professores não esquecem os seus alunos quando as aulas
acabam, os auxiliares de ação educativa não ralham só porque estão
aborrecidos mas sim porque exercem um trabalho de grande responsabilidade,
os conteúdos não são os que os Professores querem ou mais gostam mas sim
aqueles que os vários documentos reguladores definem, as aulas não podem
ser sempre no mesmo sítio porque existem mais Professores, mais turmas e
um roulement para cumprir, e cada aluno é como uma gota de água no meio de
um oceano, uma parte de um todo, sendo por isso essencial que cada gota,
cada parte, se comporte de modo a não perturbar o trabalho dos Professores e
dificultar a ação de todos os outros intervenientes escolares.
Não foram fáceis nem lineares os caminhos por mim percorridos para
conceber esta nova escola, no entanto, foi desta forma que assisti aos
primeiros passos da construção da Professora Mariana, foi esta travessia que
me levou a outros mundos, a outros descobrimentos, a outras apropriações.
3.10.3.1 E agora??? 28 alunos…
Num ano em que as novidades são constantes e onde há uma infinidade
de fatores que têm de ser alvo de uma grande gestão, fui confrontada com a
atribuição de uma turma numerosa. Num primeiro impacto as sensações foram
boas por associar o grande número de alunos à possibilidade de conhecer,
contactar e ensinar mais discentes, por acreditar que as minhas aulas seriam
bastante dinâmicas e por reconhecer, nesta experiência, a possibilidade de
adquirir métodos e estratégias para ensinar turmas numerosas, o que
certamente será muito benéfico para o meu futuro profissional. No entanto, ao
longo deste ano de Estágio e através do contacto com esta turma verifiquei que
a lecionação de aulas nestas condições comporta bastantes problemas e exige
dos Professores uma grande capacidade de gestão e decisão e um grande
poder relacional. Desta forma, fui obrigada a realizar algumas adaptações para
rentabilizar as minhas aulas, tendo em conta o tempo das mesmas e o local
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
90
onde se realizavam. Por este motivo julgo ser fundamental falar, neste ponto,
da Gestão e Organização das minhas aulas, da conquista da turma através de
regras e limites e do meu papel enquanto Professora, gestora e orientadora de
todo este processo.
Gestão e organização da aula
Sou de estatura baixa, não sei colocar a voz e apresento um ar bastante
jovial. Estes três fatores conjugados com toda a insegurança sentida, no início
do ano letivo, fizeram-me antever problemas e equacionar soluções para que
as minhas expectativas não saíssem defraudadas.
O primeiro grande obstáculo com que me deparei está relacionado com
a minha dificuldade em colocar a voz e falar alto de forma a tornar-me audível,
num ambiente ruidoso como são os espaços desportivos. Devido à turma ser
extensa, foram vários os momentos em que os alunos se espalharam pelo
espaço da aula, fazendo com que fosse necessário falar mais alto para que a
informação que transmitia fosse percetível até ao aluno mais distante. Esta
situação de esforço culminava com a rouquidão ou a progressiva perda de voz
ao longo das aulas, chegando ao final das mesmas completamente exausta e
com sérias dificuldades em falar.
“Nesta fase comecei a sentir algumas dificuldades na colocação da voz,
ao aperceber-me que (…) a maioria dos alunos da turma não ouviu, tendo
necessidade de me aproximar para transmitir a informação.”
(Reflexão da aula n.º 1 e 2 – Voleibol)
Na tentativa de diminuir a energia gasta por mim sempre que intervinha
com os meus alunos e de forma a controlar melhor a turma nestes momentos,
nos seus comportamentos, na sua atenção e no nível de entendimento efetivo
daquilo que transmitia, adotei uma estratégia que mantinha os alunos próximos
de mim e todos dentro do meu campo de visão.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
91
“Além disto, devido à baixa estatura que possuo, definirei como regra da
turma, a obrigatoriedade dos alunos se sentarem à minha frente sempre que os
chamar, de forma a facilitar a minha comunicação verbal e visual com todos
eles.”
(Reflexão da aula n.º 3 – Voleibol)
Esta “regra”, por mais simples que pareça, influenciou muito a minha
atuação e a forma como os momentos de instrução ou de diálogo decorreram,
uma vez que quando chamava os alunos através de palavras ou de algum som
que eles identificassem, estes realizavam uma espécie de competição para
definir quem seriam os primeiros e os últimos a chegar perto de mim,
conseguindo, de forma inconsciente, tornar os momentos de instrução mais
rápidos no que respeita à velocidade com que os alunos se reúnem e se
predispõem a ouvir perante as condições ideais para isso. Por outro lado senti
que conseguia observar cada atitude dos elementos da turma, era capaz de
captar todos os movimentos feitos durante a minha preleção e intervir de
imediato caso se justificasse. Penso que a perceção deste controlo, por parte
dos alunos, os influenciou na medida em que nunca observei comportamentos
excessivos ou desrespeitosos em relação a mim e aos colegas de turma nestes
momentos. Tenho noção que talvez não tenha verificado este cenário devido
aos alunos não serem indisciplinados, no entanto, na sua faixa etária é propícia
a brincadeira e os níveis de concentração não são os desejados, sendo muito
recorrentes situações que mereçam a intervenção dos Professores, o que se
verificou raramente ao longo das minhas aulas.
As adaptações feitas aos diferentes exercícios planeados para as
minhas aulas, de forma instantânea e imediata perante um problema, foram
também uma estratégia utilizada. Confrontada, muitas vezes, com a falta de
dinamismo das tarefas por mim propostas e, consequentemente, das aulas, vi-
me obrigada a realizar algumas transformações no sentido de incrementar
novos estímulos para retomar o caminho planeado e satisfazer os objetivos das
tarefas. Senti, ao longo do decorrer do ano letivo, que estas situações
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
92
momentâneas foram cada vez mais reduzidas, considerando ser um sinal de
evolução, compreensão e adaptação ao meio e às condições de trabalho.
“Ao longo do exercício e por a turma ser numerosa, senti necessidade
de dividir a primeira “lagarta” formada em duas, tornando o exercício mais
dinâmico e com um término mais rápido. Só neste momento ganhei
consciência da dimensão da minha turma, tendo de adaptar o exercício para
não o comprometer.”
(Reflexão da aula n.º 1e 2)
A gestão do tempo de aula foi um problema agravado com o elevado
número de alunos, pois por ter de gerir tantos discentes permanecia sempre a
sensação de que estes não exercitavam o tempo necessário para efetuarem
aprendizagens significativas. Por este motivo fui-me apercebendo de situações
que se fossem revistas e corrigidas poderiam elevar o tempo efetivo de
empenho motor dos meus alunos. Estas situações eram extremamente
evidentes em dois aspetos, sendo por isso realçados por mim agora e uma
prioridade no momento do ano letivo em que aconteceram.
“Devo interiorizar a necessidade de transmitir toda a informação
necessária para a realização dos exercícios de uma vez só, evitando que os
alunos se espalhem pelo espaço da aula e posteriormente sejam reunidos
novamente, desperdiçando, desta forma, tempo da aula desnecessariamente.
Este aspeto merece grande atenção da minha parte e será uma das minhas
prioridades na próxima aula por ser um erro recorrente que ainda não consegui
corrigir.”
(Reflexão da aula n.º 4 e 5 – Voleibol)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
93
“Posto isto, tentarei na próxima aula definir grupos de trabalho que se
manterão ao longo do período, com os ajustes que se venham a revelar
necessários.”
(Reflexão da aula n.º 3 – Voleibol)
A certa altura da primeira Unidade Didática que lecionei, percebi que
talvez fosse uma mais valia modificar o modo como observava os meus alunos.
Reportei-me à minha experiência enquanto aluna, não só na escola mas
também na Faculdade. Pessoalmente, sempre me senti intimidada com a
presença dos meus professores, junto de mim, quando exercitava algum
exercício ou quando me encontrava a praticar alguma modalidade,
considerando que o nervosismo que surgia desta observação prejudicava a
minha performance e impedia que mostrasse o meu verdadeiro valor. Através
de alguns comentários dos meus alunos tive noção que o mesmo se passava
com alguns deles e que esta situação poderia ser prejudicial para a sua
avaliação. Por este motivo tornou-se fundamental a mudança de
comportamento. Distanciei-me dos alunos que pretendia observar, tornei-me
discreta nas minhas observações e atentei nos comportamentos dos alunos
que se encontravam mais próximos de mim para confirmar as minhas
suspeitas. Foram escandalosos os ganhos inerentes a esta estratégia, desde a
perceção do real valor dos meus alunos, ao maior controlo conquistado sobre a
turma, até à tranquilidades dos meus alunos nos momentos certos.
“Ainda nesta aula modifiquei a forma como observo os meus alunos,
deixando de os observar junto do campo em que estão a jogar, para observar
os comportamentos presentes nos campos mais distantes. Optei por esta
estratégia pois foram vários os discentes que me diziam sentir-se nervosos
com a minha presença, errando o serviço, o passe ou a manchete que tinham
de realizar. Foi engraçado verificar que é verdade que a presença do Professor
atrapalha o desempenho dos alunos, pois mesmo não estando a observar os
alunos mais próximos de mim, verifiquei que erram pelo simples facto de eu
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
94
estar ali, demonstrando-se muito mais eficazes quando me encontrava distante
e quando pensavam que não os estava a observar e avaliar.”
(Reflexão da aula n.º 31 e 32 – Voleibol)
A conquista da turma: as regras e os limites
“Nunca quis ser professora de Educação Física para estar sentada numa
cadeira a olhar para os alunos, nunca quis ser professora desta disciplina para
ver todos os dias os outros a praticar desporto, sempre quis ser uma
professora ativa, participativa, interativa, sendo desta forma que pretendo
liderar, motivar e acarinhar a minha turma, ganhando credibilidade e
argumentos para exigir o melhor de cada um.”
(Reflexão da aula n.º 1 e 2 – Voleibol)
Inerente ao facto de ter, numa fase inicial do ano, uma infinidade de
aspetos a gerir, a prestar atenção e a controlar sentia-me extremamente
nervosa e ter vinte e oito alunos para ensinar agravou o meu estado, tendo
como consequência a atrapalhação em momentos e em aspetos que não
seriam de esperar e não seriam aceitáveis para um Professor, sendo, no
entanto, aceitáveis para um Professor Estagiário.
Estabelecer regras e limites gerais para toda a turma revelou-se
imprescindível uma vez que “a promoção de ambientes positivos de
aprendizagem envolve uma abordagem integrada da forma como os objetivos,
as crenças, os motivos, as emoções e os comportamentos dos professores
interagem com as mesmas variáveis nos alunos ou praticantes, resultando os
processos complexos de ensino e aprendizagem desse conjunto de encontros
e desencontros” (Rosado e Ferreira, 2011, p. 185).
No início deste ano letivo tinha muito receio de não conseguir adotar
uma postura adequado à função de um Professor, tendo como grande objetivo
o estabelecimento de regras e limites que me permitiriam definir a minha forma
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
95
de estar e demonstrar alguma autoridade que teria de me ser reconhecida. Foi
a partir deste momento que me comecei a reconhecer junto dos meus alunos,
que me foi possível ser fiel às minhas ideologias e valores e estabelecer a boa
relação que pretendia e desejava, desde sempre, com a minha turma, sendo
estes fatores que podem “afetar o processo de ensino, influenciando variáveis
como a motivação, o ambiente humano e relacional, a estrutura e coesão dos
grupos, a gestão de conflitos e de emoções, o empenhamento, a participação e
o desenvolvimento pessoal e social” (Rosado e Ferreira, 2011, p. 190).
A conquista da turma foi então um dos primeiros passos dados nesta
caminhada chamada Estágio Profissional, e foi, sem dúvida, um dos pilares de
tudo o que consegui desenvolver no âmbito da disciplina de Educação Física,
conseguindo, através da empatia e da boa relação com os alunos, alcançar o
respeito que tão importante era para mim e cativar os meus alunos para
modalidades de que não gostavam ou onde não se sentiam tão à vontade,
concordando com o que afirma (Rosado e Ferreira, 2011, p. 192) “a convicção
e a paixão dos professores, o seu entusiasmo, pode constituir uma arma
negocial poderosa (…) contagiar e afetar os objetivos, os sentimentos e as
emoções dos alunos (…)”.
“O nervosismo que me acompanhava em todas as aulas é o fator que
mais decresceu ao longo destes meses. Confesso que existiam dias em que
não me apetecia sair de casa sequer, por ter tanto receio de errar, por não me
sentir preparada relativamente aos conteúdos onde tinha de mostrar
conhecimentos, por estar sob o olhar atento de colegas de núcleo de estágio e
do Professor Cooperante, por ter de lidar com vinte e oito alunos tão diferentes
e imprevisíveis. Mesmo perante este cenário que parece dramático e negro,
nunca pus em causa a minha vocação e vontade de ser Professora, pois
sempre acreditei que estas sensações faziam parte de todo o processo
formativo (Fui avisada). A verdade é que passados nove meses, não me sinto
aflita por estar a lecionar uma modalidade onde sei que não tenho grandes
conhecimentos, e desloco-me até À escola tranquila, sem aquele friozinho na
barriga que tantas vezes tentei combater. Foram vários os fatores que
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
96
contribuíram para tornar a rotina escolar nisso mesmo, numa rotina e não num
constante mar de provas e desgastantes desafios. Os alunos passaram de
“lobos maus” a “cordeirinhos”, sendo vinte e oito peças fundamentais para o
sucesso das minhas aulas e encarados como importantes aliados nesta minha
jornada.”
(Reflexão da aula n.º 90 – Futebol)
O papel do Professor na condução das aulas
“A escola deixou de ser reclamada como um direito, uma garantia de
ascensão social e económica, passando a ser encarada por muitos alunos
como um dever, uma imposição, contribuindo para as situações de
desinteresse (apatia) e de indisciplina (agressividade) que ocorrem nas nossas
escolas” (Jesus, 1972, p. 5), por este motivo “cada vez mais a eficácia do
professor no processo de ensino-aprendizagem passa pelo seu sucesso no
plano da relação pedagógica” (Jesus, 1972, p. 5). Muitas vezes um Professor
classifica “os alunos em “bons”, “maus”, “disciplinados”, “irrequietos”,
“participativos”, “calados”” (Jesus, 1996, p. 11), no entanto, segundo Postic cit.
por Jesus (1996, p. 11) “categorizar um aluno “é condená-lo a resignar-se ou a
revoltar-se” (1984, 105); pelo contrário, compreender o que nele é potencial é
acreditar no seu desenvolvimento e na importância da educação”. Ao longo do
meu ano de estágio, principalmente no início do mesmo, senti-me bastante
atraída pela categorização dos alunos, pois enquanto ser humana sinto
empatia por algumas pessoas e fui confrontada com uma primeira imagem de
todas elas, o que me fez relacionar mais rapidamente com determinados
discentes, com quem talvez me identificasse mais, em detrimento da relação
mais custosa com aqueles alunos em quem não reconheci características
relacionadas com o empenho, a destreza motora, o respeito, a persistência,
entre outras. Desta forma, descobri que o papel do Professor pode ser
condicionado e adulterado caso este não seja capaz de controlar as imagens
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
97
que constrói dos seus alunos, deixando-se influenciar e modificando a sua
postura perante alunos de uma mesma turma. Esta situação não se coaduna
com a minha conceção de ser Professor, pelo que considero que foi
extremamente importante para mim, experienciar esta dificuldade em gerir os
meus sentimentos, os meus gostos e até mesmo as minhas preferências, uma
vez que com o desenrolar do ano letivo percebi que os alunos mudam, se
revelam e podem ser agradáveis surpresas caso os Professores se encontrem
disponíveis para aceitar e descobrir estas mudanças. “Na relação pedagógica,
o importante é o professor possuir instrumentos cognitivos que lhe permitam
interpretar adequadamente as situações com que se confronta e ter uma
flexibilidade relacional que lhe possibilite, nas situações concretas, uma
resolução eficaz” (Jesus, 1996, p. 15). Estou certa de que um tratamento
diferenciado, por parte do Professor, em relação aos diferentes alunos pode ser
um fator de desmotivação avassalador e um motivo de desinteresse e revolta,
julgando ter sido capaz de me relacionar com toda a minha turma e, por isso,
concretizar a grande parte dos meus objetivos nas diferentes Unidades
Didáticas.
Entendi e assimilei que a relação entre um Professor e um aluno se cria
através de múltiplas cedências e adaptações, isto é, um Professor e um aluno
não se podem gerir apenas pelas suas convicções e ideias tendo de adequar a
sua atuação e a sua maneira de ser àqueles que os rodeiam e com quem
trabalham. Desta forma, considero que esta relação acaba por estar um pouco
assente na persuasão e atração para aquilo que se pretende transmitir,
aliciando os alunos e promovendo neles a curiosidade sobre as coisas. Por
isso concordo com (Jesus, 1996, p. 13) que diz que “a relação deveria assentar
numa estrutura funcional em que o professor e o aluno, embora com papéis
diferentes, se situariam ao mesmo nível desenvolvendo uma relação simétrica.
Desta forma, o poder do professor sobre o aluno resultaria de processos de
identificação ou de atração do aluno em relação ao professor (…) para a
construção da sua identidade”. No entanto são diversos os fatores que podem
levar um sujeito a deixar-se influenciar pelo outro, resultando dai a minha
grande preocupação em transmitir uma imagem de simpatia, disponibilidade e
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
98
compreensão, deixando os meus alunos tranquilos e à vontade para expor
qualquer situação que os perturbasse e que pudesse interferir com o trabalho
desenvolvido nas minhas aulas. A este propósito French e Raven cit. por Jesus
(1996, p. 12) “salientam a importância do reconhecimento no outro da
capacidade de recompensar ou de punir, de competência no domínio em
causa, de um puder legitimado pelo estatuto e de qualidades com as quais o
sujeito se identifica”.
Em jeito de conclusão, afirmo, sustentando-me na minha efémera
experiência, que o sucesso das aulas depende em grande parte do papel do
Professor na condução das mesmas, pois é ele que conduz cada sessão de
trabalho, é ele que tem a responsabilidade de cativar os alunos e tornar as
suas aulas atraentes, interessantes e produtivas, capazes de desenvolver
inúmeros sentidos e conhecimentos, através da adequação do ensino às
capacidades dos alunos. Desta forma, toda a turma sentir-se-á enquadrada e
capaz de atingir os objetivos que lhe forem propostos.
3.10.3.3 Instrução
“A instrução (…) é uma construção conjunta de professores e alunos, na
medida em que partilham conhecimentos entre si, não dependem apenas de
uma única fonte de informação, e os alunos mais experientes modelam
comportamentos e habilidades e fornecem feedback e apoio aos colegas
menos experientes.”
(Graça, 2006, p. 170)
A comunicação é, no meu entender, o suporte de toda a instrução e,
mais do que isso, de todo o trabalho que desenvolvi enquanto Professora.
“Comunicar (…) envolve a transmissão de elementos informativos mas,
também, um efeito persuasivo, abrangendo processamento consciente e
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
99
inconsciente” (Rosado e Mesquita, 2011, p. 69). Todos “os processos de
comunicação envolvem a transferência e a compreensão de significados entre
pessoas (…) ” (Rosado e Mesquita, 2011, p. 71). Foi através da comunicação
que consegui relacionar-me com os meus alunos, que comecei a perceber
quais os seus gostos pessoais e as suas preferências relativas à disciplina de
Educação Física. Durante o ano letivo foi esta mesma comunicação que me
elucidou do estado em que os meus alunos se encontravam nas restantes
disciplinas, foi dessa forma que tomei conhecimento de alguns problemas
existentes nas suas vidas, não só pelo que me diziam mas sobretudo devido
aos seus comportamentos, posturas e atitudes, tentando ajudá-los e orientá-los
dentro das minhas possibilidades. “Questionar os jovens sobre a sua vida
pessoal, escolar e extraescolar, sobre os seus interesses e problemas, pode
ser uma forma de aprofundar a relação entre professores e alunos criando
condições para alcançar muitos objetivos educativos” (Rosado e Mesquita,
2011, p. 102). Por este motivo, durante os processos de comunicação
“particular atenção deve ser dada à paralinguagem (volume de voz,
ressonância, articulação, entoação) e, de uma maneira geral, aos aspetos não-
verbais da comunicação (contacto visual, expressões faciais, entusiasmo do
professor) bem como à congruência entre mensagens verbais e não-verbais”
(Rosado e Mesquita, 2011, p. 69). Para além de tudo isto, concordo com
(Rosado e Mesquita, 2011, p. 71) quando afirmam que de entre os múltiplos
”propósitos da comunicação na relação estabelecida entre os “atores” do
processo de ensino-aprendizagem, a instrução referenciada aos conteúdos
surge como o motivo primeiro da sua utilização”.
A instrução diz respeito “à informação diretamente relacionada com os
objetivos e a matéria de ensino (…) ” é “a “chave” de estruturação e
modificação das situações de aprendizagem (…) dela fazem parte todos os
comportamentos, verbais ou não-verbais (e.g. exposição, explicação,
demonstração, feedback, entre outras formas de comunicação, nomeadamente
não-verbais), que estão intimamente ligados aos objetivos da aprendizagem”
(Rosado e Mesquita, 2011, p. 69). Segundo (Cohen, Raudenbush e Ball e
Kansanen cit. por Graça, 2006, p. 169) “a instrução é melhor entendida (…)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
100
como um processo interativo entre professores (treinadores), alunos (atletas),
ao longo do tempo, em torno de um determinado conteúdo, num contexto
social concreto”. Neste processo “o professor avalia as necessidades, os
interesses e as capacidades dos alunos; concebe, seleciona e adapta
atividades, tarefas e exercícios para concretizar os objetivos de aprendizagem,
otimizando os recursos disponíveis; apresenta tarefas, dá explicações,
comunica expectativas e exigências sobre o que deve ser feito e como deve
ser feito; apoia o confronto dos alunos com as tarefas de aprendizagem;
estimula, supervisiona, orienta, regula, avalia o empenhamento na atividade e o
rendimento dos alunos” (Graça, 2006, p. 170).
Foram várias as dificuldades que enfrentei ao longo das diversas
instruções que realizei, bem como as várias estratégias que adotei para
melhorar o meu desempenho nestes momentos específicos e particulares das
aulas. Algumas delas já foram por mim referenciadas num outro ponto deste
relatório, como por exemplo, a dificuldade que tinha em projetar a minha voz,
sentindo que não me fazia ouvir convenientemente, tendo utilizado a estratégia
e a regra de sentar todos os meus alunos, diante de mim, facilitando muito a
minha comunicação com eles e vice-versa. No entanto, existiu um problema
que se prolongou durante algum tempo e que se verificou mais complexo do
que esperaria. No início do ano letivo as minhas instruções eram realizadas de
forma muito célere, associando esta situação ao nervosismo que sentia e à
minha vontade de não falhar e conseguir dizer tudo o que pretendia sem utilizar
muito tempo da aula. Eram raros os momentos que destinada para a colocação
de dúvidas, tendo agora consciência de que as minhas primeiras interações
com os meus alunos foram muito atrapalhadas. Com as várias instruções que
realizará desta forma, fui percebendo que os discentes tinham dificuldades em
executar as tarefas que lhes tinha pedido, observando muitas vezes que alguns
deles concretizavam movimentos aleatórios apenas para não ficarem parados,
ou criavam grupos de conversa onde se discutia a organização dos exercícios.
Estes comportamentos discordantes daquilo que, na minha cabeça, tinha sio
claramente transmitido, obrigaram-me a reunir toda a turma e voltar a explicar
todo o processo inerente ao exercício ou tarefa que pretendia ver efetivada,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
101
utilizando, seguramente, muito mais tempo da aula do que se tivesse efetuado
uma instrução calma, pormenorizada e com direito a dúvidas ou perguntas por
parte dos alunos.
“ (…) tive a perceção de que não estava a comunicar da forma que
gostaria, tornando todo o processo um pouco mais demorado do que o
previsto, com alguns alunos a não perceberem com quem deveriam jogar e em
que terreno de jogo.”
(Reflexão da aula n.º 1 e 2 – Voleibol)
Passados alguns meses de trabalho com a minha turma e com muitos
problemas relativos aos momentos de instrução resolvidos ou melhorados,
“deparei-me com um acontecimento que despertou grande curiosidade em mim
e me fez pensar e reviver alguns momentos já passados ao longo deste ano
letivo” (Reflexão da aula n.º 59 e 60 – Andebol). Talvez não concorde com
todas as conclusões ou questões que levantei na minha reflexão que cito
posteriormente, no entanto, foi a situação que descrevo de seguida que me fez
crescer, evoluir e aprender algumas coisas sobre ser Professora.
“Frequentemente, têm sido alvo da minha reflexão, os problemas que
sinto na rápida organização dos diferentes exercícios das aulas, devido à
dispersão dos alunos ou mesmo a um não entendimento do que proponho.
Nunca assumi que toda a turma fosse a causadora destas situações mais
trabalhosas e, de certa forma, esta minha opinião confirmou-se nesta aula.
Tendo dois grupos distintos de trabalho, que se organizaram de forma
completamente autónoma e aleatória, verifiquei que um dos grupos, com uma
ou outra informação geral e complementar, conseguiu organizar-se
rapidamente e fazer com que o exercício funcionasse e estes tivessem muito
tempo de exercitação, observando uma prática dinâmica que cumpriu
integralmente o objetivo da tarefa. Por outro lado, o segundo grupo não
conseguiu trabalhar de forma autónoma, tendo de atuar na tentativa de auxiliar
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
102
e conseguir coloca-los a exercitar a defesa zonal. Após esta minha intervenção
os alunos deste grupo defrontaram-se com outro problema: a forma como
deviam realizar as rotações. Entre uma e outra dificuldade, foram utilizados
vários minutos que se desejavam de exercitação, o que me fez supor: será,
que por coincidência, os alunos que “perturbam” a fluidez das aulas e atrasam
o início das diferentes exercitações, se agruparam todos no mesmo grupo?
Coincidência ou não, é certo que neste grupo consegui visualizar os alunos
com maiores dificuldades a nível motor e aqueles que destaco como sendo os
mais distraídos e perturbadores, o que me faz acreditar que a falta de atenção
e alguma falta de motivação para a disciplina, inerente às dificuldades sentidas,
possam ser a causa desta minha dificuldade em colocar toda a turma a
exercitar rapidamente.”
(Reflexão da aula n.º 59 e 60 – Andebol)
Agora que o ano letivo já terminou e que possuo mais experiência do
que no momento em que escrevi o texto supracitado, não considero que os
meus alunos fossem os causadores dos atrasos ou que tivessem culpa por não
perceberem os exercícios e as suas formas de organização, pelo menos não
de todas as vezes em que estes acontecimentos se verificaram. Talvez a
resolução destas situações estivesse na forma como me deveria adaptar às
suas dificuldades, na forma como deveria modificar o meu discurso consoante
o aluno ou o grupo de alunos com quem falaria e na forma como escolhia
instruir os meus alunos. Por estes motivos, julgo ser pertinente falar de
algumas estratégias instrucionais que utilizei e com as quais alcancei melhorias
nos momentos destinados à instrução.
3.10.3.3.1 Estratégias instrucionais
Para além da exposição e do recurso a palavras-chave que foram
utilizados por mim deste a primeira aula até à final, percebi ao longo do ano
letivo que a demonstração e o questionamento eram estratégias fundamentais
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
103
para o entendimento dos alunos sobre o que era proposto e para a minha
consciencialização acerca do que os alunos sabiam não só sobre as tarefas
instruídas mas sobretudo sobre os conteúdos de ensino.
A demonstração
Segundo Rink e Darden cit. por Rosado e Mesquita (2011, p. 96) “ (…) a
demonstração, em parceria com a exposição, assume no âmbito das atividades
desportivas um papel fundamental, na medida em que possibilita a visualização
por parte do praticante do(s) movimento(s) a efetuar”. Por este motivo, as
demonstrações devem ser completas (globais) “na medida em que a totalidade
do movimento é captada de uma só vez” (Kwak cit. por Rosado e Mesquita,
2011, p. 97). Penso que sempre estive consciente da veracidade das citações
anteriores, no entanto, deixei-me vencer, por diversas vezes e sobretudo no
início do estágio, pelo medo de errar e fazer má figura perante os meus alunos,
percebendo agora que a relação que consegui construir com a minha turma foi
fundamental para me ajudar a ultrapassar alguns obstáculos na caminhada de
ser uma Professora eficaz.
“ (…) tenho falhado nas demonstrações dos vários exercícios que quero
aplicar nas minhas aulas, considerando que caso tivesse posto a
demonstração em prática, nesta situação, provavelmente, conseguiria ter
resolvido algumas complicações que levaram a algum gasto de tempo que
desejaria que fosse de exercitação, desta forma, pretendo investir nesta
estratégia de instrução.”
(Reflexão da aula n.º 61 – Andebol)
Prova disso é o facto da minha primeira verdadeira demonstração ter
acontecido numa fase já avançada da Unidade Didática de Voleibol, sendo um
momento bastante marcante para mim e o ponto de viragem da minha postura
relativamente à demonstração nas minhas aulas.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
104
“A introdução do gesto técnico do remate causou-me algum nervosismo,
por ser complexo, bastante exigente e por não ter grande apetência para a sua
realização. No entanto, foi uma grande satisfação que senti após a
demonstração dos exercícios que queria que os meus alunos realizassem, por
ter realizado esta demonstração de forma eficaz e sem erros muito evidentes.
Isto deveu-se, em grande parte, à ajuda que os meus colegas e professor
cooperante me deram antes da aula e também ao enorme à vontade que sinto
com a minha turma, sentindo que todos os nervos ou inseguranças que possa
sentir durante a preparação e planeamento das aulas, desaparecem assim que
os meus alunos começam a surgir no pavilhão.”
(Reflexão da aula n.º 16 e 17 – Voleibol)
Após este momento as demonstrações passaram a ser parte integrante
de quase todas as minhas aulas, sendo recebidas pelos meus alunos como
uma mais-valia para a sua aprendizagem e um guia para a realização das
tarefas das aulas, uma vez que segundo Temprado cit. por Rosado e Mesquita
(2011, p. 96) “a apresentação do modelo do movimento pretendido permite
diminuir o tempo de prática necessário para atingir determinado nível de
performance em relação à prática efetuada na ausência da utilização prévia
desta estratégia de apresentação”.
“Esta motivação que senti foi notória nas minhas demonstrações, uma
vez que expliquei os exercícios que queria que os alunos realizassem com uma
breve demonstração com bola, situação inabitual devido ao meu desempenho,
não muito regular, na modalidade de voleibol.”
(Reflexão da aula n.º 6 – Voleibol)
“Deparando-me com uma situação de claro desconforto por parte de
toda a turma, decidi intervir na aula, exemplificar movimentos e atitudes que
gostaria de ver espelhadas em cada um dos meus alunos, emiti feedbacks
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
105
positivos sempre que algum elemento arriscava mais ou explorava uma
situação nova (…) “
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
As demonstrações não foram sempre realizadas por mim, tendo
permitido a exposição dos meus alunos nestes momentos, devido ao “efeito de
modelação comportamental” (Rosado e Mesquita, 2011, p. 98) inerente a esta
tarefa e ao facto, referido pelos mesmos autores, desta escolha permitir a
libertação do professor para a focalização da atenção dos alunos nos aspetos
relevante a atender, através do complemento da informação verbal.
Por fim, reflito sobre a utilização, ao longo do meu Estágio, dos dois
modelos de demonstração referidos por Rosado e Mesquita no seu livro
intitulado Pedagogia do Desporto. Laguna cit. por Rosado e Mesquita (2011, p.
97) afirma que “o “modelo correto” proporciona ao aprendiz a recolha de
informação necessária para criar uma representação cognitiva relativa à
produção do movimento, mas não facilita a deteção dos erros de execução”.
Este modelo “assume maior pertinência sempre que é preciso fornecer
informação relevante acerca das tarefas, como é o caso da apresentação das
tarefas motoras” (Laguna cit. por Rosado e Mesquita, 2011, p. 97). “Por sua
vez, o “modelo de aprendizagem” proporciona o contacto com os erros de
execução, não garantindo, todavia, o reconhecimento do erro nem a
representação cognitiva do movimento correto” (Laguna cit. por Rosado e
Mesquita, 2011, p. 97). Adotei o “modelo correto” sempre que introduzia um
novo exercício ou um novo conteúdo nas minhas aulas, pois considero que
num primeiro momento de aprendizagem as informações partilhadas com os
alunos devem ser claras, objetivas e corretas. Desta forma, a probabilidade de
surgirem confusões ou dúvida torna-se muito menor, visto que os alunos ficam
munidos de uma representação visual daquilo que devem imitar e reproduzir.
Relativamente ao “modelo de aprendizagem” posso dizer que recorri a ele em
situações pontuais e esporádicas e, normalmente, quando interagia de forma
individual com algum dos meus alunos. Sempre que observava uma execução
muito errada de um determinado movimento e essa mesma execução
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
106
comprometia o sucesso dos meus alunos, tentava realizar o mesmo erro, de
forma que, através da observação, os discentes conseguissem identificar o que
estaria mal e posteriormente eu pudesse emitir um feedback, orientando-os
para o sucesso. Por vezes, após realizar esta correção e depois de garantir
que o aluno percebera o que estava a fazer de forma errada, colocava-o
perante toda a turma de modo a alertar os restantes discentes de erros que
estaria a observar sistematicamente em grande parte da turma, optando por
emitir uma correção em grupo, poupando tempo de aula para a exercitação dos
conteúdo e para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem
propriamente dito.
O questionamento
Esta estratégia instrucional começou a ser utilizada por mim com o
objetivo de confirmar se os alunos tinham percebido aquilo que lhes ensinava e
transmitia, até que comecei a identificar outras particularidades interessantes
desta forma de interação com os discentes. De acordo com Vacca cit. por
Rosado e Mesquita (2011) esta estratégia de ensino fomenta uma maior
participação ativa dos alunos no processo de ensino e aprendizagem, permite
verificar o grau de conhecimento que os alunos têm da informação transmitida,
desenvolve a capacidade de reflexão, solicita apreciação, realiza o controlo de
aspetos de caráter organizativo, aumenta a frequência de interações entre
professor e aluno, melhora a motivação e o clima, a instrução, a gestão e a
disciplina nos diversos contextos educativos.
Foi com a experiência prática, decorrente das minhas aulas, que percebi
que o questionamento pode também influenciar o grau de autonomia dos
alunos no sentido em que o feedback interrogativo, por parte do Professor, e de
acordo com (Rosado e Mesquita, 2011, p. 102), “pode ser uma excelente forma
de motivar os alunos para a necessidade de, também eles, tratarem a
informação que recebem das suas próprias execuções, permitindo o
desenvolvimento da capacidade de avaliação das suas execuções e facilitando
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
107
a sua descrição verbal”. “Neste sentido, o questionamento aparece enquanto
estratégia instrucional fundamental, ao oferecer a possibilidade ao aluno/atleta
de ocupar um papel central no processo de ensino-aprendizagem, atuando
como construtor ativo das suas aprendizagens” (Rosado e Mesquita, 2011, p.
103). Por outro lado, segundo Feldman, McKeow e Beck cit. por Rosado e
Mesquita (2011, p. 102), “o questionamento centrado na vida da turma, nas
suas dificuldades e nos seus problemas enquanto grupo, e particularmente o
questionamento individual solicitando apreciação, juízos de valor, expressão de
ideias e sentimentos, facilita a criação de um bom clima de aula, a otimização
da interação pedagógica com vantagens para a facilitação do desenvolvimento
sócio afetivo e para a qualidade da participação com reflexos sobre a
disciplina”. Foi então nesta vertente do questionamento que descobri a minha
turma e conquistei informações cruciais para adequar o ensino às
características dos meus alunos e despoletar todos os sentidos em prol do
máximo de aprendizagens e conquista de conhecimentos.
Por fim, verifiquei que “o questionamento sistemático e planeado,
percorrendo todos os alunos ao longo do processo de ensino-aprendizagem,
pode ser um instrumento de avaliação não só dos alunos mas do próprio
ensino, do professor e dos contextos em que se inserem, servindo para
concretizar aspetos decisivos da avaliação” (Rosado e Mesquita, 2011, p. 102).
É indiscutível a melhoria que senti, na perceção dos conhecimentos dos meus
alunos, a partir do momento em que os comecei a questionar sobre os
conteúdos que ensinava em cada aula, uma vez que “questionar diretamente
os alunos com questões relevantes sobre a informação transmitida” (Rosado e
Mesquita, 2011, p. 101) é uma das estratégias correntemente adotadas,
quando fazia perguntas sobre as várias formas de organização dos diferentes
exercícios e, sobretudo, sobre as indicações que ia dando de forma geral ou
individual no decorrer da aula. Para além disto, tornei-me muito mais
consciente das necessidades de cada elemento da minha turma, tendo este
processo favorecido, de forma incalculável, a minha atuação personalizada e
individualizada.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
108
3.10.3.3.2 Momentos Instrucionais
Relativamente às vantagens da instrução sobre o processo de ensino e
aprendizagem, destaco dois momentos instrucionais, dos quatro referidos por
(Rosado e Mesquita, 2011, p. 69) (“apresentação da sessão, apresentação das
tarefas, feedback pedagógico e encerramento da sessão”), por serem aqueles
que mais impacto tiveram no decurso das minhas aulas e no sucesso dos
meus alunos, mas também por serem importantes auxiliares no processo de
planeamento das aulas.
Feedback pedagógico: o seu ciclo, a sua pertinência e a sua
aceitação
“(…) a possibilidade de dirigir e influenciar a atividade do aluno numa
determinada direção faz do chamado Feed-Back Pedagógico, um fator decisivo
na atividade de condução pedagógica, caracterizando-se neste sentido, como
uma variável importante na determinação da eficácia e qualidade do ensino.
Deve por isso fazer parte integrante dos conhecimentos e procedimentos
didático-metodológicos do professor.”
(Mota, 1989, p. 23)
“A observação é um olhar atento e dirigido, é um processo seletivo de
busca e captação de sinais, é um olhar ativo que tem que aprender a deixar de
lado o que não interessa, é um filtro que usamos para construir a realidade”
(Graça, 1998, p. 4), por este motivo se torna imprescindível a observação do
desempenho dos alunos com o objetivo de realizar um diagnóstico através da
“comparação entre os dados recolhidos numa observação e um padrão de
referência, ou uma matriz de reconhecimento” (Graça, 1998, p. 4). É através
deste processo, denominado de observação, que um Professor reconhece a
necessidade e a pertinência da emissão de um feedback, ou seja, de
informação auxiliar que fomenta o processo de ensino-aprendizagem e o torna
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
109
mais completo e bem-sucedido. De acordo com Graça (1998), esta forma de
interação com os alunos justifica-se quando estes não conseguem identificar os
seus erros ou quando não percebem a qualidade da sua ação, devido à falta de
conhecimento ou experiência.
Concordando com Mota (1989), o feedback pedagógico pode exercer
três tipos de influência sobre os alunos: motivação, reforço e informação.
Através de feedbacks positivos o Professor estimula os seus alunos,
motivando-os, por vezes de forma inconsciente, para a realização das
atividades propostas. Por outro lado, ao emitir feedbacks, o Professor reforça a
informação relativa a determinada tarefa, munindo assim os seus alunos de
capacidades para modificar a sua execução em prol do sucesso das
aprendizagens. Estas informações podem ser fornecidas durante ou após a
realização dos movimentos, sendo da responsabilidade do Docente a escolha
do momento mais propício para a interação com os alunos e dos aspetos
essenciais à compreensão da informação que se pretende transmitir.
“É lugar-comum referenciar o feedback como uma mais-valia do
professor no processo de interação pedagógica, sendo esta variável (…) com
maior valor preditivo sobre os ganhos da aprendizagem” (Rosado e Mesquita,
2011, p. 70). Para que este momento instrucional tenha, efetivamente,
resultados e melhore o desempenho dos alunos é necessário respeitar três
fases, relatadas por Pinheiro e Simon cit. por Graça (1998): fase de aquisição
da informação, fase de interpretação da informação e fase de decisão de
diagnóstico. A primeira diz respeito à recolha de dados que fará o Professor
perceber o problema sobre o qual irá intervir. A segunda fase relaciona-se com
a atribuição de significado à informação que foi apreendida na fase precedente.
E por fim, na fase de decisão pretende-se que o Professor seja capaz de definir
a qualidade da execução do seu aluno, detetar os erros e as respetivas causas.
Aqui justifica-se a referência ao ciclo de feedback, uma vez que enquanto
Professora nunca realizei uma observação sem qualquer intencionalidade, isto
é, sempre tive o propósito de modificar algum comportamento no sentido da
aquisição ou realização de uma habilidade (Fishman e Tobey cit. por Rosado e
Mesquita, 2011). Desta forma, sempre que realizava uma observação seguida
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
110
da emissão de um feedback tornava-se inquestionável proceder a uma nova
visualização do desempenho dos meus alunos, no sentido de perceber se a
informação que transmitira tinha sido compreendida e de fácil aplicação prática,
uma vez que “muitas das vezes assume-se que a informação transmitida pelo
professor (…) passa sem problemas e sem alterações para o praticante”
(Graça, 1998, p. 6), mas na realidade este processo não acontecem de forma
tão literal.
“ (…) tenho a preocupação de perceber se fui compreendida ou se há
esforço da parte dos mesmos para melhorar e pôr em prática o que lhes
ensinei.”
(Reflexão da aula n.º 4 e 5 – Voleibol)
Desta forma, torna-se importante verificar se não existiu “uma
compreensão insuficiente das tarefas, mau entendimento da informação
transmitida ou falta de conhecimento prévio do conteúdo” (Graça, 1998, p. 6).
Caso isto se verifique, legitima-se uma nova intervenção, no sentido de guiar e
auxiliar a aprendizagem da turma.
“Estes feedbacks cumpriram sempre o seu ciclo (observação, emissão
do feedback, observação, novo feedback se necessário).”
(Reflexão da aula n.º 1 e 2 – Voleibol)
No entanto, sempre tive a preocupação de não criar dependência nos
meus alunos, isto é, tentei que estes não ignorassem a informação sensorial
que a tarefa lhes proporcionava ou não impedissem o desenvolvimento dos
processos de regulação interna da execução (Graça,1998), dando espaço e
oportunidade para que errassem e melhorassem através daquilo que
consideravam ser correto, desenvolvendo assim a interpretação do feedback
intrínseco (Lee, Swinnen e Serrien cit. por Graça, 1998). Sempre que sentia
que este meu objetivo não estava a ser atingido ficava um pouco menos
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
111
participativa na aula, promovendo nos meus alunos a necessidade de
procurarem as respostas para os seus problemas, sem recorrer à minha ajuda.
“Ao longo desta aula fiquei um pouco “mais de fora” e fui-me
apercebendo da necessidade dos meus alunos em que eu esteja
constantemente a corrigir e a dar feedbacks sobre a correta ou a errada
execução das diferentes habilidades.”
(Reflexão da aula n.º 21 – Voleibol)
Ao longo do estágio existiram algumas situações que me fizeram
questionar a minha atuação e a minha capacidade para emitir feedbacks
adequados e pertinentes. Em alguns momentos fui alertada para o facto de
emitir feedbacks sem conteúdo, isto é, afirmava, perante os meus alunos, que
estes não realizavam aquilo que pretendia mas não os elucidava sobre as
formas que os guiariam ao sucesso, não esclarecia quais os pontos fulcrais
para a correção dos seus erros, o que fragilizava imenso o meu desempenho e
podia denotar algum desconforto com a modalidade que ensinava ou com o
conteúdo de aprendizagem.
“Relativamente aos feedbacks, fui chamada à atenção para o facto de
dizer aos meus alunos o que quero que eles façam para melhor a sua atuação,
mas sem dizer como se faz. Por exemplo, sinto necessidade de dizer muitas
vezes que a bola tem de ser mais alta, mas é rara a vez em que explico como
se posiciona, o quefazer para conseguir colocar a bola mais alta. Por este
motivo, esta será uma das minhas prioridades para as próximas aulas, uma vez
que considero que um bom feedback, conjugado com uma boa demonstração
podem auxiliar os alunos à melhoria da sua performance, num curto espaço de
tempo.”
(Reflexão da aula n.º 7 e 8 – Voleibol)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
112
Fui melhorando este aspeto durante as aulas, começando a emitir
feedbacks pertinentes mesmo quando não possuía formação da modalidade
que ensinava, como foi o caso do Ténis, ou em modalidades onde considerava
não possuir grandes capacidades e conhecimentos, como por exemplo o
Andebol.
“As pequenas modificações nos comportamentos e consequentes
melhorias na performance dos alunos fez-me perceber que consegui focar os
aspetos essenciais dos gestos técnicos, fui capaz de dar feedbacks objetivos
após reconhecer o erro que estava a ser cometido, (…). Foi gratificante
perceber que os feedbacks e correções que ia efetuando estavam de acordo
com o que o meu Professor Cooperante ia dizendo, significando, para mim, que
embora não tivesse formação específica relativa ao Ténis, consegui transferir
conhecimentos de outras modalidades, consegui perceber a essências dos
gestos técnicos que ensinei e preparei-me de forma adequada, não dando
oportunidade aos meus alunos de perceber as minhas lacunas.”
(Reflexão da aula n.º 54 e 55 – Ténis)
“ (…) tenho verificado que as minhas instruções, feedbacks e chamadas
de atenção têm resultado em modificações nos comportamentos e ações dos
alunos, em contexto de jogo, que no meu entender correspondem ao objetivo
do jogo.
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
Contudo, talvez influenciados pelos feedbacks de menor relevância para
a sua aprendizagem e evolução, nem sempre a reação dos meus alunos aos
meus comentários ou correções foi a melhor, por vezes senti que estava a ser
julgada a cada palavra que dizia e que aquilo que explicava à minha turma ou a
alguns dos meus alunos era encarrado por eles como algo que não tinha
qualquer relevância para a sua formação e desenvolvimento. Estas situações
ocorreram predominantemente no início do estágio e não nego que me
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
113
abalaram um pouco e exigiram de mim uma grande capacidade de gestão dos
meus sentimentos e inseguranças. A dada altura do ano letivo, quando julgava
ter resolvido esta questão que me incomodava, quando estava certa de que
estava a conseguir conquistar aqueles alunos que considerava mais distantes
de mim e menos interessados, vejo-me confrontada com o surgimento de um
novo “aluno problema”.
“Sinto ainda necessidade de falar sobre o meu contentamento ao
perceber que consigo, a cada aula, relacionar-me mais e melhor com o aluno
Gustavo (nome fictício), tendo havido um crescente interesse e uma maior
aceitação das minhas correções e um entusiasmo diferente nas aulas e nas
tentativas que o aluno faz para melhorar. (…) Penso ainda que esta mudança
pode significar uma maior confiança do Gustavo em mim. Por outro lado, realço
o Jorge (nome fictício) como sendo o aluno com quem tenho uma maior
dificuldade em relacionar-me e interagir. Nesta aula tentei, por várias vezes,
chamá-lo à atenção para execuções erradas de exercícios ou até mesmo para
o seu comportamento menos apropriado para uma aula e este aluno mostrou
sempre uma grande indiferença perante mim e o que lhe dizia, chegando
mesmo a virar a cara enquanto falada para ele.”
(Reflexão da aula n.º 16 e 17 – Voleibol)
Esta situação causou-me algum transtorno e preocupação, tendo exigido
um esforço para dar mais atenção àquele elemento da turma durante as aulas,
na tentativa de perceber o que estava a dificultar o meu relacionamento com o
mesmo, contrariamente ao que acontecia com todos os seus colegas. Agora
que o ano findou e fiz tudo o que estava ao meu alcance para cativar todos os
meus alunos, percebo que cada pessoa tem modos distintos de se relacionar e
que o facto de uma determinada pessoa não demonstrar claramente os seus
gostos, sentimentos ou dificuldades não significa que este não se identifique
com o contexto que o rodeia e não faça um esforço para aprender e evoluir.
Neste caso particular, estou certa de que o meu aluno não reagiu da forma que
eu estaria à espera e isso causou-me algum desconforto e requereu um
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
114
período de consciencialização e familiarização com a sua maneira de ser. Num
cenário completamente contrário e agradável, foram vários os momentos e as
situações que despoletaram sentimentos de satisfação e de dever cumprido
perante a responsabilidade que tinha com os meus alunos.
“ (…) faço um balanço muito positivo desta sessão, pois consegui
interagir e relacionar-me com a turma de forma agradável e motivante, tendo
esta situação efeitos no próprio desempenho dos alunos. O facto de receber
sorrisos sempre que intervenho, de ver melhorias a cada feedback dado
alegra-me, faz-me sentir útil e competente para superar o objetivo a que me
propus.”
(Reflexão da aula n.º 4 e 5 – Voleibol)
“ (…) foi a Juliana (nome fictício) que me interpelou com dúvidas,
pedindo ajuda e chamando a minha atenção para os momentos em que ela
realizava os exercícios ou entrava em jogo, querendo saber o meu feedback
perante a sua atuação.”
(Reflexão da aula n.º 19 e 20 – Voleibol)
“Sem dúvida que senti recetividade a todos os feedbacks e correções
que dei ao longo desta aula (…) ”
(Reflexão da aula n.º 31 e 32 – Voleibol)
"Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a
pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida."
(Provérbio chinês)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
115
Encerramento da sessão: o ponto de partida de um novo
planeamento
Embora o final de uma aula possa ser encarado por grande parte dos
Professores como um momento banal e despido de importância e significado,
devido ao cansaço oriundo do trabalho realizado até aquele momento ou até
mesmo devido aos alunos se encontrarem excitados e desconcentrados, eu
reconheci-lhe grandes mais-valias para a minha profissão.
Ao colocar questões, solicitando uma apreciação da aula, conseguia
perceber de que forma a aula tinha sido vivida pelos meus alunos, ao relembrar
a informação mais pertinente permitia que esta fosse mais inteligível para os
meus alunos devido à experiência que adquiriram durante a aula, e ao emitir
feedbacks coletivos conseguia motivar a turma para as aulas futuras (Rosado e
Mesquita, 2011). Concordo então com (Rosado e Mesquita, 2011, pp. 92 - 93)
quando afirmam que “o encerramento da sessão deve ser organizado em trono
de duas funções: uma função de revisão/consolidação dos conteúdos
lecionados, num alinhamento estreito entre os objetivos e conteúdos de
aprendizagem, e uma função de motivação prospetiva”.
Além de todas as vantagens e benefícios que reconheço aos últimos
momentos das aulas, e que foram referidos no parágrafo anterior, encontrei,
através do aproveitamento de todo o tempo de aula, uma base sólida para a
construção do meu planeamento das aulas. Perceber o que os alunos
aprenderam numa determinada sessão de trabalho permitiu-me perspetivar o
futuro e consciencializar-me se os objetivos estavam adequados ao meu
público-alvo ou se deviam ser submetidos a um reajustamento no sentido de
tornar as metas de cada aula alcançáveis e motivantes para os alunos. Refiro-
me à motivação pois nos diálogos finais das aulas consegui, por diversas
vezes, perceber o contentamento ou o descontentamento e o estado de
espírito dos meus alunos em relação a diversos aspetos, como por exemplo, a
minha atuação para com eles, os conteúdos e modalidades que estava a
ensinar, as aprendizagens que realizavam em cada aula ou até mesmo as
relações que os alunos estabeleciam entre si.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
116
“No momento final da aula, destinado ao esclarecimento de dúvidas, a
Carolina (nome fictício) afirmou que conseguia e era fácil rematar e finalizar
com oposição, o que me alertou para a relevância e carência de melhorar a
defesa e tornar os objetivos táticos centrais nas próximas aulas. Esta situação
fez-me perceber como é importante ouvir tudo o que os nossos alunos nos
dizem, visto que nos clarificam algumas ideias, ajudam-nos a perceber várias
ocorrências do ceio da turma e transmitem as suas preferências, gostos e
necessidades.”
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
“A Mafalda (nome fictício) partilhou a sua vontade em não trabalhar mais
com a colega Inês (nome fictício) por se sentir inferiorizada e desmoralizada
com os comentários e atitudes da mesma.”
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
“Vi, pela primeira vez, a Mafalda (nome fictício) absorvida pelo jogo, a
atuar conforme era desejado, com um grande sorriso na cara. Pela primeira
vez elogiei-a sem sentir que estava, maioritariamente, a tentar motivá-la, mas
sim porque realmente ela me surpreendeu e superou as minhas expectativas.
Ao partilhar este acontecimento com a turma, de forma a dar um exemplo de
persistência e superação, reparei que a Inês (nome fictício) iniciou uma série
de comentários e risos um pouco perturbadores e desconcertantes, (…).”
(Reflexão da aula n.º 59 e 60 – Andebol)
“Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou excluiu.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive”
(Reis, 2007)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
117
3.10.3.3.3 Modelos instrucionais: do modelo de instrução direta à
progressiva “libertação”
“Os modelos de instrução são uma ferramenta, através da qual o professor
pode selecionar e usar em diferentes contextos de modo a promover a
aprendizagem do aluno”
(Metzler, 2011)
“O processo instrucional tem como incumbência específica o
desenvolvimento da competência num determinado domínio de conteúdo, que
se consubstancia na apropriação de conhecimentos e habilidades e no
desenvolvimento de capacidades e disposições ou atitudes relacionados como
conteúdo de instrução. (…) A capacidade instrucional não resulta
unilateralmente da ação do professor, da qualidade intrínseca dos modelos de
instrução, materiais e tarefas selecionados para a aula ou da capacidade e
ação dos alunos, mas na otimização da coordenação destes elementos”
(Graça, 2006, p. 169).
“Os modelos instrucionais apresentam-se como propostas para a
conceção e organização dos propósitos educativos, da interação pedagógica,
da relação didática professor-aluno-matéria” (Graça, 2006, p. 169). Segundo
Metzler (2011) um modelo de instrução é definido como sendo um plano
compreensivo e coerente para o ensino que inclui: sustentação teórica,
pretensão em obter resultados de aprendizagem, conhecimento aprofundado
por parte do professor, atividades de aprendizagem adequadas e
sequenciadas, expectativas para o comportamento de professores e alunos,
estruturas de tarefas únicas, avaliação do processo de aprendizagem e formas
de verificar a implementação exata do modelo. Constroem-se em torno de uma
ideal basilar de ensino, facultam um modelo coerente para o processo de
instrução e clarificam as prioridades e as interações entre os diferentes aspetos
da aprendizagem (Graça, 2006).
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
118
Ao longo do meu Estágio adotei vários modelos instrucionais, como o
Modelo de Instrução Direta (MID) onde o Professor controla todo o processo de
ensino-aprendizagem, o Modelo Desenvolvimental (MD) que defende que “a
matéria de ensino exige um tratamento didático, materializado na manipulação
da complexidade das situações de aprendizagem (aumento ou diminuição) e
na estruturação do desenvolvimento do trabalho do aluno” (Mesquita e Graça,
2011, p. 51), o Modelo de ensino dos jogos para a sua compreensão onde se
pretende “transpor a atenção tradicionalmente dedicada ao desenvolvimento
das habilidades básicas do jogo, ao ensino das técnicas isoladas, para o
desenvolvimento da capacidade de jogo através da compreensão tática do
jogo” (Bunker e Thorpe cit. por Oliveira et al., 2013, p. 242), e o Modelo de
Educação Desportiva (MED) que tem como objetivo a “implementação de
ambientes de prática propiciadores de experiências desportivamente
autênticas” (Mesquita e Graça, 2011, p. 59). Esta minha necessidade justifica-
se por considerar que cada fase do ano letivo exigia uma postura diferente da
minha parte, devido a diversos fatores como o conhecimento das
características dos alunos, a aceitação e compreensão, por parte destes, das
regras e dos limites impostos por mim, a relação criada com a turma, entre
outros. No entanto, considero que dois dos modelos que utilizei se destacaram
e por este motivo realizo, de seguida, uma breve reflexão sobre a minha
experiência relativa à utilização deles no âmbito das aulas de Educação Física,
lecionadas por mim.
Modelo de Instrução Direta (MID)
“O MID caracteriza-se por centrar no professor a tomada de
praticamente todas as decisões acerca do processo de ensino-aprendizagem
(…).”
(Mesquita e Graça, 2011, p. 48)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
119
“O Modelo de Instrução Direta (MID) tem sido preferencialmente o mais
utilizado tanto por professores como por treinadores de Desporto, o qual centra
todo o processo de ensino-aprendizagem no professor. Este modelo, dada a
sua natureza autocrática, confere ao aluno um papel passivo, essencialmente
conotado pela reprodução dos saberes transmitidos pelo professor” (Pereira et
al., 2013, p. 31). “É deste modo fundamental a ação do professor na indicação
e gestão de todo o processo neste modelo de ensino (MID), criando soluções e
assumindo total responsabilidade pelo padrão de aprendizagem” (Pedro et al.,
2015, p. 333). Por exemplo, “o professor realiza o controlo administrativo,
determinando explicitamente as regras e rotinas de gestão e ação dos alunos,
de forma a obter a máxima eficácia nas atividades desenvolvidas pelos alunos”
(Mesquita e Graça, 2011, p. 48), organiza as atividades em segmentos
temporais, de modo a que o tempo de prática motora seja elevado, indica
critérios de êxito das diferentes tarefas de aprendizagem (Mesquita e Graça,
2011). Ainda de acordo com (Graça, 2006), neste modelo, o Professor
apresenta-se como o transmissor, dirigindo ativamente e passo a passo a
atividade de instrução do processo de ensino- aprendizagem, contrariamente
ao aluno que tem como objetivo assimilar a informação recebida, exercitar e
replicar o modelo correto predefinido. Este modelo “assenta na convicção de
que o fundamental é a prescrição de processos e soluções, onde o espaço de
problematização dos problemas correntes da prática é circunscrito e orientado
na totalidade pelo professor” (Mesquita, 2014, p. 193).
Este modelo foi fundamental e realmente útil numa fase inicial do ano
letivo, uma vez que, no meu entender, é um modelo que permite manter o
controlo da turma e de todas as atividades realizadas, através da clarificação
das regras, rotinas e formas de organização dos exercícios planeados, do
tempo destinado a cada exercitação e dos objetivos e aspetos essenciais de
cada tarefa. Desta forma, não é permitida grande autonomia por parte dos
alunos, estando todos os aspetos e critérios definidos e explanados para os
meus, facilitando a sua atuação, no sentido em que apenas se devem limitar a
cumprir aquilo que é indicado pelo Professor.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
120
Considero que sempre que os alunos assim o permitam, ou seja, sempre
que as turmas tenham um comportamento adequado e responsável, e o
relacionamento entre Professor- aluno seja agradável, se deve abdicar da
lecionação de aulas segundo este modelo instrucional. Esta minha ideia está
relacionada com a falta de liberdade e criatividade a que os alunos estão
sujeitos perante esta forma de instrução, uma vez que se limitam a cumprir as
instruções dadas pelo Professor, sem terem oportunidade de questionar o
porquê das coisas, sem conseguirem revolucionar as aulas de Educação
Física, visto que desta forma, as aulas se tornam bastante previsíveis e a
ocorrência de imprevistos ou surpresas está acautelada quase a cem por
cento. Pessoalmente senti-me muito mais motivada e interessada aquando da
utilização de modelos que privilegiavam a autonomia dos discentes, pois julgo
que desta forma estes se revelam e se dão a conhecer numa outra dimensão
sendo benéfico para o próprio processo de formação dos alunos.
Modelo de Educação Desportiva (MED)
Através do MED “poderemos encontrar as chamas e luzes para iluminar,
reanimar e renovar a disciplina de EF e o Desporto na Escola, ajudando a içar
professores e alunos do alçapão da desmotivação, da inação e da descrença,
descobrindo e destapando o que de melhor existe em cada professor e,
consequentemente, em cada aluno.”
(Rolim, 2015, p. 49)
Ao contrário do MID, no MED “o aluno é colocado no centro do
processo, (…), assumindo este maior autonomia, em prol da construção das
suas próprias experiências e consequentemente, a criação da sua própria
identidade” (Pedro et al., 2015, p. 333). Este modelo teve como fundador Daryl
Siedentop, que “preocupado com os rumos da EF, (…) propôs um modelo
instrucional e curricular baseado nos valores do Desporto, invocando a
necessidade das aulas de Educação Física serem revestidas de um ambiente
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
121
de ensino-aprendizagem com características do Desporto federado” (Pereira et
al., 2013, p. 31).
Este modelo revolucionário e exigente amplia as experiências dos
estudantes e desafia as abordagens pedagógicas tradicionais (Pereira et al.,
2013). “Valoriza a dimensão humana e cultural do desporto e, por isso,
reconhece a importância de o democratizar e de vitalizar a competição,
estabelecendo um compromisso pedagógico entre inclusão, competição e
aprendizagens. É um modelo instrucional desenhado para proporcionar
experiências desportivas ricas e autênticas no contexto escolar e responde de
forma cabal aos objetivos educacionais e às exigências epistemológicas e
curriculares da educação física contemporânea” (Mesquita, 2014, p. 191).
Graça cit. por Pedro et al. (2015) confirma esta ideia dizendo que “o MED
pretende valorizar a inclusão e a equidade na participação de todos os alunos
na atividade, a entreajuda no trabalho em equipa, a autonomia e o
desempenho dos vários papéis associados ao contexto desportivo”. Por fim, do
ponto de vista de (Curnow e Macdonald cit. por Oliveira et al., 2013, p. 241) o
MED “define-se como uma forma de educação lúdica, procurando estabelecer
um ambiente propiciador de uma experiência desportiva autêntica, conseguida
pela criação de um contexto desportivo significativo para os alunos”.
Este modelo assenta em três princípios ou ideais fundamentais, sendo
eles formar desportistas competentes ao nível motor, literatos e entusiastas
(Pereira et al., 2013) e integra seis características que conferem autenticidade
às experiências desportivas no âmbito do MED: a época desportiva, a filiação,
a competição formal, o registo estatística, a festividade e os eventos
culminantes (Oliveira et al., 2013). É um registo de ensino bastante distinto
daquilo que é comum observar em contexto escolar e, por este motivo, senti
necessidade de construir um documento que elucidasse os meus alunos das
características do MED (Anexo XII). Por outro lado, este modelo de ensino
preconiza a responsabilidade dos alunos, tendo, de forma alusiva, pedido às
diversas equipas que assinassem o Contrato de capitão (Anexo IX)
formalizando assim o seu papel neste processo de aprendizagem.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
122
Com a experiência que tive a oportunidade e a sorte de ter, percebi que
este modelo permite “que os grupos mais “frágeis” da turma (rapazes e
raparigas menos aptos) sejam incluídos na equipa e em tarefas auxiliares ao
jogo para que, de alguma forma, consigam participar na atividade ou jogo da
aula” (Oliveira et al., 2013, p. 242), sendo considerado o aluno como alguém
com motivações específicas e dificuldades particulares, equacionando as
diferenças de cada um (Mesquita, 2014).
Num primeiro momento, planeei a experiência do MED apenas na
Unidade Didática de Futebol, no entanto acabei por organizar também as aulas
de Dança à luz de alguns princípios deste modelo (Anexo XI). Justifico esta
minha opção com o facto de ter sido possível transferir alguns elementos da
organização das aulas e das tarefas para as aulas desta modalidade, através
do aproveitamento das equipas (Anexo XVI) e das estratégias implementadas.
Deste modo, consegui que os meus alunos se mantivessem envolvidos e
interventivos em todas as sessões de trabalho do terceiro período.
Esta implementação revelou-se surpreendente, sendo mais significativa
e marcante para mim no âmbito das aulas de Dança comparativamente com a
modalidade de Futebol. Estou certa de que estes sentimentos estão
estritamente relacionados com os conhecimentos, as experiências passadas, o
gosto e o à vontade que sinto ao lecionar esta modalidade, percebendo agora
como o processo de ensino e aprendizagem pode ser afetado por um conjunto
de condições e aspetos.
“ (…) encarei a experiência MED como algo que eu viveria
intensamente, aproveitando aquilo que os alunos me quisessem “dar”. Tentei
envolve-los no espírito deste Modelo de Ensino, tentei transmitir-lhes algumas
informações e vivências minhas neste contexto para que se entusiasmassem e
tornassem este terceiro período diferente, animado, inesquecível. No entanto,
nunca tive grandes ilusões de que teria equipas equipadas a rigor e de forma
personalizada, nunca imaginei ter mascotes nas minhas aulas, nunca me
visualizei numa aula onde os alunos, festejam e ecoam os seus gritos e hinos,
mostrando a sua identidade, a sua equipa, a união e a alegria de pertencer a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
123
algo, mas a realidade foi que tudo isto aconteceu. Vi equipas identificadas
pelas cores das camisolas, havendo mesmo uma equipa que personalizou as
suas camisolas, transmitindo um maior empenho e dedicação ao trabalho que
propus. Esta mesma equipa tem uma mascote vestida como todos os seus
elementos, o que deu outra dimensão a todo o envolvimento das aulas. Os
gritos e hinos de equipa foram ouvidos ao longo de toda a aula. Os festejos, já
observados em períodos precedentes, marcaram presença nesta aula, de
forma mais efusiva pois agora trata-se da equipa de cada um, trata-se de
defender algo que é deles por um longo período de tempo. Sem dúvida que
todo o trabalho que tive até agora, na preparação das aulas, na transmissão de
conhecimentos e informações acerca do MED e deste período um pouco
diferente, valeram a pena, pois consegui que a minha turma ultrapassasse as
minhas expectativas e me fizesse acreditar em mim.”
(Reflexão da aula n.º 77 e 78 – Futebol)
Não tenho dúvidas que as aprendizagens efetuadas pelos meus alunos
foram significativas e marcantes para os mesmos. Tendo em conta os seus
comentários e reações à implementação deste modelo de ensino, consegui
perceber que a sua capacidade de liderança nunca tinha sido posta à prova,
nunca tinham sido responsáveis pela lecionação e instrução de uma parte da
aula, sendo posteriormente avaliados através do preenchimento, por parte dos
seus colegas das restantes equipas, de uma ficha de avaliação (Anexo XIV),
nunca tinham enfrentado a dificuldade inerente à transmissão de informações a
um grupo de pessoas que nem sempre facilita o trabalho do orador, nunca se
tinham preocupado com aspetos organizativos e de gestão de uma
determinada tarefa, espelhados nas suas propostas de exercícios (Anexo X),
tendo de apresentar uma proposta de avaliação do desempenho dos restantes
colegas nas tarefas que teriam de concretizar (Anexo XIII), sendo por isso
notório um certo desnorteamento, uma determinada atrapalhação, um elevado
nível de nervosismo que resultou em alguns atritos e até uma certa frustração
por não conseguirem realizar a sua intervenção da forma que, eventualmente,
teriam planeado ou idealizado. Por estes motivos:
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
124
“ (…) a utilização do Modelo de Educação Desportiva (MED), exigirá um
pouco mais de autonomia e responsabilidade aos meus alunos, levando a um
crescimento pessoal, social e cognitivo.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
Perante esta minha perceção, reforcei a postura que já tinha definido
para as aulas orientadas pelas premissas do MED, isto é, acompanhei sempre
os meus alunos com o objetivo de lhes transmitir alguma segurança e de forma
a manter, ainda que de forma mais subtil, o controlo das minhas aulas.
“Foi nesta aula também que alguns dos meus alunos deram o primeiro
grande passo, de muitos que o MED promoverá. Depois de construírem um
exercício sobre os conteúdos técnicos “Passe” e “Receção”, três equipas foram
escolhidas por mim para realizar a instrução e exemplificação do mesmo, a
toda a turma, sentindo, desta forma, o que é ser Professor por um bocadinho.
Foram imediatas as frustrações por não conseguirem falar, sem serem
interrompidos, foram instantâneas as dúvidas e dificuldades em atuar, foram
claros os nervos e o desconforto que todos sentiram por trocarem a sua
posição habitual. Eu estive sempre próxima, sempre interventiva, embora o
papel principal fosse dos meus alunos. Ajudei-os quando os colegas não
estavam a colaborar, usufruindo da autoridade que tenho enquanto Professora,
tranquilizei-os quando achavam que não estavam a fazer um bom trabalho, dei
sugestões para que melhorassem a sua atuação, fui crítica e soube identificar
os erros ou as lacunas, mas nunca no sentido de prejudicar os meus alunos,
muito pelo contrário, pretendo guiá-los fazendo com que a sua última instrução
seja perfeita e denote uma evolução na interação com os outros e nos
momentos de maior tensão e responsabilidade.”
(Reflexão da aula n.º 77 e 78 – Futebol)
Considero que as indicações fornecidas por mim auxiliaram bastante o
desempenho dos meus alunos, no sentido em que, através de simples
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
125
comentários ou sugestões, senti diferenças significativas, destacando o
seguinte exemplo, retirado de uma das minhas reflexões após a aula, por ter
observado alterações notórias no comportamento dos meus alunos, devido ao
crescente empenho demonstrado na realização dos exercícios, o que
despoletou uma melhor organização da aula.
“ Também eu aprendi e evolui nesta aula, visto que me apercebi que
teria sido importante que a primeira equipa, a apresentar o seu exercício, fosse
verificar a correta execução do mesmo nas outras equipas, corrigir aspetos que
não tivessem ficado tão bem compreendidos. Com esta perceção, corrigi a
minha falha, pois os alunos não têm a obrigação de saber atuar, e nas
restantes equipas dei sempre esta indicação, sentindo que os discentes se
empenharam mais na realização da tarefa e os próprios alunos que estavam a
liderar a aula se envolveram mais com os colegas e com a própria exercitação,
revelando outras capacidades que não teriam sido detetadas sem esta função.”
(Reflexão da aula n.º 77 e 78 – Futebol)
Mesmo os alunos dispensados da componente prática da aula, mediante
a apresentação de atestado médico, sentiram-me mais úteis no decorrer destas
aulas. Para além de poderem participar, em conjunto com as suas equipas, na
instrução e monitorização dos exercícios elaborados, puderam ainda realizar
uma nova tarefa relacionada com a análise estatística (Anexo XIV) de um
jogador, jogo ou exercício, sendo esta tarefa muito bem recebida por estes
discentes mas também pela restante turma.
“A nova tarefa de recolher alguns dados de um determinado jogo ou
jogador, de forma a realizar uma análise estatística destas mesmas
componentes, revelou-se muito interessante e útil em contexto de aula.
Esperava que alguns alunos se mostrassem pouco recetivos a esta tarefa, por
ser um pouco diferente do que fizeram até então na aula de Educação Física,
no entanto, todos participaram de forma responsável e atenta, contribuindo
para uma maior utilização do tempo de aula em tarefas propostas por mim,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
126
eliminando os tempos mortos, em que os alunos não tinham qualquer tarefa
discriminada. Esta estratégia e característica do MED, possibilita ainda a
intervenção dos alunos com atestado durante um maior período de tempo na
aula, deixando de ser tão maçador estar na aula sempre a executar as mesmas
tarefas, ou sem qualquer intervenção.”
(Reflexão da aula n.º 77 e 78 – Futebol)
Passar pelas dificuldades que a utilização do MED despoletou,
promoveu em mim diversas descobertas e uma certa mudança da minha
mentalidade. Aprendi e evolui muito com estas aulas. Compreendi que o
processo de ensino- aprendizagem pode ser muito mais rico e completo
quando o Professor dá oportunidade aos seus alunos de serem elementos
ativos na sua formação, segundo (Lewin, Lippitt e White cit. por Jesus, 1996, p.
14) “o grupo conduzido democraticamente, isto é, o grupo em que o educador
sugere tarefas e os educadores têm espaço de iniciativa na sua realização,
apresenta uma maior coesão, enquanto uma liderança “autocrática”, em que o
educador impõe tarefas limitando a iniciativa dos educandos, pode conduzir à
agressão ou à apatia”. Pessoalmente diminui o receio dos imprevistos, isto
porque nas aulas do MED são muitos os aspetos que não são planeados ou
pensados pelo Professor mas sim pelos alunos, existindo infinitas situações
que podem acontecer exigindo do Professor, uma grande capacidade
adaptativas e reativa, uma vez que o rumo das aulas pode mudar diversas
vezes e nem sempre a intervenção dos alunos é positiva havendo necessidade
do Professor intervir e, eventualmente, corrigir e redirecionar o sentido da aula.
Neste sentido, é necessário que o Professor seja competente, isto é, saiba
transferir, combinar e integrar e seja capaz de aprender e adaptar-se (Luz cit.
por Batista et al., 2012).
Depois de ter vivido esta experiência, não consigo dizer que a
implementação do MED seja fácil, no entanto, se pudesse ser ouvida por todos
os estagiários, atuais e futuros, recomendaria, de forma inquestionável, a
aplicação deste modelo instrucional no âmbito do estágio. A mudança de
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
127
perspetiva em relação à escola, à disciplina de Educação Física, mas
sobretudo em relação aos alunos, é esmagadora!
“Tudo é impossível até acontecer!”
(Reflexão da aula n.º 77 e 78 – Futebol)
3.10.3.4 Os grandes quebra-cabeças (Ginástica e Andebol)
“A alegria está na luta, na tentativa, no sofrimento envolvido e
não na vitória propriamente dita.”
Mahatma Gandhi (1948)
Ao longo da minha vida senti algumas alterações nos meus gostos e
preferências desportivas. Enquanto a Ginástica sempre foi uma modalidade
com a qual não me identifiquei, desde os primeiros contactos com a mesma até
aos dias de hoje, o Andebol era considerado um dos meus desportos de
eleição, em paridade com o Basquetebol e o Atletismo, tornando-se, durante o
Ensino Superior, uma modalidade temida por mim. Não posso dizer que um
acontecimento específico originou esta manutenção ou mudança de perspetiva,
mas acredito que o facto de não reconhecer competência na forma como
pratico estas modalidades tenha influenciado, em grande medida, o modo
como as encaro e encarei neste ano de Estágio. Por estes motivos, o momento
em que fui confrontada com o Planeamento Anual (Anexo III), destinado ao
décimo ano de escolaridade, da disciplina de Educação Física, foi marcante e
um dos primeiros grandes “choques” deste ano, pois identifiquei de imediato
duas grandes Unidades Didáticas cujas modalidades eram a Ginástica
Acrobática e o Andebol.
Era grande a aflição que sentia sempre que pensava que teria de
ensinar aos meus alunos Ginástica Acrobática quando não sabia como e por
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
128
onde começar, visto que quando penso em Ginástica lembro-me de várias
disciplinas, cada uma com as suas particularidades, inúmeros conteúdos, uma
exigência brutal nos treinos em prol da melhoria de aspetos quase
impercetíveis mas que fazem a diferença no âmbito competitivo, corpos
característicos dos atletas, graciosidade e estética presente em cada
movimento, riscos elevados de ocorrência de lesões, que muitas vezes são
grandes, muito tempo de exercitação.
“Esta unidade acentua alguns dos meus receios e inseguranças, por ser
uma modalidade onde não reconheço grandes competências na minha prática
e também por não nutrir grande paixão pela mesma.”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Todo este cenário me assusta, mas quando associado ao contexto
escolar ganhou outras proporções. Na escola a exigência não pode ser brutal
uma vez que a realidade é que muitos alunos não encaram a disciplina de
Educação Física como uma disciplina onde têm de se esforçar e trabalhar,
sendo necessário adaptar todo o contexto aos alunos com o objetivo máximo
de os cativar para a disciplina e despoletar algum interesse e curiosidade pelo
Desporto. Enquanto Professora fui confrontada com alunos altos e baixos,
magros ou um pouco mais fortes, aptos fisicamente ou com sérias dificuldades
motoras, não encontrando, em todos os meus alunos, aqueles corpos
característicos, e aqueles aspetos determinantes da Ginástica como por
exemplo a força e a flexibilidade, verificando-se assim um crescente número de
problemas com que tive de lidar numa modalidade de que não gosto, com a
qual não me identifico e que me deixa bastante desconfortável, nervosa e
ansiosa.
“(…) tenho consciência que muitos alunos não apresentam a capacidade
física essencial para a prática desta modalidade, podendo estar desde o início
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
129
condenada ao fracasso, devido à falta de disposição dos alunos para
aumentarem os seus índices de condição física.”
(Reflexão da aula n.º 13 e 14 – Ginástica Acrobática)
Estes sentimentos acentuam-se por estar consciente dos riscos desta
modalidade para a integridade física dos meus alunos, pois estes são
inexperientes, muitas vezes com grande vontade de experimentar tudo o que
está relacionado com a mesma, sem terem capacidades e conhecimentos
suficientes para isso, considerando por isto que o risco de lesões em contexto
escolar aumenta substancialmente, sendo um facto de grande stress para os
Professores, com a agravante que pessoalmente tinha vinte e oito alunos para
controlar, ajudar e ensinar. Toda a graciosidade, elegância e sentido estético
que referi anteriormente, proporcionam ainda mais o meu afastamento e
desinteresse pela Ginástica, por estas características não serem características
que facilmente reconheça em mim e por serem aspetos que tenho grandes
dificuldades em corrigir, sugerir ou aperfeiçoar.
“Sempre receei a Ginástica por associar esta modalidade a muitas
quedas, à falta de competência da minha parte para identificar os erros e
posteriormente emitir feedbacks, e por ser uma modalidade onde se deve ser
bastante gracioso, ter um grande domínio corporal e uma grande capacidade
física.”
(Reflexão da aula n.º 13 e 14 – Ginástica Acrobática)
Por fim, na escola, o tempo é um recurso que escasseia. Enquanto no
contexto competitivo são utilizadas inúmeras horas para treinar, na escola os
conteúdos são ensinados de forma célere, a exercitação efetuada pelos alunos
ocorre num curto espaço de tempo também, tudo isto porque o tempo que um
professor tem para ensinar determinada modalidade é bastante reduzido tendo
em conta a sua exigência e os conteúdos passíveis de serem ensinados.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
130
“Tenho de me consciencializar que sou apenas uma pessoa à frente de
uma turma de vinte e oito alunos. Todos eles precisam da minha ajuda e do
meu apoio, contudo este apoio terá de ser dado primeiro a uns alunos de forma
mais vigorosa, e na aula seguinte estes mesmos alunos ficarão mais
autónomos, necessitando menos dos meus conselhos e ajudas, o que permitirá
que esteja mais atenta aos restantes grupos. É certo que esta realidade não
me satisfaz, pois gostava de dar mais atenção, dispensar muito mais tempo a
cada um dos meus alunos, mas com a carga horária destinada à disciplina de
Educação Física esta aproximação e individualização torna-se quase
impossível (….)”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Na realidade e concretização das aulas de Ginástica Acrobática,
deparei-me com vários problemas que fui tentando combater ao longo da
Unidade Didática. De modo a demonstrar alguns dos meus conhecimentos
específicos e a ajudar os meus alunos, construi um documento (Anexo XXI)
onde estavam explicados alguns dos conteúdos da modalidade que seria
ensinada e a forma como toda a Unidade Didática se ia desenvolver. A primeira
aula foi um turbilhão de emoções e o percorrer de um caminho totalmente
desconhecido, que me fez sentir perdida e completamente desmotivada, pois
tenho noção que era notória a minha desorientação e a minha dificuldade em
conduzir aquela aula.
“Relativamente à aula propriamente dita, posso dizer que me senti como
se tivesse entrado num avião, feito uma viagem longa e desembarcado num
país totalmente desconhecido, onde não sabia para que lado me virar para
chegar ao meu destino. Muitas coisas estavam a acontecer ao mesmo tempo,
o que dificultou bastante a minha intervenção.”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
131
Os alunos apresentaram-se espalhados em grupos pelo espaço da aula,
realizando trabalhos distintos, em momentos diferentes e com ritmos desiguais.
Esta situação não foi sequer equacionada por mim e provocou um mau
posicionamento constante da minha parte, verificando que durante grande
parte da aula mantive alunos nas minhas costas, sem conseguir estabelecer
nenhum contacto visual, sendo esta situação de imediato alvo da minha
reflexão.
“Para além dos alunos estarem espalhados pelo espaço de aula, senti-
me, por diversas vezes, mal posicionada, isto porque enquanto ajudava um
determinado grupo, colocava-me de costas para a restante turma. Isto não
pode acontecer, principalmente nesta modalidade, onde os alunos facilmente
se podem magoar, por isso, na próxima aula, optarei por colocar os colchões
numa posição mais central da sala e deslocar-me-ei por fora dos mesmos e
não pelo seu interior, como aconteceu nesta aula.”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Por outro lado, toda esta dispersão acentuou a minha dificuldade em
interagir com todos os grupos de forma semelhante, pois utilizava grande parte
da aula a ajudar alguns, percebendo de forma tardia que os restantes grupos
estavam há demasiado tempo a exercitar o que lhes tinha sido pedido sem
qualquer correção ou acompanhamento da minha parte. Esta situação foi
considerada, por mim, grave pois os alunos poderiam ter estado, durante muito
tempo, a exercitar de forma errada uma posição ou figura, adquirindo hábitos
incorretos. Por outro lado, cometendo este erro, não conseguia adquirir
informações sobre o desempenho dos alunos, ficando condicionada na minha
apreciação contínua dos mesmos e tornando-se mais difícil a avaliação da sua
evolução e aprendizagem.
“Outro aspeto menos bom relaciona-se com o meu acompanhamento a
todos os grupos. Percebi, passados vários minutos da aula ter começado, que
nunca tinha dado nenhum feedback a um dos grupos, o que me deixou
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
132
atrapalhada, não só pelo sentimento de “abandono” que os alunos em questão
poderiam ter, mas principalmente por não saber o que estiveram a fazer até
àquele momento, quais os erros que eventualmente cometeram, quais as suas
dificuldades e facilidades.”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Durante as primeiras aulas desta Unidade Didática a explicação e
exemplificação das diferentes figuras acrobáticas ficou esquecida, sendo um
facto que até aos dias de hoje não consigo entender como me pode ter
acontecido. Talvez o meu receio de explicar e exemplificar mal fosse tão
grande que parti do princípio e desejei, com todas as minhas forças, que os
meus alunos fossem capazes de reproduzir aquilo que pretendia que
realizassem através da simples observação de umas imagens. Como é óbvio
estava redondamente enganada e desnorteada, pois da falta de explicação e
exemplificação surgiram incontáveis perguntas por parte dos alunos, todas elas
coerentes e lógicas tendo em conta o mau trabalho que realizei. A falta de
entendimento dos discentes ampliou o meu nervosismo e fez com que se
utilizasse mais tempo da aula a instruir do que o inicialmente previsto.
“O facto de não estar à vontade com a modalidade fez com que
cometesse um erro, que na minha opinião, é grave. Permiti que os meus
alunos realizassem as figuras sem uma explicação ou exemplificação prévia.
Esta falha poderia originar situações perigosas para os alunos, devido à má
execução dos montes e desmontes, devido a más posturas ou mesmo a
alguma brincadeira que se poderia proporcionar.”
(Reflexão da aula n.º 12 – Ginástica Acrobática)
Para combater toda a ansiedade e estado deprimente em que me
encontrava, o meu Professor Cooperante disponibilizou-se para ajudar todo o
Núcleo de Estágio na perceção dos aspetos cruciais de cada figura que
teríamos de ensinar, orientando a sua construção e fazendo-nos sentir as
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
133
dificuldades que os alunos provavelmente sentiriam. Esta vivência deixou-me
mais sensibilizada para as dificuldades dos alunos e mais atenta às figuras e
momentos mais exigentes, sentindo que a partir desse momento encarei as
aulas com outra tranquilidade, não a que eu desejaria claro, mas consegui
lecionar as aulas de forma mais calma e sem sentir que não saberia esclarecer
as dúvidas que os meus alunos pudessem ter.
“Exercitei várias figuras, sentindo as dificuldades e facilidades dos
alunos, tendo esta vivência ajudado na minha consciencialização, não só da
forma como as figuras se constroem, mas também da facilidade com que se
podem construir quando todo o grupo trabalha em prol de um determinado
objetivo comum.”
(Reflexão da aula n.º 13 e 14 – Ginástica Acrobática)
Por todos os contratempos existentes no início da Unidade Didática
devido à minha inexperiência, por todas as dificuldades que a turma
apresentou nesta modalidade e por considerar o trabalho desenvolvido
bastante exigente e complexo para os alunos na fase do ano (primeiro período)
em que aconteceu, disponibilizei algum do meu tempo, em conjunto com o meu
Professor Cooperante, para acompanhar os meus alunos em alguns períodos
extra o horário das aulas de Educação Física, de modo a auxiliar a construção
das coreografias dos diferentes grupos e obter melhores resultados no
momento final da Unidade Didática, momento destinado à avaliação sumativa.
Todos os esforços realizados tiveram a sua recompensa. Os resultados
do meu trabalho foram visíveis no momento em que os diferentes grupos da
turma apresentaram os seus esquemas e os comentários por parte dos alunos,
Professor Cooperante e colegas de Núcleo de Estágio surgiram. Pessoalmente
foi gratificante ver o resultado de tantas horas de preocupação e de
investimento, observando grupos onde foi notório um trabalho sério e
concordante com aquele que desenvolvi, sendo estes grupos que me fizeram
perceber que fui capaz, sou capaz e serei capaz quando puder voltar a ensinar
Ginástica na escola. Os restantes grupos, que realizaram um trabalho que não
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
134
se destacou tanto, deram sentido a uma frase que ouvi por diversas vezes que
diz que ninguém ensina nada a quem não quer aprender. Sem dúvida que o
interesse dos alunos é fundamental para o sucesso das suas aprendizagens e
isso ficou claro nesta modalidade pois o apoio que disponibilizei foi o mesmo
para todos os grupos, sendo escolha deles aproveitar ou não.
“Concluída a Unidade Didática de Ginástica Acrobática e no momento da
avaliação sumativa, senti que aquela modalidade que foi um pesadelo ao longo
de várias semanas se tornará um sonho perante os meus olhos. A emoção que
senti ao ver os meus alunos a aplicar, na sua coreografia, várias aprendizagens
realizadas ao longo do primeiro período e algumas das sugestões feitas por
mim para a melhoria do seu desempenho, é simplesmente indiscritível.”
(Reflexão da aula n.º 36 – Ginástica Acrobática)
O ensino do Andebol foi bastante receado por mim pois a experiência
pedagógica que tive ao longo do primeiro ano do Mestrado, no âmbito da
Didática Especifica de Andebol, condicionou muito a forma como encarei esta
modalidade durante o Estágio. Durante as poucas aulas que lecionei na Escola
de Paranhos, no ano letivo 2013/2014, com o meu grupo de trabalho da
didática referida, adotei uma postura apática, pouco dinâmica, interventiva e
ativa, bastante diferente daquela que para mim é a postura que um Professor
deve adotar. Não era capaz de emitir qualquer tipo de feedbacks, pois percebia
que alguma coisa estava a acontecer de forma errada mas não sabia qual a
indicação que deveria dar para corrigir esse erro ou modificar comportamentos.
Tive algumas precauções na forma como encarei esta modalidade e
consciencializei-me que teria de desenvolver um trabalho mais aprofundado,
sustentado e acompanhado para superar as minhas limitações e dificuldades.
Para isso tomei a decisão de consultar e analisar o livro Ensino do Andebol na
Escola, da Professora Luísa Estriga e do Professor Ireneu Moreira, sendo este
documento essencial para o aprofundar dos meus conhecimentos e o alcance
de alguma confiança para o ensino desta modalidade.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
135
“No entanto, sinto-me estranhamente confiante para estas aulas, pois
recorri a alguma bibliografia com o objetivo de me orientar no planeamento da
aula da avaliação diagnóstica e, com isto, percebi alguns conceitos inerentes
ao Andebol que me suscitavam algumas dúvidas e sinto que, através da
consulta do livro “Ensino do Andebol na Escola” da Professora Luísa Estriga e
do Professor Ireneu Moreira, conquistarei as bases para ajudar os meus alunos
a progredir de uma Forma Básica de Jogo para outra.”
(Reflexão da aula n.º 27 – Andebol)
As indicações e ajudas do meu Professor Cooperante também
estimularam o meu crescimento enquanto Professora nesta modalidade.
Através de exemplos práticos que o meu Professor ia dando, através de
atitudes e posturas que adotou em algumas das suas e das minhas aulas,
alertou-me para alterações que deveriam acontecer no meu comportamento.
Os próprios planos de aula, nesta fase do ano, foram por diversas vezes
alterados e melhorados através de sugestões ou simples questões que o meu
Professor Cooperante colocava, guiando-me para o caminho mais benéfico e
diversificado e fazendo-me perceber algumas dificuldades que tinha.
“Através da ajuda incondicional do Professor Cooperante consegui criar
uma imagem da postura que devo ter nas aulas, de como realizar as
intervenções, quais os pontos que devo focar ao longo das aulas.”
(Reflexão da aula n.º 51 e 52 – Andebol)
As observações das aulas dos meus colegas de Núcleo de Estágio
revelaram-se um contributo de grande significado para a melhoria da minha
própria prática pedagógica. Reconheci erros que cometi através da repetição
desses mesmos erros nas aulas dos meus colegas ou mesmo por estes não
errarem e me mostrarem a forma correta de concretizar uma ideia. Retirei
ideias que considerava adequadas, para a minha turma, das aulas dos meus
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
136
colegas e previ comportamentos da minha turma através das atitudes ou
reações de outros alunos.
“Nesta fase da aula a Professora teve uma atitude muito positiva, que
dou relevo por ter sido uma situação de que me esqueci na minha aula
calendarizada: ao verificar que num dos jogos o guarda-redes era sempre o
mesmo, deu indicação a este aluno de que não o queria sempre a
desempenhar esta função, tendo de arranjar quem o substituísse.”
(Reflexão da aula observada à Professora Estagiária Rita n.º 6 –
Andebol)
Ao longo da realização das aulas compreendi que os meus alunos
necessitavam das minhas intervenções e observações constantes, pois de
outra forma o jogo perdia o seu dinamismo e os alunos começavam a rematar
à baliza de forma desgovernada e impensada, deixando de se observar o jogo
em equipa, as penetrações tão comuns no Andebol, e a eficácia dos remates,
uma vez que estes eram realizados com a defesa entre o atacante e abaliza.
Percebi ainda que as indicações que dava tinham de acontecer no momento
em que o erro era por mim observado, parando o jogo e explicando o que não
estava a ser corretamente executado, uma vez que de outra forma os alunos já
não conseguiam corrigir, nem perceber de que estava a falar, não resultando
nenhuma melhoria no desempenho após a minha intervenção.
“(…) no jogo verifiquei, embora exista a necessidade de estar
constantemente a intervir, que há ligeiras melhorias que acompanham as
indicações dadas por mim, quando estas são realizadas nos momentos
oportunos. Consegui perceber isto uma vez que, quando observava algum erro,
esperava que o jogo parasse para intervir, sentindo que os alunos não
percebiam do que estava a falar (…). Optei então por parar o jogo
imediatamente, quando detetava algum erro ou alguma falta de aproveitamento
de uma situação favorável, (…) e reconheci melhorias e mudanças de
comportamentos, pois, para além de atuar no momento certo, servi-me de
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
137
posicionamentos e demonstrações, imagens que os alunos retêm melhor, para
os fazer perceber o objetivo do jogo e quais as situações que devem ser
exploradas (…)”
(Reflexão da aula n.º 51 e 52 – Andebol)
Nesta modalidade percebi que organizo as minhas aulas do modo em
que me sinto mais segura e não da forma mais rentável possível, isto é,
deparei-me com algumas situações em que poderia implementar uma outra
organização para os diferentes exercícios, conseguindo, com isto, que mais
elementos da turma estivessem a exercitar em simultâneo e impingindo mais
dinamismo às minhas aulas. No entanto, desta forma não conseguiria interagir
e corrigir todos os alunos por não me sentir capaz de observar vários alunos ao
mesmo tempo, verificando que não emitia feedbacks ou acabava por observar
sempre os mesmos alunos, no sentido de perceber se estes executavam as
indicações que lhes tinha transmitido.
“ (…) senti algumas dificuldades em corrigir e emitir feedbacks no
exercício do remate em suspensão, devido ao número elevado de alunos em
exercitação ao mesmo tempo. Calculo que esta seja mais uma limitação minha,
uma vez que o Professor deve conseguir manter o maior número de alunos em
exercitação, o máximo tempo possível tendo, por isso, de ser capaz de
observar e selecionar o que deve ou não ser alvo de intervenção. (…) Talvez
por ter noção desta dificuldade organizo e planeio os meus exercícios de forma
que consiga chegar a todos os alunos, desaproveitando situações onde poderia
ter mais alunos em atividade.”
(Reflexão da aula n.º 56 – Andebol)
Sem dúvida que no final da Unidade Didática de Andebol me reconheci
através do interesse e da alegria que senti perante a modalidade, ganhando
um novo ânimo e percebendo que não me posso deixar afetar tanto por uma ou
outra experiência menos positiva, pois posso considerar que tudo o que
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
138
aconteceu de menos bom é responsabilidade minha, esquecendo a infinidade
de fatores que podem contribuir para que uma aula não corra conforme a
planeamos ou como a idealizamos.
Depois destas duas experiências enriquecedoras posso dizer que me
senti melhor do que estava à espera nos momentos em que lecionei estas duas
modalidades. Relativamente à Ginástica, gostei muito do resultado final da
unidade didática, sentindo-me capaz de desenvolver um trabalho com
qualidade mesmo não me sentindo à vontade com a modalidade ou não
gostando da mesma. No entanto, esta experiência ainda não foi suficiente para
aumentar a empatia entre mim e a Ginástica, contrariamente com o que
aconteceu com o Andebol.
“Quanto a mim, percebi que não existem verdades absolutas.
Infelizmente, não mudei a imagem negra que tenho da Ginástica, mas o
Andebol conseguiu vencer-me pelo cansaço e hoje, não começaria a tremer
caso me propusessem a lecionação de uma Unidade Didática desta
modalidade. No início o receio era evidente, contudo, aos poucos e poucos, fui
adquirindo conhecimentos mais alargados, expondo dúvidas aos meus colegas
de Núcleo de Estágio e ao meu Professor Cooperante, fui observando o
comportamento dos meus alunos, retirando ilações e encontrando formas mais
ou menos oportunas para interagir e manter o papel ativo que gosto de ter nas
minhas aulas.”
(Reflexão da aula n.º 71 e 72 – Andebol)
3.10.3.5 As pequenas grandes vitórias (Dança)
Os grandes marcos da nossa vida nem sempre são equacionados,
calculados ou previstos. Por vezes são surpreendentes, arrebatadores e
indiscritíveis. A Unidade Didática de Dança revelou-se o marco deste ano de
Estágio, tornando-se, por isso, muito complexo para mim relatar a magia que
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
139
foi sentida ao longo de todas estas aulas. No entanto, por toda a importância
que associo a esta fase do meu percurso enquanto Professora Estagiária,
considero fundamental relevar e refletir sobre ela, pois de todas as
modalidades ensinadas, de todas as aulas lecionadas, de todas as
experiências vividas, esta foi aquela que mais me fez sentir uma Professora
completa.
Foi um risco optar por esta modalidade, por ser uma modalidade muito
associada ao sexo feminino e com a qual raros elementos do sexo masculino
se identificam, por prescindir do ensino do Badminton em prol do ensino da
Dança e sobretudo pelos desafios que esta Unidade Didática me
proporcionaria, não estando consciente da minha capacidade para os superar,
mas desejando, mesmo assim, enfrentá-los. Esta atitude destemida e arriscada
não é de todo comum em mim, como será percetível no próximo ponto deste
capítulo, e talvez por isso me tenham marcado tanto as descobertas e
aprendizagens conquistadas com esta alteração de postura.
A imprescindível noção de que poderia ter de gerir uma parte da turma
bastante motivada e outra parte da turma desmotivada e desinteressada,
preparou-me e alertou-me para aspetos que, no meu entender, fizeram a
diferença, contribuindo para o sucesso do trabalho por mim desenvolvido.
Estes aspetos estão relacionados, por exemplo, com a necessidade de ser
mais interventiva, dinâmica, enérgica e motivadora do que nas restantes
unidades didáticas, com a necessidade de preparar aulas com as quais os
alunos se identificassem e onde os movimentos e coreografias se adaptassem
tanto ao sexo masculino como ao sexo feminino.
“Devido aos gostos tão demarcados e demonstrados pelos meus alunos
(…), receei a necessidade de saber gerir um grupo de alunos extremamente
motivado e um segundo grupo bastante desmotivado (…). Por este motivo,
apresentei-me nesta primeira aula de Dança bastante motivada, enérgica e
com a clara noção de que teria de arranjar estratégias para controlar e “ganhar”
a maior parte dos elementos do sexo masculino da minha turma. (…) Tenho a
convicção de que esta primeira aula poderia ter condenado toda a Unidade
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
140
Didática, caso os alunos não se envolvessem nem se revissem no trabalho que
estava a ser desenvolvido. Por este motivo, coreografei (…), tendo sempre a
preocupação de realizar movimentos bem marcados que se aplicariam tanto a
raparigas como a rapazes, deixando de lado quaisquer ação complicada ou
passos passíveis de associação ao sexo feminino.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
Mesmo perante aulas planeadas e pensadas tendo em conta todas
estas preocupações relacionadas com os gostos e particularidades dos alunos,
enfrentei algumas situações em que estes se apresentaram desconfortáveis e
desmotivados, percebendo que não é a modalidade que provoca o
desinteresse dos discentes mas sim a falta de atitude nas aulas por parte dos
Professores e a seleção de exercícios desadequados aos interesses e
características dos alunos.
“ (…) não foram só os rapazes a precisar de um incentivo e cheguei à
conclusão que não é pela modalidade que alguns alunos não nutrem um
grande carinho, mas sim por exercícios menos apelativos ou constrangedores
que podem ser exercitados no âmbito das expressões corporais.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
De modo a contrariar estas atitudes e posturas que poderiam
comprometer o normal funcionamentos das minhas aulas e o cumprimento do
planeamento desta Unidade Didática, vi-me obrigada a adotar estratégias para
cativar os alunos e tornar as minhas aulas mais apelativas e interessantes.
“ (…) decidi intervir na aula, exemplificar movimentos e atitudes que
gostaria de ver espelhadas em cada um dos meus alunos, emiti feedbacks
positivos sempre que algum elemento arriscava mais ou explorava um situação
nova, relatando a todos os outros como tinha ficado agradada com aquela
manifestação de envolvimento na tarefa, incentivei o grupo a ocupar toda a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
141
área da aula e a imaginar-se completamente sozinho, livre e longe de qualquer
embaraço, diminui o tempo que tinha definido para cada exercício, uma vez
que percebi o risco eminente de monotonia.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
“Consegui criar várias dinâmicas, vários cenários de exercitação, através
da simples mudança de companheiros ou de posição (guia ou imitador) (…)
decidi promover a experiência de todos os alunos poderem estar na frente de
todo o grupo, deixando de lado as dificuldades de cada um, a vergonha ou
embaraço e dando relevância à responsabilidade de ocupar um lugar de
destaque e de ser um “guia” para todos os outros colegas.”
(Reflexão da aula n.º 76 – Dança)
Com estas estratégias fomentei a familiarização com os conteúdos das
aulas, deslindei toda a vergonha e apatia visível no início da Unidade Didática,
acautelei todos os comportamentos de ironia ou desrespeito e promovi as
relações de entreajuda. Alcancei ainda melhores resultados em exercícios e
atividades que, numa fase inicial da Unidade Didática, não tinham obtido
grande sucesso e não cumpriram o seu grande objetivo e percebi o real valor
de cada um dos meus alunos, o que me permitiu adotar uma postura mais
confiante e segura ao longo de todas as minhas intervenções nas aulas. Por
fim, identifiquei claramente os alunos que necessitavam de mais atenção e
apoio da minha parte nas aulas desta modalidade, sendo esta uma descoberta
importantíssima para a concretização de um ensino de qualidade,
acompanhado e apoiado.
“ (…) se nos primeiros dois exercícios da aula observei uma turma
apática, envergonhada, aluada e com tendências para o gozo, com o decorrer
da aula este cenário quase que se inverteu, verificando um crescente à
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
142
vontade, uma identificação cada vez maior com o que estava a ser feito e uma
desinibição natural após alguns minutos de ambientação e socialização.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
“As minhas expectativas não foram defraudadas, uma vez que me
deparei com uma turma mais dinâmica e envolvida num dos exercícios que na
aula precedente tinha sido apontado, por mim, como um dos pontos menos
positivos da sessão. (…) refleti sobre o facto de a vergonha, timidez e
constrangimento terem condicionado, e muito, a atuação dos diferentes alunos,
tendo nesta aula percebido que a minha reflexão fez todo o sentido e se
verificou na prática. (…) consegui perceber que existem alunos, (…), com muita
capacidade para dançar, capacidade esta que tinha passado despercebida até
então (…) identifiquei os alunos que necessitam de mais atenção e
acompanhamento da minha parte em aulas futuras, por apresentarem
dificuldades a nível da coordenação e da memorização da coreografia.”
(Reflexão da aula n.º 76 – Dança)
Todas estas modificações nas minhas aulas e na postura dos meus
alunos possibilitaram a identificação de inúmeros sinais que me fizeram
acreditar que estaria a ter um bom desempenho na condução do ensino no
âmbito da Dança. Como me motivaram e entusiasmaram estes sinais, deram-
me força e ânimo para investir cada vez mais na preparação destas aulas e
esperar um bom resultado final de todo o empenho e dedicação dos alunos.
“O facto de em nenhum momento ter ouvido qualquer comentário
negativo sobre a aula revela que consegui envolver os meus alunos; o
empenho e satisfação demonstrada sempre que repetíamos, mais uma vez, a
coreografia, com o objetivo de melhorar o desempenho revela a vontade de
trabalhar e apresentar um bom trabalho no final; o interesse e vontade dos
alunos dispensados de fazer aula, devido à apresentação de um atestado, em
estar presentes de forma ativa e participativa nas aulas de Dança, foi para mim
um sinal de que consegui adaptar os conteúdos aos meus alunos, à sua faixa
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
143
etária e aos seus gostos; ter conseguido ensinar todos os passos do minuto e
pouco que coreografei foi surpreendente para mim, pois não estava nada à
espera de conseguir fazer isso num único tempo letivo; e por fim, aquele
momento que para mim significou tanto, o momento em que o Professor
Cooperante, num ato tão inesperado, bate palmas a toda a turma, foi como um
raio de sol num dia de tempestade (para quem gosta de sol, claro!) que renova
energias e revitaliza.”
(Reflexão da aula n.º 73, 74 e 75 – Dança e Futebol)
“Depois de uma semana inteira sem ensinar a modalidade de Dança,
equacionei a hipótese de encontrar uma turma esquecida da coreografia e com
necessidade de repetir todos os passos de forma mais segmentada,
retrocedendo um pouco no processo de ensino e aprendizagem. No entanto,
este cenário não se verificou, tendo uma turma que, com apenas três
repetições da coreografia, conseguiu relembrar pormenores que era normal e
de esperar que estivessem esquecidos, conseguindo avançar e cumprir com o
que tinha planeado.”
(Reflexão da aula n.º 82 – Dança)
Após todas estas importantes conquistas, a autonomia dos alunos
apresentou-se de forma mais explícita, uma vez que a maior parte do trabalho
desenvolvido nesta Unidade Didática foi realizada em cinco grupos constituídos
por cinco ou seis elementos. Cunha cit. por Jesus (1996, p. 17) “considera que
a relação pedagógica deve ser baseada na autonomia” sendo importante que
esta relação “assente em certos princípios, nomeadamente o “diálogo”, a
“negociação criativa”, a “compreensão”, o ”encorajamento”, o “respeito”, as
“expectativas positivas” e a “fascinação”. O grande objetivo desta forma de
organização das aulas foi promover um trabalho de equipa e de cooperação,
fomentar a aceitação dos gostos de cada um, as facilidades e dificuldades dos
colegas e saber lidar com as maneiras de ser de pessoas diferentes de nós.
Cada grupo ficou, a determinado momento da Unidade Didática,
responsável por coreografar um excerto da música que escolhi para a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
144
construção da coreografia final destas aulas. O momento em que este trabalho
começou a ser desenvolvido foi para mim a grande prova da consistência da
minha atuação nesta modalidade, pois era neste momento que os grandes
imprevistos poderiam surgir, que as situações complicadas se despoletariam e
os feitios e características dos diversos alunos se iriam cruzar, podendo dai
resultar choques de personalidades que nem sempre correm bem.
“A fase que se segue requer um trabalho em equipa, uma compreensão
e aceitação por parte de todos os alunos, no sentido de chegarem a acordo
relativamente aos passos escolhidos para a sua parte da coreografia. É nesta
fase que espero encontrar os maiores desafios, pois entre feitios e
personalidades muito distintas, gostos e desgostos pela modalidade,
facilidades e dificuldades em executar os passos, surgirão, certamente,
desacordos, faltas de tolerância e paciência, desânimo, tornando-se
fundamental a minha intervenção no sentido de orientar, acalmar e ajudar os
meus alunos.”
(Reflexão da aula n.º 82 – Dança)
O facto de ter antecipado muitas das situações que ocorreram, e que
poderiam ser problemáticas, ajudaram a tornar as minhas aulas consistentes e
calmas, pois idealizei soluções e formas de atuação que foram imprescindíveis
para contornar algumas situações rapidamente e sem a perceção da restante
turma, não sendo assim propagada a agitação sentida, em determinados
momentos, em alguns grupos. Exemplo disso foram as soluções para o
evidente desinteresse dos alunos, do sexo masculino, aquando do início da
construção das diversas coreografias dos grupos. Estes adotaram uma postura
desconcertante para uma aula de Educação Física, sentando-se ao fundo da
sala, em cima dos colchões, a socializar, não contribuindo em nada para o
trabalho, enquanto as alunas, na sua maioria, se preocuparam de imediato em
arranjar movimentações que poderiam encaixar na sua parte da música. Para
combater estes comportamentos naquele momento e também em aulas futuras
incentivei os diversos alunos a posicionarem-se junto das suas equipas, na
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
145
tentativa de perceberem o que estava a ser construído e criado, mas também
com o objetivo de dar ideias, opiniões, mantendo uma participação ativa em
todas as aulas. Para além disto, deleguei em cada equipa a responsabilidade
de manter todos os colegas envolvidos e participativos, pois no dia da
apresentação individual de cada equipa, todos tiveram de dançar e demonstrar
o seu conhecimento dos passos que foram executados e que por eles tinham
sido criados. A partir deste momento senti que já não existiam apenas dois
grupos dentro da turma, como no início da aula, mas sim os cinco grupos que
eu formei e queria que existissem, observando a criação, o envolvimento e a
dificuldade que alguns alunos têm em imaginar e tornar real o que idealizavam.
Com as melhorias de comportamento e com a consequente entrega ao
trabalho, foi interessante ver uma outra vertente da autonomia inerente a esta
fase do ano letivo.
“Achei interessante verificar que num grupo onde a coreografia já estava
a ganhar formas, os alunos se sentiam descontentes pois apesar de já terem
uma parte com movimentos adequados, não gostavam do resultado final,
contrariando a minha opinião e trabalhando durante toda a aula para melhorar
aquilo que já tinham conseguido fazer. Para mim, esta atitude representa e
demonstra muito como os meus alunos são, pois poderiam trabalhar para o
mínimo e não o fizeram, poderiam contentar-se com a primeira opção mas
procuraram sempre mais e melhor, poderiam não se interessar e interessaram-
se, poderiam ter mudado a sua opinião no momento em que eu vi a coreografia
e gostei do resultado e mesmo assim mantiveram-na bem como o seu plano de
melhoria, poderiam ser desleixados mas demonstraram-se perfeccionistas.”
(Reflexão da aula n.º 82 – Dança)
Por fim, não poderia deixar de refletir sobre os momentos em que os
diferentes grupos da turma se expuseram perante os seus colegas e perante
mim, durante a apresentação e ensino das coreografias elaboradas. Foram
certamente momentos de grande tensão e ansiedade e, por este motivo,
acredito que tenham sido momentos de grandes aprendizagens efetivas. No
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
146
entanto destaco aquele primeiro grupo que realizou esta exposição sem
possuir nenhum exemplo por onde se pudesse guiar, tendo apenas como
referência o trabalho desenvolvido por mim, na transmissão da primeira parte
da coreografia. Embora tivesse algumas preocupações durante a transmissão
da minha parte da coreografia à turma, de modo que os alunos percebessem
de que forma deveriam atuar nas aulas onde liderassem senti, no momento em
que o primeiro grupo estava a atuar, a necessidade de reforçar alguns aspetos
uma vez que não estavam a ser postos em prática, o que dificultava a
aprendizagem dos restantes colegas.
“Estes aspetos estão relacionados com a necessidade de acompanhar
a demonstração dos passos de dança com uma explicação, sobre o que se
pretende que se faça, através de palavras-chave, a necessidade de antecipar
oralmente o passo que se realiza posteriormente como se, desta forma, se
despertasse os alunos, preparando-os para o que se segue e por fim, a
necessidade de organização por parte do grupo líder, identificando os porta-
vozes de cada momento de instrução, evitando o observado no início desta
sessão de trabalho, isto é, todos os elementos do grupo a tentar explicar a
mesma situação coreográfica de formas completamente particulares e
individuais, criando dúvida e confusão nos seus colegas, pois não sabiam
quem deveriam observar e seguir.”
(Reflexão da aula n.º 89 – Dança)
Foi neste momento que percebi que o meu desempenho foi, em grande
parte, distinto daquele que os alunos deveriam ter, pelo simples facto de que
eu agi sozinha e os grupos teriam de se saber organizar para que tudo fosse
percetível. Por este motivo apoiei, de forma mais constante, o trabalho
desenvolvido por este grupo, pois acredito que desta forma conseguiria motivar
os seus elementos e todos os restantes grupos.
“ (…) os primeiros são aqueles que não possuem nenhuma “rede de
salvamento”, isto é, ainda não ouviram feedbacks que foram dados a outros
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
147
grupos, ainda não virão nenhum trabalho desenvolvido pelos colegas, sendo
por isso orientados, de forma mais permanente, pela Professora. Esta
orientação para além de ser um dever de qualquer Professor, foi encarada por
mim como parte integrante das estratégias para cativar os alunos, pois
considero que alunos que não são valorizados e não são conduzidos na sua
aprendizagem culminam num desleixe e desmotivação que não beneficiam o
sucesso e entrega dos jovens em tudo o que fazem.”
(Reflexão da aula n.º 89 – Dança)
3.10.3.6 O drama de correr riscos
“O tempo tem-me proporcionado várias aprendizagens. Mostrou-me que
experimentar coisas novas permite descobrir caminhos mais benéficos e
aliciantes para a aprendizagem dos alunos.”
(Reflexão da aula n.º 65 e 66 – Andebol)
O Mestrado que agora termino foi, no meu entender, a grande rampa de
lançamento para a descoberta dos benefícios e vantagens de explorar o
Mundo. Sempre me considerei bastante rotineira, sendo extremamente
cautelosa nas minhas escolhas, aventureira numa dose bem controlada e
dependente da opinião e apoio de terceiros. Por estes motivos, adivinhava
grandes dificuldades, constrangimentos e dores de cabeça naquele que seria o
meu ano de Estágio, o momento por excelência de emancipação e revelação
pessoal. Talvez por ter esta consciência e por atribuir tal significado a este
momento, tomei uma das decisões mais ambíguas da minha vida, decidindo
realizar o meu ano de Estágio no arquipélago dos Açores, na Ilha de São
Miguel. Esta opção foi muito ponderada por mim e motivo de várias reflexões e
angústias, uma vez que sou ainda extremamente dependente da minha família
e não possuo qualquer vivência que se assemelhe a tal transformação radical
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
148
na minha vida. No entanto, as vantagens que poderiam surgir desta
experiência, para o futuro da minha vida profissional, fizeram-me acreditar que
seria a melhor opção e desejar com todas as minhas forças conquistar esta
oportunidade. Esta conquista não se verificou na realidade, por motivos alheios
à minha vontade e vi, desta forma, a minha primeira grande investida arriscada
terminar sem sucesso.
Já com o novo e alternativo caminho traçado, e integrada no real
ambiente do meu Estágio, enfrentei novos desafios que espicaçaram a minha
capacidade de arriscar e de me libertar daquilo que me dá segurança,
confiança e tranquilidade.
O primeiro contacto com a minha turma comportava, no meu entender,
alguns riscos associados à atitude que adotaria. Por um lado, se me
apresentasse demasiado simpática, sorridente, permissiva e compreensiva
poderia ser vista, como uma Professora incapaz de exercer a autoridade que
lhe está associada, sendo descredibilizada e podendo condenar a conquista
pelo respeito dos discentes em relação a mim e ao meu trabalho. De outro
ponto de vista, privilegiando uma postura demasiado séria, autoritária, severa
ou pouco condescendente correria o risco de ser encarada, pelos meus alunos,
como a Professora de quem não gostam, com quem não se identificam ou de
quem têm um certo receio. Nenhuma destas opções me satisfazia e com
nenhuma delas me identificada, uma vez que posso ostentar um determinado
ar carrancudo mas relaciono-me muito facilmente com as pessoas, sou
demasiado generosa e atenciosa com as pessoas mas não tolero faltas de
respeitos ou que ponham em causa o meu trabalho, por isto, vi-me forçada a
definir claramente como me queria apresentar no primeiro momento de
contacto direto com os meus alunos. Confesso que a minha escolha recaiu em
grande parte para o lado da balança que continha a simpatia e a empatia pois
sempre foi meu objetivo privilegiar o bom ambiente nas minhas aulas e sempre
considerei que ao estabelecer uma boa relação com os alunos, fomentaria a
alegria e a satisfação com que os meus alunos encarariam as aulas de
Educação Física. Contudo, demarquei de imediato a minha posição quanto a
conversas simultâneas às minhas preleções, repreendi risos e brincadeiras
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
149
exagerados e prolongados no tempo, alertei os meus alunos para a
necessidade de estarem atentos a tudo o que é dito e feito por mim, durante o
tempo de aula, através do questionamento sobre as informações que dei ao
longo da apresentação sobre a organização e funcionamento das aulas de
Educação Física. Atento que toda e qualquer postura adotada por um
Professor, num primeiro momento de contacto com uma turma, contempla
alguns riscos, basta pensar que estes estão perante pessoas desconhecidas, e
as estratégias implementadas com determinados alunos podem não funcionar
com outro grupo de crianças e jovens, uma vez que as suas personalidades e
as atitudes são bastante discriminadas e irreverentes.
Segundo Gonçalves cit. por Jesus (1996, p. 16) “muitos professores
pensam que “o bom professor terá de se mostrar perfeito e não cometer erros”
ou que “o bom professor deve ser aprovado por todos os alunos a todo o
momento””, no entanto “esta estratégia pode ser contraproducente se não for
tido em conta o contexto situacional em que ocorre, isto é, os alunos
intervenientes, pois a gestão de impressões e de atribuições estão interligadas”
(Jesus, 1996, p. 16). Entendi o significado do texto citado anteriormente na
interrupção letiva do Natal, ou seja, na transição do primeiro para o segundo
período, quando me consciencializei do quão me estava a prejudicar por
desejar ser perfeita e por querer agradar a todos os meus alunos, em todos os
momentos e intervenções. Inesperadamente, quando deixei de me preocupara
com estes aspetos e fazer deles prioridade na minha intervenção, comecei a
sentir uma maior proximidade com os meus alunos e um maior carinho da parte
deles.
Ao longo do ensino das diferentes modalidades foram vários os
momentos em que a minha atuação poderia ter sido mais arriscada, onde
poderia ter explorado todas as possibilidades das minhas aulas, dos conteúdos
que ensinei e dos espaços que tinha à minha disposição, promovendo um
leque mais alargado de aprendizagens e experiências nos meus alunos. Em
contrapartida, foram também vários os momentos em que soube aproveitar as
oportunidades que, de forma inesperada, iam surgindo, beneficiando assim a
aprendizagem dos meus alunos. Exemplo perfeito da primeira situação descrita
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
150
foi a Unidade Didática de Voleibol, onde fui incapaz de cumprir o que estava
definido no Plano Anual do décimo ano de escolaridade para a referida
modalidade. Este incumprimento relacionou-se com a minha inexperiência,
com o meu receio de falhar perante os meus colegas de Núcleo de Estágio, o
meu Professor Cooperante, mas sobretudo perante os meus alunos. Neste
momento e passado todo o ano letivo, associo ainda esta situação ao facto de
ter sido a primeira modalidade ensinada e este ser um momento em que o
Professor Estagiário se encontra mergulhado num mar de problemas de gestão
e organização das aulas, sendo o domínio sobre os alunos e sobre os vários
aspetos que podem interferir com o previamente planeado o grande foco de
cada sessão. Relativamente aos momentos em que consegui arriscar e obter
resultados com essa investida, reporto-me ao último período do ano letivo,
altura em que incentivei os meus alunos a tornarem-se autónomos e
conscientes das suas responsabilidades, através do trabalho em equipas e de
diversas tarefas fundamentais para o desenvolvimento das aulas e do próprio
processo de ensino-aprendizagem. A aula em que dei a conhecer o Boccia à
minha turma foi também um momento de tensão para mim, pois embora
estivesse certa das valências desta modalidade e contasse com várias
experiências positivas relativas à abordagem deste desporto paraolímpico junto
de jovens, não deixava de ser uma modalidade nova, desconhecida para
muitos dos alunos, distinta de tudo o que a escola apresenta no âmbito da
Educação Física e propicia a uma grande monotonia, caso os alunos não
descubram a beleza e as diferentes estratégias que podem ser utilizadas neste
jogo. Estou certa que evolui com todas as experiências e com todos os
sentimentos positivos e menos positivos que estas me fizeram sentir e creio
que neste momento não limitaria, de forma tão exagerada, as aprendizagens
dos meus alunos pois sinto-me mais segura dos meus conhecimentos e já me
confrontei com inúmeros cenários escolares que sem a passagem pelo Estágio
nunca imaginaria.
A forma como as minhas aulas eram organizadas podia também ser
arriscada para a minha atuação. Através da eleição dos circuitos como forma
de organização das minhas aulas sentia que não conseguia controlar toda a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
151
turma e deixava de ter capacidade de acompanhar a evolução dos meus
alunos, chegando ao final das aulas extremamente desgastada por tentar
apoiar todos os alunos nas suas execuções e com a sensação de que não
tinha conseguido reter informações relevantes que auxiliassem a avaliação que
efetuava dos discentes. Por outro lado, os comportamentos desviantes,
adotados pelos alunos, surgiam recorrentemente perante esta forma de
organização das aulas, verificando-se um fator condicionador da emissão de
feedbacks e correções relativas aos conteúdos de aprendizagem propriamente
dito. Os exercícios por vagas são outro dos meus pontos fracos, precisamente
pelos mesmos motivos que enunciei anteriormente, desejando melhorar a
observação que realizo dos alunos em oportunidades futuras no campo de
ação do ensino.
As demonstrações nos momentos de instrução e a alteração imprevista
e tardia dos planos de aula provocaram, ao longo de todo o ano letivo grande
nervosismo e desconforto em mim. A primeira situação por ser de extrema
exposição perante os alunos e por estar consciente de que as demonstrações
devem ser executadas de forma correta para permitir a imagem visual de
determinado gesto ou ação que leva ao sucesso dos alunos, sendo que a falha
de uma demonstração descredibiliza, de certa forma, o Professor. A segunda
situação desnorteava-me um pouco, sentindo que não conseguia improvisar de
forma que as aulas tivessem o melhor resultado possível, sendo frustrante em
alguns momentos a inexistência de resultados nestas sessões.
“Considero que tenho grandes dificuldades em reagir a mudanças e em
manter os níveis de motivação e confiança elevados quando sou confrontada
com adversidades e, tendo noção disso, trabalharei para alterar esta postura,
pois mesmo sentindo-me desconfortável e inquieta com algumas adaptações,
acredito que aconteçam para me enriquecer, espicaçar e ajudar a encontrar o
caminho para evoluir (…) ”
(Reflexão da aula n.º 56 – Andebol)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
152
3.10.4 Avaliação
“A avaliação é uma função desempenhada pelo professor com o objetivo de
recolher a informação necessária para tomar decisões corretas”
(Arends, 2008, p. 228)
“As práticas avaliativas dependem de um complexo jogo de fatores
interdependentes que passam pelas representações que os professores tem da
Escola, da Educação, da Avaliação, da Relação Educativa, etc. A conceção de
Homem, a conceção do que é uma boa educação e, em particular, uma boa
educação física, determina, em última medida, a avaliação” (Rosado et al.,
2002, p. 12). Este processo refere-se a um largo leque de informação recolhida
e sistematizada pelos professores acerca dos seus alunos e das suas salas de
aulas” (Arends, 2008, p. 229), tendo “como princípios (…): a promoção da
igualdade de oportunidades, a promoção do sucesso, a continuidade, a
positividade, a correção, a compreensão e, ainda, a promoção da participação
de todos os envolvidos na definição dos percursos escolares” (Lemos,
Campos, Conceição e Alaiz cit. por Rosado et al., 2002, p. 11). Deve ser
entendida “como um meio de promoção e desenvolvimento pessoal e não
como um meio de seleção ou de exclusão social” (Lei de bases do sistema
educativo cit. por Rosado et al., 2002, p. 12).
O primeiro momento em que fui confrontada com a necessidade de
avaliar os meus alunos, ou melhor, de os classificar, sendo este o “processo de
fazer julgamentos, atribuir valor e decidir sobre esse valor” (Arends, 2008, p.
229), foi bastante complexo para mim. Receei ter uma perceção errada sobre
as competências dos meus alunos, não desejava apresentar classificações
desfasadas daquilo que seriam as propostas classificativas do meu Professor
Cooperante, não queria ser injusta com nenhum dos discentes, pretendia dar
valor a vários aspetos, como por exemplo, a aptidão física, o esforço e
empenho dos meus alunos, concordando com Arends (2008, p. 227) quando
afirma que “um aspeto crítico para os professores em início de carreira é a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
153
construção de um reportório de estratégias eficazes para a realização das
funções executivas de avaliação do aluno”, pois verifiquei que tendo vários
critérios a minha tarefa ficava muito mais difícil surgindo uma outra
preocupação: se errar ao atribuir notas posso ter de lidar com consequências
negativas a partir dai, pois os alunos quando se sentem injustiçados podem
desmotivar e ver a sua autoestima reduzida por não conseguirem atingir os
seus objetivos.
No final do segundo período, quando achava que seria mais natural
classificar os meus alunos, deparei-me com a consciencialização de que as
relações criadas ao longo dos meses dificultam um pouco a clareza do
Professor.
“Foram os meses em que percebi como é muito difícil ser um bom
Professor, um Professor justo e correto, pois as relações humanas que se
constroem, tendem a influenciar a imparcialidade e a objetividade que deve
estar sempre presente.”
(Reflexão da aula n.º 71 e 72 – Andebol)
É natural o ser humano desenvolver empatia por determinadas pessoas,
relacionar-se mais facilmente com elas, identificar-se mais e por isso perceber
melhor as suas motivações, dificuldades e interesses. Sendo eu humana,
vivenciei a angústia de me sentir mais próxima, interessada e parecida com
certos alunos meus, tendo de fazer um esforço para não me deixar influenciar
por estes gostos e preferências pessoais. Embora não tenha sido tarefa fácil,
considero que sempre consegui cumprir esta função com profissionalismo e
realismo, uma vez que as minhas avaliações iam de encontro, na maior parte
das vezes, às perceções do meu Professor Cooperante e nunca fui confrontada
com nenhuma situação de desagrado por parte dos meus alunos, que não
pudesse ser contornada com uma explicação e uma chamada de atenção para
os motivos que me fizeram atribuir determinada classificação.
Segundo Matos (2014a), o estudante estagiário deve utilizar diferentes
modalidades de avaliação, identificar as principais características das suas
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
154
turmas, considerar as necessidades educativas específicas dos alunos e refletir
sobre a sua prática. Neste sentido, ao longo do meu estágio utilizei três formas
de avaliação: diagnóstica, formativa e sumativa.
A avaliação diagnóstica (Anexo VII) é fundamental para perceber as
competências iniciais dos alunos numa determinada modalidade, onde o
professor pretende desenvolver o processo de ensino-aprendizagem, as
dificuldades que esclarecerão ao Professor quais os aspetos que merecem
mais a sua atenção, instrução e correção (Rosado et al., 2002). Além do
referido anteriormente e de acordo com os mesmos autores, esta forma de
avaliação inicial permite a organização da Unidade Didática, sendo percetível a
necessidade da constituição de grupos de nível de desempenho, de forma a
adaptar o processo de ensino às características dos alunos. Esta avaliação foi
sempre realizada na primeira aula de cada Unidade Didática, com a exceção
da modalidade de Atletismo por só ter disponíveis oito tempos letivos para
ensinar o Salto em Altura e a Corrida de Velocidade, considerando que deveria
aproveitar todo o tempo para o ensino de aspetos fundamentais destas
disciplinas e para a experimentação prática das mesmas.
A avaliação formativa visa “regular o processo de ensino-aprendizagem
detetando e identificando metodologias de ensino mal adaptadas ou
dificuldades de aprendizagem nos alunos” (Rosado et al., 2002, p. 27). Esta
forma de avaliação é fundamental para não comprometer, por um lado, o
processo de ensino e por outro a avaliação do desempenho e evolução dos
alunos. Na minha perspetiva pessoal, é conveniente avaliar sistematicamente
os alunos, acompanhar os seus avanços e recuos ao longo de toda a Unidade
Didática e não apenas definir um ponto de referência inicial e compará-lo com
um final, pois, desta forma, são inúmeras as informações e processos que
passam despercebidos ao professor, correndo o risco de avaliar os seus alunos
erradamente e de um modo desfasado da realidade, não dando relevância ao
empenho e dedicação que pautaram a atuação dos discentes ao longo de todo
o processo de ensino-aprendizagem. Destaco uma parte de uma das minhas
reflexões, por nela estar espelhada a perceção que tive, a determinado
momento do ano letivo, sobre a importância da avaliação formativa:
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
155
“Numa aula dedicada ao início da Avaliação Sumativa da Unidade
Didática de Andebol, esperava que os alunos se empenhassem,
demonstrassem todas as suas competências e habilidades e realizassem todos
os exercícios propostos de forma dinâmica. Esta situação não se verificou
tendo, com isto, percebido a importância de construir um perfil dos diferentes
alunos, ao longo das aulas, através de notas do seu desempenho, chegando
ao momento avaliativo já com uma ideia definida do valor de cada aluno, pois
considero que a avaliação formativa é muito mais justa e coerente do que a
avaliação sumativa, uma vez que nem todos os dias são bons e esta última
forma de avaliação pode coincidir com um desses dias menos bons para
alguns alunos, comprometendo a sua classificação.”
(Reflexão da aula n.º 70 – Andebol)
De acordo com Arends (2008, p. 229) “as avaliações sumativas
traduzem-se em esforços para utilizar a informação sobre os alunos ou
programas após um conjunto de atividades de instrução ter ocorrido. O objetivo
deste tipo de avaliação é o de sumariar o desempenho de um determinado
aluno, grupo de alunos ou professor, num conjunto de metas ou objetivos de
aprendizagem. (…) a informação obtida através das avaliações sumativas é a
que os professores utilizam para determinar as classificações e as informações
enviadas aos alunos e seus pais”. Esta forma de avaliação, em paridade com a
avaliação formativa, é essencial para quantificar e perceber o grau de eficácia
do processo de ensino-aprendizagem e a evolução de uma turma durante e
após a exercitação de uma determinada modalidade. Em algumas aulas
destinadas à concretização da avaliação sumativa (Anexo VIII) deparei-me com
a ausência de alunos. Se numa primeira fase do ano letivo este era um
problema para mim, por não estar ainda consciente dos benefícios da
avaliação formativa, no segundo e terceiro período esta situação já não tinha
qualquer repercussão na veracidade e coerência do processo avaliativo, pois
ia-me munindo de informações, sobre todos os meus alunos, ao longo de todas
as Unidades Didáticas, estando já ciente do valor de cada um dos elementos
da minha turma no dia da avaliação mais formal, sendo este encarado como
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
156
um momento onde poderia retirar algumas dúvidas que pudessem,
eventualmente, existir. Sempre fiz questão de elucidar os meus alunos sobre
este fator, pois para mim o mais importante são as aprendizagens que os
alunos fazem e o prazer que retiram de todo o processo, que tem esta
consequência, considerando que o nervosismo que pode advir da
responsabilidade inerente ao conhecimento de que vão ser alvo de avaliação,
só serviria para prejudicar a sua atuação e influenciar negativamente a minha
perceção sobre as suas capacidades.
“É particularmente importante ser-se isento quanto se avalia e classifica o
trabalho do aluno.”
(Arends, 2008, p. 231)
3.10.5 O abismo entre o segundo ciclo (5º ano) e o ensino
secundário (10º ano)
Em nenhum momento do ano letivo a ideia de que o ensino deve ser
adaptado aos nossos alunos fez tanto sentido, como naquele momento em que
fui Professora de vinte e oito meninos e meninas do quinto ano de
escolaridade. Percebi que “à medida que descemos no nível de ensino, o
processo de ensino-aprendizagem é cada vez menos centrado na informação e
mais no relacionamento interpessoal”(Jesus, 1996, p. 9). Esta experiência foi
extremamente marcante para mim pois depois de algumas semanas a liderar
uma turma do décimo ano, considerava que estaria preparada para enfrentar
qualquer turma, independentemente do ano de escolaridade. Ingenuidade
minha pensar que as diferentes faixas etárias se comportam da mesma forma e
demonstram interesses semelhantes. Foi mais um choque deste maravilhoso
ano.
A abordagem a estes pequenos “pestinhas” foi realizada de forma
progressiva e com o devido acompanhamento do Professor Cooperante. Sendo
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
157
uma turma partilhada e devido à dimensão da mesma, o ensino das diferentes
modalidades nunca foi efetuado de forma individual por nenhum dos
Professores, com a exceção da última metade do terceiro período, momento
em que o Professor Cooperante comandou todas as aulas, na tentativa de
“libertar” um pouco os Professores Estagiários para outras tarefas de maior
relevo nesta fase do ano.
Pessoalmente fiquei responsável pela lecionação das aulas da segunda
metade do primeiro período, juntamente com o meu colega de núcleo de
estágio Bruno Pinto e pelas aulas da segunda metade do segundo período
concomitantemente com o Diogo Rios. Para além de todos os aspetos que tive
de saber gerir aquando do contacto mais direto com este quinto ano de
escolaridade, senti também que enfrentei um processo de adaptação perante
os meus colegas, uma vez que estes possuem uma forma distinta de trabalhar
que abarca modos de planeamento díspares dos meus, ritmos de trabalho
dissemelhantes do meu ritmo, exigências bastante diversificadas. Reconheço
que, por vezes, tive dificuldades em aceitar estas diferenças e em saber lidar
com elas, sentindo que estas mesmas dificuldades me ajudaram a crescer não
só enquanto Professora mas também, e principalmente, enquanto pessoa,
conforme já salientei num capítulo inicial deste relatório.
Foi efetivamente no decorrer da primeira aula lecionada ao quinto ano
que me consciencializei do abismo existente entre a minha turma permanente e
a aquele que era a minha turma partilhada. Situar-me naquela aula era como
entrar num casulo de abelhas, cada aluno definia a sua trajetória, cruzando-se
sistematicamente com os seus colegas de turma, realizar uma instrução, sem
que ocorresse qualquer interrupção, por algum motivo despropositado
verificou-se impossível, observar toda a turma atenta e quieta nos momentos
em que os Professores interagiam com ela poucas vezes aconteceu, aulas em
que todos os alunos realizavam todos os exercícios propostos sem requerem a
nossa atenção pedindo carinhos ou afirmando estar cansados era uma
miragem, sair da aula relaxado, com voz e com os níveis de adrenalina
normalizados foi sempre impossível. Sem dúvida que existem grandes
diferenças entre ciclos e anos de escolaridade, sendo cada um deles, exigente
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
158
para o(s) Professor(es) de um modo particular e em aspetos específicos e
diferenciados.
Quanto a esta experiência, considero que foi extremamente gratificante
e relevante para a minha formação e para o meu entendimento do que é ser
Professor e das valências que a escola comporta. Contudo, observar as aulas
de outros Professores, lecionar as aulas com todos os colegas de núcleo de
Estágio e com o Professor Cooperante, não estimulou todos os sentidos em
mim e não me confrontou com todas as dificuldades, não exigiu de mim toda a
atenção e interesse por pormenores, fazendo-me questionar se as minhas
aprendizagens não teriam sido ainda mais significativas caso tivesse liderado
esta turma sozinha, assim como aconteceu durante todo o ano com a minha
turma permanente. Por outro lado, concordo com esta forma de organização,
definida pelo meu Professor Cooperante, pois era visível o desgaste sentido
por mim e pelos meus colegas quando dávamos aulas às duas turmas. Penso
ainda que a constante divisão de atenção entre duas turmas poderia refletir-se
na profundidade das aprendizagens, isto é, quando a nossa atenção se
encontra focada numa só coisa a retenção de informação é maior e
conseguimos atribuir maior significado e estabelecer um número mais elevado
de relações entre aquilo que apreendemos e as nossas conceções ou os
conhecimentos que já possuímos, sendo a aprendizagem mais eficaz e
duradoura do que no caso de focar a nossa atenção em mais do que um
aspeto ou situação.
A componente emocional também me marcou bastante ao longo desta
experiência, sendo indiscritível a proximidade que se estabelece entre
Professor e aluno, o carinho e preocupação que se nutre por aqueles meninos
tão pequenos e sedentos de proteção e atenção. Sinto e sentirei falta dos
beijinhos e abraços no início de cada aula e durante os intervalos nos
corredores da escola, das perguntas sobre as modalidades e dos pedidos
constantes para que visse se os exercícios estavam a ser bem-feitos, dos
miminhos dados de forma inesperada, do sentimento de que estaria a contribuir
para o crescimento e formação daqueles meninos, dos conflitos e revelias tão
próprios destas idades, da inocência de ser criança.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
159
3.11 Área 2 – Participação e relação com a comunidade escolar
Ao longo deste ano de Estágio a ideia de que a ação do Professor não
se limita à lecionação das suas aulas ganhou significado. Podemos considerar
que hoje, os papéis e as funções dos professores são amplos, complexos e
multifacetados, resultado da própria complexidade do sistema social, educativo
e escolar, pois não se limitam apenas aos conhecimentos específicos de uma
determinada área do saber, nem ao conjunto de técnicas e de estratégias
pedagógicas mais adequadas à transmissão desses conhecimentos (Cunha,
2008) . O Professor deve promover o desenvolvimento pessoal dos seus
alunos, facultando-lhes oportunidades de desenvolvimento de pensamento
crítico, criativo, reflexivo e autónomo, tendo sempre em conta o envolvimento
social e profissional (Cunha, 2008). Por este motivo existe a necessidade de
formar profissionais críticos e reflexivos através de processos de
desenvolvimento flexíveis, articulados, integradores e não processos
reducionistas, centrados no treino de habilidades ou na aquisição de
competências a serem reproduzidas nos locais da prática (Batista et al., 2012).
Desta forma, segundo Matos (2014a) durante o Estágio Profissional o
estudante estagiário deve desenvolver atividades não letivas, na tentativa de se
integrar na comunidade escolar, conhecer o meio regional e local e as
condições locais da relação educativa e explorar a ligação entre a escola e o
meio. A mesma autora considera que tudo isto contribui para a promoção do
sucesso educativo, através de uma intervenção contextualizada, cooperativa,
responsável e inovadora. Para além disso, através destas tarefas extra aulas “o
estudante estagiário conhece os contornos da profissão, tornando-se, pouco a
pouco, um membro dessa comunidade educativa, denominada (…) de
comunidade prática” (Lave e Wenger cit. por Batista et al., 2012, p. 99).
No sentido do citado anteriormente, pautei a minha ação enquanto
Professora Estagiária pela participação em diversas atividades organizadas
pelo grupo de Educação Física, pelo núcleo de estágio e pela comunidade
educativa da ESRT. O acompanhamento e participação nas tarefas inerentes
ao Desporto Escolar e à função de Diretor de Turma, também se revelaram
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
160
formas bastante enriquecedoras de estabelecer contacto com outros alunos,
outros professores e outros contextos que compõem a escola, tendo
repercussões no meu conhecimento pessoal.
3.11.3 Atividades organizadas pelo grupo de Educação
Física
Conforme já tive oportunidade de clarificar num ponto inicial deste
relatório, o meu relacionamento com o Grupo de Educação Física não
correspondeu às minhas expectativas, tendo acontecido o mesmo com as
atividades em que me vi envolvida através da organização desta comunidade
da escola. No meu entender, as atividades organizadas por este grupo
disciplinar com o objetivo de promover o gosto pelo desporto, dar a conhecer
as modalidades desportivas e envolver os alunos em atividades motoras, foram
bastante reduzidas e desfasadas daquilo que foi o inicialmente previsto e
aprovado em reunião de Departamento de Expressões e Grupo de Educação
Física. Esta minha consideração não se sustenta na pouca experiência que
tenho, enquanto Professora, mas nas vastas vivências conseguidas durante os
diversos anos em que fui aluna, em várias escolas.
Foram várias as atividades que não se realizaram como foi o caso do
Torneio de Voleibol – Duplas Românticas, calendarizado para o dia catorze de
fevereiro, Dia dos Namorados, deixando os alunos um pouco defraudados e no
meu caso particular, numa situação um pouco desagradável. A atividade foi
promovida, foi dada a conhecer aos alunos e, como é normal, estes ficaram
entusiasmados e frequentemente perguntavam quando se realizaria o tão
aguardado torneio, não obtendo nenhuma resposta à sua questão, pelo facto
de também eu, não saber nada sobre estas atividades.
Por outro lado, as atividades que se concretizaram efetivamente e onde
participei revelaram aquilo que, na minha opinião, é uma organização um
pouco desorganizada. Atrasos substanciais no início das provas ou jogos,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
161
conhecimento tardio dos Professores Estagiários sobre as tarefas que
desempenhariam nestas mesmas atividades ou torneios, são algumas das
situações que na minha opinião não correram da melhor forma. No Corta-Mato
Escolar fiquei responsável, juntamente com um outro Professor de Educação
Física, pelo controlo da concretização das voltas definidas para cada escalão e
do percurso pré-definido. Embora tenha gostado de desempenhar esta função,
julgo que não acrescentou nenhum conhecimento, nem valorizou a minha
prática pedagógica, pois era uma atividade que não requeria qualquer saber
específico e facilmente outra pessoa faria. No entanto, a organização desta
atividade sempre despertou grande interesse em mim, por considerar que é um
momento em que grande parte da comunidade escolar se envolve e por
sempre ter sido um dia de que gostei enquanto aluna, aguardando ansiosa e
nervosamente por aquele momento em que corria e me sentia livre, desejando
conhecer tudo o que está por trás daquela simples corrida que concretizava
alegremente. Não tive a oportunidade de participar de forma ativa na
organização e planeamento do Corta-Mato Escolar, considerando que este sim
seria um ponto importante da minha formação, onde certamente me
confrontaria com dificuldades e problemas novos e jamais vivenciados. Os
Torneios de Basquetebol 3x3, por sua vez, já me satisfizeram mais,
relativamente à minha participação no bom funcionamento dos mesmos. Num
primeiro momento realizou-se o Torneiro de Basquetebol 3x3 Intraescola, onde
fiquei responsável pela arbitragem de todos os jogos de um campo que me foi
previamente atribuído. Esta experiência foi engraçada uma vez que a maioria
dos jogos que arbitrei foi de equipas formadas por alunos de quinto e sexto ano
de escolaridade, sendo estes de estatura baixa para a modalidade e tendo
sérias dificuldades em lançar ao cesto. Por outro lado, ser confrontada com
críticas e reclamações relativas a uma função que raramente assumo de forma
tão formal, fez-me refletir sobre a minha ação e sobre as minhas decisões,
considerando que consegui adquirir aprendizagens de que nunca me vou
esquecer por estar disposta a ouvir os alunos e os Professores com a intenção
de melhorar a minha atuação. Algumas semanas depois deste primeiro
Torneio, concretizou-se o segundo momento relativo ao Torneio de
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
162
Basquetebol 3x3 Interescolar. Desta vez fiquei responsável pelo preenchimento
das fichas de jogo, onde deveria anotar todas as substituições, os pontos
marcados, situações de indisciplina que merecessem uma sanção através de
uma falta e onde organizava a ordem pela qual as equipas entravam em
campo, de modo a que o processo de transição entre jogos fosse rápido e
fluído. Esta manhã desportiva, alertou-me para a complexidade inerente à
tarefa que desempenhei. Nunca tinha tido a perceção tão clara da imensidão
de coisas que acontecem simultaneamente ou de forma celeremente
sequenciada num jogo de Basquetebol e que têm de ser registadas, muito
menos tinha consciência do turbilhão de acontecimentos, perguntas ou
interações que se realizam à volta dos oficiais de mesa, e que dificultam
bastante o trabalho dos mesmos. Pela alteração ocorrida nas minhas
perceções e conceções, pela mudança que se verificou na minha mentalidade
e principalmente pelo conhecimento que adquiri de uma outra vertente do
Desporto, alargando assim a minha cultura desportiva. Reconheço que a
participação nesta atividade, organizada pelo Grupo de Educação Física, foi
uma mais-valia no âmbito formativo que é o Estágio Profissional.
3.11.4 Atividades organizadas pelo Núcleo de Estágio
Também o Núcleo de Estágio ficou responsável pela organização de
duas atividades, uma num âmbito mais global, destinada a toda a comunidade
escolar, designada por Dia Fitness e outra em que apenas os alunos dos
Professores Estagiários eram abrangidos, à qual eu e os meus colegas de
Núcleo de Estágio demos o nome de Dia Radical no Parque do Avioso.
O Dia Fitness foi concretizado no dia dezanove de março, ou seja no
segundo período do ano letivo, e contou com as seguintes modalidade:
BodyCombat, CrossFit, Zumba, Bootcamp e BodyBalance . Como nem todos
os Professores Estagiários possuíam formação para lecionar estas
modalidades e de modo a que todos tivessem a mesma intervenção nesta
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
163
atividade decidimos que contactaríamos com Professores amigos de modo a
que estes se disponibilizassem para liderar as diferentes aulas que tínhamos
proposto. É certo que os imprevistos acontecem e o dia em que a atividade se
realizou não foi exceção. Contrariamente ao que tínhamos desejado e
planeado surgiu a necessidade de um Professor, membro do Núcleo de
Estágio de Educação Física, liderar uma das aulas da atividade. No meu
entender, esta resolução de última hora, já prevista por nós, funcionou muito
bem e possibilitou a identificação dos alunos com o Professor por já o
conhecerem do ambiente escolar. A fase de conceção e planeamento da
atividade exigiu uma análise exaustiva do material e dos espaços físicos
disponíveis, para que percebêssemos se correspondiam às nossas
expectativas e forneciam as condições que desejávamos para a realização da
atividade. De modo a garantir que a atividade tinha adesão e participantes,
decidimos falar com os Professores de Educação Física que estariam a
lecionar nas horas da nossa atividade, no sentido de vermos os seus alunos
dispensados das aulas de Educação Física e integrados de forma obrigatória
no Dia Fitness. Esta aposta foi ganha por nós e contamos com a adesão de
todos os Professores e alunos às nossas aulas. Por este motivo, o número de
participantes superou as nossas expectativas, uma vez que mesmo os alunos
que não tinham aula de Educação Física naquele intervalo de horas
participaram e demonstraram a satisfação com que se exercitavam.
O Dia Radical no Parque do Avioso foi então uma atividade dirigida
apenas aos meus alunos e aos alunos dos meus colegas de núcleo. Por este
motivo acabou por se transformar num momento intimista de convívio e de
rescaldo de todo o ano letivo, visto que se realizou no dia nove de junho, reta
final do terceiro período. Neste dia os alunos puderam praticar Orientação,
Jogos Tradicionais e Voleibol, contactando com atividades que nunca tinham
experimentado. Todas as tarefas de organização e condução das atividades
foram distribuídas pelos Professores Estagiários, estando cada um responsável
por uma vertente do dia. Considero que foi possível aliar a prática de exercício
físico ao bom convívio entre Professores e alunos, uma vez que são muitos os
momentos que tanto eu como os meus colegas guardamos deste dia. Talvez
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
164
por termos dedicado muito do nosso tempo ao planeamento e organização
desta atividade, à construção dos mapas de orientação e dos materiais
necessários para as demais atividades, sentíamos necessidade de que este dia
corresse bem e, sobretudo, correspondesse às nossas expectativas, sendo o
nosso principal intuito proporcionar um dia inesquecível aos nossos alunos.
Esta atividade permitiu também que eu, enquanto Professora, percebesse mais
uma vertente da escola e da minha função, pois continuei a ser “a Professora”
mesmo fora da escola, continuei a ensinar ainda que num ambiente mais
descontraído e pude vivenciar um dos aspetos característicos e desejados dos
anos escolares, as visitas de estudo.
3.11.5 Desporto escolar
“O sentido de desporto é variado e multidimensional, nele poderemos
encontrar os valores da corporalidade, da condição física, da saúde, do “ter” e
do “ser”, do rendimento, do esforço de procura, do empenhamento, da
persistência, da ação e da realização, do enfrentar dificuldades, barreiras e
resistências da tensão, do dramatismo e da aventura”(Pinto, 1972, p. 34). De
certa forma o Desporto comporta valores, conceitos, ideias de conceção do
Homem e da sociedade, enriquecendo quem o pratica, por isso, o Desporto na
escola deve ser acessível a todos aqueles que o queiram fazer e não apenas
àqueles que, em determinado momento, têm melhor rendimento desportivo
(Pinto, 1972). É desta necessidade de possibilitar a prática desportiva a todos
os alunos de uma escola que surge o Desporto Escolar, entendido por Sousa e
Magalhães (2006, p. 12) como “o conjunto de práticas lúdico-desportivas e de
formação com o objeto desportivo, desenvolvidas como complemento curricular
e ocupação dos tempos livres, num regime de liberdade de participação e de
escolha, integradas no plano de atividade da escola e coordenadas no âmbito
do sistema educativo (artigo 5.º - “Definição”, Secção II – “Desporto Escolar”,
do Decreto-Lei n.º 95/91, de 26 de Fevereiro) ”. Esta componente da escola
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
165
“contribui para o desenvolvimento global do indivíduo em todos os aspetos – no
plano físico, social, intelectual, moral, cultural, etc. - pelo que deve estar
integrado no sistema educativo” (Pinto, 1972, p. 12). O seu objetivo é
“contribuir para que a escola se transforme num meio com vida social
significativa” (Carvalho, 1987, p. 32).
Pessoalmente considero que o mundo do Desporto Escolar se
caracteriza por uma diversidade inimaginável. Não são apenas os bons atletas
que praticam, não são apenas as vitórias que alimentam esta forma de fazer
Desporto, embora envolva responsabilidade, não se gere por um regime rígido
e autocrático. Tive a sorte de estagiar numa escola onde o desporto escolar
não era alvo de desconfiança à semelhança do que acontece com a Educação
Física, nem era rejeitado por ser considerado como uma atividade “viciada”
pelo mundo exterior e “corrupta” em relação ao normal desenvolvimento da sua
ação (Carvalho, 1987), sentindo sempre que esta vertente do mundo
desportivo escolar era encarada como algo benéfico não só para projetar o
nome da escola fora das suas portas, mas também para o rendimento e
formação dos alunos.
Iniciei o meu Estágio Profissional com a escolha da modalidade de
Dança como o núcleo de Desporto Escolar que gostaria de acompanhar, no
entanto, esta minha opção não foi tão feliz como gostaria. A Dança
Contemporânea nunca me fascinou e tenho sérias dificuldades em perceber a
sua beleza e este era o estilo que predominava nas sessões de treino.
Desmotivada e um pouco desiludida com esta constatação decidi falar com o
meu Professor Cooperante e com a Professora responsável pelo Desporto
Escolar de Dança no sentido de perceber qual a possibilidade de mudar de
modalidade, melhorando assim o meu rendimento e participação na mesma.
Esta situação foi prontamente aceite pelos dois, tendo de imediato
equacionado uma alternativa que me possibilitasse continuar a ter vivências no
âmbito do Desporto Escolar. O Badminton revelou-se então a modalidade
indicada para mim. Foram vários os fatores que me fizeram acreditar que esta
seria a melhor decisão, sendo o bom relacionamento que mantinha com a
Professora responsável pelo mesmo um fator de peso, em paridade com a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
166
presença de muitos dos meus alunos da turma partilhada de quinto ano de
escolaridade. Também o planeamento anual me fez desejar ter um contacto
antecipado e num contexto onde não seria inteiramente ou maioritariamente
responsável pela condução dos treinos, tendo assim margem para aprender e
melhorar alguns aspetos da modalidade, uma vez que existia a possibilidade
da lecionação da mesma, no terceiro período, à minha turma de décimo ano.
Sem dúvida alguma afirmo que fui muito feliz, mas também consegui
melhorar as minhas competências profissionais, com todos os intervenientes
dos treinos de Desporto Escolar de Badminton, desde a Professora
responsável pelo núcleo, aos alunos/atletas, aos operacionais de ação
educativa que acompanhavam cada uma das sessões de trabalho, no sentido
em que conheci técnicas de treino que desconhecia, como melhorar a
capacidade condicional de força jogando com a capa/proteção da raquete,
melhorei a minha capacidade de comunicação com os discentes, uma vez que
a frequência de feedbacks e de diálogos aumentou substancialmente ao longo
do ano. Senti-me integrada e recebida de braços abertos, útil e com um papel
preponderante o que, confesso, não aconteceu de forma tão demarcada na
minha primeira experiência neste âmbito.
Os treinos desta modalidade aconteciam no G4, espaço desportivo com
capacidade para a concretização de três jogos em simultâneo, sendo que dois
dos campos eram utilizados pelos alunos mais velhos e o restante era
destinado aos alunos mais novos e mais recentes no grupo do Desporto
Escolar. Ao longo dos meses em que integrei esta equipa, fiquei mais
responsável pelos treinos deste último campo e respetivos alunos, não só por
serem atletas que estavam a começar a sua vida desportiva nesta modalidade
e, por isso, necessitarem de ajuda constante, aspeto que me ajudou a
ambientar com a modalidade e a ganhar confiança no ensino dos conteúdos,
mas sobretudo por serem já meus alunos da turma partilhada, na sua maioria,
e ser este considerado, tanto por mim como pela Professora responsável, um
fator que poderia funcionar a meu favor tanto na motivação e empenho dos
alunos nos treinos de Badminton, como nas próprias aulas de Educação Física,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
167
uma vez que a relação criada com estes alunos era muito boa e com um nível
de proximidade elevada.
Todos os momentos passados neste contexto foram muito importantes
para a manutenção da minha tranquilidade e confiança ao longo deste ano de
Estágio, uma vez que consegui encontrar na Professora que me acolheu, uma
amiga e uma pessoa extremamente disponível para me ouvir, para conversar
comigo e me aconselhar, identificando-a como um dos grandes apoios desta
etapa da minha formação.
Embora todas as conquistas e vitórias dos meus atletas tenham sido
significativas e marcantes para mim, destaco o momento em que um dos meus
atletas e aluno ficou apurado para a competição distrital de Desporto Escolar
da modalidade de Badminton, como o momento alto desta minha passagem
por aquela atividade. Foi indescritivelmente gratificante observar a alegria e o
entusiasmo com que o aluno falava dessa competição, foi reconfortante
receber todos os seus pedidos para que jogasse com ele no sentido de o
“preparar melhor”, conforme afirmava, senti-me orgulhosa por ter ajudado na
obtenção desse resultado e isso ter provocado tal felicidade naquele menino
por quem nutria um grande carinho. Tudo isto não seria possível sem um
trabalho em equipa, onde a cooperação e entreajuda estiveram permanente
presentes e sem uma confiança mútua entre Professores/Treinadoras e
alunos/atletas.
“O talento vence jogos, mas só o trabalho em equipa ganha campeonatos.”
Michael Jordan ("Força, fé e foco. Michael Jordan, uma lição de gestão de
marca", 2014)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
168
3.11.6 Direção de turma
O Diretor de Turma funciona “como «elo de ligação» entre várias estruturas,
atores escolares e outros interessados nas questões educativas: professores-
alunos; escola-pais/EE; escola-meio; escola-escola.”
(Sá, 1997, p. 183)
Tendo em conta a complexidade da escola e, cada vez mais, a
complexidade dos alunos, torna-se vital a função desempenhada por aqueles
que devem ser Professores profissionalizados, dotados de competência
pedagógica e boa capacidade de relacionamento (Sá, 1997), os denominados
Diretores de Turma. Segundo o mesmo autor, as suas funções são inúmeras
entre as quais se encontram a promoção da integração dos alunos na vida
escolar, a concretização dos contactos com os Encarregados de Educação, a
criação de condições de participação efetiva dos professores na planificação
dos trabalhos e a disponibilização dos meios e documentos de trabalho
necessários às atividades educativas.
“O diretor de turma dispõe de informações relativas ao aluno e à família,
tem acesso a um contacto frequente com ambos” (Roldão, 1995, p. 17), por
este motivo, e de acordo com a mesma autora, “desempenha, junto dos
docentes da turma, uma função de coordenação (…) e articulação/mediação
entre essa ação dos professores e os restantes atores envolvidos no processo
educativo: os alunos e os encarregados de educação” (p. 10), implicando
“desenvolver no grupo de professores da turma um sentido de equipa e
consolidar a sua consciência de grupo responsável pela turma, em conjunto, e
não apenas a título individual, de acordo aliás com o que a legislação
estabelece relativamente ao conselho de turma (p. 17), de modo a resolver
problemas relacionados, por exemplo, com a integração, a assiduidade, o
aproveitamento e o comportamento (Sá, 1997).
Por toda a responsabilidade e exigência deste cargo, e por ser uma
realidade da profissão docente, é essencial a familiarização com todas as
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
169
tarefas, procedimentos e funções que um Diretor de Turma tem de saber gerir
durante o ano de Estágio, momento em que o Professor Estagiário se encontra
“protegido” e sob orientação do seu Professor Cooperante, tendo assim alguma
oportunidade de errar e aprender. Neste sentido posso afirmar que fui uma
felizarda por ser a Professora de Educação Física da direção de turma do meu
Professor Cooperante. Digo isto pois este sempre se disponibilizou para me
esclarecer qualquer dúvida que pudesse ter, fez sempre questão que o
acompanhasse em todos os momentos relacionados com esta vertente do seu
trabalho, como o processo de regularização das faltas dos alunos e a análise
dos dossiês dos mesmos, toda a burocracia preenchida neste âmbito, as
reuniões com os Encarregados de Educação e com os próprios alunos, as
reuniões destinadas apenas a Diretores de Turma e o funcionamento do
programa Inovar. Por outro lado, mantendo um contacto diário com o meu
Professor Cooperante, conseguia estar sempre atualizada de todos os
problemas ou ocorrências que aconteciam na minha turma. Por exemplo, foram
diversas as vezes em que, no período do intervalo entre aulas, os professores
de outras disciplinas, da minha turma, transmitiam informações ao Diretor de
Turma, ficando de imediato a ter conhecimento dessas mesmas situações e
estabelecendo diálogos e reflexões com o Professor Cooperante no sentido de
estimular o meu pensamento e arranjar uma solução para determinado
problema ou acontecimento.
Percebi que embora seja uma função muito trabalhosa também promove
uma aproximação e estimula as relações entre o Professor/Diretor de Turma
com os alunos, sendo isto fundamental para a aquisição de informações sobre
as crianças e os jovens, os seus familiares e os seus hábitos de vida.
Considero que a função do Diretor de Turma é bastante gratificante quando é
vivida intensamente, deixando marcas e tendo repercussões tanto nos alunos
como no próprio Professor.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
170
3.12 Área 3 – Desenvolvimento profissional
3.12.3 Refletir o melhor e o pior de mim para evoluir
“Pensar é algo que acontece naturalmente…”
(Lalanda e Abrantes, 1996, p. 45)
Ao longo da sua carreira, os Professores têm de lidar com problemas
que comportam situações problemáticas que obrigam a decisões num
ambiente de grande complexidade, incerteza, singularidade e conflito de
valores (Schön, 1987). Neste sentido, a formação de Professores “deve
estimular uma perspetiva crítico-reflexiva, que forneça aos professores os
meios de um pensamento autónomo e que facilite as dinâmicas de
autoformação participativa” (Nóvoa, 1992, p. 25), esperando-se assim, que o
Professor competente atue no sentido de criar “uma nova realidade,
experimentando, corrigindo e inventando através do diálogo que estabelece
com essa mesma realidade” (Gómez, 1992).
Segundo Dewey cit. por Jacinto (2003, p. 51) “o professor como prático-
reflexivo pode ser definido a partir das três atitudes (…), abertura de espírito
(…), responsabilidade (…) e sinceridade e empenhamento na sua atividade, ao
mostrar-se motivado para a renovação e para a mudança, contrariando, a
rotina que, inevitavelmente, se instala”. Este tipo de profissional “esforça-se por
ir ao encontro do aluno e entender o seu próprio processo de conhecimento”,
através da “capacidade de individualizar, isto é, de prestar atenção a um aluno
(…), tendo a noção do seu grau de compreensão e das suas dificuldades”
(Schön, 1992, p. 82). Foi a partir desta afirmação que me convenci e que
sempre pautei a minha atuação, enquanto Professora, pelos princípios
inerentes a uma prática reflexiva. Os meus alunos sempre foram a minha real
preocupação e a minha prioridade ao longo de todo o ano de estágio. O seu
sucesso no processo de ensino-aprendizagem era o meu grande objetivo,
tendo agora a certeza que todo o processo reflexivo, que concretizei, me
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
171
auxiliou, de forma imensurável, a melhorar a minha atuação nas aulas, quando
sentia que estas não corriam bem, e a mante-la quando considerava que a
minha atuação, perante a minha turma, tinha sido positiva, concordando com
Lalanda e Abrantes (1996, p. 54) quando afirmam que “o pensamento reflexivo
contribui, decisivamente, para a promoção do progresso”. De forma a
comprovar isso mesmo, cito algumas das minhas reflexões que espelham
melhorias ou cenários alcançados devido ao processo reflexivo:
“As minhas expectativas não foram defraudadas, uma vez que me
deparei com uma turma mais dinâmica e envolvida num dos exercícios que na
aula precedente tinha sido apontado, por mim, como um dos pontos menos
positivos da sessão. Consegui criar várias dinâmicas, vários cenários de
exercitação, através da simples mudança de companheiros ou de posição (guia
ou imitador). Esta situação já tinha sido equacionada por mim na reflexão
anterior, pois refleti sobre o facto de a vergonha, timidez e constrangimento
terem condicionado, e muito, a atuação dos diferentes alunos, tendo nesta aula
percebido que a minha reflexão fez todo o sentido e se verificou na prática.”
(Reflexão da aula n.º 76 – Dança)
“Tenho verificado que não consigo cumprir integralmente os planos de
aula, sendo esta situação alvo da minha reflexão. (…) Nada me incomoda a
participação do Professor, pois reconheço a sua competência e sabedoria, não
sendo este o motivo da minha necessidade de reflexão, simplesmente tenho
receio de estar equivocada quanto ao trabalho que estou a desenvolver,
gostando de ser elucidada caso seja esta a realidade, de forma a redefinir as
minhas estratégias para a Unidade Didática.”
(Reflexão da aula n.º 57 e 58 – Andebol)
Dewey cit. por Lalanda e Abrantes (1996, p. 45) denomina por
pensamento reflexivo a melhor maneira de pensar e define-o como sendo “a
espécie de pensamento que consiste em examinar mentalmente o assunto e
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
172
dar-lhe consideração séria e consecutiva”, possibilitando a antecipação de
ocorrências não planeadas ou esperadas e a ampliação da extensão do
prognóstico das suas consequências.
Assim, “a reflexão implica a imersão consciente do homem no mundo da
sua experiência, (…) não é um conhecimento «puro», mas sim um
conhecimento contaminado pelas contingências que rodeiam e impregnam a
própria experiência vital” (Gómez, 1992, p. 103). Neste sentido, Lalanda e
Abrantes (1996, p. 47) afirmam que “as condições que afloram à mente são os
“dados” ou “factos”, a matéria-prima da reflexão”, sendo que “os dados são
fornecidos pela observação, direta ou indireta, ou mesmo pela memória”.
Schön (1987) refere a existência de vários níveis de reflexão, sendo
eles: conhecimento na ação, a reflexão na ação, a reflexão sobre a ação e a
reflexão sobre a reflexão na ação. O primeiro “é dinâmico e resulta numa
reformulação da própria ação” (Alarcão, 1996, p. 16), é a componente
inteligente que orienta toda a atividade humana e se manifesta no saber fazer”
(Gómez, 1992, p. 104). A reflexão na ação diz respeito à reformulação imediata
daquilo que se faz (Alarcão, 1996), uma vez que “pensamos sobre o que
fazemos ao mesmo tempo que atuamos” (Gómez, 1992, p. 104), conseguindo
assim adquirir e construir novas teorias, esquemas e conceitos. Relativamente
à reflexão sobre a ação, Alarcão (1996) afirma que necessita de uma
reconstrução mental da ação para tentar analisá-la retrospetivamente. Por fim,
e segundo a mesma autora, a reflexão sobre a reflexão na ação “leva o
profissional a progredir no seu desenvolvimento e a construir a sua forma
pessoal de conhecer”, ajudando “a determinar as nossas ações futuras, a
compreender futuros problemas ou a descobrir novas soluções” (p. 17).
Pessoalmente considero que todos estes níveis de reflexão estiveram
presentes ao longo de todo o meu ano de Estágio, é certo que uns de forma
mais consciente do que outros e alguns com maior incidência
comparativamente com os demais, no entanto, todos eles enriqueceram a
minha prestação e fizeram-me perceber problemas cruciais da minha atuação,
concordando, por isso, com Lalanda e Abrantes (1996, p. 58) quando afirmam
que “a ação reflexiva, desencadeada pela problematização da prática, ao
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
173
pesquisar as soluções lógicas para os problemas que importa resolver, exige
aos professores intuição. Mas exige ainda emoção e paixão que animem na
adversidade, mas não ceguem perante a realidade, nem gerem impaciência”.
“Com o segundo terço do ano letivo a terminar, é altura de fazer um
balanço e uma reflexão mais aprofundada.
São evidentes, para mim, as mudanças que sofri nestes meses de
aprendizagem. As minhas prioridades mudaram, a forma como analiso, planeio
e aplico todo o meu trabalho mudou, o acompanhamento que tive, que se
apresentava de forma declarada no primeiro período, agora apresenta-se de
forma mais despercebida, a minha autonomia mudou, os meus alunos
mudaram e, com eles, eu também mudei.
Não foi fácil o confronto que tive no início deste período com o tempo
escasso para o ensino do Salto em Altura, sentindo, apenas nesse momento, o
tão falado “choque com a realidade”. Como deveria lidar com o facto de querer
ensinar de forma coerente e progressiva, todas as fases do salto? Como é
possível consolidar conteúdos se não existe tempo de exercitação? Deveria ter
promovido uma competição dentro da minha turma sem transmitir os conceitos
básicos do Salto em Altura? Num momento em que poucos eram os alunos
que tinham alguma noção e competência para transpor uma fasquia? Todas
estas perguntas surgiram na minha cabeça quando percebi que a expressão
“progressão de ensino”, com o significado por mim apreendido, raramente se
pode associar ao contexto escolar.
Pois bem, com a consciencialização da realidade escolar, fui obrigada a
diminuir as minhas expectativas, a fazer opções tendo em conta os meus
objetivos e os interesses dos meus alunos, considerando que este foi o
primeiro grande passo para a construção de um resto de segundo período mais
tranquilo.
Com a Unidade Didática de Andebol aprendi muito, não só sobre a
modalidade em si, mas sobre os meus alunos e sobre mim. Percebi que alguns
alunos lutam contra as adversidades tentando sempre a superação,
procurando sempre a descoberta e o alento para continuar a tentar, enquanto
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
174
outros são derrotados pelo desânimo e insatisfação. Com isto, identifiquei os
alunos que irão precisar mais do meu incentivo e motivação no derradeiro
período, aqueles com os quais talvez tenha de melhorar a minha intervenção e
dar um pouco mais de mim para ajudá-los a evoluir. Quanto a mim, percebi que
não existem verdades absolutas. Infelizmente, não mudei a imagem negra que
tenho da Ginástica, mas o Andebol conseguiu vencer-me pelo cansaço e hoje,
não começaria a tremer caso me propusessem a lecionação de uma Unidade
Didática desta modalidade. No início o receio era evidente, contudo, aos
poucos e poucos, fui adquirindo conhecimentos mais alargados, expondo
dúvidas aos meus colegas de Núcleo de Estágio e ao meu Professor
Cooperante, fui observando o comportamento dos meus alunos, retirando
ilações e encontrando formas mais ou menos oportunas para interagir e manter
o papel ativo que gosto de ter nas minhas aulas.
Sem qualquer conhecimento sobre as descobertas que ainda estão por
vir, realço este segundo período como o mais marcante até ao momento, foram
os meses onde verdadeiramente me comecei a descobrir enquanto Professora
de Educação Física, foram os meses em que percebi como é muito difícil ser
um bom Professor, um Professor justo e correto, pois as relações humanas que
se constroem, tendem a influenciar a imparcialidade e a objetividade que deve
estar sempre presente. Ah, como é difícil ser um bom Professor!
(Reflexão da aula n.º 71 e 72 – Andebol)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
175
3.12.4 Estudo de Caso: Análise e intervenção na aula de
Educação Física junto de uma aluna desmotivada e com
uma autoestima diminuída
3.12.5.1 Resumo
O estudo de caso que se apresenta foi elaborado com base nas orientações
presentes na literatura, referentes aos estudos de investigação-ação, que
segundo Carr e Kemmis cit. por Castro et al. (2013, p. 125) comportam “uma
espiral de ciclos autorreflexivos, que incluem planeamento, ação, observação e
reflexão” antecedidos de uma ideia que desencadeia todo o processo de
investigação. Este estudo de caso teve como objetivo analisar os
comportamentos de uma aluna que apresentava claros sinais de desmotivação,
de uma autoestima diminuída e de sérios complexos em praticar exercício
físico em público. Esta análise tinha como principal propósito a minha
intervenção ao longo das aulas de Educação Física durante todo o ano letivo
2014/2015 junto da aluna. Os instrumentos utilizados para a recolha de dados
deste estudo foram entrevistas semiestruturadas, observações do
comportamento e aptidão da discente de onde resultaram alguns registos, em
forma de reflexão, conversas informais e reflexões realizadas pela aluna no
final de cada Unidade Didática. De todo o processo de investigação, tendo
como alvo a minha aluna, surge a confirmação da existência de problemas de
ordem psicológica e de períodos marcados por episódios de bullying escolar
que perturbam o bem-estar da mesma, de uma exagerada pretensão em obter
excelentes resultados escolares prejudicando o seu rendimento em momentos
cruciais e de um desconforto enorme em realizar atividades motoras em
público devido a uma autoperceção demasiado negativa. Após a minha
intervenção com base na recolha de informação anterior, posso afirmar, tendo
em conta a postura e as declarações da aluna, que esta se consciencializou de
aspetos que a fizeram ser mais feliz no seu dia-a-dia e encarar as aulas de
Educação Física como uma mais-valia para o seu bem-estar.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
176
PALAVRAS-CHAVE: BULLYING; MOTIVAÇÃO; AUTOPERCEÇÃO; BEM-
ESTAR; SOCIALIZAÇÃO; EDUCAÇÃO FÍSICA; INVESTIGAÇÃO-AÇÃO.
3.12.5.2 Abstract
The presented case study follows the literature related to some studies of
research-action, which, according to Carr e Kemmis cit. by Castro et al. (2013,
p. 125), contain “a spiral of self-reflexive cycles, including planning, action,
observation and reflection”, preceded by an idea that triggers the whole process
of investigation. This case study aimed to analyze the behavior of a student who
showed clear signs of discouragement, decreased self-esteem and strong
complexes on practicing physical exercise in public. This analysis had as the
main purpose my intervention with this student in the Physical Education
lessons throughout the school year 2014/2015. The instruments used in the
data collection of this study were semiestructured interviews, behavior
observations, and the student aptitude from where emerged records of
reflections, informal conversations and self-reflections made by the student at
the end of each Didactic Unit. From the whole process of research, having my
student s the target, arise the confirmation of the existence of psychological
problems and periods marked by episodes of school bullying that disturb her
welfare, an exaggerated claim to obtain excellent academic results affecting her
performance at crucial moments and a huge discomfort in performing motor
activities in public due to a too negative self-perception. After my intervention
based on the previous data collection, I can say, taking into account the student
posture and statements that she became more aware about aspects that made
her be happier in the day-to-day and face the physical education classes as a
capital gain for her well-being.
KEY-WORDS: BULLYING; MOTIVATION; SELF-PERCEPTION; WELFARE;
SOCIALIZATION; PHYSICAL EDUCATION; RESEARCH-ACTION.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
177
3.12.5.3 Introdução
“A escola deve fazer “da criança a matéria-prima e do professor o instrumento
de produção”
(Correia et al., 2013, p. 277)
“A escola é o lugar onde nascem as mutações profundas, porque é a
fornalha onde faíscam as contradições pelo encontro entre as forças sociais e
as gerações e pelo choque de ideias e de teorias” (Postic, 1984, p. 33). É o
meio primordial de socialização dos jovens, “processo dinâmico, interativo e
gradual, indispensável ao desenvolvimento” (Pereira cit. por Almeida et al.,
2013, p. 208). Por vezes, neste contexto de tamanha diversidade, surgem
distúrbios nos jovens alunos, oriundos de insatisfações pessoais que
frequentemente estão associados às posturas dos colegas de turma ou, de um
modo mais global, da própria instituição escolar. O bullying, ou seja os
“comportamentos agressivos de intimidação e que apresentam um conjunto de
características comuns, entre as quais se identificam várias estratégias de
intimidação do outro e que resultam em práticas violentas exercidas por um
indivíduo ou por pequenos grupos, com caráter regular e frequente” (Pereira,
2002, p. 16), encontra-se no topo da escala dos graves problemas que podem
afetar as crianças e jovens da sociedade, tendo sérias repercussões no bem-
estar físico e, sobretudo, no bem-estar psicológico das pessoas que são alvo
desta forma de tortura. Este conceito verdadeiramente assustador surge “de
uma vontade consistente e desejo de magoar ou amedrontar alguém quer
física, verbal ou psicologicamente” (Pereira, 2002, p. 17), sendo diversos os
aspetos da vida das pessoas alvo de bullying que podem ser influenciados e
adulterados.
“As pessoas percecionam-se de formas distintas, pois têm diferentes
emoções, expectativas e motivações, e estas características dos indivíduos,
em interação com os valores dos agentes socializadores, apresentam-se
essenciais no desenvolvimento das perceções de competência” (Vasconcelos-
Raposo et al., 2012, pp. 61 - 62). Sem dúvida que a auto perceção de uma
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
178
criança ou jovem, que sofre um tratamento inaceitável e repudiado, se encontra
desfasada e distorcida da realidade, afetando a própria perceção da sua
competência, isto é, “o conjunto de crenças, formadas a partir da informação
recolhida e processada no meio onde os sujeitos se encontram inseridos,
assim como a perceção que desenvolvem quanto às suas habilidades, através
da sua participação nos domínios ou atividades em causa” (Vasconcelos-
Raposo et al., 2012, p. 60). “Segundo a perspetiva humanista e
fenomenológica, o ser humano manifesta necessidades de autodeterminação e
de competência” (Vanfraechem, 1997, p. 27). Por outro lado, a perceção da
sua imagem corporal também se modifica e fica condicionada àquilo que os
“agressores” querem que se pense. Cruz cit. por Raposo et al. (2004, p. 46)
afirmou “que a perceção da imagem corporal e o grau de satisfação com a
mesma se relacionam com as características desenvolvimentais do indivíduo e
com aspetos sócio culturais”, estando sempre relacionada aos valores, às
crenças, às experiências e às expectativas da sociedade. Este mesmo autor
“descreveu a imagem corporal como um conceito dinâmico, na medida em que
é uma representação mental ou uma constelação de representações do próprio
corpo, mutáveis em virtude do desenvolvimento e das transformações que o
corpo vai sofrendo ao longo do ciclo de vida” (p. 45). Por este motivo Duke-
Duncan cit. por Raposo et al. (2004) diz que “a imagem corporal apresenta-se
especialmente significativa durante a adolescência, em virtude das mudanças
físicas que acompanham a puberdade e do ajustamento que os jovens têm de
fazer para se adaptar a estas mudanças” (p. 46) e apresenta também uma
definição de imagem corporal dizendo que é “a auto perceção de atração física
ou aparência, sentimentos positivos ou negativos acerca do corpo, ou a visão
mantida acerca do próprio corpo” (pp. 45-46).
A perceção referida no parágrafo anterior afeta também aspetos como a
autoestima e a motivação e eleva os níveis de ansiedade e de stress. Segundo
Coopersmith cit. por Raposo et al. (2004, p. 46) o conceito de auto estima é
encarado como “a avaliação que o indivíduo faz, e mantém, acerca de si
próprio, expressando uma atitude de aprovação ou desaprovação e indicando o
grau em que se considera capaz, importante e valioso”, por sua vez, “a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
179
motivação representa as forças internas e externas que provocam o
comportamento e o orientam” (Vanfraechem, 1997, p. 26). Estes dois conceitos
têm influência direta nos níveis de ansiedade e stress dos indivíduos, podendo
proporcionar reações exageradas ou descontroladas (p. 25) devido à
importância de um acontecimento para o indivíduo e à incerteza associada a
esse acontecimento” (Martens cit. por Vanfraechem, 1997, p. 24).
Tendo em conta tudo o que foi referido e sustentado anteriormente, e
partindo do princípio que “o bem-estar, como expressão da felicidade, reflete o
estado de construção da identidade e da personalidade de cada um” (Raposo
et al., 2004, p. 44), reconheço na minha atuação, enquanto Professora de
Educação Física, a possibilidade de influenciar positivamente os meus alunos,
uma vez que posso promover hábitos de vida saudáveis, tais como a prática
regular de atividade física, que conduzam ao bem-estar físico, emocional,
mental e social dos alunos (Correia et al., 2013). Os aspetos psicológicos
ganham relevo, no sentido em que a prática de exercício físico é encarada
como uma excelente arma de combate das doenças como a depressão e uma
promotora eficaz de autoestima e de bem-estar (Monteiro et al., 2014). “No
âmbito da Psicologia Social considera-se que o poder de um sujeito sobre o
outro só se torna efetivo na medida em que este se lhe submete, aceitando ser
influenciado” (Jesus, 1996, p. 12). Neste sentido, considero fundamental a
relação existente entre o Professor e o aluno, sendo essencial que o docente
expresse confiança no potencial dos seus discentes, adote posturas que
inspirem estabilidade e segurança para que estes se empenhem nas atividades
e obtenham melhores resultados (Jesus, 1996). Por outro lado, sendo que “o
processo educativo não se desencadeia senão quando um movimento anima
cada um dos parceiros em direção ao outro” (Postic, 1984, p. 10), o professor
deve ser cuidadoso e tentar procurar identificar, antecipadamente, os tipos de
atividades e formas de atuação para as quais os jovens se sentem mais
motivados e competentes, para não correr o risco das intervenções serem
reduzidas e pouco generalizáveis a outros domínios do quotidiano dos alunos
(Vasconcelos-Raposo et al., 2012).
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
180
No seguimento do referido no parágrafo anterior, a relação educativa, ou
seja, “o conjunto de relações sociais que se estabelecem entre o educador e
aqueles que educa para atingir objetivos educativos, numa dada estrutura
institucional” (Postic, 1984, p. 12), destaca-se, no sentido em que “as relações
que se estabelecem na aula podem ser o motor de uma transformação mais
vasta” (Postic, 1984, p. 32), reveladoras da aprendizagem (Almeida et al.,
2013). Para isso “é necessário (…) que entre educador e educando se
estabeleça um clima de diálogo, segurança, confiança mútua, liberdade interior
e de harmonia afetiva” (Fernandes, 1990, p. 108), isto é, se o professor se
demonstrar psicologicamente maduro, detentor de capacidade de simpatia e
empatia, sem perder a objetividade (Scheeffer, 1980), se demonstrar
afetividade, alicerce primordial de toda a progressão e eficácia intelectual,
poderá promover o desenvolvimento e rentabilidade escolar do aluno,
motivando-o através da estimulação da estrutura e dinâmica do seu mundo
afetivo, desenvolvendo as capacidades intelectuais, físicas e morais do mesmo
(Fernandes, 1990). Para além disso, segundo o mesmo autor, o acolhimento,
quando presente na relação professor-aluno, melhora-a e dignifica-a,
fundamentando uma relação de maior sintonia, maior autenticidade, mais
humanismo e veracidade.
“Ensinar é orientar contínua e progressivamente os alunos. Esta
orientação implica a observação continuada, nomeadamente no que concerne
às experiências pessoais e aos interesses individuais dos alunos, fatores
essenciais no processo de estimulação e de eficiência na aprendizagem”
(Fernandes, 1990, p. 110). Por este motivo estudei, ao longo de todo o ano
letivo 2014/2015, um elemento particular da minha turma, tendo em certos
momentos de “valorizar não tanto o ensino em si, o qual fez alguns progressos,
mas sim todo o processo de aprendizagem, num redimensionamento
qualitativo e num desenvolvimento da totalidade e plenitude do humano”
(Fernandes, 1990, p. 109). Esta aluna despertou a minha atenção no primeiro
contacto que estabeleci com a mesma, por adotar uma postura bastante
particular e inquietante. Eram visíveis os transtornos físicos e emocionais que
atormentavam aquela adolescente, tendo percebido, depois de algum tempo
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
181
passado desde o início do ano e de vários contactos com a aluna, que se
tratavam de consequências de alguns anos vividos sobre o medo e a pressão
inerente ao bullying em ambiente escolar. A difícil relação com a disciplina de
Educação Física revelou-se outro problema que justifica a escolha deste tema
e desta aluna, em particular, como o alvo do meu estudo de investigação-ação,
especificamente um estudo de caso, ao longo do meu ano de estágio. Talvez
de forma ambiciosa, desejei ajudar a minha aluna a ser mais feliz, a aceitar-se
com as suas características específicas e a melhorar as suas relações sociais.
Por outro lado, e não menos exigente do ponto de vista da sua concretização,
associei a realização deste estudo, à possibilidade de modificar a visão de uma
aluna em relação à disciplina pela qual nutro um amor indiscritível. Por fim,
identifiquei ainda a grande possibilidade de conseguir incutir, na restante turma,
valores e normas como a cooperação, a entreajuda, a tolerância e a aceitação
das diferenças existentes na nossa sociedade, tendo como exemplo, não
declarado, a aluna identificada.
3.12.5.4 Metodologia
Investigação- ação
“É necessário dar lugar a diferentes formas de investigação, que
nenhuma delas tem, em termos absolutos, prioridade ou maior valor, mas que
cada uma delas tem uma função primordial específica, através da qual os
procedimentos metodológicos são pensados prioritariamente.”
(Ketele e Roegiers, 1993, p. 116)
“A investigação é um processo sistemático e intencionalmente orientado
e ajustado tendo em vista inovar ou aumentar o conhecimento num dado
domínio” (Ketele e Roegiers, 1993, p. 104). A sua utilização no âmbito da
educação, segundo Arends (2008), tem como objetivo compreender melhor o
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
182
processo de ensino. Neste sentido, de acordo com Lincoln e Guba; Mc-Niff e
Whitehead cit. por Castro et al. (2013, p. 124), a investigação-ação revela-se
“um tipo de investigação que permite à pessoa que pratica determinada
atividade, designada o prático, investigar a sua própria prática, suscitando um
enquadramento teórico baseado na reflexão do modo como a desenvolver, no
sentido de a melhorar” de forma autónoma e responsável. Para Arends (2008),
esta forma de investigação “consiste num processo de colocar questões,
procurar respostas válidas e objetivas, e de interpretar e utilizar os resultados”
(p. 525), diferindo de outros modos de investigar por ter como objetivo a
produção de informação e conhecimentos válidos, passíveis de aplicação
imediata. Por sua vez Kemmis e McTaggart cit. por Santos et al. (2013, p. 315)
diz que “a investigação-ação constitui uma forma de pesquisa autorreflexiva de
situações sociais, realizada pelos participantes, com vista a melhorar a
racionalidade e a retidão das suas próprias práticas sociais ou educacionais
bem como a compreensão dessas práticas e as situações nas quais aquelas
práticas são desenvolvidas”. Nesta forma de investigação o investigador “pode
assumir simultaneamente as funções de investigador e de prático, o que
significa que o investigador “age com base no entendimento obtido a partir do
estudo, ao invés de simplesmente documentar a situação” (Watt e Watt cit. por
Castro et al., 2013, p. 125).
No entender de Arends (2008), a investigação-ação justifica-se por dois
motivos: a autonomia do professor, devendo este profissional ser capaz de
estudar o seu próprio modo de ensino e testar a eficácia das suas práticas
educativas, e a mais-valia que é a informação que permitirá construir novas
realidades sobre o ensino, sendo, por isso, finalidade da investigação-ação a
compreensão que o professor tem dos seus problemas, adotando assim uma
posição exploratória (Ketele e Roegiers, 1993). Para Elliott cit. por Arends
(2008, p. 114) “a investigação-ação em meio escolar toma como campo de
investigação as ações humanas e as situações sociais que são percebidas
pelos professores como: inaceitáveis sob certos aspetos; suscetíveis de
mudança; exigindo uma resposta prática”, isto é, esta investigação inicia-se
tendo em conta situações com as quais o professor está insatisfeito ou que
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
183
deseja melhorar, um problema que deve ter como base as experiências e
preocupações imediatas do mesmo (Arends, 2008). Depois de definido o
motivo da ação, o investigador deve “empreender ações, recolher dados,
observar o que se passa, e refletir sobre todo o processo antes de prosseguir o
estudo” (Arends, 2008, p. 527). Durante todo o processo, o investigador deve
avaliar “constantemente o que faz, no sentido de perceber se o que está a
fazer está de facto a surtir o efeito desejado (ou simplesmente algum efeito) na
prática” (Castro et al., 2013, p. 125).
Figura 3 - A perspetiva de Kemmis (1988) sobre o processo de investigação-ação.
“Na explicação do que acontece na situação prática, a investigação-ação
não adota enunciados «formais» (…), mas enunciados «naturalistas»
(sucessão de acontecimentos ligados e recolocados num contexto de
contingências mutuamente interdependentes). Privilegia o método histórico, a
avaliação clarificadora (…) e o estudo de caso” (Ketele e Roegiers, 1993, p.
115).
“Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga um
fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente
quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente
definidos” (Yin, 2001, p. 32). “Pressupõe o exame pormenorizado de uma dada
situação, de um sujeito particular, de um acontecimento determinado,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
184
privilegiando, de modo geral, uma ação, uma experiência em curso” (Vieira et
al., 1998, p. 15). Este tipo de trabalho prevê “um estudo profundo dos casos
sob consideração” (Hamel et al., 1993, p. 1) e “surge do desejo de se
compreender fenômenos sociais complexos” (Yin, 2001, p. 21). “Permite uma
investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos
eventos da vida real – tais como ciclos de vida individuais, processos
organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas,
relações internacionais e a maturação de alguns setores” (Yin, 2001, p. 21).
“Uma vez definida, a unidade de análise (ou caso) fornece estabilidade à
estrutura do estudo de caso” (Yin, 1993, p. 33), sendo um “importante aspeto
na recolha de dados de um estudo de caso o uso de múltiplas fontes de
evidências – convergindo no mesmo conjunto de problemas” (Yin, 1993, p. 32).
“Estudos de caso empregam vários métodos. Estes podem incluir entrevistas,
observação participante, e estudos de campo. Os seus objetivos são
reconstruir e analisar um caso de uma perspetiva sociológica” (Hamel et al.,
1993, p. 1).
Caracterização da aluna
O estudo de caso que se apresenta tem como figura central uma aluna
de quinze anos de idade, de uma turma de décimo ano, da escola onde
decorreu o meu Estágio Profissional. Esta adolescente apresenta um histórico
bastante alargado de problemas do foro psicológico, tendo em conta a sua
idade reduzida, uma desmotivação exagerada e uma perceção muito negativa
sobre si e sobre tudo o que faz. Todos estes problemas estarão certamente
relacionados com situações de bullying escolar de que foi alvo, juntamente com
uma fisionomia distinta daquela que a sociedade encara como sendo o padrão
de beleza e uma aptidão motora muito reduzida devido a problemas
acentuados de coordenação.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
185
Caracterização dos instrumentos
De modo a recolher dados para a elaboração deste estudo, recorri à
realização de entrevistas semidiretivas ou semiestruturadas, ou seja, com
perguntas pré-definidas que servem de ponto de referência, ao longo do
processo de investigação, em momentos previamente definidos por mim,
confirmando assim o seu caráter multilateral (Ketele e Roegiers, 1999). Este
instrumento é caracterizado como uma forma de “obter informação sobre as
atitudes e opiniões dos alunos” (Arends, 2008, p. 531) e tinha como objetivo
descobrir aspetos onde a aluna estudada fosse mais frágil, aumentar o
conhecimento que possuía da mesma e identificar as motivações para a
postura apresentada. Para além disto, esta forma de recolha de informação foi
aplicada não só à aluna investigada mas também a algumas das pessoas que
contactavam regularmente com ela, como os seus colegas de turma, no
sentido de reforçar ou contrariar a informação declarada pela aluna estudada.
Realizei, ao longo de todo o ano, observações do comportamento e
aptidão da discente, por ser uma forma de alcançar informações necessárias
para responder a muitas das questões por mim colocadas (Arends, 2008).
Como afirma o autor citado anteriormente, as informações recolhidas através
de observações devem ser colocadas em papel e, por isso, surgiram alguns
registos, em forma de reflexão, que possibilitaram a adaptação da minha
intervenção às necessidades particulares desta aluna. Estas anotações são
também “uma excelente forma de entender o pensamento do professor”
(Arends, 2008, pp. 531 - 532). Nesta vertente da investigação, todas as
reações e comportamentos foram alvo de uma cuidada análise que possibilitou,
muitas das vezes, uma modificação das minhas conceções sobre o que seria
melhor ou pior para a aluna e uma consequente adaptação das estratégias de
ensino utilizadas nas minhas aulas com este caso particular.
As conversas informais foram o fio condutor de todo este processo e um
meio para me aproximar e relacionar com esta aluna, facilitando assim a minha
intervenção, pelo simples facto de me tornar credível aos olhos da mesma.
Considero que este aspeto foi fundamental, no sentido que foi através dele e
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
186
da confiança que conquistei que consegui ter acesso a muitas informações
relevantes para o meu entendimento do problema e todas as suas vertentes.
Por fim, acordei com a discente a realização de reflexões no final de
cada Unidade Didática, lecionada por mim, no sentido de conseguir identificar
os pontos positivos e os pontos negativos da minha intervenção e
consciencializar-me dos sentimentos da aluna ao longo das suas
aprendizagens. Este instrumento funcionou como um complemento autêntico e
fiável às observações realizadas por mim ao longo de todo o processo de
ensino-aprendizagem e em todos os contactos formais ou informais que
concretizava com a aluna.
3.12.5.5 Recolha e tratamento de dados
Conforme Cohen e Manion e Mcniff e Whitehead cit. por Castro et al.
(2013) afirmam, este estudo surgiu da intenção pessoal de compreender e
conhecer uma determinada situação única, que despoletou curiosidade em
mim e onde reconheci um grande potencial para a minha intervenção. Esta
mesma situação é identificada como a ideia que desencadeia todo o processo
de investigação. Assim sendo, todo o meu envolvimento com este caso e a
identificação da necessidade da minha intervenção, aconteceu no momento em
que a aluna, numa das primeiras aulas do ano letivo, começou a chorar e se
demonstrou extremamente nervosa, diria mesmo em pânico, por não conseguir
fazer aquilo que lhe estava a ser pedido.
Este ponto de partida, referido no parágrafo anterior, teve como
consequência “uma espiral de ciclos autorreflexivos, que incluem planeamento,
ação, observação e reflexão” (Carr e Kemmis cit. por Castro et al., 2013, p.
125), que “permite testar e desenvolver de forma contínua diferentes
explicações aos constrangimentos que emergem da prática, levando à melhoria
da aprendizagem e da compreensão do próprio progresso” (TSAI et. al cit. por
Castro et al., 2013, p. 126).
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
187
Para que esta espiral de ciclos efetivamente de consumasse houve a
necessidade de realizar alguns procedimentos, entre os quais destaco o
consentimento da aluna para participar, de forma livre e descomprometida, no
estudo que desejava levar a cabo (Anexo XVIII) e a autorização fornecida pelos
seus Encarregados de Educação depois de terem conhecimento do objetivo
desta investigação e de todas as condutas que se verificariam ao longo do
processo (Anexo XVII).
1ª Fase de Observação e Reflexão: Perceção do Problema
Após o primeiro comportamento distinto da minha aluna, já referido
anteriormente, senti necessidade de proceder a uma série de observações de
modo a perceber se este acontecimento teria sido esporádico ou se existiam
outros fatores que complementariam aquele cenário de instabilidade
emocional. “Observar é um processo que inclui a atenção voluntária e a
inteligência, orientado por um objetivo final ou organizador e dirigido a um
objeto para recolher informações sobre ele” (De Ketele cit. por Ketele e
Roegiers, 1999, p. 22). Ao realizar observações foi importante ter a consciência
de que “o «já visto» observa-se mais facilmente, mas o «demasiado visto»
corre o risco de passar despercebido” (Ketele e Roegiers, 1999, p. 23), pois por
um determinado acontecimento ser recorrente não deixa de ser fundamental
para a investigação e em certos momentos acontece exatamente o contrário. A
necessidade urgente de um acompanhamento mais individualizado e
direcionado para as necessidades particulares da minha aluna foi assim
confirmada. A sua falta de confiança era avassaladora, dizendo
constantemente que não queria realizar os exercícios porque não ia conseguir;
a vergonha e o medo dos seus colegas estavam sempre presentes, pois eram
frequentes as vezes que a aluna pedia para realizar os exercícios nas
extremidades do espaço físico da aula, por serem menos os colegas que a
observavam e gozavam; a forma como falava de si e das suas capacidades
denotava uma tristeza e uma mágoa profunda relativas à sua forma física, à
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
188
sua dificuldade motora; a sua postura nas primeiras aulas do ano letivo
desvendava algumas dificuldades de relacionamento, uma vez que se
mantinha bastante tempo afastada de mim e dos colegas de turma; nos
momentos destinados à formação de grupos de trabalho esta aluna nunca se
integrou em nenhum deles, necessitando sempre da minha ajuda para o fazer,
confirmando-se assim o que diz Pereira (2002, p. 21) relativamente às vítimas
de bullying: “experienciam com mais frequência pouca aceitação, rejeição ativa
e são menos escolhidas como melhores amigos e apresentam fracas
competências sociais tais como cooperação, partilha e ser capaz de ajudar os
outros”; sempre que era necessário recorrer a um sistema de rotação dos
alunos, por exemplo no Voleibol o “rodar ao serviço”, a discente dizia
constantemente que ficava de fora para não prejudicar a sua equipa e para os
colegas não ficarem chateados. Estes foram alguns dos comportamentos que
me alertaram para a diferença desta aluna e que mereceram a minha atenção
e reflexão.
1ª Fase do Planeamento: Construção da Primeira Entrevista
A construção de uma entrevista semiestruturada foi o primeiro ato de
planeamento nesta investigação. Este instrumento é entendido por Labov e
Fanshel cit. por Ketele e Roegiers (1999, p. 19) como “um speech-event no
qual uma pessoa A extrai informação de uma pessoa B, informação essa que
estava contida na biografia de B” ou de uma forma mais completa como “um
método de recolha de informações que consiste em conversas orais,
individuais ou de grupo, com várias pessoas selecionadas cuidadosamente, a
fim de obter informações sobre factos ou representações, cujo grau de
pertinência, validade e fiabilidade é analisado na perspetiva dos objetivos da
recolha de informações” (Ketele e Roegiers, 1999, p. 22). Optei pelo grau de
liberdade semidiretivo de modo a permitir, por um lado, que a minha aluna
estruturasse o pensamento em torno do objeto perspetivado, exprimindo-se de
forma mais natural e partilhando as informações mais verdadeiras, e por outro,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
189
a ter a possibilidade de definir o objeto de estudo, eliminando assim diversas
considerações para as quais a aluna se poderia deixar arrastar, centrando a
entrevista nas informações pertinentes para o meu estudo (Albarello et al.,
1997). Eram imensos os aspetos que me faziam questionar o porquê da
postura daquela aluna, eram muitas as situações estranhas que me faziam ter
a certeza de que havia motivos que desencadeavam as suas reações e que a
tornavam tão frágil e insegura. Desta forma, construi uma estrutura da
entrevista (Anexo XIX), que funcionou como um guia daquilo que, efetivamente,
queria descobrir sobre a aluna e a sua vida, dando também oportunidade e
liberdade para que outros temas fossem abordados por ela, podendo desta
situação não planeada e imprevista, surgir ideias e constatações importantes
para a minha compreensão da realidade em que a aluna vivia e se refugiava.
1ª Fase da Ação: Realização da Entrevista
De modo a criar um ambiente de confiança, propiciador de relações e
partilha de informações, realizei a entrevista num local calmo, abstraído de toda
a confusão que pudesse perturbar o meu trabalho, onde eu e a minha aluna
pudéssemos dialogar sem seremos interrompidas e principalmente onde os
sentimentos da discente se pudessem revelar sem que esta estivesse
preocupada em ser vista fragilizada por outras pessoas. Esta minha opção
enquadra-se com o que Albarello et al. (1997, p. 102) declaram, quando
afirmam que “o local deve facilitar no entrevistado a expressão do seu ponto de
vista pessoal, deve ser pertinente relativamente ao objeto de estudo e, ao
mesmo tempo, responder a determinadas exigências mínimas (um certo
isolamento para não ser ouvido pelos colegas ou membros da família, para não
ser interrompido pelo telefone nem ser submerso pelo barulho ou espiado…) ”.
Para além disso, tentei criar uma relação onde a tranquilidade e o à vontade
estivessem presentes, fazendo com que a entrevistada se sentisse associada à
investigação e compreendesse que o seu ponto de vista era importante
(Albarello et al., 1997). Foi relevante demonstrar a importância da veracidade
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
190
das afirmações e respostas dadas, no sentido de tornar o estudo real e
credível, para isso assegurei à minha aluna que não seria punida por dar
respostas honestas (Arends, 2008).
Assim que as condições ideias estiveram reunidas procedi à
concretização da entrevista, tendo esta começado com algumas das questões
do guião (Anexo XIX) elaborado por mim e validado por peritos, de acordo com
o indicado por Arends (2008, p. 531) que declara que “é importante que as
questões da entrevista sejam elaboradas de antemão e sejam colocadas de
forma clara e direta”. Esta construção antecipada do guião da entrevista
permite “enunciar os temas a abordar com o objetivo de intervir de maneira
pertinente para levar o entrevistado a aprofundar o seu pensamento ou a
explorar uma questão nova de que não fala espontaneamente” (Albarello et al.,
1997, p. 110). Embora a entrevista comece normalmente com uma pergunta já
definida pelo entrevistador, esta deve seguir o seu próprio rumo de acordo com
o que o entrevistado pretende falar, mas sem nunca esquecer o objetivo do
estudo (Albarello et al., 1997), pois, segundo o mesmo autor, o intuito desta
forma de entrevista é a exploração livre do pensamento do outro. A partir deste
momento, a aluna poderia falar do que achasse relevante, podendo abordar
temas que não estavam definidos à partida. No entanto, esta liberdade era
constantemente controlada por mim, no sentido de manter a entrevista no
caminho que me levaria à obtenção dos meus objetivos, ou seja, à obtenção de
informação que me ajudaria a perceber as causas do estado psicológico,
emocional e até físico da aluna.
Durante todo o período da entrevista não dei a minha opinião, não
avaliei, não realizei sugestões, não vinquei interesses particulares por
determinadas afirmações, demonstrando-me, no entanto, interessada com tudo
o que estava a ser dito (Albarello et al., 1997), pois pretendia ouvir tudo o que a
minha aluna me quisesse contar, no sentido de recolher o maior leque de
informações possível, percebendo, possivelmente, aspetos que teriam passado
despercebidos até ao momento.
Ao longo deste processo, foi inevitável a realização de questões que não
tinha pensado previamente, uma vez que a aluna me elucidou de situações,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
191
temas e acontecimentos que não estaria à espera e que eram extremamente
pertinentes para o meu estudo, tendo o cuidado de a indagar sobre a sua
perceção sobre o decorrer da entrevista e de confirmar que todas as
informações dadas estariam completas (Albarello et al., 1997).
2ª Fase de Observação e Reflexão: Conclusões sobre a Entrevista e
Procedimentos Futuros
Foram várias as conclusões por mim retiradas após a conclusão da
entrevista e algumas as revelações feitas pela minha aluna. O caso de bullying,
relatado por ela, foi um dos temas surpresa desta entrevista. A certa altura a
aluna declara:
“Acho que ainda não disse, eu tinha muitos problemas, como dores de
cabeça a partir do sexto ano, porque fui vítima de bullying e isso mexia um
bocado comigo, (…) imagine, quinta e sexta-feira doía-me a cabeça, sábado e
domingo não me doía, mas no domingo à noite começava-me a doer outra vez
e os meus pais começaram a ficar assustados, porque não era normal.”
(Entrevista 1)
Através destas declarações percebi que o problema poderia ser mais
grave do que esperaria, sendo, desta forma, alertada para o cuidado que
deveria ter ao interagir com a aluna e a abordar determinados assuntos, pois
as vítimas de bullying “tendem a ter uma fraca autoestima, manifestada em
várias medidas” (Boulton e Smith cit. por Pereira, 2002, p. 21). Prova disso foi o
acompanhamento médico que sempre foi uma realidade na vida da discente,
desde a altura em que foi vítima de bullying, no sexto ano de escolaridade,
declarando que foi acompanhada por diversos médicos como o seu pediatra, o
seu médico de família, o psicólogo da escola e várias instituições hospitalares,
entre as quais se encontra o Hospital Pediátrico Maria Pia, onde
diagnosticaram problemas do foro psicológico, e o Hospital de Magalhães
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
192
Lemos, encarado pela aluna como “o hospital dos tolos” (Primeira Entrevista).
Ficou claro que o encaminhamento da aluna para o Hospital de Magalhães
Lemos a marcou, revelando sentimentos desagradáveis ao perceber esta
necessidade:
“Mandaram-ma para o Magalhães Lemos, e foi o grande choque da
minha vida, ouvir a médica dizer que tinha de ir para o Magalhães Lemos,
porque aquele que, para mim, era o hospital psiquiátrico, que toda a gente me
falava mal e era dos doentinhos, passou a ser a minha segunda casa, eu ia lá
todos os meses às consultas. (…) o Magalhães Lemos é o hospital dos tolos, a
primeira vez que entrei lá foi muito complicado para mim”
(Entrevista 1)
No entanto, esta forma de tratamento, um pouco agressiva, é justificada
pelas “vidas infelizes, destruídas, sempre sob a sombra do medo; perda de
autoconfiança e confiança nos outros, falta de autoestima e autoconceito
negativo e depreciativo; vadiagem; falta de concentração; morte (muitas vezes
suicídio ou vítima de homicídio); dificuldades de ajustamento na adolescência e
vida adulta, nomeadamente problemas nas relações íntimas” (Pereira, 2002,
p.25), problemas que atormentam as vítimas de bullying.
A aluna foi tratada durante dois anos nesta instituição hospitalar, tendo
sido seguida por dois médicos bastante distintos. Enquanto o primeiro
despertou o melhor que a aluna guardava dentro de si, a envolveu no seu
método, ajudou-a a superar os seus medos e a pensar de forma mais positiva,
sendo identificado pela paciente como um médico muito bom, a médica que o
substituiu apresentava uma postura completamente distinta, com um cunho
marcado pela agressividade, a intolerância e a inconsciência.
“Apanhei um médico muito bom, era o Doutor João (nome fictício), ele
ajudou-me muito, fazia desenhos comigo para perceber qual era a minha
evolução, mas ele era estagiário e por isso mudei de médica. A partir daí deixei
de ir às consultas porque tive um ataque de pânico muito grande e ela
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
193
começou aos berros comigo, só me faltava dar um estalo, a dizer que não
podia ser assim, que uma menina não se podia comportar assim e eu comecei
a ficar com muito medo da médica”
(Entrevista 1)
Nesta fase a aluna destaca os seus familiares, pais e os dois irmãos,
como o seu grande apoio. Segundo Osório cit. por Pratta, E. M. M., e Santos,
M. A. d. (2007, p. 250) “a família possui um papel primordial no
amadurecimento e desenvolvimento biopsicossocial dos indivíduos,
apresentando algumas funções primordiais, as quais podem ser agrupadas em
três categorias que estão intimamente relacionadas: funções biológicas
(sobrevivência do indivíduo), psicológicas e sociais”. Por outro lado, Romanelli
cit. por Pratta, E. M. M., e Santos, M. A. d. (2007, p. 250) afirma que “a família
corresponde a um lugar privilegiado de afeto, no qual estão inseridos
relacionamentos íntimos, expressão de emoções e de sentimentos. (…) Estas
trocas emocionais estabelecidas ao longo da vida são essenciais para o
desenvolvimento dos indivíduos e para a aquisição de condições físicas e
mentais centrais para cada etapa do desenvolvimento psicológico”.
Principalmente na adolescência “o indivíduo passa por momentos de
desequilíbrios e instabilidades extremas, sentindo-se muitas vezes inseguro,
confuso, angustiado, injustiçado, incompreendido por pais e professores, o que
pode acarretar problemas para os relacionamentos do adolescente com as
pessoas mais próximas do seu convívio social” (Pratta, E. M. M., e Santos, M.
A. d., 2007, p. 253). Por este motivo, o diálogo entre pais e filhos, nesta etapa
do desenvolvimento, é importantíssimo, sendo que quando se trata de uma
rotina estabelecida desde cedo pela família, em paridade com relações de
respeito, confiança e afeto, pode facilitar a resolução de problemas na
adolescência (Drummond e Drummond Filho cit. por Pratta, E. M. M., e Santos,
M. A. d., 2007, p. 253). No entanto, e de acordo com os autores citados
anteriormente, é necessário que a família esteja preparada para
comportamentos de isolamento, adotados pelos jovens, pois muitas vezes
estes fecham-se no seu “mundo”, necessitando mais do que nunca da
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
194
orientação e compreensão dos pais. No entanto, a aluna não recorria a estas
pessoas quando precisava de desabafar ou quando não se encontrava bem,
afirmando o seguinte:
“Guardo as minhas emoções para mim, quando estou sozinha no quarto
choro, não consigo estar a falar com alguém e começar a chorar à frente dessa
pessoa, não consigo desabafar com ninguém, nem com a minha família.”
(Entrevista 1)
Esta situação ganha proporções mais preocupantes quando a discente
refere que:
“Sou muito negativa, por exemplo se um teste me corre mal, ninguém
pode falar comigo nesse dia, a minha mãe já sabe porque quando chego ao
carro começo logo a tremer (…) se deixo cair uma garrafa de leite no chão,
estraga-me o dia todo, não consigo pensar em mais nada, eu sou assim.”
(Entrevista 1)
Mesmos os seus amigos mais próximos, nomeadamente uma outra
aluna minha, não a conseguiam ajudar, nem conseguiam fazer com que a
Mafalda (nome fictício) partilhasse os seus problemas, podendo ser ajudada de
alguma forma, pois existiam problemas “a nível das relações íntimas (…) e
dificuldade em confiar nos outros” (Gilmartin cit. por Pereira, 2002, p. 23),
afirmando:
“Por me fechar tanto e por não desabafar, a Tânia (nome fictício) fica um
bocado triste porque não lhe digo o que se passa e ela não me pode ajudar”
(Entrevista 1)
A importância da escola e da obtenção de bons resultados neste
contexto ficou clara quando a aluna, orgulhosamente, referiu que:
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
195
“Era uma aluna mesmo muito boa, era das melhores alunas da turma,
tinha cincos a todas as disciplinas, menos a Português e Educação Física”
(Entrevista 1)
No entanto, esta importância, quando desmedida, pode revelar-se um
problema grave pois “fazer tudo bem o tempo todo e em qualquer área da
nossa vida é uma tarefa impossível, ultrapassa a capacidade humana de
resposta a todas as situações que necessitam da nossa atenção” (Lucas, M.,
2010). Através das declarações da aluna, identifiquei a exigência que tem para
consigo como um fator que desencadeia stress excessivo, irritação, frustração,
dores, ansiedade tristeza prolongada (Marques, I. A. (2014) e que causa
alguma desmotivação, pois por ser demasiado perfeccionista, e possuir
objetivos demasiado ambiciosos, a aluna acaba por nunca estar satisfeita com
os resultados que obtém, apesar desses mesmos resultados serem positivos e
melhores do que os dos seus colegas de turma.
“O meu grande sonho é ser médica, e então eu precisava de apoio
psicológico por causa da pressão que punha em mim, (…) às vezes estava
com amigos dos meus pais e eles perguntavam o que queria ser quando fosse
grande e eu dizia que queria ser médica e eles diziam que para ser médica
tinha de estudar muito, ter cinco a tudo e quase 100%, e aquilo fazia-me
confusão e se eu tivesse um 70% num teste era o caos. Os meus colegas de
turma ficavam chateados porque se fosse preciso eles tiravam negativa e eu
era uma das melhores notas da turma e começava a chorar porque para mim
aquilo era muito pouco”
(Entrevista 1)
“Eu queria mesmo subir as notas, a todas as disciplinas, porque me
comprometi com o meu irmão que tinha de ter quinze valores a todas as
disciplinas”
(Entrevista 1)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
196
Esta necessidade de ser sempre melhor prejudicava muito a Mafalda, no
sentido em que estava permanentemente a pensar naquilo que deveria atingir
e conseguir, olhava apenas para os aspetos que necessitam ser melhorados,
ocupando assim grande parte da atenção, deixando para segundo plano todas
as outras coisas (Lucas, M., 2007), acabando por comprometer o seu
rendimento nos testes e nos momentos cruciais da sua vivência escolar por ter
medo, falta de confiança e ser ansiosa (Olweus cit. por Pereira, 2002).
“Quando a época dos testes se começava a aproximar, sentia dores de
cabeça piores, parecia que as veias da cabeça estavam a explodir, era horrível
(…) Estava a fazer um teste e bloqueada muitas vezes, no 8º ano eu dizia aos
meus pais que bloqueava nos testes e por isso fui ao médico e ele disse que
era mesmo verdade e normal eu bloquear, porque a minha cabeça dizia que
tinha de me esforçar e tirar as melhores notas”
(Entrevista 1)
A relação com a disciplina de Educação Física também não era a
melhor. A aluna declarou:
“Sinto-me inferiorizada porque os outros conseguem fazer aquilo com
uma perna às costas e eu não consigo, e fico muito nervosa e por isso começo
a chorar”
(Entrevista 1)
Para além das suas dificuldades pessoais e pouca apetência para as
atividades motoras, penso que as experiências com os Professores da
disciplina de Educação Física podem ter condicionado em grande escala o
envolvimento da discente com tudo que esteja relacionado com a prática de
exercício físico. Esta afirmou que teve um Professor que “fazia risinhos quando
não conseguíamos fazer alguma coisa” (Primeira Entrevista), e outro que
apenas dava atenção e se disponibilizava para ajudar os rapazes da sua turma,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
197
deixando as alunas do sexo feminino sem qualquer orientação. Para além
disto, ficou claro o medo que a aluna tem daquilo que pensam dela pois
afirmou:
“Eu sei que não sou boa e então não gosto que vejam que eu sou má
(…) falo com as pessoas, dou-me bem com as pessoas, não gosto que me
vejam quando estou a fazer alguma coisa (…) nas primeiras aulas do ano eu
pensava que se não fizesse as coisas os meus colegas não percebiam que era
má, e ficavam a achar que era preguiçosa e era preferível isso a saberem que
sou má aluna. Depois eles começaram a perceber que eu não era tão boa
como eles e comecei a fazer as coisas.”
(Entrevista 1)
“Esta situação na grande maioria das vezes pode tornar-se patológica ao
ponto da pessoa deixar de fazer muitas das coisas que fazia e lhe davam
prazer. A pessoa vê-se afetada também nas relações sociais, dado que não se
quer expor ao que julga ser ridículo. (…) É o sentimento de que: ” Se eu
cometer um erro, será catastrófico” (Lucas, M., 2010).
Tendo em conta todas as informações recolhidas através desta primeira
entrevista, e de modo a que comportamentos e atitudes negativas não
influenciassem todas as decisões e imagens que a Mafalda construiu em
relação a si, aos outros, ao mundo e até à própria vida e não se agravassem e
se mantivessem por toda a vida (Pereira, 2002), tive como principal propósito, a
partir desse momento, que a aluna chegasse às minhas aulas alegre, o que
facilitaria o processo de ensino-aprendizagem, ou pelo menos motivaria a aluna
e envolve-la -ia de modo a que retirasse algum prazer das atividades que fazia,
mesmo que não conseguisse ter um desempenho muito bom. Por outro lado,
fiquei com a necessidade de demonstrar a minha disponibilidade para ajudar e
auxiliar a aluna, esclarecer dúvidas e corrigir erros, relativizar a facilidade ou
dificuldade das coisas, isto é, a aluna tinha bem definido na sua cabeça o que
seria fácil ou difícil em cada modalidade, baseando-se naquilo que a maior
parte das pessoas que observava conseguia ou não fazer. No entanto, nem
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
198
todas as pessoas têm as mesmas dificuldades e facilidades e se um rolamento
à frente era uma tarefa árdua e um rolamento à retaguarda era encarado como
uma habilidade mais simples para a aluna, em contrapartida eu sentiria mais
dificuldades em realizar um rolamento à retaguarda. Esta explicação e
demonstração das coisas foi fundamental para que a discente percebesse que
todos têm dificuldades e se sentisse mais normal. Todas estas preocupações
confirmam que “o papel do professor não se cinge simplesmente à transmissão
de saberes, mas, de igual modo, a uma função de mediação e de criação de
situações de aprendizagem significativas para os alunos. Face a este
entendimento, depreende-se que é fundamental que o professor possua não
apenas um conjunto de conhecimentos científicos, didáticos e pedagógicos,
mas que também seja capaz de adotar uma atitude reflexiva, apresentando-se
constantemente ”disponível” para aprimorar a eficácia da sua atividade ao
longo do tempo” (Altet cit. por Almeida, J., Leandro, T., e Batista, P., 2013, p.
209).
2ª Fase do Planeamento: Estruturar as Reflexões e as Estratégias para as
Aulas e a Intervenção dos Colegas
Com base nas conclusões retiradas na fase anterior, de observação e
reflexão, considerei que seria importante estimular a minha aluna a expressar,
por escrito, aquilo que sentia nas minhas aulas, tendo proposto e acordado
com a mesma a realização de reflexões no final de cada Unidade Didática da
disciplina de Educação Física, uma vez que a reflexão é entendida por Dewey
cit. por Alarcão, I. (1996, p. 175) como “uma forma especializada de pensar.
Implica uma perscrutação ativa, voluntária, persistente e rigorosa daquilo em
que se julga acreditar ou daquilo que habitualmente se pratica, evidencia os
motivos que justificam as nossas ações ou convicções e ilumina as
consequências a que elas conduzem”. Esta tarefa foi então proposta com a
intenção de deixar a minha aluna à vontade para falar sobre o que ela quisesse
e entendesse mais relevante nas minhas aulas. Com estas reflexões
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
199
conseguiria perceber se a atenção da minha aluna estava direcionada para os
aspetos da aula que esperaria, e perceberia a sua evolução relativamente à
sua autoestima, à sua auto perceção, à sua motivação e ao seu gosto pela
disciplina.
A minha atuação nas aulas foi outro aspeto que mereceu uma cuidada
análise e um planeamento criterioso. Estava ciente que a minha postura e
exigência não poderia ser igual para todos os alunos e de forma muito
particular com esta aluna, pois só assim atingiria um ensino onde a equidade
estivesse presente, conforme declara Mesquita e Rosado (2011, p. 21) “o
desenvolvimento de uma pedagogia para a igualdade e para a inclusão que
lide melhor com a diversidade, fundamentada na adoção de posturas críticas e
integradoras e na criação e adaptação das metodologias de ensino aos
diferentes grupos”. As dificuldades da Mafalda eram tremendas, o seu receio
de ficar exposta perante outras pessoas era uma realidade e tudo isto merecia
um cuidado redobrado e um planeamento individual. Nunca fiz planos de aula
especiais para esta aluna, no entanto, durante este processo de conceção das
minhas aulas, sentia-me na obrigação de pensar sempre na minha aluna e
calcular formas de tornar os exercícios mais aliciantes para ela, sem com isto a
tornar diferente do resto da turma, conseguindo assim criar uma aluna com
autonomia na aprendizagem dos saberes, do saber-fazer, do saber-pensar e
do saber-ser (Mesquita e Rosado, 2011, p. 25). Desta forma, pus em prática
algumas estratégias, que clarificarei mais à frente, de modo a melhorar o meu
relacionamento com ela e a obter resultados na sua aptidão física.
Por fim, socorri-me de alguns dos meus alunos, especificamente
daqueles em quem confiava mais e em quem reconhecia melhores
capacidades sociais e físicas, para que também eles apoiassem a aluna
estudada. Considero que esta vertente do meu estudo se revelou
extremamente gratificante não só para a aluna, mas para os seus colegas de
turma e para mim. Segundo Lopes e Silva cit. por Rodrigues, P. B. (2012, p. 5)
“a aprendizagem cooperativa é uma metodologia com a qual os alunos se
ajudam no processo de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com
o professor, visando adquirir conhecimentos sobre um dado objeto”. Ainda
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
200
sobre esta definição Leitão cit. por Rodrigues, P. B. (2012, p. 7) define a
aprendizagem cooperativa como “uma estratégia centrada no aluno e no
trabalho colaborativo entre grupos, tendo a capacidade de se organizarem com
base na diferença, recorrendo a uma diversidade de atividades, formas e
contextos em que aprendem, de uma forma ativa, responsável, crítica e
reflexiva, a construírem a sua compreensão do mundo que os rodeia. Esta
forma de aprendizagem é importante devido a comportar “ situações nas quais
a dois ou mais indivíduos é permitido, encorajado ou exigido o trabalho
conjunto em determinada tarefa, coordenando os seus esforços para a
completar” (Arends, 2008, p. 369). Um dos motivos que me fez acreditar no
sucesso desta estratégia foi o facto da motivação, ser apontada na literatura,
como “um dos aspetos que é positivamente influenciado pelo trabalho de
grupo” (Rodrigues, P. B., 2012, p. 15), uma vez que os alunos se envolvem
mais nas tarefas e desenvolvem uma vontade intrínseca de aprender.
2ª Fase da Ação: Aulas, Reflexões e Colegas
A partir do momento em que me consciencializei dos problemas da
minha aluna e durante todo o não letivo, adotei uma postura mais interventiva,
motivadora e confiante, junto da mesma. Devo reforçar que nunca a tratei de
forma especial ou de uma forma que pudesse incomodar os meus restantes
alunos. Toda a turma percebeu de imediato que a Mafalda necessitava de mais
ajuda, de mais incentivo e mais atenção, aceitando e compreendendo os meus
comportamentos mais incisivos nela. A própria aluna tinha noção das suas
dificuldades e limitações.
“Consegui aprender a cair para o colchão, faltando apenas o salto. Este
do meu ponto de vista foi melhorando, pois nas últimas aulas da modalidade já
me sentia mais à vontade, embora continuasse com receio.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Salto em Altura)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
201
“Comecei por fazer a corrida direita para depois no tempo certo saltar,
mas nunca o consegui fazer uma vez que chegava ao lado do colchão e
bloqueava, ficando parada depois da corrida.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Salto em Altura)
Por estes motivos, a adaptação dos exercícios ao grau de dificuldade ou
capacidade da aluna foi a primeira estratégia implementada por mim para a
motivar e envolver nas aulas de Educação Física, uma vez que o professor
deve ser capaz de se adaptar “às diferenças individuais, respeitar os diversos
ritmos de aprendizagem” (Moran, J., 2000, p.1). A Mafalda tinha noção que por
vezes as tarefas das aulas eram adaptadas às suas capacidades, uma vez que
afirmou:
“Para me ajudar a superar estas dificuldades os meus colegas e
professores tentaram que me adaptasse melhor, fazendo modificações em
alguns exercícios para conseguir melhorar.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Voleibol)
Por exemplo no Voleibol, numa das aulas destinadas à aprendizagem do
Remate, senti necessidade de adaptar um dos exercícios no sentido de o
tornar concretizável para aluna e evitar o atraso crónico da mesma (Bento,
2003). Nesta tarefa pretendia-se que os discentes executassem um remate em
suspensão, tendo um colega a lançar a bola ao ar, colocando-a em boas
condições para a concretização do gesto técnico. Ao perceber que a Mafalda
não conseguiu sequer tocar na boca em nenhuma das tentativas que fez,
instrui-a no sentido de realizar o mesmo exercício e a mesma ação técnica,
mas tendo o colega a bola apoiada na sua mão até ao momento em que ela
efetuava o batimento. Embora não observasse uma execução perfeita,
consegui que a aluna mudasse a sua expressão corporal, uma vez que na
variante que não conseguia fazer apresentava uma postura mole, pouco
dinâmica chegando mesmo a ser apática, identificadora de uma desmotivação
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
202
tremenda e pouco empenho na tarefa, e na variante onde conseguia enviar a
bola para o campo adversário era muito mais assertiva nos movimentos,
demonstrava um sorriso de cada vez que conseguia tocar na bola e
interessava-se por recolher, junto a mim, informações e feedbacks para
melhorar a sua atuação. Desta forma, concordo que para motivar um aluno
com piores níveis de prestação motora seja preciso criar “condições que
permitam a prática acrescida, mais instrução, tarefas mais bem estruturadas,
mais encorajamento e atenção individualizada” (Mesquita e Rosado, 2011, p.
31).
“ Nesta modalidade comecei a tirar dúvidas com a Professora, o que me
ajudou, pois comecei a fazer melhor as ações do jogo.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Andebol)
Com o objetivo de fazer com que a minha aluna se sentisse igual a todos
os seus colegas de turma e de modo a encorajá-la para uma participação
enquanto membro de um grupo (Mesquita e Rosado, 2011, p. 31), incentivei-a
a liderar um dos momentos de ativação geral, realizados em todos os inícios de
aula. Esta tarefa pretendia que os meus alunos se tornassem mais autónomos
e desenvolvessem uma atitude mais ativa nas aulas de Educação Física, e
consequentemente adotassem comportamentos reveladores de respeito pelo
trabalho realizado pelos seus colegas. No entanto, considero que esta
responsabilização causou alguns transtornos na Mafalda, uma vez que na aula
em que desempenhou esta tarefa, sentiu-se pressionada e a sua reação não
foi a melhor.
“No princípio da nova matéria sentia-me desmotivada, pois achava que
não tinha competências, porque para mim o que estava a fazer não era
suficiente e depois de um alerta da Professora de como estava a fazer,
comecei a chorar e a entrar em pânico.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Corrida de Velocidade)
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
203
“Por outro lado, e uma situação que de engraçada não tem nada, foi a
ansiedade demonstrada pela aluna Mafalda, que à semelhança do primeiro
período, começou a chorar e não conseguiu controlar as emoções que sentiu
ao não conseguir realizar o que lhe estava a ser pedido. Associo esta explosão
de emoções ao facto de esta aluna ter liderado, pela primeira vez, o momento
destinado ao aquecimento, depois de se ter demonstrado insegura para o
fazer, contudo, optei por incentivar a aluna a desempenhar a tarefa, mesmo
percebendo que provocou algum desconforto, pois, para mim, foi uma forma de
lhe transmitir confiança e de a fazer sentir igual a todos os seus colegas da
turma, tendo a simples intenção de aumentar os seus níveis de autoconfiança.”
(Reflexão da aula n.º 43 e 44 – Atletismo (Velocidade))
Em compensação, uma outra estratégia que, no meu entender,
funcionou muito bem foi aplicada numa das aulas da Unidade Didática de
Dança e teve o mesmo objetivo da estratégia anterior, ou seja, transformar a
Mafalda numa aluna o mais normal possível. Tinha a perceção que a aluna se
sentia um pouco incomodada com as correções e chamadas de atenção que
lhe fazia de forma individual, sendo este também um dos motivos para aplicar
esta nova forma de interação com os alunos que apresentavam mais
dificuldades, pois é necessário “esbater as diferenças de oportunidades entre
grupos com características diferenciadas (…), no sentido de proporcionar a
todos condições favoráveis de aprendizagem” (Mesquita e Rosado, 2011, p.
30).
“Decidi enumerar alguns alunos que apresentam mais dificuldades na
execução da coreografia, entre os quais se encontrava a Mafalda, para que
estes estivessem mais atentos e participativos na explicação, mais lenta e
pormenorizada, que iria realizar na tentativa de os ajudar a ultrapassar as suas
dificuldades. (…) Foi notório o maior conforto e à vontade da aluna na
realização dos movimentos e, posteriormente, na integração destes mesmos
movimentos na coreografia. Como se não fosse suficiente a minha perceção de
sucesso da nova estratégia implementada, a aluna em questão dirigiu-se a
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
204
mim, no final da aula, dizendo que estava contente por perceber que não era
só ela que tinha dificuldades e que não foi só ela chamada à atenção e
rematou dizendo que com a minha ajuda todos poderiam melhorar muito na
Dança. Esta ocorrência não me podia ter deixado mais feliz, pois senti que
começo a saber lidar com as especificidades de cada aluno e adapto a minha
identidade profissional aos meus alunos.”
(Reflexão da aula n.º 76 – Dança)
Todas estas estratégias promoveram a melhoria da aluna e a sua
mudança de atitude em relação à disciplina de Educação Física, conforme
comprovam as declarações seguintes:
“Depois de “reaprender” a correr, a partida de blocos foi muito mais
simples, porque o principal problema estava ultrapassado, com a ajuda da
minha Professora. Comecei a ganhar mais autoestima e a minha motivação
disparou, começando a gostar mais da modalidade!”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Corrida de Velocidade)
“Com o meu empenho e sempre com o pensamento que não ia desistir
superei as minhas dificuldades e tenho de agradecer por isso aos meus
colegas de turma e Professores que nunca me deixaram desanimar.”
(Reflexão feita pela aluna - Unidade Didática de Corrida de Velocidade)
Percebi, a determinada altura do ano letivo, que também eu tinha
medos e receios em relação a ela. Considerava que a exploração de outros
contextos e de outras relações poderia não funcionar positivamente para o
desenvolvimento e melhoria da Mafalda, no entanto estava redondamente
enganada, visto que quando procedi a algumas mudanças fui positivamente
surpreendida e, inconscientemente promovi experiências e momentos
agradáveis e felizes para a discente.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
205
“Apostei numa mudança nos colegas que ajudam e apoiam a aluna ao
longo dos exercícios e da aula, não por considerar que os outros colegas não
estavam a desempenhar bem a função, mas sim como forma de experimentar
outros cenários. Concluo que, indiretamente, motivei a Mafalda uma vez que
esta se apresentou sorridente durante toda a aula, ativa e dinâmica nos
deslocamentos e ações durante o jogo, interagindo com os próprios colegas de
equipa, incentivando-os e ocupando posições favoráveis à sua intervenção nas
jogadas. Se numa fase inicial, considerava que o mais indicado seria manter
esta aluna no seu ambiente de conforto, resguardada de eventuais dificuldades
e adversidades, atualmente, afirmo que a Mafalda precisa de ser estimulada,
precisa de sentir que a Professora e os seus colegas confiam nela, sendo, para
isto, necessária a integração e o fomento das relações interpessoais. Não
tenho dúvidas que a atenção que direciono para as dificuldades, sentimentos e
problemas da Mafalda me têm permitido exigir mais dela e conhecê-la melhor,
sendo também este, na minha opinião, um dos principais motivos para a
motivação e empenho que a aluna demonstra aula após aula.”
(Reflexão da aula n.º 50 – Andebol)
“O jogo em equipas mistas fez com que aumentasse o ritmo de jogo
sendo assim mais acelerado e com decisões rápidas e assertivas em cada
jogada, tornando-se mais motivante para mim.”
(Reflexão feita pela aluna – Unidade Didática de Andebol)
Desta forma, é inegável o apoio e a mais-valia que os meus restantes
alunos foram nesta caminhada em busca da melhoria da Mafalda. Esta aluna
demonstrou sempre ter uma relação amistosa com os seus companheiros, no
entanto existem casos particulares de colegas com quem não se sente muito
confortável, tendo assistido a algumas situações que efetivamente dão motivos
à Mafalda para se sentir um pouco triste, gozada e inferiorizada. Numa das
primeiras aulas de Ginástica Acrobática, a Mafalda foi, por diversas vezes,
culpabilizada pelo facto da construção das figuras gímnicas não correr bem.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
206
Esta situação chamou a minha atenção e mereceu a observação daquele
grupo de trabalho em particular, na tentativa de perceber se efetivamente a
tarefa não estaria a funcionar devido àquela aluna. Isto não se confirmou,
percebendo que era uma outra discente que estava com algumas dificuldades
em trabalhar com a Mafalda e estava constantemente a implicar com ela.
Numa outra sessão de trabalho, agora no âmbito do Andebol, fui confrontada
com uma outra situação que me deixou um pouco indignada:
“ (…) para meu espanto, alegria e satisfação, observei um
comportamento inesperado na aluna, uma atitude lutadora e completamente
diferente das observadas até então. Vi, pela primeira vez, a Mafalda absorvida
pelo jogo, a atuar conforme era desejado, com um grande sorriso na cara. Pela
primeira vez elogiei-a sem sentir que estava, maioritariamente, a tentar motiva-
la, mas sim porque realmente ela me surpreendeu e superou as minhas
expectativas. Ao partilhar este acontecimento com a turma, de forma a dar um
exemplo de persistência e superação, reparei que a Jéssica (nome fictício)
iniciou uma série de comentários e risos um pouco perturbadores e
desconcertantes (…)”
(Reflexão da aula n.º 59-60 – Andebol)
Ao conversar com a Mafalda percebi que estes comportamentos eram
recorrentes e realizados de forma discreta, de modo a que eu não percebesse.
Estas situações fizeram com que a Mafalda me pedisse para não voltar a
trabalhar diretamente com a aluna, por se sentir inferiorizada e desmoralizada
com os comentários e atitudes da mesma. Como não poderia deixar de ser,
não me conformei com esta situação e tentei inverter a mesma, colocando, no
âmbito do MED, a Mafalda e a Jéssica na mesma equipa, monitorizando de
forma constante os seus comportamentos para que nada comprometesse os
progressos realizados pela Mafalda até então, pois para “além da capacidade
de difundir conhecimentos específicos da matéria da sua disciplina, é também
papel do professor transmitir, de forma consciente ou até inconscientemente,
valores, normas, formas de pensar e padrões de comportamento adequados e
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
207
aceitáveis para se viver em sociedade” (Almeida, J., Leandro, T., e Batista, P.,
2013, p. 210).
“Desta forma, justifica-se a amplitude de âmbitos em que a Educação
Física pode atuar, deixando de ser uma disciplina onde as crianças e jovens
apenas praticam exercício físico para se tornar um momento de crescimento e
formação integral do ser humano.”
(Reflexão da aula n.º 57-58 – Andebol)
Do ponto de vista positivo, e relativamente aos alunos que a Mafalda
identifica como sendo aqueles com quem mais se relaciona e identifica,
consegui obter informações importantes que me fizeram perceber que:
“É notória a melhoria sentida no desempenho da aluna Mafalda quando
estou algum tempo a trabalhar e a insistir com ela, no entanto, são vários os
alunos que relatam uma desmotivação e falta de vontade de fazer os exercícios
quando não é a professora a motivá-la e a transmitir-lhe confiança para que se
esforce e tente fazer o que é pedido.”
(Reflexão da aula n.º 16 e 17 – Voleibol)
Esta situação mereceu a minha reflexão e percebi que poderia estar
relacionada com uma necessidade constante da aluna em ser incentivada,
estimulada e até acarinhada, mas podia também ter uma razão camuflada
associada às situações relatadas anteriormente de algum gozo e de alguma
descredibilização do trabalho realizado com empenho e determinação por parte
da Mafalda. Tenho alguma dificuldade em acreditar que a aluna se recusasse a
treinar apenas por capricho, acreditando que a existência de um motivo inibidor
foi a justificação para estes comportamentos relatados pelos seus colegas.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
208
3ª Fase de Observação e Reflexão: Resultados
A última fase do processo de investigação foi concretizada através de
uma última entrevista (Anexo XX) com a aluna estudada. Esta minha opção
teve como objetivo fazer um ponto de situação de todas as conquistas ao longo
do ano, das melhorias sentidas pela discente, conseguindo assim chegar a
algumas conclusões reveladoras do sucesso ou insucesso da minha
intervenção. Neste diálogo e de acordo com o que já ficou evidente no ponto
anterior, a aluna afirmou:
“Eu acho que melhorei um bocadinho, não é que esteja muito boa como
os meus colegas que são todos uns desportistas, mas pelo menos sinto-me
mais à vontade nas aulas e acho que já consigo acompanhar melhor o que a
Professora faz, como os exercícios. Já não acho que seja tão complicado como
achava antes.”
(Entrevista 2)
Percebi que a minha intervenção foi uma importante ajuda para a
conquista das melhorias observadas por mim e sentidas pela aluna e os seus
colegas, não só nas aulas de Educação Física mas também no seu dia-a-dia e
em situações completamente banais, uma vez que a Mafalda afirmou que toda
a atenção que lhe dei, o facto de falar com ela e ter conversas onde ela
pudesse desabafar, fizeram com que perdesse a timidez, ganhasse confiança e
se sentisse incentivada, dando os seguintes exemplo:
“Se a professora nunca falasse para mim eu nunca fazia a aula,
desmotivava e desistia, foi o que aconteceu no 5º ano porque o professor não
queria saber (…) O facto de a Professora explicar para todos e não para uma
pessoa individual foi importante ao longo de todo o ano. Por exemplo hoje, a
professora podia ter chegado à minha beira e dizer aos outros para
continuarem a dançar que me ia explicar qualquer coisa a mim e não o fez,
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
209
explicou para todos. Isso foi bom, porque assim não me sinto excluída. Se
assim não fosse, aposto que não estava como estou, ainda era muito tímida e
continuava a não fazer nada.”
(Entrevista 2)
“Não passava lá em baixo no átrio, nunca subi aquelas escadas que
subi hoje porque tinha vergonha, era muita multidão. Era demasiado tímida e
se via alguém a olhar para mim ficava muito nervosa e tinha medo de cair.
Estava a descer as escadas e estava a pensar que ia cair e depois? Já viu a
vergonha que era!”
(Entrevista 2)
Neste sentido, achei curiosa a revelação feita pela aluna relativamente à
Unidade Didática de Dança, pois considero que revela uma reflexão, por parte
da mesma, sobre os impactos daquilo que conseguiu conquistar e melhorar na
sua aprendizagem, sendo um importante fator para o reconhecimento das
vantagens em prolongar esta fase positiva da sua vida.
“Se a dança fosse ensinada no primeiro período não corria tão bem de
certeza. Primeiro porque não conhecia a turma e segundo porque sou
envergonhada. Por exemplo quando a Professora me pôs à frente, ui que
vergonha! Sentia que estava muita gente a olhar para mim, mas mesmo assim
fiz o que a Professora pediu porque me ajudou ao longo de todo o ano e eu tive
confiança para estar ali à frente de toda a gente.”
(Entrevista 2)
A forma como a aluna se relaciona com os seus colegas de turma
influencia também a sua determinação e vontade de fazer as coisas. Pois
afirma envolver-se mais nas atividades e ter melhorado o seu relacionamento
com alguns dos seus colegas, dando os seguintes exemplos:
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
210
“Nos outros anos não fazia um terço do que faço este ano, no futebol,
por exemplo, andava a correr, a bola ia para ali e eu andava a correr para o
lado contrário, nem tocava na bola. Agora tento envolver-me mais nas coisas,
porque a turma também é diferente, já tenho mais confiança em mim, cresci.
(…) Por causa do trabalho do MED vou para casa da Jéssica (nome fictício)
para fazermos as camisolas, e parece que as coisas estão diferentes, e eu
também estou a fazer por isso. É uma evolução. Quando a professora me disse
que ia trabalhar com ela não fiquei muito contente, mas depois fui-me
habituando. Ela agora está diferente, ontem no intervalo chamou-me para a
beira dela e tudo.”
(Entrevista 2)
Através desta entrevista percebi que os restantes professores também
auxiliaram a Mafalda, estimulando-a e incentivando-a em situações onde não
se sentia confortável, como foi o caso relatado pela aluna e pela própria
Professora de Filosofia, acerca das apresentações orais, perante toda a turma,
de trabalhos, onde o seu desempenho foi exemplar.
Este ano de trabalho e dedicação corroborou a ideia que já possuía de
que o campo de ação de um Professor é muito mais vasto que apenas o
contexto das suas aulas. Sinceramente estou certa de que consegui atingir os
objetivos a que me propus, aquando da escolha desta temática para o
desenvolvimento do meu projeto de investigação-ação, transbordando
contentamento por ter consciência das implicações e melhorias que a minha
intervenção e ajuda tiveram na vida da minha aluna. Penso que nada espelha
tão bem os progressos e o estado atual da minha aluna do que a sua reflexão
final que, no meu entender, demonstra naturalidade e veracidade nas suas
palavras:
“Este ano letivo aprendi não só os conteúdos nas aulas de Educação
Física, mas também a ser mais confiante e mais segura de mim. Durante todo
o ano a Professora tentou que eu me adaptasse melhor à turma, ajudando-me
assim a ter confiança para enfrentar os obstáculos que surgiam.
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
211
Na primeira aula do ano comecei a chorar porque apesar do meu
empenho não conseguia fazer bons passes para os meus colegas na avaliação
diagnóstica de Voleibol. Era a minha insegurança, o meu medo de ficar vista
como a rapariga que não sabia jogar na turma e coisas do género. Felizmente
com a ajuda da Professora Mariana e graças ao seu apoio, não só nas aulas,
mas nas reuniões onde debatíamos os meus problemas, consegui melhorar.
Senti que fiquei mais confiante, com mais energia e mais entusiasmo para
fazer as aulas, mesmo quando a vontade não era muita. Com o apoio da
Professora, com os exercícios adaptados, que por vezes realizei, para melhorar
em cada modalidade, assim com o apoio da turma comecei a ter mais
incentivos, fazendo assim com que gostasse mais da disciplina.
Neste processo sinto que deixei para trás a rapariga que não praticava o
Salto em Altura e passei a ser a aluna que sorria nas aulas e dava sempre o
seu melhor, que participava e que conseguia acompanhar a coreografia de
Dança nas últimas aulas. Em cada modalidade sinto que melhorei. Para mim o
mais complicado foi o Atletismo porque nunca tinha conseguido fazer o Salto
em Altura e tinha dificuldades na Corrida de Velocidade. Consegui melhorar na
Corrida de Velocidade mas o salto para o colchão não consegui realizar. Outra
modalidade que me desafiou foi o Voleibol porque como também não tinha
muitas bases dos anos anteriores, foi complicado adquirir todos os
conhecimentos, apesar disso cheguei ao final a conseguir dominar os aspetos
básicos da Unidade Letiva. A Dança foi a Unidade Letiva que mais gostei
porque, além de ser a última e eu já sentir os meus progressos, era uma
experiência nova porque nunca tinha praticado Dança nas aulas de Educação
Física, dando-me mais motivação. Na Ginástica Acrobática fiquei num grupo de
quatro elementos, o que me permitiu melhorar os elementos de ligação entre
figuras da nossa coreografia mas, por outro lado, não fui muitas vezes base
pois existia uma grande diferença de alturas entre mim e os meus restantes
colegas. Na Unidade Didática de Futebol foi onde me senti meia perdida,
embora estivesse motivada, porque não consegui realizar algumas tarefas
porque me perdia entre os exercícios de ataque e defesa. Por fim, na
modalidade de Andebol senti que progredi uma vez que no princípio tinha
Capítulo 4 – Enquadramento operacional
212
dificuldades e com o passar das aulas consegui jogar com equipa sem medo
de errar.”
(Reflexão Final da Aluna)
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Capítulo 5 - O fim de um sonho sem
grandes perspetivas de repetição
Capítulo 5 – O fim de um sonho sem grandes perspetivas de repetição
219
“Tenho “olhado” muito para trás, para o início desta aventura e sinto
dificuldades em reconhecer a personagem principal, sendo indiscritível o que
provoca em mim a mudança tão acentuada que ocorreu dentro de mim. Aceito
e compreendo que esta mesma transformação não seja tão exteriorizada como
é interiorizada, pois também é certo que ninguém me conhece melhor do que
eu mesma, não sendo obrigatório que os outros percebam que a aspirante a
Professora cresceu.”
(Reflexão da aula n.º 90 – Futebol)
No final desta jornada, não me sinto capaz de partilhar aquilo que este
Estágio significou para mim, não consigo descrever todo o crescimento e
transformação de que fui alvo com esta experiência e mesmo não sendo o ano
prefeito que idealizava e que desejava devido a um constrangimento territorial,
estou certa que muitas aprendizagens foram realizadas, muitos sentimentos
foram sentidos, muitas memórias ficarão para sempre guardadas na minha
memória e no meu coração.
Ao longo deste ano de Estágio foram várias as pessoas que me
indagaram sobre este processo e se estaria a corresponder às minhas
expectativas. A minha resposta foi sempre a mesma, declarando que
infelizmente estava a correr muito bem e que as minhas expectativas, na maior
parte dos aspetos, estavam a ser superadas. Talvez não seja clara esta
resposta e, para a grande parte das pessoas, não faça sentido, no entanto,
esta experiência aumentou, em certa parte, a tristeza, a angústia e a revolta
que sinto e que é comum à generalidade dos jovens portugueses hoje em dia,
por se verem perante grandes dificuldades para exercer a sua profissão e
encontrar emprego na sua área de formação.
Foram muitos os anos de estudo e de investimento, foram inúmeros os
sacrifícios que fiz em conjunto com a minha família para conseguir uma
habilitação mais vasta que, em teoria, me daria mais segurança e um futuro
melhor e, por tudo isto, é desesperante olhar para o futuro e observar vários
caminhos no meu país, na minha cidade, perto da minha família e nenhum ser
Capítulo 5 – O fim de um sonho sem grandes perspetivas de repetição
220
aquele que tanto desejo. Talvez por sentir este desespero sempre que não
acredito num futuro risonho, insisto em procurar oportunidades e alternativas
que mesmo sendo dolorosas em alguns aspetos, como o afastamento da
minha família e do meu lar, me proporcionam alguma satisfação pessoal por
exercer a minha profissão, por me ser possível ensinar aquilo que aprendi
durante muitos anos e fazer aquilo de que gosto e mais prazer me dá.
Agarro-me a casos de familiares, amigos e conhecidos para perspetivar
as hipóteses do meu futuro. O arquipélago dos Açores foi e continua a ser um
local onde ainda existe alguma esperança para os Professores, é certo que não
se trata de um cenário ideal mas é ainda uma possibilidade, pelo menos num
futuro mais próximo que no continente. Angola surgiu no meu horizonte
recentemente, depois de ter conhecimento da abertura de uma nova escola de
língua portuguesa onde uma familiar conseguiu colocação, sendo uma porta
aberta onde se fala a minha língua materna. A realização de Estágios
Profissionais, as Atividades de Enriquecimento Curricular, os Ginásios e a
possibilidade de investir na aprendizagem de uma segunda língua que me
permita alargar a minha escolha no estrangeiro, são também hipóteses por
mim colocadas. Uma coisa é certa, não pretendo “desperdiçar” tantos anos de
boa formação.
Capítulo 5 – O fim de um sonho sem grandes perspetivas de repetição
221
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo.
que ninguém sabe quem é
( E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes
e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa (…)”
(Campos, 2013, pp. 35 - 40)
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Rosado, A. e Mesquita, I. (2011). Melhorar a aprendizagem optimizando a
instrução. In A. Rosado e I. Mesquita (Eds.), Pedagogia do desporto.
Cruz Quebrada: Edições FMH.
Referências Bibliográficas
230
Sá, V. (1997). Racionalidades e práticas na gestão pedagógica o caso do
director de turma. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional.
Santos, Á. A. d., Bessa, A. R., Pereira, D. S., Mineiro, J. P., Dinis, L. L., e
Silveira, T. (2009). Escolas de futuro 130 boas práticas de escolas
portuguesas. Porto: Porto Editora EPIS.
Schön, D. A. (1987). Educating the reflective practitioner. San Francisco:
Jossey-Bass Publishers.
Schön, D. A. (1992). Formar professores como profissionais reflexivos. In A.
Nóvoa (Ed.), Os professores e a sua formação (pp. 77 - 91). Lisboa:
Publicações Dom Quixote.
Silva, E. R. d. (2014). O modelo de estágio pedagógico em Educação Física:
Pontos fortes percebidos por estagiários e orientadores. In P. Queirós,
P. Batista e R. Rolim (Eds.), Formação inicial de professores: Reflexão e
investigação da prática profissional. Porto: Editora FADEUP.
Sousa, J. d., e Magalhães, J. (2006). Desporto escolar: Um retrato. Lisboa:
Ministério da Educação.
Vickers, J. N. (1990). Instructional design for teaching physical activities a
knowledge structures approach. Champaign, IL: Human Kinetics.
Anexos
Anexos
iii
Anexo I - Questionário das Características dos Alunos
Questionário
Este questionário, realizado no âmbito da disciplina de Educação Física, tem como propósito a recolha de dados necessários a um planeamento mais ajustado às características, gostos, necessidades e dificuldades de cada aluno. As respostas devem ser pessoais (não partilhar opinião com colegas) e sinceras.
Nome completo:
Idade: Data de Nascimento:
Tens algum problema de saúde que possa condicionar a tua participação na aula de Educação Física?
Se sim, qual?
Modalidade(s) que pratica(s) atualmente: ___________________________________________________________ A nível Federado? Sim Não
Modalidade(s) praticada(s) no passado: ___________________________________________________________ A nível Federado? Sim Não
Escolhe a opção que melhor se adequa à perceção que tens do teu rendimento em cada uma das
seguintes modalidades:
Não gosto e tenho
dificuldades
Não gosto mas não tenho
dificuldades
Gosto mas tenho dificuldades
Gosto e não tenho
dificuldades
Voleibol
Andebol
Badminton
Ginástica Acrobática
Atletismo (Velocidade e Salto em
Altura)
Ténis
Dança
Futebol
Gostas da disciplina de Educação Física? Justifica a tua resposta.
Anexos
iv
O/A Professor(a) __________________________________
O que esperas da disciplina de Educação Física?
E do(a) Professor(a)?
Anexos
v
Anexo II – Roulement
Anexos
vi
Anexos
vii
Anexo III – Planeamento Anual 2014/2015
Ano 7º ano 8º ano 9º ano 10º ano 11º ano 12º ano
PLANIFICAÇÃO TEÓRICA
ACTIVIDADES FÍSICAS
MATÉRIAS NUCLEARES
Cap. Cond. E Coord. Desporto e Saúde Fair-Play Teoria das
modalidades Teoria das
modalidades Teoria das
modalidades
Período 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º
A
FUTEBOL 17 12
VOLEIBOL 20 20 20
BASQUETEBOL 18 20
ANDEBOL 16 14
B
GIN. SOLO
GIN. APAR
ACROBÁTICA 10 11 10
C TÉC. DE CORRIDA/
RESISTÊNCIA Trabalhadas ao longo do ano
VELOCIDADE 3 3
ESTAFETAS
BARREIRAS 4
S. COMPRIMENTO 4
S. ALTURA 3
LANÇ DO PESO 3
TRIPLO SALTO
D DANÇA 5 4 4
E BADMINTON 8 10 8
F TÉNIS 8 5 10
G
ALTERNATIVAS:
NATAÇÃO
G. RÍTMICA
ORIENTAÇÃO
Anexos
viii
LUTA/JUDO
TAGRUGBY 3
Total conteúdos 24 23 13 24 23 13 37 35 17 38 32 23 38 32 20 38 32 20
Aulas de reserva 2 1 1 2 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
Total 26 24 14 26 24 14 39 36 18 39 33 24 39 33 21 39 33 21
Nota: as aulas de reserva destinam-se à realização da avaliação diagnóstica e das autoavaliações.
Anexos
ix
Anexo IV – Planeamento dos Períodos
Planeamento 1º Período
3ª Feira 5ª Feira
1ª Semana (15/09-19/09) G1 Apresentação G1 Voleibol (1/2)
2ª Semana (22/09-26/09) G2 Voleibol (3) G2 Voleibol (4/5)
3ª Semana (29/09-03/10) G3 Voleibol (6) G3 Voleibol (7/8)
4ª Semana (06/10-10/10) G4 Voleibol (9) G4 Voleibol (10/11)
5ª Semana (13/10-17/10) G5 Ginástica (1) G5 Ginástica (2/3)
6ª Semana (20/10-24/10) G1 Ginástica (4) G6 Voleibol (12/13)
7ª Semana (27/10-31/10) G2 Ginástica (5) G1 Voleibol (14/15)
8ª Semana (03/11-07/11) G1 Voleibol (16) G1 Ginástica (6/7)
9ª Semana (10/11-14/11) G2 Voleibol (17) G2 Ginástica (8/9)
10ª Semana (17/11-21/11) G3 (AD) Andebol (1) G3 Ginástica (10/11)
11ª Semana (24/11-28/11) G4 Voleibol (18) G4 Torneio Voleibol (19/20)
12ª Semana (01/12-05/12) G5 Ginástica (12) G5 Ginástica (AS) (13/14)
13ª Semana (08/12-12/12) G1 Torneio Voleibol (21) G6 Voleibol (AS) (22/23)
14ª Semana (15/12-16/12)
Planeamento 2º Período
3ª Feira 5ª Feira
1ª Semana (05/01-09/01) G1 Salto em Altura G1 Salto em Altura
2ª Semana (12/01-16/01) G2 Andebol G2 Andebol
3ª Semana (19/01-23/01) G3 Velocidade G3 Velocidade
4ª Semana (26/01-30/01) G4 Andebol G4 Andebol
5ª Semana (02/02-06/02) G5 Ténis G5 Ténis
6ª Semana (09/02-13/02) G1 Ténis G6 Andebol
7ª Semana (16/02-20/02) G2 Andebol G1 Ténis
8ª Semana (23/02-27/02) G1 Desporto Adaptado G1 Desporto Adaptado
9ª Semana (02/03-06/03) G2 Andebol G2 Andebol
10ª Semana (09/03-13/03) G3 AD Futebol G3 AS Andebol
11ª Semana (16/03-20/03) G4 Andebol G4 Andebol
Anexos
x
Planeamento 3º Período
3ª Feira 5ª Feira
1ª Semana (07/04-10/04) G5 Preparação do simulacro G5 Dança (1-2) + Futebol (1)
2ª Semana (13/04-17/04) G1 Dança (3) G6 Futebol (2-3)
3ª Semana (20/04-24/04) G2 Futebol (4) G1 Futebol (5-6)
4ª Semana (27/04-01/05) G1 Dança (6) G1 Futebol (7-8)
5ª Semana (04/05-08/05) G2 Futebol (9) G2 Dança (7-8)
6ª Semana (11/05-15/05) G3 Dança (9) G3 Futebol (10-11)
7ª Semana (18/05-22/05) G4 Dança (10) G4 Futebol (12-13)
8ª Semana (25/05-29/05) G5 Dança (11) G5 Dança (12-13)
9ª Semana (01/06-05/06) G1 Dança (14) G6 Futebol (14-15) - AS
10ª Semana (08/06-12/06) G2 Dança (15) - AS G1 Futebol (16-17) - EC
Legenda:
AD – Avaliação Diagnóstica;
AS – Avaliação Sumativa
EC – Evento Culminante
Anexos
xi
Anexo V – Exemplo de Unidade Didática
Unidade Didática de Voleibol 10ºI
Cu
ltu
ra
Des
po
rtiv
a Regulamento
AD
AS
Simbologia e Terminologia
Regras de Segurança
Hab
ilid
ades
Mo
tora
s
Técn
ica
Posição Fundamental
Média I/E E E E C
Baixa I/E E E E C
Passe de Frente Apoio I/E E E E C
Suspensão I/E E E E C
Deslocamentos
Ântero-posteriores
I/E E E E C
Laterais I/E E E E C
Serviço Baixo I/E E E E C
Cima I/E E E E E C
Manchete I/E E E E E C
Remate I/E E E E C
Data da Aula 18-09 23-09 25-09 30-09 2-10 7-10 9-10 14-10 16-10 21-10 23-10 28-10 30-10
Espaço da Aula G1 G2 G2 G3 G3 G4 G4 G5 G5 G1 G6 G2 G1
Duração da Aula 100’ 50’ 100’ 50’ 100’ 50’ 100’ 50’ 100’ 50’ 100’ 50’ 100’
Aula Número 1 e 2 3 4 e 5 6 7 e 8 9 10 e 11 12 13 e 14 15 16 e 17 18 19 e 20
Anexos
xii
Táti
ca
Noção de Oposição I/E E E C
Noção Recebedor / Não recebedor I/E E C
Noção da variabilidade das opções de ataque
AD
I/E E E E E C
AS
Abrir Espaço I/E E E C
Prosseguir I/E E E C
Transição I/E E E E C
Ajustamento I/E E E E C
Retorno I/E E E C
2x2 I/E E E E C
3x3 I/E E E E E C
Fisi
olo
gia
do
tre
ino
e C
on
diç
ão F
ísic
a
Cap
acid
ades
Co
ord
enat
ivas
Orientação Espacial
Diferenciação Cinestésica
Reação
Ritmo
Equilíbrio
Cap
acid
ades
Co
nd
icio
nai
s
Resistência
Força
Velocidade
Flexibilidade Dinâmica
Co
nce
i
tos
Psi
cos
soci
ais
Sócio Afetivos (Respeito, Cooperação, Espírito de Equipa, Aceitação, Fairplay)
Anexos
xiii
Psicológicos (Empenho, Determinação, Motivação, Coragem, Autonomia,
Concentração, Auto Confiança, Superação)
Legenda
AD – Avaliação Diagnóstica
I – Introdução
E – Exercitação
C – Consolidação
AF – Avaliação Formativa
AS – Avaliação Sumativa
Anexos
xiv
Anexo VI – Exemplo de Plano de Aula
Parte Inicial da Aula
Docente: Mariana Silva Data: 27/11/2014 Hora: 15h:30m
Unidade Didática de Voleibol aula nº 19 e 20 de 23
Tempo de aula: 90’
Plano de Aula Nº 32 e 33 Espaço: G4
Turma 10ºI Nº de Alunos: 28
Função Didática: Torneio 3x3.
Objetivos Específicos: - Motores: Exercitar através da forma jogada 3x3 as ações técnicas do passe, manchete, remate, serviço por baixo e por cima, e deslocamentos e as ações táticas de ajustamento, comunicação e noção receber/não recebedor. - Cognitivos: Perceber os comportamentos do jogo 3x3.
- Sócio-Afetivos: Ter presente o espírito de cooperação e entreajuda durante todos os
exercícios da aula.
- Condição Física: Desenvolver a resistência, a força e a velocidade de reação.
Material: 4 Bolas; Sinalizadores; Rede de Voleibol; 6 Bolas Medicinais; 8 Cordas.
Situação de Aprendizagem e Organização Metodológica
Representação Gráfica
Componentes Críticas
5’
Ativação Geral Os alunos distribuídos pelo espaço de aula realizam: - Mobilização dos membros superiores; - Rotação do tronco e pulsos; - Skipings; - Nadegueiros; - Saltos de coelho; - Caminhar de cócoras agarrado aos tornozelos; - Saltos de Kanguru; - Rotação da cabeça, anca, joelhos e pés.
- Não parar de correr; - Mobilizar de forma consecutiva as diferentes articulações do corpo; - Realizar skipings e nadegueiros de forma ritmada.
Anexos
xv
Parte Fundamental da Aula
10’
Aquecimento Específico
Dois a dois, do mesmo lado da rede, os alunos realizam:
- Passe; - Manchete;
Cada equipa realiza ataque à rede, estando sempre um aluno a desempenhar a função de passador;
Todos os alunos, realizam serviços na mesma direção.
- Trabalhar em equipa de forma dinâmica;
65’
Torneio 3x3 Turma dividida em quatro equipas de três elementos + quatro equipas de quatro elementos (rodam ao serviço), realizam jogo 3x3, respeitando as regras da modalidade. Os alunos que não estão a jogar informam os colegas sobre o seu desempenho. As equipas competirão entre si tendo de festejar cada ponto conquistado. As equipas derrotadas devem realizar cinco saltos de kanguru. Duração de cada jogo: 5’. Ordem de rotação: para a esquerda;
Gerais: - Desloca-se rapidamente para receber a bola nas melhores condições; - Mantém a posição fundamental, com os joelhos semi-fletidos; - Diz “minha” para avisar os colegas que vai à bola; Passe: - Mãos a cima e à frente da testa com os dedos a formar um triângulo; - Estender os braços e as pernas no momento do passe; - Coloca a bola muito alto; Manchete: - Braços esticados e mãos unidas à frente do corpo; - A bola toca nos antebraços; - Afastar os braços do tronco e “cola o peito cola às costas”; Remate: - A chamada é iniciada só depois da bola sair das mãos do passador; - O primeiro passo da chamada é mais longo e os dois passos seguintes são mais curtos e seguidos; - Os braços ajudam no movimento de impulsão; - A bola é batida à frente e acima da cabeça, com a mão aberta e
Anexos
xvi
Parte Final da Aula
de cima para baixo; Serviço por baixo: - Coloca a bola à frente da mão que faz o batimento; - Roda e avança a bacia imediatamente antes do batimento na bola; - Bate a bola com a mão aberta e esticada. Serviço por Cima: - Bloqueia o ombro e bate a bola com o braço esticado; - Tens que terminar o batimento em equilíbrio;
10’
Condição Física Espaço da aula dividido em 5 estações. Os alunos, divididos equitativamente, passam por todas as estações 2x, realizando durante 30s:
• Lançar uma bola medicinal contra a parede e realizar agachamento;
• Saltos de corda; • Burpeeis; • Lounge; • Abdominais (deitado no
chão com as pernas ligeiramente levantadas do chão);
Tempo de descanso entre uma estação e outra: 20seg.
- Atirar uma bola medicinal contra a parede e realizar agachamento: manter as costas direitas e esticar os braços no momento do lançamento da bola contra a parede; - Saltar à corda: Não parar; - Burpeeis: Prancha e salto de kanguru; - Lounge: Manter o tronco direito e manter os braços parados na anca ou a realizar movimento contra lateral em relação às pernas; - Abdominais: Fazer força na barriga.
Anexos
xvii
Anexo VII – Exemplo de Grelha de Avaliação Diagnóstica (Voleibol)
Alunos Conteúdos
Técn
ica
Passe
Mãos afastadas em cima e à frente da testa formando triângulo
Flexão/Extensão simultânea dos MI e MS
Manchete Extensão e união dos MS à frente do corpo
Contactar a bola no antebraço
Serviço por Baixo
Pé contrário ao MS do batimento mais avançado Batimento de trás para a frente com a palma da mão
estendida
Táti
ca
Jogo 2x2
Noção recebedor / Não recebedor Ajustamento
Transição
Legenda: NF (Não Faz) – Não realiza nenhum dos critérios; F (Faz) – Realiza pelo menos um dos critérios; FB (Faz Bem) – Realiza todos os critérios.
Observações:
Turma : _______________________________
Data: ________________________________
Professor Avaliador: _____________________
Anexos
xviii
Anexo VIII – Exemplo de Grelha de Avaliação Sumativa (Atletismo)
AVALIAÇÃO SUMATIVA 10ºI
ALUNOS
CONTEÚDOS
Alu
no
1
Alu
no
2
Alu
no
3
Alu
no
4
Alu
no
5
Alu
no
6
Alu
no
7
Alu
no
8
Alu
no
9
Alu
no
10
Alu
no
11
Alu
no
12
Alu
no
13
Alu
no
14
Alu
no
15
Alu
no
16
Alu
no
17
Alu
no
18
Alu
no
19
Alu
no
20
Alu
no
21
Alu
no
22
Alu
no
23
Alu
no
24
Alu
no
25
Alu
no
26
Alu
no
27
Alu
no
28
Sa
lto
em
Alt
ura
Corr
ida
Pre
pa
rató
ria Realizar uma trajetória curvilínea, na
fase final da CP
Adotar uma velocidade rápida
Ter em conta a distância lateral e perpendicular à linha da fasquia
(Demarcação da CP)
Impu
lsão Impulsionar o corpo
predominantemente para cima
Realizar uma ação simultânea, dinâmica e enérgica dos segmentos
livres
Tra
nsp
osiç
ão
Arquear a posição corporal
Transpor a fasquia de forma faseada: primeiro o MS do MI livre, seguido da cabeça, tronco, pernas e, por fim, os
pés.
Anexos
xix
Rece
çã
o
de
Co
sta
s
Realizar a receção de costas no colchão de queda
C
orr
ida
de
Ve
loc
ida
de
Fase
de
Re
açã
o
Respeitar as vozes de partida: “Aos seus lugares”, “Pronto” e “Sinal de
partida”
“Aos seus lugares” - peso equitativamente distribuído pelos MI, com um pé ligeiramente à frente do
outro e o tronco numa posição vertical.
“Pronto” - Assentar o peso fundamentalmente no MI adiantado e inclinar fortemente o tronco/cabeça
para a frente.
“Sinal de partida” – Realizar uma ação muito dinâmica dos MI e dos MS e
manter uma forte inclinação do tronco para a frente durante os primeiros
passos.
Fase
de
Ace
lera
ção
Alcançar a velocidade máxima tão rápida quanto possível
Aumentar a amplitude e a frequência simultaneamente
Anexos
xx
Fase
Ma
xim
al Reduzir os tempos de apoio e
suspensão
Realizar movimentos rápidos, dinâmicos, coordenados e eficientes
Fase
de
Resis
tên
cia
Perder o mínimo de velocidade após atingir a velocidade máxima
Legenda: - Faz; X – Não Faz
Anexos
xxi
Anexo IX – Contrato do Capitão (MED)
Anexos
xxii
Anexo X – Estrutura de Proposta de Exercício (MED)
Equipa (Exemplo): Os Invencíveis- 4 Data: (Exemplo) 14/04/2015 Hora: 12h:30m
Unidade Didática de Futebol Tempo de aula: (Exemplo) 45’
Conteúdo: (Exemplo) Passe e Receção
Material (Exemplo): 5 Bolas, Sinalizadores, 10 Cones.
Situação de Aprendizagem e Organização Metodológica
Representação Gráfica Componentes Críticas
8’
Passe e Receção - Grupo 1
A turma organizada por equipas, cada equipa distribuída em duas filas, uma à frente da outra. O jogador A passa a bola para o jogador B, por sua vez o jogador B passa a bola ao jogador C e assim sucessivamente. Sempre que algum jogador realiza um passe deve deslocar-se para o fim da fila contrária, realizando alguns movimentos de ativação geral (rodar braços, realizar skippings).
- Realizar o passe com a zona interior do pé; - Parar a bola antes de realizar novo passe; - Moderar a força nos passes;
10’
Passe e Receção – Grupo 4
A turma dividida por equipas realiza o seguinte exercício: o jogador A passa para B, B após passe de A faz tabela com A que volta a devolver a B que passa para C, C ao receber de B faz tabela com ele e conduz até ao final da fila para entregar ao jogador que está no cone.
- Realizar o passe com a zona interior do pé; - Parar a bola antes de realizar novo passe; - Moderar a força nos passes; - Deslocar-se rapidamente, assumindo a nova posição;
Passe e Receção – Grupo 5
A mesma organização dos exercícios anteriores (por equipas), realizam o seguinte exercício: A passa para B, este devolve para A que realiza u passe diagonal para C. C passa para D, este devolve para C que realiza um passe na diagonal para o jogador que se encontra na posição A. Esta sequência repete-se durante todo o exercício e sempre que finalizam a sua atuação os jogadores avançam uma posição, ou seja, o jogador que estava na zona A passa para a zona B e assim sucessivamente.
- Realizar o passe com a zona interior do pé; - Parar a bola antes de realizar novo passe; - Moderar a força nos passes; - Deslocar-se rapidamente, assumindo a nova posição;
Anexos
xxiii
Anexo XI – Estruturação da Unidade Didática de Dança e Futebol (MED)
DANÇA
1ª Semana (09-04-2015) Introdução de jogos de expressão corporal e da coreografia
2ª Semana (14-04-2015) Exercitação de jogos de expressão corporal e da coreografia
3ª Semana (23-04-2015) Preparação das coreografias de grupo
4ª Semana (28-04-2015) Preparação das coreografias de grupo
5ª Semana (05-05-2015) Apresentação do Grupo 1
6ª Semana (12-05-2015) Apresentação do Grupo 2
8ª Semana (26-05-2015) Apresentação do Grupo 3
8ª Semana (28-05-2015) Apresentação do Grupo 4 e 5
9ª Semana (02-06-2015) Preparação para a Avaliação Sumativa - Treino
10ª Semana (09-06-2015) Treino e Avaliação Sumativa
FUTEBOL
1ª Semana (09-04-2015) Introdução do Jogo 5x5
2ª Semana (16-04-2015) Introdução dos conteúdos técnicos “Passe” e “Receção” e dos conteúdos táticos “Penetração” e “Contenção”
3ª Semana (21-04-2015) Introdução dos conteúdos técnicos “Controlo de bola” e “Condução de Bola” e exercitação dos conteúdos táticos “Penetração” e “Contenção”
4ª Semana (30-04-2015) Introdução do conteúdo técnico “Remate” e dos conteúdos táticos “Cobertura ofensiva” e “Cobertura defensiva”
5ª Semana (07-05-2015) Introdução dos conteúdos técnicos “Finta” e “Desarme” e exercitação dos conteúdos táticos “Cobertura ofensiva” e “Cobertura defensiva”
6ª Semana (14-05-2015) Competição
7ª Semana (19-05-2015) Competição
7ª Semana (21-05-2015) Competição
9ª Semana (04-06-2015) Avaliação Sumativa
10ª Semana (11-06-2015) Evento Culminante
Anexos
xxiv
Anexo XII – Documento explicativo do MED
Modelo de Educação Desportiva
Grandes propósitos do desporto
EDUCAR, FORMAR, ADQUIRIR COMPETÊNCIAS
Desenvolver competências de vida que permitam às crianças e jovens
participar ativamente com confiança, responsabilidade e segurança na
sociedade.
Objetivo prioritário do ensino do desporto na escola
Enfatizar a dimensão social, pedagógica e educativa do desporto, promovendo
a filiação dos jovens ao desporto para a vida
MODELO DE EDUCAÇÃO DESPORTIVA
Siedentop (1994)
Enfatiza o papel socializador do Desporto, através de um papel ativo do
praticamente na organização das tarefas subsidiárias ao jogo e no próprio jogo.
Anexos
xxv
OBJETIVOS DO MED
Formar pessoal e socialmente: considerar a pessoa que mora no
praticante;
Promover aprendizagens contextualizadas: promover experiências
educacionalmente ricas e autênticas na aula de educação física;
Formar alunos desportivamente literatos, competentes,
entusiastas.
Literacia Desportiva
Tornar o jovem um cidadão desportivamente culto que distingue a boa
da má prática desportiva, que identifica os valores do desporto, que identifica
as regras, tradições e rituais do Futebol e que identifica especificidades
características da modalidade.
“Tornar-se consumidor desportivo mais criterioso, tanto como participante,
espectador, fã, etc. Contribuir para uma cultura desportiva mais segura e sã.”
Competência Desportiva
O aluno desportivamente competente apresenta capacidades suficientes
para participar no jogo de forma satisfatória. São alunos confortáveis e
confiantes nas várias etapas de aprendizagem do jogo (Componentes tático-
técnicas e Ações sem bola)
Competência percebida: sem esta não é possível construir o
compromisso de se manter os alunos ligados à modalidade ou ao Desporto no
seu âmbito mais geral.
Anexos
xxvi
Aluno Entusiasta
O aluno entusiasta participa e comporta-se de forma a preservar,
proteger e realçar uma cultura desportiva, tanto numa comunidade local como
nacional.
Continua a participar ativamente no Desporto pelas experiências
desportivas que vive durante a participação neste modelo, tornando-se
praticante da modalidade de Futebol em clubes locais ou, até mesmo,
tornando-se voluntário de eventos ligados à modalidade.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS DO MED
Competência
Desenvolver as habilidades e a condição física específica do Futebol;
Apreciar e ser capaz de executar taticamente um jogo de Futebol;
Participar a um nível apropriado à sua habilidade e experiência;
Trabalhar em grupo para atingir objetivos comuns.
Literacia
Partilhar responsabilidades no planeamento e gestão da experiência
desportiva;
Assumir liderança responsável no contexto desportivo;
Trabalhar eficazmente dentro da equipa para atingir objetivos comuns;
Conhecimento sobre os papéis a desempenhar.
Entusiasmo
Apreciar os rituais e convenções que dão um significado singular a cada
Desporto;
Desenvolver a capacidade de tomar decisões racionais acerca dos
problemas desportivos;
Envolver-se voluntariamente no Desporto fora da escola.
Anexos
xxvii
MED E A COMPETIÇÃO
O MED promove a rivalidade entre equipas, a festividade entre os
jogadores e a competência em todas as ações do jogo.
MED E A INCLUSÃO
O MED reduz as barreiras no envolvimento no Desporto (Nível e Sexo).
Desporto para todos e com todos
CARACTERÍSTICAS DO MED
Anexos
xxviii
Anexos
xxix
CARACTERÍSTICAS DAS ESTRATÉGIAS PARA O ENSINO DOS JOGOS
Criar um envolvimento social na aula, onde os alunos:
Aprendam a observar e a cooperar com os companheiros;
Onde se instale uma cultura orientada para o bom jogo.
TAREFAS PARA A TURMA DO 10ºI NO ÂMBITO DO MED
Definir um nome, um capitão, uma cor e um grito para a sua equipa.
De forma opcional, podem criar um lema e um hino que será
valorizado na nota desta modalidade;
Construir um prémio até dia 28 de Maio, que será entregue no
Evento Culminante (11 de Junho);
Equipa Prémio a construir
1 Equipa com mais vitórias
2 Equipa mais festiva
3 Equipa com mais Fair-play
4 Equipa mais unida
5 Equipa mais pontual e assídua
Propor exercícios para os conteúdos técnicos do Futebol;
Realizar uma avaliação sistemática do trabalho e empenho dos
elementos da equipa;
Realizar uma avaliação sistemática do desempenho da equipa que,
em cada aula, instruir um exercício;
Fazer estatística dos jogos de Futebol;
Anexos
xxx
Anexo XIII – Ficha de Avaliação (MED)
Ficha de Avaliação
Unidade Didática de Dança e Futebol
Nome
Unidade Didática
Data
Trabalho
Avaliação do empenho e trabalho na tarefa de grupo
Muito Pouco Nenhum
Ana Moreira
Daniela Santos
João Rodrigues
Pedro Ferreira
Sara
Tiago
Observações:
Anexos
xxxi
Anexo XIV – Ficha de Avaliação da Instrução do exercício (MED)
Ficha de Avaliação do desempenho da equipa na instrução do exercício
Unidade Didática de Dança e Futebol
Nome do Avaliador
Nome da Equipa Avaliada
Unidade Didática
Data
Trabalho
Avaliação do desempenho da equipa na instrução do exercício
Muito Pouco Nenhum
Ana Moreira
Daniela Santos
João Rodrigues
Pedro Ferreira
Sara
Tiago
Observações:
Anexos
xxxii
Anexo XV – Ficha de Estatística (MED)
Ficha de Jogo de Futebol
Nome:
Data:
Equipa: Equipa:
Jogadores Golos Jogadores Golos
Resultado Final: _____x_____
Avaliação do FAIR PLAY (S -1 ponto ou N – 0 pontos)
Equipa: S/N Pontos Equipa: S/N Pontos
Aceita as decisões do árbitro
Aceita as decisões do árbitro
Encoraja com calma os colegas
Encoraja com calma os colegas
Cumprimenta os adversários
Cumprimenta os adversários
TOTAL
TOTAL
Ficha de Observação do Jogador - Futebol
Jogador Observado: Jogador Observador:
Jogo: Data:
Elementos Avaliados
Critérios Ocorrências TOTAL
Adaptação ao Jogo
Bolas perdidas
Disponibilidade para o jogo
Bolas recebidas
Capacidade Ofensiva
Passes para colegas
Remates
Nº de golos
Anexos
xxxiii
Anexo XVI – Lista de Equipas e Capitães (MED)
Grupos
Unidade Didática de Dança e Futebol
Grupo 1 Grupo 2 Grupo 3 Grupo 4 Grupo 5
Ana Moreira Alexandre Ana Catarina Catarina Cláudio
Daniela Santos
Beatriz Cristiana Daniela Camões
Diana
João Rodrigues
Cátia Gonçalo
Bravo David Matilde
Pedro Ferreira Fábio João Lopes Gonçalo Oliveira
Miguel
Sara Sofia Ricardo João Melo Pedro
Mendes
Tiago Telma Rafaela
Legenda:
Capitão da equipa nas aulas de Futebol
Capitão da equipa nas aulas de Dança
(* Os alunos que estão assinalados são apenas sugestões minhas, podendo
ser alterados. Deixo ao vosso critério.)
Anexos
xxxiv
Anexo XVII – Autorização para Estudo de Investigação-Ação
Exmo. Sr. Encarregado de Educação,
Venho por este meio solicitar autorização para a participação da sua educanda,
Catarina Tavares Pires Guimarães Silva, num Estudo de Investigação-Ação,
realizado no âmbito do Estágio Profissional, que realizo ao longo do ano letivo
2014/2015, junto da turma 10ºI, da Escola Secundária de Rio Tinto. Este
estudo é de extrema importância e seriedade sendo um requisito obrigatório
para a conclusão do Mestrado de Ensino de Educação Física nos Ensinos
Básicos e Secundário, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Os
dados recolhidos serão apenas usados para este fim.
Agradeço desde já a compreensão e colaboração.
Com os melhores cumprimentos,
A Professora Estagiária
(Mariana Ribeiro da Silva)
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Eu, ____________________________________________, Encarregado de
Educação da aluna Catarina Tavares Pires Guimarães Silva, nº5, da turma I do
10º ano, da Escola Secundária de Rio Tinto, autorizo a participação no Estudo
de Investigação-Ação.
O Encarregado de Educação
Rio Tinto, _____/_____/ 2014 __________________________
Anexos
xxxv
Anexo XVIII – Consentimento para Estudo de Investigação-Ação
Cara aluna,
Venho por este meio solicitar o seu consentimento para a participação num
Estudo de Investigação-Ação, realizado no âmbito do Estágio Profissional, que
realizo ao longo do ano letivo 2014/2015, junto da turma 10ºI, da Escola
Secundária de Rio Tinto. Este estudo é de extrema importância e seriedade
sendo um requisito obrigatório para a conclusão do Mestrado de Ensino de
Educação Física nos Ensinos Básicos e Secundário, da Faculdade de Desporto
da Universidade do Porto. Os dados recolhidos serão apenas usados para este
fim.
Agradeço desde já a compreensão e colaboração.
Com os melhores cumprimentos,
A Professora Estagiária
(Mariana Ribeiro da Silva)
----------------------------------------------------------------------------------------------------------
Eu, ____________________________________________, aluna nº5, da
turma I do 10º ano, da Escola Secundária de Rio Tinto, consinto a participação
no Estudo de Investigação-Ação.
A aluna
Rio Tinto, _____/_____/ 2014 __________________________
Anexos
xxxvi
Anexo XIX – Guião da primeira entrevista
Guião da Primeira Entrevista
1. Tendo em conta que é o primeiro ano que frequentas a Escola
Secundária de Rio Tinto, gostaria de saber como te sentes e quais a
principais diferenças que reconheces comparativamente com a tua
antiga escola.
2. O que achas dos Professores? E dos teus colegas de escola e de
turma?
3. Alguma vez tiveste alguma experiência menos boa num contexto
escolar? Alguma vez foste alvo de gozo ou brincadeira por parte dos
teus colegas de escola ou de turma?
4. Os teus Professores sempre te ajudaram a superar as tuas dificuldades
e disponibilizaram-se para esclarecer as tuas dúvidas?
5. Em relação à disciplina de Educação Física, porque não reconheces
competências nos exercícios que executas ao longo das aulas?
6. O facto de não conseguires fazer algum exercício motivou os teus
colegas de turma a fazer comentários sobre ti e as tuas dificuldades,
fazendo com que te sentisses inferiorizada perante eles?
7. Por ter sido uma situação que me preocupou e chamou a minha
atenção, gostaria que me explicasses porque começaste a chorar na
primeira aula do ano letivo? Quais os motivos que te levaram a ter
aquela reação?
Anexos
xxxvii
8. Tens uma boa relação com os teus colegas de turma? Sentes-te
ajudada e apoiada por eles nas aulas de Educação Física? Consegues
identificar os alunos que mais te ajudam e incentivam nas aulas?
9. Gostava que me falasses um pouco sobre a tua família? Vives com os
teus pais? Tens irmãos? Eles ajudam-te quando precisas, fazendo com
que te sintas apoiada em todos os momentos da tua vida?
Anexos
xxxviii
Anexo XX – Guião da segunda entrevista
Guião da Segunda Entrevista
1. Depois de quase um ano onde te ajudei a perceber que podes conseguir
atingir os teus objetivos se acreditares mais em ti, como te sentes no teu
dia-a-dia? Alguma coisa mudou? Sentes-te mais motivada,
entusiasmada, com menos receio e mais coragem para enfrentar os
obstáculos e adversidades da vida?
2. Consideras que efetivamente te ajudei, de alguma forma, ao longo deste
ano letivo? Sentiste melhorias nas aulas de Educação Física?
Consegues destacar o que mais te ajudou? Será que foram as
conversas que tivemos? As explicações que te dei ao longo das aulas?
Os incentivos e feedbacks?
3. E os teus colegas de turma ajudaram-te de alguma forma? Foi
importante para ti que eles te ajudassem e te incentivassem durante as
aulas? Consideras que a tua relação com eles melhorou? Já não sentes
vergonha de praticar exercício físico à frente deles?
4. Nas outras disciplinas sentiste alguma diferença no teu comportamento,
nos níveis de ansiedade na altura dos testes, no teu à vontade nas
apresentações de trabalhos?
5. Como te sentes atualmente? Diferente comparativamente com o início
do ano letivo?
6. Tendo em conta que eu reconheço claras melhorias na tua postura e na
forma como encaras os desafios, gostaria de saber se pretendes
continuar a melhorar daqui para a frente?
Anexos
xxxix
Anexo XXI – Documento da Unidade Didática de Ginástica Acrobática
Unidade Didática de Ginástica Acrobática
A Ginástica Acrobática é um ramo dos desportos gímnicos que se caracteriza pela realização de
movimentos de cooperação entre dois ou mais atletas, através de elementos de equilíbrio e
movimentos dinâmicos. Esta modalidade pode ser praticada por pares femininos, masculinos ou mistos,
trios femininos e quadras masculinas. Existem três conceitos a reter sobre esta modalidade: base,
volante e intermédio. O base é, por norma, um atleta de estatura média alta que suporta o colega ou
colegas. Por sua vez, o volante é um atleta de estatura média baixa que é suportado por um ou vários
colegas. Por fim, o intermédio é um atleta de estatura média que ajuda a suportar e a projetar o volante
nas posições intermédias.
Nesta modalidade é fundamental a correta execução das pegas, pois é através delas que os
atletas se sentem seguros e com estabilidade suficiente para a realização e manutenção das figuras.
Algumas das pegas utilizadas estão representadas no quadro seguinte:
Frontal
De Punhos
Simples
De Braços
Entrelaçada
De Pé/Mão
Na construção das figuras gímnicas é necessária a utilização dos montes e desmontes, sendo
que um monte é um elemento de ligação para posicionar o volante sobre o base, e o desmonte diz
respeito ao elemento de ligação que permite ao volante regressar ao solo, havendo um voo controlado,
a fim de terminar com os membros superiores em elevação.
O base conta com algumas posições básicas que pode utilizar para realizar, de forma eficaz, as
diferentes figuras acrobáticas, estando algumas delas retratadas no quadro seguinte:
Sentado
Deitado
De Joelhos
De Pé
Anexos
xl
O próximo quadro apresenta as figuras gímnicas que serão trabalhadas ao longo da unidade
didática de Ginástica Acrobática e que serão uma parte importante da coreografia que precisas de
preparar com o teu trio:
1 2 3 4
5 6 7
8 9 10 11
12 13 14 15
16 17 18 19
20 21 22
Anexos
xli
A coreografia constará de quatro figuras obrigatórias (12; 13; 17; 18), definidas pela
Professora, duas figuras escolhidas por cada um dos trios, 8 elementos de ligação (rolamentos,
rodas, aviões, pontes) e uma projeção. Está limitada a três minutos e terá de ser acompanhada
por música sem voz. De modo a ficarem mais elucidados sobre a modalidade e o que se
pretende no momento da avaliação, a nível de postura e movimentações no espaço,
disponibilizo alguns links para uma posterior consulta:
o https://www.youtube.com/watch?v=phvdC4heXfU
o https://www.youtube.com/watch?v=QXAI5lEJe3o
o https://www.youtube.com/watch?v=NcPnbCcAkXI
o https://www.youtube.com/watch?v=W2P1sJDsPjE