Um Liborio Qualquer

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Antonio Pinho Rente

Um Librio Qualquer

Edio eletrnica Braslia, D.F. 2004

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@ Direitos Autorais 2004 Yara de Oliveira Rente

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DEDICATORIA

A Yara de Oliveira Rente Esposa do autor

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APRESENTAOQuase todo ser humano nasce com um desejo de prosperar e conta para isso com um patrimnio natural que pode usar para enfrentar ou aproveitar as circunstncias externas que se apresentaro na sua vida. Estas circunstncias so dadas pela famlia, o meio ambiente social e ambiental onde vive, incluindo o estado de avance da economia do Pas e os servios dados pelo governo. Alguns nascem com um patrimnio natural deficiente, poucos afortunados encontram circunstncias favorveis, alguns at herdam a prosperidade de seus pais. Entretanto, especialmente em pases como o Brasil, a maioria se enfrenta a circunstncias de bastante dificuldade. Librio, o personagem principal deste conto, tinha um bom patrimnio natural, mas nasceu em circunstncias familiares e sociais bem difceis. A estria que nosso av, o autor, conta de como este personagem, apesar destas condies desfavorveis iniciais, com sua personalidade agradvel e prestativa, e sua inteligncia, soube aproveitar as oportunidades que teve, prosperar e ate ajudar a outros que nasceram como ele. Essa simples estria nos mostra a frustrao e o potencial que milhes de pessoas sentem ao no encontrarem em suas vidas as oportunidades para prosperar, e os benefcios que podem ser gerados quando elas prosperaram. Em parte, ela reflete as frustraes que o nosso av sentiu ao no ter as mesmas oportunidades que ele criou para seu personagem, as quais sem duvida teria aproveitado. Talvez ele nos esteja contando o que pensava que poderia ter sido sua vida se tivesse tido a chance. Felizmente para nos, seus netos, Antnio, com seu sacrifcio, trabalho, dedicao e sabedoria, ajudou a dar-nos varias oportunidades que ele no teve, e pelas quais somos agradecidos. Um conto simples, escrito de forma simples, por um homem simples, mas que mostra a importncia, a justia, e os benefcios que podem existir quando se tem as oportunidades boas que cada ser humano deveria ter. Um conto simples que nos confirma mais uma vez a memria que temos da sabedoria de vida do nosso av. Este conto foi escrito h mais de 20 anos, mas no foi publicado ento por que o autor ficou doente e terminou falecendo uma dolorosa morte. Ele ficou guardado com sua esposa por vrios anos e depois com seu neto, quem tentou algumas vezes resgat-lo e eventualmente public-lo, mas suas obrigaes e outras prioridades no o permitiram. Depois de tantos anos, sentimos a necessidade de faz-lo e cumprir um desejo do autor que no havia sido realizado. Esperando que o nosso av nos possa perdoar pela demora, finalmente esta sua obra publicada e sua sabia mensagem entregue.

Braslia, D.F., Agosto de 2004. Jos Rente Nascimento Tereza Cristina Rente Conegundes do Nascimento Elizabeth Conegundes Rente Nascimento Ferreira

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INDICE

Dedicatria Apresentao Um Librio Qualquer Rpidas Sobre o Autor Outras Obras do Autor

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Um Librio Qualquer

UM LIBRIO QUALQUERQuem Librio? um como muitos Librios que andam por ai como bons moos. Librio saiu da roa, ainda garoto para tentar nome, riqueza e bem estar. Foi para uma pequena cidade e logo arranjou emprego em casa de famlia. Trabalhou uns dois anos at que tomasse p de uma vida que ia tentar, neste mundo de Deus. Aps este perodo passou a trabalhar em um pequeno escritrio de representaes de mercadorias de fcil colocao. O Sr. Estevo, seu novo patro, dava ao garoto que comeou a trabalhar como mensageiro, para entregar pequenas mercadorias e receber contas do mercado interno. Assim foram passando os dias. Uns seis meses aps seu patro j tinha feito juzo, da grande inteligncia do seu novo empregado. O garoto que era muito espevitado, tambm j tinha tomado outras providencias para o futuro e a primeira coisa foi procurar uma escola para que se preparasse na nova vida que tinha escolhido. O seu patro um dia chamou-o para conversar sobre alguma coisa que precisava ser conhecido e prontamente foi atendido pelo garoto. Veio a primeira pergunta: Quem e voc? Chamam-me de Librio. E o sobrenome? No me lembro, por isto. Como? Seus pais no disseram? No, no sei mais nada, infelizmente. O patro que no quis se aprofundar muito e encerrou ali o dialogo. Passados alguns dias o patro o chamou e perguntou: Librio, voc quer continuar no que esta fazendo, ou quer trabalhar aqui no servio interno? Fao o que o senhor mandar, ou onde possa tomar-me mais til. Pois bem, de hoje em diante passar a controlar a expedio, em vez de entregar. Sers capaz de resolver este caso? Vou tentar aprender este servio, se o Senhor me ensinar. Acho que voc aprender com facilidade, pois muito fcil. E verdade, voc sabe ler? Pouco, s agora entrei para a escola e ainda no aprendi muito. Ser que capaz de anotar e catalogar a mercadoria que chegar e a que for expedida? Isto no difcil, pois a continuao do que vinha fazendo. Muito bem, j vejo que sairs airosamente. O Sr. ter que me ensinar como se faz.

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Antonio Pinho Rente Lgico! Voc no nasceu sabendo, acho at que o que vinha fazendo era feito com muita abnegao e capricho e por isso, pensei em aproveit-lo num outro servio, mais delicado. Vamos ver como vais se arranjar. O patro deu-lhe algumas explicaes e saiu para atender outros negcios, deixando o Librio com seus problemas, para ver se ele ia de fato ajeitar-se na nova funo. A princpio o garoto ficou meio encabulado; porm, passados alguns minutos, ele achou o fio da meada. O Sr. Estevo at se esqueceu do pequeno empregado. Mais tarde quando se lembrou, foi ver o que estava sendo feito. Qual foi o seu espanto, quando viu que Librio parecia um veterano naquele servio, no s estava tudo em ordem, como j havia at inovaes para melhor. Foi ai que viu com algumas restries, porm, quase certo que, mais alguns dias o menino punha aquilo a seu jeito e que talvez, fosse correr to, ou melhor, do que antes. O Sr. Estevo observando-o distncia, via que estava tudo em ordem, de bom para melhor. Depois de um ms e meio a dois, j estava certo que naquele setor, os problemas tinham sanado, como tal, tinha que admitir um outro empregado para entrega de mercadorias e recebimento das contas, porque, este servio, depois do aproveitamento de Librio, vinha sendo feito por comisso e no estava a contento. Vai dai, que s com a admisso de um novo empregado estaria resolvido tambm este setor. Assim era o que ele achava, e o que foi feito. O Sr. Estevo era idoso e muito experiente, por isto achava que alm de poder ajudar a um menino de boa vontade, ficava tambm resolvido um dos seus mais graves problemas em seus negcios. Pois at ali, no tinha tido confiana em ningum, mas com aquele garoto, sentia que com a boa vontade e inteligncia que possua, tinha acabado uma das dores de cabea nos seus negcios. Julgou at, que, dali em diante os seus empreendimentos iam dar os lucros visados. Assim ele pensava e poria em execuo todos os seus planos. Mas a vida, nunca como se quer. Por isto, dois ou trs anos aps, teve uma surpresa. O Librio lhe procurou para comunicar que ia deixar o emprego. Porque? Porque tenciono ir para uma cidade major, tentar uma vida melhor em um local que me proporcione melhores recursos. De principio, o Sr. Estevo no compreendeu a extenso de tal revelao. Procurando se acalmar, foi refletindo aos poucos at que conseguiu ver a gravidade desta revelao. Ele estava indo de vento em popa. Chamou o garoto e disse: Que lhe falta? Sede de saber. Responde Librio. Garoto; este mundo aqui ou ali a mesma coisa, as aventuras nem sempre trazem bons resultados. No importa Sr. Estevo. Onde esta a minha felicidade? Por acaso ns no somos felizes s por conseguir aquilo que desejamos? Que felicidade? Perguntou ao patro. Meu filho, se assim que se pode tratar a algum que j tivemos, pois ningum jamais conseguiu o que queria neste mundo enganador; onde at hoje ningum encontrou uma felicidade de completa. Mesmo assim estou resolvido a tentar aquilo que almejo, pois jamais me considerarei realizado sem tentar

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Um Librio Qualquer primeiro esta aventura. J tenho o meu curso primrio e quero ir mais adiante, tenho cede de saber, quero conhecer mais e mais, o que a vida nos pode proporcionar. Menino, lamento, mas, se isto que quer. V, v por que muito cedo vers que tudo que ha no mundo iluso, mas espero que junto desta, no venha o desespero e com isto o seu fim. V, v tentar encontrar o que est procurando, no entanto lhe digo se for a felicidade, s a ter se conformar com os atropelos deste mundo. No Sr. Estevo, eu vim lhe falar para que arranje outro para meu lugar, no lhe deixarei antes de estar bem substitudo, pois jamais esquecerei que o Senhor nunca foi patro para mi. Considero-lhe mais que um pai. Por isto, s sairei quando o meu substituto souber desempenhar o servio, to bem ou melhor do que eu. Obrigado Librio, mais uma vez o seu esprito, fala mais alto que a experincia. Quantas pessoas de muito mais idade, no seriam capazes de tamanha noo do dever e gratido. No, no estou fazendo favor, apenas acho que, para um pai, s se deve agir como filho e como eu considero o Senhor. Pois bem, vou tentar encontrar um outro que embora no seja como voc, tenha pelo menos boa vontade e que depressa aprenda a fazer o servio, para que eu possa libertar-lhe, pois, no minha inteno atrapalhar ou me tomar um empecilho em sua estrada. No ha pressa porque ainda tenho que apanhar o meu diploma no colgio e terei que esperar mais alguns dias, porque a professora est esperando o fornecimento dos formulrios do Ministrio, para que o inspetor possa expedir o mesmo. Que tempo levar? Dois ou trs meses, respondeu Librio. Este tempo mais do que suficiente para que o meu substituto aprenda todo sistema e modos que este servio requer e no preciso ser muito inteligente, baeta ser atencioso e no seja malandro. Sr. Estevo, se ele quiser trabalhar no meu sistema e no queira fazer inovaes, acho que assunto para quinze dias, ou no mximo um ms. Isto , se tiver boa vontade, aprendera em muito menos tempo, pois eu no levei tanto e no lhe criei nenhuma atribulao. Eu sei, mas voc foi uma exceo. No Sr. Estevo eu consegui entender o que tinha que ser feito, porque o Senhor tinha aquilo tudo muito certinho. No. Nada disto, porque mesmo que voc viesse trabalhando longos anos neste, ou em outro servio desta espcie, iria na certa encontrar alguma dificuldade e com voc no aconteceu nada disto. O Sr. Estevo aps dois ou trs dias lembrou que podia tentar o aproveitamento do rapazinho que vinha trabalhando no servio de entrega e que talvez fosse a soluo para sucessor do Librio. O Sr. Estevo disse ao rapaz que fosse falar com ele no dia seguinte, porque tinha uma conversa seria a lhe dizer, e dispensou o garoto. Este por sua vez saiu pensando. O que ele quer, ser? No, no pode ser, acho que no ha razo para temer, no outro dia l estava, como tinha sido combinado, chegando, foi logo apresentado ao chefe do servio de expedio pelo patro que lhe disse: Librio, este teu auxiliar. Depois da apresentao retirou-se lhe dando liberdade de ao e mais tempo para observar o indicado para sua vaga na expedio, porque embora empregados do mesmo patro no se conheciam. Correu com o rapaz por todas as dependncias mostrando-lhe o sistema empregado por ele nas diversas modalidades e as necessidades para o bom andamento do servio, de vez em quando fazia uma pergunta: se ele tinha objeo ou desejava alterar de alguma forma o sistema por ele empregado. mesmo j falamos sobre o servio e ainda no nos identificamos, eu me chamo Librio. E voc como se chama?

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Antonio Pinho Rente Juvenal. um prazer lhe conhecer. Obrigado, tenho o mesmo com voc. Ento na certa agora vamos nos entender com liberalidade e entendimento. J somos bons amigos. Aqui eu sempre trabalhei com uma frmula adaptada por mi e sempre deu certo, porm se tiveres algumas coisas como inovao poder ser aplicada. Acho que no, s com o tempo que talvez por um motivo qualquer que venha a ter necessidade, ento sim, pensarei no que devemos fazer se naturalmente, se for aprovado por voc, em algumas idias que venham a minha mente e que possa ser til, porque, jamais me atreveria a mudar alguma coisa por minha alta criao. At a esta certo. Mas, pode apresentar quantas forem necessrias se houver falhas no que diz respeito ao modo de trabalho aplicado at agora. E o faa sem restrio, porque, nossa obrigao simplificar e facilitar ao mximo em nosso prprio beneficio. J estou gostando de voc porque fala como um adulto e uma criana que mal desabrocha e que pela primeira vez arranja um emprego para comear, digo, falas como um adulto, mas, es criana como eu. O que mais me admira a firmeza com que fala, chego at pensar que esta sua infncia prodigiosa, sinto-me orgulhoso de ter, j no comeo de minha vida, to nobre chefe, e o que miraculoso esta grandeza adolescente. Este dialogo prolonga-se por muito tempo sem que Juvenal desconfiasse que seu pseudo chefe, estava apenas querendo testar o seu futuro substituto naquela funo e sem que Librio revelasse qual a sua inteno, rapazola estava sendo minuciosamente testado. Foram passando os dias e com estes o rapaz ia. se aperfeioando. At que levava jeito, era delicado e caprichoso, pelo menos parecia ter estas qualidades, pois se revelou organizador zeloso e at exigente, tinha mrito e dava a entender que daria conta do recado. Passou o primeiro ms, j com muito progresso e pronto a assumir plenamente a direo daquele rgo. Vendo isto, Librio resolveu procurar o patro e comunicar-lhe que o rapaz estava apto a chefiar aquilo que ele antes vinha fazendo. Sr. Estevo eu venho comunicar que minha misso esta cumprida e por isto, pelo que me dispense para que possa prosseguir na vida que almejei. Quer dizer que o rapaz j esta em condies de continuar fazendo o servio sem se atrapalhar? Esta sim. Se assim, acho que aprendeu muito depressa. Ele inteligente e acho que vou fazer pouca falta. No, voc nunca ser esquecido porque enquanto eu viver lembrarei que mesmo depois de velho, aprendi muito com uma criana e que passei a gostar tanto de voc como se fosse meu filho. Obrigado. Quando vai viajar? Assim que a professora me der o diploma. Tem previso de tempo.

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Um Librio Qualquer No. Ento fica aqui como amigo at que tudo fique certo. Esta bem. Mas, s ficarei sem nus para o Senhor. Ento ficara o tempo que quiser e puder. Depois das explicaes o garoto retirou-se em direo ao trabalho, e o seu velho patro nada disse. Quinze dias depois volta, o garoto foi falar explicando que j estava de posse do documento que esperava e que logo ia embarcar. Para onde vai? Tenciono ir para Belo Horizonte e dali quem sabe. Esta bem, s vou lhe pedir uma coisa, seja qual for o lugar que tiver, mande dizer-me, porque quero estar a par do seu progresso, logo que chegar a Belo Horizonte escreva-me dando o seu endereo e se possvel comunique-me dando noticias suas todos os meses. No passe necessidade, qualquer apuro faa chegar at a min imediatamente. Esta bem, se possvel espero lhe mandar s virtudes e boas noticias. Isto rapaz, assim e que se fala. Ai seu patro disse: Agora vamos fazer nossas contas. No Sr. Estevo, o Senhor no me deve nada. Eu que lhe agradeo por ter dado orientao em meus primeiros passos da vida. Mesmo assim quero dar-lhe uma lembrana para que no me esquea. amanh falaremos. No outro dia, alias no dia do embarque, Librio foi bem cedo se despedir, porque, at para ele aquela separao j tornava difcil. Ainda muito cedo, eu sei Sr. Estevo, mas tenho que me preparar para as emoes, porque difcil a gente separar-se dos entes mais queridos, e acho que a emoo que vou sentir faz muito bem. Pois ns tambm vamos sentir muitas saudades de voc, foi bom que viesse mais cedo, porque s assim terei mais tempo para fazer tudo que quero e ficarei com a minha conscincia bem mais leve. Librio aqui neste envelope esto as nossas contas. Ora Sr. Estevo, entre ns j no ha mais contas a fazer, pois o Senhor sempre me pagou em dia tudo aquilo que eu tinha que receber. o que lhe parece, muito lhe devo e ficarei devendo por todo tempo de minha vida. Voc no sabe a quanto tempo eu esperava por uma pessoa como voc, para levantar a minha coragem e reconhecer que a muita coisa boa nesta vida e, que muitas vezes chegam quando a gente menos espera, e voc foi uma neste caso, trouxe um novo animo, qualquer ser que tiver a felicidade de conviver junto de pessoas de sua humildade. No, no fala mais nada Sr. Estevo, para que eu no perca tambm a coragem de enfrentar o que almejo. No devo e no posso fraquejar agora, por isto lhe peo, no fale mais para que eu possa ir a frente para vencer, agora s quero palavras de animo, porque tracei uma estrada e quero chegar ao fim, e se encontrar uma meia dzia de homens como o Senhor para mi ser a coisa mais fcil do mundo. o que espero. Comecei bem e vou acabar melhor. Tomara, pois bem merece. Assim o patro e o empregado bateram um longo papo quando de novo o Sr. Estevo voltou a carga sobre o

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Antonio Pinho Rente envelope que antes Librio tinha recusado receber. Ento este para no ser descorts apanhou o envelope e teve a major surpresa da sua vida, porque, dentro do mesmo, havia o que se podia dizer uma pequena fortuna. Ele fez outro protesto. No, no posso aceitar isto, demais o seu sacrifcio, por um menino que apenas conheceu. Aceite, porque voc fez jus a este prmio, no era isso que eu queria fazer, mas volto a lhe dizer, nem sempre a gente tem o que quer, mais uma vez fui trado pela sorte. Como? Eu pensei que nunca mais nos separaramos e agora vejo que foi apenas iluso. Por favor, Sr. Estevo, eu ainda sou uma criana, mas j sei o que quero, anime-me e juro que vou lhe dar muitas alegrias, pelo muito que j me fez e o que est fazendo. Esta bem, fala-me ento dos seus projetos. Por enquanto nada posso adiantar, s o que sei, que quando chegar l, a primeira coisa a fazer arranjar um emprego e um lugar para morar; resolvido isto, espero procurar uma escola e continuar os meus estudos. Estes sero os primeiros passos e conforme eu for andando, tambm vou dando-lhe noticias, porque, vou, mas o corao fica. Por isto todos os meses o Senhor ficar sabendo dos meus passos, e preciso para meu alento tambm, receber respostas com boas novas porque, como o Senhor no pode ficar sem mi, eu tambm vou cheio de angustia. Fao questo e por isto que embora longe o Senhor tenha a impresso de estar junto de mi, assim como quero sentir-me junto do Senhor. Podes ficar certo que ter resposta de todas as cartas que me enviar. E nelas irei contando tudo que se passar comigo de bom e de mal. Naquela conversa o tempo foi passando at que, veio hora de irem para a estao. Saram como dois bons amigos em direo da mesma, no caminho ainda houveram outros assuntos de menor importncia. Chegaram e enquanto esperavam o trem, o menino comprou alguma coisa. Enquanto isto o Sr. Estevo ficou atento e preocupado com a chegada deste, assim que o mesmo apontou na ultima curva, veio despedida e com esta houve um grande extravasamento de lagrimas e lamurias. Aps a despedida e com a partida, o patro ficou, mas o seu pensamento viajou com o menino, e com este, aconteceu exatamente o contrario, ele foi e o seu pensamento ficou. Passaram-se os dias, as saudades do Sr. Estevo aumentavam at que chegou a primeira carta; diz o menino em sua missiva: No desespero e angustia de uma saudade, que de certo modo chega a ser gostoso, porque s assim, a gente v a vida com um certo respeito e admirao, que dou as primeiras noticias minha, e desta grande e longnqua cidade Belo Horizonte. Saudaes, s hoje, dezessete dias aps a nossa separao que pude assentar a minha cabea para contar-lhe o que fiz at agora, j estou empregado em um pequeno restaurante. Ganho muito pouco, mas, pelo menos a comida j est garantida. Quanto morada, encontrei-me em uma pequena penso que, embora modesta, sou bem tratado e com poucas despesas. A nica novidade para o Senhor que a cidade muito grande e se eu no tiver cuidado perco-me a cada instante. No mais, estou com sade, calmo e espero poder pegar o fio da meada, por enquanto s. Rua Direita no. 14, Belo Horizonte. Aguardo resposta, assim como espero na prxima carta dar noticias mais a1vicareiras e boas novas. Meus respeitos. Librio trs dias aps recebe a resposta do Sr. Estevo. "Recebi sua carta, lamento que voc dissesse to pouco do muito que eu queria saber, mesmo assim, fiquei satisfeito de ter noticias suas. Librio aqui est tudo como voc deixou, apenas as saudades aumentaram; quanto ao servio, o Juvenal est indo muito bem, no mudou nada do que vinha fazendo, alegando que no ia alterar uma coisa que no tinha erro, foi melhor assim, eu tenho a impresso que ainda voc que est comigo. Por isto pelo menos enquanto estou na loja, sinto-me mais perto de voc; no se esquea das minhas recomendaes, se no se der bem, aqui me encontrars. E voc ser o mesmo com a vantagem de no deixar este velho to saudoso e angustiado pela sua ausncia. Saudades Estevo."

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Um Librio Qualquer E assim foram trocadas as primeiras noticias entre os dois grandes amigos. Lida a carta, Librio ficou pensando um pouco e depois disse a si mesmo: que devo fazer, sai para a luta e vou lutar at a vitria; ficou muito satisfeito por ter informaes de que Juvenal estava se ajeitando e que, no servio do seu ex- patro, ele j no ia se preocupar muito como vinha fazendo antes, com estes pensamentos, adormeceu. No outro dia levantou-se cedo e foi para o servio, era empregado novo e no queria que tivessem queixas dele. Trabalhou o dia todo muito alegre, fez todos os servios e ainda ajudou os seus colegas nos outros afazeres. O dono do restaurante, Sr. Manoel j era um homem de meia idade, era casado e no tinha filhos, por isto, toda vez que olhava para o Librio, ficava pensando com seus botes, quem ele? Ter famlia, o que vou averiguar. No agentando mais chamou o menino no escritrio, e no tendo outro argumento, disse: Eu te chamei porque tenho que fazer a sua ficha como empregado. Como se chama? Librio. Librio de que? Sr. Manoel, eu s tenho um nome, se ha outro desconheo. E sua famlia? No tenho. Como? Sim, se tenho sobrenome, desconheo. Quem lhe criou at esta idade? Vivi em uma fazenda e nunca ouvi falar sobre meus pais. No s daqui? No Senhor, sou l do interior. Como veio parar aqui? Vim sozinho. Sozinho? Sim senhor. Quando chegou? H vinte dias. Onde mora? Na penso de Dona Judite, o Senhor conhece? Muito. Que que veio fazer aqui? Trabalhar e se for possvel estudar um pouco. Belo Horizonte muito grande e a facilidade em se arranjar emprego e assim que possa, vou procurar uma escola para aprender mais. Voc j sabe ler?

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Tenho o curso primrio, mais quero ver se consigo fazer o ginsio. Faz muito bem. Pode ir, se for preciso chamar-lo-ei novamente. Librio voltou ao trabalho e o Sr. Manoel ficou pensando: to pequeno e j jogado ao lu. Ser? No, no posso pensar nisso. E seu novo patro tambm voltou ao trabalho que estava fazendo. tarde, l foi o garoto andando com um certo desembarao, parecia que estava com pressa em chegar em casa. E estava, pois ele queria melhorar e quem quer progredir no pode perder tempo. Era assim que pensava, por isto antes de descansar queria estudar um pouco e recordar o que tinha aprendido. Chegando em casa, tomou banho, jantou e foi para o seu humilde quarto. Apanhou os seus livros de linguagem e historia e comeou a ler, de repente veio a sua memria a lembrana do Sr. Estevo, sentiu uma certa nostalgia, lembrou-se da carta e passou a rele-la, pois com aquela era a quarta ou quinta vez que ele tentava sufocar a sua saudade com as palavras que se achavam naquela missiva. Cansou-se e foi dormir. No outro dia bem cedo, l estava de novo no emprego. Cumprimentou os colegas e foi trocar a sua roupa pela de trabalho. O Sr, Manoel que observou a sua sada no dia anterior, e o modo como se portou, de novo pensou: parece um homenzinho, dedicado e tem atitudes de um adulto. Comearam o trabalho, o servio lhe tomava toda a ateno. Mas de quando em quando o patro fitava-o admirado, caprichoso, zeloso e atencioso, com esta idade, nunca vi igual. E voltaram as idias do Sr. Manoel a lhe perturbar. Poder ser aproveitado, s falta quem o ajude. Ser que este menino esta me botando sentimental. No, isto passa. tarde de novo o menino aps trocar de roupa despediu-se de todos e rapidamente desapareceu em direo a sua casa, s que aquele dia, ele tencionava dar umas voltas pela redondeza para sondar o comercio e ficar mais familiarizado com a cidade, como era seu costume. Andou, andou, viu vitrines, at que cansou e voltou para descansar, como nos outros dias. No dia seguinte levantou-se cedo, fez sua higiene, tomou caf e saiu para o servio. Chegando, como sempre, portou-se muito gentilmente com os colegas, como era do seu costume. O seu patro que j estava perturbado com o grande esprito do menino, por isto disse-lhe: V para a minha casa que eu quero ter uma conversa com voc. Quem vai fazer a minha tarefa? Os outros faro! Por um dia ningum morre. Sabes onde eu moro? No, mas se o Senhor me der seu endereo, irei at l. Conhece a cidade? Alguma coisa. O Sr. Manoel apanhou um pedao de papel e escreveu Rua das Carmelitas no. 3. Entregou ao menino e este saiu recebendo instrues para que o aguardasse. O menino, chegando no endereo acima, foi recebido por sua patroa, que para ele era desconhecida. Dona Maria era seu nome. Cumprimentou-a e se fez conhecido. Entre disse a senhora, e o espere naquela saleta, porque, quando se trata de assunto extra, ele gosta que seja logo resolvido e no seu caso deve ser isto.

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Trinta ou quarenta minutos mais tarde, chega o patro. Librio teve um arrepio de medo, mas vendo o semblante sorridente e alegre, o susto passou e voltou tranqilidade. Ao chegar gritou logo a entrada da porta. Maria, onde estas? Estou aqui no tanque. Onde botastes o presente que lhe mandei? Que presente? brincadeira. Este aqui um menino? Sim. Esta l na saleta. O Sr. Manoel baixou a voz e conversou uma prolongada hora com sua esposa e depois foram falar com o menino. Librio, eu e minha mulher resolvemos lhe fazer uma proposta e esperamos que aceite, queramos que voc concordasse em vir morar aqui, somos ss e seria uma boa companhia, alem de tudo, viria trazer um pouco de alegria nesta casa. Ainda s uma criana e isto que nos faz falta, damos-lhe uma famlia em troca de um pouco de afeto. Como? Muito fcil, mudar de uma vez para aqui! No, Sr. Manoel, sou muito bem tratado na penso que moro e precise estar empregado, porque precise de dinheiro para que possa estudar. exatamente o que queremos oferecer-lhe. Aqui voc vai comer, dormir e freqentar uma escola, vivera como se fosse nosso filho. No. Gostaria muito, mas no posso. Porque? J me foi feita igual proposta e tambm recusei. Recusei por no querer ser um peso morto para ningum. No Librio, no isto que queremos fazer de voc. Olha rapaz, eu quero apenas que venhas nos fazer companhia e que estudes com a idia mais descansada. Ento? Por favor, d-me alguns dias para que eu possa pensar. Est bem. Devo retornar ao restaurante. No, hoje estas de folga e podes ir onde quiser. E a minha tarefa? J distribui o servio entre os outros e voc pode ficar descansado, que tudo correra como se l estivesse. O menino agradeceu e ao despedir-se de Dona Maria se expressou muito gentilmente dizendo-lhe: Gostei de conhec-la. Eu tambm Librio, e espero que voc se decida e venha preencher o vazio de nosso lar.

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Antonio Pinho Rente Tenham um pouco de pacincia, pois no fago nada sem consultar o meu subconsciente. E com esta explicao retirou-se em direo a sua casa. L chegando comeou a analisar. Meu Deus! Que devo fazer, eles no tm filhos, e disseram-me que eu iria preencher uma lacuna no seu lar. No sei o que eles querem com isto, j recusei outra oferta tambm vantajosa. Ser que o Sr, Estevo no vai ficar zangado comigo? Vou escrever uma carta a ele contando tudo e pedindo-lhe conselhos. Assim pensou e assim fez. Apanhou papel e lpis e comeou a escrever. "Meu querido amigo, disseste-me que quando eu estivesse em apuros recorresse ao senhor. com esta finalidade que estou escrevendo esta carta, para pedir um conselho e sei que o dar como se fosse ao seu filho. Sr. Estevo a sorte parece querer me ajudar: porm, no quis decidir sem antes ter uma longa conversa com o senhor, atravs desta carta. Imagine o senhor que aqui em Belo Horizonte o meu novo patro me fez uma oferta que eu considero absurda. A principio fiquei at pensando em segundas intenes. Propuseram adotar-me, eu acho que eles pensaram muito seriamente nisto. O senhor bem sabe que j recusei coisas parecidas do Senhor, devendo-lhe tudo que sou at agora, pelo muito que fez por mim. Aconselhe-me! Estou aturdido, vou relatar o que me disseram. Sou seu empregado e recebi uma ordem. V l em casa e me espere. Assim fiz, fui muito bem recebido por sua senhora. Dona Maria "pouco depois ele chega muito alegre dando-me a impresso de ser um casal feliz, ele entrou logo gritando pela mulher que se encontrava em uma rea e dependncias da casa: as primeiras palavras dele foram: Onde esta o presente que lhe mandei? Ela respondeu, esta na saleta, veja o senhor qual era o presente. E o presente era eu. Deduo que tirei depois da conversa posterior. Pelo que compreendi, eles querem que eu me torne seu filho, e eu acho que no devo aceitar. Sr. Estevo, estou recorrendo ao senhor porque me acho em um beco sem sada. Nada mais tendo a dizer, despeome angustiado. Librio. O Sr. Estevo depois de ler a carta, achou que o assunto era de fato muito delicado, chamou o Juvenal e disse: Ser que voc daria conta do recado se eu fizesse uma viagem. Se no for por muito tempo, creio que sim. Ser no mximo por uma semana. Pode ir que farei todo possvel para que tudo corra bem na sua ausncia. Ento meu menino, de amanh em diante procure resolver tudo evitando melindres e quando me procurarem diga sempre que fui fazer uma pequena viagem a negcios. Pode ir descansado porque eu resolverei. No outro dia o Sr. Estevo viajou para Belo Horizonte, a fim de encontrar-se com Librio e com este conversar pessoalmente. Chegando l, no encontrou dificuldades em encontrar o endereo que lhe foi dado, porque conhecia muito bem toda a cidade, tomou um txi e citou o endereo. Eram mais ou menos vinte horas e na certa encontraria Librio em casa. Bateu e foi atendido por uma senhora de certa idade. Boa noite, disse ele. A senhora poderia informar-me se aqui mora um menino com o nome de Librio? Tem sim senhor, entre que vou cham-lo. Obrigado. Entrou e sentou-se em uma cadeira rstica logo na entrada da porta. Minutos depois, veio o Librio, batendo as vistas no Sr. Estevo quase caiu de contentamento. Que surpresa?

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Um Librio Qualquer Sim surpresa necessria porque o assunto da carta, no podia ser resolvido apenas com poucas linhas. Teria que escrever muito. Por isto achei mais cmodo falar-lhe pessoalmente. O senhor deixou tudo por minha causa? No, o Juvenal ficou tomando conta at eu voltar. mesmo? Como vai ele? Saindo-se muito bem, no afinal como voc, mas esperto e trabalhador, Ora com a conversa estou esquecendo que o Senhor deve estar cansado e com vontade de tomar um banho. No Librio, isto eu fago no hotel. Que hotel? Hoje o senhor vai ficar aqui comigo. No, amanh eu volto. O senhor enquanto estiver aqui ser meu hospede, por que nos temos muito que falar. Espere um pouco que vou pedir a Dona Judithe para lhe preparar o jantar e um quarto enquanto o Senhor toma um banho. Saiu logo em seguida sem ouvir os protestos do Sr. Estevo. Em seguida voltou e sem comentrios levou-o at o quarto de banho, enquanto isto a dona da penso preparava o jantar e iniciava a arrumao do quarto que o hospede deveria repousar aps o banho. O seu ex-patro jantou e foi descansar. No outro dia como de costume. Levantou-se muito cedo para poder aproveitar bem o tempo, no entanto quando pensou que estava s, eis que surge Librio. Bom dia Sr. Estevo, como passou a noite? Muito bem e voc? No dormi quase. Porque? Fiquei muito tempo acordado pensando no que ser de minha vida depois de explanar o que esta se passando comigo. No ha, de ser nada, tudo se resolvera. No, no me parece fcil. Nisto Dona Judithe, chama para o caf, que j estava na mesa, e para l foram eles, um olhava para o outro como querendo adivinhar as perguntas e respostas, aps esta pequena refeio, saram juntos para continuar o dialogo at que o Sr. Estevo abrisse o jogo. Sabe porque vim at aqui? Sei sim. Ento me conta o que esta se passando? O senhor leu a carta? Li sim. Ento vou lhe contar. Como o senhor sabe, vim para esta cidade para tentar estudar. Para isto tinha que

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Antonio Pinho Rente arranjar um emprego. E da. No est empregado? Sim, mas a que esta o caso. O meu patro dono de um restaurante, meio idoso e no tem filhos. Disto eu j sabia, quero saber o porque de tudo isto. Acontece que, nos primeiros dias eu notava que toda vez que por acaso olhava em sua direo via que estava fitando-me, at que no sei por que cargas dgua; ele me chamou e disse: Vamos l: no escritrio para que eu faca a sua ficha. at ai no vejo nada de mais, de fato. Porm, acontece que se eu no aceitar a sua oferta estou sujeito a ficar desempregado, no vejo nada de mais nisto. Olha Librio, vim aqui porque muito me interesso por voc e quero mostrar que antes dos nossos interesses devemos ver os dos outros. Por isto hoje vou conhecer seu patro. Voc no vai agora para l? Vou. Ento vamos juntos. Podes ficar certo que nada farei sem o seu consentimento, porm, tudo farei para seu bem estar, quando ofereci te adotar foi porque j lhe queria muito, e no falei mais nisto porque na condio de solteiro, s poderia oferecer-lhe amizade e no um verdadeiro lar. Por isto deixe-me falar com o seu patro e conhecer mais profundamente o que esta se passando. Sr. Estevo, j lhe contei toda a historia. No Librio, esta a sua verso, agora quero conhecer a dele. Pode falar, mas no me comprometa sem a minha aquiescncia. Pode ficar descansado que apenas quero conhecer os sentimentos dele, e ver o que quer com tudo isto. Assim com esta conversa chegaram aonde Librio trabalhava. Logo que chegou foi em direo ao seu patro e fez a apresentao. Apresento-lhe o meu maior amigo de todos os tempos. Os dois se cumprimentaram e at trocaram algumas reverencias. Librio retirou-se para o servio para que os dois ficassem mais vontade. E o Sr. Manoel falou: Em que lhe posso servir? Muito bem, vou logo ao assunto, porque, homens de nossa idade no precisam de rodeios, pelo muito que conhecemos da vida. Fala Sr, Estevo. Sim vou falar o que este menino representa para mim. Ele foi meu empregado, quando quis me deixar, cheguei a ponto de fazer idntica proposta a que o senhor faz agora. Segundo ele me mandou dizer em carta. verdade, tenho tanta admirao por este rapaz que era capaz de fazer dele o meu legitimo herdeiro. E os seus filhos? No os tenho, sou casado a vinte e dois anos e no procriamos e no ha mais esperanas. Sr. Manoel

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Um Librio Qualquer poderamos marcar para amanh uma reunio em sua casa para discutirmos mais seriamente este assunto em famlia. Posso sim. Ento eu hoje vou tentar preparar o esprito do menino para ver se podemos acertar isto. Faa tudo o que for possvel, porque ele vai encher um vazio l em casa. No, no lhe prometo nada, mas tudo farei para que ele compreenda que esta j a segunda oportunidade para que tenha um lar, Sr. Estevo, pelo que me parece o senhor exerce uma grande influencia sobre ele, e com um pouquinho de jeito, na certa o convencera que para a sua felicidade ser completa, ele no pode andar sem um apoio amigo. E isto que quero dar-lhe, Eu compreendo e de fato e o que ele necessita. J vou chegando, mas, amanh, s vinte e trinta horas estaremos l para ver se conseguimos decidir a sua sorte. Eu lhe espero. Ento at amanh. O Sr. Estevo saiu e foi dar um bordejo pela cidade, pois a: muito no ia a Belo Horizonte e de fato estava notando muita diferena desde a ultima vez que l estivera. Correu ruas, via vitrines, tomou conhecimento de determinados negcios de seu interesse. Enfim, cansou e foi para casa. Chegando l Dona Judithe deu-lhe almoo e depois deste, foi para o quarto tirar uma pestana. L pelas cinco da tarde, acordou. Fez uma pequena higiene, tomou um caf reforado e se ps a contemplar as paisagens da redondeza at que Librio chegasse, e assim acabou a tarde e com esta, a chegada do garoto. Logo que entrou em casa a primeira coisa que falou com Dona Judithe, aps cumpriment-la foi; Onde est o Sr. Estevo? Esta andando ai por perto. Ento Librio perguntou: A janta demora muito? No. Se ele chegar diz que estou tomando banho, porque aps o jantar tenho muito que falar com este velho. Minutos apos, todos j estavam em casa. Foi posta a mesa para o jantar, poucas iguarias. Arroz, feijo, angu e um ensopadinho de couve com carne seca, comeram bem, porque por incrvel que parea esta era a comida predileta de todos, terminando por pedir bis, para o dia seguinte. No entanto os pensionistas de Dona Judithe, que eram cinco acrescidos naquela noite com o Sr. Estevo, todos vindo de lugares diferentes gostaram do jantar. Porque embora modesto, estava muito bem temperada. Aps as reverencias normais dos jantares cada um segue o seu destine. Porm , Librio convidou o Sr. Estevo para que fosse ao seu quarto, porque ele no se agentava mais de ansiedade em saber das novidades. Recolheram-se a ss, extravasaram-se suas opinies. O primeiro a falar foi o Sr. Estevo fazendo as seguintes perguntas: Librio, voc vai me falar com toda a franqueza. Que achou da senhora do seu patro. Fala-me o mximo sobre ela para que eu possa fazer as minhas dedues. Quanto ao Sr. Manoel, tive muito boa impresso. Pareceu-me um homem respeitvel e que poder fazer muito por voc. Como? O senhor decidiu! No meu filho. Nem que fosse meu filho de fato, eu jamais me decidiria sem seu consentimento. Ainda mais que lhe conheo muito bem. Librio eu estou fazendo esta pergunta para tomar p das coisas que esto se desenrolando e poder pensar no que de melhor deva ser feito, voc que pode dizer isto para que eu possa deduzir. Vamos fale alguma coisa sobre ela? Qual a impresso que te causou a primeira vista? Ora Sr. Estevo, para ser franco eu no a conheo muito, porm , acho que e uma boa pessoa.

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Antonio Pinho Rente Olha meu rapaz, vim aqui para lhe ajudar e espero poder concluir a minha misso satisfatoriamente. Conversei demoradamente com o Sr, Manoel e tive uma tima impresso, mas voc que j conviveu alguns dias com ele deve estar mais familiarizado. verdade e at hoje embora um pouco cedo, nada sei sobre alguma irregularidade que possa desabon-lo. Ento menino, esta e a sua segunda oportunidade e acho que j e tempo de agarr-la, porque pode no aparecer uma terceira. Amanh iremos l, conversarei muito seriamente com eles e conforme a conversa, voc se decidira, qual o caminho a seguir. S inteligente, vai refletir nas perguntas, no dialogo entre eu e seu patro, mas lembre-se de uma coisa, tudo que estou fazendo e em torno de sua felicidade e seja qual for a sua resposta serei o mesmo, pronto a lhe ajudar em qualquer dificuldade, conte comigo que estarei sempre a seu lado. Falaram mais algumas coisas sem importncia e foram dormir. Na manh seguinte, como na anterior, levantaram-se cedo, depois da higiene matinal, tomaram caf e saram juntos at ao restaurante onde Librio trabalhava. Falaram sobre muitas coisas, porm no comentaram o assunto anterior. Chegando l estava uma surpresa, quando Librio ia entrando para o trabalho, o seu patro chama-o e diz: Hoje no trabalha. Como? no trabalha porque tem de dar toda ateno ao seu amigo, vocs tem muito que conversar e matar as saudades. Mas senhor Manoel, j falamos tudo que interessava. Entre dois amigos o assunto nunca se acaba. Mas no tem mais. No tem nada, esta dispensado por hoje, vo passear pela cidade e rever as paisagens. Assim no tiveram alternativa se no aderirem fora dos argumentos. Saram e o Sr, Estevo que conhecia muita bem a cidade, levou Librio a todos os pontos pitorescos e tursticos de Belo Horizonte. A certa altura o Sr. Estevo disse ao menino: Olha Librio, se no me engano e se a esposa do Sr. Manoel for como ele no tenho duvidas de que este e o caminho certo para sua vitria na vida. O menino ouviu tudo quieto e no se manifestou uma s vez. Mais tarde deram uma volta em torno de Pampulha e regressa, ram para casa, descansaram e prepararam-se para ir a reunio na residncia do Sr. Manoel. No caminho, como autmato Librio disse ao Sr. Estevo: Entre eu ter um outro sobrenome qualquer dava preferncia ao seu. No se precipite, eu no vou te entregar a qualquer um, vamos nos reunir e desta reunio sair o melhor para voc, vou conversar e desta conversa chegaremos a um divisor comum. Librio eu j conheo o Sr. Manoel, porm nada sei sobre Dona Maria, se marquei um encontro entre nos quatro para tomar pulso e decidir este caso, Como vou saber se o Senhor quer ou no, que eu aceite? fcil, eu vou dizer-lhe as seguintes palavras: Librio eu gostaria que voc ficasse definitivamente aqui e s vou me pronunciar quando tiver certeza que e a deliberao certa. Chegaram. A casa at dava a impresso de que ia receber uma alta figura. Dona Maria, que naturalmente j estava avisada, fez questo de botar tudo o mais certinho possvel. Entrem, disse ela. Modo continuo eles obedeceram, minutos aps veio o Sr. Manoel, depois dos cumprimentos sentaram-se todos em volta de uma mesa. Sentados, ficaram todos calados at que Dona Maria perguntou se queriam tomar um cafezinho e todos responderam afirmativamente.

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Foi assim que iniciaram o dialogo, ouve perguntas ao Sr. Estevo o que tinha achado da cidade, qual os lugares mais bonitos que ele havia conhecido. Este por sua vez respondeu que j conhecia tudo que dizia respeito mesma, e surgiram outros e outros assuntos, sem que algum se atrevesse a tocar na primordial razo de estarem todos ali. De repente o Librio resolveu falar. Por que no entram logo no assunto que motivou esta reunio. Bravo falou o Sr. Manoel, s nos faltava quem desse a sada e esta pergunta foi muito oportuna, eis a primeira pergunta. Chegaram a alguma soluo? So vocs que vo dizer o que querem fazer do meu Librio. Queremos um filho, respondeu Dona Maria, como tal o queremos como se fosse nosso filho, nosso herdeiro, com o nosso nome e recebendo carinho de pais. Mediante o argumento o Sr. Estevo no teve outras palavras seno estas. Librio eu gostaria que voc ficasse definitivamente aqui, mas voc quem vai decidir. Respondeu Librio. De principio aceito. Porm... No tem, porm, no tem nada, voc no tem registro, amanh mesmo vamos ao cartrio com o Sr. Estevo como testemunha, passaremos pela igreja e o Sr. Estevo e Dona Judithe sero os seus padrinhos e voc ento passara a se chamar Librio Barbosa Gomes, filho legitimo de Manoel Gomes e Maria Barbosa Gomes. Est bem assim, Sr. Estevo? Que queres mais Librio, isto tudo que voc precisa para chegar a ser um homem respeitvel. Ento pelo que vejo vou deixar de chamar-me simplesmente Librio? Para os outros sim, mas para nos no, se voc mudasse de nome perderia a finalidade. Para nos ser sempre o Librio. Com este dialogo praticamente encerrou o assunto em pauta. O Sr. Manoel props uma comemorao que de pronto foi recusada pelo Sr. Estevo alegando terem jantado e que precisava descansar, porque o prximo dia seria cheio e cansativo. Repentinamente Librio fez esta pergunta: Amanh vou trabalhar? No, porque assim que tiver tudo resolvido vou tratar definitivamente de sua mudana para aqui, e voc ter uma nova vida. Eu sempre trabalhei em restaurante. Meu filho estudar e ser um homem de gabinete e de resolues difceis, mas lucrativas e limpas. No outro dia o Sr. Manoel levantou cedo, foi ao restaurante, conversou com o gerente, passando o comando da casa a este. Assuma a direo e resolva da melhor forma, porque nem eu nem o Librio viremos trabalhar hoje. Tenho uns negcios a tratar e no posso nem pensar nisso aqui. Pode ir que farei todo possvel para que a sua falta no seja sentida. Qualquer coisa, diga que amanh estarei aqui. Com esta resoluo, retirou-se, pois os seus afazeres eram muitos. Dali foi penso onde Librio estava morando. Como era muito cedo ainda, teve que esperar um pouco at que acordassem. O primeiro a aparecer foi o Sr. Estevo; j eram sete horas mais ou menos, e logo em seguida apareceu Librio, os dois convidaram o Sr. Manoel a entrar, enquanto esperavam que sasse o caf. Entraram os trs e pareciam parentes, tal a simplicidade como falavam. Pouco depois Dona Judithe anunciou que a mesa estava posta. Foram para a sala de refeies e sentaram todos como bons amigos. Acabada a

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Antonio Pinho Rente refeio, o Sr. Manoel disse: Vo se aprontar porque temos muito que fazer. Ainda e cedo respondeu o Sr. Estevo. Pelo que temos a resolver o tempo at que e curto. O cartrio abre s nove horas. J sei, mas antes de irmos para l, temos ainda que passar em casa de um amigo e tambm em casa, para apanhar a Maria. Est bem, no demoraremos. Assim os dois saram, cada um para seu quarto e puseram a se preparar para sair. Num instante voltaram. Enquanto is to tiveram que esperar por Dona Judithe que se demorou mais um pouco. Saram os quatro, pelo que ficou combinado, os padrinhos de Librio seriam o Sr. Estevo e Dona Judithe, dali foram casa do Sr. Jos Rodrigues, era a outra testemunha. Apanharam Dona Maria depois de darem estas voltas e chegaram enfim ao casaro do frum, onde Librio seria registrado. Tudo sacramentado. Ainda juntos tocaram para a igreja e fizeram o batismo do menino que passou a se chamar Librio Barbosa Gomes. Tudo resolvido voltaram todos a casa do Sr, Manoel para as comemoraes. No s estava pronto um suculento almoo como tambm as bebidas recomendadas tinham sido adquiridas, wisky e gua mineral. Todos comeram muito bem e beberam o que queriam ou podiam. Veio a tarde e com esta as despedidas o Sr. Estevo falou com todos, mas na hora de despedir-se de Librio, perdeu as foras e quase caiu, o que foi evitado pela presena do Sr. Jos Rodrigues que o amparou. Passado o trauma, depois de refeito chorou copiosamente antes de concretizar a despedida. Todos procuraram confortar o Sr. Estevo, mas a nica palavra que fez desaparecer toda aquela tristeza foi quando Librio disse: Meu grande amigo o senhor no me perdeu, muito pelo contrario, cada vez estou mais ligado ao senhor pela sua renuncia, para que eu fosse feliz. Digo-lhe jamais o esquecerei e pode estar certo que vou continuar escrevendo-lhe uma vez por ms e se por ventura falhar um ou outro, escreverei duas e quero receber outras tantas do senhor. O Sr. Estevo deu um sorriso e disse: Tem um grande corao e acho mesmo, que nunca me esquecer. J era um pouco tarde, por isto com sua sada tudo estava terminado e como o dia tinha sido cansativo o Sr. Manoel muito carinhosamente levou Librio ao seu quarto, que sua nova me arrumou com muito carinho. No outro dia Librio como de costume levantou cedo, mas quando o fez os seus pais estavam de p, quiseram fazer algumas perguntas, mas ele pediu desculpas dizendo que tinha pressa porque ia ao embarque do Sr. Estevo. Saiu quase correndo e foi a penso onde o seu maior amigo deveria sair para a estao. L chegando, de fato tudo estava pronto. No se contendo gritou pelo nome do Sr. Estevo. Este, olhando pela janela, disse logo: Eu sabia que voc viria dar-me o abrao de despedida. Vim para levar o senhor como fez comigo no dia que sai l de nossa cidadezinha, porque quero ter a mesma sensao pelo senhor e que julgo tenha tido por mim. meu menino, nunca me enganei, voc e de fato muito mais que aquilo que pensei. Por isto, jamais vamos nos esquecer, nunca. Respondeu Librio. Nunca mesmo porque, se hoje tenho uma famlia, s ao senhor devo agradecer. Vamos, j esta quase na hora do trem partir. No era muito longe a estao, por isto no havia necessidade de conduo. Foram a p e em dialogo feliz. Foi da que, para tornar a palestra mais agradvel, veio tona o nome de Juvenal.

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Como esta sendo feito o servio. Esta foi a pergunta feita por Librio. E o Sr. Estevo respondeu: No to bem como voc, porm j estou entrosado com ele e nos entendemos muito bem. Graas tambm a sua pacincia e a boa vontade em aceitar tudo que os seus auxiliares fazem. voc que pensa assim, no entanto, tenho aprendido muito com aqueles que convivem comigo. Bondade sua. Nada disto, fui sempre da teoria que mesmo os que no sabem, ensinam muitas coisas que precisamos aprender. Quer dizer que o senhor no sabe de nada? No, nem quero saber porque quanto mais se aprende menos ficamos sabendo. No ha mestres e discpulos? Estes so como a natureza, chegam na hora certa, e quando mais se precisam deles. No existem sbios? So denominaes e nada mais. Ento para que as escolas? Estas so para os homens ficarem sabendo que no aprenderam nada e que no fim de tudo isso, s o mundo nos ensina. Quando a conversa estava no melhor, chegaram o trem e as despedidas com as recomendaes dos cumprimentos e abraos para pessoas de suas amizades que residem na pequena cidade onde conviveu. O trem saiu e com ele o Sr. Estevo e as saudades de Librio e a deste com o viajante. Eram dez horas, ento Librio resolveu passar pela penso para agradecer Dona Judithe a acolhida que deu ao seu amigo, e ao mesmo tempo penhorar a sua gratido pelo muito que ela fez por ele, em seguida regressou a casa dos seus pais. Sua suposta me j estava apreensiva com a demora do garoto, porque na sua concepo j demorava muito. Com a sua chegada desapareceram as preocupaes. Foi receb-lo e lamentou a demora, conversaram um pouco sobre o ocorrido e em seguida ela foi a cozinha esquentar uns ovos para o seu j amado filho. Enquanto isto, Librio raciocinava a primeira coisa sobre Dona Maria, e dizia consigo mesmo; Farei tudo para que eles venham de fato a gostar de mim. No sou seu filho verdadeiro, mas quero represent-lo o melhor possvel. Enquanto tirava as suas dedues, Dona Maria veio, pegou-o pela mo dizendo: Venha c para a cozinha conversar um pouco comigo/ enquanto fao o almoo. Atnito, pois nunca tinha passado por sua mente que algum dia, algum iria lhe tratar como um verdadeiro filho, por isto, seguiu todo sorridente e tendo a impresso, que seguira de fato sua legitima me. Chegaram cozinha, ele encostou-se em um canto todo tmido, Dona Maria virando-se perguntou: No esta contente meu filho? Estou sim senhora.

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Ento apanhe aquela cadeira e vamos conversar como me e filho. Ainda todo encabulado fez o que ela pedia e Dona Maria muito carinhosamente disse: Voc sabe Librio, sempre quis um filho, mas sempre me foi negado, porm agora estou vendo os meus desejos satisfeitos. Como? A senhora vai ter nenm? No, mas tenho voc e dedicarei toda minha vida para que sejas feliz. Obrigado, respondeu o garoto, eu tambm quero pensar assim e vou fazer o Maximo para que os senhores no se envergonhem de mim. Dona Maria interrompeu-o e disse: Librio, fale-me alguma coisa do Sr. Estevo, ele me pareceu to seu amigo que at pensei que jamais viesse a ter voc para mim. Dona Maria, de fato at agora eu nunca vi uma pessoa dedicar-se tanto a outra, como fez comigo o meu grande amigo o Sr. Estevo. file e muito bom respondeu Dona Maria. Bom no, para mim foi mais que um pai. A conversa j era toda intimidade, quando chegou o Sr. Manoel todo sorridente. Deu um beijo na esposa e tambm no menino, to carinhoso que parecia o seu verdadeiro pai. Conversaram um pouco, depois o levou ao banheiro e mostrou todos os seus pertences necessrios para a higiene de cada um da casa. MMMMPor ai ta-se que seus pais nada esqueceram, arrumaram-se para o almoo. Foram sentar a mesa que estava repleta de iguarias. O Sr. Manoel no se contendo disse: Puxa! Nunca fizeste uma bia to gostosa e com tantas variedades. verdade, mas tambm nunca tivemos a oportunidade de fazer uma refeio com nosso filho sentado em nossa mesa. E assim f oram pilheriando para que o menino se sentisse mais a vontade. Librio nunca teve este tratamento porque jamais pensou em ter um lar de verdade e nem sabia como proceder. De repente o Sr. Manoel fez esta pergunta: Meu filho voc esta contente? Sim, Senhor. S espero que me compreendam e me ensinem boas maneiras para que eu aprenda. Isto assunto para sua me e ela o ensinar. mesmo Librio, hoje j fui a um ginsio para fazer a sua matricula. No esta na poca. No importa, voc no quer estudar? Ento v aproveitar este restinho do ano. Ora, senhor Manoel, para que gastar dinheiro agora, deixe isto para o ano. No o que um pai pode fazer por um filho se no der a ele todos os meios para que se prepare. Sim senhor Manoel, o que vou fazer l e recordar o que j aprendi. Mesmo assim eu gostaria que voc fosse se ambientando ao sistema das cidades grandes. Se o senhor quer assim, esta bem. Quando devo ir?

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O Diretor devera me avisar o mais depressa possvel. Olha Librio, todas as vezes que algum perguntar a voc quem s diga sempre, chamo-me Librio Barbosa Gomes, porque de agora em diante, nos tambm falaremos com muito orgulho, que temos um filho, esquea sua origem e no se considere um Joo ningum, agora voc filho de Manoel Gomes e Maria Barbosa Gomes, e assim que sers tratado, ters amigos, na sociedade e quero que estejas a altura dela. Compreendes o que lhe digo: Compreendo sim Senhor. Olha meu rapaz, hoje pelo seu registro tens quatorze anos e alguns meses e antes dos vinte e cinco anos quero aqui mesmo nesta mesa abraar o Dr. Librio, e quero tambm que perante todos que conhecerem esta historia, sintam-se satisfeitos de verem ou saberem que cumpri com a promessa feita a eles, e at l, se Deus quiser espero poder convidar o seu maior amigo Sr. Estevo para padrinho de sua formatura. Porque o senhor esta me dizendo tudo isso? muito fcil, eu sou casado com sua me a vinte e dois anos e em todo este tempo lamentvamos no ter uma criana neste lar, coisa que no mais problema para ns. Mas os senhores poderiam ter um outro muito antes de mim. Isto e verdade, no entanto eu queria um que preenchesse todas as lacunas, que tivesse os predicados que achvamos indispensvel. O Senhor me conhece to pouco. Sim, meu filho, porm o suficiente para falar com tanta certeza, muitas coisas e vou citar as principais: que ningum reclamara por uma pessoa que no tinha nome, que nem ele conheceu os seus pais, e os demais predicados so inmeros quer que eu cite alguma? Gostaria. O essencial ser inteligente, trabalhador, no tem defeitos fsicos e aparenta muita sade. Julgo que existam muitos outros, mas esses que vejo claramente em voc. Muito obrigado. J falei muito, agora v dormir que eu tambm vou, pois amanh terei que levantar cedo. Coloquei um anuncio no Jornal e j deve ter alguns rapazes para serem admitidos, me esperando ser um deles para fazer o servio que voc vinha fazendo, Librio depois de ouvir tudo isto foi deitar e ficou pensando, e se eu pedir a ele para ficar trabalhando at o fim do ano, com este pensamento adormeceu. No dia seguinte levantou antes do Sr. Manoel, fez caf e ficou esperando por ele na inteno de pedir para ir trabalhar. Quando o Sr. Manoel se levantou viu o garoto de p e perguntou: Porque ests acordado a esta hora? V deitar. No, o Senhor que vai tomar o prime iro caf que fiz em toda minha vida. Esta bem, vamos a este caf, mas olhe no quero um cozinheiro mas sim um filho. Eu s levantei cedo para lhe fazer um pedido. Diga rapaz. Queria trabalhar com o Senhor apenas at o fim do ano. Voc esta pilheriando disse: v para o bero antes que leves as primeiras palmadas, pois no minha inteno dar-lhe correro por desobedincia.

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O menino baixou a cabea e saiu em direo ao seu quar to no querendo comentar mais alguma coisa por achar intil. O Sr. Manoel saiu para o trabalho e Librio foi dormir de novo e quando Dona Maria se levantou foi no seu quarto ver como estava o seu menino, entrou p ante p para que no o acordasse. Mal sabia ela que at o caf j estava pronto, quando ela saiu do quarto, ele se levantou logo atrs para dizer o que j tinha feito. Dona Maria deu uma gargalhada e disse, ser que vou ter agora quem faa o meu trabalho? Librio proibo-lhe de entrar na cozinha quando eu no estiver l, se no o meu velho me come viva. Como assim Ele muito bravo? sim, basta que no faa o que ele quer ou ache de direito, o servio de cozinha e mulher quem faz. Como que l no restaurante e homem que executa este trabalho? L o cozinheiro aqui sou eu e no voc. Quer dizer que eu no vou fazer mais nada. Vai sim, vai estudar para que seja no futuro um Doutor. Orgulho dos seus pais. Mas eu posso trabalhar e estudar. No uma coisa no se mistura com a outra. Teu pai j pensou at em te dar uma mesada para que v a seus passeios e que no fique envergonhado diante dos teus colegas na escola. J estou arrependido de ter aceitado a idia de ser seu filho. Porque? Acho que estou ficando muito caro para vocs. Librio, ests me deixando muito triste, peo-lhe que nunca mais diga isto nos o queremos como filho e tudo que temos ser seu, se assim esta sendo feito no tanto por voc e sim por nos. De agora em diante limite-se a nos dar carinho e com estes carinhos estar pagando tudo que estamos fazendo ou venhamos a fazer por voc. Est bem, de hoje em diante no vou protestar contra nada e s farei o que meus pa is acharem bem. assim que se fala. Ento, mame, deixe-me dar-lhe o primeiro beijo como filho. Ela logo concordou e ele beijou-a carinhosamente no rosto e recebeu outro beijo em troca. Mas no se conteve e abraou-o e beijou-o afetuosamente dizendo: Bem que Manoel me tinha dito que eras bom. Falaram mais algumas coisas sem importncia e Dona Maria lhe disse: V a sua vida que tenho que fazer o almoo para teu pai. Ele se retirou e pensou comunicar tudo o que tinha se passado ao Sr. Estevo, seu velho e estimado amigo. Foi para o quarto, apanhou uma folha de papel e comeou a escrever: "Meu dileto amigo... Ai vai a minha primeira carta aps o nosso ultimo encontro. Prezado amigo como sempre o senhor tinha razo, j estou me sentindo mais a vontade na minha nova vida. Hoje por exemplo, at atrevi-me a dar um beijo em minha mezinha pelo muito que ela vem fazendo por mim. Cobrem-me de carinho e palavras confortadoras. Sabe mais meu querido amigo, eles esto de fato tratando-me to bem, que penso que so meus pais de verdade. Sem mais, como prometi, tudo que se

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Um Librio Qualquer passar de bom ou mau o senhor ficara sabendo. Muitas saudades do seu Librio." Apos escrever a carta, ficou pensando, acho que antes de mand-la devo dar a eles para ler. Assim fez aproveitamento a chegada do Sr. Manoel para almoo, aps ter recebido um beijo, carinhoso do mesmo, disse-lhe: Paizinho, queria que o senhor lesse esta carta. No meu filho, papai no quer tomar conhecimento dos teus segredos. Gostaria que o senhor lesse para ver o que eu disse nesta carta que vou enviar ao meu amigo Estevo. Se voc insiste posso ler, mas de antemo, quero que fique sabendo, que no quero envolver-me em seus assuntos particulares. Com a insistncia o senhor Manoel resolveu passar as vistas no que estava escrito e disse: Nunca deves esquecer este seu amigo e deve ter em mente que depois de nos, e este que lhe guiou e se for precise guiara novamente os seus passes. Eu sei e por isto fago questo que ele esteja sempre a par do meu progresso. Faz muito bem. Com estas palavras passou a hora do almoo. Saindo p seu pai para o trabalho e ele foi ao correio depositar a carta. Regressou com vontade de estudar um pouco, pegou os livros e passou a estudar recordando o que tinha aprendido, porque no caso de sair a sua matricula, ele no queria fazer feio. Sua me que estava sempre atenta aos passes de Librio vendo a sua boa vontade ficou orgulhosa em poder ser til aquele menino. A tarde chegou o Sr. Manoel e sua esposa falou toda eufrica; Sabes, o garoto passou toda tarde remexendo os livros, examinou os cadernos e teve escrevendo alguma coisa, ele tem muito boa vontade e se no esquecermos dele nos dar muitas satisfaes. Na certa teremos um brilhante causdico ou mdico, para compensar os nossos esforos. verdade, no podemos descuidar, amanh mesmo vou novamente ao ginsio para confirmar a inscrio que fiz para ele. V sim, porque se no deixarmos mais nada, pelo menos daremos instruo altura da poca em que vivemos. Tens razo, faa a sua parte que eu lhe prometo no esquecer da minha. Eu sei. Quando a conversa estava animada, de repente pararam. Era Librio que saindo do quarto podia escutar o que eles diziam. No era is to que queriam, porque achavam que tudo de bom que fosse, se feito para ele deveria ser em forma de surpresa. O menino chegando tomou a beno e foi diretamente ao banheiro lavar-se e se preparar para o jantar. Enquanto isto, os seus pais concluram o que pensavam sobre tudo aquilo que comentaram a respeito do futuro do garoto. Saindo do banheiro o Sr. Manoel foi tambm higienizar-se, porque a mesa ia ser posta. Tudo estava em ordem, sentaram-se e comearam a jantar. Para no ficar inibido, Dona Maria puxou uma conversa fazendo a seguinte pergunta: Enviou a carta ao senhor Estevo? Sim minha me. Quanto tempo levara para chegar?

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Antonio Pinho Rente Amanh mesmo ele dever receb-la. Falaram sobre outras coisas, at que acabou a refeio. Levantaram-se, enquanto Dona Maria ia arrumar a loua o Sr. Manoel foi ler o jornal e Librio foi dar uma voltinha ali por perto. Mais tarde ouviram um pouco de radio e foram dormir. No dia seguinte, novas idias e novas atividades. O velho levantou cedo e foi para o trabalho e a velha o que sempre fazia, que era por a casa em ordem, e Librio depois do cotidiano, voltou a seu quarto para continuar com seus estudos. Estudou, mexeu, remexeu, arrumou e tratou de por todos os seus pertences em ordem. Levou tanto tempo a fazer isto, que at para o almoo teve que ser chamado. aps almoarem ele pediu ao Sr. Manoel para que o levasse at ao restaurante que ele queria rever os seus antigos colegas, no que foi prontamente atendido. Saram e no caminho o Sr. Manoel aproveitou e passou pelo ginsio para saber se estava confirmada a matricula por ele solicitada. O diretor do educandrio respondeu afirmativamente: Pode trazer o menino. O menino e este. Ento o diretor perguntou. Quando quer comear as aulas? Muito contente Librio respondeu. Amanh mesmo. No, amanh no poder, porque ainda ter que providenciar o uniforme. O Sr. Manoel Perguntou. Se for tudo providenciado, ele poder vir amanh mesmo? Sim. Ento, por favor, faa-me a lista do que necessrio. O diretor muito polidamente os convidou a irem a secretaria para que fosse providenciado o relatrio solicitado pelo pai do garoto. Sentou-se em sua mesa e comeou a escrever: um terno caqui, palet e cala, tnis, calo, gravata, meias e dois retratos tamanho 3 por 4. E a mensalidade? Perguntou o Sr. Manoel Estas so efetuadas no ato em que se faz a matricula. O Senhor poderia faz-la agora? Sim. Ento faa. E assim ficou sacramentado. O Sr. Manoel e Librio saram para fazerem as compras a fim de cumprirem todas as exigncias mencionadas na lista. Foram a um magazine especializado no assunto e de l saram com todos os objetos mencionados no referido relatrio. O Sr. Manoel foi para o restaurante e Librio foi at ao ginsio para que o diretor aprovasse o material adquirido. Dado o seu veredicto o menino saiu saltitando de alegria em direo a sua casa, ainda No tinha chegado e j gritava. Mame, mame, j irei comear as aulas. Como? J se matriculou? O papai gastou um dinheiro, mas deixou tudo arrumado para que eu comeasse logo.

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tarde quando o pai chegou, ele veio correndo e lhe cobriu de beijos, dizendo: Para que fez isso, eu podia esperar mais um pouco. No, tem que comear o mais depressa possvel, o tempo voa e voc tem uma misso a cumprir. Em que ms estamos? Junho, Pois bem, espero at o fim do ano pegar pelo menos a primeira serie. Ento trate de preparar para que amanh estejas bem descansado e com as idias bem claras. No outro dia o Sr. Manoel antes de sair foi ao quarto de Librio e Perguntou: Preciso ir l lhe apresentar. J conheo o Sr. Flavio e sai tambm que me apresentando a ele o resto fcil. Ento boa sorte. Sua beno papai. Que Deus o abenoe. Pouco depois Librio saiu em direo ao colgio. Dona Maria que No sabia que ele ia to cedo para a aula ficou toda pesarosa por ter o garoto sado sem que ela visse dizendo: Nem tomou caf. No faz mal, de amanh em diante saberei tim tim por tim tim. Quero saber quantas aulas ele ter durante a semana e duvido que acontecera o que aconteceu hoje. Felizmente para ele, como se tratava do primeiro dia de aula, Librio foi apenas fazer uma espcie de vestibular para que o Diretor pudesse bot-lo no lugar certo. Quando chegou em casa a sua me lhe disse: Porque no me chamou antes de sair. Ora mame, eu no vi razo para isto. Garoto levado sente ai e diga tudo sobre o ginsio. Quero horrio, dia perodo de aula para que No acontea como hoje, voc saiu at sem caf. Mame, por enquanto no posso dizer nada sobre isso. Estas coisas s com o tempo a gente fica sabendo. Olha amanh vou levantar mais cedo para que no acontea como hoje? Meu filho, voc vai todos os dias a mesma hora? No sei, ainda no tenho horrio. Na certa com dois ou trs dias de aula e que vou ficar sabendo qual o regime que devo obedecer. Est bem. Quando chegou o seu pai estranhou que Librio j tivesse chegado e perguntou: No estudou hoje?

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No, o professor apenas fez uma sabatina para ver por onde vai comear. Conversaram um pouco e tudo ficou serenado. Veio a tarde em seguida a noite sem maiores novidades a comentar. No outro dia como Dona Maria tinha prometido, levantou-se muito cedo e quando Librio levantou, todos os seus pertences j estavam arrumados, inclusive o caf fresco para ele tomar, arrumou-se como era do desejo de sua me e saiu. Chegando ao colgio, foi levado a uma sala espaosa e com muitos garotos mais ou menos de idade equivalente a sua. Sentou-se no lugar indicado e defronte a um grande quadro negro e por cima deste estava escrito, segunda serie. De principio ficou surpreendido, pensou um pouco e falou consigo mesmo, devera ser por falta de espao. Mas antes de comear as aulas o professor chamou e disse: Aqui esta um aluno novo e de acordo com os exames achou por bem coloc-lo nesta serie e embora j estejamos no meio do ano, com um pequeno esforo poder fazer a terceira serie na prxima jornada. Trouxe o material para comear as aulas? Apenas um caderno e uma caneta. No faz mal, procure copiar algumas matrias que vou dar e quando sair fale comigo para levar uma lista do material que ser necessrio. Sim Senhor. Librio ficou atento pensando que a matria fosse muito difcil, mas qual no foi o seu espanto quando viu que toda matria ensinada ele j tinha aprendido no curso primrio da escola de sua cidadezinha. Naquele dia fez o horrio completo e tambm ficou sabendo a hora da entrada e da salda. Chegando em casa beijou sua me e disse: Papai vai ter um gosto e meia dzia de desgostos. Como assim? que ele vai ficar contente porque vou fazer a segunda serie. E o desgosto? que eu tenho uma lista que no tem mais tamanho de material a ser comprado. Meu filho, acho que por muito que custe este material, no trar nenhum transtorno a ele. Quanto a voc estar na segunda serie, isto sim uma grande alegria para ele que ficara radiante com esta noticia. Mame eu gostaria que a senhora No falasse nada a ele para que no jantar eu pudesse lhe dar a boa nova e ver a sua reao. Esta bem, quando ele chegar, eu nada direi. Est combinado. L pelas vinte horas chegou o Sr. Manoel, entrando foi direto ao banheiro para se refrescar e preparar-se para o jantar. Dona Maria que estava ansiosa para que a noticia fosse dada, para ver sua surpresa. E tudo pronto foram para a mesa. A velha no se contendo disse: Librio tem uma nova para voc. O que e meu filho? Nada de importante.

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Como? que o diretor do colgio achou por bem me colocar na segunda serie. E voc acha que isto no e nada, para mim e tudo de bom. Tenho uma lista de material enorme para comprar, mas o Senhor quis assim. Deixe-me ver, ters isto amanh. No papai, ainda posso esperar alguns dias. No amanh mesmo comprarei tudo que esta aqui. No dia seguinte o Sr. Manoel foi a uma loja especializada e comprou tudo que constava da lista e levou ao ginsio para entregar ao Librio. E assim foram passando os dias e os meses sem indagaes. At que Librio chegando em casa, deu umas voltas para esperar uma hora oportuna em que os velhos estivessem juntos para comunicar-lhes que ia comear os exames na escola, foi entrosando uma conversa at que o Sr. Manoel perguntou: Voc esta animado ser que voc vai passar de ano? Estou fazendo o possvel se no houver tremedeira na hora, creio que passarei. Vais fazer quinze anos esta semana, se voc passar o seu presente ser uma bicicleta. No meu pai, o senhor j tem feito muito por mim, tenho tudo que necessito e a bicicleta uma coisa suprflua. Dona Maria entrou na conversa e antes que o pai ou mesmo o garoto falasse alguma coisa ela disse: O seu pai j tinha dito que no seu aniversario ia lhe dar este presente, por isto quer passe quer no, trate de aprender a andar se e que ainda no sabe. Encerrada a conversa Librio ficou um tanto preocupado quis comunicar mais esta novidade ao Sr. Estevo, porm se conteve, esperaria mais uns quatro ou cinco dias e se passasse de ano comunicaria para dar-lhe mais esta satisfao, sim era isto que deveria fazer. Como estava muito cansado, foi dormir. No outro dia ele se achava com um duplo compromisso, tinha que passar, mas para isto teria que redobrar os seus esforos. Na escola no se descuidou um s momento e quando voltou para casa foi ler as aulas que tinha para decorar. E assim fez em todas as horas de folga. Veio a prova da primeira matria e passou com 9,8 na segunda com 9,5 e nas outras ele foi feliz, e assim ele passou para a terceira serie com distino. Chegando em casa o seu aspecto era de tristeza. Esta triste? Que tens? No passou? Passei, mas no foi como eu queria. Qual foi a sua colocao entre os outros? Quinto lugar. E quantos alunos ha em sua classe. Cinqenta e sete. O Sr. Manoel que era muito forte correu para o menino, jogou ele para cima e beijou-o e abraou-o afetuosamente. Voc fez o impossvel em to pouco tempo, acho at que se pudesse em um ano eras capaz de fazer todo o

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Antonio Pinho Rente curso ginasial. No bem isto. possvel que eu j soubesse tudo aquilo que derem na segunda serie, e que na terceira eu venha encontrar muito mais dificuldades para aprender. Eu acredito muito em voc e sei tambm nunca ficara retardatrio. Vou fazer todo o possvel para que o Senhor no tenha este desgosto, E com estas palavras foi encerrado o assunto. Librio recolheu-se a seu quarto apanhou uma folha de papel para escrever a carta meno ao Sr, Estevo. E comeou por dizer o seguinte: Grande amigo, j me considero em falta por estarmos no fim do ms, no entanto se no escrevi antes foi por estar em provas no colgio. Tambm queria que esta levasse ao Senhor maior alegria, e julgo que consegui o meu objetivo. Como e do seu conhecimento, quando fui estudar entrei para a segunda serie e nas provas passei para o terceiro ano em quinto lugar entre cinqenta e sete alunos, por isto acho que no o estou decepcionando. Saudades e um grande abrao. Librio. Logo que acabou de escrever a carta, saiu para o correio, pois para ele, esta j ia com atraso. Na volta aps visitar a sua madrinha, regressou para descansar um pouco e refazer-se do esforo despendido nos exames. Sua me que o aguardava disse: Que vai fazer? Descansar um pouco no quarto. Ento espere que eu esquentei dois ovos para voc. Aps a pequena refeio tratou de ir dormir, para recuperar as horas de sono que vinha perdendo todas as noites, preparando-se para passar de ano. E s acordou quando Dona Maria foi cham-lo. Assustado perguntou: Que horas tem? Vinte horas mais ou menos. Se a Senhora no me chamasse acho que dormiria trs dias e trs noites. Carinhosamente Dona Maria disse: Estava cansado no meu filho? Estava sim, respondeu Librio. Eu vi muitas vezes voc ir para cama quase na hora de se levantar. Sim mame se a gente No fizer assim no se consegue passar nos exames. No faz mal agora voc se recuperara rapidamente. Mais tarde quando o Sr. Manoel chegou, logo que Dona Maria teve oportunidade de ficar s com ele disse-lhe: Voc podia mandar o Librio passear na sua cidade de origem, para que ele possa descansar do esforo feito. E nos vamos ficar sem v-lo? Ora velho, no seja egosta, quanto tempo vivemos sem filhos e agora no quer separar nem por uns dias? Vou pensar o que devo fazer.

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Trs dias aps, chamou a velha e recomendou que aprontasse a bagagem do menino para um passeio de uma semana porque todos nos iremos conhecer onde Librio tinha dado os seus primeiros passes. Dona Maria pensando muito rapidamente falou: No perigoso que p povo do local nos conhea? Porque? que Librio j esta com outra linhagem e eles l podem vir a ter cimes de ns. O Sr. Manoel depois de ouvir isto deu uma gostosa gargalhada. No, Maria. Acho que voc e que tem cimes dele. No, voc e que no esta pensando bem. Olha velho se ele for sozinho ficara com liberdade de locomover-se para todos os lugares sem o receio de preocupao, se esta ou no agradando. Para descanso dele s h um jeito ir s. Voc esta certa, vou falar com ele. Mais tarde o Sr. Manoel o chamou e disse: Librio, gostarias de dar um passeio na sua terra na tal? Gostaria mais no tenho dinheiro. Meu filho eu fiz uma pergunta, quer ir? Quero sim senhor. Quanto precisas para passar uns dez dias? Uns cento e vinte mil reis. E as suas roupas esto em condies para apresentar -se l sem envergonhar-se? Esto, sim Senhor. Ento, prepare-se para viajar dentro de dois dias. No outro dia Dona Maria a mando do Sr. Manoel foi a uma casa apropriada comprar algumas roupas para ele. Comprou dois ternos, seis camisas, dois pares de sapatos, uma mala, meias e lenos e em outra casa de perfumaria, comprou pasta de dentes escova, sabonete, desodorante e tambm um bom presente para o Sr. Estevo. Librio que a tudo assistia, apenas pensava: quanta despesa. Eu jamais pensei que existisse algum que fizesse tanto por mim. No outro dia o Sr. Manoel perguntou: J estas arrumado para viajar? Estou sim papai. Ento o seu pai meteu a mo no bolso e deu-lhe quinhentos mil reis, dizendo: Gaste como quiser e no faa feio. Chegou o dia do embarque, ai que se via como eles j se gostavam. Na despedida Dona Maria comeou a chorar e o Sr. Manoel no cansava de dizer ao Librio que j estava arrependido.

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Antonio Pinho Rente Veio a primeira reao do garoto. Meus queridos pais, por que arranjaram este passeio e agora esto to tristes com a minha viagem? No, meu filho, ns estamos pensando como que vamos ficar sem voc por tanto tempo. Tenham confiana em mim que tudo passara depressa, logo estarei aqui de volta e refeito para continuar a darlhes muitas alegrias. Tenham pacincia porque os senhores esto me dando o maior presente de toda a minha vida. Fiquem alegres para que eu possa partir confiante no que vou buscar um pouco de higiene mental. Nisto o trem apitou anunciando a partida e entre beijos e abraos l se foi o menino matar as saudades de sua terra natal. Trs horas de viagem e pronto Librio reveria todo o seu passado e os amigos que l ficaram. De surpresa ele foi a firma do Sr. Estevo e se fez anunciar por um empregado novo.: Por favor, o Sr. Estevo est? O rapaz que o atendeu perguntou: A quem devo anunciar? Librio. "Librio Barbosa Gomes". Espere um momento. Em seguida foi perguntar ao patro se poderia receber o referido rapaz. Pronuncie este nome outra vez. Librio. Basta mande-o entrar imediatamente. E rapidamente o senhor Estevo foi ao encontro do recm chegado. Quando se viram, foram um ao encontro do outro se abraando e beijando afetuosamente. O empregado que estava parte ficou muito espantado, nunca tinha visto seu patro to eufrico. Quando chegou? Perguntou o Sr. Estevo. Neste instante. Quer dizer que tive o privilegio entre os conhecidos, fui o primeiro a lhe ver. Nem poderia ser de outro modo, meu pai, meu tutor e meu padrinho. Librio, eu me conformo em ser o ultimo, porque pelo que vejo voc esta muito bem tratado e eu no poderia trat-lo assim. Eles s faltam adivinhar o que eu quero, nada me falta, estou muito bem, pelo menos at agora. Vamos conte-me as novidades. Novas no tenho, mais tudo que queria dizer est escrito na ultima carta que lhe mandei. O Senhor no a leu? No muito, pois at agora s consegui ler umas cinco vezes, por falta de tempo. Quer dizer que gostou das noticias?

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Um Librio Qualquer Gostei de todas, mas estas me encheram, de contentamento, voc provou que es capaz de ir muito longe. Obrigado. Quando a conversa j ia alongar-se Librio disse: Tenho que arranjar um hotel para passar uns dez dias, Que hotel? Ser que eu j no sirvo para companhia? No e isto. Vais ficar todo tempo aqui, que sejam estes dez ou cem dias, sers meu hospede como eu fui seu. Gostaria de ficar, mas aqui no e penso. Acontece que dormiras aqui e cmeras na penso que eu comer. Sendo assim, no tenho outro remdio. D-me suas malas, voc vai ficar no mesmo quarto que ocupastes outrora. Foram, e l estava o quarto arrumado como ele deixou, at parecia que no havia sido utilizado por outra pessoa. Ento Librio arriscou uma pergunta: Ser que ningum dormiu aqui depois de mim? Tens duvida, pois acertastes, desde que saste daqui, este quarto ficou reservado para voc. Esta bem, Sr. Estevo, mas agora gostaria de ver o Juvenal. V meu rapaz, v v-lo, ele esta no mesmo lugar onde voc trabalhou durante muito tempo, e acho que conheces esta casa tanto quanto eu. Sem perder tempo Librio desceu uma escada e de surpresa disse: Boa tarde Juvenal. Ele estava to absorto com o trabalho que levou um susto. E qual no foi o seu espanto quando viu que era o Librio. Que e isto, que alegria em rev-lo, como estas alinhado. O Sr. Estevo tem dito maravilhas de voc, mas eu nunca pensei que fosse tanto, agora estou vendo que e muito mais do que ele dizia. Nada disso rapaz que dei sorte. No, que voc, como eu, teve a ventura de encontrar um homem como o Sr. Estevo. Muito bem dito Juvenal, se no fosse ele eu no era o que sou. Pilheriando Juvenal disse. Agora o doce de coco dele sou eu. No, ele bom para todos. sim, principalmente para as crianas como nos. Aproveitando a oportunidade, Librio convidou o seu ex-colega. Vamos logo mais ao cinema?

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Antonio Pinho Rente No infelizmente no posso, embora gostasse muito. Ento porque no queres ir? No tenho roupa suficiente. Mas eu tenho. No Librio, eu no vou sair com a sua roupa. Voc no pode ir com a minha, mas eu vou com a sua. Como? As minhas no lhe servem. No eu tenho aquelas antigas roupas que eu usava aqui Juvenal, eu no quero dar a impresso que mudei. Deus me livre de todos que me virem fizerem o mesmo juzo que voc fez. Vivi como humilde aqui nesta cidade e no quero que o seu bondoso povo tenha uma outra idia de mim. Juvenal, vou passar aqui dez dias e enquanto eu aqui estiver no usarei estas roupas que es-tam comigo. Voc ser a minha principal companhia. verdade Librio que voc agora tem pais? Sim, e so os melhores do mundo. Depois do Sr. Estevo? Porque faz esta parbola? que, se ha aqueles porque existia este e aqueles e a razo deste. J viste que cresci mais um pouco. No Librio, no fujas do assunto. Compreendo, mas no quero falar como gente que vive em cidade grande, vim para viver como vocs vivem, vim para recordar e quero que voc me ajude. Esta bem, quer dizer que logo vamos ao cinema? Isto, assim que se fala. Vamos sim. Como dois Librios ou dois Juvenal tanto faz, at logo, vou tirar estas roupas porque j esto me incomodando, com elas nem sei andar. Trouxe as que usavam nesta cidade para que me apresente como era antes e com elas que eu vou andar aqui. Porque aquelas e no estas? Ora Juvenal, nunca em to pouco tempo poderia trans formar-me tanto e com estas vai ser exatamente o contrario, eu vim rever o passado sentindo-me como era antes, nesta bela cidade em que nasci. Voc formidvel v tudo e sempre pelo lado certo. V, v mudar estas roupas que eu quero ser o cicerone do mais complete e futuro homem desta cidade, v trocar esta indumentria pela outra para que possamos nos conhecer melhor. para j. Logo depois voltou o Librio que todos conhecem. Humilde e amigo. Ao voltar quem ficou estupefato foi o Sr. Estevo que olhando o garoto esqueceu todo o tempo que os separaram. O que estou vendo? Ser que estou sonhando? No, no esta, sou eu mesmo e como vocs me conhece-rani, assim e melhor nos vamos ficar mais vontade. Sr. Estevo agora vou passar um telegrama aos velhos dizendo como cheguei.

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V sim, para que eles no fiquem preocupados. Chegando ao telegrafo escreveu: "Queridos pais, cheguei bem, estou feliz. Librio. Dali voltou a loja do amigo para mais tarde tratar dos detalhes e tragar o roteiro de suas ferias. Escreveu alem de quatro ou cinco vezes que iria ao cinema, tambm constava ir a Igreja, dar umas voltas at a fazenda onde saiu para rever os campos e conviver um pouco junto das primeiras pessoas que quase o viram nascer. Tambm passou pela penso em que pela primeira vez trabalhou como empregado, por sinal tratado com muito carinho por Dona Odete. Tudo pronto voltou a dialogar com o Juvenal para falar sobre os passeios noturnos de ambos, enquanto ali permanecesse. J eram mais ou menos dezenove horas, Juvenal que estava de sada disse para Librio: Vou a casa jantar e voltarei para irmos ao cinema, s vinte horas esta bem? Esta bem, enquanto isto, tomarei um banho e farei uma pequena refeio. s vinte horas os dois estavam no ponto combinado. Saram e em um dos dois cinemas da cidade estava passando A Dama das Camlias. Entraram e gostaram muito do filme, mas como este era de longa metragem acabou muito tarde, pela hora resolveram ir dormir. No outro dia bem cedo Librio foi penso que tinha trabalhado ver Dona Odete, era o seu roteiro, foi em diversos lugares e viu varies conhecidos. Voltando foi ver o Juvenal, mais tarde o Sr. Estevo. Conversaram sobre muitas coisas inclusive nos negcios da firma. noite, como o combinado, saram para dar um bordejo nos principais recantos daquela cidade to conhecida por ele. No seu trajeto falou e cumprimentou muitas pessoas, Chegando em casa tomou um banho, subiu para seu quarto com a inteno de dormir. No conseguindo conciliar o sono, foi conversar um pouco com o Sr. Estevo, at alta noite, Librio contou ao seu velho amigo com todas as mincias tudo que se passou com ele desde o dia que se separaram pela prime ira vez. Falou como foi parar na penso de Dona Judithe, do emprego no restaurante, nas dificuldades que encontrou em andar na cidade de Belo Horizonte e por fim, tudo que se deu, que j era do conhecimento do seu grande e dileto amigo. J exaustos, despediram-se e foram Dormir. No outro dia, foi exatamente escolhido para ir a fazenda conforme piano pr - estabelecido, levantou cedo e aps as necessidades de todas as manhs aprontou-se e saiu em direo ao local da conduo que o levaria ao passeio. Estava feliz, embora j houvesse alguns anos fora de l, ainda ter sua idade muito tenra, parecia-lhe que ia lembrar-se de tudo, pois nestes pequenos locais o desenvolvimento geralmente e muito moroso. Sabia que no tinha novidades, por isto era maior a sua emoo por rever o seu passado, fazer um julgamento do quanto ele progrediu com seu afastamento daquela vida. Assim pensou e foi exatamente o que encontrou. L estava o Benedito com sua numerosa famlia, Dona Margarida e seu Janurio o Leocdio e todos os outros que vagamente tiveram ligaes com ele. Os leitores naturalmente estranharam de serem apenas citados trs famlias de maior evidencia, no entanto, foram estes que praticamente deram-lhe de comer quando mais precisava. Enfim, as nicas coisas diferentes eram que os filhos destes, estavam maiores e por isto, falaram sobre as travessuras que fizeram. De todos deste local o que mais ficou surpreso foi exata mente o Janurio, este notou uma grande evoluo em Librio e aps a sua despedida no faltou comentrios. Uns diziam, esta crescido, outros falavam, aprendeu a ler e fala bonito, mas o Janurio alem de ver tudo isto notou que embora evoludo continuava com o mesmo corao humilde, por ele antes conhecido. E com um rpido raciocnio sentiu que aquele menino ia muito longe. Estes comentrios levaram muitos dias l na fazenda. Librio regressando a sua cidade o cansao o forou a tomar um banho, jantar e ir direto para a cama. Estava satisfeito por ter podido rever tudo aquilo que lhe trazia muitas recordaes e lamentava que suas ferias j estivessem terminado. Tinha mais trs dias que seriam dedicados ao Sr. Estevo e a Juvenal seus melhores amigos, dai voltaria para continuar a sua misso. Mesmo assim, ainda teria que aproveitar bem este restinho que faltava. Quando acordou foi ver Sr. Estevo para conversar um pouco, de sada foi dizendo: Sabes onde fui ontem? No. Estive l na fazenda, local onde suponho tenha nascido. Que foi fazer l? Rever a minha infncia.

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Que viste de novo? Praticamente nada, parece-me at que tudo aqui ficam anos e anos parado. verdade aqui por estas bandas nada muda. S o tempo. Sr. Estevo, este resto de ferias ser do senhor, tudo que queria fazer j foi feito, por isto ficarei todo este tempo que me resta s com o Sr. e o Juvenal. Se o Senhor tem algum servio para eu fazer estou pronto a execut-lo porque at isto faz parte do meu descanso. No meu rapaz aqui esta tudo em ordem. Eu sei, mas no tenho mais nada a fazer, arranje-me um trabalho. No tenho. Librio muito lpido disse: Estas encomendas? Esto esperando o carregador. Vou lev-las. No, voc esta passeando. Deixe que isto faa parte do meu passeio, quero lembrar de que tambm j fiz isto. No, no veio para descansar e aqui vai fazer s isto, nada mais. Mas como nos embrulhos estavam os endereos, Librio esperou um descuido e foi fazer as entregas. Quando voltou o Sr. Estevo parecia estar zangado. Olhou para o menino e disse: Eu no gostei. Sorridente Librio respondeu. Mas eu adorei. Com esta resposta o seu velho amigo no teve outro jeito seno mostrar as canjicas. Tudo em paz e os dois deram gostosas gargalhadas, e assim passou-se o primeiro dia. noite o turista foi ao cinema com Juvenal, conversaram e divertiram-se muito. Os outros dois dias foram passados igualmente a este. Na despedida, o Sr. Estevo serrou as suas portas e com Juvenal foi ao bota fora de seu menino, no caminho fizeram esta pergunta a Librio: Quando nos veremos novamente? Duas lagrimas rolaram nas suas faces e esta foi a sua resposta, os dois que pressentiram mudaram logo de conversa, passando a falar em coisas mais alegres como esta: Como e Librio, deixa alguma namorada? No quero pensar nestas coisas, sou ainda muito criana e no quero pensar em assuntos de tamanha responsabilidade, tenho muito tempo e quero aproveit-lo com coisas mais teis, vou estudar muito e preparar-me para vida. Paz bem meu rapaz. Disse o Sr. Estevo, no entanto Juvenal disse exatamente o contrario.

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Um Librio Qualquer

Olha Librio eu tambm estou na escola e quero estudar muito, mas nem por isto deixo de olhar as garotas. Voc esta certo porm eu penso o contrario e acho que uma coisa no pode juntar-se a outra. Nisto o Sr. Estevo que tudo ouvia disse o seguinte: Vamos andar mais depressa que j esta na hora do trem. Neste caso a conversa foi interrompida para que eles andassem mais rpido. Chegando a estao, enquanto Librio comprava a passagem os outros dois, patro e empregado, ficaram tomando conta da bagagem. Voltando pouco tempo tiveram para se despedirem porque o trem j tinha chegado. Foi s ele subir e l se foi de volta a Belo Horizonte. S que agora no levava tantas saudades, pois com a transformao de sua vida, ele agora era mais acomodado pela confiana e conhecimentos da sua existncia. Agora sabia que no estava sem destine, sabia que o esperavam de braos abertos prontos a lhe cobrir de carinhos. E assim terminaram as ferias de Librio. A sua chegada na capital os dois j considerados os melhores pais do mundo l estavam a sua espera, a primeira a ver Librio foi exatamente Dona Maria que gritou com euforia. Meu filho, aqui estamos. Ento o Sr. Manoel que tinha se distrado por um momento disse: Onde esta ele que no vejo? No carro do meio. Mulher o trem tem quatro carros, conseqentemente existem dois no meio, em qual dos dois voc o viu? No da frente? A discusso estava to acirrada que nem perceberam que Librio saltara do trem e j estava junto deles, sem que fosse percebido, ento Librio entrou entre eles e puxando-os carinhosamente beijou-os dizendo: Aqui estou de volta. Ai o Sr. Manoel e Dona Maria viraram e efusivamente mataram as saudades, enchendo o seu menino de afagos paternais. Passado este momento de alegria chamaram um txi e juntos foram para casa. Como sempre se via em cada semblante um ar de satisfao e contentamento, era a esperana ligados ao futuro, riam os protetores, agradecia o pro