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Um balanço da obras da IIRSA no eixo amazônico: avanços e problemas A nova geopolítica de integração sul-americana, traz consigo a perseguição de objetivos comuns pelos países do eixo, principalmente no âmbito comercial e econômico, o que vem demandando uma integração mais efetiva, e por que não dizer também, uma maior integração física. Com a promessa de promover uma intensificação do fluxo de comércio entre os principais países exportadores do eixo sul da américa, e ao mesmo tempo, alavancar os ideais integracionistas, nasceu no ano de 2000, a partir da Primeira Cúpula de Presidentes da América do Sul, a Integração da Infraestrutura Regional da América do Sul (IIRSA), que pretende contribuir ao avanço de diversas frentes econômicas. A idéia de formar a IIRSA se originou a partir da experiência brasileira de planejamento territorial, conhecida como Estudo dos Eixos, realizada pelo Ministério do Planejamento (MP) em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no ano 2000, que planejava o país a partir de regiões identificadas por seu inter- relacionamento econômico (BRASIL, 2012). Assim, a IIRSA surgiu efetivamente, naquele ano, no mês de agosto, a partir da reunião dos doze Chefes de Estado da América do Sul, ocorrida em Brasília. (MONTANA, 2012) A IRSSA previu a execução de mais de 300 projetos, tendo os trabalhado diretamente por cerca de 10 (dez) anos,

Um Balanço Da Obras Da IIRSA No Eixo Amazônico

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Um balano da obras da IIRSA no eixo amaznico: avanos e problemas

A nova geopoltica de integrao sul-americana, traz consigo a perseguio de objetivos comuns pelos pases do eixo, principalmente no mbito comercial e econmico, o que vem demandando uma integrao mais efetiva, e por que no dizer tambm, uma maior integrao fsica.Com a promessa de promover uma intensificao do fluxo de comrcio entre os principais pases exportadores do eixo sul da amrica, e ao mesmo tempo, alavancar os ideais integracionistas, nasceu no ano de 2000, a partir da Primeira Cpula de Presidentes da Amrica do Sul, a Integrao da Infraestrutura Regional da Amrica do Sul (IIRSA), que pretende contribuir ao avano de diversas frentes econmicas.A idia de formar a IIRSA se originou a partir da experincia brasileira de planejamento territorial, conhecida como Estudo dos Eixos, realizada pelo Ministrio do Planejamento (MP) em conjunto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES) no ano 2000, que planejava o pas a partir de regies identificadas por seu inter-relacionamento econmico (BRASIL, 2012). Assim, a IIRSA surgiu efetivamente, naquele ano, no ms de agosto, a partir da reunio dos doze Chefes de Estado da Amrica do Sul, ocorrida em Braslia. (MONTANA, 2012)

A IRSSA previu a execuo de mais de 300 projetos, tendo os trabalhado diretamente por cerca de 10 (dez) anos, em diversos eixos. Segundo Costa e Gonzalez (2014) (...) do perodo inicial de sua vigncia (2000-2010), a organizao institucional e operacional adotada foi capaz de coordenar e construir consensos em torno da importncia da integrao fsica sul-americana (...). Na verdade a Integrao da Infraestrutura Regional da Amrica do Sul, foi at hoje, um dos mais ambiciosos planos de integrao dos pases da Amrica do Sul.Para Nogueira (2008), mesmo(...) que haja entre alguns pases na Amrica do Sul um nvel razovel de integrao econmica, semelhanas culturais e lingsticas, alm de eventos histricos comuns entre os 12 pases, existem barreiras tcnicas e estruturais que dificultam o avano do desenvolvimento no subcontinente. Portanto, iniciativas como a IIRSA so recursos importantes para o crescimento efetivo da regio. (...)A Iniciativa para a Integrao da Infraestrutura Regional Sul Americana um frum de dilogo, que promove a identificao de princpios bsicos para impulsionar o crescimento econmico sustentado da regio. Alm disso, concebe-se a integrao fsica como uma condio importante para o desenvolvimento, cuja sustentabilidade est ligada s transformaes significativas em outras quatro dimenses chaves: competitividade, qualidade social, qualidade ambiental e qualidade institucional.

Os diversos projetos da IRSSA foram distribudos por 12 (doze) eixos que compem o territrio sul-americano, dentre os quais, destacamos o eixo amaznico, que pretende possibilitar a interligao de portos do Peru, Equador e Colmbia, que localizam-se no Oceano Pacfico, com o Oceano Atlntico, mais precisamente, no Rio Amazonas, regio norte do Brasil. A diviso do territrio sul-americano em EIDs significou criar reas com caractersticas diversas e com etapas distintas de desenvolvimento, refletindo, portanto, estratgias de investimentos e integrao tambm diversas. (GONZALEZ; COSTA, 2014) Esse novo trajeto seria a porta de escoamento dos principais produtos de exportao dos referidos pases para a Europa. (...) o Eixo do Amazonas. Inicialmente projetado para criar um corredor biocenico atravs do Rio Amazonas, em 2013 foi ampliado para incorporar os nove Estados do Nordeste brasileiro, at ento ausentes do projeto IIRSA. Os Grupos de Projeto desse Eixo priorizam a ligao entre zonas interioranas, produtoras agrcolas, minerais e de riquezas provenientes da floresta Amaznica, com os portos de ambos os oceanos. Segundo Costa (2011, p.101-103), no Brasil, reas da expanso agrcola de Estados como Acre, Rondnia, Mato Grosso, Maranho e Bahia ligam-se aos oceanos, assim como a produo de minrios de Par a Amap. J nos pases Andinos, o eixo contribui para o escoamento de petrleo e outros produtos de Colmbia, Equador e Peru. importante destacar ainda a melhora da distribuio dos produtos industriais da Zona Franca de Manaus, principalmente para outras regies do Brasil. (BOFF, 2014)

O que nos chama mais ateno no contexto, o impacto das obras nesse permetro para o meio ambiente e as comunidades tradicionais (ribeirinhas, quilombolas ou indgenas), pois notvel a localizao dos projetos previstos no eixo amaznico: reas com uma rara biodiversidade, que possuem ecossistemas complexos, at mesmo intocados, e quando habitadas, ainda o so pelos povos originrios, que na verdade, constituem-se em parte do meio. Assim, podemos apresentar um dos principais problemas enfrentados na execuo das obras previstas pela IRSSA no eixo amaznico: os impactos socioambientais, que inevitavelmente tornaram-se os principais pontos de discusso dos estudiosos crticos do modelo de integrao proposto por essa iniciativa.A regio compreendida no eixo amaznico andino rica em ecossistemas naturais, mas possuidora de poucas vias de acesso, em sua maioria rodovirias, o que eleva o custo da circulao de bens e servios por entre a regio, dificultando o desenvolvimento da malha comercial em nvel regional. Alm do mais, grandes reservas de recursos encontram-se quase isoladas no interior do continente, em zonas quase despovoadas nos pases, e, nesse nterim que se inserem a absoluta maioria dos projetos de infraestrutura da IRSSA no eixo, buscando possibilitar a integrao que abrir o acesso aos valiosos recursos que possuem os pases sul-americanos, ao mesmo tempo que viabiliza o fluxo dos mesmos a maiores distncias com um menor custo, promovendo o crescimento e a ampliao do comrcio e economia regionais.Acerca dessa questo, Fuser (2008), explica que na(...) Amaznia brasileira, que tem seu territrio includo em quatro dos eixos de integrao, a influncia das obras se estender por 2,5 milhes de hectares, atingindo 107 terras indgenas, cujos residentes representam 22% da populao indgena brasileira. Outras 484 reas prioritrias para a conservao da biodiversidade tambm seriam afetadas.

A partir da pode-se entender que, inevitavelmente, existem muitos interesses divergentes relacionados aos setores envolvidos na operacionalizao das obras da IRSSA. Pois o nmero de reas, populaes e ecossistemas afetados espantoso e sem dvida alguma culminam em impactos desmedidos, com consequncias muitas vezes irremediveis, considerando-se que pode ser pago um preo muito alto em nome do fortalecimento econmico e poltico.Destacam-se dentre os empreendimentos de interesse brasileiro, os da rea energtica, os quais so alvos de inmeras controvrsias por parte de diversas ONGs e movimentos sociais, contrrios a esse tipo de iniciativas, devido aos impactos hidroambientais e sociais (MONTANA, 2012). Esses impactos de alta repercusso nas esferas ambiental, social e cultural, so a razo do rechao que sofrem as obras no espao amaznico, o que demanda a realizao de estudos e planejamentos coerentes com o desenvolvimento de aes adequadas a um gerenciamento que reconhea as dinmicas naturais e populacionais pr-existentes nas reas trabalhadas.Se torna necessrio atuar em nome do desenvolvimento e da integrao, mas reconhecendo que os sistemas naturais possuem suas prprias dinmicas, e quando afetadas podero causar prejuzos em demasia a todos os envolvidos. Assim, o maior problema encontrado na busca pelo desenvolvimento da regio amaznica , sem dvidas, promover um efetivo crescimento econmico e social, sem no entanto, agredir o meio em seus mais variados aspectos.O desafio, (...) o de conciliar as expectativas legtimas de desenvolvimento com a necessidade de conservar o ecossistema amaznico. Mas essa preocupao, que deveria estar no centro do processo de decises da IIRSA, manifesta-se de forma superficial. A sustentabilidade ambiental e social encarada, no fundo, como uma questo de relaes pblicas (como "vender" o projeto opinio pblica) e de gesto de conflitos (como contornar as eventuais resistncias da sociedade civil). Cifras grandiosas emolduram a retrica desenvolvimentista dos arautos da IIRSA: megawatts de eletricidade, milhares de quilmetros de estradas, juntamente com uma mapa todo recortado por rotas que o discurso oficial alardeia como vetores de progresso. J o impacto ambiental encarado sempre de uma forma pontual, no mbito restrito de cada obra (...). (FUSER, 2008)

A regio ora em questo, merecedora de uma ateno especial, pois ao passo que possui um imensurvel potencial para alavancar o mercado, seja do ponto de vista dos recursos de que dispe, seja considerando a possibilidade de facilitar o transporte e interligar locais estratgicos, que viabilizaro uma maior interao e integrao da economia regional, tambm uma fonte de equilbrio para o ecossistema existente. Nesse prisma, a maneira como se implanta o desenvolvimento pode causar um desequilbrio que no ser compensado por vantagens econmicas. Uma concepo restrita de desenvolvimento, que leva em conta apenas a obteno de recursos, sem antes e durante sopesar o custo que os mesmos tero, considerando-se principalmente a efetiva perda eco-scio-ambiental envolvida, pode sem dvidas, frustrar os planos de alcanar um desenvolvimento efetivo e com reflexos positivos a longo prazo. Os melhores e mais satisfatrios resultados dos projetos da IRSSA sero alcanados quando a integrao fsica estiver conciliada com reflexos positivos ambientais e socioeconmicos por onde se estender.

REFERNCIAS

NOGUEIRA, Joana Laura Marinho. Iniciativa para a Integrao da Infra-estrutura Regional Sul Americana IIRSA. Cenrios PUC MINAS. Belo Horizonte.2008.Disponvelem:http://www.pucminas.br/imagedb/conjuntura/CNO_ARQ_NOTIC20080416132121.pdf?PHPSESSID=1b27fadf658ea68c59f8827d520ce2b. Acesso em: 22 de junho de 2015.

BOFF, Ricardo Bruno. A Integrao da Infraestrutura fsica na Amrica do Sul e sua influncia na concentrao econmica espacial: um estudo sobre os eixos mercosul-chile e do Amazonas. 2 Seminrio de Relaes Internacionais: graduao e ps-graduao Os BRICS e as Transformaes na Ordem Global. Joo Pessoa. 2014. Disponvel em: http://www.seminario2014.abri.org.br/resources/anais/21/1412274225_ARQUIVO_ArtigoJoaoPessoa.pdf. Acesso em 21 de junho de 2015.

MONTANA, M. Os paradoxos do desenvolvimento amaznico e as alteraes hidroambientais. Revista Eletrnica do Curso de Direito da UFSM ISSN 1981-3694. Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria. 2012. Disponvelem:http://cascavel.ufsm.br/revistas/ojs2.2.2/index.php/revistadireito/article/viewFile/8365/5049. Acesso em 22 de junho de 2015.

COSTA, Carlos Eduardo Lampert. GONZALEZ, Manuel Jos Forero. Infraestrutura e Integrao Regional: a experincia da IIRSA na Amrica do Sul. Boletim de Economia e Poltica Internacional, n. 18, Set./Dez. 2014. Disponvel em: http://www10.iadb.org/intal/intalcdi/PE/2015/15320.pdf. Acesso em 20 de junho de 2015.

FUSER, Igor. Infra-estrutura a servio do grande capital. Diplomatique. 2008. Disponvel em: https://www.diplomatique.org.br/print.php?tipo=ac&id=2811. Acesso em 21 de junho de 2015.