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Evangelho s sinóptico s. Uma introdução à formação e as teologias comuns nos quatro evangelhos. Rodrigo Rossi

Um Breve Panorama Sinóptico Da Redação e Das Fontes Evangélicas

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Evangelho

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Evangelhos sinpticos.

Evangelhos sinpticos. Uma introduo formao e as teologias comuns nos quatro evangelhos.

Toda a Escritura inspirada por Deus e til para o ensino, para a repreenso, para a correo e para a instruo na justia,para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.2 Timteo 3.16-17

Um breve panorama sinptico da redao e das fontes evanglicas.

Precisamos antes de tudo entender a proposta do que vem a ser uma viso sinptica dos evangelhos. A palavra sinptico vem do grego "synopsis",que significa "ver em conjunto", ver o todo na mesma forma, etc. os livros que compe a categoria dos sinpticos so Mateus, Marcos, Lucas e Joo[footnoteRef:1]. Ao contrrio do que ns normalmente pensamos os ESPOS[footnoteRef:2] no foram escritos no mesmo momento temporal seguindo exatamente a ordem cronolgica a qual ns lemos. O que isso quer dizer que, os ESPOS durante muito tempo aps a morte de Cristo eram divulgados de forma oral, a famosa tradio oral. Alm do, mas, o pensamento da poca seria que Jesus o Cristo voltaria em poucos dias, quem sabe semana que vem logo, a eminncia do advento no lhes deixou tempo para produzir obras sistemticas a cerca de Cristo, porque esse mesmo lhes garantiu a emergncia com que seu Reino viria como diz em Mateus 16.28: Garanto-lhes que alguns dos que aqui se acham no experimentaro a morte antes de verem o Filho do homem vindo com seu Reino. E o tempo passa, dias, semanas, messes e alguns anos e essa esperana urgente passa junto. Nossa inteno aqui no nos aprofundar quem so esses que no morreram e viram a vinda do Senhor, todavia, nosso escopo tem uma noo de como estava expectativa e o pensamento da poca. Com o passar do tempo e o esfriamento da esperana surge a necessidade de se elaborar escritos dos discpulos que conviveram, foram ensinados e foram enviados pelo Mestre Jesus. E em meio a esse ambiente surgem as composies dos ESPOS. [1: Apesar de alguns estudiosos no concordarem com a adio de Joo ao quadro dos evangelhos sinpticos, aqui para nosso trabalho relevante inclui-lo nesse quadro.] [2: A partir desse ponto nos referiremos aos Evangelhos Sinpticos com essa seguinte sigla.]

Quando hoje quando lemos os ESPOS a partir de nossa realidade racionalista e crtica algumas questes so desencadeadas quando comparamos os primeiros quatro evangelhos, constatamos dois aspectos que se contrapem: primeiro, os sinpticos so semelhantes em longos trechos na estrutura, na sequncia das percopes[footnoteRef:3] e tambm na forma do texto grego, e segundo, os sinpticos se diferenciam na escolha dos temas, na apresentao do contexto da narrativa e frequentemente tambm na forma do texto grego. O problema sinptico o seguinte: como podemos explicar essas constataes com base na histria da origem dos evangelhos? [3: Percope significa pequeno texto literrio. Nas matrias de pesquisa bblica os textos so divididos em pequenos textos com estrutura de inicio, meio e fim, sendo chamados assim.]

Quem vem primeiro e da onde vem?Interdependncia. Muito se especula a cerca de qual evangelho foi escrito primeiro. A soluo mais discutida a interdependncia. Imagina-se, que dois evangelistas usaram um ou mais evangelhos para elaborar o seu. Sem necessariamente negar o uso de outras fontes. Os defensores dessa soluo sustentam que apenas o emprstimo literrio final pode explicar o grau de semelhana entre os ESPOS. De forma mais clara, essa hiptese prope que um evangelho emprestou, ou serviu de fonte para outro. Isso tenta dar conta, por exemplo, do porque a mesma passagem em Mateus, Marcos, Lucas e Joo tem a estruturas diferentes, acrscimos e decrscimos, encurtamento e prolongamento de informaes. Um claro e clssico emprstimo de contedo a passagem do vu se rasgando no falecimento de Jesus nos ESPOS. Vamos analisar de o quadro abaixo de forma breve.

Mateus 27.50,54Marcos 15.37,39Lucas 23.45,47Joo 19.30.35

*Jesus grita em alta voz e entrega o espirito ao Pai.*O vu se rasga em duas partes do alto a baixo, a terra treme e as rochas se fendem.*As tumbas se abrem e alguns santos retornam da morte.*Saindo das tumbas Junto com Jesus ressuscitado entram na cidade santa e aparecem pra muitos*O centurio e outros que estavam com ele depois disso tudo afirmam que de fato Jesus era o Filho de Deus.

*Jesus grita e morre.*O vu se rasga em duas partes do alto a baixo.*O centurio que estava com ele depois de v-lo morrer afirma que de fato Jesus era o Filho de Deus. *O sol se escurece o e vu se rasga pelo meio.*Jesus grita entregando o espirito Dele ao Pai e morre.*O centurio vendo o que aconteceu, glorifica a Deus e afirma que este homem era justo. *Jesus bebe vinagre fala que esta consumado, inclina a cabea e entrega o espirito.*Era sbado e os judeus pedem para quebrarem as pernas de Jesus para retirar o corpo da cruz.*Os soldados quebram as pernas dos outros dois crucificados.*Como Jesus j estava morto no o fizeram.*Mesmo assim um soldado fura Jesus do lado e sai sangue e agua.*O soldado que v diz que o testemunho de Jesus verdadeiro.

Podemos perceber nitidamente de como cada autor cede material e imagens para os outros. E nesse emprstimo, algumas ideias so omitidas e outras so acrescentadas nas passagens. O exemplo disso o texto de Marcos, o mais resumido e econmico nas ideias e imagens que antecedem e sucedem o vu do templo se rasgando, e em comparao com os textos de Mateus e Joo oculta muitas informaes. Essa no a nica tese e existem variaes. Exemplo: Mateus e Marcos frequentemente estejam juntos em oposio a Lucas na ordem dos acontecimentos, e Lucas e Marcos frequentemente estejam juntos em oposio a Mateus, quase nunca Mateus e Lucas esto juntos em oposio a Marcos. O fenmeno parece exigir que Marcos seja o "termo mdio" em qualquer esquema de relacionamentos entre Marcos, Mateus e Lucas. Em outras palavras, Marcos deve ter um relacionamento tanto com Mateus quanto com Lucas, quer seja anterior a ambos, venha entre um e outro, ou seja, posterior aos dois. A figura mostra as quatro possibilidades:

Ainda nesse sentido, dentre outras dvidas, uma se destaca em nossa pesquisa: qual dos evangelhos foi o primeiro a ser escrito e serviu como matriz para os outros? Teoria das duas fontes.Dentre inmeras teorias que existem para tentar dar conta das tenses que a formao dos ESPOS desencadeia[footnoteRef:4], a mais atual e eficaz a teoria das duas fontes ou teoria Q. [4: Existe um universo de possibilidades que tentam dar conta das tenses internas. Algumas delas so: A hiptese do protoevangelho surgida no sculo 18. Ela parti do ponto de que no incio da transmisso do evangelho existiu um antigo evangelho aramaico, o evangelho dos Nazarenos. Fragmentos desse evangelho foram publicados e existem at hoje. Provavelmente, no entanto, esse evangelho no seja um texto original, e sim uma retraduo dos evangelhos sinpticos gregos para o aramaico, que surgiu na primeira metade do sculo II. Alm disso, um protoevangelho aramaico no resolveria o problema sinptico, pois a semelhana literal do texto grego permaneceria. Seria necessrio supor tambm que tivesse sido feita uma traduo uniforme do grego sobre a qual os sinpticos se basearam. Outra hiptese a hiptese dos fragmentos. De acordo com essa sugesto, os evangelhos sinpticos so constitudos de inmeros pequenos fragmentos que foram registrados pelos apstolos e seus ouvintes. Nisso teriam imitado os alunos dos rabinos judaicos que tambm anotavam os ensinos e atos dos seus mestres. Teria havido um interesse muito grande por esses registros, por isso teriam sido traduzidos para o grego rapidamente. Os sinpticos teriam ento colecionado esses fragmentos (do grego diegesis = relato, narrativa) e incorporado aos seus evangelhos. O evangelho de Lucas tem a referncia a esses relatos no seu incio (Lc 1.1-4). A hiptese dos fragmentos tem muitos argumentos a seu favor, principalmente o incio do evangelho de Lucas. Aceitando como pressuposto a traduo dos fragmentos para o grego, ela explicaria inclusive a semelhana literal dos evangelhos sinpticos. Ela deixa de explicar, no entanto, a semelhana da estrutura e da sequncia das percopes nos sinpticos. Por isso os estudiosos do NT no se satisfizeram com essa proposta.]

A teoria das duas fontes considera o evangelho de Marcos o mais antigo. Os outros dois teriam se baseado, independentemente um do outro, em Marcos. Um dos fatos disso que Mateus, Lucas e Joo s concordam entre si na sequncia das percopes quando tm a mesma sequncia de Marcos. No restante eles ordenam o seu material de forma totalmente autnoma. Assim ao comparar Mateus, Lucas e Joo, que estes trs evangelhos so caracterizados por uma semelhana quase literal nos textos que tm a mais do que Marcos, diferenciando-se, no entanto, na sequncia dos textos apresentados. Disso entendemos que, Mateus e Lucas se basearam num texto grego comum e Joo se baseou em nos dois, que chamado de o documento Q (de Quelle = fonte em alemo). Basicamente essa a formao da teoria das duas fontes, que diz que os ESPOS se baseiam em duas fontes: no evangelho de Marcos e no documento Q. Os trs motivos bsicos para a relevncia dessa hiptese so:1) Marcos o mais curto dos primeiros trs evangelhos. Por causa do enorme respeito que existia na igreja primitiva pelo santo texto dos evangelhos, mais provvel que tenha havido uma expanso do que um resumo do texto. Por isso o texto mais curto o mais antigo. Em outras palavras, a tendncia dos eventos de aumentar os detalhes dos acontecimentos do que resumi-los, e isso acontece devido ao fato que abordamos antes, a emergncia do retorno de Jesus. 2) Mateus, Lucas e Joo (apesar de ser o texto mais teolgico) s se assemelham na estrutura, no contedo, na sequncia e na formulao do texto naquelas passagens bsicas em que so paralelos a Marcos. Como exemplo disso servem os captulos 4 e 5 de Marcos com os seus paralelos com os outros dois evangelhos. 3) Marcos apresenta pouco material que aparece somente no seu evangelho. O texto exclusivo de Mateus e Lucas se estende por vrios captulos. Os autores dos outros evangelhos em diversos relatos de suas percope aceleram e desaceleram acontecimentos, noes temporais e espaciais, etc.A partir dessas observaes de que enquanto Mateus, Lucas e Joo escreveram ensinos de Jesus que no constam em Marcos, mas que, embora colocados em lugares diferentes estejam muito semelhantes, fez surgir a ideia de que existe uma fonte Q, alm de, Marcos, que Mateus e Lucas usaram. Uma fonte que principalmente continha palavras e ensinos de Jesus. Essa relao funciona assim:

Por fim, para muito tempo esta soluo das "duas fontes" era a mais seguida e reconhecida, mas nos ltimos 30 anos foi paralelamente renovada a soluo dos "dois evangelhos". Mas a teoria das "duas fontes" ainda apresenta a melhor explicao geral para os dados. Mas deve ser usada com cautela. O fundamento desta teoria a primazia de Marcos e a existncia de "Q.[footnoteRef:5] [5: At o sculo XIX para a maioria dos estudiosos e telogos era um fato que Mateus foi escrito primeiro. Mas caso Mateus tenha escrito primeiro e Marcos tenha escrito o seu evangelho conforme a tradio seguindo as palavras de Pedro, no temos explicao para o problema sintico. Os argumentos que hoje convencem a grande maioria dos telogos de que Marcos tenha sido escrito primeiro, so os seguintes: 1) Caso Marcos tenha conhecido os outros ou um dos outros evangelhos, difcil explicar porque ele excluiu tantas coisas e abreviou muito material nas narrativas, 2) Mateus e Marcos concordam muitas vezes entre si e Lucas e Marcos tambm, juntamente com Joo que concorda com Mateus, marcos e Lucas, mas s raramente acontece que Mateus e Lucas concordam entre si. Isso se explica melhor com o uso de Marcos por Lucas e Mateus, 3) Expresses aramaicas, irregularidades gramaticais e construes deselegantes se acham mais frequentes em Marcos e normalmente o autor que segue melhora o estilo e a gramtica, alm disso, a teologia de Marcos parece em alguns momentos mais difcil e parece que Mateus, Lucas e Joo o corrigiram um pouco. Exemplo: Mc 6.5 (no pde fazer mudado em no fez por Mt 13.58).]

Ento daqui por diante seguiremos a estrutura de composio proposta pelas pesquisas. O esquema bsico da cronologia segue assim em nosso estudo: 30 50 d.C. o evangelho transmitido na pregao oral (tradio oral) com a preeminncia do retorno de Jesus vindo em sua glria. 51 52 primeiras cartas de Paulo. 50 60 supe-se que nesse perodo surge a coleo escrita das palavras de Jesus, chamada de Fonte Q. 65 70 evangelho de Marcos. Por volta de 70, destruio do templo de Jerusalm. 80 -90 evangelhos de Mateus e Lucas. 95 105 evangelho de Joo.

Prossigamos ento nosso estudo.

Evangelho de Marcos

Autoria O evangelho no cita o nome do autor. O ttulo vem de ndices do NT escritos no sculo II. Essa , portanto, uma informao da igreja antiga. Comumente creditado o nome de Joo Marcos ao autor e tem sido tradicionalmente identificado com o Apstolo Pedro ao escrever este Evangelho. O trabalho mesmo (como todos os Evangelhos) annimo. Nesse sentido acredita-se que Marcos poderia ter sido:1) Um discpulo do Apstolo Pedro, que teria recebido diretamente os ditos sobre os acontecimentos dos fatos da poca de Jesus e devido a isso explicaria o modo resumido da escrita e narrativa dos acontecimentos.2) No evangelho no h pontos de apoio para essa posio, todavia, h pessoas que se referem ao jovem que, na hora em que Jesus foi preso, deixou o lenol com que se vestia nas mos dos soldados (14.51). Que Marcos queria se identificar dessa forma como autor do livro pouco provvel. O autor de Marcos (ou o prprio) escreveu com exatido, mas no em ordem, as palavras e os atos do Jesus, dos quais, como intrprete do apstolo Pedro, caso seja, ele recordava. Pois se acredita que, ele mesmo no tinha ouvido e acompanhado Jesus; mas, como dito, mais tarde seguiu a Pedro, que apresentava os seus ensinamentos de acordo com as necessidades dos seus ouvintes, mas no em forma completa dos discursos de Jesus, todavia, de forma econmica. Por isso no o caso que o autor minta ou esconda mas, devido a no ter (supostamente) estado no ato dos fatos narrou e anotou algumas coisas assim como a sua memria as ditava. Pois ele tinha uma grande preocupao: no omitir nada do que tinha ouvido, e no se tornar culpado de alguma mentira no seu relato.Por fim, De qual Marcos estamos falando aqui? Existe certo consenso de que se trata de Joo Marcos, que vinha de Jerusalm, o mesmo que estava na casa de sua me Maria se encontravam os cristos da igreja primitiva (At 12.12). O seu primo era Barnab (Cl 4.10). Na primeira viagem missionria ele acompanhou Paulo e Barnab (At 12.25; 13.5). Mas o seu ministrio na viagem terminou abruptamente e ele regressou a Jerusalm (At 13.13). Paulo, naquela poca, o considerou um fracassado; por isso no queria lev-lo na viagem seguinte. Barnab tinha outra opinio, mas os dois no chegaram a um acordo. Por isso se separaram e continuaram os seus esforos missionrios independentes um do outro (At 15.37ss). Mais tarde, no entanto, Marcos novamente mencionado como colaborador de Paulo (Fm 24; Cl 4.10; 2Tm 4.11). Evidentemente, ele conseguiu novamente a aprovao de Paulo. Essas so algumas hipteses a respeito do autor do Evangelho de Marcos.

Data e contexto histrico.Acreditando que o texto de Marcos foi o primeiro evangelho a ser escrito isso nos localiza antes do ano 70. Devido ao estilo do texto pressupe-se que, o evangelho o relato de testemunha ocular e interpretao da vida, aes e ensinos de Jesus, aparentemente tirados dos sermes de Pedro, devido ao cunho direto e forte do que temos desse apostolo. Alguns pesquisadores, especulam de forma mais exata o ano 64 d.C, devido ao fato de tanto Pedro quanto Paulo terem sido martirizados sob Nero (54-68 A.D.) e o evangelho no fazer meno a esse acontecimento[footnoteRef:6]. As datas exatas so incertas, mas se verdadeiro, ento provavelmente a data de Marcos foi ao meio dos anos sessenta. [6: Pode-se para nvel de aprofundamento de pesquisa o Prlogo Anti-Marcionita e Irineu que no se refiram morte de Pedro, mas sua partida (i.e. xodo) de Roma. H alguma evidncia tradicional (i.e. Justino e Hiplito) que Pedro 19 visitou Roma durante o reinado de Cludio (41 a 54 A.D.), (His. Ecl. 2:14:6 de Eusbio). Ainda em Eusbio Segundo a Historia Eclesistica, 4:25, Orgenes (230A.D.) no Comentrio sobre Mateus (no h nenhum comentrio conhecido sobre Marcos de ningum at o quinto sculo) diz que Marcos escreveu o Evangelho como Pedro lhe explicou. Tertuliano (200 A.D.) em Contra Marcio (4:5) diz que Marcos publicou as memrias de Pedro que ouviu do prprio.]

Nesse sentido, historicamente falando em 64 d.C., Nero acusou a comunidade crist de colocar fogo na cidade de Roma, e por esse motivo instigou uma temerosa perseguio sobre a qual Pedro e Paulo morreram.[footnoteRef:7] Inserido nesse contexto o evangelista escreve as Boas-novas. No por acaso que a mensagem libertadora de Jesus Cristo associada ao alvorecer do reino de Deus (1.15). Marcos d importncia especial a esse aspecto, e ressalta nos primeiros oito captulos do seu evangelho, que formas isso assume na vida das pessoas. [7: Apessar de existirem controvrsias a respeito desse acontecimento tambm se acredita que Nero tenha forjado esse incidente para incriminar os cristos. No entanto, existem outras vertentes que de fato tenha sido um incndio sem causa criminosa. Na noite de 18 de junho de 64, o fogo surgiu nos arredores dos entrepostos do Tibre, onde se estocava material inflamvel, como leo, madeira e l. Na madrugada do mesmo dia, um forte vento empurrou as chamas em direo a esse material. Segundo alguns historiadores Nero, porm, no estava e Roma naquela noite. Encontrava-se em sua residncia de Antium (ncio), a cerca de 50 quilmetros da cidade, que quando foi avisado chegou madrugada do dia seguinte, mas o fogo fez estrago por mais dez dias. Fonte historiadora Catherine Salles. ]

No centro do evangelho poder-se entender de forma explcita que a realidade da poca a qual o texto foi escrito era de total negao e sofrimento, como diz no evangelho que, importa que o Filho do Homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos ancies, e pelos prncipes dos sacerdotes e pelos escribas, que fosse morto, mas que, depois de trs dias, ressuscitaria (8:31), e sentenas semelhantes a essa de sofrimento, opresso e morte se repetem ao longo do texto[footnoteRef:8], geralmente seguindo essa mtrica: sofrimento, perseverana e redeno. Assim certos acontecimentos na vida de Jesus nos revelam de como o quadro histrico que Marcos vivia estava, repleto de desigualdades sociais e opresses.[footnoteRef:9] [8: Cf. 9.31; 10.32 34. ] [9: Existe uma obra de Andr Leonardo Chevitarese e Daniel Soares Veiga chamada: o significado das aes de curas de jesus na sociedade judaica: uma abordagem antropolgica, que trabalha com a questo da realidade antropolgica e social das manifestaes da poca de Jesus.]

Contedo O evangelho de Marcos no uma biografia. Marcos tencionou apresentar a vida de Jesus de modo resumido, enfatizando sua mensagem, entendendo isso, no podemos considerar o Evangelho de Marcos (e nenhum dos ESPOS) uma biografia no sentido contemporneo. Calma, o fato de no ser uma biografia no faz do evangelho uma farsa ou no inspirado pelo Espirito.Algumas razes para no entender o evangelho como biografia so que, o autor no faz nenhuma descrio fsica do Jesus; nem altura, peso, cor, se tinha a voz fina ou grossa, enfim, nenhuma caracterstica fsica de Jesus foi comentada. Alm disso, o Evangelho no contm a narrativa do nascimento e infncia de Jesus, diferente dos outros ESPOS que trazem dados ricos sobre genealogia, narrativas sobre nascimento, fuga para o Egito, etc. isso se deve ao fato de que, o autor esta interessado, no nos dados histricos de Jesus, todavia, na mensagem e ensinamento de Jesus, para demonstrar isso, no comeo do livro o autor nos oferece o inicio ministerial de Jesus dizendo que Ele percorreu toda a Galileia, pregando nas sinagogas (1.21; 1.39). Isso nos aponta um salto enorme na ordem dos acontecimentos dos fatos da vida de Jesus posto em destaque nos outros evangelhos. Assim sendo, o autor nos indica que fez uma seleo de relatos sobre os atos e discursos de Jesus e os redigiu de forma aparentemente resumida, no levando em conta tambm a ordem cronolgica dos fatos. Mas, nos parece que o evangelho estudado aqui no pretende fazer uma investigao minuciosa e completa da vida de Jesus, em vem disso, ressaltar e por em destaque os grandes atos de Deus na vida de Jesus. Resumindo o que colocamos aqui, o Marcos retrata o tempo do ministrio pblico de Jesus. Comea com a apresentao de Joo Batista e o batismo de Jesus por Joo. Termina com o sofrimento de Jesus e com os relatos dos encontros com o Cristo ressurreto. A nfase dessa narrativa est nos atos de Jesus. Eles so apresentados em relatos breves e nos do uma viso ntida dos milagres de Jesus, dos seus efeitos sobre os habitantes da Palestina e das discusses de Jesus com os lderes dos judeus. evidente que Marcos tambm relata palavras e discursos de Jesus, mas, se contrastados com os seus atos, esto em segundo plano.

nfases Teolgicas e ttulos de Jesus. ... quem dizeis que sou? (8.29) Sempre somos de pronta maneira prontos a afirmar de forma automtica a Divindade de Jesus, (e de fato Ele ) mas percebemos que no incio do seu relato (at 8.26) Marcos economiza no uso do ttulo Messias e de outras referncias pessoa de Jesus. Somente algumas excees so feitas nas indicaes sobre o mistrio da sua pessoa (2.10,17b,19,28). No mais, o relato nessa primeira parte marcado pelo questionamento intrigante que conduz todo o teor do evangelho: Quem este, que realiza esses poderosos feitos? (4.41; 6.2,14-16).Percebemos tambm que o evangelho de marcos ressalta a questo da humanidade de Jesus[footnoteRef:10], coloca-lo como o verdadeiro humano perfeito. No evangelho Ele precisava orar (1.35; 6.31), comer (2.16), beber (15.36), sentia fome (11.12), tocava em pessoas (1.41), e era tocado por elas (5.57), sentia sono por causa do cansao e era despertado aps momentos de cansao (4.38-39), se indignava (10.14), se entristecia (3.5). Indo, alm disso, enquanto homem nos parece que seu conhecimento era limitado (13.32), procura quem o tocou (5.30), tinha um corpo humano (15.43), etc. [10: Vale dizer que esse destaque da humanidade de Jesus no pretende em momento algum anular sua Natureza/essncia Divina, no entanto, afirmar que sendo Deus em sua totalidade tambm o homem de maneira integral.]

Outra nfase que se destaca em Marcos Jesus como verdadeiramente Deus. No evangelho Marcos no nega a Divindade de Jesus, mas o relata com capacidades que somente um homem enviado por Deus teria, como: conhecedor de coraes dos homens (2.8; 12.15), vencendo a morte (16.6), dominador sobre elementos da natureza (4.35-41; 6.48; 11.13-14.20) sobre enfermidades (1.40-45; 8.22-26; 10.46-52), etc. para Marcos tanto a natureza Divina e humana de Jesus esto em harmonia e o autor no tem algum problema em descrever isso. Uma das nfases teolgicas esta no ttulo de Filho de Deus para afirmar a messianidade de Jesus. Marcos inicia seu Evangelho identificando Joo Batista como o cumprimento da profecia de Malaquias 3.1, aquele que viria e aplainaria o caminho para o Messias. A voz que fala do cu fala de forma imperativa que Jesus o Filho amado de Deus (1.11), tem autoridade delegada por um Pai de batizar com Espirito Santo (1.8), mandar homens que lhe sigam e recebam (8.34; 9.37), na transfigurao manifesta parcialmente a glria futura (9.11), etc.Alm dessas ideias sobre Jesus podemos indcios de como era o relacionamento com os discpulos e com as pessoas. Marcos relata que Jesus ordenava aos seus discpulos e s pessoas curadas por ele, que no falassem dele. At aos demnios ordenou que se calassem (1.34,44; 3.11,12; 5.43; 7.36; 8.26,30; 9.9). Por outro lado, na intimidade Jesus falava aos seus discpulos sobre a sua misso (7.17s; 9.30s; 10.10); s vezes era necessrio explicar-lhes as parbolas (4.10ss,34b). Segundo o relato de Marcos, ele fez todo o possvel para proteger o mistrio do Messias. Muitos estudiosos do NT argumentam que essa no uma forma teolgica de se estruturar um evangelho. Mas o que Marcos queria era documentar o que imprescindvel no relato sobre a vida de Jesus: Se Jesus quisesse realizar a misso que o pai celestial lhe delegara levar o Reino de Deus s pessoas, ensinar os discpulos e prepar-los para a sua misso ele precisaria de tempo. Confessar precocemente que era o Messias teria causado o fim imediato do seu ministrio. Os romanos tinham srias preocupaes com esse tipo de comportamento. Mesmo que em geral fossem to tolerantes em questes religiosas, no toleravam a reivindicao do poder por algum outro que o imperador. Um rei dos judeus no iria muito longe. Devemos a Marcos a representao to dramtica dessa situao na vida de Jesus. Os seus leitores teriam a oportunidade de sentir esse drama e, dessa forma, entender melhor o mistrio da pessoa de Jesus. Ele no era nenhum libertador poltico e tambm no queria que as expectativas pelo Messias, to grandes naquela poca, levassem o povo a aclam-lo como tal (cf. Jo 6.15!). Ele queria simplesmente cumprir a misso do seu Pai celestial, que era de entregar a sua vida como pagamento por muitos (10.45). Dessa forma, ele se tornou salvador de muitas pessoas.Basicamente o que precisamos para iniciar o estudo e a pesquisa sobre o evangelho de Marcos esta exposta. Prossigamos para o prximo!

... T s o Cristo. (8.29).

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Principais personagens que compe o evangelho de Marcos

Simo, 1.16 Zebedeu, 1.20 Esprito imundo, 1.23 Levi, 2.14 Abiatar, 2.26 O cananeu, 3.18 Belzebu, 3.22 Legio, 5.9 Rei Herodes, 6.14 Herodias, 6.17 Siro-fencia, 7.26 Bartimeu, 10.46 Csar, 12.14 Abominao da desolao, 13.14 Os escolhidos, 13.20 Falso Cristo, 13.22 Principais dos sacerdotes, 14.1 Aba, 14.36 O conclio, 14.55 Barrabs, 15.7,11 Simo Cireneu, 15.21 Salom, 15.40 Centurio, 15.45

Evangelho de Mateus

AutoriaO texto em sua estrutura interna no menciona diretamente seu autor, todavia a tradio considera o nome de um Mateus que citado no ttulo do evangelho, que surgiu no sculo II e a partir de l foi incorporado tradio. A atribuio desse evangelho a Mateus remonta, portanto, tradio da igreja antiga. Porm em si o texto annimo. Um dos argumentos mais fortes da tradio para a autoria que, Eusbio relata na sua Histria Eclesistica: Mateus fez uma coletnea dos discursos de Jesus em hebraico; cada um, no entanto, os traduziu o melhor que pde. [footnoteRef:11] [11: Eusbio no inicio do sculo IV, j trazia citaes de Papias, bispo do sculo II, de Irineu, bispo de Leo e de Orgenes grande pensador do sculo III. Todos os pais da igreja ( assim ficaram sendo conhecidos os notveis discpulos de Cristo e os telogos dos primeiros sculos devido ao grande contedo teolgico produzidos por eles), e esses concordam em afirmar que este Evangelho foi escrito (ou narrado a um amanuense = pessoa habilidosa para escrita ou hagigrafo), primeiramente em aramaico (Hebraico falado por Cristo e pelos jovens judeus palestinos de sua poca) e depois traduzido para o grego. Apesar de muitas evidncias do original em aramaico, todas as buscas e pesquisas arqueolgicas somente encontram fragmentos e cpias em grego. Entretanto, os principais estudiosos e pesquisadores do mundo no duvidam que o texto grego que dispomos hoje em mos o mesmo que circulou entre as igrejas a partir do sculo II d.C. ]

O nome Mateus est em todas as listas de apstolos: Mateus 10.3; Marcos 3.18; Lucas 6.15; Atos 1.13. Em Mateus 10.3 ele denominado cobrador de impostos e com isso rotulado como um daqueles homens to odiados por seus conterrneos, os judeus, por trabalharem para o estado romano, explorarem o povo e por enriquecerem inescrupulosamente. Em Mateus 9.9-13 nos relatado como Jesus o chamou diretamente da coletoria para segui-lo e como Jesus, com essa atitude e tambm com a refeio que partilhou com os colegas de Mateus logo em seguida, se exps veemente crtica dos fariseus. Marcos e Lucas tambm registram a histria desse chamado, com a diferena de que l esse publicano chamado Levi (Mc 2.13-17; Lc 5.27-32). E esse um dos motivos de que podemos afirmar que ele tinha dois nomes, Levi Mateus.Por fim, as nfases teolgicas deste evangelho j mostraram que o autor possua bom conhecimento do Antigo testamento e tambm boa capacidade de reflexo teolgica, pois teve acredita-se que, o material escrito ou pelo prprio Mateus ou seus seguidores tinham profundo conhecimento dos ensinamentos de Jesus o que explica a proficincia teolgica.

Data e contexto histrico De muitas maneiras a data do Evangelho est relacionada ao problema sintico. Que Evangelho foi escrito primeiro e quem tomou emprestado de quem? Pressupondo que a teoria das fontes (Q) esta correta o evangelho deve ter sido escrito antes de 96 ou 115 A.D. A pesquisa bblica prope que esse evangelho certamente foi escrito em um local que pudesse ser a ptria da ala helenstica do cristianismo de origem judaica. U dos lugares seria Antioquia da Sria, ponto de partida das viagens missionrias do apstolo Paulo. Essa igreja, marcada pelo cristianismo judaico-helenstico, levou o evangelho de Jesus Cristo aos gentios e com isso cumpriu a misso que Jesus lhes delegou no primeiro evangelho. Alm dos argumentos baseados nos pais da igreja[footnoteRef:12], existem outras evidencias e argumentos, portanto, a favor de Antioquia da Sria como local em que Mateus foi escrito. A data tradicional parte da teoria da prioridade de Marcos. Ela entende que Mateus 22.7 uma indicao de que a destruio de Jerusalm no ano 70 j acontecera.[footnoteRef:13] Da se conclui que o evangelho foi certamente escrito aps 70 d.C. Com base nas condies eclesisticas j bem desenvolvidas pressupostas no evangelho (captulo 18), e com base na teologia, a data sugerida fica entre 80 e 100 d.C. [12: Eusbio em Histria Eclesistica 3:39:15 disse que Mateus usou Marcos como guia estrutural. Clemente de Roma j em 96 A.D. fez uma aluso ao Evangelho de Mateus em sua carta aos Corntios. Incio (110-115 A.D.), o Bispo de Antioquia, citou Mateus 3.15 em sua carta Aos Esmirniotas, 1.1. Acredita-se que devido o fato dos pais da igreja j citarem o evangelista j havia circulao do material de Mateus, ao menos fragmentos do texto completo. ] [13: Todos aqueles que se apresentam como inimigos declarados do Evangelho, assim como os falsos cristos, sero destrudos. Da mesma forma como a cidade de Jerusalm foi completamente arrasada e queimada pelos romanos, no ano 70 d.C. ]

Ao nos debruar sobre esse evangelho devemos nos perguntar se, existe algum indcio da realidade histrica da poca? Em que formas de vida da igreja primitiva este evangelho foi concebido? Em que contexto este evangelho surgiu? Qual seu lugar vivencial do surgimento do evangelho. Trs possveis respostas sero citadas e comentadas: Na sua essncia, o evangelho um lecionrio. Podemos chamar de lecionrios os livros que registravam a vida e o ministrio de Jesus para serem lidos nos cultos e nas reunies da igreja primitiva. Acredita-se que, uma parte da igreja primitiva tenha lido em suas reunies textos de Marcos e da fonte de dos discursos, do grego Logias. Posteriormente teriam sido feitos acrscimos. Tudo isso teria resultado no evangelho de Mateus, que se transformou ento em um lecionrio, destinado s leituras pblicas nos cultos. Para o contexto histrico da poca, Mateus tinha o melhor estilo oral se comparado com Marcos, formulao mais resumida e mais exata, a repetio de frmulas e as frases completas nelas contidas, sendo ideal para o uso litrgico. Outra proposta para o contexto histrico desse evangelho que ele serviu como guia de catequese na instruo do cristianismo primitivo. Recm-iniciados nos ensinamentos de Jesus o Cristo precisavam desse tipo de instruo. O evangelho de Mateus muito apropriado para o ensino dos novos convertidos a f, pois nele so tratados os principais temas da f crist. A maior nfase dele est no ensino de Jesus, portanto, ideal para passar esse ensino adiante. Por ter sido usado dessa forma, tornou-se uma grande influncia no somente sobre a liderana, mas tambm sobre toda a igreja crist primitiva. Por fim, outra proposta coerente e convincente das pesquisas atuais supe que h uma escola teolgica por trs deste evangelho. Dessa forma teriam sido instrudos mestres e lderes das igrejas no cristianismo primitivo. O que lhes era ensinado teria resultado no evangelho de Mateus. Como um dos argumentos principais ele cita o captulo 18[footnoteRef:14]. Esse no foi um ensino especfico para a igreja como um todo, mas muito mais um conjunto de orientaes para a liderana da igreja. Argumento a favor dessa ideia seria tambm o conhecimento e a interpretao do AT, que pressupe o trabalho de estudo da Palavra com que eram batizados[footnoteRef:15]. Possivelmente, tratava-se ento de uma escola de Mateus ou comunidade Matiana. [14: Acredita-se que o capitulo 18 de Mateus uma espcie de manual de conduta do Reino de Deus, e at mesmo o teor parablico de instruo a conduta de lderes das comunidades. ] [15: Ou Iniciados no mistrio.]

Contedo necessrio ressaltar algo nesse ponto. Os Evangelhos so gneros literrios nicos. No so biogrficos. No so narrativas histricas. Eles so um tipo literrio altamente estruturado, teolgico seletivo. Cada um dos escritores do Evangelho escolheu eventos e ensinos da vida de Jesus para exclusivamente apresent-Lo ao seu pblico-alvo. Os evangelhos eram espcie de folhetos evangelsticos.No sculo II ele j era conhecido em todo o cristianismo. Formava a base para a instruo sobre as palavras e a vida de Jesus Cristo. Por essa razo, era lido nos cultos e servia de orientao no preparo dos candidatos ao batismo (catequese). No evangelho de Mateus era tambm baseada a proclamao sobre as palavras de Jesus. Mesmo que ao longo da histria da igreja os outros evangelhos tenham crescido em influncia, o evangelho de Mateus continuou com a preeminncia. Afirmaes sobre a pregao de Jesus se orientam ainda hoje primeiramente por Mateus, pois contm o Sermo do Monte, que mais frente pincelaremos algo sobre ele, as parbolas sobre o Reino de Deus, as orientaes de Jesus para a sua igreja[footnoteRef:16] e o discurso sobre o juzo final. Sendo assim, o evangelho caracterizado pelas grandes sequncias de discursos, que definem tambm a estrutura do evangelho. Mateus parece ter mais contedo, em termos de massa de informao. um evangelho que d uma viso completa da obra de Jesus. bem estruturado e seu autor sabia comunicar e o fez seguindo um plano de ao. um evangelho bem preparado. Sua anotao do Sermo do Monte levou aos leitores o sermo mais sinttico j pregado por Jesus. ele quem traz um discurso apocalptico de Jesus, no final. So dois limites bem definidos. No incio, o sermo do monte, as bases ticas do reino. No final, o sermo escatolgico, a consumao do reino. Ao longo do escrito, o evangelho do reino. [16: No no sentido institucional, todavia, movimento de unio dos adeptos aos ensinamentos.]

Em suma, Mateus deixa claro que deseja apresentar, em ordem histrica e didtica, o nascimento, ministrio, paixo e ressurreio de Jesus Cristo. Para tanto, ele rene os fatos em cinco grandes discursos proferidos pelo Senhor: o chamado, Sermo da Montanha (Mt 5.1 a 7.27), que o cume do evangelho; a comisso aos apstolos (Mt 10.5-42); as parbolas (Mt 13.1-53); o ensino sobre humildade e perdo (Mt 18.1-35), e a palavra proftica (Mt 24.1 a 25.46). Mateus cita vrias passagens e profecias extradas do Antigo Testamento e, de fato, interpreta essas profecias como tendo absoluto e certeiro cumprimento em Jesus Cristo; tudo escrito e ensinado de um modo que seria para o judeu do sculo I prova irrefutvel, a qual a Igreja crist adota at nossos dias.

nfases Teolgicas.

... quem o maior no Reino dos cus? (18.1)

O aspecto principal no evangelho de Mateus o ensino sobre Jesus, ou seja, Mateus monta uma Cristologia[footnoteRef:17]. [17: A Cristologia uma parte da teologia crist que estuda Jesus. Ela se ocupa de diversos aspectos, dentre os quais poderamos sublinhar, sobretudo: a sua natureza, se divina, humana ou as duas; o seu papel na redeno humana; a relao entre Ele, o Pai e o Esprito Santo. Nesse sentido Mateus em seu evangelho monta uma Cristologia prpria a partir de ideias do A.T. ]

A primeira nfase teolgica relevante em Mateus a Cristologia. Sem dvida alguma, o protagonista ou personagem principal deste livro Jesus de Nazar. Antes de qualquer coisa, Mateus quer explicar claramente, para a igreja de seu tempo, quem Jesus (apenas Mateus explica o sentido religioso de nome Jesus, cf. 1.21). O pensamento central de Mateus que na pessoa de Jesus o Messias, o Seu Filho, Deus se tem aproximado de ns, para de conviver at o m do sculo com Seu povo, a igreja, assim inaugurando a poca escatolgica da salvao (cf. 1.23; 18.20; 28.20). Portanto, Mateus apresenta Jesus como o verdadeiro Cristo ou Messias esperado pelos judeus (1.1, 16, 17, 18; 2.4; etc.), o Filho de Davi (21.9, mais 8 vezes) e o Filho de Deus (3.17; 4.3, 6; 11;27; 16.16; 17.5; etc.). Como Messias e Filho do Pai Celeste, cabe a Jesus revelar Deus, ensinar Sua vontade aos seres humanos, inaugurar o reino dos cus aqui na terra e sofrer em prol de seu povo. Percebe-se tambm que Mateus destaca a Igreja e sua Misso. Conforme o proposto anteriormente, Mateus um manual para o ensinamento e administrao dentro da igreja. Mateus, na realidade, mostra interesse na igreja de uma forma bem mais explcita do que os outros Evangelhos. Ele o nico evangelista a usar a palavra igreja (, ekklsia) (cf. Mt 16.18, onde Jesus fala sobre a base da igreja, e Mt 18.17, onde Jesus d instrues sobre a disciplina na igreja). Alm disto, Mateus destaca o papel central da misso da igreja na histria mundial (24.14; 13.36-43, 47-50). No incio, o Jesus do primeiro Evangelho limita a misso de seus discpulos s ovelhas perdidas da casa de Israel (10.5-6), mas aps a sua ressurreio ele amplia bastante o alcance da misso da igreja, incluindo nela todos os povos do mundo (28.19-20). Ento, apesar do carter altamente judaico deste Evangelho, o autor arma claramente que o evangelho de Cristo tambm para os gentios.[footnoteRef:18] [18: Um segundo aspecto muito enfatizado se origina na tenso entre o particularismo e a universalidade (a salvao para todos). Os dois elementos esto presentes lado a lado na proclamao e na vida de Jesus quanto a incluso da igreja. O particularismo se mostra nas palavras de Jesus que reforam a verdade de que o seu ministrio se restringe a Israel. Aos doze discpulos que ele envia, ordena: No tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de preferncia, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel (10.5-6). Ele lhes promete que no conseguiro terminar essa tarefa at que venha o Filho do homem (10.23). Semelhantemente, Jesus diz mulher canania da regio de Tiro e Sidom que lhe pede ajuda: No fui enviado seno s ovelhas perdidas da casa de Israel. E com mais exatido: No bom tomar o po dos filhos e lan-lo aos cachorrinhos (15.24,26). Essa segunda rejeio tambm Marcos registrou; a primeira s Mateus. Por outro lado, a universalidade est presente nesse evangelho desde o incio. O nascimento de Jesus tem efeito sobre todas as pessoas, at os astrlogos l do oriente. Eles conseguem perceber o acontecimento pelos seus meios de reconhecimento e vm adorar o Messias, o Rei de Israel (2.1-12). A rvore genealgica no vai s at Abrao. Ela tambm inclui nomes de mulheres gentias: Raabe e Rute. Quando Jesus interpreta a parbola do joio no meio do trigo, ele diz que o solo o mundo (13.38). Na parbola das bodas que um rei fez para o seu filho, depois que os convidados no responderam ao convite do rei, os servos so enviados s ruas para convidarem ao casamento todos os que acharem (22.9). No sermo apocalptico Jesus anuncia que, antes do fim do mundo, o evangelho do reino precisa ser pregado a todos os povos (24.14). Finalmente, o Senhor ressurreto delega a seus discpulos a grande misso: Ide, portanto, fazei discpulos de todas as naes, (28.19).]

Por fim, O Reino dos Cus tambm destacado e enftico. A idia do reino de Deus ou reino dos cus se baseia na descrio de Deus como Rei no AT (Sl 24.7-10; Is 6.5; 33.22; etc.) e foi apresentado sistematicamente, pela primeira vez, em Daniel 2 e 7. Jesus herdou este conceito do AT, mas o autor modificou de trs maneiras: (1) Jesus vincula a consumao do reino com a vinda do Filho do homem, isto , sua prpria pessoa; (2) a aceitao no reino no ca mais limitado aos judeus, mas agora depende da atitude da pessoa para com Jesus e expandida para incluir todos os povos; e (3) o reino no mais projetado completamente para o futuro, mas, pelo contrrio, j est se fazendo presente por meio das palavras e atos poderosos de Jesus. Quanto aos destaques de Mateus sobre o reino de Deus, devemos anotar que ele menciona o reino mais do que qualquer outro autor do NT; o reino mencionado 50 vezes em Mateus, 39 em Lucas, 14 em Marcos, e apenas 5 em Joo. Mateus representa Jesus pregando que o reino est s portas (Mt 4.17) e proclamando o evangelho do reino (4.23). Ele envia os doze para pregar tambm esta aproximao do reino (10.7). Contudo, a plena consumao do reino um evento ainda no futuro (16.28; 25.34). No Sermo do Monte (cap. 57), o reino um dos temas predominantes. A frase o reino dos cus ocorre na primeira e na ltima das bem-aventuranas, indicando que todas elas devem ser interpretadas dentro do contexto do reino (5.3, 10). A primeira petio do Pai-nosso trata da vinda do reino de Deus (6.10) e a procura do reino deve ser a prioridade de todos (6.33). Os vinte milagres de Jesus em Mateus demonstram que o reino j est presente, derrotando o poder de Satans (12.28). Na coletnea parablica do reino no captulo 13, Mateus apresenta doze ditos de Jesus sobre o reino dos cus. Inesperadamente, os que entrarem no reino devero ser como as crianas (18.1-4), e publicanos e meretrizes entraro nele antes dos lderes religiosos que se opem a Jesus ( 21.28-31, cf. v. 23).

... esta criana, o maior no Reino dos cus. (18.4)

Principais personagens que compe o evangelho de Mateus1

13

Zorobabel, 1.12 Herodes, 2.13 Filho de Davi, 9.27 Filho do Homem, 10.23 Meu Servo, 12.18 Belzebu, 12.24 Herodias, 14.6 Simo Bar Jonas, 16.17 principais sacerdotes e ancios, 21.23 Herodianos, 22.16 Rabi, 23.7 Caifs, 26.3 Pilatos, 27.2 Barrabs, 27.16 Maria Madalena, 27.56 Jos de Arimatia, 27.57

Evangelho de Lucas

AutoriaLucas, nome grego que significa aquele que traz a luz. Apesar de existir poucas citaes sobre esse Lucas nos escritos dos pais da igreja[footnoteRef:19], acredita-se que esse Lucas, se trata do mdico que encontramos como companheiro de viagem de Paulo nas suas cartas (Cl 4.14; Fm 24; 2Tm 4.11). [19: Faltam em Papias um testemunho a respeito de Lucas, como ele tem a respeito de Marcos e Mateus. Recebemos alguma informao nos seguintes escritos da igreja antiga: Irineu escreve: Lucas, companheiro de viagem de Paulo, registrou o evangelho por este pregado em um livro. No Cnon Muratri (final do sculo II) lemos o seguinte: O terceiro evangelho, segundo Lucas. Esse mdico o escreveu depois da ascenso de Jesus quando Paulo o requisitou para guia de suas viagens, de acordo com o pensamento deste. Mas ele tambm no viu o Senhor em carne, e por isso, com base no seu conhecimento, ele tambm inicia a relatar desde o nascimento de Joo. Podemos encontrar tambm no prlogo segundo Marcio escrito no sculo IV, em que diz: Lucas um srio de Antioquia, mdico de profisso, um discpulo de apstolo; mais tarde ele acompanhou Paulo at o martrio. Depois de ter seguido o Senhor fielmente, sem mulher e sem filhos, faleceu aos 84 anos na [?] Bocia, cheio do Esprito Santo.]

Os relatos de viagem de Atos, em que o autor usa a 1 pessoa ns, levam concluso de que o autor era um companheiro de Paulo nas suas viagens. A tentativa de se provar que a linguagem e o estilo do terceiro evangelho so obrigatoriamente de um mdico no foi bem-sucedida, visto que a linguagem e os termos por ele usados faziam parte da lngua grega mais sofisticada. Uma indicao sobre o autor poderia ser o fato de que Marcio, por volta de 140 d.C., s reconhecia o evangelho de Lucas como obra de um apstolo.[footnoteRef:20] Visto que Marcio era defensor de Paulo, podemos supor que ele considerava o evangelho de Lucas trabalho de um discpulo de Paulo. A favor da proximidade com Paulo falam os seguintes aspectos do contedo do livro: o autor destaca a universalidade da salvao (4.27; 24.47). Ele tambm enfatiza a necessidade da f (8.12; 18.8). Portanto entendemos que, o evangelho de Mateus foi escrito por um judeu para judeus e Marcos foi escrito por um judeu para gentios, o Evangelho de Lucas foi escrito por um gentio para os gentios. [20: Marcio de Snope- ou Marcion (85160,75anos) foi um dos mais proeminentesheresiarcas durante oCristianismo primitivo. A sua teologia chamadamarcionismopropunha dois deuses distintos, um noAntigo Testamentoe outro noNovo Testamento, foi denunciada pelosPais da Igrejae ele foiexcomungado. Curiosamente esta separao ser posteriormente adoptada pela igreja e utilizada a partir deTertuliano, assim como a sua rejeio de muitos livros que seus contemporneos consideravam como parte das escrituras mostrou Igreja antigaa urgncia do desenvolvimento de umcnon bblico. Todavia em nvel de citao j encontramos em Marcio a presena do evangelho.]

Data e contexto histrico.Sobre o local da origem desse evangelho s podemos afirmar que foi fora da Palestina, pois foi escrito por um cristo-gentio para os cristos-gentios. Nada mais podemos afirmar com base nas fontes disponveis. A referncia clara destruio de Jerusalm tida como prova a favor da datao entre 80 e 90 d.C. O cerco, conquista e a destruio da cidade como tambm o extermnio de muitos moradores descrita com tantos detalhes que muitos estudiosos consideram o texto vaticinia ex eventu (profecia aps o evento; 19.43s; 21.20,24). Precisamos observar, no entanto, que o que mais caracterizou a destruio de Jerusalm o templo em chamas e as inmeras crucificaes nos arredores de Jerusalm no mencionado.O leitor, no entanto, que no exclui profecia genuna e exata e ainda leva em considerao que Atos dos Apstolos surpreendentemente no fala da destruio de Jerusalm, mesmo que isso seria extremamente importante na perspectiva da histria da igreja primitiva, vai aceitar com uma data antes de 75 d.C., acreditando-se que a a obra de Lucas teve sua redao final por volta de 80-85 d.C.Ao que tange ao contexto histrico duas coisas so interessantes para ns. O Evangelho de Lucas comea com um prlogo. Nesse sentido o autor se expe revelando que fez uma pesquisa como outros de sua poca o fizeram, se propondo como cooperador desses outros relatos a cerca de Jesus. Para alcanar esse objetivo ele se baseia em diversas fontes. Fundamental para isso so as tradies dos apstolos, que foram testemunhas oculares do ministrio de Jesus. Como ministros da Palavra eles relataram esse fato. Logo em seguida as suas palavras foram registradas. Muitos desses testemunhos escritos estavam disposio de Lucas. Ele se aprofundou no assunto, testou tudo minuciosamente e depois registrou as concluses de sua pesquisa num relato bem ordenado.Outra realidade contextual a Lucas so as indicaes internas do livro. Lucas fala muito sobre contrastes sociais[footnoteRef:21], Fala muito de povo e multides[footnoteRef:22], Cita muito a mulher[footnoteRef:23]. Alguns estudiosos entendem que, as comunidades do evangelho de Lucas, era em sua maioria alm de pequenas, localizadas em periferias sobre o poder do imprio Romano da poca, onde o contraste social era muito forte e onde a explorao e a marginalizao tanto do pobre quanto da mulher eram graves.[footnoteRef:24] A exemplo do que foi dito, podemos encontrar desde o inicio, no cntico de Maria, vemos: deps os poderosos de seus tronos, e a humildes exaltou. Cumulou de bens a famintos e despediu a ricos de mos vazias (1.52 53). De acordo com o evangelho de Lucas, a misso de Jesus evangelizar os pobres (4.18), que nos sinaliza que o a proposta do Reino de Deus e mensagem de Jesus em Lucas de libertao e incluso, ou seja, igualdade entre livre e escravos, ricos e pobres. [21: 4.14ss; 6.20-26; 16.19-21, etc.] [22: 5.15,29-30; 6.18-19, etc.] [23: 7.1-17,37-50; 8.1-3,43-56, etc] [24: Dentre muitos aspectos do quadro histrico da dominao romana dois pontos podem ser citados aqui para uma visualizao dessa sociedade, mundo das comunidades de Lucas duplamente dominado: primeiro ponto, A cultura grega: dominava ideologicamente. O homem livre no trabalhava, era rico e se dedicava a administrar, ao estudo e ao lazer. Construa ginsios, teatros, banhos pblicos, cultivava o belo. O escravo lhe fazia todo o servio. Era propriedade do homem livre. A cultura grega incentivava as cidades. Os livres moravam nela. Os gregos adoravam diversas divindades. Cada cidade tinha seus deuses e estes estavam diante do povo. O segundo ponto importante que, o imprio romano dominava publicamente. Mantinha a escravido, os tributos. Tinha exrcito poderoso de 500 mil homens. Respeitava as tradies dos povos, mas impunham seu imperador como deus. ]

Resumindo, Os destinatrios so as comunidades paulinas da segunda gerao, espalhadas especialmente pela Grcia, Macednia e sia Menor. Os dois volumes da obra de Lucas[footnoteRef:25] as chamam pelo nome Tefilo (Thes+Philos 1,3; At 1,1), que significa amigo de Deus. Podem ser todas as comunidades amigas de Deus. So comunidades de tradio paulina e podem ser caracterizadas como: Comunidades urbanas (rotas comercias, porturias), diferentes das comunidades rurais da Palestina. A palavra cidade aparece 40 vezes em Lucas. So comunidades localizadas nas periferias das grandes cidades. pelas cidades que Jesus anda muito[footnoteRef:26] e Comunidades nas quais participam ricos e pobres. Fortes contrastes sociais. De um lado h pobres, famintos, aflitos perseguidos[footnoteRef:27], de outro, h ricos que vivem na fartura e nas festanas sem se preocupar com a misria. [25: Que seriam o prprio Evangelho mais o livro dos Atos dos apstolos.] [26: 4.43; 10.1; 8.4, etc.] [27: 6.20-23. A partir das pesquisas arqueolgicas concluiu-se que o sentido de fome e pobreza no metafrico, todavia literal.]

ContedoO evangelho de Lucas apresenta algumas peculiaridades que o distinguem dos outros ESPOS. Esse evangelho comea com um prlogo, que fala sobre o material que o autor tinha disposio para escrever o seu evangelho, como tambm sobre o objetivo e mtodos do autor. Como mostra a diviso em partes, o contedo de Marcos seguido em Lucas at a grande lacuna (Mc 6.458.26). Salta aos olhos nesse evangelho a ateno especial que Jesus d aos pecadores, aos marginalizados pela sociedade, s mulheres e aos pobres. O incio do livro de Atos dos Apstolos evidencia que este livro e o evangelho de Lucas formam uma unidade. O autor tomou a humanidade de Jesus, o seu ministrio, sofrimento, morte e ressurreio, como tambm a propagao do evangelho de Jerusalm at Roma, e fez de tudo o tema de um relato geral. O evangelho a primeira parte desse relato geral. Lucas est preocupado em mostrar a parte humana de Jesus. Ele sabe e afirma que Jesus Filho de Deus, mas quer deixar claro a todo mundo que Jesus homem de carne e osso, esperado por toda a humanidade, que sente e sofre dor, que sente e vibra com a alegria. Outra caracterstica muito prpria de Lucas o trato que d ao tempo. Para o evangelista o tempo se chama hoje. Hoje (Semeron/Kairs), se cumpriu esta passagem da Escritura que acabais de ouvir(Lc 4,21). Esta palavra aparece 41 vezes no NT sendo que 20 vezes est nos escritos de Lucas. O recado deste evangelista claro: com a chegada de Jesus acabou o tempo de espera. O Reino de Deus j chegou e agora. A salvao j est acontecendo, no se precisa mais esperar. Hoje o tempo da converso, da mudana de vida. A converso nos engaja no hoje de Deus trazido e inaugurado por Jesus. Hoje, portanto o dia da misericrdia e da salvao.Assim pra Lucas o Reino j chegou no tempo presente.nfases Teolgicas.... (Jesus) Cristo, o Senhor. (2.11c)... os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos so purificados, os surdos ouvem... (7.22)

Um dos ttulos de Jesus centrais no Evangelho Jesus, o Senhor (2.11c). O ministrio de Jesus visto a partir dessa perspectiva no evangelho de Lucas. O autor d expresso acentuada ao amor que Jesus tem pelos grupos desprezados e marginalizados da sociedade. A esses grupos pertencem pecadores assumidos e outros que so assim rotulados pela sociedade.[footnoteRef:28] Mas tambm os samaritanos, to desprezados pelos judeus, pertencem a esse grupo[footnoteRef:29]. Esse evangelista tambm d mais ateno s mulheres no grupo de seguidores de Jesus do que os outros ESPOS.[footnoteRef:30] O autor desse evangelho destaca a atitude crtica de Jesus em relao s riquezas. Por isso ele registra bem-aventuranas que divergem significativamente das encontradas em Mateus (Mt 6.20). por isso tambm que Lucas registra ais que no encontramos em nenhum outro evangelho (6.24). Essa tambm a razo para ele transmitir a ns as parbolas do agricultor rico (12.15), do administrador infiel (16.1-9) e do rico e de Lzaro (16.19). O que se critica nessas passagens no a explorao e opresso por meio das posses, mas as posses em si, porque se tornam a pedra de tropeo para os que as possuem, pois procuram a realizao das suas vidas nas riquezas. [28: Cf. 5.1; 7.36; 15.1; 18.9; 19.1; 12.39, etc. ] [29: Cf. 10.30; 17.11, etc.] [30: Cf. 7.12,15; 8.2; 10.38; 23.27, etc.]

O tema desse evangelho no a piedade judaica pelos pobres, mas o amor de Deus que vale para todos os marginalizados, portanto, tambm para os pobres. O evangelho de Lucas mostra a perfeita humanidade e a perfeita. dele o documento em que se v mais de perto a face humana, pessoal, de Jesus. Ele no perde a vista sua divindade, mas retrata-o mais humanamente que os demais.A nfase especial desse Evangelho que podemos chamar de centro, o chamado relato de viagem. Quem l os captulos 10-19, percebe logo que no se trata aqui de um relato detalhado de viagem. No d nem para reconhecer a rota exata da viagem, o que provavelmente no o objetivo do autor. O tema outro, teolgico. Jerusalm a cidade das disputas e do sofrimento e Jesus o encorajador da misso. A parte central do evangelho mostra como Jesus prepara os discpulos para esse sofrimento. Os evangelhos sinpticos tm sido chamados de histrias de sofrimento com uma longa introduo. Isso certamente verdade em relao a Lucas, principalmente se considerarmos a parte central. Por causa desse trecho, o evangelho tem uma diviso em trs partes aproximadamente iguais. Essa diviso em trs partes tambm pode ser notada em outros trechos. Segundo a viso do autor, a histria de Deus com a humanidade tambm dividida em trs grandes pocas: a poca do AT, que tambm pode ser denominada a poca da lei e dos profetas; a poca do ministrio de Jesus (16.16; Cf Mc 11.12) e a terceira grande poca, a poca da igreja de Jesus, como a descreve Atos dos Apstolos.... os mortos ressuscitam e aos pobres anunciada a boa notcia. (7.22)

Evangelho de Joo

AutoriaUma discusso detalhada da questo da autoria se faz necessria porque dela dependem decises sobre o valor histrico do quarto evangelho. No evangelho mesmo temos as seguintes informaes: acredita-se que era o discpulo a quem Jesus amava (21.20-24). Esse discpulo estava do lado de Jesus na ltima ceia de Jesus com os seus discpulos (13.23). Ele o discpulo que estava diante da cruz de Jesus e a quem Jesus confiou a sua me (19.26). Provavelmente tambm ele a testemunha da morte de Jesus (19.35). Juntamente com Pedro ele corre para o tmulo na manh do dia da pscoa e se convence de que o tmulo est vazio (20.2). Destas indicaes resulta que o autor apresentado presumivelmente pelos seus discpulos como a testemunha ocular e amigo ntimo de Jesus. O nome no mencionado. Em vrios textos temos a meno de um grupo mais ntimo entre os discpulos de Jesus (Mc 5.37; 9.2; 14.33). Pedro, Tiago e Joo. Segundo Lucas 22.8, Pedro e Joo prepararam a ltima ceia. Segundo Lucas 5.1-11, Tiago e Joo so scios de Simo que so evidentemente diferenciados dos outros pescadores. Mesmo depois de Pentecostes, Pedro e Joo esto juntos (At 3.11; 4.13; 8.14). Paulo menciona Tiago, Cefas e Joo como colunas da igreja primitiva (Gl 2.9). Disso conclumos: se estamos procurando nesse grupo ntimo dos discpulos aquele a quem Jesus amava, Tiago e Pedro esto excludos. Tiago morreu como mrtir j no ano de 44 d.C. Em Joo (21) Pedro est diante do discpulo amado. Dos trs s sobrou Joo, filho de Zebedeu. Nesse sentido conclumos que, o texto de Joo foi abastecido por ideias de uma testemunha ocular que acredita-se ter sido o discpulo amado.[footnoteRef:31] [31: A favor de uma testemunha ocular como autor desse evangelho esto as seguintes observaes: o autor conhece os costumes judaicos muito bem. Os rituais de purificao (2.6) e diversas festas judaicas, entre elas a festa dos tabernculos (7.37). Ele o nico entre os autores de evangelhos a oferecer dados sobre a histria judaica, ao mencionar nomes de sumo sacerdotes (11.49; 18.13). Ele lembra vrios detalhes geogrficos e topogrficos. Exatido nas citaes exclusivas marca sua em vrios trechos: Joo 2.6; 4.5,6; 5.2; 6.9,19; 12.3; 13.24; 18.6,10; 19.39; 21.8,11. Da vem concluso: ao olharmos atentamente para o evangelho vemos apoio para a informao de que uma testemunha ocular escreveu o quarto evangelho. Existem tambm afirmaes nos pais da igreja a cerca da autoria do discpulo amado. Irineu (120-202 d.C.) que foi associado com Policarpo conhecia Joo o Apstolo (cf. Histria Eclesistica de Eusbio 5:20:6-7) Joo o discpulo do Senhor que reclinou sobre Seu peito e ele mesmo publicou o Evangelho na sia . Clemente de Alexandria (153-217 A.D.) Joo que foi instado por seus amigos e divinamente movido pelo Esprito comps um Evangelho espiritual(Histria Eclesistica 6:14:7 de Eusbio).]

Data e contexto histrico.Durante muito tempo a ala mais conservadora da pesquisa bblica, considerava o quarto evangelho um escrito surgido em torno de 170 d.C., com certeza no antes de 160 d.C.[footnoteRef:32] Todavia devido ao avano das pesquisas e a arqueologia essa data no mais defendida.[footnoteRef:33] [32: Para chegar a essa concluso, os estudiosos se baseavam nas concordncias lingusticas e de contedo entre esse evangelho e o gnosticismo, cuja influncia sobre a igreja antiga alcanara o seu pice na segunda metade do sculo II. F. C. Entendia- se que, o quarto evangelho era uma tentativa de manter a unio da igreja ameaada de ciso, ao usar a linguagem do gnosticismo, dando, no entanto, uma interpretao antignstica sua mensagem. Tambm achava- se que o evangelho era muito apropriado para afirmar aqueles elementos do movimento espiritualizante dos Montanistas que considerava importantes para toda a igreja.] [33: A disputa entre os telogos e pesquisadores ficou pendente at que C. H. Roberts publicou o Papiro Rylands (p52) em 1935. Trata-se de um fragmento de um manuscrito de papiro que na frente tem escrito Joo 18.31-33 e no verso Joo 18.37-38. No h dvidas de que esse manuscrito foi escrito em torno de 125 d.C. Foi achado no Egito. Isso significa que no incio do sculo II o evangelho de Joo j era conhecido no Egito. Por isso evidentemente j fora escrito antes do fim do primeiro sculo. Desde essa descoberta isso convico comum e aceita pelos intrpretes do NT.]

Na segunda metade do nosso sculo os intrpretes do NT esto bastante unidos em torno da posio de que o quarto evangelho tenha sido escrito com muita probabilidade no final do primeiro sculo, provavelmente entre os anos 90 e 100. Quanto a data de autoria, algo chama a ateno para o fato de que no evangelho de Joo, se comparado com os ESPOS, a destruio de Jerusalm no anunciada de nenhuma maneira. O evangelho omite um tema que aparece em todos os escritos judaicos ou cristos que podem ser datados com segurana entre 70 e 100 d.C. Levando em conta o contedo do quarto evangelho, a observao sobre a destruio de Jerusalm no poderia ter faltado. Outro fato, de acordo com 2.20 o templo de Herodes est em construo h 46 anos. Isso corresponde poca em que Jesus pregou. O evangelista cita esse dado sem coment-lo, o que em outras passagens ele faz sem restries. De acordo com 5.2 o tanque Betesda tem cinco pavilhes. Ele no diz tinha. Em outras palavras, os pavilhes ainda esto em p quando ele escreve. Resumindo, Mas em que parte do primeiro sculo d.C. o quarto evangelho foi escrito? Alguns estudiosos argumentam a favor dos anos 90, pois crem que o autor j conhecia e fez uso do evangelho de Lucas.Aprofundando nossa pesquisa, no que tange ao contexto histrico de Joo, esse evangelho no se distingue somente pela linguagem com caractersticas semticas, pelo estilo de meditao e pela forma de pensar em crculos. O seu contedo est relacionado a diversos movimentos religiosos do contexto da igreja primitiva. Bem presente est a influncia do AT. Existem diversas citaes do. s vezes so estabelecidas ligaes surpreendentes com o AT (cf. 10.34). Em outros trechos, mesmo sem citar uma passagem especfica, so feitas aluses ao AT (por exemplo, 1.45; 2.22). Tambm as imagens caractersticas nos discursos de Jesus vm do AT: po e luz, pastor e rebanho, videira e galhos. Todas esto relacionadas tradio de esperana do AT. As correspondncias apontam para uma direo: esse evangelho tem a sua origem no AT. Nenhum dos contextos histrico-religiosos paralelos pode ser comprovado como fonte do evangelho de Joo. Alm do AT, o desafio do movimento gnstico judaico teve impacto mais forte sobre o autor. Ele aproveitou as questes que surgiram nesse gnosticismo e as respondeu de forma antignstica. A sua afirmao-chave : E o Verbo se tornou carne e habitou entre ns e vimos a sua glria, glria como do unignito do Pai, cheio de graa e de verdade (1.14). uma afirmao contra a convico gnstica de que Deus no podia se tornar homem de verdade. O autor teve um encontro com o filho de Deus que se tornou homem. Isso o capacita a contradizer a heresia gnstica. Ele faz isso ao se basear na vida e na proclamao de Jesus. Acima de tudo ele usa os discursos de Jesus, nos quais h semelhana de conceitos com os escritos de Qumran e semelhana de expresses com os escritos gnsticos, mas que se opem aos conceitos gnsticos de salvao ao apresentar a salvao que Jesus trouxe: Ele, filho de Deus, se fez verdadeiro homem. Assim se tornou o nosso salvador.

ContedoO evangelho se distingue dos ESPOS por algumas caractersticas especiais. S destaca alguns atos de Jesus, pois a nfase est nos discursos de reflexo e meditao que giram em torno da revelao de Deus em Jesus, do conhecimento de Deus e da f naquele que est se revelando. Nesses discursos encontramos uma linguagem peculiar que pode ser definida com mais exatido. Aqui passamos a conhecer Jesus como filho de Deus, que tinha um relacionamento nico e ntimo com o Pai no cu. A vida de Jesus reflete a glria de Deus (1.14) e alcana o seu pice na morte na cruz e na ressurreio. A diviso em partes tambm diverge da diviso dos ESPOS, pois o evangelho de Joo organizado de acordo com o modelo biogrfico. Este evangelista ressalta as vrias viagens de Jesus a Jerusalm para as festas especiais dos judeus: Esses dados do quarto evangelho so a nica fonte histrica que dizem que, aps o seu batismo, Jesus exerceu o ministrio pblico por aproximadamente trs anos. Mostram tambm que houve mais viagens na Palestina no seu ministrio do que os ESPOS documentam. Mais um aspecto importante que s conhecemos muitos detalhes sobre nomes e locais da Palestina graas a este evangelho. Tudo isso indica que o autor dava valor a dados histricos e por isso os registrou. Como j indicado acima, ele usa o modelo biogrfico para contar a sua histria.

nfases Teolgicas.

Eu sou a ressurreio e a vida. Quem cr em mim, ainda que morra, viver... (11.25)

O evangelho de Joo apresenta diversas nfases teolgicas, todavia como nosso curso tem como escopo ser introduo s abordaremos dois: o ensino sobre Jesus (cristologia), o ensino sobre a salvao do homem (soteriologia). Esses elementos no esto desconexos no texto, mas inter-relacionados, como vamos propor.A cristologia em Joo tem o objetivo de demonstrar que Jesus o filho de Deus (20.31). O Cristo, o Messias esperado pelo povo judeu, anunciado desde o incio como o filho de Deus (1.17, 41, 49), o que ultrapassa todas as expectativas. Ele o Filho na sua plenitude[footnoteRef:34]. Mas isso no est em contradio com a apresentao de Marcos, que tentou esconder cuidadosamente o mistrio da pessoa de Jesus para evitar que ele fosse reconhecido muito cedo como o Messias? Se examinarmos com mais ateno s palavras de Jesus no evangelho de Joo, perceberemos que Jesus nunca se autoproclamou Messias. verdade que os outros lhe deram esse ttulo, como tambm os ESPOS relatam[footnoteRef:35]. Mas Jesus evitou se fundamentar nesse ttulo. Somente a uma mulher em Samaria ele admitiu ser o Messias (4.26). Nos outros ouvintes ele no confiava (2.24). Sempre que queriam aclam-lo rei, ele se retirava (6.14). [34: Cf. 1 Jo 1.3; 3.8,23; 4.9,15, etc.] [35: Cf. 4.25; 7.25-31; 7.41s; 10.24; 11.27; 12.34]

No evangelho de Joo, Jesus se identifica como filho de Deus desde o incio, descrevendo, desta forma, o seu relacionamento especial com o Pai, que nos ESPOS s indicado, mas no omitido. Joo mostra que exatamente neste ponto que surge o conflito entre Jesus e a liderana judaica. Em que o evangelista baseia essa tradio? Ele mesmo encontrou o filho de Deus que se tornou homem e viu nos seus sinais a glria de Deus (1.14). Ele participou do evento em que Jesus fez o cego de nascena ver de novo (9.5,39) e esteve presente quando Jesus ressuscitou o morto (11.25s). Ele ouviu as declaraes do Eu sou em que Jesus disse que era o po da vida (6.35), a luz do mundo (8.12), a porta para o rebanho (10.7), o bom pastor (10.11), a ressurreio e a vida (11.25), o caminho, a verdade e a vida (14.6), a videira verdadeira (15.1), um rei (18.37). At esta ltima, todas as declaraes do eu sou so precedidas pelo artigo definido. Jesus a luz; alm dele o mundo no tem luz. Jesus o po; sem ele o mundo morre de fome. Jesus o caminho; no h outro caminho para Deus.A soteriologia de Joo marcada pela universalidade, pois aqui se trata da salvao do mundo: Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unignito para que todo aquele que nele cr no perea, mas tenha a vida eterna (3.16). Os samaritanos reconheceram esta verdade ao se convenceram de que ele era de fato o Messias quando afirmaram: este verdadeiramente o Salvador do mundo (4.42). Por meio da sua vinda, vida e morte ele abriu o caminho para a salvao de todos que cressem nele. Assim fica claro que essa universalidade no igual ao universalismo (no final Deus vai achar uma forma de salvara todos). Sem f e relacionamento pessoal com Deus no h acesso salvao. O fundamento para a salvao de todos os que crem a morte substitutiva de Jesus Cristo. A isso corresponde a interpretao que Jesus d ao po quando diz: Eu sou o po vivo que desceu do cu; o po que eu darei pela vida do mundo, a minha carne (6.51). As tentativas de atribuir esses trechos redao da igreja antiga no tm fundamento com base na tradio dos manuscritos. importante notar tambm o grande valor que Joo d ao chamado f.[footnoteRef:36]Mas que significa f, em Joo? Frequentemente encontramos em Joo conceitos como crer e reconhecer, crer e confessar, lado a lado. Disso podemos concluir o seguinte: crer significa reconhecer as palavras de Jesus como vindas de Deus, que as revelou, e assim tambm reconhecer e se associar pessoa de Jesus. [36: Cf. 3.16,36; 5.24; 6.40,47.]

Conclumos que a f joanina no significa somente uma deciso existencial em reao ao convite do Deus que se revela, mas , tambm, e acima de tudo, uma ligao com aquele que traz a salvao; discipulado em que o fiel segue aquele que abriu o caminho, e o mediador da salvao. A este contexto pertencem as expresses estar em Cristo, permanecer em Cristo e dar frutos. A soteriologia em Joo caracterizada pela universalidade porque diz respeito a todos. Mas ela indica para a f e para o discipulado do indivduo. A morte de Jesus recebe importncia central para a salvao do mundo. Ela interpretada como morte vicria e vitria sobre todos os poderes inimigos de Deus (Jo 19.30).

... e todo o que vive e cr em mim, no morrer, eternamente. (11.26)

Referncias bibliogrficas.

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