21
ARTIGOS 134 ISSN 2238-0205 Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012 UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: ENCONTROS E DESENCONTROS ENTRE GEOGRAFIA ESCOLAR E CARTOGRAFIA MIDIÁTICA A Map of the Drug Trade in the Geography Textbook: Dialogues between Geographic Education and Journalistic Cartography André Reyes Novaes 1 1 Professor Adjunto do Departamento de Geografia Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. [email protected]. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Departamento de Geografia Humana. Rua São Francisco Xavier, 524, Maracanã. 20550-013. Rio de Janeiro, RJ. Resumo O presente artigo discute as relações entre geografia escolar e cartografia midiática tendo como ponto de partida a polêmica criada em torno de um mapa sobre o tráfico de drogas ilícitas veiculado na imprensa e inserido em um livro didático de geografia. Partindo deste caso específico, a primeira seção discute o mapa sob o ponto de vista da geografia escolar, considerando o contexto curricular do sétimo ano e a transposição didática do conceito de território proposta pelos autores. Posteriormente, a reflexão é guiada pela ótica da cartografia midiática, explorando a linguagem do mapa em questão e debatendo formas alternativas de representação através de mapas veiculados na imprensa nacional nos últimos quarenta anos. Por fim, busca-se estimular uma incorporação crítica dos mapas midiáticos na geografia escolar, considerando como essas representações podem contribuir para o desenvolvimento de uma cartografia menos “normativa” e mais “interpretativa” nas escolas. Palavras-chave:Geografia Escolar.Cartografia Midiática.Transposição Didática Abstract This article discusses the relationship between geographic education and journalistic cartography taking as its starting point the controversy created around a map of the illegal drug trade included in a geography textbook. Taking into account this particular case, the first section approaches the map from the point of view of geographic education, considering the context of the Brazilian geography curriculum and the didactic transposition of the concept of territory proposed by the authors. In a second moment, the reflection is guided by the point of view of journalistic cartography, exploring the language of the map and discussing alternative forms of representation by using maps published in the national press over the past forty years. Finally, the last section seeks to stimulate a critical use of journalistic maps at school, considering how these representations can contribute to an “interpretive” approach in cartography. Keywords: Geographic Education. Journalistic Cartography. Didactic Transposition.

UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

  • Upload
    ngohanh

  • View
    217

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

134

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: ENCONTROS E DESENCONTROS ENTRE GEOGRAFIA ESCOLAR E CARTOGRAFIA MIDIÁTICAA Map of the Drug Trade in the Geography Textbook: Dialogues between Geographic Education and Journalistic Cartography

André Reyes Novaes1

1 Professor Adjunto do Departamento de Geografia Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. [email protected]. UniversidadedoEstadodoRiodeJaneiro,DepartamentodeGeografiaHumana.RuaSãoFranciscoXavier,524,Maracanã.20550-013.RiodeJaneiro,RJ.

Resumo

O presente artigo discute as relações entre geografia escolar ecartografiamidiáticatendocomopontodepartidaapolêmicacriadaemtornodeummapasobreotráficodedrogasilícitasveiculadonaimprensaeinseridoemumlivrodidáticodegeografia.Partindodestecasoespecífico,aprimeiraseçãodiscuteomapasobopontodevistada geografia escolar, considerando o contexto curricular do sétimoanoeatransposiçãodidáticadoconceitodeterritóriopropostapelosautores.Posteriormente,areflexãoéguiadapelaóticadacartografiamidiática,explorandoalinguagemdomapaemquestãoedebatendoformas alternativas de representação através de mapas veiculadosna imprensa nacional nos últimos quarenta anos. Por fim, busca-seestimularumaincorporaçãocríticadosmapasmidiáticosnageografiaescolar, considerando como essas representações podem contribuirparaodesenvolvimentodeumacartografiamenos“normativa”emais“interpretativa”nasescolas.

Palavras-chave:GeografiaEscolar.CartografiaMidiática.TransposiçãoDidática

Abstract

Thisarticlediscussestherelationshipbetweengeographiceducation

andjournalisticcartographytakingasitsstartingpointthecontroversy

createdaroundamapoftheillegaldrugtradeincludedinageography

textbook.Taking into account this particular case, the first section

approachesthemapfromthepointofviewofgeographiceducation,

considering the context of the Brazilian geography curriculum and

thedidactictranspositionoftheconceptofterritoryproposedbythe

authors.Inasecondmoment,thereflectionisguidedbythepointof

viewof journalistic cartography, exploring the languageof themap

and discussing alternative forms of representation by using maps

publishedinthenationalpressoverthepastfortyyears.Finally,the

last section seeks to stimulate a critical use of journalisticmaps at

school, consideringhow these representations can contribute to an

“interpretive”approachincartography.

Keywords:GeographicEducation.JournalisticCartography.DidacticTransposition.

Page 2: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

135

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

Introdução

No dia 2 de julho de 2007 o então prefeito da cidade do Rio de

Janeiro,CésarMaia,chamouaatençãodaimprensanacionalaocriticar

publicamenteacoleçãodidática“Geografia,SociedadeeCotidiano”

(BIGOTTO; MARTINS; VITIELLO, 2006). O motivo principal da

queixadoprefeitoeraapresençadeummapanasprimeiraspáginas

do volume do sétimo ano do ensino fundamental, que tinha como

objetivolocalizar“asáreasdeatuaçãodegruposdetráficodedrogas

noRiodeJaneiro”.

Preocupadocomaimagemdesuacidadeàsvésperasdeumgrande

eventoesportivo2(NOVAES,2007),oprefeitoanunciouqueiriaproibir

aadoçãodo livronasescolaspúblicas,poisesteseria“umatentado

aoensinodegeografiaparacriançasde12anos”.Fazendocorocomo

prefeito,osindicatodosprofessorestambémconsiderouoconteúdo

domapa“inapropriado”eatéespecialistasemeducaçãodeclararam

que o exemplo seria “profundamente infeliz”. Por outro lado, os

autoresdefenderamapresençadomapanolivrodidático,afirmando

que o tráfico faria “parte da realidade do país” e lembrando que a

imagemnãoeraumacriaçãoinéditadolivro.“Omapafoipublicado

naimprensa”,declarouumdosautoresbuscandojustificaroconteúdo

selecionado3.

De fato, a veiculação de mapas sobre o comércio varejista de

drogasilícitasnasgrandescidadeséumapráticacomumnaimprensa

2 OepisódioaquirelatadoocorreudiasantesdaaberturadosjogosPan-americanos,realizadosnacidadedoRiodeJaneiroentre13e19dejulhode2007.

3 As declarações aqui citadas foram coletadas no jornal O Globo, em reportagempublicada do dia 4 de julho de 2007 e emmatéria veiculada no “Jornal da Noite”transmitidopela redeGlobode televisãonodia4de julhode2007.Disponívelem<http://www.youtube.com/watch?v=ZVkS14z0cGw&feature=related>.

brasileiradesdeadécadade1970(NOVAES,2005).Masquandoessas

imagenssaemdosjornaisevãoparaassalasdeaulaatravésdoslivros

didáticos,instaura-seapolêmica.Opresenteartigodiscuteasrelações

entregeografiaescolarecartografiamidiática,tendocomopontode

partidaaanálisedestemapasobreacomercializaçãodedrogasilícitas

inserido no livro didático de geografia.Oobjetivo aqui não é tomar

posição“contra”ou“afavor”dainserçãodomapadotráficonolivro

didático,mas evidenciar como a reflexão sobre essa imagem pode

contribuirparaadiscussãosobreasrelaçõesentreageografiaescolar

eacartografiamidiática.

Partindo desse objetivo, a primeira seção discute a inserção do

mapado tráficodedrogasno livrodidáticosobopontodevistada

geografiaescolar,considerandoocontextocurriculardosétimoano

e a transposição didática do conceito de território proposta pelos

autores.Posteriormente,areflexãoéguiadapelaóticadacartografia

midiática,explorandoalinguagemdomapaemquestãoedebatendo

formas alternativas de representaçãoda comercializaçãodedrogas

ilícitasatravésdemapasveiculadosnaimprensanacionalnosúltimos

quarenta anos4 (NOVAES, 2005). Por fim, busca-se estimular uma

incorporação crítica dos mapas midiáticos na geografia escolar,

considerando como essas representações “inovadoras, únicas e

esteticamente atraentes” (GREEN, 1999, p. 141) podem contribuir

paraodesenvolvimentodeumacartografiamenos“normativa”emais

“interpretativa”nasescolas.

4 Apesquisadocumentalqueserviudebaseparaaseleçãodosexemplosapresentadosna segunda seção deste artigo foi realizada no âmbito da minha dissertação demestrado.

Page 3: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

136

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

O tráfico de drogas ilícitas como conteúdo da geografia escolar

Desde que as informações sejam dadas por especialistas. O que não pode é os Jovens e

Adolescentes continuarem recebendo informações amadoras da Mídia que em alguns casos pode até

incentivar o ingresso numa dessas facções, no tráfico e no consumo.

“O Globo”, 3/7/2007, leitor J. A. S

Adiscussãosobrealegitimidadedotráficodedrogasilícitascomoum conteúdo nas aulas de geografia mobilizou a opinião pública.Uma simples enquete realizada pelo site do jornalOGlobo, no dia3de julhode2007,evidenciouumasériedeposições contraditóriassobreapresençadatemáticanasescolas.Enquantoalgunsleitoressecolocavamdeformaenfáticacontraapresençadoconteúdo,chegandoaafirmarque“retirariaosfilhosdocolégio”casoolivrofosseadotado,outros argumentavamqueo conteúdo seria legítimo, pois o tráficofaria“partedeumarealidadevividapelamaioriadascrianças”.No entanto, mesmo com posições opostas, muitos leitores

pareciamconcordarcomotrechoretiradodositedojornalOGloboeinseridonoiníciodestaseção.Reproduzindoumdiscursobastanteaceito pela opinião pública, o autor do comentário acima alertavaque as informações sobre as drogas ilícitas deveriam ser “dadaspor especialistas” e criticava os veículos de comunicação e suas“informações amadoras”. Ao cobrar uma suposta “cientificidade”na abordagemda temática e exigir a opinião de “especialistas” emoposição à mídia, muitos leitores acabaram se defrontando comquestões bastante discutidas no campo da educação: quais seriamos saberes de referência para a definição dos conteúdos escolares?

Seria o saber escolar apenas uma simplificação daquele trabalhadonaacademiapor“especialistas”?Atéquepontoamídiapodeserumafontedeinformaçãoparaaelaboraçãodeumaauladegeografia?Emumtextoquediscuteos “padrõesdeevoluçãodasdisciplinas

escolares”, Goodson (1990, p. 234) explora o exemplo dainstitucionalização da geografia para criticar aquilo que chamou deuma “visão oficial” ou “filosófica” sobre o saber escolar. Segundooautor,estavisãopodeseraceita“tantoporeducadorescomoporleigos”econsideraas“matériasescolarescomosendoderivadasdomelhortrabalhodeacadêmicosespecialistas”.Nestaperspectiva,umamatériaescolarseriasempre“criadaesistematicamentedefinidaporumacomunidadedeestudiosos(scholars),normalmentetrabalhandonum departamento universitário” (GOODSON, 1990, p. 233), que apartirdeumconhecimentoacadêmicopréviofazemumtrabalhode“transposiçãodidática”dosaberparaasescolas.UmautorassociadocomessavisãoéomatemáticoYvesChevallard

(1991, p. 31), que definiu a transposição didática como o trabalhoque transforma um “objeto de saber” em um “objeto de ensino”.Considerando a “viagem” do conhecimento da academia para aescola, Chevallard desenvolveu um modelo hierárquico onde o“saberacadêmico”aparececomoprincipalfontedeinformaçãoparaa definição de um “saber a ser ensinado”. Após ser “selecionado”,“simplificado” e “vulgarizado” pela “esfera do pensamento” – ou noosfera–formadaporaquelesqueelaboramcurrículos,orientaçõespedagógicas e livros didáticos, o conhecimento finalmente chega àescolaenquanto“saberensinado”nasaladeaulapelosprofessores.Aodiscutiraconstituiçãodosaberescolaratravésdaacademia,umdosprincipaisobjetivosdeChevallardseriaexercitaruma“vigilânciaepistemológica” para garantir que o conhecimento escolar não sedistanciemuitodaquelesdesenvolvidospelacomunidadecientífica.

Page 4: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

137

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

Emboraaindaapareçaemmuitosdiscursoscontemporâneossobreoconhecimentoescolar,essavisãohierárquicaatribuída5aChevallardjá foi criticada sobre diferentes óticas. O teórico francês MichellCaillot (1996), por exemplo, questionou se a teoria da transposiçãodidáticaseria“transponível”6paradisciplinasmenosfocadasno“sabersábio” da academia. Já Forquin (1996, p. 195) apresenta o trabalhode Chervel (1990) como uma alternativa a Chevallard, buscandoevidenciarcomoaescolanãoémerareprodutoradeconhecimento,mas também produtora, atuando na criação de “configuraçõescognitivasverdadeiramenteoriginais”.Seguindoessamesmadireção,Goodson (1990, p. 249) utiliza o exemplo da história da geografiaescolarparamostrarcomo“longedeseremderivadasdedisciplinasacadêmicas,muitasmatériasescolaresprecedemcronologicamentesuasdisciplinas-mãe”.Atravésdacontribuiçãodessesautores,pode-se compreender que nem sempre o conhecimento escolar temreferêncianaacademiaequeaescolatambémcriaconhecimentoetrocainformaçõescomoutrasfontesdesaber.Mas quais teriam sido os saberes de referência utilizados pelos

autores do livro “Geografia, Sociedade eCotidiano” para inseriremo tráficodedrogascomoumconteúdoescolar?Napresenteseção,gostariadeevidenciarcomoasfontesdeinformaçãosobreatemáticaforamvariadasnesteprocessode“transposiçãodidática”.Porumlado,os autores utilizaram artigos acadêmicos que abordam as relaçõesentreoconceitodeterritórioeotráficodedrogas,comooartigode

5 A palavra “atribuída” é aqui intencionalmente aplicada, pois é válido ressaltar queemboraexistammuitostextoscríticosaotrabalhodeYvesChevallard,algunsteóricoscontemporâneostambémapresentamleiturasfavoráveisàscontribuiçõesdoautor,questionandogeneralizaçõessimplistasassociadasasuaobra.Éimportantedestacar,ainda,quegrandepartedascitaçõesdascontribuiçõesdeChevallardaindatemcomofonte a versão do seu livro em francês, intitulado “La transposition didactique: dusavoirsavantausavoirenseigné”.

6 Traduçãolivredotermo“transposable”,presentenotítulodoartigodeCaillot(1996).

Souza(2000),citadonabibliografiadomaterialdidáticoemquestão.Poroutro,háumaincorporaçãodeinformaçõesmidiáticas,atravésdainserçãodemapasefotosretiradosdejornaisdegrandecirculação.Ao identificar as fontes variadas consultadaspelos autoresdo livro,o objetivo aqui não será acusar a incorporação de “informaçõesamadorasdamídia”, como fezo leitor citadono trechoque iniciouesta seção,massimevidenciar comoaqualidadeda “transposição”podesermaisimportantedoqueaprocedênciadainformação.Parasecompreenderasfontesde“saber”utilizadaspelosautores

do livro didático, é importante inicialmente contextualizar algunsdesafiosencontradospelosprofessoresdegeografiaaosedepararemcomoconteúdodosétimoanodoensinofundamental7.Considerandoadistribuiçãodetemasnoscurrículosbrasileiros,osétimoanotalvezrepresenteumdosconteúdosmaisconsolidadoseaomesmotempomaisquestionadospelosprofessoresatuantesnoensinofundamentale médio. É nesse momento que se pretende descrever o territóriobrasileiro, geralmente dividido em regiões a serem trabalhadas aolongodosbimestresdoanoletivo.Atravésdousodemapasnaescalanacional a geografia escolar tradicionalmente buscou unir as váriasespecificidades regionais em um “todo harmonioso”, procedimentoqueevidenciaumadasfunçõesmaisantigasdadisciplina:“atarefademostrarapátria”(LACOSTE,2003,p.53).Mesmo que a descrição do “território nacional” na escola tenha

sofrido inúmeras críticas nas últimas décadas (LACOSTE, 2003;Foucher, 1994; entre outros), é interessante observar como osParâmetrosCurricularesNacionais(BRASIL,1998)mantémaestruturadescritivadageografiano sétimoanodoensino fundamental.Seo

7 Éválidolembrarqueoatualsétimoanocorrespondeàantigasextasériedoensinofundamental,nomenclaturaqueaindaerautilizadanaépocadapolêmicadiscutidaaolongodesteartigo.

Page 5: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

138

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

conteúdoaserensinadonesteanosegueassociadocomaapresentaçãodo território brasileiro, os professores que buscam se afastar dasdescriçõesregionais,comumenteassociadascomageografiaregionalfrancesa,encontramumgrandedesafionaformulaçãodeabordagens

inovadoras. No entanto, é importante reconhecer que o próprio

documentotambémapontaalgumasdireçõesquepodemestimular

transformaçõesnoconteúdodosétimoano.

Para alguns autores, a principal inovação dos Parâmetros

CurricularesNacionaisfoioestímulodadoparaaelaboraçãodeuma

abordagem conceitual, valorizando a definição de conceitos como

espaço, paisagem, região, território e lugar nas escolas (SPOSITO,

1999).Seguindoessatendência,oconteúdodosétimoanonãoseria

maisexclusivamentefocadonadescriçãoderegiõesenadelimitação

do território nacional,mas também daria ênfase à discussão sobre

o que é região e o que é território. Esta perspectiva certamente

influenciou os autores do livro “Geografia, Sociedade eCotidiano”,

poisosalunosdosétimoanosãoindagadosjánasprimeiraspáginas

domaterialdidático:“masoquesignificaterritório”?

Ensinarumconceitocertamentenãoéumatarefasimplesequando

umprofessordesétimoanosevêfrenteaessedesafio,elegeralmente

vaibuscarnasuaformaçãoacadêmicaasrespostasaseremadaptadas

para o universo escolar. Sabe-se que a “transposição didática”

do conceito de território tem sido feita de forma profundamente

deficiente nos livros didáticos brasileiros emuitas vezes o conceito

não é nem explicitamente definido (BOLIGIAN, 2003). Buscandoestabelecer uma abordagem inovadora – que definisse “território”paraalémdeumameradescriçãodo“territórionacional”–osautoresdo livro didático incorporaram concepções acadêmicas renovadassobreoconceito.

Contrastando com as concepções da geopolítica clássica, querecorrentemente associavamo território a escaladoEstado-Nação,muitosautorespassaramatrabalharcomdefiniçõesmaisabertasdoconceitoapartirdosanos1980.Osterritórios,antesdelimitadosporumpoderexclusivoepermanente,passaramaapresentardinamicidadenotempoenoespaço,oqueabriuapossibilidadeparaoestudode

sobreposiçõese“empilhamentosterritoriais”(SACK,1986).

Abibliografianomaterialdidáticoemquestãoevidenciaainfluência

dessas tendências renovadas, pois contém textos de autores como

Raffestin(1993)eSouza(2000),quecriticamaênfaseexclusivadada

aoEstadopela geografiapolíticaclássicaebuscamenfatizarque“o

territórionãoprecisaenemdeveserreduzidoaestaescaladoEstado”

(SOUZA, 2000, p. 81). Após definir o território enquanto “espaço

definidoporeapartirderelaçõesdepoder”,Souza(2000,p.82),por

exemplo, apresenta uma série de casos sobre “as territorialidades

complexasdoquotidianometropolitano”.Oautordiscuteinicialmente

osterritóriosdaprostituição,paraemseguidaexemplificaroconceitoapartirdotráficodedrogasilícitasnoRiodeJaneiro.Masatéquepontoo“saberacadêmico”consultadopelosautores

dolivrodidáticoinfluenciounaelaboraçãodo“saberaserensinado”relativoaoconceitodeterritório?Ainfluênciadostextoscitadosficaevidente na preocupação do material em não associar o territórioexclusivamenteàescaladoEstado.Apósafirmarque “ospaíses,osestados,as cidades,osbairroseatéas ruas têmáreasdelimitadas”(BIGOTTO; MARTINS; VITIELLO, 2006, p. 8) e que “o território édefinidoapartirdadelimitaçãodoespaçogeográficoporumgruposocial”,osautorestambémapresentamexemplosnoespaçourbano,focados em “grupos que delimitam seus territórios nas grandescidades”(BIGOTTO;MARTINS;VITIELLO,2006,p.9).

Page 6: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

139

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

O primeiro exemplo explora a presença de integrantes domovimentohip hop noLargodeSãoBentona cidadedeSãoPauloe foi ilustradocomummapaquesimplesmente localizavao largoeas saídas dometrô.Após citar brevemente exemplos de territóriosurbanosassociadosagruposétnicosemigrantes,osautoreschegamao exemplo dos “grupos de tráfico de drogas, que delimitam áreasdeatuaçãocombasenograudepoderexercido”.Énocontextodeexemplificação do conceito de território enquanto projeção dasrelaçõesdepodernoespaçoquefoiintroduzidoomaparepresentandoas“áreasdeatuaçãodegruposdetráficodedrogasnoRiodeJaneiro”.É interessante observar como os autores do livro didático foram

guiados por um saber acadêmico no momento que discutiram oconceito de território,mas para trabalhar com a exemplificação dotráfico de drogas na cidade, houve a necessidade de incorporaçãodeummaterialmidiático.Otráficodedrogascertamentenãoéumobjeto sistematicamente trabalhado pela geografia acadêmica e asabordagens sobre esta temática geralmente se limitam a esforçosindividuais (MACHADO, 1996, 2009; SOUZA, 1996, 2000). Mas,enquanto a academia apresenta uma produção cartográfica muitoreduzidasobreasdrogasilícitas,limitadapela“faceoculta”associadaa esse fenômeno ilegal (OLMO, 1990), a imprensa brasileira seconverteuemgrandemapeadoradatemática,apresentandoimagensprópriasconstruídasemescalasdiversificadas.Ao trabalhar com diversos temas atuais que circulam na grande

imprensa, a geografia escolar muitas vezes encontra uma escassaprodução acadêmica para ser “transposta” para as salas de aula.Reconhecendoqueosaberescolarnãopoderiaserpautadoapenaspelo“sabersábio”dasuniversidades,Chevallard(1991)tambéminseriuemseumodeloaquiloquechamoude“sabercotidiano”,trazidoparaasescolasapartirdasexperiênciasdealunos,professores,funcionáriose

pais.Seconsideramosqueamídiahojeemdiainfluenciadiretamenteanossasformasdeexperimentarevivenciarosespaços(BURGESS;GOLD,1987),pode-seidentificarummovimentodetransposiçãonãodiscutidoporChevallard,noqualosabercotidianoétranspostoparao“saberaserensinado”atravésdaintroduçãodiretadeummaterialmidiáticoemumlivrodidático.Seguindo os comentários dos leitores presentes no início desta

seção poderíamos considerar essa transposição indesejável e

problemática,poisoconhecimentoescolardeveriater“especialistas”

como referência. No entanto, sabe-se que há bastante tempo as

informações midiáticas vêm impactando a forma de se ensinar

geografianasescolas.Dentrodocontextodeumageografiaescolar

tradicional conteudista,pautadanadescriçãode regiõesapartirde

umaabordagemfocadanamemorização,opapeldamídiaacabase

sobrepondoaodoprofessordegeografia,poisofereceparaoaluno

uma série de informações sobre as regiões trabalhadas em sala de

aula.

Antes da difusão mais intensa de informações sobre os espaços

nos meios de comunicação durante a segunda metade do século

XX, o professor de geografia tinha muitas vezes o monopólio do

conhecimento e podia descrever as regiões e os países semmuitas

interrupções por parte dos alunos. Com a difusão dos meios decomunicação, essas aulas descritivas foram ficando cada vez maisproblemáticas, pois, como bem observou a geógrafa francesaDebesse-Arviset(1978,p.8),“aescolajánãoéaúnicafontedesaber”eageografiafoificandodesinteressanteparaosalunosdesdeque“os‘mass-media’proporcionamatodos,atravésdaimagemeinformações,umconhecimentodomundoinfinitamentemaisvariadoecoloridodoqueaquelequesepodedarnaescola”.

Page 7: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

140

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

Também escrevendo na segunda metade da década de 1970,Lacoste(2003,p.35)consideravaas“imagens-mensagensgeográficas”presentesnos “mass media”um“fenômenohistoricamentenovo”efaziaobservaçõessimilaresasdeDebesse-Arviset, constatandoque“as cartas, osmanuais e os testes de geografia estão longe de seras únicas formas de representação do espaço, a geografia tambémse tornouespetáculo”.Ao competir comas informaçõesmidiáticas,o professor de geografia poderia ter suas funções enciclopédicasameaçadas,gerandoummalestarnapráticadosdocentesquenãoconseguem acompanhar acontecimentos diários provenientes damídia.Nestecontexto,poderia-sequestionarinclusiveaimportânciadosprofessoresdegeografia,jáque“nonossomeiofavorável,anoçãodeespaçogeográfico se constroipor si: jornaise revistas, cinemaetelevisão, rádio evocam os aspectos de qualquer parte da Terra”(DEBESSE-ARVISET,1978,p.17).O impacto da mídia no processo de ensino e aprendizagem da

geografia não pode ser ignorado e sob este ponto de vista a ideiade que a escola não deve trabalhar com informações midiáticas esim se referenciar em “especialistas acadêmicos” parece bastanteproblemática. Segundo a educadora Maria Luiza Belloni (1998),devemosevitaraatitudequenegligenciaas informaçõesmidiáticaseasnovastecnologiassobopretextodequeelasassumiriamopapeldoprofessor.Ofatodequeosalunospossueminformaçõeseimagensmentaissobrediferenteslugarespodenãorepresentarumproblemapara o professor de geografia,mas sim uma solução, libertando osdocentes da tarefa puramente descritiva. Se os alunos já possuemimagens estereotipadas dos lugares, o professor pode aproveitarmelhorseutempo,focandomenosnosconteúdosdescritivosemaisnas competências que auxiliem os alunos a ler, refletir, interpretar,hierarquizarecontextualizarasinformaçõesquecirculamnamídia.

Nessesentido,arelaçãoentreaeducaçãoemídiamostra-secomoumenígmadaesfínge:“decifra-meoutedevoro”.Éimportanteobservarqueosalunos recebemsimmuita informaçãosobreomundo,mas,comoobservouDebesse-Arviset (1978,p.17) “estasmensagensnãobastamparaconstruirnosespíritosumanoçãocoerenteeracionaldoespaçogeográfico”.Aautorapropõe,então,uma“pedagogiaorientadaparaautilizaçãodosmass media”,paraqueoensinodegeografiapossa“servir-sedestamarédeinformações,semprefragmentárias,detodasestasimagensqueameaçamasfixiarareflexãopessoal,paraeducaropensamentocrítico”(DEBESSE-ARVISET,1978,p.18).Aovalorizaraincorporaçãodasinformaçõesmidiáticasnaescola,não

podemosassumirumaposturacríticaeacusativacomrelaçãoaolivro“Geografia,SociedadeeCotidiano”,quebuscouinovarao introduzirummapamidiáticoemsuaspáginas.Maspodemossim,questionarseosautoresestimularamumaabordagemcríticaeinterpretativadestematerial,encorajandoosalunosa“lerem”aimagemecompreenderemosdiscursosenvolvidosnasuaprodução.Éimportantelembrarque,assimcomoos textospublicadosna imprensa,osmapasmidiáticostambémconstituemumaformadediscurso,plenosde“narrativas”e“silêncios” (HARLEY,2002),quedevemser cuidadosamente “lidos”peloprofessoreseusalunos.Naseçãoseguintebuscareifazerjustamenteestetipode“leitura”,

apresentando uma série de representações midiáticas alternativassobreotráficodedrogasnacidadedoRiodeJaneiroeproblematizandoa relevânciadomapaemquestãocomoumrecursoparaalcançarafinalidadedosautores,que seriadiscutir o conceitode territórionosétimoanodoensinofundamental.Acartografiamidiáticacertamenteseguirásendoumaimportantefontedeinformaçãoparaosprofessoresdegeografia,masrestasaberseestamosprontospara“decifrá-la”einterpretá-lacomnossosalunos.

Page 8: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

141

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

O tráfico de drogas como notícia na cartografia midiática

As facções criminosas são um problema social, mas não o mais importante das comunidades, que

são formadas principalmente por trabalhadores. Deveriam ter outros valores enfatizados.

“O Globo”, 3/7/2007, leitor A. C. C

Aolerdiversasopiniõessobreomapadotráficodedrogasinseridonolivrodidáticoveiculadasemjornaisesitesbrasileiros,pudeobservar

como grande parte dos leitores repudiou o mapa por discordar

da presença do tráfico de drogas ilícitas como conteúdo escolar.

Poucos foram aqueles que, como o leitor citado acima, criticaram

as associações simplistas feitas pela representação emquestão.De

formabastantesucinta,oleitorcriticaumasupostaassociaçãoentreas

“facçõescriminosas”eas“comunidades”,alertandoque“deveriamter

outrosvaloresenfatizados”narepresentação,poisasfavelasseriam

formadasprincipalmentepor“trabalhadores”.

Essetipodedualidadenarepresentaçãodasfavelasacompanhaa

própria história destes espaços.Trabalhando com jornais da cidade

doRiodeJaneirodoiníciodoséculoXX,Abreu(1994)jáidentificava

como o “Correio daManhã” qualificava recorrentemente as favelas

de forma pejorativa e perigosa, como “lugar onde reside a maior

parte dos valentes da nossa terra, o esconderijo de gente disposta

a matar por qualquer motivo, ou até por motivo algum” (“Correio

daManhã”, 5/7/1909). No entanto, é interessante observar como o

mesmojornaltambémproduziaoutrasformasdequalificaçãodestesespaços, afirmando que “tanto na Favela como nomorro deSantoAntôniomoramcentenasdetrabalhadores,gentehonestadignadeconsideraçãodospoderespúblicos”(“CorreiodaManhã”,23/1/1911).

Essatensãoentrediferentesformasderepresentaçãodasfavelasperpassa grande parte da literatura sobre estes espaços, que hábastantetempojáidentificaaexistênciadeum“mitodamarginalidade”associandofavelaecriminalidade(PERLMAN,1977).Mas,seasfavelasforamqualificadase representadasde formasdistintasna imprensabrasileiraaolongodoséculoXX,pode-sedizerqueosmapasescolaresacabarammuitasvezes“silenciando”estesespaços(HARLEY,2002).É certo que a escalamais trabalhada na escola não é a do espaçourbano,principalmentenosétimoano,emqueosalunosgeralmentesãobombardeadoscommapasnasescalasregionalenacional.Masseosmapasurbanossãorarosnos livrosescolares,a representaçãodasfavelaséumararidadeaindamaior.Pintadasdeverde,marrom,cinzaousimplesmentesituadasemumespaçoembranco,elasforamfrequentementeignoradas,apagadasdascidadesmapeadasnasaulasdegeografia.A ausência de espaços ocupados pela população de baixa renda

nosmapasurbanoscertamentenãoéumaexclusividadedageografiaescolar. Segundo o historiador da cartografia J. B. Harley (1988, p.292), “em muitos dos primeiros mapas das cidades, o cartógrafopodeterignoradoinconscientementeasruaseosjardinsdospobres,dandopreferênciaparaoscaminhosprincipais,osedifíciospúblicoseasresidênciasdaclassecomercial”.Discutindoumasériede“silênciosesegredos”nacartografiadaEuropamoderna,Harley(2002)utilizaexemplos variados para evidenciar como populações indígenas,camponesesepobresurbanosseriamgrupos“privadosdeseudireitocartográfico”e“semgeografia”,poisforamrecorrentementeexcluídosdosmapasoficiais.Alguns poderiam justificar a ausência de mapas escolares

representando as favelas pela falta de dados confiáveis sobre estesespaços, construídos sem nenhum planejamento urbano prévio.

Page 9: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

142

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

No entanto, sabemos que os “silêncios” de um mapa não podemser entendidos apenas como “brechas no fluxo de linguagem”,pois constituem “declarações afirmativas” e intencionais. Muitoscartógrafos discutiram os “espaços em branco” dosmapas antigosenquantoignorânciacartográfica,carênciadedados,errosououtraslimitaçõestécnicas,masHarley(2002,p.85)buscadeixarclaroqualtipodesilênciobuscaestudar: “aquiabordosilênciospolíticos”,quefazempartede“estereótiposculturaismaisamplos”,declarouoautor.Aausênciadas favelasemgrandepartedacartografiaescolarpodefacilmenteserassociadaaumaformade“silênciopolítico”.Frente à ausência de produção cartográfica sistemática sobre as

favelasnouniversoescolareacadêmico,éinteressanteobservarcomoosmapasmidiáticospodemassumirgrande importâncianadifusãodeinformaçãoespacialsobreesteslocais.Buscandoestabelecerumaabordageminovadoraeutilizandoamídiacomofontedeinformaçãoespacial, os autores do livro didático “Geografia, Sociedade eCotidiano”inseriramomapasobreotráficodedrogasqueapresentavaonomedeváriasfavelasdacidade,movendoestesespaçosdosilêncioparaodestaque.Noentanto, aomesmo tempoemqueessemapadá visibilidadeàs favelas, ele tambémpode reproduzir estereótipossociaisaoassociar“favela”e“tráficodedrogasilícitas”.Deve-secompreenderqueapróprianaturezadomapaauxiliaessa

funçãode“ligar”,“conectar”e“amarrar”categoriasselecionadasemum plano propositivo comum (WOOD, 2010, p. 2). SegundoWood(2010,p. 4), omapapode serdefinidopor esteplanoe sua relaçãopropositiva que busca estabelecer a conexão entre os elementosselecionados: “‘estas coisas vão juntas’, nos fala o mapa” (WOOD,2010,p.4).Aoassociarfavelaetráficodedrogasomapainseridonolivrodidáticopodeterreproduzidosilênciosedestaquesreveladoresdasrelaçõesdepoderoperantesnasgrandescidadesbrasileiras.Mas

apartirdequetipodelinguagemcartográficaomapaestabeleceessaconexãodiretaentreasfavelaseotráficodedrogasilícitas?Sob um fundo cor-de-rosa utilizado para delimitar a cidade,

observamosváriossímbolosdepontocoloridosdevermelho,laranja

e amarelo.As coresnãoestimulammuito aobservaçãodepadrões

espaciaiseospontosestãobemdistribuídosporquasetodaaextensão

do território da cidade. Embora existam signos linguísticos escritos

emletrasmaiúsculaspróximosaospontos–CENTRO,COPACABANA,

IPANEMA – compreendemos rapidamente que os pontos estão

associadosaosnomesescritoscomletrasminúsculas–Turano,Vidigal,Chapéu,etc.Aoobservaralegenda,qualificamosospontosenquanto

Figura1-FacçõesCriminosasePontosdeVendadeDrogasIlícitasnaCidadedoRiodeJaneiro,2007

Fonte:Martins;Biggoto;Vitiello(2006,p.11).

Page 10: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

143

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

“grupos de tráfico de drogas” ou “facções” e o mapa cumpre suafunção“propositiva”aoconectarumespaçoaumatributoespecífico(WOOD,2010).O mapa em questão certamente é eficiente em promover uma

associaçãodiretaentretráficoefavela,masatéquepontoestaimagemseria pertinente para exemplificar o conceito de território em umaauladegeografia?Certamenteexistemmuitasformasgráficasparaserepresentarumterritório.Noentanto,sabe-seque,enquantoespaçosdelimitados por relações de poder, os territórios são geralmenteassociadosasímbolosdeáreaenãodeponto.Asáreasnospermitemtraçarlimitesefronteiras,definirincluídoseexcluídos,auxiliandonavisualização da distribuição das relações de poder no espaço. Já ospontossãomaiscomumenteutilizadosparaassociarumalocalidadeaalgumatributoespecífico.Nessesentido,umapossívelincongruênciadomapa estaria entre o seu título “áreas de atuação de grupos detráfico”esuasimbologia,baseadaemsímbolosdeponto.Noentanto,é importantedeixarclaroqueasimplesutilizaçãode

símbolosdeáreacertamentenãoresolveriaocomplexoproblemadeserepresentarotráficodedrogasilícitasnasgrandescidades.Aessaaltura talvez seja pertinente explicitar uma indagação que poderiaterprecedidoainserçãodestemapanolivrodidático:atéquepontooconceitodeterritórioseriaomaisadequadoparasecompreenderasformasdeatuaçãodosgruposenvolvidoscomotráficodedrogasilícitas? Segundo Machado (2009), apesar da insistência geral emrelacionar o tráficodedrogas ilícitas ao “território” das favelas, emsuapráticano terreno,o “tráficoorganiza-sesoba formade rede”.Segundo a autora, os limites dos “territórios” são na verdade aextensãoeodesenhodessasredes,quenãoobedecemàrestriçãodacontiguidadeespacial.Embora grande parte dos discursos sobre o tráfico de drogas

geralmentetenteassociaraquestãoaumespaçoespecífico,comoum

paísprodutor–Colômbia–ouumaáreaurbana–favelas–sabe-sequeessaatividadedependemaisdo“espaço-de-fluxos”doquedo“espaço-de-lugares”equeosenvolvidosnessenegóciogeralmente“ocupamoslugares,masnãosãodefinidospeloslugaresqueocupam”(MACHADO,2009).Essaformadeorganizaçãoquevalorizaosfluxosgeralmentetemsua representaçãográficaassociadaàs redes, recorrentementerepresentadasatravésdepontoselinhas,considerandoanaturezaeaespecificidadedosfluxosqueocorrementrecada“nó”destacado.Representar as trocas complexas que envolvemo tráfico de drogasilícitasnãoétarefafácil,masdeve-sedestacarqueosautoresdolivrodidáticotiveramacessoaumaproblematizaçãosobreessaquestãonopróprioartigodeSouza(2000,p.92),citadonabibliografia.Segundooautor,diferentementedaestruturaespacialdemáfias

comoojogodobicho,emque“oquehásãoáreasantesquepontos,ondesaltaaosolhosacontiguidadeespacialdosdomíniosouáreasdeinfluênciadecadafamíliamafiosa(oubicheiro)”,otráficodedrogasilícitas “remeteànecessidadede se construir umaponte conceitualentre o território no sentido usual (que pressupõe contiguidadeespacial) e a rede (onde não há contiguidade espacial)” (SOUZA, 2000, p. 93). Buscando relacionar diferentes escalas ou níveis deanálise,Souza(2000)defineaexistênciadeumterritóriocontínuo,quepodeserrepresentadoatravésdesímbolosdeárea,eum“territóriodescontínuo”,queseria“umaredeaarticulardoisoumaisterritórioscontínuos”(SOUZA,2000,p.94).Ao focar o estudo das drogas ilícitas no conceito de rede e não

de território, a formadeentendimentodo fenômeno torna-semaiscomplexa e instigante. Provavelmente os autores do livro didáticoexcluíramasrelaçõesentreterritórioeredepensandoem“simplificar”o tema e facilitar a transposição didática para os alunos do sétimoano. No entanto, essa “vulgarização” do conhecimento pode ter

Page 11: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

144

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

comprometido a aprendizagem do conteúdo, promovendo uma

associaçãosimplistaentretráficoefavelaepoucocontribuindopara

aapreensãodoconceitodeterritório.SegundoMachado,aoarticular

oconceitoderedecomaformadeatuaçãodosgruposenvolvidosno

tráficodedrogasilícitas,percebe-sequeessasredes“obrigatoriamente

integram indivíduos e grupos pertencentes a vários setores sociais,

quenãoestãolocalizadosexclusivamentenasfavelas:políticos,lojas

comerciais,jovensdeclassemédiaerica,advogados,juízes,donosde

empresasdeváriostiposetc.”(DURÃES,2007)8.

As características da cartografia midiática, feita para atingir um

grandepúblicoesecomunicarrapidamentecomoleitor,geralmente

nãoestimuloudiagramasmuitocomplexosquepudessemrepresentar

otráficodedrogasdeformamaiscoerente.Noentanto,aorealizar

a pesquisa documental daminha dissertação demestrado, na qual

coleteimapasdequatrograndesjornaisbrasileirosdeamplacirculação9

que representassem a produção, o processamento, o comércio e o

consumodedrogasilícitas,mesurpreendicomaquantidadedemapas

dadécadade1970quedestacavamaparticipaçãodeoutrosespaços

urbanos–foradasfavelas–notráficorealizadonascidadesbrasileiras.

OmapadaFigura2,veiculadonojornalFolhadeSãoPauloem1978

representavaotráficodedrogasnacidadedoRiodeJaneiro,incluindo,

alémdasfavelas,as“esquinas”,os“bares”e“apartamentos”situados

nosbairrosmaisvalorizadosdacidade(Figura2).

8 AsdeclaraçõesdaprofessoraLiaOsórioMachado sobreas formasdeorganizaçãodo tráfico de drogas ilícitas estão presentes em diversos textos acadêmicos daautora,mastambémforamaquiretiradasdeumaentrevistadadaaoJornaldaUFRJemnovembrode2007 (Ano 3,Número 30).A reportagem, intitulada “DesafiosdaGeografia”relatavaocasodomapadotráficonolivrodidáticoecontoutambémcomacolaboraçãodoprofessorMarceloLopesedoautordopresenteartigo.

9 OsjornaisestudadosforamOGlobo,JornaldoBrasil,OEstadodeSãoPauloeFolhadeSãoPaulo.

Aprimeiradiferençabastantenotávelentreestemapaeoanteriorestánaescala.Enquantoomapainseridonolivrodidático(Figura1)representa toda a área da cidade do Rio de Janeiro, omapa acimaé focado apenas na zona sul, centrando nas praias de Ipanema eCopacabanaetendoaLagoaRodrigodeFreitascomgrandedestaque.Corroborando com a ideia de que a mudança de escala semprecorrespondeaumamudançaqualitativanaformadesecompreenderum fenômeno (LACOSTE, 1988), dos quinze pontos de tráfico dedrogasidentificadosnomapa,apenastrêsestãosituadosemfavelas.Utilizandoumapráticamuitocomumnosmapasmidiáticos,ospontossãoqualificadosapartirdepequenostextos,quedescrevemotipodetráficoeaspessoasenvolvidascomaatividadenaquelalocalidade.Éinteressantenotarcomonotextoparecehaverumavalorizaçãoda

ideiadequeotráficoéfeitoporpessoascomboacondiçãofinanceira.AodescreverotráficonaRuaMontenegro,porexemplo,qualificadacomo“umadasmaisfamosasruasdeIpanemaquecomeçanaAvenidaVieira Souto, na praia, e termina na Lagoa Rodrigo de Freitas”, orepórterfazquestãodeexplicitarqueaspessoasqueatuamemum“discretopontodevendadecocaína” seriam“rapazes ricos,deboafamília”. Já as praias doArpoador e do Diabo são retratadas como“localdesurfistasemotoqueiros”,ondeofornecimentoseria“sóparaenturmados”.Falandosobreofornecedordaregião,“umengenheirodenomeMarcos”,o jornalista tambémexaltaqueo traficante teria“vários carros” e que “fornece a droga a fechadíssimas e luxuosasresidênciasnaGáveaeemSantaTeresa”.As informaçõesdas localizaçõessãobemdetalhadas,geralmente

apontando com bastante precisão os pontos de tráfico na “cidadeformal”. Já os textos associados à favelas sãomais reduzidos e nastrêsfavelasapontadasorepórterapenasafirmaquelá“existemváriasbocas de fumo”. Esta característica foi notada em muitos mapas

Page 12: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

145

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

É interessante pensar como estes espaços valorizados da

cidade, tão destacados em reportagens dos anos 1970, vão sendo

progressivamente omitidos ou “silenciados” nos mapas midiáticos

das décadas posteriores. Fica evidente, portanto, que as formas de

representaçãodeumfenômenodependemmuitodocontextooudas

“regrashistóricas”quecirculavamnomomentodesuaprodução.No

intuitodediscutirdistintosgrausde intencionalidadenaelaboração

desilêncioscartográficos,Harley(2002)seapropriadeformabastante

Figura2-LocaisdeVendaeConsumodeDrogasIlícitasnaCidadedoRiodeJaneiro,1978

Fonte:“OEstadodeS.Paulo”,27/10/1978

midiáticoscoletadossobreotráficodedrogas:quandoserepresenta

o tráfico fora da favela há a necessidade de descrever exatamenteemqualesquinaaatividadeocorre,masquandootráficoémapeadonasfavelasnenhumpontodereferênciaélocalizado,bastadizerquenaquelalocalidadeexistem“váriasbocas”.Noentanto,mesmoqueomapamostreaparticipaçãodealgumasfavelasnotráfico,odestaque

claramenteédadoparaospontosdecirculaçãoemáreasvalorizadas

dacidade,comoobaixoLeblon,caracterizadocomo“aáreademaior

incidênciadevendadetóxicosnasruasnaZonaSul”.

Page 13: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

146

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

genéricadasideiasdeFoucault10,relacionandopoder,conhecimentoeepisteme.Primeiramenteoautordiscuteaexistênciade“manipulaçõesdeliberadas” nosmapas feitos para fins estratégicos ou comerciais.Trabalhando com as relações entre poder e conhecimento, Harleybusca evidenciar comoomapa seria uma “ferramenta demedição,investigação,exameecoerçãodoEstado”.Nasegundapartedoseuartigo, o autor trabalha com a ideia de “silêncios intencionais” quenãoparecemtersido“explicitamenteordenados”poralgumaclassedirigente.Énointuitodeteorizaraideiade“silenciointencional”,queHarley

(2002) se apropria da noção deepisteme de Foucault, consideradacomoumconjuntodecódigosculturaissubjacentesatodasasformasdeconhecimento.SegundoHarley(2002,p.97),“enquantonosmapasseincluemcertasinformações,outrosaspectosdavidaedapaisagemsão excluídos de acordo com a episteme”, formando silênciosprovenientesde“regrashistóricas”específicas.ÉnessesegundotipodesilêncioqueHarleyincluiaausênciadegruposdebaixarendanosmapasurbanos.Atravésdeumasériedevaloressociaisocartógrafosimplesmente naturaliza a ausência desses espaços, definindo umcódigoderepresentaçãocompartilhadoporgrandepartedasociedade.AorepresentarotráficodedrogasnacidadedoRiodeJaneirocom

maior ênfase nas “favelas” ou no “asfalto”, os mapas da imprensatambémestãosendoinfluenciadospor“regrashistóricas”específicas.Atémeadosdadécadade1980,quandosefalavaemtráficodedrogas,principalmente do tráfico de cocaína, buscava-se com frequênciaafirmarque“osenvolvidosnãoseriamostradicionais ‘pés inchados’–gentehumilde–quegravitamemtornodostóxicos,maspessoasde‘status’socialelevado”(“JornaldoBrasil”,12/6/1978).Noentanto,

10 Para umadiscussão crítica sobre a incorporaçãodas ideias de Foucault nos textosdeBrianHarley,vejaoartigodeBelyea(1992)sobre“imagensdepoder”,Derrida,FoucaulteHarley.

estaimagemdacocaínacomo“ocaviardasdrogas”,comercializadae consumida pelos gruposmais abastados da sociedade, foi sendoprogressivamentedestruídaaolongodosanos1980.AincorporaçãocadavezmaisintensadoBrasilàsrotasinternacionais

detráfico,associadaàreduçãodoconsumodacocaínanaEuropaenosEUA, tornavamadroga cada vezmaisbaratana cidadedoRiode Janeiro, intensificando a participação das favelas tanto na suacomercializaçãoquantonoseuconsumo.Poroutrolado,amilitarizaçãodo combate às drogas e sua percepção como um problema desegurançapúblicaforamideiasfundamentaisnodiscursoda“guerraasdrogas”,declaradapelogovernonorte-americanodesdemeadosdadécadade1970.Aassociaçãocrescenteentredrogasefavelapodeserconsideradacomoumaadaptaçãolocaldessemodeloexplicativoque circula internacionalmente, estimulando políticas repressivaslimitadas a certos espaçosda cidade.Omapa abaixo, publicadono“JornaldoBrasil”em1983,apenascincoanosapósomapaanterior,jálocalizavaamaioriadospontosdetráficonasfavelas,mostrandooiníciodeumatransformaçãonoimaginário–ounas“regrashistóricas”–sobreatemática(Figura3).Assim como o mapa incorporado no livro didático de geografia

(Figura1),omapaacimarepresentatodaacidadedoRiodeJaneiroe localiza as “áreasde comérciode tóxico” atravésdautilizaçãode

símbolosdeponto.Osquadradoseostriângulosbuscamrepresentaro

comérciodemaconhaecocaínaealocalizaçãodospontostambémse

dáatravésdesignoslinguísticos.Adiferençadestemapaparaaquele

inseridonolivrodidáticoéquemesmoqueasfavelasapareçamcom

muito destaque, diversos locais em “bairros formais” também são

apontadosenãoháumanomeaçãodas“quadrilhas”queparticipariam

dotráfico.AlgunspontoscomoaGaleriaAlaska,aRuaGeneralGlicério

eoLargodasNeves,situadosforadasfavelasaindasãolocalizados,

Page 14: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

147

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

oqueestimuloua ideiadequeestemaparepresentaumatransição

entredoismodelosderepresentação.A reportagem na qual o mapa se insere também evidencia esse

momentoemqueasfavelasganhamimportâncianarepresentaçãodotráfico,masaindaeracomumrepresentaraocorrênciadofenômenoemoutrosespaçosdacidade.Embora agrandemaioriadospontosdecomercializaçãoestejasituadaemfavelas,asáreasmaisvalorizadasdacidadeainda sãodestacadasea reportagemafirmaque “a zonasul é a área do Rio commaior incidência de entorpecentes e ondemaisseconsomecocaínacomregularidade”.Éinteressanteobservar

comoospoucospontosondeavendadecocaínanãoé identificadaestãosituadosemfavelaslocalizadasnosbairrosdazonanorte,comoMadureira,DelCastilhoeBonsucesso.Poroutrolado,todosospontoslocalizadosnazonasulenocentroestãoqualificadoscomtriângulosequadrados,representandootráficodecocaínaedemaconha.Seguindo a tendência domapa anterior (Figura 2), aqui também

existe um detalhamento maior nos locais de tráfico situados foradas favelas.Opoucoconhecimentoquegrandepartedos leitoresedosprodutoresdomapapossuíasobreasruas,esquinasebaresdasfavelas,fazemcomquenãohajaestranhamentonanomeaçãodeum

Figura3 –LocaisdeVendadeDrogasIlícitasnaCidadedoRiodeJaneiro,1983

Fonte:“JornaldoBrasil”,9/10/1983

Page 15: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

148

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

pontodetráficocomo“CidadedeDeus”ou“FaveladeManguinhos”.As favelas ouos “morros” – palavras utilizadas semdiferenciação –sãosempreassociadosemseuconjuntoaotráfico.Jáemlocalidadesondeoconhecimentoespacialdegrandepartedosleitoresémaior,hágeralmenteumanecessidadedelocalizaçãomaisdetalhada.Embora existam favelas que possuem uma extensão espacial

consideravelmentemaiordoqueobairrodeLaranjeiras,porexemplo,dificilmenteomapacitariaestebairrosemapresentaraomenosonomedeumarua–comoaRua“GeneralGlicério”destacadanaimagem.Damesmaforma,otráficodificilmenteseriaassociadoàCopacabanasemlocalizarbares,ruaseesquinasespecíficas.Explicitandoestacobrançamaior pelo detalhamento na representação de alguns espaços dacidade,areportagemquecontinhaomapaemquestãodeclaravaqueospontosdos“bairrosformais”seriammaisdifíceisdemapear,poispodem “variar de acordo com a repressão policial”. Esta afirmaçãoevidencia como o jornalista considerava que as chamadas “bocasdefumo”nasfavelasseriamfixaseterritorialmentecontroladasporgruposdetraficantes.Estatensãoentre“favela”e“asfalto”narepresentaçãodasdrogas

ilícitasnacidadedoRiodeJaneiroseráresolvidademaneirabastantesimples em grande parte dosmapasmidiáticos a partir do final dadécadade1980,queforamexcluindoou“silenciando”aparticipaçãodos espaços da “cidade formal” na representação do fenômeno.Observa-se, aqui, um tipo de silêncio bastante peculiar, no qual osgrupos e espaços “silenciados” são favorecidos, pois a exclusão domapa contribui para diminuir a visibilidade da sua participação emumaatividade ilegal.Omapaabaixo (Figura4), publicadono jornal“OGlobo”, em 2002, evidencia a grande propagação destemodeloderepresentaçãodofenômenoduranteadécadade1990einíciodosanos2000,associandodiretamenteasfavelasaotráficodedrogas.

A mensagem do mapa acima parece ser muito similar àquelada imagem inserida no livro “Geografia, Sociedade e Cotidiano”,localizandoatravésde símbolosdepontoas favelasdominadaspordistintas “facções” criminosas que são identificadas na legenda.Segundootítulodomapa,adistribuiçãodessasfacçõescorresponderiaa “geografia do tráfico”, que aparece exclusivamente associado àsfavelas. As ruas de Ipanema e Copacabana, que nas reportagensdadécadade1970 (Figura2) apareciamcomo importantesespaçosdecomercializaçãodedrogas ilícitas,agoranãoparticipammaisdachamada“geografia”dotráficodedrogas,intensamenterepresentadanazonanorteezonaoestedacidade.Emboraexistaumagrandesimilaridadenamensagemveiculadapor

estesmapas(Figuras1e3),éinteressanteobservarqueaslinguagensutilizadassãobastantedistintas,poisomapaacimaseaproprioudepráticascartográficasbastantecomunsna imprensa,comoousodaperspectivaoblíquaedossímbolospictóricos.Aperspectiva,práticamuito comum nos mapas dos jornais norte-americanos durante asduasguerrasmundiais(RISTOW,1957),éutilizadaaquiparadarumavisãogrosseiradorelevodoRiodeJaneiro.Aooferecerparaoleitoruma ideia vaga dosmaciços da cidade, omapa pode facilitar umaassociaçãodepalavrasmuitocomunsnasreportagensdadécadade1990, “morro”, “favela” e “tráfico”.Como observaramWood e Fels(1986),odiscursodocartógrafoprocurasempreapropriarparaomapao“estilomaisvantajosoparaomitoquepretendepropagar”.Outra prática cartográfica incorporada nomapa são os símbolos

pictóricos,utilizadostantoparadestacarospontosturísticosdacidade–comooCristoRedentoroPãodeAçúcareoestádiodoMaracanã– quanto para qualificar cada ponto de tráfico através de pequenasbandeiras.Asbandeirassãogeralmenteutilizadascomosímbolodeconquista edemarcação territorial, e ao seremassociadas aonome

Page 16: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

149

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

das favelas elas reforçam a ideia de que as chamadas “facções”controlariam de forma exclusiva e permanente cada um dos locaisindicados.Daíaassociaçãosimplistaentreestesgruposcriminososeos“territóriosdotráfico”.

A “Falange Vermelha”, seguida do “Comando Vermelho”, do“TerceiroComando”edos“AmigosdosAmigos”sãofacçõescriminosascriadas a partir do final da década de 1970 e que apresentam forteimpacto no imaginário social urbano da cidade do Rio de Janeiro.

Figura4-FacçõesCriminosasePontosdeVendadeDrogasIlícitasnaCidadedoRiodeJaneiro,2002

Fonte:“JornaldoBrasil”,22/9/2002

Page 17: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

150

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

Duranteosanos1990e iníciodosanos2000,essas“facções” foramconstantementenoticiadasnosjornaisbrasileiros,consideradascomoorganizaçõescriminosasamplamenteestruturadas,quedominariamacomercializaçãodedrogasnacidade.Noentanto, segundoSouza(2000,p.428),“existemfortesevidênciasdequeocrimeorganizadonametrópolecariocaé,emparte,menosorganizadodoqueamídia

querfazercrer”11.

Paramuitosautores,longedeseremasgrandesresponsáveispelo

tráfico de drogas, essas facções constituiriam apenas “identidade

difusa de proteção preventiva” (MISSE, 2003). Ou seja, as facções

seriam “redes bastante instáveis” (SOUZA, 2000, p. 429) que nãocontrolam o tráfico de drogas sem o auxílio de atores externos.Nas palavras deSouza (2000, p. 430), “ao se exagerar o poder e oalcance dos traficantes de favela, desvia-se a atenção da opiniãopública daqueles atores que, igualmente envolvidos com o tráfico,passam despercebidos e permanecem incólumes”. Esse tipo desilêncio, omitindo a participaçãodediferentes grupos e espaços nacomercializaçãodedrogasilícitas,foireproduzidonomapamidiáticoinseridonolivrodidático“Geografia,SociedadeeCotidiano”.Mesmo se tratando possivelmente de um “silêncio intencional”,

fruto de “regras históricas” específicas, relacionadas aos modelosde representaçãodo fenômenovigentesna imprensa,é importanteobservarqueosautoresdolivrodidáticodeveriamter“lido”omapacommaior atenção.Umaobservaçãomais cautelosa poderia evitar

11 As recentes ocupações das favelas da cidade do Rio de Janeiro pelas chamadasUnidadesdePolíciaPacificadoratêmcontribuídocomaconstataçãodequehaviaumadimensão falaciosana caracterizaçãodas “facções criminosas” comoorganizaçõesamplamente estruturadas e bem equipadas. Após a “ocupação” do ComplexodeFavelasdoAlemãopelapolícia,que resultouemumapolêmica fugaemmassados traficantes da localidade no dia 25 de novembro de 2010, o jornal “OGlobo”apresentava uma manchete que parecia constatar este superdimensionamentodopoderdostraficantes:“Afortalezaeradepapel”,destacavaojornal(“OGlobo”,26/11/2012).

a reprodução de estereótipos simplistas e questionar se a imagemseria adequada para contribuir com a compreensão do conceito deterritório.Aorepresentaros“territóriosdotráfico”atravésdeummapacomsímbolosdepontoassociandoasfavelasa“facções”criminosasque atuariam na cidade, o livro didático acabou efetuando uma“transposiçãodidática”bastanteproblemáticadotema,prejudicandoa compreensão do conceito emquestão.No entanto, é importantealertarqueosproblemasidentificadosnoexemploaquidiscutidonãodevemdesestimular a incorporaçãodemapasmidiáticosna escola,mas sim encorajar a presença dessas imagens através de “leituras”críticaseatenciosas.

Considerações Finais

Ageografiaescolareosmapasmidiáticostêmcertamentemuitoatrocar.Ambostêmodesafiodesecomunicarcomumpúblicopoucofamiliarizadocomalinguagemcartográficainstitucionalizada,oquelhes conferemaior liberdade – ou “rédeas livres” (RISTOW, 1957) –para fazer inovações formais e temáticas. De fato, muitas práticascartográficas pouco usuais na cartografia normativa encontraramnesses nichos de produção uma forma de persistência, longe davigilância dos “cânones formais” vigentes na academia. O uso daperspectiva perpendicular, a apropriação de diversos símbolospictóricos,aintroduçãodetextosnointeriordosmapas,sãoapenasalguns exemplos de formas de representação recorrentementeapropriadastantonasescolasquantonamídia.Embora possibilite uma grande comunicação com o público, é

interessante observar como o uso destas práticas cartográficas foimuitasvezescriticadopelaacademia.Mesmoqueoreconhecimentode que “todo cartógrafo é humano” (WRIGHT, 1942) seja bastante

Page 18: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

151

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

antigo, sabe-se queo graude credibilidadedado a ummapa aindadepende muito do seu local de publicação e dos grupos sociaisenvolvidosnasuaprodução.Osmapasveiculadosnaimprensaforamclassificados frequentemente como “propagandísticos” (QUAM,1943), “persuasivos” (SPEIER, 1941), “ideológicos” (BOGG, 1947)e não raramente o estudo deste “gênero cartográfico peculiar”(MONMONIER, 1989) esteve associado à procura por “erros”,“imprecisões”e“deficiências”(BALCHIN,1985).Ao comentar a grande frequência de mapas na imprensa norte-

americananoiníciodadécadade1940,oprofessordodepartamentodegeografiadaUniversidadedeChicago,CharlesColby,ofereceuumexemplocategórico:“muitasdestasexibiçõesquevocêschamamdemapas,nãosãomapasnarealidade”(apudSCHULTEN,1998,p.185).Segundooautor,ummapa“devetercoordenadas”,uma“projeçãoeumaescala”,a“direçãonorte-suldeveserparalelaàdireçãolongitudinaldapágina”e“qualquerdesviodestasideiaspodeconfundirosleitores”.Comessasafirmações,ColbycriticavaespecificamenteotrabalhododesignerRichardEdesHarrison,quenaépocaexperimentavaprojeçõesinusitadasna imprensa,utilizadaspararepresentartemáticaspoucofrequentes na academia. Mas o “professor” insistia: “muitos dosseusmapas têmaparênciabagunçadaesãoconfusosnosdetalhes”(COLBY,1941apudSCHULTEN,1998,p.185).Contrastando comessa “vigilância epistemológica” hierarquizada

nadefiniçãode comoummapadeve ser, algunsautores acabavampordestacaraimportânciadosmapasmidiáticos,reconhecendoque“muitos princípios de design, primeiramente apresentados sobrea capa de revistas, tiveram impacto sobre os ramosmais antigos econvencionais da cartografia” (RISTOW, 1957, p. 374). Na época, opróprioHarrisondefendia-se,criticandoa“timidez”daacademiaemaplicar qualquer prática que esteja fora da cartografia “ortodoxa”.

Segundo o autor, práticas limitadas como a impossibilidade deapresentar uma projeção ortográfica que não fosse centrada noequadorearegradequeo“nortedeveriasempreestarnotopodaspáginas”, evidenciavam como “diretores de educação e professorescominfluêncianoensinodegeografiasãocapazesdeditarosmapas”(HARRISON,1941apudSCHULTEN,2001,p.224).Mas se por um lado a cartografia midiática pode oferecer uma

linguagemcartográficadiversificadaearejada, tratandodediversos

temas contemporâneos,poroutroladoasescolasaindaapresentam

certo receio na incorporação sistemática dessa linguagem. Muitas

vezescontrastandocomoconhecimentopréviodosalunosecomas

temáticastrabalhadas,acartografiapresentenasaulasdegeografia

se pressupõe “científica”, o que no caso brasileiro fica evidente

na preocupação com a introdução de “normas oficiais” e “regras

cartográficas”nosconteúdosprogramáticosoficiais (BRASIL,1998).

Uma breve análise do papel da cartografia na escola pode revelar

comogeralmentevaloriza-seabarradeescala, a rosadosventose

asprojeções,emdetrimentodeumadiscussãomaisprofundasobre

a linguagemcartográfica e suas possibilidadesde representaçãode

fenômenosvariados.

Aodiscutirdiferentesformasdeserepresentaromesmofenômeno,

identificandoaexistênciadeomissõesedestaquesnacriaçãodequalquer

imagem,osalunospodemcomeçaraentenderosmapascomouma

formade linguagem,oquepodeestimularnovosquestionamentos.

Quais símbolos podem ser utilizados para representar determinado

fenômeno?Quaiscaracterísticassãoalteradasquandoescolhooutrasprojeçõeseescalaspararepresentaromesmofenômeno?Quaiscorese símbolos pictóricos podem ser atribuídos aos distintos espaçosrepresentados? Esse tipo de pergunta, quemuitas vezes é ausente

Page 19: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

152

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

nageografiaescolar,podecontribuirparaodesenvolvimentodeumacartografiamenos“normativa”emais“interpretativa”nasescolas.Nocontextododesenvolvimentodeestratégias inovadoras rumo

a uma cartografia escolar com novos objetivos, fica claro como osmapasmidiáticospodemauxiliaroprofessordegeografiaadiscutircom os alunos formas variadas de representação dos fenômenosabordadosemsaladeaula.Noentanto,paraquesepossadesenvolveruma “pedagogia orientada para utilização dosmass media”, comoqueriaDebesse-Arviset(1978),oprofessordeveestarpreparadopara“ler” estesmapasmidiáticos e associá-los comdiscursos e relaçõesdepoderexistentesnasociedade.Comoobservamosaolongodesteartigo,essenãofoiocasodolivro“Geografia,SociedadeeCotidiano”,que,buscandooferecerumaabordageminovadorasobreoconceitodeterritório,acabouutilizandoumaimagemmidiáticaquefaziaumaassociaçãosimplistaentrefavelaetráficodedrogasilícitas.

Referências

ABREU,Maurício. Reconstruindo uma historia esquecida:Origem eexpansãodasfavelasdoRiodeJaneiro.Espaço e Debates,v.7,p.12-38,1994.

BALCHIN,W.G.V.Mediamapwatch: a report.Geography, v. 70, p.339–343,1985.

BELLONI,MariaLuiza,Tecnologiaeformaçãodeprofessores:Rumoaumapedagogiapós-moderna?Educação e Sociedade,v.19,n.65,p.143-162,1998.

BELYEA, Barbara. Images of power: Derrida/Foucault/Harley.Cartographica, v.29,n.2,p.1-9,1992.

BIGOTTO, José F.; MARTINS, Dadá; VITIELLO, Márcio. Geografia, sociedade e cotidianoSãoPaulo:EscalaEducacional,2006.272p.

BOGGS,W.Samuel.Cartohypnosis.Scientific Monthly,v.64,n.6,p.469-75,1947.

BOLIGIAN,Levon.A transposição didática do conceito de território no ensino de geografia.2003.Dissertação(Mestrado)–InstitutodeGeociências eCiências Exatas,UniversidadeEstadual Paulista “JúliodeMesquitaFilho”,RioClaro.

BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais.Geografia.Brasília:MEC/SEF,1998.

BURGESS,Jacquelin;GOLD,JohnR. (Eds.).Geography, Media and Popular Culture.Londres:CroomHelm,1987.273p.

CAILLOT, Michel. La théorie de la transposition didactique est-elletransposable?In:RAISKY,Claude;CAILLOT,Michel(Eds.).Au-delà des didactiques, le didactique: débats autour de concepts fédérateurs.Bruxelas:DeBoeck&LarcierS.A.,1996,p.19-35.

CHERVEL,André.Históriadasdisciplinasescolares:Reflexõessobreumcampodepesquisa.Teoria e Educação, v.2,1990,p.177-229.

CHEVALLARD,Yves.La transposition didactique:Dusavoirsavantausavoirenseigné.Grenoble:Ed.LaPenséeSauvage,1991.240p.

DEBESSE-ARVISET,M.L.A educação geográfica na escola.Coimbra:Almedina,1978.192p.

DURÃES,Aline.DesafiosdaGeografia.Journal da UFRJ,v.3,n.30,p.9,2007.

FORQUIN, Jean-Claude. As abordagens sociológicas do currículo:Orientações teóricas e perspectivas de pesquisa. Educação e Realidade, v.21,n.1, p.187-198,1996.

FOUCHER,Michel.Lecionarageografia,apesardetudo.In:VESENTINI,JoséWilliametal. (org.).Geografia e ensino: Textos críticos.3ªed.Campinas:Papirus,1994,p.13-19.

Page 20: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

153

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

GOODSON, Ivor.Tornando-se umamatéria acadêmica: padrões deexplicaçãoeevolução.Teoria & Educação,v.2,1990,p.230-254.

GREEN, D. R. Journalistic cartography: Good or bad? A debatablepoint.The Cartographic Journal, v.36,n.2,1999,p.141-153.

HARLEY, J. B. Maps, knowledge and power. In: COSGROVE,Denis;DANIELS, Stephen (orgs.). The Iconography of landscape. Cambridge:UniversityofCambridgePress,1998,p.277-312.

______.Silences and secrecy:The hidden agenda of cartography inearlymodern Europe. In: HARLEY, J. B.The new nature of maps. Essays in the history of cartography.BaltimoreeLondres:TheJohnsHopkinsUniversityPress,2002,p.83-108.

LACOSTE,Yves.A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.Campinas:Papirus,2003.263p.

MACHADO,LiaO.Ocomérciodedrogaseageografiadaintegraçãofinanceira: uma simbiose? In: CASTRO, Iná E. et al. (org.) Brasil. Questões atuais da reorganização do território, Rio de Janeiro:BertrandBrasil,1996,p.15-64.

______.Região, fronteiras e redes ilegais. Estratégias territoriais naAmazônia sul-americana. LIMES -Revista Italiana di Geopolitica – Limes (QuaderniSpeciali:Brasile–lastelladelsud),n.1,2007,p.173-183.

______.(2009):RedesdetráficodedrogasilícitaseterritórionoBrasil:Concepçõesequestões.Anais…XIIEncontrodeGeógrafosdaAméricaLatina,2009.

MONMONIER, Mark. Maps with the news: The development ofAmerican journalistic cartography. Chicago: University of ChicagoPress,1989.348p.

NOVAES,André R.A iconografia das drogas ilícitas na imprensa (1975 – 2002).2005.Dissertação(MestradoemGeografia)–InstitutodeGeociências,UniversidadeFederaldoRiodeJaneiro,RiodeJaneiro.

______.A imagemdoRiodeJaneironos livrosdidáticos. “O Globo on line”. Opinião. Disponível em <http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2007/07/06/296669214.asp>.Acessoem:06/07/2007.

OLMO,RosaD.A face oculta da droga. TraduçãodeTeresaOttoni.RiodeJaneiro:Revan,1990.84p.

PERLMAN,Janice.O mito da marginalidade:favelasepolíticanoRiodeJaneiro.RiodeJaneiro:PazeTerra,1977.377p.

QUAM,L.Theuseofmapsinpropaganda.Journal of Geography,v.42,1943,p.21-42.

RAFFESTIN,Claude.Por uma geografia do poder.TraduçãodeMariaCecíliaFrança.SãoPaulo:Ática,1993.269p.

RISTOW,W.W.JournalisticCartography.Surveying and Mapping, v.17,n.4,1957,p.369-390.

SACK,Robert.Human territoriality:Itstheoryandhistory.Cambridge:CambridgeUniversityPress,1986.253p.

SCHULTEN, Susan. Richard Edes Harrison and the challenge toAmericancartography. Imago Mundi, v.50,1998,p.174-188.

______. The geographical imagination in America, 1880-1950.Chicago:UniversityofChicagoPress,2001.319p.

SOUZA,Marcelo Lopes.As drogas e a “questão urbana” no Brasil:a dinâmica socioespacial nas cidades brasileiras sob a influência dotráficodetóxicos.In:CASTRO,InaE.deet al.(org.),Brasil: Questões atuais da reorganização do território.RiodeJaneiro:BertrandBrasil,1996.468p.

Page 21: UM MAPA DO TRÁFICO DE DROGAS NO LIVRO DIDÁTICO: … · em torno de um mapa sobre o tráficode drogas ... , explorando a linguagem do mapa em questão e ... , chamou a atenção

Art

igo

s

154

ISSN 2238-0205

Um mapa do tráfico de drogas no livro didático: encontros e desencontros entre geografia escolar e cartografia midiáticaAndré Reyes Novaes

Geograficidade | v.2, Número Especial, Primavera 2012

______.O desafio metropolitano: umestudosobreaproblemáticasócio-espacial nas metrópoles brasileiras. Rio de Janeiro. BertrandBrasil,2000.366p.

______. O território: sobre espaço e poder. Autonomia edesenvolvimento. In: CASTRO, Iná E. de; GOMES, Paulo C. da C.;CORRÊA, Roberto L. (org.).Geografia: conceitos e temas. Rio deJaneiro:BertrandBrasil,2000,p.77-116.

SPEIER,H.MagicGeography.Social Research,v.8,1941,p.310-330.

SPOSITO,MariaE.B..ParâmetroscurricularesnacionaisparaoensinodeGeografia:pontosecontrapontosparaumaanálise. In:CARLOS,AnaF.A.,OLIVEIRA,AriovaldoU.de(orgs.).Reformas no mundo da educação:parâmetroscurricularesdeGeografia.SãoPaulo:Contexto,1999,p.19-35.

WRIGHT,J.K.Mapmakersarehuman:commentsonthesubjectiveinmaps.Geographical Review,v.32,n.4,1942,p.527-544.

WOOD, Denis; FELS, John. Designs on signs/myth andmeaning inmaps.Cartographica, v.23,n.3,1986,p.54-103.

WOOD,Denis,Rethinking the Power of Maps.NovaYorkeLondres:TheGuilfordPress,2010.335p.

Material Midiático Utilizado

JornaldoBrasil,9/10/1983.

JornaldoBrasil,22/9/2002.

JornaldoBrasil,12/6/1978.

JornaldaUFRJ,11/2007.

OGlobo,3/7/2007.

OGlobo,25/11/2010.

OEstadodeSãoPaulo,27/10/1978.

Site do Jornal O Globo. Disponível em <http://oglobo.globo.com/rio/>.Acessoem:3/7/2007.

SitedoJornalOGlobo.Disponívelem<http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2007/07/06/296669214.asp>.Acessoem:06/07/2007.

Rede Globo de Televisão, Jornal da Noite, exibido em 4/7/2007.Disponívelem<http://www.youtube.com/watch?v=ZVkS14z0cGw&feature=related>.Acessoem:7/9/2007.

SubmetidoemMarçode2012.RevisadoemAbrilde2012.AceitoemMaiode2012.