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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
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UM ESTUDO SOBRE AS ESCOLAS TÉCNICAS NO INÍCIO DO
PARANÁ REPUBLICANO
ZANLORENSE Maria Joselia (UEPG) 1
NASCIMENTO Maria Isabel Moura (UEPG) 2
SOUSA Nilvan Laurindo (UEPG) 3
Agencia Financiadora: CNPq
Este estudo refere-se a uma pesquisa de mestrado em andamento e tem como
finalidade contribuir para a História da Educação Brasileira, bem como com a história
do Paraná diante da temática a qual se reporta a criação das primeiras Escolas Técnicas
do Estado do Paraná instaladas nos primeiros cinqüenta anos do século XX. Período
este que trata da instauração da República e seu imaginário de sociedade desenvolvida
que vê na educação o elemento fundamental de mudança social e elevação do indivíduo
que contribuiria com o desenvolvimento da sociedade. O amor a pátria, a formação da
moral do brasileiro e formar o trabalhador para o meio o qual estava inserido permeava
os ideais de educação do mencionado período.
No final do século XIX o Brasil passa por crises política e nas relações de
produção. Neste cenário se consolida um novo cenário social e político brasileiro, o
trabalho livre e assalariado e o regime republicano. Com o crescimento da agricultura
cafeeira no final do século XIX e um novo sistema de organização social fundamentado
na mão de obra assalariada, dois fatores interdependestes se fizeram expressar neste
período, a imigração com um grande contingente de pessoas vindo da Europa para
trabalhar no cultivo do café e a industrialização que se fazia nascente, que se desenvolve
com o decorrer dos tempos republicanos e recebe maior ênfase após os anos trinta do
século XX.
1 Mestranda em História e Políticas Educacionais da Universidade Estadual de Ponta Grossa. 2 Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Ponta Grossa. 3 Mestranda em História e Políticas Educacionais da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
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O Brasil termina o século XIX e adentra o XX com a economia eminentemente
agrícola e exportadora. Entre os produtos produzidos no Brasil, o café assume o
primeiro lugar na lista dos grandes produtos exportáveis. Embora o café tenha passado
por crises no ano de 1896, com superprodução e queda no comércio e nos preços, entrou
no século XX no auge de sua produção gerando para o país grande acréscimo
econômico e manteve esta predominância nas três primeiras décadas do século XX.
Assim pontua Prado Junior (2008):
De todos os produtos brasileiros modernos, o primeiro e soberano lugar cabe ao café. [...]. Ele se classificará no século XX, entre os primeiros, se não o primeiro gênero primário do comercio internacional; e o Brasil, com sua quota de 70% da produção, gozará de primazia indisputada. (PRADO JUNIOR, 2008, p. 225-226).
O Paraná no findar do Império e início do período republicano adentrando no
século XX apresentava como elemento mais forte de sua economia a produção de erva-
mate. Contava esta recente Província, como no restante do país com a mão de obra
escrava, instalado no Paraná primeiro com a com a exploração do ouro no litoral
paranaense, depois com a produção da erva mate. Embora este sistema de mão de obra
não se mostrasse de forma intensa como no Nordeste do Brasil com a produção do
açúcar o mesmo se fez presente neste Estado “O Paraná passou a ser a terra da erva-
mate. Tornou-se o maior produtor e exportador do país [...]” (WACHOWICZ, 1995, p.
128).
Com nosso estudo direcionado para o mesmo período, fim do século XIX e
inicio do século XX pretendemos averiguar as mudanças socioeconômicas que
ocorreram no mencionado período juntamente com os ideais republicanos de sociedade,
acompanhado do desejo de progresso que permeava o novo regime que a pouco tempo
havia se instalado no país. Neste contexto pretendemos constatar as necessidades que
emergiam da sociedade e os discursos que permearam a criação das escolas técnicas na
zona rural e urbana do Estado do Paraná.
Com economia predominantemente agrícola pautada nas grandes fazendas, a
população paranaense das regiões mais antigas do povoamento paranaense, Paranaguá,
a qual era cidade portuária, Curitiba e Campos Gerais eram caracterizadas pelos antigos
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moradores brasileiro os portugueses, os negros e os índios (WACHOWICZ, 1995, p.
268) nas demais regiões do Paraná contava também com mineiros e paulistas.
Estado paranaense recebeu um grande número de imigrantes de diferentes
nacionalidades que se instalaram também em diferentes localidades e regiões do Paraná
“[...] alemães, poloneses, italianos, ucranianos, sírio-libaneses, austríacos, franceses,
ingleses, holandeses, etc. Os alemães influenciaram mais as cidades e os poloneses a
produção agrícola. (WACHOWICZ, 1995, p. 268). Diante deste contexto o Estado do
Paraná passa a conquistar posição no cenário econômico nacional.
O cultivo do café conquista espaço cada vez mais na economia brasileira e ocupa
o lugar central da economia brasileira como produto de exportação. Este encontrará
grande espaço no mercado mundial e fará do Brasil um exportador por excelência
durante as décadas finais do século XIX e alguns decênios do século XX. Oriunda desde
os meados do século XIX, a economia cafeeira influenciou fortemente o
desenvolvimento econômico e social brasileiro.
O café já era o principal produto brasileiro de exportação na década de 1840; mas na segunda metade do século XIX, sobretudo a partir das décadas de 1860 e 1870, a produção cafeeira passou por transformações profundas. A história dessas transformações é a história da formação de novas relações de produção não somente na economia cafeeira, mas no conjunto da sociedade brasileira (SILVA, 1976, p. 12).
A valorização do café gerou alterações na sociedade, pois enquanto o Norte
decaía como grande produtor de café devido a falta de mão de obra o Oeste do país
tomava para si a produção do produto em voga para exportação. Com estes
acontecimentos o que acontece é o deslocamento de grande parte da população do Norte
para o Sul do país.
[...] o deslocamento de populações de todas as partes do país, mas em particular do norte, para o sul, e São Paulo especialmente; mesmo com a maciça imigração européia e a abolição da escravidão; a própria Federação e a República mergulham suas raízes profundas nesse solo fecundo onde vicejou o último soberano, até data muito recente, do Brasil econômico: o rei café, [...] (PRADO JUNIOR, 2008, p.167).
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Para atender a esta demanda de desenvolvimento no século XX, vindo a
responder as necessidades e avanços da economia agrícola nacional, ao lado deste
avanço houve também o desenvolvimento das estradas de ferro. Salvo que no período
imperial esta iniciativa já havia sido tomada, mas de modo muito tênue. Poucas estradas
foram criadas nesta ocasião, das quais se destacava em maior proporção eram as
estradas de ferro. “O aparelhamento técnico se desenvolvera bastante. As estradas de
ferro, cujo estabelecimento data de 1852, somavam cerca de 9 mil km de linhas em
tráfego, e outros 1.500 em construção” (PRADO JUNIOR, 2008, p. 196). Quanto às
estradas de rodagem sua proporção seria muito menor diante do exposto sobre as de
ferro, conforme apresenta. Contava o Brasil apenas com as estradas “União e Indústria”
que ligava Petrópolis e Juiz de Fora, a estrada que ligava Curitiba e Antonina no Paraná.
Com incremento nas estradas de ferro e de rodagem o setor industrial brasileiro
principia seu desenvolvimento devido aos diversos fatores favoráveis a este processo.
Podemos apontar entre eles a acumulação de capital com a exportação do café, o
aumento do consumo interno, a disponibilidade de mão de obra livre e assalariada, a
elevação do preço das mercadorias importadas (NAGLE 1974).
O setor econômico brasileiro apresentou taxa de aumentos e declínios após as
décadas de 1930, com o desenvolvimento tanto da agricultura quanto da indústria.
Aumenta a produção agrícola para o consumo interno brasileiro e a indústria começa a
dar seus passos em direção à produção do consumo interno.
As taxas de crescimento anual da indústria permitem entender melhor o processo de industrialização posterior de 1930. Elas indicam um considerável avanço entre 1933 e 1939 e um ímpeto menor entre 1939 e 1945. Isto significa que a indústria se recuperou rapidamente dos anos de depressão iniciados em 1929 (FAUSTO, 2001, p. 217).
O Paraná, Estado que teve seu crescimento pautado na produção cafeeira no
final do Império até o período de 1930, contava de tal modo com a diversificação da
produção na sua economia saído da predominância da erva-mate e passando para o
pinho, tendo sua ênfase na exportação (WACHOWICZ, 1995). Quanto ao progresso do
Estado do Paraná no setor econômico os relatórios disponibilizam o panorama em que
se apresentava a esfera do desenvolvimento da economia paranaense. Como consta no
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Relatório do Secretário de Negócios e Obras Publicas e imigração Francisco Gutierrez
Beltrão ao Exmo. Sr. Dr. Presidente do Paraná Vicente Machado da Silva Lima:
A conservação das estradas e caminhos de rodagem que ligam as diversas zonas do Estado e a construção das necessárias ao desenvolvimento das indústrias e proveitosa exploração das riquezas do solo paranaense, constituem um dos importantes ramos de serviços affectos a este departamento da administração publica e tem merecido acurada attenção para que sejam executados o programma e determinações de V. Ex. ( PARANÁ, 1906, p. 22).
Possibilidades estas que se concretizaram em proporções cada vez mais
extensas. Propiciaram amplo desenvolvimento ao Brasil que emergia diante das
influências internacionais no setor industrial. Passando a economia brasileira não
somente ao setor agrícola, mas também o industrial. Ao lado deste vieram
conseqüentemente o desenvolvimento social com as imigrações e povoamentos.
Surge no setor industrial nos primeiros tempos da república a necessidade de
preparação para o trabalho nas indústrias e no comércio. Torna se indispensável a
formação da mão de obra devido o crescimento do setor econômico brasileiro. Espaço
o qual a educação também se mostrava inteirada das questões emergentes e delas se
fazia direcionar para a busca de soluções que suprissem a demanda da mão de obra na
esfera social imposta pela economia crescente, pois “os fatores econômicos também
exerciam pressão no sentido de ser melhorada a mão-de-obra dos estabelecimentos
fabris” (FONSECA, 1986, p. 173).
O novo cenário social e econômico paranaense exigem novas ações e dentro da
demanda que emerge na sociedade, a educação pública requer ser pensada. Foram
atendidas as cidades de maior representação na economia paranaense, entre estas está
Curitiba - capital do Estado do Paraná, Paranaguá, Ponta Grossa, Guarapuava e Castro,
as quais são as cidades mais antigas do Estado e que o comércio se fazia mais intenso
para a criação dos Institutos Comerciais.
Com o intuito de compreender este contexto, bem como a criação das escolas
técnicas no Paraná, é que o presente estudo enfoca o período compreendido entre os
anos iniciais do século XX até a sua metade, ou seja, 1900 a 1950. Dada a importância
desse período para o desenvolvimento educacional no Paraná – PR, quando foram
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criadas as primeiras escolas técnicas do ensino público, como concretização do
importante papel da educação no processo de desenvolvimento e modernização da
sociedade brasileira. A delimitação do objeto, de tempo e de região no presente estudo
possibilita compreender o movimento parte todo do Ensino Técnico no período da
instauração republicana.
Como critério de delimitação do campo de pesquisa foi adotado a região do
Paraná frente ao número significativo de escolas técnicas neste Estado. Também, ao
realizar o resgate da história destas instituições objetivamos contribuir para a história do
Estado e da educação paranaense. Até a primeira metade do século XX o Estado do
Paraná conta com as seguintes localidades elevadas à categoria de cidade por decretos
pelo do Estado do Paraná4, Curitiba 1842, Foz do Iguaçu 1943, Castro 1857, Ponta
grossa 1862, Morretes 1869, Guarapuava 1871, Palmeira 1877, Campo largo 1882, Rio
Negro 1896, Palmas 1896, São José da Boa Vista 1897, Tibagi 1897, São José dos
Pinhais 1897, Jaguariaiva 1908, Imbituva 1910, Jacarezinho 1911, Ribeirão Claro 1911,
Jataizinho1929, Santo Antonio da Platina 1929, Prudentópolis1929, Ipiranga 1930,
Rebouças 1937, Piraquara 1938 (FERREIRA, 1996).
O presente estudo se integra a um projeto maior sobre as instituições escolares,
que tem por objetivo o levantamento e catalogação das fontes primárias e secundárias
desenvolvido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação no
Brasil” com sede na Faculdade de Educação da Universidade de Campinas-UNICAMP
(NASCIMENTO, 2004).
O Estado do Paraná até a metade do século XX contava com o povoamento de
uma grande leva de imigrantes, com característica predominantemente agrícola e o setor
econômico girava de início em torno em torno da produção da erva mate, seguida da
exportação de madeira e produção do café5, elemento base da economia brasileira neste
período.
4 As datas que seguem os nomes das cidades são referentes ao período de elevação das
localidades à categoria de cidades. Os dados foram retirados da obra de FERREIRA, João Carlos Vicente, 1996.
5 Sobre essa questão ver: Sérgio Silva. Expansão cafeeira e origens das indústrias no Brasil,
1976.
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O desenvolvimento e urbanização deste Estado foram acrescidos pela
construção da estrada de ferro e de rodovias contribuindo para o surgimento de novas
cidades, principalmente no norte do Paraná.
Embora este estudo tenha como objeto as escolas técnicas do Paraná vale
ressaltar que estas instituições não se desenvolveram de modo desvinculado da
realidade social e educacional brasileira, mas se mostram como reflexo de uma
realidade maior de determinada sociedade evidenciando desta forma seus aspectos
sociais e econômicos. Assim sendo a história das escolas técnicas do Paraná tem suas
particularidades que as fazem singulares enquanto objeto de pesquisa. No entanto para
compreender seu surgimento torna-se necessário apreender sua ligação com a realidade
nacional de forma mais ampla, bem como as carências surgidas naquele contexto.
No interior das instituições há um quebra-cabeça a ser decifrado. Uma vez dentro da instituição, trata-se de se fazer o jogo das peças em busca dos seus respectivos lugares. Legislação, padrões disciplinares, conteúdos escolares, relações de poder, ordenamento do cotidiano, uso dos espaços, docentes, alunos e infinitas outras coisas ali se cruzam. Pode-se dizer que uma instituição escolar ou educativa é a síntese de múltiplas determinações, de variadíssimas instancias (política, econômica, cultural, religiosa, da educação geral, moral, ideológica etc.) que agem e interagem entre si, “acomodando-se” dialeticamente de maneira tal que daí resulte uma identidade (SANFELICE, 2007, p. 77).
Propomo-nos nesta pesquisa em realizar o resgate das fontes históricas e de
reconstrução histórica das Instituições Escolares Técnicas Públicas. No qual nos
defrontamos com dois problemas presentes nas investigações da História das
Instituições Escolares, que são: o trabalho de levantamento e catalogação de fontes
diante das condições de armazenamento e manutenção pelas escolas públicas e o
trabalho de articulação dos diversos tipos de fontes, de modo a não deixar escapar as
características e o significado do fenômeno investigado (SAVIANI, 1999).
O processo de resgate das fontes das Instituições escolares técnicas e de escrever
a história destas Instituições amplia as possibilidades de compreensão da própria
História da Educação, na medida em que elas se relacionam com o todo, e não são uma
mera subdivisão da educação. A reconstrução histórica depende essencialmente das
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fontes6, que são o ponto de origem, a base e o ponto de apoio para a produção
historiográfica e ganha significado na medida em que traz a expressão de sujeitos ou
grupos sociais específicos, que representam um contexto histórico determinado, sendo
relevantes para compreensão da História da Educação de uma sociedade.
Este trabalho de resgate das fontes e de reconstrução histórica das Escolas
técnicas tem um significado especial para a comunidade escolar e para os grupos sociais
com os quais tem relações, no sentido, de possibilitar uma melhor compreensão do
desenvolvimento histórico das comunidades onde as instituições estão inseridas, visto
que, ao estudar uma determinada região ou instituições estas não se apresentam isoladas
de uma abrangência maior e se mostram como reflexo dos acontecimentos gerais de
uma determinada época em seus diferentes aspectos.
Para a compreensão do objeto de pesquisa neste exposto, necessário se fez
conhecer a totalidade dos acontecimentos ocorridos na história e as mudanças ocorridas
na sociedade, inteirando deste estudo o conhecimento do processo de transição da mão
de obra escrava para o trabalho assalariado, a passagem do Império para a República e o
crescimento da produção de exportação o café como fator de destaque da economia
brasileira. Estes elementos tiveram significativa importância no processo de
transformação social e econômica nacional. Transformam-se também neste contexto as
relações de trabalho que sai do sistema escravista para o trabalho assalariado. O
trabalhador perde sua identidade de ser transformador da natureza, passa a ser um meio
de produção dentro do sistema capitalista ao vender sua força de trabalho, de certa
forma – uma mercadoria.
Pelo trabalho o ser humano se diferencia dos demais animais como ser pensante,
ser racional que planeja suas ações, também é pelo trabalho que se integram homem e
natureza, satisfaz as necessidades de sobrevivência e por meio deste, a sociedade se
organiza. No sistema capitalista o trabalho assume outra perspectiva. A separação do
homem daquilo que ele produz impossibilita o ser humano de se reconhecer como
produtor, não vê o resultado final do seu trabalho, alem de não ser proprietário dos
meios dos quais produz. Torna-se mero instrumento, possuidor de uma mercadoria
6 Estamos nos apropriando do sentido de Fonte ver Dermeval Saviani em: Instituições escolares,
2007.
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chamada “força de trabalho”. O trabalho, agora dentro deste novo molde empregado
pela transição da mão de obra escrava para o trabalho livre assume os anseios do capital.
(MARX, 2011).
A separação do trabalhador dos meios e técnicas de produção e dos resultados de seu trabalho, torna-o alienado, constituindo-se num ser estranho ao próprio mundo e às coisas que produz. Além disso, a divisão social do trabalho no capitalismo estabelece o lugar dos indivíduos na sociedade, colocando-os em classes sociais opostas: a classe dos proprietários dos meios de produção e a classe dos que possuem apenas a sua força de trabalho para vender no mercado de trabalho, em relações baseadas na exploração dos trabalhadores pelos que são proprietários e, realmente, controlam os meios de produção (NASCIMENTO, 2009, p. 16).
A estas mudanças acompanharam também o grande afluxo de imigrantes e o
desenvolvimento da indústria, com tais alterações a educação passa a ser vista como
elemento e meio de ascensão social por meio da alfabetização. “Como pano de fundo na
Primeira República, o que havia era uma preocupação marcante em acabar com o
analfabetismo por meio da escola elementar para o povo” (NASCIMENTO, 2006, p.
327).
Acompanhando os anseios capitalistas o Brasil toma iniciativas de organização
do ensino e passa a criar as escolas técnicas e assim responder as necessidades de
formar o trabalhador para as industrias nascente.
Ao lado do desenvolvimento econômico brasileiro, foram criadas as Escolas
Técnicas para corresponder a interesses que viessem a contribuir para a continuidade da
economia capitalista e gerar novos trabalhadores, agora instruídos conforme o desejo
dos ideais republicanos para a nação. O progresso econômico direcionava o empenho de
novas formas de ensino, nesse contexto se investe no ensino profissional para os
diferentes setores da economia.
Para tanto, esta pesquisa tem por objetivo geral: promover a reconstrução
histórica das Instituições Escolares do Ensino Técnico do Estado do Paraná criadas no
período de 1900 a 1950, organizar os documentos de criação e instauração destas
instituições e como objetivos específicos pretendemos discutir o processo de
constituição do ensino técnico no Brasil Republicano; analisar o processo de criação das
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Escolas Técnicas urbanas do Estado do Paraná; analisar o processo de criação das
Escolas Técnicas rurais do Estado do Paraná.
Para compreender a realidade da época em que se apresentam as escolas técnicas
no período de 1900 a 1950, partiremos do entendimento da totalidade deste contexto, o
que compreende os aspectos sociais, econômicos e políticos que se apresentavam neste
período. É necessário “[...] que o objeto, a sociedade, esteja constantemente presente no
espírito como dado primeiro.” (MARX, 2003, p. 249). No estudo da sociedade e suas
múltiplas relações enquanto totalidade, abordaremos as instituições escolares do Ensino
Técnico do Estado do Paraná enquanto o específico dentro destas relações a serem
estudadas.
Para evidenciar o movimento das alterações sociais e elucidar os elementos
determinantes das referidas mudanças na sociedade capitalista brasileira utilizaremos o
enfoque do materialismo histórico elencando cinco categorias de analise: trabalho,
sociedade, educação, rural e urbano. Este proceder possibilita uma compreensão mais
acurada da totalidade em que se insere o objeto de estudo permitindo a contextualização
da pesquisa na história, compreendendo e apreendendo a realidade dos acontecimentos,
suas relações e a produção destas relações. “Em todas as formas de sociedade é uma
produção determinada e as relações por ela produzidas que estabelecem a todas as
outras produções e às relações a que elas dão origem a sua categoria e a sua
importância” (MARX, 2003, p. 255-256).
Nesta linha de pensamento para a análise dos acontecimentos faremos uso do
método dialético o qual possibilita evidenciar as relações do objeto estudado com a
totalidade social e histórica, ou seja, as influências econômicas, políticas e as intenções
que permeiam o espaço educacional do momento estudado. Este proceder deve
acontecer ao elucidar os documentos, passando pelo processo de questionamento das
fontes, confrontando com os objetivos os quais são usados como justificativas daqueles
que criaram as instituições e para que e quem fosse criada. Caracterizando com este
proceder os reais interesses contidos na criação das escolas técnicas bem como na
educação brasileira, materializando o real que nem sempre se mostra aparente. “O
concreto é concreto por ser a análise de múltiplas determinações, logo, unidade da
diversidade (MARX, 2003, p. 248).
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Desta forma visamos conhecer e compreender os acontecimentos e a totalidade
dos fatos no decorrer da história da educação brasileira, necessidade esta fundamental
para se evidencie as influências e necessidades que determinaram o surgimento e
instalação das Escolas Técnicas do Estado do Paraná bem como as alterações que estas
instituições sofreram no decorrer do mencionado período.
O ano de 1950 encerra um ciclo de criação de escolas técnicas republicanas,
tendo em vista, que a partir da década de 1950 a escolarização amplia-se
significativamente. No levantamento das Instituições Escolares Técnicas criadas no
Estado e no período delimitado para esta pesquisa foram registradas preliminarmente as
seguintes escolas:
LISTA DAS ESCOLAS Nº ESCOLA ANO DE
CRIAÇÃO LOCALIZAÇÃO TIPO
1 Instituto Comercial do Paraná 1905 Curitiba Urbana 2 Instituto Comercial de Castro 1905 Castro Urbana 3 Instituto Comercial de
Guarapuava 1905 Guarapuava Urbana
4 Instituto Comercial de Ponta Grossa
1907 Ponta Grossa Urbana
5 Instituto Comercial de Paranaguá 1910 Paranaguá Urbana 7 Escola de Aprendizes Artífices
1937 – A instituição passa a ser chamada de Liceu Industrial de Curitiba
1909 Curitiba Urbana
8 Escola de Trabalhadores Rurais do Canguiri
1933 Piraquara Rural
9 Grupo Escolar Júlio Teodorico 1935 Ponta Grossa Urbana 10 Escolas dos Trabalhadores Rurais
Olegário Macedo 1935 Castro Rural
11 Escola de Pescadores Antonio Serafim Lopes
1936 Paranaguá – Ilha das Cobras
Rural
12 Escola de Trabalhadores Rurais Dr. Carlos Cavalcanti
1937 Curitiba Rural
13 Escola de Trabalhadores Rurais Augusto Ribas
1937 Ponta Grossa Rural
14 Escola de Pescadores de Guaratuba
1940 Guaratuba Rural
15 Escola de Trabalhadores Rurais Lysimaco Ferreira da Costa
1940 Rio Negro Rural
16 Escola de Trabalhadores Rurais Gil Stein.
1940 Ivaí Rural
17 Escola de Trabalhadores Rurais de Três Bicos
1940 Faxinal de Catanduva - Cândido de Abreu
Rural
18 Escola de Trabalhadores Rurais e 1940 Campo Comprido Rural
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Estação de Viticultura 19 Escola de Trabalhadores Rurais
Getúlio Vargas 1941 Palmeira Rural
20 Escola Técnica de Comércio de Curitiba
1941 Curitiba Urbana
21 Escola de Trabalhadores Rurais Franklin Roosevelt
1945 Santo Antonio da Platina
Rural
O caminho percorrido para a coleta das fontes mostrou-se um pouco mais difícil
do que se esperava, pois das escolas criadas e instaladas no período de 1905 a 1945
apenas seis ainda existem. Este dado se conferiu ao entrar em contato com as cidades,
iniciando a trajetória a princípio via telefone com as prefeituras, bibliotecas, secretaria
da agricultura, museu da cidade, casa da cultura, núcleo regional de educação, secretaria
municipal de educação e historiadores; conforme se ia direcionando as informações
sobre a escola, isso quando se sabia da existência da mesma. Em certas cidades já não se
conhecia mais a existência destas instituições o que dificultou a localização de algum
tipo de documentos que viessem a comprovar a existência da escola.
O procedimento metodológico empregado na pesquisa foi de inicio entrar em
contato com os órgãos responsáveis e visitar as cidades em que as escolas foram
inseridas, na busca de documentos tais como atas, históricos escolares, fotos,
reportagens, diários de professores, relatórios, documentos de transferência de
professores, etc. e que comprovassem a existências destas instituições.
Das escolas pesquisadas e que possuem seus registros históricos arquivados e em
bom estado foram a Escola de Aprendizes Artífices do Paraná em Curitiba criada em
1909 e em 1937 passou a ser chamada de Liceu Industrial Paranaense, hoje
Universidade Tecnológica do Paraná – UTFPR, a Escola de Trabalhadores Rurais
Lysímaco Ferreira da Costa instalada em 1941 na cidade de Rio Negro Escola de
Trabalhadores Rurais Augusto Ribas de 1937 em Ponta Grossa, hoje Colégio Agrícola,
A Escola de Comércio Júlio Teodorico em Ponta Grossa que passou a denominar-se
Grupo Escolar Júlio Teodorico, Escola de trabalhadores Rurais Gil Stein .
Diante das dificuldades encontradas para a organização dos documentos
direcionamos nossa busca para o Arquivo Público Paranaense, Casa da Memória de
Curitiba, Biblioteca Pública do Paraná com intermináveis buscas em revistas, jornais,
nos Relatórios dos Secretários de Governo e Mensagens dos secretários do Governo, A
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Escola, revista do grêmio dos professores públicos do Estado do Paraná. Senso estes as
principais referencias primárias sobre as existências das instituições buscadas nesta
pesquisa.
Para compreender o processo de transição no contexto estudado o presente
estudo se estruturar em três capítulos: no primeiro buscamos Discutir o processo de
constituição do Ensino técnico no Brasil Republicano e entender com estava
organizada a sociedade no período de 1889, momento em que ocorria o processo de
transição da mão de obra escrava para o trabalho livre e assalariado, a mudança do
sistema político que passa da Monarquia para a República, o desenvolvimento
industrial, a grande expansão cafeeira, a imigração e neste contexto como se encontrava
a educação brasileira, em específico a educação profissional.
No segundo capítulo Analisar o processo de criação das escolas Técnicas
urbanas do Estado do Paraná, evidenciamos as especificidades de cada cidade e os
elementos determinantes para a criação desta escola neste local.
No terceiro capítulo Analisar o processo de criação das Escolas Técnicas
rurais do Estado do Paraná, delineamos as características destas localidades que
comportaram este tipo de ensino, bem como as necessidades das quais emergiram a
instalação destas escolas, o porquê desta educação para aquela localidade e quem era o
público atendido.
Considerações
Pretendemos com o presente estudo que se encontra em andamento evidenciar
quais os fatores que determinaram criação das escolas técnicas no Estado do Paraná,
quais as demandas sociais que potencializaram sua instalação, bem como a que público
estas instituições vieram atender.
Diante destes dados delineia-se nas alterações econômicas e sociais a influencia
do capital que se instalara no final do século XIX, bem como no período compreendido
como recorte da referida pesquisa – 1900 a 1950. Com o presente trabalho objetivamos
apresentar como se constituiu o ensino técnico ensino técnico profissional no Brasil no
que se refere ao tempo histórico delimitado já mencionado.
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Atentamos-nos pelo fato deste estudo encontrar-se em andamento, assim
levamos em consideração as possibilidades dos diferentes resultados que possivelmente
pode se evidenciar. Neste sentido o que temos a considerar é o conhecimento de que,
das escolas técnicas criadas no início do século XX, um pequeno número delas se
encontra em atividade atualmente. Outro fator que não podemos descartar é a
possibilidade de que no decorrer desta pesquisa outras instituições além das elencadas
no quadro acima podem surgir.
Esta possibilidade indica que o resultado de uma pesquisa não é algo acabado
em sua concepção inicial, quando se traça o caminho de estudo, mas resultado que se
revela no decorrer do processo e que pode mostrar resultados não esperados, quando se
baseia em hipóteses. Isto abre oportunidades de encaminhamentos para novas pesquisas,
o que instiga o propósito do pesquisador.
REFERÊNCIAS
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Universidade Estadual de Maringá 07 a 09 de Maio de 2012
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