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Um modelo metodológico para gestão e planejamento de Relações Públicas (MGPRP) aplicado a microempresas Potira Samara dos Santos Amaral (FACCAT) [email protected] Carlos Fernando Jung (PPGEP/UFRGS) [email protected] Carla Schwengber ten Caten (PPGEP/UFRGS) [email protected] Resumo: Este artigo apresenta um modelo metodológico desenvolvido para gestão e planejamento de relações públicas (MGPRP) aplicado a microempresas. Para tanto, foi realizada uma análise das características das microempresas e elaborado um novo modelo com base em propostas metodológicas existentes para gestão e planejamento das áreas de Relações Públicas e Engenharia de Produção.. O modelo MGPRP foi implantado em uma microempresa do setor de serviços situada na cidade de Taquara, RS. A implantação permitiu verificar a existência de determinados fatores que estavam dificultando a comunicação eficaz da empresa com seus públicos. Na sequência após a implantação do modelo através de ações pontuais foi possível obter-se melhorias no processo de gestão da empresa. Palavras chave: Planejamento, Relações Públicas, Modelos Metodológicos Methodological proposal for management and planning of Public Relations (MGPRP) applied to small companies Abstract This paper presents a methodological model developed for management planning and public relations (MGPRP) applied to small companies. To this end, we performed an analysis of the characteristics of small companies and developed a new model based on existing methodological approaches to planning and management of the areas of Public Relations and Production Engineering. The result was a new methodological model for planning and management of public relations. The model MGPRP was implemented in a small company located in the city of Taquara, RS. The deployment has shown the existence of certain factors that were hindering effective communication between the company and its stakeholders. Following after the implementation of the model through specific actions it was possible to obtain improvements in process management. Key-words: Planning, Public Relations, Methodological Models

Um modelo metodológico para gestão e planejamento de Relações Públicas (MGPRP) aplicado a microempresas

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Um modelo metodológico para gestão e planejamento de Relações

Públicas (MGPRP) aplicado a microempresas

Potira Samara dos Santos Amaral (FACCAT) [email protected]

Carlos Fernando Jung (PPGEP/UFRGS) [email protected] Carla Schwengber ten Caten (PPGEP/UFRGS) [email protected]

Resumo: Este artigo apresenta um modelo metodológico desenvolvido para gestão e planejamento de relações

públicas (MGPRP) aplicado a microempresas. Para tanto, foi realizada uma análise das características

das microempresas e elaborado um novo modelo com base em propostas metodológicas existentes

para gestão e planejamento das áreas de Relações Públicas e Engenharia de Produção.. O modelo

MGPRP foi implantado em uma microempresa do setor de serviços situada na cidade de Taquara, RS.

A implantação permitiu verificar a existência de determinados fatores que estavam dificultando a

comunicação eficaz da empresa com seus públicos. Na sequência após a implantação do modelo

através de ações pontuais foi possível obter-se melhorias no processo de gestão da empresa.

Palavras chave: Planejamento, Relações Públicas, Modelos Metodológicos

Methodological proposal for management and planning of Public

Relations (MGPRP) applied to small companies

Abstract This paper presents a methodological model developed for management planning and public relations

(MGPRP) applied to small companies. To this end, we performed an analysis of the characteristics of

small companies and developed a new model based on existing methodological approaches to

planning and management of the areas of Public Relations and Production Engineering. The result was

a new methodological model for planning and management of public relations. The model MGPRP

was implemented in a small company located in the city of Taquara, RS. The deployment has shown

the existence of certain factors that were hindering effective communication between the company and

its stakeholders. Following after the implementation of the model through specific actions it was

possible to obtain improvements in process management.

Key-words: Planning, Public Relations, Methodological Models

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1 Introdução

O profissional de Relações Públicas está se adequando às mudanças de mercado. Pesquisas

revelam que as micro e pequenas empresas representam 97,5% das empresas do Brasil

(SEBRAE, 2008). Esse significativo número pode contribuir para a inserção do profissional

de Relações Públicas em empresas desse porte e oportunizar que sua atuação deixe de ser

quase que exclusivamente em multinacionais e grandes empresas.

Kunsch (2003) afirma que o planejamento é uma função básica para a prática profissional no

gerenciamento da comunicação das organizações com seus públicos e com a opinião pública e

propõe um modelo de planejamento específico.

Embora existam diversos modelos para gestão e planejamento de Relações Públicas, eles não

sugerem, formalmente, a possibilidade de serem feitas adaptações em sua estrutura

metodológica de acordo com as características da empresa. 1

Dessa forma, não apresentam flexibilidade quanto à execução das suas etapas, além de não

oferecerem procedimentos sistematizados para se avaliarem os resultados no decorrer da

implantação. No entanto, observa-se, atualmente, mais do que a necessidade de adaptação dos

modelos existentes (DURAND, 2000), a elaboração de novos modelos flexíveis e adaptáveis

para que o profissional de Relações Públicas possua técnicas eficazes a fim de que possa

obter benefícios delas advindos.

Este artigo tem por objetivo propor um modelo metodológico para gestão e planejamento de

Relações Públicas (MGPRP) adaptável a microempresas. A elaboração do modelo foi baseado

nas características dos modelos de gestão e planejamento apresentados por Kunsch (2003) e

Rozenfeld et al (2006). Para realização da pesquisa foi utilizado o método exploratório-

experimental com abordagem qualitativa. Após a elaboração, o modelo MGPRP foi

implantado com adaptaçõesem uma microempresa do setor de serviçoes situada na cidade de

Taquara, RS. O artigo está organizado de seguinte forma: a seção 2 apresenta uma revisão

teórica acerca dos modelos referenciais, na seção 3 é apresentado o modelo MGPRP

desenvolvido, na seção 4 são apresentados os resultados e a seção 5 traz as conclusões.

2 Modelos referenciais de gestão e planejamento

Em Relações Públicas, como em outras áreas específicas, os modelos de planejamento

apresentam etapas de acordo com as suas peculiaridades. Diversos autores da área, como

Cutlip, Center e Broom (1985), Grunig e Hunt (1984) e Wilson (2001) consideram em seus

modelos de planejamento, quatro etapas como essenciais, a saber: (i) pesquisa, (ii)

planejamento, (iii) implementação e (iv) avaliação. Sugerem também outras fases e, em

alguns casos, utilizam outra nomenclatura para as etapas do processo.

Kunsch (2003) apresenta um modelo de planejamento de relações públicas que se baseia nos

autores anteriormente citados e, dentro das quatro etapas básicas, enfatiza as relações públicas

dentro de um contexto organizacional.

Rozenfeld et al (2006) apresentam um modelo de gestão de desenvolvimento de produto que

utiliza uma detalhada metodologia que o torna peculiar pela sua adaptabilidade e

flexibilidade. Divide o seu modelo em três macrofases, que se referem ao pré-

desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento do processo e, dentro dessas três

macrofases, o autor especifica as etapas a serem seguidas.

Os modelos de Kunsch (2003) e de Rozenfeld et al (2006) serviram de base para o

desenvolvimento da proposta de modelo referencial para gestão e planejamento de relações

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públicas apresentada neste artigo, fazendo-se valer da especificidade do modelo sugerido por

Kunsch (2003) e da flexibilidade, adaptabilidade e contemporaneidade do modelo apresentado

por Rozenfeld et al (2006).

2.1 Modelo referencial de planejamento de relações públicas proposto porKunsch (2003)

Diante de uma perspectiva que busca enfatizar as relações públicas no contexto das

organizações e com o intuito de gerenciar a comunicação com seus diversos públicos, o

modelo utilizado como referencial para o desenvolvimento deste trabalho, sugerido por

Kunsch (2003), é específico, no sentido de ter sido elaborado especificamente para relações

públicas, e apresenta uma metodologia de fácil entendimento, utilizando como pilar as quatro

etapas consagradas do planejamento de relações públicas e fazendo com que as fases se

interconectem sinergicamente, conforme a Figura 1.

Figura 1 – Modelo referencial de planejamento proposto por Kunsch (2003)

Apresentado de forma circular, Kunsch (2003) propõe um modelo que define quatro fases e

vinte etapas a serem implantadas dentro das quatro fases do planejamento de relações públicas

com o intuito de evidenciar a continuidade e a interconexão das fases.

A identificação e o conhecimento da situação, o levantamento de dados, o mapeamento e

identificação dos públicos, a análise da situação e a construção do diagnóstico são as cinco

etapas que compõem a primeira fase do modelo apresentado pela autora, intitulado de

1 Pesquisa

• Identificação e conhecimento da situação;

• Levantamento de dados;

•Mapeamento e identificação dos públicos;

•Análise da situação;

• Construção de diagnósticos

2 Planejamento

• Fixação de políticas de comunicação;

• Definição de objetivos e metas;

• Determinação de estratégias;

• Proposição de planos, projetos e programas de ação;

• Escolha e seleção dos meios de comunicação;

• Elaboração de planos alternativos e emergenciais;

• Determinação dos recursos necessários;

• Obtenção de apoio e aprovação da direção;

• Orçamento

3 Implantação

•Correção de desvios;

•Controle e monitoramento;

•Divulgação para o público envolvido

4 Avaliação

•Relatório conclusivo;

•Mensuração dos resultados;

•Estabelecimento de critérios de avaliação

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Pesquisa. Na segunda fase, o Planejamento sugere outras nove etapas, que são: a fixação de

políticas de comunicação, a definição dos objetivos, a determinação das estratégias, a

proposição de planos, projetos e programas de ação, a escolha e a seleção dos meios de

comunicação, a elaboração de planos alternativos e emergenciais, a determinação de recursos

necessários, a obtenção de apoio e aprovação da direção e o orçamento.

Na Implantação, a terceira fase do modelo sugerido pela autora, a correção de desvios, o

controle e monitoramento e a divulgação para o público envolvido são as etapas apontadas. E,

na Avaliação, a quarta e última fase proposta no modelo, as etapas referem-se ao

estabelecimento de critérios de avaliação, a mensuração dos resultados e a elaboração de um

relatório conclusivo. Ao detalhar cada uma das fases, Kunsch (2003) ilustra exemplos

práticos e apresenta, em cada uma das etapas do modelo, conceitos de diversos autores.

2.2 Modelo referencial de gestão e planejamento de produtos proposto por Rozenfeld et

al (2006)

Dividido em três macrofases, pré-desenvolvimento, desenvolvimento e pós-desenvolvimento,

Rozenfeld et al (2006) apresentam um modelo de gestão e planejamento para a otimização de

processos e produtos, conforme pode ser visto na Figura 2. A partir dessas três macrofases, os

autores estabelecem sete etapas e oitenta e uma atividades a serem seguidas para o

desenvolvimento do modelo.

Figura 2 – Modelo referencial de gestão e planejamento de produtos proposto por Rozenfeld et al (2006)

Dentro da primeira macrofase, intitulada pré-desenvolvimento, o autor apresenta duas fases:

planejamento estratégico de produtos, que se divide em oito etapas, e planejamento do

projeto, que é dividido em quatorze etapas. Na segunda macrofase, o desenvolvimento, são

apresentadas cinco fases. A primeira, projeto informacional, desmembra-se em dez etapas.

Projeto conceitual, a segunda fase, apresenta quinze etapas. Como terceira fase, o projeto

detalhado divide-se em dezessete etapas. A quarta fase, preparação da produção do produto, é

dividida em quatorze etapas e, como quinta fase do desenvolvimento, os autores apresentam

lançamento do produto, que se divide em treze etapas.

Na terceira macrofase apresentada por Rozenfeld et al (2006), o pós-desenvolvimento, há

duas fases: processos de apoio e transformações. No final de cada etapa do processo de

desenvolvimento, o autor sugere, formas de avaliação, intituladas de gates, uma espécie de

revisão ou aprovação geral do que foi desenvolvido. O termo, traduzido literalmente, significa

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portão, ou seja, segundo Rozenfeld et al (2006), é a passagem de uma fase para outra e, se

todos os requisitos propostos forem cumpridos, poder-se-á iniciar a fase seguinte.

3 Modelo metodológico de Gestão e Planejamento de Relações Públicas (MGPRP)

Para elaboração do modeloMGPRP proposto foram utilizadas as macrofases e gates

apresentados por Rozenfeld et al (2006), as quatro fases básicas do planejamento citadas por

autores como Cutlip, Center e Broom (1985), Grunig e Hunt (1984), Wilson (2001) e Kunsch

(2003) e algumas etapas do modelo de planejamento proposto por Kunsch (2003).

O MGPRP é composto por três macrofases: pré-desenvolviemtno, desenvolvimento e pó-

sdesenvolvimento A primeira macrofase, Pré-Desenvolvimento, é composta por apenas uma

fase, intitulada pesquisa onde são sugeridas cinco etapas. Esta macrofase consiste em levantar

todas as informações internas e externas pertinentes à organização, veja a estrutura na Figura

3.

Figura 3 – Macro Fase de Pré-Desenvolvimento do Modelo MGPRP

Na Fase de Pesquisa, são levantadas todas as informações necessárias acerca da organização.

É nela que geralmente são identificadas as falhas e também apontada a necessidade da

atuação de um profissional de relações públicas.

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Esta etapa consiste no estabelecimento da demanda, ou seja, buscar informações sobre o

interesse da organização, suas expectativas e necessidades ao contratar os serviços do

profissional de relações públicas. Por exemplo, quando uma empresa contrata um profissional

de relações públicas para organizar um evento, todas as ações serão focadas na organização

do evento, e o profissional já sabe para que veio. Porém, quando a demanda é mais ampla, as

demais fases desta macrofase devem ser pesquisadas e minuciosamente aprofundadas.

O profissional de relações públicas precisa conhecer a empresa, o setor ou a situação

específica em que irá atuar. Na segunda etapa, todos os dados possíveis e necessários devem

ser levantados, tais como dados cadastrais, o histórico da organização, o organograma, sua

missão, visão, valores, políticas, cultura, etc. No caso de setor específico, também é relevante

identificar o nível hierárquico e seus procedimentos. No caso de atuação numa situação

específica, fatores econômicos, sociais, políticos e/ou ambientais também devem ser

levantados.

Conhecer os produtos e serviços que a empresa oferece, faz parte da terceira etapa do modelo

proposto, e efetuar a análise sincrônica é exatamente isso, pois é saber a posição da empresa

no mercado com relação aos produtos e serviços por ela oferecidos. É necessário, em qualquer

esfera, ter conhecimento desses dados, mesmo que seja para fins de atualização devido à

demanda e/ou às peculiaridades do cenário. Identificar os públicos e a maneira com que a

empresa se relaciona com eles, é no que consiste a quarta etapa do modelo. Para a sua

consecução, a classificação dos públicos, suas categorias, tipologias, classificações quanto ao

nível e grau de relacionamento e conceitos devem ser estudados.

Nesta etapa, podem-se utilizar as classificações apresentadas por autores como Grunig e Hunt

(1984), Simões (1995) e França (2004), sendo necessário levar em consideração, ao

determinar a classificação dos públicos, qual das teorias melhor se aplica ao perfil da

empresa. Efetuar o levantamento e a caracterização dos públicos de forma clara é fundamental

para as próximas etapas, principalmente, para a elaboração de um diagnóstico correto.

Com base nos dados levantados nas etapas anteriores, o passo seguinte é elaborar o

diagnóstico. Tratando-se de um trabalho minucioso, exige o máximo de cuidado e total

fidelidade aos dados apontados para que os possíveis problemas e suas causas possam ser

apontados. Nele, é feita uma análise crítica da situação levantada a fim de que seja possível

chegar a uma conclusão de como se encontra a organização frente aos interesses de todos os

seus públicos ou de um especificamente, em caso de situações pontuais. A finalidade da

elaboração do diagnóstico consiste em facilitar a análise e o tratamento adequado para

determinada situação.

Ao final da primeira macrofase, o modelo sugere a aplicação de gates de avaliação,

monitoramento e controle. Conforme apresentado anteriormente, os gates são uma espécie de

portal: se todos os requisitos propostos na fase forem cumpridos, poder-se-á iniciar a fase

seguinte.

Neste primeiro gate, cabe levantar as seguintes questões: (i) Os dados levantados foram

suficientes para detectar eventuais problemas, causas e obstáculos ou simplesmente para

tomar conhecimento da atual situação da empresa?, (ii) A situação apontada requer alguma

tomada de decisão delicada e urgente?, (iii) Foi possível identificar os públicos da empresa e

classificá-los? e (iv) O diagnóstico elaborado é coerente com os dados levantados?

Respondidas essas questões de forma satisfatória, aplica-se a segunda macrofase do modelo

proposto.

A macrofase de desenvolvimento é dividida em duas fases: a Fase A - Planejamento, que

possui oito etapas, e a Fase B - Implantação/Execução, que possui quatro etapas. Esta

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macrofase consiste, basicamente, em planejar o que deve ser feito e fazê-lo. Nela, são

utilizados os dados levantados na macrofase anterior tanto para determinar o que deve ser

feito, como para implantar o que foi planejado, veja a Figura 4.

Figura 4 – Macro Fase de Desenvolvimento do Modelo MGPRP

Após levantar os dados acerca da demanda da organização e seus públicos e efetuar a análise

sincrônica obtém-se um diagnóstico que nesta primeira fase do desenvolvimento será

utilizado para planejar o que deve ser feito. De acordo com as necessidades, elaborar projetos

ou programas de ação, definir os objetivos, metas e estratégias, identificar o público-alvo,

selecionar os meios de comunicação, determinar os recursos, realizar orçamento e obter a

aprovação são as etapas desta fase.

No caso de uma situação mais abrangente e complexa na qual se opta por propor um projeto,

é levada em consideração a necessidade de apresentar ideias ordenadas em que a situação

identificada no diagnóstico possa ser transformada na situação desejada. Opta-se por um

programa quando se trata de ações mais pontuais, quando se refere a uma situação específica.

O programa consiste na execução. Ele é mais peculiar, visto que procura ordenar, em tempo e

espaço, as atividades a serem desenvolvidas em relação ao problema ou obstáculo detectado.

No programa, é necessário traçar os objetivos, metas, estratégias, público-alvo, recursos,

meios de comunicação, orçamento e previsão de execução de cada ação proposta, além de

descrever a ação minuciosamente, a fim de, posteriormente, poder avaliar os resultados

alcançados.

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No modelo proposto, em consequência das suas características de flexibilidade e de

adaptabilidade, é possível, no caso de um programa, informar dados como os objetivos,

metas, estratégias, públicos e recursos de forma sucinta, porém clara, por meio de elaboração

de quadros que contenham todos os itens necessários para o bom entendimento do que está

sendo proposto. A elaboração de quadros não tem o intuito de “engessar” um programa,

consiste apenas em sistematizar a apresentação das ideias com clareza e criatividade.

Como segunda etapa, o modelo MGPRP sugere a definição dos objetivos e metas. Num

projeto, além de definir os objetivos globais e metas do próprio projeto, é necessário definir os

objetivos e metas de cada programa de ação proposto.A terceira etapa é a determinação de

estratégias. Elas consistem em atingir os objetivos de forma criativa, assim como orientam e

direcionam as ações planejadas, e, por isso, devem ser dinâmicas, flexíveis, adaptáveis e

revisadas frente às mudanças. Ao determinar as estratégias, deve-se levar em consideração a

realidade da organização. Não adianta ser criativo a ponto de pensar em estratégias

mirabolantes que não vão ao encontro dos objetivos. Para garantir a eficácia da execução do

que foi planejado, seja um projeto ou programa, é de suma importância conhecer o público a

quem está direcionada a ação. Identificar o público-alvo é a quarta etapa sugerida no modelo.

Conhecê-lo, descobrir seus interesses, sua cultura e a forma como se relaciona facilita a

elaboração de ações específicas.

Percebe-se a ligação de uma etapa a outra quando, após definir os objetivos, metas e

estratégias e identificar o público-alvo, o modelo sugere, como quinta etapa, a seleção dos

meios de comunicação. Utilizar os meios corretos está totalmente ligado aos objetivos e ao

público-alvo. Tendo sempre os objetivos como basilar das ações e conhecendo o público-alvo

e a forma como prefere se comunicar, errar na seleção dos meios de comunicação que serão

utilizados tanto para executar alguma ação como também para divulgá-la, torna-se

praticamente impossível.

A realização do orçamento é a sétima etapa da fase de planejamento. Ele consiste em prever e

organizar todos os custos que serão necessários durante todo o desenvolvimento de um

projeto ou programa de ação. No orçamento, tudo deve ser discriminado, devendo-se fazer o

levantamento dos custos de tudo que foi apontado na etapa anterior. Todos os recursos

necessários devem constar no orçamento: os honorários, os custos fixos ou variáveis de

infraestrutura, o custo de todos os materiais previstos para a implantação e desenvolvimento

do projeto ou programa, bem como, se prevista, a contratação do serviço de terceiros, pois o

custo homem/hora deve fazer parte do orçamento. Obter aprovação da direção e o apoio dos

envolvidos é a oitava e última etapa do planejamento da fase A do desenvolvimento. Ela

consiste em demonstrar a importância de sensibilizar a direção e ter o engajamento dos

envolvidos. Para isso, é sugerida a apresentação, de forma clara e criativa, de tudo que foi

planejado, fazendo-se valer de recursos de multimídia disponíveis.

Após a implantação das oito etapas da fase A do desenvolvimento, o modelo MGPRP prevê a

aplicação de mais um gate de avaliação, monitoramento e controle de fase. Nesse gate, cabe

levantar as seguintes questões: (i) Os objetivos, metas e estratégias são coesos? (ii) Os

recursos são coerentes? (iii) Os meios de comunicação escolhidos foram eficazes? (iv) Será

possível cumprir com o orçamento previsto? (v) Foi obtida a aprovação da direção e o apoio

dos envolvidos? (vi) Houve alguma mudança no cenário que teve ou poderá ter influência na

realização do que foi planejado? Respondidas essas questões de forma satisfatória, inicia-se a

fase de implantação/execução do que foi planejado.

Na Fase B - Implantação/Execução, a primeira etapa consiste em divulgar o que foi planejado

para o público envolvido. Para que o sucesso seja alcançado na implantação do que foi

planejado, é necessário que todos os envolvidos tenham total conhecimento do projeto ou

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programa proposto. Este é o momento de converter o que foi planejado em realidade.

Executar o projeto e/ou programas de ação sugeridos é a segunda etapa desta fase e, para

obter sucesso na etapa, algumas questões devem ser observadas, como verificar a capacidade

operacional da equipe e do planejador. A participação da execução e o acompanhamento, de

forma dinâmica, de todo o processo, por parte do planejador, também são necessários.

Controlar e monitorar a execução das ações é imprescindível para o êxito do que foi

planejado. Por meio de quadros, fluxogramas, cronogramas, toda a execução pode ser

acompanhada, possibilitando detectar alguma possível falha. Essa etapa sugerida no modelo

refere-se apenas ao controle e monitoramento da execução das ações, já que o controle e o

monitoramento das fases acontecem nos gates.

Detectado algum tipo de desvio nas ações planejadas ou a necessidade de adequação, a quarta

etapa da fase B do desenvolvimento sugere otimizar o projeto e/ou os programas em tempo

hábil a fim de minimizar os erros.A otimização pode-se dar por meio de qualquer sugestão

diferente do que foi planejado, por razões não previstas anteriormente, mantendo, dessa

forma, características de abertura, flexibilidade e adaptabilidade diante de mudanças

inesperadas. Ao finalizar esta fase, mesmo passando por etapas que sugerem o controle, o

monitoramento e a otimização do que foi planejado, é sugerido mais um gate de avaliação,

monitoramento e controle. Esse gate tem por finalidade impedir que possíveis problemas

ocorridos na fase de execução passem despercebidos. As questões a serem respondidas neste

gate são: (i) Foi possível divulgar as ações para os envolvidos? (ii) Houve uma boa aceitação

das ações por parte dos envolvidos? (iii) Houve fatores não previstos que implicaram a

execução de alguma ação? (iv) Alguma ação foi otimizada? (v) As ferramentas utilizadas para

monitoramento e controle da execução das ações foram eficazes? (vi) A execução das ações

ocorreu de forma satisfatória?

A macrofase de pós-desenvolvimento tem a finalidade de demonstrar que o planejamento não

acaba na execução, pelo contrário, esta macrofase apresenta, como fase única, a avaliação

geral dos resultados, e nela quatro etapas são sugeridas, de acordo com a Figura 5. O principal

objetivo desta macrofase é medir, divulgar e registrar os resultados obtidos durante todo o

processo para que possam vir a ser utilizados posteriormente em novos projetos.

Figura 5 – Macro Fase de Pós-Desenvolvimento do Modelo MGPRP

Na Fase de Avaliação Geral dos Resultados, o modelo MGPRP prevê, como primeira etapa, a

avaliação dos resultados. Para isso, alguns parâmetros e critérios devem ser traçados. Sabe-se

que, de certa forma, avaliar os resultados em Relações Publicas torna-se um tanto complicado,

pois alguns resultados surgem em longo prazo, porém, nesses casos, é possível buscar

parâmetros para avaliar se, pelo menos, as ações utilizadas foram eficazes e também para

tomar conhecimento da reação dos públicos diante da ação.

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Para realizar a avaliação geral, convém utilizar os resultados dos gates implantados durante

todo o processo, uma vez que eles avaliaram os resultados etapa a etapa. Nesta fase, porém, a

avaliação deve ser geral, visto que ela tem o propósito de estabelecer o grau de êxito

alcançado em todo o processo. Esta etapa tem o intuito de definir se a relação custo-benefício

foi satisfatória, em que grau os objetivos gerais foram alcançados e se as condições para a

implementação das ações foram favoráveis.

Com a finalidade de documentar os resultados do processo, a segunda etapa da fase de

avaliação geral dos resultados é elaborar um relatório final. Esse relatório, além de servir de

fonte de consulta e aproveitamento em futuras implantações, demonstra, com os resultados, a

importância e o valor do planejamento de Relações Públicas nas organizações. Todas as lições

aprendidas durante o processo devem ser registradas, conforme sugere o modelo nesta terceira

etapa. Dar feedback aos envolvidos é a quarta etapa sugerida na fase de avaliação geral dos

resultados. O relatório final não deve ser elaborado para ser arquivado. Ele tem a função de

suprimir erros em futuras implantações, de registrar os resultados, de demonstrar a

importância e o valor do planejamento, bem como pode servir de ferramenta para dar

feedback aos envolvidos no processo.

4 Resultados

O modelo MGPRP foi implantado eum uma microempresa do setor de prestação de serviços

situada na cidade de Taquara, RS , porém, devido às peculiaridades da empresa, sofreu

adaptações. Para que o modelo atendesse às necessidades da empresa piloto, algumas etapas

foram excluídas. O modelo implantado é apresentado na Figura 6.

Figura 6 – Modelo adapatado do MGPRP implantado na microempresa

Page 11: Um modelo metodológico para gestão e planejamento de Relações Públicas (MGPRP) aplicado a microempresas

Como resultado da implantação do modelo adaptado do MGPRP, primeiramente, todos os

dados relacionados à empresa piloto foram levantados através de conversas com os sócios e

também por meio de observação in loco. Depois de elaborado o diagnóstico, foram planejados

dois programas que sugerem quatro ações pontuais.

O primeiro programa, intitulado “De dentro para fora” teve como objetivo apresentar, de

forma clara, objetiva e organizada, a empresa para seus públicos. As ações propostas neste

programa são: “Missão, Visão e Valores” que propõe elaborar e divulgar os objetivos da

empresa: para que veio, aonde quer chegar e os valores que norteiam as suas ações. E “Vitrine

portas abertas para a tecnologia” que visa proporcionar acesso e conhecimento prévio da

tecnologia dos equipamentos e serviços oferecidos pela empresa para os seus clientes.

O segundo programa “De fora para dentro” tem como objetivo conhecer os públicos da

empresa com o intuito de com eles buscar ou manter um organizado e harmonioso

relacionamento. “Identificando os públicos” foi uma das ações propostas neste programa que

tem como principal objetivo conhecer os públicos quanto à sua classificação, grau de

influência e expectativas com relação à empresa com a finalidade de melhor se comunicar

com eles. Outra ação proposta neste programa foi “Cadastro dos públicos” que propõe ter um

cadastro completo, atualizado, organizado e funcional dos públicos com quem a empresa se

relaciona.

Durante a execução dos programas, as questões do gate de avaliação, monitoramento e

controle já foram sendo respondidas com a finalidade de detectar possíveis mudanças no

decorrer da execução das ações. Vistas como ações pontuais que têm o intuito de suprir

necessidades específicas, elas foram prontamente aprovadas e executadas. Os prazos

estabelecidos para a execução das ações foram respeitados e puderam ser cumpridos de

acordo com o que foi planejado.

A mensuração dos resultados dos programas propostos pressupõe resposta aos objetivos

traçados. Dessa forma, os resultados obtidos com a execução das ações contribuíram para que

a empresa conhecesse seus públicos e também para que seus públicos a conhecessem,

tornando sua identidade transparente, contribuindo para a formação da sua imagem perante os

seus públicos.

5 Conclusão

Este artigo apresentou os resultados de uma pesquisa que teve por finalidade desenvolver um

modelo metodológico para gestão e planejamento de relações públicas (MGPRP) adaptável e

aplicado a microempresas.

Foi realizada uma análise e síntese das características dos modelos de gestão e planejamento

propostos por Kunsch (2003) e Rozenfeld et al (2006).

O modelo metodológico para gestão e planejamento de relações públicas (MGPRP) contem

três macrofases, quatro fases, vinte e duas etapas e três gates de avaliação. A estrutura

metodológica é composta por: (i) Macrofase: Pré-desenvolvimento. Fase: Planejamento.

Etapas: Estabelecer demanda; levantar os dados da empresa; efetuar análise sincrônica;

identificar os públicos e elaborar o diagnóstico. Gate de avaliação, monitoramento e controle.

(ii) Macrofase: Desenvolvimento. Fase A: Planejamento. Etapas: Elaborar projetos e/ou

programas; definir os objetivos; determinar as estratégias; identificar o público-alvo;

selecionar os meios de comunicação; determinar os recursos necessários; realizar o

orçamento; obter a aprovação da direção e o apoio dos envolvidos. Gate de avaliação,

monitoramento e controle. Fase B: Implantação/Execução. Etapas: Divulgar para o público

envolvido; execução; controle e monitoramento; otimização. Gate de avaliação,

monitoramento e controle. (iii) Macrofase: Pós-desenvolvimento. Fase: Avaliação geral dos

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resultados. Etapas: Analisar os resultados; elaborar o relatório final; registrar as lições

aprendidas; feedback com os envolvidos.

Com a finalidade de ser feita uma validação do modelo proposto, o mesmo foi aplicado numa

microempresa do setor de prestação de serviços situada na cidade de Taquara, RS. O modelo

referencial MGPRP foi adaptado e algumas etapas foram suprimidas em função das

peculiaridades da empresa.

A implantação permitiu verificar que a existência de determinados pontos estava dificultando

a comunicação eficaz da empresa com os seus públicos e, a partir desse ponto, foram

elaboradas e implantadas ações pontuais. Os resultados obtidos com a execução das ações

contribuíram para que a empresa conhecesse seus públicos e também para que os mesmos a

conhecessem, tornando sua identidade transparente, contribuindo para a formação da sua

imagem.

Sugere-se que o modelo proposto seja progressivamente otimizado a partir de contribuições

advindas de novas aplicações a serem feitas em outras empresas de diferentes setores e portes

para que seja consolidada a estrutura metodológica desenvolvida.

Referências

CUTLIP, Scott M.; CENTER, Allen H.; BROOM, Glen M. Effective public relations. 6. ed. Englewood Cliffs:

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